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Processo nº 2000386-85.2025.8.13.0000

ID: 278113789

Tribunal: TJMG Órgão: 02ª CÂMARA CÍVEL Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 2000386-85.2025.8.13.0000

Data de Disponibilização: 26/05/2025

Polo Ativo:

ADRIANA NELY DORNAS MOURA

Polo Passivo:

DESPACHO/DECISÃO

Advogados:

PAULA FERREIRA DE ALMEIDA MARZANO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

Agravo de Instrumento Nº 2000386-85.2025.8.13.0000/MGPROCESSO ORIGINÁRIO: Nº 1010207-58.2025.8.13.0024/MG TIPO DE AÇÃO: Abuso de Poder AGRAVANTE : ADRIANA NELY DORNAS MOURA ADVOGADO(A) : PAULA FERR… Agravo de Instrumento Nº 2000386-85.2025.8.13.0000/MGPROCESSO ORIGINÁRIO: Nº 1010207-58.2025.8.13.0024/MG TIPO DE AÇÃO: Abuso de Poder AGRAVANTE : ADRIANA NELY DORNAS MOURA ADVOGADO(A) : PAULA FERREIRA DE ALMEIDA MARZANO (OAB MG103188) DESPACHO/DECISÃO DEFIRO a formação do Agravo de Instrumento, porquanto presentes os pressupostos processuais de admissibilidade. Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto Adriana Nely Dornas Moura em face da decisão de evento 1 que indeferiu a liminar na Ação de Mandado de Segurança aforada contra ato do Pró-Reitor de Pesquisa e Graduação da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, nos seguintes termos: Trata-se de mandado de segurança impetrado por Adriana Nely Dornas Moura contra ato atribuído à Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. A parte impetrante narrou ter sido aprovada em primeiro lugar no Processo Seletivo de Bolsistas de PósDoutorado da UEMG, regido pelo Edital PROPPG Nº 03/2025, para o Programa de Pós-Graduação em Design. Relatou possuir vínculo empregatício como professora auxiliar na Universidade FUMEC, com carga horária semanal reduzida, que considerou compatível com as atividades exigidas pelo estágio pós-doutoral. Sustentou que a cláusula 3.1.2 do edital, que exigia a ausência de vínculo empregatício de qualquer natureza no momento da implementação da bolsa e durante toda a sua vigência, era ilegal e inconstitucional, por não encontrar amparo nas normas que regem o estágio pósdoutoral e a concessão de bolsas, como a Portaria CAPES nº 133/2023 e a Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, além de violar os princípios da isonomia, proporcionalidade e liberdade profissional. Argumentou que o próprio edital, em seu item 2.3, permitia o acúmulo de bolsas de estudo com finalidades distintas, o que, em sua visão, demonstrava a irrazoabilidade da vedação ao vínculo celetista. Mencionou sua idade, superior a sessenta anos, e a dependência do plano de saúde da Universidade FUMEC, ressaltando o risco de perda desse benefício e de direitos previdenciários com a rescisão do contrato de trabalho. Requereu, em sede liminar, a suspensão da exigibilidade da cláusula 3.1.2 do Edital PROPPG Nº 03/2025, a fim de permitir a inscrição e implementação da bolsa de pós-doutorado sem a necessidade de rescisão de seu contrato de trabalho com a Universidade FUMEC, até o julgamento final do mandamus. Juntou documentos, incluindo o edital, comprovantes de aprovação, declaração da universidade FUMEC, contracheques e extrato de vínculos do CNIS. É o relatório. Decido. A concessão de medida liminar em mandado de segurança pressupõe a coexistência de dois requisitos legais, quais sejam, a relevância do fundamento invocado pela parte impetrante (fumus boni iuris) e o perigo de ineficácia da medida caso seja finalmente deferida (periculum in mora), conforme estabelece o artigo 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/2009. A ausência de qualquer um desses pressupostos inviabiliza o deferimento da medida de urgência pleiteada. No caso em análise, a parte impetrante questiona a legalidade da cláusula 3.1.2 do Edital PROPPG Nº 03/2025, que veda a participação de candidatos com vínculo empregatício de qualquer natureza no momento da implementação da bolsa e durante toda a sua vigência. Alega que tal vedação contraria normas superiores e princípios constitucionais. Observa-se que o Edital PROPPG Nº 03/2025, em seu item 2.3, prevê a possibilidade de o bolsista acumular uma segunda bolsa, desde que tal acúmulo não tenha a mesma finalidade, remetendo ao parágrafo único do artigo 20 da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023. Este dispositivo da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, que regulamenta o Estágio PósDoutoral e cria o Programa Institucional de Pós-Doutorado (ProPD) na UEMG, de fato, dispõe que "O bolsista poderá acumular uma segunda bolsa, desde que tal acúmulo não tenha a mesma finalidade". Por outro lado, a mesma Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, em seu artigo 19, §2º, estabelece que o pesquisador contemplado com a bolsa de Estágio Pós-Doutoral deverá dedicar quarenta horas semanais às atividades do Estágio. O edital, ao vedar o vínculo empregatício (cláusula 3.1.2), impõe uma condição específica para a concessão da bolsa no âmbito deste programa, que se alinha com a exigência de dedicação integral prevista na resolução que o fundamenta. A Portaria CAPES nº 133, de 10 de julho de 2023, que regulamenta o acúmulo de bolsas concedidas pela CAPES com atividade remunerada ou outros rendimentos, dispõe em seu artigo 2º que as bolsas de pós-doutorado concedidas pela CAPES no País poderão ser acumuladas com atividade remunerada ou outros rendimentos, com exceção do acúmulo de bolsas de mesmo nível financiadas com recursos públicos federais e das vedações expressamente dispostas na legislação vigente. Contudo, o artigo 3º da mesma portaria confere às Instituições de Ensino e Pesquisa ou aos Programas de Pós-Graduação a prerrogativa de regulamentar ou atualizar os critérios para permissão ou vedação do acúmulo de bolsas em seus regimentos internos, observado o disposto no artigo 2º. Desse modo, a Portaria CAPES nº 133/2023, embora permita o acúmulo de bolsas com atividade remunerada em caráter geral, expressamente autoriza que as instituições e programas de pós-graduação estabeleçam regulamentações adicionais sobre o tema. A cláusula 3.1.2 do Edital PROPPG Nº 03/2025, ao vedar o vínculo empregatício de qualquer natureza para os bolsistas deste programa específico, parece constituir um exercício legítimo da autonomia universitária e da prerrogativa regulamentar conferida pela própria norma da CAPES. A exigência de dedicação de quarenta horas semanais ao estágio pós-doutoral, prevista na Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, serve como fundamento para a restrição imposta pelo edital, na medida em que a manutenção de um vínculo empregatício formal, ainda que com carga horária reduzida, pode ser considerada incompatível com a dedicação integral esperada do bolsista. A distinção feita pelo edital entre o acúmulo de outras bolsas com finalidades distintas (permitido pelo item 2.3 do edital e artigo 20, parágrafo único, da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023) e a vedação ao vínculo empregatício (cláusula 3.1.2) não configura, em uma análise preliminar, contradição ou ilegalidade manifesta. Trata-se de regulamentações distintas para situações diversas: uma permite a cumulação de fontes de fomento acadêmico com propósitos diferentes, enquanto a outra impõe uma condição de dedicação ao programa que, no entendimento da instituição, é incompatível com a existência de um contrato de trabalho formal. A valoração da experiência docente para fins de pontuação no currículo (Anexo 3 do edital) refere-se à qualificação prévia do candidato, não implicando a permissão para a continuidade dessa atividade de forma remunerada durante a vigência da bolsa, caso o edital estabeleça o contrário com base na dedicação exigida. Ainda que a situação da parte impetrante, com sua idade e dependência do plano de saúde, desperte consideração, a análise da medida liminar deve se ater à probabilidade do direito invocado. Neste momento processual, não se vislumbra, de plano, a ilegalidade ou o abuso de poder no ato da autoridade coatora, uma vez que a restrição imposta pelo edital encontra aparente respaldo na regulamentação interna da universidade, que, por sua vez, está autorizada pela norma da agência de fomento a estabelecer critérios para o acúmulo de bolsas com atividade remunerada. A questão demanda uma análise mais aprofundada do mérito, após a manifestação da autoridade coatora e do Ministério Público. A ausência de fundamento relevante afasta a possibilidade de concessão da medida liminar, tornando desnecessária a análise do perigo de ineficácia da medida. Diante do exposto, INDEFIRO A LIMINAR pleiteada por Adriana Nely Dornas Moura contra ato atribuído à Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. (...). Em suas razões de ordem nº 1, a agravante reafirma que a cláusula editatícia a qual condiciona a implementação e manutenção da bolsa à ausência de vínculo empregatício de qualquer natureza (cláusula 3.1.2) não encontra respaldo em nenhuma das normas descritas no edital e viola os princípios constitucionais da isonomia, proporcionalidade e liberdade profissional, além de representar uma restrição indevida ao exercício do trabalho. Pondera que exerce atividade docente na Universidade FUMEC, com carga horária reduzida e plenamente compatível com as atividades exigidas pelo estágio pós-doutoral, salientando que a responsabilidade pelo acompanhamento da carga horária e do cumprimento das atividades do estágio é do supervisor, como estabelecido nos artigos 4º, 5º e 19 da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023. Aduz que a própria estrutura do edital apresenta contradições, pois valoriza a experiência docente e a atuação em instituições de ensino superior para fins de pontuação (Anexo 3), mas simultaneamente proíbe a continuidade dessa mesma atuação, criando um obstáculo injustificável. Esclarece que, recentemente, completou 60 anos de idade, e depende do plano de saúde disponibilizado pela Universidade FUMEC para garantir cuidados médicos essenciais, o que torna ainda mais severa a exigência de ausência de vínculo celetista prevista no edital, que pode resultar na perda desse benefício vital, inclusive, para efeitos de carência junto ao INSS, bem como contagem de tempo para aposentadoria. Afirma que o próprio Edital PROPPG nº 03/2025, em seu item 2.3, na esteira da Portaria CAPES nº 133/2023, permite o acúmulo de bolsas de estudo, desde que não sejam da mesma finalidade, evidenciando que a exigência de dedicação exclusiva não é absoluta, mas sim direcionada apenas aos vínculos formais de emprego, sem qualquer impedimento para acúmulo de outras atividades acadêmicas remuneradas. Requer a concessão de efeito suspensivo ou antecipação de tutela recursal, para conceder a liminar negada em primeira instância, a fim de suspender a exigência constante na cláusula 3.1.2 do Edital PROPPG nº 03/2025, permitindo que a agravante implemente sua bolsa de pós-doutorado sem a necessidade de rescisão do vínculo empregatício . O art. 7º, III da Lei nº 12.016/2009 autoriza que o magistrado “ suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida (...)”. O art. 1.019, I, do CPC, por sua vez, permite ao Relator conceder efeito suspensivo ou antecipar no todo ou em parte a tutela recursal. Em ambos os casos, é imprescindível a presença de dois requisitos cumulativos - fumus boni iures e periculum in mora . Nesse sentido, eis a lição de Humberto Theodoro Júnior: Efeitos do agravo de instrumento. Trata-se de recurso que, normalmente, limita-se ao efeito devolutivo: ‘os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso’ (art. 995). No entanto, o efeito suspensivo poderá, em determinados casos, ser concedido pelo relator. Dois são os requisitos da lei, a serem cumpridos cumulativamente, para obtenção desse benefício: (i) a imediata produção de efeitos da decisão recorrida deverá gerar risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação; e (ii) a demonstração da probabilidade de provimento do recurso (arts. 995, parágrafo único e 1.019, I). Na lei anterior havia uma especificação de vários casos de presunção de risco de dano grave, como a prisão civil, a adjudicação e remição de bens e o levantamento de dinheiro sem caução idônea (art. 558 do CPC/1973). O Código novo não repete tal previsão, mas é fácil entender que se trata de casos em que não haverá dificuldade maior em configurar o motivo de suspensão. O regime atual parece confiar ao relator a prudente averiguação de maior ou menor risco no caso concreto, sem limitá-lo ao casuísmo de um rol taxativo. Em outros termos: os requisitos para obtenção do efeito suspensivo no despacho do agravo serão os mesmo que, já à época do Código anterior, a jurisprudência havia estipulado para concessão de segurança contra decisão judicial, na pendência de recurso com efeito apenas devolutivo: o fumus boni iuris e o periculum in mora. Para que o efeito suspensivo seja dado, terá o agravante de formular requerimento ao relator, o qual poderá ser incluído na petição do agravo ou em peça separada. A liminar em questão é ato da exclusiva competência do relator que, de plano, a concederá, ou não, ao despachar a petição do agravante (art. 1.019,caput). O relator poderá, ainda, deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal (art. 1.019, I). Para tanto, deverão estar presentes os mesmos requisitos para concessão do efeito suspensivo, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora. (Curso de direito processual civil, 48. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. III, p. 1.045). Lado outro, sabe-se que o princípio da vinculação ao instrumento convocatório obriga que todos os procedimentos e regras traçados no edital deverão ser rigorosamente observados tanto pelo administrado quanto pela Administração Pública. Nesse contexto, vejamos o teor da cláusula editalícia impugnada pela agravante (p. 108). Edital PROPPG Nº 03/2025. 3.1 Para inscrever-se à bolsa de pós-doutorado, o (s) candidato (s) deverão atender aos seguintes pré-requisitos: 3.1.2 Não possuir vínculo empregatício de qualquer natureza no momento da implementação da bolsa e durante a sua vigência. O mesmo edital, no item 2.3, prevê a possibilidade de o bolsista acumular uma segunda bolsa, desde que tal acúmulo não tenha a mesma finalidade, fazendo remissão ao parágrafo único do artigo 20 da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, que tem idêntica redação . Na mesma esteira, a Portaria CAPES nº 133, de 10 de julho de 2023, que regulamenta o acúmulo de bolsas concedidas pela CAPES com atividade remunerada ou outros rendimentos, autoriza que as bolsas de pós-doutorado concedidas pela CAPES no País sejam acumuladas com atividade remunerada ou outros rendimentos, com exceção do acúmulo de bolsas de mesmo nível financiadas com recursos públicos federais e das vedações expressamente dispostas na legislação vigente (art. 2º). A referida Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023 regulamenta o Estágio Pós-Doutoral e cria o Programa Institucional de Pós-Doutorado (ProPD) na UEMG e, conforme bem destacou o magistrado a quo , estabelece que o pesquisador contemplado com a bolsa de Estágio Pós-Doutoral deverá dedicar quarenta horas semanais às atividades do Estágio (art. 19, §2º). Sendo assim, ao que tudo indica, a vedação prevista no item 3.1.2 do Edital PROPPG Nº 03/2025 visa materializar a exigência do art. 19, §2º, da Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023, assegurando que o bolsista de estágio pós-doutoral se dedique, exclusivamente, ao estágio. E, de fato, o art. 3º da Portaria CAPES nº 133, de 10 de julho de 2023 confere às Instituições de Ensino e Pesquisa ou aos Programas de Pós-Graduação a prerrogativa de regulamentar ou atualizar os critérios para permissão ou vedação do acúmulo de bolsas em seus regimentos internos, vejamos: Art. 3º As Instituições de Ensino e Pesquisa ou os PPG poderão regulamentar ou atualizar os critérios para permissão ou vedação do acúmulo de bolsas em seus regimentos internos , observado o disposto no art. 2º, e serão responsáveis pela aplicação, monitoramento e fiscalização do cumprimento do regulamento. Todavia, embora a Resolução CONUN/UEMG nº 602/2023 tenha estipulado a carga horária do estágio, o aludido instrumento normativo nada dispôs sobre a vedação à acumulação de bolsa com outra atividade remunerada. Sendo assim, aparentemente, a norma editatícia impugnada criou um obstáculo que, nos termos do art. 3º da Portaria CAPES nº 133/2023, só poderia advir do regimento interno da UEMG. Além do mais, sempre é bom lembrar que cláusula de edital regente de certame público jamais pode contemplar exigência passível de vulnerar a isonomia entre os candidatos e outros princípios administrativos, como da razoabilidade e da proporcionalidade. Nesse panorama, em análise perfunctória dos autos e dos documentos que o instruem, a priori, tenho por relevante o fundamento veiculado pela agravante. Para mais, considerando que, ao persistir a exigência questionada, a agravante poderá perder a bolsa conquistada ou ter que se desligar do vínculo mantido com a Universidade FUMEC e, consequentemente, ser privada de sua renda e de seu plano de saúde, é nítido que o aguardo do julgamento do mérito pela Turma Julgadora poderá resultar em ineficácia da medida. Em outras palavras, presentes os requisitos legais, há que se deferir a tutela de urgência recursal de modo a conceder a liminar indeferida no primeiro grau, apenas ressalvando que a teoria do fato consumado não se aplica às hipóteses em que a participação do candidato em certame público ocorreu de modo precário, por força de liminar (REsp. 1.462.569 – RS). Pelo exposto, DEFIRO o pedido de antecipação de tutela recursal, concedo a liminar e determino a suspensão da exigência constante na cláusula 3.1.2 do Edital PROPPG nº 03/2025, permitindo que a agravante implemente sua bolsa de pós-doutorado sem a necessidade de rescisão do vínculo empregatício, até ulterior deliberação da Turma Julgadora. Comunique-se, com urgência , o Juízo a quo para ciência da presente decisão, adotando-se as providências cabíveis para a sua efetivação e o seu cumprimento. Na sequência, intime-se o Estado de Minas Gerais, nos termos e para os fins do art. 1.019, II, do Código de Processo Civil. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se.

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Processo nº 1010207-92.2024.8.11.0042

ID: 262046295

Tribunal: TJMT Órgão: 7ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ Classe: PEDIDO DE PRISãO PREVENTIVA Nº Processo: 1010207-92.2024.8.11.0042

Data de Disponibilização: 29/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

DIEGO RODRIGUES ASSUNCAO FERNANDO SILVA DA CRUZ JOAO PAULO ALCE DA SILVA THAIS CRISTINA ROCHA THALITA CRISTINA ROCHA

Decisão

Advogados:

THIAGO CORTE

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RAILTON FERREIRA DE AMORIM

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ARTUR DE SOUZA MALHEIROS POREM

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RICARDO SALDANHA SPINELLI

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PATRICIA GABRYELLE ALVES

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LEO SPINELLI

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MARCOS ROBERTO DOS SANTOS

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 7ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ DECISÃO PROCESSO N. 1010207-92.2024.8.11.0042 AUTOR: POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO e outros RÉU(S): FERNANDO SILV… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 7ª VARA CRIMINAL DE CUIABÁ DECISÃO PROCESSO N. 1010207-92.2024.8.11.0042 AUTOR: POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO e outros RÉU(S): FERNANDO SILVA DA CRUZ e outros (6) Vistos etc. Cuida-se de pedido de revogação da prisão preventiva de FERNANDO SILVA DA CRUZ, aduzindo, em síntese, que, encerrada a instrução processual, inexistem fundamentos atuais e concretos que justifiquem a manutenção da prisão. Subsidiariamente, requereu substituição da segregação cautelar por prisão domiciliar, diante da alegada imprescindibilidade aos cuidados do filho menor de idade. Ouvido, o Ministério Público pugnou pelo indeferimento do pedido (Id. 190502579). Em síntese, é o relatório. Decido. Pois bem. De início, verifica-se que a prisão preventiva de FERNANDO SILVA DA CRUZ foi, recentemente, reanalisada e mantida, conforme decisão de Id. 186604613. Posteriormente, encerrada a instrução processual, a defesa do aludido réu requereu, novamente, a revogação da prisão preventiva ou a substituição desta por domiciliar. Todavia, apesar da argumentação tecida, as provas produzidas durante a audiência de instrução e julgamento, assim como a confissão do réu não alteram a necessidade de manutenção da segregação cautelar, assim como o depoimento das testemunhas de defesa não são suficientes para comprovar o preenchimento dos requisitos necessários para a concessão da prisão domiciliar. Nesse sentido, percuciente foi o parecer ministerial de Id. 190502579: [...] 1. DA MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA – PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS E FUNDAMENTOS LEGAIS [...] No caso dos autos, todos os requisitos legais para a manutenção da prisão preventiva de FERNANDO SILVA DA CRUZ permanecem plenamente satisfeitos. O fumus comissi delicti está caracterizado pela robusta demonstração da materialidade dos delitos (organização criminosa, furto qualificado mediante fraude eletrônica e lavagem de capitais) e indícios suficientes de autoria, comprovados tanto na fase investigativa quanto na instrução processual em andamento. As provas colhidas revelam a atuação de FERNANDO SILVA DA CRUZ como líder de organização criminosa voltada à prática sistemática de fraudes bancárias contra idosos, com obtenção de vantagem ilícita mediante a abertura de contas digitais fraudulentas, contratação de empréstimos consignados em nome das vítimas sem o conhecimento delas, e subsequente movimentação financeira com o fim de dissimular a origem dos valores. Breve resumo dos fatos criminosos relacionados a materialidade e autoria: A materialidade está evidenciada nos elementos probatórios colhidos durante a fase investigativa da persecução penal, os quais revelaram que FERNANDO SILVA DA CRUZ e os demais denunciados constituíram e integraram uma organização criminosa, de forma estável e permanente, formando uma estrutura ordenada e escalonada, com divisão de tarefas, com a finalidade específica de subtrair coisa alheia móvel mediante fraude eletrônica praticada contra 31 (trinta e uma) vítimas idosas. Essa ação se deu por meio da abertura de contas bancárias fraudulentas em nome das vítimas no Banco Santander e a posterior contratação de empréstimos consignados, que eram descontados dos benefícios previdenciários das vítimas idosas sem que elas tivessem qualquer conhecimento sobre a contratação. Após a abertura da conta digital fraudulenta e a contratação dos empréstimos consignados em nome das vítimas, os acusados recebiam o valor do empréstimo na conta digital do Banco Santander e, em seguida, realizavam diversas transações financeiras para outras contas bancárias, também abertas fraudulentamente na Instituição de Pagamento PagSeguro, bem como para contas pertencentes aos próprios acusados, tudo com a finalidade de ocultar e dissimular a origem e o destino dos valores espúrios, até que chegassem aos seus destinatários finais. Quanto à autoria, foi constatado que FERNANDO SILVA DA CRUZ exercia a liderança da organização criminosa, demonstrando uma posição hierarquicamente superior aos demais acusados. Os elementos de informação colhidos nos autos demonstraram que ele foi responsável por adquirir as antenas e os demais aparelhos eletrônicos que eram entregues nas casas das vítimas para ludibriá-las, além de coordenar a atuação dos demais membros que realizavam a entrega das antenas e promoviam a abertura das contas bancárias fraudulentas e a contratação dos empréstimos consignados. Além disso, apurou-se que FERNANDO SILVA DA CRUZ também realizava as transações financeiras nas contas fraudulentas abertas em nome das vítimas. Além disso, ficou apurado que, dentro da divisão de tarefas estabelecida, FERNANDO SILVA DA CRUZ e o corréu JOÃO PAULO ALCE DA SILVA foram responsáveis por adquirir as antenas e os aparelhos receptores de sinais da empresa OC TECH DISTRIBUIDORA em meados de outubro/novembro de 2023, as quais foram entregues na residência das vítimas para ludibriá-las. Importante mencionar que, durante as investigações, a equipe policial se dirigiu à empresa OC TECH DISTRIBUIDORA, obtendo o registro da imagem de JOÃO PAULO ALCE DA SILVA na referida loja, bem como do veículo utilizado por FERNANDO SILVA DA CRUZ, sendo este um Jeep Commander de cor preta e placa RRI2D81 (Relatório de Investigação n. 2024.13.51433 – ID: 165906032 da ação penal). Ademais, conforme se extrai do Relatório de Investigação n. 2024.13.51433, o gerente da empresa OC TECH informou que FERNANDO SILVA DA CRUZ “adquiriu em média 90 antenas e 30 receptores, o que pode ser comprovado com o relatório de vendas emitido pela OC TECH em nome do suspeito Fernando (segue anexo relatório). E que quase sempre ele estava na companhia de João Paulo Alce da Silva, que se apresentava como colaborador de Fernando, e, por vezes, João Paulo realizava a retirada do material a mando de João Paulo” (ID 165906032 da ação penal). Também está juntada aos autos a Nota Fiscal de Saída de Produtos da empresa OC TECH DISTRIBUIDORA, na qual é possível verificar que FERNANDO SILVA DA CRUZ adquiriu 34 (trinta e quatro) receptores de sinal e 93 (noventa e três) antenas de dois modelos diferentes (ID 165906195 da ação penal). Além disso, ficou apurado que um dos veículos utilizados para a prática das condutas criminosas foi o Fiat Palio Weekend, cor prata e placa NDB-2118, identificando-se ainda a existência de vínculo do referido automóvel com o acusado FERNANDO SILVA DA CRUZ, uma vez que o carro é utilizado por Karina Regina Braga de Moraes (prima do acusado), que trabalha na empresa Líder Copos (CNPJ 31.343.384/0001-79), de propriedade de FERNANDO SILVA DA CRUZ (Relatórios de Investigação n. 2024.13.39400 e n. 2024.13.51433 da ação penal). Consta ainda dos autos o Relatório de Investigação n. 2024.13.61702, no qual foram identificadas conversas realizadas entre os acusados que demonstram que FERNANDO SILVA DA CRUZ é o principal articulador da organização criminosa, indicando que possui uma posição hierarquicamente superior aos demais membros, emitindo ordens e controlando a ação dos outros agentes. Ademais, apurou-se que FERNANDO SILVA DA CRUZ também realizava as transações financeiras nas contas abertas fraudulentamente em nome das vítimas. Nesse sentido, é importante destacar que, durante o cumprimento da busca e apreensão na empresa Líder Copos, de propriedade de FERNANDO SILVA DA CRUZ, foram constatadas diversas redes wi-fi disponíveis, dentre elas as redes “Lider-Fundos-2-4G” e “Aqui mesmo”. Ocorre que, no afastamento do sigilo telemático das contas abertas no Banco Santander em nome das vítimas, foi possível constatar o uso de redes wi-fi denominadas “Lider-Fundos-2-4G” e “Aqui mesmo” para movimentar as contas de diversas vítimas, cuja latitude e longitude apontam para o endereço da empresa Líder Copos, de propriedade de FERNANDO SILVA DA CRUZ, não deixando qualquer dúvida a respeito do seu envolvimento nos fatos criminosos (ID 165939136 - Pág. 27 e ID 165934658 - Pág. 1 da ação penal). Portanto, em um breve e sucinto resumo, constata-se que a materialidade e autoria dos fatos criminosos foram robustamente demonstradas, a partir dos elementos de informação colhidos nos autos, que apontam que FERNANDO SILVA DA CRUZ exerce verdadeiro controle sobre os membros que atuavam entregando as antenas, controlando a quantidade fornecida e a quantidade de empréstimos fraudulentos realizados. Importante registrar que, da análise dos contratos de empréstimos consignados fraudulentos realizados perante o Banco Santander, em nome das 31 (trinta e uma) vítimas identificadas até o presente momento somente no Município de Cuiabá/MT, constataram-se 44 (quarenta e quatro) contratações, cujos valores liberados nas contas digitais criadas fraudulentamente em nome das vítimas no Banco Santander totalizam a quantia de R$ 755.870,66 (setecentos e cinquenta e cinco mil oitocentos e setenta reais e sessenta e seis centavos), conforme tabela confeccionada no curso das investigações (inserida no ID 165938617 – Pág. 1 da ação penal). Deve-se destacar ainda que, caso os crimes não fossem descobertos, as vítimas idosas suportariam os descontos mensais em seus benefícios previdenciários ao longo de sete anos (84 parcelas), de valores que variavam entre R$ 396,00 (trezentos e noventa e seis reais) a R$ 849,67 (oitocentos e quarenta e nove reais e sessenta e sete centavos), os quais seriam descontados de seus benefícios previdenciários mensais que não excedem dois salários mínimos, causando inúmeros transtornos e dificuldades econômicas aos idosos aposentados e pensionistas do INSS residentes neste Município, gerando um prejuízo total de R$ 1.537.210,92 (um milhão quinhentos e trinta e sete mil duzentos e dez reais e noventa e dois centavos). Esses elementos, extraídos da denúncia, de relatórios de investigação, notas fiscais e conversas entre os envolvidos, reforçam a extrema gravidade da conduta praticada e a necessidade da medida extrema. No que tange ao periculum libertatis, a garantia da ordem pública permanece como o principal fundamento da medida extrema, diante da gravidade concreta dos crimes praticados, da complexidade da organização criminosa, da sofisticação do modus operandi, da extensão do dano causado às vítimas, bem como da elevada probabilidade de reiteração delitiva. Nesse ponto, cumpre destacar que a defesa busca desqualificar o periculum libertatis, sustentando a inexistência de risco à ordem pública, quando, na realidade, os autos demonstram de forma inequívoca que FERNANDO SILVA DA CRUZ possui plena capacidade de reorganizar o grupo criminoso e retomar as ações ilícitas caso seja posto em liberdade. A gravidade concreta dos fatos, somada à posição de liderança ocupada por FERNANDO na organização, justifica plenamente a manutenção da prisão preventiva, sobretudo sob o fundamento da garantia da ordem pública, diante do risco de reiteração criminosa. Nesse contexto, destaca-se o seguinte trecho da decisão judicial proferida pelo Juízo do NIPO, ao decretar a prisão preventiva: “[…] os fatos evidenciam elementos e circunstâncias que denotam gravidade extremada superior ao tipo, cujo abalo à ordem pública torna necessária a aplicação da medida cautelar pessoal extrema, como único meio de neutralizar o periculum libertatis e frear a continuidade da ação delitiva dos representados […]” A decisão também ressaltou: “[…] o forte abalo à ordem pública ressai do engodo e métodos ignóbeis utilizados, em que foram ludibriadas vítimas consideradas vulneráveis, ao passo que, na velhice, a capacidade cognitiva tende a diminuir, tornando-se alvos mais suscetíveis às fraudes econômico- financeiras, para, então, obter delas vantagens econômicas que, por certo, lhes fará falta no sustento […]” Segundo a doutrina de Douglas Fischer e Eugênio Pacelli, a decretação da prisão preventiva com base na garantia da ordem pública justifica-se pela gravidade concreta do delito, os meios de execução e extensão dos danos, conforme segue: De nossa parte, entendemos perfeitamente aceitável a decretação de prisão preventiva para a garantia da ordem pública, desde que fundamentada na gravidade (concreta) do delito, na natureza e nos meios de execução do crime, bem como na amplitude dos resultados danosos produzidos pela ação. Negar o risco de reiteração criminosa, ou, e mais, negar a possibilidade de certos prognósticos quanto a essas conclusões, é o mesmo que retroceder, sempre e permanentemente, a uma ideia originária e fundamentadora da dignidade humana, sem os condicionamentos da civilização moderna. Portanto, ainda que se cogite a eventual ausência de risco à conveniência da instrução criminal, permanece incólume o risco à ordem pública e à paz social, sobretudo diante da possibilidade de reiteração delitiva, da gravidade concreta dos crimes praticados e da extensão do dano causado às vítimas. Relatório de investigação, contendo análise de dados extraídos dos celulares apreendidos em posse da corré JESSICA BATISTA TAMBORIM, aponta ainda que FERNANDO SILVA DA CRUZ e os demais denunciados atuavam em outras localidades, como o município de Barra do Garças/MT, praticando fraudes da mesma natureza, o que reforça o caráter profissionalizado, estruturado e continuado das condutas delitivas. Além dos evidentes prejuízos financeiros, a atuação dos acusados compromete diretamente o bem-estar psicológico e emocional das vítimas, que são pessoas idosas, hipervulneráveis, com poucos recursos, e que se veem diante de perdas que impactam profundamente sua dignidade, segurança e subsistência. Nesse sentido, imperioso ressaltar que o Supremo Tribunal Federal já assentou o entendimento de que a gravidade concreta do crime aliada ao risco de reiteração criminosa autorizam a decretação/manutenção da prisão preventiva, conforme se observa do seguinte julgado que, mutatis mutandis, se aplica ao caso em voga. Vejamos: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTE. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA COM BASE EM FUNDAMENTOS IDÔNEOS. PERICULOSIDADE DO RECORRENTE EVIDENCIADA PELO MODUS OPERANDI, GRAVIDADE CONCRETA DO CRIME E POSSIBILIDADE DE REITERAÇÃO DELITIVA. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. Este Supremo Tribunal assentou que a periculosidade do agente, evidenciada pelo modus operandi, a gravidade concreta do crime e o risco de reiteração delitiva são motivos idôneos para a manutenção da custódia cautelar. Precedentes. 2. Recurso ao qual se nega provimento. (RHC 132270, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 15/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-063 DIVULG 06-04-2016 PUBLIC 07-04- 2016) No mesmo sentido, em caso no qual também se apurava a prática do crime de estelionato contra idosos, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a necessidade da segregação cautelar a fim de garantir a ordem pública e fazer cessar a prática delitiva. Vejamos: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS PREENCHIDOS. PRISÃO CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. NEGATIVA DO DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. 1. Reveste-se de legalidade a prisão cautelar quando baseada em elementos concretos, nos termos do art. 312 do CPP, tal como ocorre na espécie, em que "o réu Matheus, mesmo após ter sido chamado à Promotoria de Justiça da comarca para prestar esclarecimento, manteve a atividade criminosa de forma plena, causando prejuízo a vários idosos, fazendo-se necessária a decretação da prisão cautelar como garantia da instrução criminal, manutenção da ordem pública e paz social, e evitando-se que o denunciado volte a delinquir". 2. A periculosidade do acusado, demonstrada na reiteração delitiva, constitui motivação idônea para o decreto da custódia cautelar, como garantia da ordem pública. Precedentes. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC n. 833.860/RJ, relator Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Sexta Turma, julgado em 27/11/2023, DJe de 30/11/2023.) Cabe destacar o entendimento já adotado pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso em situação análoga, consolidado no seguinte julgado: HABEAS CORPUS – ESTELIONATO QUALIFICADO, ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, USO DE DOCUMENTO FALSO E “LAVAGEM” DE DINHEIRO – OPERAÇÃO “FALSA PORTABILIDADE” – PRISÃO PREVENTIVA – INEXISTÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR – IMPROCEDÊNCIA – CUSTÓDIA DEVIDAMENTE JUSTIFICADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA – AUSÊNCIA DE CONTEMPORANEIDADE ENTRE OS FATOS E A CONSTRIÇÃO PREVENTIVA – INOCORRÊNCIA – CRIMES PERMANENTES – DILIGÊNCIAS PARA ELUCIDAR OS FATOS SIGNIFICATIVAMENTE COMPLEXAS – PREDICADOS PESSOAIS FAVORÁVEIS – IRRELEVÂNCIA – CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO – DESCABIMENTO – HIGIDEZ DO DECRETO PREVENTIVO – INSUFICIÊNCIA OU INADEQUAÇÃO PARA ACAUTELAR A ORDEM PÚBLICA – COAÇÃO ILEGAL NÃO DEMONSTRADA – ORDEM DENEGADA. Não há falar em ausência dos pressupostos da decretação da prisão preventiva quando a medida se ampara em prova da materialidade delitiva, indícios suficientes da autoria e demonstração da imprescindibilidade da ultima ratio como garantia da ordem pública, consubstanciada em indicativos de envolvimento do paciente em associação criminosa especializada em golpes de “falsa portabilidade” contra servidores públicos, sendo apontado como um dos integrantes ativos, com ascendência sobre os demais investigados, bem como na gravidade concreta da conduta – que resultou em prejuízo de elevada monta a inúmeras vítimas. (…) Eventuais condições pessoais favoráveis do suspeito ou acusado não se prestam a infirmar a necessidade da custódia cautelar quando evidenciado o periculum libertatis, consoante o enunciado sumular n. 43 da Turma de Câmaras Criminais Reunidas deste Tribunal de Justiça. Uma vez demonstrada a necessidade de resguardar a ordem pública, torna-se incabível a substituição da prisão por medidas cautelares alternativas, previstas no art. 319 do Código Processual Penal. (N.U 1028821- 14.2023.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, PEDRO SAKAMOTO, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 12/12/2023, Publicado no DJE 19/12/2023) Portanto, embora os crimes praticados não envolvam violência física ou grave ameaça, revelam especial gravidade em razão do modus operandi sofisticado, da clara divisão de tarefas entre os membros da organização criminosa e do número expressivo de vítimas, em sua maioria pessoas idosas e hipervulneráveis. Assim, a manutenção da prisão preventiva é medida que se impõe, não apenas por sua legalidade formal e adequação constitucional, mas, sobretudo, pela necessidade real e atual de neutralizar a ação dessa organização criminosa lesiva à coletividade, cuja liderança e comando são comprovadamente atribuídos ao acusado FERNANDO SILVA DA CRUZ, diante da gravidade concreta dos crimes praticados e da elevada probabilidade de reiteração delitiva, caso venha a ser colocado em liberdade. Ressalte-se, ainda, que a alegação defensiva de inexistência de reconhecimento do acusado por parte das vítimas ou testemunhas não tem o condão de afastar os indícios robustos de autoria já delineados. Isso porque, no contexto de crimes praticados por organizações criminosas complexas e hierarquizadas, é comum que os líderes do grupo se mantenham deliberadamente à margem da execução direta dos atos fraudulentos, delegando sua operacionalização a integrantes subordinados, justamente para dificultar sua identificação e responsabilização penal. No presente caso, a autoria não foi inferida com base em eventuais reconhecimentos pessoais, mas sim a partir de um conjunto probatório sólido e convergente, formado por relatórios investigativos, registros telefônicos, movimentações bancárias e evidências materiais que demonstram, de forma clara e objetiva, a atuação de FERNANDO SILVA DA CRUZ como mentor e coordenador do esquema criminoso. Portanto, a ausência de reconhecimento direto por vítimas ou testemunhas não compromete a configuração da autoria, tampouco fragiliza os fundamentos que justificam a manutenção da prisão preventiva. [...] Além disso, e mais relevante, é o fato de que a eventual superação da fase instrutória não implica, por si só, a revogação da prisão preventiva, quando os fundamentos que ensejaram a medida extrema permanecem atuais e concretamente demonstrados, como ocorre no presente caso. Como exaustivamente exposto no tópico anterior, a prisão preventiva de FERNANDO SILVA DA CRUZ está fundamentada na garantia da ordem pública, diante da gravidade concreta da conduta delitiva, da complexidade da organização criminosa estruturada sob sua liderança, da sofisticação do modus operandi, da extensão do prejuízo causado às vítimas — majoritariamente idosas —, e da probabilidade real e elevada de reiteração criminosa. Tais elementos, robustamente comprovados nos autos por meio de provas documentais, telemáticas e investigativas, revelam a periculosidade do agente, que se valeu de estrutura empresarial, logística e digital para perpetrar os crimes, causando danos superiores a R$ 1,5 milhão a 31 vítimas idosas, com atuação inclusive em outros municípios, como apontado nos relatórios de investigação. Assim, a instrução criminal em si jamais foi o único ou principal fundamento da prisão, motivo pelo qual sua conclusão (ainda não ocorrida) não tem o condão de afastar os requisitos legais da segregação cautelar. A garantia da ordem pública permanece plenamente vigente e atual, sendo medida proporcional e necessária para conter a reiteração de condutas gravíssimas. Esse entendimento é amplamente consolidado na jurisprudência pátria: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR É POSSÍVEL MESMO APÓS O ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL, DE MODO QUE NÃO CONFIGURA CONSTRANGIMENTO ILEGAL A JUSTIFICAR A REVOGAÇÃO DA MEDIDA EXTREMA. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. IMPOSSIBILIDADE. CONDIÇÕES PESSOAIS. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA. [… ] 2. Ademais, a custódia cautelar fundamentada na garantia da ordem pública se justifica quando as circunstâncias concretas demonstram, pelo modus operandi, a periculosidade do agente ou o risco de reiteração delitiva, presentes no caso em apreço. 3. O término da instrução criminal não possui características de fatalidade e de improrrogabilidade da segregação cautelar, sendo certo que mesmo após o encerramento da instrução criminal pode ser mantida a medida extrema para garantir a ordem pública, se presentes os requisitos legais, como na espécie. 4. Fundamentada a necessidade de manutenção da prisão preventiva, resta inviabilizada sua substituição por medidas cautelares diversas, na forma do art. 282, § 6º, c/c art . 321, ambos do CPP, pois diante da gravidade da conduta delituosa e da periculosidade do coacto, seriam insuficientes para acautelar a ordem pública. 5. As qualidades pessoais do paciente são irrelevantes quando estão presentes os requisitos da prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP e devidamente fundamentada a decisão que decretou a medida cautelar, consoante dispõe a Súmula nº 08 deste E . TJPA. ORDEM CONHECIDA E DENEGADA. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos, acordam os Excelentíssimos Senhores Desembargadores integrantes da SEÇÃO DE DIREITO PENAL do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, em sessão plenária virtual de 14 a 16 de março de 2023, sob a Presidência da Senhora Desembargadora Eva do Amaral Coelho, por unanimidade de votos, em CONHECER e DENEGAR a ordem, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Belém (PA), 14 de março de 2023. Desembargadora KÉDIMA PACIFICO LYRA Relatora (TJ-PA - HABEAS CORPUS CRIMINAL: 0819902-70.2022.8.14 .0000, Relator.: KEDIMA LYRA, Data de Julgamento: 14/03/2023, Seção de Direito Penal) HABEAS CORPUS – OPERAÇÃO ‘CARTAS MARCADAS’ – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (ART. 2.º, ‘CAPUT’ E § 4.º, II, DA LEI N.º 12.850/2013), ‘LAVAGEM’ OU OCULTAÇÃO DE BENS, DIREITOS E VALORES (ART. 1.º, ‘CAPUT’ E § 4.º, DA LEI N.º 9.613/1998), EM CONCURSO MATERIAL, E FALSIDADE IDEOLÓGICA (CP, ART. 299) – PRISÃO PREVENTIVA – LEGALIDADE. 1. Não se conhece da matéria referente à ausência de fundamentação idônea da custódia cautelar (garantia da ordem pública, da ordem econômica, condições pessoais favoráveis, negativa de autoria, decisão genérica e fixação de medidas cautelares diversas da prisão), por se tratar de reiteração de habeas corpus julgado anteriormente, cujo acórdão é objeto de recurso ordinário manejado perante o e. STJ. 2. A instrução criminal não se encerrou, pois o interrogatório do paciente ainda não foi realizado. Ad argumentandum, ainda que concluída a instrução, isso não ensejaria a revogação automática da custódia cautelar, mormente quando ainda persistem dois dos requisitos para a medida extrema (garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal), sendo irrelevante que os crimes investigados não tenham sido praticados com violência contra a pessoa. (…). 6. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada.” (TJRR – HC 0000170000210, Rel. Des. RICARDO OLIVEIRA, Câmara Criminal, julg.: 31/01/2017, public.: 07/02/2017). HABEAS CORPUS – HOMICÍDIO QUALIFICADO, NA FORMA TENTADA – PRISÃO PREVENTIVA – (1) ALEGAÇÕES DE FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO CONSTRITIVO E DE AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A SUA MANUTENÇÃO – IMPROCEDÊNCIA – DECISÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA – NECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA – CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS – IRRELEVÂNCIA – APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS – INSUFICIÊNCIA – (2) REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA EM VIRTUDE DO ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL – IMPOSSIBILIDADE – TÉRMINO DA INSTRUÇÃO QUE, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA A REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA – SEGREGAÇÃO CAUTELAR MANTIDA COMO GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, TENDO EM VISTA A GRAVIDADE CONCRETA DO CRIME (MODUS OPERANDI), A PERICULOSIDADE SOCIAL DO AGENTE E O RISCO DE REITERAÇÃO DELITIVA, CIRCUNSTÂNCIAS QUE NÃO FORAM ALTERADAS PELO SIMPLES TRANSCURSO DO TEMPO – (3) REVOGAÇÃO DA CUSTÓDIA PROVISÓRIA COM BASE NA EXPECTATIVA DE PENA FUTURA – INVIABILIDADE – IMPOSSIBILIDADE DE ANTEVER, NESTE MOMENTO, QUAIS SERIAM OS LIMITES DE EVENTUAL SENTENÇA CONDENATÓRIA – (4) ORDEM DENEGADA. (TJ-RR – HC: 9002467-74.2023.8.23.0000, Relator.: RICARDO OLIVEIRA, Data de Julgamento: 20/02/2024, Câmara Criminal, Data de Publicação: 14/03/2024) Diante de todo o exposto, resta absolutamente claro que o encerramento da instrução criminal — que sequer se concretizou nos autos — não tem o condão de afastar a necessidade da prisão preventiva, notadamente quando esta se fundamenta, como no caso em tela, na garantia da ordem pública, diante da gravidade concreta da conduta, do dano expressivo causado às vítimas vulneráveis (idosos), da periculosidade social do acusado e da probabilidade real de reiteração delitiva. A segregação cautelar de FERNANDO SILVA DA CRUZ, portanto, permanece amparada por fundamentos sólidos, atuais e devidamente motivados, sendo plenamente legítima à luz do art. 312 do Código de Processo Penal e da jurisprudência consolidada dos Tribunais. 3. DA IRRELEVÂNCIA DA CONFISSÃO E DA SUPOSTA COLABORAÇÃO PARA FINS DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA A defesa também sustenta que a prisão preventiva de FERNANDO SILVA DA CRUZ deve ser revogada em razão de sua postura “colaborativa” nos autos e da suposta confissão integral dos fatos durante a instrução criminal. Contudo, tal argumento não possui respaldo legal, tampouco afasta os requisitos já demonstradamente presentes para a manutenção da prisão preventiva. Inicialmente, é preciso esclarecer que a confissão do réu — embora juridicamente relevante como meio de prova e circunstância atenuante da pena — não constitui, por si só, fundamento para revogação da prisão preventiva, especialmente quando permanecem presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal. No presente caso, a prisão cautelar de FERNANDO SILVA DA CRUZ não foi decretada por risco à colheita da prova (conveniência da instrução criminal), mas sim pela garantia da ordem pública, sustentada na gravidade concreta dos fatos, na reiteração delitiva, na posição de liderança do acusado na organização criminosa e na alta lesividade da conduta praticada. Portanto, ainda que se reconheça a confissão como elemento relevante no campo probatório — e eventualmente como circunstância atenuante na dosimetria da pena —, ela não possui qualquer eficácia no sentido de neutralizar o periculum libertatis que justifica a segregação cautelar. A prisão preventiva se mantém legítima e necessária, porque seus fundamentos estão ancorados em elementos objetivos e persistentes, amplamente demonstrados nos autos. Importa destacar que não se trata de colaboração premiada formalizada e homologada judicialmente, nos termos da Lei n. 12.850/2013, mas de confissão unilateral, prestada já em fase avançada da instrução, sem que tenha resultado em qualquer desarticulação da organização criminosa ou recuperação dos valores ilicitamente apropriados. A tentativa de transformar esse gesto processual isolado em fundamento revogatório da prisão revela-se, pois, absolutamente descabida. A própria lógica da prisão preventiva — que se justifica pela necessidade de proteção da coletividade, diante da gravidade concreta das condutas criminosas — impede que eventual comportamento colaborativo genérico e inócuo se sobreponha à necessidade cautelar imposta pela realidade dos autos. Neste ponto, em situação semelhante, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é clara ao consignar que: “A confissão realizada por corréu não afasta a presença dos indícios de autoria existentes em relação ao recorrente, os quais são hábeis a permitir a manutenção da segregação provisória.” (STJ – RHC 72.113/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 21/02/2017, DJe 24/02/2017) Assim, mesmo após eventual confissão, persistem todos os requisitos legais que autorizam a manutenção da custódia cautelar de FERNANDO SILVA DA CRUZ, especialmente diante de sua posição de liderança no grupo criminoso e da gravidade concreta dos crimes apurados, que vitimaram dezenas de idosos hipervulneráveis, com prejuízos superiores a R$ 1,5 milhão. Logo, não há qualquer fundamento jurídico válido que autorize a revogação da prisão preventiva com base na confissão ou na alegada colaboração espontânea, sendo imprescindível a manutenção da medida extrema como única forma eficaz de resguardar a ordem pública e interromper a atuação delitiva reiterada do acusado. 4. DA IRRELEVÂNCIA DAS CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS A defesa também busca fundamentar o pedido de revogação da prisão preventiva nas condições pessoais supostamente favoráveis do acusado FERNANDO SILVA DA CRUZ, destacando que este seria primário, possuiria bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita. Todavia, essa argumentação se revela juridicamente ineficaz diante da presença dos requisitos legais para a manutenção da custódia cautelar, tal como previsto no art. 312 do CPP. É sabido que as condições pessoais favoráveis, embora relevantes no momento da fixação da pena, não são aptas, por si sós, a afastar a prisão preventiva quando estão presentes indícios robustos de autoria e materialidade, somados ao periculum libertatis. No caso em apreço, a gravidade concreta dos crimes imputados a FERNANDO SILVA DA CRUZ – organização criminosa, furto qualificado mediante fraude eletrônica e lavagem de capitais – aliada à sua posição de liderança no grupo criminoso, evidenciam de forma cristalina a sua periculosidade e a necessidade da custódia para garantia da ordem pública. Esse entendimento é reiteradamente afirmado pelos Tribunais Superiores. Destaca-se: […] Ademais, saliento que a existência de condições pessoais favoráveis, tais como primariedade, bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa, não tem o condão de, por si só, desconstituir a custódia antecipada, caso estejam presentes outros requisitos de ordem objetiva e subjetiva que autorizem a decretação da medida extrema, como ocorre na hipótese em tela. […] (HC 459.347/GO, Relator Min. HUMBERTO MARTINS, SEXTA TURMA, DJe 03/08/2018) […] 4. As condições subjetivas favoráveis do paciente, tais como primariedade, bons antecedentes e residência fixa, por si sós, não obstam a segregação cautelar, quando presentes os requisitos legais para a decretação da prisão preventiva. [...] 8. Habeas corpus não conhecido. (HC 590.232/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/09/2020, DJe 28/09/2020) Além disso, o próprio Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, ao analisar casos análogos, consolidou o entendimento de que as condições pessoais favoráveis do réu não são suficientes para afastar a prisão preventiva quando há elementos concretos que evidenciem risco à ordem pública, conforme estabelece o Enunciado n. 43 do TJMT: HABEAS CORPUS – “OPERAÇÃO ANTENADOS” – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, FURTO QUALIFICADO PELA FRAUDE ELETRÔNICA, LAVAGEM DE CAPITAIS E FALSIDADE IDEOLÓGICA – PRISÃO PREVENTIVA – CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO E AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA CUSTÓDIA PROVISÓRIA – INOCORRÊNCIA – ELEMENTOS PROBATÓRIOS SUFICIENTES PARA DEMONSTRAR A NECESSIDADE DA MEDIDA EXCEPCIONAL – PRISÃO INDISPENSÁVEL À GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA – GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA – CONTEMPORANEIDADE DOS FATOS – NECESSIDADE DE ESTANCAR AS ATIVIDADES DO GRUPO CRIMINOSO – OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE – INOCORRÊNCIA – MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS – INSUFICIÊNCIA – PREDICADOS PESSOAIS FAVORÁVEIS – IRRELEVÂNCIA – CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO – ORDEM DENEGADA. Não há falar em ilegalidade na custódia provisória que se funda em dados concretos que indicam a necessidade da medida, especialmente o modus operandi empregado pelo grupo, que desenvolveu golpe minuciosamente orquestrado para atingir vítimas idosas e vulneráveis, conduta que demonstra a necessidade da prisão para resguardar a ordem pública, a conveniência da instrução criminal e a aplicação da lei penal. É válida a segregação cautelar com base na necessidade de desarticular organização criminosa, sem que tal medida ofenda a contemporaneidade, pois se mostra imprescindível para estacar as atividades ilícitas, em consonância com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. A custódia cautelar não importa em violação ao princípio da homogeneidade, notadamente nos casos que envolvem a atuação de organização criminosa e uma série de crimes dolosos, pois apresenta natureza distinta da prisão final, existindo para salvaguardar as garantias sociais e processuais elencadas no art . 312 do CPP. As condições pessoais favoráveis não justificam a revogação, tampouco impedem a decretação da custódia cautelar, quando presente o periculum libertatis (Enunciado n. 43, TJMT). Uma vez demonstrada a necessidade de resguardar a ordem pública, torna-se incabível a substituição da prisão pelas medidas cautelares alternativas previstas no art . 319 do CPP. (TJ-MT - HABEAS CORPUS CRIMINAL: 10236478720248110000, Relator.: PEDRO SAKAMOTO, Data de Julgamento: 16/10/2024, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: 18/10/2024) Dessa forma, resta evidente que a primariedade, os bons antecedentes e demais predicados pessoais alegados pela defesa não afastam a necessidade da prisão preventiva, a qual encontra fundamento não no histórico individual do réu, mas na necessidade de proteção da ordem pública, prevenção de novos delitos e efetividade da persecução penal. Por consequência, deve ser integralmente rejeitada a pretensão de revogação da medida com base em tais argumentos. 5. DA INVIABILIDADE DA PRISÃO DOMICILIAR OU SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS A defesa postula, de forma subsidiária, a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, com fundamento no art. 318, III, do Código de Processo Penal, alegando que o acusado seria imprescindível aos cuidados de seu filho adolescente, portador de deficiência neurológica. Alternativamente, requer a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, nos moldes do art. 319 do CPP. Tais pretensões, no entanto, não encontram respaldo nos elementos dos autos nem na legislação aplicável, motivo pelo qual devem ser integralmente rejeitadas. De início, é necessário registrar que este d. Juízo da 7ª Vara Criminal já analisou e indeferiu pedido idêntico de prisão domiciliar na data de 11/03/2025, conforme se depreende da decisão judicial de ID 186604613. O indeferimento foi fundamentado na ausência de prova idônea da imprescindibilidade do acusado junto ao filho, além da gravidade concreta dos fatos. Com efeito, nos termos do art. 318 do CPP, a substituição da prisão preventiva por domiciliar possui natureza excepcional e não automática, exigindo não apenas a presença das hipóteses legais, mas também prova inequívoca da indispensabilidade do acusado no cuidado de pessoa sob sua responsabilidade, como prevê o parágrafo único do referido artigo. No caso em tela, a defesa não demonstrou de forma idônea que o filho do réu encontra-se em estado de vulnerabilidade absoluta, tampouco que depende exclusivamente dos cuidados do acusado. Pelo contrário, conforme consta no relatório final de investigação da ação penal 1015064-84.2024.8.11.0042 (ID 165939136 – pág. 28), restou apurado que o adolescente sequer residia no mesmo endereço do réu. De acordo com os dados obtidos no afastamento do sigilo telemático, o menor reside na Rua Patovi, no Bairro CPA IV — endereço vinculado aos pais do acusado —, enquanto FERNANDO SILVA DA CRUZ declarou como residência o imóvel localizado na Rua Argos, Condomínio Athenas, conforme consta no termo da audiência de custódia (ID 164885305 – pág. 01). Tal circunstância desautoriza a alegação de coabitação e afasta a tese de imprescindibilidade paterna imediata. Ademais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica ao reconhecer que o fato de o acusado possuir filhos menores ou com deficiência não impõe automaticamente a concessão da prisão domiciliar, exigindo-se prova cabal da ausência de rede de apoio. Vejamos: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO. MATÉRIA NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO DOMICILIAR. PAI. FILHOS MENORES. ÚNICO RESPONSÁVEL PELO MENOR. CIRCUNSTÂNCIA NÃO DEMONSTRADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. RECURSO DESPROVIDO. 1. O exame pelo Superior Tribunal de Justiça de matéria que não foi apreciada pelas instâncias ordinárias enseja indevida supressão de instância, com explícita violação da competência originária para o julgamento de habeas corpus (art. 105, I, c, da Constituição Federal). 2. A substituição da custódia preventiva com base no art. 318, VI, do CPP não é automática, dependendo de preenchimento dos requisitos legais e de inequívoca comprovação de ser o acusado o único responsável por menor de 12 anos. 3. Indefere-se o pleito de prisão domiciliar ao pai de menor de 12 anos quando não há prova de que o filho depende exclusivamente de seus cuidados. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RHC n. 157.573/RS, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma, julgado em 22/2/2022, DJe de 24/2/2022.) Ainda que se cogitasse a presença de requisito legal, a gravidade concreta dos crimes imputados inviabiliza qualquer substituição da prisão por medida menos gravosa. FERNANDO SILVA DA CRUZ é acusado de liderar organização criminosa especializada em fraudes contra idosos, com obtenção de vantagem ilícita milionária por meio da abertura de contas digitais fraudulentas, contratação de empréstimos indevidos e posterior lavagem de dinheiro. A atuação da organização criminosa foi estruturada, reiterada e sofisticada, com divisão de tarefas, uso de empresa de fachada, redes wi-fi vinculadas ao acusado, e movimentações bancárias que atingiram mais de R$ 1,5 milhão em prejuízo às vítimas — majoritariamente idosas e vulneráveis. A jurisprudência também é firme no sentido de que, mesmo nos casos em que o acusado preenche os requisitos formais do artigo 318 do CPP, a gravidade concreta dos fatos e o periculum libertatis justificam a manutenção da prisão preventiva: HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. REVOGAÇÃO DA ORDEM DE PRISÃO PREVENTIVA. IMPOSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. PRESENÇA DOS REQUISITOS FÁTICOS (ARTIGO 312 DO CPP) E INSTRUMENTAIS (ARTIGO 313, I, DO CPP) DA MEDIDA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DOS FATOS APURADOS. RISCO À APLICAÇÃO DA LEI PENAL. APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. DESCABIMENTO. CONDIÇÕES PESSOAIS. IRRELEVÂNCIA. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA POR PRISÃO DOMICILIAR. NÃO CABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA IMPRESCINDIBILIDADE DA PRESENÇA DA PACIENTE NOS CUIDADOS DA FILHA MENOR. 1. Tendo sido a paciente denunciada pela suposta prática dos delitos de estelionato e associação criminosa, presentes a prova da materialidade delitiva e os indícios suficientes de autoria, inexiste constrangimento ilegal na decisão que, fundamentadamente, decretou a sua segregação cautelar, visando a garantir a ordem pública e assegurar a aplicação de Lei penal. (…) 8. A configuração de qualquer das hipóteses arroladas pelo artigo 318 do CPP não impõe, inexoravelmente, a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, sendo perfeitamente possível que, não obstante se encaixe o caso em alguma das previsões, admita-se a subsistência da medida cautelar extrema que atenda aos requisitos do artigo 312 do mesmo diploma. 9. Tendo em vista a gravidade concreta dos fatos apurados, bem como a inexistência de provas da imprescindibilidade da presença da paciente nos cuidados da filha menor, é inviável a concessão da prisão domiciliar. (TJ-MG – HC: 18124805420228130000, Relator: Des.(a) Marcílio Eustáquio Santos, Data de Julgamento: 24/08/2022, 7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 24/08/2022) Outrossim, eventual concessão de prisão domiciliar ou aplicação de medidas cautelares alternativas, como monitoração eletrônica, seriam completamente ineficazes para conter a reiteração delitiva e garantir a ordem pública, diante do grau de sofisticação da organização criminosa. Por fim, registre-se que é manifestamente incabível na hipótese em tela a substituição por medidas cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP), porquanto a providência seria insuficiente para acautelar a ordem pública e evitar o comprometimento da instrução criminal, tendo em vista o grave risco de reiteração delitiva. Aliás, com relação ao tema, esse é o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. SÚMULA N. 691 DO STF. SUPERVENIÊNCIA DO JULGAMENTO DO MÉRITO NO TRIBUNAL DE ORIGEM. ESTELIONATO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. REITERAÇÃO DELITIVA. CONTEMPORANEIDADE. EXISTÊNCIA. (…) 4. Havendo a indicação de fundamento concreto para justificar a custódia cautelar, não se revela cabível a aplicação de medidas cautelares alternativas à prisão, visto que insuficientes para resguardar a ordem pública. 5. Verifica-se a contemporaneidade da medida "por se tratar de investigação complexa, envolvendo diversas vítimas, após o que requerida a decretação da prisão preventiva do paciente, encontrando-se o processo, atualmente, com 6771 páginas". 6. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC n. 803.666/SP, relator Ministro Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT), Sexta Turma, julgado em 15/5/2023, DJe de 18/5/2023.) “Mostra-se indevida a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, quando a segregação encontra-se fundada na gravidade efetiva do delito, indicando que as providências menos gravosas seriam insuficientes para acautelar a ordem pública e evitar a prática de novos crimes. 6. Recurso ordinário desprovido.” (STJ – Processo RHC 82792 / SC – RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2017/0075036-5 – Relator(a) Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO (1182) - Órgão Julgador T6 – SEXTA TURMA – Data do Julgamento 14/11/2017 – Data da Publicação/Fonte DJe 21/11/2017) Ante o exposto, considerando a persistência dos requisitos autorizadores da segregação cautelar, bem como a ausência de elementos que justifiquem sua substituição por domiciliar ou por medidas cautelares diversas, indefiro o pedido de revogação da prisão preventiva formulado pela defesa de FERNANDO SILVA DA CRUZ. Por fim, diante da revogação da prisão preventiva de THALITA CRISTINA ao final da audiência de instrução e julgamento, deixo de analisar o pedido de Id. 190553578. Intime-se as partes. Ciência ao Ministério Público. Às providências. Cuiabá, datado e assinado eletronicamente. Jean Garcia de Freitas Bezerra Juiz de Direito

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