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Sul América Companhia De Seguro Saúde x Gabriel Caldini De Castro

ID: 316919086

Tribunal: TJSP Órgão: Processamento 3º Grupo - 5ª Câmara Direito Privado - Pátio do Colégio, 73 - 4º andar Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1012509-91.2024.8.26.0005

Data de Disponibilização: 07/07/2025

Polo Ativo:

SUL AMéRICA COMPANHIA DE SEGURO SAúDE

Polo Passivo:

GABRIEL CALDINI DE CASTRO

Despacho

Advogados:

MARCELO CASTILHO MARCELINO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

MARCO ANTONIO GOULART LANES

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

DESPACHO Nº 1012509-91.2024.8.26.0005 - Processo Digital. Petições para juntada devem ser apresentadas exclusivamente por meio eletrônico, nos termos do artigo 7º da Res. 551/2011 - Apelação Cível… DESPACHO Nº 1012509-91.2024.8.26.0005 - Processo Digital. Petições para juntada devem ser apresentadas exclusivamente por meio eletrônico, nos termos do artigo 7º da Res. 551/2011 - Apelação Cível - São Paulo - Apelante: Sul América Companhia de Seguro Saúde - Apelado: Gabriel Caldini de Castro - Vistos, etc. Nego seguimento ao recurso. Registro que a presente decisão monocrática tem respaldo no art. 168, § 3º, c.c. o art. 252 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo. De início, afasta-se a alegação da ré de ilegitimidade ativa (fls. 196), porque o autor, na qualidade de beneficiário direto do plano de saúde e parte imediatamente afetada pela rescisão unilateral da cobertura, possui legitimidade plena para ajuizar a presente demanda, nos termos do art. 17 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, ainda que não figure como titular do contrato, é destinatário final do serviço prestado, sendo a ele assegurada, portanto, a tutela jurisdicional diante da supressão indevida do direito à assistência médica. É o entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça em casos análogos: Apelação n. 1081643-51.2023.8.26.0100, Rel. Rodolfo Pellizari, 6ª Câmara de Direito Privado, j. 14/12/2023; Apelação n. 1003794-05.2019.8.26.0565, Rel. Luiz Antonio de Godoy, 1ª Câmara de Direito Privado, j. 13/4/2020; Apelação n. 1024161-88.2016.8.26.0554, Marcia Dalla Déa Barone, 3ª Câmara de Direito Privado, j. 07/11/2017. No mérito, é caso de ratificar os fundamentos da r. sentença apelada, proferida nos seguintes termos: "Gabriel Caldini de Castro ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de tutela de urgência e indenização por danos morais contra de Sul America Cia de Seguro Saude alegando: A) é beneficiário do plano de saúde empresarial contrato nº 09001014843180013, na condição de dependente do serviço de seguro saúde, tipo familiar, desde 31/08/1990; B) foi surpreendido com a rescisão unilateral e imotivada do contrato em 30/05/2024, sob a justificativa de que deixou de comprovar a condição de dependente financeiro no prazo estabelecido e tendo em vista sua faixa etária atual, sendo removido do quadro de beneficiários; C) aduz que em 25/09/2023 iniciou tratamento e acompanhamento periódico em decorrência de tumor denominado melanoma, cujo o tratamento necessita de procedimentos cirúrgicos, sendo certo que sempre cumpriu com sua obrigações contratuais; Requer a procedência dos pedidos, com concessão da tutela de urgência para proibir a rescisão unilateral do contrato, a manutenção do plano de saúde contratado sem nenhuma alteração e condenar o demandado ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 15.000,00. A antecipação de tutela foi deferida (fl. 40). Contestação às fls. 85/130 aduzindo, em síntese, que:A) ilegitimidade ativa; B) foi encaminhado notificação ao genitor, titular do contrato, para comprovar a dependência financeira do beneficiário e a manutenção na qualidade de dependente; C) ausência de ato ilícito visto que atualmente o autor possui hoje 37 anos de idade, ocorrendo divergência quanto a ser dependente do genitor para fins de utilização do plano de saúde; D) ausência de danos morais. Réplica às fls. 153/158. Instados a especificarem provas, as partes apresentaram manifestação (fls. 162/163 -autor; e fl. 164 - réu). Acórdão às fls. 165/168, negado provimento. FUNDAMENTAÇÃO (CPC, art 489, II) Passo ao julgamento antecipado da lide (CPC,art. 355, I). Os pontos controvertidos da presente lide se limitam a questões exclusivamente de direito, e se encontram suficientemente esclarecidos pela prova documental constante dos autos, não demandando a produção de prova pericial ou oral. Quanto à prova documental, de se destacar que incumbe à parte autora instruir a inicial com os documentos indispensáveis para propositura da ação (CPC, art. 320) e ao réu compete instruir a resposta com os documentos destinados à prova de suas alegações (CPC, art. 434). O direito à saúde é constitucionalmente garantido como inerente à dignidade humana, cuja proteção deve ser prestada pelo Estado e pelas entidades responsáveis pelo sistema de saúde suplementar (CF, art. 6º; Lei Lei nº 9.656/98, art. 1º, I): Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica que rege a sua atividade e, simultaneamente, das disposições da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), adotando-se, para fins de aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições: I - Plano Privado de Assistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso e pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor; O genitor do autor contratou plano de saúde familiar em 31/08/1990, sendo um dos beneficiários o autor (fls. 16 e 21). O demandante foi excluído do quadro de beneficiários, sob o argumento de que não teria comprovado a condição de dependente financeiro. A tutela foi concedida para manter a vigência da cobertura contratual e mantida no julgamento do AI nº 2180600-45.2024.8.26.0000 (fls.165/168). A tutela, por sua vez, foi cumprida pelo réu, restando a analisar a rescisão imotivada, com fundamento em cláusula contratual. O réu valendo-se da previsão contratual rescindiu unilateralmente a avença, sob o argumento de que o demandante deixou de comprovar a dependência financeira, estando atualmente com 37 anos de idade. Ressalta-se que não se vislumbra ilicitude na previsão contratual que limita a manutenção dos beneficiários em razão da idade. Entretanto o caso concreto apresenta determinadas peculiaridades. Não há na referida cláusula 11ª do contrato celebrado entre as partes (fl. 19) qualquer exigência de dependência econômica como condição para a inclusão dos filhos no seguro saúde, sendo permitida a sua inclusão no grupo familiar, independentemente da idade. Conforme se depreende na análise da redação que compõem a cláusula 11ª do contrato firmado observa-se que em nenhuma delas é estabelecida a dependência econômica como condição para aceitação dos dependentes, evidenciando a intenção do réu em aceitar os filhos do titular do seguro, independentemente da idade ou da existência de dependência econômica. Dessa forma, conclui-se que o contrato não prevê a exclusão automática de dependentes ao atingirem a maioridade, tampouco impõe a comprovação de dependência econômica como requisito para sua manutenção no seguro. O autor atingiu a maioridade há mais de 16 anos e vêm sendo mantido como beneficiário, inclusive com regularidade de pagamento das parcelas do seguro familiar e uso do plano. Portanto, ainda que existisse a possibilidade de exclusão do beneficiário ao alcançar a maioridade, identifica-se o instituto da supressio diante da omissão ou inércia da ré em exercer tal direito. A supressio está presente no comportamento contínuo da ré em deixar de rescindir o contrato com a maioridade do autora, implicando ao longo do tempo, expectativa legítima de que determinado o referido direito ou prerrogativa não será mais exercido. No contexto da presente lide a análise do instituto da supressio é especialmente pertinente. Se o beneficiário permaneceu vinculado ao plano por um longo período, mesmo após a ocorrência de um evento que, em tese, autorizaria a rescisão, o comportamento da operadora ao continuar a oferecer a cobertura deve ser interpretado como renúncia tácita ao direito de rescindir o contrato com base nessa condição. Nesse sentir: APELAÇÃO CÍVEL - Plano de saúde empresarial - Cancelamento do plano de saúde em decorrência de terem os beneficiários dependentes do contrato firmado por seu genitor atingido a idade limite - Pretensão à manutenção do contrato - Sentença de procedência - Irresignação da ré - Pretensão de exclusão dos autores em razão da perda de elegibilidade como dependente - Não acolhimento - Contrato que permite a manutenção dos benefícios sem limite de idade - Ausência de exigência contratual de dependência econômico - Beneficiários que, ademais, vêm sendo mantidos há mais de 17 anos após completarem a maioridade, configurando-se a "supressio" - Boa-fé objetiva que obsta a resolução contratual, ante a legítima expectativa gerada - Sentença mantida - Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível 1008367-56.2024.8.26.0001; Relator (a): Marcus Vinicius Rios Gonçalves; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I - Santana - 7ª Vara Cível; Data do Julgamento: 27/08/2024; Data de Registro: 27/08/2024). Plano de Saúde coletivo Falecimento do beneficiário titular Manutenção dos filhos, com mais 24 anos de idade, na apólice, mesmo após o término do prazo de remissão Necessidade Requerida que, por mais de 02 décadas recebeu os pagamentos das mensalidades relativas a eles, sem nenhum questionamento Supressio Ocorrência Precedentes desta E. Corte Base de cálculo dos honorários sucumbenciais que é mesmo o valor da causa Precedentes do C. STJ Sentença mantida Apelo desprovido (Apelação Cível nº 1048448-80.2020.8.26.0100, Relator(a): A.C.Mathias Coltro, 5ª Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 19/04/2021). APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. Plano de saúde. Pedido de permanência do cônjuge e descendentes após a morte do titular. Restituição dos valores cobrados a maior após o falecimento do titular. Sentença de parcial procedência. Inconformismo de ambas as partes. Direito dos dependentes de permanecer no convênio médico, em caso de morte do titular, nas mesmas condições contratuais, com a assunção das obrigações daí decorrentes, independentemente de se tratar de plano coletivo por adesão. Aplicação do artigo 30, § 3º, da Lei nº 9.656/98 e da Súmula 13 da ANS. Precedente desta Corte. Quanto aos filhos dependentes, ocorreu a supressio do direito da operadora à rescisão, gerando, por mais de dez anos, legítima expectativa de direito pelos consumidores. Danos morais verificados. Rescisão unilateral realizada de forma abusiva, inclusive contra pessoa idosa em tratamento médico. Duplo caráter da condenação (reparação/prevenção). Indenização fixada em R$ 10.000,00. Razoabilidade e proporcionalidade Sucumbência apenas da requerida. Sentença reformada em parte. RECURSO DOS AUTORES PROVIDO; RECURSO DA OPERADORA IMPROVIDO (Apelação Cível 1066462-83.2018.8.26.0100, Relator(a): Silvia Maria Facchina Esposito Martinez, 10ª Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 26/03/2021). O objetivo específico com que se lida aqui é a obrigação à qual se vincula alguém, de dar cobertura financeira ao tratamento das enfermidades e acidentes físicos e seus respectivos danos sofridos por outrem que, em contrapartida, compromete-se ao pagamento mensal de uma certa quantia. Tanto nos "seguros" quanto nos "planos", trata-se de uma prestação de serviços, securitários ou assemelhados, que configura a relação de consumo formada de um lado por um fornecedor de serviços que é a empresa seguradora ou administradora, nos exatos termos do art. 3º, § 2º do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8078/90, e, de outro lado, por um consumidor destinatário final de tais serviços, de acordo com o art. 2º, recebendo especial proteção pelas diretrizes consumeristas. Assim deve prevalecer o equilíbrio contratual, sopesando o caráter adesivo do contrato e a vulnerabilidade do consumidor, razão pela qual deve ser afastada a cláusula que possibilita a rescisão unilateral do contrato (CDC, art. 6º, IV). Ressalte-se ainda que o autor encontrava-se em pleno atendimento de saúde, em razão de diagnóstico de doença grave, quando ocorreu a rescisão unilateral, o que por si só configura abusividade contratual (fls.33/35). Denota-se que a rescisão foi imposta contratualmente pelo réu, implicando em cláusula que coloca o consumidor em condição de vulnerabilidade, especialmente pelo fato de impor condições adversas para continuidade de seu tratamento, o que implica em evidente prejuízo diante da condição da paciente. Portanto presente o dano moral indenizável diante da imposição de cláusula contratual restritiva e impositiva violando os direitos basilares do consumidor e da proteção à saúde. O valor da indenização deve ser feito pelo aspecto dúplice da fixação do dano moral, a qual deverá levar em conta atenuar o sofrimento da vítima e prevenir ofensas futuras da mesma espécie. Portanto a finalidade da indenização além de compensatória para atenuar o desconforto da vítima também possui caráter punitivo, ou seja, impor uma penalidade ao ofensor, com a diminuição de seu patrimônio. É a denominada teoria do desestímulo, pela qual a indenização deve representar uma quantia de ordem significativa no patrimônio do ofensor a fim de se conscientizar de que não deve praticar o mesmo ato lesivo. Mesmo porque a indenização por dano moral deve atender a uma relação de proporcionalidade, não podendo ser de tal forma insignificante a ponto de desmoralizar o instituto e aviltar ainda mais a condição do ofendido. Arbitro os danos morais em R$ 5.000,00. DISPOSITIVO (CPC, art. 489, III) JULGO PROCEDENTE o pedido inicial para: A) declarar a abusividade da cláusula que permite ao réu a rescisão imotivada do contrato, condenando o réu em obrigação de não fazer, consistente em abster-se de rescindir o contrato em razão da maioridade e/ou comprovação de dependência econômica do beneficiário, tornando definitiva a tutela antecipada, para que os termos do contrato estabelecido entre os litigantes seja mantido integralmente; B) condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 5.000,00, corrigido monetariamente deste arbitramento e acrescido de juros mensais desde a citação; C) correção monetária calculada pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a partir da entrada em vigor da Lei 14.905/25 deverá ser calculada nos termos do parágrafo único do art. 389, Código Civil; D) juros calculados a razão de 1% ao mês desde a citação e na forma do art. 406 do Código Civil a partir da vigência da Lei 14.905/24 Em consequência, JULGO EXTINTO o processo, com resolução de mérito (CPC, art. 487, I). SUCUMBÊNCIA (CPC, art. 85). Condeno o réu ao pagamento de despesas processuais (CPC, art.82, § 2º e 84) e honorários advocatícios da parte adversa, arbitrados em 15% sobre o valor atualizado da causa. (...) Após remetam-se os autos ao E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Certificado o trânsito em julgado arquivem-se os autos dando-se baixa no sistema" - fls. 169/174. E mais, a exigência de comprovação da dependência financeira em relação ao titular do plano somente foi formulada pela ré quando o autor já contava com 37 anos de idade (v. fls. 16 e 24/26), ou seja, mais de 16 anos após a alegada perda de elegibilidade com base na legislação do imposto de renda ou previdenciária. É dizer, não há dúvida de que a inércia da ré, durante todos esses longos anos, gerou na consumidora dependente a confiança e expectativa de direito de permanecer no plano de saúde plano de saúde familiar contratado em 31/8/1990 (fls. 16), e a adoção de comportamento contraditório pela ré configura o instituto da supressio. Basta ver o entendimento firmado pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do recurso especial da relatoria da Ministra Nancy Andrighi: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚM. 284/STF. ALEGADA OFENSA À RESOLUÇÃO DO CONSU. NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚM. 211/STJ. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚM. 283/STF. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. DISSÍDIO NÃO DEMONSTRADO. CONTRATO DE PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL. ROMPIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO. MANUTENÇÃO DO EX-EMPREGADO E SUA ESPOSA COMO BENEFICIÁRIOS DO PLANO DE SAÚDE POR 10 ANOS. EXCLUSÃO INDEVIDA PELO EX-EMPREGADOR. RESPONSABILIDADE PELA CONFIANÇA. ABUSO DO DIREITO. SUPRESSIO. JULGAMENTO: CPC/2015. (...) 9. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há falar em violação do art. 1.022, II, do CPC/15. 10. A responsabilidade pela confiança constitui uma das vertentes da boa-fé objetiva, enquanto princípio limitador do exercício dos direitos subjetivos, e coíbe o exercício abusivo do direito, o qual, no particular, se revela como uma espécie de não-exercício abusivo do direito, de que é exemplo a supressio. 11. O abuso do direito aqui caracterizado pela supressio é qualificado pelo legislador como espécie de ato ilícito (art. 187 do CC/2002), no qual, em verdade, não há desrespeito à regra de comportamento extraída da lei, mas à sua valoração; o agente atua conforme a legalidade estrita, mas ofende o elemento teleológico que a sustenta, descurando do dever ético que confere a adequação de sua conduta ao ordenamento jurídico. 12. Hipótese excepcional em que, por liberalidade do ex-empregador, o ex-empregado e sua esposa, assumindo o custeio integral, permaneceram vinculados ao contrato de plano de saúde por prazo que supera e muito o previsto no art. 30, § 1º, da Lei 9.656/1998, despertando nestes a confiança de que não perderiam o benefício, de tal modo que sua exclusão agora, quando já passados 10 anos, e quando já contam com idade avançada, torna-se inviável, segundo o princípio da boa-fé objetiva. 13. Recurso especial de BRADESCO SAÚDE S/A não conhecido. Recurso especial de UNIPAR-UNIÃO DE INDÚSTRIAS PETROQUÍMICAS S.A conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido (REsp n. 1.879.503-RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi , j. 15/9/2020). O Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo tem aplicado também o instituto da supressio: Plano de saúde. Ação cominatória. Manutenção de dependentes maiores de 24 anos em plano de saúde. Sentença que julgou proce-dente o pedido. Irresignação da ré. Perda da condição de elegibilidade alegada pela ré. Hipótese em que por longo tempo não foram os filhos excluídos do plano, tendo a ré recebido o pagamento das mensalidades e prestado normalmente os serviços médicos. Cancelamento do contrato que caracteriza comportamento contraditório e atenta contra a boa-fé objetiva. Incidência do instituto da "suppressio". Expectativa legítima dos beneficiários de manutenção do plano. Sentença mantida. Recuso desprovido (Apelação Cível 1001535-74.2024.8.26.0011, Rel. Alexandre Marcondes, 1ª Câmara de Direito Privado, j. 11/11/2024). CONTRATO - Prestação de serviços - Plano de saúde familiar - Exclusão de dependentes por perda de elegibilidade, em virtude de te-rem completado mais de 21 (vinte e um) anos há 20 (vinte) anos - Inadmissibilidade - Permanência, no instrumento, há longo tempo, que cria expectativa de continuidade do documento - Rescisão que fere o princípio da boa-fé objetiva - "Supressio" e "surrectio" - Ocor-rência - Recurso improvido (Apelação Cível 1000051-94.2024.8.26.0505, Rel. Alvaro Passos, 2ª Câmara de Direito Privado, j. 20/12/2024). Outros julgados do mesmo tribunal: Apelação nº 1016544-42.2020.8.26.0100, Rel. Des. Clara Maria Araújo Xavier, j. em 25/1/2022; Apelação n. 1000255-24.2019.8.26.0438, Des. Fábio Podestá, j. em 31/7/2019); Apelação Cível nº 1000992-09.2016.8.26.0575, Rel. Des. Augusto Resende, j. em 7/3/2019; Apelação Cível nº 1000953-12.2016.8.26.0575, Rel. Des. Enéas Costa Garcia, j. em 22/1/2020; Apelação Cível nº 1012499-16.2021.8.26.0114, Rel. Des. José Joaquim dos Santos, j. em 24/2/2023; Apelação Cível nº 1081643-51.2023.8.26.0100, Rel. Des. Rodolfo Pellizari, j. em 14/12/2023; Apelação nº 1005511-52.2020.8.26.0004, Rel. Des. Carlos Alberto de Salles, j. em 15/10/2022). Outrossim, no que concerne ao dano moral, ainda que, em regra, o deferimento célere da tutela de urgência como se deu no caso, com concessão liminar em 27/5/2024 (fls. 40/41), apenas três dias após a distribuição da ação em 24/5/2024 possa afastar a configuração do abalo indenizável, essa premissa não se sustenta diante das particularidades do caso. Não se trata aqui de simples suspensão contratual prontamente revertida, mas da exclusão de um beneficiário que se encontrava em pleno tratamento oncológico, conforme comprovado a fls. 33/35, o que expôs o autor a risco concreto e imediato à sua integridade física e emocional. Nestas circunstâncias, o rompimento abrupto da cobertura viola de forma direta a dignidade da pessoa humana, tornando legítima e necessária a reparação moral fixada. A notificação encaminhada exclusivamente por e-mail ao titular (fls. 24/26) desconsiderou por completo a condição clínica do dependente, omitindo qualquer indagação sobre a existência de tratamento em curso, o que revela conduta incompatível com a boa-fé objetiva e a função social do contrato. Não se trata, portanto, de mera rescisão contratual revertida de pronto, mas de rompimento abrupto da cobertura em contexto de doença grave. Sendo assim, é evidente que o dano moral está configurado. O valor dos danos morais foi fixado com moderação, atento o magistrado para as condições financeiras da vítima e do ofensor. Quanto aos honorários advocatícios, é caso de manter a base de cálculo indicada pela magistrada sentenciante. Com efeito, não se trata de ação objetivando tão somente a fixação de reparação a título de danos morais. O autor pleiteou também o restabelecimento do contrato. É dizer, a base de cálculo levou em conta as duas pretensões (fls.13, item VI). Em suma, a r. sentença não merece nenhum reparo. Cabe a majoração dos honorários advocatícios de 15% (quinze por cento) para 20% (vinte por cento) sobre o valor atualizado da causa, considerando o trabalho adicional realizado em grau recursal, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil. Por fim, uma advertência: o recurso interposto contra esta decisão poderá ficar sujeito a multa. Posto isso, nego seguimento ao recurso. Int. - Magistrado(a) J.L. Mônaco da Silva - Advs: Marco Antonio Goulart Lanes (OAB: 41977/BA) - Marcelo Castilho Marcelino (OAB: 140874/SP) - 4º andar

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Amanda Pereira De Carvalho x Lidima Terceirizacao De Servicos Ltda e outros

ID: 329417018

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1000683-92.2025.5.02.0024

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

AMANDA PEREIRA DE CARVALHO

Polo Passivo:

LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA MARISA LOJAS S.A.

Notificação

Advogados:

GLEICE TAVARES

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DANILA FRANCIS MODENA

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MYLENNE TOMASS VALBAO RAMOS

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KARINA LEMOS DI PROSPERO

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ADELIA VIEIRA DA SILVA

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SERGIO DE MACEDO SOARES

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JOSE ARTHUR DI PROSPERO JUNIOR

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ROSANGELA FERREIRA EUZEBIO

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000683-92.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: AMANDA PEREIRA DE CARVALHO RECLAMAD… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000683-92.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: AMANDA PEREIRA DE CARVALHO RECLAMADO: LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA E OUTROS (1) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID a03eb8d proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por AMANDA PEREIRA DE CARVALHO em face de LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA e MARISA LOJAS S.A.. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende a nulidade do pedido de demissão, pagamento de diferenças salariais, pagamento de horas extras e adicional noturno, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial (ID 8e9916b), atribuindo ao feito o valor de R$ 60.800,00. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, foi dispensada a prova oral. Réplica no ID 8022d18. Razões finais remissivas. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II – FUNDAMENTAÇÃO ADOÇÃO DO JUÍZO 100 % DIGITAL O juízo 100% digital, estabelecido pela Resolução nº 345/2020 do CNJ, consiste em sistema que permite que todos os atos processuais, como as audiências e as sessões de julgamento, sejam praticados exclusivamente por meio eletrônico. O objetivo é que o cidadão possa ter acesso à justiça, mesmo sem comparecer fisicamente aos fóruns. No entanto, o modelo não é obrigatório, sendo de escolha facultativa da parte demandante no momento da distribuição da ação. Por outro lado, a parte demandada pode opor-se a essa opção em até 05 dias úteis contados do recebimento da primeira notificação. (Art. 3º, §1º, da Resolução nº 345/2020 do CNJ, e 7º do Ato GP 20/2021 do TRT da 2ª Região). Considerando que as partes foram citadas para comparecimento presencial à audiência rejeito a preliminar. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta a 02ª ré como devedora subsidiária de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DESISTÊNCIA Ratifico a homologação da desistência efetivada pela parte reclamante (id. 61db5e4) e extingo o pedido referente ao adicional de insalubridade e periculosidade, bem como seus reflexos, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VIII, do CPC. REVELIA Ausente à audiência em que deveria apresentar defesa e prestar depoimento, a parte reclamada é considerada revel e confessa quanto à matéria fática, nos limites da lei e dos elementos de convicção constantes dos autos (art. 844, “caput”, da CLT). JORNADA DE TRABALHO - HORAS EXTRAS E ADICIONAL NOTURNO A Reclamante alega, em sua petição inicial, que cumpria jornada de segunda-feira a sábado, das 13h40 às 22h00, com uma hora de intervalo, mas que estendia habitualmente sua jornada até as 22h20. Diante da revelia da empregadora e da ausência de controles de ponto, reputo como verdadeira a jornada de trabalho declinada na inicial, por se mostrar verossímil e compatível com a função exercida. Fixo, portanto, a jornada de trabalho da Reclamante da seguinte forma: De segunda-feira a sábado, das 13h40 às 22h20, com 1 (uma) hora de intervalo para refeição e descanso.Folgas aos domingos. A Constituição Federal estabelece, em seu art. 7º, XIII, a duração do trabalho normal não superior a 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais. A jornada de trabalho fixada, das 13h40 às 22h20, com a dedução de 1 hora de intervalo, totaliza 7 horas e 40 minutos de labor efetivo por dia. Desta forma, não há que se falar em horas extras decorrentes da extrapolação do módulo diário de 8 horas. Contudo, o labor em seis dias na semana (segunda a sábado) totaliza 46 (quarenta e seis) horas semanais (7h40min x 6 dias), ultrapassando o limite constitucional de 44 horas. Condeno, pois, a Reclamada ao pagamento das horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal, com o adicional correspondente. O horário noturno do trabalhador urbano compreende o período das 22h00 às 05h00 (art. 73, § 2º, da CLT). Considerando que a jornada da Reclamante se estendia até as 22h20, é devido o pagamento de adicional noturno sobre o trabalho prestado nos 20 minutos diários laborados entre 22h00 e 22h20. O cálculo deverá observar a hora noturna reduzida (art. 73, § 1º, da CLT) e o adicional legal de 20%. Ante o exposto condeno a Reclamada ao pagamento das seguintes verbas, a serem apuradas em liquidação de sentença: a) Horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal; b) Adicional noturno sobre o labor prestado diariamente entre 22h00 e 22h20, observada a hora noturna reduzida; c) Reflexos das parcelas acima deferidas. A liquidação da sentença deverá observar os seguintes parâmetros: Parâmetros de Liquidação: a) Serão observados os dias efetivamente trabalhados, conforme os limites fixados na fundamentação, durante todo o período imprescrito do contrato; b) Divisor 220; c) Adicional de horas extras de 50% (cinquenta por cento); d) A base de cálculo das horas extras e do adicional noturno observará a globalidade salarial, nos termos da Súmula nº 264 do TST; e) Por habituais, as horas extras e o adicional noturno deferidos geram reflexos em descansos semanais remunerados (DSRs), e, com estes, em 13º salários, férias acrescidas de 1/3 e FGTS, conforme nova redação da OJ nº 394 da SBDI-I, dada pelo IRR nº 9 do C. TST, aplicável a todo o período contratual, pois posterior a 20/03/2023; f) Autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título, a fim de se evitar o enriquecimento sem causa, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 415 da SDI-I do C. TST. NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO E VERBAS RESCISÓRIAS Na prefacial, a Reclamante postula a nulidade do seu pedido de demissão, alegando que foi coagida a assinar o respectivo termo sob pena de não receber seus direitos trabalhistas e ser dispensada por justa causa. A coação, como vício de consentimento, deve ser robustamente provada pela parte que a alega, por se tratar de fato constitutivo do seu direito, nos termos do art. 818, I, da CLT c/c art. 373, I, do CPC. No caso em tela, a Reclamante não produziu nenhuma prova de suas alegações, ônus que lhe incumbia. Conforme registrado em ata de audiência, não houve produção de prova oral. Assim, não há nos autos elementos que comprovem o alegado vício de consentimento. Adicionalmente, cumpre ressaltar que o pedido de demissão, formalizado por escrito, goza de presunção de validade. A alegação de vício de consentimento, como a coação, por se tratar de mácula que invalida o ato jurídico, exige prova robusta e inequívoca, não bastando meras alegações. Ausente qualquer elemento probatório nesse sentido, prevalece a manifestação de vontade expressa no termo de rescisão, sendo de rigor a improcedência do pleito de nulidade. Julgo, pois, improcedente o pedido de declaração de nulidade do pedido de demissão, reconhecendo como válida a terminação contratual por iniciativa da empregada em 07/01/2025. Quanto às verbas rescisórias e às diferenças salariais, a Reclamante alega que recebia salário de R$ 1.590,00 mas que o piso salarial da categoria, a partir de janeiro de 2025, foi fixado em R$ 1.717,20, conforme CCT anexada aos autos. A Convenção Coletiva de Trabalho 2025 (Id 6e8cbe0) estabelece, para a função da Reclamante ("Agente de Asseio e Conservação"), o piso salarial mínimo de R$ 1.717,20 a partir de 01/01/2025. Considerando que a Reclamante laborou por 7 dias em janeiro de 2025, faz jus à remuneração calculada com base no novo piso normativo para o referido período. O pedido de "diferenças salariais", neste contexto, se traduz no direito ao pagamento correto do saldo de salário e reflexos, com base no valor vigente à época da prestação de serviços. Diante da revelia da 1ª Reclamada, que faz presumir o não pagamento das verbas rescisórias e o não reajuste salarial, defiro o pagamento dos seguintes haveres, calculados sobre o piso normativo de R$ 1.717,20: Saldo de salário de janeiro de 2025 (7 dias).13º salário proporcional de 2025 (1/12).Férias proporcionais (8/12), acrescidas do terço constitucional. Diante da revelia da 1ª Reclamada e da ausência de controvérsia sobre as verbas rescisórias devidas na modalidade de pedido de demissão, bem como da ausência de comprovação de seu pagamento no prazo legal, defiro o pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT, no valor do último salário da Reclamante. Pela mesma razão, defiro o pagamento da multa de 50% prevista no artigo 467 da CLT, a incidir sobre o montante das verbas rescisórias ora deferidas. Indefiro os pedidos de aviso prévio, multa de 40% do FGTS e indenização do seguro-desemprego, por serem incompatíveis com a modalidade de rescisão por pedido de demissão. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS (PLR) A Reclamante pleiteia o pagamento da PLR, com base na cláusula 13ª da CCT. A norma coletiva juntada aos autos (Id 979aef8) prevê o referido pagamento. Em razão da revelia, presume-se o inadimplemento da parcela. Pelo exposto, julgo procedente o pedido para condenar a 1ª Reclamada ao pagamento da PLR, nos termos da norma coletiva, no valor de R$ 323,26. FGTS A Súmula 461 do TST estabelece que é do empregador o ônus de provar a regularidade dos depósitos do FGTS. Diante da revelia, presume-se a ausência dos recolhimentos. Defiro, portanto, o pedido para condenar a 1ª Reclamada ao recolhimento em conta vinculada dos depósitos de FGTS de todo o pacto laboral, bem como sobre as verbas de natureza salarial deferidas nesta sentença. MULTA NORMATIVA A Reclamante requer a aplicação da multa convencional pelo descumprimento das cláusulas normativas. A cláusula 66ª da CCT 2024/2025 (Id 979aef8) prevê multa de 20% do salário mínimo por infração. Constatado o descumprimento da cláusula de piso salarial, defiro o pedido de pagamento da multa normativa, no valor de R$ 303,60, observada a limitação do artigo 412 do Código Civil. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA 2ª RECLAMADA Na prefacial, a parte autora alega que foi contratada pela primeira reclamada (Lidima Terceirizacao de Serviços LTDA), mas que prestou serviços para a segunda reclamada (Marisa Lojas S.A.) durante todo o período contratual. A 2ª Reclamada, em defesa, confirma que mantém contrato de prestação de serviços ativo com a 1ª Reclamada, porém nega a prestação de serviços pela parte reclamante. Insta notar que, uma vez negada a prestação de serviços pela 2ª Ré, cabia à obreira o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu direito (artigos 818, I, da CLT e do artigo 373, I, do CPC). Não houve produção de prova testemunhal, conforme ata de audiência. Apesar de ser incontroverso o ajuste de prestação de serviços entre a 1ª e a 2ª ré, é certo que não se pode presumir, apenas com base na existência de tal contrato, que a autora tenha disponibilizado sua força de trabalho em benefício da suposta tomadora. Nesse mesmo sentido, a jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região: RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI) Grifos acrescidos. Por todo o exposto, considerando que a parte autora não se desincumbiu do seu ônus de prova a contento, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face da segunda reclamada (MARISA LOJAS S.A.), determinando a exclusão desta demandada do polo passivo. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência aos autos (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há nenhum impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares. Homologo a desistência efetivada pela parte reclamante e extingo o pedido referente ao adicional de insalubridade e periculosidade, bem como seus reflexos, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VIII, do CPC; decido julgar improcedente o pedido em face da segunda reclamada, Marisa Lojas S.A., e julgar parcialmente procedentes os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por Amanda Pereira de Carvalho em face de Lidima Terceirizacao de Serviços LTDA, extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de condenar a primeira reclamada a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas: Horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal, e adicional noturno sobre o labor prestado diariamente entre 22h00 e 22h20, observada a hora noturna reduzida. Para tanto, adote-se os seguintes parâmetros de liquidação: a) base de cálculo como a globalidade salarial da parte autora, nos termos da Súmula nº 264 do C. TST;b) dias efetivamente trabalhados, conforme os limites fixados na fundamentação;c) evolução salarial da parte autora;d) divisor 220;e) adicional de horas extras de 50% e adicional noturno de 20%;f) reflexos em descansos semanais remunerados (DSRs) e, com estes, em 13º salários, férias acrescidas de 1/3 e FGTS, conforme nova redação da OJ nº 394 da SBDI-I, dada pelo IRR nº 9 do C. TST.Verbas Rescisórias, calculadas sobre o piso normativo de R$ 1.717,20: Saldo de salário de janeiro de 2025 (7 dias);13º salário proporcional de 2025 (1/12);Férias proporcionais (8/12), acrescidas do terço constitucional.Multa do art. 477, § 8º, da CLT, no valor da última remuneração da reclamante;Multa do art. 467 da CLT, no percentual de 50% sobre o montante das verbas rescisórias acima deferidas;Participação nos Lucros e Resultados (PLR), no valor de R$ 323,26;Multa normativa, no valor de R$ 303,60;Depósitos do FGTS de todo o pacto laboral, bem como sobre as verbas de natureza salarial deferidas nesta sentença, a serem recolhidos em conta vinculada. Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante. Condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra e aos extintos sem resolução de mérito. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Recolhimentos fiscais e previdenciários nos moldes da Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 363 da SBDI-I do C. TST, com os parâmetros da fundamentação. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos do art. 884 do CC e da OJ nº 415 da SDI-I do C. TST. Custas pela primeira reclamada no importe de R$ 1.200,00, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de R$ 60.000,00 (art. 789 da CLT). Intime-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - MARISA LOJAS S.A.

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Amanda Pereira De Carvalho x Lidima Terceirizacao De Servicos Ltda e outros

ID: 329417022

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1000683-92.2025.5.02.0024

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

AMANDA PEREIRA DE CARVALHO

Polo Passivo:

LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA MARISA LOJAS S.A.

Notificação

Advogados:

GLEICE TAVARES

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DANILA FRANCIS MODENA

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MYLENNE TOMASS VALBAO RAMOS

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KARINA LEMOS DI PROSPERO

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ADELIA VIEIRA DA SILVA

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SERGIO DE MACEDO SOARES

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JOSE ARTHUR DI PROSPERO JUNIOR

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ROSANGELA FERREIRA EUZEBIO

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000683-92.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: AMANDA PEREIRA DE CARVALHO RECLAMAD… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000683-92.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: AMANDA PEREIRA DE CARVALHO RECLAMADO: LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA E OUTROS (1) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID a03eb8d proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por AMANDA PEREIRA DE CARVALHO em face de LIDIMA TERCEIRIZACAO DE SERVICOS LTDA e MARISA LOJAS S.A.. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende a nulidade do pedido de demissão, pagamento de diferenças salariais, pagamento de horas extras e adicional noturno, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial (ID 8e9916b), atribuindo ao feito o valor de R$ 60.800,00. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, foi dispensada a prova oral. Réplica no ID 8022d18. Razões finais remissivas. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II – FUNDAMENTAÇÃO ADOÇÃO DO JUÍZO 100 % DIGITAL O juízo 100% digital, estabelecido pela Resolução nº 345/2020 do CNJ, consiste em sistema que permite que todos os atos processuais, como as audiências e as sessões de julgamento, sejam praticados exclusivamente por meio eletrônico. O objetivo é que o cidadão possa ter acesso à justiça, mesmo sem comparecer fisicamente aos fóruns. No entanto, o modelo não é obrigatório, sendo de escolha facultativa da parte demandante no momento da distribuição da ação. Por outro lado, a parte demandada pode opor-se a essa opção em até 05 dias úteis contados do recebimento da primeira notificação. (Art. 3º, §1º, da Resolução nº 345/2020 do CNJ, e 7º do Ato GP 20/2021 do TRT da 2ª Região). Considerando que as partes foram citadas para comparecimento presencial à audiência rejeito a preliminar. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta a 02ª ré como devedora subsidiária de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DESISTÊNCIA Ratifico a homologação da desistência efetivada pela parte reclamante (id. 61db5e4) e extingo o pedido referente ao adicional de insalubridade e periculosidade, bem como seus reflexos, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VIII, do CPC. REVELIA Ausente à audiência em que deveria apresentar defesa e prestar depoimento, a parte reclamada é considerada revel e confessa quanto à matéria fática, nos limites da lei e dos elementos de convicção constantes dos autos (art. 844, “caput”, da CLT). JORNADA DE TRABALHO - HORAS EXTRAS E ADICIONAL NOTURNO A Reclamante alega, em sua petição inicial, que cumpria jornada de segunda-feira a sábado, das 13h40 às 22h00, com uma hora de intervalo, mas que estendia habitualmente sua jornada até as 22h20. Diante da revelia da empregadora e da ausência de controles de ponto, reputo como verdadeira a jornada de trabalho declinada na inicial, por se mostrar verossímil e compatível com a função exercida. Fixo, portanto, a jornada de trabalho da Reclamante da seguinte forma: De segunda-feira a sábado, das 13h40 às 22h20, com 1 (uma) hora de intervalo para refeição e descanso.Folgas aos domingos. A Constituição Federal estabelece, em seu art. 7º, XIII, a duração do trabalho normal não superior a 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais. A jornada de trabalho fixada, das 13h40 às 22h20, com a dedução de 1 hora de intervalo, totaliza 7 horas e 40 minutos de labor efetivo por dia. Desta forma, não há que se falar em horas extras decorrentes da extrapolação do módulo diário de 8 horas. Contudo, o labor em seis dias na semana (segunda a sábado) totaliza 46 (quarenta e seis) horas semanais (7h40min x 6 dias), ultrapassando o limite constitucional de 44 horas. Condeno, pois, a Reclamada ao pagamento das horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal, com o adicional correspondente. O horário noturno do trabalhador urbano compreende o período das 22h00 às 05h00 (art. 73, § 2º, da CLT). Considerando que a jornada da Reclamante se estendia até as 22h20, é devido o pagamento de adicional noturno sobre o trabalho prestado nos 20 minutos diários laborados entre 22h00 e 22h20. O cálculo deverá observar a hora noturna reduzida (art. 73, § 1º, da CLT) e o adicional legal de 20%. Ante o exposto condeno a Reclamada ao pagamento das seguintes verbas, a serem apuradas em liquidação de sentença: a) Horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal; b) Adicional noturno sobre o labor prestado diariamente entre 22h00 e 22h20, observada a hora noturna reduzida; c) Reflexos das parcelas acima deferidas. A liquidação da sentença deverá observar os seguintes parâmetros: Parâmetros de Liquidação: a) Serão observados os dias efetivamente trabalhados, conforme os limites fixados na fundamentação, durante todo o período imprescrito do contrato; b) Divisor 220; c) Adicional de horas extras de 50% (cinquenta por cento); d) A base de cálculo das horas extras e do adicional noturno observará a globalidade salarial, nos termos da Súmula nº 264 do TST; e) Por habituais, as horas extras e o adicional noturno deferidos geram reflexos em descansos semanais remunerados (DSRs), e, com estes, em 13º salários, férias acrescidas de 1/3 e FGTS, conforme nova redação da OJ nº 394 da SBDI-I, dada pelo IRR nº 9 do C. TST, aplicável a todo o período contratual, pois posterior a 20/03/2023; f) Autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título, a fim de se evitar o enriquecimento sem causa, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 415 da SDI-I do C. TST. NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO E VERBAS RESCISÓRIAS Na prefacial, a Reclamante postula a nulidade do seu pedido de demissão, alegando que foi coagida a assinar o respectivo termo sob pena de não receber seus direitos trabalhistas e ser dispensada por justa causa. A coação, como vício de consentimento, deve ser robustamente provada pela parte que a alega, por se tratar de fato constitutivo do seu direito, nos termos do art. 818, I, da CLT c/c art. 373, I, do CPC. No caso em tela, a Reclamante não produziu nenhuma prova de suas alegações, ônus que lhe incumbia. Conforme registrado em ata de audiência, não houve produção de prova oral. Assim, não há nos autos elementos que comprovem o alegado vício de consentimento. Adicionalmente, cumpre ressaltar que o pedido de demissão, formalizado por escrito, goza de presunção de validade. A alegação de vício de consentimento, como a coação, por se tratar de mácula que invalida o ato jurídico, exige prova robusta e inequívoca, não bastando meras alegações. Ausente qualquer elemento probatório nesse sentido, prevalece a manifestação de vontade expressa no termo de rescisão, sendo de rigor a improcedência do pleito de nulidade. Julgo, pois, improcedente o pedido de declaração de nulidade do pedido de demissão, reconhecendo como válida a terminação contratual por iniciativa da empregada em 07/01/2025. Quanto às verbas rescisórias e às diferenças salariais, a Reclamante alega que recebia salário de R$ 1.590,00 mas que o piso salarial da categoria, a partir de janeiro de 2025, foi fixado em R$ 1.717,20, conforme CCT anexada aos autos. A Convenção Coletiva de Trabalho 2025 (Id 6e8cbe0) estabelece, para a função da Reclamante ("Agente de Asseio e Conservação"), o piso salarial mínimo de R$ 1.717,20 a partir de 01/01/2025. Considerando que a Reclamante laborou por 7 dias em janeiro de 2025, faz jus à remuneração calculada com base no novo piso normativo para o referido período. O pedido de "diferenças salariais", neste contexto, se traduz no direito ao pagamento correto do saldo de salário e reflexos, com base no valor vigente à época da prestação de serviços. Diante da revelia da 1ª Reclamada, que faz presumir o não pagamento das verbas rescisórias e o não reajuste salarial, defiro o pagamento dos seguintes haveres, calculados sobre o piso normativo de R$ 1.717,20: Saldo de salário de janeiro de 2025 (7 dias).13º salário proporcional de 2025 (1/12).Férias proporcionais (8/12), acrescidas do terço constitucional. Diante da revelia da 1ª Reclamada e da ausência de controvérsia sobre as verbas rescisórias devidas na modalidade de pedido de demissão, bem como da ausência de comprovação de seu pagamento no prazo legal, defiro o pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º, da CLT, no valor do último salário da Reclamante. Pela mesma razão, defiro o pagamento da multa de 50% prevista no artigo 467 da CLT, a incidir sobre o montante das verbas rescisórias ora deferidas. Indefiro os pedidos de aviso prévio, multa de 40% do FGTS e indenização do seguro-desemprego, por serem incompatíveis com a modalidade de rescisão por pedido de demissão. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS (PLR) A Reclamante pleiteia o pagamento da PLR, com base na cláusula 13ª da CCT. A norma coletiva juntada aos autos (Id 979aef8) prevê o referido pagamento. Em razão da revelia, presume-se o inadimplemento da parcela. Pelo exposto, julgo procedente o pedido para condenar a 1ª Reclamada ao pagamento da PLR, nos termos da norma coletiva, no valor de R$ 323,26. FGTS A Súmula 461 do TST estabelece que é do empregador o ônus de provar a regularidade dos depósitos do FGTS. Diante da revelia, presume-se a ausência dos recolhimentos. Defiro, portanto, o pedido para condenar a 1ª Reclamada ao recolhimento em conta vinculada dos depósitos de FGTS de todo o pacto laboral, bem como sobre as verbas de natureza salarial deferidas nesta sentença. MULTA NORMATIVA A Reclamante requer a aplicação da multa convencional pelo descumprimento das cláusulas normativas. A cláusula 66ª da CCT 2024/2025 (Id 979aef8) prevê multa de 20% do salário mínimo por infração. Constatado o descumprimento da cláusula de piso salarial, defiro o pedido de pagamento da multa normativa, no valor de R$ 303,60, observada a limitação do artigo 412 do Código Civil. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA 2ª RECLAMADA Na prefacial, a parte autora alega que foi contratada pela primeira reclamada (Lidima Terceirizacao de Serviços LTDA), mas que prestou serviços para a segunda reclamada (Marisa Lojas S.A.) durante todo o período contratual. A 2ª Reclamada, em defesa, confirma que mantém contrato de prestação de serviços ativo com a 1ª Reclamada, porém nega a prestação de serviços pela parte reclamante. Insta notar que, uma vez negada a prestação de serviços pela 2ª Ré, cabia à obreira o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu direito (artigos 818, I, da CLT e do artigo 373, I, do CPC). Não houve produção de prova testemunhal, conforme ata de audiência. Apesar de ser incontroverso o ajuste de prestação de serviços entre a 1ª e a 2ª ré, é certo que não se pode presumir, apenas com base na existência de tal contrato, que a autora tenha disponibilizado sua força de trabalho em benefício da suposta tomadora. Nesse mesmo sentido, a jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região: RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI) Grifos acrescidos. Por todo o exposto, considerando que a parte autora não se desincumbiu do seu ônus de prova a contento, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face da segunda reclamada (MARISA LOJAS S.A.), determinando a exclusão desta demandada do polo passivo. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência aos autos (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há nenhum impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares. Homologo a desistência efetivada pela parte reclamante e extingo o pedido referente ao adicional de insalubridade e periculosidade, bem como seus reflexos, sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VIII, do CPC; decido julgar improcedente o pedido em face da segunda reclamada, Marisa Lojas S.A., e julgar parcialmente procedentes os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por Amanda Pereira de Carvalho em face de Lidima Terceirizacao de Serviços LTDA, extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de condenar a primeira reclamada a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas: Horas extras, assim consideradas as excedentes da 44ª (quadragésima quarta) hora semanal, e adicional noturno sobre o labor prestado diariamente entre 22h00 e 22h20, observada a hora noturna reduzida. Para tanto, adote-se os seguintes parâmetros de liquidação: a) base de cálculo como a globalidade salarial da parte autora, nos termos da Súmula nº 264 do C. TST;b) dias efetivamente trabalhados, conforme os limites fixados na fundamentação;c) evolução salarial da parte autora;d) divisor 220;e) adicional de horas extras de 50% e adicional noturno de 20%;f) reflexos em descansos semanais remunerados (DSRs) e, com estes, em 13º salários, férias acrescidas de 1/3 e FGTS, conforme nova redação da OJ nº 394 da SBDI-I, dada pelo IRR nº 9 do C. TST.Verbas Rescisórias, calculadas sobre o piso normativo de R$ 1.717,20: Saldo de salário de janeiro de 2025 (7 dias);13º salário proporcional de 2025 (1/12);Férias proporcionais (8/12), acrescidas do terço constitucional.Multa do art. 477, § 8º, da CLT, no valor da última remuneração da reclamante;Multa do art. 467 da CLT, no percentual de 50% sobre o montante das verbas rescisórias acima deferidas;Participação nos Lucros e Resultados (PLR), no valor de R$ 323,26;Multa normativa, no valor de R$ 303,60;Depósitos do FGTS de todo o pacto laboral, bem como sobre as verbas de natureza salarial deferidas nesta sentença, a serem recolhidos em conta vinculada. Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante. Condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra e aos extintos sem resolução de mérito. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Recolhimentos fiscais e previdenciários nos moldes da Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 363 da SBDI-I do C. TST, com os parâmetros da fundamentação. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos do art. 884 do CC e da OJ nº 415 da SDI-I do C. TST. Custas pela primeira reclamada no importe de R$ 1.200,00, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de R$ 60.000,00 (art. 789 da CLT). Intime-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - AMANDA PEREIRA DE CARVALHO

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Processo nº 5012848-49.2024.8.13.0035

ID: 261166430

Tribunal: TJMG Órgão: Unidade Jurisdicional 1º JD da Comarca de Araguari Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5012848-49.2024.8.13.0035

Data de Disponibilização: 28/04/2025

Polo Ativo:

LUCIANO DE PAULA RIBEIRO

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

KELLY CRISTINA DE OLIVEIRA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Araguari / Unidade Jurisdicional 1º JD da Comarca de Araguari Avenida Doutor Oswaldo Pieruccetti, 400, - até 999/10… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Araguari / Unidade Jurisdicional 1º JD da Comarca de Araguari Avenida Doutor Oswaldo Pieruccetti, 400, - até 999/1000, Sibipiruna, Araguari - MG - CEP: 38445-130 PROCESSO Nº: 5012848-49.2024.8.13.0035 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSUNTO: [Rescisão do contrato e devolução do dinheiro] AUTOR: LUCIANO DE PAULA RIBEIRO CPF: 652.276.206-44 RÉU: GIGA MOTORS COMERCIO DE VEICULOS LTDA CPF: 50.418.306/0001-30 e outros SENTENÇA Vistos etc, Dispensado o relatório, ao talante do art. 38, da Lei nº 9.099/95. Passa-se à breve síntese dos fatos processuais relevantes. LUCIANO DE PAULA RIBEIRO ajuíza “AÇÃO DE REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS” em desfavor de GIGA MOTORS e LEANDRO ALVES REIS, qualificados nos autos (ID 10351632904), na qual alega, em síntese, que “no dia 08 de fevereiro de 2024, celebrou um contrato de compra e venda (anexo) com os Réus, de 01 veículo modelo GM Cruze LT 1.8, chassi 9GPB69M0CB280410, placa JKE 4486, Renavam 00481945547, no valor de R$48.900,00 (quarenta e oito mil e novecentos reais), sendo R$9.870,00 pagos à vista, via PIX e o remanescente financiado junto ao Banco Mercado Pago; foi informado pelos vendedores que o veículo veio de boa procedência, bem cuidado, e em perfeito estado de conservação, com garantia de 90 dias de motor e câmbio a partir de 08/02/2024, conforme se vê contrato anexo; sendo assim, a garantia teve fim em 07/05/2024; contudo, após poucos dias de uso, o veículo acima, passou a apresentar vícios ocultos que serão apontados a seguir; no dia 15 de fevereiro, 01 semana após a compra do veículo, tendo procurado o mecânico indicado pelo vendedor para avaliar o óleo de câmbio, foi descoberto uma falha no motor; logo em seguida quando o Autor foi realizar a troca de óleo do motor, descobriu na oficina, que o parafuso do carter estava colado com durepox, tendo sido necessária a troca de rosca no carter; apesar do 2º Réu apresentar o mecânico para fazer o conserto do parafuso do carter do óleo do motor, o referido mecânico não conseguiu resolver, tendo o Autor procurado outra oficina no custo de R$100,00 reembolsado pelos Réus, conforme comprovantes abaixo; tendo posteriormente realizado a troca de óleo do motor, no valor de R$422,00 notas anexas; ao realizar a troca de óleo de câmbio, que deve ser feita a cada 80.000 km rodados, descobriu outro vício oculto, a tampa do carter do óleo estava avariada, e também colada com durepox, tendo custado ao Autor R$225,00 a troca da referida peça, conforme nota anexa; tendo no mesmo ato descoberto, avaria no suporte frontal do motor, que estava quebrado, podendo causar um grave acidente; a referida troca foi feita na oficina especializada da cidade, Edson Veículos Ltda, que no momento da troca percebeu grande vazamento no óleo do motor, o qual estava oculto, pois o óleo caia no peito de aço do veículo, conforme se vê comunicação do Autor aos Réus; nas condições em que o veículo foi entregue ao Autor, o mesmo não conseguia realizar a troca do óleo de câmbio, pois as peças estavam coladas com durepox; no dia 10 de março, um mês após a compra do veículo, este apresentou pane seca por falta de combustível, sem que o marcador de combustível tivesse apontado nada, tendo sido novamente encaminhado à oficina, e ao examinar a bomba de combustível, esta estava defeituosa, e faltando peças; tendo o Autor comunicado o vendedor que ficou de procurar a peça, retornando dias depois alegando que a peça não foi encontrada, dizendo ao Autor procurar a peça em ferros velhos; no dia 12 de março o veículo apresentou outro vício oculto nas pastilhas de freio, vindo a sair muita fumaça na estrada, em percurso curto de Araguari à Uberlândia, tendo o Autor imediatamente comunicado os Réus de que a pastilhas não estavam apenas gastas de uso natural, mas estava totalmente destruídas, conforme se vê áudio anexo; no dia 18 de março, o Autor descobriu um ‘papo’ no pneu dianteiro esquerdo, bem como, descobriu que a borracha do coxim do câmbio estava destruída, e o escapamento cheio de remendas conforme se vê fotos abaixo; tendo o Autor imediatamente comunicado o 2º Réu, via whatsapp, conforme se vê prints anexos, tendo recebido como resposta apenas que o vendedor ajudaria, tendo recebido um pix do 2º Réu no valor de R$200,00, conforme se vê comprovante abaixo; tendo o Autor realizado a troca do medidor de combustível, jogo de pastilha de freio, óleos e aditivo no valor de R$1.097,00, bem como troca da bomba de combustível no valor de R$816,49, + R$ 450,00 de mão de obra, conforme se vê notas anexas, somando estas peças e a mão de obra no valor de R$2.363,49; tendo recebido dos Réus o valor de R$200,00 referente a ajuda de custos com as trocas apontadas acima; com a garantia do veículo de 90 dias ainda em vigor, no dia 03/05/2024 o Autor comunicou o segundo Réu sobre vazamento no motor e outros detalhes no câmbio, conforme mídia de áudio anexa, tendo o Réu por sua vez, se omitido a responder no prazo, para posteriormente alegar que a garantia havia vencido no dia 05/05/2024, alegando falsamente que o veículo foi comprado e retirado no dia 06/02/2024, sendo que, na verdade, a compra do veículo ocorreu no dia 08/02/2024 e a garantia findaria em 07/05/2024, tendo o Autor arcado também com os custos da troca do suporte frontal do motor, no valor total de R$972,00, nota anexa; quanto a falsa alegação do Réu de que a compra do veículo teria sido em 06/02/2024, resta comprovado pelo contrato anexo e conversa no whatsapp entre as partes, que o veículo foi comprado em 08/02/2024; na oportunidade junta ainda conversa de whatsapp datada de 07/02/2024, em que combinam a entrega do veículo para o dia seguinte, dia 08/02/2024; restando inconteste que a compra do veículo se deu realmente em 08/02/2024; esclarece ainda que no início do mês de setembro do corrente ano, o veículo apresentou outro vício oculto, com grande vazamento de água no motor, tendo acionado a oficina especializada, que orientou a não ligar o veículo até o reparo ser realizado, diante do risco de aumentar os danos no motor; tendo o Autor ficado sem o carro até 06 de setembro, e custeado sozinho todas as trocas e reparos necessários para ter o carro funcionando novamente no valor de R$3.700,00, conforme se vê nota anexa; considerando o alto valor das peças, junta na oportunidade outros orçamentos dentro das disponibilidade comercial da cidade, observando que os valores estão dentro da normalidade; considerando que o vício acima foi identificado em 01/09/2024 (notas anexas) e que o prazo de 90 dias relacionado a vício oculto se inicia no ato de conhecimento dos fatos, ainda está em vigor o prazo para reclamação do mesmo; considerando a má -fé dos Réus ao venderem um veículo cheio de vícios ocultos, e se eximando de qualquer responsabilidade, o Autor, não viu outra alternativa a não ser realizar reclamação junto ao Procon, documento anexo, não tendo tido êxito, visto que em audiência os Réus não apresentaram interesse em acordo; tendo como última alternativa procurar auxílio em juízo, depois de tantos transtornos e de ver seus direitos esvaídos, propôs a presente Ação; diante de tantos defeitos apresentados, o Autor enfrentou diversos transtornos que extrapolam o mero dessabor, com o veículo que comprou há poucos meses, quase sempre na oficina, com gastos exorbitantes, tendo causado um prejuízo material no valor total acima de R$10.000,00; além do mais, a indisponibilidade do veículo para uso no dia a dia, causou transtornos na rotina do Autor e de sua família; tendo tais situações prejudicado o uso normal do veículo para o qual foi adquirido; vale ressaltar que o Autor não pretende ressarcimento de todos os gastos, visto que é sabido a necessidade de manutenção de qualquer veículo, mas sim, a reparação de gastos exorbitantes de peças essenciais, que deveriam ter sido entregues no estado de conservação prometida, bem como de peças amparadas pela garantia, além de reparação de danos morais; vale ressaltar ainda, que o fato do veículo adquirido ser usado, não exime os Réus quanto a fornecerem veículo em boa condição de uso, visto que, o Autor pagou por um veículo com promessa de estar em perfeito estado, observado o valor da tabela FIPE, em média de R$50.000,00, tendo o Autor pago R$48.900,00; sendo assim, o Autor pagou por um veículo em perfeito estado e com boa preservação, e foi surpreendido com diversas falhas graves no veículo a cada instante; vale ressaltar, que durante todos os reparos, o Autor ficou a cargo de todos os custos, e sem qualquer outro meio de condução, além de, demais despesas que não podia prever, com recorrências a oficinas, gastando com peças e mãos de obras anexas, o que resultou em diversas perturbações e angustia, além de descompensação financeira, que prejudicou todo o orçamento do Autor, tendo tais danos, que ultrapassam o mero dissabor, obrigação de serem indenizados pelos Réus; devendo os Réus serem condenados a pagarem os prejuízos acima apontados; assim, considerando que as peças e mãos de obra anexas eram de necessidade básica para o funcionamento do veículo e que não foram ressarcidas ou assumidas pelos Réus, requer à V.Exa., se digne condenar os Réus solidariamente a pagarem ao Autor a título de danos materiais o valor de R$6.163,49, referente as peças e mão de obra anexas; considerando os envios de dois pix pelos Réus no valor total de R$300,00, o Autor concorda com a compensação de tal valor para pagamento de danos materiais, restando devido ao Autor a quantia de R$5.863,49; comprovantes de pagamento que deverão serem reparados pelos Réus em anexo; resta, portanto, demonstrada a obrigação do ressarcimento por parte dos Réus, em face das disposições supra mencionadas, visto que as situações experimentadas pelo Autor, ultrapassam o mero dessabor, visto que o veículo foi impossibilitado para uso normal durante todos os vícios ocultos apresentados, devendo os Réus serem condenados também, em quantia nunca inferior a R$10.000,00 a título de danos morais em favor do Autor, afim de que, a medida indenizatória tenha caráter pedagógico e reparador; no caso, de assim, o MM Juiz não entender, o que se admite por argumento, requer que a condenação de danos morais seja arbitrada pelo MM Juiz, que levará em conta, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade”. Ao final, requer a procedência do pedido inicial “com a condenação dos Réus a pagarem solidariamente ao Autor a título de danos materiais a quantia de R$5.863,49 referente as peças que envolvem motor e câmbio, já compensados os valores pagos pelos Réus, bem como vícios ocultos, a serem corrigidos e atualizados até a data do efetivo pagamento; condenar os Réus solidariamente ao pagamento de danos morais a serem arbitrados em quantia nunca inferior a R$10.000,00” (ID 10351632904). Citada regularmente (IDs 10410034998 e 10369994568), a parte requerida não ofereceu contestação (certidão de decurso de prazo do Pje). A parte autora pugnou pelo julgamento antecipado da lide (ID 10427098371). É a súmula da espécie. O feito comporta o julgamento antecipado, nos termos do art. 355, inciso I, do CPC, pois a matéria é eminentemente de direito e os documentos acostados bastam à composição da lide. Nos termos do disposto no art. 441, do Código Civil, "a coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor." A constatação do vício redibitório autoriza o adquirente do bem a pleitear a extinção do vínculo contratual (Código Civil, art. 441) ou, ainda, o abatimento do preço em valor correspondente ao defeito, nos termos do art. 442, do Código Civil. Segundo as lições de CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD, o direito tem como requisitos: 1) Contrato oneroso, salvo doação remuneratória e doação contemplativa de casamento; 2) Defeito oculto existente ao tempo da tradição; 3) Descoberta do defeito posteriormente à tradição; 4) Diminuição do valor econômico ou perda da substância da coisa em razão do vício redibitório; 5) Inexistência de cláusula excludente de garantia (Curso de Direito Civil. 4ª. ed. Salvador, Juspodvim, 2014, pp. 460/463). No caso em tela, a narrativa da parte autora encontra respaldo em documentos probatórios idôneos, juntados em ID 10351691223 e seguintes, dos quais extrai-se de forma clara e precisa o encadeamento dos vícios apresentados pelo veículo adquirido, logo após a tradição, com robusta comprovação dos defeitos apontados, das despesas efetuadas e das tentativas de solução extrajudicial pela parte demandante, inclusive com comunicações escritas e áudios enviados à parte ré via aplicativo de mensagens, tudo isso somado às notas fiscais, aos comprovantes de pagamento e registros de conserto. Os vícios detectados no automóvel são considerados ocultos por sua própria natureza técnica e, assim, não poderiam ser verificados de plano por consumidor médio, no momento da aquisição. Nesse particular, incide com plena eficácia o disposto no art. 18, §1º, II, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece a responsabilidade solidária dos fornecedores pelos vícios de qualidade que tornem o produto impróprio ou inadequado para o consumo a que se destina. Ainda que o fornecedor não tenha responsabilidade sobre os vícios do produto em razão do tempo decorrido desde a fabricação do veículo, é sua responsabilidade oferecer produtos que tenham plenas condições de utilização pelo usuário, garantindo que sejam adequados para o fim ao qual se destinam. Confira-se a jurisprudência: COMPRA E VENDA – VEÍCULO USADO – VÍCIO OCULTO – - DANOS MATERIAIS – RELAÇÃO DE COMSUMO – DEVER DE INDENIZAR – Ação de indenização por danos materiais e morais julgada parcialmente procedente para condenar a ré ao pagamento da quantia de R$24.200,00 (vinte e quatro mil e duzentos reais) a título de danos materiais, com correção monetária desde o último desembolso (08/06/2013) e juros moratórios de 1% ao mês desde a citação – Apelante que se insurge contra a r. sentença insistindo na tese de inexistência de sua culpa pelos danos existentes no veículo por ter sido efetuada a vistoria pelo apelado, afirmando que os itens pleiteados pelo autor não se encontravam cobertos pela garantia, devendo ser afastada a indenização pelos danos materiais – Relação de consumo configurada – Responsabilidade objetiva do fornecedor em comercializar bens que sejam úteis à finalidade no qual se destinam – Dever de indenizar por todos os vícios ocultos que impossibilitam o uso do veículo – Realização de vistoria é ônus intrínseco na atividade de venda de veículos usados – Vício oculto comprovado – Dever de indenizar pelos danos materiais sofridos – Apelante que não comprovou a venda do veículo em condições de uso – Sentença mantida – Verba honorária majorada em 15% do valor da condenação, nos termos do artigo 85, parágrafo 11, do Código de Processo Civil – Recurso improvido. (TJ-SP - AC: 10002559220168260126 SP 1000255-92 .2016.8.26.0126, Relator.: José Augusto Genofre Martins, Data de Julgamento: 03/12/2019, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 03/12/2019). A existência de múltiplos vícios graves e sucessivos, em curto espaço de tempo após a aquisição do produto, rompe com qualquer expectativa legítima de funcionalidade e segurança, constituindo verdadeiro inadimplemento contratual. No tocante aos danos materiais, a parte autora comprovou documentalmente as despesas com peças e mão de obra no valor total de R$2.463,49 (dois mil quatrocentos e sessenta e três reais e quarenta e nove centavos), mediante a juntada de notas fiscais e recibos (ID 10351631944). Referido montante está diretamente relacionado aos vícios ocultos identificados no motor, câmbio, sistema de freios e bomba de combustível — todos componentes essenciais ao funcionamento seguro do veículo. Contudo, a alegação de nova falha ocorrida em setembro de 2024, resultando em uma hipotética despesa adicional de R$3.700,00 (três mil e setecentos reais), apoia-se exclusivamente no orçamento de ID 10351631944 – pg. 05, desacompanhado de nota fiscal ou recibo, o que impede o seu reconhecimento como gasto efetivamente realizado, nos termos do art. 373, I, do CPC. Uma vez comprovado que a parte ré reembolsou à parte autora o valor de R$300,00 (trezentos reais) (ID 10351632904 ), por meio de transferência via PIX, impõe-se a compensação dessa quantia, restando devidos R$2.163,49 (dois mil cento e sessenta e três reais e quarenta e nove centavos) a título de danos materiais. Sobre o tema: EMENTA: APELAÇAO. COMPRA VEÍCULO. VÍCIO OCULTO MOTOR. RESSARCIMENTO VALORES. SENTENÇA MANTIDA. - Incumbe à fornecedora, informar ao consumidor a respeito das condições do automóvel, garantir-lhe que o veículo estivesse em condições para utilização por tempo mínimo razoável e na forma presumivelmente adequada. - Comprovado que o veículo foi alienado com vícios já existentes, bem como, demonstrados os prejuízos materiais sofridos pelo consumidor, em razão dos defeitos ocultos encontrados no automóvel, correta a determinação de ressarcimento de valores. (TJMG - Ap Cível/Rem Necessária 1.0000.22.291701-5/003, Relator(a): Des.(a) Luiz Carlos Gomes da Mata , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 04/07/2024, publicação da súmula em 08/07/2024) EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. RESCISÃO CONTRATUAL. VÍCIO OCULTO EM VEÍCULO USADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E LUCROS CESSANTES. RECURSO NÃO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelação cível interposta contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais em ação de rescisão contratual cumulada com indenização por danos morais, materiais e lucros cessantes. A ação foi ajuizada pelos autores em face da vendedora de veículo, da seguradora, da fabricante e da financiadora, pleiteando a resolução do contrato de compra e venda, restituição de valores pagos e indenização por danos. A sentença rescindiu o contrato e condenou a vendedora a restituir valores e indenizar os danos materiais e morais, mas afastou a responsabilidade das demais rés. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há três questões em discussão: (i) verificar a extensão da responsabilidade solidária das rés na cadeia de fornecimento; (ii) determinar o cabimento de indenização pelos danos materiais alegados, inclusive pela locação de veículo substituto e conserto do bem; (iii) analisar a adequação do quantum fixado a título de danos morais. III. RAZÕES DE DECIDIR - A responsabilidade solidária entre os integrantes da cadeia de fornecimento não se aplica às rés financiadora e seguradora, uma vez que não se verifica vício na prestação de seus serviços nem nexo causal com os defeitos do veículo. - A fabricante do veículo também não responde pelos vícios constatados, tendo em vista a ausência de nexo causal, uma vez que o veículo usado foi adquirido fora do prazo de garantia e apresentava defeitos decorrentes do mau uso pelo antigo proprietário. - A indenização por danos materiais referente à locação de veículo não é cabível, pois não há comprovação do efetivo pagamento dos valores indicados no contrato de locação juntado aos autos. - A indenização por danos materiais para o reparo do veículo não é devida, pois o valor não foi efetivamente despendido, além de o pedido ser subsidiário à resolução contratual, já acolhida. - O quantum arbitrado a título de danos morais é adequado e proporcional às peculiaridades do caso, considerando os transtornos causados pela privação do uso do veículo, sem configurar enriquecimento ilícito. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso desprovido. Tese de julgamento: - A responsabilidade solidária entre integrantes da cadeia de fornecimento não se aplica quando não há vício na prestação de serviços ou nexo causal com o dano. - A indenização por danos materiais exige comprovação efetiva do prejuízo sofrido e despendido. - O quantum da indenização por danos morais deve observar os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, considerando os transtornos específicos do caso. Dispositivos relevantes citados: Código de Defesa do Consumidor, arts. 7º, parágrafo único, 14 e 25, § 1º; Código Civil, arts. 402 e 944; Código de Processo Civil, art. 373, I. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.24.395122-5/001, Relator(a): Des.(a) Lílian Maciel , 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/03/2025, publicação da súmula em 25/03/2025). Quanto ao dano moral, é de se reconhecer que o conjunto de transtornos vivenciados pela parte autora extrapola, a toda evidência, os meros aborrecimentos próprios de uma relação de consumo. A aquisição de um veículo automotor, por expressiva quantia, e a sequência de falhas graves que comprometeram a segurança e a funcionalidade do bem, somadas à conduta omissiva e desidiosa da parte ré, gera, de forma inequívoca, uma perturbação significativa na esfera psíquica do consumidor, de modo a abalar a sua confiança, estabilidade emocional e o seu planejamento financeiro familiar. Não se trata aqui de frustrações ordinárias da vida em sociedade, mas de verdadeira violação à dignidade do consumidor, que, à luz do art. 6º, VI, do CDC, autoriza a reparação moral. Sobre o assunto, leciona Humberto Theodoro Júnior que: "nunca poderá, o juiz, arbitrar a indenização do dano moral, tomando por base tão somente o patrimônio do devedor. Sendo, a dor moral, insuscetível de uma equivalência com qualquer padrão financeiro, há uma universal recomendação, nos ensinamentos dos doutos e nos arestos dos tribunais, no sentido de que 'o montante da indenização será fixado eqüitativamente pelo Tribunal' (Código Civil Português, art. 496, inc. 3). Por isso, lembra, R. Limongi França, a advertência segundo a qual 'muito importante é o juiz na matéria, pois a equilibrada fixação do quantum da indenização muito depende de sua ponderação e critério" (Reparação do Dano Moral, RT 631/36)" (in Dano Moral, Ed. Oliveira Mendes, 1998, São Paulo, p. 44). O quantum indenizatório deve ter em vista os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, bem como estabelecer uma reparação equitativa, apurando-se as peculiaridades de cada caso, tais como a culpa do agente, a qualidade do atingido, a extensão do prejuízo causado, a capacidade econômica do agravado e a capacidade financeira do ofensor, de molde a inibi-lo de reincidência, ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame patrimonial, sem implicar enriquecimento sem causa da parte atingida. Assim, diante do contexto probatório, da gravidade dos vícios apresentados e da pertinácia omissiva da parte ré, mostra-se razoável uma indenização por danos morais equivalente a R$5.000,00 (cinco mil reais), corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora. Confira-se a jurisprudência: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE PROCEDIMENTO COMUM - ILEGITIMIDADE ATIVA - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - RESCISÃO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULO - HODÔMETRO ADULTERADO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA CONCESSIONÁRIA - DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO - DEDUÇÃO DA DEPRECIAÇÃO DO BEM - DANO MORAL - QUANTUM INDENIZATÓRIO - TERMO INICIAL JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. À luz da teoria da asserção, a legitimidade das partes deve ser aferida de forma abstrata, com base na narrativa realizada pelo autor na peça inicial, de modo que, em se concluindo que o autor é o possível titular do direito invocado e que aquele indicado como réu deve suportar a eventual procedência dos pedidos iniciais, estará consubstanciada a legitimidade "ad causam" das partes, o que não se confunde com o julgamento do mérito. Compreende-se como impossibilidade jurídica do pedido a pretensão que encontra vedação no ordenamento jurídico. É lícito o pleito de rescisão de contrato de compra e venda de veículo por vício oculto. A concessionária vendedora de veículos usados responde objetivamente pelos vícios de qualidade do produto. Cabe à revendedora averiguar a procedência e o histórico do automóvel comercializado, respondendo pelos danos causados em decorrência da adulteração de quilometragem em hodômetro. Se o vício do produto não for sanado no prazo máximo de trinta dias, o consumidor pode exigir, alternativamente e à sua escolha: a imediata substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; ou o abatimento proporcional do preço. Constado o vício oculto, é devida a restituição da quantia paga devidamente atualizada, com o abatimento proporcional pelo uso de veículo por longo período de tempo. A frustação da legítima expectativa do consumidor diante da falha na prestação de serviço por parte da concessionária ré, atinente a venda de veículo com hodômetro adulterado, gera dano moral indenizável. O arbitramento da indenização por dano moral deve se dar com observância dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, cabendo ao julgador agir com moderação, levando em conta a extensão do dano, a situação econômica das partes e a repercussão do ato ilícito. Por se tratar de ilícito contratual, os juros de mora incidentes sobre as indenizações por danos material e moral devem ser contados a partir da citação (art. 405 do CC). A correção monetária, por sua vez, incide sobre a reparação material desde a data do desembolso (Súmula 43 do c. STJ) e sobre a indenização por dano moral a partir do arbitramento (Súmula 362 do c. STJ). (TJMG - Apelação Cível 1.0000.24.415388-8/001, Relator(a): Des.(a) Marcelo Pereira da Silva , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/11/2024, publicação da súmula em 14/11/2024) – (gn). EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - "AÇÃO REDIBITÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL" - COMPRA DE VEÍCULO AUTOMOTOR EM ESTABELECIMENTO COMERCIAL - VÍCIO OCULTO - ART. 18 DO CDC - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO FORNECEDOR - ART. 373, I, CPC - DANO MATERIAIS COMPROVADOS - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO. É objetiva a responsabilidade dos fornecedores pelos danos causados aos consumidores relativamente ao produto fornecido, exigindo-se apenas do consumidor que prove o dano e o nexo causal, nos termos do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor. O fornecedor tem obrigação de colocar no mercado de consumo produtos que estejam em mínimas condições de uso, ainda que se trata de veículo usado. A natureza oculta dos defeitos mecânicos, assim como sua preexistência ao negócio jurídico celebrado entre as partes restaram comprovados pelo conjunto probatório que compõe os autos, notadamente pela prova pericial produzida. Em casos envolvendo discussões de natureza eminentemente técnica, o trabalho qualificado elaborado por profissional especialista assume especial relevância. Comprovadas as despesas, é devida a indenização por danos materiais. A frustração das legítimas expectativas de quem adquire um veículo automotor em estabelecimento comercial especializado e é surpreendida com vícios ocultos que comprometem seu uso seguro, gera angústia e intranquilidade, tratando-se de situação apta a configurar dano de natureza moral. A indenização por danos morais deve ser arbitrada observando-se os critérios punitivo e compensatório da reparação, sem perder de vista a vedação ao enriquecimento sem causa e os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.24.459891-8/001, Relator(a): Des.(a) Mônica Libânio , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/02/2025, publicação da súmula em 13/02/2025). Ante o exposto e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido inicial com a resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, para: a) CONDENAR a parte requerida GIGA MOTORS e LEANDRO ALVES REIS, solidariamente, no pagamento de indenização por danos morais no valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) à parte autora LUCIANO DE PAULA RIBEIRO, com correção monetária pelo IPCA – IBGE, a partir da data do arbitramento (Súmula 362, do STJ) e juros de mora desde a citação, equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), com a dedução do IPCA do respectivo cálculo (art. 406, §1º, do CC); acaso o IPCA seja negativo (deflação), não haverá dedução de índice inflacionário; para fins de cálculo, ele será considerado igual a zero (art. 406, §3º, do CC); b) CONDENAR a parte requerida GIGA MOTORS e LEANDRO ALVES REIS, solidariamente, no pagamento de R$2.163,49 (dois mil cento e sessenta e três reais e quarenta e nove centavos) à parte autora LUCIANO DE PAULA RIBEIRO, a título de reparação de danos materiais, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros de mora A correção monetária deve observar os índices fornecidos pela CGJ/MG, desde a data do desembolso até 29.08.2024; a partir de 30.08.2024, para a correção monetária deve ser aplicado o IPCA – IBGE, conforme o disposto no art. 389, parágrafo único, do Código Civil. A taxa de juros incide a partir da citação; devem ser aplicados os juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), com a dedução do IPCA do respectivo cálculo (art. 406, §1º, do CC); acaso o IPCA seja negativo (deflação), não haverá dedução de índice inflacionário; para fins de cálculo, ele será considerado igual a zero (art. 406, §3º, do CC). Sem custas nem honorários advocatícios, a teor do disposto nos arts. 54 e 55, da Lei 9.099, de 1995. Acaso haja a interposição de recurso inominado, intime-se a parte recorrida para que, no prazo de 10 (dez) dias, apresente as suas contrarrazões. Cumpridas as formalidades supra, remetam-se os autos à respectiva Turma Recursal, com as nossas homenagens. Certificado o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se os autos com as cautelas de praxe. Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Araguari, data da assinatura eletrônica. CÁSSIO MACEDO SILVA Juiz de Direito Unidade Jurisdicional 1º JD da Comarca de Araguari 1

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Maria Cilene Da Silva e outros x Atacadao S.A. e outros

ID: 276449337

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1001927-90.2024.5.02.0024

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARIA CILENE DA SILVA ZARRIR ABEDE JUNIOR

Polo Passivo:

ATACADAO S.A. CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA DROGARIA SAO PAULO S.A. SPAR BRASIL SERVICOS LTDA.

Notificação

Advogados:

DANIEL DE LUCCA E CASTRO

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OSVALDO KEN KUSANO

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RAQUEL NASSIF MACHADO PANEQUE

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KARLA DAGUES MARTINS

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ROSEMARY FERREIRA DA SILVA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SP… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SPAR BRASIL SERVICOS LTDA. E OUTROS (3) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID 2b5f995 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende a indenização por acidente de trabalho, estabilidade provisória e pagamento de horas extras, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial, atribuindo ao feito o valor de R$ 142.542,33. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, é colhido o depoimento de 1 testemunha, indicada pela parte reclamante (ID 1553435). Determinada produção de prova pericial. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II – FUNDAMENTAÇÃO ESCLARECIMENTOS INICIAIS COMPOSIÇÃO DO POLO PASSIVO A fim de evitar equívocos, esclareço desde já que, quanto ao polo passivo da demanda, será considerada a seguinte ordem: 1ª reclamada: SPAR Brasil Serviços LTDA 2ª reclamada: Atacadão Vila Guilherme 3ª reclamada: Atacadão Vila Maria 4ª reclamada: Carrefour Casa Verde 5ª reclamada: Carrefour Limão 6ª reclamada: Drogaria São Paulo Vila Maria 7ª reclamada: Drogaria Joaquina Ramalho (Ultrafarma) 8ª reclamada: Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo PROTESTOS. INDEFERIMENTO DA OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA O patrono da parte reclamada requereu a formulação de perguntas direcionadas à parte autora. Foi indeferido. Registro, por oportuno, que a SBDI-1 do C. TST consolidou, em recente precedente, que o indeferimento do depoimento pessoal da parte adversa não configura cerceamento do direito de defesa, haja vista que, no processo do trabalho, a oitiva pessoal dos litigantes constitui faculdade do juiz (art. 848 da CLT), tratando-se de prerrogativa exclusiva do magistrado, a quem o legislador conferiu amplos poderes na direção do processo (art. 765 da CLT), sendo-lhe autorizado indeferir provas que entender inúteis à solução da controvérsia. O art. 385 do CPC, ao conferir a uma das partes a prerrogativa de requerer o depoimento pessoal de outra, disciplina questão já tratada no texto consolidado, de maneira que, não havendo vácuo legislativo, é inviável a sua aplicação ao processo do trabalho, por força dos arts. 769, da CLT, e 15,do CPC (E-RRAg-1711-15.2017.5.06.0014, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 08/11/2024). Rejeito a preliminar IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS E VALORES A impugnação apresentada pelas partes está destituída de fundamentos, não aponta irregularidade específica de conteúdo ou de forma e, portanto, não é capaz de produzir o efeito jurídico esperado. Rejeito. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA O valor da causa está de acordo com os pedidos da petição inicial e os termos dos arts. 292 do CPC, e 840, da CLT. Rejeito. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta da 02ª a 8ª ré como devedora subsidiária de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DOENÇA OCUPACIONAL Na petição inicial, a parte reclamante alega que, à época da admissão, foi considerada apta, sem qualquer restrição médica ou limitação funcional. Aduz que, em julho de 2024 enquanto prestava serviços para o Atacadão da Vila Guilherme, caiu da escada e bateu o joelho direito no chão. Pleiteia a responsabilidade patronal pelos danos materiais e morais, além de convênio médico enquanto durar o tratamento. Na contestação, a parte reclamada nega os fatos. Sustenta que a causa da doença possui natureza degenerativa. Ao exame. Ante a alegação da existência de doença ocupacional, e com o fim de aferir a existência dos elementos da responsabilidade civil, foi determinada a realização de perícia médica, cujo laudo está acostado no id. 1f7f9ef e esclarecimentos no id. 8966Ec7. Registre-se que o Perito nomeado é auxiliar da mais absoluta confiança do Juízo, estando, ainda, legal e tecnicamente habilitado para a realização do encargo que lhe foi atribuído. Após o exame clínico e a análise dos exames complementares, o Sr. Perito concluiu pela existência de nexo causal entre o acidente de trabalho e a doença meniscal de joelho direito. Transcrevo: “Este Expert pôde, portanto, concluir de forma inequívoca que HÁ NEXO DE CAUSALIDADE entre o acidente de trabalho relatado pela Obreira a doença meniscal de joelho direito que a mesma apresenta na data da diligência pericial. (...) De acordo com estes critérios, no momento da diligência, este Perito considerou a Autora INAPTA PARCIAL E TEMPORARIAMENTE para as atividades habituais que realizava junto à Reclamada. No caso da Autora, o grau de deficit funcional fica estabelecido em 5% decorrente das lesões traumáticas de joelho direito.” Dessa forma, considerando o laudo técnico pericial elaborado por profissional habilitado e que goza da plena confiança deste Juízo, o qual foi claro, coerente e conclusivo, reconheço o nexo de causalidade entre as atividades exercidas pela parte reclamante e a doença que a acometeu, caracterizando-se, portanto, doença ocupacional. Superadas essas considerações, resta saber se houve culpa da parte reclamada, para que seja responsabilizada pelos danos decorrentes da doença ocupacional. A Constituição Federal arrola, em seu artigo 7º, o direito de trabalhadores urbanos e rurais de serem indenizados quando vítimas de acidente, sempre que o empregador incorrer em dolo ou culpa. Trata-se, pois, a toda evidência, de modalidade de responsabilidade subjetiva, na medida em que depende, para sua configuração, da participação do empregador no evento, seja de forma omissiva ou comissiva. Entendo que, em certas situações, pode o empregador ser responsabilizado pelos danos sofridos por seu empregado, em virtude de doença ocupacional, independentemente da demonstração de sua culpa. E assim se fará quando, em virtude da atividade desempenhada pelo empregador, o mesmo expuser seu empregado a um risco maior do que estiver sujeita a coletividade em geral, o que não é o caso dos autos. Assim, passo a examinar a responsabilidade subjetiva da parte reclamada. Na situação dos autos, a parte ré não comprovou a adoção das medidas necessárias para evitar o acidente, tampouco logrou demonstrar que disponibilizou condições suficientemente adequadas de trabalho, embora detivesse conhecimento acerca dos riscos ergonômicos a que a parte reclamante estava submetida. Embora a reclamada não tenha agido com dolo para o acidente da parte reclamante, entendo que a atividade desenvolvida pela parte autora na reclamada contribuiu para o fato. Por todo o exposto, entendo configurada a culpa da parte ré. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO DO PERÍODO ESTABILITÁRIO A parte autora suscita, ainda, que é detentora de estabilidade acidentária, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991. Requer, assim, o pagamento de indenização substitutiva. Conforme exposto acima, a perícia médica concluiu que a enfermidade da parte reclamante possui nexo de causalidade com a atividade laborativa. O art. 21 da Lei n.º 8.213/91, esclarece que a doença decorrente do labor é equiparada a acidente de trabalho. Ademais, conforme jurisprudência reiterada do C. TST, o nexo de causalidade é suficiente para caracterizar a doença ocupacional equiparável ao acidente de trabalho. Sendo assim, havendo nexo de causalidade, a parte reclamante faz jus à estabilidade provisória no emprego, pelo prazo mínimo de 12 meses, em virtude de doença ocupacional, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991, aplicando-se a Súmula 378 do C. TST. Portanto, à luz do entendimento sumulado do C. TST, embora a parte autora não tenha sido afastada em gozo de auxílio-doença acidentário, após sua dispensa, foi constatada doença profissional que guarda relação de causalidade com a execução do contrato de emprego, o que enseja o reconhecimento da estabilidade acidentária. No caso dos autos, a parte reclamada dispensou a parte autora em 02/09/2024 (vide TRCT de id. 0c8ccd0). Na inicial, a parte reclamante requer o pagamento da indenização substitutiva equivalente ao período da estabilidade de 12 meses a partir da data do acidente (07/2024), de modo que era detentora de estabilidade no emprego até julho de 2025. Assim, ante a incapacidade laboral temporária, com fundamento na Súmula 396, I, do C. TST, condeno a parte ré ao pagamento de indenização substitutiva. Portanto, julgo procedente o pedido de pagamento de indenização decorrente da estabilidade laboral (de julho de 2024 até julho de 2025) devendo a parte reclamada pagar os salários, férias + 1/3, abono de férias, 13º salário, FGTS, multa de 40% desde julho de 2024 até julho de 2025, observados os limites do pedido na petição inicial. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. PENSÃO MENSAL TEMPORÁRIA Conforme estabelece o artigo 950 do Código Civil, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade para o trabalho, a indenização incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Dessa forma, a constatada redução temporária da capacidade laborativa da Reclamante (5%) autoriza a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos materiais, consoante o disposto no artigo 950 do Código Civil. A indenização em exame satisfaz o caráter punitivo e pedagógico em relação ao empregador e compensatório em relação ao empregado. Destaque-se, conforme consta da análise técnica, que a incapacidade decorrente da enfermidade é de natureza parcial e temporária (id. 1f7f9ef). Logo, observado o princípio da razoabilidade, considerando o percentual apresentado pelo Sr. Perito, a constatação de nexo de concausalidade, relacionado à redução laboral parcial e temporária do obreiro, condeno a parte reclamada a pagar ao Reclamante indenização no importe de 5% da última remuneração da parte reclamante, a título de pensão mensal temporária, enquanto durar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025), observando-se os reajustes concedidos para a função idêntica do reclamante. As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez. As vincendas serão pagas a cada mês. Além disso, para o cálculo da pensão, deverão ser levadas em conta as evoluções salariais da parte autora, constantes nas futuras negociações coletivas ou em regulamento empresarial. Por fim, destaco que não há falar em pagamento de pensão vitalícia ou em parcela única em razão de a incapacidade possuir natureza temporária. Ademais, chegou-se ao percentual de 5% incidente sobre a última remuneração do autor em razão da constatação, pela perícia, do nexo de causalidade, da redução da capacidade laborativa. Julgo parcialmente procedente e condeno a parte reclamada ao pagamento de pensão mensal temporária nos termos acima expostos. JORNADA DE TRABALHO A reclamante alegou que trabalhava das 7h às 16h de segunda a sexta-feira e aos sábados das 7h às 11h. Alega ter estendido habitualmente sua jornada de trabalho em média 20 a 30 minutos. A reclamada se defendeu, argumentando que o reclamante trabalhava externamente, sem possibilidade de controle da jornada, inserido na exceção do artigo 62, inciso I, da CLT. A teor do disposto no artigo 62, inciso I, da CLT, são dispensados do controle da jornada de trabalho os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, o que não se verifica na hipótese. Nos termos do art. 62, I, da CLT: “Art. 62. Não estão abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I – os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados”. Saliento que a legislação trabalhista somente exclui do controle da jornada aqueles trabalhadores cuja atividade seja incompatível com o controle, o que não é o caso do reclamante, já que, a partir do momento em que a empregadora disponibiliza um celular corporativo com aplicativos capazes de registrar a jornada, há de fato a possibilidade de saber tanto a localização do empregado quanto aos horários de serviço. Esclareço que, diante do avanço tecnológico, está cada dia mais do que comprovada a possibilidade de "compatibilizar" o trabalho externo com a "fixação de horário de trabalho". O controle da jornada de trabalho é facilmente exercido, em razão de todo o aparato tecnológico que auxilia o trabalho do empregado, alinhado ao fato de ele seguir um roteiro e visitações estabelecidas pelo empregador. O trabalho externo é aquele incompatível com o controle pelo empregador, mas não por mera inconveniência do controle e sim pela impossibilidade real e material de efetuar a fiscalização da jornada. Se, embora executado fora do estabelecimento do empregador, vigore condição que ao menos indiretamente lhe imponha um horário, ou seja, possível o conhecimento da realização do serviço pela reclamada, não incide a exceção prevista no artigo 62, I, da CLT. Assim, afasto a alegação de trabalho externo previsto pelo artigo 62, I, da CLT. Ademais, a parte reclamada não registrou na CTPS da trabalhadora, a condição de trabalhadora externa. Passo à análise da fixação da jornada. Ante a não apresentação de controles válidos de horário, admite-se a jornada alegada na inicial, desde que não haja prova em sentido contrário (Súmula nº 338 do E. TST). A testemunha declarou que “10. pelo aplicativo era possível verificar se houve prorrogação da jornada, mas não havia o pagamento da hora extra, sendo possível posterior compensação, dependendo de aprovação do supervisor”. Verifico inconsistências que infirmam a fidedignidade como controle de ponto. A reclamada aponta a existência de um “checkout automático” às 23:59h em diversas ocasiões (exemplo: 20/07/2024, 27/08/2024 e 28/08/2024). O checkout automático não reflete o horário real de término da jornada. Indica um fechamento sistêmico padrão, possivelmente para encerrar o ciclo diário de atividades no sistema, e não o momento em que a reclamante efetivamente parou de trabalhar. Tal sistema é incompatível com um controle de jornada fidedigno, que deve espelhar a realidade do tempo à disposição. Apesar das declarações da testemunha, acolho a tese da reclamada de que a planilha anexada no id. B915635 não se trata de controle de jornada mas de controle de merchandising. Nesse contexto, e considerando as inconsistências apontadas, os registros do sistema 'Agille' não se revelam como meio fidedigno e absoluto para a comprovação da jornada de trabalho. Destarte, a definição da jornada cumprida pela Reclamante pode ser extraída da prova oral produzida em audiência, em homenagem ao princípio da primazia da realidade. A testemunha Sra. Renata Moreira da Silva Freires, ouvida a convite da Reclamante, declarou que “2. a reclamante trabalhava das 7h às 16, com 1h de almoço; 3. não presenciava o início e o término da jornada da autora, mas alega saber os horários porque se falavam com frequência durante o dia; 4. trabalhavam de segunda a sábado.” Portanto fixo a jornada de trabalho, com base na prova oral, como sendo: De segunda a sexta-feira das 7h às 16h e aos sábados (conforme inicial) das 7h às 11h. Sempre com 1 hora de intervalo. Descanso semanal aos domingos. Com base na jornada fixada julgo improcedente os pedidos de horas extras e consectários. DANOS MORAIS Uma vez constatada a doença ocupacional, para a qual o trabalho agiu como concausa, o dano moral verifica-se “in re ipsa”, ou seja, é presumido (art. 5º, V e X, CF/88). O prejuízo moral, em tais casos, dispensa provas, eis que impossível de ser trazido, ao mundo exterior, em documentos ou palavras. Reforço que a Constituição Federal tutela o meio ambiente de trabalho (art. 225), voltando-se à prevenção dos riscos ambientais para resguardar a saúde físico-psíquica do trabalhador enquanto cidadão (art. 7º, XXII). O meio ambiente do trabalho seguro e adequado, portanto, constitui um direito fundamental do trabalhador e dever do empregador. Assim, presentes os requisitos da responsabilidade civil (art. 186 e 927 do CC), com base no art. 223-G da CLT e 944 do CC, considerando principalmente a natureza do bem jurídico tutelado, os reflexos pessoais e sociais, a extensão e duração dos efeitos da ofensa, o caráter pedagógico e o grau de culpa da empresa, julgo procedente o pedido para condenar a parte reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – exclusão Em audiência, a reclamante requereu a exclusão da 7ª reclamada Drogaria Joaquina Ramalho LTDA. Por fim, no id. Fc43c8c foi determinada a exclusão do polo passivo da empresa Bignardi - Indústria e Comércio de Papeis e Artefatos LTDA. incluída na demanda por erro material, conforme petição da reclamante no id. 7960151. Com a concordância das partes, as mencionadas reclamadas foram excluídas da lide. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA Na petição inicial, a reclamante afirma ter sido contratada pela 1ª reclamada (SPAR Brasil Serviços LTDA), prestando serviços para as demais reclamadas: 2ª (Atacadão Vila Guilherme), 3ª (Atacadão Vila Maria), 4ª (Carrefour Casa Verde), 5ª (Carrefour Limão), 6ª (Drogaria São Paulo Vila Maria), e 8ª (Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo). A relação empregatícia entre a autora e a 1ª reclamada (SPAR BRASIL) encontra-se devidamente comprovada pelos documentos de ID A78a318 e ID 0C8ccd0. Contudo, a análise da responsabilidade subsidiária das demais reclamadas demanda comprovação específica da efetiva prestação de serviços em benefício destas empresas. As reclamadas de 2 a 8 contestaram a ação alegando manter apenas relação jurídica de cunho mercantil e comercial com a 1ª reclamada, negando categoricamente a prestação de serviços pela reclamante em suas dependências ou em seu benefício direto. Neste contexto, embora sejam incontroversas as relações comerciais entre as empresas rés, tal fato isolado não constitui prova suficiente para caracterizar a disponibilização da força de trabalho da autora em benefício das supostas tomadoras. A jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região corrobora este entendimento: "RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI)" Segundo os artigos 818, I, da CLT e 373, I, do CPC, uma vez negada a prestação de serviços pelas reclamadas, recaía sobre a reclamante o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu direito, qual seja, a efetiva prestação de serviços em benefício das empresas apontadas como responsáveis subsidiárias. A análise das provas produzidas, contudo, não sustenta a tese da reclamante: Em depoimento testemunhal, Renata Moreira da Silva Freires afirmou expressamente que "ambas prestaram serviços apenas para Klimberli Clark";A ficha de registro (ID e4ada18) comprova que a reclamante, embora contratada pela SPAR, prestava serviço no centro de custo da Kimberly Clark, empresa sequer mencionada no polo passivo da ação;O documento de ID B915635 demonstra que a reclamante prestava contas ao seu empregador (SPAR) de serviços realizados em variadas empresas, podendo atender até 3 empresas diferentes no mesmo dia (como ocorreu em 02/07/2024), o que indica que atuava como representante comercial da SPAR junto aos seus clientes, e não como funcionária cedida em benefício das reclamadas. Conclui-se, portanto, que a reclamante simplesmente incluiu no polo passivo todas as empresas clientes do seu empregador, sem delimitar o período da suposta responsabilidade de cada uma e sem comprovar que sua prestação de serviços ocorria em benefício direto das reclamadas, e não em favor exclusivo da SPAR. A configuração da responsabilidade subsidiária exige a comprovação inequívoca de que o trabalho do empregado foi disponibilizado em benefício da empresa tomadora, o que não se verificou no presente caso. Ao contrário, as provas produzidas indicam que a reclamante atuava exclusivamente a serviço da SPAR, representando-a comercialmente junto a seus clientes, sem integração à estrutura produtiva das demais reclamadas. Por todo o exposto, considerando que a autora não se desincumbiu satisfatoriamente do seu ônus probatório, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face das 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª reclamadas, determinando a exclusão destas demandadas do polo passivo. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência sob id. b9ed756 (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. HONORÁRIOS PERICIAIS A parte reclamada deverá arcar com o pagamento dos honorários periciais em favor do Sr. Zarrir Abede Junior, uma vez que sucumbente na pretensão objeto da perícia, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00, atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há qualquer impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares; decido JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., e JULGAR IMPROCEDENTES os pedidos formulados em face de ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. (representando as entidades nomeadas na fundamentação como 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 8ª reclamadas), extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de condenar a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas: Indenização substitutiva do período estabilitário (de julho de 2024 a julho de 2025), compreendendo salários, férias acrescidas de 1/3, abono de férias, 13º salário, depósitos de FGTS e indenização compensatória de 40% sobre o FGTS, observados os limites do pedido na petição inicial.Pensão mensal temporária, no importe de 5% (cinco por cento) da última remuneração da parte reclamante, devida enquanto perdurar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025). As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez, e as vincendas serão pagas mensalmente, observando-se os reajustes salariais concedidos à categoria profissional da autora ou, na ausência destes, os reajustes aplicados à função idêntica pela reclamada.Indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00 (mil reais). Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Condeno a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, e na decisão do STF na ADI 5766, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos relativos aos honorários advocatícios, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte credora demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante. Honorários periciais pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., em favor do Sr. Zarrir Abede Júnior, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais), atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 884 do CC, desde que os comprovantes já constem nos autos até a publicação desta sentença. Custas pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., no importe de quatrocentos reais, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de vinte mil reais (art. 789 da CLT). Recolhimentos fiscais e previdenciários: A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos fiscais também serão realizados pela primeira reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Intimem-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - MARIA CILENE DA SILVA

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Maria Cilene Da Silva e outros x Atacadao S.A. e outros

ID: 276449373

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1001927-90.2024.5.02.0024

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARIA CILENE DA SILVA ZARRIR ABEDE JUNIOR

Polo Passivo:

ATACADAO S.A. CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA DROGARIA SAO PAULO S.A. SPAR BRASIL SERVICOS LTDA.

Notificação

Advogados:

DANIEL DE LUCCA E CASTRO

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OSVALDO KEN KUSANO

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RAQUEL NASSIF MACHADO PANEQUE

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KARLA DAGUES MARTINS

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ROSEMARY FERREIRA DA SILVA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SP… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SPAR BRASIL SERVICOS LTDA. E OUTROS (3) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID 2b5f995 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende a indenização por acidente de trabalho, estabilidade provisória e pagamento de horas extras, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial, atribuindo ao feito o valor de R$ 142.542,33. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, é colhido o depoimento de 1 testemunha, indicada pela parte reclamante (ID 1553435). Determinada produção de prova pericial. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II – FUNDAMENTAÇÃO ESCLARECIMENTOS INICIAIS COMPOSIÇÃO DO POLO PASSIVO A fim de evitar equívocos, esclareço desde já que, quanto ao polo passivo da demanda, será considerada a seguinte ordem: 1ª reclamada: SPAR Brasil Serviços LTDA 2ª reclamada: Atacadão Vila Guilherme 3ª reclamada: Atacadão Vila Maria 4ª reclamada: Carrefour Casa Verde 5ª reclamada: Carrefour Limão 6ª reclamada: Drogaria São Paulo Vila Maria 7ª reclamada: Drogaria Joaquina Ramalho (Ultrafarma) 8ª reclamada: Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo PROTESTOS. INDEFERIMENTO DA OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA O patrono da parte reclamada requereu a formulação de perguntas direcionadas à parte autora. Foi indeferido. Registro, por oportuno, que a SBDI-1 do C. TST consolidou, em recente precedente, que o indeferimento do depoimento pessoal da parte adversa não configura cerceamento do direito de defesa, haja vista que, no processo do trabalho, a oitiva pessoal dos litigantes constitui faculdade do juiz (art. 848 da CLT), tratando-se de prerrogativa exclusiva do magistrado, a quem o legislador conferiu amplos poderes na direção do processo (art. 765 da CLT), sendo-lhe autorizado indeferir provas que entender inúteis à solução da controvérsia. O art. 385 do CPC, ao conferir a uma das partes a prerrogativa de requerer o depoimento pessoal de outra, disciplina questão já tratada no texto consolidado, de maneira que, não havendo vácuo legislativo, é inviável a sua aplicação ao processo do trabalho, por força dos arts. 769, da CLT, e 15,do CPC (E-RRAg-1711-15.2017.5.06.0014, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 08/11/2024). Rejeito a preliminar IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS E VALORES A impugnação apresentada pelas partes está destituída de fundamentos, não aponta irregularidade específica de conteúdo ou de forma e, portanto, não é capaz de produzir o efeito jurídico esperado. Rejeito. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA O valor da causa está de acordo com os pedidos da petição inicial e os termos dos arts. 292 do CPC, e 840, da CLT. Rejeito. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta da 02ª a 8ª ré como devedora subsidiária de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DOENÇA OCUPACIONAL Na petição inicial, a parte reclamante alega que, à época da admissão, foi considerada apta, sem qualquer restrição médica ou limitação funcional. Aduz que, em julho de 2024 enquanto prestava serviços para o Atacadão da Vila Guilherme, caiu da escada e bateu o joelho direito no chão. Pleiteia a responsabilidade patronal pelos danos materiais e morais, além de convênio médico enquanto durar o tratamento. Na contestação, a parte reclamada nega os fatos. Sustenta que a causa da doença possui natureza degenerativa. Ao exame. Ante a alegação da existência de doença ocupacional, e com o fim de aferir a existência dos elementos da responsabilidade civil, foi determinada a realização de perícia médica, cujo laudo está acostado no id. 1f7f9ef e esclarecimentos no id. 8966Ec7. Registre-se que o Perito nomeado é auxiliar da mais absoluta confiança do Juízo, estando, ainda, legal e tecnicamente habilitado para a realização do encargo que lhe foi atribuído. Após o exame clínico e a análise dos exames complementares, o Sr. Perito concluiu pela existência de nexo causal entre o acidente de trabalho e a doença meniscal de joelho direito. Transcrevo: “Este Expert pôde, portanto, concluir de forma inequívoca que HÁ NEXO DE CAUSALIDADE entre o acidente de trabalho relatado pela Obreira a doença meniscal de joelho direito que a mesma apresenta na data da diligência pericial. (...) De acordo com estes critérios, no momento da diligência, este Perito considerou a Autora INAPTA PARCIAL E TEMPORARIAMENTE para as atividades habituais que realizava junto à Reclamada. No caso da Autora, o grau de deficit funcional fica estabelecido em 5% decorrente das lesões traumáticas de joelho direito.” Dessa forma, considerando o laudo técnico pericial elaborado por profissional habilitado e que goza da plena confiança deste Juízo, o qual foi claro, coerente e conclusivo, reconheço o nexo de causalidade entre as atividades exercidas pela parte reclamante e a doença que a acometeu, caracterizando-se, portanto, doença ocupacional. Superadas essas considerações, resta saber se houve culpa da parte reclamada, para que seja responsabilizada pelos danos decorrentes da doença ocupacional. A Constituição Federal arrola, em seu artigo 7º, o direito de trabalhadores urbanos e rurais de serem indenizados quando vítimas de acidente, sempre que o empregador incorrer em dolo ou culpa. Trata-se, pois, a toda evidência, de modalidade de responsabilidade subjetiva, na medida em que depende, para sua configuração, da participação do empregador no evento, seja de forma omissiva ou comissiva. Entendo que, em certas situações, pode o empregador ser responsabilizado pelos danos sofridos por seu empregado, em virtude de doença ocupacional, independentemente da demonstração de sua culpa. E assim se fará quando, em virtude da atividade desempenhada pelo empregador, o mesmo expuser seu empregado a um risco maior do que estiver sujeita a coletividade em geral, o que não é o caso dos autos. Assim, passo a examinar a responsabilidade subjetiva da parte reclamada. Na situação dos autos, a parte ré não comprovou a adoção das medidas necessárias para evitar o acidente, tampouco logrou demonstrar que disponibilizou condições suficientemente adequadas de trabalho, embora detivesse conhecimento acerca dos riscos ergonômicos a que a parte reclamante estava submetida. Embora a reclamada não tenha agido com dolo para o acidente da parte reclamante, entendo que a atividade desenvolvida pela parte autora na reclamada contribuiu para o fato. Por todo o exposto, entendo configurada a culpa da parte ré. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO DO PERÍODO ESTABILITÁRIO A parte autora suscita, ainda, que é detentora de estabilidade acidentária, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991. Requer, assim, o pagamento de indenização substitutiva. Conforme exposto acima, a perícia médica concluiu que a enfermidade da parte reclamante possui nexo de causalidade com a atividade laborativa. O art. 21 da Lei n.º 8.213/91, esclarece que a doença decorrente do labor é equiparada a acidente de trabalho. Ademais, conforme jurisprudência reiterada do C. TST, o nexo de causalidade é suficiente para caracterizar a doença ocupacional equiparável ao acidente de trabalho. Sendo assim, havendo nexo de causalidade, a parte reclamante faz jus à estabilidade provisória no emprego, pelo prazo mínimo de 12 meses, em virtude de doença ocupacional, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991, aplicando-se a Súmula 378 do C. TST. Portanto, à luz do entendimento sumulado do C. TST, embora a parte autora não tenha sido afastada em gozo de auxílio-doença acidentário, após sua dispensa, foi constatada doença profissional que guarda relação de causalidade com a execução do contrato de emprego, o que enseja o reconhecimento da estabilidade acidentária. No caso dos autos, a parte reclamada dispensou a parte autora em 02/09/2024 (vide TRCT de id. 0c8ccd0). Na inicial, a parte reclamante requer o pagamento da indenização substitutiva equivalente ao período da estabilidade de 12 meses a partir da data do acidente (07/2024), de modo que era detentora de estabilidade no emprego até julho de 2025. Assim, ante a incapacidade laboral temporária, com fundamento na Súmula 396, I, do C. TST, condeno a parte ré ao pagamento de indenização substitutiva. Portanto, julgo procedente o pedido de pagamento de indenização decorrente da estabilidade laboral (de julho de 2024 até julho de 2025) devendo a parte reclamada pagar os salários, férias + 1/3, abono de férias, 13º salário, FGTS, multa de 40% desde julho de 2024 até julho de 2025, observados os limites do pedido na petição inicial. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. PENSÃO MENSAL TEMPORÁRIA Conforme estabelece o artigo 950 do Código Civil, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade para o trabalho, a indenização incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Dessa forma, a constatada redução temporária da capacidade laborativa da Reclamante (5%) autoriza a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos materiais, consoante o disposto no artigo 950 do Código Civil. A indenização em exame satisfaz o caráter punitivo e pedagógico em relação ao empregador e compensatório em relação ao empregado. Destaque-se, conforme consta da análise técnica, que a incapacidade decorrente da enfermidade é de natureza parcial e temporária (id. 1f7f9ef). Logo, observado o princípio da razoabilidade, considerando o percentual apresentado pelo Sr. Perito, a constatação de nexo de concausalidade, relacionado à redução laboral parcial e temporária do obreiro, condeno a parte reclamada a pagar ao Reclamante indenização no importe de 5% da última remuneração da parte reclamante, a título de pensão mensal temporária, enquanto durar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025), observando-se os reajustes concedidos para a função idêntica do reclamante. As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez. As vincendas serão pagas a cada mês. Além disso, para o cálculo da pensão, deverão ser levadas em conta as evoluções salariais da parte autora, constantes nas futuras negociações coletivas ou em regulamento empresarial. Por fim, destaco que não há falar em pagamento de pensão vitalícia ou em parcela única em razão de a incapacidade possuir natureza temporária. Ademais, chegou-se ao percentual de 5% incidente sobre a última remuneração do autor em razão da constatação, pela perícia, do nexo de causalidade, da redução da capacidade laborativa. Julgo parcialmente procedente e condeno a parte reclamada ao pagamento de pensão mensal temporária nos termos acima expostos. JORNADA DE TRABALHO A reclamante alegou que trabalhava das 7h às 16h de segunda a sexta-feira e aos sábados das 7h às 11h. Alega ter estendido habitualmente sua jornada de trabalho em média 20 a 30 minutos. A reclamada se defendeu, argumentando que o reclamante trabalhava externamente, sem possibilidade de controle da jornada, inserido na exceção do artigo 62, inciso I, da CLT. A teor do disposto no artigo 62, inciso I, da CLT, são dispensados do controle da jornada de trabalho os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, o que não se verifica na hipótese. Nos termos do art. 62, I, da CLT: “Art. 62. Não estão abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I – os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados”. Saliento que a legislação trabalhista somente exclui do controle da jornada aqueles trabalhadores cuja atividade seja incompatível com o controle, o que não é o caso do reclamante, já que, a partir do momento em que a empregadora disponibiliza um celular corporativo com aplicativos capazes de registrar a jornada, há de fato a possibilidade de saber tanto a localização do empregado quanto aos horários de serviço. Esclareço que, diante do avanço tecnológico, está cada dia mais do que comprovada a possibilidade de "compatibilizar" o trabalho externo com a "fixação de horário de trabalho". O controle da jornada de trabalho é facilmente exercido, em razão de todo o aparato tecnológico que auxilia o trabalho do empregado, alinhado ao fato de ele seguir um roteiro e visitações estabelecidas pelo empregador. O trabalho externo é aquele incompatível com o controle pelo empregador, mas não por mera inconveniência do controle e sim pela impossibilidade real e material de efetuar a fiscalização da jornada. Se, embora executado fora do estabelecimento do empregador, vigore condição que ao menos indiretamente lhe imponha um horário, ou seja, possível o conhecimento da realização do serviço pela reclamada, não incide a exceção prevista no artigo 62, I, da CLT. Assim, afasto a alegação de trabalho externo previsto pelo artigo 62, I, da CLT. Ademais, a parte reclamada não registrou na CTPS da trabalhadora, a condição de trabalhadora externa. Passo à análise da fixação da jornada. Ante a não apresentação de controles válidos de horário, admite-se a jornada alegada na inicial, desde que não haja prova em sentido contrário (Súmula nº 338 do E. TST). A testemunha declarou que “10. pelo aplicativo era possível verificar se houve prorrogação da jornada, mas não havia o pagamento da hora extra, sendo possível posterior compensação, dependendo de aprovação do supervisor”. Verifico inconsistências que infirmam a fidedignidade como controle de ponto. A reclamada aponta a existência de um “checkout automático” às 23:59h em diversas ocasiões (exemplo: 20/07/2024, 27/08/2024 e 28/08/2024). O checkout automático não reflete o horário real de término da jornada. Indica um fechamento sistêmico padrão, possivelmente para encerrar o ciclo diário de atividades no sistema, e não o momento em que a reclamante efetivamente parou de trabalhar. Tal sistema é incompatível com um controle de jornada fidedigno, que deve espelhar a realidade do tempo à disposição. Apesar das declarações da testemunha, acolho a tese da reclamada de que a planilha anexada no id. B915635 não se trata de controle de jornada mas de controle de merchandising. Nesse contexto, e considerando as inconsistências apontadas, os registros do sistema 'Agille' não se revelam como meio fidedigno e absoluto para a comprovação da jornada de trabalho. Destarte, a definição da jornada cumprida pela Reclamante pode ser extraída da prova oral produzida em audiência, em homenagem ao princípio da primazia da realidade. A testemunha Sra. Renata Moreira da Silva Freires, ouvida a convite da Reclamante, declarou que “2. a reclamante trabalhava das 7h às 16, com 1h de almoço; 3. não presenciava o início e o término da jornada da autora, mas alega saber os horários porque se falavam com frequência durante o dia; 4. trabalhavam de segunda a sábado.” Portanto fixo a jornada de trabalho, com base na prova oral, como sendo: De segunda a sexta-feira das 7h às 16h e aos sábados (conforme inicial) das 7h às 11h. Sempre com 1 hora de intervalo. Descanso semanal aos domingos. Com base na jornada fixada julgo improcedente os pedidos de horas extras e consectários. DANOS MORAIS Uma vez constatada a doença ocupacional, para a qual o trabalho agiu como concausa, o dano moral verifica-se “in re ipsa”, ou seja, é presumido (art. 5º, V e X, CF/88). O prejuízo moral, em tais casos, dispensa provas, eis que impossível de ser trazido, ao mundo exterior, em documentos ou palavras. Reforço que a Constituição Federal tutela o meio ambiente de trabalho (art. 225), voltando-se à prevenção dos riscos ambientais para resguardar a saúde físico-psíquica do trabalhador enquanto cidadão (art. 7º, XXII). O meio ambiente do trabalho seguro e adequado, portanto, constitui um direito fundamental do trabalhador e dever do empregador. Assim, presentes os requisitos da responsabilidade civil (art. 186 e 927 do CC), com base no art. 223-G da CLT e 944 do CC, considerando principalmente a natureza do bem jurídico tutelado, os reflexos pessoais e sociais, a extensão e duração dos efeitos da ofensa, o caráter pedagógico e o grau de culpa da empresa, julgo procedente o pedido para condenar a parte reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – exclusão Em audiência, a reclamante requereu a exclusão da 7ª reclamada Drogaria Joaquina Ramalho LTDA. Por fim, no id. Fc43c8c foi determinada a exclusão do polo passivo da empresa Bignardi - Indústria e Comércio de Papeis e Artefatos LTDA. incluída na demanda por erro material, conforme petição da reclamante no id. 7960151. Com a concordância das partes, as mencionadas reclamadas foram excluídas da lide. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA Na petição inicial, a reclamante afirma ter sido contratada pela 1ª reclamada (SPAR Brasil Serviços LTDA), prestando serviços para as demais reclamadas: 2ª (Atacadão Vila Guilherme), 3ª (Atacadão Vila Maria), 4ª (Carrefour Casa Verde), 5ª (Carrefour Limão), 6ª (Drogaria São Paulo Vila Maria), e 8ª (Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo). A relação empregatícia entre a autora e a 1ª reclamada (SPAR BRASIL) encontra-se devidamente comprovada pelos documentos de ID A78a318 e ID 0C8ccd0. Contudo, a análise da responsabilidade subsidiária das demais reclamadas demanda comprovação específica da efetiva prestação de serviços em benefício destas empresas. As reclamadas de 2 a 8 contestaram a ação alegando manter apenas relação jurídica de cunho mercantil e comercial com a 1ª reclamada, negando categoricamente a prestação de serviços pela reclamante em suas dependências ou em seu benefício direto. Neste contexto, embora sejam incontroversas as relações comerciais entre as empresas rés, tal fato isolado não constitui prova suficiente para caracterizar a disponibilização da força de trabalho da autora em benefício das supostas tomadoras. A jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região corrobora este entendimento: "RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI)" Segundo os artigos 818, I, da CLT e 373, I, do CPC, uma vez negada a prestação de serviços pelas reclamadas, recaía sobre a reclamante o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu direito, qual seja, a efetiva prestação de serviços em benefício das empresas apontadas como responsáveis subsidiárias. A análise das provas produzidas, contudo, não sustenta a tese da reclamante: Em depoimento testemunhal, Renata Moreira da Silva Freires afirmou expressamente que "ambas prestaram serviços apenas para Klimberli Clark";A ficha de registro (ID e4ada18) comprova que a reclamante, embora contratada pela SPAR, prestava serviço no centro de custo da Kimberly Clark, empresa sequer mencionada no polo passivo da ação;O documento de ID B915635 demonstra que a reclamante prestava contas ao seu empregador (SPAR) de serviços realizados em variadas empresas, podendo atender até 3 empresas diferentes no mesmo dia (como ocorreu em 02/07/2024), o que indica que atuava como representante comercial da SPAR junto aos seus clientes, e não como funcionária cedida em benefício das reclamadas. Conclui-se, portanto, que a reclamante simplesmente incluiu no polo passivo todas as empresas clientes do seu empregador, sem delimitar o período da suposta responsabilidade de cada uma e sem comprovar que sua prestação de serviços ocorria em benefício direto das reclamadas, e não em favor exclusivo da SPAR. A configuração da responsabilidade subsidiária exige a comprovação inequívoca de que o trabalho do empregado foi disponibilizado em benefício da empresa tomadora, o que não se verificou no presente caso. Ao contrário, as provas produzidas indicam que a reclamante atuava exclusivamente a serviço da SPAR, representando-a comercialmente junto a seus clientes, sem integração à estrutura produtiva das demais reclamadas. Por todo o exposto, considerando que a autora não se desincumbiu satisfatoriamente do seu ônus probatório, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face das 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª reclamadas, determinando a exclusão destas demandadas do polo passivo. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência sob id. b9ed756 (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. HONORÁRIOS PERICIAIS A parte reclamada deverá arcar com o pagamento dos honorários periciais em favor do Sr. Zarrir Abede Junior, uma vez que sucumbente na pretensão objeto da perícia, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00, atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há qualquer impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares; decido JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., e JULGAR IMPROCEDENTES os pedidos formulados em face de ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. (representando as entidades nomeadas na fundamentação como 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 8ª reclamadas), extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de condenar a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas: Indenização substitutiva do período estabilitário (de julho de 2024 a julho de 2025), compreendendo salários, férias acrescidas de 1/3, abono de férias, 13º salário, depósitos de FGTS e indenização compensatória de 40% sobre o FGTS, observados os limites do pedido na petição inicial.Pensão mensal temporária, no importe de 5% (cinco por cento) da última remuneração da parte reclamante, devida enquanto perdurar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025). As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez, e as vincendas serão pagas mensalmente, observando-se os reajustes salariais concedidos à categoria profissional da autora ou, na ausência destes, os reajustes aplicados à função idêntica pela reclamada.Indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00 (mil reais). Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Condeno a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, e na decisão do STF na ADI 5766, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos relativos aos honorários advocatícios, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte credora demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante. Honorários periciais pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., em favor do Sr. Zarrir Abede Júnior, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais), atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 884 do CC, desde que os comprovantes já constem nos autos até a publicação desta sentença. Custas pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., no importe de quatrocentos reais, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de vinte mil reais (art. 789 da CLT). Recolhimentos fiscais e previdenciários: A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos fiscais também serão realizados pela primeira reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Intimem-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - ATACADAO S.A. - CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA - SPAR BRASIL SERVICOS LTDA.

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Maria Cilene Da Silva e outros x Atacadao S.A. e outros

ID: 276449412

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1001927-90.2024.5.02.0024

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARIA CILENE DA SILVA ZARRIR ABEDE JUNIOR

Polo Passivo:

ATACADAO S.A. CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA DROGARIA SAO PAULO S.A. SPAR BRASIL SERVICOS LTDA.

Notificação

Advogados:

DANIEL DE LUCCA E CASTRO

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OSVALDO KEN KUSANO

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RAQUEL NASSIF MACHADO PANEQUE

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KARLA DAGUES MARTINS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ROSEMARY FERREIRA DA SILVA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SP… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1001927-90.2024.5.02.0024 RECLAMANTE: MARIA CILENE DA SILVA RECLAMADO: SPAR BRASIL SERVICOS LTDA. E OUTROS (3) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID 2b5f995 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende a indenização por acidente de trabalho, estabilidade provisória e pagamento de horas extras, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial, atribuindo ao feito o valor de R$ 142.542,33. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, é colhido o depoimento de 1 testemunha, indicada pela parte reclamante (ID 1553435). Determinada produção de prova pericial. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II – FUNDAMENTAÇÃO ESCLARECIMENTOS INICIAIS COMPOSIÇÃO DO POLO PASSIVO A fim de evitar equívocos, esclareço desde já que, quanto ao polo passivo da demanda, será considerada a seguinte ordem: 1ª reclamada: SPAR Brasil Serviços LTDA 2ª reclamada: Atacadão Vila Guilherme 3ª reclamada: Atacadão Vila Maria 4ª reclamada: Carrefour Casa Verde 5ª reclamada: Carrefour Limão 6ª reclamada: Drogaria São Paulo Vila Maria 7ª reclamada: Drogaria Joaquina Ramalho (Ultrafarma) 8ª reclamada: Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo PROTESTOS. INDEFERIMENTO DA OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA O patrono da parte reclamada requereu a formulação de perguntas direcionadas à parte autora. Foi indeferido. Registro, por oportuno, que a SBDI-1 do C. TST consolidou, em recente precedente, que o indeferimento do depoimento pessoal da parte adversa não configura cerceamento do direito de defesa, haja vista que, no processo do trabalho, a oitiva pessoal dos litigantes constitui faculdade do juiz (art. 848 da CLT), tratando-se de prerrogativa exclusiva do magistrado, a quem o legislador conferiu amplos poderes na direção do processo (art. 765 da CLT), sendo-lhe autorizado indeferir provas que entender inúteis à solução da controvérsia. O art. 385 do CPC, ao conferir a uma das partes a prerrogativa de requerer o depoimento pessoal de outra, disciplina questão já tratada no texto consolidado, de maneira que, não havendo vácuo legislativo, é inviável a sua aplicação ao processo do trabalho, por força dos arts. 769, da CLT, e 15,do CPC (E-RRAg-1711-15.2017.5.06.0014, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 08/11/2024). Rejeito a preliminar IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS E VALORES A impugnação apresentada pelas partes está destituída de fundamentos, não aponta irregularidade específica de conteúdo ou de forma e, portanto, não é capaz de produzir o efeito jurídico esperado. Rejeito. IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA O valor da causa está de acordo com os pedidos da petição inicial e os termos dos arts. 292 do CPC, e 840, da CLT. Rejeito. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta da 02ª a 8ª ré como devedora subsidiária de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DOENÇA OCUPACIONAL Na petição inicial, a parte reclamante alega que, à época da admissão, foi considerada apta, sem qualquer restrição médica ou limitação funcional. Aduz que, em julho de 2024 enquanto prestava serviços para o Atacadão da Vila Guilherme, caiu da escada e bateu o joelho direito no chão. Pleiteia a responsabilidade patronal pelos danos materiais e morais, além de convênio médico enquanto durar o tratamento. Na contestação, a parte reclamada nega os fatos. Sustenta que a causa da doença possui natureza degenerativa. Ao exame. Ante a alegação da existência de doença ocupacional, e com o fim de aferir a existência dos elementos da responsabilidade civil, foi determinada a realização de perícia médica, cujo laudo está acostado no id. 1f7f9ef e esclarecimentos no id. 8966Ec7. Registre-se que o Perito nomeado é auxiliar da mais absoluta confiança do Juízo, estando, ainda, legal e tecnicamente habilitado para a realização do encargo que lhe foi atribuído. Após o exame clínico e a análise dos exames complementares, o Sr. Perito concluiu pela existência de nexo causal entre o acidente de trabalho e a doença meniscal de joelho direito. Transcrevo: “Este Expert pôde, portanto, concluir de forma inequívoca que HÁ NEXO DE CAUSALIDADE entre o acidente de trabalho relatado pela Obreira a doença meniscal de joelho direito que a mesma apresenta na data da diligência pericial. (...) De acordo com estes critérios, no momento da diligência, este Perito considerou a Autora INAPTA PARCIAL E TEMPORARIAMENTE para as atividades habituais que realizava junto à Reclamada. No caso da Autora, o grau de deficit funcional fica estabelecido em 5% decorrente das lesões traumáticas de joelho direito.” Dessa forma, considerando o laudo técnico pericial elaborado por profissional habilitado e que goza da plena confiança deste Juízo, o qual foi claro, coerente e conclusivo, reconheço o nexo de causalidade entre as atividades exercidas pela parte reclamante e a doença que a acometeu, caracterizando-se, portanto, doença ocupacional. Superadas essas considerações, resta saber se houve culpa da parte reclamada, para que seja responsabilizada pelos danos decorrentes da doença ocupacional. A Constituição Federal arrola, em seu artigo 7º, o direito de trabalhadores urbanos e rurais de serem indenizados quando vítimas de acidente, sempre que o empregador incorrer em dolo ou culpa. Trata-se, pois, a toda evidência, de modalidade de responsabilidade subjetiva, na medida em que depende, para sua configuração, da participação do empregador no evento, seja de forma omissiva ou comissiva. Entendo que, em certas situações, pode o empregador ser responsabilizado pelos danos sofridos por seu empregado, em virtude de doença ocupacional, independentemente da demonstração de sua culpa. E assim se fará quando, em virtude da atividade desempenhada pelo empregador, o mesmo expuser seu empregado a um risco maior do que estiver sujeita a coletividade em geral, o que não é o caso dos autos. Assim, passo a examinar a responsabilidade subjetiva da parte reclamada. Na situação dos autos, a parte ré não comprovou a adoção das medidas necessárias para evitar o acidente, tampouco logrou demonstrar que disponibilizou condições suficientemente adequadas de trabalho, embora detivesse conhecimento acerca dos riscos ergonômicos a que a parte reclamante estava submetida. Embora a reclamada não tenha agido com dolo para o acidente da parte reclamante, entendo que a atividade desenvolvida pela parte autora na reclamada contribuiu para o fato. Por todo o exposto, entendo configurada a culpa da parte ré. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO DO PERÍODO ESTABILITÁRIO A parte autora suscita, ainda, que é detentora de estabilidade acidentária, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991. Requer, assim, o pagamento de indenização substitutiva. Conforme exposto acima, a perícia médica concluiu que a enfermidade da parte reclamante possui nexo de causalidade com a atividade laborativa. O art. 21 da Lei n.º 8.213/91, esclarece que a doença decorrente do labor é equiparada a acidente de trabalho. Ademais, conforme jurisprudência reiterada do C. TST, o nexo de causalidade é suficiente para caracterizar a doença ocupacional equiparável ao acidente de trabalho. Sendo assim, havendo nexo de causalidade, a parte reclamante faz jus à estabilidade provisória no emprego, pelo prazo mínimo de 12 meses, em virtude de doença ocupacional, nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/1991, aplicando-se a Súmula 378 do C. TST. Portanto, à luz do entendimento sumulado do C. TST, embora a parte autora não tenha sido afastada em gozo de auxílio-doença acidentário, após sua dispensa, foi constatada doença profissional que guarda relação de causalidade com a execução do contrato de emprego, o que enseja o reconhecimento da estabilidade acidentária. No caso dos autos, a parte reclamada dispensou a parte autora em 02/09/2024 (vide TRCT de id. 0c8ccd0). Na inicial, a parte reclamante requer o pagamento da indenização substitutiva equivalente ao período da estabilidade de 12 meses a partir da data do acidente (07/2024), de modo que era detentora de estabilidade no emprego até julho de 2025. Assim, ante a incapacidade laboral temporária, com fundamento na Súmula 396, I, do C. TST, condeno a parte ré ao pagamento de indenização substitutiva. Portanto, julgo procedente o pedido de pagamento de indenização decorrente da estabilidade laboral (de julho de 2024 até julho de 2025) devendo a parte reclamada pagar os salários, férias + 1/3, abono de férias, 13º salário, FGTS, multa de 40% desde julho de 2024 até julho de 2025, observados os limites do pedido na petição inicial. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. PENSÃO MENSAL TEMPORÁRIA Conforme estabelece o artigo 950 do Código Civil, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade para o trabalho, a indenização incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Dessa forma, a constatada redução temporária da capacidade laborativa da Reclamante (5%) autoriza a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos materiais, consoante o disposto no artigo 950 do Código Civil. A indenização em exame satisfaz o caráter punitivo e pedagógico em relação ao empregador e compensatório em relação ao empregado. Destaque-se, conforme consta da análise técnica, que a incapacidade decorrente da enfermidade é de natureza parcial e temporária (id. 1f7f9ef). Logo, observado o princípio da razoabilidade, considerando o percentual apresentado pelo Sr. Perito, a constatação de nexo de concausalidade, relacionado à redução laboral parcial e temporária do obreiro, condeno a parte reclamada a pagar ao Reclamante indenização no importe de 5% da última remuneração da parte reclamante, a título de pensão mensal temporária, enquanto durar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025), observando-se os reajustes concedidos para a função idêntica do reclamante. As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez. As vincendas serão pagas a cada mês. Além disso, para o cálculo da pensão, deverão ser levadas em conta as evoluções salariais da parte autora, constantes nas futuras negociações coletivas ou em regulamento empresarial. Por fim, destaco que não há falar em pagamento de pensão vitalícia ou em parcela única em razão de a incapacidade possuir natureza temporária. Ademais, chegou-se ao percentual de 5% incidente sobre a última remuneração do autor em razão da constatação, pela perícia, do nexo de causalidade, da redução da capacidade laborativa. Julgo parcialmente procedente e condeno a parte reclamada ao pagamento de pensão mensal temporária nos termos acima expostos. JORNADA DE TRABALHO A reclamante alegou que trabalhava das 7h às 16h de segunda a sexta-feira e aos sábados das 7h às 11h. Alega ter estendido habitualmente sua jornada de trabalho em média 20 a 30 minutos. A reclamada se defendeu, argumentando que o reclamante trabalhava externamente, sem possibilidade de controle da jornada, inserido na exceção do artigo 62, inciso I, da CLT. A teor do disposto no artigo 62, inciso I, da CLT, são dispensados do controle da jornada de trabalho os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, o que não se verifica na hipótese. Nos termos do art. 62, I, da CLT: “Art. 62. Não estão abrangidos pelo regime previsto neste capítulo: I – os empregados que exercem atividade externa incompatível com a fixação de horário de trabalho, devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência Social e no registro de empregados”. Saliento que a legislação trabalhista somente exclui do controle da jornada aqueles trabalhadores cuja atividade seja incompatível com o controle, o que não é o caso do reclamante, já que, a partir do momento em que a empregadora disponibiliza um celular corporativo com aplicativos capazes de registrar a jornada, há de fato a possibilidade de saber tanto a localização do empregado quanto aos horários de serviço. Esclareço que, diante do avanço tecnológico, está cada dia mais do que comprovada a possibilidade de "compatibilizar" o trabalho externo com a "fixação de horário de trabalho". O controle da jornada de trabalho é facilmente exercido, em razão de todo o aparato tecnológico que auxilia o trabalho do empregado, alinhado ao fato de ele seguir um roteiro e visitações estabelecidas pelo empregador. O trabalho externo é aquele incompatível com o controle pelo empregador, mas não por mera inconveniência do controle e sim pela impossibilidade real e material de efetuar a fiscalização da jornada. Se, embora executado fora do estabelecimento do empregador, vigore condição que ao menos indiretamente lhe imponha um horário, ou seja, possível o conhecimento da realização do serviço pela reclamada, não incide a exceção prevista no artigo 62, I, da CLT. Assim, afasto a alegação de trabalho externo previsto pelo artigo 62, I, da CLT. Ademais, a parte reclamada não registrou na CTPS da trabalhadora, a condição de trabalhadora externa. Passo à análise da fixação da jornada. Ante a não apresentação de controles válidos de horário, admite-se a jornada alegada na inicial, desde que não haja prova em sentido contrário (Súmula nº 338 do E. TST). A testemunha declarou que “10. pelo aplicativo era possível verificar se houve prorrogação da jornada, mas não havia o pagamento da hora extra, sendo possível posterior compensação, dependendo de aprovação do supervisor”. Verifico inconsistências que infirmam a fidedignidade como controle de ponto. A reclamada aponta a existência de um “checkout automático” às 23:59h em diversas ocasiões (exemplo: 20/07/2024, 27/08/2024 e 28/08/2024). O checkout automático não reflete o horário real de término da jornada. Indica um fechamento sistêmico padrão, possivelmente para encerrar o ciclo diário de atividades no sistema, e não o momento em que a reclamante efetivamente parou de trabalhar. Tal sistema é incompatível com um controle de jornada fidedigno, que deve espelhar a realidade do tempo à disposição. Apesar das declarações da testemunha, acolho a tese da reclamada de que a planilha anexada no id. B915635 não se trata de controle de jornada mas de controle de merchandising. Nesse contexto, e considerando as inconsistências apontadas, os registros do sistema 'Agille' não se revelam como meio fidedigno e absoluto para a comprovação da jornada de trabalho. Destarte, a definição da jornada cumprida pela Reclamante pode ser extraída da prova oral produzida em audiência, em homenagem ao princípio da primazia da realidade. A testemunha Sra. Renata Moreira da Silva Freires, ouvida a convite da Reclamante, declarou que “2. a reclamante trabalhava das 7h às 16, com 1h de almoço; 3. não presenciava o início e o término da jornada da autora, mas alega saber os horários porque se falavam com frequência durante o dia; 4. trabalhavam de segunda a sábado.” Portanto fixo a jornada de trabalho, com base na prova oral, como sendo: De segunda a sexta-feira das 7h às 16h e aos sábados (conforme inicial) das 7h às 11h. Sempre com 1 hora de intervalo. Descanso semanal aos domingos. Com base na jornada fixada julgo improcedente os pedidos de horas extras e consectários. DANOS MORAIS Uma vez constatada a doença ocupacional, para a qual o trabalho agiu como concausa, o dano moral verifica-se “in re ipsa”, ou seja, é presumido (art. 5º, V e X, CF/88). O prejuízo moral, em tais casos, dispensa provas, eis que impossível de ser trazido, ao mundo exterior, em documentos ou palavras. Reforço que a Constituição Federal tutela o meio ambiente de trabalho (art. 225), voltando-se à prevenção dos riscos ambientais para resguardar a saúde físico-psíquica do trabalhador enquanto cidadão (art. 7º, XXII). O meio ambiente do trabalho seguro e adequado, portanto, constitui um direito fundamental do trabalhador e dever do empregador. Assim, presentes os requisitos da responsabilidade civil (art. 186 e 927 do CC), com base no art. 223-G da CLT e 944 do CC, considerando principalmente a natureza do bem jurídico tutelado, os reflexos pessoais e sociais, a extensão e duração dos efeitos da ofensa, o caráter pedagógico e o grau de culpa da empresa, julgo procedente o pedido para condenar a parte reclamada ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA – exclusão Em audiência, a reclamante requereu a exclusão da 7ª reclamada Drogaria Joaquina Ramalho LTDA. Por fim, no id. Fc43c8c foi determinada a exclusão do polo passivo da empresa Bignardi - Indústria e Comércio de Papeis e Artefatos LTDA. incluída na demanda por erro material, conforme petição da reclamante no id. 7960151. Com a concordância das partes, as mencionadas reclamadas foram excluídas da lide. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA Na petição inicial, a reclamante afirma ter sido contratada pela 1ª reclamada (SPAR Brasil Serviços LTDA), prestando serviços para as demais reclamadas: 2ª (Atacadão Vila Guilherme), 3ª (Atacadão Vila Maria), 4ª (Carrefour Casa Verde), 5ª (Carrefour Limão), 6ª (Drogaria São Paulo Vila Maria), e 8ª (Drogaria São Paulo Parque Novo Mundo). A relação empregatícia entre a autora e a 1ª reclamada (SPAR BRASIL) encontra-se devidamente comprovada pelos documentos de ID A78a318 e ID 0C8ccd0. Contudo, a análise da responsabilidade subsidiária das demais reclamadas demanda comprovação específica da efetiva prestação de serviços em benefício destas empresas. As reclamadas de 2 a 8 contestaram a ação alegando manter apenas relação jurídica de cunho mercantil e comercial com a 1ª reclamada, negando categoricamente a prestação de serviços pela reclamante em suas dependências ou em seu benefício direto. Neste contexto, embora sejam incontroversas as relações comerciais entre as empresas rés, tal fato isolado não constitui prova suficiente para caracterizar a disponibilização da força de trabalho da autora em benefício das supostas tomadoras. A jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região corrobora este entendimento: "RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI)" Segundo os artigos 818, I, da CLT e 373, I, do CPC, uma vez negada a prestação de serviços pelas reclamadas, recaía sobre a reclamante o ônus de comprovar o fato constitutivo do seu direito, qual seja, a efetiva prestação de serviços em benefício das empresas apontadas como responsáveis subsidiárias. A análise das provas produzidas, contudo, não sustenta a tese da reclamante: Em depoimento testemunhal, Renata Moreira da Silva Freires afirmou expressamente que "ambas prestaram serviços apenas para Klimberli Clark";A ficha de registro (ID e4ada18) comprova que a reclamante, embora contratada pela SPAR, prestava serviço no centro de custo da Kimberly Clark, empresa sequer mencionada no polo passivo da ação;O documento de ID B915635 demonstra que a reclamante prestava contas ao seu empregador (SPAR) de serviços realizados em variadas empresas, podendo atender até 3 empresas diferentes no mesmo dia (como ocorreu em 02/07/2024), o que indica que atuava como representante comercial da SPAR junto aos seus clientes, e não como funcionária cedida em benefício das reclamadas. Conclui-se, portanto, que a reclamante simplesmente incluiu no polo passivo todas as empresas clientes do seu empregador, sem delimitar o período da suposta responsabilidade de cada uma e sem comprovar que sua prestação de serviços ocorria em benefício direto das reclamadas, e não em favor exclusivo da SPAR. A configuração da responsabilidade subsidiária exige a comprovação inequívoca de que o trabalho do empregado foi disponibilizado em benefício da empresa tomadora, o que não se verificou no presente caso. Ao contrário, as provas produzidas indicam que a reclamante atuava exclusivamente a serviço da SPAR, representando-a comercialmente junto a seus clientes, sem integração à estrutura produtiva das demais reclamadas. Por todo o exposto, considerando que a autora não se desincumbiu satisfatoriamente do seu ônus probatório, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face das 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª reclamadas, determinando a exclusão destas demandadas do polo passivo. LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência sob id. b9ed756 (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. HONORÁRIOS PERICIAIS A parte reclamada deverá arcar com o pagamento dos honorários periciais em favor do Sr. Zarrir Abede Junior, uma vez que sucumbente na pretensão objeto da perícia, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00, atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há qualquer impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares; decido JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por MARIA CILENE DA SILVA em face de SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., e JULGAR IMPROCEDENTES os pedidos formulados em face de ATACADAO S.A., CARREFOUR COMERCIO E INDUSTRIA LTDA e DROGARIA SAO PAULO S.A. (representando as entidades nomeadas na fundamentação como 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 8ª reclamadas), extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de condenar a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas: Indenização substitutiva do período estabilitário (de julho de 2024 a julho de 2025), compreendendo salários, férias acrescidas de 1/3, abono de férias, 13º salário, depósitos de FGTS e indenização compensatória de 40% sobre o FGTS, observados os limites do pedido na petição inicial.Pensão mensal temporária, no importe de 5% (cinco por cento) da última remuneração da parte reclamante, devida enquanto perdurar a incapacidade laboral, tendo como marco inicial a data do laudo pericial (10/04/2025). As parcelas vencidas deverão ser pagas de uma única vez, e as vincendas serão pagas mensalmente, observando-se os reajustes salariais concedidos à categoria profissional da autora ou, na ausência destes, os reajustes aplicados à função idêntica pela reclamada.Indenização por danos morais no importe de R$ 1.000,00 (mil reais). Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Condeno a primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVICOS LTDA., ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, e na decisão do STF na ADI 5766, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos relativos aos honorários advocatícios, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte credora demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Defiro a gratuidade de justiça à parte reclamante. Honorários periciais pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., em favor do Sr. Zarrir Abede Júnior, no valor ora arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais), atualizáveis desde a entrega do laudo aos autos, na forma da OJ nº 198 da SBDI-I do C. TST, sob pena de execução. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 884 do CC, desde que os comprovantes já constem nos autos até a publicação desta sentença. Custas pela primeira reclamada, SPAR BRASIL SERVIÇOS LTDA., no importe de quatrocentos reais, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de vinte mil reais (art. 789 da CLT). Recolhimentos fiscais e previdenciários: A primeira reclamada deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos fiscais também serão realizados pela primeira reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Intimem-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - DROGARIA SAO PAULO S.A.

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Deivison Ramos De Lima e outros x Bella Vista Transportadora E Comercio Eireli e outros

ID: 327712495

Tribunal: TRT3 Órgão: 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO SUMARíSSIMO Nº Processo: 0010240-32.2024.5.03.0185

Data de Disponibilização: 17/07/2025

Polo Ativo:

DEIVISON RAMOS DE LIMA DIONE FERREIRA DOS SANTOS FELIPE GUIMARAES DE SOUZA

Polo Passivo:

BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMERCIO EIRELI LUIZ CARLOS DAMAS MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA RODOANEL TRANSPORTES E LOGISTICA LTDA TRANSLITY ATACADISTA E LOGISTICA LTDA

Notificação

Advogados:

ETELVANI DA ROCHA NASCIMENTO

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TEREZA CRISTINA DE SOUZA DOMINGOS

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PALLOMA HELEN TORRES

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GUILHERME TEIXEIRA DE SOUZA

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MARINA DELARMELINA FERREIRA

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MARGARETH CAMPOS SERRA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE ATSum 0010240-32.2024.5.03.0185 AUTOR: DIONE FERREIRA DOS SANTOS RÉU: MINE… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE ATSum 0010240-32.2024.5.03.0185 AUTOR: DIONE FERREIRA DOS SANTOS RÉU: MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA E OUTROS (4) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID e15e0b5 proferida nos autos. SENTENÇA I – RELATÓRIO Dispensado, na forma do art. 852-I da CLT. II – FUNDAMENTAÇÃO .QUESTÃO DE ORDEM O E. TRT da 3ª Região, em sessão da 2ª Turma (ID. a9c37f7), à unanimidade, conheceu dos recursos interpostos pelas 1ª, 2ª e 3ª reclamadas (ID. e2ae65e) deu-lhes parcial provimento para afastar a tutela de urgência que fora concedida, e excluir a determinação de bloqueio imediato, via SISBAJUD, em relação a elas. Afastou a revelia aplicada às partes recorrentes, e, reconhecendo o cerceio de defesa, declarou a nulidade da sentença e determinou o retorno dos autos à origem, para que a instrução processual fosse reaberta, conferindo-se validade, como meio probante, à contestação e documentos juntados pelas recorrentes, a partir de ID 35f77fb (fls. 269 e ss. do PDF), e para prolação de outra sentença. O recurso da parte reclamante (ID. f2b0291) foi conhecido, não conhecido o recurso do 4º reclamado, por deserto; restou, naquela decisão, prejudicado o exame de mérito dos demais temas levados no recurso das reclamadas e do recurso ordinário interposto pelo reclamante. Passo à análise dos presentes autos. .PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM Bem se sabe que as condições da ação, segundo a teoria da asserção, devem ser analisadas em abstrato, tendo em vista os fatos e fundamentos jurídicos da inicial. De fato, a parte reclamante afirma que sempre prestou serviços em proveito de todos os reclamados. Assim, neste juízo abstrato e preliminar, verifico a pertinência subjetiva desta demanda em face de todos os reclamados, de modo que relego ao exame do mérito o desfecho da presente questão, em termos de procedência ou improcedência do pedido. Rejeito. .LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO .LIQUIDAÇÃO DE PEDIDOS .LIMITES DA LIDE O valor dado à causa na petição inicial é compatível com as pretensões nela deduzidas, não se sustentando a impugnação defensiva no aspecto. Ademais, a reclamada não demonstrou, de forma objetiva e aritmética, eventuais equívocos na fixação daquele valor. A apuração do valor do pedido eventualmente deferido acontecerá em momento adequado, ou seja, em liquidação de sentença, na forma prevista em lei, até porque aquele arbitrado na inicial constitui mera estimativa (art. 12, § 2º, IN 41//2018 do TST), não servindo à delimitação do valor da condenação. Nos termos da Tese Jurídica Prevalecente n. 16 deste TRT3, não há falar em limitação da liquidação de sentença aos valores declinados na inicial. Registra-se ser dever do Juiz, com fulcro no princípio da congruência/adstrição, prolatar sentença em observância aos limites traçados na inicial, pelo que desnecessária a recomendação da reclamada nesse sentido. Rejeito. .IMPUGNAÇÃO/EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Cabe a cada parte trazer aos autos a documentação que entenda devida para comprovar as suas alegações, o que, em se tratando da parte reclamante, deve vir com a petição inicial, e, do polo reclamado, deve vir com a defesa. Havendo, as partes, anexado aos autos os documentos que entendiam necessários para o deslinde da lide, a análise das pretensões será submetida, se for o caso, às regras de distribuição do ônus da prova, consoante estabelecem os artigos 818 da CLT e 373 do CPC. Acrescento que incide a penalidade prevista no art. 400 do CPC em caso de descumprimento de ordem judicial para a exibição de documentos, o que não ocorreu na hipótese dos autos. Rejeito. .IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA O deferimento, ou não, dos benefícios da justiça gratuita ao reclamante será analisado no mérito. .INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA O Processo do Trabalho possui regras próprias sobre a distribuição do ônus da prova, conforme art. 818 da CLT e 373 do CPC c/c art. 769 da CLT. Logo, resta sem fundamento o requerimento para inversão do ônus probatório. Indefiro. .CCT APLICÁVEL Para fins de enquadramento sindical, deve ser considerada a atividade preponderante do empregador ou da categoria diferenciada do empregado, bem como a base territorial do local onde se deu a efetiva prestação de serviços, em observância aos princípios da territorialidade e unicidade sindical (artigo 8°, II, da Constituição da República; art. 611 da CLT). Pois bem. A parte reclamante anexou aos autos as convenções coletivas de trabalho celebradas entre a Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, Urbanos, Próprios, Vias Rurais, Pública e Áreas Internas no Estado de Minas Gerais – FETROMINAS e o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais – SETCEMG (ID. 0d386ea e seguintes). A parte reclamada não anexou aos autos normas coletivas. A parte reclamante não pertence à categoria diferenciada, nem é regido por lei especial, devendo seu enquadramento sindical se dar, portanto, de acordo com a atividade preponderante do empregador. Verifico no documento anexado aos autos no ID. 90361d6, que a 1ª reclamada tem como objeto social o “transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudancas, intermunicipal, interestadual e internacional, transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudancas, municipal, comércio atacadista de acucar, comercio atacadista de produtos alimenticios, comércio atacadista de cosméticos e produtos de perfumaria, comércio atacadista de produtos de higiene pessoal, comércio por atacado de pecas e acessórios novos para veículos automotores, comércio por atacado de pneumaticos e camaras-dear, comércio atacadista de produtos de higiene, limpeza e conservação domiciliar, comércio varejista de animais vivos e de artigos e alimentos para animais de estimação, comércio varejista de madeira e artefatos, comércio varejista de cal, areia, pedra britada, tijolos e telhas, comércio varejista de materiais de construcao, comercio varejista de material elétrico, comércio varejista de materiais hidráulicos, comércio varejista de bebidas, comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informatica, comercio varejista de ferragens e ferramentas, comércio a varejo de pecas e acessorios novos para veiculos automotores, aluguel de outras máquinas e equipamentos comerciais e industriais não especificados anteriormente, sem operador, envasamento e empacotamento sob contrato”. A sede da empresa é no município Caeté - Minas Gerais. Assim, aplicam-se ao contrato da parte reclamante as normas previstas nas CCTs firmadas junto ao Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais – SETCEMG, observando-se os respectivos períodos de vigência de cada uma e o período contratual laborado pela parte reclamante. .ADICIONAL DE PERICULOSIDADE O reclamante afirma que trabalhava exposto a agentes perigosos. A parte reclamada contesta os pedidos. O §2º do art. 195 da CLT é de clareza solar no sentido de que, “arguida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho”. Assim, resta saber se, pela prova produzida nestes autos, especificadamente a pericial, está ou não caracterizada a presença de agentes insalubres/perigosos, bem como se são devidos ou não os correspondentes adicionais e, em caso afirmativo, em que grau, sendo ainda certo que o juiz não está adstrito às conclusões periciais, se dos demais elementos de prova constantes dos autos alcançar conclusão diversa. Concluiu o Sr. Perito (ID. 0993efc): “Com base na inspeção realizada, nas informações recebidas, nas disposições da NR 15, legislação pertinente da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e fundamentos contidos nos itens 6 e 8 do presente Laudo, conclui-se que NÃO SE CARACTERIZA A EXPOSIÇÃO À PERICULOSIDADE, nas atividades/ex-locais de trabalho do Reclamante, durante todo período contratual.” Destaca-se que o laudo técnico pericial foi elaborado por profissional habilitado e equidistante das partes, que goza da confiança deste Juízo. Outrossim, o laudo não foi elidido por prova em sentido contrário, em que pesem as discordância por parte do reclamante (ID cddc66d). O expert prestou os devidos esclarecimentos e ratificou seu lado (ID. 2e019d6). Julgo improcedente o pedido de adicional de periculosidade. .ACÚMULO DE FUNÇÃO Afirma o reclamante que “foi contratado para laborar como almoxarife, recebimento e controle de entrada e saída de peças de carreta junto às Rés. No entanto, além de realizar tais atividades, por imposição das reclamadas, concomitantemente acumulou função de motorista, lavador de carreta e principalmente “frentista” realizando o abastecimento da frota das Rés.” Pugna pelo pagamento do adicional de 30% sobre sua remuneração e reflexos. A parte reclamada contesta a pretensão, argumentando que “o Reclamante foi contratado para exercer a função de almoxarifado, nunca tendo laborado como motorista, lavador de carreta ou frentista, bem como nunca tendo auxiliado o mecânico em suas atividades”. Em audiência foi produzida a seguinte prova oral, em síntese: Parte reclamante: fazia abastecimento de caminhão e cuidava do almoxarifado; também lavava carreta; Preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª reclamadas: o autor era almoxarife; o frentista abastecia; o autor fazia controle de peças; necessidade de compras. Testemunha indicada pelo autor, Sr. LEANDRO ALVES SILVA: o autor fazia as mesmas atividades desde o início do contrato. É cediço que o reconhecimento do acúmulo de função depende de prova segura de que, além das atividades inerentes ao cargo para o qual fora contratado, o empregado exercia, de forma cumulativa, função diversa existente no local de trabalho, cuja execução demandaria outro contrato de trabalho específico. Vale ressaltar, ainda, que sempre existem tarefas periféricas à função principal, que, por vezes, precisam ser desempenhadas pelo empregado, sem que isso represente verdadeiro acúmulo funcional para fins reparatórios. No caso dos autos, o reclamante não comprova a existência de acúmulo real e habitual de funções, apto a gerar direito à diferença salarial pretendida. Nota-se que as alegadas funções adicionalmente desempenhadas foram exercidas desde o início do pacto laboral. Pelo exposto, julgo improcedente o pedido. .PERÍODO ANTERIOR À ANOTAÇÃO NA CTPS .VERBAS RESCISÓRIAS . FGTS .MULTA PREVISTA NO § 8º DO ART. 477 DA CLT Período sem Anotação na CTPS Aduz o reclamante que foi admitido em 07/07/2022, na função de almoxarife, embora sua CTPS somente foi anotada em 01/02/2023. A parte reclamada se defendeu, negando a prestação de serviços diretos e exclusivos ao Reclamado e argumentando que “o Reclamante não prestou serviços em período anterior a 31.01.2023, cabendo a ele o ônus de prova de suas alegações”. No tocante ao período sem anotação da CTPS, negada a prestação de serviços por parte da reclamada em 07/07/2022, cabia ao reclamante comprovar vínculo anterior, ônus do qual se desincumbiu a contento, pois: A prova documental comprovou que o reclamante recebeu pagamentos efetuados pela 3ª reclamada, via Pix, nos valores de R$1.906,00 em 05/08/2022 (fls. 71 do PDF), R$1.514,00 em 08/09/2022 (fls. 69 do PDF), R$1.514,00 em 07/10/2022 (fls. 74 do PDF) e R$784,00 em 20/10/2022 (fls. 72 do PDF). Nos extratos bancários anexados, verifico que a 3ª reclamada depositou para o reclamante no dia 18/01/2023 o valor de R$784,00 (fls. 49 do PDF) e no dia 07/02/2023 o valor de R$2.024,00 (fls. 51 do PDF). Observe-se que o valor R$784,00 consta no extrato nos dias 22/02, 17/03, 20/04, 19/05 e 20/06/2023 (ID. eff225b até 32c469d). Referido valor, também recebido antes da assinatura da CTPS do reclamante, como acima demonstrado, é condizente com os valores descritos como adiantamento de salários nos recibos de pagamento anexados aos autos pela reclamada (ID. 735b242 até da0389e). Em audiência, o reclamante afirmou que entrou em julho de 2022 na Bella Vista. O preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª reclamada reconheceu a prestação de serviços pelo autor, ainda que esporádica, ao afirmar, em síntese, que o autor iniciou em 20.02.2023; indagado sobre pagamentos em período anterior, disse que era serviço esporádico, com pagamento por dia. A testemunha indicada pelo reclamante, que trabalhou para as 3 primeiras empresas a partir de 02/02/2022 até novembro de 2023 afirmou, em suma, que teve sua CTPS anotada pela 1ª ré ao ingressar na empresa; que o autor iniciou em julho de 2022, ao que acredita. Destarte, o conjunto probatório dos autos indica a prestação de serviços do reclamante para a parte reclamada antes de 01/02/2023. Considerando que a correta anotação da CTPS é direito irrenunciável do empregado, porquanto amparado em norma de ordem pública, reconheço o início da prestação de serviços do reclamante para a reclamada em 07/07/2022. Via de consequência, condeno a reclamada, após o trânsito em julgado desta sentença, a retificar a CTPS obreira, para fazer constar a real data de admissão em 07/07/2022, e data da saída em 02/08/2023 (considerando a projeção do aviso prévio) no prazo de 05 (cinco) dias após intimação específica para este fim, sob pena de multa diária de R$100,00, limitada a R$1.000,00 (art. 536, §1º, do CPC), reversível à parte reclamante. Permanecendo inerte a reclamada, deverá a Secretaria proceder supletivamente à retificação da CTPS da parte reclamante, na forma do art. 39, §1º da CLT, sem que se faça qualquer alusão ao presente feito judicial, certificando a providência em apartado, e sem prejuízo da multa arbitrada. FGTS A parte reclamante alega não ter recebido seu FGTS, tampouco a multa rescisória. A parte reclamada contesta a pretensão, anexando aos autos extrato de FGTS, o qual afirma demonstrar a integralidade do recolhimento dos depósitos de FGTS. De fato, verifico no extrato de FGTS anexado pela parte reclamada (ID. 7a9d614), os depósitos rescisório e a multa rescisória em atraso. Razão pela qual, improcede o pedido de pagamento do FGTS e da multa de 40% do FGTS. Indefiro o requerimento de expedição de chave de conectividade e de guias CD/SD, porquanto já foram expedidos os alvarás FGTS e ofício Seguro Desemprego nos autos arquivados nº 0011329-27.2023.5.03.0185, conforme decisão de ID. 00e7c95. Multa do art. 477, §8º, da CLT O reclamante afirma que a reclamada o dispensou sem justa causa em 03/07/2023, não quitando a integralidade de suas verbas rescisórias dentro do prazo previsto no art. 477 da CLT. Que, “após o vencimento do prazo previsto no art. 477 da CLT, a Ré, reconhecendo o período laborado sem anotação da CTPS 07/07/2022 à 03/07/2023, mas sem apresentar ao autor o TRCT complementar depositou ao autor o importe de R$1.687,77 (21/07/2023), relativos às diferenças de 13º proporcional (1/12) e férias mais 1/3 (07/12)”. A reclamada impugna a pretensão, argumentando que “o acerto Obreiro foi feito a tempo e modo corretos, inclusive no que tange à entrega das guias, conforme documentação anexa”. Entretanto, ao analisar os documentos anexados com a defesa, não encontro provas da quitação das obrigações rescisórias, como afirmado pela reclamada, no prazo estabelecido no §6º do artigo 477 da CLT. Ao contrário, como acima analisado, o depósito rescisório de FGTS foi realizado em atraso, somente no dia 17/11/2023, conforme o extrato de FGTS anexado pela parte reclamada (ID. 7a9d614). Além disso, o comando do art. 477 da CLT não é apenas para a quitação do acerto rescisório, é também para a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes. Nesse sentido entende este Regional: MULTA PREVISTA NO § 8º DO ART. 477 DA CLT. RESCISÃO DE CONTRATO DE TRABALHO. ATO COMPLEXO. A Lei 13.467/17 positivou o entendimento jurisprudencial no sentido de que a rescisão do contrato de trabalho categoriza-se como ato complexo, que se aperfeiçoa não só com a quitação das parcelas rescisórias, mas também com a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes, que habilitam o trabalhador a requerer o saque do FGTS, multa de 40% e o seguro desemprego. Com efeito, o art. 477 da CLT, com a redação conferida pela Lei n. 13.467/2017, dispõe que o acerto rescisório deve ser realizado no prazo e na forma estabelecidos no caput do referido dispositivo. O § 6º do mencionado artigo fixa o prazo de dez dias para o pagamento do acerto rescisório e também para a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes. Assim, a infração ao prazo fixado no § 6º na norma referida enseja aplicação da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT. Comprovado nos autos o atraso na entrega dos documentos rescisórios, é de se manter a multa deferida na sentença. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010167-09.2022.5.03.0063 (ROT); Disponibilização: 23/11/2022, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 803; Órgão Julgador: Segunda Turma; Relator: Maristela Iris S.Malheiros) Ante a ausência de comprovação de quitação das verbas e entrega de documentos rescisórios no prazo legal, condeno a parte reclamada ao pagamento da multa prevista no §8º do art. 477 da CLT, no valor de um salário da parte reclamante. Não há pedido de pagamento de verbas referentes ao período anterior ao anotado na CTPS. .REAJUSTE SALARIAL O reclamante alega que a empregadora não efetuou o reajuste salarial nos termos previstos na cláusula 4ª da CCT 2023. Por sua vez, as reclamadas afirmam que o autor recebeu o reajuste “quando de seu acerto rescisório, tendo em vista que a homologação da CCT ocorreu apenas em 28.06.2023”. Examino. A cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (ID. 000457a - fls. 149/150 do PDF) prevê: “CLÁUSULA QUARTA - ÍNDICE DE REAJUSTE As empresas concederão aos seus empregados da correspondente categoria profissional, a partir de primeiro de MAIO de 2023, reajuste salarial de 6,00% (seis por cento) incidente sobre o salário de abril de 2023, compensando-se todos os aumentos e antecipações concedidos espontaneamente ou através de acordos, dissídios, adendos e os decorrentes de Leis. (...) Parágrafo segundo - O salário base para aplicação de índice de reajuste para o próximo instrumento coletivo será o do mês de MAIO de 2023. Parágrafo terceiro - As diferenças salariais dos meses de maio e junho de 2023 poderão ser quitadas até a folha de pagamento do mês de julho de 2023.” Verifico nos recibos de pagamento anexados aos autos pela reclamada (ID. 735b242 até da0389e) que o reclamante recebeu a título de salário efetivo, de janeiro a junho de 2023, o valor de R$1.960,00. Não há, nesses documentos, registro de aumento de salário, tampouco, a parte reclamada trouxe aos autos prova do alegado pagamento do reajuste quando de seu acerto rescisório, ônus que lhe competia. Por essa razão, condeno a parte reclamada ao pagamento de diferenças salariais decorrentes da falta de aplicação do reajuste previsto na cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (6,00% incidente sobre o salário de abril de 2023 a partir de maio de 2023), com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%. Não há reflexos sobre RSR, pois a parcela é mensal e compreende os repousos. Indefiro reflexos em adicional de periculosidade e em acúmulo de função, pedidos julgados improcedentes. .JORNADA DE TRABALHO O reclamante narra em sua inicial que: “foi contratado para laborar por 44h semanais, de segunda à sábado, no entanto, no início a empresa exigia que o mesmo (sic) chegasse às 7h e saísse às 17h, com uma hora de almoço, e aos sábados das 07h às 12h30 sem intervalo. A partir de agosto de 2022, passou a iniciar a jornada às 07h30 e encerrava às 17h, e aos sábados encerra às 12h30. A partir de fevereiro de 2023 até o seu desligamento além da jornada semanal estendida, passou a laborar aos sábados até as 16h com uma hora de almoço, e a laborar em 3 domingos por mês das 07h30 às 12h”. Em sua defesa, a parte reclamada sustenta que “o Reclamante laborou em jornada das 08:00 às 17:00, de segunda a sexta, e das 08:00 às 12:00 aos sábados, sempre com 1:00 de intervalo e uma folga semanal aos domingos. Vale ressaltar que, no período de labor do Reclamante, a Reclamada possuía menos de 20 empregados, pelo que não há obrigação legal de adoção de cartões de ponto, nos termos do art. 74, § 2º da CLT”. A parte reclamada não apresentou qualquer comprovação de que tivesse menos de 20 empregados, por exemplo a “relação de trabalhadores - SEFIP”, ou o “Relatório de envio dos eventos do eSocial”. O reclamante trouxe aos autos, com a inicial, alguns registros de jornada (ID. 4043db3). Em audiência, o reclamante afirmou que na reclamada havia uns 50 empregados; que laborava de 7h às 17h/17h30. O preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª rés afirmou que as empresas possuíam 18 empregados, se não se engana; havia 12 caminhões; havia 10 motoristas; o autor laborava de 8h às 17h de 2ª a 6ª e sábado de 8h às 12h; não havia folha de ponto; domingo não abria. A testemunha indicada pela parte autora afirmou, em suma, que iniciava o serviço 7h; encerrava 17h; os domingos eram alternados de 7h às 12h; sábado era de 7h às 16h30; fazia intervalo de 1 hora; o autor pegava serviço às 7h e largava às 17h, assim como a testemunha, incluindo sábados e domingos; o intervalo era semelhante; havia folha de ponto em nome da Bella Vista, se não se engana; a folha de ponto era a de fls 36 e seguintes; havia uns 60 empregados; não havia folga compensatória. A prova produzida em audiência infirma a narrativa da parte reclamada de possuir menos de 20 empregados. Ante a ausência de juntada de cartões de ponto, prevalece a jornada informada pela parte reclamante, salvo prova em sentido contrário (Súmula 338 do TST). Pelo critério da razoabilidade, fixo a jornada cumprida pela parte reclamante ao longo do contrato de trabalho, para fins de liquidação, como sendo de 2ª a 6ª feira de 07h30 às 17h, com 1 hora de intervalo, e sábado de 07h30 às 12h30 sem intervalo, e 2 domingos por mês de 07h30 às 12h. Com base nessa jornada, condeno a reclamada a pagar como extra as horas excedentes à 8ª diária ou 44ª semanal, com adicional legal, observando-se o divisor 220, a Súmula nº 264 do TST, a jornada fixada e a frequência integral, com reflexos, nos limites do pedido, em férias + 1/3, 13º salários e FGTS + 40%. Condeno a parte reclamada ao pagamento das horas laboradas em domingos com adicional de 100%. Ante a habitualidade, há reflexos em RSR, férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%. Indefiro reflexos em adicional de periculosidade, pedido julgado improcedente em tópico anterior. .PPR Aduz o autor que “a Reclamada não pagou para ao Reclamante o valor correspondente ao PPR que lhe é devido previstos nas CCTs de 2022 e 2023 em desacordo com a cláusula 11ª das CCTs, o autor faz jus à PPR no valor de R$500,00 (quinhentos reais) para 2022 e R$530,00 (quinhentos reais) para 2023”. A parte reclamada se defende, afirmando que “quando fez jus, o Reclamante recebeu o pagamento, nos termos da documentação anexa”. Entretanto, a reclamada não trouxe provas do pagamento da PPR, sendo que não há, nem nos recibos de pagamento (ID. 735b242 até da0389e), nem no TRCT (ID. b48da54), nem em outro documento no processo, qualquer pagamento sob a rubrica Programa de Participação nos Resultados - PPR ou PLR. Pelo exposto, condeno a parte reclamada ao pagamento proporcional da PLR de 6/12 de 2022 e 6/12 de 2023 com base nos valores que constam das CCTs - cláusula DÉCIMA PRIMEIRA (fls. 139 e 152). .AJUDA ALIMENTAÇÃO Afirma o autor que “a Reclamada em desacordo com a CCT da categoria, não fornecia ajuda alimentação, nos valores previstos em Convenção Coletiva, quitando ao mesmo (sic) uma média de R$10,00 por dia laborado, conforme contracheques juntados com a presente peça, fazendo jus às diferenças”. A reclamada afirma que o reclamante recebeu o correto valor de auxílio alimentação. A parte reclamada pagou ao reclamante valores que variaram de R$260,00 a R$351,00 por mês a título de refeição, conforme consta nos recibos de pagamento. A CCT da categoria prevê o valor de R$22,00, a partir de primeiro de JUNHO de 2022 (fls. 139), e R$25,00 a partir de primeiro de JUNHO de 2023 (fls. 153), por dia de efetivo trabalho. Em cumprimento à norma coletiva, condeno a parte reclamada ao pagamento de diferenças de ajuda alimentação com base nos valores que constam das CCTs - cláusula 12 (fls. 139 e 153), por dia efetivamente trabalhado, conforme se apurar em liquidação. Autorizo a dedução dos valores recebidos, desde que comprovados nos autos. A parcela é indenizatória e não gera reflexos. .LANCHE O reclamante requer uma indenização relativa ao não fornecimento de lanche quando da realização de mais de 2 horas extras por dia, o que acontecia em todos os sábados e domingos laborados. A reclamada afirma que o Reclamante não realizava horas extras além de 2:00 diárias, nega trabalho aos domingos, pelo que não fazia jus à concessão de lanche. A norma coletiva da categoria, exemplo da CCT 2022/2023, prevê (ID. 0d386ea - fls. 139/140 do PDF); "GRATIFICAÇÕES, ADICIONAIS, AUXÍLIOS E OUTROS ADICIONAL DE HORA-EXTRA CLÁUSULA DÉCIMA - ADICIONAL DE HORAS EXTRAS A remuneração do serviço extraordinário será acrescida de 50,0% (cinquenta por cento) sobre a hora normal, conforme determina a CLT. Parágrafo primeiro – Quando o empregado trabalhar mais de 2 (duas) horas extras por dia, nos casos de força maior, a empresa lhe assegurará um lanche gratuito composto de, no mínimo, pão com manteiga e café com leite. A jornada de trabalho dos motoristas é a regida pela Lei nº 13.103/15. Parágrafo segundo - Em decorrência da atividade própria." Conforme decidido em tópico pretérito, o reclamante trabalhou em sobrejornada. Assim, conforme se apurar em liquidação, comprovado o trabalho superior a 2 (duas) horas extras por dia, o reclamante fará jus ao pagamento de lanche, o qual arbitro em R$3,00, por dia - cláusula 10 da CCT (fls. 139 e 152). A parcela é indenizatória e não gera reflexos. .MULTAS CONVENCIONAIS A parte reclamante pretende receber multas convencionais pela violação das normas coletivas. Evidenciado o descumprimento dos normativos da categoria que que constam dos tópicos anteriores, julgo procedente o pedido de multa convencional prevista nas CCTs apresentadas nos autos (v.g., cláusula 35ª da CCT 2022/2023 - fls. 146 e 2023/2024 - cláusula 37ª - fls. 168), em favor do reclamante, nos valores ali estabelecidos, sendo uma multa para cada convenção coletiva. .RESPONSABILIDADE DAS 1ª, 2ª , 3ª e 4ª RECLAMADAS O autor afirma que as “primeira, segunda e terceira reclamadas se apresentam como grupo econômico perante o mercado, exercendo atividades idênticas (Transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças, intermunicipal, interestadual e Internacional), havendo ingerência entre elas". As 1ª, 2ª e 3ª reclamadas afirmam que são empresas absolutamente distintas, inexistindo identidade de sócios ou relação de coordenação entre elas; que o 4º Reclamado é tão somente sócio de uma das Reclamadas. Analiso. A 1ª reclamada, em sua defesa, afirma que contratou e dispensou o reclamante. A referida ré consta como empregadora na CTPS (ID. 81fafc9), no TRCT (ID. 9067163/b48da54) e nos recibos de pagamento do reclamante (ID. 735b242 até da0389e). Nos extratos bancários anexados com a petição inicial (ID.eff225b até 92b0be5) constam transferências via PIX, realizadas pela a 3ª ré, para a conta bancária do reclamante, as quais, a exemplo do “PIX RECEBIDO” em 06/04/2023 no valor de R$1.521,13 (fls. 59 do PDF), corresponde à remuneração líquida descrita no recibo de pagamento do mês de março de 2023 (fls. 279 do PDF). Os 1º, 2º, 3º e 4º réus constituíram a mesma advogada, que os acompanhou em audiência, além disso, apresentaram defesa conjunta. As 1ª, 2ª e a 3ª reclamadas foram representadas, em audiência, pelo preposto Luiz Carlos Damas Júnior (ID. 8f93764 e 8195cba). Ainda, a ré MINERVAL tem sede e domicílio na RODOVIA 381 KM 429, SN, ZONA RURAL, município CAETÉ - MINAS GERAIS, filial no GALPÃO 03, do mesmo endereço (ID. 90361d6). As rés TRANSLITY e Bella Vista possuíam também o mesmo endereço, Galpão 04 e 01, respectivamente, passando depois para o endereço na Rua Edna Brandão Ferreira, 163,Letra B, (TRANSLITY) e nº 163 (Bella Vista), Bairro: Santa Amélia, CEP: 31.555-230, Belo Horizonte / MG (ID. 5305f03; ID. c422ce3). O Sr. Luiz Carlos Damas, 4º réu, consta como sócio da TRANSLITY (ID. 5305f03) e da BELLA VISTA (ID. c422ce3). Observo que, as reclamadas BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMÉRCIO LTDA.- ME E TRANSLITY ATACADISTA E LOGÍSTICA LTDA.-ME, requereram o benefício da recuperação judicial, conforme PROCESSO Nº: 5229946-33.2023.8.13.0024 (ID. fcad572), em tramitação no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerias - TJMG. Observo que, em decisão de apelação Nº 1.0000.23.273874-0/005, o perito daquele Juízo, “no laudo de constatação prévia (doc. de ordem 244), apontou que há indícios de existência de grupo econômico composto pelas apelantes e pela MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA., terceira que não integra o polo ativo da ação, ante a existência de confusão patrimonial, consubstanciada na utilização comum de conta bancária, de titularidade da terceira, para recebimento de valores e pagamento de débitos, bem como no compartilhamento da infraestrutura física e de pessoal das empresas”, indicando “evidências de uma possível confusão patrimonial das apelantes com a MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA” ( fls. 560 do PDF - negritos acrescidos). Desse modo, reconheço a existência de grupo econômico entre 1ª, 2ª e 3ª as reclamadas, razão pela qual deverão responder solidariamente pelo pagamento de eventuais créditos reconhecidos ao reclamante, nos termos do art. 2º, §2º, da CLT. Entendo ser possível responsabilizar o 4º réu, inclusive no intuito de se garantir a efetividade de eventual execução, ante o princípio da celeridade. Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial deste Regional: RESPONSABILIDADE DO SÓCIO. INCLUSÃO AO POLO PASSIVO. A inclusão do sócio ao polo passivo da demanda, na fase de conhecimento, representa medida de celeridade que pretende ampliar as garantias dos créditos oriundos da ação trabalhista. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010534-54.2016.5.03.0027 (RO); Disponibilização: 21/11/2018, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 1135; Órgão Julgador: Quinta Turma; Relator: Manoel Barbosa da Silva). Ademais, considerando que o sócio se beneficiou da prestação de serviços do obreiro, deve o mesmo ser responsabilizado, de forma subsidiária. .RESPONSABILIDADE DA 5ª RECLAMADA O reclamante requer responsabilidade subsidiária da 5ª reclamada, alegando ser esta a destinatária final da prestação de seus serviços. A 5ª reclamada, por sua vez, contesta o pedido, argumentando que “em ocasiões pontuais e isoladas, quando surge a necessidade premente em decorrência de aumento de demanda, mantém com a segunda reclamada, contrato para coleta de cargas, monitoramento e deslocamento da carga ao destinatário final, coordenar o processo de separação, empacotamento e identificação da mercadoria, enfim, atividades específica de transporte de mercadorias”. Anexa contrato firmado com a 2ª reclamada, Bella Vista Transportadora, para a prestação de serviços de transporte de cargas (fls. 296/298). Em audiência o reclamante afirmou, em síntese, que prestava serviço para Rodoanel, pois os caminhões que abastecia tinham a logo dela; eram abastecidos outros caminhões de outras empresas também; também fez manutenção e lavagem; não via ninguém da Rodoanel no local de trabalho; não conhece ninguém da Rodoanel; não tinha contato com ninguém de lá. O preposto da 5ª ré afirmou, resumidamente, que a empresa teve contrato com a Bella Vista em 2022 se não se engana; eram serviços de transporte; foi por pouco tempo; acha que foram 2 meses. A testemunha da parte autora afirmou, em suma, que havia caminhões da Rodoanel lá; não conhece de perto ninguém da Rodoanel; lá era um ponto de apoio; havia outra empresa também. O C.TST entende que “o contrato de transporte de cargas possui natureza comercial, e não de prestação de serviços. Desse modo, diante da ausência de terceirização, a sociedade empresária contratante não pode ser responsabilizada subsidiariamente pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas da sociedade empresária transportadora”, como decidido, por exemplo no Ag-E-ED-Ag-RRAg-1000255-58.2019.5.02.0271, de relatoria do Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, em 17/02/2023. Julgo improcedentes todos os pedidos em relação à 5ª reclamada. .COMPENSAÇÃO/DEDUÇÃO Não foram apontados valores nem rubricas suscetíveis de compensação com os ora reconhecidos, ficando autorizada apenas a dedução de valores porventura pagos sob idênticas rubricas e fundamentos, conforme se apurar em liquidação. .JUSTIÇA GRATUITA Diante da declaração de insuficiência de recursos e do requerimento expresso constante da inicial, e não havendo provas na impugnação em sentido contrário (art. 1º da Lei nº 7.115/83), defiro à parte reclamante os benefícios da justiça gratuita, à luz do art. 790, §3º da CLT. .HONORÁRIOS PERICIAIS Considerada a complexidade da perícia de insalubridade, o relevante serviço prestado, o tempo gasto e as despesas inerentes aos trabalhos realizados, arbitro em favor do Sr. FELIPE GUIMARAES DE SOUZA, signatário do laudo oficial, honorários periciais no valor de R$1.000,00 (um mil reais), pela parte reclamante, sucumbente na pretensão objeto da perícia. Lado outro, concedidos os benefícios da justiça gratuita à parte reclamante, os honorários periciais serão pagos nos termos da Resolução 247/2019 do CSJT. Deverá a Secretaria da Vara, após o trânsito em julgado desta decisão expedir requisição de pagamento dos honorários periciais ao Excelentíssimo Sr. Presidente do e. TRT da 3ª. Região, na forma da Resolução nº 247/2019 do CSJT. .HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA São devidos honorários de sucumbência recíproca, cujo montante arbitro: (1) em 05% do valor dos créditos devidos à parte reclamante, a serem pagos pela parte reclamada aos advogados da reclamante, conforme se apurar em liquidação; e (2) em 05% do proveito econômico que seria obtido com os pleitos julgados improcedentes, a serem pagos pela parte reclamante aos advogados da parte reclamada. Entretanto, no julgamento da ADI 5766, o C. STF declarou a inconstitucionalidade do §4º do art. 791-A da CLT. Assim sendo, tratando-se de decisão vinculante e de aplicação imediata, não há falar em honorários sucumbenciais devidos pela parte reclamante, enquanto esta for beneficiária da Justiça Gratuita. Assim sendo, tratando-se de decisão vinculante e de aplicação imediata, os honorários advocatícios sucumbenciais devidos pela parte reclamante, beneficiária da justiça gratuita, permanecerão sob condição suspensiva de exigibilidade até que, observado o prazo de dois anos, os procurados da parte ré demonstrem que deixou de existir a situação de miserabilidade jurídica que justificou a concessão dos benefícios da justiça gratuita. .PARÂMETROS DE LIQUIDAÇÃO Liquidação por simples cálculos. Para fins do §3º do art. 832 da CLT a natureza das parcelas seguirá o disposto no art. 28, §9º, Lei 8.212/91. Determino e autorizo os descontos fiscais (quotas patronal e obreira), na forma da IN RFB nº 1.500/14, alterada pela IN RFB 1.558/15, observando-se no que couber a Súmula nº 368 e OJ nº 363 da SDI-1, ambas do TST. Determino e autorizo os descontos previdenciários (quotas patronal e obreira), na forma do art. 28 da Lei nº 8.212/91, observando-se no que couber a Súmula 368 e OJ 363 da SDI-1, ambas do TST. Juros e correção monetária na forma da decisão do STF no julgamento da ADC nº 58, observadas as alterações promovidas pela Lei n. 14.905/2024 ao Código Civil (artigo 389, parágrafo único, e artigo 406, §1º, §2º e §3º, ambos do do Código Civil): fase pré-judicial, correção monetária pelo IPCA-E, cumulado com juros de mora pela TRD e, fase judicial, apenas a taxa SELIC simples até 30/08/2024 e, a partir de 31/08/2024, correção monetária pelo IPCA-E, cumulado com juros de mora pela SELIC, deduzido desta o IPCA-E. As Contribuições Previdenciárias serão atualizadas por regras próprias, consoante parágrafo 4º do art. 879 da CLT e art. 35, 43, parágrafo 3º, da Lei n. 8.212/91 e art. 61 da Lei 9430/1996. Não há incidência de imposto de renda sobre os juros de mora. .OFÍCIOS Indefiro o pedido de expedição de ofícios, visto que desnecessário neste momento processual. III – DISPOSITIVO Pelo exposto, neste processo trabalhista proposto por por DIONE FERREIRA DOS SANTOS contra RÉU: MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA, BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMERCIO EIRELI, TRANSLITY ATACADISTA E LOGISTICA LTDA, LUIZ CARLOS DAMAS, RODOANEL TRANSPORTES E LOGISTICA LTDA, nos termos e limites da fundamentação, que passam a integrar o presente dispositivo como se nele estivessem transcritos, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados para declarar que a admissão do reclamante ocorreu em 07/07/2022, o contrato foi rescindido sem justa causa em 03/07/2023, e para condenar a 1ª, 2ª e 3ª reclamada, solidariamente, e o 4º reclamado, subsidiariamente, a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas, nos limites do pedido: diferenças salariais decorrentes da falta de aplicação do reajuste previsto na cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (6,00% incidente sobre o salário de abril de 2023 a partir de maio de 2023), com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%.horas excedentes à 8ª diária ou 44ª semanal, com reflexos;horas laboradas em domingos com adicional de 100%, com reflexos;pagamento proporcional da PPR de 6/12 de 2022 e 6/12 de 2023;diferenças de ajuda alimentação;lanche;multas convencionais;multa do art. 477, §8º, CLT. Após o trânsito em julgado desta sentença, a 1ª reclamada deverá retificar a CTPS obreira, para fazer constar a real data de admissão em 07/07/2022, e data da saída em 02/08/2023 (considerando a projeção do aviso prévio) no prazo de 05 (cinco) dias após intimação específica para este fim, sob pena de multa diária de R$100,00, limitada a R$1.000,00 (art. 536, §1º, do CPC), reversível à parte reclamante. Permanecendo inerte a reclamada, deverá a Secretaria proceder supletivamente à retificação da CTPS da reclamante, na forma do art. 39, §1º da CLT, sem que se faça qualquer alusão ao presente feito judicial, certificando a providência em apartado, e sem prejuízo da multa arbitrada. Julgo improcedentes todos os pedidos em relação à 5ª reclamada. Defiro os benefícios da justiça gratuita à parte reclamante. Honorários de sucumbência e honorários periciais, conforme fundamentação. Observem-se os parâmetros de liquidação especificados na fundamentação. Custas pela parte reclamada, no valor de R$600,00, calculadas sobre o valor provisoriamente arbitrado à condenação de R$30.000,00. Intimem-se as partes. Recomendo às partes atentarem para os limites impostos pelos art. 897-A da CLT e 1.022 do CPC no intuito de evitarem a aplicação do § 2º do art. 1.026 do CPC. Transitada em julgado, CUMPRA-SE. Nada mais. BELO HORIZONTE/MG, 16 de julho de 2025. WASHINGTON TIMOTEO TEIXEIRA NETO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - DIONE FERREIRA DOS SANTOS

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Deivison Ramos De Lima e outros x Bella Vista Transportadora E Comercio Eireli e outros

ID: 327712540

Tribunal: TRT3 Órgão: 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO SUMARíSSIMO Nº Processo: 0010240-32.2024.5.03.0185

Data de Disponibilização: 17/07/2025

Polo Ativo:

DEIVISON RAMOS DE LIMA DIONE FERREIRA DOS SANTOS FELIPE GUIMARAES DE SOUZA

Polo Passivo:

BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMERCIO EIRELI LUIZ CARLOS DAMAS MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA RODOANEL TRANSPORTES E LOGISTICA LTDA TRANSLITY ATACADISTA E LOGISTICA LTDA

Notificação

Advogados:

ETELVANI DA ROCHA NASCIMENTO

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GUILHERME TEIXEIRA DE SOUZA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PALLOMA HELEN TORRES

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MARINA DELARMELINA FERREIRA

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MARGARETH CAMPOS SERRA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

TEREZA CRISTINA DE SOUZA DOMINGOS

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE ATSum 0010240-32.2024.5.03.0185 AUTOR: DIONE FERREIRA DOS SANTOS RÉU: MINE… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO 47ª VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE ATSum 0010240-32.2024.5.03.0185 AUTOR: DIONE FERREIRA DOS SANTOS RÉU: MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA E OUTROS (4) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID e15e0b5 proferida nos autos. SENTENÇA I – RELATÓRIO Dispensado, na forma do art. 852-I da CLT. II – FUNDAMENTAÇÃO .QUESTÃO DE ORDEM O E. TRT da 3ª Região, em sessão da 2ª Turma (ID. a9c37f7), à unanimidade, conheceu dos recursos interpostos pelas 1ª, 2ª e 3ª reclamadas (ID. e2ae65e) deu-lhes parcial provimento para afastar a tutela de urgência que fora concedida, e excluir a determinação de bloqueio imediato, via SISBAJUD, em relação a elas. Afastou a revelia aplicada às partes recorrentes, e, reconhecendo o cerceio de defesa, declarou a nulidade da sentença e determinou o retorno dos autos à origem, para que a instrução processual fosse reaberta, conferindo-se validade, como meio probante, à contestação e documentos juntados pelas recorrentes, a partir de ID 35f77fb (fls. 269 e ss. do PDF), e para prolação de outra sentença. O recurso da parte reclamante (ID. f2b0291) foi conhecido, não conhecido o recurso do 4º reclamado, por deserto; restou, naquela decisão, prejudicado o exame de mérito dos demais temas levados no recurso das reclamadas e do recurso ordinário interposto pelo reclamante. Passo à análise dos presentes autos. .PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM Bem se sabe que as condições da ação, segundo a teoria da asserção, devem ser analisadas em abstrato, tendo em vista os fatos e fundamentos jurídicos da inicial. De fato, a parte reclamante afirma que sempre prestou serviços em proveito de todos os reclamados. Assim, neste juízo abstrato e preliminar, verifico a pertinência subjetiva desta demanda em face de todos os reclamados, de modo que relego ao exame do mérito o desfecho da presente questão, em termos de procedência ou improcedência do pedido. Rejeito. .LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO .LIQUIDAÇÃO DE PEDIDOS .LIMITES DA LIDE O valor dado à causa na petição inicial é compatível com as pretensões nela deduzidas, não se sustentando a impugnação defensiva no aspecto. Ademais, a reclamada não demonstrou, de forma objetiva e aritmética, eventuais equívocos na fixação daquele valor. A apuração do valor do pedido eventualmente deferido acontecerá em momento adequado, ou seja, em liquidação de sentença, na forma prevista em lei, até porque aquele arbitrado na inicial constitui mera estimativa (art. 12, § 2º, IN 41//2018 do TST), não servindo à delimitação do valor da condenação. Nos termos da Tese Jurídica Prevalecente n. 16 deste TRT3, não há falar em limitação da liquidação de sentença aos valores declinados na inicial. Registra-se ser dever do Juiz, com fulcro no princípio da congruência/adstrição, prolatar sentença em observância aos limites traçados na inicial, pelo que desnecessária a recomendação da reclamada nesse sentido. Rejeito. .IMPUGNAÇÃO/EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Cabe a cada parte trazer aos autos a documentação que entenda devida para comprovar as suas alegações, o que, em se tratando da parte reclamante, deve vir com a petição inicial, e, do polo reclamado, deve vir com a defesa. Havendo, as partes, anexado aos autos os documentos que entendiam necessários para o deslinde da lide, a análise das pretensões será submetida, se for o caso, às regras de distribuição do ônus da prova, consoante estabelecem os artigos 818 da CLT e 373 do CPC. Acrescento que incide a penalidade prevista no art. 400 do CPC em caso de descumprimento de ordem judicial para a exibição de documentos, o que não ocorreu na hipótese dos autos. Rejeito. .IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA O deferimento, ou não, dos benefícios da justiça gratuita ao reclamante será analisado no mérito. .INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA O Processo do Trabalho possui regras próprias sobre a distribuição do ônus da prova, conforme art. 818 da CLT e 373 do CPC c/c art. 769 da CLT. Logo, resta sem fundamento o requerimento para inversão do ônus probatório. Indefiro. .CCT APLICÁVEL Para fins de enquadramento sindical, deve ser considerada a atividade preponderante do empregador ou da categoria diferenciada do empregado, bem como a base territorial do local onde se deu a efetiva prestação de serviços, em observância aos princípios da territorialidade e unicidade sindical (artigo 8°, II, da Constituição da República; art. 611 da CLT). Pois bem. A parte reclamante anexou aos autos as convenções coletivas de trabalho celebradas entre a Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários, Urbanos, Próprios, Vias Rurais, Pública e Áreas Internas no Estado de Minas Gerais – FETROMINAS e o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais – SETCEMG (ID. 0d386ea e seguintes). A parte reclamada não anexou aos autos normas coletivas. A parte reclamante não pertence à categoria diferenciada, nem é regido por lei especial, devendo seu enquadramento sindical se dar, portanto, de acordo com a atividade preponderante do empregador. Verifico no documento anexado aos autos no ID. 90361d6, que a 1ª reclamada tem como objeto social o “transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudancas, intermunicipal, interestadual e internacional, transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudancas, municipal, comércio atacadista de acucar, comercio atacadista de produtos alimenticios, comércio atacadista de cosméticos e produtos de perfumaria, comércio atacadista de produtos de higiene pessoal, comércio por atacado de pecas e acessórios novos para veículos automotores, comércio por atacado de pneumaticos e camaras-dear, comércio atacadista de produtos de higiene, limpeza e conservação domiciliar, comércio varejista de animais vivos e de artigos e alimentos para animais de estimação, comércio varejista de madeira e artefatos, comércio varejista de cal, areia, pedra britada, tijolos e telhas, comércio varejista de materiais de construcao, comercio varejista de material elétrico, comércio varejista de materiais hidráulicos, comércio varejista de bebidas, comércio varejista especializado de equipamentos e suprimentos de informatica, comercio varejista de ferragens e ferramentas, comércio a varejo de pecas e acessorios novos para veiculos automotores, aluguel de outras máquinas e equipamentos comerciais e industriais não especificados anteriormente, sem operador, envasamento e empacotamento sob contrato”. A sede da empresa é no município Caeté - Minas Gerais. Assim, aplicam-se ao contrato da parte reclamante as normas previstas nas CCTs firmadas junto ao Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais – SETCEMG, observando-se os respectivos períodos de vigência de cada uma e o período contratual laborado pela parte reclamante. .ADICIONAL DE PERICULOSIDADE O reclamante afirma que trabalhava exposto a agentes perigosos. A parte reclamada contesta os pedidos. O §2º do art. 195 da CLT é de clareza solar no sentido de que, “arguida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho”. Assim, resta saber se, pela prova produzida nestes autos, especificadamente a pericial, está ou não caracterizada a presença de agentes insalubres/perigosos, bem como se são devidos ou não os correspondentes adicionais e, em caso afirmativo, em que grau, sendo ainda certo que o juiz não está adstrito às conclusões periciais, se dos demais elementos de prova constantes dos autos alcançar conclusão diversa. Concluiu o Sr. Perito (ID. 0993efc): “Com base na inspeção realizada, nas informações recebidas, nas disposições da NR 15, legislação pertinente da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho e fundamentos contidos nos itens 6 e 8 do presente Laudo, conclui-se que NÃO SE CARACTERIZA A EXPOSIÇÃO À PERICULOSIDADE, nas atividades/ex-locais de trabalho do Reclamante, durante todo período contratual.” Destaca-se que o laudo técnico pericial foi elaborado por profissional habilitado e equidistante das partes, que goza da confiança deste Juízo. Outrossim, o laudo não foi elidido por prova em sentido contrário, em que pesem as discordância por parte do reclamante (ID cddc66d). O expert prestou os devidos esclarecimentos e ratificou seu lado (ID. 2e019d6). Julgo improcedente o pedido de adicional de periculosidade. .ACÚMULO DE FUNÇÃO Afirma o reclamante que “foi contratado para laborar como almoxarife, recebimento e controle de entrada e saída de peças de carreta junto às Rés. No entanto, além de realizar tais atividades, por imposição das reclamadas, concomitantemente acumulou função de motorista, lavador de carreta e principalmente “frentista” realizando o abastecimento da frota das Rés.” Pugna pelo pagamento do adicional de 30% sobre sua remuneração e reflexos. A parte reclamada contesta a pretensão, argumentando que “o Reclamante foi contratado para exercer a função de almoxarifado, nunca tendo laborado como motorista, lavador de carreta ou frentista, bem como nunca tendo auxiliado o mecânico em suas atividades”. Em audiência foi produzida a seguinte prova oral, em síntese: Parte reclamante: fazia abastecimento de caminhão e cuidava do almoxarifado; também lavava carreta; Preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª reclamadas: o autor era almoxarife; o frentista abastecia; o autor fazia controle de peças; necessidade de compras. Testemunha indicada pelo autor, Sr. LEANDRO ALVES SILVA: o autor fazia as mesmas atividades desde o início do contrato. É cediço que o reconhecimento do acúmulo de função depende de prova segura de que, além das atividades inerentes ao cargo para o qual fora contratado, o empregado exercia, de forma cumulativa, função diversa existente no local de trabalho, cuja execução demandaria outro contrato de trabalho específico. Vale ressaltar, ainda, que sempre existem tarefas periféricas à função principal, que, por vezes, precisam ser desempenhadas pelo empregado, sem que isso represente verdadeiro acúmulo funcional para fins reparatórios. No caso dos autos, o reclamante não comprova a existência de acúmulo real e habitual de funções, apto a gerar direito à diferença salarial pretendida. Nota-se que as alegadas funções adicionalmente desempenhadas foram exercidas desde o início do pacto laboral. Pelo exposto, julgo improcedente o pedido. .PERÍODO ANTERIOR À ANOTAÇÃO NA CTPS .VERBAS RESCISÓRIAS . FGTS .MULTA PREVISTA NO § 8º DO ART. 477 DA CLT Período sem Anotação na CTPS Aduz o reclamante que foi admitido em 07/07/2022, na função de almoxarife, embora sua CTPS somente foi anotada em 01/02/2023. A parte reclamada se defendeu, negando a prestação de serviços diretos e exclusivos ao Reclamado e argumentando que “o Reclamante não prestou serviços em período anterior a 31.01.2023, cabendo a ele o ônus de prova de suas alegações”. No tocante ao período sem anotação da CTPS, negada a prestação de serviços por parte da reclamada em 07/07/2022, cabia ao reclamante comprovar vínculo anterior, ônus do qual se desincumbiu a contento, pois: A prova documental comprovou que o reclamante recebeu pagamentos efetuados pela 3ª reclamada, via Pix, nos valores de R$1.906,00 em 05/08/2022 (fls. 71 do PDF), R$1.514,00 em 08/09/2022 (fls. 69 do PDF), R$1.514,00 em 07/10/2022 (fls. 74 do PDF) e R$784,00 em 20/10/2022 (fls. 72 do PDF). Nos extratos bancários anexados, verifico que a 3ª reclamada depositou para o reclamante no dia 18/01/2023 o valor de R$784,00 (fls. 49 do PDF) e no dia 07/02/2023 o valor de R$2.024,00 (fls. 51 do PDF). Observe-se que o valor R$784,00 consta no extrato nos dias 22/02, 17/03, 20/04, 19/05 e 20/06/2023 (ID. eff225b até 32c469d). Referido valor, também recebido antes da assinatura da CTPS do reclamante, como acima demonstrado, é condizente com os valores descritos como adiantamento de salários nos recibos de pagamento anexados aos autos pela reclamada (ID. 735b242 até da0389e). Em audiência, o reclamante afirmou que entrou em julho de 2022 na Bella Vista. O preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª reclamada reconheceu a prestação de serviços pelo autor, ainda que esporádica, ao afirmar, em síntese, que o autor iniciou em 20.02.2023; indagado sobre pagamentos em período anterior, disse que era serviço esporádico, com pagamento por dia. A testemunha indicada pelo reclamante, que trabalhou para as 3 primeiras empresas a partir de 02/02/2022 até novembro de 2023 afirmou, em suma, que teve sua CTPS anotada pela 1ª ré ao ingressar na empresa; que o autor iniciou em julho de 2022, ao que acredita. Destarte, o conjunto probatório dos autos indica a prestação de serviços do reclamante para a parte reclamada antes de 01/02/2023. Considerando que a correta anotação da CTPS é direito irrenunciável do empregado, porquanto amparado em norma de ordem pública, reconheço o início da prestação de serviços do reclamante para a reclamada em 07/07/2022. Via de consequência, condeno a reclamada, após o trânsito em julgado desta sentença, a retificar a CTPS obreira, para fazer constar a real data de admissão em 07/07/2022, e data da saída em 02/08/2023 (considerando a projeção do aviso prévio) no prazo de 05 (cinco) dias após intimação específica para este fim, sob pena de multa diária de R$100,00, limitada a R$1.000,00 (art. 536, §1º, do CPC), reversível à parte reclamante. Permanecendo inerte a reclamada, deverá a Secretaria proceder supletivamente à retificação da CTPS da parte reclamante, na forma do art. 39, §1º da CLT, sem que se faça qualquer alusão ao presente feito judicial, certificando a providência em apartado, e sem prejuízo da multa arbitrada. FGTS A parte reclamante alega não ter recebido seu FGTS, tampouco a multa rescisória. A parte reclamada contesta a pretensão, anexando aos autos extrato de FGTS, o qual afirma demonstrar a integralidade do recolhimento dos depósitos de FGTS. De fato, verifico no extrato de FGTS anexado pela parte reclamada (ID. 7a9d614), os depósitos rescisório e a multa rescisória em atraso. Razão pela qual, improcede o pedido de pagamento do FGTS e da multa de 40% do FGTS. Indefiro o requerimento de expedição de chave de conectividade e de guias CD/SD, porquanto já foram expedidos os alvarás FGTS e ofício Seguro Desemprego nos autos arquivados nº 0011329-27.2023.5.03.0185, conforme decisão de ID. 00e7c95. Multa do art. 477, §8º, da CLT O reclamante afirma que a reclamada o dispensou sem justa causa em 03/07/2023, não quitando a integralidade de suas verbas rescisórias dentro do prazo previsto no art. 477 da CLT. Que, “após o vencimento do prazo previsto no art. 477 da CLT, a Ré, reconhecendo o período laborado sem anotação da CTPS 07/07/2022 à 03/07/2023, mas sem apresentar ao autor o TRCT complementar depositou ao autor o importe de R$1.687,77 (21/07/2023), relativos às diferenças de 13º proporcional (1/12) e férias mais 1/3 (07/12)”. A reclamada impugna a pretensão, argumentando que “o acerto Obreiro foi feito a tempo e modo corretos, inclusive no que tange à entrega das guias, conforme documentação anexa”. Entretanto, ao analisar os documentos anexados com a defesa, não encontro provas da quitação das obrigações rescisórias, como afirmado pela reclamada, no prazo estabelecido no §6º do artigo 477 da CLT. Ao contrário, como acima analisado, o depósito rescisório de FGTS foi realizado em atraso, somente no dia 17/11/2023, conforme o extrato de FGTS anexado pela parte reclamada (ID. 7a9d614). Além disso, o comando do art. 477 da CLT não é apenas para a quitação do acerto rescisório, é também para a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes. Nesse sentido entende este Regional: MULTA PREVISTA NO § 8º DO ART. 477 DA CLT. RESCISÃO DE CONTRATO DE TRABALHO. ATO COMPLEXO. A Lei 13.467/17 positivou o entendimento jurisprudencial no sentido de que a rescisão do contrato de trabalho categoriza-se como ato complexo, que se aperfeiçoa não só com a quitação das parcelas rescisórias, mas também com a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes, que habilitam o trabalhador a requerer o saque do FGTS, multa de 40% e o seguro desemprego. Com efeito, o art. 477 da CLT, com a redação conferida pela Lei n. 13.467/2017, dispõe que o acerto rescisório deve ser realizado no prazo e na forma estabelecidos no caput do referido dispositivo. O § 6º do mencionado artigo fixa o prazo de dez dias para o pagamento do acerto rescisório e também para a entrega dos documentos que comprovem a comunicação da extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes. Assim, a infração ao prazo fixado no § 6º na norma referida enseja aplicação da multa prevista no § 8º do art. 477 da CLT. Comprovado nos autos o atraso na entrega dos documentos rescisórios, é de se manter a multa deferida na sentença. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010167-09.2022.5.03.0063 (ROT); Disponibilização: 23/11/2022, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 803; Órgão Julgador: Segunda Turma; Relator: Maristela Iris S.Malheiros) Ante a ausência de comprovação de quitação das verbas e entrega de documentos rescisórios no prazo legal, condeno a parte reclamada ao pagamento da multa prevista no §8º do art. 477 da CLT, no valor de um salário da parte reclamante. Não há pedido de pagamento de verbas referentes ao período anterior ao anotado na CTPS. .REAJUSTE SALARIAL O reclamante alega que a empregadora não efetuou o reajuste salarial nos termos previstos na cláusula 4ª da CCT 2023. Por sua vez, as reclamadas afirmam que o autor recebeu o reajuste “quando de seu acerto rescisório, tendo em vista que a homologação da CCT ocorreu apenas em 28.06.2023”. Examino. A cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (ID. 000457a - fls. 149/150 do PDF) prevê: “CLÁUSULA QUARTA - ÍNDICE DE REAJUSTE As empresas concederão aos seus empregados da correspondente categoria profissional, a partir de primeiro de MAIO de 2023, reajuste salarial de 6,00% (seis por cento) incidente sobre o salário de abril de 2023, compensando-se todos os aumentos e antecipações concedidos espontaneamente ou através de acordos, dissídios, adendos e os decorrentes de Leis. (...) Parágrafo segundo - O salário base para aplicação de índice de reajuste para o próximo instrumento coletivo será o do mês de MAIO de 2023. Parágrafo terceiro - As diferenças salariais dos meses de maio e junho de 2023 poderão ser quitadas até a folha de pagamento do mês de julho de 2023.” Verifico nos recibos de pagamento anexados aos autos pela reclamada (ID. 735b242 até da0389e) que o reclamante recebeu a título de salário efetivo, de janeiro a junho de 2023, o valor de R$1.960,00. Não há, nesses documentos, registro de aumento de salário, tampouco, a parte reclamada trouxe aos autos prova do alegado pagamento do reajuste quando de seu acerto rescisório, ônus que lhe competia. Por essa razão, condeno a parte reclamada ao pagamento de diferenças salariais decorrentes da falta de aplicação do reajuste previsto na cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (6,00% incidente sobre o salário de abril de 2023 a partir de maio de 2023), com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%. Não há reflexos sobre RSR, pois a parcela é mensal e compreende os repousos. Indefiro reflexos em adicional de periculosidade e em acúmulo de função, pedidos julgados improcedentes. .JORNADA DE TRABALHO O reclamante narra em sua inicial que: “foi contratado para laborar por 44h semanais, de segunda à sábado, no entanto, no início a empresa exigia que o mesmo (sic) chegasse às 7h e saísse às 17h, com uma hora de almoço, e aos sábados das 07h às 12h30 sem intervalo. A partir de agosto de 2022, passou a iniciar a jornada às 07h30 e encerrava às 17h, e aos sábados encerra às 12h30. A partir de fevereiro de 2023 até o seu desligamento além da jornada semanal estendida, passou a laborar aos sábados até as 16h com uma hora de almoço, e a laborar em 3 domingos por mês das 07h30 às 12h”. Em sua defesa, a parte reclamada sustenta que “o Reclamante laborou em jornada das 08:00 às 17:00, de segunda a sexta, e das 08:00 às 12:00 aos sábados, sempre com 1:00 de intervalo e uma folga semanal aos domingos. Vale ressaltar que, no período de labor do Reclamante, a Reclamada possuía menos de 20 empregados, pelo que não há obrigação legal de adoção de cartões de ponto, nos termos do art. 74, § 2º da CLT”. A parte reclamada não apresentou qualquer comprovação de que tivesse menos de 20 empregados, por exemplo a “relação de trabalhadores - SEFIP”, ou o “Relatório de envio dos eventos do eSocial”. O reclamante trouxe aos autos, com a inicial, alguns registros de jornada (ID. 4043db3). Em audiência, o reclamante afirmou que na reclamada havia uns 50 empregados; que laborava de 7h às 17h/17h30. O preposto da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª rés afirmou que as empresas possuíam 18 empregados, se não se engana; havia 12 caminhões; havia 10 motoristas; o autor laborava de 8h às 17h de 2ª a 6ª e sábado de 8h às 12h; não havia folha de ponto; domingo não abria. A testemunha indicada pela parte autora afirmou, em suma, que iniciava o serviço 7h; encerrava 17h; os domingos eram alternados de 7h às 12h; sábado era de 7h às 16h30; fazia intervalo de 1 hora; o autor pegava serviço às 7h e largava às 17h, assim como a testemunha, incluindo sábados e domingos; o intervalo era semelhante; havia folha de ponto em nome da Bella Vista, se não se engana; a folha de ponto era a de fls 36 e seguintes; havia uns 60 empregados; não havia folga compensatória. A prova produzida em audiência infirma a narrativa da parte reclamada de possuir menos de 20 empregados. Ante a ausência de juntada de cartões de ponto, prevalece a jornada informada pela parte reclamante, salvo prova em sentido contrário (Súmula 338 do TST). Pelo critério da razoabilidade, fixo a jornada cumprida pela parte reclamante ao longo do contrato de trabalho, para fins de liquidação, como sendo de 2ª a 6ª feira de 07h30 às 17h, com 1 hora de intervalo, e sábado de 07h30 às 12h30 sem intervalo, e 2 domingos por mês de 07h30 às 12h. Com base nessa jornada, condeno a reclamada a pagar como extra as horas excedentes à 8ª diária ou 44ª semanal, com adicional legal, observando-se o divisor 220, a Súmula nº 264 do TST, a jornada fixada e a frequência integral, com reflexos, nos limites do pedido, em férias + 1/3, 13º salários e FGTS + 40%. Condeno a parte reclamada ao pagamento das horas laboradas em domingos com adicional de 100%. Ante a habitualidade, há reflexos em RSR, férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%. Indefiro reflexos em adicional de periculosidade, pedido julgado improcedente em tópico anterior. .PPR Aduz o autor que “a Reclamada não pagou para ao Reclamante o valor correspondente ao PPR que lhe é devido previstos nas CCTs de 2022 e 2023 em desacordo com a cláusula 11ª das CCTs, o autor faz jus à PPR no valor de R$500,00 (quinhentos reais) para 2022 e R$530,00 (quinhentos reais) para 2023”. A parte reclamada se defende, afirmando que “quando fez jus, o Reclamante recebeu o pagamento, nos termos da documentação anexa”. Entretanto, a reclamada não trouxe provas do pagamento da PPR, sendo que não há, nem nos recibos de pagamento (ID. 735b242 até da0389e), nem no TRCT (ID. b48da54), nem em outro documento no processo, qualquer pagamento sob a rubrica Programa de Participação nos Resultados - PPR ou PLR. Pelo exposto, condeno a parte reclamada ao pagamento proporcional da PLR de 6/12 de 2022 e 6/12 de 2023 com base nos valores que constam das CCTs - cláusula DÉCIMA PRIMEIRA (fls. 139 e 152). .AJUDA ALIMENTAÇÃO Afirma o autor que “a Reclamada em desacordo com a CCT da categoria, não fornecia ajuda alimentação, nos valores previstos em Convenção Coletiva, quitando ao mesmo (sic) uma média de R$10,00 por dia laborado, conforme contracheques juntados com a presente peça, fazendo jus às diferenças”. A reclamada afirma que o reclamante recebeu o correto valor de auxílio alimentação. A parte reclamada pagou ao reclamante valores que variaram de R$260,00 a R$351,00 por mês a título de refeição, conforme consta nos recibos de pagamento. A CCT da categoria prevê o valor de R$22,00, a partir de primeiro de JUNHO de 2022 (fls. 139), e R$25,00 a partir de primeiro de JUNHO de 2023 (fls. 153), por dia de efetivo trabalho. Em cumprimento à norma coletiva, condeno a parte reclamada ao pagamento de diferenças de ajuda alimentação com base nos valores que constam das CCTs - cláusula 12 (fls. 139 e 153), por dia efetivamente trabalhado, conforme se apurar em liquidação. Autorizo a dedução dos valores recebidos, desde que comprovados nos autos. A parcela é indenizatória e não gera reflexos. .LANCHE O reclamante requer uma indenização relativa ao não fornecimento de lanche quando da realização de mais de 2 horas extras por dia, o que acontecia em todos os sábados e domingos laborados. A reclamada afirma que o Reclamante não realizava horas extras além de 2:00 diárias, nega trabalho aos domingos, pelo que não fazia jus à concessão de lanche. A norma coletiva da categoria, exemplo da CCT 2022/2023, prevê (ID. 0d386ea - fls. 139/140 do PDF); "GRATIFICAÇÕES, ADICIONAIS, AUXÍLIOS E OUTROS ADICIONAL DE HORA-EXTRA CLÁUSULA DÉCIMA - ADICIONAL DE HORAS EXTRAS A remuneração do serviço extraordinário será acrescida de 50,0% (cinquenta por cento) sobre a hora normal, conforme determina a CLT. Parágrafo primeiro – Quando o empregado trabalhar mais de 2 (duas) horas extras por dia, nos casos de força maior, a empresa lhe assegurará um lanche gratuito composto de, no mínimo, pão com manteiga e café com leite. A jornada de trabalho dos motoristas é a regida pela Lei nº 13.103/15. Parágrafo segundo - Em decorrência da atividade própria." Conforme decidido em tópico pretérito, o reclamante trabalhou em sobrejornada. Assim, conforme se apurar em liquidação, comprovado o trabalho superior a 2 (duas) horas extras por dia, o reclamante fará jus ao pagamento de lanche, o qual arbitro em R$3,00, por dia - cláusula 10 da CCT (fls. 139 e 152). A parcela é indenizatória e não gera reflexos. .MULTAS CONVENCIONAIS A parte reclamante pretende receber multas convencionais pela violação das normas coletivas. Evidenciado o descumprimento dos normativos da categoria que que constam dos tópicos anteriores, julgo procedente o pedido de multa convencional prevista nas CCTs apresentadas nos autos (v.g., cláusula 35ª da CCT 2022/2023 - fls. 146 e 2023/2024 - cláusula 37ª - fls. 168), em favor do reclamante, nos valores ali estabelecidos, sendo uma multa para cada convenção coletiva. .RESPONSABILIDADE DAS 1ª, 2ª , 3ª e 4ª RECLAMADAS O autor afirma que as “primeira, segunda e terceira reclamadas se apresentam como grupo econômico perante o mercado, exercendo atividades idênticas (Transporte rodoviário de carga, exceto produtos perigosos e mudanças, intermunicipal, interestadual e Internacional), havendo ingerência entre elas". As 1ª, 2ª e 3ª reclamadas afirmam que são empresas absolutamente distintas, inexistindo identidade de sócios ou relação de coordenação entre elas; que o 4º Reclamado é tão somente sócio de uma das Reclamadas. Analiso. A 1ª reclamada, em sua defesa, afirma que contratou e dispensou o reclamante. A referida ré consta como empregadora na CTPS (ID. 81fafc9), no TRCT (ID. 9067163/b48da54) e nos recibos de pagamento do reclamante (ID. 735b242 até da0389e). Nos extratos bancários anexados com a petição inicial (ID.eff225b até 92b0be5) constam transferências via PIX, realizadas pela a 3ª ré, para a conta bancária do reclamante, as quais, a exemplo do “PIX RECEBIDO” em 06/04/2023 no valor de R$1.521,13 (fls. 59 do PDF), corresponde à remuneração líquida descrita no recibo de pagamento do mês de março de 2023 (fls. 279 do PDF). Os 1º, 2º, 3º e 4º réus constituíram a mesma advogada, que os acompanhou em audiência, além disso, apresentaram defesa conjunta. As 1ª, 2ª e a 3ª reclamadas foram representadas, em audiência, pelo preposto Luiz Carlos Damas Júnior (ID. 8f93764 e 8195cba). Ainda, a ré MINERVAL tem sede e domicílio na RODOVIA 381 KM 429, SN, ZONA RURAL, município CAETÉ - MINAS GERAIS, filial no GALPÃO 03, do mesmo endereço (ID. 90361d6). As rés TRANSLITY e Bella Vista possuíam também o mesmo endereço, Galpão 04 e 01, respectivamente, passando depois para o endereço na Rua Edna Brandão Ferreira, 163,Letra B, (TRANSLITY) e nº 163 (Bella Vista), Bairro: Santa Amélia, CEP: 31.555-230, Belo Horizonte / MG (ID. 5305f03; ID. c422ce3). O Sr. Luiz Carlos Damas, 4º réu, consta como sócio da TRANSLITY (ID. 5305f03) e da BELLA VISTA (ID. c422ce3). Observo que, as reclamadas BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMÉRCIO LTDA.- ME E TRANSLITY ATACADISTA E LOGÍSTICA LTDA.-ME, requereram o benefício da recuperação judicial, conforme PROCESSO Nº: 5229946-33.2023.8.13.0024 (ID. fcad572), em tramitação no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerias - TJMG. Observo que, em decisão de apelação Nº 1.0000.23.273874-0/005, o perito daquele Juízo, “no laudo de constatação prévia (doc. de ordem 244), apontou que há indícios de existência de grupo econômico composto pelas apelantes e pela MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA., terceira que não integra o polo ativo da ação, ante a existência de confusão patrimonial, consubstanciada na utilização comum de conta bancária, de titularidade da terceira, para recebimento de valores e pagamento de débitos, bem como no compartilhamento da infraestrutura física e de pessoal das empresas”, indicando “evidências de uma possível confusão patrimonial das apelantes com a MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA” ( fls. 560 do PDF - negritos acrescidos). Desse modo, reconheço a existência de grupo econômico entre 1ª, 2ª e 3ª as reclamadas, razão pela qual deverão responder solidariamente pelo pagamento de eventuais créditos reconhecidos ao reclamante, nos termos do art. 2º, §2º, da CLT. Entendo ser possível responsabilizar o 4º réu, inclusive no intuito de se garantir a efetividade de eventual execução, ante o princípio da celeridade. Nesse sentido, é o entendimento jurisprudencial deste Regional: RESPONSABILIDADE DO SÓCIO. INCLUSÃO AO POLO PASSIVO. A inclusão do sócio ao polo passivo da demanda, na fase de conhecimento, representa medida de celeridade que pretende ampliar as garantias dos créditos oriundos da ação trabalhista. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0010534-54.2016.5.03.0027 (RO); Disponibilização: 21/11/2018, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 1135; Órgão Julgador: Quinta Turma; Relator: Manoel Barbosa da Silva). Ademais, considerando que o sócio se beneficiou da prestação de serviços do obreiro, deve o mesmo ser responsabilizado, de forma subsidiária. .RESPONSABILIDADE DA 5ª RECLAMADA O reclamante requer responsabilidade subsidiária da 5ª reclamada, alegando ser esta a destinatária final da prestação de seus serviços. A 5ª reclamada, por sua vez, contesta o pedido, argumentando que “em ocasiões pontuais e isoladas, quando surge a necessidade premente em decorrência de aumento de demanda, mantém com a segunda reclamada, contrato para coleta de cargas, monitoramento e deslocamento da carga ao destinatário final, coordenar o processo de separação, empacotamento e identificação da mercadoria, enfim, atividades específica de transporte de mercadorias”. Anexa contrato firmado com a 2ª reclamada, Bella Vista Transportadora, para a prestação de serviços de transporte de cargas (fls. 296/298). Em audiência o reclamante afirmou, em síntese, que prestava serviço para Rodoanel, pois os caminhões que abastecia tinham a logo dela; eram abastecidos outros caminhões de outras empresas também; também fez manutenção e lavagem; não via ninguém da Rodoanel no local de trabalho; não conhece ninguém da Rodoanel; não tinha contato com ninguém de lá. O preposto da 5ª ré afirmou, resumidamente, que a empresa teve contrato com a Bella Vista em 2022 se não se engana; eram serviços de transporte; foi por pouco tempo; acha que foram 2 meses. A testemunha da parte autora afirmou, em suma, que havia caminhões da Rodoanel lá; não conhece de perto ninguém da Rodoanel; lá era um ponto de apoio; havia outra empresa também. O C.TST entende que “o contrato de transporte de cargas possui natureza comercial, e não de prestação de serviços. Desse modo, diante da ausência de terceirização, a sociedade empresária contratante não pode ser responsabilizada subsidiariamente pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas da sociedade empresária transportadora”, como decidido, por exemplo no Ag-E-ED-Ag-RRAg-1000255-58.2019.5.02.0271, de relatoria do Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, em 17/02/2023. Julgo improcedentes todos os pedidos em relação à 5ª reclamada. .COMPENSAÇÃO/DEDUÇÃO Não foram apontados valores nem rubricas suscetíveis de compensação com os ora reconhecidos, ficando autorizada apenas a dedução de valores porventura pagos sob idênticas rubricas e fundamentos, conforme se apurar em liquidação. .JUSTIÇA GRATUITA Diante da declaração de insuficiência de recursos e do requerimento expresso constante da inicial, e não havendo provas na impugnação em sentido contrário (art. 1º da Lei nº 7.115/83), defiro à parte reclamante os benefícios da justiça gratuita, à luz do art. 790, §3º da CLT. .HONORÁRIOS PERICIAIS Considerada a complexidade da perícia de insalubridade, o relevante serviço prestado, o tempo gasto e as despesas inerentes aos trabalhos realizados, arbitro em favor do Sr. FELIPE GUIMARAES DE SOUZA, signatário do laudo oficial, honorários periciais no valor de R$1.000,00 (um mil reais), pela parte reclamante, sucumbente na pretensão objeto da perícia. Lado outro, concedidos os benefícios da justiça gratuita à parte reclamante, os honorários periciais serão pagos nos termos da Resolução 247/2019 do CSJT. Deverá a Secretaria da Vara, após o trânsito em julgado desta decisão expedir requisição de pagamento dos honorários periciais ao Excelentíssimo Sr. Presidente do e. TRT da 3ª. Região, na forma da Resolução nº 247/2019 do CSJT. .HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA São devidos honorários de sucumbência recíproca, cujo montante arbitro: (1) em 05% do valor dos créditos devidos à parte reclamante, a serem pagos pela parte reclamada aos advogados da reclamante, conforme se apurar em liquidação; e (2) em 05% do proveito econômico que seria obtido com os pleitos julgados improcedentes, a serem pagos pela parte reclamante aos advogados da parte reclamada. Entretanto, no julgamento da ADI 5766, o C. STF declarou a inconstitucionalidade do §4º do art. 791-A da CLT. Assim sendo, tratando-se de decisão vinculante e de aplicação imediata, não há falar em honorários sucumbenciais devidos pela parte reclamante, enquanto esta for beneficiária da Justiça Gratuita. Assim sendo, tratando-se de decisão vinculante e de aplicação imediata, os honorários advocatícios sucumbenciais devidos pela parte reclamante, beneficiária da justiça gratuita, permanecerão sob condição suspensiva de exigibilidade até que, observado o prazo de dois anos, os procurados da parte ré demonstrem que deixou de existir a situação de miserabilidade jurídica que justificou a concessão dos benefícios da justiça gratuita. .PARÂMETROS DE LIQUIDAÇÃO Liquidação por simples cálculos. Para fins do §3º do art. 832 da CLT a natureza das parcelas seguirá o disposto no art. 28, §9º, Lei 8.212/91. Determino e autorizo os descontos fiscais (quotas patronal e obreira), na forma da IN RFB nº 1.500/14, alterada pela IN RFB 1.558/15, observando-se no que couber a Súmula nº 368 e OJ nº 363 da SDI-1, ambas do TST. Determino e autorizo os descontos previdenciários (quotas patronal e obreira), na forma do art. 28 da Lei nº 8.212/91, observando-se no que couber a Súmula 368 e OJ 363 da SDI-1, ambas do TST. Juros e correção monetária na forma da decisão do STF no julgamento da ADC nº 58, observadas as alterações promovidas pela Lei n. 14.905/2024 ao Código Civil (artigo 389, parágrafo único, e artigo 406, §1º, §2º e §3º, ambos do do Código Civil): fase pré-judicial, correção monetária pelo IPCA-E, cumulado com juros de mora pela TRD e, fase judicial, apenas a taxa SELIC simples até 30/08/2024 e, a partir de 31/08/2024, correção monetária pelo IPCA-E, cumulado com juros de mora pela SELIC, deduzido desta o IPCA-E. As Contribuições Previdenciárias serão atualizadas por regras próprias, consoante parágrafo 4º do art. 879 da CLT e art. 35, 43, parágrafo 3º, da Lei n. 8.212/91 e art. 61 da Lei 9430/1996. Não há incidência de imposto de renda sobre os juros de mora. .OFÍCIOS Indefiro o pedido de expedição de ofícios, visto que desnecessário neste momento processual. III – DISPOSITIVO Pelo exposto, neste processo trabalhista proposto por por DIONE FERREIRA DOS SANTOS contra RÉU: MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA, BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMERCIO EIRELI, TRANSLITY ATACADISTA E LOGISTICA LTDA, LUIZ CARLOS DAMAS, RODOANEL TRANSPORTES E LOGISTICA LTDA, nos termos e limites da fundamentação, que passam a integrar o presente dispositivo como se nele estivessem transcritos, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados para declarar que a admissão do reclamante ocorreu em 07/07/2022, o contrato foi rescindido sem justa causa em 03/07/2023, e para condenar a 1ª, 2ª e 3ª reclamada, solidariamente, e o 4º reclamado, subsidiariamente, a pagar à parte reclamante as seguintes parcelas, nos limites do pedido: diferenças salariais decorrentes da falta de aplicação do reajuste previsto na cláusula 4ª da CCT 2023/2024 (6,00% incidente sobre o salário de abril de 2023 a partir de maio de 2023), com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário, aviso prévio e FGTS mais 40%.horas excedentes à 8ª diária ou 44ª semanal, com reflexos;horas laboradas em domingos com adicional de 100%, com reflexos;pagamento proporcional da PPR de 6/12 de 2022 e 6/12 de 2023;diferenças de ajuda alimentação;lanche;multas convencionais;multa do art. 477, §8º, CLT. Após o trânsito em julgado desta sentença, a 1ª reclamada deverá retificar a CTPS obreira, para fazer constar a real data de admissão em 07/07/2022, e data da saída em 02/08/2023 (considerando a projeção do aviso prévio) no prazo de 05 (cinco) dias após intimação específica para este fim, sob pena de multa diária de R$100,00, limitada a R$1.000,00 (art. 536, §1º, do CPC), reversível à parte reclamante. Permanecendo inerte a reclamada, deverá a Secretaria proceder supletivamente à retificação da CTPS da reclamante, na forma do art. 39, §1º da CLT, sem que se faça qualquer alusão ao presente feito judicial, certificando a providência em apartado, e sem prejuízo da multa arbitrada. Julgo improcedentes todos os pedidos em relação à 5ª reclamada. Defiro os benefícios da justiça gratuita à parte reclamante. Honorários de sucumbência e honorários periciais, conforme fundamentação. Observem-se os parâmetros de liquidação especificados na fundamentação. Custas pela parte reclamada, no valor de R$600,00, calculadas sobre o valor provisoriamente arbitrado à condenação de R$30.000,00. Intimem-se as partes. Recomendo às partes atentarem para os limites impostos pelos art. 897-A da CLT e 1.022 do CPC no intuito de evitarem a aplicação do § 2º do art. 1.026 do CPC. Transitada em julgado, CUMPRA-SE. Nada mais. BELO HORIZONTE/MG, 16 de julho de 2025. WASHINGTON TIMOTEO TEIXEIRA NETO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - TRANSLITY ATACADISTA E LOGISTICA LTDA - LUIZ CARLOS DAMAS - MINERVAL MERCANTIL DISTRIBUIDORA E TRANSPORTADORA LTDA - BELLA VISTA TRANSPORTADORA E COMERCIO EIRELI - RODOANEL TRANSPORTES E LOGISTICA LTDA

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Edgar Montanaro Negrini e outros x Agilmed Remocoes E Emergencias Medicas Ltda e outros

ID: 280543013

Tribunal: TRT2 Órgão: 24ª Vara do Trabalho de São Paulo Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1000181-56.2025.5.02.0024

Data de Disponibilização: 27/05/2025

Polo Ativo:

EDGAR MONTANARO NEGRINI ITAU UNIBANCO S.A. RICARDO GUIMARAES DE PAULA

Polo Passivo:

AGILMED REMOCOES E EMERGENCIAS MEDICAS LTDA COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO INOVE ADMINISTRACAO GESTAO E PARTICIPACOES EM SERVICOS MEDICOS LTDA MS BRASIL SERVICOS DE EMERGENCIAS MEDICAS LTDA - EPP SANTOS FUTEBOL CLUBE SERVICO SOCIAL DO COMERCIO - SESC - ADMINISTRACAO REGIONAL NO ESTADO DE SAO PAULO

Notificação

Advogados:

REGINA APARECIDA VEGA SEVILHA

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ALESSANDRA APARECIDA ARAUJO SILVA

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LEANDRO GODINES DO AMARAL

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LUCIANA YURIE MATSUMOTO

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MARCELO AUGUSTO PIMENTA

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MARCO ANTONIO TOMEI

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LEANDRO PARRAS ABBUD

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000181-56.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: EDGAR MONTANARO NEGRINI RECLAMADO: … PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 24ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO ATOrd 1000181-56.2025.5.02.0024 RECLAMANTE: EDGAR MONTANARO NEGRINI RECLAMADO: MS BRASIL SERVICOS DE EMERGENCIAS MEDICAS LTDA - EPP E OUTROS (5) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID de7f5b3 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: I. RELATÓRIO Trata-se de Reclamação Trabalhista proposta por EDGAR MONTANARO NEGRINI em face de MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGENCIAS MÉDICAS LTDA E OUTROS. De acordo com o que se depreende da peça inicial, a parte autora pretende o reconhecimento de grupo econômico, vínculo empregatício e pagamento de adicional de insalubridade, dentre outros. A parte demandante postula os títulos discriminados na petição inicial, atribuindo ao feito o valor de R$ 159.033,80. Inconciliados. A parte reclamada, em defesa, irresigna-se contra todos os fatos e argumentos narrados na peça inicial, pugnando pela declaração de improcedência do pedido. Por ocasião da audiência de instrução, o autor e as 1ª a 3ª rés prestaram depoimentos pessoais. Réplica no id. a3d5144. Razões finais no id. cacf84f. Sem outras provas, encerra-se a instrução processual. Malograda a última proposta conciliatória. É o relatório. II- FUNDAMENTAÇÃO RECUPERAÇÃO JUDICIAL - PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO TRABALHISTA Conforme informado pela 2ª reclamada (INOVE) em sua contestação, tramita perante 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, sob o nº 1117032-63.2024.8.26.0100 processo de recuperação judicial em que figura como parte. A reclamada sustenta que o autor deveria pleitear perante o Administrador Judicial sua inscrição no quadro geral de credores, conforme previsto na Lei nº 11.101/2005, requerendo a suspensão da presente ação. Entretanto, o artigo 6º da Lei nº 11.101/2005 estabelece que, embora a decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspenda o curso da prescrição e das ações contra o devedor, o § 1º do mesmo dispositivo ressalva expressamente as ações que demandem quantia ilíquida, permitindo seu regular prosseguimento. No caso específico das reclamações trabalhistas, o § 2º do referido artigo determina que estas prosseguirão no juízo trabalhista até a apuração do respectivo crédito, que posteriormente será inscrito no quadro geral de credores pelo valor determinado em sentença. Assim, a situação de recuperação judicial da reclamada não constitui impedimento ao regular prosseguimento desta ação na fase de conhecimento. A habilitação dos valores eventualmente deferidos junto ao juízo da recuperação judicial será determinada oportunamente após o trânsito em julgado da decisão, sendo prematura sua análise no presente momento processual. Reconheço, contudo, que a empresa em recuperação judicial é isenta do depósito recursal, conforme expressamente previsto no art. 899, § 10, da CLT, que estabelece: "São isentos do depósito recursal os beneficiários da justiça gratuita, as entidades filantrópicas e as empresas em recuperação judicial. ADOÇÃO DO JUÍZO 100 % DIGITAL O juízo 100% digital, estabelecido pela Resolução nº 345/2020 do CNJ, consiste em sistema que permite que todos os atos processuais, como as audiências e as sessões de julgamento, sejam praticados exclusivamente por meio eletrônico. O objetivo é que o cidadão possa ter acesso à justiça, mesmo sem comparecer fisicamente aos fóruns. No entanto, o modelo não é obrigatório, sendo de escolha facultativa da parte demandante no momento da distribuição da ação. Por outro lado, a parte demandada pode opor-se a essa opção em até 05 dias úteis contados do recebimento da primeira notificação. (Art. 3º, §1º, da Resolução nº 345/2020 do CNJ, e 7º do Ato GP 20/2021 do TRT da 2ª Região). Considerando que as partes foram citadas para comparecimento presencial à audiência rejeito a preliminar. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL O Processo do Trabalho é regido pelos princípios da simplicidade e oralidade, com requisitos simples para a petição inicial (art. 840, § 1º, da CLT). A petição inicial atende aos requisitos do art. 840, § 1º, da CLT, e não houve prejuízo à defesa. Eventual ausência de direito será analisado no mérito da sentença. (arts. 794 e 796 da CLT). Rejeito. ILEGITIMIDADE PASSIVA A ilegitimidade deve ser analisada em consonância com a teoria da asserção, segundo a qual, apontadas as reclamadas como devedoras, resta satisfeita a pertinência subjetiva da lide. Em outras palavras, se houver o mínimo de logicidade e coerência na imputação dos fatos à parte contrária, ainda que de forma abstrata, considera-se legítima a sua inclusão no polo passivo da ação. No caso, presente a pertinência subjetiva, já que a parte autora aponta as rés como devedoras subsidiárias de créditos trabalhistas inadimplidos pela primeira. Pelo exposto, rejeito a preliminar. DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL Rejeita-se a prejudicial de mérito de prescrição quinquenal arguida, nos termos do art. 7º, XXIX da CF/88, uma vez que o contrato de trabalho da parte autora teve início em 30/08/2024 e a presente reclamação foi ajuizada em 07/02/2025. DA TUTELA DE URGÊNCIA – INFORMAÇÕES BANCÁRIAS Concedida a tutela de urgência por meio da r. decisão de 10 de fevereiro de 2025 (ID. 5aea4eb). Presentes os requisitos do artigo 300 do Código de Processo Civil, confirmo a tutela de urgência pleiteada, que determinou a expedição de ofício ao Banco Itaú para fornecimento de informações, pelos fundamentos já constantes na decisão que a deferiu. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO O Reclamante postula o reconhecimento do vínculo empregatício com a 1ª Reclamada, MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP, no período de 30/08/2024 a 13/10/2024, na função de motorista socorrista, alegando que, apesar de presentes os requisitos da relação de emprego, não teve sua CTPS anotada. As 1ª, 2ª e 3ª Reclamadas, em defesa conjunta apresentada por sua preposta em audiência, negam o vínculo empregatício, sustentando que o Reclamante atuava como "free lancer", recebendo por plantão na escala 12x36. Analiso. Para a configuração do vínculo de emprego, faz-se necessária a presença concomitante dos requisitos previstos nos artigos 2º e 3º da CLT, quais sejam: pessoalidade na prestação de serviços, não eventualidade, onerosidade e subordinação jurídica. Em depoimento pessoal, a preposta das 1ª, 2ª e 3ª Reclamadas, Sra. Auxiliadora Roberta Silva Simões, declarou "1.que o reclamante foi contratado pela primeira ré" e "8.que o autor prestou serviços de final de agosto de 2024 até a primeira semana de outubro de 2024". Tais afirmações configuram confissão real quanto à contratação e à prestação de serviços no período alegado, ainda que a Ré tente qualificar a relação como de "free lancer". A alegação de trabalho autônomo ("free lancer") pela Reclamada atrai para si o ônus de comprovar a ausência dos elementos caracterizadores da relação de emprego, especialmente a subordinação jurídica, nos termos do artigo 818, II, da CLT, do qual não se desincumbiu. Os documentos juntados com a petição inicial, especificamente o extrato bancário de fl. 210, demonstram pagamentos efetuados pela 2ª Reclamada (INOVE A G P E S MEDIC) ao Reclamante sob as rubricas "PAGTO VALE ALIMENTACAO" (em 16/09/2024 no valor de R$ 260,00; e em 03/10/2024 no valor de R$ 130,00) e "PAGTO EM CONTA CORRENTE" (em 11/10/2024 no valor de R$ 1.800,00). O pagamento de "vale alimentação" é um forte indicativo de relação empregatícia, por ser benefício comumente concedido a empregados e não a prestadores de serviços autônomos. A periodicidade dos pagamentos, ainda que em curto lapso temporal, e a natureza da função (motorista socorrista), que exige inserção dinâmica na atividade empresarial da Reclamada (transporte de pacientes, cumprimento de escalas e diretrizes para atendimento de emergências), evidenciam a onerosidade e a não eventualidade. A pessoalidade é inerente à função de motorista socorrista, não havendo prova de que o Reclamante pudesse se fazer substituir por outrem. A subordinação jurídica se presume pela natureza da atividade e pela própria confissão de "contratação", sendo o motorista socorrista integrado à estrutura e aos fins da empresa de emergências médicas, sujeito a escalas, roteiros e diretrizes. A alegação defensiva de que o Reclamante era "freelancer" e recebia R$ 120,00 por plantão 12x36 não encontra respaldo probatório robusto e contrasta com os pagamentos efetuados pela 2ª Ré, especialmente o vale-alimentação, e com a própria admissão de "contratação". Deste modo, reconheço a presença dos requisitos configuradores da relação de emprego. Pelo exposto, julgo procedente o pedido para declarar a existência de vínculo empregatício entre EDGAR MONTANARO NEGRINI e MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP, no período de 30/08/2024 a 13/10/2024, na função de motorista socorrista, com salário mensal de R$ 2.190,00. Considerando os pagamentos efetuados pela 2ª Reclamada, notadamente o valor de R$ 1.800,00 creditado em 11/10/2024 (ID 8035c02), somado ao valor médio mensal de vale-alimentação de R$ 390,00 (média dos créditos de R$ 260,00 em 16/09/24 e R$ 130,00 em 03/10/24, proporcionalizados), e considerando o curto período de vínculo, arbitra-se o salário mensal em R$ 2.190,00 para fins rescisórios, à míngua de outros elementos mais precisos e diante da controvérsia acerca da remuneração integral alegada pelo autor. Reconhecido o vínculo empregatício com a 1ª Reclamada (MS BRASIL) no período de 30/08/2024 a 13/10/2024 e considerando a ausência de prova de outra modalidade de extinção contratual, presume-se a dispensa imotivada por iniciativa do empregador. São devidas as seguintes verbas, calculadas sobre o salário reconhecido de R$ 2.190,00: a) Saldo de salário de 13 dias do mês de outubro de 2024; b) Aviso prévio indenizado de 30 dias, nos termos do art. 487, §1º, da CLT, e da Lei nº 12.506/2011; c) Férias proporcionais (03/12 avos, considerando a projeção do aviso prévio), acrescidas do terço constitucional; d) 13º salário proporcional de 2024 (03/12 avos, considerando a projeção do aviso prévio); e) Depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) incidentes sobre o saldo de salário, aviso prévio indenizado e 13º salário proporcional, acrescidos da multa de 40%. Reconhecido o vínculo de emprego, a 1ª Reclamada (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP) deverá proceder à anotação da CTPS do Reclamante, fazendo constar: Admissão em 30/08/2024; Demissão em 12/11/2024 (considerando a projeção do aviso prévio indenizado de 30 dias sobre a data de afastamento de 13/10/2024); Função de motorista socorrista; Remuneração de R$ 2.190,00 A obrigação de fazer deve ser cumprida no prazo de 5 (cinco) dias após o trânsito em julgado e a intimação específica para tanto, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais), reversível ao Reclamante, sem prejuízo de que a Secretaria da Vara proceda à anotação (art. 39, §1º, da CLT). A parte reclamada deverá, também, proceder à liberação das guias para saque do FGTS. As obrigações de fazer deverão ser cumpridas no prazo de 5 (cinco) dias após o trânsito em julgado do processo, sob pena de multa diária de R$ 100,00, revertida à parte autora. Atingido o referido prazo sem o cumprimento da obrigação de fazer, deverá a Secretaria da Vara proceder à mencionada anotação, sem prejuízo da multa astreinte, nos termos do art. 39 da CLT e dos arts. 536 e 537 da CLT. Indenização substitutiva ao seguro-desemprego. O seguro-desemprego é um benefício previdenciário temporário, regulado pela Lei nº 7.998/90, destinado a prover assistência financeira ao trabalhador desempregado em virtude de dispensa sem justa causa. Para sua concessão, o trabalhador deve cumprir cumulativamente os requisitos previstos no art. 3º da referida lei, dentre eles a comprovação de vínculo empregatício de pelo menos 12 meses nos últimos 18 meses quando da primeira solicitação. No caso em apreço, considerando que o vínculo empregatício foi reconhecido apenas para o período de 30/08/2024 a 13/10/2024, o reclamante teria trabalhado por menos de 12 meses, deixando de atender ao requisito temporal mínimo para a primeira solicitação do benefício. Ademais, a Súmula 389, II, do TST estabelece que: “A não-concessão do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização se preenchidos os requisitos para a obtenção do benefício”. No caso em tela, o reclamante não comprovou que preenchia todos os requisitos legais para percepção do seguro-desemprego, não havendo, portanto, base legal para o deferimento da indenização substitutiva. Diante do exposto, julgo improcedente o pedido de liberação de guias para seguro-desemprego e indenização substitutiva. JORNADA DE TRABALHO A controvérsia principal reside na jornada efetivamente cumprida pelo Reclamante e na validade dos controles de jornada, ou melhor, na ausência destes. Conforme o art. 74, § 2º, da CLT, e a Súmula nº 338, I, do C. TST, é ônus do empregador com mais de 20 empregados (o que é comum para empresas do porte das Reclamadas que operam frotas de ambulâncias, conforme mencionado no laudo pericial de Ricardo Guimarães de Paula – ID e9bea4b, que descreve uma frota de cerca de cinquenta ambulâncias na sede da Reclamada), a elas incumbia o ônus de registrar e apresentar os controles de jornada. A ausência desses documentos atrai a presunção relativa de veracidade da jornada alegada na inicial, que, neste contexto, é a jornada descrita pelo Reclamante em seu depoimento pessoal, por ser a fonte mais detalhada disponível nos autos fornecidos sobre a jornada reivindicada. A não apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa de veracidade da jornada de trabalho alegada na inicial a qual pode ser elidida por prova em contrário. As Reclamadas não juntaram cartões de ponto. Assim, a presunção relativa milita em favor da jornada descrita pelo Reclamante em relação ao trabalho prestado para elas. O Reclamante, em depoimento pessoal, descreveu a escala de 24x24 com intervalo de 10 minutos para as Reclamadas. A preposta das primeiras Reclamadas apresentou versão de labor em escala 12x36 como "free lancer", com 1 hora de intervalo. Não houve prova testemunhal para dirimir a controvérsia ou afastar a presunção gerada pela ausência dos cartões de ponto. Diante da ausência de cartões de ponto e de prova testemunhal robusta pelas Reclamadas que infirmasse a alegação autoral quanto à jornada prestada a elas, e considerando a presunção da Súmula 338, I, do TST, acolho a jornada informada pelo Reclamante em seu depoimento, limitada ao trabalho para as Reclamadas do processo: Escala 24 horas de trabalho por 24 horas de descanso (24x24). Com 10 minutos de intervalo intrajornada durante os plantões de 24 horas. Período: de 30/08/2024 a 13/10/2024. O regime de 24 horas de trabalho por 24 horas de descanso, por si só, excede o limite diário de 8 horas (art. 58, CLT) e o semanal de 44 horas (art. 7º, XIII, CF). A validade de regimes de jornada estendida, como 12x36, usualmente depende de previsão em lei ou norma coletiva (Súmula 444, TST). Para uma escala ainda mais severa como 24x24, a ausência de norma autorizativa específica e de juntada de cartões de ponto implica o reconhecimento das horas excedentes. Assim, as horas laboradas além da 8ª diária em cada plantão de 24 horas são devidas como extras. Alternativamente, e de forma não cumulativa, são devidas como extras as horas que ultrapassarem a 44ª semanal, aplicando-se o critério mais benéfico. O Reclamante alega que usufruía de apenas 10 minutos de intervalo. Para jornadas superiores a 6 horas, o art. 71 da CLT assegura o direito a um intervalo mínimo de 1 hora. A concessão parcial gera o direito ao pagamento integral do período suprimido (50 minutos, no caso) com acréscimo de 50% (art. 71, § 4º, da CLT). Do Intervalo Interjornada (Art. 66 da CLT): O art. 66 da CLT estabelece que entre duas jornadas de trabalho haverá um período mínimo de 11 (onze) horas consecutivas para descanso. Na escala 24x24, o Reclamante trabalha por 24 horas e descansa por 24 horas. O intervalo entre o término de uma jornada de 24 horas e o início da jornada subsequente é de 24 horas. Como 24 horas é superior às 11 horas mínimas exigidas pelo art. 66 da CLT, conclui-se que o intervalo interjornada era regularmente usufruído. Portanto, é improcedente o pedido de pagamento pela supressão do intervalo interjornada. Adicional Noturno O adicional noturno, conforme o art. 73 da CLT, deve ser remunerado com adicional de 20%, observando-se a hora reduzida noturna de 52’30”, por ficção jurídica. Considerando o labor noturno das 22h às 05h, o autora faz jus ao pagamento do adicional noturno correspondente, equivalente a 20% do valor da hora normal, a incidir, inclusive, sobre as horas prorrogadas após as 05h (art. 73, § 5º da CLT). São devidos os reflexos da parcela em aviso prévio, férias + 1/3, 13º salário e FGTS + 40%. Com base no exposto, na ausência de controles de ponto (Súmula 338, I, TST) e na jornada fixada como prestada para as Reclamadas deste processo: FIXO a jornada de trabalho do Reclamante, para o período de 30/08/2024 a 13/10/2024, em favor das Reclamadas, como sendo em escala 24 horas de trabalho por 24 horas de descanso, com 10 minutos de intervalo intrajornada. DEFIRO o pedido de pagamento de horas extraordinárias, assim consideradas as horas laboradas além da 8ª diária dentro de cada plantão de 24 horas, ou, de forma não cumulativa, as que excederem a 44ª hora semanal (o que for mais benéfico), com adicional de 50% e divisor 220. DEFIRO os reflexos das horas extraordinárias habituais em: Descansos Semanais Remunerados (DSRs); aviso prévio; férias proporcionais + 1/3; 13º salário proporcional; e FGTS + multa de 40%. Observar-se-á a OJ nº 394 da SDI-1 do C. TST. DEFIRO o pagamento do intervalo intrajornada suprimido, correspondente a 50 minutos por plantão de 24 horas efetivamente trabalhado para as Reclamadas, com adicional de 50% sobre o valor da hora normal, conforme art. 71, § 4º, da CLT. Dada a natureza indenizatória da parcela (Lei 13.467/2017), são indevidos reflexos, salvo previsão normativa específica. INDEFIRO o pedido de pagamento pela supressão do intervalo interjornada, pois este era usufruído (24 horas de descanso). DEFIRO o pagamento do adicional noturno de, no mínimo, 20% sobre as horas laboradas entre 22h00 e o término do plantão de 24 horas. Para o cálculo das horas trabalhadas no período noturno, deverá ser observada a hora noturna reduzida de 52 minutos e 30 segundos (art. 73, §1º, da CLT). O adicional noturno, por habitual, deverá gerar reflexos em DSRs, aviso prévio, férias + 1/3, 13º salário e FGTS + multa de 40%. Os cálculos observarão os dias efetivamente trabalhados para as Reclamadas, a evolução salarial (conforme inicial, na ausência de outra prova) e autorizada a dedução de valores comprovadamente pagos a idêntico título (OJ nº 415 da SDI-1 do TST). ADICIONAL DE INSALUBRIDADE A parte autora narra que laborava como condutor de ambulância, com exposição diária e direta a agentes insalubres como produtos químicos, agentes biológicos e doenças infecciosas. Sustenta que, nos termos do Anexo 14 da NR-15 da Portaria 3.214/78 do Ministério do Trabalho, o condutor de ambulância que auxilia no atendimento tem direito ao adicional de insalubridade em grau máximo. Alega que a parte reclamada pagava o referido adicional apenas em grau médio (20%), quando registrado. Requer a condenação da parte ré ao pagamento das diferenças do adicional de insalubridade, com os reflexos legais. Na defesa, a parte reclamada nega os fatos. Por tratar-se de matéria eminentemente técnica, foi determinada a realização de perícia, nos termos do art. 195 da CLT. O laudo pericial (ID. e9bea4b), elaborado pelo perito de confiança do Juízo, tecnicamente habilitado, concluiu que o reclamante NÃO desenvolveu suas atividades em condições de INSALUBRIDADE, conforme as normas vigentes. O expert descreveu detalhadamente as atividades do reclamante como condutor de ambulância: verificação e check list da ambulância, condução até os locais determinados, auxílio aos profissionais de enfermagem ou médicos na movimentação e posicionamento da maca com os pacientes, aguardo durante a entrega dos pacientes, e reabastecimento do veículo. Para fundamentar sua conclusão, o perito constatou que os pacientes transportados pelo reclamante apresentavam em mais de 90% dos casos quadros pós-cirúrgicos, eventos cardiovasculares, hemodiálise, traumas (torções, fraturas, etc.), deficiências de locomoção e idosos em home-care. O atendimento aos pacientes era realizado pelos profissionais de enfermagem ou médicos, não pelo reclamante. Verificou-se ainda que o reclamante referiu ter transportado pacientes com patologias infectocontagiosas somente em 4 oportunidades durante todo o pacto laboral (cerca de 45 dias), ocasiões em que fez uso dos EPIs necessários, como luvas impermeáveis, óculos de segurança, máscara N95 e avental. Considerando uma média de quatro a cinco atendimentos por turno, resultando no total de aproximadamente 100 atendimentos durante o período contratual, o perito concluiu que o transporte de pacientes com doenças infectocontagiosas foi eventual (4%), não podendo ser caracterizado como permanente, conforme exige o Anexo 14 da NR-15. O reclamante questiona o laudo pericial e requer a juntada como prova emprestada de laudos periciais produzidos nos autos dos processos 1002230-89.2024.5.02.0611 e 1001255-26.2024.5.02.0075, nos quais teria sido reconhecida a existência de insalubridade para a função de socorrista condutor. Não obstante o art. 479 do CPC estabeleça que o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos, no presente caso, não há razão para afastar as conclusões do laudo técnico oficial. O laudo pericial foi elaborado por profissional habilitado e que goza da plena confiança deste Juízo, sendo claro, coerente e conclusivo. A prova técnica levou em consideração as peculiaridades do caso concreto, incluindo as atividades efetivamente desempenhadas pelo reclamante, a frequência de exposição a agentes biológicos e o uso de equipamentos de proteção. Não prospera o pedido de utilização de prova emprestada, pois os laudos indicados, além de se referirem a reclamantes distintos, possivelmente com rotinas de trabalho diferentes, não podem se sobrepor à prova técnica produzida especificamente para o caso em análise. O requisito fundamental para a caracterização da insalubridade por agentes biológicos, conforme o Anexo 14 da NR-15, é o contato permanente com os agentes nocivos, o que não foi comprovado no caso em tela, conforme demonstrou o laudo pericial. Assim, considerando a conclusão do laudo pericial oficial no sentido de que as atividades desenvolvidas pelo reclamante não se enquadram nas hipóteses de insalubridade previstas no Anexo 14 da NR-15, bem como a ausência de elementos probatórios que infirmem tal conclusão, não há que se falar em pagamento de adicional de insalubridade, seja em grau máximo ou médio. Diante do exposto, acolhendo a conclusão do laudo pericial, julgo IMPROCEDENTE o pedido de pagamento de adicional de insalubridade e reflexos. MULTAS DO ARTIGO 467 e 477 DA CLT Indefiro a multa do art. 467 da CLT, considerando que não há verbas rescisórias incontroversas devidas ao obreiro. Ante a não comprovação do pagamento das verbas rescisórias devidas dentro do prazo legal, defiro o pagamento da multa prevista no artigo 477, § 8º da CLT, no valor correspondente à última remuneração mensal do reclamante, sendo este o valor de R$ 2.190,00. DO DANO MORAL O reclamante postula o pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 20.000,00, sob o fundamento de que era submetido a jornada de trabalho exaustiva. Alega na petição inicial que, embora a parte reclamada indicasse uma escala de 12x36, laborava das 07h às 21h e, ainda, em média cinco vezes por mês nos dias de descanso, o que o submetia a trabalhar por muitos dias consecutivos, afetando sua qualidade de vida e configurando dano existencial. Em seu depoimento pessoal, alterou a descrição da jornada, afirmando que trabalhava na escala 24x24 e que, nas 24 horas destinadas ao descanso, laborava 16 horas para cobrir eventos, usufruindo de no máximo 10 minutos de intervalo. As reclamadas empregadoras (1ª, 2ª e 3ª rés) negam a imposição de jornada exaustiva e a existência de dano moral indenizável. A 1ª reclamada (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGENCIAS MÉDICAS LTDA), em contestação, aduz que o reclamante não laborava em horário pré-fixado e que, quando havia necessidade de cobertura de algum plantão de 12 horas, era convocado, assim como outros profissionais, possuindo autonomia para refeição e descanso. As 2ª e 3ª reclamadas (INOVE e AGILMED) negam qualquer relação de trabalho com o autor. A compensação por dano moral visa a reparar prejuízo extrapatrimonial, relacionado aos direitos fundamentais e de personalidade do cidadão, como a vida, a imagem, a honra, a intimidade, o lazer, entre outros. Encontra previsão no art. 5º, V e X, da Constituição Federal, e nos arts. 223-A e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho. O dano existencial, especificamente, configura-se pela violação de direitos fundamentais que impedem o trabalhador de realizar um projeto de vida e de usufruir de atividades sociais, culturais e de lazer, em decorrência de condutas abusivas do empregador, como a imposição de jornadas extenuantes. Analiso as provas. Em seu depoimento pessoal, o reclamante declarou: "1.que foi contratado pelas 3 primeiras rés e prestava serviços concomitante para as demais rés; 2.que trabalhava na escala 24x24, sendo que nas 24 horas para descanso, trabalhava 16 horas para cobrir eventos; 3.que usufruía de no máximo 10 minutos de intervalo; 4. que começou a trabalhar em 30/08/2024 até a primeira quinzena de outubro de 2024...". A preposta das três primeiras rés, por sua vez, afirmou: “1.que o reclamante foi contratado pela primeira ré; 2. que o reclamante era "free lancer"; 3. que o reclamante recebia em média 120 reais por plantão 12x36; (...) 6. que nos dias laborados o autor trabalhou das 7h as 19h, ou das 19h as 7h, com intervalo de uma hora; (...) 9. que não sabe informar quantos plantões o autor realizou, sendo que atuava na escala 12x36...". Constata-se da ata de audiência que: "As partes não têm testemunhas presentes." O ônus de comprovar a jornada de trabalho extraordinária, especialmente em patamar exaustivo capaz de configurar dano moral existencial, recaía sobre o reclamante, por se tratar de fato constitutivo de seu direito, nos termos do art. 818, I, da CLT, e do art. 373, I, do CPC. No presente caso, o reclamante não se desincumbiu satisfatoriamente de seu encargo probatório. Primeiramente, observa-se uma inconsistência entre a jornada descrita na petição inicial (labor das 07h às 21h em escala 12x36, mais cinco plantões mensais em dias de descanso) e aquela narrada em depoimento pessoal (escala 24x24, com labor de 16 horas nos dias de folga, em cerca de 12 eventos por mês). Tal divergência fragiliza a tese autoral. Ademais, as alegações do autor acerca da jornada extenuante foram infirmadas pelo depoimento da preposta das reclamadas empregadoras, que sustentou a condição de "free lancer" e uma escala de 12x36 com intervalo regular. Diante da controvérsia estabelecida e da ausência de qualquer prova testemunhal que pudesse elucidar qual a real jornada cumprida e se esta era imposta de forma contínua e exaustiva, não há como acolher a versão do obreiro. A configuração do dano existencial em razão da jornada excessiva demanda prova robusta de que o trabalhador era submetido, de forma habitual e sistemática, a um regime de labor que efetivamente comprometesse seu direito fundamental ao lazer, ao descanso reparador, ao convívio familiar e social, e à execução de seus projetos de vida. A mera prestação de horas extras, ainda que não remuneradas corretamente, configura, a princípio, ilícito de natureza patrimonial, não ensejando, por si só, a indenização por dano moral. Para que a jornada excessiva configure dano moral, é necessário que se demonstre que ela extrapolou os limites do razoável, de forma a causar um prejuízo efetivo aos direitos da personalidade do trabalhador, o que não restou comprovado nos autos. O depoimento pessoal do autor, isolado e inconsistente com a própria inicial, é insuficiente para tal fim, especialmente diante da negativa das rés. A jurisprudência do C. TST, embora reconheça a possibilidade de dano existencial por jornada exaustiva, exige a comprovação inequívoca da submissão do empregado a condições de trabalho que violem sua dignidade e restrinjam severamente seu direito ao lazer e ao descanso. No caso concreto, repise-se, não há nos autos elementos probatórios suficientes para demonstrar a imposição da jornada exaustiva alegada, nem o consequente e grave comprometimento da vida social e familiar do reclamante. A ausência de testemunhas e a inconsistência na narrativa autoral impedem o reconhecimento do fato gerador do dano moral. Desta forma, à míngua de prova robusta da conduta ilícita das reclamadas (imposição de jornada exaustiva) e do dano efetivo aos direitos da personalidade do autor, julgo improcedente o pedido de indenização por danos morais. RESPONSABILIDADE O Reclamante sustenta a existência de grupo econômico entre as três primeiras Reclamadas – MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP (1ª Ré), INOVE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO E PARTICIPAÇÕES EM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA (2ª Ré) e AGILMED REMOÇÕES E EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA (3ª Ré) – pleiteando sua responsabilidade solidária pelos créditos trabalhistas. Nos termos do §2º do art. 2º da CLT, "Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de emprego." O Reclamante, apresentou diversos elementos indicativos da formação do grupo econômico, como a identidade de sócios, o mesmo endereço de funcionamento, a atuação no mesmo ramo de atividade (serviços de emergências médicas e remoções), a confusão patrimonial evidenciada pelo uso alternado de ambulâncias e o fato de a 2ª Reclamada (INOVE) ter realizado pagamentos (inclusive vale-alimentação) ao Reclamante por serviços prestados em nome da 1ª Reclamada (MS BRASIL). Ademais, o Reclamante informa que o administrador judicial nomeado no processo de recuperação judicial da 2ª Reclamada (INOVE) já teria constatado a existência do grupo econômico entre estas empresas. As Reclamadas, em suas defesas, limitaram-se a negar genericamente a existência do grupo, sem, contudo, rebater especificamente os fortes indícios apresentados pelo Autor ou trazer provas que afastassem a comunhão de interesses e a atuação coordenada. O fato de a 2ª Reclamada (INOVE) ter efetuado pagamentos diretos ao Reclamante (vale-alimentação e pagamento em conta-corrente), que alega vínculo com a 1ª Reclamada (MS BRASIL), é um elemento contundente que demonstra a confusão e a interligação administrativa e financeira entre as empresas. Assim, presentes elementos suficientes para caracterizar a existência de grupo econômico por coordenação entre as 1ª, 2ª e 3ª Reclamadas, nos moldes do art. 2º, §2º, da CLT. Defiro o pedido para reconhecer a existência de grupo econômico entre MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP, INOVE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO E PARTICIPAÇÕES EM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA e AGILMED REMOÇÕES E EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA, declarando sua responsabilidade solidária pelos créditos trabalhistas deferidos na presente sentença. O Reclamante pleiteia a responsabilidade subsidiária da 4ª Reclamada (COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO) e da 5ª Reclamada (SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – SESC), na qualidade de tomadoras dos serviços. A 4ª Reclamada, COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO, foi declarada revel e confessa quanto à matéria de fato. A presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial, nos termos do art. 844 da CLT, atinge a alegação de que esta se beneficiou dos serviços prestados pelo Reclamante. Assim, caracterizada sua condição de tomadora de serviços, responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas da empregadora, conforme entendimento consolidado na Súmula 331, IV, do C. TST. A 5ª Reclamada (SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – SESC), em sua contestação, admitiu ter celebrado contrato de prestação de serviços com a 2ª Reclamada (INOVE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO E PARTICIPAÇÕES EM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA), que, conforme reconhecido no item anterior, integra grupo econômico com a 1ª Reclamada (empregadora). Apesar de incontroverso o ajuste entre a 5ª reclamada e a 2ª reclamada, é certo que não se pode presumir, apenas com base na existência de contrato de prestação de serviços entre as reclamadas, que tenha a autora disponibilizado sua força de trabalho em benefício da suposta tomadora. Nesse mesmo sentido, a jurisprudência deste E. TRT da 2ª Região: RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ÔNUS DA PROVA. Negada a prestação de serviços pelo empregador ou tomador dos serviços, constitui ônus do empregado produzir prova desse fato constitutivo basilar do direito reivindicado. Não se pode presumir, apenas com base na celebração de contrato de prestação de serviços, que tenha ele efetivamente disponibilizado sua força de trabalho em prol da contratante de sua empregadora, o que deve ser objeto de prova quando tal fato, como no caso, é questionado pela tomadora. Recurso do reclamante conhecido e improvido. (TRT da 2ª Região; Processo: 1000255-39.2022.5.02.0017; Data: 04-10-2022; Órgão Julgador: 6ª Turma - Cadeira 3 - 6ª Turma; Relator(a): BEATRIZ HELENA MIGUEL JIACOMINI) Grifos acrescidos. Por todo o exposto, considerando que a parte autora não de desincumbiu do seu ônus de prova a contento, julgo improcedente o pedido de responsabilidade subsidiária formulado em face da 5ª reclamada (SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC), e em face da 6ª reclamada (SANTOS FUTEBOL CLUBE) determinando a exclusão destas demandadas do polo passivo. Pelo exposto, defiro o pedido para declarar a responsabilidade subsidiária da COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO – declarada revel e confessa - (4ª Ré) pelos créditos trabalhistas reconhecidos nesta decisão. DA LIMITAÇÃO DA EXECUÇÃO AOS VALORES LIQUIDADOS PELA PARTE A determinação de indicação dos valores correspondentes aos pedidos na petição inicial, constante no art. 840, §1º, da CLT, não limita a execução oriunda do rito ordinário. O valor indicado na petição inicial é meramente estimado, nos termos do art. 12, §2º, da IN nº 41/2018 do C. TST. Ademais, destaco que o art. 492 do CPC veda a condenação em quantidade superior ao postulado e não em valor superior, caracterizando grandezas distintas. Portanto, não há falar em limitação da execução aos valores liquidados pela parte na ação. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ A parte autora alega que a parte ré agiu de má-fé, nos seguintes termos: "A Reclamada Inove negou a existência de vínculo empregatício com o Reclamante. No entanto, a conduta revela-se contraditória e desleal, especialmente diante da documentação juntada aos autos, notadamente a resposta ao ofício do Banco Itaú, que confirma o pagamento de valores ao Reclamante a título de salário” Para que a parte seja considerada litigante de má-fé, deve ser comprovado o dolo em sua conduta, bem como a prática de um dos atos previstos no art. 793-B da CLT. No caso dos autos, não ficou demonstrado o dolo das partes com o objetivo de lesar a parte contrária ou induzir este juízo a erro, tendo aquele atuado dentro dos limites do exercício do direito de ação que lhe é assegurado (art. 5º, XXXV, da CF/88). Indefiro. JUSTIÇA GRATUITA De acordo com o art. 790 da CLT, há presunção legal de miserabilidade jurídica do empregado ou do empregador pessoa natural que perceber até 40% (quarenta por cento) do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência Social, hipótese que enseja a concessão do benefício da justiça gratuita. Nos demais casos, a hipossuficiência, seja do empregado, seja do empregador, depende de comprovação. No presente feito, a parte reclamante juntou declaração de hipossuficiência anexada aos autos (Súmula nº 463, item I, e IRR nº 21, do C. TST), o que é suficiente para o deferimento da gratuidade. Relativamente à força probatória da declaração de hipossuficiência, transcrevo o seguinte precedente do C. TST: "AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Constatada a viabilidade de trânsito do recurso trancado por meio de decisão monocrática, o Agravo Interno deve ser acolhido. Agravo conhecido e provido. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Demonstrada a possível contrariedade à Súmula n.º 463, I, do TST, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento, determinando-se o regular seguimento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. PESSOA NATURAL. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. SÚMULA N.º 463, I, DO TST. Esta Primeira Turma, mesmo depois da vigência da Lei n.º 13.467/2017, entende suficiente, para a concessão da justiça gratuita à pessoa física, a simples declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte (ou procurador com poderes específicos) de que não pode arcar com as despesas do processo, sem prejuízo do seu próprio sustento ou de sua família, conforme o disposto no item I da Súmula n.º 463 do TST, ainda que o empregado receba remuneração superior ao percentual previsto no art. 790, §3.º, da CLT. Precedentes. Nesses termos, constata-se que a decisão regional que indeferiu a gratuidade da justiça ao reclamante encontra-se contrária ao atual entendimento desta Turma, motivo pelo que se defere o benefício pleiteado. Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-0000662-78.2022.5.17.0006, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 24/09/2024). Ademais, é incontroverso o fato de que o vínculo de emprego da parte reclamante fora extinto, inexistindo prova de outra fonte de renda, ainda que superveniente ao ajuizamento da ação (fato modificativo do direito postulado que deveria ser provado pela parte reclamada, ônus do qual não se desincumbiu por qualquer meio) - razão pela qual o estado de insuficiência de recursos é presumível. Portanto, defiro à parte reclamante o benefício da justiça gratuita. Consequentemente, rejeito a impugnação realizada pela parte ré. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Diante da sucumbência recíproca (art. 791-A, §3º, da CLT), observados os critérios previstos nos incisos do §2º do art. 791-A da CLT, condeno a parte reclamada ao pagamento de honorários advocatícios, no percentual de 10% sobre o valor da condenação que resultar da liquidação do julgado, ao advogado da parte reclamante. Além disso, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da parte ré, no percentual de 10% sobre o valor atualizado dos pedidos elencados na petição inicial e julgados improcedentes na íntegra, bem como os extintos sem resolução de mérito (princípio da causalidade e sucumbência processual e Súmula nº 326 do STJ). Vedada a compensação entre os honorários (art. 791-A, §3º, da CLT). Contudo, conforme decidido pelo STF na ADI 5766, a expressão “desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa”, constante do §4º do art. 791-A da CLT, é inconstitucional (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88). Portanto, tendo em vista que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte reclamada demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. HONORÁRIOS PERICIAIS Com relação à perícia técnica, sendo a parte reclamante sucumbente na pretensão objeto da perícia, deveria arcar com os honorários periciais, ainda que beneficiário da justiça gratuita (art. 790-B da CLT). Contudo, o §4º do art. 790-B da CLT afronta aos princípios do amplo acesso ao Poder Judiciário e da assistência jurídica integral e gratuita (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF/88), pois exige do hipossuficiente o custeio do acesso ao Judiciário, inibindo a busca pelos seus direitos, assim como o priva do recebimento da integralidade de crédito de natureza alimentar. Nesse sentido foi a decisão do STF na ADI 5766 que declarou a inconstitucionalidade do referido dispositivo celetista. Dessa forma, com fulcro no art. 927, I, do CPC, afasto a aplicabilidade do §4º do art. 790-B da CLT e fixo os honorários periciais no valor de R$ 806,00 (nos termos do Ato GP/CR nº 02, de 15 de setembro de 2021, Anexo I), para o perito que atuou nos autos Sr. Ricardo Guimarães de Paula devendo ser pagos pela União Federal (Súmula nº 457 do C.TST). Expeça-se a respectiva requisição após o trânsito em julgado. RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS A primeira reclamada (MS Brasil Serviços de Emergências Médicas Ltda- EPP) deverá efetuar os recolhimentos previdenciários incidentes sobre as parcelas objeto de condenação em pecúnia (art. 43 da Lei 8.212/91 e Súmula nº 368 do C. TST), arcando cada parte com sua cota. Os recolhimentos ficais também serão realizados pela parte reclamada (art. 46 da Lei 8.541/92) conforme determina o art. 12-A da Lei 7.713/88 e Instrução Normativa da Receita Federal vigente na ocasião do fato gerador, Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 400 da SBDI-1 do C. TST. Para fins do art. 832, §3º, da CLT, a natureza das verbas deferidas obedecerá ao disposto no art. 28 da Lei nº 8.212/91, incidindo recolhimentos fiscais e previdenciários sobre as parcelas de natureza salarial. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA A dívida objeto da presente condenação deve ser atualizada, até 30/08/2024, nos termos da ADC 58 e 59, ou seja, IPCA-E + juros simples - art. 39 da Lei n. 8.177/91 (Rcl 53.940/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes; Rcl 49.470/SO, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 50.017/RS Rel. Min. Carmem Lúcia) a partir do primeiro da útil do mês subsequente à prestação de serviços (Súmula nº 381 do C. TST), até a data do ajuizamento da reclamação trabalhista. A partir desta, incidirá apenas a taxa SELIC como índice conglobante de correção monetária e juros de mora. A partir do dia 30/08/2024, deve ser aplicada, para fins de cálculo, a dicção dos arts. 389 e 406 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 14.905/24, devendo ser aplicado, como índice de juros, a SELIC ou outro convencionado entre as partes, desde que mais benéfico ao trabalhador, subtraído o IPCA-E, admitindo-se a apuração igual a zero, mas não negativa (E-ED-RR 713-03.2010.5.04.0029). DEDUÇÃO Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento. Comprovantes que já constem nos autos até a publicação da sentença, nos termos da OJ 415 da SDI-I do C. TST e art. 844 do CC. EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS Eventuais ofícios serão expedidos após o trânsito em julgado, a critério do Juízo. Destaque-se que não há qualquer impedimento para que a própria parte noticie diretamente aos Órgãos Públicos o que entender pertinente. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS Esclareço que a penalidade do art. 400 do CPC só terá sua incidência se descumprida a ordem judicial de juntada de documentos, e jamais, por requerimento da parte. EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÓRIOS Resta consignar que a interposição de Embargos Declaratórios pelas partes, com o objetivo de mero reexame de fatos e provas, bem como para revisão do mérito da decisão, ensejará o reconhecimento de seu caráter protelatório, com aplicação de multa de 2% sobre o valor atualizado da causa, na forma do art. 1.026, § 2º, do CPC, sendo que “na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até 10% sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa” (art. 1.026, § 3º, do CPC). III. DISPOSITIVO ISSO POSTO, rejeito as preliminares arguidas; e, no mérito: julgo improcedentes os pedidos em face das 5ª Reclamada (Serviço Social Do Comércio – Sesc) e 6ª Reclamada (Santos Futebol Clube), extinguindo o processo com resolução de mérito em relação a estas, nos termos do art. 487, I, do Código de Processo Civil. Julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados nesta reclamação trabalhista por Edgar Montanaro Negrini em face de MS Brasil Serviços de Emergências Médicas Ltda (1ª Reclamada), Inove Administração Gestão E Participações em Serviços Médicos Ltda (2ª Reclamada), Agilmed Remoções E Emergências Médicas Ltda (3ª Reclamada) E Companhia Brasileira De Distribuição (4ª Reclamada), extinguindo o feito com resolução do mérito (art. 487, I, do CPC), para o fim de: Declarar a existência de vínculo empregatício entre o Reclamante e a 1ª Reclamada (Ms Brasil Serviços De Emergências Médicas Ltda - Epp), no período de 30/08/2024 a 13/10/2024, na função de motorista socorrista, com salário mensal de R$ 2.190,00, e a dispensa imotivada em 13/10/2024, projetando-se o término do contrato para 12/11/2024. Declarar a existência de grupo econômico entre a 1ª Reclamada (Ms brasil serviços de emergências médicas LTDA - EPP), a 2ª Reclamada (inove administração gestão e participações em serviços médicos ltda) e a 3ª reclamada (agilmed remoções e emergências médicas Ltda), que responderão solidariamente entre si pelos créditos deferidos. Declarar a responsabilidade subsidiária da 4ª Reclamada (COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO) pelos créditos deferidos. Condenar a 1ª Reclamada (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP) e, solidariamente, a 2ª Reclamada (Inove administração gestão e participações em serviços médicos LTDA) e a 3ª Reclamada (Agilmed Remoções E Emergências Médicas LTDA), e, subsidiariamente, a 4ª Reclamada (Companhia brasileira de distribuição), a pagar ao Reclamante as seguintes parcelas: Saldo de salário de 13 dias do mês de outubro de 2024; Aviso prévio indenizado de 30 dias; Férias proporcionais de 2024 (03/12 avos, considerando a projeção do aviso prévio), acrescidas do terço constitucional; 13º salário proporcional de 2024 (03/12 avos, considerando a projeção do aviso prévio); Depósitos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) incidentes sobre o saldo de salário, aviso prévio indenizado e 13º salário proporcional, acrescidos da multa de 40%; Horas extraordinárias, assim consideradas as laboradas além da 8ª diária dentro de cada plantão de 24 horas, ou, de forma não cumulativa, as que excederem a 44ª hora semanal (o que for mais benéfico), durante o período de 30/08/2024 a 13/10/2024, com os seguintes parâmetros: a) Base de cálculo como a globalidade salarial da parte autora (salário reconhecido de R$ 2.190,00 e demais parcelas de natureza salarial), nos termos da Súmula nº 264 do TST; b) Dias efetivamente trabalhados; c) Evolução salarial da parte autora (salário de R$ 2.190,00); d) divisor 220; e) adicional de 50%; f) reflexos em Descansos Semanais Remunerados (DSRs) e, com estes, em aviso prévio, férias proporcionais + 1/3, 13º salário proporcional e FGTS + multa de 40%, observada a OJ nº 394 da SBDI-1 do C. TST; Intervalo intrajornada suprimido, correspondente a 50 minutos por plantão de 24 horas efetivamente trabalhado, com adicional de 50% sobre o valor da hora normal, de natureza indenizatória; Adicional noturno de, no mínimo, 20% sobre as horas laboradas entre 22h00 e o término do plantão de 24 horas (incluindo horas prorrogadas após as 05h), observada a hora noturna reduzida de 52 minutos e 30 segundos, com reflexos em DSRs e, com estes, em aviso prévio, férias proporcionais + 1/3, 13º salário proporcional e FGTS + multa de 40%; Multa prevista no artigo 477, § 8º da CLT, no valor de R$ 2.190,00. Conforme fundamentação supra, parte integrante deste dispositivo, como se aqui estivesse literalmente transcrita. Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, observados os parâmetros da fundamentação (art. 879 da CLT). Obrigações de fazer, a cargo da 1ª Reclamada (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA - EPP): Proceder à anotação da CTPS do Reclamante, fazendo constar: admissão em 30/08/2024; demissão em 12/11/2024; função de motorista socorrista; e remuneração de R$ 2.190,00. A obrigação deve ser cumprida no prazo de 5 (cinco) dias após o trânsito em julgado e a intimação específica para tanto, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais), reversível ao Reclamante, sem prejuízo de que a Secretaria da Vara proceda à anotação (art. 39, §1º, da CLT). Intime-se pessoalmente a 1ª Reclamada para cumprimento, nos termos da Súmula 410 do STJ. Proceder à liberação das guias para saque do FGTS. A obrigação deverá ser cumprida no prazo de 5 (cinco) dias após o trânsito em julgado do processo e intimação específica, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais), revertida à parte autora, sem prejuízo da expedição de alvará substitutivo. Em observância ao quanto disposto no § 3º do art. 832 da CLT, indico que possuem natureza salarial as verbas assim definidas pelo art. 28 da Lei 8.212/91. Defiro à parte reclamante os benefícios da justiça gratuita. Condeno as partes reclamadas (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA, INOVE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO E PARTICIPAÇÕES EM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA, AGILMED REMOÇÕES E EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA, de forma solidária, e COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO, de forma subsidiária) ao pagamento de honorários de sucumbência ao advogado da parte reclamante no importe de 10% sobre o valor que resultar da liquidação do julgado. Condeno a parte reclamante ao pagamento de honorários de sucumbência aos advogados das partes reclamadas, no importe total de 10% do valor atualizado dos pedidos elencados na exordial, no que tange àqueles julgados improcedentes na íntegra ou extintos sem resolução de mérito. Considerando que a parte reclamante é beneficiária da justiça gratuita, com base no art. 927, V, do CPC, e na decisão do STF na ADI 5766, determino, desde já, a suspensão da exigibilidade dos seus débitos, podendo haver execução se, nos 2 anos subsequentes ao trânsito em julgado da presente decisão, a parte credora demonstrar que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir, extinguindo-se, passado esse prazo, a obrigação. Honorários periciais, referentes à perícia de insalubridade, a cargo da União Federal, no valor de R$ 806,00 (oitocentos e seis reais), em favor do perito Sr. Ricardo Guimarães de Paula, nos termos da Súmula nº 457 do C. TST e da decisão do STF na ADI 5766, considerando a sucumbência da parte reclamante no objeto da perícia e sua condição de beneficiária da justiça gratuita. Expeça-se a respectiva requisição após o trânsito em julgado. Com o escopo de evitar o enriquecimento sem causa da parte reclamante, autorizo a dedução dos valores comprovadamente pagos a idêntico título e fundamento, nos termos do art. 884 do CC. Custas pelas partes reclamadas (MS BRASIL SERVIÇOS DE EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA, INOVE ADMINISTRAÇÃO GESTÃO E PARTICIPAÇÕES EM SERVIÇOS MÉDICOS LTDA, AGILMED REMOÇÕES E EMERGÊNCIAS MÉDICAS LTDA, de forma solidária, e COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO, de forma subsidiária) no importe de seiscentos reais, calculadas sobre o valor atribuído provisoriamente à condenação de trinta mil reais (art. 789 da CLT). Recolhimentos fiscais e previdenciários nos moldes da Súmula nº 368 do C. TST e OJ nº 363 da SBDI-I do C. TST, com os parâmetros da fundamentação, devendo a 1ª Reclamada comprovar nos autos os recolhimentos devidos. Juros e correção monetária na forma da fundamentação. Intime-se as partes (art. 852 da CLT), com observância aos requerimentos de notificação exclusiva (Súmula nº 427 do C. TST), bem como a União na fase de liquidação, se for o caso. Cumpra-se. ANDRE LUIZ AUGUSTO DA SILVA FILHO Juiz do Trabalho Substituto Intimado(s) / Citado(s) - EDGAR MONTANARO NEGRINI

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