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Jose Carlos Uldrisch x Banco Bradesco S.A. e outros

ID: 312165617

Tribunal: TJMT Órgão: NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1010320-38.2025.8.11.0001

Data de Disponibilização: 01/07/2025

Polo Ativo:

JOSE CARLOS ULDRISCH

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S.A. ODONTOPREV S.A.

Intimação

Advogados:

LUIS FERNANDO ALVES DE BRITO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

JOAO CARLOS DE LIMA JUNIOR

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

WILSON SALES BELCHIOR

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS SENTENÇA PROCESSO Nº: 1010320-38.2025.8.11.0001 REQUERENTE: JOSE CARLOS ULDRISCH REQUERIDA: BANCO BRADESCO S.A … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS SENTENÇA PROCESSO Nº: 1010320-38.2025.8.11.0001 REQUERENTE: JOSE CARLOS ULDRISCH REQUERIDA: BANCO BRADESCO S.A e ODONTOPREV S.A Vistos etc. Relatório dispensado, nos termos do artigo 38 da Lei 9.099/95. Fundamento e decido. Trata-se de AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO DE DANO MATERIAL E EXTRAPATRIMONIAL proposta por JOSE CARLOS ULDRISCH em desfavor de BANCO BRADESCO S.A e ODONTOPREV S.A 1- DA PRELIMINAR O Banco réu alega em sua peça contestatória anexa em id. 191970549, preliminar de mérito pela sua suposta ilegitimidade passiva considerando que os descontos realizados na conta bancária do autor, possui relação apenas com a segunda Requerida, já que não houve qualquer ato realizado pelo Banco passível de responsabilizá-lo. Requer desta forma, que seja reconhecida a sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda, com a extinção do processo, sem resolução do mérito em relação a ele, na forma do artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil. A legitimidade consiste na pertinência subjetiva da ação, ou seja, se autor e réu são, respectivamente, os titulares ativos e passivos da relação de direito material estabelecida no processo. Neste sentido, é o escólio de Daniel Amorim Assumpção Neves: “Conforme tradicional lição doutrinária, a legitimidade para agir (legitimatio ad causam) é a pertinência subjetiva da demanda ou, em outras palavras, é a situação prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito formar o polo passivo dessa demanda. Tradicionalmente se afirma que serão legitimados ao processo os sujeitos descritos como titulares da relação jurídica de direito material deduzida pelo demandante, mas essa definição só tem serventia para a legitimação ordinária, sendo inadequada para a conceituação da legitimação extraordinária.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 2017. p. 134) Em outras palavras, existe, como regra, uma correspondência entre os titulares da relação jurídica de direito material e a legitimidade ad causam. Cumpre assinalar que o c. Superior Tribunal de Justiça, no que diz respeito à análise das chamadas “condições da ação”, (possibilidade jurídica do pedido, legitimidade das partes e interesse processual, na classificação do revogado CPC/73), sedimentou o entendimento de que elas devem ser verificadas pelo juiz à luz das afirmações do demandante na petição inicial. Trata-se da aplicação da chamada Teoria da Asserção, pela qual a presença dos requisitos processuais mínimos da ação é aferida de forma abstrata, tomando-se por verdadeiras, provisoriamente, as alegações formuladas pelo autor na exordial. A propósito: "(...) de acordo com a teoria da asserção, conforme jurisprudência desta Corte, as condições da ação, dentre as quais se inserem a possibilidade jurídica do pedido e o interesse processual, devem ser verificadas pelo juiz à luz, essencialmente, das alegações feitas pelo autor na inicial." (STJ, REsp 1275859/DF, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 05/12/2012). “(...) 3. A jurisprudência deste Tribunal Superior é iterativa no sentido de que a análise das condições da ação, tal como a legitimidade ativa ad causam, a porventura acarretarem a extinção do processo sem resolução do mérito, são aferidas à luz da teoria da asserção, isto é, mediante a análise das alegações formuladas pelo autor na petição inicial, de modo que, demandando tais questões um exame mais aprofundado, essa medida implicará julgamento de mérito. Precedentes. (...)” (REsp n. 1.749.223/CE, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 7/2/2023, DJe de 10/2/2023) Nesse sentido, leia-se a lição de Kazuo Watanabe: “O exame das condições da ação deve ser feito ‘com abstração das possibilidades que, no juízo de mérito, vão deparar-se ao julgador: a de proclamar existente ou a de declarar inexistente a relação jurídica que constitui a res in iudicium deducta’; vale dizer, o órgão julgador, ao apreciá-las, ‘considera tal relação jurídica in statu asserionis, ou seja, à vista do que se afirmou’ raciocinando ele, ao estabelecer a cognição, ‘como que admita, por hipótese, e em caráter provisório, a veracidade da narrativa, deixando para a ocasião própria (o juízo de mérito) a respectiva apuração, ante os elementos de convicção ministrados pela atividade instrutória’, como preleciona Barbosa Moreira.” (Da cognição no Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987. p. 121) No caso em apreço o autor, ao ajuizar a ação, pleiteou a “Declaração da inexistência do débito, devolução dos valores descontados indevidamente e dano moral em relação aos descontos realizados pela Requerida ODONTOPREV S.A em sua conta bancária. Desta forma, analisando a narrativa dos fatos, é possível concluir que o banco réu não detém legitimidade para compor o polo passivo da relação processual. Isto porque a causa de pedir indenizatória cinge-se em relação a supostos descontos realizados em favor da segunda Requerida ODONTOPREV S.A. Não há qualquer menção à eventual falha na prestação do serviço bancário. Logo, considerando que a demanda discute apenas acerca da falha na prestação de serviço da segunda Requerida, a conclusão é pelo reconhecimento da ilegitimidade passiva do Banco para figurar no polo passivo da presente demanda. Assim, julgo extinto o processo em relação ao BANCO BRADESCO S.A, ante a sua ilegitimidade para figurar no polo passivo, com base no art. 485, VI, do Código de Processo Civil. Por conseguinte, restam prejudicadas as demais insurgências apresentadas na presente peça contestatória do Banco Bradesco. Superada a preliminar arguida, passo para analise do mérito em relação à Requerida ODONTOPREV S.A. 2- MÉRITO De início, dispõe o artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil que uma das hipóteses de julgamento antecipado da lide se dá quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência. Ressalto que ao caso em apreço aplica-se o código de defesa do consumidor, pois, retrata evidente relação de consumo, tendo em vista que presentes consumidor e fornecedor (arts. 2º e 3º, do Código de Defesa do Consumidor), e, sendo relação de consumo, aplica-se o disposto no inc. VIII, do art. 6º, do CDC, in verbis: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Por se tratar de relação de consumo, regida pelo Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade da parte Requerida é objetiva, a teor do disposto no artigo 14, deste diploma legal. A parte fornecedora somente pode ser eximida do dever de indenizar caso comprove a inexistência de falha na prestação do serviço ou culpa exclusiva da vítima ou de terceiros, para os fins do art. 14, § 3º e incisos do Código de Defesa do Consumidor. Trata-se de uma ação declaratória de inexistência de débito c/c pedido de dano material e extrapatrimonial em desfavor da Requerida ODONTOPREV S.A. Em sua inicial o autor menciona que nunca teve qualquer relação jurídica com a empresa ré, motivo que desconhece a origem dos descontos realizados em sua conta bancária, solicitando a declaração da inexistência destes débitos, o seu ressarcimento na forma dobrada, bem como a compensação moral pelo suposto abalo moral sofrido. A Requerida, por outro lado, alega que o autor realizou a contratação de seus serviços em 16.12.2021, conforme print constante na pág. 02 da defesa. A controvérsia, portanto, se resume em verificar se havia/houve relação jurídica apta para justificar a cobrança. Neste contexto, analisando os documentos, verifica-se que o autor realmente possui um contrato celebrado com a empresa ré, assinado em dezembro de 2021. Verifico também em id. 184249903 que os descontos realizados pela Requerida iniciaram em janeiro de 2022, demonstrando pertinência na ordem cronológica entre assinatura de contrato e descontos realizados na conta bancária do autor. O Autor, por sua vez, não impugna de maneira satisfatória o contrato alegado e apresentado pela empresa Requerida, bem como não busca desconstituir a prova apresentada em seu desfavor. Assim sendo, restou comprovada a contratação de serviços odontológicos da qual decorre a dívida ora objeto de controvérsia, concluindo que a Ré agiu em exercício regular do seu direito, ao realizar descontos pelos serviços odontológicos a disposição do consumidor, conforme previsto em contrato e aceito pelo autor. Neste sentido: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DESCONTOS AUTORIZADOS. CONTRATO ASSINADO COM EXPRESSA AUTORIZAÇÃO. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. REFROMA DA SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. A parte recorrente seguiu o ônus da impugnação específica e trouxe aos autos documentos capazes de comprovar a contratação e autorização dos descontos, qual seja, contratado devidamente assinado e acompanhado de documento pessoal. Comprovada a contratação, não há que se falar em descontos indevidos. Recurso conhecido e provido. (N.U 1052802-35.2024.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, EDSON DIAS REIS, Segunda Turma Recursal, Julgado em 13/06/2025, Publicado no DJE 13/06/2025) DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO INOMINADO CÍVEL. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CONTRATAÇÃO COMPROVADA. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. DANO MORAL INEXISTENTE. RECURSO DESPROVIDO Os descontos decorrentes de contratação válida não configuram ato ilícito, constituindo exercício regular de direito. 3. Inexistente a ilicitude na conduta da instituição financeira, não há configuração de dano moral indenizável. __ Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 373, II, 80 e 81; CC, arts. 188, I, e 889, §3º; Lei nº 9.099/1995, art. 46. Jurisprudência relevante citada: TJMT, Recurso Inominado n.º 1018495-52.2024.8.11.0002, Segunda Turma Recursal, Rel. Juiz Edson Dias Reis, j. 14.04.2025, DJE 22.04.2025; TJMT, Recurso Inominado n.º 1009925-11.2023.8.11.0003, Primeira Turma Recursal, Rel. Juiz Luis Aparecido Bortolussi Junior, j. 29.07.2024, DJE 01.08.2024. (N.U 1010334-22.2025.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, EULICE JAQUELINE DA COSTA SILVA CHERULLI, Primeira Turma Recursal, Julgado em 13/06/2025, Publicado no DJE 13/06/2025) Deste modo, comprovada a contratação originária do crédito, aliado à ausência de impugnação eficaz em relação ao contrato celebrado entre as partes, não há que se falar em ato ilícito indenizável. Isto porque a cobrança dos valores devidos mensalmente configura exercício regular do direito da Ré. Sendo assim, inexistindo qualquer ato ilícito imputado à requerida, não há que se falar em dever de indenizar a qualquer título, sendo a improcedência dos pedidos é a medida que se impõe. Ante o exposto, ACOLHO a preliminar e julgo extinto o processo sem resolução do mérito em relação ao BANCO BRADESCO S.A, ante a sua ilegitimidade para figurar no polo passivo, com base no art. 485, VI, do Código de Processo Civil; Na sequência, por tudo mais que dos autos consta, nos termos do art. 487, inciso I do CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial, extinguindo o feito com resolução do mérito; Sem custas e honorários, conforme inteligência dos artigos 54 e 55, da Lei nº 9.099/95. Transitada em julgado, remetam-se os autos ao arquivo, com as cautelas e anotações necessárias. Havendo pagamento voluntário do valor da obrigação, no prazo legal, proceda-se a expedição de alvará. Submeto à homologação da MMª. Juíza de Direito, nos termos do art. 40 da Lei 9.099/95. Juliana Ramos de Araujo Juíza Leiga Vistos etc. Homologo, para que produza seus jurídicos e legais efeitos, o projeto de sentença elaborado pela Juíza Leiga, na forma do artigo 40 da Lei n. 9.099/1995. Preclusa a via recursal, em nada sendo requerido, arquivem-se os autos com as baixas e anotações de estilo. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. Cuiabá/MT, data registrada no Sistema. Patrícia Ceni Juíza de Direito

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Afonso Goncalves Barbosa x Banco Bmg S.A.

ID: 256085065

Tribunal: TJMT Órgão: 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CUIABÁ Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1010334-22.2025.8.11.0001

Data de Disponibilização: 14/04/2025

Polo Ativo:

AFONSO GONCALVES BARBOSA

Polo Passivo:

BANCO BMG S.A.

Sentença

Advogados:

LILIAN VANESSA MENDONÇA PAGLIARINI

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1010334-22.2025.8.11.0001. REQUERENTE: AFONSO GONCALVES BARBOSA REQUERIDO: BANCO BMG S.A. Vistos, etc... … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1010334-22.2025.8.11.0001. REQUERENTE: AFONSO GONCALVES BARBOSA REQUERIDO: BANCO BMG S.A. Vistos, etc... Processo na etapa de instrução e sentença. Trata-se de ação declaratória c/c indenizatória ajuizada por AFONSO GONCALVES BARBOSA em face de BANCO BMG S/A, objetivando a devolução em dobro e o recebimento de indenização por dano moral em razão dos descontos indevidos sobre seu benefício previdenciário. Alega que “o segurado teve acesso ao seu extrato de pagamento, no qual foi possível constatar que desde fevereiro/2020, a reclamada vem efetuando descontos em sua aposentadoria, de modo indevido”. Argumenta que “a manutenção dos serviços NÃO CONTRATADOS causa prejuízo ao Autor que, há mais de um ano vem arcando com o pagamento de um serviço que jamais fora CONTRATADO”. Pleiteia a declaração de inexistência do débito oriundo do contrato de cartão de crédito consignado, o cancelamento dos descontos mensais, a devolução dos valores indevidamente descontado em dobro, e a condenação da parte promovida em indenização por danos morais. O pedido de tutela antecipada foi indeferido. Realizada a audiência para tentativa de conciliação, esta restou frustrada. A parte promovida, em sede de contestação, arguiu, como preliminares: ausência do interesse de agir, inépcia da inicial (comprovante de endereço e procuração), prescrição, decadência, impugnou o pedido de concessão da justiça gratuita e requereu a realização da audiência de instrução e julgamento. No mérito, sustenta que houve a contratação do cartão de crédito consignado, conforme o termo de adesão anexado aos autos, que inclusive autoriza o desconto em folha de pagamento. Alega, ainda, que a parte promovente realizou saques por meio do referido cartão. Assevera que inexiste dever de indenizar e requer a improcedência dos pedidos formulados na petição inicial. Junta documentos, tais como comprovante de TEDs realizados na conta da parte promovente, faturas, planilha evolutiva, documento pessoal, selfie, termo de autorização o benefício – INSS, termo de adesão de cartão de crédito consignado e cédula de crédito bancários – contratação de saque mediante a utilização do cartão de crédito consignado. A parte promovente apresentou impugnação, argumentando a ocorrência de falha na prestação dos serviços e a cobrança indevida por serviços não contratados. No que se refere aos documentos inseridos, "nega ter feito tal operação". No mais, reiterou os pedidos formulados na petição inicial. É O RELATÓRIO. DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO Não obstante o pedido de designação de audiência de instrução e julgamento verifico que o feito se encontra instruído com prova documental suficiente à decisão da causa, o que será melhor abordado no mérito propriamente. A designação de audiência instrutória mostra-se, no presente caso, evento meramente procrastinatório, na contramão da duração razoável e da efetividade do processo. DA IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA A parte promovida impugna o pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita, pois alega que a parte promovente não comprovou sua condição de hipossuficiente que lhe autoriza a usufruir da benesse. A concessão dos benefícios da justiça gratuita ou sua impugnação não tem cabimento nesta fase processual, uma vez que o acesso ao primeiro grau, em sede de Juizado Especial, independe do recolhimento de custas, taxas ou despesas processuais, conforme dispõe o artigo 54 da Lei nº 9.099/95. Deste modo, OPINO pela rejeição da impugnação. DA PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR Alega a parte promovida falta de interesse de agir, uma vez que a parte promovente não buscou solucionar o impasse administrativamente. Sem razão a parte promovida, haja vista que prevalece o princípio da inafastabilidade da jurisdição, preceito constitucional que não exclui da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Não se exige esgotamento da via administrativa para que o consumidor possa buscar o Judiciário visando ressarcimento material e moral. Deste modo, OPINO pela rejeição da preliminar. DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL A parte promovida alega que a parte promovente juntou procuração genérica e comprovante de endereço inválido, motivo pelo qual requer a extinção do feito sem resolução do mérito. Sem razão a parte promovida, uma vez que a parte promovente apresentou comprovante de residência válido e atualizado. Quanto à procuração, igualmente não procede a alegação da parte promovida, pois a parte promovente compareceu à audiência de conciliação. Assim, não há necessidade de intimação para regularização. Deste modo, OPINO pela rejeição da preliminar. DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO A parte promovida suscitou preliminar de prescrição, alegando que os descontos questionados vêm sendo realizados desde o ano de 2020 e que o contrato foi celebrado em 19/12/2019. Argumenta, ainda, que, tendo a ação sido ajuizada em 17/02/2025, a pretensão autoral estaria fulminada pela prescrição trienal, nos termos do artigo 206, §3º, IV, do Código Civil. Contudo, tal alegação não merece acolhimento integral. No presente caso, trata-se de relação de consumo, em que se discute a repetição de valores supostamente descontados de forma indevida, a título de empréstimo consignado vinculado a cartão de crédito consignado. Nessa hipótese, é entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça que se aplica o prazo prescricional de cinco anos, conforme previsto no artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor, contado a partir de cada desconto indevido, por se tratar de obrigação de trato sucessivo. Dessa forma, considerando que a ação foi ajuizada em 17/02/2025 e que os descontos vêm sendo realizados desde 2020, não há que se falar em prescrição das parcelas cobradas nos cinco anos anteriores à propositura da demanda. Diante do exposto, OPINO pela rejeição da preliminar de prescrição. DA PRELIMINAR DE DECADÊNCIA A parte promovida arguiu preliminar de decadência, uma vez que o prazo de anulação do negócio jurídico é de 04 anos a partir da realização do negócio, nos termos do artigo 178, II do Código Civil. Entretanto, proponho a rejeição desta preliminar, uma vez que, como exposto, discute-se a legalidade da restrição, de modo que o prazo conta-se do momento em que o consumidor tomou conhecimento, ainda mais porque nega a relação jurídica. Deste modo, OPINO pela rejeição da preliminar. DO MÉRITO Inicialmente, destaco que a matéria é exclusivamente de direito, o que autoriza o julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, I, do Código de Processo Civil. A relação de consumo restou caracterizada, nos termos dos artigos 2º e 3º, ambos da Lei nº 8.078/90, sendo devida a inversão do ônus da prova. O mérito da presente ação refere-se ao pedido de declaração de inexistência do débito oriundo do contrato de cartão de crédito consignado, ao cancelamento dos descontos mensais efetuados em folha de pagamento, à restituição em dobro dos valores indevidamente descontados e à condenação da parte promovida ao pagamento de indenização por danos morais. Por outro lado, a parte promovida, em sede de contestação, alega que a contratação do cartão de crédito consignado foi realizada de forma válida e regular. Pois bem. Ao analisar os autos e considerando o conjunto probatório, em especial a selfie, o documento pessoal, o termo de autorização do beneficiário – INSS, o termo de adesão ao cartão de crédito consignado, a autorização para desconto em folha de pagamento e a cédula de crédito bancário referente à contratação de saque mediante a utilização de cartão de crédito, verifica-se que a parte promovente contratou validamente o cartão de crédito consignado, bem como realizou saques. Deste modo, entendo que a contratação se deu de forma válida e regular. Dessa forma, a partir da análise minuciosa dos autos, constata-se que a pretensão autoral não encontra respaldo jurídico. Os documentos acostados, especialmente aqueles que demonstram a contratação do cartão de crédito consignado e a realização de saques, evidenciam a ciência e a anuência da parte promovente quanto aos termos pactuados. Assim, não prospera a alegação de que “é de fácil constatação que a manutenção dos serviços não contratados causa prejuízo ao Autor, que há mais de um ano vem arcando com o pagamento de um serviço que jamais fora contratado”, uma vez que restou comprovada a regularidade da contratação. A parte promovente aderiu ao cartão de crédito consignado e autorizou o desconto das parcelas diretamente em seu benefício previdenciário do INSS. Dessa maneira, razão assiste à parte promovida ao demonstrar, por meio da documentação anexada aos autos, que a contratação ocorreu de forma lícita, válida e regular, tendo, inclusive, sido realizados saques complementares por meio do cartão de crédito consignado, modalidade expressamente prevista na documentação contratual. Para corroborar suas alegações, foram juntados aos autos comprovantes de transferências bancárias (TED), que demonstram que a parte promovente efetivamente recebeu os valores, conforme ID 186369904. Nesse contexto, verifica-se que a parte promovente tinha pleno conhecimento da natureza jurídica da operação firmada, sendo inexigível do fornecedor o controle subjetivo da expectativa do consumidor quando esta não se contrapõe objetivamente aos termos expressos do contrato. A alegação de desconhecimento, portanto, não pode ser acolhida como elemento capaz de invalidar o negócio jurídico. Nesse contexto, verifica-se que a parte promovente tinha pleno conhecimento da natureza jurídica da operação firmada, sendo inexigível do fornecedor o controle subjetivo da expectativa do consumidor quando esta não se contrapõe objetivamente aos termos expressos do contrato. A alegação de desconhecimento, portanto, não pode ser acolhida como elemento capaz de invalidar o negócio jurídico. Ademais, não se extrai dos autos qualquer prova de vício de consentimento (erro, dolo ou coação), tampouco conduta abusiva por parte da instituição financeira, o que reforça a presunção de validade do contrato celebrado, nos moldes do artigo 104 do Código Civil. Com efeito, tratando-se de contratação realizada por iniciativa da parte promovente, com documentos que incluem selfie e identificação pessoal, e com crédito efetivamente disponibilizado, não há como imputar à instituição financeira responsabilidade por eventual arrependimento ou posterior desconhecimento quanto à modalidade contratada, o que caracteriza hipótese de responsabilidade exclusiva do consumidor, nos termos do artigo 14, § 3º, inciso II, do Código de Defesa do Consumido: Art. 14, §3º, II, CDC – O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar [...] a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Por consequência, não restando caracterizada qualquer falha na prestação do serviço, tampouco conduta abusiva, não se vislumbra a presença dos elementos essenciais à configuração da responsabilidade civil da instituição financeira, seja para fins de indenização por dano moral, seja para restituição em dobro dos valores pagos. Importante destacar que a repetição do indébito, em dobro, somente é admitida quando comprovada a má-fé do fornecedor (art. 42, parágrafo único, do CDC), o que não se verifica no presente caso, uma vez que o desconto decorre de contrato regularmente firmado e cuja validade não foi infirmada por nenhum vício de origem. Diante de todo o exposto, e à luz do conjunto probatório constante nos autos, verifica-se que a contratação do cartão de crédito consignado foi válida, regular e revestida das formalidades legais, inexistindo vício de consentimento, ilicitude ou falha na prestação do serviço por parte da instituição financeira. Não se configuram, portanto, os pressupostos legais necessários à declaração de nulidade contratual, à repetição em dobro dos valores pagos ou à reparação por danos morais. Assim, a improcedência dos pedidos formulados pela parte promovente é medida que se impõe. DISPOSITIVO. Ante o exposto, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil, PROPONHO a rejeição das preliminares suscitadas e, no mérito, julgar IMPROCEDENTES os pedidos formulados pela parte promovente. Sem custas processuais e sem honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54 e 55, ambos da Lei nº 9.099/95. Submeto o presente projeto de decisão à homologação da Magistrada Togada, para que surta os efeitos legais previstos no artigo 40 da Lei 9099/95. Camila Migueis Alves Juíza Leiga Vistos, etc... Para que produza os seus devidos efeitos jurídicos, nos termos do artigo 40, da Lei nº 9.099/95 c/c artigo 8º, parágrafo único, da Lei Complementar Estadual nº 270/07, homologo o projeto de sentença juntado nos autos. Intimem-se. Cumpra-se. Lúcia Peruffo Juíza de Direito

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Polícia Judiciária Civil Do Estado De Mato Grosso x Willy Nelson Cordeiro Da Costa

ID: 257849991

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA CRIMINAL DE RONDONÓPOLIS Classe: AçãO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINáRIO Nº Processo: 1010334-84.2023.8.11.0003

Data de Disponibilização: 16/04/2025

Polo Ativo:

POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO

Polo Passivo:

WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA

Sentença

Advogados:

DIEGO ATILA LOPES SANTOS REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO DIEGO ATILA LOPES SANTOS

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA CRIMINAL DE RONDONÓPOLIS SENTENÇA Processo: 1010334-84.2023.8.11.0003. AUTORIDADE: POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO AUTOR(A): MINISTÉRI… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA CRIMINAL DE RONDONÓPOLIS SENTENÇA Processo: 1010334-84.2023.8.11.0003. AUTORIDADE: POLÍCIA JUDICIÁRIA CIVIL DO ESTADO DE MATO GROSSO AUTOR(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO REU: PAULO RICARDO DA SILVA FERREIRA, WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA Vistos, etc. 1. O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ofereceu denúncia em face de WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA e PAULO RICARDO DA SILVA FERREIRA, qualificados nos autos, como incurso(s) no(s) delito(s) capitulado(s) no(s) artigo 180, caput, e artigo 330 do Código Penal. 2. Narra a denúncia que no dia 24.04.2023, por volta das 18h23min, na Rodovia BR163 – em frente ao Posto de Combustível Masut, em Rondonópolis-MT, os denunciados receberam e transportaram em proveito próprio a caminhonete Hillux de cor prata e placa OBI6A66, ano 2012, avaliada em R$ 120.500,00, que sabiam ser fruto de delito patrimonial, ocorrido na data de 23/04/2023, tendo como vítima V. M. D. Na sequência, os denunciados desobedeceram ordem legal dos agentes policiais, uma vez que durante a abordagem investiram contra os policiais sendo necessário o uso progressivo da força até imobilização dos suspeitos. 3. Consta nos autos que no dia 23.04.2024 indivíduos não identificados abordaram a vítima V. M. D. na rua apontando uma arma de fogo, obrigando-o a se deslocar até sua residência promovendo a subtração de 02 correntes de ouro, 02 pulseiras de ouro, 01 relógio, 01 Televisão de 50 Polegadas, 01 Notebook e 01 TOYOTA/HILLUX, placa OBI6A66, cor prata. 4. A vítima rastreou o veículo e informou a polícia da localização. Os policiais localizaram os suspeitos na Rodovia BR 163 com o carro roubado. Após uma perseguição, eles foram cercados perto do Posto de Combustíveis Masut. Na abordagem, os suspeitos tentaram destruir seus celulares e resistiram à prisão. Os indivíduos informaram que receberiam R$3.000,00 para transportar a camionete até Campo Grande/MS. 5. Conduzidos à DePol, lavrou-se o flagrante. Em audiência de custódia, a prisão foi convertida em preventiva (127567764 - Pág. 100). 6. Em decisão de ID127567764 - Pág. 206 o juízo substitui a prisão preventiva por medidas cautelares diversas da prisão. 7. A denúncia foi recebida (176015253) e os acusados citados (176590812, 178407749). 8. Resposta a acusação apresentada no ID 182699612 (Willy Nelson) e ID 183790896 (Paulo). 9. Realizada audiência de instrução colheu-se o depoimento da vítima Valfrido Mariano Dias, da testemunha Nelson de Souza Neto e os interrogatórios dos réus Paulo Ricardo da Silva Ferreira e Willy Nelson Cordeiro da Costa (189946048) 10. Alegações finais orais pelas partes, tendo o Ministério Público pugnado pela parcial procedência da ação, condenando os acusados pelo crime previsto no art. 180, caput, do CP, absolvendo-os do delito descrito no artigo 330 do Código Pena por ausência de provas. 11. A defesa de Paulo, a seu turno, pugna pela absolvição do 330, com fulcro no artigo 386, VII, do CPP, bem como pela desclassificação do delito de receptação para a modalidade culposa, previsto no art. 180, §3°, do CP. 12. No mesmo sentido se manifestou a defesa de Willy, requerendo a absolvição do acusado pelo art. 330 do CP, em consonância com o parecer ministerial. No que tange ao art.180 do CP, requer a absolvição por ausência de provas. Não sendo este o entendimento, pugna pela desclassificação para o crime previsto no art. 180, §3°, do CP. 13. Os autos vieram conclusos. 14. Fundamento e decido. 15. Trata-se de ação penal pública incondicionada, detendo, portanto, o Ministério Público a necessária legitimidade para o desenvolvimento válido e regular do processo, de sorte que, inexistindo nulidades a serem sanadas e presentes as condições da ação, o feito está pronto para a análise do mérito. 16. Pretendeu o Ministério Público por meio da presente Ação Penal atribuir a WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA e PAULO RICARDO DA SILVA FERREIRA a prática do ilícito penal tipificado no artigo 180, caput, e artigo 330 do Código Penal. 17. A materialidade da conduta criminosa ressurge comprovada por meio do Auto de Prisão em Flagrante (116357481), Auto de Resistência (116357482 - Pág. 4/5), Termo de Exibição e Apreensão (116357484), Boletim de Ocorrência (116357482, 116357713), Termo de Entrega (116357488), Auto de Avaliação (116357717), além dos depoimentos colhidos. 18. No que tange a autoria igualmente induvidosa. 19. A testemunha Valfrido Mariano Dias narra que foi vítima do crime de roubo em que os suspeitos o renderam, conduziram até sua casa, onde subtraíram correntes de ouro, relógios bem com sua camionete Hylux. Afirmou que o veículo tinha rastreador, de maneira que conseguiram localizá-la no dia seguinte. Não sabe em posse de quem o veículo foi encontrado. 20. O Policial Civil Nelson de Souza narrou que foram acionados pela vítima narrando que tivera sua camionete Hylux roubada e pelo dispositivo de rastreamento identificaram que o veículo seguia sentido Mato Grosso do Sul. Afirma que iniciaram o monitoramento pelo aplicativo e constataram que em determinado ponto o veículo retornou sentido Rondonópolis/MT. Aproveitando a ocasião, realizaram uma barreira e abordaram o veículo. 21. Alegou que os suspeitos se mostraram bastante alterados à abordagem policial, avançando contra a guarnição, sendo necessário colocá-los no chão e algemá-los. 22. Sustenta que os indivíduos foram conduzidos à Delegacia afirmando que receberiam R$3.000,00 para levar a camionete até Mato Grosso do Sul. Descreve que a vítima não o reconheceu como autor do roubo, porém, ele estava em posse da camionete objeto de crime. 23. Em seu interrogatório, o acusado Paulo Ricardo da Silva Ferreira narra que receberia o valor de R$3.000,00 para conduzir a camionete até Campo Grande/MS. Afirma que em virtude de não ter habilitação, pediu ao amigo Willy Nelson que o acompanhasse conduzindo o veículo. Alega que recebeu a camionete como “Finan” e desconhecia se tratar de produto de roubo. Afirma que Willy Nelson não tinha conhecimento de nada. No trajeto, Willy pediu para ver o documento da camionete e constatou que havia algo errado, afirmando que no documento constava cor preta enquanto o veículo era de cor prata. Nesse momento, decidiram retornar, quando foram abordados pela Polícia Civil. 24. Alega que Willy Nelson não receberia nenhuma quantia, uma vez que é seu amigo de infância e faria o serviço por amizade, pedindo apenas que lhe pagasse a passagem de retorno. 25. O denunciado Willy Nelson afirma em juízo que conhece Paulo há muito tempo e na data dos fatos recebeu uma ligação do amigo pedindo que levasse uma camionete “FINAN” em Campo Grande/MS. Segundo Willy, o denunciado Paulo pediu o favor porque não possuía CNH. Ofereceu R$1.500,00 e afirmou que precisava que ele conduzisse porque era habilitado. Willy aceitou, porém, afirmou que não queria dinheiro nenhum, apenas que pagasse sua passagem para retorno. Descreve que pediu a Paulo que mostrasse o documento do veículo e à partir do momento que constatou que os dados da camionete não correspondiam com a realidade decidiu retornar para Rondonópolis/MT, sendo abordados pela Polícia em frente ao Posto Masut. 26. Afirma que não tinha conhecimento sobre a origem da camionete e negou qualquer envolvimento com o roubo. Nega que tenha resistido a prisão. 27. No que tange às suas declarações prestadas perante a Autoridade Policial sustenta que não falou sobre documento atrasado tampouco que recebeu R$1.500,00 de Paula, mas somente que o amigo lhe ofereceu esse valor tendo recusado, bem com que o documento da camionete não coincidia com as características do veículo. 28. Pois bem. 29. Diz o artigo 180, caput, do Código Penal: Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. 30. Em que pese os argumentos de ambas as defesas aduzindo que os acusados desconheciam que o veículo Hillux de cor prata e placa OBI6A66, ano 2012 se tratava de produto de roubo, evidente ao juízo que ambos tinham ciência e, supostamente, acreditavam por verdade, que o automóvel era FINAN, ou seja, adquirido por financiamento bancário cujas parcelas não foram pagas. 31. Veículos nestas condições circulam por determinado tempo e habitualmente são comercializados por valor abaixo ao de mercado uma vez que não poderão ser transferidos ao novo proprietário e, inevitavelmente, em algum momento são objeto de ações de Busca e Apreensão pela instituição financeira. 32. Por tudo o que se viu nos autos, as circunstâncias fáticas evidenciam que os réus possuíam plenas condições de conhecimento acerca da procedência ilícita do veículo e se não tinham ciência da ilicitude anterior, ao menos assumiram o risco de incorrer no crime de receptação (dolo eventual). E, ainda assim, aceitaram conduzi-lo para outro Estado pelo valor de R$3.000,00 demonstrando a intenção de obter vantagem em proveito próprio, nos termos do art. 180, “caput”, do CP. 33. Nesse sentido: EMENTA APELAÇÃO CRIMINAL – SENTENÇA CONDENATÓRIA – RECEPTAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO - “DESCONHECIA A ORIGEM ILÍCITA DO VEÍCULO”, NÃO TINHA CONHECIMENTO PARA VERIFICAR “A FALSIDADE DO CRLV DO VEÍCULO” – PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO - RECEPTAÇÃO - APREENSÃO DO VEÍCULO EM PODER DO APELANTE - DEPOIMENTOS DE POLICIAL CIVIL - AMBAS AS FASES DA PERSECUÇÃO PENAL - POSSE INJUSTIFICADA DE OBJETO DE CRIME – VEÍCULO ADQUIRIDO POR MEIO DO GOLPE CONHECIDO COMO “FINAN”, COM VALOR ABAIXO DO MERCADO - INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO - JULGADOS DO TJMT – DOCUMENTO FALSO - APELANTE DETINHA POSSE DE DOCUMENTO PÚBLICO FALSO [CRLV] E O APRESENTOU AOS POLICIAIS AO SER ABORDADO – ALEGAÇÃO DE QUE DESCONHECIA A FALSIDADE DO REFERIDO DOCUMENTO NÃO COMPROVADA – ACÓRDÃO DO TJMG – RECURSO DESPROVIDO. “Não há que se falar em absolvição do crime de receptação por insuficiência probatória, tampouco em desclassificação do delito para a modalidade culposa, na hipótese em que o agente adquire produto de origem ilícita por valor abaixo daquele previsto pela mercado, em local notoriamente conhecido como ponto de comercialização de objetos de origem ilícita, por meio do golpe popularmente chamado de “FINAN”, e ainda é encontrado na posse do objeto, pois tais circunstâncias ensejam a presunção de autoria e comprovam o dolo do agente. [...].” (TJMT, AP N.U 0021676-93.2015.8.11.0002) A posse injustificada de objeto de crime, por si só, induz a autoria e atrai a inversão do ônus probatório, de modo a autorizar a responsabilização penal por receptação. (TJMT, AP nº 43210/2018; TJMT, AP N.U 0029323-48.2017.8.11.0042; AP NU 0003158-60.2017.8.11.0010) “Não tendo o apelante comprovado que desconhecia a falsidade ou incorreu em erro determinado por terceiro, a manutenção da condenação pelo delito de uso de documento falso é medida que se impõe” (TJMG, Ap nº 10144130010164001). (N.U 0000702-38.2015.8.11.0098, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, MARCOS MACHADO, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 24/05/2022, Publicado no DJE 01/06/2022) 34. Ainda que não tenham adquirido o veículo, os acusados aceitaram conduzi-lo até outro Estado em troca da quantia de R$3.000,00. 35. Assevero que a jurisprudência é pacífica no sentido de que, diante da dificuldade de se aferir o dolo (conhecimento da ilicitude do bem) no delito de receptação, este deve ser aferida a partir das circunstâncias indiciárias presentes e, como o bem foi encontrado em poder dos acusados, cabe à defesa provar sua origem lícita ou sua conduta culposa, o que, contudo, não aconteceu nos autos. 36. No que tange ao crime previsto no art. 330 do CP, os elementos colhidos são insuficientes para fundamentar a condenação. Isto porque não há provas de que os acusados tenham desrespeitado qualquer ordem emanada pelos agentes, uma vez que tão logo receberam a ordem de sair do veículo, a cumpriram, deitando-se no chão, conforme alegou o Policial Civil Nelson, corroborando com as declarações dos denunciados. 37. OSuperior Tribunal de Justiça já firmou entendimento consolidado conforme Tema Repetitivo 1060: “A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica, prevista no art. 330 do Código Penal Brasileiro.” 38. In casu, os suspeitos estavam parados atrás de duas carretas em um semáforo onde a Polícia havia formado uma barreira, quando foram abordados pelos agentes e retirados de dentro dos veículos. Dessa forma, ao que costa nos autos sequer seria viável desobedecer a ordem dos Policiais, considerando inclusive o descrito pelo Civil Nelson quando afirma que diante da violência cometida no crime de roubo do veículo, havendo suspeitas de que os indivíduos poderiam estar armados, a Polícia adotou procedimento padrão de abordagem do veículo estando todos os policiais com arma de fogo em mãos direcionadas aos suspeitos. 39. Dito isso, entendo que as provas são frágeis no que tange à autoria do acusado quanto ao art. 330 do CP, de forma que nesse contexto e porque a imposição de édito condenatório demanda prova cabal e segura da autoria delitiva, opera-se com relação à acusação pelo delito em questão, a aplicação do princípio do “in dubio pro reo”, de forma que entendo que a melhor solução é a absolvição do acusado por insuficiência de provas. 40. Assim, entendendo estar devidamente comprovada a materialidade e autoria atribuída ao acusado, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE A DENÚNCIA para, com fundamento no artigo 387 do Código de Processo Penal, CONDENAR WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA e PAULO RICARDO DA SILVA FERREIRA quanto ao crime previsto no artigo 180, caput, ABSOLVENDO-OS quanto ao artigo 330 do Código Penal, na forma do art. 38, VII do CPP. 41. Destarte, ausente qualquer causa excludente de antijuridicidade ou causa excludente de culpabilidade, pois assevero que o réu era imputável na data do fato típico, possuía potencial consciência da ilicitude e era-lhe exigível conduta diversa, bem como não agiu sob coação ou obediência hierárquica. 42. Assim, passo a análise da pena a ser aplicada observando o sistema trifásico pátrio, nos termos do art. 68 do CP (STF-RTJ 143/212). 43. WILLY NELSON CORDEIRO DA COSTA 44. Impõe-se a análise das circunstâncias contidas no artigo 59 do Código Penal: 45. Verifica-se que o réu agiu com culpabilidade comum a espécie, não havendo fato extraordinário a ser valorado. 46. Não registra antecedentes criminais, conforme certidão em anexo. Ademais, nos termos do Enunciado 444 do Superior Tribunal de Justiça “é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.” Nestes termos, eventuais ações penais em curso não são hábeis a gera maus antecedentes. 47. Pelos elementos colhidos nos autos, não foram aquilatadas sua conduta social, assim como sua personalidade, uma vez que não há estudo psicossocial específico sobre o réu, sendo vedada utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base nos termos da Súmula 444, STJ. 48. No que tange ao motivo do crime, as circunstâncias e as consequências são os normais a espécie. 49. O comportamento da vítima em nada contribuiu para a prática delituosa. 50. Passo a fixação da pena base. 51. A pena prevista para o crime tipificado no artigo 180, caput, do CP é de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 52. Assim considerando a ausência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena base no mínimo legal, qual seja, 1 ano de reclusão de 10 dias multa. 53. Ausente atenuantes ou agravantes, bem como causas de diminuição ou aumento de pena 54. Assim, torno definitiva a pena de 1 ano de reclusão de 10 dias multa. 55. Do regime de cumprimento de pena 56. Fixo o regime aberto para início do cumprimento da pena, (art. 33, § 2º, “c” do CP). 57. Diante da pena aplicada e regime inicial de cumprimento, CONCEDO ao réu o benefício de recorrer em liberdade, já que ausentes os requisitos do art. 311 e 312 do CPP. 58. Da pena restritiva de direito 59. Por estarem presentes os requisitos previstos no art.44 do Código Penal, uma vez que o acusado é primário e as circunstâncias judiciais não lhes são desfavoráveis, SUBSTITUO A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE por uma restritiva de direito a ser determinada pelo Juízo da execução. 60. Incabível a concessão da suspensão condicional da pena, artigo 77, caput, do Código Penal. 61. PAULO RICARDO DA SILVA FERREIRA 62. Impõe-se a análise das circunstâncias contidas no artigo 59 do Código Penal: 63. Verifica-se que o réu agiu com culpabilidade comum a espécie, não havendo fato extraordinário a ser valorado. 64. Não registra antecedentes criminais, conforme certidão em anexo. Ademais, nos termos do Enunciado 444 do Superior Tribunal de Justiça “é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.” Nestes termos, eventuais ações penais em curso não são hábeis a gera maus antecedentes. 65. Pelos elementos colhidos nos autos, não foram aquilatadas sua conduta social, assim como sua personalidade, uma vez que não há estudo psicossocial específico sobre o réu, sendo vedada utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena base nos termos da Súmula 444, STJ. 66. No que tange ao motivo do crime, as circunstâncias e as consequências são os normais a espécie. 67. O comportamento da vítima em nada contribuiu para a prática delituosa. 68. Passo a fixação da pena base. 69. A pena prevista para o crime tipificado no artigo 180, caput, do CP é de Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 70. Assim considerando a ausência de circunstância judicial desfavorável, fixo a pena base no mínimo legal, qual seja, 1 ano de reclusão de 10 dias multa. 71. Ausente atenuantes ou agravantes, bem como causas de diminuição ou aumento de pena 72. Assim, torno definitiva a pena de 1 ano de reclusão de 10 dias multa. 73. Do regime de cumprimento de pena 74. Fixo o regime aberto para início do cumprimento da pena, (art. 33, § 2º, “c” do CP). 75. Diante da pena aplicada e regime inicial de cumprimento, CONCEDO ao réu o benefício de recorrer em liberdade, já que ausentes os requisitos do art. 311 e 312 do CPP. 76. Da pena restritiva de direito 77. Por estarem presentes os requisitos previstos no art.44 do Código Penal, uma vez que o acusado é primário e as circunstâncias judiciais não lhes são desfavoráveis, SUBSTITUO A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE por uma restritiva de direito a ser determinada pelo Juízo da execução. 78. Incabível a concessão da suspensão condicional da pena, artigo 77, caput, do Código Penal. 79. Das providências finais: 80. Por derradeiro, no que se refere a eventual pedido de detração, considerando a pena aplicada, incabível, por ora, a progressão para regime menos gravoso. Desse modo, eventual pedido será analisado na forma do art. 42 do Código Penal, oportunamente, no Juízo da Execução. 81. Arbitro o valor dos dias multa em 1/30 (um trigésimo) do salário-mínimo vigente à época do fato, corrigido monetariamente. O pagamento da pena pecuniária deve dar-se em 10 (dez) dias, contados do trânsito em julgado da sentença, nos termos do artigo 50 do Código Penal. 82. Concedo os benefícios da Justiça Gratuita ao condenado no tocante ao pagamento das custas processuais. 83. No que tange ao valor apreendido no ID116358747, DECLARO O PERDIMENTO em favor do Incidente nº1011075-61.2022.811.0003. 84. Ausente veículos ou objetos apreendidos, tampouco depósito de fiança, armas ou munições. 85. Por fim, no que tange aos demais objetos apreendidos e não restituídos, diante da ausência de requerimento dos interessados, DECLARO o seu perdimento em favor do Conselho da Comunidade. Os inutilizáveis, em péssimo estado de conservação ou inservíveis seirão destruídos conforme determina o Manual de Gestão de Bens Apreendidos do Conselho Nacional de Justiça. 86. Havendo recurso das partes, aguarde-se o trânsito em julgado para a expedição de guia definitiva. Sem necessidade de nova conclusão, intime-se a parte recorrida para oferecer contrarrazões no prazo de 5 (cinco) dias. 87. Certificado o trânsito em julgado, cumpra-se conforme determinado a seguir: 88. Expeça-se ofício ao TRE-MT; 89. Expeçam-se ofícios comunicando o trânsito em julgado da sentença condenatória irrecorrível aos órgãos de identificação Federal e Estadual; 90. Expeça-se a carta de execução de pena instruindo-a conforme determina a Lei de Execuções Penais e a CNGC. 91. Após, encaminhe a guia respectiva ao Juízo de Execuções Penais competente e ARQUIVE-SE os autos com as baixas e anotações de praxe. 92. P. I.C. 93. Transitada em julgado a presente sentença, após procedidas as baixas e anotações de estilo, arquivem-se os autos. Rondonópolis/MT. (Datado e Assinado Eletronicamente) PEDRO DAVI BENETTI Juiz de Direito

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