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Luiz Ricardo Carvalho Da Silva Junior x Omini Sa - Financeira E Investimento e outros

ID: 337108641

Tribunal: TJRJ Órgão: Comarca de São Gonçalo- Cartório da 1ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0175093-43.2012.8.19.0004

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

LUIZ RICARDO CARVALHO DA SILVA JUNIOR

Polo Passivo:

OMINI SA - FINANCEIRA E INVESTIMENTO SAMACAR DE SÃO GONÇALO COMERCIO E CORRETAGEM DE VEICULOS LTDA-ME

Sentença

Advogados:

GIOVANNA MORILLO VIGIL DIAS COSTA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

LUIS AUGUSTO CARRICO DA CONCEICAO PACHECO

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

ANDRÉ DA SILVA TEIXEIRA

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

EDUARDO PENA DE MOURA FRANÇA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ROSEMAR LACERDA MENEZES

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Trata-se de demanda ajuizada por LUIZ RICARDO CARVALHO DA SILVA JUNIOR em face de OMINI S/A - FINANCEIRA E INVESTIMENTO e SAMACAR DE SÃO GONÇALO COMERCIO E CORRETAGEM DE VEICULOS LTDA - ME. Narra o a… Trata-se de demanda ajuizada por LUIZ RICARDO CARVALHO DA SILVA JUNIOR em face de OMINI S/A - FINANCEIRA E INVESTIMENTO e SAMACAR DE SÃO GONÇALO COMERCIO E CORRETAGEM DE VEICULOS LTDA - ME. Narra o autor que, em dezembro de 2011, dirigiu-se à segunda ré com o intuito de adquirir um veículo. Foi-lhe apresentado um automóvel marca Volkswagen, modelo Gol CL 1.6, ano e modelo 1990, cor azul, movido a gasolina/GNV, pelo valor de R$ 4.500,00 à vista, ou, alternativamente, em 24 parcelas de R$ 350,00 ou 36 parcelas de R$ 284,50. Optou pela última forma de pagamento, conforme simulação apresentada pela vendedora e registrada em cartão entregue ao autor, cuja cópia instrui os autos. A fim de viabilizar a compra, a segunda ré informou que seria necessário contratar um financiamento. Após análise de crédito do autor e de seu avalista, foi aprovada uma Cédula de Crédito Bancário com alienação fiduciária, n.º 1.01061.0000372.11. Segundo o autor, esse documento foi assinado em branco, sem preenchimento de dados essenciais como valor, quantidade de parcelas e data da contratação, sendo firmado em confiança, com base nas informações repassadas pela vendedora. Aduz que somente em 23 de março de 2012, após insistentes tentativas, o autor obteve cópia do contrato, oportunidade em que constatou divergência entre as condições firmadas e aquelas efetivamente pactuadas. O financiamento, conforme consta do instrumento, previa 42 parcelas mensais de R$ 292,33, totalizando R$ 12.277,86, valor significativamente superior ao acordado. Alega que, desde o início, as cobranças realizadas pela primeira ré foram distintas daquelas que considerava contratadas, sem transparência quanto ao valor efetivo de cada prestação, o que, em sua ótica, compromete a clareza exigida nas relações de consumo. Aponta, ainda, que o contrato apresenta irregularidades relevantes, como ausência de rubrica na primeira página, data de celebração anterior ao início das tratativas (29/11/2011), e a recusa da ré em fornecer o documento original. Destaca também que, por constar data anterior, foi compelido a pagar a primeira parcela já em dezembro de 2011, quando havia sido informado de que o vencimento inicial ocorreria em janeiro de 2012. Ressalta a cobrança de tarifas que reputa indevidas ou excessivas, como taxa de cadastro (R$ 115,27), avaliação (R$ 100,00), registro do contrato (R$ 330,00), item genérico denominado 'Outros' (R$ 115,27), além de juros capitalizados à taxa mensal de 4,61% e anual de 71,743%. Argumenta que, considerando a taxa mensal contratada, a capitalização anual resultaria em 55,32%, de modo que o percentual informado no contrato é incompatível com a capitalização composta, o que, além de abusivo, afrontaria a Súmula 121 do STF. Aponta, ainda, que o contrato atribui ao bem o valor de R$ 6.349,00, valor superior aos R$ 4.500,00 que lhe foram informados. Alega ser pessoa de pouca instrução, o que teria facilitado sua indução em erro. Sustenta que não lhe foi possível registrar o veículo em seu nome, conforme obrigação assumida, uma vez que não recebeu o contrato em tempo hábil e foi informado posteriormente de que o recibo de compra e venda teria sido extraviado pela segunda ré, o que poderá ser comprovado por prova testemunhal. Em razão das dificuldades enfrentadas e da quebra da confiança, relata que sequer consegue usufruir do bem com tranquilidade, temendo problemas adicionais, o que, a seu ver, configura dano moral. Aponta, por fim, a cláusula contratual que estabelece foro de eleição na Comarca de São Paulo, a qual reputa abusiva, por violar o direito constitucional de acesso ao Judiciário, requerendo seu afastamento. Diante das alegadas irregularidades, o autor pleiteia a anulação do contrato, com restituição integral e corrigida dos valores pagos, inclusive em dobro quanto às quantias indevidamente cobradas. Subsidiariamente, requer a revisão contratual, com adequação das condições financeiras ao que teria sido acordado, além de indenização por danos morais. Informa, ainda, que tentou devolver o veículo à segunda ré cerca de 30 dias após a compra, em razão de problemas mecânicos e aparência fraudulenta (ferrugens encobertas), mas recebeu a negativa sob a justificativa de que a devolução só seria possível após o pagamento de 12 parcelas, sem restituição de valores. Gratuidade deferida ao autor sob id 37. A primeira ré, OMNI, apresentou contestação sob id 50. A instituição financeira, em sua defesa, refuta integralmente as alegações do autor. Afirma que não houve assinatura de contrato em branco, destacando que o autor possui ensino superior incompleto, o que, segundo a contestante, demonstra que não se trata de pessoa desprovida de discernimento. Alega que, em 25 de novembro de 2011, o autor e seu pai, este último na qualidade de avalista, assinaram a ficha de orçamento da operação de crédito, na qual constavam todas as condições do financiamento, incluindo número de parcelas, valores, vencimentos, tarifas e valor total do bem. Ressalta que, após análise cadastral, o contrato foi formalizado em 29 de novembro de 2011, com cláusula de alienação fiduciária, nas mesmas condições previamente informadas. A contestante sustenta que não há fundamento jurídico ou fático que justifique a revisão contratual, uma vez que o autor não demonstrou a ocorrência de fatos supervenientes, extraordinários ou imprevisíveis que tenham tornado excessivamente onerosa a obrigação. Argumenta que a inadimplência, por si só, não autoriza a revisão do contrato, e que a taxa de juros aplicada está em conformidade com a média de mercado e com a legislação vigente, não sendo possível aplicar ao caso as limitações da Lei da Usura, conforme entendimento consolidado do STF (Súmula 596) e do STJ. No tocante às tarifas, a defesa afirma que todas foram previamente informadas e autorizadas, estando respaldadas por normas do Banco Central e pela legislação específica do Sistema Financeiro Nacional. Rechaça o pedido de repetição de indébito, por ausência de cobrança indevida, e sustenta que o artigo 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor não se aplica ao caso. Quanto à inversão do ônus da prova, a contestante argumenta que não se verifica a hipossuficiência técnica do autor no processo, tampouco a verossimilhança das alegações, requisitos indispensáveis para a aplicação da regra excepcional prevista no CDC. Por fim, impugna o pedido de indenização por danos morais, alegando ausência de demonstração de ato ilícito, nexo causal e efetivo prejuízo. Sustenta que a pretensão indenizatória é genérica, desprovida de elementos mínimos que justifiquem sua procedência, tratando-se de tentativa infundada de enriquecimento sem causa. Diante de todo o exposto, requer a improcedência total da ação. A segunda ré, Samacar de São Gonçalo Comércio e Corretagem de Veículos Ltda., apresentou contestação sob id 97 na qual, preliminarmente, argui sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda. Sustenta que não celebrou qualquer contrato de compra e venda com o autor, inexistindo nos autos documento que comprove a relação jurídica entre as partes. Alega que o documento juntado pelo autor não contém elementos mínimos que caracterizem a venda do veículo, como tipo, marca ou condições do bem, impugnando-o desde já. Afirma que a controvérsia apresentada na inicial se refere exclusivamente ao contrato de financiamento firmado com a primeira ré, OMNI S/A, especialmente quanto aos valores e encargos pactuados. Assim, entende que a demanda deve ser direcionada apenas à instituição financeira, não havendo qualquer responsabilidade da segunda ré pelos termos do financiamento. No mérito, ainda que se admitisse, apenas em tese, a existência de relação contratual entre o autor e a contestante, sustenta que não há qualquer irregularidade que justifique a procedência dos pedidos. Ressalta que o contrato de financiamento, firmado entre o autor e a primeira ré, prevê expressamente o pagamento de 42 parcelas no valor de R$ 292,33, conforme documento assinado pelo próprio autor. Dessa forma, não há divergência entre o valor contratado e o valor cobrado, sendo infundada a alegação de que o autor teria sido induzido a erro. Aduz que a proposta de financiamento foi aprovada com a anuência do autor, e que a segunda ré não possui qualquer ingerência sobre os valores, taxas ou condições do contrato, tampouco participa de sua execução financeira. Destaca que os contratos de compra e venda e de financiamento são juridicamente autônomos, não se confundindo entre si. Observa, ainda, que o autor não formulou pedido de rescisão do contrato de compra e venda, nem alegou vício do produto, o que reforça a ausência de responsabilidade da contestante. Quanto ao pedido de rescisão do contrato de financiamento, alega que não houve falha na prestação do serviço ou omissão de informações que justifique tal medida. Sustenta que o autor, diante de sua inadimplência, busca se eximir das obrigações assumidas contratualmente, o que não pode ser admitido. No tocante ao pedido de indenização por danos morais, a contestante afirma que não praticou qualquer ato ilícito que possa ter causado prejuízo ao autor. Argumenta que não há nos autos qualquer prova de dano moral, sendo a pretensão baseada apenas em alegações genéricas. Invoca doutrina e jurisprudência para sustentar que o dano moral deve ser efetivamente comprovado e que sua reparação não pode ser banalizada, sob pena de fomentar a chamada 'indústria da indenização'. Ao final, requer o acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva, com a consequente extinção do processo em relação à segunda ré. Subsidiariamente, caso superada a preliminar, pugna pela total improcedência dos pedidos formulados pelo autor, com sua condenação ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Requer, ainda, a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente o depoimento pessoal do autor. Sob id 120 a segunda ré afirma não ter mais provas a produzir. Réplica à primeira ré sob o id 123 na qual o autor reafirma os fundamentos da petição inicial e impugna os argumentos defensivos da ré. Sustenta que, ao contrário do que foi alegado, assinou contrato de adesão incompleto, sob a justificativa de que os valores finais seriam preenchidos posteriormente. Contesta a afirmação da ré de que possui ensino superior incompleto, alegando que tal informação busca induzir o juízo a erro. Aponta que, ao perceber ter sido enganado, redigiu de próprio punho uma carta relatando sua insatisfação, demonstrando sua condição de leigo e a ausência de compreensão plena sobre os termos do contrato. Réplica à segunda ré sob id 128. O autor impugna a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela segunda ré, Samacar, sustentando que a compra do veículo ocorreu diretamente em sua loja, localizada em São Gonçalo, onde o bem foi apresentado por seus prepostos, que também forneceram as condições de pagamento. Alega que a proposta foi formalizada mediante entrega de cartão com as opções de parcelamento, tendo optado por 36 parcelas de R$ 284,50 para aquisição de um veículo Volkswagen Gol, ano 1990, no valor de R$ 4.500,00. Contesta a alegação da ré de que não houve relação jurídica entre as partes, argumentando que a atividade principal da empresa é a comercialização de veículos e que os contratos de financiamento foram preenchidos por seus próprios funcionários, no interior da loja, antes de serem remetidos à instituição financeira OMNI, sediada em São Paulo. Sustenta que essa prática configura fraude ao consumidor, especialmente pela ausência de emissão de nota fiscal. No mérito, rebate a tese de que a demanda se refere exclusivamente ao contrato de financiamento, reiterando que a Samacar participou ativamente da negociação e da formalização do contrato, inclusive na definição dos valores, encargos e condições. Requer, inclusive, que seja oficiado o Banco Central para verificar eventual repasse de valores da OMNI à Samacar, como forma de comprovar a relação comercial entre as rés. Refuta a alegação de que se tratam de negócios jurídicos distintos, afirmando que a Samacar atua como intermediária da OMNI, preenchendo contratos de arrendamento mercantil em nome da financeira, sem fornecer documentação fiscal da venda do veículo, o que reforça a tese de conluio entre as rés. Quanto ao pedido de rescisão contratual, o autor sustenta que a demanda decorre de vícios graves no negócio jurídico, como a cobrança de valor superior ao acordado para o veículo, inclusão de tarifas não contratadas e divergência entre o valor das parcelas pactuadas e o efetivamente cobrado. Alega que tais irregularidades foram praticadas em conjunto pelas rés, sendo a Samacar corresponsável pelos danos causados. No tocante ao dano moral, afirma que os atos ilícitos praticados pelas rés frustraram seu sonho de adquirir o primeiro veículo, conquistado com esforço pessoal, e o obrigaram a comprometer recursos além de sua capacidade financeira. Argumenta que a conduta das rés violou sua dignidade e causou sofrimento íntimo, sendo passível de reparação conforme entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça. Ao final, requer o indeferimento da preliminar de ilegitimidade passiva, a procedência integral dos pedidos formulados na petição inicial, e a produção de todas as provas em direito admitidas, incluindo depoimento pessoal da parte ré, prova testemunhal, pericial e documental. O autor se manifestou sob id 141 informando que, em 20 de agosto de 2013, ao prestar socorro à sua sogra, que havia sofrido um AVC, dirigiu-se ao Hospital Geral de São Gonçalo utilizando o veículo objeto da presente ação. Na ocasião, o automóvel foi apreendido pelo DETRAN por ausência de apresentação do documento de porte obrigatório, conforme previsto no artigo 232 do Código de Trânsito Brasileiro. Reitera que não conseguiu realizar a transferência do veículo para seu nome em razão da não entrega, pelos réus, do recibo de compra e venda, documento essencial para regularização junto ao órgão de trânsito, inclusive para anotação da alienação fiduciária. Destaca que a única informação recebida foi de que o recibo havia sido perdido. O autor afirma que já sofreu diversos prejuízos desde o início da relação contratual, marcada por deslealdade e irregularidades cometidas pelos réus. Ressalta que, além de não estar na posse do bem, está sendo responsabilizado por multas registradas em seu nome, inclusive com datas anteriores à celebração do contrato. Por fim, informa que a instituição financeira ré ajuizou ação de busca e apreensão do veículo, registrada sob o número 0043158-40.2013.8.19.0004, em trâmite na 7ª Vara Cível da Comarca de São Gonçalo. O detran-rj apresentou resposta a ofício sob id 174, contendo histórico. Decisão saneadora sob id 189. A audiência (id 199) foi realizada em 9 de outubro de 2019, às 10h. Estiveram presentes a parte autora, Luiz Ricardo Carvalho da Silva Júnior, acompanhado de sua advogada, bem como os prepostos das rés OMNI S/A - Financeira e Investimento e RB Automóveis, acompanhados por seus respectivos advogados. Tentou-se acordo entre as partes, sem êxito. As testemunhas não compareceram e não houve comprovação de suas intimações. Diante disso, a parte autora requereu a desistência da prova testemunhal, o que foi acompanhado pelas rés, que também desistiram da produção de prova oral. A parte autora reiterou o pedido de produção de prova pericial. Homologada a desistência da prova oral por ambas as partes. Foi determinada a conclusão dos autos para análise do pedido de prova pericial e eventual nomeação de perito. Determinou-se, ainda, o traslado de cópia da ata para o processo de busca e apreensão apensado (nº 0043158-40.2013.8.19.0004). Sob id 204 foi proferida SENTENÇA PARCIAL, lançada como DECISÃO. O juízo da 1ª Vara Cível de São Gonçalo, ao analisar a ação revisional de contrato ajuizada por Luiz Ricardo Carvalho da Silva Júnior contra OMNI S/A - Financeira e Investimento e Samacar de São Gonçalo Comércio e Corretagem de Veículos Ltda., julgou parcialmente procedentes os pedidos do autor. Foram rejeitados os pedidos de anulação de cláusulas contratuais por vício de consentimento, bem como os pedidos de revisão das cláusulas relativas à capitalização mensal de juros (anatocismo), tarifa de cadastro, registro do contrato e seguro de proteção financeira ('outros'), por ausência de provas de má-fé ou ilegalidade. Por outro lado, o juízo reconheceu a abusividade da cobrança da tarifa de avaliação do bem, determinando sua devolução de forma simples, com correção monetária e juros de mora desde a citação. Também foi reconhecido o dano moral decorrente do atraso no registro do contrato de alienação fiduciária, fixando-se indenização no valor de R$ 4.000,00, com os devidos acréscimos legais. Foi determinada a exclusão da empresa RB Automóveis do polo passivo, com inclusão da empresa Samacar. Houve reconhecimento de sucumbência recíproca, com divisão proporcional das custas processuais (50% para cada parte) e fixação de honorários advocatícios em 10% sobre os respectivos valores de condenação e da metade do valor atualizado da causa. Por fim, foi deferida a produção de prova pericial contábil para apuração do saldo devedor ou eventual valor a ser restituído ao autor. Nomeou-se o perito Jairo José dos Santos, fixando-se os honorários periciais em R$ 3.000,00, a serem pagos ao final pela parte sucumbente, em razão da gratuidade de justiça concedida ao autor. As partes foram intimadas a apresentar quesitos, indicar assistente técnico e manifestar-se sobre eventual impedimento ou suspeição do perito no prazo de 15 dias. O laudo pericial deverá ser apresentado em 60 dias. O laudo pericial foi apresentado sob id 275. O perito informou que não foram apresentados quesitos pelas partes e que o objeto da perícia não foi delimitado de forma específica pelo juízo. Ainda assim, após análise dos documentos e elaboração de cálculos, concluiu que não houve irregularidade na taxa mensal contratual praticada no financiamento. O valor atualizado do débito do autor, até 30 de novembro de 2022, foi apurado em R$ 52.118,19. Os réus concordaram com o laudo, enquanto o autor discordou sob o id 364. Esclarecimentos do perito sob id 386. Vieram-me os autos conclusos. É O RELATÓRIO. EXAMINADOS, DECIDO. Impõe-se o julgamento antecipado da lide, não havendo outras provas a produzir na forma do art.355, I do CPC. Cuida-se de ação revisional de contrato de financiamento de veículo, cumulada com pedido de indenização por danos morais, proposta por consumidor em face da instituição financeira OMNI S/A - Financeira e Investimento e da revendedora Samacar de São Gonçalo Comércio e Corretagem de Veículos Ltda. A controvérsia posta nos autos gira em torno da validade e da exequibilidade do contrato celebrado entre as partes, em especial quanto à divergência entre as condições inicialmente apresentadas ao consumidor e os termos efetivamente formalizados no instrumento contratual; à suposta abusividade de encargos financeiros cobrados; e à responsabilidade das rés pelos danos materiais e morais decorrentes do inadimplemento contratual e da falha na prestação do serviço. De início, cumpre destacar que a relação estabelecida entre as partes é de consumo, sendo aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor (arts. 2º e 3º do CDC), inclusive no que se refere à responsabilização objetiva dos fornecedores por falhas na prestação dos serviços (art. 14 do CDC) e ao dever de informação clara, precisa e adequada (art. 6º, III). A sentença proferida sob o id 204 - intitulada decisão - realizou análise exauriente de diversas questões de mérito, julgando improcedentes os pedidos de anulação de cláusulas contratuais por vício de consentimento, bem como os pedidos de revisão/anulação das cláusulas relativas à capitalização mensal de juros, tarifa de cadastro, registro do contrato e seguro de proteção financeira. Por outro lado, reconheceu a abusividade da cobrança da tarifa de avaliação do bem, determinando sua devolução de forma simples, e fixou indenização por danos morais no valor de R$ 4.000,00, diante do atraso no registro do contrato de alienação fiduciária, que impossibilitou a transferência do bem ao nome do autor por período prolongado, gerando-lhe insegurança jurídica e transtornos. Tais conclusões devem ser ratificadas, com a devida integração nesta sentença, por se tratar de pronunciamento de mérito parcial, nos termos do art. 356, II, do CPC. No tocante ao ponto remanescente - a alegação de divergência entre os valores inicialmente apresentados para o financiamento (R$ 4.500,00, em 36 parcelas de R$ 284,50) e aqueles efetivamente contratados (R$ 12.277,86, em 42 parcelas de R$ 292,33) -, a prova pericial contábil produzida (id 275), devidamente esclarecida (id 386), concluiu que os valores constantes do contrato estavam em conformidade com os encargos explicitamente pactuados. Ressaltou-se que o documento de fl. 29, que contém as condições alegadas pelo autor, refere-se a mero cartão de simulação, sem valor contratual. O perito destacou que o montante financiado, de R$ 5.385,39, incluía R$ 1.035,39 de encargos contratuais expressamente previstos, sendo a quantia compatível com os valores das parcelas e com o número de prestações contratadas. Quanto à alegada ausência de acesso ao contrato no momento da contratação, não se extrai dos autos prova suficiente de má-fé ou de que o autor tenha sido impedido de conhecer os termos do instrumento assinado. Tampouco restou demonstrada a existência de cláusulas inseridas sem sua ciência ou anuência. Dessa forma, inexistindo divergência material comprovada entre as condições efetivamente contratadas e aquelas simuladas previamente, e sendo as cláusulas contratuais analisadas compatíveis com a jurisprudência dominante, não há como acolher o pedido de revisão sob esse fundamento. No que toca à revendedora Samacar, restou demonstrado nos autos que a negociação inicial do veículo se deu em seu estabelecimento, com participação direta de seus prepostos na apresentação das condições e preenchimento da proposta de financiamento. Ainda que os contratos de compra e venda e de financiamento sejam juridicamente autônomos, a atuação conjunta das rés na formalização do negócio, sem a devida prestação de informações claras ao consumidor e sem emissão de nota fiscal, configura hipótese de solidariedade passiva (art. 7º, parágrafo único, do CDC). Por fim, embora o laudo pericial tenha apurado débito atualizado de R$ 52.118,19 (id 275), cumpre assinalar que não houve impugnação específica da metodologia adotada, tampouco foram apresentados quesitos pelas partes. Ainda assim, diante da comprovação de abusividade parcial no contrato e do acolhimento parcial da pretensão inicial, caberá às partes, na fase de cumprimento de sentença, discutir a liquidação do valor a ser efetivamente pago ou devolvido, conforme apurado com base nos parâmetros ora fixados. Ante o exposto, RATIFICO os termos da sentença parcial de mérito lançada sob o id 204, a qual passa a integrar esta decisão, e, com fundamento no art. 487, I, do CPC, julgo totalmente improcedente o pedido de revisão do contrato quanto ao número e valor das parcelas, mantendo-se válidos os encargos pactuados, à exceção da tarifa de avaliação do bem, cuja devolução simples já foi determinada e ora expressamente faço constar desse dispositivo como PROCEDENTES OS PEDIDOS: a) de anulação das cláusulas relativas as tarifas de Avaliação de Bem e determino a sua devolução pelos réus, de forma simples, acrescida de juros de mora desde a citação (fl. 40 - 01/10/2012) e correção monetária a partir do desembolso; e b) condenar os réus ao pagamento de indenização por dano moral no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), acrescido de juros de mora de 1% ao mês desde a citação (fl. 40 - 01/1012012). Ratifica-se também a distribuição proporcional dos ônus sucumbenciais, com custas rateadas em 50% para cada parte e honorários advocatícios fixados em 10% sobre os respectivos valores de condenação e da metade do valor atualizado da causa. Publique-se. Intimem-se. Transitada em julgado e nada requerido, dê-se baixa e arquivem-se.

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