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Processo nº 1011438-52.2025.8.11.0000

ID: 329776067

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: AGRAVO REGIMENTAL CíVEL Nº Processo: 1011438-52.2025.8.11.0000

Data de Disponibilização: 21/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ELLINGTON XAVIER DA SILVA

Acórdão

Advogados:

LUCAS VINICIUS RODRIGUES PEIXOTO

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MARIA LAURA CORDEIRO DA SILVA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1011438-52.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) Assunto: [Alienação Fiduciária, Busca e Apreensão… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1011438-52.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) Assunto: [Alienação Fiduciária, Busca e Apreensão] Relator: Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA Turma Julgadora: [DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES] Parte(s): [LUCAS VINICIUS RODRIGUES PEIXOTO - CPF: 703.798.921-54 (ADVOGADO), ELLINGTON XAVIER DA SILVA - CPF: 013.594.981-50 (AGRAVADO), FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS CREDITAS AUTO VIII - CNPJ: 40.677.194/0001-89 (AGRAVANTE), MARIA LAURA CORDEIRO DA SILVA - CPF: 702.636.701-39 (ADVOGADO), GUSTAVO RODRIGO GOES NICOLADELI - CPF: 729.961.619-04 (ADVOGADO), RODRIGO FRASSETTO GOES - CPF: 005.504.549-93 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU O RECURSO. E M E N T A AGRAVANTE(S): FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS CREDITAS AUTO VIII. AGRAVADO(S): ELLINGTON XAVIER DA SILVA. EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE VEÍCULO. MORA DESCARACTERIZADA. CONDUTA CONTRADITÓRIA DO CREDOR. RECURSO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Agravo de instrumento interposto por devedor fiduciário contra decisão que, em sede de ação de busca e apreensão, deferiu liminar para apreensão de veículo com fundamento em mora contratual. A parte agravante sustenta ausência de mora válida, alegando pagamento da parcela antes da notificação, continuidade das cobranças e recebimento de valores pelo credor mesmo após o ajuizamento da ação, além da suposta abusividade dos juros contratados. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) definir se houve constituição válida da mora, condição indispensável para o deferimento da liminar de busca e apreensão; (ii) estabelecer se a conduta contraditória do credor — ao manter negociações e receber valores após a alegada inadimplência — descaracteriza a mora e impede o prosseguimento da ação judicial. III. RAZÕES DE DECIDIR A constituição válida da mora é requisito essencial para o deferimento da busca e apreensão nos termos do Decreto-Lei nº 911/1969, devendo ser comprovada mediante notificação extrajudicial enviada ao endereço constante no contrato. A documentação constante nos autos comprova que a parcela tida por inadimplida foi quitada antes do envio da notificação de mora, afastando a caracterização do inadimplemento como pressuposto da ação. A emissão de boletos e o recebimento de pagamentos pelo credor após a suposta mora revelam conduta contraditória, violando o princípio da boa-fé objetiva e atraindo a incidência do instituto da supressio, que impede o exercício inesperado de direito em razão da inércia do credor. A coexistência de medidas administrativas para renegociação com a propositura da ação judicial caracteriza violação ao princípio do nemo potest venire contra factum proprium, comprometendo a higidez da constituição da mora. A alegação de abusividade da taxa de juros exige dilação probatória e análise aprofundada do contrato, razão pela qual não comporta exame no presente recurso. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso provido. Tese de julgamento: A constituição válida da mora é condição indispensável para o deferimento da busca e apreensão em contrato de alienação fiduciária. A aceitação de pagamentos e a emissão de boletos após o vencimento da dívida indicam renúncia tácita à exigência de vencimento antecipado, caracterizando supressio. A simultaneidade entre tratativas administrativas e o ajuizamento da ação de busca e apreensão configura conduta contraditória do credor, afastando a caracterização da mora. Dispositivos relevantes citados: Decreto-Lei nº 911/1969, arts. 2º, § 2º, e 3º, §§ 1º e 2º; Código Civil, arts. 422 e 187; CPC, art. 485, IV. Jurisprudência relevante citada: STJ, Súmula nº 72; TJMT, AI 1010651-57.2024.8.11.0000, rel. Desa. Serly Marcondes Alves, j. 16/06/2024; TJMT, AI 1019817-29.2020.8.11.0041; TJMT, AI 1033067-19.2024.8.11.0000, rel. Des. Marcos Regenold Fernandes, j. 18/02/2025. R E L A T Ó R I O RELATÓRIO EXMO. SR. DES. SEBASTIÃO DE ARRUDA ALMEIDA Egrégia Câmara Trata-se de recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO, interposto por ELLINGTON XAVIER DA SILVA, contra decisão interlocutória (ID. 170319567 – Autos de Origem nº 1042721-04.2024.8.11.0041), proferida pelo Juízo da 4ª Vara Especializada em Direito Bancário da Comarca de Cuiabá-MT, que deferiu liminar de busca e apreensão de veículo, nos autos da Ação de Busca e Apreensão, sob os seguintes fundamentos: [...] verifica-se que a mora foi devidamente comprovada face ao inadimplemento do(a) devedor(a), conforme se constata da notificação de Id. 169685060, o que justifica o deferimento da medida nos termos em que pleiteada. [...] É válida, para a comprovação da constituição em mora, a notificação extrajudicial encaminhada ao endereço informado por ocasião da celebração do contrato [...] (ID. 170319567) Em suas razões recursais (ID.279849388), a agravante sustenta, em síntese: 1. Ausência de constituição válida da mora, uma vez que a parcela indicada como inadimplida foi paga antes da notificação; 2. Comportamento contraditório da credora, que continuou a receber pagamentos e emitir boletos mesmo após o ajuizamento da ação (venire contra factum proprium); 3. Abusividade da taxa de juros contratada, superior a 1,5x a taxa média de mercado à época, o que configuraria mora ilegítima. 4. Pedido de efeito suspensivo para evitar o envio dos autos até decisão de mérito. Liminar recursal foi deferida por este Relator (ID. 284704896), suspendendo os efeitos da decisão agravada, diante da presença, em juízo de cognição sumária, dos requisitos autorizadores da tutela de urgência recursal. Contra essa decisão monocrática foi interposto Agravo Interno pela parte agravada. A parte recorrida apresenta contrarrazões ao agravo de instrumento (ID. 290653864), nas quais sustenta que a mora foi validamente constituída mediante o envio de notificação extrajudicial ao endereço informado no contrato, conforme autoriza o art. 2º, §2º, do Decreto-Lei nº 911/1969, sendo irrelevante eventual insucesso na entrega, por se tratar de obrigação do devedor manter seus dados atualizados junto ao credor. Defende, ainda, a inaplicabilidade da tese de adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária de bem móvel, por ausência de previsão legal e incompatibilidade com a sistemática do Decreto-Lei nº 911/1969. Por fim, afirma que as cláusulas contratuais relativas à taxa de juros e aos encargos moratórios foram livremente pactuadas, dentro dos limites legais e em consonância com a autonomia privada, inexistindo qualquer abusividade que possa comprometer a higidez da relação contratual. Dispensado o Parecer Ministerial em razão da matéria e por inexistir parte incapaz. Recurso tempestivo e preparo isento pela gratuidade da justiça. É o relatório. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador Relator V O T O R E L A T O R AGRAVANTE(S): FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITORIOS CREDITAS AUTO VIII. AGRAVADO(S): ELLINGTON XAVIER DA SILVA. VOTO Egrégia Câmara Inicialmente, verifico a presença dos requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal. Reitero que se trata de Agravo de Instrumento interposto por Ellington Xavier da Silva, insurgindo-se contra a decisão proferida pelo Juízo da 4ª Vara Especializada de Direito Bancário da Comarca de Cuiabá-MT, nos autos da Ação de Busca e Apreensão ajuizada pelo Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Creditas Auto VIII, que deferiu liminarmente o pedido de busca e apreensão do veículo objeto do contrato nº AF00065618, ao fundamento de que restaria caracterizada a mora do devedor fiduciário. O agravante sustenta que a notificação extrajudicial utilizada para justificar a constituição em mora refere-se a parcela que já havia sido quitada antes do envio do aviso, conforme comprovante de pagamento datado de 05/07/2024. Aponta, ainda, que continuou realizando os pagamentos mensais normalmente após a referida notificação, circunstância que afastaria a mora como pressuposto para o ajuizamento da ação de busca e apreensão. Pois bem. De início, ressalto que, o Agravo de Instrumento por ser um recurso secundum eventum litis, limita-se ao exame do acerto ou não da decisão impugnada, em vista que ao Tribunal incumbe aferir tão somente se o ato judicial vergastado está eivado de ilegalidade e abusividade, sendo defeso o exame de questões estranhas ao que ficou decidido na lide. O cerne do presente recurso cinge-se à análise do acerto ou desacerto da decisão agravada que deferiu liminarmente pedido de busca e apreensão do veículo, o juízo singular consignou que: “Vistos, etc. Trata-se de pedido de busca e apreensão consubstanciado em descumprimento de contrato gravado com cláusula de alienação fiduciária. Nessa perspectiva, verifica-se que as custas judicias e o valor referente às despesas com diligências do oficial já foram recolhidos (Id. 170260968 e Id. 170260977) Já em relação à pretensão deduzida nos autos, verifico que a mora foi devidamente comprovada face ao inadimplemento do(a) devedor(a), conforme se constata da notificação de Id. 169685060, o que justifica o deferimento da medida nos termos em que pleiteada. A propósito, a súmula nº 72 do STJ dispõe que “A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente”. Ademais, mesmo tendo o devedor mudado, ser desconhecido, o endereço fornecido ser incorreto ou insuficiente, é válida, para a comprovação da constituição em mora, a notificação extrajudicial encaminhada ao endereço informado por ocasião da celebração do contrato, pois cabe a ele, em observância à boa-fé que rege as relações contratuais (art. 422 do Código Civil), manter tal informação correta e devidamente atualizada junto ao credor, para a sua localização. Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial: TJMT – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DE VEÍCULO ALIENADO FIDUCIARIAMENTE – CONSTITUIÇÃO EM MORA PELO SIMPLES VENCIMENTO DA DÍVIDA – COMPROVAÇÃO POR NOTIFICAÇÃO ENVIADA AO ENDEREÇO CONTRATUAL – REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA O DEFERIMENTO DA BUSCA E APREENSÃO DO VEÍCULO PREENCHIDOS – RECURSO DESPROVIDO. É válida para a comprovação da constituição em mora a notificação extrajudicial encaminhada ao endereço informado pelo devedor quando da celebração do contrato, pouco importando não ter ele recebido pessoalmente o aviso, não ter a residência sido encontrada, não ter aquele sido entregue em razão da insuficiência do endereço ou, ainda, ter o devedor mudado de domicílio posteriormente – salvo quando for informada a alteração ao credor. Inteligência do art. 2º, §2º, do Decreto-Lei nº 911/1969, com a redação dada pela Lei nº 13.043/2014, do art. 422 do CC e de precedentes do STJ. (PJE MT, Número Único: 1000228-82.2017.8.11.0000, Primeira Câmara de Direito Privado, Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202), Assunto: Alienação Fiduciária, Cabimento, Busca e Apreensão, Liminar, Relator: Des(a). JOAO FERREIRA FILHO, DJe: 26/09/2017). grifos nosso Ainda: TJDFT – APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. DECRETO-LEI 911/69. MORA DO DEVEDOR. NOTIFICAÇÃO POR CARTA COM AVISO DE RECEBIMENTO. DEVOLUÇÃO POR ENDEREÇO INSUFICIENTE. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. 1. Nos contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei n. 911/69, a mora se configura automaticamente quando vencido o prazo para o pagamento (mora ex re), mas o deferimento da busca e apreensão tem como pressuposto a comprovação desse fato por meio de notificação extrajudicial do devedor fiduciante ou por meio de protesto do título. 2. Quando a notificação é devolvida com anotação de que o destinatário se "mudou" ou é "desconhecido", bem assim que "não existe o número" indicado ou "endereço incorreto" ou, ainda, ou "endereço insuficiente", não há óbice ao recebimento e processamento da ação de busca e apreensão em alienação fiduciária, porque o devedor deve informar endereço correto e eventual mudança até o término do negócio jurídico, em razão do princípio da boa-fé e lealdade contratual, não podendo invocar nulidade do ato. A situação é diferente quando devolvida a notificação extrajudicial com anotação de que o destinatário está "ausente", pois isso não demonstra o efetivo recebimento no endereço declinado, ainda que não pessoalmente pelo devedor. 3. Apelação conhecida e provida. (Acórdão 1749739, 07491341420228070001, Relator: FÁBIO EDUARDO MARQUES, 5ª Turma Cível, data de julgamento: 24/8/2023, publicado no PJe: 11/9/2023). Grifos nosso Diante disso, com fundamento no art. 3ª do Decreto-Lei 911/69, DEFIRO liminarmente o pedido ora formulado e, por consequência, determino a expedição de mandado de busca e apreensão do bem apontado na petição inicial, o qual deverá ser depositado em mãos do representante do credor, mediante termo de compromisso e lavratura de auto circunstanciado acerca do seu estado de conservação, sendo vedada a sua retirada desta comarca durante o prazo para pagamento da dívida, sob pena de desobediência e eventual imposição de multa. Deverá constar, ainda, no mandado em questão, o seguinte: a) As disposições previstas no art. 212 e parágrafos do CPC; b) A advertência de que se o veículo, objeto da ação, estiver apreendido no pátio do DETRAN-MT em razão de débitos tributários e/ou taxas administrativas etc., estes deverão ser quitados para a sua retirada; e c) A advertência no sentido de que se o(a) devedor(a), ou quem estiver na posse do bem, obstar o cumprimento desta ordem fechando as portas da residência ou equivalentes, fica autorizado, desde já, o meirinho, a solicitar apoio policial e/ou realizar o arrombamento do imóvel, caso necessário, mediante certidão circunstanciada e as cautelas de praxe. Concomitantemente a isso, cite-se o(a) devedor(a) para, no prazo de 05 (cinco) dias corridos (REsp n. 1.770.863/PR, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 9/6/2020, DJe de 15/6/2020), contados do cumprimento desta decisão, pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados na inicial, devendo juntar aos autos o respectivo comprovante, bem como para, em 15 (quinze) dias, apresentar resposta, tudo em observância ao disposto no art. 3º, §§ 1º, 2º e 3º, do Decreto Lei 911/69. Com relação ao adimplemento do débito (purga da mora), deverá constar no mandado as seguintes orientações: 1 – O passo a passo para emissão da guia; 2 – Que o devedor deverá providenciar, também, o recolhimento do valor referente às despesas com diligências do oficial de justiça, para eventual restituição do veículo; 3 – Informar, na petição, o nome e telefone da pessoa que receberá o veículo por ocasião da restituição. 4 – Que o devedor deverá peticionar nos autos, juntando os comprovantes e guias acima, requerendo a restituição do veículo então apreendido. Por fim, se o credor entender necessário, em razão de endereço ou localização do bem em comarca diversa, desde já autorizo a expedição de carta precatória ao referido juízo para dar cumprimento ao ato, devendo a parte observar as obrigações e ônus de praxe em casos como tais. Cumpra-se por oficial de justiça plantonista. Cumpra-se, servindo a publicação desta decisão como intimação.” Analisando detidamente os autos, constata-se que a documentação juntada pelo agravante demonstra que o valor apontado como inadimplido foi pago antes da emissão da notificação extrajudicial. Além disso, verifica-se que houve emissão de boletos e recebimento de valores pelo próprio credor fiduciário nos meses subsequentes, inclusive após o ajuizamento da ação, conforme extratos e comprovantes anexados. Essa conduta permite concluir que a relação contratual não foi extinta nem interrompida, revelando-se comportamento contraditório por parte da instituição credora, o que atrai a aplicação do princípio da boa-fé objetiva, notadamente pelo instituto do supressio, que impede o exercício abrupto do vencimento antecipado da dívida. A jurisprudência destaQuinta Câmara de Direito Privadoé firme nesse sentido: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DEBUSCAEAPREENSÃO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.MORADESCARACTERIZADA. CONDUTA CONTRADITÓRIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. SUPRESSIO. RECURSO PROVIDO. I. Caso em Exame Agravo de instrumento interposto por devedor em contrato de alienação fiduciária contra decisão que deferiu pedido debuscaeapreensãodo veículo financiado, sob alegação de inadimplência. II. Questão em Discussão 2. A questão em discussão consiste em verificar: (i) se houve a caracterização válida damorado devedor, requisito essencial para abuscaeapreensão; (ii) se a conduta da instituição financeira, ao manter tratativas de renegociação concomitantemente ao ajuizamento da ação, descaracteriza amorae caracteriza comportamento contraditório. III. Razões de Decidir 3. Nos termos do Decreto-Lei nº 911/1969, a constituição emmorado devedor é requisito indispensável para abuscaeapreensão, devendo ser realizada mediante notificação válida. 4. A instituição financeira emitiu boletos parapagamentoapós ovencimentodasparcelase prosseguiu com negociações administrativas, gerando legítima expectativa no agravante quanto à regularização contratual. 5. A simultaneidade das negociações com o ajuizamento da ação configura conduta contraditória e ofende o princípio do nemo potest venire contra factum proprium, consolidado na jurisprudência pátria. 6. A aceitação dopagamentoposteriore a emissão de novos boletos caracterizam a supressio, demonstrando renúncia tácita à exigência devencimentoantecipadoda dívida. IV. Dispositivo e Tese 7. Recurso provido. Tese de Julgamento: "1. A manutenção de tratativas administrativas concomitantemente ao ajuizamento da ação pode descaracterizar amora, impedindo o prosseguimento da medida judicial. 2. A aceitação depagamentosem atraso e a emissão de novos boletos pelo credor financeiro podem configurar supressio, afastando ovencimentoantecipadoda dívida." Dispositivos relevantes citados: Decreto-Lei nº 911/1969, arts. 2º, § 2º, e 3º, § 2º; Código Civil, arts. 422 e 187; CPC, art. 485, IV. Jurisprudência relevante citada: Súmula 72/STJ; TJMT, AI 1010651-57.2024.8.11.0000; TJMT, AI 1019817-29.2020.8.11.0041. (N.U 1033067-19.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARCOS REGENOLD FERNANDES, Quinta Câmara de Direito Privado, Julgado em 18/02/2025, Publicado no DJE 21/02/2025) - Grifei Nesse sentido também as demais jurisprudências: RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – LIMINAR DE BUSCA E APREENSÃO DO VEÍCULO DEFERIDA – PAGAMENTO ADMINISTRATIVO AUTORIZADO PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA – AJUIZAMENTO SIMULTÂNEO DA BUSCA E APREENSÃO - NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM – DECISÃO REFORMADA – RECURSO PROVIDO I – Não há como admitir que, enquanto o preposto da instituição financeira agravada oferece proposta administrativa de pagamento do débito, com o devido aceite do devedor, seja ajuizada simultaneamente a ação de busca e apreensão. II – Trata-se de flagrante violação do primado do nemo potest venire contra factum proprium, que se dá a partir do comportamento inesperado e contraditório da mesma pessoa, na mesma relação jurídica. (TJMT – AI 1010651-57.2024.8.11.0000, Rela. Desa. SERLY MARCONDES ALVES, j. 16/06/2024). Ademais, embora o agravante também sustente que o contrato apresenta cláusulas abusivas quanto à taxa de juros, entendo que essa alegação exige dilação probatória e exame mais aprofundado da relação contratual, sendo questão própria para ação revisional autônoma, conforme reiteradamente decidido por esta Corte. Assim, essa tese não é analisada neste voto, sem prejuízo do direito do agravante de discutir a matéria na via adequada. Diante do exposto, conheço do recurso e DOU-LHE PROVIMENTO, para reformar a decisão agravada, revogar a liminar de busca e apreensão e restabelecer a posse do veículo ao agravante, se ainda não consolidada. Declaro prejudicado o Agravo Interno eventualmente interposto contra a decisão que concedeu tutela recursal (ID. 284704896), diante do julgamento de mérito do presente recurso. Por se tratar de recurso contra decisão interlocutória sem prévia fixação de honorários em primeira instância, deixo de condenar a parte agravante ao pagamento das verbas sucumbenciais. É como voto. Sebastião de Arruda Almeida Desembargador Relator Data da sessão: Cuiabá-MT, 15/07/2025

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Processo nº 1001977-24.2023.4.01.3400

ID: 260734216

Tribunal: TRF1 Órgão: 17ª Vara Federal Cível da SJDF Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001977-24.2023.4.01.3400

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF

Sentença Tipo B

Advogados:

BRUNA CAROLINE BARBOSA PEDROSA

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HENRIQUE RODRIGUES DE ALMEIDA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Distrito Federal 17ª Vara Federal Cível da SJDF SENTENÇA TIPO "B" PROCESSO: 1001977-24.2023.4.01.3400 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) POLO AT… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Distrito Federal 17ª Vara Federal Cível da SJDF SENTENÇA TIPO "B" PROCESSO: 1001977-24.2023.4.01.3400 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) POLO ATIVO: LEILA DO NASCIMENTO GOMES REPRESENTANTES POLO ATIVO: HENRIQUE RODRIGUES DE ALMEIDA - GO59189 POLO PASSIVO:UNIÃO FEDERAL e outros REPRESENTANTES POLO PASSIVO: BRUNA CAROLINE BARBOSA PEDROSA - PA018292 SENTENÇA Trata-se de ação de procedimento comum, com pedido de tutela de urgência, ajuizada por LEILA DO NASCIMENTO GOMES, em face do FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, UNIÃO FEDERAL, objetivando: (...) b) a concessão da tutela de urgência inaudita altera pars para suspender os efeitos dos artigos 17 e 18 da Portaria do MEC nº 38, de 22 de janeiro de 2021, bem como o item 3 do edital nº 79, de 18 de julho de 2022, que rege o processo seletivo do Fies referente ao segundo semestre de 2022, uma vez que alteram a legislação do Fies para evitar a fruição do direito à educação, previsto na Constituição Federal. E, dessa forma, determinar ao polo passivo que conceda o Fies à parte autora, uma vez que preenche todos os requisitos previstos em lei para se obter o financiamento; (...) d) no mérito, que seja confirmada a liminar concedida, garantindo à parte autora o direito de acesso ao Fies, e que seja declarado nulo o ato administrativo impugnado responsável por impedir a parte autora de ter acesso ao financiamento estudantil, a fim de repelir as arbitrariedades come- tidas durante o exercício da discricionariedade conferida à Administração Pública, considerando TOTALMENTE PROCEDENTE A PRESENTE DEMANDA, não confundindo-se o pedido liminar cortejado alhures, sendo este conferido tão somente a fim de garantir à parte autora o acesso ao financiamento estudantil mediante suspensão dos artigos que o impedem o direito, e o mérito da pre- sente demanda consiste em reconhecer a nulidade do ato administrativo que prejudicou a parte autora (negar o Fies não só com base na nota obtida no Enem por ser uma regra não prevista na lei que rege o Fies, mas também ao impossibilitar a parte autora até mesmo de fazer a tentativa administrativa); (...) A parte autora alega, em síntese, que pretende cursar medicina, e depende exclusivamente da bolsa do fies para dar continuidade aos seus estudos, mas vem sendo impedida de ter acesso ao Fies em decorrência da previsão contida nas portarias 38/2021 e 209/2018, que estabelecem o critério de ponto de corte da nota obtida na prova do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem. Donde pugna pela suspensão dos efeitos da restrição ao direito por que se caracteriza como uma verdadeira afronta à Lei n. 10.260/2001, visto que limita o acesso do estudante ao FIES baseado por classificação aritmética de sua nota obtida no Enem. Alega que preenche os requisitos legais e requer o acesso ao financiamento estudantil. Inicial instruída com procuração e documentos. Requer a concessão da justiça gratuita. Contestação do FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (id1654883986). Contestação da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (id1706649478). Contestação da UNIÃO FEDERAL (id1640895372). Réplica (id1839273158). Vieram os autos conclusos. Decido. No caso, a autora pretende que seja compelida a parte ré a firmar o contrato de financiamento estudantil ao fundamento de que, apesar de preencher os requisitos exigidos para concessão do benefício, viu frustrado seu pretenso direito, diante do critério de utilização da nota do ENEM para seleção e classificação dos candidatos. Pois bem. Ao Ministério da Educação foi delegada pelo legislador a competência legal para editar regulamentos sobre as regras de seleção de estudantes a serem financiados, devendo ser considerados a renda familiar per capita e outros requisitos (cf. art. 3º, inc. I, §1º da Lei n. 10.260/2001, com redação dada pela Lei nº 13.530/2017), tendo sido as regras de oferta de vagas regulamentadas por Portarias do MEC. Neste sentido, acerca da inscrição, classificação e pré-seleção nos processos seletivos do FIES e do P-FIES, assim como a obtenção de média mínima de notas do ENEM e de observância ao limite de renda, a Portaria n. 38, de 22/01/2021, do Ministério da Educação referente ao segundo semestre de 2021 dispõe: (...) Art. 9º As regras de inscrição, classificação, pré-seleção, complementação da inscrição e comparecimento à CPSA dos candidatos aptos a realizarem os demais procedimentos para serem financiados com recursos do Fies passam a ser regidas pelo disposto neste Capítulo, nos termos do art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei nº 10.260, de 2001, observadas as etapas preliminares constantes dos Capítulos I e II desta Portaria. (...) Art. 11. Poderá se inscrever no processo seletivo do Fies de que trata esta Portaria o candidato que, cumulativamente, atenda às seguintes condições: I - tenha participado do Enem, a partir da edição de 2010, e obtido média aritmética das notas nas cinco provas igual ou superior a quatrocentos e cinquenta pontos e nota na prova de redação superior a zero; e II - possua renda familiar mensal bruta per capita de até três salários mínimos. Art. 12. Compete exclusivamente ao candidato certificar-se de que cumpre os requisitos estabelecidos para concorrer ao processo seletivo referente ao segundo semestre de 2021, observadas as vedações previstas nesta Portaria, nos demais normativos do Fies e nas Resoluções do CG-Fies. (...) Art. 15. A inscrição dos candidatos no processo seletivo do Fies implica: I - a concordância expressa e irretratável com o disposto nesta Portaria, no Edital SESu e nos demais atos normativos do Fies; (...) Da classificação e da pré-seleção Art. 17. Encerrado o período de inscrição, em cumprimento ao disposto no § 6º do art. 1º da Lei nº 10.260, de 2001, e os limites de vagas, os candidatos serão classificados nos termos informados no Edital SESu, observada a seguinte sequência: (...) § 1º A nota de que trata o caput considerará a média aritmética das notas obtidas nas provas do Enem em cuja edição o candidato tenha obtido a maior média. (...) Art. 18. O candidato será pré-selecionado na ordem de sua classificação, nos termos do art. 17, observado o limite de vagas disponíveis, conforme as definições, os procedimentos e os prazos previstos no Edital SESu. (...) Com efeito, é essencial para uma correta destinação dos recursos públicos, a adoção de critérios para acesso ao FIES, pois, afinal, sendo tais recursos limitados, devem se prestar a financiar aqueles que têm melhores condições de aproveitamento, como bem pontuado pelo Ministro Luis Roberto Barroso, na decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 341/DF, que chancela a utilização do ENEM para fins de pré-seleção para candidatos a financiamento pelo FIES: (...) é inegável que a exigência de média superior a 450 pontos e de nota superior à zero na redação do ENEM é absolutamente razoável como critério de seleção dos estudantes que perceberão financiamento público para custeio de seu acesso ao ensino superior. Afinal, os recursos públicos – limitados e escassos – devem se prestar a financiar aqueles que têm melhores condições de aproveitamento. Trata-se, portanto, de exigência que atende aos imperativos de moralidade, impessoalidade e eficiência a que se submete a Administração Pública (art. 37, CF). (...) Por sua vez, a Primeira Seção do eg. STJ já firmou entendimento no sentido de que "o estabelecimento de condições para a concessão do financiamento do FIES insere-se no âmbito da conveniência e oportunidade da Administração, e, portanto, não podem ser modificados ou afastados pelo Judiciário, sendo reservado a este Poder apenas o exame da legalidade do ato administrativo, sendo-lhe defeso qualquer incursão no mérito administrativo" (STJ, MS nº 20.074/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe de 1º/07/2013; MS nº 201301473835, Rel. HERMAN BENJAMIN, DJE de 23/09/2014; EDMS nº 201400382153, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, DJE de 29/04/2015). Desse modo, não há irregularidade na adoção de critérios para concessão do financiamento estudantil, como no caso de exigência de desempenho mínimo nas provas do ENEM e de se dar prioridade a estudantes que não tenham concluído o Ensino Superior e também àqueles que não tenham sido beneficiados pelo próprio financiamento, dando-se, assim, oportunidade para quem ainda não a teve, situação que não significa impedimento ou limitação de acesso à educação. Diante de tais considerações, não se vislumbra elementos que evidenciem a existência do direito alegado. Ademais, a inclusão, no FIES, de beneficiários que não cumprem os pressupostos estabelecidos nas normas regulamentares, pode trazer, potencialmente, “desequilíbrio na execução das dotações orçamentárias reservadas ao programa” como bem destacado pela Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministra Maria Thereza De Assis Moura ao suspender os efeitos de 45 tutelas recursais deferidas antecipadamente pelo TRF/1, que determinaram a inclusão de estudantes no FIES. Por fim, no julgamento do IRDR nº 72 o Tribunal Regional Federal da 1° Região fixou a seguinte tese: 1) Observada a redação atualmente em vigor da Lei nº 13.530/2017 e da Portaria MEC 209/2018, o FNDE é parte legítima para responder às ações relativas ao FIES, na condição de agente operador, em relação aos contratos celebrados até o segundo semestre de 2017; em relação aos contratos do Fies celebrados a partir do primeiro semestre de 2018, o FNDE é parte legítima, como agente operador, nas ações nas quais se discutam os procedimentos realizados por meio do SisFies no âmbito da CPSA, até o encaminhamento da inscrição ao agente financeiro; 2) As restrições constantes das Portarias MEC 38/2021 e 535/2020 para fins de seleção de estudantes para a obtenção de financiamento estudantil pelo Fies, bem assim para a transferência de cursos mediante a realização de aditamento contratual, não extrapolam nem confrontam o regramento constitucional relativo ao direito à educação, tampouco a norma instituidora do Fies. (destaquei). Desse modo, a pretensão não merece acolhida. Ante o exposto, JULGO improcedente o pedido, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC. Condeno a parte autora ao pagamento de custas e de honorários advocatícios, estes fixados no importe de 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, §3º, I, CPC, ficando suspensa a execução enquanto persistirem os motivos que autorizaram o deferimento da assistência judiciária gratuita. Juntar cópia desta sentença no agravo de instrumento n° 1033067-31.2024.4.01.0000. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos. Publicada e registrada eletronicamente. Brasília/DF, na data da assinatura. ALAÔR PIACINI Juiz Federal

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Juerlei Pereira Da Silva x Energisa Mato Grosso - Distribuidora De Energia S.A.

ID: 329287942

Tribunal: TJMT Órgão: NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1033067-79.2025.8.11.0001

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

JUERLEI PEREIRA DA SILVA

Polo Passivo:

ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A.

Sentença

Advogados:

RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA

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DENILSON NASSARDEN PAIVA JUNIOR

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS PROJETO DE SENTENÇA Processo: 1033067-79.2025.8.11.0001. AUTOR: JUERLEI PEREIRA DA SILVA REQUERIDO: ENERGISA MA… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS PROJETO DE SENTENÇA Processo: 1033067-79.2025.8.11.0001. AUTOR: JUERLEI PEREIRA DA SILVA REQUERIDO: ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. Vistos. Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de demanda intitulada de “RECLAMAÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO” proposta por JUERLEI PEREIRA DA SILVA contra ENERGISA MATO GROSSO – DISTRIBUIDORA DE ENERGIA, alegando, resumidamente, que a parte ré restringiu o CPF dele por débito que desconhece e serviço/produto que não contratou/adquiriu, o que lhe gerou danos, pedindo, em suma, "c) a total procedência da presente ação, para: c.1) declarar por sentença, a inexistência de todos os débitos registrados em nome da parte requerente junto à parte Requerida, em especial a cobrança da data de 30/07/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos) bem como outras restrições datadas em 29/08/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 28/09/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 28/10/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 27/11/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 27/12/2020, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 26/01/2021, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 25/02/2021, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos), 27/03/2021, no valor de R$ 247,36 (duzentos e quarenta e sete reais e trinta e seis centavos) e em 26/04/2021, no valor de R$ 247,40 (duzentos e quarenta e sete reais e quarenta centavos), excluindo definitivamente seu nome dos Órgãos de Proteção ao Crédito, bem como o seu cancelamento no sistema operacional interno da empresa em questão (restrição interna); c. 2) condenar, ainda, ao pagamento a título de REPARAÇÃO DO DANO MORAL causado a parte Autora no valor de R$8.000,00 (oito mil reais), valor que deve ser devidamente atualizado nos termos das Súmulas 54 e 362 do STJ;". Citada, a parte ré apresentou documentos e contestação em que trouxe defesa diversa à pretensão da parte autora, defendendo, em síntese, que essa contratou os serviços de energia elétrica, usufruiu deles e não pagou as faturas, o que levou à negativação do nome dela. A parte autora impugnou a contestação. Fundamento. Decido. MÉRITO A inteligência do art. 6º da Lei nº. 9.099/95 nos mostra que o Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime atendendo os fins sociais da Lei e as exigências do bem comum. Isso demonstra que o Juízo poderá valer-se da interpretação teleológica com mais liberdade, como forma de buscar a solução mais justa para o caso, permitindo uma discricionariedade amparada na Lei. Assim é pacífico que: "O Juiz não está obrigado a responder todas as alegações das partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundamentar a decisão, nem se obriga a ater-se aos fundamentos indicados por elas e tampouco a responder um a um todos os seus argumentos" (RJTJSP, 115:207). Verifico que a matéria de fato já está satisfatoriamente demonstrada pelas provas carreadas ao bojo dos autos, e para evitar a prática de atos inúteis ou protelatórios e, conhecendo diretamente do pedido, passo para o julgamento antecipado do feito nos termos do artigo 355, I, do Código de Processo Civil. Nesse contexto, sem dúvida, é irrelevante a produção de prova pericial e testemunhal para deslinde do feito, o que afasta qualquer alegação futura de cerceamento de defesa. Consigno que o processo tramitou regularmente, com estrita observância aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Foram também respeitados os prazos, oportunizada a manifestação aos litigantes quanto à produção de provas, estando isento de prejuízos ou nulidades capazes de viciar o feito, significando dizer que o processo está pronto para julgamento. Prosseguindo, é de se considerar que a relação havida entre as partes é indiscutivelmente de consumo, aplicando-se ao caso o Código de Defesa do consumidor, tendo em vista que a parte autora é destinatária final da prestação do serviço, enquanto a empresa ré figura como fornecedora de serviços, conforme os conceitos legais dos artigos 2º e 3º da Lei nº 8.078/90. Logo, forçosa a incidência dos princípios estatuídos na legislação consumerista, em especial o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e a facilitação de sua defesa, bem como a responsabilidade objetiva da fornecedora, independentemente de culpa, pela reparação dos danos que causar ao consumidor por defeitos na prestação do serviço (artigo 4º, inciso I, artigo 6º, inciso VIII, e artigo 14, todos da Lei 8.078/90). No caso em testilha, verifico que a parte autora é usuária dos serviços da parte ré desde 05/03/2020, não adimplindo os débitos geradores da negativação do nome dela (Id 198826479). Logo, emerge do acervo probatório dos autos que a parte ré nenhuma ilicitude praticou. Tal circunstância autoriza a prática da parte ré e exclui o nexo de causalidade entre a conduta dela e o resultado apontado como lesivo ao patrimônio e à honra subjetiva da parte autora. A propósito: "RECURSO INOMINADO Nº 1017202-44.2024.8.11.0003. ORIGEM: 1º JUIZADO ESPECIAL DE RONDONÓPOLIS RECORRENTE: JOAO VICTOR OLIVEIRA ROCHA RECORRIDO: ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. JUIZ RELATOR: ARISTEU DIAS BATISTA VILELLA E M E N T A RECURSO INOMINADO - ORIGEM DO DÉBITO COMPROVADA - AUSÊNCIA DE PROVA DA QUITAÇÃO DA OBRIGAÇÃO - CONSUMIDOR INADIMPLENTE - INSCRIÇÃO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO - DANO MORAL - IMPROCEDÊNCIA MANTIDA INOCORRÊNCIA - RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Se foi comprovada a origem da dívida, a inscrição do nome da parte devedora efetuada em órgão de proteção ao crédito é devida. 2. A inclusão do nome da parte consumidora inadimplente nos órgãos de proteção ao crédito constitui exercício regular do direito e não dá ensejo a indenização por dano moral. 3. Recurso Conhecido e não provido. RELATÓRIO Trata-se de recurso inominado interposto contra a sentença que, nos autos de Ação Condenatória por Danos Morais julgou improcedentes os pedidos iniciais. A parte Recorrente requer a reforma da sentença, a fim de que o pedido inicial seja julgado procedente e a Recorrida condenada em danos morais. A Recorrida em contrarrazões, pugna pela manutenção da sentença. É o relatório. DECISÃO MONOCRÁTICA A parte Recorrente ingressou com a presente ação aduzindo que teve seu nome negativado por um débito que desconhece. De outro lado a empresa contestou suficientemente a ação, carreando aos por meio de ordem de serviços, contrato de aluguel e documentos pessoais apresentados para troca de titularidade , histórico de contas com registro de pagamentos demonstrando a existência de contratação e utilização do serviço., restando cabalmente comprovada a dívida originária, prevalecendo a tese defensiva. Deste modo, demonstrada a origem lícita da obrigação, ora questionada, entendo que a parte Recorrida não cometeu qualquer ilegalidade ou abuso de poder, ao proceder a negativação do nome da parte consumidora nos órgãos de proteção ao crédito. Por fim, ressalto que havendo dívida em aberto, correta a r. sentença recorrida que julgou improcedente os pedidos constantes na petição inicial. Ante ao exposto, CONHEÇO do recurso, e NEGO-LHE PROVIMENTO, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Diante do resultado do julgamento, condeno a parte recorrente ao pagamento das custas e honorários advocatícios, os quais arbitro em 10% sobre o valor atualizado da causa, suspensa a exigibilidade, nos moldes do artigo 98§3º do CPC. Preclusa a via recursal, remetam-se os autos ao Juizado de origem. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. Cuiabá-MT, data lançada no Sistema. ARISTEU DIAS BATISTA VILELLA Juiz de Direito Relator (N.U 1017202-44.2024.8.11.0003, TURMA RECURSAL CÍVEL, ARISTEU DIAS BATISTA VILELLA, Terceira Turma Recursal, Julgado em 13/11/2024, Publicado no DJE 13/11/2024) Portanto, improcedentes os pedidos iniciais. Não é tudo. A análise detida dos autos revelou que o lastro probatório juntado é suficiente para comprovar a higidez da contratação do serviço e da negativação do nome da parte autora, na medida em que a parte ré acostou documentos que comprovam a origem do débito questionado, a livre manifestação de vontade da parte autora em contratar o serviço e o inadimplemento da obrigação dessa. A conduta da parte autora de alterar a verdade dos fatos configura litigância de má-fé, conforme o artigo 80, inciso II, do Código de Processo Civil, impondo-se a condenação a esse título, com fulcro no artigo 55 da Lei 9.099/95 c/c artigo 81 do Código de Processo Civil. A seu turno, registro que é imposto ao advogado atuar com honestidade, veracidade, lealdade, boa-fé, desaconselhar lides temerárias, a partir de um juízo preliminar de viabilidade jurídica (art. 2º, Parágrafo único, incisos II e VII, do Código de Ética e Disciplina da OAB), sob pena de responder, na falta de seus deveres, perante o conselho de ética e disciplina do OAB, restando, desde já, advertido o subscritor da inicial que, reincidindo em conduta semelhante, este juízo adotará as medidas cabíveis. É inadmissível que demandas assim gerem ônus para o erário público, tumultue a já sobrecarregada pauta de audiência e se pratique tantos outros atos processuais sem qualquer sanção em desfavor da parte faltosa. Nesse sentido: "EMENTA: RECURSO INOMINADO CÍVEL. CONSUMIDOR. BANCÁRIO. PRELIMINAR DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE AFASTADA. MÉRITO. CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO. COMPROVAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA DIRECIONADA À RECORRENTE. AUTENTICIDADE DA TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA NÃO IMPUGNADA PELA PARTE AUTORA. EXTRATO DA CONTA BANCÁRIA NÃO APRESENTADO. COMPROVAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA E ORIGEM DO DÉBITO. DÍVIDA LEGÍTIMA. ATOS DE COBRANÇA. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO. CADASTRO DE INADIMPLENTES. INSCRIÇÃO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. AUSÊNCIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONHECIDA DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1- As razões recursais que abordam, detalhadamente, todos os pontos fático-jurídicos expostos na sentença recorrida, não indica ofensa ao princípio da dialeticidade. Precedentes. (STJ – 1ª T - AgInt no AgInt no AREsp n. 2.224.941/CE – rel. Ministro Gurgel de Faria – j. 19/6/2023 - DJe 30/6/2023) e (STJ – 5ª T - AgRg no HC n. 752.579/BA – rel. Ministro João Batista Moreira (Desembargador Convocado do TRF1). 2- Demonstrada a efetiva utilização do serviço, com a liberação do crédito contratado mediante transferência bancária em nome do contratante (TED não impugnado) não se mostra suficiente a negativa isolada de contratação, decorrente de fraude. 3- Nos termos da Súmula 34/TRTJMT, os documentos produzidos unilateralmente (telas sistêmicas), se corroboradas por outros elementos probatórios, serão admissíveis à comprovação da relação contratual entre as partes. 4- Inexistindo a demonstração de ato ilícito praticado, inocorrente dano moral indenizável. 5- O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a empresa que realiza mera consulta aos cadastros restritivos é parte ilegítima para responder pelo descumprimento do dever de notificação prévia da inscrição do nome do consumidor, cuja obrigação é da instituição mantenedora do banco de dados. 6- A alteração da verdade dos fatos, sujeita a parte responsável nas penas da litigância de má-fé, na forma do art. 80, II, do CPC. Por ser matéria de ordem pública, o reconhecimento da litigância de má fé, em desfavor do Recorrente, não constitui reformatio in pejus. Precedentes. (STJ – 4ª T - AgRg no Ag: 1226379 RS 2009/0116790-6 – rel. Ministro RAUL ARAÚJO – j. 07/04/2011 - DJe 18/04/2011) e (TJSP - 17ª CDPv – RApC nº 1011656-44.2022.8.26.0590 – rel. Desembargador Luís H. B. Franzé – j. 19/12/2023). 7- Sentença mantida por seus próprios fundamentos, nos termos do artigo 46, da Lei n.º 9.099/95 c.c. art. 60, §§1º e 2º do Regimento Interno das Turmas Recursais Cíveis e Criminais dos Juizados Especiais do Estado de Mato Grosso (Resolução TJMT/OE n.º 016/23/TJMT), fazendo parte integrante deste voto. 8- Com fundamento no artigos 80, II (alterar a verdade dos fatos), e 81, do CPC c.c. art. 55, da Lei nº 9.099/95, condeno a parte Recorrente: 8.1) como litigante de má fé, na multa no importe de 9,9% (nove vírgula nove por cento) sobre o valor dado à causa, em favor da parte Recorrida; 8.2) ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes que arbitro: 8.3) inexistindo condenação em primeiro grau, em 15% (quinze por cento) sobre o valor corrigido da causa; 8.4) havendo condenação, em 20% (vinte por cento) sobre o valor desta; 8.5) em sendo o valor dado à causa até 10 (dez) salários mínimos, os honorários serão no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), nos termos do art. 85, §§8º e 8º-A, do CPC; 8.6) fica ressalvado eventual benefício da Justiça Gratuita, em relação à execução das verbas sucumbenciais. 9- Preclusa a via recursal, retornem os autos ao Juizado de origem." (N.U 1074968-95.2023.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, WALTER PEREIRA DE SOUZA, Primeira Turma Recursal, Julgado em 05/08/2024, Publicado no DJE 09/08/2024) Assim, condenar a parte autora em litigância de má-fé é medida que se impõe. Considero suficientemente apreciada a questão posta a julgamento, até porque o julgador não está obrigado a atacar um por um os argumentos das partes, mas somente expor os seus, de modo a justificar a decisão tomada, atendendo, assim, ao requisito insculpido no artigo 93, IX, da Constituição Federal, e na ordem legal vigente. Por fim, em atenção ao disposto no art. 489, § 1º, inciso IV, do Código de Processo Civil, registre-se que os demais argumentos apontados pelas partes não são capazes de infirmar a conclusão acima, podendo ser considerado como ato protelatório e fixada multa, a eventual oposição de embargos de declaração para rediscutir a demanda. DISPOSITIVO Diante do exposto, nos termos do artigo 487, I, do CPC, OPINO que seja julgado IMPROCEDENTE o pedido formulado na inicial, sem olvidar da CONDENAÇÃO da parte autora por litigância de má-fé, porque alterou a verdade dos fatos, a multa no importe de 3% (três por cento) sobre o valor dado à causa, em favor da parte ré; também ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, esse que arbitro em 5% (cinco por cento) sobre o valor corrigido da causa, consequentemente, extinguindo o processo. Intimem-se. Transitado em julgado e se nada for requerido, remetam-se os autos ao arquivo, com as cautelas e anotações necessárias. Cumpra-se, expedindo-se o necessário. Consoante o disposto no art. 40, da Lei nº 9.099/95, submeto o presente à apreciação do MM. Juiz de Direito. Welton Sodré da Silva Diniz Juiz Leigo SENTENÇA Vistos. HOMOLOGO, para que produzam seus jurídicos e legais efeitos, o Projeto de Sentença, retro, na forma do art. 40 da Lei 9099/95 e art. 8º, Parágrafo Único da Lei Complementar Estadual nº 270 de 02 de abril de 2007. PUBLIQUE-SE. INTIME-SE. CUMPRA-SE. Cuiabá-MT, 17 de julho de 2025. ANA CRISTINA SILVA MENDES Juíza de Direito I, do Núcleo de Justiça Digital dos Juizados Especiais de Cuiabá.

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Processo nº 1033067-18.2021.8.11.0002

ID: 325077779

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara Criminal Classe: APELAçãO CRIMINAL Nº Processo: 1033067-18.2021.8.11.0002

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

ROGERIO MIRANDA GOMES JUNIOR

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1033067-18.2021.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CRIMINAL (417) Assunto: [Crimes de Tráfico Ilícito e Uso Indevido de Drogas] Re… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1033067-18.2021.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CRIMINAL (417) Assunto: [Crimes de Tráfico Ilícito e Uso Indevido de Drogas] Relator: Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO Turma Julgadora: [DES(A). RUI RAMOS RIBEIRO, DES(A). JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES, DES(A). PAULO SERGIO CARREIRA DE SOUZA] Parte(s): [WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA - CPF: 013.966.811-08 (APELANTE), ROGERIO MIRANDA GOMES JUNIOR - CPF: 014.939.021-13 (ADVOGADO), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (APELADO), ANDRE LUIZ MARCONDES NUNES - CPF: 892.727.901-82 (TERCEIRO INTERESSADO), DEISE AUXILIADORA PEREIRA LEITE - CPF: 460.631.371-49 (TERCEIRO INTERESSADO), DENILSON MARCELO REZENDE - CPF: 060.434.541-06 (TERCEIRO INTERESSADO), MARCOS TULIO SOARES DA SILVA - CPF: 022.100.981-73 (TERCEIRO INTERESSADO), DENILSON OLIVEIRA SILVA - CPF: 067.837.201-28 (TERCEIRO INTERESSADO), FLAVIANA FRANCISCA REZENDE - CPF: 012.912.351-08 (TERCEIRO INTERESSADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A APELAÇÃO CRIMINAL –SENTENÇA CONDENATÓRIA – TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS E DESOBEDIÊNCIA – PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS COMPROVADAS – DEPOIMENTOS DE POLICIAIS MILITARES FIRMES E COERENTES – ENUNCIADO CRIMINAL Nº 8/TJMT – FALSA VERSÃO APRESENTADA POR TESTEMUNHAS DE DEFESA – PRETENDIDO AFASTAMENTO DA CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NO ARTIGO 40, INCISO VI, DA LEI DE DROGAS – IMPOSSIBILIDADE – ENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTE NA PRÁTICA DO NARCOTRÁFICO DEVIDAMENTE DEMONSTRADO – PRETENDIDA APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4º DO ARTIGO 33 DA LEI 11.343/2006 – IMPOSSIBILIDADE – RÉU MULTIRREINCIDENTE – PLEITO DE DETRAÇÃO PARA FINS DE ALTERAÇÃO DE REGIME – MATÉRIA AFETA AO JUÍZO DE EXECUÇÃO PENAL – REGIME FECHADO MANTIDO EM RAZÃO DA REINCIDÊNCIA – RECURSO DESPROVIDO. 1. A condenação por tráfico de drogas deve ser mantida quando as provas produzidas durante a instrução processual, especialmente os depoimentos dos policiais militares responsáveis pela abordagem e prisão do réu, demonstram de forma inequívoca a traficância, mormente quando as declarações prestadas pelo acusado e suas testemunhas são contraditórias entre si e claramente inverossímeis. 2. Os depoimentos de policiais, desde que harmônicos com as demais provas, são idôneos para sustentar a condenação criminal, conforme Enunciado Criminal nº 8 do TJMT. 3. Comprovado que o apelante envolveu adolescente na prática do tráfico de drogas, correta a aplicação da causa de aumento de pena prevista no artigo 40, inciso VI, da Lei nº 11.343/2006. 4. O réu multirreincidente não faz jus à aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do artigo 33 da Lei de Drogas, pois essa condição, por si só, evidencia a dedicação às atividades criminosas. 5. A análise do pedido de detração penal é de competência exclusiva do Juízo da Execução Penal, nos termos do artigo 66, III, "c", da Lei de Execução Penal. Ademais, a reincidência do réu inviabiliza o abrandamento do regime inicial de cumprimento de pena, nos termos do artigo 33, § 2º, "b", do Código Penal. R E L A T Ó R I O Trata-se de apelação criminal interposta por WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA contra a sentença proferida pelo Juízo da 3ª Vara Criminal da Comarca de Várzea Grande/MT, que julgou parcialmente procedente a denúncia para condená-lo às penas de 6 (seis) anos, 9 (nove) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, em regime inicial fechado, além de 17 (dezessete) dias de detenção e pagamento de 691 (seiscentos e noventa e um) dias-multa, como incurso nas sanções do artigo 33, caput, c/c artigo 40, VI, ambos da Lei nº 11.343/2006, com as implicações do art. 2º da Lei nº 8.072/90, e art. 330, caput, do Código Penal, em concurso material, na forma dos artigos 29, caput, 61, I, e 69, caput, todos do Código Penal. Em suas razões recursais (ID 259860154), o apelante pleiteia: 1. Absolvição por insuficiência de provas em relação ao crime de tráfico de drogas, com fundamento no artigo 386, inciso VII, do CPP, alegando inconsistência nos depoimentos dos policiais em confronto com os dados do monitoramento eletrônico do apelante; 2. Subsidiariamente, o afastamento da causa de aumento de pena prevista no artigo 40, inciso VI, da Lei nº 11.343/2006; 3. A reforma da dosimetria da pena, com fixação da pena-base no mínimo legal e reconhecimento do tráfico privilegiado; 4. A consideração da detração do período em que o réu permaneceu preso para fins de imposição do regime inicial de cumprimento de pena. O Ministério Público, em contrarrazões (ID 263860253), manifestou-se pelo desprovimento do recurso. A Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer de lavra do Procurador de Justiça Dr. Gill Rosa Fechtner (ID 265077296), também opinou pelo desprovimento do recurso, assim sintetizando: “Apelação criminal. Tráfico de drogas com envolvimento de adolescente e desobediência. Sentença condenatória. Irresignação da Defesa. 1. Pretendida absolvição por insuficiência de provas. Improcedência. Prova segura da autoria e materialidade do narcotráfico. Depoimentos dos policiais em harmonia com o contexto probatório. Réu presos em flagrante na posse de substâncias entorpecentes que seriam destinadas à mercancia ilícita. 2. Pretendido o afastamento da causa de aumento de pena prevista no artigo 40, inciso VI, da Lei 11.343/06. Impossibilidade. Réu que evidentemente envolveu adolescente (seu filho) na empreitada criminosa. 3. Almejado o reconhecimento e aplicação da causa especial de diminuição de pena do tráfico privilegiado. Impossibilidade. Réu multirreincidente. Requisitos não preenchidos para concessão da benesse. Precedentes. 4. Almejada a detração da pena, a fim de que seja alterado o regime inicial de cumprimento de pena. Impossibilidade. Matéria afeta ao juízo das execuções penais. Reincidência do réu que obsta a alteração do regime inicial de cumprimento de pena. Parecer pelo desprovimento do recurso, para que seja mantida intacta a sentença recorrida.” É o relatório. V O T O R E L A T O R Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. 1. DA ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS Segundo consta dos autos, no dia 18 de setembro de 2021, por volta das 21h45min, na Avenida Transpantaneira, bairro Jardim Marajoara, em Várzea Grande/MT, policiais militares em patrulhamento visualizaram dois indivíduos em uma motocicleta em alta velocidade, que empreenderam fuga ao receberem ordem de parada. Após acompanhamento, os policiais abordaram o veículo e identificaram o acusado Willian e seu filho adolescente Denílson Marcelo. Durante a abordagem, foram encontradas 10 (dez) porções de cocaína com o réu Willian e mais 14 (quatorze) porções também de cocaína, além da quantia de R$ 1.330,00 (mil trezentos e trinta reais) com o adolescente. Em diligências complementares, os policiais foram até a residência da corré Flaviana Francisca Rezende, ex-esposa de Willian e mãe do adolescente, onde apreenderam 01 (um) tablete de maconha, 01 (uma) balança de precisão e 01 (um) caderno contendo anotações do comércio de drogas. O Laudo Pericial nº 3.14.2021.79252-01 apontou resultado positivo para a presença de MACONHA e COCAÍNA, pesando respectivamente, 529,72g (quinhentos e vinte e nove gramas e setenta e dois centigramas) e 46,11g (quarenta e seis gramas e onze centigramas). O pleito absolutório não comporta acolhimento. Transcrevo a sentença proferida: “...Relatados decido. Preliminarmente, esclareça-se que, em princípio havia elementos objetivos seguros e racionais que justificaram a abordagem policial inicial, visto que, consoante os elementos de prova, na data dos fatos, policiais militares em rondas, avistaram uma motocicleta em alta velocidade, às 21h45min, ocupada pelo acusado Willian e o adolescente Denílson, que, ao notarem a aproximação da viatura, puseram-se em fuga, pelo que, foi feito o acompanhamento e a abordagem e, na busca pessoal, foram encontradas 10 (dez) porções de cocaína com Willian e mais 14 (quatorze) porções também de cocaína e a quantia de R$ 1.330,00 (mil trezentos e trinta reais), justificando o desdobramento da diligência com o encontro de entorpecente em poder do coacusado Denílson e também na residência dele e da coacusada Flaviana. Não há nenhuma ilegalidade na ação policial. Em situação assemelhada, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu: “[...]. 3 - Não há ilegalidade flagrante a ser sanada de ofício. Do que consta da sentença, havia justa causa para a busca pessoal, que ocorreu após os policiais darem ordem de parada para o paciente que desobedeceu e empreendeu fuga - o condutor Matheus empreendeu alta velocidade ao bólido, iniciando fuga, com consequente perseguição, que transcorreu diversos quarteirões, na contramão, fechando-se cruzamento, sem respeito a semáforos (fl. 29)...". (AgRg no HC n. 784.837/SP, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 14/8/2023, DJe de 18/8/2023). Destaquei. Assim, a abordagem inicial e seus derivados são plenamente hígidos. Também a indicação da origem da droga autorizou as buscas posteriores nas residências. Afastada a ocorrência de nulidade da prova, passa-se à análise do mérito. Da materialidade. Não há qualquer dúvida quanto a materialidade do crime de tráfico em questão, a qual restou devidamente consubstanciada no laudo definitivo de análise da substância apreendida nº 3.14.2021.79252-01 (id. 67931059). Tal laudo é esclarecedor ao relatar o resultado POSITIVO para a presença de Cannabis sativa L. (MACONHA), planta que possui entre seus constituintes o canabinóide THC (tetrahidrocanabinol) e COCAÍNA. Da autoria. Primeiramente vejamos a situação processual do acusado Denílson Oliveira Silva. Não há elementos suficientes a revelar a autoria do crime de tráfico, nos termos em que capitulados na inicial e ratificados pelo Ministério Público nas alegações finais. Na fase inquisitorial o acusado Denílson (id. 87986412 – p. 27/29): “[...]. QUE, sobre os fatos, estava caminhando na via pública quando foi abordado pela guarnição da PM, ocasião em que encontraram uma única porção de drogas em um de seus bolsos e também a quantia em dinheiro de R$ 20,00; QUE, nega ter sido abordado com 01 tablete médio de drogas; QUE, não é traficante, apenas viciado; QUE, de todos os outros presos, conhece apenas BRENO, pois são vizinhos...”. Destaquei. Em juízo (mídia), negou a traficância afirmando ser viciado em drogas e que, no dia dos fatos, estava na casa de seu amigo Breno consumindo entorpecente quando a polícia chegou. Correu juntamente com os demais presentes, todavia, foi abordado pelos policiais que encontraram em seu poder uma porção de cocaína para uso pessoal e vinte reais. Não tinha negócios com Willian e Flaviana nem com o adolescente. Disse que o lugar onde foi abordado é utilizado por usuários de drogas. As testemunhas André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, em juízo (mídia), confirmaram as declarações prestadas na fase inquisitorial, narrando que, em ronda nos fundos do Parque Berneck, se depararam com uma motocicleta, ocupada pelo acusado Willian e seu filho adolescente Denílson, em alta velocidade, pelo que, foram imitidos sinais luminosos e sonoros de parada, os quais foram desobedecidos. Lograram, por fim, abordar o veículo e, na busca pessoal, foram encontrados entorpecentes e dinheiro com Willian e o adolescente. Acrescentaram que, por indicação de Willian e do adolescente, se dirigiram a residência do acusado Denílson, que tentou fugir, porém, foi abordado e, na busca pessoal, encontraram entorpecente e dinheiro. Veja-se que, ao cabo da instrução, as provas dos autos não revelam a este juízo que a porção de cocaína apreendida com o acusado seria destinada à traficância. Também não ficou demonstrado o liame subjetivo entre o entorpecente encontrado na posse de Denílson com aqueles apreendidos com Willian e o adolescente. Além do mais, não foram apreendidos em poder do acusado quaisquer outros elementos indicativos de que estivesse traficando, tais como balança, papelotes ou objetos/substâncias comumente utilizados no preparo da droga. Destarte, não havendo no feito elementos a indicar com robustez a destinação de tráfico no que se refere à droga apreendida e não sendo a quantidade incompatível com a destinação de uso, aliada à confissão da destinação da droga ao uso pessoal, é forçoso concluir que as provas produzidas judicialmente apresentam-se demasiadamente frágeis para justificar a imposição de uma sanção penal por tráfico. Diante disso, é impositiva a desclassificação, ficando por conta do art. 28 da Lei n. 11.343/2006. Dos acusados Willian Mello Rodrigues da Silva e Flaviana Francisca Rezende. Vejamos o que disseram os acusados na fase inquisitorial. Flaviana (id. 87986412 – p. 30/32) utilizou o direito constitucional de permanecer em silêncio. Willian (id. 87986412 – p. 33/35): “[...]. QUE, sobre os fatos, nega ter sido abordado na garupa da motocicleta de seu filho; QUE, nega estar portando qualquer tipo de drogas ou objetos ilícitos; QUE, na verdade, estava passando de veículo com um conhecido, ao ver seu filho DENILSON MARCELO REZENDE DA SILVA sendo abordado pelos policiais militares, foi ao local para ver o que estava acontecendo, momento em que foi detido e encaminhado para uma casa desconhecida, local onde foi torturado pelos policiais para que informasse onde havia drogas; QUE, nem o interrogado nem seu filho DENILSON estavam com drogas durante a abordagem; QUE, não conhece os demais detidos, BRENO e DENILSON e sobre sua ex-esposa, FLAVIANA, mãe de DENILSON MARCELO, não sabe sobre a existência de drogas na casa dela; QUE, aberta a palavra para o advogado, este perguntou ao seu cliente quais eram os nomes das pessoas que estavam no carro e o interrogado disse que se chamam ADILSON DE TAL e FELIPE DE TAL, testemunhas que poderão confirmar sua versão...”. Destaquei. Em juízo (mídia), os acusados, negando a autoria do tráfico de drogas, deram suas versões aos fatos. Willian esclareceu que sua esposa é evangélica e, no dia dos fatos, realizaria um culto em sua residência. Como não tem religião, foi para casa de sua mãe em Várzea Grande, com dois amigos, em um carro emprestado. De lá, foi levar seu amigo Adilson na casa dele. No percurso viu seu filho Denílson sendo abordado pelos policiais. Foi verificar o que estava acontecendo. Os policiais mandaram sair do local e não saiu. Então foi algemado, colocado na viatura e levado para uma residência no bairro Eldorado onde foi agredido com sacoladas e também foi enforcado. Em seguida foi levado para a casa da acusada Flaviana, sua ex-mulher e mãe do seu filho, onde os policiais disseram ter encontrado entorpecente. Não sabe onde o acusado Denílson mora, mas acredita que é no bairro Eldorado, pois já morou naquela região. Flaviana explicou que seu filho Denílson, o qual é fruto de um relacionamento com o acusado Willian, não estava em casa no dia dos fatos. Recebeu uma ligação da atual esposa de Willian avisando que Denílson e Willian haviam sido presos. Preparava-se para ir à delegacia quando foi abordada pelo policial Marcondes, em frente à residência, pedindo para entrar na casa. Autorizou a entrada e, na busca domiciliar, os policiais não encontraram drogas nem outros objetos. Mesmo assim foi agredida pelos policiais e colocada na área da casa. Posteriormente um dos policiais disse ter encontrado entorpecente em uma casa vizinha, que pertence ao seu irmão, cujo imóvel era alugado e um mês antes destes fatos, os policiais encontraram drogas na referida casa. Afirmou que não tem nenhum problema com os policiais que efetuaram sua prisão e desconhece os motivos pelos que eles disseram ter encontrado drogas em sua residência. Vejamos os demais elementos de prova. As testemunhas André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, em juízo (mídia) confirmaram as declarações prestadas na fase inquisitorial, narrando que, em rondas nos fundos do Parque Berneck, se depararam com uma motocicleta, ocupada pelo acusado Willian e seu filho adolescente Denílson, em alta velocidade, pelo que, foram emitidos sinais luminosos e sonoros de parada, os quais foram desobedecidos. Lograram, por fim, abordar o veículo e, na busca pessoal, foram encontrados entorpecentes com Willian e o adolescente. Consignaram que o acusado Willian estava muito nervoso. Acrescentaram que, por indicação de Willian e o adolescente, se dirigiram a residência do acusado Denílson, que tentou fugir, porém, foi abordado e, na busca pessoal, encontraram entorpecente e dinheiro. E, após, na residência da acusada Flaviana, ex-esposa de Willian e mãe do adolescente Denílson, foram encontrados mais entorpecentes, balança de precisão e caderno de anotações com valores e quantidade da droga comercializada. As testemunhas Felipe Henrique da Silva e Adailson Jorge Leite Júnior, indicadas pela defesa do acusado Willian, em juízo (mídia), declararam: Felipe disse que no dia dos fatos foi com Willian na casa da mãe dele ingerir bebida alcoólica. Quando retornavam para suas residências, de carro, onde também estava seu filho recém-nascido, viram o adolescente Denílson, filho de Willian, em uma motocicleta, sendo abordado pelos policiais. Pararam para ver o que estava acontecendo e os policiais prenderam Willian. Willian não portava drogas. Denílson morava com a acusada Flaviana, mãe dele, de quem Willian era separado. Adailson contou que na data dos estava na casa de Willian, no bairro Novo Paraíso, em Cuiabá, quando ele recebeu uma ligação da mãe pedido para ir visitá-la. Vieram para Várzea Grande em um veículo. Passado algum tempo, sua genitora ligou pedindo ir vê-la no bairro Parque do Lago, em Várzea Grande. Pediu para Willian levá-lo. No percurso viram o adolescente Denílson, filho de Willian, abordado pelos policiais. Willian parou para ver o que estava acontecendo. Willian não portava nenhum entorpecente, nem ingeriram bebidas alcoólicas na casa da mãe de Willian, por ser evangélico. Diz que tinha outra pessoa no veículo, que, inclusive, estava dirigindo o veículo, mas não o conhecia. Como também não conhece a acusada Flaviana. Pois bem, as versões apresentadas pelos acusados são destoantes e não se sobrepõem as demais provas dos autos, as quais demonstraram concretamente a responsabilidade penal dos acusados pelo tráfico em concurso, com unidade de propósitos e identidade de desígnios em relação aos entorpecentes apreendidos com Willian e o seu filho adolescente e aqueles aprendidos na residência da acusada Flaviana, frise-se, onde Denílson coabitava, mormente pelos depoimentos dos policiais militares, em ambas as fases, segundo os quais, em rondas, avistaram uma motocicleta em alta velocidade, às 21h45min, ocupada pelo acusado Willian e o adolescente Denílson, que, ao notarem a aproximação da viatura, puseram-se em fuga, pelo que, foi feito o acompanhamento do veículo e a abordagem e, na busca pessoal, foram encontradas 10 (dez) porções de cocaína com Willian e mais 14 (quatorze) porções também de cocaína e a quantia de R$ 1.330,00 (mil trezentos e trinta reais) e, após, na residência de Flaviana foram apreendidos 01 (um) tablete de maconha, 01 (uma) balança de precisão e 01 (um) caderno de anotações do tráfico de drogas (boletim de ocorrência e termo de apreensão id. 87986412 — p. 14/15 e 70/75), revelando a ocorrência do tráfico de droga consistente na modalidade “trazer consigo” e “ter em depósito” variedades e entorpecentes para destinação mercantil. Registre-se que a pluralidade de tipos de drogas se constitui em elemento a indicar fortemente o tráfico, conforme remansoso entendimento, inclusive de nosso TJMT. A versão do acusado Willian, corroborada pelas testemunhas Felipe Henrique da Silva e Adailson Jorge Leite Júnior, na tentativa de desvirtuar o ocorrido, não merece crédito, já que se trata, em verdade, de uma versão fantasiosa e flagrantemente contraditória acerca dos fatos, não amparada por nenhum elemento de prova que a confirmasse minimamente. Vejamos. Felipe assegura que estavam na casa da mãe de Willian ingerido bebidas alcoólicas. Adilson disse estava na casa de Willian, em Cuiabá/MT, quando a mãe dele ligou pedindo para ir visitá-la. Então acompanhou Willian até a casa da mãe dele em Várzea Grande. Lá não consumiu bebidas alcoólicas por ser evangélico. Felipe afirma que estava indo embora quando viram a abordagem do filho de Willian e pararam para ver o ocorrido. Adilson diz ter pedido a Willian para levá-lo no bairro Parque do Lago e no percurso se depararam com a abordagem do adolescente. E mais. Felipe disse que no carro estava seu filho recém-nascido. Adilson, por sua vez, não se refere a qualquer criança no automóvel, além de não saber o nome da pessoa que dirigia o carro. É evidente a mentira engendrada pelo acusado e as testemunhas Felipe e Adilson. Combinaram uma versão para livrar o réu da responsabilidade, mas se perderam nas minúcias, revelando a falsidade da “estória”. Também não merece crédito a questão levantada pela acusada Flaviana de que não foram encontrados entorpecentes e outros objetos em sua residência, mas sim no quintal de um imóvel vizinho, já que não se sobrepõem às falas firmes e coerentes dos policiais militares, em ambas as fases, sem quaisquer contradições, no que tange ao desenrolar dos fatos e à forma e como se deu a abordagem inicial e a apreensão do entorpecente, cujas versões permaneceram intactas e inalteradas desde a fase inquisitorial, o que lhes garante ampla credibilidade. À toda evidência o acusado Willian foi abordado em uma motocicleta com seu filho adolescente e ambos portavam drogas preparadas em porções para entrega a consumo, além de significativa quantidade de dinheiro e, ainda, mantinha em unidade de desígnios, mais entorpecente, balança de precisão e caderno de anotação do tráfico de drogas, na residência de Flaviana, ex-esposa de Willian, e mãe do adolescente Denílson, que com ela coabitava. Não é demais observar que os réus disserem ter sido agredidos pelos policiais. Willian afirmou que foi agredido com sacolada e enforcamento. Entretanto, constata-se pelo laudo realizado do dia 19.09.2021, às 11h59min, um dia após os fatos, apontou “Ao exame atual apresenta escoriações localizadas em; joelho direito, terço inferior da perna esquerda, cotovelo direito”. (id. 87986412 — p. 223/228). Flaviana afirmou ter sido agredida e constata-se pelo laudo pericial também realizado no dia 19.09.2021, às 11h55min, a seguinte lesão: “Ao exame atual apresenta equimose em terço superior da coxa esquerda”. (id. 87986412 — p. 229/234). Veja-se que as lesões em questão não se coadunam com a versão de agressão narrada pelos réus e não revelam violência desmedida ou tortura. De qualquer sorte, mesmo as escoriações devem ser objeto de apreciação pelo órgão competente. Muito bem, na lida forense diária, não é incomum o magistrado se deparar com situação de aparente violência policial e este juízo tem tomado providências sempre que isso ocorre, entretanto, no caso, não é possível em juízo de prelibação, desvelar a real causa das lesões, que poderá ser apurada pelo órgão administrativo e judicial competente, as lesões apontadas, neste momento, são incapazes de desnaturar a ação policial para fins de análise probatória, embora, frise-se, mesmo não interferindo na prova deste feito, devam ser apuradas. No caso, as circunstâncias em que ocorreu a apreensão da droga formam um conjunto probatório seguro e harmonioso a demonstrar a prática delitiva por parte dos réus. Ressalte-se que o depoimento dos agentes policiais colhidos sob o crivo do contraditório merece credibilidade, máxime quando em harmonia com os elementos constantes dos autos, constituindo-se, assim, elementos aptos a respaldar a condenação. Nesse sentido é a jurisprudência do Col. Supremo Tribunal Federal (HC nº 74.608-0/SP, rel. Min. Celso de Mello). E também o Col. Superior Tribunal de Justiça (AgRg no AREsp 875.769/ES, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 07/03/2017, DJe 14/03/2017) e (HC 436.168/RJ, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 22/03/2018, DJe 02/04/2018). Nessa linha é a jurisprudência do TJMT: “TJMT, Enunciado Criminal 8: Os depoimentos de policiais, desde que harmônicos com as demais provas, são idôneos para sustentar a condenação criminal”. Definitivamente não há que se falar em carência probatória, uma vez que os fatos restaram devidamente esclarecidos no feito, sendo a condenação dos réus medida impositiva. Da minorante do § 4° do art. 33 da Lei 11.343/06. O réu Willian não faz jus a minorante. Em consulta ao sistema SEEU-CNJ – Sistema Eletrônico de Execução Unificado, nesta data, constata-se que o réu é multirreincidente (art. 61, I, do Código Penal) sendo condenado definitivo ao tempo deste fato por 03 (três) crimes patrimoniais; 01 (um) por homicídio; 01 (um) por porte de arma de fogo; 01 (um) por receptação,, cujas penas unificadas no Processo Executivo de Pena n. 0010914-68.2010.8.11.0042 em trâmite na Segunda Vara Criminal da Comarca de Cuiabá/MT, totalizam 40 (quarenta) anos, 1 (um) meses e 3 (três) dias de prisão, restando para cumprimento 22 (vinte e dois) anos, 6 (seis) meses e 6 (seis) dias. Observa-se que não decorreu o período da reabilitação ou depuração da reincidência nos termos do art. 64, I do Código Penal. Com relação a ré Flaviana, observa-se que ela faz jus à redução de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, já que é primaria (id. 67941372) e não há provas de que se dedique à criminalidade ou integre organização criminosa. Da causa de aumento do art. 40, inciso VI da lei de Drogas. A majorante é evidente. As testemunhas André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, em juízo (mídia) confirmaram as declarações prestadas na fase inquisitorial, narrando que, em ronda nos fundos do Parque Berneck, se depararam com uma motocicleta, ocupada pelo acusado Willian e seu filho adolescente Denílson, em alta velocidade, pelo que, foram imitidos sinais luminosos e sonoros de parada, os quais foram desobedecidos. Lograram, por fim, abordar o veículo e, na busca pessoal, foram encontrados entorpecentes com Willian e o adolescente. Acrescentaram que, por indicação de Willian e o adolescente, se dirigiram a residência da acusada Flaviana, ex-esposa de Willian e mãe do adolescente Denílson, onde encontraram mais entorpecentes, balança de precisão e caderno de anotações com valores e quantidade da droga comercializada. Assim, inegável que os réus, sem se importarem com a idade do adolescente Denílson Marcelo Rezende da Silva, de 17 (dezessete) anos de idade à época dos fatos (id. 87986412 – p. 57/59), o envolveram na traficância. Diz o art. 40, VI, da Lei 11.343/2006: “As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) VI – em sua prática envolver ou visar atingir criança ou adolescentes ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação...”. Destaquei. Destarte, no caso, incide a majorante específica. Do art. 59 do Código Penal c/c art. 42 da Lei antidrogas. Reza o artigo em questão que a natureza e quantidade da droga servirão de critério de recrudescimento da pena base e de modo diferenciado, já que preponderam sobre os demais elementos. No caso, a quantidade não é severamente elevada, pelo que incabível a elevação. Da perda dos bens. Como se sabe, o art. 63, § 1º da Lei 11.343/06 determina a destinação à União do produto, bens e dinheiro arrecadados e com perdimento. Pois bem, por certo tal artigo da Lei 11.343/06 afronta mecanismos e princípios constitucionais sensíveis. À toda evidência, a reversão do produto do perdimento deve se dar em favor do Estado de Mato Grosso, exatamente nos termos do art. 7º, I da Lei 9.613/98, que estabelece como efeito da condenação, a perda de bens em favor dos Estados, nos casos de competência da Justiça Estadual, que é justamente o caso dos autos. Como se observa, o enfrentamento ao crime de tráfico se dá nas diversas searas do sistema de justiça criminal e por certo onera a todas elas. Observa-se, então, que quando o enfrentamento a tal modalidade de delito se dá na Justiça Estadual, utilizando-se, por consequência, do Ministério Público Estadual e, antes dele, de toda a estrutura investigativa, incluídos aí agentes, viaturas, diligências, escutas telefônicas por meio de aparelhos pertencentes ou vinculados ao patrimônio do Estado, não parece estar em simetria com o princípio federativo ou pacto federativo, que os parcos proventos frutos de tal esforço sejam destinados ao patrimônio da União para fazer frente a enfrentamentos quiçá em outros Estados da Federação. Não é, evidentemente justo, ou até mesmo digno, que o ente mais forte desse pacto, subtraia do ente mais fraco seus recursos. Por certo tal norma afronta o pacto federativo. Mas não é só isso. A norma afronta igualmente ao princípio da proporcionalidade. Sim, vejam que no caso específico de nosso Estado de Mato Grosso, situado em região sensível, com cerca de mil quilômetros de fronteira com a Bolívia e igualmente próximo do Paraguai, países conhecidos por terem produção de cocaína e maconha, respectivamente, por certo, se trata de um dos Estados mais afetados pelo tráfico, por aqui passando não só a droga a ser aqui consumida, mas a droga que está em trânsito para quase todos os Estados da região sudeste, nordeste, sul, parte do norte e até para países da Europa e outros continentes. Nossa população fica sensivelmente afetada pela prática do tráfico e pela forma como os traficantes se organizam para angariar fundos e financiar seus ilícitos. Por certo Mato Grosso sofre muito mais, por exemplo, com roubos de veículos que irão fomentar o tráfico, do que a maioria dos outros Estados e isso reflete na afetação de sua população, desde as vítimas diretas dos crimes em questão, que não são poucas, até as vítimas indiretas, afetadas em todas as demais áreas. Não é à toa que este Estado tem um dos seguros de automóveis mais caros do Brasil. O tráfico onera o local em que é perpetrado, a própria comunidade, que muitas vezes enfrenta sozinha os efeitos colaterais dessa violência, enfrentando chacinas, roubos, furtos, prostituição de viciados, além das lutas diárias das famílias para com seus jovens entes pegos em tal armadilha. O ônus para a sociedade local e para o Estado da federação em que tais fatos realmente ocorrem é incalculável. Assim, desviar dele os recursos provenientes de confiscos e perdimentos obtidos em tal enfrentamento, acaba, em última análise, por retirar da própria sociedade local parte de sua capacidade de enfrentamento e minimização dos terríveis efeitos do tráfico, afetando-lhe e aviltando-lhe diretamente em direitos fundamentais, como a vida e a saúde de seus jovens, além de direitos como a segurança, dignidade e tantos outros. Assim, padecendo o Estado com um maior número de condutas de tráfico, bem como de crimes correlatos, sem que haja aqui o aporte de retorno dos montantes até então encaminhados ao fundo nacional de drogas, ou qualquer reforço ou ajuda do ente federado mais poderoso, nem mesmo em nossas fronteiras, como deveria fazer, já que há décadas o problema está identificado, carecendo somente de vontade política para enfrenta-lo, parece justo e proporcional que os frutos das demandas criminais aqui existentes, provenientes da justiça estadual, e digo, até mesmo da justiça federal, desbaratando crimes de tráfico, permaneçam no Estado para ajudar a fazer frente a esse combate. Simples assim, é proporcional que o Estado que mais sofra com o tráfico e tenha consequentemente mais ações criminais coibindo tal crime, também obtenha mais recursos por sentenças em perdimento, e reutilize esses recursos para retroalimentar o sistema de enfrentamento criminal no local em que são afetados os direitos fundamentais de sua população. Assim, também por ferir o princípio da proporcionalidade, referido dispositivo carece de legitimidade constitucional. A destinação do numerário decorrente do perdimento (boletim de ocorrência e termo de apreensão id. 87986412 – p. 14/15 e 70/75), assim, será para o Estado de Mato Grosso por seu fundo respectivo. É evidente que os seguintes objetos: 01 (um) aparelho celular marca Samsung com tela trincada, 01 (um) aparelho celular marca Samsung cor preta com tela danificada, 01 (um) aparelho celular marca Motorola cor preta com danos na parte frontal e traseira, 01 (uma) corrente dourada com pingente, 01 (uma) pulseira dourada e 01 (uma) balança de precisão (boletim de ocorrência e termo de apreensão id. 87986412 – p. 14/15 e 70/75), eram frutos do tráfico, devem ter a decretação de suas perdas. Do crime de desobediência atribuído aos réus DENILSON OLIVEIRA SILVA E WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA. A materialidade restou configurada nos termos do boletim de ocorrência e termo de apreensão id. 87986412 – p. 14/15 e 70/75, e pelas demais provas dos autos. Vejamos a autoria separadamente. Do acusado Denílson. Na fase inquisitorial o acusado declarou (id. 87986412 — p. 27/29): “[…]. QUE, sobre os fatos, estava caminhando na via pública quando foi abordado pela guarnição da PM, ocasião em que encontraram uma única porção de drogas em um de seus bolsos e também a quantia em dinheiro de R$ 20,00; QUE, nega ter sido abordado com 01 tablete médio de drogas; QUE, não é traficante, apenas viciado; QUE, de todos os outros presos, conhece apenas BRENO por serem vizinhos…”. Destaquei. Em juízo (mídia), contou que no dia dos fatos estava na casa de seu amigo Breno consumindo entorpecente quando a polícia chegou. Correu juntamente com os demais presentes, todavia, foi abordado pelos policiais que encontraram em seu poder uma porção de cocaína para uso pessoal e vinte reais. As testemunhas André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, em juízo (mídia) confirmaram as declarações prestadas na fase inquisitorial, narrando que, após abordarem Willian e seu filho adolescente Denílson com entorpecentes. Disseram que, por indicação de Willian e o adolescente, se dirigiram a residência do acusado Denílson, que tentou fugir, pulando os muros das residências, porém, foi abordado e, na busca pessoal, encontraram entorpecente e dinheiro. Observa-se que a narrativa policial menciona uma tentativa de evasão com o tão só fato de perceber a presença da polícia. Não consta que tivessem dado prévia ordem de parada que eventualmente foi desobedecida. Veja-se que embora haja a informação de que em um primeiro momento, o acusado teria tentado se evadir da abordagem policial, os elementos de prova não revelaram a intenção do acusado de desprestigiar ou atentar contra a dignidade da Administração Pública, mas somente o intuito de se ver livre de um possível flagrante e preservar a status libertatis, não se fazendo presente o dolo, indispensável à caracterização do delito de desobediência. Então, pendendo dúvidas quanto a existência dessa prévia ordem de parada, há dúvidas quanto a efetiva existência do crime, já que não haveria desobediência sem uma ordem a ser cumprida. Tentar, simplesmente, sair da presença policial não configura desobediência. Assim, a absolvição é medida. Do acusado Willian. O acusado, assim como havia feito na fase inquisitorial (id. 87986412 – p. 33/35), em juízo (mídia) novamente negou ter desobedecido a ordem de parada dos policiais militares, alegando que não estava na motocicleta junto com seu filho adolescente. Vejamos os demais elementos. As testemunhas André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, em juízo (mídia) confirmaram as declarações prestadas na fase inquisitorial, narrando que, em ronda nos fundos do Parque Berneck, se depararam com uma motocicleta, ocupada pelo acusado Willian e seu filho adolescente Denílson, em alta velocidade, pelo que, foram emitidos sinais luminosos e sonoros de parada, os quais foram desobedecidos. Lograram, por fim, abordar o veículo e, na busca pessoal, foram encontrados entorpecentes com Willian e o adolescente. Pois bem. O Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido que o crime de desobediência se configura quando houver o descumprimento de ordem de parada emitida por agente público, no contexto de atividade de policiamento ostensivo de segurança pública, ante a suspeita de práticas ilícitas. Vejamos. “[...]. 1. O descumprimento de ordem de parada emanada de agente a tipicidade do crime público na função de policiamento ostensivo caracteriza o crime do art. 330 do Código Penal. Precedentes. (AgRg no REsp n. 1.860.058/MS, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 4/8/2020, DJe 14/8/2020). Destaquei. “[...]. 2. Na hipótese dos autos, contudo, a ordem de parada não foi dada por autoridade de trânsito, no controle cotidiano no tráfego local, mas emanada de policiais militares, no exercício de atividade ostensiva destinada à prevenção e à repressão de crimes, tendo a abordagem do recorrente se dado em razão de suspeita de atividade ilícita, o que configura hipótese de incidência do delito de desobediência tipificado no art. 330, do CP. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp n. 1.805.782/MS, relator Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 18/6/2019, DJe 28/6/2019). Destaquei. No caso, os policiais em patrulhamento ostensivo tentaram abordar o acusado, que desobedeceu à ordem, empreendendo alta velocidade de motocicleta, configurando o crime de desobediência. Não merece crédito, a versão engendrada pelo acusado Willian, em juízo, de que não estava na motocicleta com seu filho adolescente, já que os elementos de prova demonstram o contrário, sendo a versão totalmente dissociada da realidade. No caso, as circunstâncias em que ocorreu o fato formam um conjunto probatório seguro e harmonioso a demonstrar a prática delitiva por parte do réu. Não há dúvidas, de qualquer forma, com relação à culpa do réu, sendo a condenação pelo crime de desobediência medida impositiva. Do concurso material. Observa-se a presença do concurso material entre os crimes de tráfico de drogas e desobediência atribuídos ao réu WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA sendo, assim, aplicável a regra do art. 69 do Código Penal. Da sucumbência. Como se sabe a sucumbência em sede de juízo criminal é decorrência da própria condenação, conforme reza o artigo 804 do Código de Processo Penal. Ainda, como é cediço, sentenças judiciais são executadas integralmente e, no caso de sentenças criminais, o juízo que a executa é o da Vara de Execuções Penais, não sendo aconselhável que haja dois juízos de execução para os seus termos. E mais, com relação às custas, mormente naqueles feitos de réus beneficiados pela justiça gratuita, tem prevalecido o entendimento de que deve haver condenação, mas sua execução ou cobrança fica suspensa e condicionada ao efetivo restabelecimento do patrimônio do condenado. Ou seja, somente no caso de constatação de sua pujança financeira é que poderá ser exigido o adimplemento, persistindo a dívida até que seja alcançada pela prescrição. Então, se sua cobrança ficar a cargo do juízo do conhecimento, tal fator caracterizará um insuperável empecilho para o arquivamento do processo, o que não é indicado, mormente em tempos de cobranças correicionais. Ademais, ainda que tal incumbência ficasse a cargo do juiz do conhecimento, seria contraproducente reavivar o processo já findo, de tempos em tempos, para aferir a eventual mudança do patrimônio do condenado, até que se extinga definitivamente o débito. Ao contrário, no juízo da execução, tal inconveniente não ocorre. Em primeiro lugar, porque o executivo de pena não será arquivado até que se a cumpra. Em segundo lugar, é corriqueiro que se analise tal processo a fim de verificar a possibilidade de progressão de regime, oportunidade em que se pode verificar também a possibilidade de pagamento das custas. Esse é o posicionamento do STJ: [STJ: AgRg no AREsp n. 254.330/MG. Quinta Turma. Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Data de Julgamento: 19/03/2013, DJe: 25/03/2013]. Nesse sentido tem decidido o TJMT: (Ap 76425/2018, DES. MARCOS MACHADO, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 18/12/2018, publicado no DJE 22/01/2019) e (Ap 54728/2018, DES. PAULO DA CUNHA, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 12/02/2019, publicado no DJE 15/02/2019). Isto posto, julgo parcialmente procedente a denúncia para: DESCLASSIFICAR o crime de tráfico (art. 33 caput da Lei 11.343/2006) para o delito de posse de droga para consumo pessoal (art. 28 da mesma lei), condenando o réu DENILSON OLIVEIRA SILVA, suficientemente qualificado nos autos, nas penas do art. 28 da Lei nº. 11.343/2006 e absolvendo-o do crime de desobediência (art. 330, caput, do Código Penal), nos termos do art. 386, III, do Código de Processo Penal. CONDENAR os réus: WILLIAN MELLO RODRIGUES DA SILVA, suficientemente qualificado nos autos, nas penas do art. 33, caput, e art. 40, VI, ambos da Lei n. 11.343/2006, com as implicações do art. 2º, da Lei n. 8.072/90, e art. art. 330, caput, do Código Penal c/c art. 29, caput, art. 61, I, e art. 69, caput, também do Digesto Repressivo Penal. FLAVIANA FRANCISCA REZENDE, suficientemente qualificada nos autos, nas penas do art. 33, § 4º, e art. 40, VI, ambos da Lei nº 11.343/2006, cumulado com art. 29, caput, do Código Penal.” (Id. 243956748) (Negritado no original) A materialidade do crime de tráfico de drogas encontra-se devidamente comprovada pelo Auto de Prisão em Flagrante, pelo termo de apreensão e pelo laudo pericial nº 3.14.2021.79252-01, que apontou resultado positivo para a presença de maconha e cocaína nas substâncias apreendidas. Quanto à autoria, também se encontra suficientemente demonstrada, pois o conjunto probatório evidencia, de forma inequívoca, a prática do crime de tráfico de drogas pelo apelante. Em que pesem suas alegações, o apelante foi flagrado com porções de cocaína, sendo que seu filho adolescente também portava drogas e considerável quantia em dinheiro. Além disso, na residência da corré Flaviana, foram encontradas mais drogas, uma balança de precisão e um caderno de anotações típico do comércio de entorpecentes. Os policiais militares André Luiz Marcondes Nunes e Marcos Túlio Soares da Silva, ouvidos em juízo, prestaram depoimentos firmes, coerentes e harmônicos entre si, descrevendo toda a dinâmica dos fatos, desde a abordagem inicial até a apreensão das drogas com o apelante e na residência da corré Flaviana. Por outro lado, a versão apresentada pelo apelante não encontra respaldo no conjunto probatório. O acusado afirmou que, na data dos fatos, estava transitando de carro com amigos quando avistou seu filho sendo abordado pelos policiais, tendo então parado para verificar o que ocorria. Contudo, esse relato foi contradito pelas provas colhidas durante a instrução processual. As testemunhas de defesa Felipe Henrique da Silva e Adailson Jorge Leite Júnior apresentaram versões incongruentes entre si, o que as torna completamente desprovidas de credibilidade. Enquanto Felipe assegurou que estavam na casa da mãe do apelante ingerindo bebidas alcoólicas, Adailson disse que Willian não ingeriu bebidas por ser evangélico. Felipe afirmou que estavam indo embora quando viram a abordagem do filho de Willian, já Adailson relatou que Willian estava levando-o ao bairro Parque do Lago quando se depararam com a abordagem. Além disso, Felipe mencionou que havia uma criança (seu filho recém-nascido) no carro, enquanto Adailson sequer fez referência a essa criança, informando ainda que havia uma terceira pessoa dirigindo o veículo, cujo nome desconhecia. Tais contradições evidenciam claramente que se trata de uma versão engendrada e ensaiada pelo apelante e suas testemunhas, que acabaram se perdendo nas minúcias da história fabricada. Ademais, convém destacar que os policiais militares, na condição de agentes públicos, possuem a presunção de veracidade e legitimidade em seus atos, sendo que seus depoimentos, quando coesos e harmônicos com as demais provas dos autos, são perfeitamente idôneos para embasar um decreto condenatório, conforme prevê o Enunciado Criminal nº 8 do TJMT: "Os depoimentos de policiais, desde que harmônicos com as demais provas, são idôneos para sustentar a condenação criminal". No tocante à alegação do apelante de que seu monitoramento eletrônico contradiz o relato policial, verifica-se que essa argumentação não prospera, pois o fato de os policiais terem afirmado que se dirigiram ao endereço do corréu Denílson por indicação do apelante não significa, necessariamente, que o próprio apelante os tenha acompanhado nessa diligência. De todo modo, essa questão é irrelevante diante da farta prova da traficância, materializada nas drogas, dinheiro, balança de precisão e anotações do comércio de entorpecentes apreendidas. Portanto, comprovadas a materialidade e a autoria delitivas, deve ser mantida a condenação pelo crime de tráfico de drogas. 2. DO PRETENDIDO AFASTAMENTO DA CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NO ARTIGO 40, INCISO VI, DA LEI Nº 11.343/2006 Não merece acolhimento o pleito de afastamento da causa de aumento de pena prevista no artigo 40, inciso VI, da Lei nº 11.343/2006, relativa ao envolvimento de adolescente na prática do crime de tráfico. Conforme evidenciado nos autos, o adolescente Denílson Marcelo Rezende da Silva, filho do apelante, à época com 17 anos de idade, foi flagrado juntamente com seu pai em uma motocicleta, portando 14 (quatorze) porções de cocaína e a quantia de R$ 1.330,00 (mil trezentos e trinta reais). Os depoimentos dos policiais militares deixaram claro que pai e filho estavam juntos no momento da abordagem, trafegando em alta velocidade, e que ambos portavam porções de droga preparadas para comercialização. A circunstância de o apelante estar envolvendo seu próprio filho na prática criminosa torna ainda mais reprovável sua conduta. Desse modo, resta plenamente configurada a causa de aumento prevista no artigo 40, inciso VI, da Lei nº 11.343/2006, que prevê o aumento da pena quando o crime "envolver ou visar atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação". 3. DA APLICAÇÃO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO § 4º DO ARTIGO 33 DA LEI Nº 11.343/2006. Igualmente não merece acolhimento o pleito de aplicação da causa especial de diminuição de pena prevista no § 4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/2006, conhecida como "tráfico privilegiado". Conforme constatado pelo Juízo de primeiro grau, o apelante é multirreincidente, tendo sido condenado definitivamente por diversos crimes (03 crimes patrimoniais, 01 homicídio, 01 porte de arma de fogo e 01 receptação), cujas penas unificadas no Processo Executivo de Pena nº 0010914-68.2010.8.11.0042 totalizam 40 anos, 1 mês e 3 dias de prisão. A multirreincidência do apelante, por si só, evidencia sua dedicação às atividades criminosas, o que afasta a aplicação da minorante prevista no § 4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/2006, que exige expressamente que o agente seja primário, de bons antecedentes e que não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. 4. DO PLEITO DE DETRAÇÃO PARA FINS DE ALTERAÇÃO DO REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA. No que concerne ao pleito de detração para fins de alteração do regime inicial de cumprimento de pena, tem-se que tal pretensão não merece acolhimento por dois motivos: Primeiro, porque a análise do pedido de detração penal é de competência exclusiva do Juízo da Execução Penal, nos termos do artigo 66, III, "c", da Lei de Execução Penal. Segundo, porque, ainda que fosse possível realizar a detração nesta fase processual, a reincidência do apelante, por si só, já imporia o regime inicial fechado para o cumprimento da pena, conforme determina o artigo 33, § 2º, "b", do Código Penal, que dispõe que "o condenado reincidente deverá cumprir a pena em regime inicial fechado". Ante o exposto, em consonância com o parecer DESPROVEJO o recurso, mantendo a sentença condenatória pelos seus próprios fundamentos. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 08/07/2025

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