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A. P. M. e outros x A. P. M. e outros

ID: 281092109

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1042223-73.2022.8.11.0041

Data de Disponibilização: 27/05/2025

Polo Ativo:

A. P. M. BRADESCO SAUDE S/A

Polo Passivo:

A. P. M. BRADESCO SAUDE S/A

Acórdão

Advogados:

ELEANDRO MACHADO DA VEIGA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1042223-73.2022.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dan… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1042223-73.2022.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Práticas Abusivas, Efeitos, Obrigação de Fazer / Não Fazer, Tratamento médico-hospitalar, Planos de saúde] Relator: Des(a). TATIANE COLOMBO Turma Julgadora: [DES(A). TATIANE COLOMBO, DES(A). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, DES(A). MARILSEN ANDRADE ADDARIO] Parte(s): [JOCIVANI CRISTINA PINHEIRO DE SA - CPF: 799.675.581-72 (APELANTE), ELEANDRO MACHADO DA VEIGA - CPF: 985.295.791-00 (ADVOGADO), A. P. M. - CPF: 075.980.101-02 (APELANTE), BRADESCO SAUDE S/A - CNPJ: 92.693.118/0262-08 (APELADO), RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA - CPF: 444.850.181-72 (ADVOGADO), BRADESCO SAUDE S/A - CNPJ: 92.693.118/0001-60 (APELADO), JOCIVANI CRISTINA PINHEIRO DE SA - CPF: 799.675.581-72 (REPRESENTANTE/NOTICIANTE), ELEANDRO MACHADO DA VEIGA - CPF: 985.295.791-00 (ADVOGADO), BRADESCO SAUDE S/A - CNPJ: 92.693.118/0262-08 (TERCEIRO INTERESSADO), A. P. M. - CPF: 075.980.101-02 (APELADO), ELEANDRO MACHADO DA VEIGA - CPF: 985.295.791-00 (ADVOGADO), BRADESCO SAUDE S/A - CNPJ: 92.693.118/0001-60 (APELANTE), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (CUSTOS LEGIS)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. E M E N T A DIREITO CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS DE APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. PLANO DE SAÚDE. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA). TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR. EQUOTERAPIA. EXTENSÃO DA COBERTURA. REEMBOLSO DE DESPESAS EM REDE NÃO CREDENCIADA. ACORDO PACTUADO ENTRE AS PARTES. DANO MORAL INEXISTENTE. RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. I. Caso em exame 1. Recursos de apelação cível interpostos contra sentença de parcial procedência em ação que objetiva compelir plano de saúde ao custeio integral de terapias prescritas ao infante com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA - CID F84), bem como o reembolso de despesas realizadas em rede não credenciada e a condenação por danos morais. 2. O juízo de origem determinou o fornecimento das terapias indicadas por profissional de saúde, autorizando o reembolso integral mediante comprovação dos gastos, mas indeferiu a pretensão indenizatória por danos morais. Honorários arbitrados proporcionalmente às partes, observando-se a concessão de justiça gratuita. II. Questão em discussão 3. Há três questões centrais submetidas ao crivo desta instância revisora: (i) saber se o plano de saúde é obrigado a fornecer tratamento multidisciplinar fora dos limites do rol da ANS, inclusive equoterapia; (ii) saber se é legítimo o reembolso integral ou no limite da tabela praticada pelo plano de saúde das despesas efetuadas em rede não credenciada; (iii) saber se a demora no fornecimento do tratamento enseja reparação por dano moral. III. Razões de decidir 4. O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que o rol de procedimentos da ANS possui natureza exemplificativa, sendo vedada a negativa de cobertura de terapias imprescindíveis ao tratamento de doenças expressamente cobertas, desde que indicadas por profissional habilitado e que não configurem experimentalismo, conforme REsp nº 2.043.003/SP, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi. 5. A Resolução Normativa nº 539/2022 da ANS reconheceu expressamente a obrigatoriedade da cobertura de métodos e técnicas terapêuticas prescritas para beneficiários com TEA, como a equoterapia, sempre que ausente prestador credenciado apto a oferecer os serviços de forma adequada. 6. Comprovado o acordo pactuado entre as partes, impõe-se reconhecer a obrigação de reembolso integral das despesas realizadas em rede particular, em relação às terapias de ABA, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia e psicomotricidade. 7. Por outro lado, quanto à equoterapia, admite-se a limitação do reembolso aos valores da tabela contratual, por ausência de pactuação diversa entre as partes e por inexistir prova de violação contratual ou omissão deliberada da operadora nesse ponto específico. 8. A análise do dano moral requer a presença de conduta ilícita, nexo causal e lesão aos direitos da personalidade. No caso, a negativa parcial da cobertura baseou-se em interpretação contratual razoável e foi sucedida por acordo que viabilizou os tratamentos. Ausente demonstração de abalo relevante à dignidade do beneficiário, é incabível a reparação pretendida, conforme precedentes reiterados do STJ e desta Corte. IV. Dispositivo e tese 9. Recursos parcialmente providos. Tese de julgamento: "1. O rol de procedimentos da ANS tem natureza exemplificativa, sendo devida a cobertura de terapias multidisciplinares prescritas para o tratamento de TEA, inclusive equoterapia, quando indicadas por profissional habilitado. 2. É legítimo o reembolso integral das despesas realizadas fora da rede credenciada, quando pactuada entre as partes. 3. A negativa de cobertura fundada em interpretação contratual razoável, desacompanhada de prova de agravamento do quadro clínico ou exposição à situação humilhante, não caracteriza dano moral indenizável." R E L A T Ó R I O Trata-se de recursos de apelação interpostos por A.P.M representado por sua genitora Jocivani Cristina Pinheiro de Sa e Bradesco Saúde S.A, em face da sentença proferida pelo juízo da 5ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais e Materiais. A sentença recorrida (ID. 250214791) julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais nos seguintes termos: “(...) 3. Ante o exposto, forte no artigo 487, I, do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial para DETERMINAR que a parte requerida proceda com a cobertura dos seguintes tratamentos: a) terapia ocupacional com ênfase em integração sensorial (mínimo de 4 sessões semanais); b) fonoaudióloga, com especialização no método ABA/Análise Aplicada do Comportamento (3 sessões semanais); c), psicóloga com especialização no método ABA/Análise Aplicada do Comportamento (30 horas semanais); d) Psicomotricidade e equoterapia; e) Psicopedagogia, e demais procedimentos subsequentes que se fizerem necessários ao tratamento indicado, bem como, em relação ao custeio, proceda com o reembolso integral dos valores, após a comprovação do efetivo pagamento/desembolso pela parte autora, ficando sem efeito a decisão de id. 144498343. 3.1. Pela sucumbência e já que recíproca, atento ao princípio da causalidade que a norteia, fixo os honorários R$ 4.000,00 (art. 85, §§ 2º e 8º, CPC). Considerando que os litigantes foram em parte vencedor e vencido (art. 86, CPC), o(a) autor(a) arcará com 50% e o(a) requerido(a) 50% dos honorários, das custas e despesas processuais, vedada a compensação, vedada a compensação ficando a cobrança condicionada à suspensão disposta no art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil, ante a assistência judiciária gratuita concedida nos autos. (...)” - sic Em suas razões recursais de ID. 250214803 o Autor A.P.M representado por sua genitora Jocivani Cristina Pinheiro de Sá argumenta que a sentença ignorou o teor de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso em sede de Agravo de Instrumento que determinavam o reembolso dos tratamentos realizados de forma integral. Aduz que a negativa de pagamento, mesmo após a autorização e envio da documentação, causou grave abalo financeiro e emocional à parte autora, tornando configurado o dano moral. Por fim, pleiteia o provimento do recurso para que a sentença seja julgada totalmente procedente, condenando a parte Requerida ao pagamento de indenização por danos morais e o reconhecimento do direito ao reembolso integral. Subsidiariamente requer o reconhecimento do descumprimento das decisões judiciais e a revalidação da multa fixada anteriormente. Em contrapartida, a Apelante Bradesco Saúde S.A argumenta em seu recurso (ID. 250214804) que, os tratamentos determinados extrapolam os limites contratuais e o rol de procedimentos obrigatórios da ANS. Defende que a equoterapia é considerada tratamento experimental e não consta no rol de procedimentos obrigatórios da ANS, sendo indevida sua imposição contratual. Alega que os valores a serem restituídos não podem ser feitos de forma integral, devendo obedecer a documentação contratual. Por fim, requer o provimento do recurso a fim de reformar a sentença recorrida para que seja julgada improcedente. Subsidiariamente, requer que os tratamentos realizados fora da rede credenciada sejam reembolsados conforme a tabela de reembolso e termos contratuais do plano. Contrarrazões apresentadas pelo Autor, pleiteando o desprovimento do recurso da operadora de saúde no ID. 250214807. Contrarrazões do plano de saúde pelo desprovimento do recurso do Autor acostadas ao ID. 250214808. A Douta Procuradoria Geral de Justiça se manifestou nos autos pelo provimento parcial do recurso interposto por A. P. M. representado por sua genitora Jocivani Cristina Pinheiro de Sá e pelo desprovimento do recurso de apelação interposto pela Bradesco Saúde S/A (ID. 271850370). É o relatório. V O T O R E L A T O R Egrégia Câmara: A controvérsia recursal do recurso interposto pela Bradesco Saúde S/A cinge-se em verificar a possibilidade de imposição à operadora de plano de saúde da obrigação de custear tratamentos multidisciplinares fora dos parâmetros do rol da ANS. Por sua vez, o objeto da insurgência recursal, veiculada no recurso interposto por A. P. M., representado por sua genitora, Jocivani Cristina Pinheiro de Sá, restringe-se à apreciação da possibilidade de reembolso integral das despesas com os tratamentos realizados, bem como à condenação do plano de saúde ao pagamento de indenização por danos morais. Compulsando os autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais e Materiais extrai-se que o infante é segurado ao plano de saúde Apelante através do Plano Bradesco Saúde TOP - Rede Nacional, com cartão n° 953 650 001218 018 (ID. 250214190). Observa-se ainda, conforme o relatório médio contido no ID. 250214199 que o Autor, ora Apelado, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível III, sendo-lhe prescritas as seguintes terapias: No entanto, ao solicitar a autorização para os tratamentos, o Autor foi informado de que o plano de saúde disponibilizaria as sessões apenas uma vez por semana, não havendo, à época, outros horários disponíveis com profissionais credenciados. Diante da necessidade de tratamento contínuo por parte do infante, a parte Autora buscou atendimento em clínicas não credenciadas e ajuizou a ação de origem. No recurso interposto pelo plano de saúde, a Apelante sustenta a tese da taxatividade do rol de procedimentos e eventos em saúde estabelecido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, afirmando ser incabível a imposição de cobertura, pelos planos de saúde, de procedimentos que não estejam expressamente previstos nesse rol normativo, buscando assim, a exclusão da cobertura da equoterapia. Sobre o assunto, o Superior Tribunal de Justiça já se posicionou, afirmando que o rol de procedimentos estabelecidos pela ANS não é taxativo, mas exemplificativo, porquanto estabelece procedimentos mínimos a serem cobertos pelas operadoras de saúde. Nesse sentido: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. MEDICAMENTO PARA TRATAMENTO DE CÂNCER. OBRIGATORIEDADE DE COBERTURA. SÚMULA N. 83/STJ. INOVAÇÃO RECURSAL. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. 1. Compete ao profissional habilitado indicar a opção adequada para o tratamento da doença que acomete seu paciente, não incumbindo à seguradora discutir o procedimento, mas custear as despesas de acordo com a melhor técnica. 2. "É lícita a exclusão, na Saúde Suplementar, do fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar, isto é, aqueles prescritos pelo médico assistente para administração em ambiente externo ao de unidade de saúde, salvo os antineoplásicos orais (e correlacionados), a medicação assistida (home care) e os incluídos no Rol da ANS para esse fim" (AgInt no REsp n. 2.066.693/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, julgado em 11/12/2023, DJe de 15/12/2023). 3. "A natureza taxativa ou exemplificativa do rol da ANS é desimportante à análise do dever de cobertura de medicamentos para o tratamento de câncer, em relação aos quais há apenas uma diretriz na resolução normativa" (AgInt nos EREsp 2.001.192/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, julgado em 2/5/2023, DJe de 4/5/2023). 4. As questões levantadas apenas no âmbito do agravo interno são insuscetíveis de conhecimento, por caracterizarem indevida inovação recursal e, com isso, preclusão consumativa. Agravo interno improvido. (AgInt no REsp n. 1.923.813/SP, relator Ministro Humberto Martins, Terceira Turma, julgado em 9/9/2024, DJe de 11/9/2024.) No que tange a equoterapia, a Agência Nacional de Saúde por meio da Resolução Normativa nº 539, de 23 de junho de 2022, reconheceu a obrigatoriedade da cobertura para qualquer método ou técnica indicado pelo médico assistente para o tratamento do paciente que tenha um dos transtornos enquadrados na CID F84, conforme Classificação Internacional de Doenças. Vejamos: “Art. 1º A presente Resolução altera a Resolução Normativa - RN nº 465, de 24 de novembro de 2021, que dispõe sobre o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde no âmbito da saúde suplementar, para alterar a diretriz de utilização dos procedimentos sessão com fonoaudiólogo, para o tratamento/manejo dos beneficiários portadores de transtorno do espectro autista e transtornos globais do desenvolvimento. Art. 2º O item sessão com fonoaudiólogo, do Anexo II da Resolução Normativa - RN nº 465, de 24 de fevereiro de 2021, passam a vigorar conforme o disposto no Anexo I desta Resolução. Art. 3º O art. 6º, da RN nº 465, de 2021, passa a vigorar acrescido do § 4º, com a seguinte redação: "Art. 6º (...) § 4º Para a cobertura dos procedimentos que envolvam o tratamento/manejo dos beneficiários portadores de transtornos globais do desenvolvimento, incluindo o transtorno do espectro autista, a operadora deverá oferecer atendimento por prestador apto a executar o método ou técnica indicados pelo médico assistente para tratar a doença ou agravo do paciente." Art. 4º Esta RN, bem como seu Anexo estará disponível para consulta e cópia no sítio institucional da ANS na Internet (ans">www.gov.br/ans). Art. 5º Esta Resolução entra em vigor no dia 1º de julho de 2022.”. Aliás, em abril de 2023, o Superior Tribunal de Justiça firmou a tese de que o tratamento multidisciplinar de autismo deve ser coberto de maneira ampla pelo plano de saúde, conforme REsp n. 2.043.003/SP, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, assim ementado: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. PLANO DE SAÚDE. NATUREZA TAXATIVA, EM REGRA, DO ROL DA ANS. TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR PRESCRITO PARA BENEFICIÁRIO PORTADOR DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA. MUSICOTERAPIA. COBERTURA OBRIGATÓRIA. REEMBOLSO INTEGRAL. EXCEPCIONALIDADE. (...) 4. Embora fixando a tese quanto à taxatividade, em regra, do rol de procedimentos e eventos em saúde da ANS, a Segunda Seção negou provimento ao EREsp 1.889.704/SP da operadora do plano de saúde, para manter acórdão da Terceira Turma que concluiu ser abusiva a recusa de cobertura de sessões de terapias especializadas prescritas para o tratamento de transtorno do espectro autista (TEA). 5. Ao julgamento realizado pela Segunda Seção, sobrevieram diversas manifestações da ANS, no sentido de reafirmar a importância das terapias multidisciplinares para os portadores de transtornos globais do desenvolvimento, dentre os quais se inclui o transtorno do espectro autista, e de favorecer, por conseguinte, o seu tratamento integral e ilimitado. 6. (...) (REsp n. 2.043.003/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 21/3/2023, DJe de 23/3/2023.) (destaquei). Portanto, o aresto pacificou a questão em relação aos portadores de Transtorno do Espectro Autista, reconhecendo a amplitude dos tratamentos multidisciplinares a serem ofertados. Desta forma, uma vez que fora comprovada a relação contratual entre o agravante e o agravado, tal como o diagnostico do paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA), gera ao plano de saúde a obrigação do fornecimento do tratamento indicado pelo médico que lhe acompanha, inclusive, o de equoterapia. Portanto, não há o que se falar em ausência de obrigatoriedade de fornecimento da equoterapia pelo plano de saúde, sendo a manutenção da sentença recorrida neste aspecto, à medida que se impõe. Superada essa questão, observo que ambas as partes se insurgem quanto ao modo em que o reembolso deverá ser realizado, dessa forma, passo a analisar em conjunto os pleitos. A parte Autora defende que o reembolso deve ser feito de forma integral e junta comprovantes de pagamento nos autos (ID. 272744394). Em contrapartida, o plano de saúde defende que o reembolso deve ser limitado aos valores praticados pela tabela do plano contratado. Conforme já citado acima, a parte autora iniciou os tratamentos prescritos no laudo médico de ID. 250214199, em rede não credenciada ao plano de saúde por não haver clínicas aptas a realizarem tais tratamentos na rede da seguradora de saúde. Por sua vez, é incontroverso nos autos que houve acordo entre as partes, onde o plano de saúde prosseguiria com o reembolso integral da Terapia ABA, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia e psicomotricidade (vide manifestação acostada em ID. 2747713730). Desse modo, não há que se falar em reembolso limitado aos valores da tabela, devendo ser de forma integral para os referidos tratamentos. Quanto ao reembolso relativo ao tratamento da equoterapia, uma vez comprovada a obrigação do fornecimento do tratamento, este deve ser ressarcido nos termos da tabela praticada pelo plano de saúde. Nesse sentido, esta e. Câmara já decidiu em caso análogo: RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS – PARCIAL PROCEDÊNCIA – MENOR DIAGNOSTICADO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR COM PSICÓLOGA E FONOAUDIÓLOGA PELO MÉTODO ABA/DENVER, TERAPEUTA OCUPACIONAL E EQUOTERAPIA – OBRIGATORIEDADE DE COBERTURA – REDE CREDENCIADA – POSSIBILIDADE DE REEMBOLSO NOS LIMITES CONTRATUAIS – TERAPIAS DOMICILIARES E EM SALA DE AULA – INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO – DANOS MORAIS – INOCORRÊNCIA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) 2. O atendimento deve ocorrer preferencialmente na rede credenciada da operadora, sendo admitido o reembolso das despesas em valores limitados ao contrato, caso a parte prefira profissionais não credenciados. (...) 5. Recurso parcialmente provido.- (N.U 1028712-96.2020.8.11.0002, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARILSEN ANDRADE ADDARIO, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 16/04/2025, Publicado no DJE 23/04/2025) (destaquei). Assim sendo, ambos os recursos merecem provimento parcial, sendo o do autor para que o reembolso das terapias de fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia e psicomotricidade seja realizado de forma integral, e o da operadora de plano de saúde para que o reembolso da equoterapia seja efetuado nos limites estabelecidos pela respectiva tabela contratual. Por fim, quanto ao pleito indenizatório, o autor defende a condenação ao pagamento de indenização por dano moral por parte do plano de saúde alegando falha de prestação de serviço ao usuário. Contudo, extrai-se dos autos que não houve negativa de fornecimento por parte do plano de saúde, e sim mora em seu fornecimento. Ademais, ainda que assim não fosse, a negativa de cobertura com base na interpretação do contrato se revela justificável, conforme entendimento consolidado por essa Colenda Câmara, sobretudo quando, não há um agravamento na condição do Apelante. Nesse sentido: DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO ANTINEOPLÁSICO. REGISTRO NA ANVISA. RECUSA INDEVIDA DE COBERTURA. DANO MORAL AFASTADO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. Caso em exame (...) A conduta da operadora, todavia, não extrapolou os limites do exercício regular do direito contratual, sendo pautada em norma técnica da ANS, razão pela qual não se configura o dano moral, ausente violação à dignidade do consumidor. IV. Dispositivo e tese Recurso parcialmente provido para afastar a condenação por danos morais e redistribuir os ônus sucumbenciais proporcionalmente, observada a gratuidade de justiça concedida à parte autora. Tese de julgamento: “(...) 2. A negativa fundada em diretriz técnica da ANS, desacompanhada de conduta abusiva, não configura, por si só, dano moral indenizável.” (N.U 1000964-62.2024.8.11.0095, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/04/2025, Publicado no DJE 05/05/2025) (destaquei). RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – PARCIAL PROCEDÊNCIA – PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA – REJEIÇÃO - PLANO DE SAÚDE – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA – FONAUDIOLOGIA, PSICOLOGIA E TERAPIA OCUPACIONAL PELOS MÉTODOS ABA, BOBATH E INTEGRAÇÃO SENSORIAL, MUSICOTERAPIA E HIDROTERAPIA (CID 10 F.84-0) – NEGATIVA DE COBERTURA – DESCABIMENTO – TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR PARA AUTISMO INFANTIL INCORPORADO AO ROL DE PROCEDIMENTOS E EVENTOS EM SAÚDE Nº 539/2022 DA ANS – DANO MORAL – INEXISTÊNCIA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) A operadora de plano de saúde não pratica ato ilícito gerador de dano moral, por si só, ao negar a cobertura de determinado procedimento, segundo sua interpretação contratual. Precedentes do STJ (AgInt no REsp 1270321/RS; AgInt no REsp 1790810/SP e AgInt no REsp 1812237/SP). (N.U 1018457-16.2019.8.11.0002, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARILSEN ANDRADE ADDARIO, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 24/05/2023, Publicado no DJE 29/05/2023) – destaquei. Somado a isso, o descumprimento contratual, em que pese seja desgastante para o consumidor, não tem o condão, por si só, de violar a honra, a dignidade ou a intimidade do infante, não ultrapassando o mero dissabor do cotidiano. Assim, não há que se falar em condenação por danos morais, sendo a manutenção da sentença neste ponto, medida escorreita. Diante do exposto, conheço dos recursos e, no mérito, DOU-LHES PARCIAL PROVIMENTO, para reforma a sentença e determinar que: a) O reembolso dos valores referentes à equoterapia seja realizado nos limites da tabela contratual; e, b) O reembolso integral das terapias pertencentes ao Método ABA, quais sejam: fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicopedagogia e psicomotricidade. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 21/05/2025

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Processo nº 1006141-17.2018.4.01.3300

ID: 292873840

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 16 - DESEMBARGADOR FEDERAL FLAVIO JARDIM Classe: APELAçãO / REMESSA NECESSáRIA Nº Processo: 1006141-17.2018.4.01.3300

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

EMMILY GERSICA SANTOS GOMES

Acórdão

Advogados:

JOSE DELSON LUCAS CHAVES

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THIAGO FERNANDES LUCIO

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JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1006141-17.2018.4.01.3300 PROCESSO REFERÊNCIA: 1006141-17.2018.4.01.3300 CLASSE: APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) POLO ATIVO: INST… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1006141-17.2018.4.01.3300 PROCESSO REFERÊNCIA: 1006141-17.2018.4.01.3300 CLASSE: APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) POLO ATIVO: INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO, CIENCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA POLO PASSIVO:EMMILY GERSICA SANTOS GOMES REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: THIAGO FERNANDES LUCIO - PB19771-A e JOSE DELSON LUCAS CHAVES - PB4335-A RELATOR(A):FLAVIO JAIME DE MORAES JARDIM PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PJe/TRF1ª – Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 1006141-17.2018.4.01.3300 RELATÓRIO Apelação interposta contra sentença proferida pelo Juízo da 10ª Vara Federal Cível da Seção Judiciária da Bahia, em sede de mandado de segurança, por meio da qual foi concedida a ordem para determinar ao impetrado que adote as providências cabíveis para dar posse à impetrante no cargo de professora efetiva de Desenho, com dedicação exclusiva, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA. Transcrevo o relatório da sentença: "Emmily Gérsica Santos Gomes, CPF n° 055.353.034-88, qualificada na inicial, impetrou mandado de segurança, com pedido de liminar, contra Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA, objetivando sua posse no cargo de professora efetiva de Desenho, regime de quarenta horas, de dedicação exclusiva, para o qual foi aprovada mediante concurso público de provas e títulos. Alegou, em síntese, ter sido a primeira colocada no certame para provimento do cargo de professora efetiva de desenho do IFBA, conforme edital nº 04/2016, sendo nomeada em 13/06/2018. Entretanto, foi-lhe negada à posse por não possuir licenciatura, malgrado haja expressa previsão no edital, item 19.5, de que o referido título acadêmico poderá ser obtido ao longo do estágio probatório. Assim, ilegal o ato praticado pela autoridade coatora. Gratuidade da justiça deferida e determinada reserva de vaga (Id. 6719938). Notificada, a autoridade impetrada apresentou informações (Id. 7120281), aduzindo que a impetrante não comprovou possuir licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica, conforme exigência do edital, apenas apresentou diplomas de conclusão do curso superior de Tecnologia e Urbanismo e de mestrado em Arquitetura e Urbanismo. A previsão do item 19.5 do edital foi destinado aos candidatos concorrentes às vagas de áreas técnicas e profissionalizantes, cujos cursos superiores não preveem licenciatura, motivo pelo qual não poderia o IFBA exigi-los para nomeação e posse, mas possibilitou futura formação pedagógica complementar, o que nãos e aplica ao caso da impetrante. Agravo de instrumento noticiado (Id. 9649568). Pedido liminar deferido (Id. 15594452). Instado, o Ministério Público Federal se manifestou pela concessão da segurança (Id. 21342990). DECIDO". Confira-se o dispositivo do julgado: "Pelas razões expendidas, julgo PROCEDENTE o pedido e CONCEDO a segurança para, ratificando a liminar (Id. 15594452), determinar ao impetrado adotar as providências cabíveis para dar posse à impetrante no cargo de professora efetiva de desenho, com dedicação exclusiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFBA, conforme já procedido (Id. 18025962), atendidos os demais requisitos legais. De conseguinte, há resolução do mérito, conforme o artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Custas pela pessoa jurídica a quem vinculado o impetrado. E sem verba de sucumbência, conforme o artigo 25, da Lei nº 12.016/2009. Sentença sujeita ao reexame necessário, pelo que, oportunamente, subam os autos à Instância Revisora. Comunique-se ao ínclito Relator do agravo noticiado (Id. 9649568) o julgamento da causa, para os fins processuais cabíveis. Publique-se, registre-se e intimem-se. Salvador, 19 de junho de 2019. EVANDRO REIMÃO DOS REIS Juiz da 10ª Vara (assinado eletronicamente)". O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA – IFBA interpôs apelação, na qual requer a reforma da sentença alegando, em síntese: (i) Que a impetrante não possui a formação exigida no edital, qual seja: Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica, sendo graduada em Tecnologia em Design de Interiores, formação consideração insuficiente para o cargo pretendido. (ii) Que o item 19.5 do edital não se aplica a área de Desenho, mas apenas às áreas técnicas profissionalizantes, como as Engenharias e a Arquitetura, nas quais não há cursos de licenciatura disponíveis. (iii) Que acolhimento da pretensão da impetrante contraria os princípios da isonomia e da legalidade. (iv) E que admitir a candidata sem a formação adequada comprometeria a qualidade de ensino do IFBA, além de representar intervenção indevida do Poder Judiciário no mérito administrativo. As contrarrazões foram apresentadas. O Ministério Público Federal se manifestou pelo não provimento da Apelação. É o relatório. PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PJe/TRF1ª – Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 1006141-17.2018.4.01.3300 VOTO O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL FLÁVIO JARDIM - Relator: I. O recurso preenche os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. II. No que interessa a sentença foi proferida nos seguintes termos: "[...] O subitem 19.5, do edital nº 04/2016, fls. 23 (Id. 6522607), estabeleceu: “19.5 O candidato que não possuir formação pedagógica (Licenciatura), após investidura no cargo e ao longo do período de estágio probatório, deverá buscar essa formação, tendo em vista a exigência prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.” (grifou-se) Em decorrência desta previsão editalícia, não possui fundamento jurídico válido a negativa de posse da impetrante sob a mera justificativa de não possuir ela qualificação acadêmica para o cargo de professor efetivo de desenho, ou seja, conforme consignado na Tabela 2.1, item 416.1, “Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica, com titulação mínima de Pós-Graduação Lato Sensu na área ou em Educação”, a qual pode ser alcançada durante o estágio probatório pelo servidor após sua investidura. Nisso, impertinente a alegação da autoridade impetrada no sentido de “a regra prevista no subitem 19.5 foi claramente destinada àqueles candidatos concorrentes às vagas das áreas técnicas profissionalizantes (Arquitetura, engenharia, etc.), uma vez que não existem cursos de licenciaturas reconhecidos que sejam voltados para essas áreas do conhecimento, por este motivo não foi possível ao IFBA exigi-los no edital do certame”, fls. 03 (Id. 7120281), pois se houvesse destinação especifica para tal norma editalícia, a exceção deveria ser expressa. Não tendo assim procedido, irrestrita sua aplicabilidade para todos os demais candidatos. Importa consignar, malgrado a irrepreensível manifestação ministerial (Id. 21342990), não se trata de ambiguidade quanto ao destinatário da multirreferida norma de modo a prevalecer interpretação mais favorável, considerando que dúvidas não há de que a previsão “o candidato que não possuir formação pedagógica (Licenciatura)” refere-se indistintamente a todo aquele que não possuir a qualificação acadêmica exigida para o cargo quando da posse. E não apenas restritivamente a determinadas “áreas de conhecimento” como pretende o impetrado em questionável interpretação. Deve-se observar o princípio da vinculação ao instrumento convocatório que norteia os concursos públicos, pelo qual, inexistindo ilegalidade, as partes estão obrigadas ao quanto nele previsto. Com efeito, tanto o IFBA ao publicar o edital nº 04/2016, onde estabeleceu as regras editalícias, bem como os candidatos quando optaram por inscrever-se no processo seletivo para contratação de docentes, igualmente submetem-se a elas (regras). Neste sentido, perfilha a jurisprudência: “ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. NOMEAÇÃO TORNADA SEM EFEITO POR FALTA DE POSSE TEMPESTIVA. LEGALIDADE. MEIOS DE CIÊNCIA E ACOMPANHAMENTO DO CERTAME REGULARMENTE ASSEGURADOS. DEVER DE DILIGÊNCIA DO CANDIDATO. 1. O edital é a lei do concurso, sendo certo que suas cláusulas obrigam tanto à Administração quanto aos candidatos, em razão do princípio da vinculação do certame ao instrumento convocatório. Precedentes. 2. A nomeação do candidato foi tornada sem efeito porque não houve a posse no prazo legal, pelo que se mostra hígido o ato impetrado, pelo qual o Ministro de Estado tão somente deu fiel cumprimento ao comando contido no art. 13, § 6.o, da Lei n. 8.112/1990 e ao previsto na cláusula 9.15 do subjacente edital. 3. No caso, a Administração deu satisfatória publicidade aos seus atos, por isso que cabia ao candidato, nos termos do edital, o dever de acompanhar a evolução das etapas do certame nos sítios eletrônicos da banca examinadora e do Ministério da Agricultura, devendo, ainda, obter, junto ao MAPA, todas as informações que julgasse necessárias para assegurar sua tempestiva nomeação e posse. Cuidava-se, portanto, do dever de diligenciar em defesa de seus próprios interesses, do que descurou o impetrante. 4. A notificação pessoal para a posse de candidato aprovado em concurso público somente se mostra obrigatória nas hipóteses em que exista expressa previsão editalícia ou nos casos em que verificado longo tempo entre a homologação do resultado e a convocação dos aprovados, situações inocorrentes na espécie. Precedentes das duas Turmas que compõem a 1.ª Seção do STJ. 5. Agravo interno a que se nega provimento.” (AINTMS - AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE SEGURANÇA - 21467 2014.03.38448-4, SÉRGIO KUKINA, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE DATA: 18/09/2018) (grifou-se) Pelas razões expendidas, julgo PROCEDENTE o pedido e CONCEDO a segurança para, ratificando a liminar (Id. 15594452), determinar ao impetrado adotar as providências cabíveis para dar posse à impetrante no cargo de professora efetiva de desenho, com dedicação exclusiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFBA, conforme já procedido (Id. 18025962), atendidos os demais requisitos legais. De conseguinte, há resolução do mérito, conforme o artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Custas pela pessoa jurídica a quem vinculado o impetrado. E sem verba de sucumbência, conforme o artigo 25, da Lei nº 12.016/2009. Sentença sujeita ao reexame necessário, pelo que, oportunamente, subam os autos à Instância Revisora. Comunique-se ao ínclito Relator do agravo noticiado (Id. 9649568) o julgamento da causa, para os fins processuais cabíveis. Publique-se, registre-se e intimem-se. Salvador, 19 de junho de 2019 EVANDRO REIMÃO DOS REIS Juiz da 10ª Vara". III. A questão devolvida ao exame deste Tribunal refere-se à comprovação da formação acadêmica exigida pelo edital regulador do certame, para o exercício do cargo de Professor de Desenho do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA. Na espécie, a apelada foi aprovada em 1º lugar no concurso para o cargo de Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFBA, área de conhecimento – Desenho, tendo sido, inclusive, nomeada. Entretanto, conforme Declaração emitida pelo reitor do IFBA, em 26.06.2018 (id 38250537), a impetrante teve sua posse negada, sob o fundamento de que “embora tenha apresentado o diploma de graduação no curso superior de Tecnologia em Design de Interiores, bem como diploma de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, não apresentou o diploma de Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica, com titulação mínima de Pós-Graduação Lato Sensu na área ou em Educação, conforme condição estabelecida no edital do certame e, portanto, necessária à investidura do cargo”. Para comprovar sua habilitação profissional, a candidata apresentou os seguintes documentos: - Diploma de graduação no curso superior de Tecnologia em Design de Interiores, emitido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (id. 38250524) - Diploma de mestrado em Arquitetura e Urbanismo, emitido pela Universidade Federal da Paraíba (id. 38250525) - Declaração da coordenadora do curso de bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Integrada de Patos, atestando o exercício profissional da impetrante como docente da disciplina de Desenho, bem como a realização de outras atividades acadêmicas (id. 38250531) - Declaração do coordenador do curso Técnico em Edificações do IFPB - Campus Patos, atestando que a impetrante, ocupante do cargo de Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, lecionou, no período de 01/10/2015 a 01/10/2017, as disciplinas de Desenho Técnico, Desenho Arquitetônico e Desenho Assistido pelo Computador (id. 38250532). Sobre o tema, de acordo com art. 37, inciso I, da Constituição Federal, os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei. Nesse contexto, edital nº 04/2016, de 24 de agosto de 2016, que regulamentou o certame, vinculando tanto a Administração Pública como os candidatos, conforme o princípio da vinculação ao edital, exigiu para ingresso no cargo de Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFBA, na área de Desenho, formação acadêmica em Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica, com titulação mínima de Pós-Graduação Lato Sensu na área ou em Educação. Confira-se: Com efeito, a exigência de determinados níveis de formação e especialização para o preenchimento de cargo ou emprego público objetiva selecionar candidatos com as habilidades e conhecimentos técnicos necessários as atribuições que serão exercidas no desempenho das atividades funcionais, em observância ao princípio da eficiência e da qualidade da atuação administrativa. No caso dos autos, considerando a documentação apresentada, não é possível afirmar, de forma categórica, que a recorrida atende ao requisito mínimo de formação previsto no edital para o cargo pretendido. Embora a apelada possua uma formação profissional robusta, com titulação em nível de mestrado e experiência profissional no ensino de disciplinas relacionadas a área de conhecimento do Desenho em outras Instituições, tais certificações não comprovam, de maneira inequívoca, o atendimento à qualificação mínima exigida no edital para o cargo almejado. Ademais, a comprovação de que a qualificação profissional da recorrida atende à formação acadêmica exigida no edital, podendo, eventualmente, ser até superior àquela prevista para o cargo pretendido, demandaria dilação probatória, especialmente quanto à análise das grades curriculares, o que se revela inviável na via estreita do mandado de segurança. Por outro lado, é inegável que o próprio edital que regeu o concurso, em item 19.5, previu expressamente exceção à exigência do requisito de formação, ao dispor que o candidato que não possuísse a Licenciatura, após a investidura no cargo e ao decorrer do estágio probatório, deveria providenciar a formação, considerando a exigência prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Vejamos: 19. DA NOMEAÇÃO E DA POSSE [...] 19.5 O candidato que não possuir formação pedagógica (Licenciatura), após investidura no cargo e ao longo do período de estágio probatório, deverá buscar essa formação, tendo em vista a exigência prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nesse ponto, não obstante a alegação do recorrente de que a mencionada regra editalícia refere-se apenas aos candidatos concorrentes das áreas técnicas profissionalizantes, como Arquitetura e Engenharias, — diante da ausência de cursos de licenciatura reconhecidos voltados especificamente para essas áreas do conhecimento —, o que não se aplicaria à situação da apelada, haja vista a existência de cursos de Licenciatura em Desenho e Plástica ofertados por diversas instituições de ensino do Brasil, tem-se que o dispositivo editalício não faz qualquer distinção expressa entre os candidatos a serem beneficiados pela norma. Assim, na hipótese de haver ambiguidade, possibilidade de dupla interpretação ou equívoco na redação da regra do edital quanto ao grupo de candidatos contemplado com a possibilidade de formação pedagógica complementar futura, não se pode imputar à candidata apelada qualquer prejuízo decorrente de eventual falha da Administração, no caso, do IFBA. Este Tribunal Regional da 1ª Região, ao apreciar casos similares referentes a editais de concurso público com previsões normativas que admitem interpretações diversas, firmou entendimento no sentido de que deve prevalecer a interpretação mais favorável ao candidato. Nesse sentido: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CONTRATAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO . NEGATIVA NA CONTRATAÇÃO. AMBIGUIDADE NA INTERPRETAÇÃO DOS TERMOS PREVISTOS NO EDITAL. DEMONSTRADA. INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CANDIDATO . SENTENÇA MANTIDA. I Cumpre destacar que o edital é a lei do concurso, e como tal vincula tanto o administrado quanto a Administração Pública. Suas disposições, conquanto elaboradas no âmbito do poder discricionário da Administração, e em observância aos princípios insertos no art. 37 da Constituição Federal, passam a determinar os atos administrativos, cuja motivação deve-lhe ser conforme . II - Na hipótese, a contratação do impetrante, por tempo determinado, foi negada ante a não comprovação da experiência profissional exigida para o desempenho do cargo, contudo, da simples leitura dos termos editalícios quanto aos requisitos exigidos ao cargo resta demonstrada a dubiedade na interpretação, pela utilização da conjunção "ou" e da palavra "acrescido" no singular, não estando devidamente claro se a exigência de experiência profissional superior a cinco anos também deve ser comprovada pelo candidato com curso de nível superior na área de Informática/Computação. III - Assim, verificada a ambiguidade na interpretação adotada pela Administração Pública quando da apreciação de suas próprias normas editalícias, é firme o entendimento de que deve prevalecer a interpretação mais favorável ao candidato, observados os princípios da Administração Pública. Precedentes. IV - Remessa oficial e apelação desprovidas . Sentença confirmada. (TRF-1 - AMS: 10181604120214013400, Relator.: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, Data de Julgamento: 07/12/2022, Data de Publicação: PJe 12/12/2022 PAG PJe 12/12/2022 PAG) [grifos acrecsidos] -.-.- CONCURSO PÚBLICO. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA). TÉCNICO EM RADIOLOGIA. EDITAL 02/2016 . PROVA PRÁTICA. EDITAL DE CONVOCAÇÃO. IMPRECISÃO QUANTO À DATA DE COMPARECIMENTO. INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CANDIDATO . 1. De acordo com o edital de convocação para a prova prática, os candidatos deveriam comparecer no período de 08 a 12/01/2018 para a realização da prova prática, com recepção dos candidatos às 8h00. O sorteio da ordem de apresentação seria às 9h00 e o início das provas às 13h30. 2 . A redação dos editais de abertura do certame e de convocação para a prova prática passam a ideia de que o candidato poderia comparecer em qualquer dia, entre 08 e 12/01/2018, e que o sorteio da ordem apresentação, estranhamente, seria diário. O edital é impreciso quanto ao comparecimento de todos candidatos em 08/12/2018, possivelmente para o sorteio da ordem de apresentação. 3. Além disso, já decidiu esta Corte que, constatada a ambiguidade no presente caso, sendo que o comando do edital possui duas interpretações possíveis, a presunção deverá recair contra a Administração Pública, prevalecendo a interpretação mais favorável ao candidato ( AC 0008972-85 .2014.4.01.3400, Desembargador Federal Kassio Nunes Marques, 6T, e-DJF1 10/11/2017) . 4. Provimento à apelação, reformando-se a sentença para que a Universidade Federal da Bahia possibilite aos autores, ora apelantes, a realização da prova prática do concurso em referência. ACÓRDÃO (TRF-1 - AC: 10033221020184013300, Relator.: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, Data de Julgamento: 24/01/2022, 6ª Turma, Data de Publicação: PJe 27/01/2022 PAG PJe 27/01/2022 PAG) [ grifos acrescidos] Cumpre ressaltar, que ao contrário do que sustenta o apelante, o acolhimento da pretensão da impetrante não configura interferência indevida do Poder Judiciário no mérito administrativo, porquanto se trata, na realidade, do exercício do controle de legalidade, expressamente admitido pelo ordenamento jurídico pátrio. Corroborando esse entendimento confiram-se os precedentes dos Tribunais Superiores: "EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Administrativo. Concurso público. Prequestionamento . Ausência. Exame médico. Preenchimento dos requisitos do edital. Análise de cláusulas do instrumento convocatório . Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Controle judicial da legalidade dos atos administrativos. Possibilidade . Precedentes. 1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF . 2. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise das cláusulas de edital de concurso público e o reexame dos fatos e das provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 279 e 454/STF. 3 . Não viola o princípio da separação dos poderes o controle de legalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos, incluídos aqueles praticados durante a realização de concurso público. 4. Agravo regimental não provido. 5 . Inaplicável o art. 85, § 11, haja vista tratar-se, na origem, de mandado de segurança". (RE 963952 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 23/09/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217 DIVULG 10-10-2016 PUBLIC 11-10-2016). (STF - AgR RE: 963952 AC - ACRE 1000964-84 .2014.8.01.0000, Relator.: Min . DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 23/09/2016, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-217 11-10-2016) -.-.- "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CORREÇÃO DE PROVAS . CONCURSO PÚBLICO. INVIABILIDADE. REGRA GERAL. PRECEDENTE QUALIFICADO . 1. Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados, salvo ocorrência de ilegalidade ou de inconstitucionalidade (Tema 485/STF). 2. Recurso ordinário em mandado de segurança não provido". (STJ - RMS: 72895 GO 2024/0012524-3, Relator.: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento: 21/05/2024, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/05/2024) [grifos acrescidos] Dessa forma, revela-se indevido o impedimento à posse da candidata devidamente aprovada e nomeada, diante da previsão, no próprio edital que regeu o certame, da possibilidade de formação pedagógica complementar futura. IV. Com essas considerações, nego provimento a remessa necessária e a apelação do IFBA. Incabíveis honorários advocatícios, nos termos do artigo 25 da Lei nº 12.016/2009. Custas ex lege. É como voto. Desembargador Federal FLÁVIO JARDIM Relator PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PJe/TRF1ª – Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 1006141-17.2018.4.01.3300 Processo Referência: 1006141-17.2018.4.01.3300 APELANTE: INSTITUTO FEDERAL DE EDUCACAO, CIENCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA APELADO: EMMILY GERSICA SANTOS GOMES EMENTA DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO IFBA. PROFESSOR DO ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO. AREA DO CONHECIMENTO-DESENHO. REQUISITO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA. EXIGÊNCIA DE LICENCIATURA EM DESENHO OU DESENHO E PLÁSTICA. POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA FUTURA. PREVISÃO EM EDITAL. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO DESPROVIDAS 1. Apelação interposta contra sentença que concedeu a segurança para determinar ao impetrado que adote as providências cabíveis para dar posse à candidata no cargo de professora efetiva de Desenho, com dedicação exclusiva, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA 2. Na espécie, a impetrante foi aprovada em primeiro lugar no concurso público para o cargo de Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, na área de Desenho do IFBA. Foi nomeada, mas teve a posse negada sob o fundamento de que não possuía a formação acadêmica exigida em edital, qual seja, Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica. 3. O edital que regeu o concurso, no item 19.5, previu expressamente exceção à exigência do requisito de formação, ao dispor que o candidato que não possuísse a Licenciatura, após a investidura no cargo e no decorrer do estágio probatório, deveria providenciar a formação, considerando a exigência prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 4. Assim, diante da previsão, no regulamento do concurso, da possibilidade de formação pedagógica complementar futura, revela-se indevido o impedimento à posse da candidata devidamente aprovada e nomeada, com fundamento unicamente no fato de não possuir Licenciatura em Desenho ou Desenho e Plástica. 5. Remessa Necessária e Apelação desprovida. Incabíveis honorários advocatícios na espécie. ACÓRDÃO Decide a Sexta Turma, à unanimidade, negar provimento a Remessa Necessária e a Apelação, nos termos do voto do Relator. Brasília/DF, data e assinatura eletrônicas. Desembargador Federal FLÁVIO JARDIM Relator

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Processo nº 1007017-41.2024.4.01.9999

ID: 325676735

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1007017-41.2024.4.01.9999

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JOSE MARIA GOMES

Acórdão

Advogados:

DIVINA PAULA FERREIRA DA SILVA

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CARLOS ROSEMBERG FERREIRA DA SILVA

OAB/GO XXXXXX Desbloquear

JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1007017-41.2024.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5495095-35.2022.8.09.0154 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL D… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1007017-41.2024.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5495095-35.2022.8.09.0154 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO:JOSE MARIA GOMES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CARLOS ROSEMBERG FERREIRA DA SILVA - GO40040-A e DIVINA PAULA FERREIRA DA SILVA - GO57406 RELATOR(A):URBANO LEAL BERQUO NETO Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1007017-41.2024.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5495095-35.2022.8.09.0154 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO:JOSE MARIA GOMES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CARLOS ROSEMBERG FERREIRA DA SILVA - GO40040-A e DIVINA PAULA FERREIRA DA SILVA - GO57406 RELATÓRIO O Excelentíssimo Desembargador Federal Urbano Leal Berquó Neto (Relator): Trata-se de apelação interposta pela parte ré de sentença que julgou procedente o pedido inicial, determinando à autarquia o reconhecimento de período de labor especial exercido pelo autor e concedendo aposentadoria por tempo de contribuição. Narra o apelante, preliminarmente, que carece o autor de interesse de agir por não ter juntado perfil profissiográfico previdenciário ao procedimento administrativo. Aduz que, em se tratando de sentença ilíquida, deveria o feito ter sido submetido à remessa necessária. Afirma que não restou comprovada a habitualidade e permanência do contato com agentes nocivos e que foi fornecido ao autor EPI eficaz. Alega a vedação á conversão de tempo especial em comum após a edição da EC 103/2019. Discorre sobre questões alheias aos autos, como exposição a ruído, enquadramento de atividades perigosas e requisitos de validade do PPP – ao passo que o período reconhecido em sentença se deu por análise de LTCAT. Sucessivamente, requer que os efeitos financeiros da condenação obedeçam ao Tema 995 do STJ, novamente afirmando a ausência de PPP no feito administrativo. O apelado apresentou contrarrazões. É o relatório. Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1007017-41.2024.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5495095-35.2022.8.09.0154 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO:JOSE MARIA GOMES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CARLOS ROSEMBERG FERREIRA DA SILVA - GO40040-A e DIVINA PAULA FERREIRA DA SILVA - GO57406 V O T O O Excelentíssimo Desembargador Federal Urbano Leal Berquó Neto (Relator): De pronto, ressalto não caber, no presente caso, o pedido de conhecimento de recurso de ofício. Na órbita da remessa necessária após edição do atual CPC e com sentença ilíquida, predomina a ideia, perante o STJ, que “a elevação do limite para conhecimento da remessa necessária significa uma opção pela preponderância dos princípios da eficiência e da celeridade, e não obstante a aparente iliquidez das condenações, se houver possibilidade de aferição por simples cálculos aritméticos, forçoso reconhecimento que se trata de verdadeira hipótese de dispensa de reexame” (.eAgInt no REsp 1916025 / SCAGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL2021/0009188-7). Afinal, “entende o Superior Tribunal de Justiça que, se o montante for mensurável, a aparente iliquidez do julgado, quando abaixo dos limites legais, não justifica a remessa necessária". Precedentes: AgInt no REsp 1705814/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 04/09/2020; AgInt no REsp 1873359/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, DJe 17/09/2020; EDcl no REsp 1891064/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 18/12/2020” (AgInt no AREsp 1807306 / RN, AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL2020/0347457-0). Reportando-se à senda previdenciária a incisividade é ainda mais aguda, como se detecta do seguinte excerto obtido junto ao STJ: "Com o julgamento do REsp. 1.735.097/RS, a Primeira Turma do STJ, guiada pelo voto condutor do Min. GURGEL DE FARIAS, pacificou o entendimento de que a orientação da Súmula 490/STJ não se aplica às sentenças ilíquidas nos feitos de natureza previdenciária, a partir dos novos parâmetros definidos no art. 496, § 3º, I do CPC/2015, que dispensa o duplo grau obrigatório às sentenças contra a União e suas autarquias cujo valor da condenação ou do proveito econômico seja inferior a mil salários mínimos. (AgInt no REsp 1797160 / MS, AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL, 2019/0039361-4)". A escora de dito posicionamento ampara-se na preponderância da harmonização da jurisprudência dos Tribunais, na espécie, o TRF1 (art. 926, do CPC), além de salvaguardar os princípios da economia e celeridade processual, sem se olvidar do apreço ao art. 1º, do Diploma Instrumental Civil em conjugação com o preceptivo 5º, LXXVIII da Lei Fundamental. Assim, correto o juízo originário ao não submeter o feito à remessa de ofício, devendo ser conhecida apenas a apelação. Afasto, ainda, a preliminar aventada – bem como as questões de mérito a ela relacionadas, como a modificação da DIB – pelo fato de não haver comprovação de que não houve apresentação de provas da atividade especial na esfera administrativa. Isso porque, não tendo sido a questão objeto de discussão na contestação, não se sabe se a documentação carreada aos autos na ocasião pelo INSS corresponde à integralidade dos autos administrativos. Passo à análise do mérito. A caracterização do tempo de serviço especial obedece a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do Tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico No caso dos autos, não houve reconhecimento de especialidade por mera presunção legal. Todo o período reconhecido se deu com base em LTCAT expedido pelo empregador “Auto Posto Baratão”, que indicou que, na função exercida, o autor esteve exposto a benzeno, hidrocarbonetos e seus compostos. Quanto à exposição a hidrocarbonetos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). No mais, a jurisprudência desta Corte já fixou que “a exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins” (ApCiv 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Des. Gustavo Soares Amorim, Primeira Turma, julgado e 24/05/2022). De outra ponta, a exposição a hidrocarbonetos é caracterizada pela avaliação simplesmente qualitativa. Veja-se, a respeito, entendimento sedimentado pela TNU: EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE ATIVIDADE ESPECIAL. AGENTES NOCIVOS. HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS. RECONHECIMENTO. ANÁLISE QUALITATIVA. INCIDENTE CONHECIDO E IMPROVIDO. - Trata-se de incidente de uniformização movido pelo INSS em face de Acórdão da Turma Recursal do Rio Grande do Sul, que reformou a sentença para reconhecer como especial o período de 28/07/2003 a 19/05/2011 em razão da exposição habitual e permanente a hidrocarbonetos aromáticos (cloreto metileno, dimetilformamida e polisocianatos), não se tendo exigido a avaliação quantitativa, vez que a substância referida encontra-se relacionada no anexo 13 da NR-15. - Sustenta a parte recorrente que a Turma de origem contrariou o entendimento firmado pela 5ª Turma Recursal de São Paulo (00107483220104036302), no sentido de que após 05/03/1997 se exige medição e indicação da concentração, em laudo técnico, para enquadramento da atividade como especial, no ambiente de trabalho de agente nocivo listado no anexo IV, dos decretos 2.172/97 e 3.048/99, em níveis superiores aos limites de tolerância. - Os agentes químicos álcoois e hidrocarbonetos caracterizam a atividade como especial para fins previdenciários, na forma dos quadros anexos aos Decretos nº 53.831/64 (código 1.2.11), nº 83.080/79 (código 1.2.10 do anexo I), nº 2.172/97 (código 1.0.19 do anexo IV) e nº 3.048/99 (código 1.0.19 do anexo IV). - A TRU-4ª Região já entendeu não ser possível limitar a 05/03/1997 o reconhecimento da insalubridade do ambiente de trabalho com base na análise qualitativa do risco causado pela exposição a hidrocarbonetos aromáticos, em razão de tais agentes, previstos no Anexo 13 da NR-15, submeterem-se à análise qualitativa de risco, independentemente da época de prestação da atividade. A análise quantitativa deve ser observada quanto aos agentes referidos nos anexos 11 e 12 da referida norma regulamentadora. (PEDILEF nº 5011032-95.2011.404.7205, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão João Batista Lazzari, juntado aos autos em 27/10/2014). - Com efeito, a NR-15 considera atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem acima dos limites de tolerância com relação aos agentes descritos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 11 e 12, entendendo-se por "Limite de Tolerância", a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. - Para as atividades mencionadas nos Anexos 6, 13 e 14, não há indicação a respeito de limites de tolerância. - No caso dos autos, a fundamentação do acórdão recorrido permite concluir que a parte autora, no exercício de suas funções, estava exposta a hidrocarbonetos aromáticos (cloreto metileno, dimetilformamida e polisocianatos), agentes químicos previstos no Anexo 13 da NR-15 e para os quais a constatação de insalubridade decorre de inspeção realizada no local de trabalho, não se sujeitando a qualquer limite de tolerância. - Dessa forma, CONHEÇO e NEGO provimento ao incidente de uniformização interposto pelo INSS para firmar a tese de que a análise da especialidade em decorrência da exposição a agentes químicos previstos no Anexo 13 da Norma Regulamentadora 15, como é o caso dos hidrocarbonetos aromáticos, é qualitativa e não se sujeita a limites de tolerância, independentemente do período em que prestada a atividade (50047370820124047108, JUIZ FEDERAL FREDERICO AUGUSTO LEOPOLDINO KOEHLER, DOU 27/09/2016 PÁGINAS 54/453). Quanto ao fornecimento de EPI’s, o STJ, na ferramenta denominada “jurisprudência em teses”, firmou o seguinte entendimento: 2) O fornecimento de equipamento de proteção individual - EPI ao empregado não afasta, por si só, o direito ao benefício da aposentadoria especial, devendo cada caso ser apreciado em suas particularidades. Acórdãos AgRg no AREsp 558157/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 17/03/2015,DJE 30/03/2015 REsp 1510705/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, Julgado em 24/02/2015,DJE 03/03/2015 AgRg no AREsp 406164/RS, Rel. Ministra MARGA TESSLER (JUÍZA FEDERAL CONVOCADA DO TRF 4ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA,Julgado em 16/12/2014,DJE 19/12/2014 AgRg no AREsp 534664/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, Julgado em 02/12/2014,DJE 10/12/2014 AgRg no AREsp 537412/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,Julgado em 23/09/2014,DJE 30/10/2014 AgRg no AREsp 567415/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, Julgado em 07/10/2014,DJE 15/10/2014 AgRg no AREsp 483679/RS, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,Julgado em 27/05/2014,DJE 03/06/2014 AgRg no AREsp 348674/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,Julgado em 24/09/2013,DJE 01/10/2013 AgRg no AREsp 099858/GO, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 18/12/2012,DJE 04/02/2013 Decisões Monocráticas AREsp 672884/SC, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 19/03/2015,Publicado em 23/03/2015 AREsp 651230/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,Julgado em 27/02/2015,Publicado em 05/03/2015 Destaco ainda que o STF, no julgamento do Tema 555, entendeu que em relação aos agentes nocivos diversos do ruído a utilização de equipamento de proteção somente descaracterizará a especialidade da atividade se comprovada, por laudo técnico, a sua real efetividade, e demonstrado nos autos o seu uso permanente pelo empregado durante a jornada de trabalho. No caso em discussão, a despeito de o LTCAT ter listado os EPI’s indicados para a função do autor, o PPP não indica seu efetivo fornecimento. Assim, tenho que não restou comprovada a efetividade dos equipamentos de proteção. Quanto à habitualidade e permanência, também o LTCAT dispõe que o contato do segurado com hidrocarbonetos é “permanente e contínuo”, estando cumprido tal requisito. Por fim, assiste razão ao apelante no que tange à impossibilidade de conversão de tempo especial em comum após a edição da Emenda Constitucional 103/2019. É o texto da referida Emenda: Art. 25. Será assegurada a contagem de tempo de contribuição fictício no Regime Geral de Previdência Social decorrente de hipóteses descritas na legislação vigente até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional para fins de concessão de aposentadoria, observando-se, a partir da sua entrada em vigor, o disposto no § 14 do art. 201 da Constituição Federal. § 1º Para fins de comprovação de atividade rural exercida até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, o prazo de que tratam os §§ 1º e 2º do art. 38-B da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, será prorrogado até a data em que o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) atingir a cobertura mínima de 50% (cinquenta por cento) dos trabalhadores de que trata o § 8º do art. 195 da Constituição Federal, apurada conforme quantitativo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). § 2º Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data. Assim, será possível a conversão do tempo de labor especial do autor tão somente até 13/11/2019, fazendo com que se modifique o quadro contributivo do apelado: Nº Nome / Anotações Início Fim Fator Tempo Carência 1 JOANIDES MARQUES DA SILVA 01/07/1983 31/12/1985 1.00 2 anos, 6 meses e 0 dias 30 2 NACIONAL EXPRESSO LTDA EM RECUPERACAO JUDICIAL 24/03/1986 02/05/1994 1.00 8 anos, 1 mês e 9 dias 99 3 EMPRESA SANTO ANTONIO TRANSPORTE E TURISMO LTDA 01/11/1994 30/04/2000 1.00 5 anos, 6 meses e 0 dias 66 4 EMPRESA SANTO ANTONIO TRANSPORTE E TURISMO LTDA 01/07/1995 31/12/1998 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 5 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREC-MENOR-MIN) 01/05/2003 31/05/2006 1.00 3 anos, 0 meses e 0 dias 36 6 RECOLHIMENTO 01/01/2006 31/01/2006 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 7 31 - AUXILIO DOENCA PREVIDENCIARIO (NB 5157714650) 28/01/2006 31/05/2006 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias Ajustada concomitância 1 8 POSTO BARATAO LTDA (IEAN) 01/06/2006 13/11/2019 1.40 Especial 13 anos, 6 meses e 0 dias + 5 anos, 4 meses e 17 dias = 18 anos, 10 meses e 17 dias 162 9 POSTO BARATAO LTDA (IEAN) 14/11/2019 02/03/2024 1.00 4 anos, 4 meses e 0 dias Ajustada concomitância Período parcialmente posterior à DER 52 10 31 - AUXILIO DOENCA PREVIDENCIARIO (NB 7167691497) 18/10/2024 21/01/2025 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Período posterior à DER 0 Até a DER (16/08/2022) 40 anos, 9 meses e 12 dias 427 59 anos, 3 meses e 29 dias 100.1139 Verifica-se, assim, que permanece o direito do autor à aposentadoria com tempo de contribuição sem a incidência do fator previdenciário, devendo ser afastada apenas a especialidade do período posterior à edição da EC 103/2019. Em atenção ao expendido, DOU PARCIAL PROVIMENTO A APELO tão somente para afastar a especialidade do período compreendido entre 13/11/2019 até a DER, mantendo a sentença nos seus demais termos. Tendo em vista a sucumbência mínima da parte autora, mantenho os honorários conforme fixados em primeiro grau. É como voto. Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO Relator Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1007017-41.2024.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5495095-35.2022.8.09.0154 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO:JOSE MARIA GOMES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: CARLOS ROSEMBERG FERREIRA DA SILVA - GO40040-A e DIVINA PAULA FERREIRA DA SILVA - GO57406 E M E N T A PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ILÍQUIDA. DESNECESSIDADE DE SUBMISSÃO DO FEITO A REMESSA NECESSÁRIA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE JUNTADA DE DOCUMENTOS ESSENCIAIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO PELO SEGURADO. NÃO COMPROVAÇÃO. APOSENTADORIA ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A HIDROCARBONETOS. CONFIGURAÇÃO DE ATIVIDADE ESPECIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA EFICÁCIA DO EPI. TEMA 555 DO STF. HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA COMPROVADAS. IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM APÓS A EDIÇÃO DA EC 103/2019. APELAÇÃO PROVIDA EM PARTE. 1. Na órbita da remessa necessária após edição do atual CPC e com sentença ilíquida, predomina a ideia, perante o STJ, que “a elevação do limite para conhecimento da remessa necessária significa uma opção pela preponderância dos princípios da eficiência e da celeridade, e não obstante a aparente iliquidez das condenações, se houver possibilidade de aferição por simples cálculos aritméticos, forçoso reconhecimento que se trata de verdadeira hipótese de dispensa de reexame” (.eAgInt no REsp 1916025 / SCAGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL2021/0009188-7). Afinal, “entende o Superior Tribunal de Justiça que, se o montante for mensurável, a aparente iliquidez do julgado, quando abaixo dos limites legais, não justifica a remessa necessária". Assim, correto o juízo originário ao não submeter o feito à remessa de ofício, devendo ser conhecida apenas a apelação. 2. Afasta-se a preliminar de ausência de interesse de agir - bem como as questões de mérito a ela relacionadas, como a modificação da DIB – pelo fato de não haver comprovação de que não houve apresentação de provas da atividade especial na esfera administrativa. Isso porque, não tendo sido a questão objeto de discussão na contestação, não se sabe se a documentação carreada aos autos na ocasião pelo INSS corresponde à integralidade dos autos administrativos. 3. A caracterização do tempo de serviço especial obedece a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do Tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. 4. No caso dos autos, não houve reconhecimento de especialidade por mera presunção legal. Todo o período reconhecido se deu com base em LTCAT expedido pelo empregador “Auto Posto Baratão”, que indicou que, na função exercida, o autor esteve exposto a benzeno, hidrocarbonetos e seus compostos. O Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). 5. De acordo com tese firmada pela TNU, “a análise da especialidade em decorrência da exposição a agentes químicos previstos no Anexo 13 da Norma Regulamentadora 15, como é o caso dos hidrocarbonetos aromáticos, é qualitativa e não se sujeita a limites de tolerância” (50047370820124047108, JUIZ FEDERAL FREDERICO AUGUSTO LEOPOLDINO KOEHLER, DOU 27/09/2016 PÁGINAS 54/453. 6. O STF, no julgamento do Tema 555, entendeu que em relação aos agentes nocivos diversos do ruído a utilização de equipamento de proteção somente descaracterizará a especialidade da atividade se comprovada, por laudo técnico, a sua real efetividade, e demonstrado nos autos o seu uso permanente pelo empregado durante a jornada de trabalho. No caso em discussão, a despeito de o LTCAT ter listado os EPI’s indicados para a função do autor, o PPP não indica seu efetivo fornecimento. Assim, não restou comprovada a efetividade dos equipamentos de proteção. 7. Quanto à habitualidade e permanência, também o LTCAT dispõe que o contato do segurado com hidrocarbonetos é “permanente e contínuo”, estando cumprido tal requisito. 8. Assiste razão ao apelante no que tange à impossibilidade de conversão de tempo especial em comum após a edição da Emenda Constitucional 103/2019. No entanto, mesmo com a exclusão dos períodos posteriores a 13/11/2019, permanece o direito do apelado à aposentadoria por tempo de contribuição. 9. Apelo provido em parte tão somente para afastar a especialidade do período compreendido entre 13/11/2019 até a DER, mantendo a sentença nos seus demais termos. A C Ó R D Ã O Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO APELO, nos termos do voto do Relator. Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO Relator

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Processo nº 0075822-36.2013.8.13.0637

ID: 323677951

Tribunal: TJMG Órgão: 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0075822-36.2013.8.13.0637

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

JORGE LUIZ FERNANDES

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

ELEANDRO ESTEVES GUIMARAES

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

ULISSES MATARESIO ARIAS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP: 37470-000 PROCESSO Nº: 0075822-36.2013.8.13.0637 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Aposentadoria Especial (Art. 57/8)] AUTOR: JORGE LUIZ FERNANDES CPF: 693.545.616-91 RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL CPF: 29.979.036/0001-40 SENTENÇA RELATÓRIO. Vistos. Cuida-se de AÇÃO DE CONCESSÃO DE APOSENTADORIA ESPECIAL movida por JORGE LUIZ FERNANDES, brasileiro, gráfico, CPF nº 693.545.616-91, nascido em 03/04/1970, residente e domiciliado na Rua Atílio Rodrigues, nº 90, Bairro Jardim das Acácias, São Lourenço, em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Valor da causa R$ 12.000,00. Distribuído em 13/09/2013. O autor narra ter requerido a concessão da Aposentadoria Especial junto da autarquia na data de 15/02/2013, o que restou indeferido à época. Argumenta que exercia atividades laborais própria da profissão de Gráfico, estando em contato com agentes insalubres, produtos tóxicos, óleos, graxas e querosenes. Aponta que exerceu atividades insalubres de 02/09/1985 a 08/06/1996; 01/12/1996 a 15/10/2001; 09/04/2002 a 31/12/2004 na empresa Gráfica Novo Mundo Ltda, e de 01/03/2005 a 10/09/2009; 01/02/2010 até a data da distribuição da ação judicial (13/09/2013) na empresa Novo Mundo Gráfica e Editora Ltda. Alega que o período total de atividades insalubres totalizou 26 anos, 5 meses e 20 dias. Em razão desses fatos, requereu a procedência dos pedidos para que lhe seja concedida a Aposentadoria Especial, desde a data do indeferimento administrativo. Solicitou a concessão da justiça gratuita. Anexou documentos aos autos. Indeferimento administrativo anexado ao ID 9797523734, p. 13. Justiça gratuita concedida no ID 9797523734, p. 23. Contestação anexada ao ID 17981416, p. 65. Não houve indicação de preliminares. No mérito, argumenta que o autor não preencheu os requisitos estabelecidos na Emenda Constitucional nº 20/98, sendo a contribuição por 30 anos para o RGPS, ou o pedágio previsto no artigo 9º, §1º, I, b da referida Emenda. Ao final, pugnou pela improcedência dos pedidos. Na oportunidade, o requerido anexou documentos aos autos. PPP do período de 01/12/1996 a 01/12/2001 anexado ao ID 97975344000, p.21 (Ruído e Gasolina). PPP do período 09/04/2002 a 31/12/2004 anexado ao ID 9797534000, p. 23 (Ruído e Gasolina). PPP do período de 01/03/2005 a 31/10/2009 anexado ao ID 9797534000, p.25 (sem indicação de fator de risco). PPP do período de 01/02/2010 a 24/11/2010 e 24/11/2010 a 15/02/2013, anexado ao ID 9797534000, p.27 (Cera automotiva, gasolina, querosene, ruído, desengraxante). CTPS no ID 9797534000, p.5. Impugnação anexada ao ID 9797516775, p. 23. Decisão de saneamento no ID 9797522734, p. 13, seguindo-se com a nomeação de perito no ID 9797527320, p. 37. Laudo pericial anexado ao ID 9797497826, p.2 (22/03/2018). Intimado, o autor manifestou no ID 17981419, p. 33, concordando com os seus termos e pugnando pela homologação. O requerido, por sua vez, impugnou os termos apontados pelo perito judicial, ID 9797497826, p.37. Alegações finais da parte autora no ID 9797497826, p. 41. O requerido reiterou os termos já apontados aos autos, ID 9797520436, p. 14. Sentença de improcedência proferida no ID 9797520436, p. 17 (08/04/2019). Recurso de Apelação da parte autora no ID 9797520436, p. 26 (30/04/2019). Acórdão proferido no ID 10320639676 (07/08/2024), momento em que julgou prejudicado o recurso, anulando, de ofício, a sentença proferida (fundamentação: sentença extra petita). É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO. As partes encontram-se devidamente representadas e o direito à produção de provas foi respeitado. Com isso, concluo pela inexistência de nulidades. Inicialmente, registro que o juiz não fica obrigado a se manifestar sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Essa orientação é encontrada na Jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça, em especial no julgamento do REsp n. 1.446.943/SP e AgInt nos EDcl no AREsp n. 920.756/SP. STJ - 2018 [...] III. O juiz não está obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas as questões trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta entende pertinentes para a resolução da controvérsia. A negativa de prestação jurisprudencial configura-se apenas quando o Tribunal deixa de se manifestar sobre ponto relevante, que seria indubitavelmente necessário ao deslinde do litígio. [...] (REsp n. 1.446.943/SP, relatora Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, julgado em 16/5/2017, DJe de 9/5/2018.) STJ - 2019 [...] III - A questão foi decidida de maneira fundamentada e completa. É sabido que o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. IV - Ressalte-se, ainda, que cabe ao magistrado decidir a questão de acordo com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. E mais. O fato de o Tribunal a quo decidir a lide de forma contrária à tese defendida pelo recorrente, elegendo fundamentos diversos daqueles por ele propostos, não dá margem à alegação de violação do art. 535 do CPC/73. [...] (AgInt nos EDcl no AREsp n. 920.756/SP, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 19/3/2019, DJe de 26/3/2019.) Inexistindo questões preliminares a serem apreciadas, passo, então, à análise do mérito. A Aposentadoria Especial consta do artigo 57 da Lei nº 8.213/91, o qual define que a benesse será concedida ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos. Para tanto, a concessão dependerá de comprovação do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. São esses os requisitos, portanto, (i) tempo de trabalho e (ii) exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente. Dos períodos de atividade especial apontados. Segundo narra a parte autora, os períodos de atividade especial são: i) 02/09/1985 a 08/06/1996 (CPTS no ID 17981416, p. 86. Categoria profissional. Desempenho de atividade insalubre). ii) 01/12/1996 a 15/10/2001 (PPP anexado ao ID 97975344000, p.21, Ruído e Gasolina). iii) 09/04/2002 a 31/12/2004 (PPP anexado ao ID 9797534000, p. 23, Ruído e Gasolina). iv) 01/03/2005 a 10/09/2009 (PPP anexado ao ID 9797534000, p.25 - Sem indicação de fator de risco. Função: operador de guilhotina). v) 01/02/2010 a 24/11/2010 (PPP anexado ao ID 9797534000, p.27. Cera automotiva, gasolina, querosene, ruído). vi) 24/11/2010 a 15/02/2013 (PPP emitido em 22/04/2013 e anexado ao ID 9797534000, p.27 Cera automotiva, gasolina, querosene, ruído, desengraxante - wash). Do ruído. PPP. O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial nos seguintes níveis: (i) Antes do Decreto n. 2.171/97 (até 05/03/1997) acima de 80 decibéis; (ii) Depois do Decreto n. 2.171/97 e antes do Decreto n. 4.882/2003 (de 06/03/1997 a 18/11/2003) acima de 90 decibéis e; (iii) A partir do Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) acima de 85 decibéis. Conforme Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, aplica-se a lei vigente à época da prestação do serviço para fins de identificação das características presenciadas pelo segurado. Não se admite, portanto, a aplicação retroativa de legislação benéfica para período anterior. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. TEMPO ESPECIAL. RUÍDO. LIMITE DE 90DB NO PERÍODO DE 6.3.1997 A 18.11.2003. DECRETO 4.882/2003. LIMITE DE 85 DB. RETROAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. [...] (REsp 1398260/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/05/2014, DJe 05/12/2014) Ainda sobre o ruído, a referida Corte possui o entendimento de que a eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria, no caso de o segurado estar exposto ao agente nocivo ruído. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. VERIFICAÇÃO DA EFICÁCIA PARA AFASTAR A INSALUBRIDADE DA ATIVIDADE LABORAL. IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ. SEGURADO SUJEITO À EXPOSIÇÃO DO AGENTE NOCIVO RUÍDO. [...] 4. O Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que a eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria, no caso de o segurado estar exposto ao agente nocivo ruído. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.487.696 – RS) Dos agentes químicos/biológicos/calor. PPP. Segundo a Jurisprudência do Tribunal Regional Federal, “os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa” (AC n. 0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021 PAG.) Ainda, com relação à exposição do trabalhador a outros agentes químicos agressivos (óleos, graxas e semelhantes), o referido Tribunal Federal já decidiu que, sobre tais substâncias, “há de se considerar se os formulários não especificam a composição e/ou o grau de refinamento dos óleos minerais utilizados pelas empresas empregadoras. Se não for possível saber se se cuidam de óleos tratados ou refinados e, ainda, livres de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, deve ser observada a especialidade, em aplicação do entendimento do STF no ARE nº 664.335, quando fala que, em caso de dúvida, deverá ser resolvido em prol do segurado, assim reconhecido o seu risco carcinogênico, conforme Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014” (AC n. 0002050-77.2014.4.01.3804, relator Juiz Federal GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, 2ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, PJe 21/04/2022 PAG.) Caso dos autos. Do enquadramento da atividade por categoria profissional. Lei nº 9.032/95. A partir da carteira de trabalho do autor, ora anexado ao ID 9797534000, p. 5, verifico que o primeiro período alegado sob condição de atividade especial é anterior à Lei nº 9.032/95. Nesse sentido, relevante consignar que essa norma foi a responsável por alterar a Lei de benefícios (artigo 57), momento em que passou a exigir a comprovação da real exposição aos agentes nocivos presenciados pelo autor, que, até então, não era medida necessária, visto que o enquadramento se dava por categoria profissional. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. § 4º O período em que o trabalhador integrante de categoria profissional enquadrada neste artigo permanecer licenciado do emprego, para exercer cargo de administração ou de representação sindical, será contado para aposentadoria especial. (redação original) § 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. (redação atual) Identifico, assim, que até a referida alteração legislativa, as atividades desempenhadas pelo autor (categoria profissional), constavam do Anexo II do Decreto nº 83.080/79, especificadamente do seu item nº 2.5.8. Conforme consta do documento, para a Indústria Gráfica e Editorial exigia-se o tempo mínimo de trabalho de 25 anos para o gozo da benesse (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/anexo/and83080-79.pdf (Anexo II, Item nº 2.5.8 - p. 204). Desse modo, todo período trabalhado pelo autor até a data de publicação da Lei 9.032/95, deve ser reconhecido como tempo de atividade especial, por se tratar de enquadramento em categoria profissional. Nesse sentido, prevê a Jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça: “[...] a legislação em vigor na ocasião da prestação do serviço regula a caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais. Ou seja, observa-se o regramento da época do trabalho para a prova da exposição aos agentes agressivos à saúde: se pelo mero enquadramento da atividade nos anexos dos Regulamentos da Previdência, se mediante as anotações de formulários do INSS ou, ainda, pela existência de laudo assinado por médico do trabalho” (REsp 1151363 / MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado 23/03/2011, DJe 05/04/2011). Caso dos autos. Ruído. Enfrentado o primeiro período (categoria profissional), passo à análise dos demais. Período de 01/12/1996 a 15/10/2001: o PPP anexado ao ID 9797534000, p.21, revela que o autor estava exposto a 78,600 dBA, quantitativo inferior, portanto, ao montante previsto pelo Decreto n. 2.171/97 (até 05/03/1997), que exigia valor superior a 80 decibéis, e Decreto n. 2.171/97 (06/03/1997 a 18/11/2003), que passou a exigir quantidade acima de 90 decibéis. Ambos os decretos são aplicados, visto que o lapso temporal indicado pelo requerente encontra-se dentro da faixa temporal. Período de 09/04/2002 a 31/12/2004: o PPP de ID 9797534000, p. 23, informa que o autor também estava exposto a 78,600 dBA, quantitativo abaixo, portanto, daquele previsto pelo referido Decreto n. 2.171/97 (90 decibéis) e, ainda, Decreto n. 4.882/2003 de 19/11/2003 (85 decibéis). Período de 01/03/2005 a 10/09/2009: o PPP anexado ao ID 9797534000, p.25 não indica fator de risco e exposição a ruído. Desse modo, não se revela possível identificar a real condição laboral alegada como especial. Períodos de 01/02/2010 a 24/11/2010; 24/11/2010 a 22/04/2013: os PPP anexado ao ID 9797534000, p.27 e ID 9797534000, p.27, indicam 76,300 dBA e 80,300 dBA, abaixo, portanto, do estabelecido pelo Decreto n. 4.882/2003, que passou a exigir 85 decibéis. Conclui-se, assim, que o autor não estava exposto ao nível mínimo de ruído exigido pelos decretos. Caso dos autos. Agentes químicos. Cera automotiva, gasolina, querosene, desengraxante – Wash. Constam do PPP as seguintes informações. O autor, no período de 01/12/1996 a 15/10/2001 e 09/04/2002 a 31/12/2004, laborou com exposição à Gasolina, conforme PPPs anexados ao ID 9797534000, p. 23, e ID 97975344000, p.21. No que se refere ao período de 01/03/2005 a 10/09/2009, o PPP anexado ao ID 9797534000, p.25 não indica a manipulação de produtos de natureza química, o que me permite concluir que o requerente, no ferido lapso temporal, não estava exposto a agentes químicos. Assim, não há se falar em reconhecimento da atividade especial desenvolvida como especial. Já em relação ao período de 01/02/2010 a 24/11/2010 e 25/11/2010 a 22/04/2013, os PPPs anexados ao ID 9797534000, p.27, revelam o laboro do autor com exposição a agentes químicos, como cera automotiva, gasolina, querosene e desengraxante – Wash. Em sendo assim, convém ressaltar que o laudo pericial produzido nos autos identificou a caracterização da insalubridade de grau máximo, apontando, para tanto, que os produtos químicos com os quais o requerente trabalhava eram derivados do petróleo e de hidrocarbonetos. Ademais, destacou-se a ausência de fornecimento de EPIs e de treinamentos para a utilização de tais materiais. Nesse aspecto (EPI), relevante consignar que eventual disponibilização pelo empregador não seria suficiente para descaracterizar, por si só, a especialidade da atividade desempenhada pelo segurado, visto ser necessário analisar o caso concreto a partir de suas particularidades (AgRg no AREsp 558.157/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 30/03/2015). Veja-se: E, ao final, o Perito concluiu nos seguintes moldes: Sobre os hidrocarbonetos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. OMISSÃO INEXISTENTE. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. RECONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. TEMPUS REGIT ACTUM. [...] 3. A exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014). No mesmo sentido, tem-se a Jurisprudência do E. Tribunal Regional Federal: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSO CIVIL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM. SUJEIÇÃO A RUÍDO E A AGENTE QUÍMICO (HIDROCARBONETO – ÓLEO MINERAL E GRAXA). AVALIAÇÃO QUALITATIVA. USO DE EPI. IRRELEVÂNCIA. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA CONFORME MANUAL DE CÁLCULOS DA JUSTIÇA FEDERAL.[...] 4. A exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins”. 5. Conforme tem assentado esta Corte Regional “(...) os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa (...)”, bem como que “(...) especificamente em relação aos agentes nocivos químicos, em que a avaliação é meramente qualitativa, a especialidade do tempo de serviço somente deve ser afastada quando ficar comprovado que a utilização do EPI neutraliza ou elimina totalmente a nocividade do agente, circunstância inocorrente na espécie (...).” (AMS 0003427-53.2014.4.01.3814, JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 10/12/2020 PAG.). [...] (APELAÇÃO CÍVEL n. 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO SOARES AMORIM, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO). Comprovada a exposição do segurado a agente nocivo, conclui-se pela possibilidade de reconhecer a especialidade da atividade laboral por ele exercida. Da Emenda Constitucional 20/98. Em nome da garantia constitucional ao direito adquirido, os segurados do RGPS que já haviam cumprido todos os requisitos para a concessão da aposentadoria na forma da legislação vigente até a data da EC n. 20/98 (16/12/1998) tiveram seus direitos preservados. Caso contrário, passaram a se submeter às regras estabelecidas no novo regramento constitucional. A EC n. 20/98, ao alterar os arts. 201 e 202 da CF/88, pôs fim à aposentadoria proporcional por tempo de contribuição no âmbito do RGPS, conforme se verifica do disposto no §7º do referido art. 201. Nas regras transitórias (art. 9º da EC n. 20/98) foi assegurada a possibilidade de concessão da aposentadoria por tempo de contribuição integral ou proporcional exigindo-se cumulativamente, todavia: (i) a idade de 53 (cinquenta e três anos), se homem, e 48 (quarenta e oito) anos, se mulher, (ii) tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma de 35 anos, se homem, e 30 anos, se mulher; (iii) a integralização do percentual de contribuição (pedágio) de 20% (vinte por cento) do tempo faltante para a aposentadoria integral e 40% (quarenta por cento) do tempo faltante para a proporcional. Quanto às regras permanentes, o art. 201, §7º, da CF/88 assegurou a aposentadoria no regime geral da previdência social nos termos da lei: (i) aos trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher, (ii) idade de 65 (sessenta e cinco) anos para o homem e 60 (sessenta) anos para a mulher (reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal). No que se refere ao tempo de serviço posterior à Emenda Constitucional nº 20/98, o entendimento do STF é no sentido de que, se o segurado quiser agregar tempo de serviço posterior à referida emenda, tem de se submeter ao novo ordenamento, com observância das regras de transição, tanto em relação ao pedágio, como no que concerne à idade mínima. A adoção de um sistema híbrido não é admitida pelo Supremo Tribunal Federal (RE 575089, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 10/09/2008, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-09 PP-01773 RB v. 20, n. 541, 2008, p. 23-26 RT v. 98, n. 880, 2009, p. 122-129). Assim, cumprindo os requisitos para a aposentadoria integral, prevista no § 7º do art. 201 da CF/88, até a data da EC nº 20/98, não serão aplicadas as regras de transição, sendo necessário apenas o tempo de contribuição de 35 (trinta e cinco) anos, se homem, e 30 (trinta anos), se mulher. No caso concreto, o autor não se enquadra na regra de transição prevista pela EC nº 20/98, uma vez que, na data do requerimento administrativo (2013), contava com 43 anos de idade, enquanto que o limite mínimo exigido em 1998, era de 53 anos. Desse modo, e considerando que os requisitos previstos pela referida emenda foram considerados cumulativos, não há se falar em aplicação das regras de transição em prol do requerente. Em sendo assim, o período trabalhado sob condição especial após a EC nº 20/98 deve ser analisado sob a nova legislação previdenciária. DISPOSITIVO. Em vista do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE os pedidos na forma do artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Nos termos do laudo pericial produzido nos autos, bem como dos PPPs e Carteira de Trabalho, reconhecido como tempo especial os seguintes períodos: 02/09/1985 a 28/04/1995 (véspera de entrada da Lei 9.032/95. Categoria Profissional). 01/12/1996 a 15/10/2001 (PPP anexado ao ID 9797534000, p. 21). 09/04/2002 a 31/12/2004 (PPP anexado ao ID 9797534000, p. 23). 01/02/2010 a 24/11/2010 (PPP anexado ao ID 9797534000, p.27). 25/11/2010 a 22/04/2013 (data de emissão do PPP, ora anexado ao ID 9797534000, p. 27). Em vista disso, determino ao INSS que proceda sua conversão em comum, observando o correspondente fator de conversão, averbando-os, bem como que conceda ao autor a aposentadoria por tempo de contribuição se preenchido os requisitos mínimos dispostos na legislação competente. O termo inicial da benesse, bem como o pagamento das parcelas em atraso e a definição dos honorários de sucumbência serão apreciados em liquidação de sentença. Opostos embargos de declaração, antes de concluir o feito ao gabinete, intime-se a parte embargada. Interposta apelação, intime-se a parte recorrida para respondê-la no prazo legal. Após, remeta-se os autos para o TRF da 6ª Região. Certificado o trânsito, arquivem-se os autos com as baixas respectivas. Sem custas. PRI. São Lourenço, 10 de julho de 2025. CECILIA NATSUKO MIAHIRA GOYA Juiz(íza) de Direito 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço

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Processo nº 5006224-55.2023.8.13.0637

ID: 323685086

Tribunal: TJMG Órgão: 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5006224-55.2023.8.13.0637

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

CLAUDIO JOSE DA SILVA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

FERNANDO DE OLIVEIRA FERNANDES PRADELLA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP: 37470-000 PROCESSO Nº: 5006224-55.2023.8.13.0637 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Aposentadoria por Tempo de Contribuição (Art. 55/6), Averbação/Cômputo/Conversão de tempo de serviço especial] AUTOR: CLAUDIO JOSE DA SILVA CPF: 847.932.446-53 RÉU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL CPF: 29.979.036/0001-40 SENTENÇA RELATÓRIO. Vistos. Cuida-se de AÇÃO PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO C/C CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM movida por CLAUDIO JOSE DA SILVA, brasileiro, casado, gerente de produção, nascido em 24/08/1971, CPF sob o nº 847.932.446-53, RG nº MG3969415, residente e domiciliado à Rua José Fernandes Garrido, n° 15, FD, Bela Vista, São Lourenço, em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Valor da causa R$ 35.640,00. Distribuído em 01/10/2023. O autor narra ter laborado como impressor gráfico durante determinado período, momento em que foi exposto à agentes nocivos químicos, mediante o manuseio de produtos à base de hidrocarbonetos. Argumenta ter ingressado com pedidos administrativos em 05/01/2022 e 22/08/2022 objetivando a concessão da referida aposentadoria com reconhecimento de atividade especial, os quais foram indeferidos ao argumento de que a atividade não era considerada especial. Alega que a prova pericial produzida nos autos de nº 0057377-62.2016.8.13.0637, utilizada como prova emprestada, foi realizada no mesmo local de trabalho onde exercia suas atividades (Novo Mundo Gráfica e Editora Ltda), sendo concluído pelo perito judicial a caracterização da insalubridade de grau máximo. Sustenta que se os períodos fossem considerados como especial seria detentor de 36 anos, 2 meses e 4 dias. Ao final, requerer a procedência dos pedidos, para que os períodos de 01/07/1992 a 28/04/1995; 29/04/1995 a 12/05/2000; 01/11/2000 a 12/07/2002; 01/01/2003 a 31/10/2004; 01/03/2005 a 31/05/2008 sejam reconhecimento como tempo especial, para posterior conversão em tempo comum. Anexou documentos aos autos. Processo administrativo no ID 10061048650. CTPS no ID 10061048650, p. 19. PPP de 01/07/1992 a 12/05/2000 anexado ao ID 10061048650, p.6 (Ruído, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash - Cargo: impressor). PPP de 01/01/2003 a 31/10/2004 anexado ao ID 10061048650, p.9 (Ruído, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash - Cargo: impressor). PPP de 01/03/2005 a 31/05/2008; 01/06/2008 a 31/08/2008; 01/09/2008 até 09/12/2021 anexado ao ID 10061048650, p. 12 (data da expedição do documento) (Ruído, restaurador, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash, corretor, verniz, graxa, talco - Cargo: impressor offsete; encarregado setor de impressão; gerente de produção). Indeferimento administrativo referente ao NB 186.532.350-8, ID 10061048650, p. 82 (Aposentadoria por tempo de contribuição: DER 22/08/2022), e referente ao NB 199.179.549-9 no ID 10061048700, p.30 (Aposentadoria por tempo de contribuição: DER 05/01/2022). Laudo pericial produzido nos autos de 0057377-62.2016.8.13.0637, movido por Marco Antônio Pereira em face do INSS, anexado ao ID 10061048501 [Funções desempenhadas pelo requerente Marco Antônio: impressor (13/10/1999 a 13/01/2003; 01/07/2003 a 31/12/2004); operador de corte e vinco (impressor de corte - 01/03/2005 a 10/11/2009); operador de corte e vinco (15/08/2011 até a data da perícia: julho de 2019)]. Custas iniciais recolhidas no ID 10102312661. Medida liminar indeferida no ID 10103182779. Contestação anexada ao ID 10112999951. Não houve indicação de preliminares. No mérito, defendeu a impossibilidade de utilização da prova emprestada. Argumentou que a atividade desenvolvida pelo requerente no período anterior a 1995 (categoria profissional) não se enquadra à previsão legal e aos anexos III do Decreto nº 53.831/64 e no código 2.5.8 do anexo II do Decreto nº 83.080/79. Destacou a ausência de aplicação das regras da E.C 103/19. Pugnou pela improcedência dos pedidos. Impugnação anexada ao ID 10111904440. Em sede de especificação de provas, o autor pugnou por prova pericial, ID 10149390695. O INSS nada requereu. Saneamento dos autos no ID 10189115786, momento em que se deferiu o pedido de prova pericial, nomeando-se o profissional, Anderson Pereira de Castro (o autor comprovou o depósito dos honorários). Laudo pericial anexado ao ID 10349987192, seguindo-se com manifestação do autor no ID 10379981802 (pugnou pela concessão da tutela de urgência) e do requerido no ID 10381318373 (pugnou pela improcedência dos pedidos). É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO. As partes encontram-se devidamente representadas e o direito à produção de provas foi respeitado. Com isso, concluo pela inexistência de nulidades. Inicialmente, registro que o juiz não fica obrigado a se manifestar sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Essa orientação é encontrada na Jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça, em especial no julgamento do REsp n. 1.446.943/SP e AgInt nos EDcl no AREsp n. 920.756/SP. STJ - 2018 [...] III. O juiz não está obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas as questões trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta entende pertinentes para a resolução da controvérsia. A negativa de prestação jurisprudencial configura-se apenas quando o Tribunal deixa de se manifestar sobre ponto relevante, que seria indubitavelmente necessário ao deslinde do litígio. [...] (REsp n. 1.446.943/SP, relatora Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, julgado em 16/5/2017, DJe de 9/5/2018.) STJ - 2019 [...] III - A questão foi decidida de maneira fundamentada e completa. É sabido que o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. IV - Ressalte-se, ainda, que cabe ao magistrado decidir a questão de acordo com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. E mais. O fato de o Tribunal a quo decidir a lide de forma contrária à tese defendida pelo recorrente, elegendo fundamentos diversos daqueles por ele propostos, não dá margem à alegação de violação do art. 535 do CPC/73. [...] (AgInt nos EDcl no AREsp n. 920.756/SP, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 19/3/2019, DJe de 26/3/2019.) Inexistindo questões preliminares a serem apreciadas, passo, então, à análise do mérito. A Aposentadoria Especial consta do artigo 57 da Lei nº 8.213/91, o qual define que a benesse será concedida ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. Para tanto, a concessão dependerá de comprovação do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado. Para a concessão, são esses os requisitos, portanto, (i) tempo de trabalho e (ii) exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente. Dos períodos de atividade especial. Segundo narra a parte autora, os períodos de atividade especial são: (i) 01/07/1992 a 28/04/1995 (Categoria Profissional) (ii) 29/04/1995 a 12/05/2000 (PPP anexado ao ID 10061048650, p.6, indicando como fator de risco: ruído, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash. Cargo: impressor). (iii) 01/11/2000 a 12/07/2002 (PPP anexado ao ID 10061048650, p. 16, indicado como fator de risco: ruído, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash. Cargo: impressor). (iv) 01/01/2003 a 31/10/2004 (PPP anexado ao ID 10061048650, p.9, indicando como fator de risco: ruído, querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash - Cargo: impressor). (v) 01/03/2005 a 31/05/2008 (PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12, indicando como fator de risco: ruído. Cargo: Impressor Offsete) Do ruído. PPP. O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial nos seguintes níveis: (i) Antes do Decreto n. 2.171/97 (até 05/03/1997) acima de 80 decibéis; (ii) Depois do Decreto n. 2.171/97 e antes do Decreto n. 4.882/2003 (de 06/03/1997 a 18/11/2003) acima de 90 decibéis e; (iii) A partir do Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) acima de 85 decibéis. Conforme Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, aplica-se a lei vigente à época da prestação do serviço para fins de identificação das características presenciadas pelo segurado. Não se admite, portanto, a aplicação retroativa de legislação benéfica para período anterior. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. TEMPO ESPECIAL. RUÍDO. LIMITE DE 90DB NO PERÍODO DE 6.3.1997 A 18.11.2003. DECRETO 4.882/2003. LIMITE DE 85 DB. RETROAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DA LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. [...] (REsp 1398260/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/05/2014, DJe 05/12/2014) Ainda sobre o ruído, a referida Corte possui o entendimento de que a eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria, no caso de o segurado estar exposto ao agente nocivo ruído. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI. VERIFICAÇÃO DA EFICÁCIA PARA AFASTAR A INSALUBRIDADE DA ATIVIDADE LABORAL. IMPOSSIBILIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 7/STJ. SEGURADO SUJEITO À EXPOSIÇÃO DO AGENTE NOCIVO RUÍDO. [...] 4. O Supremo Tribunal Federal fixou o entendimento de que a eficácia do Equipamento de Proteção Individual - EPI não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria, no caso de o segurado estar exposto ao agente nocivo ruído. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.487.696 – RS) Dos agentes químicos/biológicos/calor. PPP. Segundo a Jurisprudência do Tribunal Regional Federal, “os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa” (AC n. 0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021 PAG.) Ainda, com relação à exposição do trabalhador a outros agentes químicos agressivos (óleos, graxas e semelhantes), o referido Tribunal Federal já decidiu que, sobre tais substâncias, “há de se considerar se os formulários não especificam a composição e/ou o grau de refinamento dos óleos minerais utilizados pelas empresas empregadoras. Se não for possível saber se se cuidam de óleos tratados ou refinados e, ainda, livres de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, deve ser observada a especialidade, em aplicação do entendimento do STF no ARE nº 664.335, quando fala que, em caso de dúvida, deverá ser resolvido em prol do segurado, assim reconhecido o seu risco carcinogênico, conforme Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014” (AC n. 0002050-77.2014.4.01.3804, relator Juiz Federal GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, 2ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, PJe 21/04/2022 PAG.) Caso dos autos. Do enquadramento da atividade por categoria profissional. Lei nº 9.032/95. A partir do primeiro PPP, ora anexado ao ID 10061048650, p.6, e da carteira de trabalho anexada ao ID 10061048650, p.2 (01/07/1992 a 28/04/2000), verifico que o primeiro período alegado sob condição de atividade especial ocorreu em momento anterior à Lei nº 9.032/95. Nesse sentido, relevante consignar que essa norma foi a responsável por alterar a Lei de benefícios (artigo 57), momento em que passou a exigir a comprovação da real exposição aos agentes nocivos presenciados pelo autor, que, até então, não era medida necessária, visto que o enquadramento se dava por categoria profissional. Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. § 4º O período em que o trabalhador integrante de categoria profissional enquadrada neste artigo permanecer licenciado do emprego, para exercer cargo de administração ou de representação sindical, será contado para aposentadoria especial. (redação original) § 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício. (redação atual) Identifico, assim, que até a referida alteração legislativa, as atividades desempenhadas pelo autor (categoria profissional), constavam do Anexo II do Decreto nº 83.080/79, especificadamente do seu item nº 2.5.8. Conforme consta do documento, para a Indústria Gráfica e Editorial exigia-se o tempo mínimo de trabalho de 25 anos para o gozo da benesse (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/anexo/and83080-79.pdf (Anexo II, Item nº 2.5.8 - p. 204). Desse modo, todo período trabalhado pelo autor até a data de publicação da Lei 9.032/95 (01/07/1992 a 28/04/1995), deve ser reconhecido como tempo de atividade especial, por se tratar de enquadramento em categoria profissional. Nesse sentido, prevê a Jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça: “[...] a legislação em vigor na ocasião da prestação do serviço regula a caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais. Ou seja, observa-se o regramento da época do trabalho para a prova da exposição aos agentes agressivos à saúde: se pelo mero enquadramento da atividade nos anexos dos Regulamentos da Previdência, se mediante as anotações de formulários do INSS ou, ainda, pela existência de laudo assinado por médico do trabalho” (REsp 1151363 / MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado 23/03/2011, DJe 05/04/2011). Caso dos autos. Ruído. Enfrentado o primeiro período, passo à análise dos demais. Período de 29/04/1995 a 12/05/2000: o PPP anexado ao ID 10061048650, p.6 revela que o autor estava exposto a 75,4 dBA, inferior, portanto, ao montante previsto pelo Decreto n. 2.171/97 (até 05/03/1997), que exigia valor superior a 80 decibéis, e Decreto n. 2.171/97 (06/03/1997 a 18/11/2003), que passou a exigir quantidade acima de 90 decibéis. Ambos os decretos são aplicados, visto que o lapso temporal indicado pelo requerente encontra-se dentro da faixa temporal. Período de 01/11/2000 a 12/07/2002: O PPP anexado ao ID 10061048650, p. 16, aponta que o autor estava exposto a 75,4 dBA, quantitativo inferior àquele previsto pelo Decreto n. 2.171/97 (06/03/1997 a 18/11/2003), que passou a exigir quantidade acima de 90 decibéis. Período de 01/01/2003 a 31/10/2004: O PPP anexado ao ID 10061048650, p.9, demonstra que o autor estava exposto a 75,4 dBA, quantitativo inferior àquele previsto pelo Decreto n. 2.171/97 (06/03/1997 a 18/11/2003), que passou a exigir quantidade acima de 90 decibéis, e Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) acima de 85 decibéis. Período de 01/03/2005 a 31/05/2008: o PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12 revela que o autor estava exposto a 83 e 79 dBA, quantitativo inferior àquele previsto pelo Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) que passou a existir montante acima de 85 decibéis. Período de 01/06/2008 a 31/08/2008: o PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12 aponta que o autor estava exposto a 79 dBA, quantitativo inferior àquele previsto pelo Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) que passou a existir montante acima de 85 decibéis. Período de 01/09/2008 a 09/12/2021: O PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12 demonstra que o autor estava exposto a 79; 61; 54; 79,8; 52,4; 52,2; 50,4; 52,1; 55,2; 52,3; 51,3; 52,4; 52,7; 54,3 dBA, quantitativos inferiores àquele previsto pelo Decreto n. 4.882/2003 (de 19/11/2003) que passou a existir montante acima de 85 decibéis. Conclui-se, assim, que o autor não estava exposto ao nível mínimo de ruído exigido pelos decretos, o que também é possível de extrair, a partir do laudo pericial anexado ao ID 10349987192. Caso dos autos. Agentes químicos. Conforme se colhe dos autos, o autor, entre 29/04/1995 a 12/05/2000; 01/11/2000 a 12/07/2002; 01/01/2003 a 31/10/2004, estava exposto a querosene, solventes, ácido fosfórico, álcool isopropílico, tintas, restaurador, Wash (PPP de ID 10061048650, p.6; ID 10061048650, p. 16; ID 10061048650, p.9). No intervalo de 01/03/2005 a 31/05/2008, por sua vez, novas exposições a agentes insalubres foram constatadas além daquelas citadas anteriormente, como é o caso da utilização de corretor, verniz, graxa e talco (PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12). Em sendo assim, convém ressaltar que o laudo pericial ratificou a exposição a esses agentes. Para tanto, o i. Perito argumentou que o requerente laborava em atividade/ambiente insalubre, considerando exposição química (gasolina/óleo/graxa/solventes – presença de hidrocarbonetos aromáticos em sua composição físico-química), nos termos do Anexo 13 da NR 15. Veja-se: 8. Da Conclusão Pericial INSALUBRIDADE - Considerando que os resultados apurados no ambiente de trabalho do Reclamante, sob respaldo das avaliações técnicas dos riscos físicos, químicos e biológicos apresentados e reconhecidos "in loco", exemplificando as condições de exposição aos agentes insalubres, previstos na NR-15 em seus Anexos da Portaria no 3.214/78 do MTE;. Este Perito Oficial, Conclui que o Reclamante Laborava em atividade/ambiente insalubre, considerando exposição química (gasolina/óleo/graxa/solventes – presença de hidrocarbonetos aromáticos em sua composição físico-química) - anexo 13 da NR 15 – hidrocarbonetos e compostos de carbono, não ocorrendo exposição a agentes físicos e biológicos. Anexo 13 da NR 15 - Insalubridade de grau máximo. Manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins. Anexo 13 da NR 15 - Insalubridade de grau médio. Emprego de produtos contendo hidrocarbonetos aromáticos como solventes ou em limpeza de peças. Sobre os hidrocarbonetos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. OMISSÃO INEXISTENTE. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. RECONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. TEMPUS REGIT ACTUM. [...] 3. A exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014). No mesmo sentido, tem-se a Jurisprudência do E. Tribunal Regional Federal: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSO CIVIL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM. SUJEIÇÃO A RUÍDO E A AGENTE QUÍMICO (HIDROCARBONETO – ÓLEO MINERAL E GRAXA). AVALIAÇÃO QUALITATIVA. USO DE EPI. IRRELEVÂNCIA. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA CONFORME MANUAL DE CÁLCULOS DA JUSTIÇA FEDERAL.[...] 4. A exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins”. 5. Conforme tem assentado esta Corte Regional “(...) os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa (...)”, bem como que “(...) especificamente em relação aos agentes nocivos químicos, em que a avaliação é meramente qualitativa, a especialidade do tempo de serviço somente deve ser afastada quando ficar comprovado que a utilização do EPI neutraliza ou elimina totalmente a nocividade do agente, circunstância inocorrente na espécie (...).” (AMS 0003427-53.2014.4.01.3814, JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 10/12/2020 PAG.). [...] (APELAÇÃO CÍVEL n. 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL GUSTAVO SOARES AMORIM, TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO). No que se refere aos equipamentos de proteção individual, relevante consignar que eventual disponibilização pelo empregador não seria suficiente para descaracterizar, por si só, a especialidade da atividade desempenhada pelo segurado, visto ser necessário analisar o caso concreto a partir de suas particularidades (AgRg no AREsp 558.157/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 30/03/2015). Portanto, comprovada a exposição do segurado a agente nocivo, conclui-se pela possibilidade de reconhecer a especialidade da atividade laboral por ele exercida. Do pedido de concessão da Tutela de Urgência. Observo que o autor, na manifestação de ID 10379981802, pugnou pela concessão da tutela com fundamento nas disposições anexadas ao laudo pericial. Apesar de assim entender, a medida comporta indeferimento, haja vista a ausência de demonstração do perigo de dano ou risco ao resultado do processo, conforme exige o artigo 300 do Código de Processo Civil. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Assim, percebo que o autor não cuidou de comprová-lo, sustentando seu requerimento na afirmação de que o laudo pericial identificou a presença de insalubridade, o que, por si só, não é suficiente. DISPOSITIVO. Em vista do exposto, JULGO PROCEDENTE os pedidos na forma do artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Nos termos do laudo pericial produzido nos autos, bem como dos PPPs e Carteira de Trabalho, reconhecido como tempo especial os seguintes períodos: 01/07/1992 a 28/04/1995 (véspera de entrada da Lei 9.032/95), por Categoria Profissional (PPP de ID 10061048650, p.6, Carteira de trabalho de ID 10061048650, p.2). 29/04/1995 a 12/05/2000; 01/11/2000 a 12/07/2002; 01/01/2003 a 31/10/2004 (PPP de ID 10061048650, p.6; ID 10061048650, p. 16; ID 10061048650, p.9). 01/03/2005 a 31/05/2008 (PPP anexado ao ID 10061048650, p. 12). Em vista disso, determino ao INSS que proceda sua conversão em comum, observando o correspondente fator de conversão, averbando-os, bem como que conceda ao autor a aposentadoria por tempo de contribuição se preenchido os requisitos mínimos dispostos na legislação competente. O termo inicial da benesse, bem como o pagamento das parcelas em atraso e a definição dos honorários de sucumbência serão apreciados em liquidação de sentença. Indefiro o pedido de concessão da Tutela de Urgência em sentença. Opostos embargos de declaração, antes de concluir o feito ao gabinete, intime-se a parte embargada. Interposta apelação, intime-se a parte recorrida para respondê-la no prazo legal. Após, remeta-se os autos para o TRF da 6ª Região. Certificado o trânsito, arquivem-se os autos com as baixas respectivas. Sem custas. PRI. São Lourenço, 10 de julho de 2025. CECILIA NATSUKO MIAHIRA GOYA Juiz(íza) de Direito 1ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço

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Processo nº 1011908-76.2022.4.01.9999

ID: 334596649

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1011908-76.2022.4.01.9999

Data de Disponibilização: 25/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JOAQUIM JOSE DE FREITAS NETO

Acórdão

Advogados:

SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU

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MARCOS ROSA OSTROWSKYJ

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DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO

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JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1011908-76.2022.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5209835-98.2020.8.09.0103 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL D… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1011908-76.2022.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5209835-98.2020.8.09.0103 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros REPRESENTANTES POLO ATIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A POLO PASSIVO:JOAQUIM JOSE DE FREITAS NETO e outros REPRESENTANTES POLO PASSIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A RELATOR(A):URBANO LEAL BERQUO NETO Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1011908-76.2022.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5209835-98.2020.8.09.0103 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros REPRESENTANTES POLO ATIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A POLO PASSIVO:JOAQUIM JOSE DE FREITAS NETO e outros REPRESENTANTES POLO PASSIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A RELATÓRIO O Excelentíssimo Juiz Federal Emilson da Silva Nery (Relator convocado): Trata-se de apelação interposta por ambas as partes em face de sentença que julgou procedente o pedido autoral para concessão de aposentadoria por tempo de contribuição com averbação de tempo especial. O INSS, em suas razões, afirma que em relação aos períodos de 1°/7/1986 a 15/7/1991, 11/11/1991 a 18/8/1992, 1°/8/1996 a 2/1/2007, 5/3/2009 a 7/12/2013, 1°/8/2014 a 10/10/2016 e 2/5/2017 a 26/8/2019 não é possível o enquadramento pelo fato de os respectivos PPP’s não indicarem responsável técnico pelo monitoramento ambiental. Ressalta que em parte dos períodos também não houve apresentação de laudo técnico. Após, discorre genericamente sobre agentes nocivos, tratando de elementos que sequer foram discutidos nos autos. O autor, de seu turno, requer seja concedida a aposentadoria por pontos, sem incidência do fator previdenciário. Sem contrarrazões. É o relatório. Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1011908-76.2022.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5209835-98.2020.8.09.0103 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros REPRESENTANTES POLO ATIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A POLO PASSIVO:JOAQUIM JOSE DE FREITAS NETO e outros REPRESENTANTES POLO PASSIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A V O T O O Excelentíssimo Juiz Federal Emilson da Silva Nery (Relator convocado): A caracterização do tempo de serviço especial obedece a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do Tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. Quanto ao período averbado como frentista, é a jurisprudência: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA ESPECIAL. RISCO DE EXPLOSÃO DE GLP. TRABALHO NA ÁREA ADMINISTRATIVA IRRELEVANTE. BENEFÍCIO CONCEDIDO. 1. A comprovação do tempo especial mediante o enquadramento da atividade exercida pode ser feita até a entrada em vigor da Lei nº 9.032/95. Precedentes. 2. A partir da Lei nº 9.032/95 e até a entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596/14/97 (convertida na Lei nº 9.528/97) a comprovação do caráter especial do labor passou a ser feita com base nos formulários SB-40 e DSS-8030, expedidos pelo INSS e preenchidos pelo próprio empregador. Com o advento das últimas normas retro referidas, a mencionada comprovação passou a ser feita mediante formulários elaborados com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. 3. A circunstância de o laudo não ser contemporâneo à atividade avaliada não lhe retira absolutamente a força probatória, em face de inexistência de previsão legal para tanto e desde que não haja mudanças significativas no cenário laboral. 4. A exigência legal referente à comprovação sobre ser permanente a exposição aos agentes agressivos somente alcança o tempo de serviço prestado após a entrada em vigor da Lei nº 9.032/95. De qualquer sorte, a constatação do caráter permanente da atividade especial não exige que o trabalho desempenhado pelo segurado esteja ininterruptamente submetido a um risco para a sua incolumidade. 5. O Regulamento da Lei de Benefícios, qual seja o Decreto nº 3.048/99, com a redação que lhe foi conferida pelo Decreto nº 4.827/2003, permanece mantendo a possibilidade de conversão do tempo de serviço especial em comum, independentemente do período em que desempenhado o labor. 6. O simples fornecimento de equipamentos de proteção individual não ilide a insalubridade ou periculosidade da atividade exercida. 7. O art. 3º da EC 20/98 garantiu aos segurados o direito à aposentação e ao pensionamento de acordo com os critérios vigentes quando do cumprimento dos requisitos para a obtenção desses benefícios. 8. A autora exercia suas atividades em área com risco de explosão de GLP e recebia adicional de periculosidade. 9. O fato de a autora trabalhar na área administrativa em nada altera a solução da controvérsia, uma vez que, mutatis mutandis, "A atividade desenvolvida em posto de gasolina é considerada insalubre, para fins de contagem de tempo especial, seja no serviço externo, como de frentista ou lavador de carros, seja em serviço interno, a exemplo de operador de caixa, gerente, auxiliar administrativo, entre outras funções. Por transitar pela área em que operadas as bombas de combustível, sujeita-se o trabalhador aos riscos naturais da estocagem de combustível no local, considerando área de risco com inflamáveis líquidos, sujeito à insalubridade e/ou periculosidade. Com efeito, a atividade envolvendo o trânsito pela área de risco é reconhecidamente de natureza especial, conforme está disciplinado no item 1.2.11 do Quadro Anexo do Decreto 53.831/64, ensejando o direito ao cômputo qualificado" (AC 0035999-90.2003.4.01.3800 / MG, Rel. JUÍZA FEDERAL ROSIMAYRE GONCALVES DE CARVALHO, 2ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.274 de 04/10/2012). 10. A soma do período laborado pelo autor resulta tempo inferior a 25 anos de atividade em regime especial, o que impossibilita a conversão da aposentadoria comum para aposentadoria especial. 11. Apelação da autora provida em parte (reconhecida a especialidade do período compreendido entre 02/09/1986 a 23/07/2007). (AC 0044514-60.2016.4.01.3800, DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO NEVES DA CUNHA, TRF1 - SEGUNDA TURMA, e-DJF1 25/10/2019 PAG.) Possível, portanto, a averbação do período de 1°/7/1986 a 15/7/1991, tendo em vista CTPS de fl. 58 da rolagem única. Quanto aos demais períodos, houve juntada de PPP. Em relação ao período de 11/11/1991 a 18/8/1992, ao contrário do que afirma o INSS, há indicação do responsável pela monitoração ambiental (fl. 65). Indica o documento, ainda, que o empregado estava exposto a amianto. O amianto é substância sabidamente cancerígena, razão pela qual já decidiu a TNU que a especialidade é configurada até mesmo em caso de a concentração do asbesto/amianto estar abaixo do limite de tolerância da NR 15: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI FEDERAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. ASBESTO/AMIANTO. AGENTE NOCIVO QUÍMICO RECONHECIDAMENTE CANCERÍGENO PARA HUMANOS. LISTADO NO GRUPO 1 DA LINACH E NO ANEXO IV DO DECRETO 3.048/99. DETENTOR DE CAS. CRITÉRIO DE ENQUADRAMENTO QUALITATIVO. IRRELEVÂNCIA DO NÍVEL DE CONCENTRAÇÃO ESTAR ABAIXO DO LIMITE DE TOLERÂNCIA DA NR 15. PERÍODO CONTROVERSO DE 1997 A 2013. POSSIBILIDADE. TEMA 170 DA TNU. PUIL CONHECIDO E PROVIDO. (TNU - Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (Turma): 50094586520144047000, Relator: IVANIR CESAR IRENO JUNIOR, Data de Julgamento: 25/02/2021, TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO, Data de Publicação: 25/02/2021) No que tange aos períodos de 1°/8/1996 a 2/1/2007, 1°/8/2014 a 5/9/2016 e 2/5/2017 a 26/8/2019 também há indicação de responsável pelo monitoramento ambiental, além de existir indicação de exposição a benzeno (documentos de fls. 66/67, 70/71 e 72/73). Quanto á exposição a hidrocarbonetos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). No mais, a jurisprudência desta Corte já fixou que “a exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins” (ApCiv 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Des. Gustavo Soares Amorim, Primeira Turma, julgado e 24/05/2022). Por fim, a exposição a hidrocarbonetos é caracterizada pela avaliação simplesmente qualitativa. Veja-se, a respeito, entendimento sedimentado pela TNU: EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE ATIVIDADE ESPECIAL. AGENTES NOCIVOS. HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS. RECONHECIMENTO. ANÁLISE QUALITATIVA. INCIDENTE CONHECIDO E IMPROVIDO. - Trata-se de incidente de uniformização movido pelo INSS em face de Acórdão da Turma Recursal do Rio Grande do Sul, que reformou a sentença para reconhecer como especial o período de 28/07/2003 a 19/05/2011 em razão da exposição habitual e permanente a hidrocarbonetos aromáticos (cloreto metileno, dimetilformamida e polisocianatos), não se tendo exigido a avaliação quantitativa, vez que a substância referida encontra-se relacionada no anexo 13 da NR-15. - Sustenta a parte recorrente que a Turma de origem contrariou o entendimento firmado pela 5ª Turma Recursal de São Paulo (00107483220104036302), no sentido de que após 05/03/1997 se exige medição e indicação da concentração, em laudo técnico, para enquadramento da atividade como especial, no ambiente de trabalho de agente nocivo listado no anexo IV, dos decretos 2.172/97 e 3.048/99, em níveis superiores aos limites de tolerância. - Os agentes químicos álcoois e hidrocarbonetos caracterizam a atividade como especial para fins previdenciários, na forma dos quadros anexos aos Decretos nº 53.831/64 (código 1.2.11), nº 83.080/79 (código 1.2.10 do anexo I), nº 2.172/97 (código 1.0.19 do anexo IV) e nº 3.048/99 (código 1.0.19 do anexo IV). - A TRU-4ª Região já entendeu não ser possível limitar a 05/03/1997 o reconhecimento da insalubridade do ambiente de trabalho com base na análise qualitativa do risco causado pela exposição a hidrocarbonetos aromáticos, em razão de tais agentes, previstos no Anexo 13 da NR-15, submeterem-se à análise qualitativa de risco, independentemente da época de prestação da atividade. A análise quantitativa deve ser observada quanto aos agentes referidos nos anexos 11 e 12 da referida norma regulamentadora. (PEDILEF nº 5011032-95.2011.404.7205, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região, Relator p/ Acórdão João Batista Lazzari, juntado aos autos em 27/10/2014). - Com efeito, a NR-15 considera atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem acima dos limites de tolerância com relação aos agentes descritos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 11 e 12, entendendo-se por "Limite de Tolerância", a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. - Para as atividades mencionadas nos Anexos 6, 13 e 14, não há indicação a respeito de limites de tolerância. - No caso dos autos, a fundamentação do acórdão recorrido permite concluir que a parte autora, no exercício de suas funções, estava exposta a hidrocarbonetos aromáticos (cloreto metileno, dimetilformamida e polisocianatos), agentes químicos previstos no Anexo 13 da NR-15 e para os quais a constatação de insalubridade decorre de inspeção realizada no local de trabalho, não se sujeitando a qualquer limite de tolerância. - Dessa forma, CONHEÇO e NEGO provimento ao incidente de uniformização interposto pelo INSS para firmar a tese de que a análise da especialidade em decorrência da exposição a agentes químicos previstos no Anexo 13 da Norma Regulamentadora 15, como é o caso dos hidrocarbonetos aromáticos, é qualitativa e não se sujeita a limites de tolerância, independentemente do período em que prestada a atividade (50047370820124047108, JUIZ FEDERAL FREDERICO AUGUSTO LEOPOLDINO KOEHLER, DOU 27/09/2016 PÁGINAS 54/453). De mais a mais, é de se ressaltar que, nos termos da Instrução Normativa INSS/PRES nº 77/2015, “o PPP dispensa a apresentação de laudo técnico ambiental para fins de comprovação de condição especial de trabalho, desde que demonstrado que seu preenchimento foi feito por Responsável Técnico habilitado, amparado em laudo técnico pericial”. Não é possível averbar, no entanto, o período de 5/3/2009 a 7/12/2013, já que o PPP de fls. 68/69 indica a existência de risco químico sem qualquer especificação de elemento nocivo. De toda forma, ainda que excluída a averbação de tal período, o autor atinge, na data da DER, a pontuação prevista na Lei 13.183/2015, consoante a seguinte contagem de tempo de contribuição: Data de Nascimento 30/09/1960 Sexo Masculino DER 27/06/2019 Nº Nome / Anotações Início Fim Fator Tempo Carência 1 DESERVICE SERVICOS PRESTADOS NA CONSTRUCAO CIVIL (AVRC-DEF) 01/07/1979 31/03/1980 1.00 0 anos, 9 meses e 0 dias 9 2 AR NASCIMENTO ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA 01/08/1982 30/08/1984 1.00 2 anos, 1 mês e 0 dias 25 3 ROMA SERVICOS ADMINISTRATIVOS ENGENHARIA E CONST LTDA 24/08/1984 20/05/1986 1.00 1 ano, 8 meses e 20 dias Ajustada concomitância 21 4 LUDIMILA COMERCIO DE DERIVADOS DE PETROLEO LTDA 01/07/1986 01/07/1991 1.40 Especial 5 anos, 0 meses e 1 dia + 2 anos, 0 meses e 0 dias = 7 anos, 0 meses e 1 dia 61 5 SAMA MINERACOES LTDA 11/11/1991 18/08/1992 1.40 Especial 0 anos, 9 meses e 8 dias + 0 anos, 3 meses e 21 dias = 1 ano, 0 meses e 29 dias 10 6 AUTO POSTO SERRA DA MESA LTDA (AVRC-DEF) 01/08/1996 02/01/2007 1.40 Especial 10 anos, 5 meses e 2 dias + 4 anos, 2 meses e 0 dias = 14 anos, 7 meses e 2 dias 126 7 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREM-EXT) 01/02/2007 28/02/2007 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias 0 8 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREC-MENOR-MIN) 01/07/2007 31/08/2007 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias 1 9 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREM-EXT) 01/10/2007 31/10/2007 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias 0 10 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREC-MENOR-MIN PREM-EXT) 01/12/2007 31/01/2008 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias 0 11 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREM-EXT) 01/03/2008 31/03/2008 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias 1 12 MUNICIPIO DE MINACU 06/01/2009 31/01/2009 1.00 0 anos, 0 meses e 25 dias 1 13 AUTO POSTO AV ARAGUAIA LTDA 05/03/2009 07/12/2013 1.00 4 anos, 9 meses e 3 dias 58 14 AUTO POSTO MINA LTDA 01/08/2014 05/09/2016 1.40 Especial 2 anos, 1 mês e 5 dias + 0 anos, 10 meses e 2 dias = 2 anos, 11 meses e 7 dias 26 15 FERREIRA & BAILON COMBUSTIVEIS LTDA 02/05/2017 26/08/2019 1.40 Especial 2 anos, 3 meses e 25 dias + 0 anos, 11 meses e 4 dias = 3 anos, 2 meses e 29 dias Período parcialmente posterior à DER 28 Marco Temporal Tempo de contribuição Carência Idade Pontos (Lei 13.183/2015) Até a DER (27/06/2019) 38 anos, 2 meses e 3 dias 365 58 anos, 8 meses e 27 dias 96.9167 Tem-se que a Lei 13.183/2015, de fato, modificou a Lei 8.213/1991 para possibilitar ao segurado que atingisse a pontuação nela descrita o cálculo da aposentadoria por tempo de contribuição sem a incidência do fator previdenciário. Veja-se: Art. 29-C. O segurado que preencher o requisito para a aposentadoria por tempo de contribuição poderá optar pela não incidência do fator previdenciário no cálculo de sua aposentadoria, quando o total resultante da soma de sua idade e de seu tempo de contribuição, incluídas as frações, na data de requerimento da aposentadoria, for: I - igual ou superior a noventa e cinco pontos, se homem, observando o tempo mínimo de contribuição de trinta e cinco anos; ou II - igual ou superior a oitenta e cinco pontos, se mulher, observado o tempo mínimo de contribuição de trinta anos. § 1º Para os fins do disposto no caput, serão somadas as frações em meses completos de tempo de contribuição e idade. § 2º As somas de idade e de tempo de contribuição previstas no caput serão majoradas em um ponto em: I - 31 de dezembro de 2018; II - 31 de dezembro de 2020; III - 31 de dezembro de 2022; IV - 31 de dezembro de 2024; e V - 31 de dezembro de 2026. § 3º Para efeito de aplicação do disposto no caput e no § 2º, o tempo mínimo de contribuição do professor e da professora que comprovarem exclusivamente tempo de efetivo exercício de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio será de, respectivamente, trinta e vinte e cinco anos, e serão acrescidos cinco pontos à soma da idade com o tempo de contribuição. § 4º Ao segurado que alcançar o requisito necessário ao exercício da opção de que trata o caput e deixar de requerer aposentadoria será assegurado o direito à opção com a aplicação da pontuação exigida na data do cumprimento do requisito nos termos deste artigo. Por tudo isso, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU, tão somente para excluir, do período a ser averbado como especial, o interregno de 5/3/2009 a 7/12/2013, e DOU PROVIMENTO AO APELO DO AUTOR para afastar do cálculo da renda mensal a incidência do fator previdenciário, mantidos os demais parâmetros do benefício. Em vista da sucumbência recíproca na fase recursal, mantenho os honorários conforme fixados em primeira instância. É como voto. Juiz Federal EMILSON DA SILVA NERY Relator convocado Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1011908-76.2022.4.01.9999 PROCESSO REFERÊNCIA: 5209835-98.2020.8.09.0103 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS e outros REPRESENTANTES POLO ATIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A POLO PASSIVO:JOAQUIM JOSE DE FREITAS NETO e outros REPRESENTANTES POLO PASSIVO: DEBORAH CRISTINA NEVES CORDEIRO - GO21818-A, MARCOS ROSA OSTROWSKYJ - GO17100-A e SAMYA FERNANDA SANTOS ABREU - GO42966-A E M E N T A PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO DE AMBAS AS PARTES. PERIODO DE LABOR ESPECIAL. FRENTISTA. POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL. EXPOSIÇÃO A AMIANTO E HIDROCARBONETOS. ANÁLISE QUALITATIVA. IMPOSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO DE PERÍODO SEM ESPECIFCAÇÃO DE AGENTE QUÍMICO. DISPENSABILIDADE DO LAUDO TÉCNICO EM CASO DE JUNTADA DE PPP VÁLIDO. PONTUAÇÃO DA LEI 13.183/2015. AFASTAMENTO DO FATOR PREVIDENCIÁRIO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. A caracterização do tempo de serviço especial obedece a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do Tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. 2. "A atividade desenvolvida em posto de gasolina é considerada insalubre, para fins de contagem de tempo especial, seja no serviço externo, como de frentista ou lavador de carros, seja em serviço interno, a exemplo de operador de caixa, gerente, auxiliar administrativo, entre outras funções. Por transitar pela área em que operadas as bombas de combustível, sujeita-se o trabalhador aos riscos naturais da estocagem de combustível no local, considerando área de risco com inflamáveis líquidos, sujeito à insalubridade e/ou periculosidade. Com efeito, a atividade envolvendo o trânsito pela área de risco é reconhecidamente de natureza especial, conforme está disciplinado no item 1.2.11 do quadro anexo do Decreto 53.831/64, ensejando o direito ao cômputo qualificado" (AC 0035999-90.2003.4.01.3800 / MG, Rel. JUÍZA FEDERAL ROSIMAYRE GONCALVES DE CARVALHO, 2ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.274 de 04/10/2012). 3. Constatou-se, em relação ao período de 11/11/1991 a 18/8/1992, a presença de fibra de amianto na empresa em que laborou o autor. A especialidade em razão deste agente é configurada até mesmo em caso de a concentração estar abaixo do limite de tolerância da NR 15. Precedente. 4. O Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). 5. De acordo com tese firmada pela TNU, “a análise da especialidade em decorrência da exposição a agentes químicos previstos no Anexo 13 da Norma Regulamentadora 15, como é o caso dos hidrocarbonetos aromáticos, é qualitativa e não se sujeita a limites de tolerância” (50047370820124047108, JUIZ FEDERAL FREDERICO AUGUSTO LEOPOLDINO KOEHLER, DOU 27/09/2016 PÁGINAS 54/453. 6. É de se ressaltar que, nos termos da Instrução Normativa INSS/PRES nº 77/2015, “o PPP dispensa a apresentação de laudo técnico ambiental para fins de comprovação de condição especial de trabalho, desde que demonstrado que seu preenchimento foi feito por Responsável Técnico habilitado, amparado em laudo técnico pericial”. 7. Não é possível averbar o período de 5/3/2009 a 7/12/2013, já que o PPP de fls. 68/69 indica a existência de risco químico sem qualquer especificação de elemento nocivo. 8. A Lei 13.183/2015 modificou a Lei 8.213/1991 para possibilitar ao segurado que atingisse a pontuação nela descrita o cálculo da aposentadoria por tempo de contribuição sem a incidência do fator previdenciário. No caso, o autor atingiu 96 pontos na DER (27/6/2019), fazendo jus à benesse. 9. Recurso do réu provido em parte tão somente para excluir, do período a ser averbado como especial, o interregno de 5/3/2009 a 7/12/2013. Recurso do autor provido para afastar do cálculo da renda mensal a incidência do fator previdenciário, mantidos os demais parâmetros do benefício. A C Ó R D Ã O Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, por unanimidade, DAR PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR E PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU, nos termos do voto do Relator. Juiz Federal EMILSON DA SILVA NERY Relator convocado

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Processo nº 0017643-52.2013.4.01.3200

ID: 309276815

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0017643-52.2013.4.01.3200

Data de Disponibilização: 27/06/2025

Polo Ativo:

JORGE LUIS FONSECA VIEIRA

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

WILSON MOLINA PORTO

OAB/TO XXXXXX Desbloquear

MILCYETE BRAGA ASSAYAG

OAB/AM XXXXXX Desbloquear

JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 0017643-52.2013.4.01.3200 PROCESSO REFERÊNCIA: 0017643-52.2013.4.01.3200 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: JORGE LUIS FONSECA V… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 0017643-52.2013.4.01.3200 PROCESSO REFERÊNCIA: 0017643-52.2013.4.01.3200 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: JORGE LUIS FONSECA VIEIRA REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: MILCYETE BRAGA ASSAYAG - AM5006-A e WILSON MOLINA PORTO - TO3546-A POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS RELATOR(A):NELSON LIU PITANGA PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0017643-52.2013.4.01.3200 R E L A T Ó R I O O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL NELSON LIU PITANGA(RELATOR CONVOCADO): Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido inicial de concessão de aposentadoria especial, a partir da DER em 03/11/2009. Nas razões recursais, o autor alega fazer jus a aposentadoria especial, tendo em vista que trabalhou por mais de 25 anos na empresa Mineração Rio Norte S.A (28/09/1981 a 05/01/2009), sob condições prejudiciais à sua saúde. Requer, ainda, a condenação do INSS em danos morais. Contrarrazões não apresentadas. É o relatório. Juiz Federal NELSON LIUPITANGA Relator Convocado PODER JUDICIÁRIO Processo Judicial Eletrônico Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0017643-52.2013.4.01.3200 V O T O O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL NELSON LIU PITANGA(RELATOR CONVOCADO): Recebido o recurso de apelação interposto porque preenchido os pressupostos subjetivos e objetivosde admissibilidade. Recurso tempestivo, nos termos dos arts. 183 e § 1º c/c art. 219 e art. 1.003, § 5º doCódigo de Processo Civil. Da aposentadoria especial A aposentadoria especial será concedida ao segurado que comprovar o exercício de suas atividades laborativas de modo permanente, não ocasional nem intermitente, sob condições especiais, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, de acordo com a legislação previdenciária, na forma do art. 201, §1º, II da Constituição Federal c/c arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/91. É a consagração do princípio lex tempus regit actumcomo consectário da garantia constitucional de que lei posterior não prejudicará direito adquirido (art. 5º, XXXVI da Constituição Federal). A atividade especial caracteriza-se pelo trabalho desenvolvido sob condições prejudiciais à saúde e à integridade física do segurado em decorrência das circunstâncias insalubres, perigosas ou penosas, em razão da exposição aos agentes químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes ou do exercício de determinadas categorias profissionais, consoante relação de fatores de risco e de profissões descritas nos Anexos dos Decretos de números 53.831/64, 83.080/79 e 3.048/99. Com o advento das Leis 9.032/95 e 9.528/97, o reconhecimento do trabalho prestado sob condições especiais exige a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos mediante a apresentação dos formulários SB-40 ou DSS-8030 durante a vigência do Decreto n.º 2.172/1997 de 29/04/1995 a 05/03/1997. A comprovação do exercício da atividade especial dar-se-á pela apresentação do perfil profissiográfico previdenciário (PPP) emitido pela empresa ou por seu preposto, com base no laudo técnico de condições ambientais de trabalho - LTCAT expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Contudo, o PPP constitui meio de prova idôneo, em casos excepcionais, também para períodos anteriores a 31/12/2003, suprindo a ausência dos formulários SB-40 e DSS-8030, na forma do art. 272, §2º da Instrução Normativa INSS/PRES n. 45/2010. O requisito da permanência não pressupõe a exposição contínua ao fator de risco, mas sim que o contato com o agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço, nos termos do art. 65 do Decreto n.º 3.048/99, com redação dada pelo Decreto n.º 4.882/03. E, o requisito da habitualidade (não ocasional nem intermitente) refere-se à exigência de que o contato com o agente nocivo seja ínsito ao desempenho do trabalho. Desse modo, o segurado que comprovar ter laborado sob condições especiais tem direito à aposentadoria especial. E, na hipótese de o segurado não ter trabalhado o período integral, fixado por lei, sob condições especiais, assegura-se a conversão do tempo especial em comum de acordo com a tabela de conversão do art. 64 do Decreto n.º 2.172/97, a qual prevê, por exemplo, a multiplicação por 1,4 para homem, e por 1,2 para mulher, no caso de aposentadoria com 25 anos de tempo de serviço. Do enquadramento por categoria profissional Os trabalhos especiais exercidos até a edição da Lei nº 9.032/95 (DOU 29/04/1995) possuem a presunção juris et de jure quanto à exposição aos fatores de risco, bastando que as atividades constassem no rol de categorias relacionadas nos anexos dos Decreto nº 53.831/64 ou 83.080/79. Assim, conforme entendimento pacífico do STJ, até o advento da Lei nº 9.032/95, ou seja, até 28/04/1995, era possível o reconhecimento do período como especial com base no enquadramento da categoria profissional do trabalhador. Por outro lado, desde 29/04/1995, tornou-se necessária a demonstração efetiva de exposição, de forma permanente, não ocasional nem intermitente, a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física por qualquer meio de prova. (REsp n. 1806883/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, julgado em 23/05/2019, DJe 14/06/2019). Da mesma forma, o STJ firmou o entendimento de que o rol de atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física, descritas nas normas regulamentadoras, é exemplificativo, e não taxativo, podendo ser reconhecida a especialidade do tempo de serviço exercido em outras atividades não especificadas no referido rol, desde que a nocividade da atividade esteja devidamente demonstrada no caso concreto. Admitiu-se, ainda, a possibilidade de enquadramento por categoria profissional do exercício de atividade não elencada nos decretos regulamentadores, por analogia a outra atividade, desde que comprovado o seu desempenho em condições equivalentes de insalubridade, periculosidade ou penosidade. (REsp n. 1.460.188/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Primeira Turma, julgado em 26/06/2018, DJe 08/08/2018). a) Hidrocarbonetos e outros agentes químicos A exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos - ano, eno, ino), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos ou aromático – graxas, solvente etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos – ano, eno , ino, – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins”. Cabe registrar que a atividade de mecânico se equipara àquela descrita no Decreto 83.080/79 (anexo II, item 2.5.1), que abrange indústrias metalúrgicas e mecânicas. Além disso, de acordo com os Decretos 53.83164 (item 1.2.11) e 83.080/79 (item 1.2.11, anexo I), a exposição contínua a solventes, óleos, graxas e outros produtos químicos, a exemplo dos hidrocarbonetos, durante o trabalho, torna especial o exercício profissional. Dessa forma, deve ser reconhecida a especialidade dos serviços prestados pelo profissional mecânico. Nesse sentido, o seguinte julgado desta Primeira Turma: “Mecânico. Até o advento da Lei 9.032, admitia-se o reconhecimento da especialidade do labor por presunção até 28/04/1995, decorrente do enquadramento profissional e, no caso, a manipulação constante de óleos, graxas e solventes, expõe os mecânicos a estes produtos químicos, espécies de hidrocarbonetos, autorizando o reconhecimento da especialidade na forma do item 1.2.11 do Decreto 53.831/1964 e item 1.2.11 do Anexo I do Decreto 83.080/1979. (AC 1009580-25.2017.4.01.3800, DESEMBARGADORA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, PJe 17/11/2020 PAG.)”. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que: “Os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa. O benzeno, presente nos hidrocarbonetos aromáticos, é confirmadamente carcinogênico para humanos (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS 9, de 07/10/2014), e sua simples presença é suficiente para a comprovação de efetiva exposição do trabalhador e caracterização da nocividade do agente (art. 68. §4º, do Decreto 3.048/99)”. (AC n. 0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021 PAG.) Ainda, com relação à exposição do trabalhador a outros agentes químicos agressivos (óleos, graxas e semelhantes), a jurisprudência desta Corte já decidiu que, quanto a tais substâncias, “há de se considerar se os formulários não especificam a composição e/ou o grau de refinamento dos óleos minerais utilizados pelas empresas empregadoras. Se não for possível saber se se cuidam de óleos tratados ou refinados e, ainda, livres de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, deve ser observada a especialidade, em aplicação do entendimento do STF no ARE nº 664.335, quando fala que, em caso de dúvida, deverá ser resolvido em prol do segurado, assim reconhecido o seu risco carcinogênico, conforme Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 9, de 07 de outubro de 2014” (AC n. 0002050-77.2014.4.01.3804, relator Juiz Federal GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, 2ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, PJe 21/04/2022 PAG.). A atividade profissional com exposição a agentes químicos como benzeno e seus derivados tóxicos é considerada nociva, conforme código 2.55 do Anexo do Decreto 53.831/1964; que compreende as atividades desenvolvidas em composição tipográfica e mecânica, Linotipia, estereotipia, eletrotipla, litografia e off-sett, fotogravuras, rotogravura e gravura, encadernação e Impressão em geral. O código 2.5.8 do Anexo I do Decreto 83.080/1979; compreende trabalhadores das indústrias gráficas. O código 1.0.3 do Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e código 1.0.3 do Anexo IV do Decreto 3.048/1999; contempla exposição a benzeno e seus compostos tóxicos presentes em colas, tintas, vernizes, produtos gráficos e solventes. a.1) Avaliação ambiental da exposição ao agente nocivo hidrocarboneto Anote-se que, havendo comprovação (por análise qualitativa) da presença de agentes nocivos biológicos e químicos no ambiente laboral, fica caracterizado o risco de o trabalhador contrair doenças agressivas à saúde e à integridade (cf. AC 0063891-56.2012.4.01.3800, JUIZ FEDERAL GUILHERME BACELAR PATRÍCIO DE ASSIS, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 09/08/2021 PAG.; AMS 0003113-73.2015.4.01.3814, JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 09/07/2021 PAG.; AC 0003395-42.2013.4.01.3504, DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA, TRF1 - SEGUNDA TURMA, PJe 05/03/2021 PAG.; AC 0059098-13.2011.4.01.9199, JUIZ FEDERAL MARK YSHIDA BRANDÃO, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, e-DJF1 26/11/2015 PAG 730.; AC 0002641-45.2014.4.01.3802, DESEMBARGADOR FEDERAL WILSON ALVES DE SOUZA, TRF1, PRIMEIRA TURMA, PJe 08/06/2021 PAG.). Conforme tem assentado esta Corte Regional “(...) os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa (...)”, bem como que “(...) especificamente em relação aos agentes nocivos químicos, em que a avaliação é meramente qualitativa, a especialidade do tempo de serviço somente deve ser afastada quando ficar comprovado que a utilização do EPI neutraliza ou elimina totalmente a nocividade do agente, circunstância inocorrente na espécie (...).” (AMS 0003427-53.2014.4.01.3814, JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 10/12/2020 PAG.). a.2) Equipamentos de proteção individual utilizados na exposição de agentes químicos Neste ponto, o STF (ARE 664.335, tema nº 555 da repercussão geral) assentou o entendimento segundo o qual: “o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial”, com ressalva feita ao agente agressivo ruído. Do caso em exame É incontroverso nos autos que o autor exerceu atividade de auxiliar e mecânico de equipamentos industriais em campo de extração mineral no estado do Pará, na empresa Mineração Rio do Norte S.A., no período de 28/09/1981 a 05/01/2009. Contextualizado o ambiente de trabalho do autor, tem-se por evidente que a montagem e limpeza (PPP) de motores a diesel (equipamentos industriais), fatalmente colocará o profissional mecânico em contado habitual e permanente com combustíveis e solventes derivados do petróleo. A manipulação constante de óleos, graxas e solventes, expõe os mecânicos a hidrocarbonetos e outros compostos de petróleo, substâncias potencialmente cancerígenas. A exposição habitual a produtos químicos dessa natureza autoriza o reconhecimento da especialidade na forma do item 1.2.11 do Decreto nº 53.831-64 e item 1.2.11 do Anexo I do Decreto nº 83.080-79 (TRF-1 - AC: 00573994620104013500 0057399-46.2010.4.01.3500). Reconhecimento da especialidade da atividade por categoria profissional no período de 28/09/1981 a 28/04/1995 e de 29/04/1995 a 05/01/2009 por efetiva exposição, conforme verificado no PPP. Oportuno frisar que é atribuição do empregador a emissão e a regularidade do PPP, devendo este documento apresentar todas as informações exigidas em lei, necessárias à comprovação da exposição do trabalhador ao agente nocivo, conforme estabelece o artigo 58, §§ 1 º, 2 º, 3 º e 4 º da Lei 8.213/91. Incumbe ao INSS o dever de fiscalização do cumprimento das normas que estabelecem os critérios de emissão do PPP, inclusive com a previsão de multa pecuniária para a empresa. Na situação em questão, verifica-se, pela documentação coligida aos autos (Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS, LTCAT - Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho e Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP), que o autor exerceu sua atividade laboral, sob condições especiais, por exposição a agentes físicos (ruído), químicos (como vapores orgânicos, fumos metálicos – manganês, cromo, alumínio e ferro, dióxido de enxofre e carbono, graxas, óleos, dentre outros) e radiação. Apesar de constar no PPP, indicação de que a parte autora fez uso de EPI do “tipo eficaz”, não há informação hábil a atestar que a sua utilização neutraliza ou elimina totalmente a nocividade dos agentes químicos aos quais foi submetido o segurado nos correspondentes lapsos temporais. Com relação à exposição a hidrocarbonetos relacionados, quais sejam, graxa, óleo diesel e gasolina, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). Da mesma forma, esta Corte já firmou o entendimento de que “a exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins” (AC 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Desembargador Federal GUSTAVO SOARES AMORIM, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/05/2022). Além disso, há entendimento jurisprudencial de que “os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa” (AC n. 0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021). No que concerne à radiação, não havia, na vigência do Decreto nº 53.831/64, distinção da radiação ionizante e a não ionizante como agente nocivo, sendo que apenas o Decreto nº 83.080/79 restringia, como fator de risco, a radiação ionizante. Por sua vez, os decretos nº 2.172/97 e 3.048/99 indicavam somente a radiação ionizante como agente nocivo à saúde do trabalhador. Apesar da ausência de previsão legal nos Decretos nº 2.172/97 e 3.048/99, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que "as normas regulamentadoras que estabelecem os casos de agentes e atividades nocivos à saúde do trabalhador são exemplificativas, podendo ser tido como distinto o labor que a técnica médica e a legislação correlata considerarem como prejudiciais ao obreiro, desde que o trabalho seja permanente, não ocasional, nem intermitente, em condições especiais (art. 57, § 3º, da Lei nº 8.213/1991)" (STJ. REsp 1306113/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/11/2012, DJe 07/03/2013). Acerca do tema, a Turma Nacional de Uniformização - TNU fixou a tese de que “o período laborado após o Decreto nº 2.172/97, com exposição à radiação não ionizante, comprovadamente prejudicial à saúde ou à integridade física do trabalhador mediante prova técnica, pode ser considerada para efeitos de conversão de tempo de serviço especial em tempo de serviço comum” (TNU. Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei nº 5000416-66.2013.4.04.7213/SC. Relator Juiz Federal Herson Luiz Rocha. Julgado em 14/09/2017). Inclusive, esta Corte já se manifestou favorável ao entendimento da TNU, conforme precedente AC 1012800-37.2021.4.01.3300, JUIZ FEDERAL SHAMYL CIPRIANO, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, PJe 10/02/2025. No que se refere ao requerimento de indenização, é de se ponderar que o dano moral decorre da prática de ato ilícito causador de dano, havendo nexo de causalidade entre o ato praticado e o dano causado. Não caracteriza ato ilícito a ensejar reparação moral o indeferimento de benefício previdenciário por parte da Autarquia Previdenciária, seu cancelamento ou mesmo a demora na sua concessão, salvo se provado o dolo ou a negligência do servidor responsável pelo ato, em ordem a prejudicar deliberadamente o interessado. Precedente desta Turma no mesmo sentido: PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE PERMANENTE. RESTABELECIMENTO. DANOS MORAIS. INOCORRÊNCIA. APELAÇÃO DO INSS PROVIDA. 1. Trata-se de recurso de apelação interposto pelo INSS, em face de sentença que julgou procedente o pedido formulado pela parte autora, condenando o apelante em danos morais no valor de R$ 5.000,00, em razão de irregular suspensão da aposentadoria por invalidez. 2. Em suas razões recursais o INSS requer que seja afastada a condenação por danos morais, pois aduz que o benefício da parte autora encontra-se ativo, além do mais, a revisão dos benefícios previdenciários é conduta regular, praticada para verificar a necessidade ou não da prorrogação, asseverando que não houve a violação ao direito da personalidade suscetível de reparação pecuniária. 3. Esta Corte fixou entendimento no sentido de que "a Administração tem o poder-dever de decidir os assuntos de sua competência e de rever seus atos, pautada sempre nos princípios que regem a atividade administrativa, sem que a demora não prolongada no exame do pedido, a sua negativa ou a adoção de entendimento diverso do interessado, com razoável fundamentação, importe em dano moral ao administrado. O direito se restaura pela determinação de concessão do benefício previdenciário e não mediante indenização por danos morais. Precedentes." (AC 1002816-50.2017.4.01.3500, DESEMBARGADOR FEDERAL MORAIS DA ROCHA, TRF1 - PRIMEIRA TURMA, PJe 28/03/2023 PAG.) 4. Do CNIS da parte autora, verifica-se que o benefício foi devidamente restabelecido, com data de início em 01/10/2018. 5. Tendo em vista que houve o restabelecimento da aposentadoria por invalidez em favor da parte autora, em 01/10/2018, tal fato ilide qualquer ofensa ao direito da personalidade. Não lhe cabe, portanto, indenização por danos morais. 6. A reforma da sentença é medida que se impõe para afastar a condenação por danos morais em face do INSS. 7. Apelação do INSS provida. (AC 1027879-72.2020.4.01.9999, DESEMBARGADOR FEDERAL ANTONIO OSWALDO SCARPA, TRF1 - NONA TURMA, PJe 19/02/2025 PAG.). PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ATRASO NA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO. DANO MORAL. INOCORRÊNCIA. 1. Não há que se falar em indenização por danos morais quando o INSS indefere, suspende ou demora na concessão de benefício previdenciário, tendo em vista que a Administração tem o poder-dever de decidir os assuntos de sua competência e de rever seus atos, pautada sempre nos princípios que regem a atividade administrativa, sem que a demora no exame do pedido, a sua negativa ou a adoção de entendimento diverso do interessado, com razoável fundamentação, importe em dano moral ao administrado, de que possam decorrer dor, humilhação ou sofrimento, suficientes a justificar a indenização pretendida. 2. Apelação do INSS provida, para julgar improcedente o pedido. (AC: 00015327420154013603, Relator.: DESEMBARGADORA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS, Data de Julgamento: 10/06/2020, 1ª Turma, Data de Publicação: PJe 10/06/2020 PAG PJe 10/06/2020 PAG). No caso sob análise, não restou comprovado ato administrativo ilícito que enseje a condenação por danos morais. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto pela parte autora para reconhecer o direito à concessão do benefício de aposentadoria especial, fixando-se a DIB em 03/11/2009, bem como para determinar o pagamento dos valores devidos. Correção monetária e juros moratórios conforme Manual de Cálculos da Justiça Federal, atendendo-se aos parâmetros estabelecidos no julgamento do RE 870.947 (Tema 810/STF) e REsp 1.492.221 (Tema 905/STJ). Em razão sucumbência recíproca, o INSS pagará honorários no percentual de 10% (dez por cento) do valor da causa. É o voto. Brasília, data da assinatura eletrônica. Juiz Federal NELSON LIUPITANGA Relator Convocado PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Processo Judicial Eletrônico PROCESSO: 0017643-52.2013.4.01.3200 PROCESSO REFERÊNCIA: 0017643-52.2013.4.01.3200 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: JORGE LUIS FONSECA VIEIRA REPRESENTANTES POLO ATIVO: MILCYETE BRAGA ASSAYAG - AM5006-A e WILSON MOLINA PORTO - TO3546-A POLO PASSIVO:INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS EMENTA DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES QUÍMICOS E FÍSICOS. MECÂNICO. RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE ESPECIAL. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Apelação da parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido de concessão de aposentadoria especial desde a DER (03/11/2009), indeferindo também o pedido de indenização por danos morais. A parte autora sustenta o exercício de atividade laboral em condições especiais no período de 28/09/1981 a 05/01/2009, como mecânico de equipamentos industriais, em campo de extração mineral, com exposição habitual a agentes químicos e físicos. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Há duas questões em discussão: (i) saber se é possível o reconhecimento de atividade especial no período laborado com exposição habitual e permanente a agentes nocivos à saúde; e (ii) saber se o indeferimento administrativo do benefício enseja o pagamento de indenização por danos morais. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O tempo de serviço prestado em condições especiais deve ser reconhecido quando comprovada a exposição habitual e permanente a agentes nocivos, conforme previsto no art. 57 da Lei nº 8.213/91 e nos Decretos nº 53.831/64, 83.080/79, 2.172/97 e 3.048/99. 4. O exercício da função de mecânico de equipamentos industriais em área de mineração, com exposição a hidrocarbonetos, óleos, graxas e solventes, caracteriza atividade especial tanto por enquadramento por categoria profissional (até 28/04/1995) quanto por exposição comprovada (de 29/04/1995 a 05/01/2009), conforme Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) e Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT). 5. A simples menção à utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) não é suficiente para afastar a especialidade do labor quando não comprovada a neutralização efetiva da nocividade dos agentes químicos. 6. Comprovada a exposição habitual a agentes químicos como hidrocarbonetos e a agentes físicos, há direito à concessão de aposentadoria especial desde a DER. 7. Quanto ao pedido de danos morais, a jurisprudência consolidada desta Corte afasta a responsabilização civil do INSS por indeferimento de benefício previdenciário, quando ausente dolo ou negligência administrativa, sendo incabível a indenização pleiteada. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Recurso parcialmente provido para reconhecer o direito à aposentadoria especial desde 03/11/2009, com o pagamento dos valores atrasados. Indeferido o pedido de indenização por danos morais. Honorários sucumbenciais fixados em 10% do valor da causa, em razão da sucumbência recíproca. Tese de julgamento: “1. A exposição habitual e permanente a agentes químicos como hidrocarbonetos, graxas e óleos caracteriza tempo de serviço especial, independentemente de análise quantitativa. 2. A utilização de EPI não afasta, por si só, a especialidade do labor se não comprovada a neutralização da nocividade. 3. A ausência de dolo ou negligência na análise administrativa do pedido de benefício previdenciário afasta a caracterização de dano moral indenizável.” Legislação relevante citada: CF/1988, art. 5º, XXXVI e art. 201, § 1º, II; Lei nº 8.213/91, arts. 57 e 58; CPC, arts. 183, § 1º, 219 e 1.003, § 5º; Decreto nº 53.831/1964, item 1.2.11; Decreto nº 83.080/1979, item 1.2.11; Decreto nº 2.172/1997, art. 64 e item XIII; Decreto nº 3.048/1999, art. 65 e item XIII; Instrução Normativa INSS/PRES nº 45/2010, art. 272, § 2º. Jurisprudência relevante citada: STJ, REsp 1806883/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 14/06/2019; STJ, REsp 1.460.188/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 08/08/2018; STJ, REsp 1306113/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 07/03/2013; STF, ARE 664.335, Tema 555 da repercussão geral; TRF1, AC 0001029-72.2014.4.01.3802, Rel. Juiz Federal Murilo Fernandes de Almeida, 1ª CRP/MG, e-DJF1 06/09/2021; TRF1, AC 0002050-77.2014.4.01.3804, Rel. Juiz Federal Grigório Carlos dos Santos, 2ª CRP/MG, PJe 21/04/2022; TRF1, AC 1009580-25.2017.4.01.3800, Rel. Des. Federal Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª Turma, PJe 17/11/2020; TRF1, AC 1027879-72.2020.4.01.9999, Rel. Des. Federal Antonio Oswaldo Scarpa, 9ª Turma, PJe 19/02/2025; TRF1, AC 00015327420154013603, Rel. Des. Federal Gilda Sigmaringa Seixas, 1ª Turma, PJe 10/06/2020. ACÓRDÃO Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO à Apelação da parte autora, nos termos do voto do relator. Brasília-DF, data da assinatura eletrônica. Juiz Federal NELSON LIU PITANGA Relator Convocado

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Processo nº 1004079-69.2021.4.01.3600

ID: 292600661

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 25 - DESEMBARGADOR FEDERAL URBANO LEAL BERQUÓ NETO Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1004079-69.2021.4.01.3600

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ODIMAS JOSE DE OLIVEIRA

Acórdão

Advogados:

EMANUELLE MOURA CUIABANO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

FABIO DORILEO VIEIRA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1004079-69.2021.4.01.3600 PROCESSO REFERÊNCIA: 1004079-69.2021.4.01.3600 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL D… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1004079-69.2021.4.01.3600 PROCESSO REFERÊNCIA: 1004079-69.2021.4.01.3600 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:ODIMAS JOSE DE OLIVEIRA REPRESENTANTE(S) POLO PASSIVO: FABIO DORILEO VIEIRA - MT10723-A e EMANUELLE MOURA CUIABANO - MT13860-A RELATOR(A):URBANO LEAL BERQUO NETO Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1004079-69.2021.4.01.3600 PROCESSO REFERÊNCIA: 1004079-69.2021.4.01.3600 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:ODIMAS JOSE DE OLIVEIRA REPRESENTANTES POLO PASSIVO: FABIO DORILEO VIEIRA - MT10723-A e EMANUELLE MOURA CUIABANO - MT13860-A RELATÓRIO O Excelentíssimo Desembargador Federal Urbano Leal Berquó Neto (Relator): Trata-se de apelação interposta pelo INSS em face de sentença que julgou parcialmente procedente a pretensão, reconhecendo a natureza especial das atividades exercidas pelo autor em decorrência da exposição aos agentes químicos hidrocarbonetos aromáticos (gasolina, etanol, óleo diesel), enquadrados como labor especial por aplicação da técnica qualitativa. Irresignado o INSS recorre sustentando que a prova pericial seria incabível, posto que o PPP é prova infungível, personalíssima e intransferível, não sendo possível a comprovação da especialidade do labor mediante prova emprestada ou laudo por similaridade. Sustentou impossibilidade por enquadramento genérico por hidrocarboneto, tendo em vista que não se pode confundir hidrocarbonetos aromáticos monocíclicos e os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, não sendo possível o enquadramento da atividade por mera avaliação qualitativa. Asseverou, ademais, que as atividades exercidas pelo autor nos períodos controvertidos não podem ser considerados especiais por ausência de comprovação de exposição a agentes nocivos de forma habitual e permanente, tendo em vista que o PPP relativo ao período de 1°/4/2010 a 2/9/2011 não apresenta especificação/quantificação de hidrocarboneto que o autor estaria exposto, tampouco a comprovação de efetiva exposição acima do nível de tolerância, em caráter permanente e habitual, assim como não consta o responsável técnico ou pelo monitoramento biológico, sem qualquer menção ou informação hábil a justificar a ausência do responsável técnico, tratando-se de PPP nulo, cabendo ao autor/segurado procurar a empresa para a solução do problema. Ao final, requereu o provimento do recurso para, reformando a sentença, seja julgada improcedente a pretensão. Devidamente intimado, o lado recorrido apresentou contrarrazões pugnando pelo improvimento do apelo. É o relatório. Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1004079-69.2021.4.01.3600 PROCESSO REFERÊNCIA: 1004079-69.2021.4.01.3600 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:ODIMAS JOSE DE OLIVEIRA REPRESENTANTES POLO PASSIVO: FABIO DORILEO VIEIRA - MT10723-A e EMANUELLE MOURA CUIABANO - MT13860-A V O T O O Excelentíssimo Desembargador Federal Urbano Leal Berquó Neto (Relator): Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Mister a depuração do cerne da pretensão, ora vertida em base recursal, lembrando que se trata de conflito de interesses condizentes ao reconhecimento da natureza especial das atividades exercidas pelo autor a fim de possibilitar sua conversão em tempo comum. Conforme já relatado, em linhas volvidas, a sentença recorrida julgou parcialmente procedente os pedidos contidos na inicial, reconhecendo a natureza especial das atividades exercidas pelo autor nos períodos de 2/10/2000 a 8/8/2005 e 1º/4/2010 a 2/9/2011, com apoio da prova técnica dos autos (PPPs e perícia judicial), em decorrência da exposição do autor aos agentes químicos hidrocarbonetos aromáticos (gasolina, etanol, óleo diesel), enquadrados como labor especial por aplicação da técnica qualitativa. Irresignado o INSS recorre sustentando que a prova pericial seria incabível, posto que o PPP é prova infungível, personalíssima e intransferível, não sendo possível a comprovação da especialidade do labor mediante prova emprestada ou laudo por similaridade. Sustentou impossibilidade por enquadramento genérico por hidrocarboneto, tendo em vista que não se pode confundir hidrocarbonetos aromáticos monocíclicos e os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, não sendo possível o enquadramento da atividade por mera avaliação qualitativa. Asseverou, ademais, que as atividades exercidas pelo autor nos períodos controvertidos não podem ser considerados especiais por ausência de comprovação de exposição a agentes nocivos de forma habitual e permanente, tendo em vista que o PPP relativo ao período de 1°/4/2010 a 2/9/2011 não apresenta especificação/quantificação de hidrocarboneto que o autor estaria exposto, tampouco a comprovação de efetiva exposição acima do nível de tolerância, em caráter permanente e habitual, assim como não consta o responsável técnico ou pelo monitoramento biológico, sem qualquer menção ou informação hábil a justificar a ausência do responsável técnico, tratando-se de PPP nulo, cabendo ao autor/segurado procurar a empresa para a solução do problema. Com efeito, para a caracterização do tempo de serviço especial observa-se a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do Tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos nº 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei nº 9.032/95, no entanto, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto nº 2.172/97, que regulamentou a Lei nº 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. A despeito da legislação de regência estabelecer as formas de comprovação da natureza especial da atividade exercida, a legislação processual civil consagra o princípio da persuasão racional, cabendo ao juiz ordenar a produção das provas que se revelarem indispensáveis ao julgamento da causa, nos termos do art. 370 do CPC/2015, admitindo-se, inclusive, ao contrário do que sustenta a autarquia em seu recurso, a realização de perícia indireta por similaridade para fins de comprovação de tempo especial, conforme entendimento firmado pelo STJ, nos termos da ementa do julgado que se segue: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. SÚMULA 284/STF. CÔMPUTO DE TEMPO ESPECIAL. PROVA TÉCNICA. PERÍCIA POR SIMILARIDADE. CABIMENTO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E NESSA PARTE PROVIDO. 1. Em preliminar, cumpre rejeitar a alegada violação do art. 535 do CPC, porque desprovida de fundamentação. O recorrente apenas alega que o Tribunal a quo não cuidou de atender o prequestionamento, sem, contudo, apontar o vício em que incorreu. Recai, ao ponto, portanto, a Súmula 284/STF. 2. A tese central do recurso especial gira em torno do cabimento da produção de prova técnica por similaridade, nos termos do art. 429 do CPC e do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/1991. 3. A prova pericial é o meio adequado e necessário para atestar a sujeição do trabalhador a agentes nocivos à saúde para seu enquadramento legal em atividade especial. Diante do caráter social da previdência, o trabalhador segurado não pode sofrer prejuízos decorrentes da impossibilidade de produção da prova técnica. 4. Quanto ao tema, a Segunda Turma já teve a oportunidade de se manifestar, reconhecendo nos autos do Recurso Especial 1.397.415/RS, de Relatoria do Ministro Humberto Martins, a possibilidade de o trabalhador se utilizar de perícia produzida de modo indireto, em empresa similar àquela em que trabalhou, quando não houver meio de reconstituir as condições físicas do local onde efetivamente prestou seus serviços. 5. É exatamente na busca da verdade real/material que deve ser admitida a prova técnica por similaridade. A aferição indireta das circunstâncias de labor, quando impossível a realização de perícia no próprio ambiente de trabalho do segurado é medida que se impõe. 6. A perícia indireta ou por similaridade é um critério jurídico de aferição que se vale do argumento da primazia da realidade, em que o julgador faz uma opção entre os aspectos formais e fáticos da relação jurídica sub judice, para os fins da jurisdição. 7. O processo no Estado contemporâneo tem de ser estruturado não apenas consoante as necessidades do direito material, mas também dando ao juiz e à parte a oportunidade de se ajustarem às particularidades do caso concreto. 8. Recurso especial conhecido em parte e nessa parte provido. (RESP - RECURSO ESPECIAL - 1370229 2013.00.51956-4, MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE DATA:11/03/2014 RIOBTP VOL.:00299 PG:00157 ..DTPB:.) Sem grifos no original Desse modo, não se pode recusar-lhe à validade como meio de prova apto à comprovação da exposição do trabalhador aos agentes nocivos, em especial como no caso dos autos em que resta prejudicada a perícia no mesmo local em que o segurado desempenhou o labor em razão do encerramento das atividades comerciais da empresa. Com efeito, se extrai do PPP as informações pertinentes ao responsável técnico pela monitoração biológica, encontra-se regularmente assinado pelo representante legal da empresa, registro de que as informações prestadas no referido documento foram transcritas fielmente dos registros administrativos, das demonstrações ambientais e dos programas médicos de responsabilidade da empresa, inexistindo qualquer prova em sentido contrário. Ademais, verifica-se que o referido PPP apresenta informações idênticas às conclusões a que chegou o perito judicial, no sentido de exposição a agentes químicos hidrocarbonetos aromáticos (gasolina, etanol, óleo diesel). Saliente-se, por oportuno, que dispõe o INSS dos meios necessários à fiscalização da empresa para verificar as condições de trabalho e, consequentemente, eventual inveracidade de informações no PPP (art. 298 da IN 77 do INSS c/c art. 68, § 7º, do Decreto n° 3.048/99), não podendo ser o ônus repassado ao segurado, até mesmo porque o PPP, devidamente preenchido pelas empresas empregadoras, reveste-se de presunção juris tantum de veracidade, sujeitando o subscritor a penalidades criminais em caso de falsidade das informações ali inseridas, não sendo a ausência de informação do responsável pelos registros ambientais suficiente para afastar sua validade, em especial como no caso dos autos em que houve perícia judicial complementar. Assim, à míngua de comprovação inequívoca da imprestabilidade das informações constantes nos PPPs, que deve refletir os dados existentes no laudo técnico de condições ambientais do trabalho - LTCAT, prevalecem as informações constantes nos documentos apresentados. No que tange a alegada ausência de comprovação de exposição a agentes nocivos de forma habitual e permanente por ausência de especificação/quantificação de hidrocarboneto que o autor estaria exposto, tampouco a comprovação de efetiva exposição acima do nível de tolerância, em caráter permanente e habitual, razão não assiste ao apelante. As atividades laborativas desempenhadas em posto de combustíveis, embora não sejam consideradas insalubres ou perigosas pelo rol dos Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79, tal fato por si só não impossibilita o seu enquadramento como especial, consoante entendimento do STJ, no julgamento do Recurso Especial nº 1306113/SC, em regime de recursos repetitivos, que consagrou o entendimento no sentido de que "à luz da interpretação sistemática, as normas regulamentadoras que estabelecem os casos de agentes e atividades nocivos à saúde do trabalhador são exemplificativas, podendo ser tido como distinto o labor que a técnica médica e a legislação correlata considerarem como prejudiciais ao obreiro, desde que o trabalho seja permanente, não ocasional, nem intermitente, em condições especiais (art. 57, § 3º, da Lei n° 8.213/1991)" (Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 14/11/2012, DJe 07/03/2013). Embora não enquadradas na categoria de profissões sujeitas às condições especiais, o código 1.2.11 do anexo do Decreto n° 53.831/1964 enquadra como atividades exercidas em condições especiais aquelas expostas permanente e habitualmente aos tóxicos orgânicos, cujas operações são executadas com derivados tóxicos do carbono. Em complemento, o código 1.2.10 do anexo I do Decreto n° 83.080/1979 relaciona os agentes nocivos à saúde correspondentes aos hidrocarbonetos e outros compostos de carbono e exemplifica a fabricação de diversos derivados. Quanto á exposição a hidrocarbonetos, no mesmo sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça segundo o qual a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). No mais, a jurisprudência desta Corte já exarou a compreensão de que “a exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins” (ApCiv 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Des. Gustavo Soares Amorim, Primeira Turma, julgado e 24/05/2022). Portanto, considera-se insalubre, de fato, as atividades desenvolvidas em posto de gasolina, para fins de contagem especial de tempo de serviço, ante aos riscos naturais da estocagem de combustíveis no local e a necessidade de se transitar pelas áreas contendo inflamáveis líquidos, ficando os trabalhadores do empreendimento sujeitos tanto à insalubridade quanto a periculosidade, podendo o exercício das referidas atividades serem consideradas especiais por mero enquadramento até a entrada em vigor da Lei n° 9.032/95, ocorrida em 28/4/1995, por força do contido nos códigos 1.2.10 e 1.2.11 do anexo do Decreto n° 53.831/1964 e da jurisprudência firmada quanto o tema. Conquanto o INSS sustente ser imprescindível que seja comprovada as espécies dos hidrocarbonetos que o autor esteve exposto ao argumento de que possuem regime jurídico diferenciado, sustentando que os hidrocarbonetos aromáticos monocíclicos ou mononucleares exigem avaliação quantitativa ao passo que os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos seriam os únicos que possibilita o enquadramento da atividade como especial apenas pela técnica qualitativa, outra sorte não assiste ao apelante, conforme exposição que segue delineada. Sobre a exposição a agentes químicos, há que se ter em conta que a NR 15/78, de aplicação reconhecida pelo §7o do artigo 68 do Decreto n° 3.048/99 em sua redação original e ainda hoje admitida pelo §13 do mesmo artigo, no caso de falta de critérios fixados pela FUNDACENTRO, os parâmetros para a mensuração da exposição é quantitativo e apenas no caso destes virem a ser ultrapassados é que o labor prestado pode ser considerado como desenvolvido sob condições especiais. Todavia, havendo conflito entre as condições de insalubridade fixadas pela NR 15 e a classificação de nocividade do anexo IV do Decreto n° 3.048/90, deve prevalecer a norma mais favorável ao trabalhador, ante o princípio relacionado à sua proteção. Neste ponto, a propósito, é o disposto no art. 278, § 1º, I, da IN INSS/PRES 77/2015, segundo o qual a avaliação dos agentes nocivos constantes dos anexos 6, 13 e 14 da NR-15 será "apenas qualitativa, sendo a nocividade presumida e independente de mensuração, constatada pela simples presença do agente no ambiente de trabalho". Logo, na avaliação qualitativa da exposição a agentes químicos, não devem ser considerados os equipamentos de proteção coletiva ou individual, uma vez que não são suficientes para eliminar completamente a exposição a esses agentes. Por outro lado, tratando-se de exposição a agentes químicos cuja avaliação seja quantitativa, apenas nas hipóteses em que devidamente comprovado que os equipamentos de proteção utilizados suprimem ou pelo menos reduzem para níveis inferiores aos mínimos estabelecidos a exposição aos agentes agressivos, por laudo técnico subscrito por quem detém a necessária qualificação técnica para tanto, é que será descaracterizado o enquadramento da atividade. No que tange os agentes químicos hidrocarbonetos aromáticos a que foi exposto o autor durante o período laborativo em auto posto de combustíveis, são decorrentes dos produtos à base de petróleo, em especial a gasolina e diesel, uma vez que aquela contém em sua composição aproximadamente 1% de benzeno, que é um hidrocarboneto aromático cancerígeno, apresentando concentração em quantidade inferior no que tange ao diesel, por tratar-se de subproduto da destilação da gasolina. De acordo com a exceção aberta pelo §4o do artigo 68 do Decreto n° 3.048/99, a exposição a agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (vide Portaria Interministerial nº 9, de 7 de outubro de 2014), possuem técnica de aferição qualitativa para o seu enquadramento como especial, e não quantitativa. Na referida Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos (Linach) encontra-se o benzeno. De igual modo, é o teor do anexo 13 da NR 15, in verbis: HIDROCARBONETOS E OUTROS COMPOSTOS DE CARBONO Insalubridade de grau máximo (...) Manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins. (...) SUBSTÂNCIAS CANCERÍGENAS (alterado pela Portaria SSST n.º14, de 20 de dezembro de 1995) Para as substâncias ou processos as seguir relacionados, não deve ser permitida nenhuma exposição ou contato, por qualquer via: - 4 - amino difenil (p-xenilamina); - Produção de Benzidina; - Betanaftilamina; - 4 - nitrodifenil, Entende-se por nenhuma exposição ou contato significa hermetizar o processo ou operação, através dos melhores métodos praticáveis de engenharia, sendo que o trabalhador deve ser protegido adequadamente de modo a não permitir nenhum contato com o carcinogênico. Sempre que os processos ou operações não forem hermetizados, será considerada como situação de risco grave e iminente para o trabalhador. Para o Benzeno, deve ser observado o disposto no anexo 13-A. (Sem grifos no original) Dessa forma, diversamente do alegado pela autarquia previdenciária e como já consignado alhures, os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos derivados dos hidrocarbonetos aromáticos no caso sob análise não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa, tendo em vista tratar-se de hidrocarboneto aromático do tipo benzeno, encontrado na gasolina e do diesel a que esteve exposto o autor de forma permanente durante todo o período laboral. Registra-se, ademais, que a constatação do caráter permanente da atividade especial não exige que o trabalho desempenhado pelo segurado esteja ininterruptamente submetido a risco para a sua incolumidade. Aliás, consoante já exposto acima, o art. 278, § 1º, I, da IN INSS/PRES 77/2015 prevê expressamente que a avaliação dos agentes nocivos constantes dos anexos 6, 13 e 14 da NR-15 será "apenas qualitativa, sendo a nocividade presumida e independente de mensuração, constatada pela simples presença do agente no ambiente de trabalho". Em conclusão, considera-se especial as atividades exercidas pelo autor em razão de sua exposição permanente e não habitual o agente químico benzeno (hidrocarboneto aromático proveniente de produtos à base de petróleo altamente cancerígeno). Posto isto, NEGO PROVIMENTO ao recurso interposto pelo INSS, nos termos da fundamentação supra. Em razão da sucumbência recursal, condeno o INSS em honorários advocatícios que fixo em 11% sobre o valor atualizado da causa, eis que majoro em um ponto percentual os parâmetros fixados na origem e atendo ao fato de que no presente caso não se pode mensurar o proveito econômico óbito. É como voto. Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO Relator Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1004079-69.2021.4.01.3600 PROCESSO REFERÊNCIA: 1004079-69.2021.4.01.3600 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:ODIMAS JOSE DE OLIVEIRA REPRESENTANTES POLO PASSIVO: FABIO DORILEO VIEIRA - MT10723-A e EMANUELLE MOURA CUIABANO - MT13860-A E M E N T A PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. COMPROVAÇÃO DE TEMPO DE LABOR ESPECIAL. ATIVIDADE LABORATIVA COM EXPOSIÇÃO A AGENTE QUÍMICO. POSTO DE COMBUSTÍVEIS. HIDROCARBONETO AROMÁTICO BENZENO. PRODUTO CANCERÍGENO. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Na hipótese dos autos o INSS se insurge em face da sentença de procedência parcial da ação sustentando que a prova pericial seria incabível para comprovação da atividade especial, posto que o PPP é prova infungível, personalíssima e intransferível, não sendo possível a comprovação da especialidade do labor mediante prova emprestada ou laudo por similaridade. Asseverou, ademais, a impossibilidade por enquadramento genérico por hidrocarboneto, impossibilidade de enquadramento da atividade por mera avaliação qualitativa, ausência de comprovação de exposição a agentes nocivos de forma habitual/permanente e nulidade do PPP apresentado. 2. No que tange a comprovação da natureza especial da atividade, a partir da edição do Decreto n° 2.172/97, que regulamentou a Lei n° 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico, inobstante, a legislação processual civil consagra o princípio da persuasão racional, cabendo ao juiz ordenar a produção das provas que se revelarem indispensáveis ao julgamento da causa, nos termos do art. 370 do CPC/2015, admitindo-se, inclusive, ao contrário do que sustenta a autarquia em seu recurso, a realização de perícia indireta por similaridade para fins de comprovação de tempo especial, conforme precedente do STJ declinado no voto. 3. Nesse contexto, não se pode recusar à validade da perícia judicial como meio de prova apto à comprovação da exposição do trabalhador aos agentes nocivos, em especial como no caso dos autos em que resta prejudicada a perícia no mesmo local em que o segurado desempenhou o labor em razão do encerramento das atividades comerciais da empresa. Ademais, se extrai do PPP as informações pertinentes ao responsável técnico pela monitoração biológica, encontra-se regularmente assinado pelo representante legal da empresa, registro de que as informações prestadas no referido documento foram transcritas fielmente dos registros administrativos, das demonstrações ambientais e dos programas médicos de responsabilidade da empresa, inexistindo qualquer prova em sentido contrário. Verifica-se que o referido PPP apresenta informações idênticas às conclusões a que chegou o perito judicial, no sentido de exposição do autor a agentes químicos hidrocarbonetos aromáticos (gasolina, etanol, óleo diesel). 4. Registra-se, por oportuno, que dispõe o INSS dos meios necessários à fiscalização da empresa para verificar as condições de trabalho e, consequentemente, eventual inveracidade de informações no PPP (art. 298 da IN 77 do INSS c/c art. 68, § 7º, do Decreto n° 3.048/99), não podendo ser o ônus repassado ao segurado, até mesmo porque o PPP, devidamente preenchido pelas empresas empregadoras, reveste-se de presunção juris tantum de veracidade, sujeitando o subscritor a penalidades criminais em caso de falsidade das informações ali inseridas, não sendo a ausência de informação do responsável pelos registros ambientais suficiente para afastar sua validade, em especial como no caso dos autos em que houve perícia judicial complementar. 5. Conquanto o INSS sustente imprescindível a comprovação das espécies dos hidrocarbonetos que o autor esteve exposto ao argumento de que possuem regime jurídico diferenciado, sustentando que os hidrocarbonetos aromáticos monocíclicos ou mononucleares exigem avaliação quantitativa ao passo que os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos seriam os únicos que possibilita o enquadramento da atividade como especial apenas pela técnica qualitativa, outra sorte não assiste ao apelante, pois os hidrocarbonetos aromáticos a que foi exposto o autor durante o período laborativo em posto de gasolina são decorrentes dos produtos à base de petróleo, em especial a gasolina e diesel, uma vez que a gasolina contém em sua composição aproximadamente 1% de benzeno, que é um hidrocarboneto aromático cancerígeno, apresentando concentração em quantidade inferior no que tange ao diesel, por tratar-se de subproduto da destilação da gasolina. 6. De acordo com a exceção aberta pelo §4o do artigo 68 do Decreto n° 3.048/99, a exposição a agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (vide Portaria Interministerial nº 9, de 7 de outubro de 2014), possuem técnica de aferição qualitativa para o seu enquadramento como especial, e não quantitativa. Na referida Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos (Linach) encontra-se o benzeno, contido na gasolina e no diesel. De igual modo é o teor do anexo 13 da NR 15, que estabelece como insalubridade em grau máximo a manipulação de hidrocarbonetos e outros compostos de carbono ou substâncias cancerígenas, reconhecendo expressamente o benzeno como substância cancerígena que não se permite nenhuma exposição ou contato, por qualquer via. 7. Desse modo, os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos derivados dos hidrocarbonetos aromáticos no caso sob análise não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa, tendo em vista tratar-se de hidrocarboneto aromático do tipo benzeno, encontrado na gasolina e do diesel a que esteve exposto o autor de forma permanente durante todo o período laboral. Registra-se, ademais, que consoante art. 278, § 1º, I, da IN INSS/PRES 77/2015 a avaliação dos agentes nocivos constantes dos anexos 6, 13 e 14 da NR-15 será "apenas qualitativa, sendo a nocividade presumida e independente de mensuração, constatada pela simples presença do agente no ambiente de trabalho". 8. Apelação a que se nega provimento. A C Ó R D Ã O Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO à apelação interposta pelo INSS, nos termos do voto do Relator. Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUÓ NETO Relator

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Processo nº 1000573-63.2018.4.01.3900

ID: 322956335

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 28 - DESEMBARGADOR FEDERAL EULER DE ALMEIDA Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1000573-63.2018.4.01.3900

Data de Disponibilização: 11/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JOSE CARLOS MONTEIRO DAS NEVES

Acórdão

Advogados:

ELIANA HELENA MONTEIRO DAS NEVES

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1000573-63.2018.4.01.3900 PROCESSO REFERÊNCIA: 1000573-63.2018.4.01.3900 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL D… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1000573-63.2018.4.01.3900 PROCESSO REFERÊNCIA: 1000573-63.2018.4.01.3900 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:JOSE CARLOS MONTEIRO DAS NEVES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: ELIANA HELENA MONTEIRO DAS NEVES - PA13582-A RELATOR(A):RICARDO BECKERATH DA SILVA LEITAO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO Gab. 28 - DESEMBARGADOR FEDERAL EULER DE ALMEIDA Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO CÍVEL (198): 1000573-63.2018.4.01.3900 RELATÓRIO O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL RICARDO BECKERATH DA SILVA LEITÃO (RELATOR CONVOCADO): Trata-se de Apelação interposta pelo INSS contra sentença proferida pelo juízo da 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Pará que julgou parcialmente procedente o pedido formulado por JOSE CARLOS MONTEIRO DAS NEVES, para: Reconhecer como atividade especial o tempo laborado sob exposição a ruído; Reconhecer como tempo de serviço marítimo embarcado os períodos apresentados, com a aplicação da contagem diferenciada (ano marítimo); Conceder aposentadoria por tempo de contribuição integral, com data de início do benefício – DIB em 28/09/2016, condenando o INSS ao pagamento dos valores vencidos, corrigidos e com consectários legais; Fixar honorários advocatícios, nos termos do art. 85 do CPC. Em suas razões recursais, o INSS sustenta, em síntese: A impossibilidade de reconhecimento da especialidade das atividades diante do uso eficaz de Equipamentos de Proteção Individual (EPI); A inviabilidade de conversão de tempo especial e uso cumulativo do fator do ano marítimo (255 dias = 360 dias); A falta de laudos técnicos contemporâneos e específicos que comprovem a efetiva exposição habitual a agentes agressivos; A ilegitimidade do enquadramento por categoria profissional após 1995, notadamente quanto à função de “marinheiro de convés”; A necessidade de observar a fonte de custeio do benefício previdenciário, conforme o art. 195, §5º da Constituição Federal; Não foram apresentadas contrarrazões. É o relatório. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO Gab. 28 - DESEMBARGADOR FEDERAL EULER DE ALMEIDA Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO CÍVEL (198): 1000573-63.2018.4.01.3900 VOTO O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL RICARDO BECKERATH DA SILVA LEITÃO (RELATOR CONVOCADO): Presentes os pressupostos recursais (competência do relator e da turma julgadora, tempestividade, adequação, dialeticidade, congruência e observância das normas pertinentes a eventual preparo recursal). Aposentadoria especial Será devida a aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, ao trabalhador que tenha laborado em condições especiais que lhe sejam nocivas à saúde ou à integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, consoante dispõe o art. 57, caput, da Lei 8.213/91, sendo possível, uma vez não alcançado o tempo necessário à sua concessão, a conversão do tempo especial em comum, conforme § 5º do referido regramento legal. Note-se que, de acordo com o entendimento jurisprudencial consolidado do Superior Tribunal de Justiça – STJ, “A teor do §1º do art.70 do Decreto n. 3.048/99, a legislação em vigor na ocasião da prestação do serviço regula a caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais. Ou seja, observa-se o regramento da época do trabalho para a prova da exposição aos agentes agressivos à saúde: se pelo mero enquadramento da atividade nos anexos dos Regulamentos da Previdência, se mediante as anotações de formulários do INSS ou, ainda, pela existência de laudo assinado por médico do trabalho.”(REsp 1151363 / MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado 23/03/2011, DJe 05/04/2011). Assim, para a comprovação do tempo especial anterior à Lei 9.032, de 28/04/1995, bastava o enquadramento da atividade exercida às hipóteses previstas nos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979, sendo, à época, dispensável a elaboração de laudo técnico, exceto nos casos de sujeição a agentes nocivos ruído, frio e calor (AC 1002147-44.2019.4.01.3300. Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL LUIS GUSTAVO SOARES AMORIM DE SOUSA, Primeira Turma, TRF1, PJe 21/11/2023 PAG; AC 0004740-05.2016.4.01.3806. Rel. JUÍZA FEDERAL LUCIANA PEINHEIRO COSTA. SEGUNDA TURMA. PJe. 19/08/2022 PAG.). Cumpre ressaltar que o rol de atividades descritas nos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 é meramente exemplificativo, não impedindo o reconhecimento de outras atividades como insalubres, perigosas ou penosas, desde que estejam devidamente comprovadas. (Cf. REsp 1830508/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2020, DJe 02/03/2021; AgInt no AREsp 1592440/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/08/2020, DJe 31/08/2020; REsp 1827524/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/09/2019, DJe 11/10/2019). Após o advento da Lei 9.032/1995, que deu nova redação ao art. 57 da Lei 8.213/1991, afastou-se o enquadramento da atividade especial pelo simples exercício de determinada profissão, exigindo-se a comprovação da efetiva submissão do segurado ao agente nocivo, feita por meio do preenchimento de formulários próprios (SB-40 e DSS-8030) expedidos pelo INSS e preenchidos pelo empregador. Entre 06/03/1997 (data de vigência do Decreto 2.172/1997) e 31/12/2003, passou-se a exigir, para a comprovação da efetiva exposição do segurado a agentes nocivos, a apresentação de formulário embasado em laudo técnico de condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. A partir de 01/01/04 (cf. art. 148 da IN DC/INSS 95/2003) passou-se a exigir do empregador a elaboração o Perfil Profissiográfico Previdenciário, tratando-se de documento hábil à comprovação da exposição do trabalhador aos agentes nocivos que indica. Registre-se que “inexiste exigência legal de que o perfil profissiográfico previdenciário seja, necessariamente, contemporâneo à prestação do trabalho, servindo como meio de prova quando atesta que as condições ambientais periciadas equivalem às existentes na época em que o autor exerceu suas atividades, até porque, se o perfil foi confeccionado em data posterior e considerou especiais as atividades exercidas pelo autor, certamente à época em que o trabalho fora executado as condições eram mais adversas, porquanto é sabido que o desenvolvimento tecnológico tende a aperfeiçoar a proteção aos trabalhadores.” (AC 0065408-35.2011.4.01.9199, JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 09/03/2018 PAG). Habitualidade e permanência do tempo de trabalho em condições prejudiciais à saúde e à integridade física A exigência de habitualidade e permanência do tempo de trabalho em condições prejudiciais à saúde e à integridade física, para fins de reconhecimento de atividade especial, não pressupõe a exposição contínua e ininterrupta ao agente nocivo durante toda a jornada de trabalho. Quanto ao ponto, já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça afirmando que “o tempo de trabalho permanente a que se refere o art. 57, § 3º, da Lei 8.213/1991, é aquele continuado, não o eventual ou intermitente, não implicando, por óbvio, obrigatoriamente, que o trabalho, na sua jornada, seja ininterrupto.” (REsp 1578404/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/09/2019, DJe 25/09/2019). Em ações de natureza previdenciária, o tempo de serviço/contribuição prestado em condições especiais pode ser comprovado da seguinte forma: 1) anteriormente à 29/04/1995 por mero enquadramento legal/regulamentar (regime anterior à vigência Lei 9.032/1995), observadas as seguintes peculiaridades: a) no período até 28/02/1979 (data imediatamente anterior à vigência do Decreto 83.080, de 24/01/1979): atividades e agentes nocivos elencados no anexo ao Decreto n° 53.831, de 25/03/1964; b) no período de 01/03/1979 a 05/03/1997 (vigência do Decreto nº 83.080, de 24/01/1979, até a data imediatamente anterior à vigência do Decreto n° 2.172, de 05/03/1997): atividades e agentes nocivos elencados no anexo ao Decreto n° 53.831, de 25/03/1964, e nos anexos I e II ao Decreto n° 83.080, de 24/01/1979. O art.295 do Decreto 611, de 21/07/1992, estabeleceu que as disposições contempladas em ambos os regulamentos mencionados aplicar-se-iam subsidiariamente até a publicação da Consolidação dos Regulamentos dos Benefícios da Previdência Social (Decreto n° 2.172, de 05/03/1997); 2) posteriormente a 29/05/1995 (regime posterior à vigência da Lei 9.032/1995), que passou a exigir, além do enquadramento legal/regulamentar, a comprovação de exposição de exposição a agentes nocivos químicos, físicos, biológicos, ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, conforme regulamentação vigente, da seguinte forma: a) no período de 06/03/1997 a 06/05/1999 (vigência do Decreto 2.172, de 05/03/1997, até a data imediatamente anterior à vigência do Decreto 3.048, de 06/05/1999): agentes nocivos elencados no anexo IV ao Decreto 2.172, de 05/03/1997; b) no período de 07/05/1999 em diante (vigência do Decreto 3.048, de 06/05/1999): agentes nocivos elencados no anexo IV ao Decreto n° 3.048, de 06/05/1999; c) documentação idônea e especificada para comprovar a efetiva exposição a agentes nocivos e o nexo casual: a) formulários SB-40 e DSS-8030, a partir da Lei 9.032/95 até a edição do Decreto 2.172 de 05/03/97, que regulamentou a Medida Provisória 1.523/96, convertida na Lei 9.528/97; b) LTCAT e/ou PPP a partir da edição da Lei 9.528/97; d) efetiva medição da exposição a patamares superiores aos limites máximos legais/regulamentares (tidos como toleráveis): I) ruído acima de 80 db (até 05/03/1997), 90 db (de 06/03/1997 até 18/11/2003) e 85 db (de 19/11/2003 em diante), conforme sucessão dos decretos de regulamentação (Decretos 53.831/1964, 2.172/1997 e 4.882/2003) na interpretação dada pelo Tema/Repetitivo STJ 684; II) eletricidade com exposição à tensão elétrica superior a 250 Volts (o item 1.1.8 do quadro anexo ao Decreto 53.831/1964, que regulamentou o art. 31 da Lei 3.807/1960, e o art. 57 da Lei 8.213/1991), porque, embora o agente eletricidade tenha sido excluído do rol de agentes nocivos pelo Decreto 2.172/97, a Primeira Seção do STJ, em recurso representativo de matéria repetitiva (REsp 1306113), decidiu que a exposição habitual do trabalhador a energia elétrica pode motivar a aposentadoria especial, mesmo que o agente danoso não conste do rol da legislação, por considerar que as normas, ao estabelecerem os casos de agentes e atividades nocivos à saúde do trabalhador, são exemplificativas; III) agentes biológicos: a) a nocividade do labor em que há contato com doentes e materiais infecto-contagiantes consta dos itens 2.1.3 dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979, bem como no item 3.0.1 do Anexo IV dos Decretos 2.172/97 e 3.048/99; b) o Anexo nº 14 da Norma Regulamentadora nº 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES, expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em relação às atividades que envolvam agentes biológicos, reforça a insalubridade (avaliação qualitativa) dos trabalhos e operações em contato permanente com pacientes, animais ou com material infecto-contagiante; c) para o agente nocivo biológico, não há estabelecimento de nível máximo de tolerância pela legislação específica, bastando a simples constatação de sua presença no ambiente para ser caracterizada a nocividade (análise qualitativa), não importando o tempo de exposição, a concentração ou a intensidade desses agentes no local analisado; e) prova de falta de disponibilidade pelo empregador ou ineficácia do uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), a partir de 02/12/1998 (Medida Provisória 1.729, convertida na Lei nº 9.732/98, que alterou a redação do § 2º do art. 58 da Lei nº 8.213/1991), salvo situação de inevitabilidade do dano, previstas jurisprudencialmente, como as situações de ruído (Recurso Especial com Agravo nº 664.335/SC), risco biológico (item 3.1.5 do Manual de Aposentadoria Especial aprovado pela Resolução INSS/PRES 600, de 10/08/2017) ou por eletricidade (Tema 159-TNU; Anexo IV da NR 16 - Atividades e Operações Perigosas; AC 0057304-81.2013.4.01.3800/MG, 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, e-DJF1 de 02/08/2018; 3) perícia judicial supletiva (Súmula 198 do Ex-TFR), quando deferida pelo Juízo Processante; 4) mitigação jurisprudencial quanto ao rigor excessivo de regras de enquadramento (Tese STJ 534) ou metodológica (inclusive forma de medição do agente danoso), previstas em atos regulamentares infralegais, tanto na produção prova legal/administrativa/regulamentar (formulários SB-40 e DSS-8030, LCAT e PPP) quanto na perícia judicial, observado, relativamente ao ruído: a) aplicação do Tema TNU 174, que estabeleceu que “a partir de 19 de novembro de 2003, para a aferição de ruído contínuo ou intermitente, é obrigatória a utilização das metodologias contidas na NHO-01 da FUNDACENTRO ou na NR-15, que reflitam a medição de exposição durante toda a jornada de trabalho, vedada a medição pontual, devendo constar do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) a técnica utilizada e a respectiva norma”; b) exigência de apresentação do LTCAT na situação de inidoneidade do PPP na hipótese de omissão ou dúvida quanto à indicação da metodologia empregada para a aferição da exposição nociva do agente ruído; c) o segurado não pode ser prejudicado por irregularidade na metodologia de aferição do agente nocivo, em face do caráter social das normas de proteção, atribuição ao empregador (e não ao empregado) da atribuição de apuração do nível de ruído de exposição do trabalhador em seu ambiente de trabalho e cominação ao INSS do dever legal de fiscalização do cumprimento das normas que estabelecem os critérios e métodos para a mencionada apuração (§ 1º do art. 58 da Lei 8.213/1991); 5) possibilidade de aplicação de conversão do tempo de serviço especial em comum, mediante a aplicação dos índices previstos no art. 70 do Decreto 3.048/1999 (sem as vedações temporais constantes do referido dispositivo normativo), porque as referidas vedações instituídas no caput do referido dispositivo normativo extrapolaram os limites do poder regulamentar previsto na Lei 9.711/1998 c/c § 1º do art. 201 da CF/88 (Tese STJ 422); 6) aplicação imediata das restrições e regra de transição instituída pela EC 103/2019, pelo período superveniente à sua publicação (13/11/2019), sem efeitos retroativos quanto à eventual direito até então adquirido (possibilidade de aplicação da inovação constitucional, para o período superveniente, das regras de idade mínima, vedação de conversibilidade de tempo especial em comum e aplicação de regra de transição). A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de reconhecer o direito ao cômputo do tempo de serviço especial exercido antes da Lei n. 9.032/1995, com base na presunção legal de exposição aos agentes nocivos à saúde pelo mero enquadramento das categorias profissionais previstas nos Decretos n. 53.831/1964 e 83.080/1979, como no caso do médico (REsp n. 1.806.883/SP, relator Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 23/5/2019, DJe 14/6/2019). Para tal conversão deve ser aplicado o multiplicador conforme o ordenamento vigente à época em que requerida a aposentadoria, estabelecido no art. 70 do Decreto 3.048/1999. No caso concreto, o INSS insurge-se contra sentença que reconheceu o direito do autor à aposentadoria por tempo de contribuição, mediante o cômputo de tempo especial por exposição a ruído e pelo exercício da atividade de marítimo, inclusive com aplicação da contagem diferenciada prevista para o “ano marítimo”. A autarquia alega, em síntese, a inexistência de comprovação da especialidade, a eficácia de Equipamento de Proteção Individual (EPI), a impossibilidade de cumulação entre tempo especial e ano marítimo, além da ausência de fonte de custeio e o indeferimento administrativo previamente consolidado. II – Mérito 1. Da caracterização da atividade especial por exposição a ruído A sentença reconheceu como especial o período laborado na empresa FLUMAR TRANSPORTES DE QUÍMICOS E GASES (16/12/2002 a 01/12/2008), com base em Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) juntado aos autos, que atesta exposição a ruído de 95,2 dB(A). Conforme a jurisprudência pacífica, inclusive desta Corte, até 18/11/2003 o limite era de 90 dB(A), reduzido posteriormente para 85 dB(A), nos termos do Decreto nº 4.882/2003. Sendo assim, resta caracterizada a nocividade do agente físico ruído, tanto sob o enfoque quantitativo quanto pela documentação técnica contemporânea constante nos autos, suficiente para afastar a presunção de neutralização por EPI, sobretudo quando não comprovada sua eficácia real no caso concreto. Ademais, conforme apresentado alhures, a utilização do EPI não afasta o dano causado pelo agente nocivo ruído quando acima dos limites legais previsto. 2. Do reconhecimento do tempo de serviço como marítimo embarcado e contagem especial O autor demonstrou, mediante cadernetas de embarque/desembarque, tempo efetivo embarcado que totaliza 2.560 dias, correspondentes a 7 anos e 3 dias, conforme a sistemática do “ano marítimo” (255 dias embarcados equivalem a 360 dias em terra), prevista no Decreto nº 2.172/1997 e na IN INSS/PRES nº 45/2010. As atividades desempenhadas como marítimo se encontram classificadas como insalubre nos termos do item 2.4.2 do Decreto n. 53.831/64 (marítimo de convés de máquina) e do item 2.4.4 do Decreto n. 83.080/79 (trabalhadores em casa de máquinas), de modo que, nos períodos anteriores a 28/04/1995, é possível o reconhecimento do tempo de serviço especial com base na categoria profissional do trabalhador. Nesse sentido: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL PARA COMUM. MARINHEIRO DE CONVÉS. ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL. EXPOSIÇÃO A FATOR DE RISCO CALOR. POSSIBILIDADE DE CONTAGEM DIFERENCIADA. BENEFÍCIO DEVIDO. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA PROVIDA. 1. No caso, a controvérsia limita-se ao período de 17.12.1998 a 05.01.2016, o qual não foi reconhecido como especial. 2. O tempo de serviço especial é aquele decorrente de serviços prestados sob condições prejudiciais à saúde ou em atividades com riscos superiores aos normais para o segurado. As condições especiais de trabalho demonstram-se: a) até 28/04/1995, pelo enquadramento profissional, ou mediante formulários da própria empresa ou laudos técnicos; b) a partir de 29/04/1995, por formulários próprios (SB-40 e DSS-8030, padronizados pelo INSS), preenchidos pela empresa, ou mediante laudo; c) a partir de 14/10/1996, por Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, devendo as empresas, desde então, elaborar e manter Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores. 3. A orientação jurisprudencial vigente é no sentido de que, qualquer que seja a época em que foi prestado, o tempo especial pode ser convertido em comum, consoante o que decidiu o Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial, representativo de controvérsia, n. 1.151.363/MG, relator Ministro Jorge Muss. 4. A atividade de marinheiro de convés deve ser considerada de atividade especial, por enquadramento de categoria profissional (Decreto n° 53.831/1964, códigos 2.4.2 do Anexo), cuja sujeição a agentes nocivos é presumida até a Lei nº 9.032/95. 5. No tocante ao agente nocivocalor,"em conformidade com a NR-15, da Portaria nº 3.214/78, de observância imperativa consoante determinam os Anexos IV do Decreto nº 2.172/97 e do Decreto nº 3.048/99, a insalubridade deve levar em consideração não só oIBUTG,mas também o tipo de atividade exercida, se leve, moderada ou pesada, sendo que quanto mais dinâmica for a atividade, menor a intensidade de temperatura exigida, conforme denota o quadro nº 1 - anexo nº 3, daNR15. Com efeito, na vigência do Decreto 53.831/64 exigia-se a sujeição à temperatura acima de 28°C. Já quanto ao período posterior à entrada em vigor do Decreto n° 2.172/97 (05/03/1997), e atualmente na vigência do Decreto n° 3.048/99, a caracterização da naturezaespecial vinculava-se à demonstração de que o trabalho foi executado com exposição ao calor acima dos limites de tolerância estabelecidos na NR - 15 da Portaria n° 3.214/78, verificadas ainda as variantes de acordo com o tipo de atividade: se pesada até 25°C; se moderada até 26,7°C; e se leve até 30°C (AC 0023684-15.2012.4.01.3800, JUÍZA FEDERAL GENEVIÈVE GROSSI ORSI, TRF1 - 2ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 17/09/2021 PAG). 6. O período de 17.12.1998 a 05.01.2016 deve ser considerado como sendo de atividade especial, vez que o limite de calor para atividade de Operação Marítima (marinheiro de convés) é de 26,7, conforme NR-15. No caso dos autos, de acordo com PPP e LTCAT, o autor trabalhou exposto ao fator de risco calor de 28.7º, superior ao limite permitido. 7. Assim, ao somar o período de labor especial, reconhecido por meio da presente demanda, ao ser multiplicado pelo fator 1.4 (total de 28 anos, 03 meses e 22 dias de tempo de contribuição), somados aos períodos que constam no CNIS, perfazem um total de mais de 35 anos, tempo necessário para concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, desde a DER (12.04.2016). 8. Em matéria de natureza previdenciária, os honorários advocatícios de sucumbência são devidos em 10% (dez por cento) do valor da condenação até a prolação do acórdão, nos termos do art. 85 do CPC/2015 e da Súmula 111/STJ. 9. Apelação da parte autora provida. ( TRF1-AC: 1000964-81.2018.4.01.3200, REl. Des. Fed. Rui Costa Gonçalves, Segunda Turma, DJe 29/05/2024, grifou-se). O INSS sustenta a impossibilidade de cumulação entre esse benefício e a contagem diferenciada da atividade especial. Tal alegação, entretanto, contraria o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que distingue os fundamentos jurídicos de ambas as contagens: o ano marítimo decorre da jornada prolongada e confinamento a bordo, ao passo que a atividade especial decorre da exposição a agentes nocivos, conforme reconhecido no julgamento da AR 3349/PB (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe 23/03/2010) apontado na r. sentença. Assim, é válida a cumulação das duas contagens, como expressamente previsto na sentença, respeitados os limites legais e com base em documentação probatória robusta. 3. Do tempo comum, serviço militar e auxílio-doença A sentença guerreada reconheceu como tempo comum: 941 dias de serviço militar (Exército e Marinha); 1.528 dias em gozo de auxílio-doença, com posterior retorno ao trabalho; 2.671 dias de vínculos empregatícios tidos como tempo comum. Conforme cálculo judicial acostado (ID 62582948), o somatório resulta em 15 anos, 7 meses e 12 dias, os quais, somados ao tempo especial já convertido, totalizam 37 anos, 6 meses e 26 dias de tempo de contribuição até a DIB (28/09/2016). 4. Da alegação de ausência de fonte de custeio A tese de ausência de custeio específico para as atividades reconhecidas como especiais, por suposto uso de EPI, não encontra respaldo quando os PPPs juntados não atestam eficácia comprovada, e os períodos são anteriores a 2003, conforme pontuado. Nesse sentido, a sentença a quo apresentou jurisprudência nesse sentido: APELAÇÃO E REMESSA NECESSÁRIA. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. AUSÊNCIA DE FONTE DE CUSTEIO. NÃO IMPEDIMENTO PARA RECONHECIMENTO DE TEMPO ESPECIAL. TEMPO LABORADO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. FRENTISTA. EXPOSIÇÃO A AGENTES QUÍMICOS. ÓLEOS MINERAIS. HIDROCARBONETOS DERIVADOS DO PETRÓLEO. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. TEMPO LABORADO EM ATIVIDADE ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM. POSSIBILIDADE (FATOR 1,4). CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. 1. (...) 7. A sentença reconheceu como especiais (exercício de atividade especial por exposição por agentes químicos) os períodos de 01/05/1992 a 28/01/1993, de 17/12/1993 a 04/11/1994, de 23/11/1994 a 09/07/1998 e de 02/05/2001 a 20/06/2014. 8. Quanto ao pedido de reconhecimento da atividade especial no período de 01/05/1992 a 28/01/1993 e de 17/12/1993 a 04/11/1994, verifico que a parte autora laborava no cargo de Frentista (PPPs de fls. 46/47), atividade profissional considerada como de caráter especial decorrente da exposição do segurado a hidrocarbonetos derivados do petróleo (óleo diesel, gasolina, óleo de motor), o que subsume a atividade aos códigos 1.2.11 do Anexo III do Decreto n. 53.831/1964 e 1.2.10 do Anexo I do Decreto nº 83.080/1979. Os PPPs juntados às fls. 53/55, expedidos por JOSE PUERTAS JIMENEZ & FILHOS LTDA., declaram que o autor trabalhou no período de 23/11/1994 a 09/07/1998 e de 02/05/2001 a 20/06/2014 com exposição aos agentes químicos óleos lubrificantes e combustíveis (diesel, gasolina e etanol), provenientes de hidrocarbonetos derivados do petróleo, previstos nos códigos 1.2.11 do Decreto nº 53.831/1964 e 1.2.10 do Anexo I do Decreto nº 83.080/1979. Assim, somados os períodos de enquadramento profissional como frentista (de 01/05/1992 a 28/01/1993 e de 17/12/1993 a 04/11/1994), aos períodos laborados em condições especiais, em que o autor trabalhou exposto aos agentes químicos, convertidos em tempo comum (de 23/11/1994 a 09/07/1998 e de 02/05/2001 a 20/06/2014), acrescidos ao período em que o autor prestou serviço militar obrigatório (de 18/05/1987 a 16/05/1988, conforme certificado de reservista à fl. 52), o autor perfaz tempo suficiente à manutenção do benefício pleiteado e concedido pela sentença (aposentadoria integral por tempo de contribuição). 9. Juros de mora e correção monetária nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal, devendo a partir de 07/2009 a correção a ser feita pelo IPCA-E ou o que vier a ser decidido pelo STF em eventuais embargos de declaração opostos contra o acórdão a ser publicado no RE 870.947 (alteração de índice ou modulação de efeitos). Sentença reformada no ponto. 10. Apelação do INSS parcialmente provida (item 9). Remessa oficial não provida. 11. Honorários incabíveis na espécie (art. 25 da Lei 12.016/2009). Custas na forma da lei, estando isento o INSS (art. 4º da Lei 9.289/96). (AC 0001128-08.2015.4.01.3802, JUÍZA FEDERAL LUCIANA PINHEIRO COSTA (CONV.), TRF1 - 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE MINAS GERAIS, e-DJF1 17/05/2018 PAG.) III – Conclusão Ante o exposto, voto por negar provimento à Apelação interposta pelo INSS, mantendo integralmente a r. sentença de primeiro grau por seus próprios fundamentos. Majoro os honorários advocatícios de sucumbência na fase recursal em 1% sobre a mesma base de cálculo da sentença recorrida, indevidos se ausente de contrarrazões ou manifestação equivalente. É o voto. Tribunal Regional Federal da 1ª Região 9ª Turma Gab. 28 - DESEMBARGADOR FEDERAL EULER DE ALMEIDA PROCESSO: 1000573-63.2018.4.01.3900 PROCESSO REFERÊNCIA: 1000573-63.2018.4.01.3900 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL POLO PASSIVO:JOSE CARLOS MONTEIRO DAS NEVES REPRESENTANTES POLO PASSIVO: ELIANA HELENA MONTEIRO DAS NEVES - PA13582-A RELATOR: RICARDO BECKERATH DA SILVA LEITAO EMENTA PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. ATIVIDADE ESPECIAL. RUÍDO. MARÍTIMO EMBARCADO. CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM. ANO MARÍTIMO. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. COMPROVAÇÃO POR PPP E DOCUMENTAÇÃO FUNCIONAL. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. É possível o reconhecimento da especialidade das atividades exercidas sob exposição a ruído, quando demonstrado, por meio de PPP, o labor em ambiente com níveis superiores aos limites legais, sendo inaplicável a neutralização por EPI. O tempo de serviço prestado como marítimo embarcado, quando devidamente comprovado por cadernetas de embarque e desembarque, é suscetível de contagem diferenciada com base no chamado “ano marítimo” (255 dias equivalem a 360 dias). A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite a cumulação da contagem do ano marítimo com a conversão de tempo especial em comum, por se tratarem de fundamentos jurídicos diversos: jornada prolongada e confinamento (ano marítimo) e exposição a agentes nocivos (atividade especial). Somados os períodos especiais convertidos e os comuns, inclusive os decorrentes de serviço militar e auxílio-doença intercalado, perfaz-se mais de 35 anos de tempo de contribuição até a data de início do benefício, fazendo jus o autor à aposentadoria por tempo de contribuição integral. Apelação do INSS desprovida. ACÓRDÃO Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao recurso de apelação, nos termos do voto do Relator. Brasília/DF, data e assinatura eletrônicas. JUIZ FEDERAL RICARDO BECKERATH DA SILVA LEITÃO Relator

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Processo nº 1012055-19.2019.4.01.3400

ID: 336389402

Tribunal: TRF1 Órgão: Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1012055-19.2019.4.01.3400

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

WANDERLEY MELO FRANCO

Acórdão

Advogados:

MARLON RIBEIRO COELHO

OAB/DF XXXXXX Desbloquear

JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1012055-19.2019.4.01.3400 PROCESSO REFERÊNCIA: 1012055-19.2019.4.01.3400 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL D… JUSTIÇA FEDERAL Tribunal Regional Federal da 1ª Região PROCESSO: 1012055-19.2019.4.01.3400 PROCESSO REFERÊNCIA: 1012055-19.2019.4.01.3400 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO:WANDERLEY MELO FRANCO REPRESENTANTES POLO PASSIVO: MARLON RIBEIRO COELHO - DF54447-A RELATOR(A):NELSON LIU PITANGA PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO CÍVEL (198) 1012055-19.2019.4.01.3400 R E L A T Ó R I O O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL NELSON LIU PITANGA(RELATOR CONVOCADO): Trata-se de recurso interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS contra sentença que julgou procedente o pedido inicial para conceder a aposentadoria por tempo de contribuição a partir de 18/04/2016 (DER), por ter reconhecido, como tempo de serviço especial, os períodos de 14/11/1995 a 25/07/1996, 01/09/1996 a 30/09/1997, 03/10/1997 a 31/10/1999, 18/11/1999 a 31/10/2000, 01/11/2000 a 23/09/2004, 24/09/2004 a 03/01/2005, 01/03/2005 a 14/03/2006, 11/09/2006 a 09/12/2006, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011, 02/01/2014 a 30/06/2014, 01/07/2014 a 15/08/2014, 16/08/2014 a 16/08/2014, 04/12/2014 a 09/09/2016, 01/03/2017 a 03/09/2017. Nas razões recursais, o INSS argui, preliminarmente, falta de interesse processual, em razão de ausência de requerimento administrativo em relação ao enquadramento como tempo especial. Sustenta que a atividade de frentista não se encontra elencada no rol de atividades insalubres dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79. Afirma que a parte autora não apresentou PPP/laudos técnicos que indiquem a exposição habitual e permanente a substância química capaz de reconhecer a especialidade dos vínculos. Aduz que, a partir da vigência do Decreto 2.172/97, há a necessidade de comprovação de que o nível de exposição a agentes nocivos químico estava acima dos limites do Anexo 12 da NR-15. Explica que o uso de EPI eficaz neutraliza a nocividade do agente nocivo. Contrarrazões apresentadas. É o relatório. PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Processo Judicial Eletrônico APELAÇÃO CÍVEL (198) 1012055-19.2019.4.01.3400 V O T O O EXMO. SR. JUIZ FEDERAL NELSON LIU PITANGA(RELATOR CONVOCADO): Recebido o recurso de apelação interposto porque preenchidos os pressupostos subjetivos e objetivos de admissibilidade. Recurso tempestivo, nos termos dos arts. 183 e § 1º c/c art. 219 e art. 1.003, § 5º do Código de Processo Civil. PRELIMINAR Da alegada falta de interesse de agir Sobre essa preliminar, deve-se dizer que, de acordo com a manifestação final do INSS (id 171966318), no processo administrativo, houve análise do pedido de concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, inclusive acerca do pedido de reconhecimento de atividade como especial, sendo indeferido por não cumprimento dos requisitos necessário para a concessão do benefício, o que configura a pretensão resistida necessária, nos termos do RE 631240, STF. Rejeito, pois, a preliminar suscitada pelo INSS. MÉRITO Da aposentadoria especial A aposentadoria especial será concedida ao segurado que comprovar o exercício de suas atividades laborativas de modo permanente, não ocasional nem intermitente, sob condições especiais, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, de acordo com a legislação previdenciária, na forma do art. 201, §1º, II da Constituição Federal c/c arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/91. É a consagração do princípio lex tempus regit actum como consectário da garantia constitucional de que lei posterior não prejudicará direito adquirido (art. 5º, XXXVI da Constituição Federal). A atividade especial caracteriza-se pelo trabalho desenvolvido sob condições prejudiciais à saúde e à integridade física do segurado em decorrência das circunstâncias insalubres, perigosas ou penosas, em razão da exposição aos agentes químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes ou do exercício de determinadas categorias profissionais, consoante relação de fatores de risco e de profissões descritas nos Anexos dos Decretos de números 53.831/64, 83.080/79 e 3.048/99. Com o advento das Leis 9.032/95 e 9.528/97, o reconhecimento do trabalho prestado sob condições especiais exige a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos mediante a apresentação dos formulários SB-40 ou DSS-8030 durante a vigência do Decreto n.º 2.172/1997 de 29/04/1995 a 05/03/1997. A comprovação do exercício da atividade especial dar-se-á pela apresentação do perfil profissiográfico previdenciário (PPP) emitido pela empresa ou por seu preposto, com base no laudo técnico de condições ambientais de trabalho - LTCAT expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Contudo, o PPP constitui meio de prova idôneo, em casos excepcionais, também para períodos anteriores a 31/12/2003, suprindo a ausência dos formulários SB-40 e DSS-8030, na forma do art. 272, §2º da Instrução Normativa INSS/PRES n. 45/2010. O requisito da permanência não pressupõe a exposição contínua ao fator de risco, mas sim que o contato com o agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço, nos termos do art. 65 do Decreto n.º 3.048/99, com redação dada pelo Decreto n.º 4.882/03. E, o requisito da habitualidade (não ocasional nem intermitente) refere-se à exigência de que o contato com o agente nocivo seja ínsito ao desempenho do trabalho. Desse modo, o segurado que comprovar ter laborado sob condições especiais tem direito à aposentadoria especial. E, na hipótese de o segurado não ter trabalhado o período integral, fixado por lei, sob condições especiais, assegura-se a conversão do tempo especial em comum de acordo com a tabela de conversão do art. 64 do Decreto n.º 2.172/97, a qual prevê, por exemplo, a multiplicação por 1,4 para homem, e por 1,2 para mulher, no caso de aposentadoria com 25 anos de tempo de serviço. Do enquadramento por categoria profissional Os trabalhos especiais exercidos até a edição da Lei nº 9.032/95 (DOU 29/04/1995) possuem a presunção juris et de jure quanto à exposição aos fatores de risco, bastando que as atividades constassem no rol de categorias relacionadas nos anexos dos Decreto nº 53.831/64 ou 83.080/79. Assim, conforme entendimento pacífico do STJ, até o advento da Lei nº 9.032/95, ou seja, até 28/04/1995, era possível o reconhecimento do período como especial com base no enquadramento da categoria profissional do trabalhador. Por outro lado, desde 29/04/1995, tornou-se necessária a demonstração efetiva de exposição, de forma permanente, não ocasional nem intermitente, a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física por qualquer meio de prova. (REsp n. 1806883/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, julgado em 23/05/2019, DJe 14/06/2019). Da mesma forma, o STJ firmou o entendimento de que rol de atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física descritas nas normas regulamentadores é exemplificativo e não taxativo, podendo ser reconhecida a especialidade do tempo de serviço exercido em outras atividades não especificadas no referido rol, desde que a nocividade da atividade esteja devidamente demonstrada no caso concreto. Admitiu-se, ainda, ser possível o enquadramento por categoria profissional o exercício de atividade não elencada nos decretos regulamentadores, por analogia a outra atividade, desde que comprovado o seu exercício nas mesmas condições de insalubridade, periculosidade ou penosidade. (REsp n. 1460188/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Primeira Turma, julgado em 26/06/2018, DJe 08/08/2018). Do hidrocarboneto e outros agentes químicos A exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos - ano, eno, ino), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos ou aromático – graxas, solvente etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos – ano, eno , ino, – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins”. Além disso, há entendimento jurisprudencial de que “os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa” (AC n.0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021). Do equipamento de proteção individual (EPI) O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento consolidado no sentido de que “(...) o fornecimento de EPI ao empregado não afasta, por si só, o direito à aposentadoria especial, devendo ser examinado o caso concreto (...).” (REsp 1.800.908/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 11/04/2019, DJe 22/05/2019). Do mesmo modo, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o ARE 664.335, representativo do Tema 555 da repercussão geral, fixou o entendimento de que "o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial", ressalvando, contudo, a exposição ao agente agressivo ruído. Do caso em exame A controvérsia cinge-se a averiguar se os períodos de 14/11/1995 a 25/07/1996, 01/09/1996 a 30/09/1997, 03/10/1997 a 31/10/1999, 18/11/1999 a 31/10/2000, 01/11/2000 a 23/09/2004, 24/09/2004 a 03/01/2005, 01/03/2005 a 14/03/2006, 11/09/2006 a 09/12/2006, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011, 02/01/2014 a 30/06/2014, 01/07/2014 a 15/08/2014, 16/08/2014 a 16/08/2014, 04/12/2014 a 09/09/2016, 01/03/2017 a 03/09/2017 caracterizam-se como tempo de serviço especiais. Após a análise do conjunto probatório, em especial as CTPS (id 171966287 e 171966288), verifica-se que a parte autora exerceu a função de frentista/gerente de posto de combustível durante todos os intervalos acima elencados. Ressalto que não houve, por parte do INSS, qualquer indicação de preenchimento abusivo ou de rasura que infirmasse a veracidade de tais anotações na CTPS. A atividade de frentista, exercida até 28/04/1995, pode ser enquadrada como especial por ser exercida próximo a bombas de combustíveis, nos termos do item 1.2.11 do quadro anexo do Decreto 53.831/64. Precedentes: AC 0044208-35.2013.4.01.3400, Rel. Desembargador Federal URBANO LEAL BERQUO NETO, TRF1 - NONA TURMA, PJe 10/03/2025; AC 1007738-90.2024.4.01.9999, Rel. Desembargadora Federal CANDICE LAVOCAT GALVAO JOBIM, TRF1 - SEGUNDA TURMA, PJe 19/03/2025. Por outro lado, as condições especiais dos trabalhos exercidos após a edição da Lei nº 9.032/95 deverão ser comprovadas mediante a apresentação de documentos que demonstrem a exposição do trabalhador aos agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física. No caso, verifica-se que todos os vínculos laborados pela parte autora e que almeja o reconhecimento da especialidade foram exercidos após a Lei 9.032/95, quando não há mais o enquadramento por categoria profissional, devendo, portanto, a parte requerente comprovar a sua exposição a agentes nocivos por meio de laudos técnicos. De início, não há como reconhecer a especialidade dos períodos de 14/11/1995 a 25/07/1996 (POSTO 314 NORTE LTDA), 03/10/1997 a 31/10/1999 (SÃO BERNARDO SERVIÇOS AUTOMOTIVOS LTDA), 01/03/2005 a 14/03/2006 (RIO BRANCO DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA), 11/09/2006 a 09/12/2006 (POSTO PASSARELA LTDA), 02/01/2014 a 16/08/2014 (VALE COMERCIAL DE COMBUSTÍVEIS LTDA), 01/03/2017 a 30/09/2017 (TUDO COMERCIAL DE COMBUSTÍVEIS LTDA), porquanto não se incumbiu a parte autora de apresentar PPP/laudo técnico que demonstre a efetiva exposição a agentes nocivos. Também não é possível o enquadramento como especial dos períodos de 18/11/1999 a 03/01/2005 (AUTOPOSTO VALPARAÍSO LTDA) e de 01/11/2000 a 23/09/2004 (RIO BRANCO DERIVADOS DE PETRÓLEO LTDA), uma vez que os PPPs juntados (id 171966276 e 171966277) não consta o nome, CPF, NIT e a assinatura do representante legal da empresa ou seu preposto, irregularidade formal que impede a consideração deste documento como prova hábil a comprovar a especialidade de labor prestado. Inclusive, tal exigência está prevista no artigo 281, §§ 1º e 2º da Instrução Normativa INSS/PRES nº 128, de 28/03/2022. Art. 281. O PPP constitui-se em um documento histórico laboral do trabalhador, segundo modelo instituído pelo INSS, conforme formulário do Anexo XVII, que deve conter as seguintes informações básicas: I - dados administrativos da empresa e do trabalhador; II - registros ambientais; e III - responsáveis pelas informações. § 1º O PPP deverá ser assinado pelo representante legal da empresa ou seu preposto, que assumirá a responsabilidade sobre a fidedignidade das informações prestadas quanto à: I - fiel transcrição dos registros administrativos; e II - veracidade das demonstrações ambientais e dos programas médicos de responsabilidade da empresa. § 2º Deverá constar no PPP o nome e o CPF do responsável pela assinatura do documento. Nesse sentido é o entendimento desta Corte: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE LABOR ESPECIAL. MECÂNICO. POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL. EXPOSIÇÃO A ELETRICIDADE ACIMA DE 250V. POSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO MESMO APÓS EDIÇÃO DO DECRETO 2172/97. IRRELEVÂNCIA DO FORNECIMENTO DE EPI. PPP SEM DATA DE EXPEDIÇÃO E ASSINATURA DO RESPONSÁVEL LEGAL DA EMPRESA. INVALIDADE. SENTENÇA REFORMADA PARA CONCEDER A APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. 1. A caracterização do tempo de serviço especial obedece a legislação vigente à época em que foi efetivamente executado o trabalho (interpretação do tema 694 do STJ). Tem-se, portanto, que no período de vigência dos Decretos 53.831/1964 e 83.080/1979 a especialidade da atividade se dava por presunção legal, de modo que bastava a informação acerca da profissão do segurado para lhe assegurar a contagem de tempo diferenciada. A partir da edição da Lei n.º 9.032/95, o enquadramento de tempo especial passou a depender de comprovação pelo segurado do tempo de trabalho permanente em atividades com efetiva exposição a agentes nocivos. Por fim, a partir da edição do Decreto 2.172/97, que regulamentou a Lei 9.528/97, passou-se a exigir laudo técnico. 2. Até o advento da Lei nº 9.032-95, admitia-se o reconhecimento da especialidade do labor por presunção, decorrente do enquadramento profissional e, no caso, a manipulação constante de óleos, graxas e solventes, expõe os mecânicos a estes produtos químicos, espécies de hidrocarbonetos, autorizando o reconhecimento da especialidade na forma do item 1.2.11 do Decreto nº 53.831-64 e item 1.2.11 do Anexo I do Decreto nº 83.080-79 (TRF-1 - AC: 00573994620104013500 0057399-46.2010.4.01.3500) 3.O período em que o autor esteve submetido a voltagem que ultrapassa os valores indicados no item 1.1.8 do Decreto 53.831/64 pode ser averbado como especial. Importa esclarecer que, mesmo em relação ao período posterior à edição do Decreto 2.172/97, a possibilidade do enquadramento foi permitida pelo RESp 1.306.113-SC, representativo de controvérsia. 4. O fornecimento de equipamento de proteção individual - EPI ao empregado não afasta, por si só, o direito ao benefício da aposentadoria especial, devendo haver apuração da possibilidade de redução de danos no caso concreto. Em relação ao trabalho submetido a altas tensões elétricas, o entendimento que prevalece na jurisprudência é o de que o EPI nunca neutraliza de modo eficaz o risco da atividade. 5. Em relação ao período laborado junto à EMESA é inválido o PPP por ausência de informações essenciais, como data de expedição, assinatura por representante legal da empresa e indicação do período de monitoração dos registros ambientais. 6. Considerando o tempo reconhecido como especial, o tempo de contribuição ultrapassa o mínimo legal para concessão do benefício. Sentença reformada. (AC 1002390-58.2020.4.01.4300, JUIZ FEDERAL PAULO ROBERTO LYRIO PIMENTA, TRF1 - NONA TURMA, PJe 05/12/2024 PAG.) No que concerne aos períodos de 01/09/1996 a 30/09/1997 (AUTOPOSTO VALPARAISO LTDA), 01/01/2007 a 05/09/2008 (ANDRADE E URIAS LTDA), 10/09/2008 a 30/09/2011 (DOURADO E FERNANDES PRESTADORA DE SERVIÇOS LTDA) e de 04/12/2014 a 09/09/2016 (ANDRADE E URIAS LTDA), verifica-se que a parte autora apresentou PPPs emitidos pelas empresas (id 171966274, 171966280, 171966281 e 71966283), indicando a exposição ao fator de risco químico (gasolina, álcool e óleo diesel). Com relação à exposição a hidrocarbonetos, o Superior Tribunal de Justiça entende que a exposição de modo habitual e permanente a solventes derivados tóxicos do carbono, contendo hidrocarbonetos aromáticos e inflamáveis, são fatores caracterizadores de agentes nocivos para fins de aposentadoria especial (AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 24/10/2014 e REsp 1487696/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 02/02/2016). Da mesma forma, esta Corte já firmou o entendimento de que “a exposição do trabalhador a agentes tóxicos orgânicos, como os hidrocarbonetos, autoriza a contagem diferenciada do tempo de labor. Tais agentes nocivos estão catalogados no Dec. nº 53.831/64 (cód. 1.2.11 – tóxicos orgânicos: hidrocarbonetos), Dec. nº 83.080/79 (cód. 1.2.10 – hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos), Dec. nº 2.172/97 (item 13 – hidrocarbonetos alifáticos – graxas, etc.), Dec. nº 3.048/99 (item XIII – hidrocarbonetos alifáticos – graxa, etc.), bem como na Norma Regulamentadora NR-15 do MTb (Anexo 13), que especifica como insalubre a “manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias cancerígenas afins” (AC1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Desembargador Federal GUSTAVO SOARES AMORIM, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/05/2022). Além disso, há entendimento jurisprudencial de que “os riscos ocupacionais gerados pela exposição a agentes químicos não requerem a análise quantitativa de concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente de trabalho, pois são caracterizados pela avaliação qualitativa” (AC n.0001029-72.2014.4.01.3802, Relator Juiz Federal MURILO FERNANDES DE ALMEIDA, 1ª Câmara Regional Previdenciária de Minas Gerais, e-DJF1 06/09/2021). No tocante ao equipamento de proteção individual - EPI, sabe-se que não há equipamento capaz de neutralizar a exposição ao agente nocivo benzeno, componente presente na gasolina, já que é reconhecidamente cancerígeno (CAS 000071-43-2), não se sujeitando a limite de tolerância, conforme Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos - LINACH - Grupo 1 - do anexo da Portaria Interministerial MPS/MTE/MS n.09/2014. Precedente: AC 1008539-34.2018.4.01.3300. Rel. Desembargador Federal ANTONIO OSWALDO SCARPA, TRF1 - NONA TURMA, Julgado em 06/03/2025). Destarte, reconhecendo apenas os períodos de 01/09/1996 a 30/09/1997, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011 e de 04/12/2014 a 09/09/2016 como especiais, constata-se que a parte autora, em 18/04/2016 (DER), possuía somente 07 anos 07 meses e 02 dias como tempo de serviço especial - insuficiente para a concessão da aposentadoria especial. Período: Modo: Total normal: Acréscimo: Somatório: 01/09/1996 a 30/09/1997 normal 1 a 1 m 0 d não há 1 a 1 m 0 d 01/01/2007 a 05/09/2008 normal 1 a 8 m 5 d não há 1 a 8 m 5 d 10/09/2008 a 30/09/2011 normal 3 a 0 m 21 d não há 3 a 0 m 21 d 04/12/2014 a 09/09/2016 normal 1 a 9 m 6 d não há 1 a 9 m 6 d TOTAL TEMPO ESPECIAL ------------------------------------------------------------------ 07 anos 07 meses 02 dias Por outro lado, convertendo os períodos reconhecidos como especiais pelo fator multiplicativo 1.4, denota-se que o tempo final da parte autora, até 18/04/2016 (DER), ficou em 33 anos, 01 mês e 29 dias como tempo de contribuição, não sendo possível, portanto, a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição. Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto pelo INSS para reconhecer apenas os períodos de 01/09/1996 a 30/09/1997, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011 e de 04/12/2014 a 09/09/2016 como tempo especial. Mantenham-se os honorários advocatícios arbitrados na sentença, em razão do provimento parcial do recurso, nos termos do Tema 1.059 do STJ. É o voto. Brasília, data da assinatura eletrônica. Juiz Federal NELSON LIU PITANGA Relator Convocado PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 1ª Região Gab. 27 - DESEMBARGADORA FEDERAL ROSIMAYRE GONÇALVES DE CARVALHO Processo Judicial Eletrônico PROCESSO: 1012055-19.2019.4.01.3400 PROCESSO REFERÊNCIA: 1012055-19.2019.4.01.3400 CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198) POLO ATIVO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS POLO PASSIVO: WANDERLEY MELO FRANCO REPRESENTANTES POLO PASSIVO: MARLON RIBEIRO COELHO - DF54447-A RELATOR: JUIZ FEDERAL NELSON LIU PITANGA E M E N T A DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. ATIVIDADE DE FRENTISTA. EXPOSIÇÃO A HIDROCARBONETOS. INSUFICIÊNCIA DE PROVA EM PARTE DOS PERÍODOS RECLAMADOS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Apelação interposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS contra sentença que julgou procedente o pedido inicial para conceder aposentadoria por tempo de contribuição a partir de 18/04/2016 (DER), reconhecendo como tempo de serviço especial diversos períodos em que a parte autora exerceu a função de frentista e gerente de posto de combustíveis. O INSS, em sede recursal, sustentou: (i) preliminarmente, a ausência de interesse processual, sob o argumento de inexistência de pedido administrativo quanto ao reconhecimento de tempo especial; e (ii) no mérito, a impossibilidade de reconhecimento da atividade de frentista como especial após a edição da Lei nº 9.032/95, por ausência de previsão legal e de prova documental idônea de exposição habitual e permanente a agentes nocivos, ressaltando, ainda, a neutralização de agentes nocivos pelo uso eficaz de Equipamentos de Proteção Individual – EPI. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. A questão em discussão consiste em definir: (i) se há interesse de agir da parte autora, diante da existência ou não de pretensão resistida no âmbito administrativo; e (ii) se os períodos laborados como frentista/gerente de posto de combustíveis caracterizam-se como tempo de serviço especial, apto a ensejar a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição ou especial, em razão da exposição a agentes químicos, especialmente hidrocarbonetos, à luz da legislação vigente e da documentação acostada aos autos. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. A preliminar de ausência de interesse processual foi rejeitada, pois o pedido administrativo abrangeu o reconhecimento de tempo especial, restando configurada pretensão resistida, nos termos do RE 631240 do STF. 4. A atividade especial está disciplinada no art. 201, § 1º, II da CF/1988, e nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213/91. Até 28/04/1995, bastava o enquadramento por categoria profissional, conforme Decretos nº 53.831/64 e nº 83.080/79. Após a edição da Lei nº 9.032/95, exige-se a comprovação efetiva da exposição a agentes nocivos, mediante documentos técnicos idôneos. 5. A jurisprudência admite que a exposição habitual e permanente a hidrocarbonetos caracteriza tempo especial, sendo desnecessária a análise quantitativa da exposição, salvo previsão legal específica, conforme entendimento do STJ e desta Corte. 6. O fornecimento de Equipamento de Proteção Individual (EPI) não afasta, por si só, o direito ao reconhecimento da atividade especial, devendo ser analisada a efetiva neutralização do agente nocivo no caso concreto. Contudo, não existe EPI eficaz para neutralizar a exposição ao benzeno, reconhecido como cancerígeno. 7. No caso concreto, não houve apresentação de PPP ou laudo técnico para os períodos laborados entre 14/11/1995 e 25/07/1996, 03/10/1997 e 31/10/1999, 01/03/2005 e 14/03/2006, 11/09/2006 e 09/12/2006, 02/01/2014 e 16/08/2014, e 01/03/2017 e 30/09/2017, o que inviabiliza o reconhecimento da especialidade. 8. Para os períodos laborados entre 18/11/1999 e 03/01/2005 e 01/11/2000 e 23/09/2004, os PPPs apresentados não possuem assinatura ou dados do representante legal da empresa, em afronta ao art. 281, §§ 1º e 2º, da Instrução Normativa INSS/PRES nº 128/2022, razão pela qual não são considerados documentos aptos à comprovação da especialidade do labor. 9. Por outro lado, os períodos de 01/09/1996 a 30/09/1997, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011 e 04/12/2014 a 09/09/2016 foram reconhecidos como especiais, pois há PPPs válidos informando exposição habitual e permanente a agentes químicos, como gasolina, álcool e óleo diesel, todos hidrocarbonetos cancerígenos, conforme entendimento consolidado. 10. Reconhecidos apenas esses períodos, a parte autora, em 18/04/2016, possuía 07 anos, 07 meses e 02 dias de tempo especial, o que não é suficiente para aposentadoria especial. Convertidos os períodos reconhecidos pelo fator 1.4, o autor alcançou o total de 33 anos, 01 mês e 29 dias de tempo de contribuição, igualmente insuficiente para a concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. IV. DISPOSITIVO E TESE 11. Recurso parcialmente provido para reconhecer apenas os períodos de 01/09/1996 a 30/09/1997, 01/01/2007 a 05/09/2008, 10/09/2008 a 30/09/2011 e de 04/12/2014 a 09/09/2016 como tempo de serviço especial. Mantidos os honorários advocatícios arbitrados na sentença, em razão do provimento parcial do recurso, nos termos do Tema 1.059 do STJ. Tese de julgamento: “1. Para o reconhecimento de tempo especial após a edição da Lei nº 9.032/95, exige-se a comprovação da exposição habitual e permanente a agentes nocivos, não bastando o enquadramento por categoria profissional. 2. A ausência de informações essenciais no PPP, como assinatura, nome e CPF do responsável legal, torna-o inválido para fins de comprovação de tempo especial.” Legislação relevante citada: CF/1988, art. 5º, XXXVI; CF/1988, art. 201, § 1º, II; Lei nº 8.213/1991, arts. 57 e 58; Decreto nº 53.831/1964, item 1.2.11; Decreto nº 83.080/1979, item 1.2.10; Decreto nº 2.172/1997, art. 64; Decreto nº 3.048/1999, art. 65; Instrução Normativa INSS/PRES nº 128/2022, art. 281, §§ 1º e 2º. Jurisprudência relevante citada: STF, RE 631240, Plenário; STJ, REsp 1806883/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 14/06/2019; STJ, REsp 1460188/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 08/08/2018; STJ, AgRg no REsp 1452778/SC, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 24/10/2014; STJ, REsp 1487696/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 02/02/2016; STJ, REsp 1.800.908/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 22/05/2019; TRF1, AC 1000964-94.2017.4.01.3304, Rel. Des. Federal Gustavo Soares Amorim, Primeira Turma, julgado em 24/05/2022; TRF1, AC 1008539-34.2018.4.01.3300, Rel. Des. Federal Antonio Oswaldo Scarpa, Nona Turma, julgado em 06/03/2025; TRF1, AC 0044208-35.2013.4.01.3400, Rel. Des. Federal Urbano Leal Berquo Neto, Nona Turma, PJe 10/03/2025; TRF1, AC 1007738-90.2024.4.01.9999, Rel. Des. Federal Candice Lavocat Galvão Jobim, Segunda Turma, PJe 19/03/2025; TRF1, AC 1002390-58.2020.4.01.4300, Rel. Juiz Federal Paulo Roberto Lyrio Pimenta, Nona Turma, PJe 05/12/2024; TRF1, AC 0001029-72.2014.4.01.3802, Rel. Juiz Federal Murilo Fernandes de Almeida, 1ª CRP/MG, e-DJF1 06/09/2021. A C Ó R D Ã O Decide a Nona Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso de apelação interposto pelo INSS, nos termos do voto do Relator. Brasília, data da assinatura eletrônica. Juiz Federal NELSON LIU PITANGA Relator Convocado

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