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Fernando Turiani Fernandes e outros x Companhia De Saneamento Basico Do Estado De Sao Paulo - Sabesp

ID: 319280900

Tribunal: TST Órgão: Tribunal Pleno Classe: RECURSO DE REVISTA Nº Processo: 1001720-07.2023.5.02.0322

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

FERNANDO TURIANI FERNANDES MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Polo Passivo:

COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO - SABESP

Acórdão

Advogados:

PRISCILA MATHIAS DE MORAIS FICHTNER

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RONALDO TAMBERLINI PAGOTTO

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EDUARDO CHALFIN

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO TRIBUNAL PLENO Relator: ALOYSIO SILVA CORRÊA DA VEIGA RR 1001720-07.2023.5.02.0322 RECORRENTE: FERNANDO TURIANI FERNANDES REC… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO TRIBUNAL PLENO Relator: ALOYSIO SILVA CORRÊA DA VEIGA RR 1001720-07.2023.5.02.0322 RECORRENTE: FERNANDO TURIANI FERNANDES RECORRIDO: COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO - SABESP PROCESSO Nº TST-RR - 1001720-07.2023.5.02.0322 A C Ó R D Ã O Tribunal Pleno GPACV/vc REPRESENTATIVO PARA REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. INCIDENTE DE RECURSO REPETITIVO. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE. PERÍODO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/17. DIFERENÇAS SALARIAIS DEVIDAS. REGULAMENTOS INTERNOS DA SABESP E DA FUNDAÇÃO CASA. Discute-se se o reclamante, que foi contratado anteriormente à vigência da Lei nº 13.467/17, tem direito a diferenças salariais decorrentes de promoções por antiguidade não concedidas. O TRT de origem concluiu que não há obrigatoriedade de o empregador conceder promoções por antiguidade. Destacou que o art. 461 da CLT não regula “as hipóteses de promoção”, referindo-se à equiparação salarial. Assim, manteve a r. sentença que julgou improcedentes os pedidos. Diante da manifestação de todas as Turmas do Tribunal Superior do Trabalho indica-se a matéria a ter a jurisprudência reafirmada, em face da seguinte questão jurídica: Em relação ao período anterior à alteração do art. 461 da CLT pela Lei nº 13.467/2017, são devidas diferenças salariais decorrentes das promoções a que o empregado teria direito, na hipótese em que o plano de cargos e salários não prevê o critério de promoção por antiguidade? Para o fim de consolidar a jurisprudência pacificada no Tribunal Superior do Trabalho, deve ser acolhido o Incidente de Recurso de Revista para o fim de fixar a seguinte tese vinculante: É devida a promoção pelo critério de antiguidade, no período anterior ao advento da Lei 13.467/2017, na hipótese em que o Plano de Cargos e Salários não prevê a alternância dos critérios merecimento e antiguidade. Recurso de revista representativo da controvérsia conhecido e, no mérito, provido para, aplicando a tese ora reafirmada, condenar a reclamada a proceder à progressão por antiguidade, até a vigência da Lei nº 13.467/2017, com o consequente pagamento de diferenças salariais e reflexos, observado o marco prescricional declarado na sentença. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista nº TST-RR - 1001720-07.2023.5.02.0322, em que é RECORRENTE FERNANDO TURIANI FERNANDES e é RECORRIDA COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO - SABESP. O presente recurso é representativo de controvérsia que, a despeito de estar pacificada nas oito Turmas do Tribunal Superior do Trabalho, ainda enseja elevada recorribilidade, em razão de resistente divergência entre os Tribunais Regionais do Trabalho, colocando em risco a segurança jurídica e a missão constitucional deste Tribunal Superior, enquanto Corte de Precedentes responsável pela unidade nacional do direito, nas matérias de sua competência. A utilização da sistemática de demandas repetitivas tem por finalidade aumentar a segurança jurídica proporcionada ao jurisdicionado, pois consolida a jurisprudência e reduz, consequentemente, a litigiosidade nas Cortes superiores. Apresentada, portanto, a presente proposta de afetação do processo TST-RR - 1001720-07.2023.5.02.0322 o Incidente de Recurso Repetitivo junto a este Tribunal Pleno, a fim de examinar a possibilidade de reafirmação de jurisprudência da Corte, nos termos do art. 132-A e parágrafos, do RITST, com o fim de dirimir a seguinte questão jurídica: Em relação ao período anterior à alteração do art. 461 da CLT pela Lei nº 13.467/2017, são devidas diferenças salariais decorrentes das promoções a que o empregado teria direito, na hipótese em que o plano de cargos e salários não prevê o critério de promoção por antiguidade? No caso em exame, se trata de tema a ser reafirmado no recurso de revista interposto pelo Reclamante FERNANDO TURIANI FERNANDES, em que consta a matéria acima delimitada (DIFERENÇAS SALARIAIS. PROGRESSÃO SALARIAL POR ANTIGUIDADE). Não há outros temas no recurso admitido. É o relatório. V O T O ADMISSIBILIDADE DE INCIDENTE DE RECURSO DE REVISTA REPETITIVO PARA REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO TST A formação de precedentes obrigatórios constitui um dos principais mecanismos de gestão processual introduzidos pelo legislador nas últimas décadas. A despeito de reiterados recordes de produtividade, é essencial que seja enfrentado de forma célere, coerente e isonômica o exponencial crescimento da demanda, conforme demonstram as estatísticas do Tribunal Superior do Trabalho, que vem recebendo um volume maior de novos processos em comparação com os últimos anos. São números incompatíveis com a estruturação do Poder Judiciário, cujas cortes de vértice são funcionalmente destinadas a dirimir as novas controvérsias nacionais, sem repetição do mesmo labor já realizado nas instâncias ordinárias, sob pena de comprometimento da isonomia, segurança jurídica e razoável duração do processo (CF, art. 5º, caput e LXXVIII). Assim é que esta Corte Superior, com inspiração na prática já tradicional no Supremo Tribunal Federal, para fins de maior celeridade na formação de precedentes obrigatórios em matérias já conhecidas e sedimentadas, adotou fluxo procedimental (cf. Emenda Regimental n. 7, de 25/11/2024), segundo o qual: “Art. 132-A. A proposta de afetação do incidente de recurso repetitivo (...) será necessariamente incluída em pauta de sessão virtual e deverá conter o tema a ser afetado. § 2º As disposições dos arts. 133 e 134 do Regimento Interno são aplicáveis, no que couber, ao procedimento de afetação do incidente de recurso repetitivo, vedada em qualquer caso a remessa do processo inserido em sessão virtual à sessão presencial, para os fins previstos no caput deste artigo. (...) § 5º O julgamento de mérito do incidente de recurso repetitivo, no caso de mera reafirmação de jurisprudência dominante da Corte, também será realizado por meio do Plenário Eletrônico, na mesma sessão virtual que decide sobre a proposta de afetação. § 6º Quando designada sessão virtual para afetação de incidente de recursos repetitivos, com proposta de reafirmação de jurisprudência, eventuais sustentações orais quanto ao mérito deverão ser necessariamente juntadas por meio eletrônico, após a publicação da pauta e até 48 horas antes de iniciado o julgamento em ambiente virtual.” Compete ao Presidente do Tribunal “indicar recurso representativo da controvérsia, dentre aqueles ainda não distribuídos, submetendo-o ao Tribunal Pleno para fins de afetação de IRR (...), inclusive mediante reafirmação de jurisprudência” (RITST, art. 41, XLVII), quando houver “multiplicidade de recursos de revista (...) fundados em idêntica questão de direito, (...) considerando a relevância da matéria ou a existência de entendimentos divergentes entre os Ministros da Subseção ou das Turmas do Tribunal”. Quanto à multiplicidade de recursos sobre o debate da questão jurídica no Tribunal Superior do Trabalho, a despeito de já estar aqui sedimentado, veja-se que simples consulta ao acervo jurisprudencial do TST, a partir da temática ora em exame, revelou 150 acórdãos e 812 decisões monocráticas, nos últimos 12 meses (pesquisa realizada em 21/05/2025 no sítio www.tst.jus.br). A relevância da formação de precedente obrigatório sobre o tema se configura justamente pelo fato de que a jurisprudência persuasiva desta Corte não se mostrou, até o presente, suficiente para garantir a unidade do Direito nacional em relação a tal matéria, havendo entendimentos dissonantes nos Tribunais Regionais, os quais ainda fomentam elevada recorribilidade. RECURSO DE REVISTA REPRESENTATIVO AFETADO COMO INCIDENTE DE RECURSOS REPETITIVOS PARA REAFIRMAÇÃO JURISPRUDÊNCIA. DELINEAMENTO DO CASO CONCRETO SUBMETIDO A JULGAMENTO. O recurso de revista ora afetado como incidente de recursos repetitivos foi interposto pelo Reclamante FERNANDO TURIANI FERNANDES em face de acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, que assim consigna, no excerto de interesse: PROGRESSÃO SALARIAL POR ANTIGUIDADE Sem razão. Ao contrário do que alega o recorrente, o fato de os PCSs não estipularem progressão salarial pelo critério de antiguidade não viola o disposto no artigo 461 da CLT. Nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 418 da SBDI-1 do C. TST: OJ-SDI1-418 EQUIPARAÇÃO SALARIAL. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. APROVAÇÃO POR INSTRUMENTO COLETIVO. AUSÊNCIA DE ALTERNÂNCIA DE CRITÉRIOS DE PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE E MERECIMENTO. (DEJT divulgado em 12, 13 e 16.04.2012) Não constitui óbice à equiparação salarial a existência de plano de cargos e salários que, referendado por norma coletiva, prevê critério de promoção apenas por merecimento ou antiguidade, não atendendo, portanto, o requisito de alternância dos critérios, previsto no art. 461, § 2º, da CLT. Antes da Lei 13.467/17, a observância obrigatória no quadro de carreira do empregador das promoções alternadas por merecimento e antiguidade era óbice apenas à equiparação salarial. O art. 461 da CLT não vinculava a ré para fins de concessão de promoção por antiguidade, pois não tem como finalidade regular as hipóteses de promoção. Destarte, mantenho a sentença, restando rejeitados os demais fundamentos do recurso, por incompatibilidade lógica. Conforme se verifica, o acórdão regional registrou a premissa fática de que os planos de cargos e salários da Reclamada não previram o critério de promoção por antiguidade. Por essa razão, o TRT de origem concluiu que o Reclamante não faz jus a diferenças salarias decorrentes de promoções não concedidas. Registra-se, ademais, que se trata de empregado contratado antes da vigência da Lei nº 13.457/2017 (admitido em 1992; fato incontroverso). No recurso de revista, o Reclamante alega que por não existir previsão de progressão por antiguidade, nos planos de cargos e salários da Reclamada, são devidas diferenças salariais, uma vez que o art. 461 da CLT, na redação anterior à Lei nº 13.457/17, estatui que as promoções ocorrerão de forma intercalada, ora por merecimento, ora por antiguidade. Aponta violação do art. 461, §§ 1º, 2º e 3º, da CLT bem assim divergência jurisprudencial. Indica arestos para o confronto de teses. Assim delineados os contornos fáticos e jurídicos do caso concreto em julgamento, passo à análise da jurisprudência pacífica desta Corte Superior ora submetida à reafirmação e suas repercussões no julgamento do caso. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO SOBRE A MATÉRIA SUBMETIDA À AFETAÇÃO. O posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho pode ser sintetizado no sentido de que a inexistência do critério de promoção por antiguidade, em plano de cargos e salários, viola os §§ 2º e 3º do art. 461 da CLT, com a redação anterior à Lei nº 13.467/2017, resultando em diferenças salariais decorrentes das promoções a que o empregado teria direito. Nesse sentido, a jurisprudência de todas as Turmas desta Corte Superior: [...] DIFERENÇAS SALARIAIS. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. SABESP. PROMOÇÕES POR ANTIGUIDADE. 1. Na hipótese, o Tribunal Regional consignou que “... não prospera a tese do reclamante de que os Planos de Cargos e Salários instituídos pela ré, por não ampararem previsão acerca das promoções por antiguidade, afrontariam o disposto no artigo 461, da CLT, justificando, assim, o seu enquadramento no grau superior da faixa salarial seguinte da sua função a cada dois anos, intercalando com a progressão por mérito, inexistindo, assim, norma jurídica que garanta a promoção nos moldes pretendidos pelo autor.”. 2. Todavia, esta Corte Superior, em casos análogos, firmou a jurisprudência no sentido de que a ausência de alternância entre os critérios de promoção por antiguidade e merecimento no Plano de Cargos e Salários não atende a previsão contida no art. 461, §§ 2º e 3º, da CLT, na redação anterior à vigência da Lei n.º 13.467/17, o que enseja diferenças salariais decorrentes das promoções por antiguidade a que o empregado teria direito caso tivesse sido observada a legislação de regência. 3. A decisão monocrática anteriormente proferida está em harmonia com a jurisprudência desta Corte Superior. Agravo a que se nega provimento (Ag-EDCiv-RR-1000525-77.2023.5.02.0292, 1ª Turma, Relator Ministro Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT 07/04/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 2000] AGRAVO INTERNO. RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017. PROGRESSÃO POR ANTIGUIDADE. DIFERENÇAS SALARIAIS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE ALTERNÂNCIA DOS CRITÉRIOS DE PROMOÇÕES POR ANTIGUIDADE. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. A decisão agravada conheceu e proveu o recurso de revista para "condenar a empresa reclamada ao pagamento das diferenças salariais e reflexos decorrentes das promoções por antiguidade, nos termos requeridos na petição inicial" (seq. 06). Registra-se que esta Corte Superior tem firmado entendimento consolidado no sentido de que, a não previsão do critério de progressão por antiguidade no plano de cargos e salários implica em inobservância da necessária alternância entre os critérios de merecimento e de antiguidade para fins da concessão de promoções, violando desta forma, as disposições do art. 461, §§ 2º e 3º, da CLT. Deste modo, a decisão agravada encontra-se em consonância com o entendimento desta Corte Superior acerca da matéria. Adota-se, ademais, o teor restritivo do artigo 896, § 7º, da CLT e da Súmula 333 do TST. Agravo interno não provido (Ag-RR-1000855-20.2023.5.02.0019, 2ª Turma, Relatora Ministra Liana Chaib, DEJT 20/03/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 2002] I - RECURSO DE REVISTA. SABESP. DIFERENÇAS SALARIAIS. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. INEXISTÊNCIA DE PROGRESSÃO HORIZONTAL POR ANTIGUIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. A discussão nos autos envolve Plano de Cargos e Salários que não prevê a observância dos critérios de promoções por merecimento e antiguidade, de forma alternada, nos termos da antiga redação do art. 461, § 2º e § 3º da CLT. O Tribunal Regional concluiu que o recorrente não faz jus às progressões por tempo pretendidas. Entendeu que inexiste previsão legal à suposta obrigatoriedade de necessária observância de promoções (alternadas) por antiguidade e merecimento, seja antes ou depois da Reforma Trabalhista. Contudo, a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a instituição de Plano de Cargos e Salários que não prevê critérios de promoção por merecimento e antiguidade, de forma alternada, viola o art. 461, § 2º e § 3º da CLT, com redação anterior à Lei nº 13.467/2017. Precedentes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. [...] (RR-1001681-83.2022.5.02.0018, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Bastos Balazeiro, DEJT 21/02/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 1985] AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO – SABESP. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. 1. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE ALTERNÂNCIA DOS CRITÉRIOS DE PROMOÇÕES POR ANTIGUIDADE E POR MERECIMENTO. ART. 461, §§2º E 3º DA CLT (REDAÇÃO ANTERIOR À LEI 13.467/17). DIFERENÇAS SALARIAIS. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. CONHECIMENTO E NÃO PROVIMENTO. I. Este Tribunal Superior já unificou o entendimento de que o Plano de Cargos e Salários (PCS) que não atende ao critério de alternância de antiguidade e merecimento configura circunstância autoriza(dora) (d)o pagamento das diferenças salariais decorrentes do descumprimento do preceito disposto no art. 461, §§2º e 3º, da CLT, nos termos da redação anterior à vigência da Lei 13.467/17. Precedentes. II. Fundamentos da decisão agravada não desconstituídos. III. Agravo de que se conhece e a que se nega provimento (RR-1000515-71.2024.5.02.0074, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 31/03/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 1977] RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. SABESP. DIFERENÇAS SALARIAIS. PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS DA RECLAMADA. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. A inexistência da progressão por antiguidade, no plano de cargos e salários [...] enseja a falta de alternância entre os critérios de merecimento e antiguidade, necessária para a concessão de progressões horizontais, a teor do art. 461, §§ 2º e 3º, da CLT, em sua antiga redação. Precedentes. Limitado o direito a novas progressões de antiguidade, com base nesta causa de pedir, a 10.11.2017. Recurso de revista conhecido e provido (RR-1000248-24.2024.5.02.0002, 5ª Turma, Relatora Ministra Morgana de Almeida Richa, DEJT 11/03/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 1975] RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017 E DA IN 40 DO TST. DIFERENÇAS SALARIAIS. PROGRESSÕES POR ANTIGUIDADE. FUNDAÇÃO CASA. PLANOS DE CARGOS E SALÁRIOS DE 2006. INOBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO DE ALTERNÂNCIA ENTRE PROMOÇÃO POR ANTIGUIDADE E MERECIMENTO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. REQUISITOS DO ARTIGO 896, § 1º-A, DA CLT, ATENDIDOS. No caso em tela, o debate acerca da concessão de diferenças salariais decorrentes de progressões horizontais por antiguidade detém transcendência política, nos termos do art. 896-A, § 1º, II, da CLT. A jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que o Plano de Cargos e Salários de 2006 da FUNDAÇÃO CASA, ao não prever o critério de progressão por antiguidade, desconsiderou a necessária alternância entre os critérios de merecimento e antiguidade, para fins da concessão de promoções, descumprindo o disposto no art. 461, §§ 2º e 3º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. [...] (RR-1001019-91.2019.5.02.0320, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 21/03/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 2008] [...] DIFERENÇAS SALARIAIS. PROMOÇÕES POR ANTIGUIDADE. PCCS DE 2006 DA FUNDAÇÃO CASA. REENQUADRAMENTO. O Tribunal Regional não reconheceu o direito do autor às diferenças salariais decorrentes de progressão por antiguidade. Esta Corte tem se posicionado no sentido de que o Plano de Cargos e Salários da Fundação Casa (PCS/2006), ao deixar de prever critérios de promoção por mérito e antiguidade alternadamente, não atende ao comando do artigo 461, § 2º e § 3º, da CLT, pois o referido artigo, em seus parágrafos, determina a alternância dos critérios de antiguidade e merecimento para a concessão de promoções horizontais, razão pela qual são devidas as diferenças salariais correspondentes. Precedentes. Recurso de revista conhecido por violação do artigo 461, § 2º e § 3º da CLT e provido" (RR-1000235-88.2017.5.02.0028, 7ª Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 19/12/2024). (Destaquei) [reclamante admitido em 2001] RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. LEI Nº 13.467/2017. DIFERENÇAS SALARIAIS. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DO CRITÉRIO ANTIGUIDADE. TRANSCENDÊNCIA RECONHECIDA. PROVIMENTO PARCIAL. [...] 2. Esta colenda Corte Superior, com fundamento no artigo 461, §§ 2º e 3º, da CLT, em sua redação anterior à vigência da Lei nº 13.467/2017, firmou entendimento de que os Planos de Cargos e Salários que não preveem progressão por antiguidade desconsideram a imprescindível alternância entre os critérios de merecimento e antiguidade para concessão de promoções horizontais, o que implica o pagamento das diferenças salariais pleiteadas. 3. Cabe ressaltar, contudo, que a Lei nº 13.467, com vigência a partir de 11.11.2017, ao conferir nova redação ao § 3º do artigo 461 da CLT, retirou a obrigatoriedade de alternância dos critérios de promoções por merecimento e por antiguidade para o fim de reconhecimento da validade do plano de cargos e salários. 4. A propósito, o Tribunal Pleno desta Corte Superior, ao julgar o IncJulgRREmbRep-528-80.2018.5.14.0004 (Tema nº 23 da Tabela de Recursos Repetitivos), firmou a seguinte tese jurídica: "A Lei nº 13.467/2017 possui aplicação imediata aos contratos de trabalho em curso, passando a regular os direitos decorrentes de lei cujos fatos geradores tenham se efetivado a partir de sua vigência". 5. Nesse contexto, o deferimento das diferenças salarias, decorrentes da ausência de alternância entre as promoções por merecimento e antiguidade, há de ficar limitado à data da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, a partir de quando se tornou plenamente válida a adoção de apenas um dos critérios para a concessão de promoções. Precedentes. 6. No caso dos autos, o Tribunal Regional consignou que os planos de cargos da reclamada condicionam a evolução salarial do servidor a determinado processo de avaliação, sem a previsão para progressão por antiguidade. Assentou que a norma interna da ré não garante promoções ou progressões automáticas por tempo de serviço, pois a sua concessão está condicionada ao cumprimento dos requisitos estabelecidos nos planos de salários, ou seja, estão condicionados ao poder diretivo do empregador. Assim, entendeu serem indevidas as diferenças salariais postuladas pelo reclamante com fundamento na não concessão da promoção por antiguidade. 7. Vê-se, pois, que a decisão da Corte de origem destoa da jurisprudência desta Corte Superior, razão pela qual resta demonstrada a violação do artigo 461, § 3º, da CLT, em sua antiga redação. 8. O reclamante, portanto, faz jus às promoções por antiguidade, limitadas ao período anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, não sendo devidas novas progressões a partir desse marco legislativo. [...] Recurso de revista de que se conhece e a que se dá parcial provimento (RR-1001919-74.2023.5.02.0016, 8ª Turma, Relator Desembargador Convocado Jose Pedro de Camargo Rodrigues de Souza, DEJT 13/05/2025). (Destaquei) [reclamante admitido em 2001] A despeito da uniformização da jurisprudência no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho, verificou-se que ainda remanescem recentes divergências nos Tribunais Regionais do Trabalho quanto ao tema, conforme se infere das seguintes ementas: SABESP. PROGRESSÃO POR ANTIGUIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO. Não havendo previsão de promoção apenas por antiguidade, não faz jus o autor às diferenças salariais pretendidas. Com efeito, ausência de previsão de duplo critério de promoção nos planos de cargos e salários, merecimento e por antiguidade, por si só, não os torna nulos, tampouco autoriza a condenação da empresa com fundamento no art. 461 e parágrafos da CLT. Recurso desprovido. (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (3ª Turma). Acórdão: 1001823-96.2023.5.02.0036. Relator(a): Desembargadora MARGOTH GIACOMAZZI MARTINS. Data de julgamento: 03/12/2024. Juntado aos autos em 04/12/2024. Disponível em: https://link.jt.jus.br/3eRBf9) SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA DO ESTADO. SABESP. PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS. PROGRESSÃO POR ANTIGUIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NORMATIVA. DIFERENÇAS SALARIAIS POR CRITÉRIO INEXISTENTE. IMPOSSIBILIDADE. Não existindo nos PCS previsão de progressão exclusivamente pelo critério de antiguidade, não há base para conceder automáticas progressões horizontais a cada quatro anos, tampouco a cada dois anos, eis que não cabe ao Poder Judiciário conceder progressões por critério não previsto pelo empregador em sua norma interna ou nos acordos coletivos, sob pena de ingerência da gestão da empresa, violação ao princípio da legalidade (art. 5º, II, da CRFB/88) e ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV, e art. 170 da CRB/88). Eventuais diferenças salariais poderão ser buscadas por meio de pretensão a título de equiparação salarial, o que não foi requerido pelo reclamante. Inteligência da Súmula 6, I, e OJ 418 do TST. (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (17ª Turma). Acórdão: 1001814-61.2023.5.02.0028. Relator(a): Desembargadora MARIA DE LOURDES ANTONIO. Data de julgamento: 31/10/2024. Juntado aos autos em 04/11/2024. Disponível em: https://link.jt.jus.br/FuCXAP) (Destaquei) Feitos tais registros, verifico que o representativo definido para alçar o tema a debate foi interposto em face de acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região que, adotando entendimento diverso do Tribunal Superior do Trabalho, decidiu no sentido de que não são devidas diferenças salariais decorrentes da ausência de progressão por antiguidade em plano de cargos e salários, uma vez que a Lei não obriga a existência de previsão desse critério de promoção. Assim, demonstrado que a jurisprudência pacífica desta Corte encontra resistência nas instâncias ordinárias, forçoso admitir a necessidade de uniformizar a matéria, por meio do presente Incidente de Recurso de Revista, para reafirmação da jurisprudência, nos termos do § 5º do art. 132-A do Regimento Interno do TST: “Art. 132-A. A proposta de afetação do incidente de recurso repetitivo (...) será necessariamente incluída em pauta de sessão virtual e deverá conter o tema a ser afetado. § 5º O julgamento de mérito do incidente de recurso repetitivo, no caso de mera reafirmação de jurisprudência dominante da Corte, também será realizado por meio do Plenário Eletrônico, na mesma sessão virtual que decide sobre a proposta de afetação.” A atuação qualificada e célere do Tribunal Superior do Trabalho sob o rito dos recursos repetitivos converge para sua finalidade precípua como Corte de precedentes – ainda com mais razão nestes casos em que já produziu jurisprudência pacificada sobre a matéria, bastando que haja sua reafirmação sob rito destinado à conversão em precedente obrigatório, de modo a evitar a divergência de julgamentos nas instâncias ordinárias. Como já mencionado, a posição consolidada do Tribunal Superior do Trabalho pode ser sintetizado no sentido de que a inexistência do critério de promoção por antiguidade, em plano de cargos e salários, viola os §§ 2º e 3º do art. 461 da CLT, com a redação anterior à Lei nº 13.467/2017, resultando em diferenças salariais decorrentes das promoções a que o empregado teria direito. Assim dispõe os §§ 2º e 3º do art. 461 da CLT, com a redação anterior à Lei nº 13.467/2017: Art. 461 [...] [...] § 2º Os dispositivos deste artigo não prevalecerão quando o empregador tiver pessoal organizado em quadro de carreira, hipótese em que as promoções deverão obedecer aos critérios de antiguidade e merecimento. (Redação dada pela Lei nº 1.723, de 8.11.1952) § 3º No caso do parágrafo anterior, as promoções deverão ser feitas alternadamente por merecimento e por antiguidade, dentro de cada categoria profissional. (Incluído pela Lei nº 1.723, de 8.11.1952) (Destaquei) Sucede que a Lei nº 13.467, que passou a vigorar a partir de 11/11/2017, ao conferir nova redação ao § 3º do artigo 461 da CLT, retirou a obrigatoriedade de alternância dos critérios de promoções por merecimento e por antiguidade, uma vez que reconheceu que as promoções poderão ser feitas por apenas um destes critérios . Eis o teor do aludido dispositivo legal: Art. 461 [...] [...] § 3º No caso do § 2º deste artigo, as promoções poderão ser feitas por merecimento e por antiguidade, ou por apenas um destes critérios, dentro de cada categoria profissional. Por sua vez, o Pleno do Tribunal Superior do Trabalho, no julgamento do Processo IncJulgRREmbRep-528-80.2018.5.14.0004 firmou a seguinte tese jurídica, consubstanciada no Tema nº 23 da Tabela de Recursos Repetitivos do TST: A Lei nº 13.467/2017 possui aplicação imediata aos contratos de trabalho em curso, passando a regular os direitos decorrentes de lei cujos fatos geradores tenham se efetivado a partir de sua vigência. Portanto, na hipótese em que o plano de cargos e salários não prevê critério de promoção por antiguidade, em relação ao período anterior à Lei nº 13.467/2017, são devidas diferenças salariais decorrentes das promoções a que o empregado teria direito, pois até 11/11/2017, data em que entrou em vigor a citada Lei, era obrigatória a alternância dos critérios de promoção, ora por antiguidade, ora por merecimento. A partir dessa data, entretanto, tornou-se plenamente válida a adoção de apenas um dos critérios (merecimento ou antiguidade) para a concessão de promoções. No caso em exame, o recurso de revista de que trata o tema afetado para representativo de controvérsia merece ser conhecido, por violação do art. 461, §§ 2º e 3º, da CLT, com a redação anterior à Lei nº 13.467/2017, uma vez que, conforme registrado no acórdão regional, os planos de cargos e salários da Reclamada não estabeleceram a necessária alternância dos critérios de promoção, pois não previram a promoção por antiguidade. Assim, inegável o prejuízo sofrido pelo Reclamante, pois teria direito à promoção por antiguidade sob qualquer critério razoável definido, pois se trata de empregado com muitos anos na empresa. Assim, do julgamento do caso concreto afetado, extrai-se a reafirmação da mesma ratio decidendi antes firmada no julgamento das Turmas do Tribunal Superior do Trabalho transcrito acima, cuja tese pode ser fixada nos seguintes termos: É devida a promoção pelo critério de antiguidade, no período anterior ao advento da Lei 13.467/2017, na hipótese em que o Plano de Cargos e Salários não prevê a alternância dos critérios merecimento e antiguidade. No mérito, quanto ao recurso de revista interposto pelo Reclamante FERNANDO TURIANI FERNANDES, no tema ora afetado, dou-lhe provimento para condenar a reclamada a proceder à progressão por antiguidade, até a vigência da Lei nº 13.467/2017, com o consequente pagamento de diferenças salarias e reflexos, observado o marco prescricional declarado na sentença. Inverte-se o ônus da sucumbência a fim de condenar a Reclamada ao pagamento de custas processuais, no importe de 2% sobre o valor da condenação, e honorários advocatícios, de 10% igualmente sobre o valor da condenação. Juros, correção monetária e contribuições previdenciárias e fiscais, conforme liquidação. Não havendo temas remanescentes, prossiga-se com a regular tramitação do feito. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros do Tribunal Pleno do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade: I – Acolher a proposta de afetação do incidente de recurso de revista, para reafirmar a jurisprudência deste Tribunal, quanto à matéria, fixando a seguinte tese obrigatória para o presente Incidente de Recursos Repetitivos: É devida a promoção pelo critério de antiguidade, no período anterior ao advento da Lei 13.467/2017, na hipótese em que o Plano de Cargos e Salários não prevê a alternância dos critérios merecimento e antiguidade. II – Conhecer do recurso de revista no tema objeto do representativo, por violação do artigo 461, §§ 2º e 3º, da CLT e, no mérito, dar-lhe provimento para, aplicando a tese ora reafirmada, condenar a reclamada a proceder à progressão por antiguidade, até a vigência da Lei nº 13.467/2017, com o consequente pagamento de diferenças salarias e reflexos, observado o marco prescricional declarado na sentença. III – Inverter o ônus da sucumbência, condenando a Reclamada ao pagamento das custas processuais, no importe de 2% sobre o valor da condenação, e honorários advocatícios, de 10% igualmente sobre o valor da condenação. Juros, correção monetária e contribuições previdenciárias e fiscais, conforme liquidação. IV - Determinar o regular prosseguimento do feito, diante da ausência de temas remanescentes. Brasília, 30 de junho de 2025. ALOYSIO SILVA CORRÊA DA VEIGA Ministro Presidente do TST Intimado(s) / Citado(s) - COMPANHIA DE SANEAMENTO BASICO DO ESTADO DE SAO PAULO - SABESP

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Adailton Ferreira Da Cruz e outros x Eucatur-Empresa Uniao Cascavel De Transportes E Turismo Ltda

ID: 328724097

Tribunal: TRT2 Órgão: 10ª Turma Classe: RECURSO ORDINáRIO TRABALHISTA Nº Processo: 1001787-21.2024.5.02.0068

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

ADAILTON FERREIRA DA CRUZ TIAGO PIRES PINHEIRO

Polo Passivo:

EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA

Acórdão

Advogados:

ARTHUR FELIPE DAS CHAGAS MARTINS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PRISCILLA BOSCARATO MASSELLI PINA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

FELIPE CAVASSUTE ARANTES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

CHRISTIANE MASSARO LOHMANN

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

ANDRE DE ARAUJO SIQUEIRA

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 10ª TURMA Relator: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES ROT 1001787-21.2024.5.02.0068 RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA … PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 10ª TURMA Relator: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES ROT 1001787-21.2024.5.02.0068 RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA CRUZ RECORRIDO: EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA Ficam as partes INTIMADAS quanto aos termos do v. Acórdão proferido nos presentes autos (#07e4e91): PROCESSO nº 1001787-21.2024.5.02.0068 (ROT) RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA CRUZ RECORRIDO: EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA RELATOR: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES JUÍZA PROLATORA DA SENTENÇA: CLEUSA SOARES DE ARAUJO RELATÓRIO Vistos, etc. Inconformada com a r. sentença (fl. 763 do PDF; ID. 084f154), cujo relatório adoto, que julgou parcialmente procedentes os pedidos da presente reclamação trabalhista, recorre a parte autora. O reclamante, com as razões de recurso ordinário (fl. 782 do PDF; ID. d5fa0e2), discute a improcedência dos pedidos de diferenças salariais, adicional de periculosidade, horas extras, intervalo intrajornada, adicional noturno e multa normativa. Contrarrazões da reclamada (fl. 799 do PDF; ID. cf3095e). É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO VOTO Pressupostos de admissibilidade Conheço do recurso interposto pela parte autora, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade. Afetação em incidente de recurso de revista repetitivo. Tema 45. Registre-se, por oportuno, que nos autos do IncJulgRREmbRep nº 0020969-89.2022.5.04.0014 o E. Tribunal Pleno do C. TST, por unanimidade, acolheu a proposta de afetação do incidente de recursos de revista repetitivos, a fim de serem dirimidas as seguintes questões jurídicas: "a) é devido adicional de periculosidade aos motoristas, diante da existência de tanque suplementar nos veículos, para uso próprio, com capacidade superior a 200 litros, nas situações fáticas anteriores à edição da Portaria SEPRT, nº 1.357/19, DOU de 10.12.2019, que alterou a NR16 DO MTb?; b) após a edição da Portaria SEPRT, nº 1.357/19, DOU de 10.12.2019, que alterou a NR16 DO MTb, no item 16.6.1.1, deixou de ser devido adicional de periculosidade aos motoristas, qualquer que seja a capacidade de armazenamento dos tanques de combustível para uso próprio, originais de fábrica ou suplementares, desde que estes sejam certificados pelo órgão competente?" A decisão de suspensão referente ao Tema nº 45, porém, abrange apenas os Recursos de Revista e Embargos no TST, não havendo óbice, portanto, à apreciação e julgamento do presente recurso ordinário, por esta 10ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, motivo pelo qual prossigo na análise do mérito do recurso. MÉRITO 1. Diferenças salariais. O reclamante postula seja reformada a r. sentença com relação ao pedido de diferenças salariais relativas aos meses de julho e agosto de 2022, aduzindo que contracheques sem assinatura não comprovam os pagamentos, na forma do art. 464 da CLT. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "O autor afirma que, embora a convenção coletiva da categoria estabelecesse reajuste, em julho/2022, a reclamada somente passou a pagar o salário, no valor de R$ 2.536,23, a partir de setembro daquele ano. Requer o pagamento das diferenças salariais, referentes aos meses de julho e agosto de 2022, e reflexos. Contudo, os recibos de fls. 161/162 demonstram que a reclamada, nos meses de agosto e setembro de 2022, efetuou o pagamento das diferenças salariais decorrentes do dissídio coletivo (código 1172), sem que o autor tenha apontado, de forma específica, a existência de diferenças. Ressalto que consta nos holerites que o valor foi depositado na conta bancária do autor n. 010453509. Idêntico procedimento a reclamada teve nos meses anteriores. Assim, embora os documentos não estejam assinados, tem-se que o reclamante já recebeu o valor líquido neles consignados. Logo, improcede o pedido" (fls. 765-766 do PDF; ID. 084f154). Pois bem. Na petição inicial, o reclamante postula diferenças salariais referentes a julho e agosto de 2022, alegando aplicação extemporânea do dissídio coletivo, cuja cláusula terceira previa reajuste salarial a partir de 01/07/2022. Pleiteia seja a reclamada condenada ao pagamento das diferenças e reflexos. Em defesa, a reclamada sustenta que a CCT somente foi registrada em 31/08/2022, impossibilitando o retroativo do reajuste, mas que as diferenças foram pagas a partir de agosto/2022, conforme recibos salariais e de férias, que totalizam valores até mesmo superiores aos requeridos pelo reclamante. Nos contracheques de agosto de 2022 e de setembro de 2022 (fls. 161-162 do PDF; ID. d238d5a) há registros de pagamentos a título de "DIF. SALARIAL DISSIDIO", nos valores de R$ 435,66 e R$ 574,24, respectivamente. Tais documentos foram impugnados pelo reclamante em razões finais, por não terem sido assinados, não se podendo garantir que os depósitos foram efetuados (fl. 757 do PDF; ID. 043c4f8). Ocorre que chancelar a tese da parte autora, em sede de razões finais, de que a simples ausência de assinatura do empregado nos recibos de pagamento acarretaria na invalidade dos aludidos documentos, "mutatis mutandi", representaria dizer que a empresa nunca lhe pagou todos os seus salários ao longo dos anos que o trabalhador lhe prestou serviços, o que, em absoluto, não se pode admitir no caso em tela. A impugnação da parte autora, em razões finais, foi extremamente genérica, sem qualquer prova de que os valores descritos nos holerites não foram quitados. Tal prova, registre-se, é de fácil produção pelo empregado, bastando para isso, por exemplo, a juntada de seus extratos bancários. Assim, não obstante a exigência prevista no art. 464 da CLT, à míngua de impugnação específica da parte autora sobre a validade do pagamento das parcelas descritas nos holerites, presumem-se quitadas as referidas parcelas ali discriminadas. Nesse sentido, inclusive, tem se inclinado a jurisprudência do C. TST, especialmente, em julgados da 2ª e 5ª Turma, admitindo como prova até mesmo as fichas financeiras apresentadas pelo empregador: "AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 . VALIDADE DOS RECIBOS DE PAGAMENTO. DOCUMENTOS APÓCRIFOS. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. DECISÕES DÍSPARES NO ÂMBITO DO TST. A simples impugnação, pelo reclamante, em relação à invalidade dos demonstrativos de pagamento, por serem apócrifos, não é suficiente para a inversão do ônus da prova. Ressalte-se que os demonstrativos de pagamento, por serem documentos contábeis da empresa, possuem validade, ainda que não contenham a assinatura do empregado. Com efeito, pondera-se, ainda, que, na atual dinâmica empresarial, com utilização de sistemas informatizados, as empresas emitem relatórios de pagamento, os quais, na maioria das vezes, não constam assinatura do empregado. Dessa forma, não evidenciada a incorreção, pelo reclamante, dos valores constantes das fichas financeiras, devem estes ser considerados quando da dedução. Precedentes. Considerando a improcedência do recurso, aplica-se à parte agravante a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC . Agravo não provido, com aplicação de multa" (Ag-RR-203-73.2015.5.09.0029, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 11/12/2020). "RECURSO DE REVISTA. PROCESSO REGIDO PELA LEI 13.015/2014. HORAS EXTRAS E REFLEXOS. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO POR MEIO DE FICHAS FINANCEIRAS APÓCRIFAS. VALIDADE. 1. A Corte de origem concluiu que as fichas financeiras juntadas pela Reclamada não são meio de prova hábil a comprovar o pagamento das horas extras, por não conter a assinatura do empregado. Afere-se do acórdão regional que a impugnação realizada pelo Reclamante diz respeito tão somente ao aspecto formal do documento e não ao seu conteúdo (efetivo pagamento das horas extras). 2. A tese da Reclamada, transcrita no acórdão e não desconstituída pelo Reclamante, é no sentido de que " as empresas de grande porte efetuam o pagamento dos salários e demais componentes da remuneração de seus empregados através de depósitos eletrônicos em cada uma das contas bancárias respectivas, por sistema informatizado disponibilizado pelas instituições financeiras do país. Após a compensação do referido depósito, é emitido extrato na forma de Ficha Financeira ". 3. Nesse cenário, é certo que as fichas financeiras emitidas pelo empregador para fins de controle de seus pagamentos não equivalem aos recibos, na dicção do artigo 464 da CLT e, por isso, não exigem a assinatura dos respectivos empregados. 4. Trata-se de prática comum nos dias atuais o pagamento de salários dos trabalhadores por meio de transação bancária eletrônica, de modo que, em observância ao princípio da aptidão para a produção da prova, cumpria ao Reclamante impugnar de forma objetiva os dados constantes nas referidas fichas, bastando, para isso, juntar um de seus contracheques que demonstrasse, eventualmente, a incorreção dos valores informados nos aludidos documentos, o que não ocorreu. Divergência jurisprudencial configurada. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-385-69.2014.5.05.0461, 5ª Turma, Relator Ministro Douglas Alencar Rodrigues, DEJT 21/09/2018). "(...) INTERVALO INTRAJORNADA. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO MEDIANTE FICHAS FINANCEIRAS APÓCRIFAS. VALIDADE. O Tribunal Regional manteve a sentença que julgou improcedente o pedido de pagamento do intervalo intrajornada, pois constatou por meio das fichas financeiras apócrifas que a referida rubrica foi devidamente quitada. Nesse aspecto, o TST firmou o entendimento de que as fichas financeiras, mesmo se tratando de documentos unilaterais e apócrifos, possuem valor probatório semelhante ao recibo de pagamento. Precedentes. Óbice da Súmula 333 do TST e do art.896, § 7°, da CLT. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (...)" (ARR-49-84.2015.5.17.0012, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 17/05/2019). Destarte, tendo a reclamada comprovado a quitação de diferenças salariais decorrentes de dissídio nos meses de agosto e setembro de 2022, e não tendo a parte autora apontado incorreções nos valores adimplidos, reputo indevidas as parcelas pretendidas. A r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Mantenho. 2. Adicional de periculosidade. O reclamante pleiteia a reforma da r. sentença relativamente ao pedido de adicional de periculosidade, aduzindo que estão equivocadas as conclusões da prova pericial, na medida em que, durante todo o seu contrato de trabalho, ele dirigiu veículos com capacidade de armazenamento de 500 (quinhentos) a 700 (setecentos) litros de combustível, sem as certificações necessárias dos órgãos competentes, destacando que a nova regra do item 16.6.1.1 da NR-16 não se aplica ao contrato de trabalho, porquanto anterior à alteração na norma. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "Consta na petição inicial que "os veículos dirigidos pelo autor, normalmente de 02 (dois) andares, possuíam tanques de armazenamento de óleo diesel e combustíveis, para abastecimento do ônibus com capacidade superior à de 350 L (trezentos e cinquenta litros). Referido tanque, que armazenava grande volume de óleo diesel e combustíveis, expunha o reclamante a risco de vida". Por essa razão, ele pleiteia o recebimento de adicional de periculosidade e reflexos. Foi realizada perícia, conforme laudo de fls. 698/721, tendo o i. perito constatado que: "Conforme constatado durante a diligência pericial, o reclamante era responsável pela condução de passageiros em itinerários diversos, operando veículos de diferentes marcas e modelos. Verificou-se in loco que os tanques dos veículos utilizados eram originais de fábrica, com capacidade variando entre 500 a 700 litros de óleo diesel. Conforme consignado no item 16.6.1 as quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. (...) Portanto, fica descaracterizada a condição de periculosidade pela inexistência do ingresso do reclamante em área de risco acentuado, de forma habitual, bem como exposição permanente ao agente inflamável. Desta forma, ausentes os requisitos para a caracterização da periculosidade nas atividades do reclamante, sugerimos o NÃO enquadramento em periculosidade". Sem razão o inconformismo do reclamante. Suas impugnações, além de não trazerem qualquer elemento convincente para infirmar a conclusão do laudo pericial, foram devidamente respondidas às fls. 742/749. Pondero que, embora tenha sido constatada a existência de um tanque destinado ao armazenamento de óleo diesel para o abastecimento dos veículos da frota, o i. perito esclareceu que: "nas atividades de motorista interestadual, inexiste o ingresso destas funções em área de risco de forma habitual, intermitente ou permanente, nos termos do item "3d" do Anexo 2 da NR 16 da Portaria 3.214/78 do MTE, que estabelece como área de risco, para o caso em tela, "bacia de segurança". Também, consta do laudo que quando o reclamante retirava o veículo este já se encontrava abastecido, higienizado e pronto para o início das viagens. Aliás, tanto o autor não ingressava em área de risco que essa circunstância não foi mencionada na causa de pedir, a qual está restrita aos veículos por ele dirigido possuir tanques de armazenamento com capacidade superior à 350 L. Dessa forma, adoto a conclusão do laudo do perito do Juízo, porquanto foi elaborado com critério, segundo regras, princípios e padrões técnicos exigíveis, com estrita observância da legislação aplicável à espécie e em consonância com as atividades realizadas pelo reclamante. Por conseguinte, reconheço que o autor não laborou em áreas de risco, sendo improcedente os pedidos de pagamento de adicional de periculosidade e reflexos, bem como a entrega do Perfil Profissiográfico Profissional - PPP. Arbitro os honorários da perícia técnica em R$ 806,00, a cargo do reclamante, porquanto sucumbente no objeto da perícia, na forma do art. 790-B da CLT" (fls. 767-768 do PDF; ID. 084f154). À análise. Consta da peça de ingresso que, na função de motorista, o reclamante dirigia veículos e ônibus coletivos contendo tanques de combustível com capacidade de armazenamento superior a 200 (duzentos) litros, de molde a tornar a atividade perigosa. Trata-se de matéria eminentemente técnica, cuja perícia decorre de imposição legal (art. 195, da CLT). E o Perito de confiança do Juízo concluiu, em seu laudo, não se ativar o autor em condições de risco ensejadoras do pagamento do adicional de periculosidade, porquanto, nos termos do item 16.6.1 da NR-16, quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não devem ser consideradas para fins da percepção do adicional de periculosidade (fls. 708-720 do PDF; ID. 208e1fd), vejamos: "Conforme constatado durante a diligência pericial, o reclamante era responsável pela condução de passageiros em itinerários diversos, operando veículos de diferentes marcas e modelos. Verificou-se in loco que os tanques dos veículos utilizados eram originais de fábrica, com capacidade variando entre 500 a 700 litros de óleo diesel. Conforme consignado no item 16.6.1 as quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. (grifei) Assim: Nos locais de trabalho da parte reclamante não existem inflamáveis em condições de risco acentuado; Segundo restou consignado, a parte reclamante não se ativava exposto a energia elétrica; Nas atividades de Motorista Interestadual, inexiste o ingresso desta função em área de risco acentuado de forma habitual, intermitente ou permanente; Portanto, fica descaracterizada a condição de periculosidade pela inexistência do ingresso do reclamante em área de risco acentuado, de forma habitual, bem como exposição permanente ao agente inflamável. Desta forma, ausentes os requisitos para a caracterização da periculosidade nas atividades do reclamante, sugerimos o NÃO enquadramento em periculosidade. = NÃO FORAM PERICULOSAS = Conforme a portaria n° 3.214/78, NR 16 e Anexos" (fls. 720-721 do PDF; ID. 208e1fd). A conclusão da prova técnica foi impugnada pelo obreiro, segundo o qual o i. expert desconsiderou a condução de veículos com tanques de 500 a 700 litros e a existência de um tanque de armazenamento de 20.000 litros na garagem da reclamada (mesmo que parcialmente utilizado). Aduz que, mesmo à luz da Portaria SEPRT nº 1.357/2019, a ausência de certificação dos tanques inviabiliza a exclusão da periculosidade. Com efeito, na garagem de ônibus da reclamada, em área externa, dentro de bacia de contenção, há um tanque aéreo metálico, conforme fotografia constante do laudo (fl. 704 do PDF; ID. 208e1fd), contendo 10.000 litros de óleo diesel para abastecimento dos veículos da frota, condições em que a área de risco é aquela definida pela alínea "d" do item 3 do Anexo 2 da NR 16, isto é "toda a bacia de segurança", local que não era acessado pelo reclamante em suas atividades. Outrossim, foi constatado que em suas funções o reclamante transportava passageiros em rotas variadas, utilizando frota diversificada de veículos, cujos tanques de fábrica possuem capacidade entre 500 e 700 litros de óleo diesel. O contrato de trabalho sub judice durou de 16/08/2021 a 26/10/2022, conforme CTPS (fl. 30 do PDF; ID. a69458f), época em que a NR-16 dispunha o seguinte: 16.6 As operações de transporte de inflamáveis líquidos ou gasosos liquefeitos, em quaisquer vasilhames e a granel, são consideradas em condições de periculosidade, exclusão para o transporte em pequenas quantidades, até o limite de 200 (duzentos) litros para os inflamáveis líquidos e 135 (cento e trinta e cinco) quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos. 16.6.1 As quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. 16.6.1.1 Não se aplica o item 16.6 às quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de combustível originais de fábrica e suplementares, certificados pelo órgão competente. Referido item 16.6.1.1 foi alterado pela Portaria nº 1.418, de 27/08/2024 (isto é, após o contrato de trabalho), passando a dispor: 16.6.1.1 Não se aplica o item 16.6 desta NR às quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de combustíveis originais de fábrica e suplementares, e àqueles para consumo próprio de veículos de carga e de transporte coletivo de passageiros, de máquinas e de equipamentos, certificados pelo órgão competente, e nos equipamentos de refrigeração de carga. Como se nota, seja na atual redação do item 16.6.1.1, seja na antiga, o reclamante não faz jus ao adicional pretendido, porquanto não caracterizada a periculosidade com relação aos líquidos inflamáveis contidos nos tanques de combustível originais de fábrica, certificados pelo órgão competente. Não há prova nos autos de irregularidades nos tanques de combustível, todos originais de fábrica, ao revés, as fotografias constantes do laudo pericial revelam que os veículos da reclamada são novos e estão em boas condições, inclusive com registro na ANTT (fls. 703-704 do PDF; ID. 208e1fd), sendo presumível sua adequação às normas de segurança. Assim, o conjunto probatório carreado aos autos não é suficiente para infirmar a conclusão do vistor, o qual constatou, in loco, ausência de periculosidade nas atividades do reclamante. Destarte, não faz jus o reclamante à percepção do adicional de periculosidade, de modo que a r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Mantenho. 3. Horas extras. Intervalo intrajornada. Insurge-se o reclamante contra a r. sentença no que concerne ao pedido de horas extras e intervalo intrajornada, argumentando que a prova testemunhal evidenciou a nulidade dos cartões de ponto, isto é, que não eram corretamente registrados os horários de entrada e saída, de modo que o labor extraordinário não era anotado nos controles apresentados pela ré. Ressalta que apenas registrava o início de sua jornada na saída da viagem, embora chegasse ao serviço uma hora antes, para conferir a água e o óleo, calibrar o pneu, verificar o itinerário e documentações, verificar o tanque de combustível, bem como se o veículo tinha alguma avaria. Consequentemente, não há como considerar válido qualquer acordo de compensação. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "7.1. A reclamada trouxe aos autos os controles de ponto, com a marcação de horários variados, competindo ao autor, portanto, desconstituir os registros dos citados documentos, na forma do art. 818 da CLT, ônus do qual não se desincumbiu a contento. Em depoimento, o reclamante reconheceu que os dias trabalhados, assim como os horários de saída e de intervalo eram corretamente anotados. Entretanto, com relação ao início da jornada, ele afirmou que "solicitavam ao depoente marcar a entrada às 08:20/08:30; (...) que o horário da entrada não estava corretamente marcado porque esse era o horário que estava saindo da garagem, contudo diz o depoente que chegava na garagem 1 hora antes para efetuar a vistoria do veículo e verificar outras coisas do veículo, gastando para tanto de 20 a 40 minutos". Os controles de ponto de fls. 181/184 demonstram, por amostragem, que diferentemente do que consta no depoimento, em todos os dias em que o reclamante laborou no período da manhã, não houve o registro da entrada às 8h20/8h30, mas em horários mais cedo, por exemplo: 6h00, 5h00, 7h55, 7h50 e 5h50, o que demonstra a fragilidade da alegação. Ademais, a única testemunha ouvida afirmou que "dificilmente encontrava-se com o reclamante, pois dependia da escala; que quando se encontrava com o reclamante era na garagem de São Paulo, podendo ser na parte da manhã, por volta das 08:40 quando o depoente estava chegando e o reclamante já estava saindo com o veículo". Ou seja, ela não presenciava a chegada do reclamante ao trabalho, não podendo afirmar que havia a incorreção no registro da entrada nos controles de ponto. Dessa forma, não havendo provas inequívocas em sentido contrário, reconheço que os controles de ponto juntados com a defesa registram corretamente os dias e horários trabalhados, inclusive a entrada no serviço, que era devidamente registrada em campo separado do início das viagens. 7.2. Com relação à sobrejornada, o art. 59, §6º da CLT estabelece que "é lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês". No caso, consta no contrato de trabalho firmado entre as partes que: "Fica facultado ao empregador a possibilidade de compensar eventuais horas extras trabalhadas na semana, com a consequente redução da jornada nas semanas subsequentes, porém dentro do prazo de 30 (trinta) dias", não tendo o reclamante apontado a existência de incorreção no sistema de compensação adotado pela empresa. Assim, levando-se em conta que a reclamada também comprovou o pagamento de horas extras, o ônus que pesava sobre o autor era justamente apontar, de forma especificada, eventual sobrelabor não satisfeito, por se tratar de fato constitutivo de seu direito. Desse encargo, no entanto, ele não se desvencilhou, pois a alegação de horas extras não pagas decorre de um raciocínio lógico e aritmético de confrontação entre aquelas pagas/compensadas e as que seriam devidas, a tanto não se prestando a simples alegação de existência de diferenças. Portanto, reconheço que as horas extras eventualmente realizadas, foram devidamente compensadas ou quitadas, sendo improcedente o pedido de diferenças. 7.3. Quanto ao intervalo para refeição e descanso, vale ressaltar que a Constituição Federal, no artigo 7º, incisos VI, XIV e XXIV, prestigia a autonomia coletiva da vontade e autocomposição dos conflitos trabalhistas. A CLT, com as alterações introduzidas pela Lei 13.467/2017, no art. 611-A, incisos I a XIV, relaciona as matérias que podem ser objeto de negociação coletiva, estabelecendo no que a convenção coletiva e o caput acordo coletivo de trabalho, quando dispuserem sobre referidos temas têm prevalência sobre a lei; o art. 611-B, traz o rol das matérias que constituem objeto ilícito de convenção coletiva. Portanto, se as partes, legitimamente representadas, negociam matéria do seu interesse, não cabe ao Poder Judiciário imiscuir-se no assunto, pena de tornar inoperante a negociação direta e acarretar o esvaziamento das fontes normativas autônomas, neutralizando a eficácia da norma constitucional a respeito do tema. Assim, apenas quando estiver em discussão direito absolutamente indisponível, objeto de interesse público, pertinente às matérias relacionadas no art. 611-B da CLT é que poderá conduzir à negativa de validade do pactuado coletivamente. Isso porque, ignorar o que as partes legitimamente convencionaram configura-se total desprezo à atividade sindical e ao poder normativo a elas conferido pela Constituição Federal. Não é por outra razão que o § 1º, do art. 611-A, da CLT estabelece que: § 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação. Por sua vez, o § 3º, do art., 8º, da CLT dispõe que: § 3º No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva. Sedimentando o entendimento, o Supremo Tribunal Federal ao analisar o Tema n. 1046, que trata da validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito trabalhista não assegurado constitucionalmente, decidiu, conforme ata de julgamento publicada em 14.06.2022, que: "O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.046 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Em seguida, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: "São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis". As convenções coletivas juntadas aos autos foram firmadas pelos sindicatos legitimados a representar as categorias patronal e profissional, tratando-se, portanto, de partes capazes, iguais juridicamente e aptas a negociar condições de trabalho de seu interesse para se chegar a um denominador comum. Os referidos instrumentos normativos estabelecem que: "O intervalo intrajornada será de no mínimo trinta minutos, para jornadas superiores a seis horas, como permitido no art. 611-A, inciso III, da CLT. A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada de 30 minutos, para repouso ou alimentação dos empregados, implicará o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, nos termos do artigo 71, § 4º da CLT". Como se vê, a matéria disciplinada na cláusula encontra-se dentre aquelas relacionadas no art. 611-A da CLT, que admitem a negociação coletiva. Logo, considero válida a cláusula normativa que prevê a redução do intervalo para refeição e descanso. Nesse sentido, cito recentes decisões do C. TST: (...) (Processo: RR - 165-65.2011.5.12.0046, Órgão Judicante: 4ª Turma, Relatora: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Julgamento: 07/02/2023, Publicação: 10/02/2023). (...) (Processo: RRAg -1001681-47.2017.5.02.022, Órgão Judicante: 8ª Turma, Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Julgamento: 19/10/2022, Publicação: 24/10/2022). Portanto, não há qualquer irregularidade na redução do intervalo para refeição e descaso, conforme previsto nos instrumentos normativos da categoria. Ademais, considerando que a reclamada comprovou o pagamento dos minutos eventualmente suprimidos ao longo do contrato, sob a denominação - rubrica 188, o ônus que pesava "indeniz. art. 71 CLT" sobre o autor era apontar, de forma específica, a existência de diferenças, ônus do qual não se desincumbiu. Assim, julgo improcedente o pedido de pagamento de uma hora, por dia trabalhado, e reflexos" (fls. 768-773 do PDF; ID. 084f154). À análise. A reclamada trouxe aos presentes autos cartões de ponto com marcações variáveis (fl. 226 do PDF; ID. a73cfe2), inclusive com marcação do intervalo intrajornada, os quais são presumidamente válidos, conforme Súmula 338 do C. TST. Por ter trazido a ré os referidos documentos, incumbia ao reclamante a comprovação da invalidade dos controles de jornada e violação do intervalo intrajornada, por se tratarem de fatos constitutivos de seu direito, conforme art. 818, I, da CLT. Em depoimento pessoal o reclamante declarou: "(...) que exibido por amostragem documento id: d98a03b, o depoente reconheceu como sua a caligrafia;q não marcava de forma correta os horários trabalhados, dizendo que "marcava no ponto o horário que eles pediam"; que solicitavam ao depoente marcar a entrada às 08:20/08:30; que a saída era corretamente marcada; que marcava 20 minutos de intervalo de refeições de forma correta; que o horário da entrada não estava corretamente marcado porque esse era o horário que estava saindo da garagem, contudo diz o depoente que chegava na garagem 1 hora antes para efetuar a vistoria do veículo e verificar outras coisas do veículo, gastando para tanto de 20 a 40 minutos ; que também poderia trabalhar em outros horários apontando o que chegava na garagem por volta das 16:30 , encerrando à 00:00/01:00; que todos os dias trabalhados estão registrados no controle de ponto (...)" (fl. 275 do PDF; ID. f96367c). Nota-se que em seu depoimento o reclamante reconheceu a autenticidade das fichas individuais de horário de trabalho externo (fl. 168 do PDF; ID. d98a03b) e confessou que os cartões de ponto refletem corretamente os horários de saída, o intervalo intrajornada para refeição e a frequência de trabalho. A divergência reside apenas no horário de entrada, haja vista que este não representaria o efetivo início de suas atividades, mas sim o momento em que deixava a garagem após a vistoria do veículo. A testemunha convidada pelo reclamante declarou: "que trabalhou na reclamada de novembro de 2021 a novembro de 2022, exercendo a função de motorista de ônibus; que fazia viagens de São Paulo-Tubarão, fazia conexão em Curitiba; que após retornava para Sâo PAulo; que também fazia São Paulo-Uberaba, São PAulo-Curitiba e São Paulo-Florianópolis; que marcava controle de ponto conforme a reclamada pedia; que não estava correto o início da jornada, uma vez que o horário registrado no controle de ponto refere-se aquele em que a viagem era iniciada; que quando a viagem era na parte da manhã, o depoente chegava na garagem or volta das 07:00 para fazer checklist do veículo, operação do veículo bem como retirar a ficha da viagem; que gastava 1 hora com o referido serviço; que registrava na ficha de horários o início da jornada às 08:30; que o encerramento da jornada era corretamente registrado; que todos os dias trabalhados eram registrados nos controle de ponto; que desfrutava de 20 a 30 minutos de intervalo para as refeições; que dificilmente encontrava-se com o reclamante , pois dependia da escala; que quando encontrava-se com o reclamante era na garagem de São Paulo, podendo ser na parte da manhã, por volta das 08:40 quando o depoente estava chegando e o reclamante já estava saindo com o veículo; que também poderia encontrá-lo no horário noturno, por volta das 17:00/18:00, sendo que também neste horário o reclamante já estava saindo com o veículo e o depoente chegando" (fl. 276 do PDF; ID. f96367c). O depoimento da testemunha, embora descreva sua rotina e alguns encontros casuais com o reclamante na garagem, não comprova qualquer irregularidade no registro de entrada deste. A testemunha apenas relatou ver o reclamante saindo quando ela chegava, impossibilitando-a de afirmar qualquer fato ocorrido antes desse momento. Sua declaração, portanto, não tem aptidão para a demonstração de que os horários de entrada registrados nos cartões de ponto do reclamante sejam incorretos. Já a testemunha ouvida a convite da reclamada declarou: "que trabalha na reclamada desde junho de 2013; que desde 2018 exerce a função de motorista instrutor; que o reclamante trabalhou por volta de 1 ano e meio na reclamada ; que o reclamante trabalhou na reclamada de 2022 a 2023, exercendo a função de motorista interestadual; que o depoente trabalha em diversos horários conforme escala; que encontrava-se com o reclamante na garagem , podendo ser às 09:20, 17:00, dependendo do horário de escala de viagem do reclamante" (fl. 277 do PDF; ID. f96367c). Observa-se que o depoimento da testemunha da reclamada, embora confirme a atuação do reclamante como motorista interestadual, não apresenta elementos que comprovem qualquer irregularidade no registro de entrada nos cartões de ponto. A testemunha apenas relata encontros esporádicos com o reclamante na garagem em horários diversos, sem fornecer informações que corroborem a alegação de diferenças entre a jornada efetivamente trabalhada e aquela registrada. Não tendo o reclamante se desincumbido no ônus imposto pelo art. 818, inciso I, da CLT, reputo que os cartões de ponto são idôneos. Outrossim, a cláusula 2 do contrato de trabalho previa acordo de compensação (fl. 133 do PDF; ID. bec373e) e também havia pagamentos de horas extras não compensadas em contracheques, conforme se constata do demonstrativo de pagamento de salário de agosto de 2021 (fl. 151 do PDF; ID. d238d5a), por exemplo, não tendo o obreiro apontado diferenças em seu favor. Destarte, indevidas quaisquer diferenças de horas extras ao autor, não havendo reforma a ser feita na r. sentença com relação à matéria. De outra banda, o reclamante também defende a invalidade do acordo de redução de intervalo intrajornada, porquanto não corretamente observado o permissivo legal, já que ele nunca realizava quaisquer outras pausas ou descansos após uma viagem completa, além de uma única de 20 (vinte) a 30 (trinta) minutos. Além disso, segundo a parte autora, ela estendia a jornada de trabalho, todos os dias, em horário noturno e extraordinário, resultando inaplicável a norma coletiva, no particular. Com relação à matéria, conforme já foi visto, o MM. Juízo a quo entendeu que a redução do intervalo intrajornada, prevista em norma coletiva, é válida, na forma do art. 611-A, III, CLT e Tema 1046 da repercussão geral. Constata-se da cláusula 3 do contrato de trabalho que o intervalo intrajornada poderia ser reduzido a até trinta minutos em caso de necessidade (fl. 133 do PDF; ID. bec373e), havendo previsão em norma coletiva para tal ajuste, conforme cláusula 13ª, "e" da CCT 2020/2022: "CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA - HORAS EXTRAS (...) e. O intervalo intrajornada será de no mínimo trinta minutos, para jornadas superiores a seis horas, como permitido no art. 611-A, inciso III, da CLT f. A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada de 30 minutos, para repouso ou alimentação dos empregados, implicará o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, nos termos do artigo 71, § 4º da CLT g. Estritamente para os motoristas, cobradores, fiscalização de campo e afins, nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor de transporte coletivo de passageiros, o intervalo para repouso ou alimentação poderá ser reduzido e/ou fracionado, quando compreendidos entre o término da primeira hora trabalhada e o início da última hora trabalhada, ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais de trabalho a que são submetidos, mantida a remuneração e concedidos intervalos para descanso menores ao final de cada viagem, conforme permitido no art. 71 §5º da CLT" (fl. 48 do PDF; ID. 68bbefa). Pois bem. As discussões acerca da validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito trabalhista não assegurado constitucionalmente restou pacificada no julgamento do ARE 1121622, proferido aos 02.06.2022, no qual o STF firmou o Tema 1046 de repercussão geral, nos seguintes termos: São constitucionais os acordos e as convenções coletivas que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis. É de se dizer que a Corte Superior atrelou a possibilidade de os entes sindicais restringirem direitos trabalhistas - via negociação coletiva - ao fato de eles serem ou não absolutamente indisponíveis, impassíveis de renúncia ou transação. E, ao estabelecer os critérios a serem observados na qualificação dos direitos absolutamente indisponíveis, o eminente Ministro Relator, Gilmar Mendes baseou seu entendimento no magistério de Mauricio Godinho Delgado que vincula a absoluta indisponibilidade de um direito trabalhista ao conceito de "patamar mínimo civilizatório" integrado por três grupos de normas heterônomas: as normas constitucionais em geral (respeitadas as ressalvas parciais expressamente feitas pela própria Constituição: art. 7º, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro (referidas pelo art. 5º, §2º, CF/88 e as normas infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora. Englobadas estão, por certo, na concepção de indisponibilidade absoluta, as questões relativas à saúde e segurança do trabalhador, tutelados pelo inciso XXII, do artigo 7º, da CF/88, Convenção 155 e Recomendação 164, da OIT. Transcrevo, por oportuno, as lições do ilustre jurista Mauricio Godinho Delgado: " (...) Também não prevalece a adequação setorial negociada se concernente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta (e não indisponibilidade relativa), os quais não podem ser transacionados nem mesmo por negociação sindical coletiva. Tais parcelas são aquelas imantadas por uma tutela de interesse público, por constituírem um patamar civilizatório mínimo que a sociedade democrática não concebe ver reduzido em qualquer segmento econômico-profissional, sob pena de se afrontarem a própria dignidade da pessoa humana e a valorização mínima deferível ao trabalho (arts. 1o, III, e 170, caput, CF/88). Expressam, ilustrativamente, essas parcelas de indisponibilidade absoluta a anotação de CTPS, o pagamento do salário mínimo, as normas de saúde e segurança no ambiente do trabalho; em suma, todos os direitos e normas que ostentem caráter imperativo por força da ordem jurídica heterônoma estatal. No caso brasileiro, esse patamar civilizatório mínimo, está dado, essencialmente, por três grupos convergentes de normas trabalhistas heterônomas: as normas constitucionais em geral (respeitadas, é claro, as ressalvas parciais expressamente feitas pela própria Constituição: art. 7º, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro (referidas pelo art. 5º, §2º, CF/88, já expressando um patamar civilizatório no próprio mundo ocidental em que se integral o Brasil); as normas infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora (preceitos relativos à saúde e segurança no trabalho, normas concernentes a bases salariais, normas de identificação profissional, dispositivo antidiscriminatórios, etc.)."( gn - Curso de Direito do Trabalho. 18ª edição. LTr: São Paulo. 2019. p. 1577/1578) Assim, considerando-se as diretrizes estabelecidas pelo E. STF e, em virtude das matérias relativas a redução do intervalo intrajornada não integrarem o conceito de direitos indisponíveis sendo, inclusive, tratada em nível infraconstitucional, sobretudo no art. 71 da CLT, não merece reforma a r. sentença com relação ao reconhecimento da validade da cláusula convencional que autorizou a redução do intervalo intrajornada. Quanto ao período intervalar, pontuou, inclusive, o Eminente Ministro Relator Gilmar Mendes, em seu voto vencedor no Plenário Virtual daquela E. Corte no julgamento do referido Tema 1046 em Repercussão Geral, que: "Quanto ao tema 357, de minha relatoria, assentou-se que a controvérsia relativa à redução do intervalo intrajornada e majoração da jornada de trabalho, no regime de turnos ininterruptos de revezamento, por negociação coletiva, estaria restrita ao âmbito infraconstitucional, motivo pelo qual se rejeitou a repercussão geral da matéria. Confira-se a ementa: Redução do intervalo intrajornada. Majoração da jornada em turnos ininterruptos de revezamento. Convenção e acordo coletivo. Matéria restrita ao âmbito infraconstitucional. Inexistência de repercussão geral. (AI-RG 825.675, de minha relatoria, DJe 25.3.2011)" E mais: corroborando a disponibilidade do direito em análise, a Lei nº 13.467/2017 alterou a redação do § 4º do artigo 71 da CLT, bem como inseriu as previsões contidas nos arts. 611-A e 611-B da CLT: Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: (...) Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) Nesse contexto, portanto, a antiga jurisprudência do C. TST, consolidada no teor da Súmula nº 437, em seu item II, segundo o qual "é inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública" - amplamente adotada por este Relator, anteriormente, inclusive - resta totalmente superada com o julgamento do Tema 1046 pelo Supremo Tribunal Federal, com efeito vinculante. É válida, portanto, a redução do intervalo intrajornada por meio de instrumento coletivo. Visto que o reclamante confessou que o intervalo intrajornada era regularmente anotado nos cartões de ponto, e considerando que nos contracheques há pagamentos a título de "INDENIZ. ART. 71 CLT", incumbia-lhe apontar diferenças em seu favor, corolário do ônus imposto pelo art. 818, inciso I, da CLT, o que, porém, não ocorreu. Destarte, não há retoque a ser feito na r. sentença, no particular. Mantenho. 4. Adicional noturno. Multa normativa. A parte autora pugna pela reforma da r. sentença com relação ao pedido de adicional noturno e multa normativa, sustentando que não era observada a prorrogação em horas diurnas. Aduz ser devida multa normativa, com base em tal fundamento. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "Por fim, verifica-se que o reclamante também não apontou, sequer por amostragem, a existência de diferenças com relação ao adicional noturno quitado ao longo do contrato de trabalho (código 022). Portanto, julgo improcedente o pedido" (fl. 773 do PDF; ID. 084f154). Os cartões de ponto revelam que eventualmente o reclamante se ativava em horário noturno, e nos contracheques há prova de pagamentos a título de adicional noturno. Ocorre que em sua defesa a reclamada limitou-se a sustentar que o adicional noturno foi quitado, observando-se a redução da hora noturna, mas nada esclarecendo quanto às prorrogações em horas diurnas. Nota-se, assim, que a reclamada não impugnou em sua contestação, de forma especificada, os fatos alegados pela autora na petição inicial, isto é, que na quitação do adicional noturno não eram observadas as prorrogações em horas diurnas. Não tendo a parte ré se desincumbido do ônus da impugnação especificada dos fatos, presume-se verdadeiro o alegado na petição inicial, na forma do art. 341 do CPC/2015, aplicado subsidiariamente com fundamento no art. 769 da CLT. Com relação à prorrogação após às 05h00, o § 5º do art. 73 da CLT determina que: "§ 5º Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste capítulo". Nesse sentido, a Súmula nº 60, do C. TST também dispõe ser devido o adicional noturno nas prorrogações em horário diurno. Portanto, defiro as diferenças de adicional noturno pleiteadas, considerando as horas laboradas após às 05h00 conforme jornadas registradas nos cartões de ponto. Por outro lado, não vislumbro habitualidade no labor noturno, sendo indevidos reflexos do adicional deferido nas demais verbas. Na apuração das diferenças de adicional noturno deverão ser deduzidos os valores quitados a idêntico título ao longo do contrato de trabalho. Outrossim, o reclamante não explica em que medida a irregularidade na quitação do adicional noturno teria violado a CCT da categoria, sendo que as cláusulas por ele indicadas na petição inicial (3ª, 9ª, 15ª, 16ª e 35ª) sequer têm a ver com a matéria. Assim, indevida a multa postulada. Reformo, em parte. DO EXPOSTO, ACORDAM os Magistrados da 10ª Turma do Tribunal Regional da 2ª Região em CONHECER do recurso ordinário interposto pelo reclamante e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para condenar a reclamada ao pagamento de diferenças de adicional noturno, tudo na forma da fundamentação. Mantida, no mais, a r. sentença de origem, inclusive quanto ao valor arbitrado à condenação. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Senhor Desembargador ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES. Tomaram parte no julgamento: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES, ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO e SÔNIA APARECIDA GINDRO. Votação: por maioria, vencido o voto da Desembargadora Ana Maria Moraes Barbosa Macedo, que determinava o sobrestamento do feito. São Paulo, 18 de Junho de 2025. ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES Relator lvz VOTOS Voto do(a) Des(a). ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO / 10ª Turma - Cadeira 5 DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE Respeitosamente, divirjo do D. Relator, pelos seguintes fundamentos: Entendo que deve ser dado efeito suspensivo ao presente recurso porque a tese aqui debatida (adicional de periculosidade aos motoristas diante do veículo com tanque de combustível com capacidade superior a 200 litros) está com o andamento suspenso pelo C. TST (IncJulgRREmbRep-0020969-89.2022.5.04.0014). Se superado isso, acompanho o D. Relator, eis que os tanques de combustível dos veículos dirigidos pelo autor são todos originais de fábrica, ao revés, as fotografias constantes do laudo pericial revelam que os veículos da reclamada são novos e estão em boas condições, inclusive com registro na ANTT (fls. 703-704 do PDF; ID. 208e1fd), sendo presumível sua adequação às normas de segurança. Assim, o conjunto probatório carreado aos autos não é suficiente para infirmar a conclusão do vistor, o qual constatou, in loco, ausência de periculosidade nas atividades do reclamante. Destarte, não faz jus o reclamante à percepção do adicional de periculosidade, de modo que a r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Indevidas diferenças de horas extras e noturnas, porque aquelas apontadas pelo autor não possuem credibilidade. ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO Desembargadora Revisora SAO PAULO/SP, 17 de julho de 2025. CINTIA YUMI ADACHI Diretor de Secretaria Intimado(s) / Citado(s) - EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA

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Adailton Ferreira Da Cruz e outros x Eucatur-Empresa Uniao Cascavel De Transportes E Turismo Ltda

ID: 328724079

Tribunal: TRT2 Órgão: 10ª Turma Classe: RECURSO ORDINáRIO TRABALHISTA Nº Processo: 1001787-21.2024.5.02.0068

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

ADAILTON FERREIRA DA CRUZ TIAGO PIRES PINHEIRO

Polo Passivo:

EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA

Acórdão

Advogados:

ARTHUR FELIPE DAS CHAGAS MARTINS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PRISCILLA BOSCARATO MASSELLI PINA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

FELIPE CAVASSUTE ARANTES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

CHRISTIANE MASSARO LOHMANN

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

ANDRE DE ARAUJO SIQUEIRA

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 10ª TURMA Relator: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES ROT 1001787-21.2024.5.02.0068 RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA … PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 10ª TURMA Relator: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES ROT 1001787-21.2024.5.02.0068 RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA CRUZ RECORRIDO: EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA Ficam as partes INTIMADAS quanto aos termos do v. Acórdão proferido nos presentes autos (#07e4e91): PROCESSO nº 1001787-21.2024.5.02.0068 (ROT) RECORRENTE: ADAILTON FERREIRA DA CRUZ RECORRIDO: EUCATUR-EMPRESA UNIAO CASCAVEL DE TRANSPORTES E TURISMO LTDA RELATOR: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES JUÍZA PROLATORA DA SENTENÇA: CLEUSA SOARES DE ARAUJO RELATÓRIO Vistos, etc. Inconformada com a r. sentença (fl. 763 do PDF; ID. 084f154), cujo relatório adoto, que julgou parcialmente procedentes os pedidos da presente reclamação trabalhista, recorre a parte autora. O reclamante, com as razões de recurso ordinário (fl. 782 do PDF; ID. d5fa0e2), discute a improcedência dos pedidos de diferenças salariais, adicional de periculosidade, horas extras, intervalo intrajornada, adicional noturno e multa normativa. Contrarrazões da reclamada (fl. 799 do PDF; ID. cf3095e). É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO VOTO Pressupostos de admissibilidade Conheço do recurso interposto pela parte autora, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade. Afetação em incidente de recurso de revista repetitivo. Tema 45. Registre-se, por oportuno, que nos autos do IncJulgRREmbRep nº 0020969-89.2022.5.04.0014 o E. Tribunal Pleno do C. TST, por unanimidade, acolheu a proposta de afetação do incidente de recursos de revista repetitivos, a fim de serem dirimidas as seguintes questões jurídicas: "a) é devido adicional de periculosidade aos motoristas, diante da existência de tanque suplementar nos veículos, para uso próprio, com capacidade superior a 200 litros, nas situações fáticas anteriores à edição da Portaria SEPRT, nº 1.357/19, DOU de 10.12.2019, que alterou a NR16 DO MTb?; b) após a edição da Portaria SEPRT, nº 1.357/19, DOU de 10.12.2019, que alterou a NR16 DO MTb, no item 16.6.1.1, deixou de ser devido adicional de periculosidade aos motoristas, qualquer que seja a capacidade de armazenamento dos tanques de combustível para uso próprio, originais de fábrica ou suplementares, desde que estes sejam certificados pelo órgão competente?" A decisão de suspensão referente ao Tema nº 45, porém, abrange apenas os Recursos de Revista e Embargos no TST, não havendo óbice, portanto, à apreciação e julgamento do presente recurso ordinário, por esta 10ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, motivo pelo qual prossigo na análise do mérito do recurso. MÉRITO 1. Diferenças salariais. O reclamante postula seja reformada a r. sentença com relação ao pedido de diferenças salariais relativas aos meses de julho e agosto de 2022, aduzindo que contracheques sem assinatura não comprovam os pagamentos, na forma do art. 464 da CLT. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "O autor afirma que, embora a convenção coletiva da categoria estabelecesse reajuste, em julho/2022, a reclamada somente passou a pagar o salário, no valor de R$ 2.536,23, a partir de setembro daquele ano. Requer o pagamento das diferenças salariais, referentes aos meses de julho e agosto de 2022, e reflexos. Contudo, os recibos de fls. 161/162 demonstram que a reclamada, nos meses de agosto e setembro de 2022, efetuou o pagamento das diferenças salariais decorrentes do dissídio coletivo (código 1172), sem que o autor tenha apontado, de forma específica, a existência de diferenças. Ressalto que consta nos holerites que o valor foi depositado na conta bancária do autor n. 010453509. Idêntico procedimento a reclamada teve nos meses anteriores. Assim, embora os documentos não estejam assinados, tem-se que o reclamante já recebeu o valor líquido neles consignados. Logo, improcede o pedido" (fls. 765-766 do PDF; ID. 084f154). Pois bem. Na petição inicial, o reclamante postula diferenças salariais referentes a julho e agosto de 2022, alegando aplicação extemporânea do dissídio coletivo, cuja cláusula terceira previa reajuste salarial a partir de 01/07/2022. Pleiteia seja a reclamada condenada ao pagamento das diferenças e reflexos. Em defesa, a reclamada sustenta que a CCT somente foi registrada em 31/08/2022, impossibilitando o retroativo do reajuste, mas que as diferenças foram pagas a partir de agosto/2022, conforme recibos salariais e de férias, que totalizam valores até mesmo superiores aos requeridos pelo reclamante. Nos contracheques de agosto de 2022 e de setembro de 2022 (fls. 161-162 do PDF; ID. d238d5a) há registros de pagamentos a título de "DIF. SALARIAL DISSIDIO", nos valores de R$ 435,66 e R$ 574,24, respectivamente. Tais documentos foram impugnados pelo reclamante em razões finais, por não terem sido assinados, não se podendo garantir que os depósitos foram efetuados (fl. 757 do PDF; ID. 043c4f8). Ocorre que chancelar a tese da parte autora, em sede de razões finais, de que a simples ausência de assinatura do empregado nos recibos de pagamento acarretaria na invalidade dos aludidos documentos, "mutatis mutandi", representaria dizer que a empresa nunca lhe pagou todos os seus salários ao longo dos anos que o trabalhador lhe prestou serviços, o que, em absoluto, não se pode admitir no caso em tela. A impugnação da parte autora, em razões finais, foi extremamente genérica, sem qualquer prova de que os valores descritos nos holerites não foram quitados. Tal prova, registre-se, é de fácil produção pelo empregado, bastando para isso, por exemplo, a juntada de seus extratos bancários. Assim, não obstante a exigência prevista no art. 464 da CLT, à míngua de impugnação específica da parte autora sobre a validade do pagamento das parcelas descritas nos holerites, presumem-se quitadas as referidas parcelas ali discriminadas. Nesse sentido, inclusive, tem se inclinado a jurisprudência do C. TST, especialmente, em julgados da 2ª e 5ª Turma, admitindo como prova até mesmo as fichas financeiras apresentadas pelo empregador: "AGRAVO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 . VALIDADE DOS RECIBOS DE PAGAMENTO. DOCUMENTOS APÓCRIFOS. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. DECISÕES DÍSPARES NO ÂMBITO DO TST. A simples impugnação, pelo reclamante, em relação à invalidade dos demonstrativos de pagamento, por serem apócrifos, não é suficiente para a inversão do ônus da prova. Ressalte-se que os demonstrativos de pagamento, por serem documentos contábeis da empresa, possuem validade, ainda que não contenham a assinatura do empregado. Com efeito, pondera-se, ainda, que, na atual dinâmica empresarial, com utilização de sistemas informatizados, as empresas emitem relatórios de pagamento, os quais, na maioria das vezes, não constam assinatura do empregado. Dessa forma, não evidenciada a incorreção, pelo reclamante, dos valores constantes das fichas financeiras, devem estes ser considerados quando da dedução. Precedentes. Considerando a improcedência do recurso, aplica-se à parte agravante a multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC . Agravo não provido, com aplicação de multa" (Ag-RR-203-73.2015.5.09.0029, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 11/12/2020). "RECURSO DE REVISTA. PROCESSO REGIDO PELA LEI 13.015/2014. HORAS EXTRAS E REFLEXOS. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO POR MEIO DE FICHAS FINANCEIRAS APÓCRIFAS. VALIDADE. 1. A Corte de origem concluiu que as fichas financeiras juntadas pela Reclamada não são meio de prova hábil a comprovar o pagamento das horas extras, por não conter a assinatura do empregado. Afere-se do acórdão regional que a impugnação realizada pelo Reclamante diz respeito tão somente ao aspecto formal do documento e não ao seu conteúdo (efetivo pagamento das horas extras). 2. A tese da Reclamada, transcrita no acórdão e não desconstituída pelo Reclamante, é no sentido de que " as empresas de grande porte efetuam o pagamento dos salários e demais componentes da remuneração de seus empregados através de depósitos eletrônicos em cada uma das contas bancárias respectivas, por sistema informatizado disponibilizado pelas instituições financeiras do país. Após a compensação do referido depósito, é emitido extrato na forma de Ficha Financeira ". 3. Nesse cenário, é certo que as fichas financeiras emitidas pelo empregador para fins de controle de seus pagamentos não equivalem aos recibos, na dicção do artigo 464 da CLT e, por isso, não exigem a assinatura dos respectivos empregados. 4. Trata-se de prática comum nos dias atuais o pagamento de salários dos trabalhadores por meio de transação bancária eletrônica, de modo que, em observância ao princípio da aptidão para a produção da prova, cumpria ao Reclamante impugnar de forma objetiva os dados constantes nas referidas fichas, bastando, para isso, juntar um de seus contracheques que demonstrasse, eventualmente, a incorreção dos valores informados nos aludidos documentos, o que não ocorreu. Divergência jurisprudencial configurada. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-385-69.2014.5.05.0461, 5ª Turma, Relator Ministro Douglas Alencar Rodrigues, DEJT 21/09/2018). "(...) INTERVALO INTRAJORNADA. COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO MEDIANTE FICHAS FINANCEIRAS APÓCRIFAS. VALIDADE. O Tribunal Regional manteve a sentença que julgou improcedente o pedido de pagamento do intervalo intrajornada, pois constatou por meio das fichas financeiras apócrifas que a referida rubrica foi devidamente quitada. Nesse aspecto, o TST firmou o entendimento de que as fichas financeiras, mesmo se tratando de documentos unilaterais e apócrifos, possuem valor probatório semelhante ao recibo de pagamento. Precedentes. Óbice da Súmula 333 do TST e do art.896, § 7°, da CLT. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (...)" (ARR-49-84.2015.5.17.0012, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 17/05/2019). Destarte, tendo a reclamada comprovado a quitação de diferenças salariais decorrentes de dissídio nos meses de agosto e setembro de 2022, e não tendo a parte autora apontado incorreções nos valores adimplidos, reputo indevidas as parcelas pretendidas. A r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Mantenho. 2. Adicional de periculosidade. O reclamante pleiteia a reforma da r. sentença relativamente ao pedido de adicional de periculosidade, aduzindo que estão equivocadas as conclusões da prova pericial, na medida em que, durante todo o seu contrato de trabalho, ele dirigiu veículos com capacidade de armazenamento de 500 (quinhentos) a 700 (setecentos) litros de combustível, sem as certificações necessárias dos órgãos competentes, destacando que a nova regra do item 16.6.1.1 da NR-16 não se aplica ao contrato de trabalho, porquanto anterior à alteração na norma. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "Consta na petição inicial que "os veículos dirigidos pelo autor, normalmente de 02 (dois) andares, possuíam tanques de armazenamento de óleo diesel e combustíveis, para abastecimento do ônibus com capacidade superior à de 350 L (trezentos e cinquenta litros). Referido tanque, que armazenava grande volume de óleo diesel e combustíveis, expunha o reclamante a risco de vida". Por essa razão, ele pleiteia o recebimento de adicional de periculosidade e reflexos. Foi realizada perícia, conforme laudo de fls. 698/721, tendo o i. perito constatado que: "Conforme constatado durante a diligência pericial, o reclamante era responsável pela condução de passageiros em itinerários diversos, operando veículos de diferentes marcas e modelos. Verificou-se in loco que os tanques dos veículos utilizados eram originais de fábrica, com capacidade variando entre 500 a 700 litros de óleo diesel. Conforme consignado no item 16.6.1 as quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. (...) Portanto, fica descaracterizada a condição de periculosidade pela inexistência do ingresso do reclamante em área de risco acentuado, de forma habitual, bem como exposição permanente ao agente inflamável. Desta forma, ausentes os requisitos para a caracterização da periculosidade nas atividades do reclamante, sugerimos o NÃO enquadramento em periculosidade". Sem razão o inconformismo do reclamante. Suas impugnações, além de não trazerem qualquer elemento convincente para infirmar a conclusão do laudo pericial, foram devidamente respondidas às fls. 742/749. Pondero que, embora tenha sido constatada a existência de um tanque destinado ao armazenamento de óleo diesel para o abastecimento dos veículos da frota, o i. perito esclareceu que: "nas atividades de motorista interestadual, inexiste o ingresso destas funções em área de risco de forma habitual, intermitente ou permanente, nos termos do item "3d" do Anexo 2 da NR 16 da Portaria 3.214/78 do MTE, que estabelece como área de risco, para o caso em tela, "bacia de segurança". Também, consta do laudo que quando o reclamante retirava o veículo este já se encontrava abastecido, higienizado e pronto para o início das viagens. Aliás, tanto o autor não ingressava em área de risco que essa circunstância não foi mencionada na causa de pedir, a qual está restrita aos veículos por ele dirigido possuir tanques de armazenamento com capacidade superior à 350 L. Dessa forma, adoto a conclusão do laudo do perito do Juízo, porquanto foi elaborado com critério, segundo regras, princípios e padrões técnicos exigíveis, com estrita observância da legislação aplicável à espécie e em consonância com as atividades realizadas pelo reclamante. Por conseguinte, reconheço que o autor não laborou em áreas de risco, sendo improcedente os pedidos de pagamento de adicional de periculosidade e reflexos, bem como a entrega do Perfil Profissiográfico Profissional - PPP. Arbitro os honorários da perícia técnica em R$ 806,00, a cargo do reclamante, porquanto sucumbente no objeto da perícia, na forma do art. 790-B da CLT" (fls. 767-768 do PDF; ID. 084f154). À análise. Consta da peça de ingresso que, na função de motorista, o reclamante dirigia veículos e ônibus coletivos contendo tanques de combustível com capacidade de armazenamento superior a 200 (duzentos) litros, de molde a tornar a atividade perigosa. Trata-se de matéria eminentemente técnica, cuja perícia decorre de imposição legal (art. 195, da CLT). E o Perito de confiança do Juízo concluiu, em seu laudo, não se ativar o autor em condições de risco ensejadoras do pagamento do adicional de periculosidade, porquanto, nos termos do item 16.6.1 da NR-16, quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não devem ser consideradas para fins da percepção do adicional de periculosidade (fls. 708-720 do PDF; ID. 208e1fd), vejamos: "Conforme constatado durante a diligência pericial, o reclamante era responsável pela condução de passageiros em itinerários diversos, operando veículos de diferentes marcas e modelos. Verificou-se in loco que os tanques dos veículos utilizados eram originais de fábrica, com capacidade variando entre 500 a 700 litros de óleo diesel. Conforme consignado no item 16.6.1 as quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. (grifei) Assim: Nos locais de trabalho da parte reclamante não existem inflamáveis em condições de risco acentuado; Segundo restou consignado, a parte reclamante não se ativava exposto a energia elétrica; Nas atividades de Motorista Interestadual, inexiste o ingresso desta função em área de risco acentuado de forma habitual, intermitente ou permanente; Portanto, fica descaracterizada a condição de periculosidade pela inexistência do ingresso do reclamante em área de risco acentuado, de forma habitual, bem como exposição permanente ao agente inflamável. Desta forma, ausentes os requisitos para a caracterização da periculosidade nas atividades do reclamante, sugerimos o NÃO enquadramento em periculosidade. = NÃO FORAM PERICULOSAS = Conforme a portaria n° 3.214/78, NR 16 e Anexos" (fls. 720-721 do PDF; ID. 208e1fd). A conclusão da prova técnica foi impugnada pelo obreiro, segundo o qual o i. expert desconsiderou a condução de veículos com tanques de 500 a 700 litros e a existência de um tanque de armazenamento de 20.000 litros na garagem da reclamada (mesmo que parcialmente utilizado). Aduz que, mesmo à luz da Portaria SEPRT nº 1.357/2019, a ausência de certificação dos tanques inviabiliza a exclusão da periculosidade. Com efeito, na garagem de ônibus da reclamada, em área externa, dentro de bacia de contenção, há um tanque aéreo metálico, conforme fotografia constante do laudo (fl. 704 do PDF; ID. 208e1fd), contendo 10.000 litros de óleo diesel para abastecimento dos veículos da frota, condições em que a área de risco é aquela definida pela alínea "d" do item 3 do Anexo 2 da NR 16, isto é "toda a bacia de segurança", local que não era acessado pelo reclamante em suas atividades. Outrossim, foi constatado que em suas funções o reclamante transportava passageiros em rotas variadas, utilizando frota diversificada de veículos, cujos tanques de fábrica possuem capacidade entre 500 e 700 litros de óleo diesel. O contrato de trabalho sub judice durou de 16/08/2021 a 26/10/2022, conforme CTPS (fl. 30 do PDF; ID. a69458f), época em que a NR-16 dispunha o seguinte: 16.6 As operações de transporte de inflamáveis líquidos ou gasosos liquefeitos, em quaisquer vasilhames e a granel, são consideradas em condições de periculosidade, exclusão para o transporte em pequenas quantidades, até o limite de 200 (duzentos) litros para os inflamáveis líquidos e 135 (cento e trinta e cinco) quilos para os inflamáveis gasosos liquefeitos. 16.6.1 As quantidades de inflamáveis, contidas nos tanques de consumo próprio dos veículos, não serão consideradas para efeito desta Norma. 16.6.1.1 Não se aplica o item 16.6 às quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de combustível originais de fábrica e suplementares, certificados pelo órgão competente. Referido item 16.6.1.1 foi alterado pela Portaria nº 1.418, de 27/08/2024 (isto é, após o contrato de trabalho), passando a dispor: 16.6.1.1 Não se aplica o item 16.6 desta NR às quantidades de inflamáveis contidas nos tanques de combustíveis originais de fábrica e suplementares, e àqueles para consumo próprio de veículos de carga e de transporte coletivo de passageiros, de máquinas e de equipamentos, certificados pelo órgão competente, e nos equipamentos de refrigeração de carga. Como se nota, seja na atual redação do item 16.6.1.1, seja na antiga, o reclamante não faz jus ao adicional pretendido, porquanto não caracterizada a periculosidade com relação aos líquidos inflamáveis contidos nos tanques de combustível originais de fábrica, certificados pelo órgão competente. Não há prova nos autos de irregularidades nos tanques de combustível, todos originais de fábrica, ao revés, as fotografias constantes do laudo pericial revelam que os veículos da reclamada são novos e estão em boas condições, inclusive com registro na ANTT (fls. 703-704 do PDF; ID. 208e1fd), sendo presumível sua adequação às normas de segurança. Assim, o conjunto probatório carreado aos autos não é suficiente para infirmar a conclusão do vistor, o qual constatou, in loco, ausência de periculosidade nas atividades do reclamante. Destarte, não faz jus o reclamante à percepção do adicional de periculosidade, de modo que a r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Mantenho. 3. Horas extras. Intervalo intrajornada. Insurge-se o reclamante contra a r. sentença no que concerne ao pedido de horas extras e intervalo intrajornada, argumentando que a prova testemunhal evidenciou a nulidade dos cartões de ponto, isto é, que não eram corretamente registrados os horários de entrada e saída, de modo que o labor extraordinário não era anotado nos controles apresentados pela ré. Ressalta que apenas registrava o início de sua jornada na saída da viagem, embora chegasse ao serviço uma hora antes, para conferir a água e o óleo, calibrar o pneu, verificar o itinerário e documentações, verificar o tanque de combustível, bem como se o veículo tinha alguma avaria. Consequentemente, não há como considerar válido qualquer acordo de compensação. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "7.1. A reclamada trouxe aos autos os controles de ponto, com a marcação de horários variados, competindo ao autor, portanto, desconstituir os registros dos citados documentos, na forma do art. 818 da CLT, ônus do qual não se desincumbiu a contento. Em depoimento, o reclamante reconheceu que os dias trabalhados, assim como os horários de saída e de intervalo eram corretamente anotados. Entretanto, com relação ao início da jornada, ele afirmou que "solicitavam ao depoente marcar a entrada às 08:20/08:30; (...) que o horário da entrada não estava corretamente marcado porque esse era o horário que estava saindo da garagem, contudo diz o depoente que chegava na garagem 1 hora antes para efetuar a vistoria do veículo e verificar outras coisas do veículo, gastando para tanto de 20 a 40 minutos". Os controles de ponto de fls. 181/184 demonstram, por amostragem, que diferentemente do que consta no depoimento, em todos os dias em que o reclamante laborou no período da manhã, não houve o registro da entrada às 8h20/8h30, mas em horários mais cedo, por exemplo: 6h00, 5h00, 7h55, 7h50 e 5h50, o que demonstra a fragilidade da alegação. Ademais, a única testemunha ouvida afirmou que "dificilmente encontrava-se com o reclamante, pois dependia da escala; que quando se encontrava com o reclamante era na garagem de São Paulo, podendo ser na parte da manhã, por volta das 08:40 quando o depoente estava chegando e o reclamante já estava saindo com o veículo". Ou seja, ela não presenciava a chegada do reclamante ao trabalho, não podendo afirmar que havia a incorreção no registro da entrada nos controles de ponto. Dessa forma, não havendo provas inequívocas em sentido contrário, reconheço que os controles de ponto juntados com a defesa registram corretamente os dias e horários trabalhados, inclusive a entrada no serviço, que era devidamente registrada em campo separado do início das viagens. 7.2. Com relação à sobrejornada, o art. 59, §6º da CLT estabelece que "é lícito o regime de compensação de jornada estabelecido por acordo individual, tácito ou escrito, para a compensação no mesmo mês". No caso, consta no contrato de trabalho firmado entre as partes que: "Fica facultado ao empregador a possibilidade de compensar eventuais horas extras trabalhadas na semana, com a consequente redução da jornada nas semanas subsequentes, porém dentro do prazo de 30 (trinta) dias", não tendo o reclamante apontado a existência de incorreção no sistema de compensação adotado pela empresa. Assim, levando-se em conta que a reclamada também comprovou o pagamento de horas extras, o ônus que pesava sobre o autor era justamente apontar, de forma especificada, eventual sobrelabor não satisfeito, por se tratar de fato constitutivo de seu direito. Desse encargo, no entanto, ele não se desvencilhou, pois a alegação de horas extras não pagas decorre de um raciocínio lógico e aritmético de confrontação entre aquelas pagas/compensadas e as que seriam devidas, a tanto não se prestando a simples alegação de existência de diferenças. Portanto, reconheço que as horas extras eventualmente realizadas, foram devidamente compensadas ou quitadas, sendo improcedente o pedido de diferenças. 7.3. Quanto ao intervalo para refeição e descanso, vale ressaltar que a Constituição Federal, no artigo 7º, incisos VI, XIV e XXIV, prestigia a autonomia coletiva da vontade e autocomposição dos conflitos trabalhistas. A CLT, com as alterações introduzidas pela Lei 13.467/2017, no art. 611-A, incisos I a XIV, relaciona as matérias que podem ser objeto de negociação coletiva, estabelecendo no que a convenção coletiva e o caput acordo coletivo de trabalho, quando dispuserem sobre referidos temas têm prevalência sobre a lei; o art. 611-B, traz o rol das matérias que constituem objeto ilícito de convenção coletiva. Portanto, se as partes, legitimamente representadas, negociam matéria do seu interesse, não cabe ao Poder Judiciário imiscuir-se no assunto, pena de tornar inoperante a negociação direta e acarretar o esvaziamento das fontes normativas autônomas, neutralizando a eficácia da norma constitucional a respeito do tema. Assim, apenas quando estiver em discussão direito absolutamente indisponível, objeto de interesse público, pertinente às matérias relacionadas no art. 611-B da CLT é que poderá conduzir à negativa de validade do pactuado coletivamente. Isso porque, ignorar o que as partes legitimamente convencionaram configura-se total desprezo à atividade sindical e ao poder normativo a elas conferido pela Constituição Federal. Não é por outra razão que o § 1º, do art. 611-A, da CLT estabelece que: § 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação. Por sua vez, o § 3º, do art., 8º, da CLT dispõe que: § 3º No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva. Sedimentando o entendimento, o Supremo Tribunal Federal ao analisar o Tema n. 1046, que trata da validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito trabalhista não assegurado constitucionalmente, decidiu, conforme ata de julgamento publicada em 14.06.2022, que: "O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 1.046 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário, nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Em seguida, por unanimidade, foi fixada a seguinte tese: "São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis". As convenções coletivas juntadas aos autos foram firmadas pelos sindicatos legitimados a representar as categorias patronal e profissional, tratando-se, portanto, de partes capazes, iguais juridicamente e aptas a negociar condições de trabalho de seu interesse para se chegar a um denominador comum. Os referidos instrumentos normativos estabelecem que: "O intervalo intrajornada será de no mínimo trinta minutos, para jornadas superiores a seis horas, como permitido no art. 611-A, inciso III, da CLT. A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada de 30 minutos, para repouso ou alimentação dos empregados, implicará o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, nos termos do artigo 71, § 4º da CLT". Como se vê, a matéria disciplinada na cláusula encontra-se dentre aquelas relacionadas no art. 611-A da CLT, que admitem a negociação coletiva. Logo, considero válida a cláusula normativa que prevê a redução do intervalo para refeição e descanso. Nesse sentido, cito recentes decisões do C. TST: (...) (Processo: RR - 165-65.2011.5.12.0046, Órgão Judicante: 4ª Turma, Relatora: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Julgamento: 07/02/2023, Publicação: 10/02/2023). (...) (Processo: RRAg -1001681-47.2017.5.02.022, Órgão Judicante: 8ª Turma, Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Julgamento: 19/10/2022, Publicação: 24/10/2022). Portanto, não há qualquer irregularidade na redução do intervalo para refeição e descaso, conforme previsto nos instrumentos normativos da categoria. Ademais, considerando que a reclamada comprovou o pagamento dos minutos eventualmente suprimidos ao longo do contrato, sob a denominação - rubrica 188, o ônus que pesava "indeniz. art. 71 CLT" sobre o autor era apontar, de forma específica, a existência de diferenças, ônus do qual não se desincumbiu. Assim, julgo improcedente o pedido de pagamento de uma hora, por dia trabalhado, e reflexos" (fls. 768-773 do PDF; ID. 084f154). À análise. A reclamada trouxe aos presentes autos cartões de ponto com marcações variáveis (fl. 226 do PDF; ID. a73cfe2), inclusive com marcação do intervalo intrajornada, os quais são presumidamente válidos, conforme Súmula 338 do C. TST. Por ter trazido a ré os referidos documentos, incumbia ao reclamante a comprovação da invalidade dos controles de jornada e violação do intervalo intrajornada, por se tratarem de fatos constitutivos de seu direito, conforme art. 818, I, da CLT. Em depoimento pessoal o reclamante declarou: "(...) que exibido por amostragem documento id: d98a03b, o depoente reconheceu como sua a caligrafia;q não marcava de forma correta os horários trabalhados, dizendo que "marcava no ponto o horário que eles pediam"; que solicitavam ao depoente marcar a entrada às 08:20/08:30; que a saída era corretamente marcada; que marcava 20 minutos de intervalo de refeições de forma correta; que o horário da entrada não estava corretamente marcado porque esse era o horário que estava saindo da garagem, contudo diz o depoente que chegava na garagem 1 hora antes para efetuar a vistoria do veículo e verificar outras coisas do veículo, gastando para tanto de 20 a 40 minutos ; que também poderia trabalhar em outros horários apontando o que chegava na garagem por volta das 16:30 , encerrando à 00:00/01:00; que todos os dias trabalhados estão registrados no controle de ponto (...)" (fl. 275 do PDF; ID. f96367c). Nota-se que em seu depoimento o reclamante reconheceu a autenticidade das fichas individuais de horário de trabalho externo (fl. 168 do PDF; ID. d98a03b) e confessou que os cartões de ponto refletem corretamente os horários de saída, o intervalo intrajornada para refeição e a frequência de trabalho. A divergência reside apenas no horário de entrada, haja vista que este não representaria o efetivo início de suas atividades, mas sim o momento em que deixava a garagem após a vistoria do veículo. A testemunha convidada pelo reclamante declarou: "que trabalhou na reclamada de novembro de 2021 a novembro de 2022, exercendo a função de motorista de ônibus; que fazia viagens de São Paulo-Tubarão, fazia conexão em Curitiba; que após retornava para Sâo PAulo; que também fazia São Paulo-Uberaba, São PAulo-Curitiba e São Paulo-Florianópolis; que marcava controle de ponto conforme a reclamada pedia; que não estava correto o início da jornada, uma vez que o horário registrado no controle de ponto refere-se aquele em que a viagem era iniciada; que quando a viagem era na parte da manhã, o depoente chegava na garagem or volta das 07:00 para fazer checklist do veículo, operação do veículo bem como retirar a ficha da viagem; que gastava 1 hora com o referido serviço; que registrava na ficha de horários o início da jornada às 08:30; que o encerramento da jornada era corretamente registrado; que todos os dias trabalhados eram registrados nos controle de ponto; que desfrutava de 20 a 30 minutos de intervalo para as refeições; que dificilmente encontrava-se com o reclamante , pois dependia da escala; que quando encontrava-se com o reclamante era na garagem de São Paulo, podendo ser na parte da manhã, por volta das 08:40 quando o depoente estava chegando e o reclamante já estava saindo com o veículo; que também poderia encontrá-lo no horário noturno, por volta das 17:00/18:00, sendo que também neste horário o reclamante já estava saindo com o veículo e o depoente chegando" (fl. 276 do PDF; ID. f96367c). O depoimento da testemunha, embora descreva sua rotina e alguns encontros casuais com o reclamante na garagem, não comprova qualquer irregularidade no registro de entrada deste. A testemunha apenas relatou ver o reclamante saindo quando ela chegava, impossibilitando-a de afirmar qualquer fato ocorrido antes desse momento. Sua declaração, portanto, não tem aptidão para a demonstração de que os horários de entrada registrados nos cartões de ponto do reclamante sejam incorretos. Já a testemunha ouvida a convite da reclamada declarou: "que trabalha na reclamada desde junho de 2013; que desde 2018 exerce a função de motorista instrutor; que o reclamante trabalhou por volta de 1 ano e meio na reclamada ; que o reclamante trabalhou na reclamada de 2022 a 2023, exercendo a função de motorista interestadual; que o depoente trabalha em diversos horários conforme escala; que encontrava-se com o reclamante na garagem , podendo ser às 09:20, 17:00, dependendo do horário de escala de viagem do reclamante" (fl. 277 do PDF; ID. f96367c). Observa-se que o depoimento da testemunha da reclamada, embora confirme a atuação do reclamante como motorista interestadual, não apresenta elementos que comprovem qualquer irregularidade no registro de entrada nos cartões de ponto. A testemunha apenas relata encontros esporádicos com o reclamante na garagem em horários diversos, sem fornecer informações que corroborem a alegação de diferenças entre a jornada efetivamente trabalhada e aquela registrada. Não tendo o reclamante se desincumbido no ônus imposto pelo art. 818, inciso I, da CLT, reputo que os cartões de ponto são idôneos. Outrossim, a cláusula 2 do contrato de trabalho previa acordo de compensação (fl. 133 do PDF; ID. bec373e) e também havia pagamentos de horas extras não compensadas em contracheques, conforme se constata do demonstrativo de pagamento de salário de agosto de 2021 (fl. 151 do PDF; ID. d238d5a), por exemplo, não tendo o obreiro apontado diferenças em seu favor. Destarte, indevidas quaisquer diferenças de horas extras ao autor, não havendo reforma a ser feita na r. sentença com relação à matéria. De outra banda, o reclamante também defende a invalidade do acordo de redução de intervalo intrajornada, porquanto não corretamente observado o permissivo legal, já que ele nunca realizava quaisquer outras pausas ou descansos após uma viagem completa, além de uma única de 20 (vinte) a 30 (trinta) minutos. Além disso, segundo a parte autora, ela estendia a jornada de trabalho, todos os dias, em horário noturno e extraordinário, resultando inaplicável a norma coletiva, no particular. Com relação à matéria, conforme já foi visto, o MM. Juízo a quo entendeu que a redução do intervalo intrajornada, prevista em norma coletiva, é válida, na forma do art. 611-A, III, CLT e Tema 1046 da repercussão geral. Constata-se da cláusula 3 do contrato de trabalho que o intervalo intrajornada poderia ser reduzido a até trinta minutos em caso de necessidade (fl. 133 do PDF; ID. bec373e), havendo previsão em norma coletiva para tal ajuste, conforme cláusula 13ª, "e" da CCT 2020/2022: "CLÁUSULA DÉCIMA TERCEIRA - HORAS EXTRAS (...) e. O intervalo intrajornada será de no mínimo trinta minutos, para jornadas superiores a seis horas, como permitido no art. 611-A, inciso III, da CLT f. A não concessão ou a concessão parcial do intervalo intrajornada de 30 minutos, para repouso ou alimentação dos empregados, implicará o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho, nos termos do artigo 71, § 4º da CLT g. Estritamente para os motoristas, cobradores, fiscalização de campo e afins, nos serviços de operação de veículos rodoviários, empregados no setor de transporte coletivo de passageiros, o intervalo para repouso ou alimentação poderá ser reduzido e/ou fracionado, quando compreendidos entre o término da primeira hora trabalhada e o início da última hora trabalhada, ante a natureza do serviço e em virtude das condições especiais de trabalho a que são submetidos, mantida a remuneração e concedidos intervalos para descanso menores ao final de cada viagem, conforme permitido no art. 71 §5º da CLT" (fl. 48 do PDF; ID. 68bbefa). Pois bem. As discussões acerca da validade de norma coletiva de trabalho que limita ou restringe direito trabalhista não assegurado constitucionalmente restou pacificada no julgamento do ARE 1121622, proferido aos 02.06.2022, no qual o STF firmou o Tema 1046 de repercussão geral, nos seguintes termos: São constitucionais os acordos e as convenções coletivas que, ao considerarem a adequação setorial negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas independentemente da explicitação especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis. É de se dizer que a Corte Superior atrelou a possibilidade de os entes sindicais restringirem direitos trabalhistas - via negociação coletiva - ao fato de eles serem ou não absolutamente indisponíveis, impassíveis de renúncia ou transação. E, ao estabelecer os critérios a serem observados na qualificação dos direitos absolutamente indisponíveis, o eminente Ministro Relator, Gilmar Mendes baseou seu entendimento no magistério de Mauricio Godinho Delgado que vincula a absoluta indisponibilidade de um direito trabalhista ao conceito de "patamar mínimo civilizatório" integrado por três grupos de normas heterônomas: as normas constitucionais em geral (respeitadas as ressalvas parciais expressamente feitas pela própria Constituição: art. 7º, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro (referidas pelo art. 5º, §2º, CF/88 e as normas infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora. Englobadas estão, por certo, na concepção de indisponibilidade absoluta, as questões relativas à saúde e segurança do trabalhador, tutelados pelo inciso XXII, do artigo 7º, da CF/88, Convenção 155 e Recomendação 164, da OIT. Transcrevo, por oportuno, as lições do ilustre jurista Mauricio Godinho Delgado: " (...) Também não prevalece a adequação setorial negociada se concernente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta (e não indisponibilidade relativa), os quais não podem ser transacionados nem mesmo por negociação sindical coletiva. Tais parcelas são aquelas imantadas por uma tutela de interesse público, por constituírem um patamar civilizatório mínimo que a sociedade democrática não concebe ver reduzido em qualquer segmento econômico-profissional, sob pena de se afrontarem a própria dignidade da pessoa humana e a valorização mínima deferível ao trabalho (arts. 1o, III, e 170, caput, CF/88). Expressam, ilustrativamente, essas parcelas de indisponibilidade absoluta a anotação de CTPS, o pagamento do salário mínimo, as normas de saúde e segurança no ambiente do trabalho; em suma, todos os direitos e normas que ostentem caráter imperativo por força da ordem jurídica heterônoma estatal. No caso brasileiro, esse patamar civilizatório mínimo, está dado, essencialmente, por três grupos convergentes de normas trabalhistas heterônomas: as normas constitucionais em geral (respeitadas, é claro, as ressalvas parciais expressamente feitas pela própria Constituição: art. 7º, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno brasileiro (referidas pelo art. 5º, §2º, CF/88, já expressando um patamar civilizatório no próprio mundo ocidental em que se integral o Brasil); as normas infraconstitucionais que asseguram patamares de cidadania ao indivíduo que labora (preceitos relativos à saúde e segurança no trabalho, normas concernentes a bases salariais, normas de identificação profissional, dispositivo antidiscriminatórios, etc.)."( gn - Curso de Direito do Trabalho. 18ª edição. LTr: São Paulo. 2019. p. 1577/1578) Assim, considerando-se as diretrizes estabelecidas pelo E. STF e, em virtude das matérias relativas a redução do intervalo intrajornada não integrarem o conceito de direitos indisponíveis sendo, inclusive, tratada em nível infraconstitucional, sobretudo no art. 71 da CLT, não merece reforma a r. sentença com relação ao reconhecimento da validade da cláusula convencional que autorizou a redução do intervalo intrajornada. Quanto ao período intervalar, pontuou, inclusive, o Eminente Ministro Relator Gilmar Mendes, em seu voto vencedor no Plenário Virtual daquela E. Corte no julgamento do referido Tema 1046 em Repercussão Geral, que: "Quanto ao tema 357, de minha relatoria, assentou-se que a controvérsia relativa à redução do intervalo intrajornada e majoração da jornada de trabalho, no regime de turnos ininterruptos de revezamento, por negociação coletiva, estaria restrita ao âmbito infraconstitucional, motivo pelo qual se rejeitou a repercussão geral da matéria. Confira-se a ementa: Redução do intervalo intrajornada. Majoração da jornada em turnos ininterruptos de revezamento. Convenção e acordo coletivo. Matéria restrita ao âmbito infraconstitucional. Inexistência de repercussão geral. (AI-RG 825.675, de minha relatoria, DJe 25.3.2011)" E mais: corroborando a disponibilidade do direito em análise, a Lei nº 13.467/2017 alterou a redação do § 4º do artigo 71 da CLT, bem como inseriu as previsões contidas nos arts. 611-A e 611-B da CLT: Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) III - intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: (...) Parágrafo único. Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) Nesse contexto, portanto, a antiga jurisprudência do C. TST, consolidada no teor da Súmula nº 437, em seu item II, segundo o qual "é inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública" - amplamente adotada por este Relator, anteriormente, inclusive - resta totalmente superada com o julgamento do Tema 1046 pelo Supremo Tribunal Federal, com efeito vinculante. É válida, portanto, a redução do intervalo intrajornada por meio de instrumento coletivo. Visto que o reclamante confessou que o intervalo intrajornada era regularmente anotado nos cartões de ponto, e considerando que nos contracheques há pagamentos a título de "INDENIZ. ART. 71 CLT", incumbia-lhe apontar diferenças em seu favor, corolário do ônus imposto pelo art. 818, inciso I, da CLT, o que, porém, não ocorreu. Destarte, não há retoque a ser feito na r. sentença, no particular. Mantenho. 4. Adicional noturno. Multa normativa. A parte autora pugna pela reforma da r. sentença com relação ao pedido de adicional noturno e multa normativa, sustentando que não era observada a prorrogação em horas diurnas. Aduz ser devida multa normativa, com base em tal fundamento. Com relação à matéria, o MM. Juízo a quo decidiu: "Por fim, verifica-se que o reclamante também não apontou, sequer por amostragem, a existência de diferenças com relação ao adicional noturno quitado ao longo do contrato de trabalho (código 022). Portanto, julgo improcedente o pedido" (fl. 773 do PDF; ID. 084f154). Os cartões de ponto revelam que eventualmente o reclamante se ativava em horário noturno, e nos contracheques há prova de pagamentos a título de adicional noturno. Ocorre que em sua defesa a reclamada limitou-se a sustentar que o adicional noturno foi quitado, observando-se a redução da hora noturna, mas nada esclarecendo quanto às prorrogações em horas diurnas. Nota-se, assim, que a reclamada não impugnou em sua contestação, de forma especificada, os fatos alegados pela autora na petição inicial, isto é, que na quitação do adicional noturno não eram observadas as prorrogações em horas diurnas. Não tendo a parte ré se desincumbido do ônus da impugnação especificada dos fatos, presume-se verdadeiro o alegado na petição inicial, na forma do art. 341 do CPC/2015, aplicado subsidiariamente com fundamento no art. 769 da CLT. Com relação à prorrogação após às 05h00, o § 5º do art. 73 da CLT determina que: "§ 5º Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste capítulo". Nesse sentido, a Súmula nº 60, do C. TST também dispõe ser devido o adicional noturno nas prorrogações em horário diurno. Portanto, defiro as diferenças de adicional noturno pleiteadas, considerando as horas laboradas após às 05h00 conforme jornadas registradas nos cartões de ponto. Por outro lado, não vislumbro habitualidade no labor noturno, sendo indevidos reflexos do adicional deferido nas demais verbas. Na apuração das diferenças de adicional noturno deverão ser deduzidos os valores quitados a idêntico título ao longo do contrato de trabalho. Outrossim, o reclamante não explica em que medida a irregularidade na quitação do adicional noturno teria violado a CCT da categoria, sendo que as cláusulas por ele indicadas na petição inicial (3ª, 9ª, 15ª, 16ª e 35ª) sequer têm a ver com a matéria. Assim, indevida a multa postulada. Reformo, em parte. DO EXPOSTO, ACORDAM os Magistrados da 10ª Turma do Tribunal Regional da 2ª Região em CONHECER do recurso ordinário interposto pelo reclamante e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para condenar a reclamada ao pagamento de diferenças de adicional noturno, tudo na forma da fundamentação. Mantida, no mais, a r. sentença de origem, inclusive quanto ao valor arbitrado à condenação. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Senhor Desembargador ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES. Tomaram parte no julgamento: ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES, ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO e SÔNIA APARECIDA GINDRO. Votação: por maioria, vencido o voto da Desembargadora Ana Maria Moraes Barbosa Macedo, que determinava o sobrestamento do feito. São Paulo, 18 de Junho de 2025. ARMANDO AUGUSTO PINHEIRO PIRES Relator lvz VOTOS Voto do(a) Des(a). ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO / 10ª Turma - Cadeira 5 DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE Respeitosamente, divirjo do D. Relator, pelos seguintes fundamentos: Entendo que deve ser dado efeito suspensivo ao presente recurso porque a tese aqui debatida (adicional de periculosidade aos motoristas diante do veículo com tanque de combustível com capacidade superior a 200 litros) está com o andamento suspenso pelo C. TST (IncJulgRREmbRep-0020969-89.2022.5.04.0014). Se superado isso, acompanho o D. Relator, eis que os tanques de combustível dos veículos dirigidos pelo autor são todos originais de fábrica, ao revés, as fotografias constantes do laudo pericial revelam que os veículos da reclamada são novos e estão em boas condições, inclusive com registro na ANTT (fls. 703-704 do PDF; ID. 208e1fd), sendo presumível sua adequação às normas de segurança. Assim, o conjunto probatório carreado aos autos não é suficiente para infirmar a conclusão do vistor, o qual constatou, in loco, ausência de periculosidade nas atividades do reclamante. Destarte, não faz jus o reclamante à percepção do adicional de periculosidade, de modo que a r. sentença impugnada não merece qualquer retoque, no particular. Indevidas diferenças de horas extras e noturnas, porque aquelas apontadas pelo autor não possuem credibilidade. ANA MARIA MORAES BARBOSA MACEDO Desembargadora Revisora SAO PAULO/SP, 17 de julho de 2025. CINTIA YUMI ADACHI Diretor de Secretaria Intimado(s) / Citado(s) - ADAILTON FERREIRA DA CRUZ

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