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Caruana S/A - Sociedade De Credito, Financiamento E Investimento e outros x Caruana S/A - Sociedade De Credito, Financiamento E Investimento e outros

ID: 259096193

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001068-22.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 23/04/2025

Polo Ativo:

CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO TIAGO DE ARRUDA NOVAIS

Polo Passivo:

CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO TIAGO DE ARRUDA NOVAIS

Acórdão

Advogados:

FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-22.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Obrigação de Fazer /… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-22.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Obrigação de Fazer / Não Fazer, Liminar] Relator: Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA Turma Julgadora: [DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES] Parte(s): [TIAGO DE ARRUDA NOVAIS - CPF: 036.549.831-97 (APELANTE), STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA - CPF: 035.217.521-43 (ADVOGADO), CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO - CNPJ: 09.313.766/0001-09 (APELADO), FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO - CPF: 267.960.168-82 (ADVOGADO), TIAGO DE ARRUDA NOVAIS - CPF: 036.549.831-97 (APELANTE), STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA - CPF: 035.217.521-43 (ADVOGADO), CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO - CNPJ: 09.313.766/0001-09 (APELADO), FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO - CPF: 267.960.168-82 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A APELANTES: CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e TIAGO DE ARRUDA NOVAIS APELADOS: TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO EMENTA. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTA SALÁRIO. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. NEGATIVA ADMINISTRATIVA FUNDADA EM FORMALIDADE. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ. DESPROVIMENTO DO RECURSO DO AUTOR. I. CASO EM EXAME Apelações cíveis interpostas por consumidor e instituição financeira contra sentença que julgou parcialmente procedente ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais, reconhecendo a resistência da instituição financeira em fornecer documentos relativos à conta salário, mas afastando o pedido de reparação moral. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Discute-se a existência de dano moral decorrente da negativa da ré em fornecer documentos bancários solicitados administrativamente, bem como a correção dos honorários de sucumbência arbitrados em primeiro grau. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. Não restou comprovado que a negativa de entrega dos documentos foi fundada em descaso ou abuso de direito, mas sim em formalidade relativa à representação processual, o que poderia ter sido solucionado de forma simples. 4. O contexto fático-jurídico afasta a configuração de dano moral in re ipsa em hipóteses como a dos autos, nas quais não houve violação aos direitos da personalidade. 5. Correta a condenação da ré ao cumprimento da obrigação de fazer, considerando a existência de pretensão resistida, sendo cabível a redução dos honorários sucumbenciais diante da baixa complexidade da demanda e do curto lapso temporal entre a distribuição da ação e o cumprimento da ordem judicial. IV. DISPOSITIVO E TESE 6. Recurso do autor desprovido. 7. Recurso da ré parcialmente provido, apenas para reduzir os honorários de sucumbência fixados. Tese de julgamento: "A recusa administrativa de fornecimento de documentos bancários baseada em formalidade de representação, sem demonstração de abalo moral concreto, não configura, por si só, dano moral indenizável." Dispositivos relevantes citados: Código de Processo Civil, arts. 85, §8º, 355, I e 487, I; Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, III. Jurisprudência relevante citada: STJ, Tema Repetitivo 1.000; TJMT, Recurso Inominado n.º 1056516-71.2022.8.11.0001, j. 31/10/2023; TJMT, N.U. 1000983-85.2023.8.11.0036, j. 23/04/2024. R E L A T Ó R I O RELATÓRIO EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO DE ARRUDA ALMEIDA. Egrégia Câmara: Tratam-se de recursos de APELAÇÃO CÍVEL, interpostos por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e por CARUANA S/A SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, contra sentença (ID. 276613927 – Autos de Origem nº 1001068-22.2024.8.11.0041), proferida pelo Juízo da 11ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá-MT, que julgou parcialmente procedente o pedido formulado na Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais, nos seguintes termos: “Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por Tiago de Arruda Novais em desfavor de Caruana S/A – Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento. Narra a parte autora que motorista de ônibus de uma empresa de transporte, onde foi obrigado a abrir conta-salário junto à ré para recebimento de seus salários, e, ao abrir a conta, recebeu um cartão que funcionava apenas na modalidade crédito, resultando na cobrança de taxas e tarifas, incluindo uma mensalidade de R$ 18,90 e uma taxa de saque de R$ 5,90, além de tarifas, IOF e juros. A ré disponibilizou crédito pessoal na conta sem autorização, misturando-o com o salário. Informa que a empresa Pantanal Transporte mudou o convênio de pagamento, encerrando a conta junto à ré, momento em que foi informado sobre a existência de uma dívida. Aduz ter notificado extrajudicialmente a ré para fornecer o contrato, extratos completos e documentos relativos ao crédito pessoal, sem sucesso. Em razão dos fatos, requer a concessão da tutela antecipada para determinar a requerida a entregar os documentos mencionados, relativos a conta salário, e, no mérito, o julgamento procedente da ação, confirmando a liminar, bem como que a parte requerida seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Atribuiu à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Instruiu a inicial com os documentos de ids 138449105 - 138449126. Conforme decisão de id 138628095 foi deferido a antecipação da tutela de urgência, os benefícios da justiça gratuita bem como a inversão do ônus da prova, designada audiência de conciliação e determinada a citação da parte requerida. A parte requerida, em atendimento a tutela antecipada deferida, inseriu documentos solicitados nos ids 140026512 – 140029003. Após, ofertou contestação por meio do id 156433385, arguindo em preliminar; impugnação ao pedido de justiça gratuita, falta de interesse processual, e, no mérito, defendeu a cobrança devida e regular no caso narrado na inicial. Realizada a audiência de conciliação, as partes não formularam proposta de acordo (id 157594954). Impugnação à contestação apresentada no id 158345378. Vieram os autos conclusos. É o relatório. Fundamento. DECIDO. Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por Tiago de Arruda Novais em desfavor de Caruana S/A – Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento. Das Preliminares Impugnação aos benefícios da justiça gratuita A Lei nº 1.060/50 considera necessitado, para fins legais, aquele cuja situação econômica não lhe permite pagar as custas do processo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. De acordo com a referida lei, para a parte gozar dos benefícios da assistência judiciária basta afirmar na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo, sem prejuízo próprio ou de sua família, transferindo para a parte contrária a incumbência de provar a suficiência de recurso do requerente. No caso dos autos, o requerido não logrou êxito em rebater os documentos constantes nos autos, se restringindo em afirmar que haveria indícios da capacidade financeira do autor ao pagamento de custas, todavia, não juntou qualquer prova. Por estes fundamentos, REJEITO a preliminar suscitada. Da Falta de Interesse Processual A alegação de falta de interesse processual não se sustenta. O autor demonstrou ter notificado extrajudicialmente a ré para fornecer os documentos solicitados, sem obter resposta. A resistência da ré em fornecer os documentos caracteriza a pretensão resistida, legitimando a propositura da presente demanda. Do Mérito Profiro o julgamento antecipado da lide (artigo 355, I, do Código de Processo Civil), porque a matéria prescinde de outras provas, sendo suficientes para o deslinde da causa as provas documentais contidas nos autos. Em que pese o pedido de produção de provas, profiro o julgamento antecipado da lide (artigo 355, I, do Código de Processo Civil), porque a matéria prescinde de outras provas, sendo suficientes para o deslinde da causa as provas documentais contidas nos autos. Passo, então, a decidir a causa. A ré, enquanto instituição financeira, tem o dever de fornecer ao consumidor todas as informações e documentos relativos à conta mantida, conforme disposto no art. 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). A negativa e/ou omissão da ré em fornecer os documentos solicitados caracteriza violação ao direito básico de informação do consumidor. Diante das provas apresentadas pelo autor, no sentido de que tentou conseguir acesso aos documentos de forma administrativa, restou configurada a resistência da ré em fornecer os documentos, devendo ser acolhido o pedido de obrigação de fazer. Concernente ao pedido de indenização formulado, não resta evidenciado qualquer abalo moral ao autor em virtude da falha na prestação de serviços da ré, haja vista que o descumprimento da exibição de documentos, por si só, não caracteriza violação à honra do consumidor a ensejar o dever de reparação civil. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS - BANCÁRIO - PRELIMINAR DE SUSPENSÃO DA AÇÃO ATÉ O JULGAMENTO DO TEMA REPETITIVO 1.000 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - TEMA JÁ JULGADO EM 09/06/2021 – PRELIMIAR REJEITADA – PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE RECURSAL – REJEITADA - COMINAÇÃO DE ASTREINTES NA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS – NECESSIDADE DE PRÉVIA TENTATIVA DE BUSCA E APREENSÃO OU OUTRA MEDIDA COERCITIVA - ART. 400, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/2015 - TEMA REPETITIVO 1.000 DO STJ - INOBSERVÂNCIA NO CASO – MULTA INCABÍVEL – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS – ALEGADA AUSÊNCIA DE CAUSALIDADE - PRETENSÃO RESISTIDA PELA NÃO APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS REQUISITADOS – CAUSALIDADE DEMONSTRADA – DANOS MORAIS – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS QUE NÃO RESULTOU EM VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO CONSUMIDOR - INDENIZAÇÃO INDEVIDA - RECURSO DA PRIMEIRA APELANTE PARCIALMENTE PROVIDO – RECURSO DO SEGUNDO APELANTE DESPROVIDO Não há falar em ofensa ao princípio da dialeticidade quando as razões recursais impugnam especificamente as questões decididas na sentença e apresentam as razões da inconformidade. A fixação de astreintes, a fim de amparar pedido de exibição de documentos, é possível, com base no art. 400, parágrafo único, do Código de Processo Civil, desde que exercido juízo de probabilidade acerca da existência da relação jurídica e do documento, mediante contraditório prévio, e depois da tentativa de busca e apreensão ou outra medida coercitiva. Inteligência do Tema Repetitivo n.º 1.000, do Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial n.º 1763462/MG). Não se evidencia abalo moral pelo mero descumprimento da exibição de documentos, quando não acrescidos de violação à imagem ou direitos da personalidade do consumidor correntista. (N.U 1000983-85.2023.8.11.0036, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, Quinta Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2024, Publicado no DJE 25/04/2024) Para que seja configurado o dever de reparação civil é imprescindível a comprovação do ato ilícito que gerou o dano, a culpa e o nexo de causalidade entre ambos, conforme disposto no art. 186 do CC. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Desta feita, o conjunto probatório não se apresenta sólido a demonstrar violação à honra subjetiva do autor caracterizadora do dever de reparação pecuniária, não passando de mero dissabor. Posto isto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados por FRANCISCO LOPES PAULO NETO contra CARUANA S/A – SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, para condenar a ré à obrigação de entregar cópia (exibir) dos documentos solicitados. Deixo de enfrentar os demais argumentos deduzidos no processo, porque desnecessários para diminuir a autoridade desta sentença, conforme art. 489, § 1º, IV do NCPC, agindo, este Juízo, em obediência também ao comando Constitucional do art. 5º, LXXVIII. Posto isto, com base no que dos autos constam, nos termos do art. 487, I, do CPC, JULGO PARCILMENTE PROCEDENTE a presente Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização para: a. Ratificar a liminar concedida; b. Condenar a requerida ao pagamento das custas e despesas processuais assim como honorários advocatícios de sucumbência, que fixo em 3.000,00 (três mil reais) atualizados a partir do ajuizamento da ação, nos termos dos artigos 82, §2º e 85, §2º, ambos do CPC. Transitado em julgado, não havendo outros requerimentos, arquivem-se os autos com as baixas e comunicações de estilo. Deixo de atender a ordem cronológica de processos conclusos, considerando que o rol do art. 12, § 2º do CPC/2015 é exemplificativo e a necessidade de cumprimento da Meta estabelecida pelo CNJ.” Apela o autor (ID. 276613930), sustentando, em síntese: a ocorrência de dano moral decorrente da recusa injustificada da instituição financeira em fornecer os documentos solicitados; que a sentença reconheceu a falha, mas deixou de indenizar pelos prejuízos imateriais sofridos; que a negativa de acesso aos dados configura violação ao dever de transparência e ao direito básico à informação do consumidor. Apela também a ré CARUANA S/A (ID. 276613936), alegando: que o juízo a quo desconsiderou que a Apelante prestou todas as informações e exibiu os documentos requeridos na exordial, inexistindo falha na prestação dos serviços da Apelante; que jamais houve qualquer negativa em prestar as informações acerca do relacionamento contratual entre as partes e apresentar os documentos; o Apelado decaiu da maior parte de seus pedidos, devendo ser, inclusive, invertido o ônus sucumbencial no caso em tela, nos termos do parágrafo único do art. 86 do CPC4 ou, ao menos, distribuído o ônus de forma proporcional nos termos do caput do mencionado dispositivo. O autor apresentou contrarrazões ao recurso da ré (ID. 276613933), nas quais requer o desprovimento da apelação e a majoração dos honorários. A ré, por sua vez, apresentou contrarrazões ao recurso do autor (ID. 276613943), defendendo a legalidade de sua conduta e pugnando pela manutenção da sentença quanto à negativa de indenização moral. Dispensado o Parecer Ministerial em razão da matéria e da ausência de interesse de incapaz. Ambos os recursos são tempestivos e o preparo recursal por parte da ré foi devidamente comprovado (ID. 276613938), já o preparo recursal do autor é dispensado diante do deferimento da gratuidade de justiça na origem. É o relatório. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador V O T O R E L A T O R APELANTES: CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e TIAGO DE ARRUDA NOVAIS APELADOS: TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO VOTO Egrégia Câmara: Inicialmente, verifico a presença dos requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal. Reitero que se tratam de recursos de Apelação Cível, interpostos contra sentença proferida pelo Juízo da 11ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá-MT, que, na Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais, julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS contra CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, para ratificar a tutela antecipada de exibição de documentos, e condenar a ré ao pagamento de custas e honorários no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), deixando, contudo, de acolher o pedido de indenização por danos morais. Em síntese, o Juízo a quo entendeu que a recusa da requerida em apresentar os documentos solicitados pelo autor caracterizou resistência suficiente à propositura da ação, justificando a procedência do pedido de exibição. Contudo, considerou não configurado o dano moral, por ausência de prova do abalo moral efetivo, tampouco reconheceu abuso de direito. Passo ao exame dos recursos. 1. Recurso do Autor – Alegação de Dano Moral In Re Ipsa O recorrente sustenta que a ausência de resposta da instituição financeira à sua solicitação de envio de documentos bancários essenciais para análise de eventuais descontos indevidos em conta salário ensejaria, por si só, dano moral indenizável, nos moldes da jurisprudência que reconhece o dano in re ipsa em hipóteses de descaso administrativo e falha na prestação de serviço. Contudo, razão não lhe assiste. Malgrado alegue em suas razões recursais que “foram várias as tentativas extrajudiciais”, a documentação constante dos autos revela tão somente a existência de uma Notificação Extrajudicial enviada por AR, formulada pelo escritório SQ Advocacia em nome do autor e outros 9 (nove) representados (ID. 276613883 - Pág. 3); e uma Notificação de Entrega de Documentos e Informações encaminhada via e-mail pela advogada Dra. Stephany Quintanilha, em nome do autor (ID. 276613883 - Pág. 7). No tocante ao e-mail encaminhado pela advogada, verifico que a ré, ora apelada, respondeu a solicitação no sentido de que “a procuração não tem firma reconhecida, e portanto não temos como atender a notificação em questão.” – ID. 276613883 - Pág. 8. Sob esse contexto, muito embora tenha que se reconhecer que os advogados não estão sujeitos à obrigatoriedade do reconhecimento de firma ou apresentação de procuração pública para o exercício profissional e acesso aos autos administrativos ou judiciais, é certo que a questão em voga poderia ser facilmente resolvida dispensando-se maiores esforços. Diz isto, pois, a negativa administrativa não se deu por impossibilidade de atender o pedido, mas por questões formais de representação, e muito embora indevida, bastaria que a solicitação fosse feita pelo próprio autor ou mesmo que este fosse incluído em cópia para resolver a celeuma. Ademais, em que pese não tenha atendido ao pedido extrajudicial, a ré prontamente juntou todos os documentos pleiteados em cumprimento da liminar. Fixadas essas premissas, entendo que a mera ausência de resposta administrativa, sem demonstração de prejuízo concreto ou dano à esfera íntima do consumidor, não é suficiente para justificar condenação por dano moral. Inclusive, convém asseverar que, in casu, não prospera a alegação de que “sujeitou o autor à contratação de advogado para ajuizamento da demanda”, pois, a solicitação administrativa foi realizada por meio do escritório de advocacia, de modo que o representante jurídico já havia sido constituído antes mesmo da negativa administrativa. Registro, ainda, que o fato gerador deste caso em especifico - negativa administrativa por suposto vício formal de representação - nãogera dano moral in re ipsa, sobretudo considerando que a parte já se encontrava amparada por representante jurídico e não demonstrou o mínimo interesse em resolver a questão administrativamente. Em outras palavras, a não apresentação de documentos bancários fora do âmbito judicial, na forma como se deu nos autos, não configura, por si só, abalo moral indenizável. A propósito: EMENTA: RECURSO INOMINADO. SIMPLES FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. MERO ABORRECIMENTO. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A simples falha na prestação de serviço, embora caracterize conduta ilícita, por si só, não caracteriza dano moral, pois não tem o condão de denegrir a imagem do consumidor e de gerar sentimentos indesejados. 2. Recurso conhecido e não provido. 3. Custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 15% sobre o valor da causa, pela parte recorrente, observado o disposto no art. 98, §§ 2º e 3º, do CPC, se for o caso. (TJ-MT - RECURSO INOMINADO: 1056516-71.2022.8.11 .0001, Relator.: HILDEBRANDO DA COSTA MARQUES, Data de Julgamento: 31/10/2023, Terceira Turma Recursal, Data de Publicação: 02/11/2023) Destarte, a sentença analisou corretamente os elementos probatórios, não se vislumbrando abuso, ilicitude ou descaso flagrante por parte da apelada que, repita-se, anexou a documentação requerida no momento oportuno. Dessa forma, inexiste fundamento jurídico para a indenização por dano moral. 2. Recurso da Ré – Cumprimento da Obrigação de Fazer e Excesso na Fixação dos Honorários Pelo que se depreende dos pedidos autorais, a obrigação de fazer se deu para exibição dos seguintes documentos (ID. 276613877 - Pág. 13): “- Apresentar o Instrumento do Contrato e seus respectivos aditivos; - Os extratos bancários de todo período que o Autor permaneceu com a conta salário ativa junto a Reclamada, e os respectivos descontos de tarifas e taxas; - A autorização e solicitação do Autor á disponibilidade do cheque especial, cartão de crédito, e/ou qualquer outra modalidade de crédito disponibilizado em conta; - A demonstração do valor principal da dívida (se houver) e dos encargos exigidos, bem como dos valores que efetivamente foram pagos, com suas respectivas datas.” Sopesando atentamente o conjunto fático-jurídico, percebo que embora o juízo de origem tenha entendido pela procedência do pedido de obrigação de fazer e ratificação da liminar, de fato a obrigação já foi devidamente cumprida conforme documentos sob ID. 276613898 - Pág. 1/5 até ID. 276613907 - Pág. 4. Desse modo, há que se considerar integralmente cumprida a obrigação de fazer. Por outro lado, o cumprimento da obrigação de fazer em decorrência da ordem liminar não afasta o ônus sucumbencial. Isso porque, pelo princípio dacausalidade, aquele que deu causa à propositura de ação ou à instauração de incidente processual deve responder pelas despesas deles decorrentes, nos termos do art.85doCPC. Logo, não pode a ré, ora apelante, eximir-se do pagamento dos honorários de sucumbência, sob o argumento de que não houve resistência à pretensão da entrega dos documentos solicitados. Noutro diapasão, ao contrário do defendido nas razões recursais, entendo ser viável o arbitramento por equidade haja vista a procedência parcial da ação se deu em razão do reconhecimento do pedido de obrigação de fazer cujo proveito econômico é imensurável monetariamente. De toda sorte, é de se reduzir os honorários advocatícios, pois, ao fixar os honorários advocatícios, o magistrado deve considerar o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o proveito experimentado pelo cliente, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo despendido para o serviço. Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, em comentário à referida norma, assim prelecionam: São objetivos e devem ser sopesados pelo juiz na ocasião da fixação dos honorários. A dedicação do advogado, a competência com que conduziu os interesses de seu cliente, o fato de defender seu constituinte em comarca onde não resida, os níveis de honorários na comarca onde se processa a ação, a complexidade da causa, o tempo despendido pelo causídico desde o início até o término da ação, são circunstâncias que devem ser necessariamente levadas em conta pelo juiz quando da fixação dos honorários de advogado.” (in Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 10ª edição, Editora RT: São Paulo, 2008, p. 223/224). No entanto, a matéria tratada não demanda complexidade, em que pese a demonstração de zelo do advogado para a defesa do direito de seu cliente, não foram necessárias maiores diligências por parte deste, haja vista ter havido, inclusive, o pronto cumprimento da obrigação de fazer em sede liminar. Convém destacar que a ação foi distribuída em 15/01/2024 (ID. 276613877), e os documentos alvo do pedido de obrigação de fazer foram apresentados nos autos em 31/01/2024 (ID. 276613892). Dessa maneira, é de se reformar a sentença para que seja reduzido o valor devido a título de honorários, pelo que arbitro o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC/2015. CONCLUSÃO Por essas razões, conheço do recurso de Apelação interposto por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e NEGO-LHE PROVIMENTO. E, conheço do recurso de Apelação interposto por CARUANA S/A SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, tão somente para reduzir os honorários advocatícios devidos pela apelante ao patrono do apelado Tiago de Arruda Novais, fixando-os no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais). É como voto. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador Data da sessão: Cuiabá-MT, 15/04/2025

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Caruana S/A - Sociedade De Credito, Financiamento E Investimento e outros x Caruana S/A - Sociedade De Credito, Financiamento E Investimento e outros

ID: 259096219

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001068-22.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 23/04/2025

Polo Ativo:

CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO TIAGO DE ARRUDA NOVAIS

Polo Passivo:

CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO TIAGO DE ARRUDA NOVAIS

Acórdão

Advogados:

FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO

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STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-22.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Obrigação de Fazer /… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-22.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Obrigação de Fazer / Não Fazer, Liminar] Relator: Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA Turma Julgadora: [DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES] Parte(s): [TIAGO DE ARRUDA NOVAIS - CPF: 036.549.831-97 (APELANTE), STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA - CPF: 035.217.521-43 (ADVOGADO), CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO - CNPJ: 09.313.766/0001-09 (APELADO), FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO - CPF: 267.960.168-82 (ADVOGADO), TIAGO DE ARRUDA NOVAIS - CPF: 036.549.831-97 (APELANTE), STEPHANY QUINTANILHA DA SILVA - CPF: 035.217.521-43 (ADVOGADO), CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO - CNPJ: 09.313.766/0001-09 (APELADO), FABIOLA MEIRA DE ALMEIDA BRESEGHELLO - CPF: 267.960.168-82 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A APELANTES: CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e TIAGO DE ARRUDA NOVAIS APELADOS: TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO EMENTA. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTA SALÁRIO. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. NEGATIVA ADMINISTRATIVA FUNDADA EM FORMALIDADE. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO DA RÉ. DESPROVIMENTO DO RECURSO DO AUTOR. I. CASO EM EXAME Apelações cíveis interpostas por consumidor e instituição financeira contra sentença que julgou parcialmente procedente ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais, reconhecendo a resistência da instituição financeira em fornecer documentos relativos à conta salário, mas afastando o pedido de reparação moral. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Discute-se a existência de dano moral decorrente da negativa da ré em fornecer documentos bancários solicitados administrativamente, bem como a correção dos honorários de sucumbência arbitrados em primeiro grau. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. Não restou comprovado que a negativa de entrega dos documentos foi fundada em descaso ou abuso de direito, mas sim em formalidade relativa à representação processual, o que poderia ter sido solucionado de forma simples. 4. O contexto fático-jurídico afasta a configuração de dano moral in re ipsa em hipóteses como a dos autos, nas quais não houve violação aos direitos da personalidade. 5. Correta a condenação da ré ao cumprimento da obrigação de fazer, considerando a existência de pretensão resistida, sendo cabível a redução dos honorários sucumbenciais diante da baixa complexidade da demanda e do curto lapso temporal entre a distribuição da ação e o cumprimento da ordem judicial. IV. DISPOSITIVO E TESE 6. Recurso do autor desprovido. 7. Recurso da ré parcialmente provido, apenas para reduzir os honorários de sucumbência fixados. Tese de julgamento: "A recusa administrativa de fornecimento de documentos bancários baseada em formalidade de representação, sem demonstração de abalo moral concreto, não configura, por si só, dano moral indenizável." Dispositivos relevantes citados: Código de Processo Civil, arts. 85, §8º, 355, I e 487, I; Código de Defesa do Consumidor, art. 6º, III. Jurisprudência relevante citada: STJ, Tema Repetitivo 1.000; TJMT, Recurso Inominado n.º 1056516-71.2022.8.11.0001, j. 31/10/2023; TJMT, N.U. 1000983-85.2023.8.11.0036, j. 23/04/2024. R E L A T Ó R I O RELATÓRIO EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO DE ARRUDA ALMEIDA. Egrégia Câmara: Tratam-se de recursos de APELAÇÃO CÍVEL, interpostos por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e por CARUANA S/A SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, contra sentença (ID. 276613927 – Autos de Origem nº 1001068-22.2024.8.11.0041), proferida pelo Juízo da 11ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá-MT, que julgou parcialmente procedente o pedido formulado na Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais, nos seguintes termos: “Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por Tiago de Arruda Novais em desfavor de Caruana S/A – Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento. Narra a parte autora que motorista de ônibus de uma empresa de transporte, onde foi obrigado a abrir conta-salário junto à ré para recebimento de seus salários, e, ao abrir a conta, recebeu um cartão que funcionava apenas na modalidade crédito, resultando na cobrança de taxas e tarifas, incluindo uma mensalidade de R$ 18,90 e uma taxa de saque de R$ 5,90, além de tarifas, IOF e juros. A ré disponibilizou crédito pessoal na conta sem autorização, misturando-o com o salário. Informa que a empresa Pantanal Transporte mudou o convênio de pagamento, encerrando a conta junto à ré, momento em que foi informado sobre a existência de uma dívida. Aduz ter notificado extrajudicialmente a ré para fornecer o contrato, extratos completos e documentos relativos ao crédito pessoal, sem sucesso. Em razão dos fatos, requer a concessão da tutela antecipada para determinar a requerida a entregar os documentos mencionados, relativos a conta salário, e, no mérito, o julgamento procedente da ação, confirmando a liminar, bem como que a parte requerida seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Atribuiu à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Instruiu a inicial com os documentos de ids 138449105 - 138449126. Conforme decisão de id 138628095 foi deferido a antecipação da tutela de urgência, os benefícios da justiça gratuita bem como a inversão do ônus da prova, designada audiência de conciliação e determinada a citação da parte requerida. A parte requerida, em atendimento a tutela antecipada deferida, inseriu documentos solicitados nos ids 140026512 – 140029003. Após, ofertou contestação por meio do id 156433385, arguindo em preliminar; impugnação ao pedido de justiça gratuita, falta de interesse processual, e, no mérito, defendeu a cobrança devida e regular no caso narrado na inicial. Realizada a audiência de conciliação, as partes não formularam proposta de acordo (id 157594954). Impugnação à contestação apresentada no id 158345378. Vieram os autos conclusos. É o relatório. Fundamento. DECIDO. Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais ajuizada por Tiago de Arruda Novais em desfavor de Caruana S/A – Sociedade de Crédito Financiamento e Investimento. Das Preliminares Impugnação aos benefícios da justiça gratuita A Lei nº 1.060/50 considera necessitado, para fins legais, aquele cuja situação econômica não lhe permite pagar as custas do processo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. De acordo com a referida lei, para a parte gozar dos benefícios da assistência judiciária basta afirmar na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo, sem prejuízo próprio ou de sua família, transferindo para a parte contrária a incumbência de provar a suficiência de recurso do requerente. No caso dos autos, o requerido não logrou êxito em rebater os documentos constantes nos autos, se restringindo em afirmar que haveria indícios da capacidade financeira do autor ao pagamento de custas, todavia, não juntou qualquer prova. Por estes fundamentos, REJEITO a preliminar suscitada. Da Falta de Interesse Processual A alegação de falta de interesse processual não se sustenta. O autor demonstrou ter notificado extrajudicialmente a ré para fornecer os documentos solicitados, sem obter resposta. A resistência da ré em fornecer os documentos caracteriza a pretensão resistida, legitimando a propositura da presente demanda. Do Mérito Profiro o julgamento antecipado da lide (artigo 355, I, do Código de Processo Civil), porque a matéria prescinde de outras provas, sendo suficientes para o deslinde da causa as provas documentais contidas nos autos. Em que pese o pedido de produção de provas, profiro o julgamento antecipado da lide (artigo 355, I, do Código de Processo Civil), porque a matéria prescinde de outras provas, sendo suficientes para o deslinde da causa as provas documentais contidas nos autos. Passo, então, a decidir a causa. A ré, enquanto instituição financeira, tem o dever de fornecer ao consumidor todas as informações e documentos relativos à conta mantida, conforme disposto no art. 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor (CDC). A negativa e/ou omissão da ré em fornecer os documentos solicitados caracteriza violação ao direito básico de informação do consumidor. Diante das provas apresentadas pelo autor, no sentido de que tentou conseguir acesso aos documentos de forma administrativa, restou configurada a resistência da ré em fornecer os documentos, devendo ser acolhido o pedido de obrigação de fazer. Concernente ao pedido de indenização formulado, não resta evidenciado qualquer abalo moral ao autor em virtude da falha na prestação de serviços da ré, haja vista que o descumprimento da exibição de documentos, por si só, não caracteriza violação à honra do consumidor a ensejar o dever de reparação civil. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS - BANCÁRIO - PRELIMINAR DE SUSPENSÃO DA AÇÃO ATÉ O JULGAMENTO DO TEMA REPETITIVO 1.000 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - TEMA JÁ JULGADO EM 09/06/2021 – PRELIMIAR REJEITADA – PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE RECURSAL – REJEITADA - COMINAÇÃO DE ASTREINTES NA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS – NECESSIDADE DE PRÉVIA TENTATIVA DE BUSCA E APREENSÃO OU OUTRA MEDIDA COERCITIVA - ART. 400, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/2015 - TEMA REPETITIVO 1.000 DO STJ - INOBSERVÂNCIA NO CASO – MULTA INCABÍVEL – HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS – ALEGADA AUSÊNCIA DE CAUSALIDADE - PRETENSÃO RESISTIDA PELA NÃO APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS REQUISITADOS – CAUSALIDADE DEMONSTRADA – DANOS MORAIS – FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS QUE NÃO RESULTOU EM VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO CONSUMIDOR - INDENIZAÇÃO INDEVIDA - RECURSO DA PRIMEIRA APELANTE PARCIALMENTE PROVIDO – RECURSO DO SEGUNDO APELANTE DESPROVIDO Não há falar em ofensa ao princípio da dialeticidade quando as razões recursais impugnam especificamente as questões decididas na sentença e apresentam as razões da inconformidade. A fixação de astreintes, a fim de amparar pedido de exibição de documentos, é possível, com base no art. 400, parágrafo único, do Código de Processo Civil, desde que exercido juízo de probabilidade acerca da existência da relação jurídica e do documento, mediante contraditório prévio, e depois da tentativa de busca e apreensão ou outra medida coercitiva. Inteligência do Tema Repetitivo n.º 1.000, do Superior Tribunal de Justiça (Recurso Especial n.º 1763462/MG). Não se evidencia abalo moral pelo mero descumprimento da exibição de documentos, quando não acrescidos de violação à imagem ou direitos da personalidade do consumidor correntista. (N.U 1000983-85.2023.8.11.0036, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, Quinta Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2024, Publicado no DJE 25/04/2024) Para que seja configurado o dever de reparação civil é imprescindível a comprovação do ato ilícito que gerou o dano, a culpa e o nexo de causalidade entre ambos, conforme disposto no art. 186 do CC. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” Desta feita, o conjunto probatório não se apresenta sólido a demonstrar violação à honra subjetiva do autor caracterizadora do dever de reparação pecuniária, não passando de mero dissabor. Posto isto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados por FRANCISCO LOPES PAULO NETO contra CARUANA S/A – SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, para condenar a ré à obrigação de entregar cópia (exibir) dos documentos solicitados. Deixo de enfrentar os demais argumentos deduzidos no processo, porque desnecessários para diminuir a autoridade desta sentença, conforme art. 489, § 1º, IV do NCPC, agindo, este Juízo, em obediência também ao comando Constitucional do art. 5º, LXXVIII. Posto isto, com base no que dos autos constam, nos termos do art. 487, I, do CPC, JULGO PARCILMENTE PROCEDENTE a presente Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização para: a. Ratificar a liminar concedida; b. Condenar a requerida ao pagamento das custas e despesas processuais assim como honorários advocatícios de sucumbência, que fixo em 3.000,00 (três mil reais) atualizados a partir do ajuizamento da ação, nos termos dos artigos 82, §2º e 85, §2º, ambos do CPC. Transitado em julgado, não havendo outros requerimentos, arquivem-se os autos com as baixas e comunicações de estilo. Deixo de atender a ordem cronológica de processos conclusos, considerando que o rol do art. 12, § 2º do CPC/2015 é exemplificativo e a necessidade de cumprimento da Meta estabelecida pelo CNJ.” Apela o autor (ID. 276613930), sustentando, em síntese: a ocorrência de dano moral decorrente da recusa injustificada da instituição financeira em fornecer os documentos solicitados; que a sentença reconheceu a falha, mas deixou de indenizar pelos prejuízos imateriais sofridos; que a negativa de acesso aos dados configura violação ao dever de transparência e ao direito básico à informação do consumidor. Apela também a ré CARUANA S/A (ID. 276613936), alegando: que o juízo a quo desconsiderou que a Apelante prestou todas as informações e exibiu os documentos requeridos na exordial, inexistindo falha na prestação dos serviços da Apelante; que jamais houve qualquer negativa em prestar as informações acerca do relacionamento contratual entre as partes e apresentar os documentos; o Apelado decaiu da maior parte de seus pedidos, devendo ser, inclusive, invertido o ônus sucumbencial no caso em tela, nos termos do parágrafo único do art. 86 do CPC4 ou, ao menos, distribuído o ônus de forma proporcional nos termos do caput do mencionado dispositivo. O autor apresentou contrarrazões ao recurso da ré (ID. 276613933), nas quais requer o desprovimento da apelação e a majoração dos honorários. A ré, por sua vez, apresentou contrarrazões ao recurso do autor (ID. 276613943), defendendo a legalidade de sua conduta e pugnando pela manutenção da sentença quanto à negativa de indenização moral. Dispensado o Parecer Ministerial em razão da matéria e da ausência de interesse de incapaz. Ambos os recursos são tempestivos e o preparo recursal por parte da ré foi devidamente comprovado (ID. 276613938), já o preparo recursal do autor é dispensado diante do deferimento da gratuidade de justiça na origem. É o relatório. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador V O T O R E L A T O R APELANTES: CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e TIAGO DE ARRUDA NOVAIS APELADOS: TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO VOTO Egrégia Câmara: Inicialmente, verifico a presença dos requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal. Reitero que se tratam de recursos de Apelação Cível, interpostos contra sentença proferida pelo Juízo da 11ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá-MT, que, na Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais, julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS contra CARUANA S/A - SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO, para ratificar a tutela antecipada de exibição de documentos, e condenar a ré ao pagamento de custas e honorários no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), deixando, contudo, de acolher o pedido de indenização por danos morais. Em síntese, o Juízo a quo entendeu que a recusa da requerida em apresentar os documentos solicitados pelo autor caracterizou resistência suficiente à propositura da ação, justificando a procedência do pedido de exibição. Contudo, considerou não configurado o dano moral, por ausência de prova do abalo moral efetivo, tampouco reconheceu abuso de direito. Passo ao exame dos recursos. 1. Recurso do Autor – Alegação de Dano Moral In Re Ipsa O recorrente sustenta que a ausência de resposta da instituição financeira à sua solicitação de envio de documentos bancários essenciais para análise de eventuais descontos indevidos em conta salário ensejaria, por si só, dano moral indenizável, nos moldes da jurisprudência que reconhece o dano in re ipsa em hipóteses de descaso administrativo e falha na prestação de serviço. Contudo, razão não lhe assiste. Malgrado alegue em suas razões recursais que “foram várias as tentativas extrajudiciais”, a documentação constante dos autos revela tão somente a existência de uma Notificação Extrajudicial enviada por AR, formulada pelo escritório SQ Advocacia em nome do autor e outros 9 (nove) representados (ID. 276613883 - Pág. 3); e uma Notificação de Entrega de Documentos e Informações encaminhada via e-mail pela advogada Dra. Stephany Quintanilha, em nome do autor (ID. 276613883 - Pág. 7). No tocante ao e-mail encaminhado pela advogada, verifico que a ré, ora apelada, respondeu a solicitação no sentido de que “a procuração não tem firma reconhecida, e portanto não temos como atender a notificação em questão.” – ID. 276613883 - Pág. 8. Sob esse contexto, muito embora tenha que se reconhecer que os advogados não estão sujeitos à obrigatoriedade do reconhecimento de firma ou apresentação de procuração pública para o exercício profissional e acesso aos autos administrativos ou judiciais, é certo que a questão em voga poderia ser facilmente resolvida dispensando-se maiores esforços. Diz isto, pois, a negativa administrativa não se deu por impossibilidade de atender o pedido, mas por questões formais de representação, e muito embora indevida, bastaria que a solicitação fosse feita pelo próprio autor ou mesmo que este fosse incluído em cópia para resolver a celeuma. Ademais, em que pese não tenha atendido ao pedido extrajudicial, a ré prontamente juntou todos os documentos pleiteados em cumprimento da liminar. Fixadas essas premissas, entendo que a mera ausência de resposta administrativa, sem demonstração de prejuízo concreto ou dano à esfera íntima do consumidor, não é suficiente para justificar condenação por dano moral. Inclusive, convém asseverar que, in casu, não prospera a alegação de que “sujeitou o autor à contratação de advogado para ajuizamento da demanda”, pois, a solicitação administrativa foi realizada por meio do escritório de advocacia, de modo que o representante jurídico já havia sido constituído antes mesmo da negativa administrativa. Registro, ainda, que o fato gerador deste caso em especifico - negativa administrativa por suposto vício formal de representação - nãogera dano moral in re ipsa, sobretudo considerando que a parte já se encontrava amparada por representante jurídico e não demonstrou o mínimo interesse em resolver a questão administrativamente. Em outras palavras, a não apresentação de documentos bancários fora do âmbito judicial, na forma como se deu nos autos, não configura, por si só, abalo moral indenizável. A propósito: EMENTA: RECURSO INOMINADO. SIMPLES FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. MERO ABORRECIMENTO. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A simples falha na prestação de serviço, embora caracterize conduta ilícita, por si só, não caracteriza dano moral, pois não tem o condão de denegrir a imagem do consumidor e de gerar sentimentos indesejados. 2. Recurso conhecido e não provido. 3. Custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 15% sobre o valor da causa, pela parte recorrente, observado o disposto no art. 98, §§ 2º e 3º, do CPC, se for o caso. (TJ-MT - RECURSO INOMINADO: 1056516-71.2022.8.11 .0001, Relator.: HILDEBRANDO DA COSTA MARQUES, Data de Julgamento: 31/10/2023, Terceira Turma Recursal, Data de Publicação: 02/11/2023) Destarte, a sentença analisou corretamente os elementos probatórios, não se vislumbrando abuso, ilicitude ou descaso flagrante por parte da apelada que, repita-se, anexou a documentação requerida no momento oportuno. Dessa forma, inexiste fundamento jurídico para a indenização por dano moral. 2. Recurso da Ré – Cumprimento da Obrigação de Fazer e Excesso na Fixação dos Honorários Pelo que se depreende dos pedidos autorais, a obrigação de fazer se deu para exibição dos seguintes documentos (ID. 276613877 - Pág. 13): “- Apresentar o Instrumento do Contrato e seus respectivos aditivos; - Os extratos bancários de todo período que o Autor permaneceu com a conta salário ativa junto a Reclamada, e os respectivos descontos de tarifas e taxas; - A autorização e solicitação do Autor á disponibilidade do cheque especial, cartão de crédito, e/ou qualquer outra modalidade de crédito disponibilizado em conta; - A demonstração do valor principal da dívida (se houver) e dos encargos exigidos, bem como dos valores que efetivamente foram pagos, com suas respectivas datas.” Sopesando atentamente o conjunto fático-jurídico, percebo que embora o juízo de origem tenha entendido pela procedência do pedido de obrigação de fazer e ratificação da liminar, de fato a obrigação já foi devidamente cumprida conforme documentos sob ID. 276613898 - Pág. 1/5 até ID. 276613907 - Pág. 4. Desse modo, há que se considerar integralmente cumprida a obrigação de fazer. Por outro lado, o cumprimento da obrigação de fazer em decorrência da ordem liminar não afasta o ônus sucumbencial. Isso porque, pelo princípio dacausalidade, aquele que deu causa à propositura de ação ou à instauração de incidente processual deve responder pelas despesas deles decorrentes, nos termos do art.85doCPC. Logo, não pode a ré, ora apelante, eximir-se do pagamento dos honorários de sucumbência, sob o argumento de que não houve resistência à pretensão da entrega dos documentos solicitados. Noutro diapasão, ao contrário do defendido nas razões recursais, entendo ser viável o arbitramento por equidade haja vista a procedência parcial da ação se deu em razão do reconhecimento do pedido de obrigação de fazer cujo proveito econômico é imensurável monetariamente. De toda sorte, é de se reduzir os honorários advocatícios, pois, ao fixar os honorários advocatícios, o magistrado deve considerar o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o proveito experimentado pelo cliente, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo despendido para o serviço. Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, em comentário à referida norma, assim prelecionam: São objetivos e devem ser sopesados pelo juiz na ocasião da fixação dos honorários. A dedicação do advogado, a competência com que conduziu os interesses de seu cliente, o fato de defender seu constituinte em comarca onde não resida, os níveis de honorários na comarca onde se processa a ação, a complexidade da causa, o tempo despendido pelo causídico desde o início até o término da ação, são circunstâncias que devem ser necessariamente levadas em conta pelo juiz quando da fixação dos honorários de advogado.” (in Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 10ª edição, Editora RT: São Paulo, 2008, p. 223/224). No entanto, a matéria tratada não demanda complexidade, em que pese a demonstração de zelo do advogado para a defesa do direito de seu cliente, não foram necessárias maiores diligências por parte deste, haja vista ter havido, inclusive, o pronto cumprimento da obrigação de fazer em sede liminar. Convém destacar que a ação foi distribuída em 15/01/2024 (ID. 276613877), e os documentos alvo do pedido de obrigação de fazer foram apresentados nos autos em 31/01/2024 (ID. 276613892). Dessa maneira, é de se reformar a sentença para que seja reduzido o valor devido a título de honorários, pelo que arbitro o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), nos termos do artigo 85, § 8º, do CPC/2015. CONCLUSÃO Por essas razões, conheço do recurso de Apelação interposto por TIAGO DE ARRUDA NOVAIS e NEGO-LHE PROVIMENTO. E, conheço do recurso de Apelação interposto por CARUANA S/A SOCIEDADE DE CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, tão somente para reduzir os honorários advocatícios devidos pela apelante ao patrono do apelado Tiago de Arruda Novais, fixando-os no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais). É como voto. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador Data da sessão: Cuiabá-MT, 15/04/2025

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Processo nº 1016778-74.2025.8.11.0000

ID: 330832144

Tribunal: TJMT Órgão: Terceira Câmara de Direito Privado Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 1016778-74.2025.8.11.0000

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

RUTHANE DE AMORIM MAZUY RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELI

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

GABRIELA BRANDAO DOMINGUES

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1016778-74.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assunto: [Cédula de Crédito Bancário] Relator: De… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1016778-74.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assunto: [Cédula de Crédito Bancário] Relator: Des(a). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES Turma Julgadora: [DES(A). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, DES(A). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, DES(A). DIRCEU DOS SANTOS] Parte(s): [MARCO ANDRE HONDA FLORES - CPF: 399.418.761-34 (ADVOGADO), RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA - CPF: 444.850.181-72 (ADVOGADO), GABRIELA BRANDAO DOMINGUES - CPF: 121.605.007-47 (ADVOGADO), RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELI - CNPJ: 27.140.587/0001-90 (AGRAVANTE), RUTHANE DE AMORIM MAZUY - CPF: 872.488.911-34 (AGRAVANTE), COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO DO NOROESTE DE MATO GROSSO, ACRE E AMAZONAS - SICREDI BIOMAS - CNPJ: 33.022.690/0001-39 (AGRAVADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – REJEIÇÃO – INÉPCIA DA INICIAL – NÃO CONFIGURAÇÃO – EXCESSO DE EXECUÇÃO – AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA – CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS – PACTUAÇÃO EXPRESSA – VALIDADE – JUROS REMUNERATÓRIOS SUPERIORES A 12% AO ANO – POSSIBILIDADE – SÚMULAS 539 E 541/STJ – PENHORA DE PROVENTOS – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA NATUREZA ALIMENTAR – ÔNUS DO EXECUTADO – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A petição inicial da execução foi devidamente instruída com cédula de crédito bancário e demonstrativo de débito suficiente, inexistindo a alegada inépcia. A capitalização mensal dos juros foi expressamente pactuada, sendo válida à luz da jurisprudência pacífica do STJ, nos termos das Súmulas 539 e 541. Da mesma forma, a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não configura abusividade por si só. A tese de excesso de execução carece de prova pré-constituída, não sendo possível a análise de elementos que demandam dilação probatória pela via da exceção de pré-executividade, sendo inapto o parecer contábil unilateral apresentado. Quanto à penhora, não foi demonstrado que os valores constritos comprometeriam a subsistência da executada, ônus que lhe incumbia nos termos do art. 854, §3º, I, do CPC. Decisão agravada mantida. Recurso desprovido. Decisão mantida. TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1016778-74.2025.8.11.0000 AGRAVANTES: RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELLI ME, E RUTHANE DE AMORIM MAZUY AGRAVADA: COOPERATIVA DE CRÉDITO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DO NOROESTE DE MATO GROSSO, ACRE E AMAZONAS - SICREDI BIOMAS RELATÓRIO EXMA. SRA. DESA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES (RELATORA) Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de agravo de instrumento, com pedido de tutela recursal, interposto por RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELLI ME e RUTHANE DE AMORIM MAZUY, em face da decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Pontes e Lacerda, Juiz de Direito Ítalo Osvaldo Alves da Silva, nos autos da Execução Extrajudicial processo originário número 1002555-19.2021.8.11.0013, o qual rejeitou a exceção de pré-executividade oposta pela parte executada agravante. A parte agravante aduz a incorreção da decisão recorrida sustentando, em suma, que há inadequação formal da decisão agravada, porquanto, embora intitulada como sentença, possui natureza jurídica de decisão interlocutória, uma vez que versa sobre incidente processual de exceção de pré-executividade, razão pela qual é cabível o manejo de agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, II, do CPC. Diz que com apoio em parecer técnico contábil subscrito por profissional habilitada, que há excesso de execução, uma vez que os encargos cobrados no contrato extrapolam a taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil, em desrespeito aos parâmetros de razoabilidade e boa-fé objetiva. Sustenta que há necessidade de revisão judicial dos juros remuneratórios, inclusive com base no entendimento consolidado pelo STJ no julgamento dos Temas 27 e 234, por entender demonstrada a abusividade nas cláusulas contratuais, tanto pela aplicação de taxas superiores às médias do mercado quanto pela falta de clareza no custo efetivo total da operação. Explica que há ilegalidade da capitalização dos juros remuneratórios e moratórios, alegando inexistência de pactuação expressa e ofensa ao princípio da informação, à luz do art. 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor, além da violação ao disposto na Súmula 539 do STJ, quanto à exigência de cláusula contratual clara e destacada para admitir a capitalização com periodicidade inferior à anual. No mais, defende que a penhora incidente sobre verba salarial, determinada nos autos de origem, compromete o sustento da executada e de sua família, violando o mínimo existencial e os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da proteção ao salário, conforme o art. 833, IV, do CPC e a jurisprudência do STJ. Requer, em síntese, o recebimento do agravo de instrumento com atribuição de efeito suspensivo ativo, a intimação da parte agravada para manifestação, e, ao final, o provimento do recurso para reformar a decisão agravada, com o reconhecimento da admissibilidade e procedência da exceção de pré-executividade, a revisão dos encargos e a adequação dos valores executados. Recorrente agraciada pela gratuidade de justiça, consoante certidão Id. 288870885. A liminar recursal foi por mim indeferida em 30/05/2025, nos termos da decisão monocrática Id. 290274132. Manifestação da parte agravante no Id. 293813850, o qual foi indeferido nos termos da decisão Id. 295966861 datada de 26/06/2025. Contraminuta recursal no Id. 293813850, rebatendo os argumentos recursais e pugnando pelo desprovimento do recurso. É o relatório. VOTO EXMA. SRA. DESA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES (RELATORA) Egrégia Câmara: Conforme relatado, cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de tutela recursal, interposto por Ruthane de Amorim Mazuy EIRELI ME e Ruthane de Amorim Mazuy, contra decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Pontes e Lacerda, que, nos autos da Execução Extrajudicial nº. 1002555-19.2021.8.11.0013, rejeitou a exceção de pré-executividade apresentada pela parte executada. As agravantes alegam a inadequação formal da decisão, afirmando tratar-se de decisão interlocutória passível de impugnação por agravo de instrumento, à luz do art. 1.015, II, do CPC. No mérito, sustentam, com base em parecer contábil, a ocorrência de excesso de execução, diante da cobrança de encargos contratuais supostamente abusivos, superiores à taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil, em afronta à boa-fé objetiva. Requerem a revisão dos juros remuneratórios, com fundamento nos Temas 27 e 234 do STJ, apontando ainda a ilegalidade da capitalização dos juros, por ausência de pactuação expressa e violação ao direito à informação, nos termos do CDC e da Súmula 539 do STJ. Aduzem, por fim, a impenhorabilidade de verbas salariais, invocando o art. 833, IV, do CPC e o princípio da dignidade da pessoa humana, por entenderem que a constrição compromete o sustento da executada e de sua família. Pedem provimento do recurso para a reforma da decisão agravada, o acolhimento da exceção de pré-executividade e a readequação dos encargos e valores executados. Analisando a insurgência recursal apresentada, infere-se que não deve prosperar. Pois bem. Na origem, infere-se que a parte executada apresentou exceção de pré-executividade alegando três fundamentos centrais: (a) inépcia da petição inicial por ausência de demonstrativo atualizado do débito; (b) excesso de execução decorrente da prática de juros abusivos e anatocismo; e (c) impenhorabilidade de valores de natureza alimentar. O MM. Juiz Ítalo Osvaldo Alves da Silva analisou cada uma das alegações e rejeitou todas, assim sintetizadas: - Inépcia da Inicial: Entendeu que a petição inicial foi adequadamente instruída com a Cédula de Crédito Bancário e a memória de cálculo do débito, não havendo qualquer vício formal ou omissão que impedisse o exercício do contraditório. - Excesso de Execução – Juros Abusivos e Anatocismo: A decisão sustentou que a pactuação da taxa de juros e capitalização mensal, mediante a Tabela Price, estava expressamente prevista e assinada pela executada, afastando qualquer hipótese de abusividade ou vício. Invocou jurisprudência do STJ para fundamentar a legalidade da capitalização mensal e afastou a tese de anatocismo, entendendo que a taxa pactuada não ultrapassava os limites médios do mercado segundo dados do BACEN. - Impenhorabilidade – Verba Alimentar: Em relação à penhora de 20% do pro labore ou retirada da executada junto à empresa MAZUY EMPREENDIMENTOS E ADMINISTRAÇÃO, o Juízo concluiu que a executada não comprovou que os valores bloqueados tinham natureza alimentar, nos termos do art. 833, IV, do CPC. Assim, manteve a penhora. Por fim, julgou improcedente a exceção de pré-executividade com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, sem condenação em custas ou honorários, diante da natureza incidental do instituto. No que se refere à alegação de inépcia da inicial, não subsiste qualquer mácula a ser reconhecida. De fato, a decisão agravada destacou com precisão que a petição inicial foi instruída com título executivo hábil – Cédula de Crédito Bancário –, acompanhada de memória de cálculo suficiente para o exercício da ampla defesa e do contraditório, de modo que atende aos requisitos do artigo 798 do Código de Processo Civil, especialmente quanto à descrição dos fatos, fundamento jurídico do pedido, indicação do valor exequendo e comprovação da exigibilidade do crédito. Ademais, conforme assentado pelo magistrado de origem, o demonstrativo do débito (Id. 57006985) permite o pleno conhecimento da evolução da dívida, não se verificando a nulidade arguida. De outra feita, no ponto relativo ao alegado excesso de execução, a decisão agravada agiu com acerto ao repelir a tese, ante a ausência de prova pré-constituída. Com efeito, a agravante se limitou a colacionar aos autos parecer técnico contábil unilateral, desprovido de robustez suficiente a autorizar o reconhecimento da alegada abusividade. Aliás, como bem destacado pelo juízo de origem, as taxas contratadas (1,956% ao mês e 26,17% ao ano) não destoam de forma significativa das médias divulgadas pelo Banco Central do Brasil para a mesma modalidade de operação na época da contratação, havendo também no contrato exequendo cláusula clara de capitalização mensal dos juros, pactuada expressamente, o que afasta a tese de anatocismo ilícito. Outrossim, a capitalização em periodicidade inferior à anual é autorizada pelo ordenamento jurídico, nos termos da Medida Provisória nº. 2.170-36/2001 e conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, inclusive por meio das Súmulas 539 e 541. A decisão agravada, neste ponto, está firmemente alicerçada na jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, que reconhece a validade da capitalização mensal de juros, desde que expressamente pactuada – como se verifica no caso concreto –, e afasta qualquer abusividade pela simples estipulação de juros superiores a 12% ao ano. A propósito: “DIREITO CIVIL – DIREITO PROCESSUAL CIVIL – APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – CERCEAMENTO DE DEFESA – REJEITADA – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL – LÍQUIDO, CERTO E EXIGÍVEL – JUROS REMUNERATÓRIOS – INOBSERVÂNCIA DA TAXA MÉDIA DE MERCADO – ADEQUAÇÃO – CAPITALIZAÇÃO MENSAL E ANUAL EXPRESSA NO CONTRATO – LEGALIDADE – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – INEXISTÊNCIA DE CUMULAÇÃO COM OUTROS ENCARGOS – DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Não configurado cerceamento de defesa, pois a controvérsia se resolve à luz de prova documental já constante nos autos, nos termos do art. 355, I, do CPC. As cédulas de crédito bancário são títulos executivos extrajudiciais, nos termos do art. 28 da Lei nº. 10.931 /04. A estipulação de taxa de juros remuneratórios que ultrapassa em 50% a média de mercado divulgada pelo Banco Central configura abusividade e enseja revisão judicial, mesmo em sede de embargos à execução. É válida a capitalização mensal de juros remuneratórios, desde que expressamente pactuada, nos termos da jurisprudência do STJ. No caso dos autos, não há previsão de incidência da comissão de permanência, porquanto a instituição financeira limitou a cobrança aos juros remuneratórios, moratórios e multa contratual para o caso de inadimplemento, não se verificando a alegada cumulação de comissão com outros encargos da mora. A constatação de abusividade nos encargos pactuados para o período regular do contrato, especialmente nos juros remuneratórios, afasta a configuração da mora do devedor.” (N.U 1013065-02.2024.8.11.0041, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 31/05/2025, Publicado no DJE 31/05/2025) “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO BANCÁRIO DE EMPRÉSTIMO PARA FINANCIAMENTO DE VEÍCULO – JUROS REMUNERATÓRIOS EM CONSONÂNCIA COM A TAXA MÉDIA DE MERCADO – CAPITALIZAÇÃO DE JUROS – ADMISSIBILIDADE – TARIFAS DE AVALIAÇÃO DO BEM, CADASTRO E REGISTRO DE CONTRATO – LEGALIDADE DA COBRANÇA – SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA PRESTAMISTA – VENDA CASADA CONFIGURADA – COBRANÇA INDEVIDA – RESTITUIÇÃO DOS VALORES NA FORMA SIMPLES – SENTENÇA MODIFICADA NO PONTO – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. Nos termos da orientação jurisprudencial do STJ, não será considerada abusiva a taxa dos juros remuneratórios contratada quando ela for até uma vez e meia superior à taxa de juros média praticada pelo mercado. Conforme dispõe a Súmula nº 541 do STJ, “A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.” Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. [...].” (STJ – REsp 1.251.331/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 2ª Seção. J. 28.08.2013, DJe 24.10.2013; e REsp 1.255.513/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 2ª Seção. J. 28.08.2013, DJe 24.10.2013) Os custos relativos aos serviços de terceiros, quando especificados e efetivamente prestados, podem ser exigidos do consumidor (REsp 1578553/SP). O Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, definiu a validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato (Tema 958 - Resp. 1.578.553/SP) e, apesar de ressalvar hipótese de abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado, tal exceção somente tem aplicação quando houver controvérsia a respeito. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que “a contratação de seguro no bojo do contrato de financiamento caracteriza venda casada”, o que não é permitido pelo ordenamento jurídico. Configurada venda casada de seguro de proteção financeira, é devida a devolução, na forma simples, dos valores cobrados indevidamente.” (N.U 1009986-71.2022.8.11.0045, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, DIRCEU DOS SANTOS, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 05/08/2024, Publicado no DJE 05/08/2024) Ademais, o excesso de execução, para ser apreciado por meio de exceção de pré-executividade, deve estar documentalmente demonstrado, o que não se verifica nos autos, sendo a jurisprudência firme no sentido de que tal alegação exige dilação probatória, incompatível com a via eleita. Neste contexto, sublinha-se que o parecer técnico apresentado pela parte agravante é de caráter unilateral, não submetido ao contraditório, tampouco revestido de elementos suficientes para infirmar a presunção de liquidez, certeza e exigibilidade do título executivo. Neste sentido, assevera-se que a exceção de pré-executividade é instrumento de cognição sumária e restrita, admitindo apenas matérias de ordem pública que independam de dilação probatória, sendo que a alegação de excesso de execução, para ser acolhida por essa via, exige prova irrefutável e documental, não sendo suficiente a juntada de parecer unilateral que carece de contraditório. A propósito: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – INÉPCIA DEMONSTRATIVO DE DÉBITO – DEFEITO INEXISTENTE – POSSÍVEL AFERIR OS TERMOS DO CÁLCULO EM COTEJO COM CONTRATO – AUSENTE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE ERRO – AUSÊNCIA DE DUAS TESTEMUNHAS NO INSTRUMENTO PARTICULAR NÃO CONFIGURA NULIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A alegação de inépcia da inicial pela suposta inadequação dos demonstrativos de débito não se sustenta diante da ausência de impugnação concreta e da necessidade de prova em contraditório, inviabilizando sua apreciação em sede de exceção de pré-executividade. Ônus da prova da inexistência ou nulidade do título incumbe ao executado, nos termos do artigo 373, II, do CPC, não podendo a formalidade ausente servir de fundamento exclusivo para frustrar a execução. A ausência da assinatura ou da identificação completa de duas testemunhas em documento particular não descaracteriza o título executivo extrajudicial quando presentes outros elementos que comprovem a autenticidade do instrumento, a existência da obrigação certa, líquida e exigível, bem como a manifestação inequívoca da vontade das partes. O artigo 784, inciso III, do CPC, deve ser interpretado à luz dos princípios da finalidade do processo e da efetividade da tutela jurisdicional, admitindo-se mitigação formal quando a autenticidade e a certeza do débito estejam devidamente demonstradas. A alegação de inépcia da inicial pela suposta inadequação dos demonstrativos de débito não se sustenta diante da ausência de impugnação concreta e da necessidade de prova em contraditório, inviabilizando sua apreciação em sede de exceção de pré-executividade. Ônus da prova da inexistência ou nulidade do título incumbe ao executado, nos termos do artigo 373, II, do CPC, não podendo a formalidade ausente servir de fundamento exclusivo para frustrar a execução. A exceção de pré-executividade é meio de defesa excepcional, cabível apenas para matérias de ordem pública ou nulidades evidentes que possam ser conhecidas de plano, sendo inadmissível para questões que demandem dilação probatória, como eventual incorreção nos cálculos do débito ou pedidos de reestruturação da dívida. Recurso desprovido. Decisão mantida.” (N.U 1008140-52.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 24/05/2025, Publicado no DJE 24/05/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE REJEITADA – INEXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO E DOS TÍTULOS – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA – ILEGITIMIDADE PASSIVA – IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – DEMANDA DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A exceção de pré-executividade possui aplicabilidade restrita como via de defesa, por cingir-se a questões de ordem pública e aos casos em que o reconhecimento da nulidade do título possa ser verificado de plano, sem a necessidade de dilação probatória, o que não se enquadra à hipótese dos autos.” (N.U 1033186-77.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 09/04/2025, Publicado no DJE 09/04/2025) A tese de ilegalidade na capitalização dos juros moratórios, por sua vez, foi igualmente bem refutada na decisão recorrida, isso porque como constou da cláusula contratual expressamente pactuada, a forma de cálculo foi previamente estabelecida entre as partes, e não há qualquer norma legal que vede, no caso concreto, a adoção de juros capitalizados nos moldes avençados. Ademais, a ausência de vício no consentimento, coação ou qualquer irregularidade formal reforça a validade do pacto celebrado. Por fim, no que diz respeito à penhora incidente sobre valores que, segundo a agravante, teriam natureza salarial, também não merece prosperar a insurgência, isso porque a decisão agravada esclareceu, com fundamentação compatível com o entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, que a constrição recaiu sobre 20% dos proventos recebidos pela agravante junto à sociedade empresária da qual é sócia, não tendo sido demonstrado que tais valores consistiriam em verba de natureza alimentar indispensável à sua subsistência. De igual forma, em que pese a executada alegue que tais valores seriam utilizados para sua manutenção e de sua família, deixou de apresentar comprovação documental mínima nesse sentido, como determina o art. 854, §3º, I, do CPC. Assim, não há nos autos qualquer demonstração concreta da destinação alimentar das verbas constritas, tampouco de que a constrição comprometa o mínimo existencial, sendo que a jurisprudência tem admitido, em hipóteses como a presente, a relativização da impenhorabilidade, desde que observada a proporcionalidade, como ocorreu na origem, sendo também ônus da parte agravante comprovar, de forma inequívoca, que os valores atingidos são indispensáveis à sua subsistência, o que não se verificou nos autos. A propósito: “AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DA PARTE AGRAVANTE – ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ARTIGO 833, IV DO CPC – DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO POSSUI NATUREZA ALIMENTAR – ÔNUS DA PROVA DA PARTE AGRAVANTE - DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus da parte executada a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC. A ausência de comprovação da destinação dos valores bloqueados para finalidade alimentar, impossibilita a aplicação da regra de impenhorabilidade prevista no art. 833, inc. IV, do CPC”. (N.U 1001068-14.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025).” (N.U 1007380-06.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 19/05/2025, Publicado no DJE 19/05/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DA AGRAVANTE – ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ART. 833, X, DO CPC – DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO ERA ORIUNDO DE CONTA POUPANÇA OU DESTINADO À RESERVA FINANCEIRA – ÔNUS DA PROVA DA PARTE EXECUTADA – ART. 854, § 3º, I, DO CPC/15 –IMPENHORABILIDADE NÃO DEMONSTRADA – DECISÃO ESCORREITA – RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus do executado a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC/15. Não se pode acolher a pretensão de desconstituição de penhora online sobre valores depositados em contas bancárias, quando não há cabal demonstração de que têm a finalidade de constituir reserva financeira.” (N.U 1004427-69.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DO AGRAVANTE - ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ART. 833, VI, DO CPC - DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO ERA ORIUNDO DE VERBA SALARIAL - ÔNUS DA PROVA DA PARTE AGRAVANTE – ART. 854, § 3º, I, DO CPC – IMPENHORABILIDADE NÃO DEMONSTRADA – DECISÃO ESCORREITA - RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus do executado a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC. A ausência de comprovação da destinação dos valores bloqueados para finalidade alimentar impossibilita a aplicação da regra de impenhorabilidade prevista no art. 833, inc. IV, do CPC.” (N.U 1001068-14.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025) De fato, verifica-se que a decisão agravada encontra-se escorada em jurisprudência pacífica, sólida fundamentação jurídica e adequada apreciação da prova constante dos autos, sendo que os argumentos apresentados no agravo, embora revestidos de tecnicidade, não infirmam os fundamentos adotados pelo magistrado singular, tampouco apresentam prova pré-constituída capaz de sustentar a tese de excesso de execução ou de ilegalidade na penhora realizada. Destarte, considerando os fatos apresentados e a legislação citada, pode-se concluir que a rejeição da exceção de pré-executividade se deu de forma escorreita, não havendo motivos que autorizem a reforma da decisão. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento interposto e mantenho incólume a decisão recorrida. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 16/07/2025

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Processo nº 1016778-74.2025.8.11.0000

ID: 330832147

Tribunal: TJMT Órgão: Terceira Câmara de Direito Privado Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 1016778-74.2025.8.11.0000

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO DO NOROESTE DE MATO GROSSO, ACRE E AMAZONAS - SICREDI BIOMAS

Acórdão

Advogados:

RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

MARCO ANDRE HONDA FLORES

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1016778-74.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assunto: [Cédula de Crédito Bancário] Relator: De… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1016778-74.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assunto: [Cédula de Crédito Bancário] Relator: Des(a). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES Turma Julgadora: [DES(A). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, DES(A). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, DES(A). DIRCEU DOS SANTOS] Parte(s): [MARCO ANDRE HONDA FLORES - CPF: 399.418.761-34 (ADVOGADO), RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA - CPF: 444.850.181-72 (ADVOGADO), GABRIELA BRANDAO DOMINGUES - CPF: 121.605.007-47 (ADVOGADO), RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELI - CNPJ: 27.140.587/0001-90 (AGRAVANTE), RUTHANE DE AMORIM MAZUY - CPF: 872.488.911-34 (AGRAVANTE), COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO DO NOROESTE DE MATO GROSSO, ACRE E AMAZONAS - SICREDI BIOMAS - CNPJ: 33.022.690/0001-39 (AGRAVADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – REJEIÇÃO – INÉPCIA DA INICIAL – NÃO CONFIGURAÇÃO – EXCESSO DE EXECUÇÃO – AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA – CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS – PACTUAÇÃO EXPRESSA – VALIDADE – JUROS REMUNERATÓRIOS SUPERIORES A 12% AO ANO – POSSIBILIDADE – SÚMULAS 539 E 541/STJ – PENHORA DE PROVENTOS – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA NATUREZA ALIMENTAR – ÔNUS DO EXECUTADO – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A petição inicial da execução foi devidamente instruída com cédula de crédito bancário e demonstrativo de débito suficiente, inexistindo a alegada inépcia. A capitalização mensal dos juros foi expressamente pactuada, sendo válida à luz da jurisprudência pacífica do STJ, nos termos das Súmulas 539 e 541. Da mesma forma, a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não configura abusividade por si só. A tese de excesso de execução carece de prova pré-constituída, não sendo possível a análise de elementos que demandam dilação probatória pela via da exceção de pré-executividade, sendo inapto o parecer contábil unilateral apresentado. Quanto à penhora, não foi demonstrado que os valores constritos comprometeriam a subsistência da executada, ônus que lhe incumbia nos termos do art. 854, §3º, I, do CPC. Decisão agravada mantida. Recurso desprovido. Decisão mantida. TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1016778-74.2025.8.11.0000 AGRAVANTES: RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELLI ME, E RUTHANE DE AMORIM MAZUY AGRAVADA: COOPERATIVA DE CRÉDITO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DO NOROESTE DE MATO GROSSO, ACRE E AMAZONAS - SICREDI BIOMAS RELATÓRIO EXMA. SRA. DESA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES (RELATORA) Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de agravo de instrumento, com pedido de tutela recursal, interposto por RUTHANE DE AMORIM MAZUY EIRELLI ME e RUTHANE DE AMORIM MAZUY, em face da decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Pontes e Lacerda, Juiz de Direito Ítalo Osvaldo Alves da Silva, nos autos da Execução Extrajudicial processo originário número 1002555-19.2021.8.11.0013, o qual rejeitou a exceção de pré-executividade oposta pela parte executada agravante. A parte agravante aduz a incorreção da decisão recorrida sustentando, em suma, que há inadequação formal da decisão agravada, porquanto, embora intitulada como sentença, possui natureza jurídica de decisão interlocutória, uma vez que versa sobre incidente processual de exceção de pré-executividade, razão pela qual é cabível o manejo de agravo de instrumento, nos termos do art. 1.015, II, do CPC. Diz que com apoio em parecer técnico contábil subscrito por profissional habilitada, que há excesso de execução, uma vez que os encargos cobrados no contrato extrapolam a taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil, em desrespeito aos parâmetros de razoabilidade e boa-fé objetiva. Sustenta que há necessidade de revisão judicial dos juros remuneratórios, inclusive com base no entendimento consolidado pelo STJ no julgamento dos Temas 27 e 234, por entender demonstrada a abusividade nas cláusulas contratuais, tanto pela aplicação de taxas superiores às médias do mercado quanto pela falta de clareza no custo efetivo total da operação. Explica que há ilegalidade da capitalização dos juros remuneratórios e moratórios, alegando inexistência de pactuação expressa e ofensa ao princípio da informação, à luz do art. 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor, além da violação ao disposto na Súmula 539 do STJ, quanto à exigência de cláusula contratual clara e destacada para admitir a capitalização com periodicidade inferior à anual. No mais, defende que a penhora incidente sobre verba salarial, determinada nos autos de origem, compromete o sustento da executada e de sua família, violando o mínimo existencial e os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da proteção ao salário, conforme o art. 833, IV, do CPC e a jurisprudência do STJ. Requer, em síntese, o recebimento do agravo de instrumento com atribuição de efeito suspensivo ativo, a intimação da parte agravada para manifestação, e, ao final, o provimento do recurso para reformar a decisão agravada, com o reconhecimento da admissibilidade e procedência da exceção de pré-executividade, a revisão dos encargos e a adequação dos valores executados. Recorrente agraciada pela gratuidade de justiça, consoante certidão Id. 288870885. A liminar recursal foi por mim indeferida em 30/05/2025, nos termos da decisão monocrática Id. 290274132. Manifestação da parte agravante no Id. 293813850, o qual foi indeferido nos termos da decisão Id. 295966861 datada de 26/06/2025. Contraminuta recursal no Id. 293813850, rebatendo os argumentos recursais e pugnando pelo desprovimento do recurso. É o relatório. VOTO EXMA. SRA. DESA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES (RELATORA) Egrégia Câmara: Conforme relatado, cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de tutela recursal, interposto por Ruthane de Amorim Mazuy EIRELI ME e Ruthane de Amorim Mazuy, contra decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Pontes e Lacerda, que, nos autos da Execução Extrajudicial nº. 1002555-19.2021.8.11.0013, rejeitou a exceção de pré-executividade apresentada pela parte executada. As agravantes alegam a inadequação formal da decisão, afirmando tratar-se de decisão interlocutória passível de impugnação por agravo de instrumento, à luz do art. 1.015, II, do CPC. No mérito, sustentam, com base em parecer contábil, a ocorrência de excesso de execução, diante da cobrança de encargos contratuais supostamente abusivos, superiores à taxa média de mercado divulgada pelo Banco Central do Brasil, em afronta à boa-fé objetiva. Requerem a revisão dos juros remuneratórios, com fundamento nos Temas 27 e 234 do STJ, apontando ainda a ilegalidade da capitalização dos juros, por ausência de pactuação expressa e violação ao direito à informação, nos termos do CDC e da Súmula 539 do STJ. Aduzem, por fim, a impenhorabilidade de verbas salariais, invocando o art. 833, IV, do CPC e o princípio da dignidade da pessoa humana, por entenderem que a constrição compromete o sustento da executada e de sua família. Pedem provimento do recurso para a reforma da decisão agravada, o acolhimento da exceção de pré-executividade e a readequação dos encargos e valores executados. Analisando a insurgência recursal apresentada, infere-se que não deve prosperar. Pois bem. Na origem, infere-se que a parte executada apresentou exceção de pré-executividade alegando três fundamentos centrais: (a) inépcia da petição inicial por ausência de demonstrativo atualizado do débito; (b) excesso de execução decorrente da prática de juros abusivos e anatocismo; e (c) impenhorabilidade de valores de natureza alimentar. O MM. Juiz Ítalo Osvaldo Alves da Silva analisou cada uma das alegações e rejeitou todas, assim sintetizadas: - Inépcia da Inicial: Entendeu que a petição inicial foi adequadamente instruída com a Cédula de Crédito Bancário e a memória de cálculo do débito, não havendo qualquer vício formal ou omissão que impedisse o exercício do contraditório. - Excesso de Execução – Juros Abusivos e Anatocismo: A decisão sustentou que a pactuação da taxa de juros e capitalização mensal, mediante a Tabela Price, estava expressamente prevista e assinada pela executada, afastando qualquer hipótese de abusividade ou vício. Invocou jurisprudência do STJ para fundamentar a legalidade da capitalização mensal e afastou a tese de anatocismo, entendendo que a taxa pactuada não ultrapassava os limites médios do mercado segundo dados do BACEN. - Impenhorabilidade – Verba Alimentar: Em relação à penhora de 20% do pro labore ou retirada da executada junto à empresa MAZUY EMPREENDIMENTOS E ADMINISTRAÇÃO, o Juízo concluiu que a executada não comprovou que os valores bloqueados tinham natureza alimentar, nos termos do art. 833, IV, do CPC. Assim, manteve a penhora. Por fim, julgou improcedente a exceção de pré-executividade com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, sem condenação em custas ou honorários, diante da natureza incidental do instituto. No que se refere à alegação de inépcia da inicial, não subsiste qualquer mácula a ser reconhecida. De fato, a decisão agravada destacou com precisão que a petição inicial foi instruída com título executivo hábil – Cédula de Crédito Bancário –, acompanhada de memória de cálculo suficiente para o exercício da ampla defesa e do contraditório, de modo que atende aos requisitos do artigo 798 do Código de Processo Civil, especialmente quanto à descrição dos fatos, fundamento jurídico do pedido, indicação do valor exequendo e comprovação da exigibilidade do crédito. Ademais, conforme assentado pelo magistrado de origem, o demonstrativo do débito (Id. 57006985) permite o pleno conhecimento da evolução da dívida, não se verificando a nulidade arguida. De outra feita, no ponto relativo ao alegado excesso de execução, a decisão agravada agiu com acerto ao repelir a tese, ante a ausência de prova pré-constituída. Com efeito, a agravante se limitou a colacionar aos autos parecer técnico contábil unilateral, desprovido de robustez suficiente a autorizar o reconhecimento da alegada abusividade. Aliás, como bem destacado pelo juízo de origem, as taxas contratadas (1,956% ao mês e 26,17% ao ano) não destoam de forma significativa das médias divulgadas pelo Banco Central do Brasil para a mesma modalidade de operação na época da contratação, havendo também no contrato exequendo cláusula clara de capitalização mensal dos juros, pactuada expressamente, o que afasta a tese de anatocismo ilícito. Outrossim, a capitalização em periodicidade inferior à anual é autorizada pelo ordenamento jurídico, nos termos da Medida Provisória nº. 2.170-36/2001 e conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, inclusive por meio das Súmulas 539 e 541. A decisão agravada, neste ponto, está firmemente alicerçada na jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, que reconhece a validade da capitalização mensal de juros, desde que expressamente pactuada – como se verifica no caso concreto –, e afasta qualquer abusividade pela simples estipulação de juros superiores a 12% ao ano. A propósito: “DIREITO CIVIL – DIREITO PROCESSUAL CIVIL – APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO – CERCEAMENTO DE DEFESA – REJEITADA – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO – TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL – LÍQUIDO, CERTO E EXIGÍVEL – JUROS REMUNERATÓRIOS – INOBSERVÂNCIA DA TAXA MÉDIA DE MERCADO – ADEQUAÇÃO – CAPITALIZAÇÃO MENSAL E ANUAL EXPRESSA NO CONTRATO – LEGALIDADE – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – INEXISTÊNCIA DE CUMULAÇÃO COM OUTROS ENCARGOS – DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Não configurado cerceamento de defesa, pois a controvérsia se resolve à luz de prova documental já constante nos autos, nos termos do art. 355, I, do CPC. As cédulas de crédito bancário são títulos executivos extrajudiciais, nos termos do art. 28 da Lei nº. 10.931 /04. A estipulação de taxa de juros remuneratórios que ultrapassa em 50% a média de mercado divulgada pelo Banco Central configura abusividade e enseja revisão judicial, mesmo em sede de embargos à execução. É válida a capitalização mensal de juros remuneratórios, desde que expressamente pactuada, nos termos da jurisprudência do STJ. No caso dos autos, não há previsão de incidência da comissão de permanência, porquanto a instituição financeira limitou a cobrança aos juros remuneratórios, moratórios e multa contratual para o caso de inadimplemento, não se verificando a alegada cumulação de comissão com outros encargos da mora. A constatação de abusividade nos encargos pactuados para o período regular do contrato, especialmente nos juros remuneratórios, afasta a configuração da mora do devedor.” (N.U 1013065-02.2024.8.11.0041, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 31/05/2025, Publicado no DJE 31/05/2025) “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL – CONTRATO BANCÁRIO DE EMPRÉSTIMO PARA FINANCIAMENTO DE VEÍCULO – JUROS REMUNERATÓRIOS EM CONSONÂNCIA COM A TAXA MÉDIA DE MERCADO – CAPITALIZAÇÃO DE JUROS – ADMISSIBILIDADE – TARIFAS DE AVALIAÇÃO DO BEM, CADASTRO E REGISTRO DE CONTRATO – LEGALIDADE DA COBRANÇA – SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA PRESTAMISTA – VENDA CASADA CONFIGURADA – COBRANÇA INDEVIDA – RESTITUIÇÃO DOS VALORES NA FORMA SIMPLES – SENTENÇA MODIFICADA NO PONTO – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. Nos termos da orientação jurisprudencial do STJ, não será considerada abusiva a taxa dos juros remuneratórios contratada quando ela for até uma vez e meia superior à taxa de juros média praticada pelo mercado. Conforme dispõe a Súmula nº 541 do STJ, “A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.” Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. [...].” (STJ – REsp 1.251.331/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 2ª Seção. J. 28.08.2013, DJe 24.10.2013; e REsp 1.255.513/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 2ª Seção. J. 28.08.2013, DJe 24.10.2013) Os custos relativos aos serviços de terceiros, quando especificados e efetivamente prestados, podem ser exigidos do consumidor (REsp 1578553/SP). O Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, definiu a validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato (Tema 958 - Resp. 1.578.553/SP) e, apesar de ressalvar hipótese de abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado, tal exceção somente tem aplicação quando houver controvérsia a respeito. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que “a contratação de seguro no bojo do contrato de financiamento caracteriza venda casada”, o que não é permitido pelo ordenamento jurídico. Configurada venda casada de seguro de proteção financeira, é devida a devolução, na forma simples, dos valores cobrados indevidamente.” (N.U 1009986-71.2022.8.11.0045, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, DIRCEU DOS SANTOS, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 05/08/2024, Publicado no DJE 05/08/2024) Ademais, o excesso de execução, para ser apreciado por meio de exceção de pré-executividade, deve estar documentalmente demonstrado, o que não se verifica nos autos, sendo a jurisprudência firme no sentido de que tal alegação exige dilação probatória, incompatível com a via eleita. Neste contexto, sublinha-se que o parecer técnico apresentado pela parte agravante é de caráter unilateral, não submetido ao contraditório, tampouco revestido de elementos suficientes para infirmar a presunção de liquidez, certeza e exigibilidade do título executivo. Neste sentido, assevera-se que a exceção de pré-executividade é instrumento de cognição sumária e restrita, admitindo apenas matérias de ordem pública que independam de dilação probatória, sendo que a alegação de excesso de execução, para ser acolhida por essa via, exige prova irrefutável e documental, não sendo suficiente a juntada de parecer unilateral que carece de contraditório. A propósito: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – INÉPCIA DEMONSTRATIVO DE DÉBITO – DEFEITO INEXISTENTE – POSSÍVEL AFERIR OS TERMOS DO CÁLCULO EM COTEJO COM CONTRATO – AUSENTE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE ERRO – AUSÊNCIA DE DUAS TESTEMUNHAS NO INSTRUMENTO PARTICULAR NÃO CONFIGURA NULIDADE DO TÍTULO EXECUTIVO – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A alegação de inépcia da inicial pela suposta inadequação dos demonstrativos de débito não se sustenta diante da ausência de impugnação concreta e da necessidade de prova em contraditório, inviabilizando sua apreciação em sede de exceção de pré-executividade. Ônus da prova da inexistência ou nulidade do título incumbe ao executado, nos termos do artigo 373, II, do CPC, não podendo a formalidade ausente servir de fundamento exclusivo para frustrar a execução. A ausência da assinatura ou da identificação completa de duas testemunhas em documento particular não descaracteriza o título executivo extrajudicial quando presentes outros elementos que comprovem a autenticidade do instrumento, a existência da obrigação certa, líquida e exigível, bem como a manifestação inequívoca da vontade das partes. O artigo 784, inciso III, do CPC, deve ser interpretado à luz dos princípios da finalidade do processo e da efetividade da tutela jurisdicional, admitindo-se mitigação formal quando a autenticidade e a certeza do débito estejam devidamente demonstradas. A alegação de inépcia da inicial pela suposta inadequação dos demonstrativos de débito não se sustenta diante da ausência de impugnação concreta e da necessidade de prova em contraditório, inviabilizando sua apreciação em sede de exceção de pré-executividade. Ônus da prova da inexistência ou nulidade do título incumbe ao executado, nos termos do artigo 373, II, do CPC, não podendo a formalidade ausente servir de fundamento exclusivo para frustrar a execução. A exceção de pré-executividade é meio de defesa excepcional, cabível apenas para matérias de ordem pública ou nulidades evidentes que possam ser conhecidas de plano, sendo inadmissível para questões que demandem dilação probatória, como eventual incorreção nos cálculos do débito ou pedidos de reestruturação da dívida. Recurso desprovido. Decisão mantida.” (N.U 1008140-52.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 24/05/2025, Publicado no DJE 24/05/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE REJEITADA – INEXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO E DOS TÍTULOS – INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA – ILEGITIMIDADE PASSIVA – IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – DEMANDA DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. A exceção de pré-executividade possui aplicabilidade restrita como via de defesa, por cingir-se a questões de ordem pública e aos casos em que o reconhecimento da nulidade do título possa ser verificado de plano, sem a necessidade de dilação probatória, o que não se enquadra à hipótese dos autos.” (N.U 1033186-77.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 09/04/2025, Publicado no DJE 09/04/2025) A tese de ilegalidade na capitalização dos juros moratórios, por sua vez, foi igualmente bem refutada na decisão recorrida, isso porque como constou da cláusula contratual expressamente pactuada, a forma de cálculo foi previamente estabelecida entre as partes, e não há qualquer norma legal que vede, no caso concreto, a adoção de juros capitalizados nos moldes avençados. Ademais, a ausência de vício no consentimento, coação ou qualquer irregularidade formal reforça a validade do pacto celebrado. Por fim, no que diz respeito à penhora incidente sobre valores que, segundo a agravante, teriam natureza salarial, também não merece prosperar a insurgência, isso porque a decisão agravada esclareceu, com fundamentação compatível com o entendimento consolidado no Superior Tribunal de Justiça, que a constrição recaiu sobre 20% dos proventos recebidos pela agravante junto à sociedade empresária da qual é sócia, não tendo sido demonstrado que tais valores consistiriam em verba de natureza alimentar indispensável à sua subsistência. De igual forma, em que pese a executada alegue que tais valores seriam utilizados para sua manutenção e de sua família, deixou de apresentar comprovação documental mínima nesse sentido, como determina o art. 854, §3º, I, do CPC. Assim, não há nos autos qualquer demonstração concreta da destinação alimentar das verbas constritas, tampouco de que a constrição comprometa o mínimo existencial, sendo que a jurisprudência tem admitido, em hipóteses como a presente, a relativização da impenhorabilidade, desde que observada a proporcionalidade, como ocorreu na origem, sendo também ônus da parte agravante comprovar, de forma inequívoca, que os valores atingidos são indispensáveis à sua subsistência, o que não se verificou nos autos. A propósito: “AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DA PARTE AGRAVANTE – ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ARTIGO 833, IV DO CPC – DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO POSSUI NATUREZA ALIMENTAR – ÔNUS DA PROVA DA PARTE AGRAVANTE - DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus da parte executada a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC. A ausência de comprovação da destinação dos valores bloqueados para finalidade alimentar, impossibilita a aplicação da regra de impenhorabilidade prevista no art. 833, inc. IV, do CPC”. (N.U 1001068-14.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025).” (N.U 1007380-06.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 19/05/2025, Publicado no DJE 19/05/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DA AGRAVANTE – ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ART. 833, X, DO CPC – DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO ERA ORIUNDO DE CONTA POUPANÇA OU DESTINADO À RESERVA FINANCEIRA – ÔNUS DA PROVA DA PARTE EXECUTADA – ART. 854, § 3º, I, DO CPC/15 –IMPENHORABILIDADE NÃO DEMONSTRADA – DECISÃO ESCORREITA – RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus do executado a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC/15. Não se pode acolher a pretensão de desconstituição de penhora online sobre valores depositados em contas bancárias, quando não há cabal demonstração de que têm a finalidade de constituir reserva financeira.” (N.U 1004427-69.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – PENHORA DE VALORES EXISTENTES NA CONTA DO AGRAVANTE - ALEGADA IMPENHORABILIDADE – ART. 833, VI, DO CPC - DECISÃO QUE MANTEVE O BLOQUEIO DOS VALORES CONSTRITOS – NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O VALOR BLOQUEADO ERA ORIUNDO DE VERBA SALARIAL - ÔNUS DA PROVA DA PARTE AGRAVANTE – ART. 854, § 3º, I, DO CPC – IMPENHORABILIDADE NÃO DEMONSTRADA – DECISÃO ESCORREITA - RECURSO DESPROVIDO. Constitui ônus do executado a comprovação de que os valores penhorados são submetidos à proteção legal, nos termos do artigo 854, § 3º, inciso I, do CPC. A ausência de comprovação da destinação dos valores bloqueados para finalidade alimentar impossibilita a aplicação da regra de impenhorabilidade prevista no art. 833, inc. IV, do CPC.” (N.U 1001068-14.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/04/2025, Publicado no DJE 26/04/2025) De fato, verifica-se que a decisão agravada encontra-se escorada em jurisprudência pacífica, sólida fundamentação jurídica e adequada apreciação da prova constante dos autos, sendo que os argumentos apresentados no agravo, embora revestidos de tecnicidade, não infirmam os fundamentos adotados pelo magistrado singular, tampouco apresentam prova pré-constituída capaz de sustentar a tese de excesso de execução ou de ilegalidade na penhora realizada. Destarte, considerando os fatos apresentados e a legislação citada, pode-se concluir que a rejeição da exceção de pré-executividade se deu de forma escorreita, não havendo motivos que autorizem a reforma da decisão. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento interposto e mantenho incólume a decisão recorrida. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 16/07/2025

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Processo nº 0000758-59.2010.8.11.0094

ID: 293704231

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0000758-59.2010.8.11.0094

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

RENEE JOSE PARCIO DE OLIVEIRA

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JOAO PAULO AVANSINI CARNELOS

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0000758-59.2010.8.11.0094 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Cheque] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES T… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0000758-59.2010.8.11.0094 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Cheque] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES Turma Julgadora: [DES(A). SERLY MARCONDES ALVES, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO] Parte(s): [R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA - CNPJ: 03.412.664/0001-56 (APELANTE), RENEE JOSE PARCIO DE OLIVEIRA - CPF: 061.329.771-71 (ADVOGADO), KEVIN YOUNG LEE - CPF: 091.486.939-60 (ADVOGADO), JOAO PAULO AVANSINI CARNELOS - CPF: 267.709.178-07 (ADVOGADO), EDUARDO MARQUES CHAGAS - CPF: 010.741.671-98 (ADVOGADO), PAULO ROGERIO RIVA - CPF: 432.504.831-68 (APELADO), ANA CAROLINA MOREIRA DA SILVA MASIERO - CPF: 054.266.829-76 (ADVOGADO), FLAVIO DE PINHO MASIERO - CPF: 010.284.951-02 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: PROVIDO, UNÂNIME. E M E N T A DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ORIUNDO DE AÇÃO MONITÓRIA. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE SUSPENSÃO FORMAL DO PROCESSO. ALEGAÇÃO DE PENHORA EM OUTROS AUTOS. EXISTÊNCIA DE DÚVIDA FÁTICA. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelação cível interposta por R C Coelho Fomento Mercantil Ltda. contra sentença que reconheceu a prescrição intercorrente no cumprimento de sentença oriundo de ação monitória ajuizada em face de Paulo Rogério Riva, extinguindo o processo com resolução de mérito. O apelante sustenta a inexistência de prescrição intercorrente, por ausência de decisão judicial que suspendesse o processo e pela suposta existência de penhora efetivada em 15/10/2020. Requer a reforma da sentença e o prosseguimento da execução. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há três questões em discussão: (i) definir se a ausência de decisão judicial formal suspendendo o processo impede o reconhecimento da prescrição intercorrente; (ii) verificar se a penhora alegadamente realizada em outro processo pode produzir efeitos interruptivos da prescrição intercorrente no presente feito; e (iii) avaliar a necessidade de instrução probatória quanto à existência e pertinência da penhora. III. RAZÕES DE DECIDIR O art. 921, § 1º, do CPC exige decisão judicial expressa para suspender o processo executivo, sendo essa suspensão pressuposto necessário para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente. A ausência de decisão formal de suspensão compromete a segurança jurídica e inviabiliza o reconhecimento da prescrição intercorrente, não sendo possível presumir a suspensão com base apenas na ciência da parte sobre a não localização de bens. A alegação de penhora realizada em outro processo, embora não conste nos presentes autos, levanta dúvida fática relevante quanto à eventual interrupção da prescrição, especialmente se recair sobre o mesmo devedor e tiver origem na mesma relação jurídica. A existência dessa dúvida fática justifica a anulação da sentença para que o juízo de origem apure os elementos necessários à correta análise da interrupção ou não da prescrição intercorrente. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso provido. Tese de julgamento: A contagem do prazo da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença pressupõe decisão judicial formal de suspensão do processo, nos termos do art. 921, § 1º, do CPC. A ausência de decisão formal suspendendo o feito impede o reconhecimento da prescrição intercorrente. A dúvida fática sobre a existência de penhora com potencial efeito interruptivo da prescrição impõe a anulação da sentença para reabertura da instrução e apuração dos fatos. Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 487, II; 921, §§ 1º e 4º-A; 924, V. Jurisprudência relevante citada: STJ, REsp 1.604.412/SC (Tema 568), Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14.03.2018. R E L A T Ó R I O AP 0000758-59.2010.8.11.0094 R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA. X PAULO ROGERIO RIVA RELATÓRIO Eminentes pares: Trata-se de Recurso de Apelação interposto por R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA., com o fito de reformar a sentença que, nos autos do Cumprimento de Sentença proferida em Ação Monitória proposta em face de PAULO ROGERIO RIVA, reconheceu a prescrição intercorrente e julgou extinta a ação com resolução de mérito. Em suas razões, o apelante sustenta, em síntese, a inexistência de prescrição intercorrente, com base em dois argumentos principais: (i) não houve suspensão formal do processo, tal como exigido pelo artigo 921, §1º do CPC, requisito essencial para o início da contagem do prazo prescricional intercorrente; (ii) existiu penhora de imóvel efetivada em 15/10/2020, conforme Matrícula nº 3.822 do CRI de Juara, fato que, segundo o Tema 568 do STJ, teria o condão de interromper o curso da prescrição intercorrente. Aduz que, considerando a data da penhora (15/10/2020), o prazo prescricional se estenderia até 15/10/2025, não havendo, portanto, prescrição intercorrente configurada. Menciona a ocorrência da pandemia da COVID-19 como fator a ser considerado, além da realização de audiência de conciliação em 12/03/2024. Requer o provimento do apelo para reformar a sentença, determinando o retorno dos autos ao juízo de origem para regular prosseguimento da execução. Contrarrazões pelo desprovimento (Id. 284128898). É o relatório. V O T O R E L A T O R VOTO MÉRITO Eminentes pares: Trata-se de recurso contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única da Comarca de Tabaporã/MT, que reconheceu a prescrição intercorrente em ação monitória convertida em cumprimento de sentença, extinguindo o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, c/c art. 924, V, do Código de Processo Civil. Na origem, trata-se de ação monitória ajuizada pelo ora Apelante em face de Paulo Rogério Riva, fundamentada em nove cheques que totalizavam o valor originário de R$ 156.707,88. Após a conversão do mandado monitório em executivo, foram realizadas diversas tentativas infrutíferas de satisfação do crédito exequendo, culminando com o reconhecimento da prescrição intercorrente pelo magistrado de origem. Consta dos autos que o Apelado fora devidamente intimado para efetuar o pagamento, não tendo adimplido a obrigação. A sentença recorrida fundamentou-se na aplicação do art. 921 do Código de Processo Civil, considerando como termo inicial da prescrição intercorrente a data de 04.03.2016, quando o exequente tomou ciência da primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis. Após a suspensão do processo pelo prazo de um ano (até 04.03.2017), iniciou-se o prazo prescricional de cinco anos, que se findou em 04.03.2022, sem que houvesse qualquer marco interruptivo durante este período. A controvérsia está em saber se ocorreu ou não a prescrição intercorrente no caso concreto, considerando como principais aspectos controvertidos: (i) a necessidade ou não de suspensão formal do processo por decisão judicial; (ii) a existência de alegada penhora realizada em outubro de 2020 e seus efeitos sobre o curso do prazo prescricional; e (iii) a influência da pandemia de COVID-19 na fluência do prazo prescricional. Pois bem. Sabe-se que a prescrição intercorrente constitui modalidade prescricional que se configura no curso do processo, caracterizada pela inércia da parte interessada em promover o andamento do feito quando lhe compete fazê-lo. Diferencia-se da prescrição comum (ou direta) precisamente por ocorrer quando a pretensão já foi deduzida em juízo, após a interrupção da prescrição inicial pela citação válida. No âmbito do processo executivo, a prescrição intercorrente encontra-se expressamente disciplinada no art. 921 do Código de Processo Civil, que estabelece uma sistemática específica, compreendendo: (i) a suspensão da execução pelo prazo de um ano, quando não localizados o executado ou bens penhoráveis; (ii) o arquivamento dos autos após o decurso desse prazo; (iii) a possibilidade de desarquivamento para prosseguimento da execução, caso encontrados bens penhoráveis; e (iv) o estabelecimento do termo inicial e das causas interruptivas da prescrição no curso do processo. O primeiro argumento apresentado pelo Apelante consiste na alegação de que não teria ocorrido a suspensão formal do processo, por decisão judicial expressa, requisito que considera indispensável para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente. A matéria, em verdade, suscita controvérsia relevante na jurisprudência dos tribunais pátrios. De um lado, há corrente que defende a necessidade de decisão judicial expressa determinando a suspensão do processo para que se inicie a contagem do prazo prescricional. De outro, entendimento que considera suficiente a ciência da parte exequente quanto à primeira tentativa infrutífera de localização de bens, independentemente de pronunciamento judicial específico sobre a suspensão. Na hipótese, constata-se que o juízo de origem não proferiu decisão formal determinando a suspensão do processo pelo prazo de um ano, nos termos do art. 921, § 1º, do CPC. Ao contrário, o magistrado considerou que o prazo de suspensão teria início automaticamente a partir da ciência pelo exequente da primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis, ocorrida em 04.03.2016. Contudo, entendo que esta abordagem não se coaduna com a melhor interpretação do art. 921 do CPC, que exige decisão judicial expressa para a suspensão do processo executivo, já que o referido dispositivo é claro ao estabelecer que "o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano", expressão que denota a necessidade de pronunciamento judicial formal, não sendo possível presumir a suspensão por simples decurso do tempo ou ciência da parte exequente quanto à inexistência de bens penhoráveis. A ausência de decisão formal de suspensão, além de configurar violação à literalidade do dispositivo legal, compromete a segurança jurídica, na medida em que impede o conhecimento preciso pelas partes do momento a partir do qual o processo ficará suspenso e, posteriormente, começará a fluir o prazo prescricional. Neste sentido, sendo a suspensão do processo pressuposto lógico e cronológico para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente, sua ausência impede o reconhecimento da prescrição, tornando equivocada a sentença que extinguiu o processo com fundamento na prescrição intercorrente sem que tenha havido prévia suspensão formal do feito. Ademais, o segundo argumento apresentado pelo recorrente diz respeito à existência de penhora realizada em 15/10/2020, que, segundo alega, teria o condão de interromper o curso da prescrição intercorrente. O art. 921, § 4º-A, do Código de Processo Civil estabelece expressamente que "a efetiva citação, intimação do devedor ou constrição de bens penhoráveis interrompe o prazo de prescrição", evidenciando a intenção do legislador de conferir à efetiva constrição patrimonial o efeito de interromper o prazo prescricional. Esta previsão normativa materializa o princípio da conservação dos atos processuais e da primazia do mérito, prestigiando a parte que efetivamente diligencia no sentido de promover o andamento do feito e alcançar a satisfação de seu crédito. No caso, o recorrente alega que houve penhora do imóvel objeto da Matrícula nº 3.822 do CRI de Juara, efetivada em 15/10/2020, circunstância que teria interrompido o curso da prescrição intercorrente. O juízo de origem, ao apreciar os embargos de declaração opostos contra a sentença, esclareceu que a penhora mencionada pelo recorrente "ocorreu nos autos de n. 1001068-67.2019.8.11.0018, e não nestes autos de n. 0000758-59.2010.8.11.0094, não havendo penhora nestes autos conforme minuciosamente relatado ao Id. 178296156". Ocorre que, mesmo que a penhora tenha sido realizada em processo distinto, há que se considerar a possibilidade de extensão de seus efeitos ao presente feito, caso recaia sobre bem de propriedade do mesmo devedor e derive da mesma relação jurídica material. Trata-se de questão complexa que demanda investigação fática mais aprofundada, não sendo possível, nos limites cognitivos desta instância recursal, afastar peremptoriamente a alegação do recorrente sem o devido esclarecimento sobre as circunstâncias fáticas envolvidas. Assim, havendo fundada dúvida quanto à existência de penhora que possa ter interrompido o curso da prescrição intercorrente, impõe-se a anulação da sentença e o retorno dos autos à origem para adequada instrução, permitindo o esclarecimento desta questão fática relevante para o deslinde da controvérsia. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para anular a sentença, afastar o reconhecimento da prescrição intercorrente e determinar o retorno dos autos à origem, a fim de que o processo tenha regular prosseguimento. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 04/06/2025

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Processo nº 0000758-59.2010.8.11.0094

ID: 293704232

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0000758-59.2010.8.11.0094

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

PAULO ROGERIO RIVA

Acórdão

Advogados:

FLAVIO DE PINHO MASIERO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0000758-59.2010.8.11.0094 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Cheque] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES T… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0000758-59.2010.8.11.0094 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Cheque] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES Turma Julgadora: [DES(A). SERLY MARCONDES ALVES, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO] Parte(s): [R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA - CNPJ: 03.412.664/0001-56 (APELANTE), RENEE JOSE PARCIO DE OLIVEIRA - CPF: 061.329.771-71 (ADVOGADO), KEVIN YOUNG LEE - CPF: 091.486.939-60 (ADVOGADO), JOAO PAULO AVANSINI CARNELOS - CPF: 267.709.178-07 (ADVOGADO), EDUARDO MARQUES CHAGAS - CPF: 010.741.671-98 (ADVOGADO), PAULO ROGERIO RIVA - CPF: 432.504.831-68 (APELADO), ANA CAROLINA MOREIRA DA SILVA MASIERO - CPF: 054.266.829-76 (ADVOGADO), FLAVIO DE PINHO MASIERO - CPF: 010.284.951-02 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: PROVIDO, UNÂNIME. E M E N T A DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ORIUNDO DE AÇÃO MONITÓRIA. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. AUSÊNCIA DE SUSPENSÃO FORMAL DO PROCESSO. ALEGAÇÃO DE PENHORA EM OUTROS AUTOS. EXISTÊNCIA DE DÚVIDA FÁTICA. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelação cível interposta por R C Coelho Fomento Mercantil Ltda. contra sentença que reconheceu a prescrição intercorrente no cumprimento de sentença oriundo de ação monitória ajuizada em face de Paulo Rogério Riva, extinguindo o processo com resolução de mérito. O apelante sustenta a inexistência de prescrição intercorrente, por ausência de decisão judicial que suspendesse o processo e pela suposta existência de penhora efetivada em 15/10/2020. Requer a reforma da sentença e o prosseguimento da execução. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há três questões em discussão: (i) definir se a ausência de decisão judicial formal suspendendo o processo impede o reconhecimento da prescrição intercorrente; (ii) verificar se a penhora alegadamente realizada em outro processo pode produzir efeitos interruptivos da prescrição intercorrente no presente feito; e (iii) avaliar a necessidade de instrução probatória quanto à existência e pertinência da penhora. III. RAZÕES DE DECIDIR O art. 921, § 1º, do CPC exige decisão judicial expressa para suspender o processo executivo, sendo essa suspensão pressuposto necessário para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente. A ausência de decisão formal de suspensão compromete a segurança jurídica e inviabiliza o reconhecimento da prescrição intercorrente, não sendo possível presumir a suspensão com base apenas na ciência da parte sobre a não localização de bens. A alegação de penhora realizada em outro processo, embora não conste nos presentes autos, levanta dúvida fática relevante quanto à eventual interrupção da prescrição, especialmente se recair sobre o mesmo devedor e tiver origem na mesma relação jurídica. A existência dessa dúvida fática justifica a anulação da sentença para que o juízo de origem apure os elementos necessários à correta análise da interrupção ou não da prescrição intercorrente. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso provido. Tese de julgamento: A contagem do prazo da prescrição intercorrente no cumprimento de sentença pressupõe decisão judicial formal de suspensão do processo, nos termos do art. 921, § 1º, do CPC. A ausência de decisão formal suspendendo o feito impede o reconhecimento da prescrição intercorrente. A dúvida fática sobre a existência de penhora com potencial efeito interruptivo da prescrição impõe a anulação da sentença para reabertura da instrução e apuração dos fatos. Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 487, II; 921, §§ 1º e 4º-A; 924, V. Jurisprudência relevante citada: STJ, REsp 1.604.412/SC (Tema 568), Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14.03.2018. R E L A T Ó R I O AP 0000758-59.2010.8.11.0094 R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA. X PAULO ROGERIO RIVA RELATÓRIO Eminentes pares: Trata-se de Recurso de Apelação interposto por R C COELHO FOMENTO MERCANTIL LTDA., com o fito de reformar a sentença que, nos autos do Cumprimento de Sentença proferida em Ação Monitória proposta em face de PAULO ROGERIO RIVA, reconheceu a prescrição intercorrente e julgou extinta a ação com resolução de mérito. Em suas razões, o apelante sustenta, em síntese, a inexistência de prescrição intercorrente, com base em dois argumentos principais: (i) não houve suspensão formal do processo, tal como exigido pelo artigo 921, §1º do CPC, requisito essencial para o início da contagem do prazo prescricional intercorrente; (ii) existiu penhora de imóvel efetivada em 15/10/2020, conforme Matrícula nº 3.822 do CRI de Juara, fato que, segundo o Tema 568 do STJ, teria o condão de interromper o curso da prescrição intercorrente. Aduz que, considerando a data da penhora (15/10/2020), o prazo prescricional se estenderia até 15/10/2025, não havendo, portanto, prescrição intercorrente configurada. Menciona a ocorrência da pandemia da COVID-19 como fator a ser considerado, além da realização de audiência de conciliação em 12/03/2024. Requer o provimento do apelo para reformar a sentença, determinando o retorno dos autos ao juízo de origem para regular prosseguimento da execução. Contrarrazões pelo desprovimento (Id. 284128898). É o relatório. V O T O R E L A T O R VOTO MÉRITO Eminentes pares: Trata-se de recurso contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única da Comarca de Tabaporã/MT, que reconheceu a prescrição intercorrente em ação monitória convertida em cumprimento de sentença, extinguindo o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, c/c art. 924, V, do Código de Processo Civil. Na origem, trata-se de ação monitória ajuizada pelo ora Apelante em face de Paulo Rogério Riva, fundamentada em nove cheques que totalizavam o valor originário de R$ 156.707,88. Após a conversão do mandado monitório em executivo, foram realizadas diversas tentativas infrutíferas de satisfação do crédito exequendo, culminando com o reconhecimento da prescrição intercorrente pelo magistrado de origem. Consta dos autos que o Apelado fora devidamente intimado para efetuar o pagamento, não tendo adimplido a obrigação. A sentença recorrida fundamentou-se na aplicação do art. 921 do Código de Processo Civil, considerando como termo inicial da prescrição intercorrente a data de 04.03.2016, quando o exequente tomou ciência da primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis. Após a suspensão do processo pelo prazo de um ano (até 04.03.2017), iniciou-se o prazo prescricional de cinco anos, que se findou em 04.03.2022, sem que houvesse qualquer marco interruptivo durante este período. A controvérsia está em saber se ocorreu ou não a prescrição intercorrente no caso concreto, considerando como principais aspectos controvertidos: (i) a necessidade ou não de suspensão formal do processo por decisão judicial; (ii) a existência de alegada penhora realizada em outubro de 2020 e seus efeitos sobre o curso do prazo prescricional; e (iii) a influência da pandemia de COVID-19 na fluência do prazo prescricional. Pois bem. Sabe-se que a prescrição intercorrente constitui modalidade prescricional que se configura no curso do processo, caracterizada pela inércia da parte interessada em promover o andamento do feito quando lhe compete fazê-lo. Diferencia-se da prescrição comum (ou direta) precisamente por ocorrer quando a pretensão já foi deduzida em juízo, após a interrupção da prescrição inicial pela citação válida. No âmbito do processo executivo, a prescrição intercorrente encontra-se expressamente disciplinada no art. 921 do Código de Processo Civil, que estabelece uma sistemática específica, compreendendo: (i) a suspensão da execução pelo prazo de um ano, quando não localizados o executado ou bens penhoráveis; (ii) o arquivamento dos autos após o decurso desse prazo; (iii) a possibilidade de desarquivamento para prosseguimento da execução, caso encontrados bens penhoráveis; e (iv) o estabelecimento do termo inicial e das causas interruptivas da prescrição no curso do processo. O primeiro argumento apresentado pelo Apelante consiste na alegação de que não teria ocorrido a suspensão formal do processo, por decisão judicial expressa, requisito que considera indispensável para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente. A matéria, em verdade, suscita controvérsia relevante na jurisprudência dos tribunais pátrios. De um lado, há corrente que defende a necessidade de decisão judicial expressa determinando a suspensão do processo para que se inicie a contagem do prazo prescricional. De outro, entendimento que considera suficiente a ciência da parte exequente quanto à primeira tentativa infrutífera de localização de bens, independentemente de pronunciamento judicial específico sobre a suspensão. Na hipótese, constata-se que o juízo de origem não proferiu decisão formal determinando a suspensão do processo pelo prazo de um ano, nos termos do art. 921, § 1º, do CPC. Ao contrário, o magistrado considerou que o prazo de suspensão teria início automaticamente a partir da ciência pelo exequente da primeira tentativa infrutífera de localização de bens penhoráveis, ocorrida em 04.03.2016. Contudo, entendo que esta abordagem não se coaduna com a melhor interpretação do art. 921 do CPC, que exige decisão judicial expressa para a suspensão do processo executivo, já que o referido dispositivo é claro ao estabelecer que "o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano", expressão que denota a necessidade de pronunciamento judicial formal, não sendo possível presumir a suspensão por simples decurso do tempo ou ciência da parte exequente quanto à inexistência de bens penhoráveis. A ausência de decisão formal de suspensão, além de configurar violação à literalidade do dispositivo legal, compromete a segurança jurídica, na medida em que impede o conhecimento preciso pelas partes do momento a partir do qual o processo ficará suspenso e, posteriormente, começará a fluir o prazo prescricional. Neste sentido, sendo a suspensão do processo pressuposto lógico e cronológico para o início da contagem do prazo da prescrição intercorrente, sua ausência impede o reconhecimento da prescrição, tornando equivocada a sentença que extinguiu o processo com fundamento na prescrição intercorrente sem que tenha havido prévia suspensão formal do feito. Ademais, o segundo argumento apresentado pelo recorrente diz respeito à existência de penhora realizada em 15/10/2020, que, segundo alega, teria o condão de interromper o curso da prescrição intercorrente. O art. 921, § 4º-A, do Código de Processo Civil estabelece expressamente que "a efetiva citação, intimação do devedor ou constrição de bens penhoráveis interrompe o prazo de prescrição", evidenciando a intenção do legislador de conferir à efetiva constrição patrimonial o efeito de interromper o prazo prescricional. Esta previsão normativa materializa o princípio da conservação dos atos processuais e da primazia do mérito, prestigiando a parte que efetivamente diligencia no sentido de promover o andamento do feito e alcançar a satisfação de seu crédito. No caso, o recorrente alega que houve penhora do imóvel objeto da Matrícula nº 3.822 do CRI de Juara, efetivada em 15/10/2020, circunstância que teria interrompido o curso da prescrição intercorrente. O juízo de origem, ao apreciar os embargos de declaração opostos contra a sentença, esclareceu que a penhora mencionada pelo recorrente "ocorreu nos autos de n. 1001068-67.2019.8.11.0018, e não nestes autos de n. 0000758-59.2010.8.11.0094, não havendo penhora nestes autos conforme minuciosamente relatado ao Id. 178296156". Ocorre que, mesmo que a penhora tenha sido realizada em processo distinto, há que se considerar a possibilidade de extensão de seus efeitos ao presente feito, caso recaia sobre bem de propriedade do mesmo devedor e derive da mesma relação jurídica material. Trata-se de questão complexa que demanda investigação fática mais aprofundada, não sendo possível, nos limites cognitivos desta instância recursal, afastar peremptoriamente a alegação do recorrente sem o devido esclarecimento sobre as circunstâncias fáticas envolvidas. Assim, havendo fundada dúvida quanto à existência de penhora que possa ter interrompido o curso da prescrição intercorrente, impõe-se a anulação da sentença e o retorno dos autos à origem para adequada instrução, permitindo o esclarecimento desta questão fática relevante para o deslinde da controvérsia. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso, para anular a sentença, afastar o reconhecimento da prescrição intercorrente e determinar o retorno dos autos à origem, a fim de que o processo tenha regular prosseguimento. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 04/06/2025

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Processo nº 0000008-55.2016.8.11.0059

ID: 276772678

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0000008-55.2016.8.11.0059

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

THELMA BORGES BARBOSA

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

JORGE ALDAIR CARVALHO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo APELAÇÃO CÍVEL (198) 000… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo APELAÇÃO CÍVEL (198) 0000008-55.2016.8.11.0059 APELANTE: THELMA BORGES BARBOSA APELADO: MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE DO NORTE VISTOS. Trata-se de recurso de apelação interposto Thelma Borges Barbosa em face da sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Porto Alegre do Norte, que julgou improcedente a ação de cobrança de verbas trabalhistas ajuizada em desfavor do Município de Porto Alegre do Norte, nos seguintes termos (Id. 268459298): “No caso em questão, a autora mencionou que o contrato se deu de forma verbal, ou seja, sem que para isso tenha sido aprovada em concurso público, em evidente afronta ao artigo 37, inciso II e §2º, da CF, situação que enseja a nulidade do ato. (...) Consequentemente, a nulidade do ato afasta a possibilidade de reconhecimento de direitos trabalhistas, bem como do direito a eventual indenização, tendo em vista que o exercício da função pública sem a devida investidura configura, em tese, o delito previsto no art. 328 do Código Penal. (...) Ante o exposto, com fundamento no art. 487, inciso I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pedido contido na inicial.” A apelante sustenta, em síntese, que a nulidade do contrato não afasta a obrigação da Administração Pública de remunerar os serviços efetivamente prestados, sob pena de enriquecimento ilícito. Defende que, uma vez comprovada a efetiva prestação de serviços de natureza permanente, é devido o pagamento das verbas remuneratórias e indenizatórias correspondentes ao período laborado, com fundamento na boa-fé objetiva. Ao final, requer a reforma da sentença, com o reconhecimento “dos salários em atraso referentes aos meses de fevereiro a novembro/2014, no valor de R$ 1.656,00 por mês, o que totaliza R$ 14.904,00 no período; 13° salário proporcional de 10/12 de 2013, no valor de R$ 1.375,00; 13° salário integral de 2014, no valor de R$ 1.650,00; 13° salário integral de 2015, no valor de R$ 1.650,00; Férias integrais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2013 até 28/02/2014, no valor de R$ 2.475,00; Férias integrais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2014 até 28/02/2015, no valor de R$ 2.475,00; Férias proporcionais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2015 até 07/01/2016, no valor de R$ 2.062,50; Indenização pelo auxílio doença referente ao período de dezembro/2014 até janeiro/2016, no valor de R$ 23.184,00; Auxílio doença até o término do tratamento da doença do trabalho adquirida pela requerente no valor mensal de R$ 1.650,00 mensal e danos morais no valor de R$ 50.000,00, conforme postulado na petição inicial.”. As contrarrazões foram apresentadas no Id. 268460253, ocasião em que a parte apelada pugnou pela manutenção da sentença, defendendo que a relação jurídica mantida com a autora não se revestiu de natureza empregatícia, tratando-se de mera prestação de serviços, sem os elementos caracterizadores do vínculo de emprego, como subordinação, habitualidade e pessoalidade. Alega, ademais, “que ela NÃO foi contratada para ser funcionário da Apelada, pois seu trabalho limitava-se a prestação de serviços de mão de obra, essencialmente um contrato de parceria, onde laborava em dias de sua escolha e sem qualquer tipo de subordinação. Inclusive, observa-se dos extratos de prestação de serviços a diferença salarial, cujo valor tinha-se por base a quantidade de serviços prestados.”. A Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer (Id. 270112364), manifestou-se pela ausência de interesse público a justificar sua intervenção no feito. É o relatório. Decido. Inicialmente, cumpre destacar que é dispensável a submissão do presente feito à Turma Julgadora deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, quando a decisão encontra-se em consonância, ou em manifesto confronto, com a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, o que autoriza o julgamento monocrático do recurso, nos termos do artigo 932, incisos IV e V, do Código de Processo Civil. Na origem, a autora alega ter sido contratada verbalmente, em 1º de março de 2013, para exercer a função de auxiliar administrativa na Secretaria Municipal de Finanças, percebendo remuneração mensal de R$ 1.656,00, paga mediante emissão de notas fiscais e recibos. Relata que seu desligamento ocorreu, de forma indireta, em 15 de setembro de 2014, sem que lhe fossem adimplidas verbas trabalhistas, tais como salários atrasados, décimos terceiros proporcionais e integrais, férias acrescidas de um terço e indenização por auxílio-doença, além de pleitear indenização por danos morais, decorrentes de doença ocupacional que afirma ter desenvolvido no desempenho de suas atribuições. O juízo singular entendeu, acertadamente, à luz do artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, que é vedada a formação de vínculo empregatício com a Administração Pública sem a prévia aprovação em concurso público. Reconheceu, portanto, a nulidade do contrato verbal firmado entre as partes e, por conseguinte, julgou improcedentes os pedidos de pagamento de verbas trabalhistas e indenizatórias, bem como afastou a possibilidade de condenação da Administração, sob qualquer título, inclusive a título de indenização, diante da nulidade do ato administrativo que embasou a prestação de serviços. O direito administrativo brasileiro não admite o reconhecimento de vínculos empregatícios ou contratuais com o Poder Público à margem das exigências legais, por mais relevante que seja a situação de fato apresentada. É mister esclarecer que o regime jurídico das contratações no âmbito da Administração Pública, nos termos do artigo 37, inciso II, da Constituição da República, estabelece que a investidura em cargo ou emprego público exige, como regra, a prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos. Não obstante, o mesmo diploma constitucional, em seu inciso IX, excepciona tal exigência ao admitir a contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, desde que expressamente prevista em lei específica editada pela entidade federativa competente — seja ela a União, os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios —, nos termos das respectivas atribuições legislativas fixadas pela ordem constitucional vigente. Sob essa perspectiva, os entes federativos possuem autonomia para organizar o regime jurídico de seus servidores, observando os princípios e limites estabelecidos nos artigos 37 a 41 da Constituição Federal, aplicáveis aos servidores civis. Infere-se, portanto, que a contratação temporária por prazo determinado encontra respaldo tanto no Direito do Trabalho quanto no Direito Administrativo, sendo que, neste último, a regra é a exigência de concurso público. A exceção — representada pelas contratações sem concurso — deve observar rigorosamente os parâmetros delineados no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, sob pena de nulidade do ato administrativo. À luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no Tema 612, “(...) para que se considere válida a contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da Administração.” (Ac. no RE nº 658.026 - MG, Tribunal Pleno, Relator (a): Min. Dias Toffoli, J. 09.04.2014, in DJe 31.10.2014). Além disso, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 765.320/MG (Tema 916), o Supremo Tribunal Federal reafirmou a tese firmada no RE nº 705.140/RS (Tema 308), no sentido de que “(...) a contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público realizada em desconformidade com os preceitos do art. 37, IX, da Constituição Federal não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.”. De modo análogo, restou assentado que “servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.” (STF — RE nº 1.066.677, Tribunal Pleno, Rel. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, j. 22.05.2020, DJe 01.07.2020 — Tema 551). Nesse cenário, verifica-se que os servidores contratados temporariamente pela Administração Pública, como regra, não fazem jus ao décimo terceiro salário nem às férias acrescidas do terço constitucional, haja vista tratar-se de vínculo de natureza precária e excepcional, regido por normas de direito público. Todavia, tal vedação comporta duas exceções: a primeira, quando houver expressa previsão legal ou contratual que assegure tais benefícios; e a segunda, nos casos em que reste comprovado o desvirtuamento da contratação temporária, especialmente quando a Administração Pública promove sucessivas e reiteradas prorrogações do vínculo, descaracterizando a transitoriedade e evidenciando o atendimento de necessidade de caráter permanente, situação que impõe o reconhecimento dos direitos sociais constitucionalmente assegurados. No caso concreto, ainda que se considerasse válida a contratação da apelante, em caráter temporário e excepcional, para exercer a função de auxiliar administrativa junto à Secretaria Municipal de Finanças, não restou demonstrada, nos autos, a existência de norma legal ou contratual expressa que ampare os direitos por ela pretendidos, tampouco ficou comprovada a ocorrência de sucessivas e reiteradas prorrogações do vínculo, circunstância que inviabiliza o reconhecimento das verbas de natureza trabalhista postuladas. Nesse sentido: “CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE COBRANÇA – CONTRATO TEMPORÁRIO – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL – PROFESSOR – RENOVAÇÕES SUCESSIVAS – INOCORRÊNCIA – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 37, II, DA CRFB – CONTRATO VÁLIDO – DEPÓSITO DO FGTS – NÃO CABIMENTO – ENTENDIMENTO CONSOLIDADO DO STJ – DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, FÉRIAS E ADICIONAL DE 1/3 – NÃO DEVIDOS – TEMA N. 551, DO STF – APELO DA AUTORA NÃO PROVIDO E APELAÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO PROVIDA. O STJ firmou entendimento de que o contrato temporário de trabalho, entabulado com a Administração Pública, inquina-se de nulidade, somente quando renovado, sucessivamente, porquanto, nessa hipótese, haveria infringência do acesso ao Serviço Público via concurso (CRFB, art. 37, II). Se a contratação, sem concurso, ocorreu por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, não faz jus o servidor ao recebimento do FGTS. Aos servidores contratados pela Administração Pública com base no IX do art. 37, da CRF (contrato temporário) não assiste o direito ao recebimento das verbas salariais, referentes ao décimo terceiro salário e às férias, acrescidas do respectivo adicional, conforme entendimento esposado no Tema n. 551, do STF. (N.U 1001068-37.2019.8.11.0028, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, MARCIO VIDAL, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 18/12/2023, Publicado no DJE 30/01/2024) RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA – AÇÃO TRABALHISTA JULGADA IMPROCEDENTE – ALEGADA RENOVAÇÕES E/OU PRORROGAÇÕES SUCESSIVAS - CONTRATO TEMPORÁRIO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA COMO AGENTE COMUNITÁRIO – CÓPIAS DE NOTAS FISCAIS E NOTAS DE EMPENHO – RECOLHIMENTO DO ISSQN – DESVIRTUAMENTO DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA NÃO CARACTERIZADO – AUSÊNCIA DE NULIDADE CONTRATUAL – IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO EXEPCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS GARANTIDOS AOS SERVIDORES OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS – DESCABIMENTO DO PLEITO DE PAGAMENTO DE VERBAS TRABALHISTAS – SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Não havendo prova de desvirtuamento da contratação temporária, em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações, não há de se falar em nulidade contratual, o que não gera direito às verbas trabalhistas, tampouco ao FGTS . 2. Entende-se por trabalhador autônomo todo aquele que exerce sua atividade profissional, sem vínculo empregatício, por conta própria, de modo que a prestação de serviços é eventual e não habitual, não havendo falar no pagamento de verbas salariais ou FGTS. (TJ-MT 10000618920198110034 MT, Relator.: ALEXANDRE ELIAS FILHO, Data de Julgamento: 14/09/2021, Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 20/09/2021) (grifos nossos) Outrossim, relevante destacar que não há qualquer prova de que existam valores não quitados durante o período trabalhado — de 01/03/2013 a 31/01/2014 (Id. 268459279 – pp. 24-34) —, não restando configurado, portanto, enriquecimento ilícito do Município às custas da apelante, tampouco direito ao recebimento de qualquer outra parcela de natureza trabalhista. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso de apelação, com fundamento no art. 932 do Código de Processo Civil, c/c a Súmula 568 do Superior Tribunal de Justiça, mantendo incólume a sentença recorrida. Transcorrido in albis o prazo recursal, certifique-se e remetam-se os autos, na forma determinada. Intimem-se. Cumpra-se. Às providências. Cuiabá, MT, data registrada no sistema. Desembargador DEOSDETE CRUZ JUNIOR Relator

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Processo nº 0000008-55.2016.8.11.0059

ID: 276772681

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0000008-55.2016.8.11.0059

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE DO NORTE

Decisão

Advogados:

DOUGLAS CEREZINI

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo APELAÇÃO CÍVEL (198) 000… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Gabinete 2 - Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo APELAÇÃO CÍVEL (198) 0000008-55.2016.8.11.0059 APELANTE: THELMA BORGES BARBOSA APELADO: MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE DO NORTE VISTOS. Trata-se de recurso de apelação interposto Thelma Borges Barbosa em face da sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca de Porto Alegre do Norte, que julgou improcedente a ação de cobrança de verbas trabalhistas ajuizada em desfavor do Município de Porto Alegre do Norte, nos seguintes termos (Id. 268459298): “No caso em questão, a autora mencionou que o contrato se deu de forma verbal, ou seja, sem que para isso tenha sido aprovada em concurso público, em evidente afronta ao artigo 37, inciso II e §2º, da CF, situação que enseja a nulidade do ato. (...) Consequentemente, a nulidade do ato afasta a possibilidade de reconhecimento de direitos trabalhistas, bem como do direito a eventual indenização, tendo em vista que o exercício da função pública sem a devida investidura configura, em tese, o delito previsto no art. 328 do Código Penal. (...) Ante o exposto, com fundamento no art. 487, inciso I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pedido contido na inicial.” A apelante sustenta, em síntese, que a nulidade do contrato não afasta a obrigação da Administração Pública de remunerar os serviços efetivamente prestados, sob pena de enriquecimento ilícito. Defende que, uma vez comprovada a efetiva prestação de serviços de natureza permanente, é devido o pagamento das verbas remuneratórias e indenizatórias correspondentes ao período laborado, com fundamento na boa-fé objetiva. Ao final, requer a reforma da sentença, com o reconhecimento “dos salários em atraso referentes aos meses de fevereiro a novembro/2014, no valor de R$ 1.656,00 por mês, o que totaliza R$ 14.904,00 no período; 13° salário proporcional de 10/12 de 2013, no valor de R$ 1.375,00; 13° salário integral de 2014, no valor de R$ 1.650,00; 13° salário integral de 2015, no valor de R$ 1.650,00; Férias integrais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2013 até 28/02/2014, no valor de R$ 2.475,00; Férias integrais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2014 até 28/02/2015, no valor de R$ 2.475,00; Férias proporcionais + 50% correspondente ao período aquisitivo de 01/03/2015 até 07/01/2016, no valor de R$ 2.062,50; Indenização pelo auxílio doença referente ao período de dezembro/2014 até janeiro/2016, no valor de R$ 23.184,00; Auxílio doença até o término do tratamento da doença do trabalho adquirida pela requerente no valor mensal de R$ 1.650,00 mensal e danos morais no valor de R$ 50.000,00, conforme postulado na petição inicial.”. As contrarrazões foram apresentadas no Id. 268460253, ocasião em que a parte apelada pugnou pela manutenção da sentença, defendendo que a relação jurídica mantida com a autora não se revestiu de natureza empregatícia, tratando-se de mera prestação de serviços, sem os elementos caracterizadores do vínculo de emprego, como subordinação, habitualidade e pessoalidade. Alega, ademais, “que ela NÃO foi contratada para ser funcionário da Apelada, pois seu trabalho limitava-se a prestação de serviços de mão de obra, essencialmente um contrato de parceria, onde laborava em dias de sua escolha e sem qualquer tipo de subordinação. Inclusive, observa-se dos extratos de prestação de serviços a diferença salarial, cujo valor tinha-se por base a quantidade de serviços prestados.”. A Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer (Id. 270112364), manifestou-se pela ausência de interesse público a justificar sua intervenção no feito. É o relatório. Decido. Inicialmente, cumpre destacar que é dispensável a submissão do presente feito à Turma Julgadora deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, quando a decisão encontra-se em consonância, ou em manifesto confronto, com a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, o que autoriza o julgamento monocrático do recurso, nos termos do artigo 932, incisos IV e V, do Código de Processo Civil. Na origem, a autora alega ter sido contratada verbalmente, em 1º de março de 2013, para exercer a função de auxiliar administrativa na Secretaria Municipal de Finanças, percebendo remuneração mensal de R$ 1.656,00, paga mediante emissão de notas fiscais e recibos. Relata que seu desligamento ocorreu, de forma indireta, em 15 de setembro de 2014, sem que lhe fossem adimplidas verbas trabalhistas, tais como salários atrasados, décimos terceiros proporcionais e integrais, férias acrescidas de um terço e indenização por auxílio-doença, além de pleitear indenização por danos morais, decorrentes de doença ocupacional que afirma ter desenvolvido no desempenho de suas atribuições. O juízo singular entendeu, acertadamente, à luz do artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, que é vedada a formação de vínculo empregatício com a Administração Pública sem a prévia aprovação em concurso público. Reconheceu, portanto, a nulidade do contrato verbal firmado entre as partes e, por conseguinte, julgou improcedentes os pedidos de pagamento de verbas trabalhistas e indenizatórias, bem como afastou a possibilidade de condenação da Administração, sob qualquer título, inclusive a título de indenização, diante da nulidade do ato administrativo que embasou a prestação de serviços. O direito administrativo brasileiro não admite o reconhecimento de vínculos empregatícios ou contratuais com o Poder Público à margem das exigências legais, por mais relevante que seja a situação de fato apresentada. É mister esclarecer que o regime jurídico das contratações no âmbito da Administração Pública, nos termos do artigo 37, inciso II, da Constituição da República, estabelece que a investidura em cargo ou emprego público exige, como regra, a prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos. Não obstante, o mesmo diploma constitucional, em seu inciso IX, excepciona tal exigência ao admitir a contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, desde que expressamente prevista em lei específica editada pela entidade federativa competente — seja ela a União, os Estados, o Distrito Federal ou os Municípios —, nos termos das respectivas atribuições legislativas fixadas pela ordem constitucional vigente. Sob essa perspectiva, os entes federativos possuem autonomia para organizar o regime jurídico de seus servidores, observando os princípios e limites estabelecidos nos artigos 37 a 41 da Constituição Federal, aplicáveis aos servidores civis. Infere-se, portanto, que a contratação temporária por prazo determinado encontra respaldo tanto no Direito do Trabalho quanto no Direito Administrativo, sendo que, neste último, a regra é a exigência de concurso público. A exceção — representada pelas contratações sem concurso — deve observar rigorosamente os parâmetros delineados no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, sob pena de nulidade do ato administrativo. À luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no Tema 612, “(...) para que se considere válida a contratação temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da Administração.” (Ac. no RE nº 658.026 - MG, Tribunal Pleno, Relator (a): Min. Dias Toffoli, J. 09.04.2014, in DJe 31.10.2014). Além disso, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 765.320/MG (Tema 916), o Supremo Tribunal Federal reafirmou a tese firmada no RE nº 705.140/RS (Tema 308), no sentido de que “(...) a contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público realizada em desconformidade com os preceitos do art. 37, IX, da Constituição Federal não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.”. De modo análogo, restou assentado que “servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo (I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou (II) comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.” (STF — RE nº 1.066.677, Tribunal Pleno, Rel. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, j. 22.05.2020, DJe 01.07.2020 — Tema 551). Nesse cenário, verifica-se que os servidores contratados temporariamente pela Administração Pública, como regra, não fazem jus ao décimo terceiro salário nem às férias acrescidas do terço constitucional, haja vista tratar-se de vínculo de natureza precária e excepcional, regido por normas de direito público. Todavia, tal vedação comporta duas exceções: a primeira, quando houver expressa previsão legal ou contratual que assegure tais benefícios; e a segunda, nos casos em que reste comprovado o desvirtuamento da contratação temporária, especialmente quando a Administração Pública promove sucessivas e reiteradas prorrogações do vínculo, descaracterizando a transitoriedade e evidenciando o atendimento de necessidade de caráter permanente, situação que impõe o reconhecimento dos direitos sociais constitucionalmente assegurados. No caso concreto, ainda que se considerasse válida a contratação da apelante, em caráter temporário e excepcional, para exercer a função de auxiliar administrativa junto à Secretaria Municipal de Finanças, não restou demonstrada, nos autos, a existência de norma legal ou contratual expressa que ampare os direitos por ela pretendidos, tampouco ficou comprovada a ocorrência de sucessivas e reiteradas prorrogações do vínculo, circunstância que inviabiliza o reconhecimento das verbas de natureza trabalhista postuladas. Nesse sentido: “CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO DE COBRANÇA – CONTRATO TEMPORÁRIO – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL – PROFESSOR – RENOVAÇÕES SUCESSIVAS – INOCORRÊNCIA – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 37, II, DA CRFB – CONTRATO VÁLIDO – DEPÓSITO DO FGTS – NÃO CABIMENTO – ENTENDIMENTO CONSOLIDADO DO STJ – DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO, FÉRIAS E ADICIONAL DE 1/3 – NÃO DEVIDOS – TEMA N. 551, DO STF – APELO DA AUTORA NÃO PROVIDO E APELAÇÃO DO ESTADO DE MATO GROSSO PROVIDA. O STJ firmou entendimento de que o contrato temporário de trabalho, entabulado com a Administração Pública, inquina-se de nulidade, somente quando renovado, sucessivamente, porquanto, nessa hipótese, haveria infringência do acesso ao Serviço Público via concurso (CRFB, art. 37, II). Se a contratação, sem concurso, ocorreu por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, não faz jus o servidor ao recebimento do FGTS. Aos servidores contratados pela Administração Pública com base no IX do art. 37, da CRF (contrato temporário) não assiste o direito ao recebimento das verbas salariais, referentes ao décimo terceiro salário e às férias, acrescidas do respectivo adicional, conforme entendimento esposado no Tema n. 551, do STF. (N.U 1001068-37.2019.8.11.0028, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, MARCIO VIDAL, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 18/12/2023, Publicado no DJE 30/01/2024) RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA – AÇÃO TRABALHISTA JULGADA IMPROCEDENTE – ALEGADA RENOVAÇÕES E/OU PRORROGAÇÕES SUCESSIVAS - CONTRATO TEMPORÁRIO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA COMO AGENTE COMUNITÁRIO – CÓPIAS DE NOTAS FISCAIS E NOTAS DE EMPENHO – RECOLHIMENTO DO ISSQN – DESVIRTUAMENTO DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA NÃO CARACTERIZADO – AUSÊNCIA DE NULIDADE CONTRATUAL – IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO EXEPCIONAL DOS DIREITOS SOCIAIS GARANTIDOS AOS SERVIDORES OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS – DESCABIMENTO DO PLEITO DE PAGAMENTO DE VERBAS TRABALHISTAS – SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Não havendo prova de desvirtuamento da contratação temporária, em razão de sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações, não há de se falar em nulidade contratual, o que não gera direito às verbas trabalhistas, tampouco ao FGTS . 2. Entende-se por trabalhador autônomo todo aquele que exerce sua atividade profissional, sem vínculo empregatício, por conta própria, de modo que a prestação de serviços é eventual e não habitual, não havendo falar no pagamento de verbas salariais ou FGTS. (TJ-MT 10000618920198110034 MT, Relator.: ALEXANDRE ELIAS FILHO, Data de Julgamento: 14/09/2021, Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 20/09/2021) (grifos nossos) Outrossim, relevante destacar que não há qualquer prova de que existam valores não quitados durante o período trabalhado — de 01/03/2013 a 31/01/2014 (Id. 268459279 – pp. 24-34) —, não restando configurado, portanto, enriquecimento ilícito do Município às custas da apelante, tampouco direito ao recebimento de qualquer outra parcela de natureza trabalhista. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso de apelação, com fundamento no art. 932 do Código de Processo Civil, c/c a Súmula 568 do Superior Tribunal de Justiça, mantendo incólume a sentença recorrida. Transcorrido in albis o prazo recursal, certifique-se e remetam-se os autos, na forma determinada. Intimem-se. Cumpra-se. Às providências. Cuiabá, MT, data registrada no sistema. Desembargador DEOSDETE CRUZ JUNIOR Relator

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Processo nº 1001068-75.2021.8.11.0025

ID: 277231527

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001068-75.2021.8.11.0025

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

ASSOCIACAO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA-AJES

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

NADER THOME NETO REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO NADER THOME NETO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-75.2021.8.11.0025 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Prestação de Serviços] Relator: Des(a). CLARIC… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-75.2021.8.11.0025 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Prestação de Serviços] Relator: Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA Turma Julgadora: [DES(A). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, DES(A). MARCIO APARECIDO GUEDES, DES(A). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS] Parte(s): [ASSOCIACAO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA-AJES - CNPJ: 05.053.243/0001-01 (APELANTE), NADER THOME NETO registrado(a) civilmente como NADER THOME NETO - CPF: 574.639.309-63 (ADVOGADO), SILVANO SOUZA DE ALMEIDA - CPF: 008.788.861-09 (APELADO), MARIA SOUZA DE ALMEIDA - CPF: 551.060.721-15 (APELADO), VITORINO BATISTA DE ALMEIDA SOBRINHO - CPF: 317.816.911-34 (APELADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). Não encontrado, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. E M E N T A direito civil e processual civil. apelação cível. ação de cobrança de mensalidades escolares. contrato de mútuo educacional. prescrição. concessão de crédito para custeio de curso superior. termo inicial do prazo prescricional fixado no vencimento da última parcela. pedido de multa contratual. falta de pedido específico. critérios de atualização monetária e juros. aplicação intertemporal da lei n. 14.905/2024. recurso parcialmente provido. I. caso em exame 1. Recurso de Apelação Cível interposto em virtude da sentença que declarou, de ofício, a prescrição dos débitos anteriores a 01/04/2016, inclusive do contrato referente ao semestre 2016/1, julgou parcialmente procedente o pedido de cobrança e condenou os Requeridos ao pagamento das parcelas relativas aos semestres 2016/2 até 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA e aplicação da Taxa Selic a partir de 28/08/2024. II. questão em discussão 2. Há três questões em discussão: (i) definir se é cabível o reconhecimento da prescrição em relação ao contrato do semestre 2016/1; (ii) estabelecer se é possível a inclusão de multa contratual na condenação, diante da falta de pedido expresso; (iii) determinar quais os índices de correção monetária e taxa de juros aplicáveis antes e após a vigência da Lei n. 14.905/2024. III. razões de decidir 3. O prazo prescricional para cobrança de dívida líquida constante de instrumento particular é de cinco anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, do Código Civil, e tem como termo inicial o vencimento da última parcela, não sendo alterado pelo eventual vencimento antecipado da dívida. 4. Como o vencimento da última parcela do contrato firmado para o semestre 2016/1 se deu em dezembro/2016, e a ação foi proposta em abril/2021, não se configura a prescrição quinquenal, devendo ser reconhecida, de ofício, a nulidade parcial da sentença nesse ponto. 5. A falta de fundamentação fática e jurídica na petição inicial, bem como a ausência de pedido específico quanto à multa contratual, impede sua imposição, sob pena de julgamento extra petita, vedado pelo art. 492 do CPC. 6. Antes do ajuizamento da ação, aplicam-se os encargos contratuais previstos no mútuo educacional, especialmente o INPC como índice de correção monetária e os juros de 1% ao mês pro rata die, ressalvada a multa contratual afastada por ausência de pedido específico. 7. Após a sentença proferida sob a vigência da Lei n. 14.905/2024, aplica-se o IPCA como índice de correção monetária e a Taxa Selic como taxa de juros de mora, conforme art. 406, § 1º, do Código Civil, sendo tais parâmetros vinculativos para a fase de cumprimento de sentença. IV. dispositivo e tese Recurso parcialmente provido. Tese de julgamento: “1. O prazo prescricional para cobrança de parcelas decorrentes de contrato de mútuo educacional conta-se do vencimento da última parcela, conforme art. 206, § 5º, I, do Código Civil. 2. A ausência de pedido expresso e fundamentação específica na petição inicial impede a condenação ao pagamento de multa contratual, sob pena de julgamento extra petita. 2. Os critérios de atualização monetária e juros, após o ajuizamento da ação, devem obedecer às disposições judiciais e à Lei n. 14.905/2024, aplicando-se o IPCA como índice de correção e a Taxa Selic como juros de mora a partir da sentença. _____________________ Dispositivos relevantes citados: CC, art. 206, § 5º, I; CPC, arts. 373, II, 492 e 1.013, § 4º; Lei n. 14.905/2024. Jurisprudência relevante citada: STJ, EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp 1.476.989/RS, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, DJe 18.12.2023; TJMT, ApCív 1000090-69.2019.8.11.0025, Rel. Des. Dirceu dos Santos, j. 03.04.2024. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL N. 1001068-75.2021.8.11.0025 Trata-se de Recurso de Apelação interposto por Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES em virtude da sentença proferida pelo Juiz da 2.ª Vara da Comarca de Juína nos autos da Ação de Cobrança ajuizada em desfavor de Silvano Souza de Almeida, Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho. O Juiz sentenciante declarou, de ofício, a prescrição em relação ao contrato referente ao semestre 2016/1, bem como todos os débitos anteriores a 01/04/2016. Concluiu pela procedência parcial dos pedidos iniciais e condenou os Requeridos ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos dos semestres 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA a partir do vencimento de cada prestação, e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês a partir da data da citação, até a data de 27/08/2024, nos termos do art. 397 do Código Civil. Determinou que, a partir de 28/08/2024, tendo em vista a entrada em vigor da Lei n. 14.905/2024, o valor originário da condenação, sem as atualizações anteriores, seja acrescido de correção monetária exclusivamente pela Taxa Selic. Por fim, diante da sucumbência, condenou os Requeridos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação. Em suas razões recursais, a Apelante sustenta que não há falar em prescrição do débito, uma vez que o documento denominado “situação acadêmica” comprova que o aluno esteve regularmente matriculado até o 1º semestre de 2019, deixando de renovar a matrícula apenas no 2º semestre daquele ano. Argumenta que firmou contrato (FAAES) para períodos posteriores a 2016/1, cujo vencimento, conforme a cláusula contratual, ocorre no mês seguinte ao término do último semestre cursado. Afirma que o termo inicial da prescrição é 01/07/2019 e que a ação foi proposta dentro do prazo quinquenal. Impugna a sentença por omitir a multa contratual de 2% (dois por cento), regularmente prevista nos contratos, incluída no valor da causa e na planilha de cálculos. Questiona o critério de atualização monetária adotado, pois entende que, até o advento da Lei n. 14.905/2024, deve incidir o INPC, conforme pactuado nos contratos, e apenas a partir de 28/08/2024 é aplicável a taxa SELIC. Com esses argumentos, requer a reforma da sentença. Intimados, os Apelados não apresentaram contrarrazões. É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMA. SR.ª DES.ª CLARICE CLAUDINO DA SILVA (RELATORA) Egrégia Câmara: Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES ajuizou Ação de Cobrança em face de Silvano Souza de Almeida, Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho, tendo em vista o inadimplemento contratual. Alegou que, embora tenham usufruído regularmente dos serviços educacionais prestados, os Requeridos deixaram de quitar os valores devidos, tornando infrutíferas as tentativas extrajudiciais de recebimento. Esclareceu que o contrato firmado não preenche os requisitos legais para embasar Ação de Execução de Título Extrajudicial, razão pela qual propôs a ação de conhecimento. Diante da mora e dos prejuízos decorrentes, pleiteou a condenação dos Requeridos ao pagamento de R$ 81.982,03 (oitenta e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e três centavos), acrescida de juros, correção monetária, custas processuais, despesas com diligências e honorários advocatícios. Regularmente citados, os Requeridos permaneceram inertes, deixando de apresentar defesa. Diante disso, a Autora requereu a decretação da revelia e o julgamento antecipado da lide. Na sentença, o Juiz reconheceu, de ofício, a prescrição em relação ao contrato do semestre 2016/1, bem como todos os débitos anteriores a 01/04/2016. Concluiu pela procedência parcial dos pedidos iniciais e condenou os Requeridos ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos dos semestres 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA a partir do vencimento de cada prestação, e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês a partir da data da citação até a data de 27/08/2024, nos termos do art. 397 do Código Civil. Determinou que, a partir de 28/08/2024, tendo em vista a entrada em vigor da Lei n. 14.905/2024, ao valor originário da condenação, sem atualizações anteriores, seja acrescido de correção monetária exclusivamente pela Taxa Selic. Por fim, diante da sucumbência, condenou os Requeridos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação. Neste Apelo, a Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES sustenta que não há falar em prescrição do débito, uma vez que o documento denominado “situação acadêmica” comprova que o aluno Silvano Souza de Almeida esteve regularmente matriculado até o 1º semestre de 2019, e só deixou de renovar a matrícula apenas no 2º semestre daquele ano. Argumenta que firmou contrato (FAAES) para períodos posteriores a 2016/1, cujo vencimento ocorre no mês seguinte ao término do último semestre cursado. Frisa que o termo inicial da prescrição é 01/07/2019 e que a ação foi proposta dentro do prazo quinquenal. Consoante é cediço, a prescrição consiste na perda do direito de ação em razão da inércia de seu titular durante determinado lapso temporal previsto em lei. Tal instituto visa assegurar a estabilidade das relações jurídicas e a segurança jurídica, impedindo que pretensões possam ser exercidas indefinidamente no tempo. No âmbito das ações de cobrança, a prescrição incide sobre o direito de pleitear judicialmente o pagamento de obrigação inadimplida, cujo prazo varia conforme a natureza do crédito reclamado. O artigo 206 do Código Civil estabelece, em seus diversos incisos, os prazos prescricionais aplicáveis a distintas obrigações. No caso concreto, aplica-se a regra do art. 206, § 5º, I, que fixa o prazo quinquenal de cinco anos para a pretensão de cobrança de dívida líquida constante de instrumento particular, cujo marco inicial depende das especificidades do contrato e do momento em que se tornou exigível. Ao que se extrai do “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” assinado em 08/03/2016, a Apelante concedeu ao Apelado Silvano Souza de Almeida o custeio dos encargos educacionais relativos ao semestre 2016/1 do curso de bacharelado em ciências contábeis. A dívida foi garantida por Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho, na condição de fiadores. A Cláusula Terceira do instrumento particular explicita que o valor da semestralidade contratada é de R$ 6.927,50 (seis mil, novecentos e vinte e sete reais e cinquenta centavos), incluída a rematrícula no valor de R$ 1.395,70 (um mil trezentos e noventa e cinco reais e setenta centavos) e mais 5 (cinco) mensalidades no valor de R$ 1.106,36 (um mil cento e seis reais e trinta e seis centavos) cada, já considerado o desconto de pontualidade para o pagamento até o quinto dia útil de cada mês. Assim, de acordo com a Cláusula Quarta do instrumento particular, o mútuo contratado consistiu em 84,77% da semestralidade, o que corresponde a R$ 5.872,44 (cinco mil, oitocentos e setenta e dois reais e quarenta e quatro centavos). No que se refere ao pagamento, o parágrafo segundo da Cláusula Quinta definiu que o adimplemento se inicia no mês seguinte ao término do semestre: CLÁUSULA QUINTA - DO PAGAMENTO – O pagamento deste contrato será efetuado pelo MUTUÁRIO e/ou seus FIADOR nas épocas próprias e nas condições aqui fixadas, nas agências bancárias nacionais ou, onde o MUTUANTE determinar, observado o constante nesta Cláusula e seus parágrafos: Parágrafo Primeiro – O pagamento deste contrato será efetuado em tantas parcelas quantas foram os meses concedidos. Parágrafo Segundo – Inicia-se imediatamente no mês seguinte ao término do último período letivo cursado. Parágrafo Terceiro – A forma de pagamento será via boleto bancário com vencimento mensal. Ademais, o contrato estabelece que o pagamento do valor mutuado deve ocorrer “em tantas parcelas quantos forem os meses concedidos” (Cláusula Quinta, parágrafo primeiro). Portanto, considerando que o financiamento se refere à semestralidade, forçoso concluir que o pagamento deve se dar em seis prestações. Nesse contexto, nota-se que o ajuste contratual fixou como termo inicial para início da exigibilidade do débito o mês subsequente ao término do período cursado no semestre 2016/1, o qual, por consectário lógico, findou-se em junho de 2016. Com efeito, o vencimento da primeira parcela ocorreu em julho de 2016, e as demais, sucessivamente, até dezembro do mesmo ano. Nesse panorama, considerando que a obrigação é de trato sucessivo, o termo inicial do prazo prescricional deve ser fixado na data de vencimento da última parcela contratual, conforme jurisprudência deste Tribunal: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO MONITÓRIA – INSTRUMENTO PARTICULAR DE MÚTUO PARA CONCESSÃO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – ART. 206, § 5º, I, DO CC – PRESCRIÇÃO – REJEITADA – PRAZO PRESCRICIONAL QUE SE CONTA A PARTIR DO VENCIMENTO DA ÚLTIMA PARCELA – INDEPENDENTE DO VENCIMENTO ANTECIPADO – PRECEDENTES DO STJ – SENTENÇA ESCORREITA – RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Em se tratando de ação de cobrança lastreada em contrato particular de mútuo para a concessão de financiamento estudantil, o prazo prescricional aplicável é o quinquenal, conforme previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. “O vencimento antecipado da dívida não altera o início da fluência do prazo prescricional, prevalecendo para tal fim o termo ordinariamente indicado no contrato, que é o dia do vencimento da última parcela”.( AgInt no REsp 1.850.690/SP, Rel . Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe 05/06/2020). (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 1000090-69.2019.8 .11.0025, Relator.: DIRCEU DOS SANTOS, Data de Julgamento: 03/04/2024, Terceira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 09/04/2024) Firmado esse entendimento, dessume-se que o vencimento da última parcela do contrato se deu em Dezembro/2016 e que o prazo final para o ajuizamento da ação de cobrança se encerraria em Dezembro/2021. A demanda, contudo, foi proposta em 01/04/2021, ou seja, dentro do quinquídio legal. Dessa forma, o Juiz singular não agiu com o costumeiro acerto ao reconhecer a prescrição do contrato relativo ao semestre 2016/1, bem como dos débitos anteriores a abril/2016. Por conseguinte, indispensável reconhecer a nulidade parcial da sentença no ponto em que declarou prescrita a pretensão, com a devida aplicação do disposto no art. 1.013, § 4º, do Código de Processo Civil, a fim de possibilitar o exame do mérito da cobrança referente ao contrato celebrado para o semestre 2016/1. Sabe-se que a ação de cobrança ostenta natureza pessoal e obrigacional, tendo como propósito a satisfação de crédito decorrente de relação jurídica previamente constituída, seja ela contratual, negocial ou legal. Nesse contexto, é o instrumento processual apto à tutela do direito subjetivo de crédito, mediante o qual se busca a condenação do devedor ao pagamento da quantia devida. Com efeito, uma vez demonstrada, ainda que de forma inicial, a existência do vínculo obrigacional e a inadimplência da parte devedora, transfere-se a esta o ônus de comprovar o adimplemento da obrigação ou a inexistência ou ilegalidade da cobrança, nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. No caso concreto, verifica-se que, embora regularmente citado, os Requeridos/Apelados quedaram-se inertes, e deixaram de apresentar contestação. É cediço que a falta de defesa enseja os efeitos da revelia, notadamente a presunção de veracidade dos fatos articulados na petição inicial, conforme prevê o art. 344 do Código de Processo Civil. Importa ressaltar, contudo, que tal presunção não tem caráter absoluto, e pode ser afastada em hipóteses excepcionais, como na existência de pluralidade de réus, quando ao menos um deles contesta, ou quando as alegações autorais se revelem inverossímeis, o que não se verifica na hipótese vertente. Ao ajuizar a demanda, a instituição de ensino acostou aos autos o instrumento contratual firmado em 08/03/2016, correspondente ao semestre letivo de 2016/1, devidamente assinado pela Apelante, pelo estudante beneficiado e por seus fiadores, demonstrando, portanto, a existência da relação jurídica subjacente à cobrança. Diante disso, tem-se que a inércia dos Apelados, aliada à falta de comprovação do adimplemento das obrigações contratuais assumidas, impõe o reconhecimento da dívida com a consequente responsabilização dos Apelados pelo pagamento do valor inadimplido, oriundo da relação contratual sob exame. No que tange à multa contratual pretendida pelo Apelante, melhor sorte não lhe assiste. É bem verdade que os contratos firmados entre as partes, referentes aos semestres 2016/1, 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/1, 2018/2 e 2019/1, estabelecem, na Cláusula Sétima, parágrafo primeiro, a incidência de multa moratória no percentual de 3% (três por cento) (Ids. 269512259 a 269512265). Contudo, da leitura da petição inicial, observa-se que a Apelante não formulou qualquer alegação fática ou jurídica relativa à multa contratual na causa de pedir, tampouco apresentou pedido específico de condenação ao seu pagamento. Embora no descritivo da planilha de cálculo anexada à inicial conste a rubrica “Acréscimo de 2,00% referente à multa”, não há qualquer menção aos fundamentos jurídicos da cobrança, nem indicação expressa da cláusula contratual aplicável ou da situação fática que ensejaria sua incidência. O que se extrai da peça inaugural é o pedido de condenação dos Requeridos/Apelados ao pagamento de R$ 81.982,03 (oitenta e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e três centavos), valor constante da planilha de cálculo, acrescido de juros e correção monetária até o efetivo pagamento, além das despesas processuais, custas, diligências e honorários advocatícios. Nessa perspectiva, incide o disposto no art. 492, caput, do Código de Processo Civil, segundo o qual o Juiz deve decidir a lide nos limites em que foi proposta, vedado proferir sentença de natureza diversa da pedida, bem como condenação em quantidade superior ou objeto distinto do que consta no pedido. Essa medida consagra o princípio da adstrição ou da congruência, que impõe ao julgador estrita observância aos contornos delineados pela parte autora em sua petição inicial. Assim, a mera inclusão da expressão “Acréscimo de 2,00% referente à multa” em planilha de cálculo, desacompanhada da devida indicação da cláusula contratual aplicável e dos fundamentos que embasem sua exigibilidade, não é suficiente para autorizar a condenação ao pagamento da penalidade. Nesse sentido: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO . CONFIGURADA. CONCESSÃO DE REFORMA MILITAR. INVIABILIDADE POR AUSÊNCIA DE PEDIDO. PREQUESTIONAMENTO . OCORRÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. RECURSO ACOLHIDO. [...] 4. Ante a ausência de congruência entre o pedido formulado e o provimento jurisdicional, há que ser reconhecida a ocorrência de julgamento extra petita (violação ao art. 492 do CPC). 5. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que há julgamento extra petita quando a prestação jurisdicional é diferente do pedido formulado na inicial ou quando o deferimento do pedido se dá por fundamento não invocado como causa de decidir. 6. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para, em substituição ao acórdão de fls. 743/749, dar parcial provimento ao recurso especial a fim de reconhecer a ocorrência de julgamento extra petita, determinando que o Tribunal de origem proceda a novo julgamento da causa atendo-se aos limites do pedido formulado na inicial. (STJ - EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp: 1476989 RS 2019/0088064-0, Relator.: Ministro PAULO SÉRGIO DOMINGUES, Data de Julgamento: 11/12/2023, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/12/2023) (sem destaque no original). Ademais, embora o valor da causa possa refletir a pretensão econômica total do autor (art. 292, I, CPC), tal quantia tem natureza estimativa e serve, sobretudo, para fins de fixação de competência, recolhimento de custas e outras despesas processuais. Por si só, esse valor não tem o condão de ampliar os limites objetivos do pedido formulado, tampouco autoriza o julgador a conceder providência jurisdicional diversa da expressamente requerida. Por tais razões, não há falar em omissão do Juiz singular quanto à multa contratual, haja vista a ausência de fundamentação adequada e de pedido expresso. Por último, a Apelante se insurge quanto ao critério de atualização e, segundo alega, até o advento da Lei n. 14.905/2024 deve incidir o índice de correção monetária pactuado (INPC), e somente após a vigência da Lei é que deve ser aplicada a taxa SELIC. Ao condenar a parte Requerida ao pagamento do débito, especificamente quanto aos consectários legais, o Juiz singular assim decidiu: [...] 2. CONDENAR a parte requerida ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos nº 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/1, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetariamente pelo índice oficial IPCA a partir do vencimento de cada prestação e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês, contados desde a citação, nos termos do art. 397 do Código Civil, até a data de 27/08/2024. 3. DETERMINAR que, a partir de 28/08/2024, com a entrada em vigor da Lei n. 14.905/24, o valor originário da condenação, sem as atualizações anteriores, seja corrigido exclusivamente pela Taxa Selic, conforme disposto no art. 406, § 1º, do Código Civil, em sua nova redação. Para os cálculos de atualização monetária a partir de 28/08/2024, sugere-se a utilização da Calculadora do Cidadão disponibilizada pelo Banco Central, na aba "taxa Selic", considerando que a correção monetária pelo IPCA já está embutida na Taxa Selic, dispensando ajustes adicionais. Indispensável destacar que na sentença os Requeridos não foram condenados ao pagamento do valor global apontado pelo Autor na inicial (R$ 81.982,03), mas sim ao adimplemento das “parcelas discriminadas nos contratos”, conforme expressamente consignado no dispositivo. A atualização monetária incidente antes do ajuizamento da demanda, em sede extrajudicial ou no momento da quantificação inicial do débito, tem por finalidade preservar o valor real da obrigação até a data da propositura da ação. Tal atualização é regida pelos parâmetros livremente ajustados entre as partes, em consonância com o princípio da autonomia privada. No caso, o “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” estipula, na Cláusula Sétima, a aplicação do INPC como índice de correção monetária, além de juros moratórios à razão de 1% ao mês, pro rata die, para hipóteses de impontualidade ou inadimplemento. Todavia, uma vez acolhido o pedido inicial e reconhecida judicialmente a obrigação, incumbe ao juízo fixar, nos termos do artigo 491 do Código de Processo Civil, os critérios legais que regerão a fase de cumprimento da sentença, verbis: Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. § 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. § 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença. Dessa forma, os critérios estabelecidos na sentença têm natureza vinculativa e passam a reger, de forma cogente, a atualização da obrigação exequenda entre o marco temporal da condenação judicial e o efetivo pagamento. No caso, a sentença foi proferida em 02/12/2024, ou seja, já sob a égide da Lei n. 14.905/2024, que introduziu significativas alterações na disciplina dos juros moratórios e da correção monetária, com a nova redação conferida ao art. 406 do Código Civil: Art. 406. Quando não forem convencionados, ou quando o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, os juros serão fixados de acordo com a taxa legal. § 1ºA taxa legal corresponderá à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), deduzido o índice de atualização monetária de que trata o parágrafo único do art. 389 deste Código. § 2ºA metodologia de cálculo da taxa legal e sua forma de aplicação serão definidas pelo Conselho Monetário Nacional e divulgadas pelo Banco Central do Brasil. § 3ºCaso a taxa legal apresente resultado negativo, este será considerado igual a 0 (zero) para efeito de cálculo dos juros no período de referência. A citada Lei n. 14.905/2024 entrou em vigor em 30/08/2024, e deve ser aplicada aos processos em curso, em respeito ao princípio do direito intertemporal. Por conseguinte, ao montante da condenação devem ser aplicados, a partir da citação, juros moratórios calculados com base na Taxa Selic, deduzido o índice de correção monetária (IPCA), o qual incidirá desde o arbitramento da obrigação judicial até o adimplemento. Além do mais, o débito originário deve ser atualizado pelo índice previsto no Contrato, ou seja, INPC, e não IPCA como determinou o Juiz na sentença. Portanto, a sentença merece reparos no capitulo que dispõe sobre os consectários legais. Feitas essas considerações, dou provimento parcial ao recurso, reconheço o direito de cobrança dos débitos oriundo do “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” referentes ao semestre 2016/1 e condeno os Apelados/Requeridos ao pagamento das parcelas inadimplidas desse instrumento particular. Determino que ao valor da condenação sejam aplicados os consectários legais da seguinte forma: (i) até o ajuizamento da ação: correção monetária pelo índice INPC e juros contratuais de 1% ao mês pro rata die, ambas a partir do vencimento de cada prestação, tal como convencionado entre as partes, ressalvada a multa contratual, afastada por ausência de pedido específico, conforme já fundamentado neste voto; (ii) após a sentença: correção monetária pelo índice IPCA desde o arbitramento, e juros de mora pela Taxa Selic a partir da citação, nos moldes do art. 406, §1º, do Código Civil, alterado pela Lei n. 14.905/2024. Em observância ao entendimento fixado pelo STJ no julgamento do REsp 1865553/PR (Tema 1059), deixo de majorar os honorários advocatícios tendo em vista o provimento parcial do Recurso. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 20/05/2025

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Processo nº 1001068-75.2021.8.11.0025

ID: 277231541

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001068-75.2021.8.11.0025

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

MARIA SOUZA DE ALMEIDA SILVANO SOUZA DE ALMEIDA VITORINO BATISTA DE ALMEIDA SOBRINHO

Acórdão

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-75.2021.8.11.0025 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Prestação de Serviços] Relator: Des(a). CLARIC… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1001068-75.2021.8.11.0025 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Prestação de Serviços] Relator: Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA Turma Julgadora: [DES(A). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, DES(A). MARCIO APARECIDO GUEDES, DES(A). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS] Parte(s): [ASSOCIACAO JUINENSE DE ENSINO SUPERIOR DO VALE DO JURUENA-AJES - CNPJ: 05.053.243/0001-01 (APELANTE), NADER THOME NETO registrado(a) civilmente como NADER THOME NETO - CPF: 574.639.309-63 (ADVOGADO), SILVANO SOUZA DE ALMEIDA - CPF: 008.788.861-09 (APELADO), MARIA SOUZA DE ALMEIDA - CPF: 551.060.721-15 (APELADO), VITORINO BATISTA DE ALMEIDA SOBRINHO - CPF: 317.816.911-34 (APELADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). Não encontrado, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. E M E N T A direito civil e processual civil. apelação cível. ação de cobrança de mensalidades escolares. contrato de mútuo educacional. prescrição. concessão de crédito para custeio de curso superior. termo inicial do prazo prescricional fixado no vencimento da última parcela. pedido de multa contratual. falta de pedido específico. critérios de atualização monetária e juros. aplicação intertemporal da lei n. 14.905/2024. recurso parcialmente provido. I. caso em exame 1. Recurso de Apelação Cível interposto em virtude da sentença que declarou, de ofício, a prescrição dos débitos anteriores a 01/04/2016, inclusive do contrato referente ao semestre 2016/1, julgou parcialmente procedente o pedido de cobrança e condenou os Requeridos ao pagamento das parcelas relativas aos semestres 2016/2 até 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA e aplicação da Taxa Selic a partir de 28/08/2024. II. questão em discussão 2. Há três questões em discussão: (i) definir se é cabível o reconhecimento da prescrição em relação ao contrato do semestre 2016/1; (ii) estabelecer se é possível a inclusão de multa contratual na condenação, diante da falta de pedido expresso; (iii) determinar quais os índices de correção monetária e taxa de juros aplicáveis antes e após a vigência da Lei n. 14.905/2024. III. razões de decidir 3. O prazo prescricional para cobrança de dívida líquida constante de instrumento particular é de cinco anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, do Código Civil, e tem como termo inicial o vencimento da última parcela, não sendo alterado pelo eventual vencimento antecipado da dívida. 4. Como o vencimento da última parcela do contrato firmado para o semestre 2016/1 se deu em dezembro/2016, e a ação foi proposta em abril/2021, não se configura a prescrição quinquenal, devendo ser reconhecida, de ofício, a nulidade parcial da sentença nesse ponto. 5. A falta de fundamentação fática e jurídica na petição inicial, bem como a ausência de pedido específico quanto à multa contratual, impede sua imposição, sob pena de julgamento extra petita, vedado pelo art. 492 do CPC. 6. Antes do ajuizamento da ação, aplicam-se os encargos contratuais previstos no mútuo educacional, especialmente o INPC como índice de correção monetária e os juros de 1% ao mês pro rata die, ressalvada a multa contratual afastada por ausência de pedido específico. 7. Após a sentença proferida sob a vigência da Lei n. 14.905/2024, aplica-se o IPCA como índice de correção monetária e a Taxa Selic como taxa de juros de mora, conforme art. 406, § 1º, do Código Civil, sendo tais parâmetros vinculativos para a fase de cumprimento de sentença. IV. dispositivo e tese Recurso parcialmente provido. Tese de julgamento: “1. O prazo prescricional para cobrança de parcelas decorrentes de contrato de mútuo educacional conta-se do vencimento da última parcela, conforme art. 206, § 5º, I, do Código Civil. 2. A ausência de pedido expresso e fundamentação específica na petição inicial impede a condenação ao pagamento de multa contratual, sob pena de julgamento extra petita. 2. Os critérios de atualização monetária e juros, após o ajuizamento da ação, devem obedecer às disposições judiciais e à Lei n. 14.905/2024, aplicando-se o IPCA como índice de correção e a Taxa Selic como juros de mora a partir da sentença. _____________________ Dispositivos relevantes citados: CC, art. 206, § 5º, I; CPC, arts. 373, II, 492 e 1.013, § 4º; Lei n. 14.905/2024. Jurisprudência relevante citada: STJ, EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp 1.476.989/RS, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, DJe 18.12.2023; TJMT, ApCív 1000090-69.2019.8.11.0025, Rel. Des. Dirceu dos Santos, j. 03.04.2024. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL N. 1001068-75.2021.8.11.0025 Trata-se de Recurso de Apelação interposto por Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES em virtude da sentença proferida pelo Juiz da 2.ª Vara da Comarca de Juína nos autos da Ação de Cobrança ajuizada em desfavor de Silvano Souza de Almeida, Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho. O Juiz sentenciante declarou, de ofício, a prescrição em relação ao contrato referente ao semestre 2016/1, bem como todos os débitos anteriores a 01/04/2016. Concluiu pela procedência parcial dos pedidos iniciais e condenou os Requeridos ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos dos semestres 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA a partir do vencimento de cada prestação, e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês a partir da data da citação, até a data de 27/08/2024, nos termos do art. 397 do Código Civil. Determinou que, a partir de 28/08/2024, tendo em vista a entrada em vigor da Lei n. 14.905/2024, o valor originário da condenação, sem as atualizações anteriores, seja acrescido de correção monetária exclusivamente pela Taxa Selic. Por fim, diante da sucumbência, condenou os Requeridos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação. Em suas razões recursais, a Apelante sustenta que não há falar em prescrição do débito, uma vez que o documento denominado “situação acadêmica” comprova que o aluno esteve regularmente matriculado até o 1º semestre de 2019, deixando de renovar a matrícula apenas no 2º semestre daquele ano. Argumenta que firmou contrato (FAAES) para períodos posteriores a 2016/1, cujo vencimento, conforme a cláusula contratual, ocorre no mês seguinte ao término do último semestre cursado. Afirma que o termo inicial da prescrição é 01/07/2019 e que a ação foi proposta dentro do prazo quinquenal. Impugna a sentença por omitir a multa contratual de 2% (dois por cento), regularmente prevista nos contratos, incluída no valor da causa e na planilha de cálculos. Questiona o critério de atualização monetária adotado, pois entende que, até o advento da Lei n. 14.905/2024, deve incidir o INPC, conforme pactuado nos contratos, e apenas a partir de 28/08/2024 é aplicável a taxa SELIC. Com esses argumentos, requer a reforma da sentença. Intimados, os Apelados não apresentaram contrarrazões. É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMA. SR.ª DES.ª CLARICE CLAUDINO DA SILVA (RELATORA) Egrégia Câmara: Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES ajuizou Ação de Cobrança em face de Silvano Souza de Almeida, Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho, tendo em vista o inadimplemento contratual. Alegou que, embora tenham usufruído regularmente dos serviços educacionais prestados, os Requeridos deixaram de quitar os valores devidos, tornando infrutíferas as tentativas extrajudiciais de recebimento. Esclareceu que o contrato firmado não preenche os requisitos legais para embasar Ação de Execução de Título Extrajudicial, razão pela qual propôs a ação de conhecimento. Diante da mora e dos prejuízos decorrentes, pleiteou a condenação dos Requeridos ao pagamento de R$ 81.982,03 (oitenta e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e três centavos), acrescida de juros, correção monetária, custas processuais, despesas com diligências e honorários advocatícios. Regularmente citados, os Requeridos permaneceram inertes, deixando de apresentar defesa. Diante disso, a Autora requereu a decretação da revelia e o julgamento antecipado da lide. Na sentença, o Juiz reconheceu, de ofício, a prescrição em relação ao contrato do semestre 2016/1, bem como todos os débitos anteriores a 01/04/2016. Concluiu pela procedência parcial dos pedidos iniciais e condenou os Requeridos ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos dos semestres 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetária pelo IPCA a partir do vencimento de cada prestação, e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês a partir da data da citação até a data de 27/08/2024, nos termos do art. 397 do Código Civil. Determinou que, a partir de 28/08/2024, tendo em vista a entrada em vigor da Lei n. 14.905/2024, ao valor originário da condenação, sem atualizações anteriores, seja acrescido de correção monetária exclusivamente pela Taxa Selic. Por fim, diante da sucumbência, condenou os Requeridos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) do valor atualizado da condenação. Neste Apelo, a Associação Juinense de Ensino Superior do Vale do Juruena – AJES sustenta que não há falar em prescrição do débito, uma vez que o documento denominado “situação acadêmica” comprova que o aluno Silvano Souza de Almeida esteve regularmente matriculado até o 1º semestre de 2019, e só deixou de renovar a matrícula apenas no 2º semestre daquele ano. Argumenta que firmou contrato (FAAES) para períodos posteriores a 2016/1, cujo vencimento ocorre no mês seguinte ao término do último semestre cursado. Frisa que o termo inicial da prescrição é 01/07/2019 e que a ação foi proposta dentro do prazo quinquenal. Consoante é cediço, a prescrição consiste na perda do direito de ação em razão da inércia de seu titular durante determinado lapso temporal previsto em lei. Tal instituto visa assegurar a estabilidade das relações jurídicas e a segurança jurídica, impedindo que pretensões possam ser exercidas indefinidamente no tempo. No âmbito das ações de cobrança, a prescrição incide sobre o direito de pleitear judicialmente o pagamento de obrigação inadimplida, cujo prazo varia conforme a natureza do crédito reclamado. O artigo 206 do Código Civil estabelece, em seus diversos incisos, os prazos prescricionais aplicáveis a distintas obrigações. No caso concreto, aplica-se a regra do art. 206, § 5º, I, que fixa o prazo quinquenal de cinco anos para a pretensão de cobrança de dívida líquida constante de instrumento particular, cujo marco inicial depende das especificidades do contrato e do momento em que se tornou exigível. Ao que se extrai do “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” assinado em 08/03/2016, a Apelante concedeu ao Apelado Silvano Souza de Almeida o custeio dos encargos educacionais relativos ao semestre 2016/1 do curso de bacharelado em ciências contábeis. A dívida foi garantida por Maria Souza de Almeida e Vitorino Batista de Almeida Sobrinho, na condição de fiadores. A Cláusula Terceira do instrumento particular explicita que o valor da semestralidade contratada é de R$ 6.927,50 (seis mil, novecentos e vinte e sete reais e cinquenta centavos), incluída a rematrícula no valor de R$ 1.395,70 (um mil trezentos e noventa e cinco reais e setenta centavos) e mais 5 (cinco) mensalidades no valor de R$ 1.106,36 (um mil cento e seis reais e trinta e seis centavos) cada, já considerado o desconto de pontualidade para o pagamento até o quinto dia útil de cada mês. Assim, de acordo com a Cláusula Quarta do instrumento particular, o mútuo contratado consistiu em 84,77% da semestralidade, o que corresponde a R$ 5.872,44 (cinco mil, oitocentos e setenta e dois reais e quarenta e quatro centavos). No que se refere ao pagamento, o parágrafo segundo da Cláusula Quinta definiu que o adimplemento se inicia no mês seguinte ao término do semestre: CLÁUSULA QUINTA - DO PAGAMENTO – O pagamento deste contrato será efetuado pelo MUTUÁRIO e/ou seus FIADOR nas épocas próprias e nas condições aqui fixadas, nas agências bancárias nacionais ou, onde o MUTUANTE determinar, observado o constante nesta Cláusula e seus parágrafos: Parágrafo Primeiro – O pagamento deste contrato será efetuado em tantas parcelas quantas foram os meses concedidos. Parágrafo Segundo – Inicia-se imediatamente no mês seguinte ao término do último período letivo cursado. Parágrafo Terceiro – A forma de pagamento será via boleto bancário com vencimento mensal. Ademais, o contrato estabelece que o pagamento do valor mutuado deve ocorrer “em tantas parcelas quantos forem os meses concedidos” (Cláusula Quinta, parágrafo primeiro). Portanto, considerando que o financiamento se refere à semestralidade, forçoso concluir que o pagamento deve se dar em seis prestações. Nesse contexto, nota-se que o ajuste contratual fixou como termo inicial para início da exigibilidade do débito o mês subsequente ao término do período cursado no semestre 2016/1, o qual, por consectário lógico, findou-se em junho de 2016. Com efeito, o vencimento da primeira parcela ocorreu em julho de 2016, e as demais, sucessivamente, até dezembro do mesmo ano. Nesse panorama, considerando que a obrigação é de trato sucessivo, o termo inicial do prazo prescricional deve ser fixado na data de vencimento da última parcela contratual, conforme jurisprudência deste Tribunal: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO MONITÓRIA – INSTRUMENTO PARTICULAR DE MÚTUO PARA CONCESSÃO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL – PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – ART. 206, § 5º, I, DO CC – PRESCRIÇÃO – REJEITADA – PRAZO PRESCRICIONAL QUE SE CONTA A PARTIR DO VENCIMENTO DA ÚLTIMA PARCELA – INDEPENDENTE DO VENCIMENTO ANTECIPADO – PRECEDENTES DO STJ – SENTENÇA ESCORREITA – RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Em se tratando de ação de cobrança lastreada em contrato particular de mútuo para a concessão de financiamento estudantil, o prazo prescricional aplicável é o quinquenal, conforme previsto no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. “O vencimento antecipado da dívida não altera o início da fluência do prazo prescricional, prevalecendo para tal fim o termo ordinariamente indicado no contrato, que é o dia do vencimento da última parcela”.( AgInt no REsp 1.850.690/SP, Rel . Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe 05/06/2020). (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 1000090-69.2019.8 .11.0025, Relator.: DIRCEU DOS SANTOS, Data de Julgamento: 03/04/2024, Terceira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 09/04/2024) Firmado esse entendimento, dessume-se que o vencimento da última parcela do contrato se deu em Dezembro/2016 e que o prazo final para o ajuizamento da ação de cobrança se encerraria em Dezembro/2021. A demanda, contudo, foi proposta em 01/04/2021, ou seja, dentro do quinquídio legal. Dessa forma, o Juiz singular não agiu com o costumeiro acerto ao reconhecer a prescrição do contrato relativo ao semestre 2016/1, bem como dos débitos anteriores a abril/2016. Por conseguinte, indispensável reconhecer a nulidade parcial da sentença no ponto em que declarou prescrita a pretensão, com a devida aplicação do disposto no art. 1.013, § 4º, do Código de Processo Civil, a fim de possibilitar o exame do mérito da cobrança referente ao contrato celebrado para o semestre 2016/1. Sabe-se que a ação de cobrança ostenta natureza pessoal e obrigacional, tendo como propósito a satisfação de crédito decorrente de relação jurídica previamente constituída, seja ela contratual, negocial ou legal. Nesse contexto, é o instrumento processual apto à tutela do direito subjetivo de crédito, mediante o qual se busca a condenação do devedor ao pagamento da quantia devida. Com efeito, uma vez demonstrada, ainda que de forma inicial, a existência do vínculo obrigacional e a inadimplência da parte devedora, transfere-se a esta o ônus de comprovar o adimplemento da obrigação ou a inexistência ou ilegalidade da cobrança, nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. No caso concreto, verifica-se que, embora regularmente citado, os Requeridos/Apelados quedaram-se inertes, e deixaram de apresentar contestação. É cediço que a falta de defesa enseja os efeitos da revelia, notadamente a presunção de veracidade dos fatos articulados na petição inicial, conforme prevê o art. 344 do Código de Processo Civil. Importa ressaltar, contudo, que tal presunção não tem caráter absoluto, e pode ser afastada em hipóteses excepcionais, como na existência de pluralidade de réus, quando ao menos um deles contesta, ou quando as alegações autorais se revelem inverossímeis, o que não se verifica na hipótese vertente. Ao ajuizar a demanda, a instituição de ensino acostou aos autos o instrumento contratual firmado em 08/03/2016, correspondente ao semestre letivo de 2016/1, devidamente assinado pela Apelante, pelo estudante beneficiado e por seus fiadores, demonstrando, portanto, a existência da relação jurídica subjacente à cobrança. Diante disso, tem-se que a inércia dos Apelados, aliada à falta de comprovação do adimplemento das obrigações contratuais assumidas, impõe o reconhecimento da dívida com a consequente responsabilização dos Apelados pelo pagamento do valor inadimplido, oriundo da relação contratual sob exame. No que tange à multa contratual pretendida pelo Apelante, melhor sorte não lhe assiste. É bem verdade que os contratos firmados entre as partes, referentes aos semestres 2016/1, 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/1, 2018/2 e 2019/1, estabelecem, na Cláusula Sétima, parágrafo primeiro, a incidência de multa moratória no percentual de 3% (três por cento) (Ids. 269512259 a 269512265). Contudo, da leitura da petição inicial, observa-se que a Apelante não formulou qualquer alegação fática ou jurídica relativa à multa contratual na causa de pedir, tampouco apresentou pedido específico de condenação ao seu pagamento. Embora no descritivo da planilha de cálculo anexada à inicial conste a rubrica “Acréscimo de 2,00% referente à multa”, não há qualquer menção aos fundamentos jurídicos da cobrança, nem indicação expressa da cláusula contratual aplicável ou da situação fática que ensejaria sua incidência. O que se extrai da peça inaugural é o pedido de condenação dos Requeridos/Apelados ao pagamento de R$ 81.982,03 (oitenta e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e três centavos), valor constante da planilha de cálculo, acrescido de juros e correção monetária até o efetivo pagamento, além das despesas processuais, custas, diligências e honorários advocatícios. Nessa perspectiva, incide o disposto no art. 492, caput, do Código de Processo Civil, segundo o qual o Juiz deve decidir a lide nos limites em que foi proposta, vedado proferir sentença de natureza diversa da pedida, bem como condenação em quantidade superior ou objeto distinto do que consta no pedido. Essa medida consagra o princípio da adstrição ou da congruência, que impõe ao julgador estrita observância aos contornos delineados pela parte autora em sua petição inicial. Assim, a mera inclusão da expressão “Acréscimo de 2,00% referente à multa” em planilha de cálculo, desacompanhada da devida indicação da cláusula contratual aplicável e dos fundamentos que embasem sua exigibilidade, não é suficiente para autorizar a condenação ao pagamento da penalidade. Nesse sentido: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO . CONFIGURADA. CONCESSÃO DE REFORMA MILITAR. INVIABILIDADE POR AUSÊNCIA DE PEDIDO. PREQUESTIONAMENTO . OCORRÊNCIA. JULGAMENTO EXTRA PETITA. RECURSO ACOLHIDO. [...] 4. Ante a ausência de congruência entre o pedido formulado e o provimento jurisdicional, há que ser reconhecida a ocorrência de julgamento extra petita (violação ao art. 492 do CPC). 5. A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que há julgamento extra petita quando a prestação jurisdicional é diferente do pedido formulado na inicial ou quando o deferimento do pedido se dá por fundamento não invocado como causa de decidir. 6. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para, em substituição ao acórdão de fls. 743/749, dar parcial provimento ao recurso especial a fim de reconhecer a ocorrência de julgamento extra petita, determinando que o Tribunal de origem proceda a novo julgamento da causa atendo-se aos limites do pedido formulado na inicial. (STJ - EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp: 1476989 RS 2019/0088064-0, Relator.: Ministro PAULO SÉRGIO DOMINGUES, Data de Julgamento: 11/12/2023, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/12/2023) (sem destaque no original). Ademais, embora o valor da causa possa refletir a pretensão econômica total do autor (art. 292, I, CPC), tal quantia tem natureza estimativa e serve, sobretudo, para fins de fixação de competência, recolhimento de custas e outras despesas processuais. Por si só, esse valor não tem o condão de ampliar os limites objetivos do pedido formulado, tampouco autoriza o julgador a conceder providência jurisdicional diversa da expressamente requerida. Por tais razões, não há falar em omissão do Juiz singular quanto à multa contratual, haja vista a ausência de fundamentação adequada e de pedido expresso. Por último, a Apelante se insurge quanto ao critério de atualização e, segundo alega, até o advento da Lei n. 14.905/2024 deve incidir o índice de correção monetária pactuado (INPC), e somente após a vigência da Lei é que deve ser aplicada a taxa SELIC. Ao condenar a parte Requerida ao pagamento do débito, especificamente quanto aos consectários legais, o Juiz singular assim decidiu: [...] 2. CONDENAR a parte requerida ao pagamento dos valores referentes às parcelas discriminadas nos contratos nº 2016/2, 2017/1, 2017/2, 2018/1, 2018/2 e 2019/1, com atualização monetariamente pelo índice oficial IPCA a partir do vencimento de cada prestação e acréscimo de juros de mora de 1% ao mês, contados desde a citação, nos termos do art. 397 do Código Civil, até a data de 27/08/2024. 3. DETERMINAR que, a partir de 28/08/2024, com a entrada em vigor da Lei n. 14.905/24, o valor originário da condenação, sem as atualizações anteriores, seja corrigido exclusivamente pela Taxa Selic, conforme disposto no art. 406, § 1º, do Código Civil, em sua nova redação. Para os cálculos de atualização monetária a partir de 28/08/2024, sugere-se a utilização da Calculadora do Cidadão disponibilizada pelo Banco Central, na aba "taxa Selic", considerando que a correção monetária pelo IPCA já está embutida na Taxa Selic, dispensando ajustes adicionais. Indispensável destacar que na sentença os Requeridos não foram condenados ao pagamento do valor global apontado pelo Autor na inicial (R$ 81.982,03), mas sim ao adimplemento das “parcelas discriminadas nos contratos”, conforme expressamente consignado no dispositivo. A atualização monetária incidente antes do ajuizamento da demanda, em sede extrajudicial ou no momento da quantificação inicial do débito, tem por finalidade preservar o valor real da obrigação até a data da propositura da ação. Tal atualização é regida pelos parâmetros livremente ajustados entre as partes, em consonância com o princípio da autonomia privada. No caso, o “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” estipula, na Cláusula Sétima, a aplicação do INPC como índice de correção monetária, além de juros moratórios à razão de 1% ao mês, pro rata die, para hipóteses de impontualidade ou inadimplemento. Todavia, uma vez acolhido o pedido inicial e reconhecida judicialmente a obrigação, incumbe ao juízo fixar, nos termos do artigo 491 do Código de Processo Civil, os critérios legais que regerão a fase de cumprimento da sentença, verbis: Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. § 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. § 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença. Dessa forma, os critérios estabelecidos na sentença têm natureza vinculativa e passam a reger, de forma cogente, a atualização da obrigação exequenda entre o marco temporal da condenação judicial e o efetivo pagamento. No caso, a sentença foi proferida em 02/12/2024, ou seja, já sob a égide da Lei n. 14.905/2024, que introduziu significativas alterações na disciplina dos juros moratórios e da correção monetária, com a nova redação conferida ao art. 406 do Código Civil: Art. 406. Quando não forem convencionados, ou quando o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, os juros serão fixados de acordo com a taxa legal. § 1ºA taxa legal corresponderá à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), deduzido o índice de atualização monetária de que trata o parágrafo único do art. 389 deste Código. § 2ºA metodologia de cálculo da taxa legal e sua forma de aplicação serão definidas pelo Conselho Monetário Nacional e divulgadas pelo Banco Central do Brasil. § 3ºCaso a taxa legal apresente resultado negativo, este será considerado igual a 0 (zero) para efeito de cálculo dos juros no período de referência. A citada Lei n. 14.905/2024 entrou em vigor em 30/08/2024, e deve ser aplicada aos processos em curso, em respeito ao princípio do direito intertemporal. Por conseguinte, ao montante da condenação devem ser aplicados, a partir da citação, juros moratórios calculados com base na Taxa Selic, deduzido o índice de correção monetária (IPCA), o qual incidirá desde o arbitramento da obrigação judicial até o adimplemento. Além do mais, o débito originário deve ser atualizado pelo índice previsto no Contrato, ou seja, INPC, e não IPCA como determinou o Juiz na sentença. Portanto, a sentença merece reparos no capitulo que dispõe sobre os consectários legais. Feitas essas considerações, dou provimento parcial ao recurso, reconheço o direito de cobrança dos débitos oriundo do “Contrato Particular de Mútuo para concessão de Crédito ao Acadêmico do Ensino Superior” referentes ao semestre 2016/1 e condeno os Apelados/Requeridos ao pagamento das parcelas inadimplidas desse instrumento particular. Determino que ao valor da condenação sejam aplicados os consectários legais da seguinte forma: (i) até o ajuizamento da ação: correção monetária pelo índice INPC e juros contratuais de 1% ao mês pro rata die, ambas a partir do vencimento de cada prestação, tal como convencionado entre as partes, ressalvada a multa contratual, afastada por ausência de pedido específico, conforme já fundamentado neste voto; (ii) após a sentença: correção monetária pelo índice IPCA desde o arbitramento, e juros de mora pela Taxa Selic a partir da citação, nos moldes do art. 406, §1º, do Código Civil, alterado pela Lei n. 14.905/2024. Em observância ao entendimento fixado pelo STJ no julgamento do REsp 1865553/PR (Tema 1059), deixo de majorar os honorários advocatícios tendo em vista o provimento parcial do Recurso. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 20/05/2025

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