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Processo nº 1001046-38.2025.8.26.0549

ID: 337678273

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Santa Rosa de Viterbo - Vara Única Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001046-38.2025.8.26.0549

Data de Disponibilização: 30/07/2025

Polo Ativo:

C. R.

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

RAFAEL DE JESUS MOREIRA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1001046-38.2025.8.26.0549 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - C.R. - 1. A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso LXXIV, estabelece que "O Estado prestará assistência… Processo 1001046-38.2025.8.26.0549 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - C.R. - 1. A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso LXXIV, estabelece que "O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos". A gratuidade da justiça tem natureza jurídica de isenção do adiantamento de despesas processuais, dentre elas as custas judiciais, as quais têm natureza tributária, na linha da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Federal (ADI n. 3694, rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, j. 20.09.2006) e Superior Tribunal de Justiça (REsp n. 1097307/RS, rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, j. 10.03.2009). Embora o art. 99, § 3º, do Código de Processo Civil, disponha que "presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural", o art. 111, inciso II, do Código Tributário Nacional estabelece critérios de interpretação das normas que outorgam isenção tributária, ao passo em que o princípio da indisponibilidade do interesse público não permite a renúncia indiscriminada das rendas públicas. É por isso que a norma processual não pode imunizar o julgador de cotejar a declaração de insuficiência de recursos com os demais elementos dos autos para verificação da real situação financeira do interessado. E no caso dos autos não foi apresentado qualquer elemento que permita realizar tal cotejo, limitando-se a simples alegação de que o pagamento das custas e despesas processuais comprometerá o seu sustento e de sua família. Posto isto, com fundamento no que estabelece o art. 99, § 2º, do Código de Processo Civil, determino que a parte postulante da gratuidade, no prazo de 15 (quinze) dias, anexe aos autos: Cópias dos seus três últimos contracheques/holerites; Cópia de suas três últimas declarações de imposto de renda OU certidão de inexistência de declarações (obtida no site da Receita Federal); Desde já observado que, consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça (AgInt no AREsp 2.441.809-RS), por si só, o enquadramento na faixa de isenção de imposto de renda não será utilizado como critério para o deferimento do benefício da assistência judiciária gratuita; 3. Extratos bancários dos três últimos meses de todas as contas de sua titularidade; 4. Faturas de cartões de créditos relativos dos três últimos meses; 5. Demonstrativos de despesas ordinárias mensais (contas de água, luz, telefone, IPTU, gás, aluguel, condomínio etc.) Se beneficiário do INSS ou de regime próprio de previdência social, junte cópia dos extratos de todos os benefícios que perceba (incluindo pensão por morte, cumulação de aposentadorias de regimes previdenciários distintos, entre outros), dos três últimos meses; cópia dos extratos dos benefícios assistências (Bolsa-Família; Benefício de Prestação Continuada, etc.), dos três últimos meses; documentos relativos a bens móveis ou imóveis que tenha propriedade para aferição da hipossuficiência. além de quaisquer outros documentos atualizados que julgar pertinentes, sob pena de indeferimento do benefício pleiteado. Advirto que, decorrido o prazo acima assinalado, sem a juntada dos documentos necessários à análise da concessão da gratuidade da justiça ou a comprovação do pagamento das custas processuais, será cancelada a distribuição do feito, independentemente de nova intimação, com fundamento no que estabelece o art. 290 do Código de Processo Civil. 2. Na espécie, verifica-se a inidoneidade do pedido extrajudicial (fls. 32/33 e 37), realizados por canais não oficiais, solicitando remessa de documentos para endereço do escritório. É certo que a instituição financeira não está obrigada a atender demanda de terceiro, sem qualquer comprovação de que o requerimento partiu do mutuário, mormente sob a égide da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais). Cumpre destacar a necessidade de observância dos requisitos estabelecidos pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no REsp 1.349.453/MS, julgado sob a sistemática dos recursos repetitivos, que estabelece para o deferimento do pedido de exibição de documentos a configuração de três requisitos: I) esgotamento da esfera administrativa, II) demonstração da existência de relação jurídica entre as partes; e III) inexistência de recusa do autor ao pagamento do custo do serviço. Confira-se: "PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543C DO CPC. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. EXIBIÇÃO DE EXTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. INTERESSE DE AGIR. PEDI/DO PRÉVIO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E PAGAMENTO DO CUSTO DO SERVIÇO. NECESSIDADE. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária. No caso concreto, recurso especial provido" (Recurso Especial nº 1349453/MS, Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/12/2014, STJ). No caso sub judice, observa-se que a parte autora não logrou demonstrar o esgotamento da esfera administrativa como requisito necessário ao deferimento do pedido de exibição de documentos, notadamente por considerar-se que a instituição financeira possui canais próprios para o referido pedido, como o canal de atendimento ao cliente, aplicativo ou telefone. É importante destacar que não há evidências de um requerimento formal feito à parte ré, nem de uma possível resposta negativa ou omissão que configurasse falha administrativa. Vale ressaltar que a intervenção judicial deve ser uma medida subsidiária, sendo justificável apenas quando houver demonstração de resistência efetiva por parte da instituição em atender a uma solicitação administrativa devidamente realizada. Nessa perspectiva, destaque-se o entendimento do E. TJSP: Ação de exibição de documentos - Sentença de improcedência - Ausência de esgotamento da via administrativa - Recurso da autora - Notificação extrajudicial não se presta à comprovação de pedido administrativo, vez que existem canais bancários próprios para o requerimento do pedido - Não comprovação dos três requisitos dispostos pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Recurso conhecido e impróvido (TJSP; Apelação Cível 1006340-79.2024.8.26.0008; Relator (a):Ricardo Pereira Junior; Órgão Julgador: Núcleo de Justiça 4.0 em Segundo Grau - Turma V (Direito Privado 2); Foro Regional III - Jabaquara -2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 03/02/2025; Data de Registro: 03/02/2025) Apelação. Produção Antecipada de Prova. Pretensão de exibição de contratos de empréstimos consignados. Sentença de Extinção. Ausência dos requisitos (RESP 1349453/MS). Teoria da Asserção adotada pelo C. STJ. Análise prévia das condições da ação. Interesse de agir. Binômio utilidadenecessidade. Não sendo o caso dos autos. Mero registro de reclamação no PROCON insuficiente para demonstrar interesse processual. Pedido administrativo inócuo. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJSP; Apelação Cível 1000289-02.2022.8.26.0597; Relator (a): Heitor Luiz Ferreira do Amparo; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito Privado; Foro de Sertãozinho - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 07/11/2022; Data de Registro: 07/11/2022) - grifei. Por isso, determino a emenda à inicial, no prazo de 15 dias, para comprovação de interesse processual com a efetiva recusa administrativa no fornecimento dos contratos, sob pena de indeferimento da exordial. Decorrido o prazo supra sem quaisquer providências, tornem os autos conclusos para extinção. 3. Demais disso, observo que a procuração carreada aos autos pelo autor não pode ser considerada válida, pois conta com assinatura digital fora dos padrões ICP-Brasil. Nesse sentido: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE DANOS MORAIS C/C INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS. RECURSO DESPROVIDO. I.CASO EM EXAME Ação de danos morais cumulada com inexistência de débitos e pedido de tutela de urgência movida pelo apelante em face de Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios Não Padronizados NPL II. Sentença de extinção do processo sem resolução do mérito por ausência de confirmação da procuração outorgada pela parte autora. II.QUESTÃO EM DISCUSSÃO A questão em discussão consiste na validade da procuração assinada via plataforma ZapSign e na pretensão de concessão de gratuidade judiciária, bem como no afastamento da condenação do patrono ao pagamento das custas processuais. III.RAZÕES DE DECIDIR Entendimento reiterado de que a procuração assinada via ZapSign é inválida, pois a entidade não é certificada pelo ICP-Brasil, conforme Resolução nº 551 do TJSP. Indício de litigância predatória. Descumprimento de simples determinação judicial para comparecimento ao cartório. Ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, com vício na representação, tornando os atos praticados ineficazes em relação à parte. IV.DISPOSITIVO E TESE Sentença de extinção mantida. Recurso desprovido, julgando prejudicado o pedido de gratuidade judiciária. Tese de julgamento: Confirmado o vício na representação, os atos praticados serão ineficazes em relação à parte e o patrono responderá pelas despesas processuais e por perdas e danos, conforme dispõe o art. 104, §2º, do CPC. Legislação Citada: Código de Processo Civil, art. 485, IV; art. 104, §2º.Lei Federal 11.419/2006, art. 1º, § 2º, inciso III, alínea "a". Resolução 551/2011 do TJSP. Jurisprudência Citada: TJSP, Apelação Cível 1033828-46.2023.8.26.0007, Rel. Álvaro Torres Júnior, 20ª Câmara de Direito Privado, j. 26/08/2024; TJSP, Agravo de Instrumento 2156622-39.2024.8.26.0000, Rel. Correia Lima, 20ª Câmara de Direito Privado, j. 31/07/2024; TJSP, Apelação Cível 1032127-44.2024.8.26.0224, Rel. Jonize Sacchi de Oliveira, 24ª Câmara de Direito Privado, j. 08/11/2024 (TJSP; Apelação Cível 1002837-47.2024.8.26.0106; Relator (a):Lidia Regina Rodrigues Monteiro Cabrini; Órgão Julgador: 20ª Câmara de Direito Privado; Foro de Caieiras -2ª Vara; Data do Julgamento: 15/01/2025; Data de Registro: 15/01/2025). AÇÃO DE NULIDADE CONTRATUAL C.C. REPETIÇÃO DE INDÉBITO - Sentença de extinção, sem julgamento do mérito - Determinação de juntada de procuração com firma reconhecida - Razoabilidade - Procuração que, se assinada de forma eletrônica, somente terá validade no processo eletrônico se se tratar de "assinatura eletrônica qualificada", ou seja, se tiver sido assinada eletronicamente mediante uso de certificado digital - Procuração apresentada que não atendeu a essa determinação - Inteligência das Normas de Serviço da Corregedoria Geral de Justiça desta Corte - Sentença mantida - Recurso impróvido (TJSP; Apelação Cível 1001476-64.2024.8.26.0083; Relator (a):Lígia Araújo Bisogni; Órgão Julgador: 23ª Câmara de Direito Privado; Foro de Aguaí -Vara Única; Data do Julgamento: 17/12/2024; Data de Registro: 19/12/2024). INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. Determinada ajuntada de procuração específica para ação com assinatura física, com referência à validade das assinaturas digitais emitidas apenas com certificado digital emitido por autoridade certificadora credenciada. Autora que carreou procuração assinada com certificado ZapSign. Petição inicial indeferida. Extinção da ação, nos termos do artigo 485, I, do CPC. Possibilidade. Desatendimento da determinação.Procuração assinada de firma inválida. Precedentes.Sentença mantida. RECURSO DESPROVIDO." (TJSP -Apelação Cível nº 1017040-76.2023.8.26.0032 Relª.Desª. Anna Paula Dias da Costa - 38ª Câmara de Direito Privado - j. em 23/01/2024 ). Apelação Cível. Ação Ordinária - Contrato de Reserva de Margem Maculado/Viciado - Repetição de Indébito e Danos Morais, com Pedido de Liminar. Sentença de extinção do processo sem resolução de mérito. Inconformismo. Procuração assinada digitalmente pela plataforma digital da Certificadora "ZapSign". Invalidade. Inteligência do artigo 1º,§ 2º, inciso III, alínea a, da Lei nº 11.419/2006, e os artigos 1º e10 da Medida Provisória nº 2200-2/01, que regulamentam a matéria, e dispõem que somente será válida nos processos judiciais a assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada. Sentença mantida. Recurso não provido." (TJSP - Apelação Cível nº1027772-86.2022.8.26.0506 Rel. Des. Hélio Nogueira - 22ª Câmara de Direito Privado j. em 07/07/2023 ) Considerando o exposto e os indícios de abuso de poder por parte do Judiciário, conforme item 2, incisos III, IV e V do Comunicado CG n. 02/2017 do Núcleo de Monitoramento de Perfis de Demanda (NUMOPEDE) da Corregedoria Geral de Justiça do TJSP, e com fundamento da Recomendação nº 159 do CNJ, determino que o autor providencie a juntada aos autos de procuração com poderes específicos, devidamente assinada de forma física e com firma reconhecida, no prazo de 15 dias. Faculto a substituição da providência acima pelo comparecimento da parte autora no Cartório da Vara Única (Ofício Cível), no prazo de 15 dias, munida de documento pessoal com foto, para confirmar a outorga da procuração e que tem conhecimento da propositura da presente ação. Decorrido o prazo supra sem quaisquer providências, tornem os autos conclusos para extinção. 4. Intime-se. - ADV: RAFAEL DE JESUS MOREIRA (OAB 400764/SP)

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Processo nº 1002045-68.2022.8.11.0078

ID: 256153809

Tribunal: TJMT Órgão: Terceira Câmara Criminal Classe: APELAçãO CRIMINAL Nº Processo: 1002045-68.2022.8.11.0078

Data de Disponibilização: 14/04/2025

Polo Ativo:

MAURICIO GOMES FRANCA VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

ANTONIO SANTANA NESTORIO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002045-68.2022.8.11.0078 Classe: APELAÇÃO CRIMINAL (417) Assunto: [Restituição de Coisas Apreendidas] Relator: Des(a). G… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002045-68.2022.8.11.0078 Classe: APELAÇÃO CRIMINAL (417) Assunto: [Restituição de Coisas Apreendidas] Relator: Des(a). GILBERTO GIRALDELLI Turma Julgadora: [DES(A). GILBERTO GIRALDELLI, DES(A). JONES GATTASS DIAS, DES(A). LUIZ FERREIRA DA SILVA] Parte(s): [MAURICIO GOMES FRANCA - CNPJ: 34.551.720/0001-67 (APELANTE), ANTONIO SANTANA NESTORIO - CPF: 413.882.759-53 (ADVOGADO), VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES - CPF: 600.400.510-05 (APELANTE), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (APELADO), VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES - CPF: 600.400.510-05 (TERCEIRO INTERESSADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). LUIZ FERREIRA DA SILVA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU PARCIALMENTE O RECURSO. E M E N T A DIREITO PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. RESTITUIÇÃO DE BENS APREENDIDOS. PROPRIEDADE COMPROVADA. INTERESSE DA PERSECUÇÃO PENAL. MANUTENÇÃO DA APREENSÃO. NOMEAÇÃO DE FIEL DEPOSITÁRIO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. Caso em exame 1. Apelação criminal interposta por terceiros interessados contra decisão da Vara Única da Comarca de Sapezal/MT que indeferiu os pedidos de restituição de veículos apreendidos em processo penal em trâmite, sob o fundamento de que os bens foram utilizados na prática de tentativa de furto qualificado. 2. Os apelantes sustentam que são terceiros de boa-fé e legítimos proprietários dos veículos apreendidos, que teriam sido alugados a um dos acusados para transporte lícito de cargas, sem qualquer envolvimento na infração penal. Requerem a restituição dos bens ou, subsidiariamente, a concessão da condição de fiéis depositários. II. Questão em discussão 3. A questão em discussão consiste em saber: (i) se os bens apreendidos ainda interessam à instrução do processo penal em trâmite; e (ii) se é possível a restituição provisória dos veículos aos apelantes na condição de fiéis depositários. III. Razões de decidir 4. A restituição de coisas apreendidas deve observar o interesse da persecução penal, nos termos do art. 118 do CPP, especialmente quando houver indícios de utilização dos bens como instrumentos do crime. 5. Embora ainda haja interesse na manutenção da apreensão, a designação dos apelantes como fiéis depositários se mostra medida proporcional e eficaz para preservar os bens, sem prejuízo à utilidade probatória ou à possibilidade de futura perda judicial. 6. A documentação apresentada demonstra a propriedade dos bens pelos apelantes, não havendo indícios de que tenham participado dos crimes apurados ou que os veículos sejam produtos ou proveitos de infração penal. IV. Dispositivo e tese 7. Recurso parcialmente provido, para autorizar a entrega dos bens apreendidos aos apelantes, na condição de fiéis depositários judiciais, mediante assinatura de termo de responsabilidade e vedação de alienação ou transferência a terceiros. Tese de julgamento: “1. A restituição definitiva de bens apreendidos somente é possível quando cessado o interesse da persecução penal, nos termos do art. 118 do CPP. 2. A designação do legítimo proprietário como fiel depositário constitui medida alternativa juridicamente adequada e proporcional, quando ausentes indícios de ilicitude na posse e desde que assegurada a vinculação do bem ao juízo criminal.” Dispositivos relevantes citados: CP, art. 91, II; CPP, art. 118; CPC, art. 161, p.u. (subsidiariamente); Lei nº 9.605/1998, art. 25, § 5º. Jurisprudência relevante citada: TJMT, Apelação Criminal n.º 1016868-19.2024.8.11.0000, Rel. Des. Luiz Ferreira da Silva, Terceira Câmara Criminal, j. 04.12.2024, DJE 09.12.2024. R E L A T Ó R I O APELANTE(S): VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. GILBERTO GIRALDELLI Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de apelação criminal interposto por VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES e MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA em face da r. decisão proferida pelo d. Juízo da Vara Única da Comarca de Sapezal/MT nos autos da ação de restituição de coisas apreendidas n. 1002045-68.2022.8.11.0078, que indeferiu os pedidos de restituição do caminhão-trator VOLVO/NH 12.420 6X4T, placa CWP-0913, cor vermelha, Renavam 00854647970, e das carretas semi-reboque graneleiras, placas ATC0E95 e ATC0E96, todos supostamente utilizados em crime de furto qualificado tentado. Nas razões recursais disponíveis no ID 253547660 e ID 253547661, os recorrentes MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA e VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES, alegam serem terceiros de boa-fé e legítimos proprietários dos respectivos bens, os quais teriam sido locados a Renato Jacobs Lizot para fins lícitos, sem conhecimento da ulterior destinação criminosa, e acrescentam não haver elementos nos autos que comprovem o envolvimento deles com a infração penal, tampouco evidências de aquisição ilícita dos veículos, razão pela qual pleiteiam a restituição, ainda que na condição de fiéis depositários. Contrarrazões ministeriais são vistas no ID 254318186, pugnando pelo desprovimento do recurso. Instada a se manifestar, a i. Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo provimento dos apelos, conforme parecer de ID 257374672. É o relatório. Não estando o feito submetido à Revisão, inclua-se-o em pauta para julgamento. V O T O R E L A T O R VOTO EXMO. SR. DES. GILBERTO GIRALDELLI Egrégia Câmara: Inicialmente, cumpre reconhecer que o recurso em apreço é tempestivo, foi interposto por quem tinha legitimidade para fazê-lo, e o meio de impugnação empregado revela-se necessário e adequado à finalidade colimada, motivos por que CONHEÇO dos apelos manejados pelos interessados, já que presentes os requisitos objetivos e subjetivos para sua admissibilidade. Em resumo, o apelante MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA afirma ser proprietário do caminhão VOLVO/NH 12.420 6X4T, placa CWP-0913, e VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES sustenta ser proprietário de duas carretas SEMI REBOQUE GRANELEIRAS, placas ATC0E95 e ATC0E96. Verifica-se que os referidos veículos foram apreendidos na posse dos denunciados Renato Jacobs Lizot e Filipe de Oliveira de Vicente, presos em flagrante delito na prática dos crimes previstos nos artigos 311, caput, 155, § 4º, IV, c/c art. 14, II, na forma do art. 29, todos do Código Penal, em concurso material (CP, art. 69), na ação penal que tramita sob o nº 1001476-67.2022.8.11.0078. Diante da apreensão dos bens, os requerentes ingressaram com pedidos de restituição desses veículos, alegando serem proprietários de boa-fé que apenas locaram/alugaram os veículos aos acusados. O Ministério Público se manifestou pelo indeferimento dos pedidos, sobrevindo sentença que negou os pedidos de restituição, sob o argumento de que os veículos aparentemente foram utilizados como instrumentos para a prática do crime de tentativa de furto qualificado, de modo que ainda interessariam ao processo. Insatisfeitos, MAURÍCIO e VANDERLEI recorreram à esta instancia revisora, sustentando, em síntese, que: a) são legítimos proprietários dos bens apreendidos, conforme documentação juntada; b) não há comprovação de seu envolvimento nos crimes apurados; c) os veículos foram locados a um dos acusados para transporte lícito de cargas; d) houve violação ao princípio constitucional da intranscendência da pena; e) os bens estão se deteriorando pela demora na tramitação processual, razão pela qual pugnam pela restituição ou, subsidiariamente, sua nomeação como fiéis depositários. 1. Da restituição vindicada: O cerne da presente demanda consiste em definir se os bens apreendidos devem ser restituídos aos recorrentes, alegados proprietários. Inicialmente, cumpre registrar que a apreensão de bens possui natureza cautelar, visando resguardar o interesse probatório, evitar a reiteração delitiva e, eventualmente, assegurar o cumprimento de penas acessórias como o confisco. Constitui medida de constrição patrimonial provisória, que deve ser revista à medida que a investigação ou a ação penal avança. Nesse sentido, os artigos 118 a 124 do Código de Processo Penal disciplinam o regime jurídico da restituição de coisas apreendidas, estabelecendo que esta somente ocorrerá quando cessar o interesse acautelatório que justificou a medida. O art. 118 do CPP é claro ao preceituar que “antes de transitar em julgado a sentença final, as coisas apreendidas não poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo”. No caso em análise, depreende-se dos autos que os veículos apreendidos (um caminhão-trator e dois semirreboques) aparentemente foram utilizados pelos acusados como instrumentos para a prática dos crimes de furto qualificado tentado e adulteração de sinais, objeto da Ação Penal nº 1001527-78.2022.8.11.0078. Nada obstante, verifica-se que desde o pedido de restituição protocolado na instancia singela no ano de 2022, o cenário fático-probatório sofreu significativas mudanças. Isso porque, as informações fornecidas pelo juízo singular, juntadas ao ID 272979896 e 272979898, dão conta de que foi celebrado Acordo de Não Persecução Penal com o acusado Filipe de Oliveira de Vicente, sendo integralmente cumprido e por consequência foi declarada extinta sua punibilidade. Quanto ao réu Renato Jacobs Lizot, em razão da impossibilidade de sua localização, o feito foi desmembrado com a instauração de novo processo em curso sob o nº 1000370-65.2025.8.11.0078. Por fim, no que diz respeito aos bens apreendidos, o d. MM. a quo informou que estes se encontram em péssimo estado de conservação no depósito da Polícia Civil, aguardando definição de sua destinação na ação penal remanescente, cenário certificado por meio do auto de avaliação de ID 272979898. Dentro desse contexto, é certo que a ausência de formação plena da instrução processual, notadamente quanto ao réu Renato Jacobs Lizot, especialmente sob o crivo do contraditório, revela ser prematuro e juridicamente temerário autorizar, neste momento, a restituição definitiva do veículo apreendido, sobre o qual recai fundada suspeita de ter sido utilizado como instrumento na prática de crime ambiental. Nesse aspecto, a prudência processual recomenda que o bem permaneça sob constrição, em consonância com o disposto no art. 118 do Código de Processo Penal, uma vez que ainda guarda pertinência com a elucidação dos fatos sob apuração. Contudo, a necessidade de preservação do bem como elemento probatório não exige, necessariamente, sua permanência sob a guarda exclusiva do Estado. Nessa linha, nada obsta que o veículo permaneça vinculado ao feito penal, mas seja confiado aos apelantes na qualidade de fiéis depositários, mediante as condições e cautelas legais cabíveis, assegurando-se, assim, tanto a efetividade da persecução penal quanto a mitigação de eventual dano patrimonial desnecessário, desde que inexistam riscos de perecimento da prova, extravio ou reiteração delitiva. No caso dos autos, os apelantes comprovaram ser proprietários dos bens, conforme documentação anexa aos respectivos recursos; além disso, não há qualquer indício de que os veículos sob apreensão se enquadrem na categoria de bens cuja fabricação, comercialização, uso, porte ou detenção seja intrinsecamente ilícita. Da mesma forma, não há elementos que indiquem que tais bens sejam produto direto de atividade criminosa ou que tenham sido adquiridos com recursos provenientes de infração penal, nos termos do art. 91, inciso II, alíneas "a" e "b", do Código Penal. Nesse contexto, a restituição provisória do bem apreendido aos seus legítimos proprietários, mediante a nomeação destes na condição de fiéis depositários judiciais, representa solução juridicamente adequada e proporcional, pois realiza um equilíbrio entre a necessidade de assegurar eventual reparação do dano em caso de futura condenação penal e a tutela do direito de propriedade, cuja eficácia não se encontra suspensa durante o curso do processo, salvo nas hipóteses legais expressas. Com efeito, a inexistência de sentença penal condenatória transitada em julgado obsta, por ora, o reconhecimento do perdimento definitivo do bem em favor do Estado. Nesse cenário, a manutenção da medida restritiva de posse deve observar os princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e da menor onerosidade aos titulares do bem, sob pena de configurar restrição indevida ao exercício legítimo da propriedade privada. Além disso, revela-se medida eficaz para assegurar a preservação do bem, evitando-se sua deterioração ou desvalorização acentuada, como ocorreria se o veículo permanecesse recolhido em depósito público sem as devidas manutenções. Tal providência não compromete a utilidade futura do bem, tampouco impede eventual execução patrimonial em caso de condenação, pois assegura que o ativo estará conservado e em condições de ser submetido a alienação judicial por preço compatível com o valor de mercado. Ademais, durante o período em que os veículos estiverem sob a guarda dos apelantes, os encargos tributários incidentes sobre o veículo continuarão a ser adimplidos, evitando o acúmulo de passivo fiscal que poderia onerar desnecessariamente a esfera pública no futuro. Por tais razões, negar aos apelantes a fruição controlada de seus bens, sem prejuízo da vinculação ao juízo penal, configura medida desproporcional e incompatível com os fins do processo penal. Nesse sentido, encontra-se precedentes deste E. Tribunal de Justiça: “(...) Tese de julgamento: "1. É inviável a restituição definitiva de bem apreendido, sobre o qual recai suspeita de haver sido instrumento de crime ambiental, tendo em vista que pode ter o seu perdimento decretado em favor da União, nos termos do art. 25, § 5°, da Lei n. 9.605/98. 2. Na ausência de sentença condenatória definitiva, mesmo se mostrando legítima a apreensão do bem para fazer frente a eventual perdimento em favor da União, deve ser deferida a posse ao legítimo proprietário, na condição de fiel depositário do juízo, como forma de promover uma adequação entre a garantia de reparação do dano causado no caso de futura condenação e evitar ofensa ao direito de propriedade enquanto não se encerra o processo." Dispositivos relevantes citados: CP, art. 91, II; CPP, art. 118; e Lei n. 9.605/1998, art. 25, § 5º. (N.U 1016868-19.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, LUIZ FERREIRA DA SILVA, Terceira Câmara Criminal, Julgado em 04/12/2024, Publicado no DJE 09/12/2024) A liberação dos veículos ficará condicionada à assinatura de termo de responsabilidade por parte dos apelantes, os quais deverão assumir, individualmente, a condição de depositários fiéis dos bens até o julgamento da ação penal, tudo a ser verificado e formalizado perante o juízo singular competente. Outrossim, estão expressamente vedadas a alienação, cessão ou qualquer forma de transferência de posse ou domínio dos bens a terceiros, sob pena de revogação da medida e responsabilização penal dos ora recorrentes, nos termos do art. 161, parágrafo único, do Código de Processo Civil, aplicado subsidiariamente ao processo penal, conforme dispõe o art. 3º do Código de Processo Penal. Por fim, oriento que o juízo de primeiro grau deverá expedir ofício ao DETRAN/MT, comunicando a existência desta restrição judicial, e solicitando a adoção das providências administrativas cabíveis para impedir a transferência ou oneração dos bens com qualquer tipo de gravame, mediante as averbações devidas à margem do respectivo registro junto àquele órgão de trânsito. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço e DOU PARCIAL PROVIMENTO os recursos de apelação criminal interpostos por MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA e VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES, para determinar-lhes a entrega dos bens apreendidos no interesse dos autos n. 1001527-78.2022.8.11.0078, na qualidade de fiéis depositários, sendo o caminhão VOLVO/NH 12.420 6X4T, placa CWP-0913, ao apelante MAURÍCIO GOMES DE FRANÇA, e as duas carretas SEMI REBOQUE GRANELEIRAS, placas ATC0E95 e ATC0E96, ao apelante VANDERLEI RODRIGUES DE RODRIGUES. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 09/04/2025

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Lucas Almeida Carneiro De Sena Rocha x Claro Celular Sa

ID: 333151454

Tribunal: TJPA Órgão: 1ª Vara do Juizado Especial Cível de Belém Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 0854702-26.2024.8.14.0301

Data de Disponibilização: 24/07/2025

Polo Ativo:

LUCAS ALMEIDA CARNEIRO DE SENA ROCHA

Polo Passivo:

CLARO CELULAR SA

Sentença

Advogados:

JOSE HENRIQUE CANCADO GONCALVES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

MIRIAN GRAZIELY ARAUJO DE OLIVEIRA

OAB/AM XXXXXX Desbloquear

0854702-26.2024.8.14.0301 Autos de OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARAÇÃO DE DANOS Autor: LUCAS ALMEIDA CARNEIRO DE SENA ROCHA Requerido: CLARO CELULAR S/A SENTENÇA Visto, etc... Relatório dispensado na form… 0854702-26.2024.8.14.0301 Autos de OBRIGAÇÃO DE FAZER E REPARAÇÃO DE DANOS Autor: LUCAS ALMEIDA CARNEIRO DE SENA ROCHA Requerido: CLARO CELULAR S/A SENTENÇA Visto, etc... Relatório dispensado na forma da legislação correlata (art. 38, Lei nº 9.099/95). Fundamento e decido. Em sede de audiência judicial as partes não se conciliaram, e informaram que não tinham outras provas a produzir, id. 147849844. A hipótese é de improcedência dos pedidos da parte Autora. A parte autora não demonstra que tenha tentado solução administrativa prévia à judicialização do pedido de dano moral de R$-10.000,00 (dez mil reais). O contrato previa a existência do serviço de APLICATIVOS/CONTEÚDOS DIGITAIS, objeto da lide, id. 147188674 - Pág. 2, devidamente assinado; o que evidencia venire contra factum proprium[1], pela parte Autora. Ademais, a jurisprudência pátria considera lícita a oferta de pacote de serviços, de natureza promocional, como forma de oferecer ao consumidor modalidade mais barata para gozo de serviços. A jurisprudência: “TJSP - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - DIREITO DO CONSUMIDOR - CONTRATO DE TELEFONIA MÓVEL - PLANO "CLARO CONTROLE - OFERTA CONJUNTA CLARO MIX" - AUSÊNCIA DE COBRANÇA INDEVIDA - VALOR FIXO MANTIDO - DANO MORAL INOCORRENTE - SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSP; Apelação Cível 1027945-96.2024.8.26.0100; Relator (a): Marcello do Amaral Perino; Órgão Julgador: 30ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional IV - Lapa - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 14/07/2025; Data de Registro: 14/07/2025))”. “TJDFT - APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. SERVIÇOS DE TELEFONIA. PRÁTICAS ABUSIVAS. VENDA CASADA. NÃO CONFIGURADA. VENDA DE PACOTES DE SERVIÇOS. PREVISÃO NO REGULAMENTO GERAL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZOS AO CONSUMIDOR. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. O art. 39, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor - CDC estabelece que a venda casada é prática abusiva: “Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;”. 2. “A princípio, não ocorre venda casada quando se trata de promoção, ou seja, se for oferecido preço menor, caso haja compra de outro produto ou contratação de determinado serviço. A venda casada ocorre quando o consumidor praticamente não tem a opção de comprar apenas o produto ou serviço que deseja. Nessa linha, não há venda casada quando se condiciona compra, com desconto, de aparelho celular desde que haja contratação de serviços de telefonia por determinado período (fidelização). Assim já decidiu o STJ." (BESSA, Leonardo Roscoe. Código de Defesa do Consumidor Comentado. 3 ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2025, p.270). 3. Embora seja vedada a venda casada, não existe impedimento para a venda de “combos” ou “pacotes” de produtos ou serviços, espécie de promoção caracterizada pela combinação, dentro de um mesmo contrato, de produtos ou serviços que possibilita algum benefício ao consumidor, tal como um desconto no preço total. Precedente. 4. No caso, a consumidora contratou o combo promocional ofertado pela empresa de telefonia, de modo que o valor pelos serviços que lhe interessavam foi reduzido de R$ 96,99 para R$ 66,99. Não houve prejuízos à consumidora e nem qualquer ilegalidade na conduta da empresa. 5. Os serviços que compõem o combo geralmente são lançados no detalhamento da fatura com rubricas distintas, sobretudo por questões tributárias que dizem respeito à fornecedora. Todavia, este fracionamento com relação aos serviços inclusos no plano contratado não viola o direito à informação e nem configura venda casada quando não há cobrança acima do valor total informado pelo pacote de serviços. Precedente. 6. Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida. (Acórdão 2006206, 0712789-72.2024.8.07.0003, Relator(a): LEONARDO ROSCOE BESSA, 6ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 28/05/2025, publicado no DJe: 12/06/2025.)”. “TJRS - Ementa: DIREITO DO CONSUMIDOR. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL. INEXISTÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. I. CASO EM EXAME:1. Recurso de apelação interposto contra sentença que julgou improcedentes os pedidos formulados em ação declaratória de nulidade de cláusula contratual cumulada com pleito declaratório de inexistência de contratação, inexigibilidade de cobrança, readequação contratual, repetição de indébito e indenização por danos morais. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO:1. Há duas questões em discussão: (i) a nulidade das cobranças referentes aos serviços "Aplicativos Digitais - Claro Banca Premium" e "Claro Vídeo", alegando prática ilegal de venda casada; (ii) a condenação por danos morais, fundamentada na teoria do desvio produtivo. III. RAZÕES DE DECIDIR:1. A análise das faturas demonstra que os serviços impugnados integram o plano contratado pela autora, sem acréscimo no valor total das faturas, sendo parte do pacote "Oferta Conjunta Claro Mix".2. A ALEGAÇÃO DE COBRANÇA INDEVIDA NÃO SE SUSTENTA, POIS OS SERVIÇOS FAZEM PARTE DO PLANO AO QUAL A AUTORA ADERIU, NÃO HAVENDO PROVA DE CONTRATAÇÃO SEPARADA OU VENDA CASADA.3. A inversão do ônus da prova prevista no CDC não exime a parte autora de apresentar prova mínima de suas alegações, sendo insuficiente a mera negativa de contratação.4. Ausentes os requisitos da responsabilidade civil, não há fundamento para a indenização por danos morais, pois não se configurou a cobrança indevida.5. A sentença deve ser mantida, pois não há elementos que comprovem a prática abusiva ou ilegal por parte da demandada. IV. DISPOSITIVO:1. Recurso desprovido. Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 6º, inc. VIII; CPC/2015, art. 85, §11º.Jurisprudência relevante citada: TJRS, Apelação Cível, Nº 50083102920248213001, Rel. Carmem Maria Azambuja Farias, j. 09-04-2025; TJRS, Apelação Cível, Nº 51203203420208210001, Rel. Roberto Carvalho Fraga, j. 09-04-2025.(Apelação Cível, Nº 50267368020208210010, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carmem Maria Azambuja Farias, Julgado em: 04-06-2025) Data de Julgamento: 04-06-2025 Publicação: 11-06-2025.” “TJDFT - DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. INTERNET, TV A CABO E TELEFONIA (COMBO). VENDA CASADA NÃO CONFIGURADA. VANTAGEM AUFERIDA PELA CONTRATANTE. OFERTA CONJUNTA DE SERVIÇOS. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. DANO MATERIAL. NEXO CAUSAL DEMONSTRADO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. AUSÊNCIA MÁ-FÉ. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Nos termos do art. 373 do Código de Processo Civil, incumbe ao autor comprovar o fato constitutivo do seu direito, ao passo que ao réu cabe a prova dos fatos relacionados à existência de evento impeditivo, modificativo ou extintivo do pretenso direito. 2. A venda casada, prática abusiva vedada pelo nosso ordenamento jurídico, é aquela que impõe ao consumidor a aquisição de um produto ou serviço distinto do que realmente tem interesse, como condição para a contratação deste. Não se confunde, todavia, com a oferta conjunta, que é a combinação de produtos ou serviços que possibilita algum benefício ao consumidor, tal como desconto no preço dos produtos ou serviços e vantagens diversas, formalizada em um só contrato. 3. A falha na prestação do serviço de internet enseja indenização por danos materiais, entretanto, na forma simples, ante a ausência de pedido da dobra prevista no parágrafo único do art. 42 do CDC. 4. Para haver compensação por danos morais, é preciso mais que o mero incômodo, constrangimento ou frustração, sendo necessário aborrecimento significativo capaz de ofender a dignidade da vítima. 5. O dano moral somente deve ser considerado quando o sentimento dor, vexame, sofrimento ou humilhação foge à normalidade do cotidiano, exorbitando as atribulações próprias da vida, o que não ocorreu no caso em análise. 6. Apelação conhecida e não provida. Unânime. (Acórdão 1344398, 0707714-40.2020.8.07.0020, Relator(a): FÁTIMA RAFAEL, 3ª TURMA CÍVEL, data de julgamento: 26/05/2021, publicado no DJe: 10/06/2021.)”. “TJPR - RECURSO INOMINADO. TELECOMUNICAÇÕES. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMBO DE TELEFONIA E INTERNET. SUPOSTA VENDA CASADA. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. DESCONTO EM RAZÃO DO FORNECIMENTO CONJUNTO DE SERVIÇOS. CONDUTA LÍCITA. IMPROCEDÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0007805-60.2022.8.16.0018 - Maringá - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS VANESSA BASSANI - J. 21.10.2023)”. “TJDFT - CONSUMIDOR. TELEFONIA. SERVIÇOS DIGITAIS INCLUÍDOS EM PLANO PROMOCIONAL. DESCRIÇÃO DO SERVIÇO PREVISTA NO REGULAMENTO. VENDA CASADA NÃO CONFIGURADA. DEVER DE INFORMAÇÃO OBSERVADO. VALOR TOTAL DO PLANO INFORMADO E ACEITO PELO CONSUMIDOR. COBRANÇA DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Nos termos do art. 6º, inciso III, do CDC, é direito básico do consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”. 2. Na hipótese, o plano promocional contratado está adequadamente discriminado nos regulamentos das promoções (ID 53185944 e 53185946), segundo os quais “[o]s Serviços Móveis, Combo Digital e o Parceiro são partes integrantes desta oferta não podendo ser cancelados de forma parcial ou integral. O pedido de cancelamento implica na desvinculação dessa promoção” e ainda que “[c]aso cliente queira cancelar o combo digital e/ou parceiro e manter o serviço móvel, deverá optar por oferta de serviço móvel que não possui combo digital/parceiro atrelado. Essa alteração de oferta pode ser realizada em lojas, revendas e atendimento Vivo”. 3. Não traduz venda casada a comercialização de pacote de serviços por preço promocional se cada item pode ser adquirido separadamente, conforme anunciado no próprio contrato. 4. Se o valor da mensalidade do pacote de serviços foi informado e aceito pelo consumidor ao aderir ao plano de telefonia (ID 53185947 e 53185948), o fracionamento desse valor na fatura em relação aos serviços inclusos no plano contratado não viola o direito à informação e não configura venda casada, pois não houve cobrança acima do valor total divulgado pelo pacote de serviços. 5. Recurso conhecido e desprovido. Relatório em separado. 6. Recorrente condenado a pagar as custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor corrigido da causa. (Acórdão 1840900, 0708556-57.2023.8.07.0006, Relator(a): EDI MARIA COUTINHO BIZZI, TERCEIRA TURMA RECURSAL, data de julgamento: 09/04/2024, publicado no DJe: 12/04/2024.)”. “TJRS - Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TELEFONIA. PRELIMINAR DE INOVAÇÃO RECURSAL RECHAÇADA. REQUERIMENTO DE APLICAÇÃO DA PRESCRIÇÃO DECENAL QUE SE TRATA DE QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA, PODENDO SER ALEGADA EM QUALQUER MOMENTO E GRAU DE JURISDIÇÃO. SUPOSTA COBRANÇA POR SERVIÇO NÃO CONTRATADO. PRESCRIÇÃO DECENAL APLICADAAO CASO, CONFORME O ART. 205, DO CÓDIGO CIVIL. ENTENDIMENTO FIRMADO PELO STJ. RUBRICAS SOB A DENOMINAÇÃO DE “APLICATIVOS DIGITAIS - CLARO BANCA” E “APLICATIVOS DIGITAIS - CLARO VÍDEO” QUE INTEGRAM O PLANO DE COMBO CONTRATADO "OFERTA CONJUNTA CLARO MIX", SEM PREJUÍZO ECONÔMICO PARAA CONSUMIDORA. DESMEMBRAMENTO DE FATURAS. COBRANÇA LÍCITA, INEXISTINDO O DEVER DE INDENIZAR. DANOS MORAIS INOCORRENTES. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível, Nº 51203203420208210001, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em: 09-04-2025) Data de Julgamento: 09-04-2025 Publicação: 16-04-2025” “TJPR - RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS. COMBO TELEFONE INTERNET E TELEVISÃO. ALEGAÇÃO DE VENDA CASADA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVA DE TENTATIVA DE CANCELAMENTO. CONTRATO CELEBRADO EM 2016. INSURGÊNCIA SOMENTE APÓS A RESCISÃO EM 2019. VIOLAÇÃO DA BOA-FÉ OBJETIVA. SERVIÇOS OFERECIDOS. DANOS MATERIAIS E MORAIS INOCORRENTES. SENTENÇA MANTIDA. Recurso conhecido e desprovido. (TJPR - 3ª Turma Recursal - 0011513-26.2019.8.16.0018 - Maringá - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS ADRIANA DE LOURDES SIMETTE - J. 07.08.2020)”. “TJSP - APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELEFONIA. Alegação de cobrança indevida. Pleitos de exibição de documentos e condenação em obrigação de fazer quanto aos serviços digitais. Serviços digitais inclusos em plano contratado de telefonia e internet. Serviços que compõem o preço do plano contratado, sem qualquer acréscimo. Sentença de improcedência mantida. Recurso não provido. Honorários advocatícios majorados, na forma do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, a 15% sobre o valor da causa, ressalvada a gratuidade processual concedida à autora. (TJSP; Apelação Cível 1001476-18.2024.8.26.0357; Relator (a): FLAVIA BEATRIZ GONCALEZ DA SILVA; Órgão Julgador: 35ª Câmara de Direito Privado; Foro de Mirante do Paranapanema - Vara Única; Data do Julgamento: 02/06/2025; Data de Registro: 02/06/2025)” “TJPR - RECURSO INOMINADO. TELECOMUNICAÇÕES. COMBO DE INTERNET, TELEFONIA E TELEVISÃO. COBRANÇAS EM VALORES SUPERIORES AO CONTRATADO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DEMONSTRADA. SIMPLES COBRANÇAS, AINDA QUE INDEVIDAS, NÃO CONFIGURAM DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PROVA DE EXCEPCIONAL REPERCUSSÃO DO FATO EM DIREITOS DE PERSONALIDADE. ABALO PSICOLÓGICO NÃO COMPROVADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0000191-21.2020.8.16.0035 - São José dos Pinhais - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARCEL LUIS HOFFMANN - J. 20.05.2022)”. Isso posto, julgo improcedente os pedidos da inicial, uma vez que há contrato válido firmado entre as partes, inexistindo venda casada, com apoio no art. 487, I, CPC, e por tudo mais o que consta nos autos. Sem custas nem honorários nesta instância. Na hipótese de recurso desta, deverá a parte Autora juntar cópia de seu último contracheque para apreciação do pedido de justiça gratuita. Após intimação para cumprimento voluntário, a reclamada terá o prazo de 15 dias para cumprimento da obrigação de pagar, sob pena de incorrer na penalidade imposta no art. 523, § 1º do CPC, no que for compatível com o microssistema dos juizados especiais, isto é, a multa de 10%. Havendo interposição de Recurso Inominado, certifique-se quanto a tempestividade e o preparo recursal, ou o deferimento de justiça gratuita, promovendo, em ato contínuo, a intimação da parte adversa para apresentação de contrarrazões, no prazo de 10 (dez) dias, na forma estatuída no art. 42 da Lei nº 9.099/1995. Decorridos os prazos, certifique-se e encaminhem-se os autos à Turma Recursal, na forma do art. 1.010, §§2º e 3º, c/c o art. 204, §4º, do Código de Processo Civil. Na hipótese de trânsito em julgado, e não havendo outras questões pendentes, baixe-se a distribuição e arquivem-se os autos. SERVIRÁ A PRESENTE COMO MANDADO, OFÍCIO, NOTIFICAÇÃO E CARTA PRECATÓRIA PARA AS COMUNICAÇÕES NECESSÁRIAS, NA FORMA DO PROVIMENTO Nº 003/2009, DA CJMB-TJPA. Belém-PA, data e assinatura registrada no sistema. ALESSANDRO OZANAN Juiz de Direito [1] “Venire contra factum proprium – à letra: vir contra o facto próprio e, materialmente: contradizer o seu próprio comportamento – traduz em Direito, o exercício de uma posição jurídica em contradição com uma conduta antes assumida ou proclamada pelo agente”. (Tratado de Direito Civil. Tomo V da Parte Geral. António Menezes Cordeiro. Coimbra-PT: Almedina, 2011, p. 275).

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Processo nº 1000279-78.2017.8.11.0005

ID: 337373555

Tribunal: TJMT Órgão: 1ª VARA CÍVEL DE DIAMANTINO Classe: EMBARGOS à EXECUçãO Nº Processo: 1000279-78.2017.8.11.0005

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

ILDO PADILHA DO NASCIMENTO

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

GISELE SILVA NASCIMENTO REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO GISELE SILVA NASCIMENTO

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ARTHUR DE ARAUJO ALCANTARA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA CÍVEL DE DIAMANTINO SENTENÇA Processo: 1000279-78.2017.8.11.0005. EMBARGANTE: ILDO PADILHA DO NASCIMENTO EMBARGADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA CÍVEL DE DIAMANTINO SENTENÇA Processo: 1000279-78.2017.8.11.0005. EMBARGANTE: ILDO PADILHA DO NASCIMENTO EMBARGADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO VISTOS. Tratam-se de embargos do devedor, ajuizados pelo executado Ildo Padilha do Nascimento, no bojo do Processo de Execução nº 1000051-06.2017.8.11.0005. No id. 5045620, consta a decisão que recebeu os embargos à execução e indeferiu o efeito suspensivo pleiteado. Já no id. 9365531, foi concedido o benefício de justiça gratuita ao embargante. O Ministério Público apresentou impugnação aos embargos à execução, requerendo a revogação da justiça gratuita, quanto ao mérito, rechaçou os argumentos despendidos na inicial (id nº 9492104). As partes foram instadas para especificarem as provas que pretendessem produzir, ao passo que pugnaram pela designação de solenidade. Em decisão de id nº 186103124 fora designada audiência de instrução e julgamento. Após ciente das partes, os autos vieram conclusos. É o necessário relato. Fundamento. DECIDO. De pronto, CANCELO a solenidade outrora aprazada, tendo em vista que a presente demanda prescinde de produção de prova testemunhal, porquanto sua matéria se atenha tão somente em provas documentais, as quais já constam dos autos. Ora, os embargos à execução têm natureza jurídica de processo especial sumarizado e, por sua simplicidade estrutural, não exige a fase formal de saneamento, própria do procedimento comum. Estando substancialmente instruído o processo, e se tratando de matéria eminentemente de direito e de fato já provado documentalmente, não é imprescindível a oitiva de testemunhas e, portanto, o julgamento antecipado dos embargos à execução não configura cerceamento de defesa. Da Impugnação à justiça gratuita Inicialmente, insta salientar que o pedido de gratuidade da justiça pode ser requerido na inicial, contestação, em petição para ingresso de terceiro e recurso. Vejamos o que dispõe o art. 99, do NCPC: “Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.” Ademais, presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida pela própria pessoa natural. Vejamos: “Art. 99. (...). (...) § 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.” No caso em comento, a parte impugnada juntou requerimento de gratuidade de justiça, informando a sua insuficiência financeira, sendo recebida a inicial e concedida as benesses em id nº 9365531. Sustenta o impugnante que a mera declaração de hipossuficiência não é capaz de comprovar que a parte exequente não possui condições de arcar com as custas processuais. Todavia, sequer juntou documentos que comprovassem que a mesma possui condições de arcar com as referidas custas. Dessa forma, não restou comprovado nos autos, fatos a demonstrar condições financeiras suficientes para arcar com as custas processuais iniciais, bem como a afastar a presunção de incapacidade econômica para suportar o pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios, não havendo, assim, motivos para ser revogado o benefício outrora concedido. Já se decidiu: “PROCESSO CIVIL. IMPUGNAÇÃO À ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. AUSÊNCIA DE PROVA EM CONTRÁRIO DAS CONDIÇÕES FINANCEIRAS DECLARADAS. I - O DIREITO AO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA NÃO É APENAS PARA O MISERÁVEL, E PODE SER REQUERIDO POR AQUELE QUE NÃO TEM CONDIÇÕES DE PAGAR AS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SEM PREJUÍZO DE SEU SUSTENTO E DE SUA FAMÍLIA. PRECEDENTES. II - O ESCOPO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA É ASSEGURAR A TODOS O ACESSO AO JUDICIÁRIO, CONFERINDO EFICÁCIA AOS COMANDOS CONSTITUCIONAIS INSCULPIDOS NOS INCISOS XXXV E LXXIV DO ART. 5º DA CARTA DA REPÚBLICA. III - AO IMPUGNANTE INCUMBE O ÔNUS DE PROVAR CABALMENTE A INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES À CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. IV - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.” (TJDF - Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 242930, 3ª Turma Cível, Relator: NIDIA CORREA LIMA, 04/05/2006) “ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA PRETENDIDA REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO PROVA DA CAPACIDADE ECONÔMICA ÔNUS DO IMPUGNANTE. À parte que impugna a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, cumpre, mediante prova adequada, derruir a presunção juris tantum que emana da declaração de hipossuficiência econômica proveniente do beneficiário.” (TJSC - Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 2004.016453-0, Juiz Relator: Juiz Newton Janke, 30/09/2005). Assim, diante dos fatos e fundamentos acima expostos, indefiro o pedido formulado em relação a impugnação à justiça gratuita. Da Alegação de Ato Administrativo Contraditório da SEMA O embargante sustenta que, em vistoria realizada em 17/05/2016 na Fazenda “Varador”, os fiscais da SEMA afirmaram não haver empreendimentos sujeitos a licenciamento ambiental, o que, segundo ele, abrangeria o passivo ambiental anterior à data. Assim, a presente execução revelaria conduta contraditória da Administração, violando o princípio do “venire contra factum proprium”. A tese não merece prosperar. O licenciamento ambiental é exigido para toda atividade potencialmente poluidora ou degradadora, conforme art. 10 da Lei nº 6.938/81 e arts. 17 e 18 da Lei Complementar Estadual nº 38/1995. Ainda que inexistente atividade econômica atual, permanecem válidas as obrigações de recuperação e compensação ambiental de danos passados. Ademais, o embargante firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), obrigando-se expressamente a não desmatar ou realizar queimas sem autorização da SEMA, sob pena de multa diária e demais sanções legais. A suposta ausência de observação do desmatamento na vistoria de 2016 não exime o descumprimento do TAC, sobretudo porque a infração foi detectada por imagens de satélite, método usual para aferição de degradação em larga escala. Portanto, a conclusão da SEMA limitava-se à ausência de atividade licenciável naquele momento, não afastando a ocorrência de ilícito ambiental anterior nem a responsabilidade decorrente. Ora, conforme STJ, REsp nº 1.192.678/PR, 3ª Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 26/11/2012, “A ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição com sua conduta anterior ou posterior, interpretada objetivamente segundo a lei, os bons costumes e a boafé.” Assim, indevida a alegação posta. Da Alegação de Bis in Idem Alega o embargante que os mesmos fatos objeto da presente execução são discutidos no Processo Administrativo nº 194470/2016, em trâmite na SEMA, o que configuraria bis in idem. O argumento é infundado. A responsabilização ambiental é tríplice: administrativa, cível e penal, conforme art. 225, §3º, da Constituição Federal, sendo as esferas independentes. A existência de processo administrativo não impede o ajuizamento da execução cível. A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a apuração administrativa não obsta a propositura de ação civil pública para reparação de danos ambientais, tampouco a execução de TAC descumprido (REsp 828.319/PR e AC 0002217-91.2009.4.01.3603/MT). Da Alegação de Inexequibilidade do Título O embargante questiona a exequibilidade do título, alegando vício no Parecer Técnico nº 367/CGMA/SRMA/2016, por ausência de assinatura da responsável técnica. Todavia, o parecer foi formalmente remetido ao Ministério Público por ofício da SEMA, sendo ratificado por dois servidores em auto de infração próprio. A ausência de assinatura não invalida o documento, tendo em vista a chancela institucional do órgão competente, em conformidade com o princípio da hierarquia administrativa. Além disso, o próprio embargante reconheceu a veracidade das constatações técnicas, conforme relatório por ele anexado (id. 5555664), que confirma o desmatamento não autorizado de área posteriormente convertida em pastagem. O TAC firmado prevê multa por descumprimento, cláusula penal certa, líquida e exigível. A jurisprudência do STJ reconhece o TAC como título executivo extrajudicial plenamente exequível, nos termos do art. 5º, §6º, da Lei nº 7.347/85. Vejamos: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA . CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa . A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3 . Condicionar a aplicação do art. 225, § 3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva . Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido . (STF - RE: 548181 PR, Relator.: Min. ROSA WEBER, Data de Julgamento: 06/08/2013, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014)” Tem-se, pois, desmedida a alegativa. Da Alegação de ausência de Descumprimento do TAC Conforme consta às fls. 09/10 dos autos, o TAC previu expressamente a vedação de desmatamento sem autorização da SEMA. A dinâmica de desmatamento constante do Parecer Técnico nº 367 e das fls. 95/101 demonstrou o corte raso de 14,8114 ha entre 14/07/2014 e 31/07/2016. Ora, sem necessidade de maiores, delongas, é clarividente o descumprimento da cláusula segunda do TAC, sendo o embargante o responsável direto pela área e, portanto, pela infração ambiental. Nesse sentido: “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANOS AMBIENTAIS – DESCUMPRIMENTO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) – COMPROVAÇÃO MEDIANTE PROVA PERICIAL - REGENERAÇÃO NATURAL – NÃO AFASTAMENTO DA RESPONSABILIDADE - APELO DESPROVIDO. 1. Restando demonstrado, mediante prova pericial, que houve descumprimento das obrigações firmadas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), devida é a propositura de Ação Civil Pública com o escopo de compelir a empresa Apelante ao cumprimento das obrigações quanto à recuperação ambiental. 2 . Regeneração natural da área degradada. 3. O transcurso do tempo não tem o condão de excluir ou afastar a responsabilidade da empresa Apelante quanto ao dever e obrigação de reparar o dano. 4 . Recurso de Apelação Desprovido. (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 1001476-94.2016.8 .11.0040, Relator.: NÃO INFORMADO, Data de Julgamento: 11/03/2024, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 20/03/2024)” Dessa feita, considerando que não há provas que afastem a responsabilidade pelo descumprimento do TAC, não há que se falar em ausência de descumprimento. Da Alegação de Excesso de Execução Subsidiariamente, o embargante alega excesso na execução, sob argumento de que a multa representa valor confiscatório, correspondente a cerca de 30% do valor do imóvel. O argumento também não procede. A cláusula penal foi calculada com base em 9 meses e 2 dias de descumprimento, sem qualquer comunicação ao órgão licenciador ou adoção de medidas compensatórias. O valor foi limitado conforme os arts. 411 e 412 do Código Civil. Além disso, estimativa técnica do MP/MT indica que a restauração da área degradada custaria R$ 93.789,64, valor inferior ao total executado, demonstrando proporcionalidade entre a sanção e o dano causado. Nessa toada: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC). INADIMPLÊNCIA . ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS POSTERIORES. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. VALOR DA MULTA COMINATÓRIA . RAZOABILIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. Segundo o art . 5º, § 6º, da Lei n. 7.347/1985, c/c o art. 784, XII, do CPC, o TAC ou documento assemelhado possui eficácia de título executivo extrajudicial, pelo que suas cláusulas devem ser adimplidas fiel, completa e lealmente no tempo, modo e condições fixados, incumbindo ao compromissário provar a satisfação plena das obrigações assumidas, sob pena de execução direta e imposição de sanções na hipótese de descumprimento . Precedentes do STJ e desta Corte de Justiça. 2. Não há falar em violação do princípio da separação dos poderes em desfavor da discricionariedade da Administração Pública, uma vez que, no caso dos autos, o poder público municipal aderiu livremente às cláusulas do acordo firmado com o Ministério Público. Assim, constatando-se que o Termo de Ajustamento de Conduta foi descumprido, correta a execução para exigir o pagamento da multa nele estipulada (cf . STJ, AgInt no REsp n. 1.665.702/AP) . 3. A Corte Cidadã firmou entendimento no sentido de que ?os Termos de Ajustamento de Conduta ? TACs, firmados com o Ministério Público, gozam de eficácia de títulos executivos extrajudiciais, constituindo-se em ato jurídico perfeito, imune a alterações legislativas posteriores [?]? (STJ, AgInt nos EDcl no REsp n. 1.817 .291/SP), de forma que, com fundamento na prevalência da tutela do meio ambiente e diante da incidência do princípio do tempus regit actum, a Lei n. 14.026/2020 e a Lei Complementar n. 182/2023, editadas muitos anos após a formalização do TAC, não isenta o ente municipal de cumprir as obrigações estatuídas em favor da sociedade . 4. Considerando a importância do interesse a ser protegido pela prestação que deve ser adimplida pelo município recorrente e o grande lapso temporal transcorrido desde a assinatura do compromisso, em 29/03/2012, até o presente, o valor da multa cominatória arbitrado pelo acórdão impugnado não se revela desproporcional. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-GO - Agravo de Instrumento: 50973055220248090123 GOIÂNIA, Relator.: Des(a) . DESEMBARGADOR WILSON SAFATLE FAIAD, 10ª Câmara Cível, Data de Publicação: (S/R) DJ)” Por todo o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os embargos à execução e determino o prosseguimento do processo executivo. CONDENO o embargante ao pagamento das custas processuais e honorários em favor do embargado no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), contudo, condenação suspensa por força do artigo 98, § 3°, do CPC/2015. Traslade-se cópia desta sentença ao feito executivo. Após as formalidades legais, arquive-se. Às providências. Diamantino/MT, data do ato indicada na assinatura digital. (assinado digitalmente) ANDRÉ LUCIANO COSTA GAHYVA Juiz de Direito

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Processo nº 1001242-46.2024.8.11.0036

ID: 337567700

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001242-46.2024.8.11.0036

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

ELENY PEREIRA DE ABREU

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

FLAVIO GILL FERREIRA MACHADO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Privado APELAÇÃO CÍVEL (198) 1001242-46.2024.8.11.0036 APELANTE: ELENY PEREIRA DE ABREU APELADO: BAN… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Privado APELAÇÃO CÍVEL (198) 1001242-46.2024.8.11.0036 APELANTE: ELENY PEREIRA DE ABREU APELADO: BANCO DO BRASIL SA Ementa DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PASEP. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA REJEITADA. PRESCRIÇÃO DECENAL. TEMA 1.150/STJ. TERMO INICIAL. DATA DO SAQUE. RECURSO DESPROVIDO. I. Caso em exame: 1. Recurso de apelação interposto contra sentença que, com fundamento no Tema 1.150 do STJ, reconheceu a prescrição da pretensão de reparação por supostos desfalques em conta PASEP, extinguindo o processo com resolução de mérito. II. Questão em discussão: 2. Há duas questões em discussão: (i) saber se a sentença é nula por suposta "decisão surpresa" ao reconhecer a prescrição; e (ii) definir o termo inicial do prazo prescricional decenal (Tema 1.150/STJ), se a data do saque dos valores por aposentadoria (2007) ou a data do posterior recebimento de extratos detalhados (2024). III. Razões de decidir: 3. Não há nulidade por "decisão surpresa" (arts. 9º e 10 do CPC) quando a questão da prescrição foi devidamente suscitada em contestação e debatida pela parte autora em sua impugnação, afastando-se o alegado cerceamento de defesa. 4. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema Repetitivo 1.150, firmou a tese de que a pretensão de ressarcimento por desfalques em conta PASEP se submete ao prazo prescricional de dez anos, previsto no art. 205 do Código Civil. 5. O termo inicial da contagem do prazo, em observância ao princípio da actio nata e à tese firmada no Tema 1.150/STJ, é a data em que o titular tem ciência inequívoca dos desfalques. O saque dos valores da conta, por motivo de aposentadoria, constitui o marco objetivo para essa ciência, pois nesse momento o titular conhece o saldo disponível. 6. Tendo a ação sido ajuizada em 2024, mais de uma década após o saque dos valores ocorrido em 2007, é manifesta a ocorrência da prescrição da pretensão autoral. IV. Dispositivo e tese: 7. Recurso desprovido. Tese de julgamento: “1. Não configura decisão surpresa o reconhecimento da prescrição quando a matéria foi previamente arguida pela parte contrária e sobre ela foi oportunizado o contraditório. 2. A pretensão ao ressarcimento por desfalques em conta PASEP prescreve em dez anos (art. 205 do CC), conforme Tema 1.150/STJ. 3. O termo inicial do prazo prescricional, em regra, é a data do saque dos valores, como no caso da aposentadoria, momento em que o titular toma ciência inequívoca do saldo, não podendo ser postergado por alegação subjetiva de desconhecimento.” Dispositivos relevantes citados: Código Civil, art. 205; Código de Processo Civil, arts. 9º, 10, 85, §11, e 487, II. Jurisprudência relevante citada: STJ, Tema 1.150; STJ, Tema 1.059; TJMT, Apelação Cível nº 1003026-57.2024.8.11.0004; TJMT, Agravo de Instrumento nº 1009085-73.2024.8.11.0000; TJMT, Apelação Cível nº 1001476-74.2023.8.11.0032. Vistos etc. Trata-se de Recurso de Apelação interposto por ELENY PEREIRA DE ABREU contra a r. sentença (ID. 286141568) proferida pelo Juízo da VARA ÚNICA DE GUIRATINGA, nos autos da Ação Revisional de Recomposição do Pasep c/c Reparação de Danos Materiais e Morais, registrada sob o nº 1001242-46.2024.8.11.0036, ajuizada em desfavor de BANCO DO BRASIL SA, que julgou extinto o processo com resolução do mérito ao pronunciar a prescrição da pretensão inicial. A sentença (ID. 286141568) acolheu a prejudicial de mérito da prescrição. Fundamentou-se no entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça no Tema nº 1.150, que estabelece o prazo prescricional de dez anos, conforme o artigo 205 do Código Civil, para a pretensão de ressarcimento de danos por desfalques em conta individual do PASEP. O juízo de origem definiu como termo inicial do prazo prescricional a data em que a titular tomou ciência dos alegados desfalques, o que, segundo a decisão, ocorreu com o saque integral do montante depositado em 08/05/2007, por motivo de aposentadoria. Tendo a ação sido ajuizada em 29/11/2024, o magistrado concluiu que o prazo decenal já havia transcorrido. A decisão refutou a tese autoral de que o marco inicial seria a data de recebimento das microfilmagens, baseando-se em jurisprudência do STJ e do TJMT. Com isso, julgou extinto o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, do Código de Processo Civil, e condenou a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Em seu Recurso de Apelação (ID. 286141570), a parte apelante ELENY PEREIRA DE ABREU sustenta, preliminarmente, a nulidade da sentença por se tratar de "decisão surpresa", alegando violação aos artigos 9º e 10 do Código de Processo Civil, pois não lhe foi oportunizada a manifestação prévia sobre a prescrição reconhecida de ofício. No mérito, aduz que a interpretação do termo inicial da prescrição foi equivocada. Afirma que, em conformidade com a teoria da actio nata e o Tema 1.150 do STJ, o prazo prescricional somente se inicia com a ciência comprovada da lesão e de sua extensão, o que alega ter ocorrido apenas com o recebimento dos extratos e microfilmagens da conta PASEP. Argumenta que o mero saque dos valores por ocasião da aposentadoria não configura conhecimento inequívoco sobre eventuais desfalques. Postula, assim, a anulação da sentença por cerceamento de defesa ou, subsidiariamente, sua reforma integral para afastar a prescrição e determinar o regular prosseguimento do feito. Nas Contrarrazões (ID. 286141575), a parte apelada BANCO DO BRASIL SA pugna pela manutenção da sentença. Reitera a ocorrência da prescrição, defendendo que o termo inicial da contagem do prazo decenal é a data do saque dos valores em 08/05/2007, momento em que a apelante teve ciência dos fatos, estando a pretensão fulminada quando do ajuizamento da ação. Argumenta, ainda, que a demanda possui natureza revisional, buscando a aplicação de índices de correção diversos dos legais, o que atrairia o prazo prescricional quinquenal do Decreto-Lei nº 20.910/32. Suscita, também, sua ilegitimidade passiva, por atuar como mero agente operador do programa, e a incompetência da Justiça Estadual. No mérito, afirma que a remuneração da conta PASEP seguiu estritamente a legislação aplicável e que não houve prática de ato ilícito a justificar a pretensão indenizatória, material ou moral. Requer, ao final, o desprovimento do recurso. É o relatório. DECIDO. Conforme relatado, trata-se de Recurso de Apelação em que a parte recorrente busca a reforma da sentença que extinguiu o feito por reconhecer a ocorrência de prescrição. Alega a parte Apelante que não teria ocorrido a prescrição, pois somente tomou conhecimento do desfalque em 2024, razão pela qual não decorreu o prazo decenal. Pois bem. O recurso não comporta acolhimento. Inicialmente, cumpre destacar que a situação aqui analisada se enquadra perfeitamente na hipótese prevista no art. 932, IV, "c", do Código de Processo Civil, que autoriza o relator a negar provimento ao recurso contrário a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos. Nesse sentido, conforme preceitua a Súmula 568 do STJ: "O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema." A controvérsia central reside na fixação do termo inicial do prazo prescricional para a pretensão reparatória fundada em alegados desfalques em conta vinculada ao PASEP, questão que demanda análise pormenorizada à luz da jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça no Tema Repetitivo 1150. O Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a questão repetitiva sob o rito do artigo 1.036 do Código de Processo Civil, firmou entendimento definitivo sobre a matéria no referido tema, estabelecendo que "a pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em conta individual vinculada ao PASEP se submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil", bem como que "o termo inicial para a contagem do prazo prescricional é o dia em que o titular toma ciência dos desfalques ou a data do último depósito efetuado na conta individual vinculada ao PASEP" (Itens II e III do Tema 1.150 do STJ). A ratio decidendi dessa orientação jurisprudencial assenta-se no princípio da actio nata, segundo o qual o prazo prescricional tem início quando nasce o direito de ação, ou seja, quando o titular tem conhecimento inequívoco do fato lesivo que fundamenta sua pretensão reparatória. Contudo, essa ciência deve ser aferida objetivamente, considerando-se as circunstâncias concretas que evidenciem a possibilidade efetiva de o interessado tomar conhecimento da lesão a seus direitos. Por conseguinte, não basta a alegação subjetiva de desconhecimento dos fatos, sendo necessária a demonstração clara de que as circunstâncias objetivas impediam o conhecimento da situação lesiva. No caso em exame, o elemento probatório determinante para a fixação do termo inicial encontra-se no fato de que o Apelante levantou os valores da conta PASEP na data de sua aposentadoria, conforme bem indicado pelo magistrado de piso. Esse fato objetivo constitui marco temporal irrefutável da ciência do titular sobre o saldo disponível em sua conta, momento a partir do qual surge a possibilidade jurídica de verificar eventuais inconsistências ou desfalques nos valores depositados. Ora, ao proceder ao levantamento parcial dos valores, o autor necessariamente tomou conhecimento do montante disponível em sua conta vinculada, circunstância que, nos termos da jurisprudência consolidada, é suficiente para caracterizar a ciência inequívoca exigida para o início da contagem do prazo prescricional. A alegação do apelante de que somente tomou conhecimento dos desfalques em data posterior, especificamente no ano de 2024, não encontra respaldo nos elementos constantes dos autos, tampouco se harmoniza com a interpretação jurisprudencial dominante sobre a matéria. Embora tenha apresentado protocolo de solicitação de documentos datado de 2024, tal circunstância não possui o condão de alterar o termo inicial da prescrição, uma vez que a ciência dos valores disponíveis na conta já havia ocorrido por ocasião do levantamento em 2007, quando da sua aposentadoria. Nesse sentido, a tese jurisprudencial consolidada no Tema 1150 é cristalina ao estabelecer que o conhecimento do saldo da conta vinculada é suficiente para o início da contagem do prazo prescricional, independentemente de posterior aprofundamento na investigação dos valores ou de eventual descoberta de irregularidades específicas. Ademais, a jurisprudência deste Tribunal de Justiça de Mato Grosso tem aplicado de forma uniforme o entendimento firmado pelo STJ, que reconhecem ser o momento do levantamento dos valores o marco temporal adequado para início da prescrição, precisamente por ser quando o titular efetivamente toma conhecimento do montante disponível em sua conta. Essa orientação jurisprudencial, além de conferir segurança jurídica às relações processuais, evita que a incerteza sobre o termo inicial da prescrição possa ser utilizada como expediente para eternizar pretensões reparatórias, o que contrariaria a própria finalidade do instituto prescricional. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS – PASEP – TEMA 1150 DO STJ – PRESCRIÇÃO DECENAL – TERMO INICIAL – CIÊNCIA DESFALQUES – DATA DO SAQUE DO VALOR DISPONÍVEL - SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Por ocasião do levantamento ocorrido em razão de aposentadoria é que a parte autora tomou efetivo conhecimento do saldo constante de sua conta individual do PASEP, nascendo, a partir de tal momento, a pretensão destinada a apurar eventuais incompatibilidades e desfalques. Tese vinculante firmada pelo STJ (tema 1.150). Verificando que decorreram mais de 10 anos entre o resgate integral da conta individual vinculada ao Pasep e o ajuizamento da demanda, impõe-se reconhecer a perda da pretensão pelo decurso do tempo. (N.U 1003026-57.2024.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 28/08/2024, Publicado no DJE 31/08/2024) (g.n.) AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MATERIAIS – PRETENSÃO AO RECEBIMENTO DE DANOS MATERIAIS – PAGAMENTOS A MENOR REFERENTE A JUROS E RENDIMENTO DO PASEP PELO BANCO - PRAZO PRESCRICIONAL APLICÁVEL DE 10 ANOS CONFORME TEMA 1.150 DO STJ – TERMO INICIAL – DATA EM QUE A PARTE TEVE CONHECIMENTO DA FALHA NO PAGAMENTO OU PAGAMENTO A MENOR – NO CASO O TERMO INICIAL DEVE SER CONSIDERADO DO SAQUE OCORRIDO EM 27/02/1997, QUANDO A PARTE AUTORA TEVE CONHECIMENTO DO MONTANTE RECEBIDO E A PARTIR DE ENTÃO DEVERIA TER QUESTIONADO A FALHA NO PAGAMENTO OU PAGAMENTO MENOR – PRESCRIÇÃO EFETIVADA DESDE 27/02/2007 – RECURSO PROVIDO. Conforme TEMA 1150 do STJ, A pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em conta individual vinculada ao Pasep se submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil, sendo que o termo inicial do referido prazo é a data em que o titular, comprovadamente, toma ciência dos desfalques realizados na conta individual vinculada ao Pasep. No presente caso considerando a data do saque ocorrida em 27/02/2007, quando da aposentadoria do Agravado deve ser reconhecida a ocorrência da prescrição efetivada em 27/02/2007, tendo em vista que quando da realização do saque e recebimento do montante teve o Agravado ciência do pagamento a menor ou da falha no pagamento realizado pela Instituição Financeira. (N.U 1009085- 73.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 21/08/2024, Publicado no DJE 28/08/2024). (g.n.) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAL. PASEP. TEMA 1150 DO STJ . PRESCRIÇÃO DECENAL. TERMO INICIAL. CIÊNCIA DESFALQUES. DATA DO SAQUE DO VALOR DISPONÍVEL . SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Por ocasião do levantamento ocorrido em razão de aposentadoria é que a parte autora tomou efetivo conhecimento do saldo constante de sua conta individual do PASEP, nascendo, a partir de tal momento, a pretensão destinada a apurar eventuais incompatibilidades e desfalques. Tese vinculante firmada pelo STJ (tema 1 .150). Decorrido mais de 10 anos entre o resgate integral da conta individual vinculada ao Pasep e o ajuizamento da demanda, impõe-se reconhecer a perda da pretensão pelo decurso do tempo. (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 10014767420238110032, Relator.: NILZA MARIA POSSAS DE CARVALHO, Data de Julgamento: 12/11/2024, Primeira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/11/2024) (g.n.) Portanto, tendo o levantamento ocorrido em 08/05/2007 (ID. 286141553) e a ação sido ajuizada apenas em 29/11/2024, é manifesta a consumação do prazo prescricional decenal. Essa constatação temporal é objetiva e inequívoca, não comportando interpretação diversa à luz da tese jurisprudencial vinculante aplicável à espécie. De outro lado, também não merece guarida a tese da Apelante de nulidade da sentença por suposta decisão surpresa. Isso porque é possível visualizar facilmente que a prejudicial de prescrição foi uma das teses apresentadas pela instituição financeira em sua Contestação (ID. 286141552), tendo inclusive sido tratada pela própria parte apelante em sua Impugnação (ID. 286141559). Ante todo exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Considerando o que dispõe o Tema 1059 do STJ, para os fins do §11º, do artigo 85 do CPC, majoro para 12% os honorários advocatícios anteriormente fixados na sentença, mantendo, contudo, suspensa a exigibilidade em razão do benefício da justiça gratuita. Ao arremate, visando evitar a oposição de embargos declaratórios e, desde logo, para viabilizar eventual acesso às vias extraordinária e especial, considera-se prequestionada toda matéria infraconstitucional e constitucional, observado o pacífico entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida (EDROMS 18.205/SP, Eminente Ministro Felix Fischer, DJ 08/05/2006, p. 240). Intimem-se as partes. Expeça-se o necessário. Cumpra-se. Des. Sebastião Barbosa Farias Relator

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Processo nº 1001242-46.2024.8.11.0036

ID: 337567702

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1001242-46.2024.8.11.0036

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

BANCO DO BRASIL SA

Decisão

Advogados:

EDUARDO JANZON AVALLONE NOGUEIRA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Privado APELAÇÃO CÍVEL (198) 1001242-46.2024.8.11.0036 APELANTE: ELENY PEREIRA DE ABREU APELADO: BAN… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Privado APELAÇÃO CÍVEL (198) 1001242-46.2024.8.11.0036 APELANTE: ELENY PEREIRA DE ABREU APELADO: BANCO DO BRASIL SA Ementa DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PASEP. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA REJEITADA. PRESCRIÇÃO DECENAL. TEMA 1.150/STJ. TERMO INICIAL. DATA DO SAQUE. RECURSO DESPROVIDO. I. Caso em exame: 1. Recurso de apelação interposto contra sentença que, com fundamento no Tema 1.150 do STJ, reconheceu a prescrição da pretensão de reparação por supostos desfalques em conta PASEP, extinguindo o processo com resolução de mérito. II. Questão em discussão: 2. Há duas questões em discussão: (i) saber se a sentença é nula por suposta "decisão surpresa" ao reconhecer a prescrição; e (ii) definir o termo inicial do prazo prescricional decenal (Tema 1.150/STJ), se a data do saque dos valores por aposentadoria (2007) ou a data do posterior recebimento de extratos detalhados (2024). III. Razões de decidir: 3. Não há nulidade por "decisão surpresa" (arts. 9º e 10 do CPC) quando a questão da prescrição foi devidamente suscitada em contestação e debatida pela parte autora em sua impugnação, afastando-se o alegado cerceamento de defesa. 4. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Tema Repetitivo 1.150, firmou a tese de que a pretensão de ressarcimento por desfalques em conta PASEP se submete ao prazo prescricional de dez anos, previsto no art. 205 do Código Civil. 5. O termo inicial da contagem do prazo, em observância ao princípio da actio nata e à tese firmada no Tema 1.150/STJ, é a data em que o titular tem ciência inequívoca dos desfalques. O saque dos valores da conta, por motivo de aposentadoria, constitui o marco objetivo para essa ciência, pois nesse momento o titular conhece o saldo disponível. 6. Tendo a ação sido ajuizada em 2024, mais de uma década após o saque dos valores ocorrido em 2007, é manifesta a ocorrência da prescrição da pretensão autoral. IV. Dispositivo e tese: 7. Recurso desprovido. Tese de julgamento: “1. Não configura decisão surpresa o reconhecimento da prescrição quando a matéria foi previamente arguida pela parte contrária e sobre ela foi oportunizado o contraditório. 2. A pretensão ao ressarcimento por desfalques em conta PASEP prescreve em dez anos (art. 205 do CC), conforme Tema 1.150/STJ. 3. O termo inicial do prazo prescricional, em regra, é a data do saque dos valores, como no caso da aposentadoria, momento em que o titular toma ciência inequívoca do saldo, não podendo ser postergado por alegação subjetiva de desconhecimento.” Dispositivos relevantes citados: Código Civil, art. 205; Código de Processo Civil, arts. 9º, 10, 85, §11, e 487, II. Jurisprudência relevante citada: STJ, Tema 1.150; STJ, Tema 1.059; TJMT, Apelação Cível nº 1003026-57.2024.8.11.0004; TJMT, Agravo de Instrumento nº 1009085-73.2024.8.11.0000; TJMT, Apelação Cível nº 1001476-74.2023.8.11.0032. Vistos etc. Trata-se de Recurso de Apelação interposto por ELENY PEREIRA DE ABREU contra a r. sentença (ID. 286141568) proferida pelo Juízo da VARA ÚNICA DE GUIRATINGA, nos autos da Ação Revisional de Recomposição do Pasep c/c Reparação de Danos Materiais e Morais, registrada sob o nº 1001242-46.2024.8.11.0036, ajuizada em desfavor de BANCO DO BRASIL SA, que julgou extinto o processo com resolução do mérito ao pronunciar a prescrição da pretensão inicial. A sentença (ID. 286141568) acolheu a prejudicial de mérito da prescrição. Fundamentou-se no entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça no Tema nº 1.150, que estabelece o prazo prescricional de dez anos, conforme o artigo 205 do Código Civil, para a pretensão de ressarcimento de danos por desfalques em conta individual do PASEP. O juízo de origem definiu como termo inicial do prazo prescricional a data em que a titular tomou ciência dos alegados desfalques, o que, segundo a decisão, ocorreu com o saque integral do montante depositado em 08/05/2007, por motivo de aposentadoria. Tendo a ação sido ajuizada em 29/11/2024, o magistrado concluiu que o prazo decenal já havia transcorrido. A decisão refutou a tese autoral de que o marco inicial seria a data de recebimento das microfilmagens, baseando-se em jurisprudência do STJ e do TJMT. Com isso, julgou extinto o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, do Código de Processo Civil, e condenou a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Em seu Recurso de Apelação (ID. 286141570), a parte apelante ELENY PEREIRA DE ABREU sustenta, preliminarmente, a nulidade da sentença por se tratar de "decisão surpresa", alegando violação aos artigos 9º e 10 do Código de Processo Civil, pois não lhe foi oportunizada a manifestação prévia sobre a prescrição reconhecida de ofício. No mérito, aduz que a interpretação do termo inicial da prescrição foi equivocada. Afirma que, em conformidade com a teoria da actio nata e o Tema 1.150 do STJ, o prazo prescricional somente se inicia com a ciência comprovada da lesão e de sua extensão, o que alega ter ocorrido apenas com o recebimento dos extratos e microfilmagens da conta PASEP. Argumenta que o mero saque dos valores por ocasião da aposentadoria não configura conhecimento inequívoco sobre eventuais desfalques. Postula, assim, a anulação da sentença por cerceamento de defesa ou, subsidiariamente, sua reforma integral para afastar a prescrição e determinar o regular prosseguimento do feito. Nas Contrarrazões (ID. 286141575), a parte apelada BANCO DO BRASIL SA pugna pela manutenção da sentença. Reitera a ocorrência da prescrição, defendendo que o termo inicial da contagem do prazo decenal é a data do saque dos valores em 08/05/2007, momento em que a apelante teve ciência dos fatos, estando a pretensão fulminada quando do ajuizamento da ação. Argumenta, ainda, que a demanda possui natureza revisional, buscando a aplicação de índices de correção diversos dos legais, o que atrairia o prazo prescricional quinquenal do Decreto-Lei nº 20.910/32. Suscita, também, sua ilegitimidade passiva, por atuar como mero agente operador do programa, e a incompetência da Justiça Estadual. No mérito, afirma que a remuneração da conta PASEP seguiu estritamente a legislação aplicável e que não houve prática de ato ilícito a justificar a pretensão indenizatória, material ou moral. Requer, ao final, o desprovimento do recurso. É o relatório. DECIDO. Conforme relatado, trata-se de Recurso de Apelação em que a parte recorrente busca a reforma da sentença que extinguiu o feito por reconhecer a ocorrência de prescrição. Alega a parte Apelante que não teria ocorrido a prescrição, pois somente tomou conhecimento do desfalque em 2024, razão pela qual não decorreu o prazo decenal. Pois bem. O recurso não comporta acolhimento. Inicialmente, cumpre destacar que a situação aqui analisada se enquadra perfeitamente na hipótese prevista no art. 932, IV, "c", do Código de Processo Civil, que autoriza o relator a negar provimento ao recurso contrário a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos. Nesse sentido, conforme preceitua a Súmula 568 do STJ: "O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema." A controvérsia central reside na fixação do termo inicial do prazo prescricional para a pretensão reparatória fundada em alegados desfalques em conta vinculada ao PASEP, questão que demanda análise pormenorizada à luz da jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça no Tema Repetitivo 1150. O Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a questão repetitiva sob o rito do artigo 1.036 do Código de Processo Civil, firmou entendimento definitivo sobre a matéria no referido tema, estabelecendo que "a pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em conta individual vinculada ao PASEP se submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil", bem como que "o termo inicial para a contagem do prazo prescricional é o dia em que o titular toma ciência dos desfalques ou a data do último depósito efetuado na conta individual vinculada ao PASEP" (Itens II e III do Tema 1.150 do STJ). A ratio decidendi dessa orientação jurisprudencial assenta-se no princípio da actio nata, segundo o qual o prazo prescricional tem início quando nasce o direito de ação, ou seja, quando o titular tem conhecimento inequívoco do fato lesivo que fundamenta sua pretensão reparatória. Contudo, essa ciência deve ser aferida objetivamente, considerando-se as circunstâncias concretas que evidenciem a possibilidade efetiva de o interessado tomar conhecimento da lesão a seus direitos. Por conseguinte, não basta a alegação subjetiva de desconhecimento dos fatos, sendo necessária a demonstração clara de que as circunstâncias objetivas impediam o conhecimento da situação lesiva. No caso em exame, o elemento probatório determinante para a fixação do termo inicial encontra-se no fato de que o Apelante levantou os valores da conta PASEP na data de sua aposentadoria, conforme bem indicado pelo magistrado de piso. Esse fato objetivo constitui marco temporal irrefutável da ciência do titular sobre o saldo disponível em sua conta, momento a partir do qual surge a possibilidade jurídica de verificar eventuais inconsistências ou desfalques nos valores depositados. Ora, ao proceder ao levantamento parcial dos valores, o autor necessariamente tomou conhecimento do montante disponível em sua conta vinculada, circunstância que, nos termos da jurisprudência consolidada, é suficiente para caracterizar a ciência inequívoca exigida para o início da contagem do prazo prescricional. A alegação do apelante de que somente tomou conhecimento dos desfalques em data posterior, especificamente no ano de 2024, não encontra respaldo nos elementos constantes dos autos, tampouco se harmoniza com a interpretação jurisprudencial dominante sobre a matéria. Embora tenha apresentado protocolo de solicitação de documentos datado de 2024, tal circunstância não possui o condão de alterar o termo inicial da prescrição, uma vez que a ciência dos valores disponíveis na conta já havia ocorrido por ocasião do levantamento em 2007, quando da sua aposentadoria. Nesse sentido, a tese jurisprudencial consolidada no Tema 1150 é cristalina ao estabelecer que o conhecimento do saldo da conta vinculada é suficiente para o início da contagem do prazo prescricional, independentemente de posterior aprofundamento na investigação dos valores ou de eventual descoberta de irregularidades específicas. Ademais, a jurisprudência deste Tribunal de Justiça de Mato Grosso tem aplicado de forma uniforme o entendimento firmado pelo STJ, que reconhecem ser o momento do levantamento dos valores o marco temporal adequado para início da prescrição, precisamente por ser quando o titular efetivamente toma conhecimento do montante disponível em sua conta. Essa orientação jurisprudencial, além de conferir segurança jurídica às relações processuais, evita que a incerteza sobre o termo inicial da prescrição possa ser utilizada como expediente para eternizar pretensões reparatórias, o que contrariaria a própria finalidade do instituto prescricional. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS – PASEP – TEMA 1150 DO STJ – PRESCRIÇÃO DECENAL – TERMO INICIAL – CIÊNCIA DESFALQUES – DATA DO SAQUE DO VALOR DISPONÍVEL - SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Por ocasião do levantamento ocorrido em razão de aposentadoria é que a parte autora tomou efetivo conhecimento do saldo constante de sua conta individual do PASEP, nascendo, a partir de tal momento, a pretensão destinada a apurar eventuais incompatibilidades e desfalques. Tese vinculante firmada pelo STJ (tema 1.150). Verificando que decorreram mais de 10 anos entre o resgate integral da conta individual vinculada ao Pasep e o ajuizamento da demanda, impõe-se reconhecer a perda da pretensão pelo decurso do tempo. (N.U 1003026-57.2024.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 28/08/2024, Publicado no DJE 31/08/2024) (g.n.) AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MATERIAIS – PRETENSÃO AO RECEBIMENTO DE DANOS MATERIAIS – PAGAMENTOS A MENOR REFERENTE A JUROS E RENDIMENTO DO PASEP PELO BANCO - PRAZO PRESCRICIONAL APLICÁVEL DE 10 ANOS CONFORME TEMA 1.150 DO STJ – TERMO INICIAL – DATA EM QUE A PARTE TEVE CONHECIMENTO DA FALHA NO PAGAMENTO OU PAGAMENTO A MENOR – NO CASO O TERMO INICIAL DEVE SER CONSIDERADO DO SAQUE OCORRIDO EM 27/02/1997, QUANDO A PARTE AUTORA TEVE CONHECIMENTO DO MONTANTE RECEBIDO E A PARTIR DE ENTÃO DEVERIA TER QUESTIONADO A FALHA NO PAGAMENTO OU PAGAMENTO MENOR – PRESCRIÇÃO EFETIVADA DESDE 27/02/2007 – RECURSO PROVIDO. Conforme TEMA 1150 do STJ, A pretensão ao ressarcimento dos danos havidos em razão dos desfalques em conta individual vinculada ao Pasep se submete ao prazo prescricional decenal previsto pelo artigo 205 do Código Civil, sendo que o termo inicial do referido prazo é a data em que o titular, comprovadamente, toma ciência dos desfalques realizados na conta individual vinculada ao Pasep. No presente caso considerando a data do saque ocorrida em 27/02/2007, quando da aposentadoria do Agravado deve ser reconhecida a ocorrência da prescrição efetivada em 27/02/2007, tendo em vista que quando da realização do saque e recebimento do montante teve o Agravado ciência do pagamento a menor ou da falha no pagamento realizado pela Instituição Financeira. (N.U 1009085- 73.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 21/08/2024, Publicado no DJE 28/08/2024). (g.n.) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAL. PASEP. TEMA 1150 DO STJ . PRESCRIÇÃO DECENAL. TERMO INICIAL. CIÊNCIA DESFALQUES. DATA DO SAQUE DO VALOR DISPONÍVEL . SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Por ocasião do levantamento ocorrido em razão de aposentadoria é que a parte autora tomou efetivo conhecimento do saldo constante de sua conta individual do PASEP, nascendo, a partir de tal momento, a pretensão destinada a apurar eventuais incompatibilidades e desfalques. Tese vinculante firmada pelo STJ (tema 1 .150). Decorrido mais de 10 anos entre o resgate integral da conta individual vinculada ao Pasep e o ajuizamento da demanda, impõe-se reconhecer a perda da pretensão pelo decurso do tempo. (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 10014767420238110032, Relator.: NILZA MARIA POSSAS DE CARVALHO, Data de Julgamento: 12/11/2024, Primeira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/11/2024) (g.n.) Portanto, tendo o levantamento ocorrido em 08/05/2007 (ID. 286141553) e a ação sido ajuizada apenas em 29/11/2024, é manifesta a consumação do prazo prescricional decenal. Essa constatação temporal é objetiva e inequívoca, não comportando interpretação diversa à luz da tese jurisprudencial vinculante aplicável à espécie. De outro lado, também não merece guarida a tese da Apelante de nulidade da sentença por suposta decisão surpresa. Isso porque é possível visualizar facilmente que a prejudicial de prescrição foi uma das teses apresentadas pela instituição financeira em sua Contestação (ID. 286141552), tendo inclusive sido tratada pela própria parte apelante em sua Impugnação (ID. 286141559). Ante todo exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Considerando o que dispõe o Tema 1059 do STJ, para os fins do §11º, do artigo 85 do CPC, majoro para 12% os honorários advocatícios anteriormente fixados na sentença, mantendo, contudo, suspensa a exigibilidade em razão do benefício da justiça gratuita. Ao arremate, visando evitar a oposição de embargos declaratórios e, desde logo, para viabilizar eventual acesso às vias extraordinária e especial, considera-se prequestionada toda matéria infraconstitucional e constitucional, observado o pacífico entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, tratando-se de prequestionamento, é desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a questão posta tenha sido decidida (EDROMS 18.205/SP, Eminente Ministro Felix Fischer, DJ 08/05/2006, p. 240). Intimem-se as partes. Expeça-se o necessário. Cumpra-se. Des. Sebastião Barbosa Farias Relator

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Processo nº 1001476-29.2025.4.01.3100

ID: 295250892

Tribunal: TRF1 Órgão: 6ª Vara Federal Cível da SJAP Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001476-29.2025.4.01.3100

Data de Disponibilização: 11/06/2025

Polo Ativo:

PEDRO BRAGA DE SOUZA JUNIOR

Polo Passivo:

Sentença Tipo A

Advogados:

ANGELA SORAIA AMORAS COLLARES

OAB/DF XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Amapá 6ª Vara Federal Cível da SJAP SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1001476-29.2025.4.01.3100 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) POLO ATIVO: PEDRO B… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Amapá 6ª Vara Federal Cível da SJAP SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1001476-29.2025.4.01.3100 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) POLO ATIVO: PEDRO BRAGA DE SOUZA JUNIOR REPRESENTANTES POLO ATIVO: ANGELA SORAIA AMORAS COLLARES - DF17506 POLO PASSIVO:UNIÃO FEDERAL EMENTA: SENTENÇA. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA. SERVIDOR PÚBLICO. EX-TERRITÓRIOS FEDERAIS. ENQUADRAMENTO EM QUADRO EM EXTINÇÃO DA UNIÃO. REVISÃO ADMINISTRATIVA EX OFFICIO PELA CEEXT. ATO ADMINISTRATIVO ANULANDO DECISÃO ANTERIOR DE DEFERIMENTO COM FUNDAMENTO EXCLUSIVO EM ADESÃO A PROGRAMA DE DESLIGAMENTO VOLUNTÁRIO. AFASTAMENTO DE INTERPRETAÇÃO ADMINISTRATIVA RESTRITIVA. TUTELA DE EVIDÊNCIA DEFERIDA. PEDIDO PROCEDENTE. Ação voltada à declaração de nulidade de ato administrativo da Comissão Especial dos Ex-Territórios Federais (CEEXT), que revisa de ofício decisão anterior de deferimento de transposição de servidor ao quadro em extinção da União, com fundamento exclusivo na adesão a Programa de Desligamento Voluntário (PDV). Controvérsia sobre a legalidade da exclusão de transposição com base apenas na adesão ao PDV, à luz da EC nº 98/2017, regulamentada pela Lei nº 13.681/2018 e pelo Decreto nº 9.324/2018. A legislação aplicável não estabelece vedação à transposição de servidor que tenha aderido ao PDV, desde que preenchido o requisito de vínculo funcional por, no mínimo, noventa dias no período constitucionalmente relevante. A anulação do ato de deferimento com base exclusiva em parecer administrativo não normativo afronta os princípios da legalidade, da razoabilidade e da segurança jurídica. A revisão administrativa não identificou ilegalidade no ato anterior, promovendo apenas reinterpretação de dispositivos legais com fundamento em parecer desprovido de força normativa. Ausência de vício que justifique a anulação do ato administrativo. Presentes os requisitos do art. 311, incisos I e IV, do CPC, é cabível a concessão de tutela de evidência para determinar a efetivação da transposição funcional. Pedido julgado procedente. Reconhecido o direito ao enquadramento em cargo federal com efeitos funcionais e financeiros a partir do efetivo exercício. Condenação em honorários advocatícios sobre o valor da causa. Sentença não sujeita ao reexame necessário. Tese de julgamento: “1. A adesão a Programa de Desligamento Voluntário não constitui óbice legal à transposição de servidor com vínculo funcional regular no período previsto pela EC nº 98/2017. 2. A revisão administrativa ex officio sem demonstração de ilegalidade do ato revisado e com base em interpretação restritiva e não vinculante é inválida.” Legislação relevante citada: Constituição Federal, art. 31 da EC nº 19/1998, com redação dada pela EC nº 98/2017. Lei nº 13.681/2018, art. 2º, VI. Decreto nº 9.324/2018, arts. 2º e 7º. Lei Complementar nº 73/1993, art. 42. Código de Processo Civil, arts. 311, I e IV; 85, §§ 2º e 8º. Lei nº 9.289/1996, art. 4º, I. Jurisprudência relevante citada: TRF1, ApCiv no MS nº 1017530-12.2021.4.01.3100, Rel. Des. Fed. Euler de Almeida, Nona Turma, j. 21.02.2023. SENTENÇA I – Relatório PEDRO BRAGA DE SOUZA JÚNIOR ajuizou AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER, com pedido de tutela provisória de urgência e de evidência, em face da UNIÃO, objetivando o reconhecimento de seu direito ao enquadramento no quadro em extinção da Administração Pública Federal, nos termos da Emenda Constitucional nº 98/2017, regulamentada pela Lei nº 13.681/2018 e pelo Decreto nº 9.324/2018. Instruiu o pedido com a documentação tendente à comprovação do quanto alegado. Requereu justiça gratuita. Após distribuição equivocada do feito à 3ª Vara do Juizado Especial Federal Cível, houve o reconhecimento de incompetência absoluta, com posterior redistribuição à 6ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Amapá, onde foi proferida decisão determinando a emenda à inicial. A parte autora atendeu à determinação, com a correção do valor da causa para R$ 150.000,00 e o requerimento expresso de citação da União. Deferiu-se o benefício da gratuidade de justiça ao autor, postergando-se a apreciação do pedido de tutela de urgência para após a apresentação de contestação, com determinação de citação. A União apresentou contestação (ID 2186323026), sustentando que a adesão ao PDV implicou rompimento voluntário do vínculo funcional, impedindo o reenquadramento com base na EC nº 98/2017. Afirma que o parecer PGFN/AGU nº 00147/2021 possui efeito vinculante para a Administração Pública Federal, e que a revisão do ato pela CEEXT constitui exercício legítimo do poder de autotutela, conforme Súmula 473 do STF. Alega, ainda, que a publicação no DOU não torna o ato irretratável e que não há ilegalidade na revisão de ofício de ato administrativo contrário à norma aplicável. É o relatório. Decido. II – Fundamentação O presente feito versa sobre a validade de ato administrativo de revisão, proferido pela Comissão Especial dos Ex-Territórios Federais (CEEXT), que indeferiu pedido de enquadramento do autor, servidor público do Ex-Território do Amapá, no quadro em extinção da Administração Pública Federal, com fundamento na Emenda Constitucional nº 98/2017, regulamentada pela Lei nº 13.681/2018 e pelo Decreto nº 9.324/2018. A controvérsia cinge-se à suposta impossibilidade de transposição de servidor que aderiu a Programa de Desligamento Voluntário (PDV), motivo único invocado pela Administração para a anulação do ato de deferimento anteriormente publicado. Cumpre contextualizar juridicamente a Emenda Constitucional nº 98/2017. Esta norma constitucional teve por escopo garantir o reenquadramento funcional de servidores dos antigos Territórios Federais do Amapá, Roraima e Rondônia que tenham mantido vínculo funcional com a Administração Pública local durante o período de transição à condição de Estado. Trata-se de norma de caráter excepcional, com natureza de norma constitucional de eficácia limitada, cuja regulamentação foi promovida pela Lei nº 13.681/2018, especialmente em seus artigos 2º e 13, e pelo Decreto nº 9.324/2018. Confiram-se os termos do art. 2º, V e VI, e §§ 3º e 4º, da Lei nº 13.681/2018 (destaque nosso): “Art. 2º Poderão optar pela inclusão nos quadros em extinção a que se refere esta Lei: I - os integrantes da carreira policial militar e os servidores municipais do ex-Território Federal de Rondônia que, comprovadamente, se encontravam no exercício regular de suas funções prestando serviço àquele ex-Território Federal ou a prefeituras nele localizadas na data em que foi transformado em Estado; II - (VETADO); III - a pessoa que revestiu a condição de servidor público federal da administração direta, autárquica ou fundacional, de servidor municipal ou de integrante da carreira de policial, civil ou militar, dos ex-Territórios Federais do Amapá e de Roraima e que, comprovadamente, se encontrava no exercício de suas funções, prestando serviço à administração pública dos ex-Territórios Federais ou de prefeituras neles localizadas na data em que foram transformados em Estado; IV - a pessoa que revestiu a condição de servidor ou de policial, civil ou militar, admitido pelos Estados do Amapá e de Roraima, entre a data de sua transformação em Estado e outubro de 1993; V - a pessoa que comprove ter mantido, na data em que os ex-Territórios Federais do Amapá e de Roraima foram transformados em Estado ou entre a data de sua transformação em Estado e outubro de 1993, relação ou vínculo funcional, de caráter efetivo ou não, ou relação ou vínculo empregatício, estatutário ou de trabalho com a administração pública dos ex-Territórios Federais, dos Estados ou das prefeituras localizadas nos Estados do Amapá e de Roraima; VI - aquele que comprove ter mantido, na data em que os ex-Territórios Federais do Amapá, de Roraima e de Rondônia foram transformados em Estado ou entre a data de sua transformação em Estado e outubro de 1993, no caso do Amapá e de Roraima, e 15 de março de 1987, no caso de Rondônia, relação ou vínculo funcional, de caráter efetivo ou não, ou relação ou vínculo empregatício, estatutário ou de trabalho, com empresa pública ou sociedade de economia mista que haja sido constituída pelos ex-Territórios Federais do Amapá, de Roraima e de Rondônia ou pela União para atuar no âmbito do ex-Território Federal, inclusive as extintas, observados os §§ 1º e 2º do art. 12 desta Lei e demais requisitos estabelecidos nas Emendas Constitucionais nºs 60, de 11 de novembro de 2009 , 79, de 27 de maio de 2014 , e 98, de 6 de dezembro 2017.” § 3º Para fins de inclusão nos quadros em extinção das pessoas a que se referem os incisos III, IV e V do caput deste artigo, são meios probatórios de relação ou vínculo funcional, empregatício, estatutário ou de trabalho, independentemente da existência de vínculo atual, além dos admitidos em lei: (...) § 4º Além dos meios probatórios de que trata o § 3º deste artigo, sem prejuízo daqueles admitidos em lei, a inclusão nos quadros em extinção das pessoas a que se referem os incisos III, IV e V do caput deste artigo dependerá, ainda, de a pessoa ter mantido relação ou vínculo funcional, empregatício, estatutário ou de trabalho, com o ex-Território Federal ou o Estado que o tenha sucedido por, pelo menos, 90 (noventa) dias. A Lei 13.681/2018 fez ainda uma diferenciação entre os servidores do ex-Território de Rondônia e aqueles egressos dos ex-Territórios do Amapá e Roraima, com relação ao requisito de manutenção do vínculo com o ex-Território. Enquanto para o ex-Território de Rondônia foi exigida, além dos demais requisitos legais, a manutenção do vínculo no momento da opção (art. 12, § 1º, I, da Lei 13.681/2018), para os servidores dos ex-Territórios do Amapá e Roraima a exigência era de manutenção do vínculo por pelo menos 90 (noventa) dias (art. 12. § 2º, III c/c § 4º do art. 2º da Lei 13.681/2018). Também o § 3º do art. 2º da Lei 13.681/2018 foi claro ao estabelecer que a inclusão nos quadros em extinção se daria “independentemente da existência de vínculo atual”. Por sua vez, o Decreto 9.324/2018, que regulamentou a Lei 13.681/2018, não enumerou, no rol de seu art. 7º, a vedação ao direito de transposição na hipótese de adesão do servidor ao PDV: “Art. 7º É vedada a inclusão em quadro em extinção da União com fundamento no art. 31 da Emenda Constitucional nº 19, de 1998 , com redação dada pela Emenda Constitucional nº 98, de 2017: I - dos servidores demitidos mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurados a ampla defesa e o contraditório; II - dos empregados públicos demitidos por justa causa; III - dos militares licenciados ou excluídos a bem da disciplina; IV - das pessoas de que trata o art. 2º que tenham sido demitidas, licenciadas ou excluídas a bem da disciplina, por decisão judicial transitada em julgado; V - das pessoas que não estejam em gozo de seus direitos políticos; e VI - das pessoas que, não enquadradas nas hipóteses dos incisos do caput do art. 2º ou que não atendam ao requisito do art. 5º: a) possuíam vínculo empregatício, ou de qualquer natureza, apenas com empresas de direito privado contratadas pela União, pelos ex-Territórios do Amapá e de Roraima ou pelos Estados do Amapá e de Roraima ou pelos seus Municípios; ou b) apenas estagiavam em órgãos, empresas ou entidades dos ex-Territórios do Amapá e de Roraima ou dos Estados do Amapá e de Roraima ou dos seus Municípios.” Como se observa, não há, em nenhum desses dispositivos, qualquer vedação expressa à transposição de servidores que, embora tenham mantido vínculo funcional pelo tempo exigido, tenham aderido a programa de desligamento voluntário posteriormente. A literalidade dos dispositivos exige apenas a comprovação do vínculo funcional, sem estabelecer como requisito a sua manutenção até a promulgação da EC nº 98/2017 ou vedar situações específicas de desligamento. No caso concreto, o autor comprovou documentalmente que exerceu funções docentes junto ao Ex-Território do Amapá entre 01/05/1980 e 25/03/1997, mantendo vínculo contínuo com a Administração local. O rompimento do vínculo funcional por adesão voluntária ao PDV ocorreu posteriormente ao período constitucional relevante e não compromete o atendimento ao requisito mínimo de vínculo funcional por noventa dias, conforme exigido pelo art. 7º do Decreto nº 9.324/2018. Preenchia, pois, os requisitos para a transposição do autor ao quadro federal, com enquadramento no cargo de Professor C1, Classe A, Nível I. A documentação juntada aos autos demonstra que seu pedido foi inicialmente analisado e deferido pela CEEXT, mediante decisão publicada no DOU nº 123-A, em 01/07/2022, o que gerou efeitos externos e expectativa legítima de concretização do direito. O autor, inclusive, anuiu expressamente com os termos do enquadramento, nos moldes exigidos pela Portaria nº 384/2021. A revisão de ofício promovida pela CEEXT se deu com fundamento exclusivo no Parecer nº 00147/2021/PGFN/AGU, o qual reinterpretou a questão, concluindo que a adesão ao PDV seria fato impeditivo à transposição. Assim, a revisão administrativa não se amparou em fato novo, tampouco demonstrou ilegalidade manifesta, mas apenas reinterpretou a legislação de modo mais restritivo, criando óbice não previsto na norma de regência, violando, além da legalidade, a segurança jurídica e legítima expectativa do administrado, em descompasso, por sinal, com o comando do art. 23 da LINDB. A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais (Súmula nº 473 do STF). Só que se tais vícios inexistem, não se justifica a anulação unilateral do ato. Como dito, a própria decisão anterior da CEEXT, registrada em ata e fundamentada na legislação aplicável, reconheceu que o autor preenchia todos os requisitos legais. Embora haja vinculação da Administração aos pareceres da PGFN aprovados pelo Advogado-Geral da União (art. 42 da LC nº 73/1993), tal vinculação opera-se internamente, não podendo contrariar os princípios constitucionais que regem a Administração Pública, tampouco inovar no ordenamento criando restrições não previstas expressamente em lei, sendo de rigor, em casos tais, a sindicabilidade do ato administrativo, no seu aspecto de juridicidade. Por fim, a matéria já foi debatida em processo paradigmático de nº 1017530-12.2021.4.01.3100, envolvendo situação análoga, que, inclusive, tramitou perante este juízo, onde restou decidido que a exclusão de servidor da transposição em razão de adesão ao PDV não encontra amparo legal, sendo o único requisito legalmente exigido o vínculo funcional por noventa dias no período constitucionalmente definido. Tal entendimento foi confirmado pela Nona Turma do TRF1, nos autos da ApCiv no MS nº 1017530-12.2021.4.01.3100, Rel. Des. Fed. Euler de Almeida, Nona Turma, j. 21.02.2023). Esses fundamentos conferem razão à tese do autor, reforçando que a reinterpretação administrativa posterior é ilegítima e deve ser desconstituída. No tocante à tutela de evidência, entendo que estão presentes os requisitos do art. 311, incisos I e IV, do CPC. A prova documental apresentada é consistente e evidencia a probabilidade do direito alegado, afastando a necessidade de dilação probatória. A resistência da parte ré funda-se em interpretação restritiva desamparada da legislação e da jurisprudência aplicável. III – Dispositivo Ante o exposto, julgo procedente o pedido inicial para declarar nulo o ato administrativo de indeferimento proferido pela CEEXT, e determinar que a União efetive a transposição do autor ao quadro federal, com enquadramento no cargo de Professor C1, Classe A, Nível I (nos termos da decisão administrativa anterior publicada no DOU nº 123-A, de 01/07/2022), conforme reconhecido na fundamentação supra, com os efeitos funcionais e financeiros devidos a partir da data de seu efetivo exercício, observado o regime jurídico aplicável à espécie. Defiro ainda a tutela de evidência, nos termos do art. 311, incisos I e IV, do CPC, para determinar à União que, no prazo de 30 (trinta) dias, promova a imediata efetivação da transposição do autor. Determino a retificação do valor da causa para R$ 150.000,00, conforme indicado na petição de emenda à inicial (ID 2183814249). Condeno a União ao pagamento de honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, considerando-se a natureza da demanda, nos termos do art. 85, §§ 2º e 8º, do CPC. Fica ressalvado que a União é isenta do pagamento de custas processuais, nos termos do art. 4º, I, da Lei nº 9.289/96. Sentença não sujeita ao reexame necessário. Caso seja interposto recurso, intime-se a parte contrária para apresentação de contrarrazões, no prazo legal, remetendo-se os autos, em seguida, ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região para regular processo e julgamento. Transitada em julgado esta sentença, intime-se a parte autora para, no prazo de até quinze dias, promover a execução do julgado. Intimem-se com urgência. Macapá/AP, data da assinatura digital. (Assinado Eletronicamente) FELIPE HANDRO Juiz Federal Titular

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Processo nº 1001476-85.2024.8.11.0017

ID: 298245394

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001476-85.2024.8.11.0017

Data de Disponibilização: 13/06/2025

Polo Ativo:

FRANCISCO VALTEMI FERREIRA DE SOUZA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

ROSANA PEREIRA DOS SANTOS SCHUMAHER

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

MARIA LUCIA VIANA SALES

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA SENTENÇA Processo: 1001476-85.2024.8.11.0017. AUTOR(A): FRANCISCO VALTEMI FERREIRA DE SOUZA REU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO S… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA SENTENÇA Processo: 1001476-85.2024.8.11.0017. AUTOR(A): FRANCISCO VALTEMI FERREIRA DE SOUZA REU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS Vistos, etc. I – RELATÓRIO Trata-se de Ação Condenatória com Obrigação de Fazer, visando ao restabelecimento de benefício de pensão por morte, ajuizada por FRANCISCO VALTEMI FERREIRA DE SOUZA em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. O Autor narra na petição inicial (ID 163642069) que iniciou convivência em união estável com a Sra. MARIA LISDETE PEREIRA DE SOUZA SANTOS em 26 de janeiro de 2018. Afirma que a união estável perdurou até o casamento civil, celebrado em 24 de setembro de 2021, e que a falecida veio a óbito em 22 de maio de 2022. Sustenta que a convivência amorosa, estável, pública e duradoura perfaz um total de 04 (quatro) anos, considerando o período de união estável e o casamento. Informa que, após o falecimento de sua esposa, requereu administrativamente o benefício de pensão por morte, o qual foi concedido com Data de Início do Benefício (DIB) em 22 de maio de 2022. Contudo, o benefício foi cessado em 13 de agosto de 2022, sob o argumento de que o casamento teve duração inferior a 24 (vinte e quatro) meses, o que, segundo a autarquia, justificaria a concessão da pensão por apenas 04 (quatro) meses, conforme o artigo 77, inciso V, alínea 'b', da Lei nº 8.213/91. O Autor argumenta que a decisão administrativa é descabida, pois a soma do período de união estável com o tempo de casamento ultrapassa os 24 meses exigidos pela legislação, configurando sua condição de dependente e o direito à pensão por morte sem a limitação temporal. Requereu a procedência da ação para que o benefício de pensão por morte seja restabelecido, com data retroativa à cessação injusta (DCB - 13/08/2022), além da condenação do Réu ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de R$ 16.944,00 (dezesseis mil, novecentos e quarenta e quatro reais). A petição inicial veio acompanhada de diversos documentos, dentre os quais se destacam a procuração (ID 163645971), comprovante de endereço (ID 163645973), documento pessoal do autor (ID 163645975), certidão de óbito da Sra. MARIA LISDETE PEREIRA DE SOUZA SANTOS (ID 163645977 e ID 163645982), escrituras públicas de declaração de união estável (ID 163645979 e ID 163645980), certidão de casamento (ID 163645981), documentos pessoais da falecida (ID 163645984) e o indeferimento administrativo do requerimento (ID 163645985). Por decisão proferida em 01 de agosto de 2024 (ID 163667493), este Juízo recebeu a petição inicial, deferiu o pedido de gratuidade judiciária e dispensou a designação de audiência de conciliação, determinando a citação do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS para apresentar contestação. O INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS apresentou contestação (ID 167836161) em 03 de setembro de 2024. Em sua defesa, a autarquia ré confirmou que o benefício de pensão por morte foi pago ao Autor por apenas 04 (quatro) meses, em razão de o casamento ter duração inferior a 02 (dois) anos, conforme o artigo 77, inciso V, alínea 'b', da Lei nº 8.213/91. O INSS argumentou que a escritura declaratória de união estável juntada pelo Autor foi assinada somente por ele após a morte de sua esposa, não constituindo prova material válida da união estável anterior ao casamento. Adicionalmente, alegou a inexistência de outros elementos de prova material que pudessem indicar o início da convivência more uxório em período anterior ao casamento civil. Diante disso, pugnou pela improcedência da ação. O Autor apresentou impugnação à contestação (ID 171116315) em 02 de outubro de 2024, reiterando os argumentos expostos na inicial. Afirmou que a contestação da autarquia ré estava equivocada e que a convivência em união estável desde 26 de janeiro de 2018, somada ao período de casamento, totaliza 04 (quatro) anos de relacionamento, o que afastaria a limitação temporal do benefício. Requereu a rejeição das arguições da contestação e a total procedência dos pedidos formulados na exordial. Após a fase postulatória, por decisão de 13 de janeiro de 2025 (ID 180535247), as partes foram intimadas para especificarem as provas que pretendiam produzir, justificando a pertinência e a objetividade dos fatos a serem demonstrados. Contudo, conforme certidão de 24 de fevereiro de 2025 (ID 185186245), ambas as partes deixaram transcorrer o prazo legal sem qualquer manifestação quanto à produção de provas. Vieram os autos conclusos para sentença. II – FUNDAMENTAÇÃO Não havendo preliminares ou questões processuais pendentes de análise, passo ao julgamento do mérito. Pois bem. A pensão por morte é um benefício previdenciário garantido pelo art. 201, inciso V, da Constituição Federal, caracterizado como uma prestação de pagamento continuado. Sua concessão, em regra, exige o cumprimento de três requisitos essenciais: (1) o falecimento do segurado; (2) a comprovação de sua qualidade de segurado no momento do óbito; e (3) a dependência econômica do requerente em relação ao falecido na data do falecimento. (1) Falecimento do Segurado: O óbito de Maria Lisdete Pereira de Souza Santos ocorreu em 22/05/2022 (ID 163645977). Sobre o tema, dispõe a Súmula 340 Superior Tribunal de Justiça: “A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do óbito do segurado”. Neste sentido, a jurisprudência: PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. REQUISITOS. QUALIDADE DE DEPENDENTE . SEPARAÇÃO DE FATO. MANUTENÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADA POR PROVA TESTEMUNHAL. 1 A concessão do benefício de pensão por morte depende do preenchimento dos seguintes requisitos: a) a ocorrência do evento morte; b) a condição de dependente de quem objetiva a pensão; c) a demonstração da qualidade de segurado do de cujus por ocasião do óbito. O benefício independe de carência e é regido pela legislação vigente à época do óbito. 2. Diante do conjunto probatório produzido nos autos, tem-se o reconhecimento da qualidade de dependente da autora à época do falecimento do instituidor, restando comprovada a continuidade do convívio conjugal até o evento morte . 3. A qualidade de dependente da autora na condição de viúva, comprovada pela certidão de casamento, é presumida, de acordo com o art. 16, I da Lei 8.213/1991 . (TRF-4 - AC: 50532277920214047000 PR, Relator.: MÁRCIA VOGEL VIDAL DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 23/05/2023, 10ª Turma) (grifei) Assim, aplicam-se ao caso as normas dos arts. 16, 26, e 74 a 79, da Lei n. 8.213/91, com a redação em vigor na data do óbito. (2) Comprovação da qualidade de segurado no momento do óbito: No caso em tela, a qualidade de segurada da instituidora, Sra. MARIA LISDETE PEREIRA DE SOUZA SANTOS, é incontroversa, tendo sido expressamente reconhecida pelo próprio INSS na negativa administrativa (ID 163645985), que concedeu o benefício inicialmente, ainda que por período limitado. (3) Dependência econômica e união estável: A união estável é reconhecida pelo art. 226, § 3º, da Constituição Federal e seus critérios estão dispostos no art. 1.723 do Código Civil: Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. Pela leitura do dispositivo, conclui-se que para a configuração da união estável são exigíveis cumulativamente: (1) convivência pública - sem ocultação da relação perante a sociedade; (2) contínua e duradoura - sem interrupção; e (3) propósito de constituir família - representado pelo vínculo familiar e social da união como uma entidade familiar. Sobre o tema, no que se refere a previdência, a dependência econômica do companheiro é presumida, nos termos do art. 16, inciso I e § 4º, da Lei n. 8.3213/91: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; (...) § 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada A propósito: PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO. PENSÃO POR MORTE. UNIÃO ESTÁVEL . QUALIDADE DE SEGURADO E DEPENDÊNCIA ECONÔMICA COMPROVADAS. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. ART. 74, INCISOS I E II, DA LEI Nº 8 .213/91. 1. A concessão do benefício de pensão por morte, previsto no art. 74 da Lei 8 .213/1991, depende do preenchimento dos seguintes requisitos: (1) ocorrência do evento morte, (2) condição de dependente de quem objetiva a pensão e (3) demonstração da qualidade de segurado do de cujus por ocasião do óbito. 2. Nos termos do art. 16, inciso I, da Lei 8 .213/1991, são beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, como dependentes, o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. A dependência econômica de tais beneficiários é presumida (Lei 8.213/1991, art. 16, § 4º) . 3. No caso, são incontroversos a condição de segurado do instituidor e que a parte a autora e o falecido mantinham união estável, havendo presunção de dependência econômica, a qual foi corroborada pelo conjunto probatório. (TRF-4 - AC: 50368457920194047000 PR, Relator.: MARCOS ROBERTO ARAUJO DOS SANTOS, Data de Julgamento: 25/04/2023, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA) (grifei) Conclui-se, portanto, que para ter direito à pensão por morte, basta comprovar a condição de companheiro da falecida na data do óbito, sendo desnecessária a demonstração de dependência econômica. Para tanto, anexou o autor certidão de casamento datada de 24/09/2021 (ID 16345981), bem como “escritura pública declaratória de união estável “pós mortem”” declarando que a união estável iniciou em 26/01/2018 (ID 163645979), tendo sido reconhecida administrativamente sua condição de companheira, na data do óbito, pelo INSS. A condição de dependente do Autor, na qualidade de cônjuge é presumida por lei, conforme o artigo 16, inciso I, e § 4º, da Lei nº 8.213/91, como dito. Entretanto, o ponto nodal da discussão, cinge-se à duração do benefício, que é determinada pela extensão do vínculo conjugal ou de união estável, tendo a Autarquia concedido o benefício pela duração de 04 meses, por não ter reconhecido que a união durou por prazo superior a 02 (dois) anos, circunstância pela qual se insurge o autor, sendo objeto da presente ação. Nestes termos, o artigo 77, § 2º, inciso V, alínea 'b', da Lei nº 8.213/91, com a redação dada pela Lei nº 13.135/2015, estabelece que a pensão por morte será devida por apenas 04 (quatro) meses se o óbito do segurado ocorrer sem que o casamento ou a união estável tenha se iniciado há pelo menos 02 (dois) anos antes do óbito. A autarquia ré aplicou essa regra (ID 163645985), argumentando que o casamento civil entre o Autor e a instituidora, celebrado em 24 de setembro de 2021 (ID 163645981), e o óbito da segurada, ocorrido em 22 de maio de 2022 (ID 163645977), perfazem um período inferior a 02 (dois) anos. O Autor, por sua vez, alega que a convivência em união estável com a falecida teve início em 26 de janeiro de 2018, conforme escritura pública de união estável “pos mortem”, portanto, com prazo anterior ao casamento civil, e que a soma dos períodos de união estável e casamento totalizaria mais de 04 (quatro) anos de relacionamento, afastando a limitação temporal. Para comprovar tal alegação, o Autor juntou aos autos a escritura pública de declaração de união estável “pos mortem” (ID 163645979 e ID 163645980). Contudo, uma análise objetiva e detida dos documentos acostados ao processo revela uma particularidade crucial. As escrituras públicas de declaração de união estável (ID 163645979 e ID 163645980), embora declarem que a união estável teve início em 26 de janeiro de 2018, foram lavradas em 26 de julho de 2024. É imperioso notar que a data de lavratura dessas escrituras é posterior à data do óbito da Sra. MARIA LISDETE PEREIRA DE SOUZA SANTOS, que ocorreu em 22 de maio de 2022. Tal circunstância, por si só, não invalida a declaração, mas a torna uma declaração unilateral de um fato pretérito, e não um documento contemporâneo que comprove o início da união estável na data alegada. A contestação do INSS (ID 167836161) foi precisa ao apontar que a escritura declaratória de união estável foi assinada somente pelo Autor após a morte de sua esposa, e que não foram apresentados outros elementos de prova material que indicassem o início da convivência more uxório anterior ao casamento civil. De fato, o Autor não trouxe aos autos qualquer outro documento contemporâneo ao período alegado de união estável (26/01/2018 a 24/09/2021) que pudesse corroborar a existência e a estabilidade dessa união. Documentos como comprovantes de residência em comum, contas conjuntas, declarações de imposto de renda com dependência, apólices de seguro, ou qualquer outro indício material da vida em comum durante o período anterior ao casamento, não foram apresentados. É fundamental ressaltar que, em processos previdenciários, a comprovação de fatos que geram direitos, especialmente aqueles que dependem de um vínculo fático como a união estável, exige um início de prova material, que deve ser corroborado por outros meios de prova, como a testemunhal, se for o caso. Embora o artigo 55, § 3º, da Lei nº 8.213/91, se refira especificamente à comprovação de tempo de serviço, o princípio da necessidade de prova material para fatos relevantes é amplamente aplicado na jurisprudência previdenciária para evitar fraudes e garantir a segurança jurídica. No presente caso, a única prova material do relacionamento contemporânea ao período de sua existência é a escritura pública declaratória de união estável, que atesta o vínculo a partir de 24 de setembro de 2021. Ademais, este Juízo, em decisão de saneamento (ID 180535247), concedeu às partes a oportunidade de especificarem as provas que pretendiam produzir, com a devida justificativa. Tal medida visa a garantir o contraditório e a ampla defesa, permitindo que as partes demonstrem os fatos constitutivos de seu direito ou os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito alheio. Contudo, tanto o Autor quanto o Réu permaneceram inertes, conforme certidão de decurso de prazo (ID 185186245). A inércia do Autor em produzir provas adicionais, especialmente diante da impugnação específica do INSS quanto à validade da escritura pública como prova do início da união estável, reforça a ausência de elementos probatórios suficientes para comprovar o período de união estável alegado. Dessa forma, considerando-se exclusivamente a prova material apresentada nos autos, qual seja, a certidão de casamento civil datada de 24 de setembro de 2021, e a data do óbito da segurada em 22 de maio de 2022, verifica-se que o período de duração do vínculo conjugal foi de aproximadamente 08 (oito) meses. Este lapso temporal é, inequivocamente, inferior aos 02 (dois) anos exigidos pelo artigo 77, § 2º, inciso V, alínea 'b', da Lei nº 8.213/91, para que a pensão por morte não seja limitada a 04 (quatro) meses. A escritura pública de união estável, lavrada após o óbito da instituidora, não se mostra suficiente, por si só e sem qualquer outro elemento de prova material contemporâneo, para comprovar o início da união estável na data alegada pelo Autor e, consequentemente, afastar a aplicação da regra de limitação temporal do benefício. Portanto, a análise objetiva do conjunto probatório constante dos autos leva à conclusão de que o Autor não logrou êxito em demonstrar o preenchimento do requisito temporal para a concessão da pensão por morte sem a limitação de 04 (quatro) meses, nos termos da legislação previdenciária. A pretensão autoral, assim, não encontra respaldo nos elementos de prova produzidos. Entretanto, no julgamento do REsp 1352721/SP (TEMA 629/STJ), em sede de recurso repetitivo, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que nas ações previdenciárias, em vista da natureza das normas de proteção social, a ausência de prova a instruir a petição inicial implica no reconhecimento de ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo a sua extinção sem o julgamento do mérito, podendo o autor ajuizar novamente a ação reunindo novos elementos probatórios (Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, julg. 16/02/2015). Neste sentido, colaciono o seguinte julgado: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO RURAL. REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR . INÍCIO DE PROVA MATERIAL CORROBORADO POR DEPOIMENTO TESTEMUNHAL. RECONHECIMENTO. TRABALHO URBANO. PERÍODO RURAL POSTERIOR . AUSÊNCIA DE PROVA MATERIAL. TEMA 629 STJ. REAFIRMAÇÃO DA DER. POSSIBILIDADE . SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA (...). 4. Ante a inexistência de início de prova material suficiente à demonstração do trabalho rural em parte do período postulado, aplicável o Tema 629 do Superior Tribunal de Justiça, em que firmada a tese de que a ausência de conteúdo probatório eficaz para instruir o pedido implica a carência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo, impondo sua extinção sem o julgamento do mérito e a consequente possibilidade de a parte autora intentar novamente a ação, caso reúna os elementos necessários. 5 . Cabível o deferimento da aposentadoria mediante reafirmação da DER, com aproveitamento do tempo de contribuição posterior ao requerimento concessório, na linha da orientação adotada administrativamente e do Tema 995 do Superior Tribunal de Justiça. 6. A concessão do benefício mediante reafirmação da DER implica sucumbência recíproca entre as partes. (TRF-4 - AC - Apelação Cível: 50197136220214049999 RS, Relator.: HERLON SCHVEITZER TRISTÃO, Data de Julgamento: 12/02/2025, 11ª Turma, Data de Publicação: 12/02/2025) (grifei) III. DISPOSITIVO Ante o exposto, DECLARO EXTINTO o processo ajuizado por FRANCISCO VALTEMI FERREIRA DE SOUZA em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, sem apreciação do mérito, nos termos do art. 485, IV, do Código de Processo Civil. Sucumbente, condeno a parte autora ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios em 10% sobre o valor da causa, restando suspensa exigibilidade diante da justiça gratuita deferida. A sentença não está sujeita a recurso necessário, por força do disposto no § 3º, I, do artigo 496 do CPC. Havendo recurso: Na hipótese de interposição do recurso de apelação, certifique-se acerca da tempestividade e, em seguida, intime-se a parte recorrida para, no prazo 15 (quinze) dias, apresentar suas contrarrazões de apelação, na forma do artigo 1.010, §1º do CPC. Após, com ou sem contrarrazões recursais, voltem para análise do recurso. Preclusa a via recursal, certifique-se o trânsito em julgado e arquive-se com as baixas e cautelas de estilo. Publique-se. Registre-se. Cumpra-se, providenciando e expedindo o necessário, servindo a presente decisão como mandado/ofício/requisição. Às providências. São Félix do Araguaia-MT, data da assinatura eletrônica. LUÍS OTÁVIO TONELLO DOS SANTOS Juiz de Direito Substituto

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Andre Luiz Nunes Dos Santos e outros x Alianca Drogaria E Perfumaria - Ltda. e outros

ID: 278343937

Tribunal: TRT2 Órgão: Vara do Trabalho de Caieiras Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO SUMARíSSIMO Nº Processo: 1001476-86.2024.5.02.0211

Data de Disponibilização: 26/05/2025

Polo Ativo:

ANDRE LUIZ NUNES DOS SANTOS F. REZENDE CONSULTORIA EM GESTAO EMPRESARIAL LTDA.

Polo Passivo:

ALIANCA DROGARIA E PERFUMARIA - LTDA. DEMAC PRODUTOS FARMACEUTICOS LTDA FALIDO DROGADOTTO LTDA FALIDO DROGA EX LTDA DROGARIA BETOFARMA LTDA FALIDO DROGARIA DELMAR LTDA FALIDO DROGARIA METROFARMA LTDA FALIDO DROGARIA NOVA CAIEIRAS LTDA ESPIRITO SANTO GESTAO DE PARTICIPACOES SOCIETARIAS LTDA - EM RECUPERACAO JUDICIAL EM RECUPERACAO JUDICIAL FARMACIA DROGAROMERO LTDA FALIDO FARMACIA EX MG LTDA EM RECUPERACAO JUDICIAL FARMAGE FARMACIA DE MANIPULACAO LTDA HIPER MAGISTRAL DE POA LTDA FALIDO HIPER MAGISTRAL FARMACIA DE MANIPULACAO LTDA MIYAFARMA INTERIOR DROGARIAS LTDA FALIDO R V M GESTAO DE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPACOES SOCIETARIAS LTDA SARS BR GESTAO DE PARTICIPACOES SOCIETARIAS LTDA

Notificação

Advogados:

ALEXANDRE MANOEL GALVES DE OLIVEIRA

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RACHEL GARCIA

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MURILLO GRANDE BORSATO

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CRISTIANO KALKMANN

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FREDERICO ANTONIO OLIVEIRA DE REZENDE

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE CAIEIRAS ATSum 1001476-86.2024.5.02.0211 RECLAMANTE: ANDRE LUIZ NUNES DOS SANTOS RECLAMADO: D… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE CAIEIRAS ATSum 1001476-86.2024.5.02.0211 RECLAMANTE: ANDRE LUIZ NUNES DOS SANTOS RECLAMADO: DROGA EX LTDA (MASSA FALIDA DE) E OUTROS (16) INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID c8d8b90 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: 2. FUNDAMENTAÇÃO - RETIFICAÇÃO DO POLO PASSIVO Independentemente da decretação de falência da ré, não há como cadastrar no PJe a denominação "MASSA FALIDA DO GRUPO BIFARMA", por não se tratar de razão social com CNPJ registrado. Ademais, a condição de Massa Falida já consta da autuação no sistema eletrônico. Rejeito. - ESCLARECIMENTOS INICIAIS Elucida-se, por oportuno, e para evitar futura confusão processual, que as reclamadas serão identificadas pela ordem de cadastro no sistema PJe, e não por aquela trazida na petição inicial. - IMPUGNAÇÃO AOS DOCUMENTOS Inadmissíveis impugnações genéricas e não fundamentadas. O conteúdo dos documentos não foi, em si mesmo, objeto de contrariedade. Outrossim, os elementos probatórios serão analisados em seu conjunto. Rejeito. - IMPUGNAÇÃO AOS VALORES DA INICIAL. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO O valor atribuído à causa deve ter uma correspondência monetária com os pedidos, além do que norteia o rito processual a ser observado. No caso em tela, o valor ofertado pela parte guarda essa correlação (artigo 292 do CPC). Ademais, em caso de condenação, as custas serão calculas sobre o valor arbitrado pelo Juízo, inexistindo prejuízo nesse particular. Rejeito. Tratando-se, contudo, de ação ajuizada pelo Rito Sumaríssimo, após o início de vigência da Lei nº 13.467/2017, que passou a exigir a indicação do valor líquido, deverá ser observado como limite de eventual condenação (antes da atualização), os importes indicados em cada um dos pedidos. - HOMOLOGAÇÃO DE DESISTÊNCIA (15ª RECLAMADA) Ratifico a homologação da desistência da ação no que tange à 15ª reclamada (ALIANÇA DROGARIA E PERFUMARIA - LTDA), conforme ID 0833aa1, para que surtam seus legais e jurídicos efeitos, pelo que julgo extintos os pedidos, quanto a ela, sem resolução de mérito (artigo 485, VIII, do CPC). - ILEGITIMIDADE PASSIVA A legitimidade da parte, caracterizada pela eventual pertinência subjetiva da lide, consiste em uma das condições da ação e, como tal, deve ser aferida em abstrato. Desse modo, verificando pela leitura da petição inicial que o reclamante indicou as reclamadas como devedoras da relação jurídica material, legitimadas estão para figurar no polo passivo da ação. A análise sobre eventual responsabilidade acerca das verbas postuladas diz respeito ao mérito. Rejeito. - PRESCRIÇÃO Distribuída a ação em 18/11/2024, declaro fulminadas, pela prescrição quinquenal, as pretensões com data anterior a 18/11/2019, por inexigíveis (artigo 7º, inciso XXIX, da CF), julgando-as extintas, com resolução de mérito (artigo 487, II, CPC). - DIREITO INTERTEMPORAL Despicienda a análise, pois a despeito de o contrato de trabalho haver se iniciado em 2013, encontram-se abarcadas pela prescrição quinquenal as pretensões anteriores a 18/11/2019, data essa posterior ao início de vigência da Lei nº 13.467/2017, inteiramente aplicável ao caso concreto. - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES AO MÉRITO (REVELIA E CONFISSÃO DA 12ª E 16ª RECLAMADAS) A 12ª e 16ª reclamadas (DROGARIA NOVA CAIEIRAS LTDA e R V M GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA, respectivamente), devidamente citadas (ID 28e3d7f e ID ae2465c), foram declaradas revéis e confessas quanto às matérias de fato (ID 7c5ce7a), diante das ausências injustificadas na audiência em que deveriam depor, deixando, também, de apresentar defesas. Ratifico a decisão. - NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO. VERBAS TRABALHISTAS. MULTAS CELETISTAS O reclamante afirma que foi compelido a pedir demissão, visto que a reclamada não estava cumprindo para com suas obrigações legais (atraso de salários, não pagamento de 13º salários e não recolhimento de FGTS). Postula a rescisão indireta do contrato de trabalho. A resilição contratual por ato do empregado consiste na declaração unilateral de vontade, de natureza potestativa, com poderes para colocar fim ao contrato de trabalho, que vincula ao respectivo empregador. Tal declaração de vontade, consoante ensinamentos de Maurício Godinho Delgado, possui natureza receptícia e constitutiva, com efeitos imediatos, tão logo recebida pela parte adversa (efeitos ex nunc), consubstanciado em direito potestativo da pessoa natural que presta serviços nos moldes empregatícios (Curso de Direito do Trabalho. 13ª Ed. São Paulo. LTr: 2014, pág. 11237). Destarte, formulado o pedido de demissão pelo reclamante, reputa-se ato jurídico perfeito e acabado, podendo ser, contudo, anulado com a prova de vício de consentimento. Constitui vício do consentimento, que tem o condão de anular o negócio jurídico, o erro ou ignorância (artigo 138, CC), o dolo (artigo 145, CC), a coação (artigo 151, CC), o estado de perigo (artigo 156, CC) e a lesão (artigo 157, CC). No caso dos autos, o obreiro afirma que o pedido de demissão deu-se em razão de atraso de salários, não pagamento de 13º salários e não recolhimento de FGTS. Os motivos elencados, contudo, não podem ser interpretados como vícios de consentimento, capazes de macular a manifestação de vontade do trabalhador, inclusive porque, em vez de pedir demissão, o autor poderia ter postulado, naquela oportunidade, a rescisão indireta do contrato, na forma do artigo 483, §3º, da CLT. E nem se alegue que o reclamante desconhecia o instituto da rescisão indireta, naquele momento, pois “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (artigo 3º da LINDB). Por consequência, uma vez mantida a resilição contratual por iniciativa do autor (pedido de demissão), julgo improcedentes os pedidos de aviso prévio indenizado e projeções, multa de 40% sobre o FGTS e expedição de guias. Por outro lado, a empregadora deixou de acostar aos autos o TRCT e respectivo recibo de pagamento das verbas rescisórias, pelo que julgo procedentes os seguintes pedidos: saldo de salário (16 dias);13º salário proporcional (3/12);férias integrais simples + 1/3 (2021/2022, ponderando o erro material da exordial - fls.10 do PDF);férias proporcionais + 1/3 (7/12);depósitos de FGTS faltantes, que deverá ser realizado por meio de depósito na conta vinculada do autor, nos termos do artigo 26-A da Lei nº 8.036/90, estando vedado o saque, ante o pedido de demissão. Para que não haja enriquecimento sem causa, deverá o reclamante acostar aos autos o extrato analítico de sua conta vinculada, para a apuração em fase de liquidação, a fim de se excluir dos cálculos eventuais depósitos de FGTS já efetivados pela empresa. Em razão da ausência de pagamento das verbas rescisórias e ponderando que a falência da empregadora foi decretada apenas em 28/11/2024 (fls.666 do PDF), ou seja, muito após o pedido de demissão do autor, ocorrido em 16/03/2023 (fls.15 do PDF), julgo procedente o pedido relacionado à multa prevista no artigo 477, §8º, da CLT, por inaplicável ao caso o teor da Súmula 388 do C. TST. Diante da ausência de comprovação de pagamento das verbas rescisórias, e pelos mesmos fundamentos elencados no parágrafo anterior, julgo procedente o pedido de incidência da multa processual contida no artigo 467 da CLT, que deverá ocorrer apenas sobre as verbas rescisórias típicas e incontroversas (saldo de salário, 13º salário proporcional, férias integrais simples + 1/3 e férias proporcionais + 1/3). - RESPONSABILIDADE DAS DEMAIS RECLAMADAS Considerando o fato de a 1ª reclamada até a 11ª reclamada fazerem parte da Massa Falida, reconheço a existência de grupo econômico entre elas, sob a denominação BIFARMA. Com relação à 12ª e 16ª rés (DROGARIA NOVA CAIEIRAS LTDA e R V M GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA, respectivamente), diante da confissão ficta aplicada e considerando o objeto social similar de atuação no âmbito farmacêutico, inclusive mediante holdings (fls.245 do PDF), reconheço a existência de grupo econômico entre si, bem como com o grupo BIFARMA, conforme empresas e sócios relacionados nas informações contidas nas fichas cadastrais JUCESP (fls.52 e fls.245/247 do PDF). Por derradeiro, no que tange à 13ª, 14ª e 17ª reclamadas (SARS BR GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA, HIPER MAGISTRAL FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO LTDA e FARMAGE FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO LTDA, respectivamente), vale frisar, de início, que, considerando a defesa conjunta apresentada (ID b6a0672), bem como a qualificação constante na Ata de Audiência (ID 7c5ce7a), tais empresas constituem grupo econômico entre si, estando representadas pela mesma preposta (Sra. ELIZIENE SANTIAGO). Além dessa circunstância, referidas rés possuem (ou já possuíram) sócios e administradores em comum, a exemplo do Sr. ALEXANDRE DELLA COLETTA, Sr. RICARDO DOS SANTOS BALLOGH e Sr. VANCLER DE SOUZA (fls.33/36 e fls.330/332 do PDF), sendo também possível identificar nas fichas JUCESP informações quanto à íntima relação das mencionadas rés com outros sócios das empresas que compõem o grupo BIFARMA, notadamente na parte de observações, quanto às pendências judiciais (fls.330/332 e fls.347/351do PDF). Destarte, nos termos do artigo 2º, §2º, da CLT, sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas. Desse modo, pelo prisma do grupo econômico, com confusão societária, reconheço a responsabilidade solidária de todas as reclamadas, à exceção da 15ª ré, cuja desistência foi homologada, pelos créditos devidos ao autor. - JUSTIÇA GRATUITA Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência de recursos deduzida exclusivamente por pessoa natural, conforme previsto no artigo 99, §3º, do CPC, aplicado ao Processo do Trabalho por força do artigo 15 do CPC e artigo 769 da CLT. Tendo a parte autora juntado aos autos declaração de hipossuficiência (fls.14 do PDF), reputo devidamente comprovada a afirmação (artigo 790, §4º, da CLT), pelo que concedo os benefícios da justiça gratuita (artigo 790, §3º, da CLT). - HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS O artigo 791-A da CLT estipula serem devidos os honorários de sucumbência com percentuais entre 5% e 15% sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. Consagra-se, portanto, o princípio da causalidade, sendo devido o pagamento de honorários por aquele que deu causa à demanda. Deve ser entendida como sucumbência a total improcedência do pedido, sendo que o acolhimento, mesmo que parcial ou com quantificação inferior ao postulado, como é caso em que parte das parcelas é afetada pela prescrição, não caracteriza sucumbência parcial, porquanto o bem da vida postulado restou acolhido (Enunciado nº 99 da 2ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho e Súmula 326 do STJ). Quanto à sua quantificação, devem ser observados o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço (artigo 791-A, §2º, da CLT). Desse modo, nos termos do artigo 791-A, §3º, da CLT, condeno todas as reclamadas, solidariamente, ao pagamento de honorários sucumbenciais, na quantia correspondente a 10% do valor que resultar da liquidação da sentença. De outro lado, considerando a sucumbência recíproca, condeno o autor ao pagamento dos honorários sucumbenciais, na quantia equivalente a 10% do valor atribuído na petição inicial, de maneira atualizada, aos pedidos julgados improcedentes, cuja quantia deverá ser repartida entre os patronos comuns da 1ª reclamada até a 11ª reclamada (50%), bem como com os patronos comuns da 13ª, 14ª e 17ª reclamadas (50%), considerando a revelia da 12ª e 16ª rés, bem como a desistência com relação à 15ª ré, não representadas por advogados. Acerca do artigo 791-A, §4º, da CLT, cumpre registrar que, em 20/10/2021, foi realizado o julgamento dos pedidos formulados na ADI 5766, em que o STF decidiu pela inconstitucionalidade da regra que obriga a parte autora, beneficiária da gratuidade da justiça, ao pagamento imediato de honorários advocatícios sucumbenciais. Assim, consoante parte final do artigo 791-A, §4º, da CLT, e em conformidade com o quanto decidido pelo STF no julgamento da ADI 5766, as obrigações decorrentes da sucumbência da parte autora poderão ser executadas se, nos 02 anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. - COMPENSAÇÃO/DEDUÇÃO Quanto à compensação, não restou comprovado que as reclamadas eram credoras do reclamante, pelo que indefiro. Lado outro, autorizo o abatimento de valores eventualmente já pagos ao autor, sob idêntica rubrica, a fim de evitar seu enriquecimento ilícito. - PARÂMETROS DE LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULOS No que tange à correção monetária, os valores deferidos serão atualizados a partir do mês subsequente ao vencido, nos termos do artigo 459, parágrafo único, da CLT e Súmula 381 do C. TST, observando-se, em qualquer caso, o regramento contido na ADC 58 e ADC 59 (IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da distribuição, a incidência da taxa SELIC, na forma do artigo 406 do Código Civil), atentando-se para as especificidades contidas na Lei nº 11.101/2005. Em relação aos juros de mora, a taxa SELIC, incidente para atualização do débito, expurga a incidência dos juros, nos termos da ADC 58 e ADC 59, aclarados em Embargos de Declaração. A partir da vigência da Lei nº 14.905/2024, a correção monetária dar-se-á pela variação do IPCA (parágrafo único do artigo 389 do Código Civil), enquanto que os juros legais corresponderão à diferença entre a Taxa Selic e o IPCA, conforme previsão expressa do artigo 406, §1º, sendo que os juros legais corresponderão a zero nos meses em que a variação do IPCA for maior que a Taxa Selic (artigo 405, §3º, do Código Civil), conforme recente decisão proferida pelo C. TST (RRAg: 01005232120185010039, Relator: Amaury Rodrigues Pinto Junior, Data de Julgamento: 18/09/2024, 1ª Turma, Data de Publicação: 20/09/2024). Natureza das parcelas conforme artigo 28 da Lei nº 8.212/91, sendo salariais: saldo de salário; 13º salário proporcional. Quanto às contribuições previdenciárias, de responsabilidade da parte reclamada e da parte reclamante, deverão ser calculadas, recolhidas e comprovadas nos autos, sob pena de execução (artigo 33, §5°, da Lei n° 8.212/91), conforme as disposições no artigo 114, §3º, da Constituição Federal. As contribuições previdenciárias definidas nesta sentença se restringem àquelas previstas no artigo 195, I, e II, da CF. Resta, desde já, autorizada a dedução, pelas reclamadas, das contribuições previdenciárias, incidentes sobre o crédito da parte reclamante, devendo ser calculadas mês a mês (artigo 276, §4º, do Decreto nº 3.048/99, que regulamentou a Lei nº 8.212/91), nos termos da Súmula 368, III, do C. TST, aplicando-se as alíquotas previstas no artigo 198 do referido Decreto, observado o limite máximo do salário de contribuição. A atualização do crédito devido à Previdência Social, em caso de mora, observará os critérios estabelecidos na legislação previdenciária (artigo 879, §4º, da CLT). As reclamadas deverão proceder à retenção dos valores relativos às contribuições fiscais, nos termos da primeira parte do inciso II da Súmula 368 do C. TST, as quais deverão ser calculadas mês a mês, conforme artigo 12-A da Lei nº 7.713/88, Súmula 368, II, do C. TST, Lei nº 8.541/92 e IN nº 1500/2014, da Receita Federal do Brasil, ficando excluídos dos cálculos as parcelas de natureza indenizatória. Não incide imposto de renda em juros de mora aplicados sobre rendimentos decorrentes de decisões judiciais, por se tratar de verba indenizatória (OJ 400, da SDI-1, do C. TST). - OFÍCIOS Indefiro a expedição dos ofícios requeridos, uma vez que o Juízo valora sua necessidade, sendo possível a comunicação a referidos órgãos a qualquer tempo, caso necessário. 3. DISPOSITIVO Ante o exposto, na ação ajuizada por ANDRÉ LUIZ NUNES DOS SANTOS em face de DROGA EX LTDA (1ª reclamada), DEMAC PRODUTOS FARMACÊUTICOS LTDA FALIDO (Massa Falida de) (2ª reclamada), FARMÁCIA DROGAROMERO LTDA - FALIDO (3ª reclamada), DROGARIA METROFARMA LTDA (Massa Falida de) (4ª reclamada), ESPÍRITO SANTO GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA (Massa Falida de) (5ª reclamada), MIYAFARMA INTERIOR DROGARIAS LTDA (Massa Falida de) (6ª reclamada), FARMÁCIA EX MG LTDA (Massa Falida de) (7ª reclamada), DROGARIA DELMAR LTDA - FALIDO (8ª reclamada), HIPER MAGISTRAL DE POÁ LTDA (Massa Falida de) (9ª reclamada), DROGADOTTO LTDA (Massa Falida de) (10ª reclamada), DROGARIA BETOFARMA LTDA - FALIDO (11ª reclamada), DROGARIA NOVA CAIEIRAS LTDA (12ª reclamada), SARS BR GESTÃO DE PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA (13ª reclamada), HIPER MAGISTRAL FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO LTDA (14ª reclamada), ALIANÇA DROGARIA E PERFUMARIA - LTDA (15ª reclamada), R V M GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA (16ª reclamada) e FARMAGE FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO LTDA (17ª reclamada), decido: - rejeitar as impugnações apresentadas; - limitar o valor da condenação (antes da atualização) aos valores indicados na petição inicial, por se tratar de ação ajuizada pelo Rito Sumaríssimo, nos termos da Lei nº 13.467/2017; - ratificar a homologação da desistência da ação no que tange à 15ª reclamada (ALIANÇA DROGARIA E PERFUMARIA - LTDA), conforme ID 0833aa1, para que surtam seus legais e jurídicos efeitos, pelo que julgo extintos os pedidos, quanto a ela, sem resolução de mérito (artigo 485, VIII, do CPC); - rejeitar a preliminar suscitada; - declarar fulminadas, pela prescrição quinquenal, as pretensões com data anterior a 18/11/2019, por inexigíveis (artigo 7º, inciso XXIX, da CF), julgando-as extintas, com resolução de mérito (artigo 487, II, CPC); - ratificar a decisão que declarou a 12ª e 16ª reclamadas (DROGARIA NOVA CAIEIRAS LTDA e R V M GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA, respectivamente) revéis e confessas quanto às matérias de fato (ID 7c5ce7a); - JULGAR PROCEDENTES EM PARTE os pedidos autorais, para condenar todas as reclamadas, solidariamente, à exceção da 15ª ré, cuja desistência foi homologada, ao pagamento de: saldo de salário (16 dias);13º salário proporcional (3/12);férias integrais simples + 1/3 (2021/2022, ponderando o erro material da exordial - fls.10 do PDF);férias proporcionais + 1/3 (7/12);depósitos de FGTS faltantes, que deverá ser realizado por meio de depósito na conta vinculada do autor, nos termos do artigo 26-A da Lei nº 8.036/90, estando vedado o saque, ante o pedido de demissão;multa prevista no artigo 477, §8º, da CLT;multa processual contida no artigo 467 da CLT, que deverá incidir apenas sobre as verbas rescisórias típicas e incontroversas (saldo de salário, 13º salário proporcional, férias integrais simples + 1/3 e férias proporcionais + 1/3); tudo nos termos e limites da fundamentação supra. Para que não haja enriquecimento sem causa, deverá o reclamante acostar aos autos o extrato analítico de sua conta vinculada, para a apuração em fase de liquidação, a fim de se excluir dos cálculos eventuais depósitos de FGTS já efetivados pela empresa. Concedo ao autor os benefícios da justiça gratuita. Honorários sucumbenciais, conforme fundamentação. Autorizo o abatimento de valores eventualmente já pagos ao autor, sob idêntica rubrica, a fim de evitar seu enriquecimento ilícito. Correção monetária, juros, natureza das parcelas, contribuições previdenciárias e fiscais, nos termos dos parâmetros de liquidação por cálculos, conforme fundamentação. Tornado liquido o débito da 1ª reclamada até a 11ª reclamada, expeça-se certidão para habilitação do crédito no Juízo Falimentar, ficando sobrestada a execução com relação a elas (artigo 6º, §2º e §3º, e artigo 9ª, ambos da Lei nº 11.101/2005), com o objetivo de preservar os atos que estão sendo praticados perante aquele Juízo. Custas por todas as reclamadas, à exceção da 15ª ré, cuja desistência foi homologada, calculadas sobre o valor da condenação, ora arbitrado em R$ 20.000,00, no importe de R$ 400,00, das quais ficam isentas as empresas que compõem a Massa Falida (Súmula 86 do C. TST), restando consignado que empresas em recuperação judicial estão isentas apenas do depósito recursal, nos termos do artigo 899, §10, da CLT. Ciência às partes. Nada mais. TATIANE PASTORELLI DUTRA Juíza do Trabalho Substituta Intimado(s) / Citado(s) - ANDRE LUIZ NUNES DOS SANTOS

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Ligia Santos De Abreu x Leo W M De F P Dantas

ID: 323660778

Tribunal: TRT7 Órgão: OJ de Análise de Recurso Classe: RECURSO ORDINáRIO - RITO SUMARíSSIMO Nº Processo: 0001025-61.2024.5.07.0010

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

LIGIA SANTOS DE ABREU

Polo Passivo:

LEO W M DE F P DANTAS

Notificação

Advogados:

IRENO ROMERO DE MEDEIROS CRISPINIANO

OAB/RN XXXXXX Desbloquear

RODRIGO OLIVEIRA ALCANTARA FONTENELE

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO OJC DE ANÁLISE DE RECURSO Relator: JOSE ANTONIO PARENTE DA SILVA RORSum 0001025-61.2024.5.07.0010 RECORRENTE: LIG… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO OJC DE ANÁLISE DE RECURSO Relator: JOSE ANTONIO PARENTE DA SILVA RORSum 0001025-61.2024.5.07.0010 RECORRENTE: LIGIA SANTOS DE ABREU RECORRIDO: LEO W M DE F P DANTAS INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Decisão ID 58bf33b proferida nos autos. RORSum 0001025-61.2024.5.07.0010 - 3ª Turma Recorrente: Advogado(s): 1. LIGIA SANTOS DE ABREU RODRIGO OLIVEIRA ALCANTARA FONTENELE (CE31190) Recorrido: Advogado(s): LEO W M DE F P DANTAS IRENO ROMERO DE MEDEIROS CRISPINIANO (RN6975) RECURSO DE: LIGIA SANTOS DE ABREU PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS Recurso tempestivo (decisão publicada em 07/05/2025 - Id 3683ff7; recurso apresentado em 19/05/2025 - Id aed2844). Representação processual regular (Id 2a0f44e ). Preparo dispensado (Id 3db9bcb ). PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS A presente demanda está tramitando sob o rito sumaríssimo. O recurso de revista, em tal hipótese, somente tem cabimento por contrariedade a Súmula da jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho ou a Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal ou, ainda, por violação direta à Constituição da República, a teor do artigo 896, § 9º, da Consolidação das Leis do Trabalho e da Súmula n.º 442 do Tribunal Superior do Trabalho. 1.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO (8826) / ATOS PROCESSUAIS (8893) / CITAÇÃO Alegação(ões): - divergência jurisprudencial. Violações, ofensas ou contrariedades aos dispositivos constitucionais e legais alegadas: Constituição Federal de 1988: Artigo 5º, incisos LIV e LV. Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): Art. 841, §1º. Súmula 16 do TST. A parte recorrente alega, em síntese: Nulidade da citação: A parte recorrente discute a validade da citação, alegando que o acórdão recorrido considerou nula a citação por ausência de Aviso de Recebimento (AR). Violação a dispositivos legais e constitucionais: A parte recorrente alega violação ao art. 841, §1º, da CLT e ao artigo 5º, LIV e LV, da CF/1988. Contrariedade à Súmula 16 do TST: A parte recorrente argumenta que a decisão contraria a Súmula 16 do TST. Mérito da ação: A parte recorrente busca a reforma do acórdão para que seja reconhecida a validade da citação e, consequentemente, restaurada a sentença de mérito que acolheu seus pedidos, incluindo estabilidade gestante e verbas rescisórias. As Violações e Contrariedades Apontadas são: Constituição Federal de 1988: Artigo 5º, incisos LIV e LV (Devido processo legal, contraditório e ampla defesa). Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): Art. 841, §1º (Notificação postal). Súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST): Súmula 16 (Validade da citação). A parte recorrente requer: [...] Diante do exposto, requer: O recebimento do presente Recurso de Revista; O seu regular processamento e remessa ao Tribunal Superior do Trabalho; Ao final, o provimento do recurso para que seja reformado o acórdão, reconhecendo-se a validade da citação e, por consequência, restaurando-se a sentença de mérito que acolheu integralmente os pedidos da reclamante, inclusive quanto à estabilidade gestante e verbas rescisórias. [...] Fundamentos do acórdão recorrido: […] 1. ADMISSIBILIDADE. Recurso tempestivo, representação regular, custas e depósito recursal recolhidos. Preenchidos, ainda, os pressupostos intrínsecos de admissibilidade recursal, merece conhecimento o apelo. 2. PRELIMINAR. NULIDADE DA SENTENÇA. VÍCIO DE CITAÇÃO. A parte reclamada aduz a existência de vício da citação inicial em razão da notificação por meio do sistema "e-carta", sem certificação pelos Correios. Defende que "Embora conste dos autos, extrato do "E-Carta", dando conta da informação grafada como "Entregue ao destinatário", o fato é que a empresa reclamada não recebeu carta alguma (citação). Tanto é que, além do extrato com tal indicação, não há nos autos, PROVA de que tenha a empresa recebido efetivamente, a comunicação judicial.". Aponta cerceamento de defesa decorrente da violação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Conforme ata de audiência (ID.5a71ba3), a reclamada não compareceu à audiência inaugural nem apresentou defesa, sendo considerada revel com base no art.844 da CLT, e aplicada a pena de confissão quanto a matéria de fato, com encerramento da prova oral. A decisão foi ratificada em sentença (ID.fe01a0e). Pronunciou-se, ainda, o magistrado de origem, em sede de embargos de declaração (ID.8926839): "Em análise detida dos autos, verifico que foi expedida notificação postal para o reclamado, no endereço constante no documento de id. a2375b5, direcionado para MONSENHOR TABOSA - ATE 746 - LADO PAR, 680, CENTRO, FORTALEZA/CE - CEP: 60165-010, mesmo endereço que consta no contrato social do reclamado apresentado aos autos (doc. be03f76), cuja diligência retornou com o status de "objeto entregue ao destinatário". Não obstante, vejo que o reclamado não compareceu a audiência e nem apresentou defesa nos autos, motivo pelo qual foi decretada a sua revelia com a aplicação dos seus consectários legais. Concomitantemente a realização da assentada, vejo que o advogado do reclamado acessou os autos, mediante o acesso de terceiros, sem nada pronunciar, vindo a, posteriormente, e após a prolação da sentença, questionar, sem sucesso, a citação, cuja intimação foi direcionada para o mesmo endereço constante na exordial. Ora, alega o reclamado que tomou ciência da presente ação por meio dos comentários feitos pela reclamante afirmando que teria tido uma sentença de procedência, todavia o que consta nos autos é o oposto, visto que o seu acesso ao processo se deu após a realização da audiência e antes mesmo da prolação da sentença, nada tendo sido apresentado. É cediço que as intimações, no processo do trabalho, não necessitam ocorrer pessoalmente para que sejam consideradas válidas, a tanto bastando que sejam entregues no endereço correto, cabendo ao destinatário o ônus de comprovar o não recebimento, por alguns motivos, dentre os quais mudança de endereço em data posterior a propositura da ação, o que não ocorreu no presente caso, visto que as alegações da parte ré foram por bastante genéricas, não servindo para, por si só, caracterizar irregularidade no recebimento e consequente nulidade da citação. Em idêntico trilhar, cito o arresto do Superior Tribunal do Trabalho que assim dispõe: AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA . LEI Nº 13.467/2017. NULIDADE DA CITAÇÃO. NÃO RECEBIMENTO. ÔNUS DE PROVA DO DESTINATÁRIO. AUSÊNCIA DE AVISO DE RECEBIMENTO (AR). RASTREAMENTO. VALIDADE. ACÓRDÃO REGIONAL. RECORRIBILIDADE IMEDIATA. NATUREZA NÃO INTERLOCUTÓRIA. SÚMULA Nº 214, A, DO TST. Constatado equívoco na decisão agravada, dá-se provimento ao agravo para determinar o processamento do agravo de instrumento. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. NULIDADE DA CITAÇÃO. NÃO RECEBIMENTO. ÔNUS DE PROVA DO DESTINATÁRIO. AUSÊNCIA DE AVISO DE RECEBIMENTO (AR). RASTREAMENTO. VALIDADE . TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA. Agravo de instrumento que se dá provimento , para determinar o processamento do recurso de revista, em face de haver sido demonstrada possível contrariedade à Súmula nº 16 do Tribunal Superior do Trabalho . RECURSO DE REVISTA . LEI Nº 13.467/2017. NULIDADE DA CITAÇÃO. NÃO RECEBIMENTO. ÔNUS DE PROVA DO DESTINATÁRIO. SÚMULA Nº 16 DO TST. AUSÊNCIA DE AVISO DE RECEBIMENTO (AR). RASTREAMENTO. VALIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA. Nos termos da Súmula nº 16 deste Tribunal Superior, "Presume-se recebida a notificação 48 (quarenta e oito) horas depois de sua postagem . O seu não-recebimento ou a entrega após o decurso desse prazo constitui ônus de prova do destinatário .". Ainda segundo dispõe o artigo 841, § 1º, da CLT, a citação (notificação inicial), no Processo do Trabalho, não necessita ocorrer pessoalmente para que seja considerada válida, a tanto bastando que seja entregue no endereço correto. Na espécie, ressalte-se que o TRT assim registrou: "No caso dos autos, verifico que foi enviada à reclamada notificação postal (código de rastreamento MH086364946BR), no endereço informado na petição inicial , sem o aviso de recebimento - AR . Entendo que o fato de constar na consulta feita ao site dos Correios que a referida notificação foi recebida pelo destinatário em 23/07/2019 às 14h01min, não confere a segurança necessária à confirmação da prática do ato citatório válido e regular, ante a ausência de recibo de entrega devidamente assinado". O que representa a prova cabal do registro, pelo rastreamento, da entrega, independentemente de assinatura no aviso de recebimento e de que não houve prova no sentido contrário ao que atesta a mencionada comprovação . Nesse contexto, entende esta Corte Superior que a ausência do Aviso de Recebimento (AR) não é suficiente, por si só, a caracterizar irregularidade no recebimento e consequente nulidade da citação, porquanto - reitere-se - há prova cabal do registro da entrega, pelo rastreamento, tal como registrado no caso. Precedentes. Transcendência política constatada. Recurso de revista conhecido e provido. (TST - RR: 110484220195180008, Relator: Claudio Mascarenhas Brandao, Data de Julgamento: 09/03/2022, 7ª Turma, Data de Publicação: 18/03/2022). Dessa forma, não havendo prova inequívoca do não recebimento, ônus sobre o qual não se desincumbiu o reclamado, não logrando êxito em demonstrar eventual mudança de endereço, conheço dos embargos de declaração para, no mérito, não acolhe-los, mantendo válida a citação, tudo nos termos acima e em conformidade com a certidão supra. Dito isto, deixo de apreciar a matéria de defesa apresentada pelo reclamado, posto que ocorreu a sua preclusão. Em face da interposição dos embargos de declaração, restitua-se o prazo para recurso às partes, nos termos do art. 1.026 do CPC.". Ao exame. A despeito da consagrada necessidade de simplificação procedimental, cumpre ater-se de forma cuidadosa às hipóteses de revelia em que o não comparecimento decorre de vício de citação resultante da precariedade da forma de notificação, havendo de se ponderar, no caso concreto, o peso da principiologia da proporcionalidade entre a simplificação e a segurança do procedimento, a se gerar vício transrescisório. Nesta ordem de ideias, o caso em apreço tece hipótese em que houve revelia da parte acionada pela ausência de comparecimento à audiência inaugural, alegando a reclamada que não houve citação válida. De acordo com a certidão de ID.e4ec120, em consulta ao sistema E-Carta, a notificação foi entregue ao destinatário dia 17/09/2024, todavia, inexistente aviso de recebimento. A reclamada não compareceu à audiência inaugural nem apresentou defesa, sendo considerada com base no art.844 da CLT. Em casos concretos tais, salta os olhos fragilidade procedimental ao não se ter comprovação de entrega assinada, servindo como prova mero histórico dos correios. Na teoria das provas, a demonstração de que não houve recebimento, em casos tais, é prova impossível ou diabólica. Sobre o tema, confira-se: "(....) RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA RECONHECIDA. NULIDADE PROCESSUAL. NOTIFICAÇÃO. AUDIÊNCIA INAUGURAL. NÃO COMPARECIMENTO. AVISO DE RECEBIMENTO - SEED NÃO DEVOLVIDO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 16/TST. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO. EXIGÊNCIA DE PROVA DE FATO NEGATIVO. 1. A presunção a que se refere à Súmula nº 16/TST pressupõe a juntada de aviso de recebimento nos autos. 2. Não verificada, no caso, a devolução do aviso de recebimento, afasta-se a incidência da Súmula nº 16/TST e, como consequência, impõe-se a decretação de nulidade do processo. Recurso de revista conhecido e provido." (TST - RR: 10014762020145020314, Relator: Hugo Carlos Scheuermann, Data de Julgamento: 13/10/2021, 1ª Turma, Data de Publicação: 15/10/2021). "NULIDADE PROCESSUAL INSANÁVEL. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO VÁLIDA. A citação inválida constitui ato obstativo à participação da parte ré na relação processual e, portanto, ao exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa, caracterizando nulidade processual. No caso concreto não há prova de citação válida da parte ré, nos termos do art. 841, § 1º, da CLT. Sem a efetiva e válida citação da parte ré, inexiste sua integração à lide. O que transparece dos autos é que a relação processual não se estabeleceu com a necessária triangularização, porque não há prova de que a Reclamada tenha sido notificada. Durante a fase cognitiva, a relação processual foi mantida apenas entre o autor e o Estado-Juiz. A nulidade ora apontada é insanável, pois a citação válida constitui pressuposto de validade da relação processual, nos termos do art. 239 do CPC. Recurso ordinário da parte ré a que se dá provimento para declarar a nulidade processual e determinar o retorno dos autos à origem, para o devido processamento do feito." (TRT-9 - ROT: 00001148720215090660, Relator: JANETE DO AMARANTE, Data de Publicação: 28/01/2022) Nesta ordem de ideias, resta inaplicável, ao caso, a Súmula nº 16 do c.TST. De se ressaltar que a citação é pressuposto de existência e regularidade do processo, porquanto viabiliza o chamamento do réu para compor a relação processual, além de representar a materialização dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Trata-se, pois, de ato processual a ser realizado com as cautelas necessárias diante da importância que se reveste para a concretização da garantia do devido processo legal. Assim, impende declarar a nulidade do ato citatório e de todos os atos processuais subsequentes. Em consequência, determina-se o retorno dos autos à Vara de origem para que se providencie a regular citação da reclamada e prossiga na instrução do feito. Acolhida a preliminar, restam prejudicadas as demais questões veiculadas no apelo. CONCLUSÃO DO VOTO VOTO por conhecer do recurso ordinário e acolher a preliminar para declarar a nulidade do ato citatório e de todos os atos processuais subsequentes, com o retorno dos autos à Vara de Origem para que providencie a regular citação da reclamada e prossiga na instrução do feito. […] Acórdão recorrido sintetizado na seguinte ementa: […] DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO. RECURSO ORDINÁRIO. NULIDADE DA CITAÇÃO. NOTIFICAÇÃO VIA SISTEMA "E-CARTA". AUSÊNCIA DE AVISO DE RECEBIMENTO. VIOLAÇÃO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. NULIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS SUBSEQUENTES. I. CASO EM EXAME Recurso ordinário interposto pela reclamada, sob alegação de nulidade da citação, em razão de notificação realizada por meio do sistema "e-Carta" sem comprovação de entrega por aviso de recebimento. Defende que a ausência de citação válida impediu sua participação na audiência inaugural, resultando na decretação de revelia e confissão quanto à matéria de fato. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO A questão em discussão consiste em definir se a ausência de aviso de recebimento na notificação encaminhada via sistema "e-Carta" compromete a validade da citação, configurando cerceamento de defesa e impondo a nulidade dos atos processuais subsequentes. III. RAZÕES DE DECIDIR A citação válida é pressuposto essencial de existência e regularidade do processo, assegurando o contraditório e a ampla defesa, conforme os princípios constitucionais do devido processo legal. No processo do trabalho, a notificação inicial pode ocorrer por via postal, sendo presumido o seu recebimento no prazo de 48 horas, nos termos da Súmula nº 16 do TST. Contudo, essa presunção depende da existência de comprovação de entrega, especialmente por meio de aviso de recebimento. A ausência de aviso de recebimento inviabiliza a certeza quanto ao efetivo recebimento da notificação pela parte reclamada, impondo-lhe o ônus probatório de fato negativo, o que se caracteriza como prova diabólica. Precedentes do Tribunal Superior do Trabalho reconhecem a nulidade processual quando inexistente comprovação inequívoca da citação válida, afastando a incidência da Súmula nº 16 do TST quando não há aviso de recebimento ou outra prova da ciência inequívoca da parte reclamada. Diante da ausência de prova cabal do recebimento da notificação pela reclamada, impõe-se a decretação da nulidade da citação e, consequentemente, dos atos processuais subsequentes, determinando-se o retorno dos autos à Vara de origem para a regular citação e prosseguimento do feito. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso ordinário provido. Tese de julgamento: A citação válida é pressuposto essencial da regularidade do processo, sendo inválida a notificação que não comprova a entrega ao destinatário. A ausência de aviso de recebimento em notificação via sistema "e-Carta" impede a presunção de recebimento prevista na Súmula nº 16 do TST, caracterizando cerceamento de defesa. A nulidade da citação acarreta a nulidade dos atos processuais subsequentes, impondo o retorno dos autos à Vara de origem para nova citação e regular processamento do feito. Dispositivos relevantes citados: CLT, arts. 841, § 1º, e 844; CPC, art. 239. Jurisprudência relevante citada: TST, RR nº 1104842-20.2019.5.18.0008, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, j. 09.03.2022; TST, RR nº 1001476-20.2014.5.02.0314, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, j. 13.10.2021; TRT-9, ROT nº 0000114-87.2021.5.09.0660, Rel. Des. Janete do Amarante, j. 28.01.2022. […] À análise. Trata-se de Recurso de Revista interposto por LÍGIA SANTOS DE ABREU, em face do acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região. O recurso foi interposto sob o rito sumaríssimo. Nos termos do art. 896, § 9º, da CLT, com a redação dada pela Lei nº 13.015/2014, em causas sujeitas ao rito sumaríssimo, o Recurso de Revista é cabível apenas nas hipóteses de contrariedade à súmula de jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho ou à súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, ou, ainda, por violação direta da Constituição Federal. No presente caso, a parte recorrente, embora aponte violação a dispositivos da CLT e da CF, bem como contrariedade à Súmula do TST, não demonstra, de forma clara e objetiva, a existência de ofensa direta e literal a dispositivo da Constituição Federal. A alegação de contrariedade à Súmula nº 16 do TST, por si só, não enseja o conhecimento do recurso, porquanto não preenchidos os requisitos do artigo 896, § 9º, da CLT. Ademais, a parte recorrente fundamenta o seu recurso também em divergência jurisprudencial, o que é incabível em sede de recurso de revista interposto sob o rito sumaríssimo. Considerando o rito sumaríssimo, a análise dos temas suscitados no recurso de revista restringe-se àqueles que envolvam, de forma direta e literal, ofensa à Constituição Federal, o que, como já exposto, não ocorreu no presente caso. Ante o exposto, DENEGO seguimento ao Recurso de Revista. CONCLUSÃO a) DENEGO SEGUIMENTO ao(s) Recurso(s) de Revista. Dê-se ciência à(s) parte(s) recorrente(s). b) Decorrido o prazo concedido sem manifestação, certifique-se o trânsito em julgado e, ato contínuo, independentemente de nova conclusão, encaminhem-se os autos à Vara de Origem. c) Interposto Agravo de Instrumento, independentemente de nova conclusão, notifique-se a parte agravada, para, querendo, apresentar contraminuta ao Agravo de Instrumento e contrarrazões ao Recurso de Revista, no prazo de 8 (oito) dias. c.1) No mesmo prazo, excepcionando-se os processos em que são partes os entes incluídos na definição de Fazenda Pública, também deverão as partes, querendo, manifestar interesse na designação de audiência para fins conciliatórios, nos termos do Ato da Presidência do TRT da 7ª Região nº 420/2014. O silêncio será interpretado como desinteresse. c.2) Havendo anseio comum entre ao menos uma parte autora e uma parte demandada, salvo nos processos em que são partes os entes incluídos na definição de Fazenda Pública, o feito deverá ser encaminhado ao Juízo Conciliador dos Feitos em Segundo Grau, a fim de que sejam adotados os procedimentos necessários para que se chegue a uma composição amigável, nos termos do Ato da Presidência do TRT da 7ª Região nº 420/2014. c.3) Inviável a conciliação ou inexistindo interesse comum em conciliar, uma vez decorrido o prazo legal, com ou sem a apresentação de contraminuta e/ou contrarrazões, deverão os autos ser remetidos ao Colendo Tribunal Superior do Trabalho, independentemente de nova decisão/despacho. d) Interposto Agravo Interno (Regimento Interno do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, art. 219-A [Redação dada pela Emenda Regimental nº 15, de 7 de fevereiro de 2025]), notifique-se a parte agravada, para, querendo, apresentar contraminuta ao Agravo de Interno e contrarrazões ao Recurso de Revista, quanto ao capítulo objeto da insurgência, no prazo de 8 (oito) dias; decorrido o prazo legal, com ou sem a apresentação de contraminuta e/ou contrarrazões, deverão os autos ser conclusos à Presidência, independentemente de nova decisão/despacho, conforme previsão do art. 219-B do referenciado Regimento Interno desta Corte. d.1) Na hipótese da interposição simultânea de agravo de instrumento e de agravo interno, deverá a Secretaria Judiciária, independentemente de nova conclusão, notificar a parte agravada, para, querendo, apresentar contraminuta ao Agravo de Instrumento e contrarrazões ao Recurso de Revista, no prazo de 8 (oito) dias, conforme art. 219-A, § 2º, do Regimento Interno desta Corte. FORTALEZA/CE, 11 de julho de 2025. FERNANDA MARIA UCHOA DE ALBUQUERQUE Desembargadora Federal do Trabalho Intimado(s) / Citado(s) - LIGIA SANTOS DE ABREU

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