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Processo nº 1037176-76.2024.8.11.0000

ID: 260671692

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 1037176-76.2024.8.11.0000

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JORACI VIEIRA

Decisão

Advogados:

YOUSSEF SAYAH EL ATYEH

OAB/GO XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) 1037176-76.2024.8.11.0000 AGRAVANTE: MARNO BOTTCHER A… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete 2 - Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) 1037176-76.2024.8.11.0000 AGRAVANTE: MARNO BOTTCHER AGRAVADO: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO, JORACI VIEIRA MONOCRÁTICA. Trata-se de Recurso de Agravo de Instrumento interposto com pedido de efeito suspensivo por MARNO BOTTCHER, contra decisão proferida pelo Juiz da 2ª Vara Cível de Juína, nos autos da Ação Civil Pública n.º 1001318-11.2021.8.11.0025, que determinou a inversão do ônus da prova em matéria ambiental. Argumenta violação ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa, que a inversão do ônus da prova deve ser avaliada somente após o juízo a quo decidir as preliminares de ilegitimidade passiva e inépcia da inicial, pois os documentos demonstram que o Agravante não praticou o dano ambiental e que o dano ocorreu em área vizinha. Afirma que a inversão do ônus da prova é uma prova diabólica, pois trata-se de realização de prova de fato negativo. O pedido de efeito suspensivo foi indeferido, conforme decisão proferida no Id. 261854250. Contrarrazões apresentadas pelos Agravados nos Id's 267610275 e 267982297. Instada a se manifestar, a d. Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso, conforme parecer anexado no Id. 270278386. É o relatório. Decido. Decido monocraticamente, nos termos do art. 932 do CPC e Súmula 568 do STJ. Com relação ao argumento de inversão do ônus da prova, ressalto que tal possibilidade decorre dos princípios da precaução e in dubio pro natura, bem como em observância à teoria de risco integral, ou seja, é atribuição do agente ocupante do solo de que o meio ambiente permanece hígido, mesmo com o desenvolvimento de sua atividade. É a partir de tal raciocínio que não há falar em prova diabólica e de igual forma e fundamento, não se trata de decisão surpresa, pois a inversão é técnica de instrução. Nesse sentido a jurisprudência deste Sodalício, in verbis: PROCESSUAL CIVIL – RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO POPULAR - MATÉRIA AMBIENTAL - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – POSSIBILIDADE - SÚMULA 618 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO - RECURSO DESPROVIDO. O enunciado de Súmula nº. 618, firmou o entendimento de que, na apuração da responsabilidade civil por danos ambientais, é possível a inversão do ônus da prova, como técnica de instrução. (TJ/MT - N.U 1021506-32.2023.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, MARCIO VIDAL, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 04/03/2024, Publicado no DJE 13/03/2024) DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECURSO NÃO PROVIDO. I. Caso em exame: 1. Agravo interno interposto contra decisão monocrática que manteve a inversão do ônus da prova em ação civil pública ambiental. II. Questão em discussão: 2. A questão em discussão consiste em verificar: (i) a validade da inversão do ônus da prova em ações ambientais; e (ii) a responsabilidade pelos custos da prova pericial. III. Razões de decidir: 3. A inversão do ônus da prova em ações civis públicas ambientais encontra respaldo na jurisprudência do c. STJ e nos princípios da precaução e in dubio pro natura. 4. A anulação do auto de infração não afasta a possibilidade de redistribuição do ônus probatório, considerando-se a relevância ambiental e a dinâmica probatória. 5. A responsabilidade pelos custos da prova pericial recai sobre a parte que a requer, conforme o art. 95 do CPC. IV. Dispositivo e tese: 6. Recurso não provido. Tese de julgamento: “A inversão do ônus da prova em ações ambientais é justificada pelos princípios da precaução e in dubio pro natura, cabendo ao suposto poluidor demonstrar a ausência de dano ambiental.” Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 373, §1º, e 95; Lei 8.078/1990, art. 6º, VIII; Lei 7.347/1985, art. 21. Jurisprudência relevante citada: STJ, Súmula 618; STJ, REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.9.2009; TJMT, N.U 1012394-05.2024.8.11.0000, Rel. DES. Rodrigo Roberto Curvo, j. 06.11.2024. (TJ/MT - N.U 1023035-52.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, RODRIGO ROBERTO CURVO, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 05/02/2025, Publicado no DJE 14/02/2025) RECURSO DE AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PUBLICA AMBIENTAL – EFEITO SUSPENSIVO INDEFERIDO – AVERBAÇÃO NA MATRÍCULA – INVERSÃO DO ONUS DA PROVA – MANUTENÇÃO - PROGRAMA DE RECOMPOSIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E ALTERADAS (PRADA) - NECESSIDADE DE ANÁLISE DO CAR PELA SEMA – SUSPENÇÃO ATÉ O JULGAMENTO DE MÉRITO DO RECURSO - PARCIAL PROVIMENTO. (...) 03. O Princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou. 04. A ordem de apresentar o PRAD está condicionada à atuação da SEMA/MT, de modo que a pendência de análise do CAR obsta o cumprimento da obrigação. 05. Recurso parcialmente provido apenas para conceder o efeito suspensivo ao item “A” da decisão agravada, quanto a apresentação do Plano de Recuperação de Área Degradada – PRAD, até apreciação da matéria pelo colegiado. (TJ/MT - N.U 1013396-44.2023.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, HELENA MARIA BEZERRA RAMOS, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 09/10/2023, Publicado no DJE 23/10/2023) RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL – LIMINAR DEFERIDA PARA OBSTAR A CONTINUIDADE DOS DANOS AMBIENTAIS – ALEGAÇÃO DE SER O IMÓVEL FONTE DE SUBSISTÊNCIA PELO AGRAVANTE – NÃO DEMONSTRADO – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – POSSIBILIDADE – RECURSO DESPROVIDO. 1. Ante à ausência de comprovação de que o imóvel objeto do presente recurso seja a única fonte de subsistência do Agravante, deve ser mantida a decisão que determinou abstenção de exploração de atividade econômica na área degradada. 2. Em se tratando de dano ambiental, possível é a inversão do ônus da prova, em observância ao princípio da precaução e Súmula 618 do STJ. 3. Recurso Desprovido. (TJ/MT - N.U 1009363-79.2021.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, MARIA EROTIDES KNEIP, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 27/03/2023, Publicado no DJE 12/04/2023) O Superior Tribunal de Justiça, por meio de Súmula 618, pacificou a matéria quanto à inversão do ônus da prova em questões ambientais. Trago à colação o recente aresto emanado do STJ que reafirmou tal posicionamento, in verbis: CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS AMBIENTAIS. EXPLORAÇÃO HIDROELÉTRICA. PESCADORES. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PROVA DE QUE O MEIO AMBIENTE NÃO FOI DEGRADADO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. É admitida a inversão do ônus da prova em se tratando de matéria de degradação ambiental, tese fixada na Súmula n. 618 do STJ. 2. A possibilidade de inversão do ônus da prova determinada no enunciado sumular refere-se à degradação ambiental em si. 3. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar a inadequação dos fundamentos invocados pela decisão agravada, o presente agravo não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado, devendo ele ser integralmente mantido em seus próprios termos. 4. Agravo interno não provido. (STJ - AgInt nos EDcl no REsp n. 2.085.120/BA, relator Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 17/3/2025, DJEN de 20/3/2025) No que concerne aos argumentos de análise prévia acerca das preliminares de ilegitimidade passiva e inépcia da inicial, pois os documentos demonstram que o Agravante não praticou o dano ambiental e que o dano ocorreu em área vizinha, consigno que tais questões devem ser analisadas, primeiramente, pelo juízo a quo e, somente após o juiz de primeiro grau decidir é que poderá o juízo ad quem decidir, sob pena de supressão de instância. Ademais, o questionamento acerca de quem praticou o dano ambiental e onde este ocorreu é matéria que ultrapassa os limites da via estreita e limitada do Recurso de Agravo de Instrumento, pois é questão meritória. Diante do acima exposto, CONHEÇO do presente Recurso de Agravo de Instrumento, mas NEGO-LHE PROVIMENTO. Intimem-se as partes. Transitado em julgado e não havendo recurso, o que deverá ser certificado, ao arquivo com as cautelas de estilo. Comunique-se o juízo de origem. Cumpra-se. Cuiabá-MT, data da assinatura digital. Desª MARIA EROTIDES KNEIP Relatora

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Jose Roberto Pogioli x White Martins Gases Industriais Do Norte Ltda.

ID: 263025534

Tribunal: TJMT Órgão: 7ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ Classe: EMBARGOS DE TERCEIRO CíVEL Nº Processo: 1022187-39.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 30/04/2025

Polo Ativo:

JOSE ROBERTO POGIOLI

Polo Passivo:

WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS DO NORTE LTDA.

Sentença

Advogados:

DANIELI ARANEGA DE PAULA

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JACÓ CARLOS SILVA COELHO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

Processo nº 1022187-39.2024.8.11.0041 (h) VISTOS, Trata-se de EMBARGOS DE TERCEIRO interposto por JOSE ROBERTO POGIOLI em face de WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS DO NORTE LTDA, em virtude de penhora … Processo nº 1022187-39.2024.8.11.0041 (h) VISTOS, Trata-se de EMBARGOS DE TERCEIRO interposto por JOSE ROBERTO POGIOLI em face de WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS DO NORTE LTDA, em virtude de penhora efetuada em decorrência da Ação de Execução nº 0000544-33.2010.8.11.0041, em trâmite perante este Juízo, proposta em desfavor de SAPEGAS INSTALACOES DE GAS LTDA – ME e EDIVAL ALVES DE GOIS. Alega o Embargante que realizou a compra de uma casa na cidade de Icaraíma-PR, no ano de 2014, conforme contrato particular de bem imóvel, firmado pelo proprietário do imóvel, Edival Alves de Gois em 11 de março de 2014, com reconhecimento de firma das assinaturas, constando no referido instrumento que o imóvel possuía uma hipoteca em aberto, que, ao tempo, impedia a transferência da titularidade do bem, constando na cláusula que a referida hipoteca seria baixada, vez que já havia ocorrido o deposito em juízo dos valores em abertos referente à hipoteca em questão. Afirma que não realizou a transferência desse imóvel de imediato, mas sempre possuiu essa intenção, tendo sido emitido na posse do bem, utilizando-o como legitimo proprietário, inclusive com melhorias significativas no imóvel. Assevera que resta evidente que o imóvel não pertence a nenhum dos embargados, sendo a embargante a real proprietária do imóvel, devendo lhe ser resguardado o seu direito sobre o bem que habita e do qual é legítima proprietária. Por fim, requer o recebimento do presente embargo em seu efeito suspensivo, para fins de suspender a ação executiva e manter a posse em favor da Embargante, e no mérito, a procedência da demanda, extinguindo-se a indisponibilidade em relação ao imóvel representado pela matrícula 1.396 do CRI de Icaraíma, por conseguinte, desfazendo-se a ordem de constrição (CPC, art. 674, caput), confirmando a liminar requerida e concedida. Recolhimento das custas no ID. 157956059. Contestação aos Embargos de Terceiro de ID. 159984772, não se opondo ao pleito da Embargante. Audiência de conciliação realizada no dia 12/07/20024, sem Êxito (ID. 162234350). Impugnação a contestação de ID. 164775828. Intimados para especificarem as provas que pretendem produzir, a parte Embargante pugnou pela produção de prova testemunhal (ID. 174272103) e o Embargado pelo julgamento antecipado da lide (ID. 172838024). DECIDO. Cuida-se de Embargos de Terceiros opostos por JOSE ROBERTO POGIOLI, em razão da penhora sobre o imóvel Lote 01, quadra 76 na cidade de Icaraíma, representado pela matrícula nº 1396, determinada nos autos da Ação de Execução nº 0000544-33.2010.8.11.0041 proposto por WHITE MARTINS GASES INDUSTRIAIS DO NORTE LTDA em desfavor de SAPEGAS INSTALACOES DE GAS LTDA – ME e EDIVAL ALVES DE GOIS. O Embargante alega, em síntese, que adquiriu o imóvel de Edival Alves de Gois, conforme contrato particular de compra e venda (ID 157113815), e que, à época da aquisição, o imóvel possuía uma hipoteca em aberto, o que impedia a transferência imediata da titularidade. Afirma que, apesar de não ter realizado a transferência de imediato, sempre teve essa intenção e que foi emitido na posse do bem, utilizando-o como legítimo proprietário, inclusive com melhorias significativas no imóvel. Os embargados, por sua vez, não se opõem quanto a baixa da penhora. A questão controvertida reside em definir se o Embargante tem direito à desconstituição da indisponibilidade que recai sobre o imóvel de matrícula nº 1396 do Cartório de Registro de Imóveis de Icaraíma/PR, e, em caso afirmativo, a quem incumbe o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. Saliente-se, por oportuno, que, a despeito de os bens imóveis serem transferidos com a transcrição do título no cartório imobiliário pertinente, no caso em exame deve-se aplicar o regramento inserto no artigo 674 do Código de Processo Civil, que protege não só o detentor do domínio, mas também o possuidor. Cumpre destacar que a indisponibilidade do bem foi averbada na matrícula do imóvel em 28/09/2023 (ID 157113797), enquanto o contrato particular de compra e venda foi firmado em 11/03/2014 (ID 157113815). Além disso, o fato de tal alienação não ter sido registrada no cartório não obsta o direito da parte embargante, na medida em que a Súmula 84 do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que "é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro". A esse respeito, confiram-se os seguintes julgados: EMENTA: APELAÇÃO - EMBARGOS DE TERCEIRO - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - AUSÊNCIA DE REGISTRO DO CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA - SÚMULA 84 DO STJ - POSSUIDOR DE BOA-FÉ - EMBARGOS PROCEDENTES - ÔNUS SUCUMBENCIAIS - PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. A falta de registro da compra e venda do imóvel no cartório competente não obsta a procedência dos embargos de terceiro, quando demonstrado que o adquirente é possuidor de boa-fé do imóvel. Conforme entendimento sumulado (Súmula 84 do STJ), é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda de instrumento de alienação de imóvel, ainda que desprovido de registro. Conforme entendimento contido na súmula 303 do STJ, nos "embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios". Assim, pelo princípio da causalidade, não há como determinar a imposição dos ônus de sucumbência à Fazenda Pública, exequente, na hipótese em que esta tenha solicitado penhora de imóvel pertencente a terceiros, mas ainda registrado em nome da parte executada, antiga proprietária. (TJ-MG - AC: 10000212662555001 MG, Relator: Geraldo Augusto, Data de Julgamento: 26/04/2022, Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 29/04/2022) EMBARGOS DE TERCEIRO. Compromisso de compra e venda não registrado. Irrelevância. Instrumento firmado antes do registro da penhora na matrícula do imóvel. Fraude à execução não configurada. Além disso, alienação que não reduziu os devedores à insolvência. Fundamento da sentença não infirmado. Recurso desprovido. (TJ-SP - AC: 10016037420228260405 SP 1001603-74.2022.8.26.0405, Relator: Milton Carvalho, Data de Julgamento: 25/11/2022, 36ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/11/2022) Diante dessa sequência de fatos, fica evidenciada a insubsistência da penhora feita sobre bem pertencente a estranho ao processo de execução, o que enseja o seu levantamento nos termos pretendidos na inicial. Ressalte-se que, no caso dos autos, não restou comprovada fraude à execução uma vez que a venda do bem ocorreu em data anterior às decisões que deferiram a penhora de bens em nome da parte executada e da realização da penhora do referido imóvel. Nesse contexto, se quando da aquisição do bem pelo embargante não havia qualquer restrição impeditiva da celebração do negócio, deve-se assegurar o seu direito, como terceiro de boa-fé, ainda que o contrato celebrado não tenha sido registrado em cartório, não sendo lícita, portanto, qualquer restrição sobre o imóvel advinda de dívidas contraídas pelo contente do imóvel. No que tange à responsabilidade pelo pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, o artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil estabelece que: Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. § 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. No entanto, o Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, firmou o entendimento de que, em embargos de terceiro, a responsabilidade pelo pagamento das custas processuais e honorários advocatícios deve ser analisada à luz do princípio da causalidade, e não do princípio da sucumbência. Nesse sentido, a Súmula 303 do Superior Tribunal de Justiça: Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios. No caso em tela, a constrição indevida foi causada pela ausência de registro da transferência da propriedade no registro imobiliário, o que permitiu que o bem fosse considerado como pertencente ao devedor no processo de execução. Embora o Embargante alegue que não realizou a transferência da propriedade em razão da existência de hipoteca sobre o imóvel, o fato é que o processo de nº 0000067-65.2008.8.16.0091, referente à hipoteca, foi definitivamente arquivado em 25/05/2016 (ID 159984775), e o Embargante não comprovou ter adotado as medidas necessárias para a baixa da hipoteca e a transferência da propriedade para o seu nome. Assim, considerando que o Embargante deu causa à constrição indevida, a ele incumbe o pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. ANTE O EXPOSTO, nos termos do art. 674 e seguintes do CPC, JULGO PROCEDENTES os presentes EMBARGOS DE TERCEIRO, para DECLARAR a insubsistência da penhora realizada nos autos principais e determinar a liberação do bem imóvel Lote 01, quadra 76 na cidade de Icaraíma, representado pela matrícula nº 1396. Pelo princípio da causalidade, CONDENO a parte Embargante ao pagamento das custas e despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, o que faço com fulcro no art. 85, §2º do Código de Processo Civil. Preclusa a via Recursal, translade-se cópia da presente aos autos principais (Ação de Execução nº 0000544-33.2010.8.11.0041). Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se. Cuiabá/MT, data da assinatura digital. YALE SABO MENDES Juiz de Direito

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Maria Da Paz Rodrigues x Banco Bradesco S.A. e outros

ID: 336010018

Tribunal: TJPI Órgão: JECC Oeiras Sede Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 0800429-57.2024.8.18.0149

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

MARIA DA PAZ RODRIGUES

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S.A. EAGLE SOCIEDADE DE CREDITO DIRETO S.A.

Sentença

Advogados:

JOANA GONCALVES VARGAS

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DANIEL GERBER

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ANTONIO DE MORAES DOURADO NETO

OAB/PE XXXXXX Desbloquear

LUCIANO HENRIQUE SOARES DE OLIVEIRA AIRES

OAB/PI XXXXXX Desbloquear

LETICIA RODRIGUES DE ALENCAR

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LUIZ ALBERTO LUSTOSA DA SILVA

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RUAN VICTOR DE OLIVEIRA MARTINS

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ JECC Oeiras Sede DA COMARCA DE OEIRAS Avenida Totonho Freitas, 930, Centro, OEIRAS - PI - CEP: 64500-000 PROCESSO Nº: 0800429-57.2024.8.18.0149 CLASSE: PROCEDIMENT… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ JECC Oeiras Sede DA COMARCA DE OEIRAS Avenida Totonho Freitas, 930, Centro, OEIRAS - PI - CEP: 64500-000 PROCESSO Nº: 0800429-57.2024.8.18.0149 CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSUNTO(S): [Seguro, Seguro] AUTOR: MARIA DA PAZ RODRIGUES REU: BANCO BRADESCO S.A., EAGLE SOCIEDADE DE CREDITO DIRETO S.A. SENTENÇA Visto etc.; I - RELATÓRIO Relatório dispensado, nos termos do art. 38, parte final, da lei 9099/95. Passo a decidir. II- FUNDAMENTAÇÃO Preliminares Justiça gratuita Deixo de analisar a possibilidade de conceder a parte autora o benefício da Justiça gratuita, pois as partes, em primeiro grau, são automaticamente isentas de custas e honorários advocatícios. Tal benefício poderá ser analisado na oportunidade de eventual recurso. Da Legitimidade Passiva do banco Bradesco Inicialmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo réu. O banco integra a cadeia de consumo, sendo responsável pelos débitos automáticos realizados diretamente na conta bancária da parte autora em benefício para as empresas "EAGLE Sociedade de Crédito Direito S.A". Nos termos do artigo 7º, parágrafo único, e artigo 25, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, há responsabilidade solidária entre os fornecedores pelos danos causados ao consumidor. Dessa forma, o banco promovido deve responder pela cobrança indevida e seus consequentes efeitos. Mérito Indiscutível que a relação travada entre as partes é de consumo, eis que a autora e réu se enquadram no conceito de consumidor e fornecedor de produtos e serviços, conforme preceituam os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Tratando-se de relação de consumo, deve ser observado o disposto no art. 6º, VIII, do CDC, quanto à inversão do ônus da prova, em face da verossimilhança da versão apresentada pelo autor e de sua evidente hipossuficiência perante a ré na comprovação de suas alegações. Logo, inverto o ônus da prova em desfavor da ré. A presente demanda versa sobre a legalidade dos descontos automáticos realizados na conta corrente da parte autora em benefício das empresas EAGLE. Conforme os artigos 373, II, do CPC e 6º, VIII, do CDC, cabia a empresa EAGLE demostrar a licitude das cobranças, apresentando documentos que evidenciassem autorização expressa para que houvesse descontos em seu favor, o que não foi feito. A ausência dessa comprovação reforça a irregularidade dos débitos, tornando necessária a restituição dos valores cobrados indevidamente. Da mesma forma, conforme os artigos 373, II, do CPC e 6º, VIII, do CDC, cabia à instituição financeira demonstrar a licitude das cobranças, apresentando documentos que evidenciassem autorização expressa do correntista para a realização dos débitos automáticos em favor da EAGLE Sociedade de Crédito Direito S.A, o que não foi feito. A ausência dessa comprovação reforça a irregularidade dos débitos, tornando necessária a restituição dos valores cobrados indevidamente. Portanto, os descontos automáticos efetuados na conta do autor sem sua anuência constituem falha na prestação do serviço. Neste sentido: AÇÃO ORDINÁRIA CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Sentença que julgou o pedido inicial procedente. Insurgência das partes. ILEGITIMIDADE PASSIVA. Não configuração. Instituição financeira responsável pelo débito automático dos valores da conta da requerente. Integrante da cadeia de consumo. Ausência de comprovação de autorização da correntista para efetivação do débito automático. Ônus que competia ao apelante. Preliminar rejeitada. CONTRATO DE SEGURO. Relação de consumo. Inversão do ônus da prova. Responsabilidade objetiva da instituição financeira, nos termos do artigo 14 do CDC e da Súmula nº 479 do Superior Tribunal de Justiça. Descontos de valores na aposentadoria da autora em decorrência de contratação por ela desconhecida. Fraude evidenciada. Apelante que não comprovou a autorização da correntista para realização do débito automático. Relação jurídica declarada inexistente. Manutenção que se impõe. Danos morais advindos de descontos indevidos de valores em benefício previdenciário que dispensam prova do efetivo prejuízo (dano in re ipsa). DANOS EXPRATRIMONIAIS. Quantum indenizatório fixado em R$ 5.000,00 que se mostra adequado, à luz dos critérios da proporcionalidade e razoabilidade, das circunstâncias do caso concreto e dos parâmetros adotados por esta Colenda Câmara. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS. Sentença que arbitrou os honorários sucumbenciais em valor irrisório. Fixação de honorários com fundamento no disposto no art. 85, § 8º, do CPC. Decisão reformada neste ponto. Recurso do autor provido para majorar os honorários de sucumbência por equidade, desprovido o recurso da requerida. (TJ-SP - Apelação Cível: 1006453-74.2022.8.26.0405 Osasco, Relator: Marcos Gozzo, Data de Julgamento: 16/03/2023, 38ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/03/2023) - grifou-se. Assim, constatado os descontos indevidos na conta corrente da parte autora em favor da empresa ré EAGLE, sem que este comprovasse a existência de documentos hábeis que os legitimassem, fica caracterizada a inequívoca falha na prestação de serviço, cabendo à aplicação no caso o art. 14, § 1º, do CDC. “O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeito relativo à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” § 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I – o modo de seu fornecimento; II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam: (...) Cito jurisprudência da Corte Especial do STJ, ao analisar o EAREsp nº 676.608, em 21/10/2020, que por maioria de votos, firmou entendimento no sentido de que a restituição em dobro do indébito, previsto no parágrafo único do art. 42 do CDC, independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou o valor indevidamente, mostrando-se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa fé objetiva. Segue entendimentos do nosso Tribunal de Justiça e Turmas Recursais: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL C/C PEDIDO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DESCONTOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO RECORRIDO. DIREITO DO CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO. CONTRATO JUNTADO AOS AUTOS. AUSÊNCIA DE PROVA DA DISPONIBILIZAÇÃO DO VALOR DO EMPRÉSTIMO NA CONTA DO AUTOR. SÚMULA Nº 18 DO TJPI. DESCONTOS PROMOVIDOS INDEVIDAMENTE NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR/RECORRIDO. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO (CDC, ART. 14). CANCELAMENTO DO CONTRATO. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES INDEVIDAMENTE DESCONTADOS. APURAÇÃO DO VALOR ATRAVÉS DE SIMPLES CÁLCULOS ARITMÉTICOS. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO ADEQUADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. ACÓRDÃO Súmula do Julgamento: “ACORDAM os Excelentíssimos Juízes de Direito que integram esta Turma Recursal, à unanimidade, em conhecer do recurso, para dar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora. Sem ônus de sucumbência.” Participaram do Julgamento os Excelentíssimos Juízes: Dra. Maria Célia Lima Lúcio (relatora), Dr. Sebastião Firmino Lima Filho (membro) e Dr. Édison Rogério Leitão Rodrigues (membro). Presente o Representante do Ministério Público. Segunda Turma Recursal Cível, Criminal e de Direito Público, de Teresina 19 de fevereiro de Relatório e Voto 296 (2208524) SEI 21.0.000012510-2 / pg. 1 2021. Quanto ao dano moral alegado pela autora, vê-se que também merece agasalho, porquanto o vexame suportado foi bem além de meros aborrecimentos que a todos é imposto no dia a dia. Assim, a luz da proporcionalidade e da razoabilidade, considerando as questões fáticas, o caráter repreensivo da indenização e o enriquecimento sem causa da parte ofendida revela-se adequado a fixação da indenização a título de dano moral em R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais). Esta quantia assegura o caráter repressivo e pedagógico da indenização, sem representar qualquer enriquecimento indevido. Ademais, a condenação do promovido na restituição em dobro também cumpre a finalidade punitiva. Por fim, importa ressaltar que, consoante entendimento jurisprudencial já sedimentado pelo STJ, não está obrigado o magistrado a se manifestar de todos os argumentos apresentados pelas partes em juízo, desde que sua decisão esteja devidamente fundamentada. Ademais, considerando-se os princípios da Simplicidade e Celeridade previstos na Lei nº. 9.099/95, é inegável que as decisões em âmbito de Juizados sejam a mais dinâmica e objetiva possível. III – DISPOSITIVO a) Condenar os réus, de forma solidária, a pagar o valor descontados indevidamente na conta da autora referente “EAGLE SOCIEDADE DE CREDITO DIRET”, em dobro, a ser apurado por simples cálculo aritmético, com a incidência de juros de 1% ao mês e correção monetária nos índices estabelecidos pela Tabela do Egrégio Tribunal de Justiça incidindo desde a ocorrência de cada desconto (art. 406 do CC, combinado com a Lei nº 9.250/95), sem prejuízo de eventuais descontos efetuados no decorrer da presente demanda; b) Condenar, ainda, o réu no pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), para que não haja reiteração de ato ilícito, considerando os princípios da proporcionalidade e razoabilidade em sua aplicação, acrescida de correção monetária nos índices estabelecidos pela Tabela do Egrégio Tribunal de Justiça incidindo desde a Sentença. Sem ônus de sucumbência em custas e honorários de advogado, por força da isenção legal (art. 54 e 55, 1ª parte, da Lei 9.099/95). Defiro a justiça gratuita à parte autora. Intimem-se. Publicação e registro dispensados por serem os autos virtuais. Transitado em julgado, arquivem-se os autos. Oeiras/PI, datado eletronicamente. _____Assinatura Eletrônica____ José Osvaldo de Sousa Curica JUIZ DE DIREITO DO JECC/OEIRAS

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Processo nº 1050977-33.2024.8.11.0041

ID: 306993375

Tribunal: TJMT Órgão: 3ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ Classe: EXECUçãO DE TíTULO EXTRAJUDICIAL Nº Processo: 1050977-33.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 25/06/2025

Polo Ativo:

MARCIA APARECIDA RODRIGUES NASSARDEN DE ABREU

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

JAMES NASSARDEN DE ABREU FILHO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso Comarca de Cuiabá Juízo da 3ª Vara Cível Avenida Desembargador Milton Figueiredo Ferreira Mendes, Telefones: (65) 3648-6424/6427 - (65) 3648-6422 - WhatsApp … Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso Comarca de Cuiabá Juízo da 3ª Vara Cível Avenida Desembargador Milton Figueiredo Ferreira Mendes, Telefones: (65) 3648-6424/6427 - (65) 3648-6422 - WhatsApp Secretaria: (65) 99227-4375 - WhatsApp Gabinete: (65) 99229-2500- Centro Político Administrativo, Cuiabá - MT - CEP: 78049-075 e-mail: cba.gab3varacivel@tjmt.jus.br (gabinete) Processo: 1050977-33.2024.8.11.0041 Autor: MARCIA APARECIDA RODRIGUES NASSARDEN DE ABREU Réu: NIRLEY ADRIELLE ALVES GREGORIO registrado(a) civilmente como NIRLEY ADRIELLE ALVES GREGORIO DECISÃO Trata-se de execução de título extrajudicial com pedido de tutela de urgência ajuizada por MÁRCIA APARECIDA RODRIGUES NASSARDEN DE ABREU em desfavor de NIRLEY ADRIELLE ALVES GREGORIO, postulando pela concessão liminar de bloqueio online das contas bancárias de titularidade da executada, no valor suficiente para satisfazer a execução. A exequente relata que locou à executada o imóvel residencial nº 372 do condomínio Terra nova Várzea Grande I, localizado na Av. Aleixo Ramos da Conceição, Bairro 23 de Setembro, Município de Várzea Grande/MT, por meio de contrato de locação, pelo prazo de 12 (doze) meses, com início em 20/10/2023 e término em 19/10/2024. Aduz que restou pactuado o valor de aluguel mensal de R$ 2.150,00, sendo o primeiro vencimento em 05/10/2023 e os demais todo dia 20 dos meses subsequentes, além do pagamento de IPTU proporcional aos anos de 2023 e 2024 e, faturas de água, energia e taxas condominiais. Aponta que a postura da executada revela completo descompromisso com as obrigações livremente assumidas no contrato de locação, denotando não apenas o inadimplemento reiterado de aluguéis vencidos em julho, agosto, e setembro de 2024, mas também o inadimplemento de encargos acessórios, circunstância que agrava a mora contratual e impõe à exequente ônus financeiro indevido. Ressalte que o contrato se encontra desprovido de qualquer garantia efetiva, pois, embora prevista cláusula de caução, a executada jamais a constituiu, tampouco apresentou alternativa idônea, mesmo após regularmente notificada para tanto. Sustenta que as tentativas de resolução extrajudicial, em que pese insistentes e reiteradas, por meio de notificações formais e contatos diretos, mostrou-se vã diante da inércia e do absoluto silêncio da parte locatária. Assim, diante do inadimplemento flagrante e da manifesta resistência em regularizar a situação contratual, pede a execução do contrato, com a concessão da tutela de urgência para o bloqueio das contas da executada. Instruiu a inicial com documentos. Comprovante recolhimento das custas judiciais (ID. 173721696). Declaração de incompetência em ID. 174033786. Suscitado conflito de competência em ID. 174592933, o qual foi devidamente julgado em ID. 197655332. Os autos vieram conclusos. É o relatório. Decido. Infere-se dos autos que a exequente requer a concessão da tutela de urgência de natureza cautelar, a ser efetivada mediante o bloqueio online das contas bancárias de titularidade da executada, para garantia do pagamento de R$ 19.846,47. O artigo 300 e 301, do Código de Processo Civil, dispõem da seguinte forma: “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.” “Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.” Entretanto, para a concessão da medida de bloqueio online em execução faz-se necessária, além da demonstração dos requisitos autorizadores da concessão da tutela de urgência, a comprovação de que o devedor está se furtando ao pagamento da obrigação. In casu, a exequente informou que ajuizou ação de despejo sob nº 1037103-98.2024.8.11.0002, em trâmite perante a 2ª Vara de Várzea Grande. Em consulta, aos autos, foi verificado que o imóvel foi desocupado em dezembro/2024, sem informação de pagamento do débito. Em que pese as alegações da parte exequente quanto à existência de investigações criminais em curso envolvendo a executada, inclusive com a menção de duas cartas precatórias pelo delito de estelionato em diferentes unidades da Federação, é imperioso ressaltar que tais elementos, por si sós, não autorizam a presunção de fraude à execução, tampouco ensejam a adoção de medidas constritivas excepcionais sem a devida demonstração de atos concretos de dilapidação patrimonial. A simples existência de investigações ou precatórias oriundas de outros juízos não suprime a necessidade de prova inequívoca da intenção de fraudar credores, ônus que incumbia à parte exequente nos termos do artigo 300 do Código de Processo Civil, especialmente considerando que, nos autos em análise, inexiste qualquer evidência de alienação ou ocultação de bens com o escopo de frustrar o cumprimento da obrigação. Assim, resguardando-se o devido processo legal e o contraditório, impõe-se oportunizar à executada o pagamento voluntário da obrigação no prazo legalmente estabelecido de 03 (três) dias. Em casos análogos a este, o TJMT tem decidido pelo indeferimento da medida: “AGRAVO DE INSTRUMENTO – CAUTELAR DE ARRESTO – INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA DECORRENTE DE EMPRÉSTIMOS PARA FOMENTO AGRÍCOLA - INADIMPLÊNCIA - AUSÊNCIA DE CITAÇÃO – INDEFERIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA PELO JUÍZO “A QUO” - FALTA DOS REQUISITOS (FRUSTRAÇÃO DA OBRIGAÇÃO, ESTADO DE INSOLVÊNCIA DEMONSTRADO, DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO) – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 300 DO CPC - MANUTENÇÃO – AGRAVO DESPROVIDO. A inadimplência, por si só, não autoriza o deferimento liminar de arresto de bens do devedor, quando não preenchidos os requisitos, com a demonstração de frustração da obrigação, o estado de insolvência do devedor, a dilapidação do patrimônio do devedor, mormente quando não há oferecimento de caução por parte do credor, destacando-se que sequer houve a citação no processo de origem. “(...) 2. Não havendo qualquer indício de dilapidação patrimonial no intuito de frustrar a execução, tampouco de que o patrimônio dos devedores seja insuficiente para a quitação das dívidas (estado de insolvência), de modo a justificar o imediato bloqueio de bens para assegurar o resultado útil da execução, impõe-se a manutenção da decisão de indeferimento do pedido liminar de arresto. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.264400-9/001, Relator(a): Des.(a) Marcelo Pereira da Silva (JD Convocado) , 12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/05/2022, publicação da súmula em 31/05/2022).” (N.U 1006959-21.2022.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, SEBASTIAO BARBOSA FARIAS, Primeira Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/08/2022, Publicado no DJE 26/08/2022. Negritei.) “AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO - TUTELA DE URGÊNCIA INDEFERIDA - ARRESTO DE BENS DOS EXECUTADOS - RISCO DE DANO IMEDIATO NÃO DEMONSTRADO - AUSÊNCIA DE REQUISITO ELENCADO NO ARTIGO 300 DO CPC - RECURSO NÃO PROVIDO. É descabido o deferimento de tutela de urgência para determinar o arresto de bens dos executados antes da citação e oportunizar-lhes o pagamento voluntário se não há prova satisfatória de que praticaram algum ato tendente ao ocultamento ou dilapidação patrimonial.” (AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 1009363-84.2018.8.11.0000. DES. RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO. QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO. Julgado em 13/02/2019. Negritei) “RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL – TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR – ARRESTO – REQUISITOS DA TUTELA INDEMONSTRADOS – PAGAMENTO SUBSTANCIAL DA DÍVIDA EXECUTADA – CONTROVÉRSIA ACERCA DA HIGIDEZ DO TÍTULO EXECUTIVO – DECISÃO REFORMADA – RECURSO PROVIDO I - O juiz poderá servir-se de medidas cautelares que busquem assegurar o direito pleiteado pela parte, mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação fiduciária de bem ou qualquer outra medida idônea equivalente .II - No caso específico da Cautelar de Arresto, a probabilidade do direito, será identificada quando houver prova literal da dívida líquida e certa e o perigo de dano, quando comprovado que o devedor se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente do pagamento da obrigação ou caia em insolvência. III - Apesar do remanescente da dívida ainda persistir, mostra-se temerária qualquer decisão no sentido de desapossar os agravantes de vultosa quantia de produtos agrícolas, sem que seja oportunizado o contraditório e melhor examinada a questão, na origem, somando-se a isso, o próprio valor efetivamente pago em favor da credora, ora agravada.” (AGRAVO DE INSTRUMENTO SERLY MARCONDES ALVES, QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 22/08/2018, Publicado no DJE 29/08/2018) “AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE EXECUÇÃO – ARRESTO ONLINE ANTES DA CITAÇÃO DO DEVEDOR – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE QUALQUER ATO VISANDO A CITAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Embora venha se admitindo a realização de arresto prévio ou online quando não encontra o executado para citação, no presente caso sequer foi demonstrada qualquer tentativa de citação, o que inviabiliza o pedido.” (AI 175262/2015, DES. SEBASTIÃO BARBOSA FARIAS, PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, Julgado em 05/04/2016, Publicado no DJE 12/04/2016) Portanto, se revela precoce o pedido de arresto formulado pela exequente, razão pela qual INDEFIRO O PEDIDO LIMINAR DE BLOQUEIO ONLINE. Cite-se a executada para, no prazo de 03 (três) dias, pagar a dívida exequenda, sob pena de efetivação das penhoras requeridas. Fixo os honorários advocatícios em 10% do valor da causa. No caso de integral pagamento da obrigação no prazo de três dias, a verba honorária será reduzida pela metade (art. 827, § 1º do CPC). Expeça-se o necessário. Cumpra-se. Cuiabá, data registrada no sistema. Ana Paula da Veiga Carlota Miranda Juíza de Direito

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Processo nº 0025486-22.2011.8.13.0112

ID: 331082709

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Campo Belo Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA Nº Processo: 0025486-22.2011.8.13.0112

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ALTIELLES AGUIAR CASSIANO JOSE RAIMUNDO CASSIANO THAIS AGUIAR CASSIANO THIAGO AGUIAR CASSIANO

Intimação

Advogados:

DAVI RODARTE BARBOSA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Campo Belo / 2ª Vara Cível da Comarca de Campo Belo Rua João Pinheiro, 254, Centro, Campo Belo - MG - CEP: 37270-00… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Campo Belo / 2ª Vara Cível da Comarca de Campo Belo Rua João Pinheiro, 254, Centro, Campo Belo - MG - CEP: 37270-000 PROCESSO Nº: 0025486-22.2011.8.13.0112 CLASSE: [CÍVEL] CUMPRIMENTO DE SENTENÇA (156) ASSUNTO: [Aposentadoria por Invalidez Acidentária] AUTOR: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL CPF: 29.979.036/0001-40 RÉU: ALTIELLES AGUIAR CASSIANO CPF: 076.205.486-70 e outros DECISÃO Trata-se de fase de cumprimento de sentença em que o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, ora exequente, pleiteia a restituição de valores que foram recebidos a título de benefício previdenciário de auxílio-doença por Denise das Graças Aguiar Cassiano, já qualificada nos autos, em razão de tutela antecipada deferida em momento anterior e posteriormente revogada. A parte executada, na presente fase processual, é representada pelos herdeiros da Sra. Denise das Graças Aguiar Cassiano, quais sejam, José Raimundo Cassiano, Thais Aguiar Cassiano, Thiago Aguiar Cassiano e Altieles Aguiar Cassiano. A Ação de conhecimento para Concessão de Benefício Previdenciário de Auxílio-Doença, com pedido de tutela antecipada foi ajuizado em 08 de abril de 2011, pela requerente Denise das Graças Aguiar Cassiano em face da Autarquia- INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Conforme juntada de ID9609938353 (f.04-08), foi proferida decisão (fls. 49-53 dos autos físicos) em de 17 de novembro de 2011 que deferiu a tutela de urgência e determinando o pagamento mensal de 01 (um) salário mínimo à autora a título de auxílio-doença, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) em caso de descumprimento. A decisão inicial também deferiu os benefícios da assistência judiciária gratuita à parte autora e a citação da requerida. Em face da decisão que concedeu a tutela antecipada, o Instituto Nacional do Seguro Social interpôs agravo de instrumento (ID9609938353 f.29. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao julgar o recurso (AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 0000548-40.2012.4.01.0000/MG), conforme acórdão acostado às fls. 217-221 dos autos físicos, com trânsito em julgado certificado à fl. 222, deu parcial provimento ao agravo de instrumento apenas para afastar a aplicação da multa cominatória, mantendo, contudo, a tutela antecipada que determinava a concessão do benefício previdenciário de auxílio-doença. Ao longo da instrução processual na ação de conhecimento, foram realizadas duas perícias judiciais para avaliar a capacidade laborativa da autora. A primeira, conduzida por médico psiquiatra (Dr. Marco Túlio Silva Neves, CRM/MG 31.682), em laudo juntado às fls. 134-135 dos autos físicos (ID9609938350 f.15), concluiu pela capacidade psiquiátrica da pericianda, mas sugeriu o encaminhamento a especialista em reumatologia, pneumologia e/ou ortopedia para avaliação de outras patologias. Nas fls. 137/138 dos autos físicos a autora requereu nova perícia ao esteio da manifestação do expert, colacionando novos laudos médicos (fls. 139/143). O INSS, por sua vez, infirma tal possibilidade, aduzindo fugir a pretensão da causa petendi descrita no exórdio (fls.145/145v). Não obstante veio sentença de improcedência em 08 de agosto de 2014, conforme juntada de Id9609938350 f.30/32 (fls. 147-149 autos físicos) sem deferir o pedido de nova prova pericial. Diante desta sugestão e dos laudos médicos adicionais apresentados pela autora (fls. 139-143), este Juízo proferiu decisão (fls. 166-168-f.52/54) que declarou a ineficácia de uma sentença anterior de improcedência (fls. 147-149), por ter sido prolatada sem o deferimento da nova prova pericial e nomeou novo perito, Dr. Felipe Rocha Henriques Ramos, com honorários a cargo da Justiça Federal, e determinou o restabelecimento do benefício previdenciário. A segunda perícia judicial, realizada pelo Dr. Felipe Rocha Henriques Ramos, especialista em ortopedia, teve seu laudo juntado às fls. 186-192 dos autos físicos (ID9609938350 f.79-91), concluindo que a pericianda "não apresenta alterações clínico ortopédicas que justifiquem incapacidade para sua atividade laboral habitual". A parte autora apresentou impugnação ao laudo pericial (fls. 202-203), alegando que o perito não considerou a fibromialgia, tendinopatia e radiculopatia cervical, além de não ter comprovado a gravidade da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), apesar de internações hospitalares anteriores. Proferida nova sentença de mérito em 19 de julho de 2017 (ID9609938350 f.30/32 autos digitais-fls. 232-239 dos autos físicos), este Juízo julgou improcedente o pedido inicial, sob o fundamento de que a perícia médica judicial havia sido conclusiva pela inexistência de incapacidade laborativa da autora. A sentença também revogou expressamente os efeitos da tutela antecipada anteriormente concedida. A parte autora opôs Embargos de Declaração contra esta sentença (fls. 241-245 dos autos físicos), alegando omissão quanto à apreciação de documentos e internações hospitalares posteriores à perícia, bem como o requerimento de expedição de ofício à UPA para obtenção de histórico médico. Em decisão às fls. 246-249 dos autos físicos, os embargos foram julgados improcedentes, sob o argumento de que a decisão embargada não padecia dos vícios alegados e que os embargos não se prestavam a rediscutir o mérito da causa. Inconformada, a parte autora interpôs recurso de apelação (fls. 251-258 dos autos físicos). O Instituto Nacional do Seguro Social apresentou contrarrazões (fls. 260-262). O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao apreciar a Apelação Cível nº 0000795-59.2018.4.01.9199/MG (fls. 264-268 dos autos físicos), em acórdão transitado em julgado (fl. 270), negou provimento à apelação da parte autora, mantendo a sentença de improcedência do pedido e a revogação da tutela antecipada e também acresceu honorários recursais, observada a gratuidade judiciária. Em momento posterior, já na fase de cumprimento de sentença, o Instituto Nacional do Seguro Social, ora exequente, apresentou pedido de cobrança dos valores que foram pagos à parte autora em razão da tutela antecipada revogada, conforme planilha de débito atualizada até janeiro/2020, totalizando R$ 73.795,34 (fls. 277-281 do autos físicos). O INSS fundamentou seu pedido no art. 302 do Código de Processo Civil, que prevê a responsabilidade da parte pelo prejuízo causado pela efetivação da tutela de urgência se a sentença lhe for desfavorável, e também no Tema Repetitivo 692 do Superior Tribunal de Justiça. O pedido foi inicialmente indeferido por este Juízo em decisão de fls. 283-284 dos autos físicos, com a justificativa de que a decisão que negou provimento ao pedido (acórdão de fl. 268) não havia determinado expressamente a devolução dos valores, além de sopesar o caráter alimentar das verbas e a boa-fé da autora. O INSS, então, interpôs Agravo de Instrumento (nº 1009363-91.2021.4.01.0000) contra a decisão de fls. 283-284, visando a reforma para que fosse admitida a cobrança dos valores nos próprios autos. O Tribunal Regional Federal da 6ª Região, em acórdão datado de 10 de junho de 2024 (ID 10282738973), que transitou em julgado em 02 de agosto de 2024 (ID 10282738973), deu provimento ao agravo de instrumento do INSS. Com o retorno dos autos a este Juízo, a exequente informou o falecimento da Sra. Denise das Graças Aguiar Cassiano em 31/03/2021 (ID 10295175608 e ID 10295460525), e indicou os seus herdeiros (ID 10373180878), os quais foram devidamente cadastrados no polo passivo da demanda (ID10427534634). Após a habilitação dos herdeiros e a devida citação (IDs 10428235122, 10428235123, 10428235124 e 10428235125, com comprovantes de recebimento ARs de IDs 10435411001, 10435390226, 10435396480 e 10435415047), os herdeiros apresentaram petição às fls. ID 10440452119 e ID 10440678666, requerendo a manutenção da assistência judiciária gratuita, sustentando a ausência de título executivo para a cobrança, a necessidade de dilação probatória, a ocorrência de prescrição intercorrente, a incidência do princípio in dubio pro misero e a condenação do INSS por cobrança indevida, com base no art. 940 do Código Civil. Foram juntados documentos de IDs 10440457551, 10440461602, 10440678934, 10440681532, 10440693049, 10440687367, 10440677472, 10440691649, 10440678672, 10440688805 e 10440678222. A exequente, devidamente intimada, apresentou nova planilha atualizada do débito em 29 de outubro de 2024 (ID 10335222213, ID 10335235864 e ID10335235865), totalizando R$ 97.724,11 (noventa e sete mil, setecentos e vinte e quatro reais e onze centavos) até 18/10/2024, e reiterou o pedido de prosseguimento da execução. Certidão de decurso de prazo para manifestação dos executados apresentada (ID 10480373679). É o relatório do essencial. FUNDAMENTAÇÃO A presente fase processual tem como escopo a execução de valores supostamente devidos ao Instituto Nacional do Seguro Social, decorrentes da revogação de uma tutela antecipada que havia concedido benefício previdenciário à falecida Denise das Graças Aguiar Cassiano. A controvérsia central reside na possibilidade e nos termos desta cobrança, considerando os argumentos apresentados pelos herdeiros da segurada. Primeiramente, no tocante à manutenção dos benefícios da assistência judiciária gratuita, é imperioso reconhecer que a benesse foi concedida à requerente originária, Denise das Graças Aguiar Cassiano, desde as fls. 18 dos autos físicos e reiterada em diversas ocasiões, sendo expressamente mantida na sentença de mérito (fl. 239) e no acórdão proferido na apelação (ID9609938353 - Pág. 10 a 16). Os sucessores pleiteiam a manutenção dos benefícios da assistência judiciária gratuita, concedidos à autora original na fase de conhecimento. A jurisprudência pátria é pacífica no sentido de que a gratuidade da justiça, uma vez deferida, estende-se a todas as fases do processo, incluindo o cumprimento de sentença, salvo prova em contrário da alteração da condição de hipossuficiência. Considerando que a parte executada, agora representada por seus herdeiros, não teve sua condição econômica alterada de forma a justificar a revogação do benefício, e que a presunção de hipossuficiência se mantém, defiro a manutenção da assistência judiciária gratuita aos sucessores, nos termos do art. 99, § 3º, do Código de Processo Civil. Contudo, é fundamental ressaltar que a concessão da gratuidade não exime a parte da obrigação de pagar, mas apenas suspende a exigibilidade das verbas sucumbenciais, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC. A presente fase processual cinge-se à análise da impugnação apresentada pelos sucessores da de cujus Denise das Graças Aguiar Cassiano, em face do pedido de cumprimento de sentença formulado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, que busca a restituição dos valores pagos a título de tutela antecipada posteriormente revogada. Inicialmente, cumpre registrar que a habilitação dos herdeiros da falecida Denise das Graças Aguiar Cassiano foi devidamente processada e deferida, conforme despacho de ID 10421227308. Em sede de impugnação os executados argumentam a ausência de título executivo judicial apto a amparar a presente execução, bem como a irrepetibilidade dos valores recebidos em razão de seu caráter alimentar e da boa-fé da de cujus. Contrariamente ao alegado pelos executados, a questão da repetibilidade dos valores recebidos a título de tutela antecipada posteriormente revogada foi objeto de análise e decisão expressa pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região no Agravo de Instrumento nº 1009363-91.2021.4.01.0000 (ID 10282738973). O acórdão proferido naquele recurso, que transitou em julgado, deu provimento ao agravo do INSS para "reconhecer a possibilidade de cobrança nos próprios autos dos valores pagos à parte Autora a título de decisão judicial provisória, posteriormente revogada", em consonância com o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça no Tema Repetitivo 692 (Pet 12482/DF). O Tema 692/STJ estabelece, de forma vinculante, que: "A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago." A tese firmada pelo STJ, em sede de recurso repetitivo, possui caráter obrigatório e vinculante, nos termos do art. 927, inciso III, do Código de Processo Civil. A obrigação de devolver os valores decorre ex lege da reforma da decisão que concedeu a tutela provisória, não sendo necessária uma condenação expressa no título executivo judicial principal para que a restituição seja exigível. O próprio acórdão do TRF6, ao reconhecer a possibilidade da cobrança nos mesmos autos, conferiu o título executivo necessário para a presente fase. Quanto à alegação de irrepetibilidade dos valores em razão do caráter alimentar e da boa-fé, o Superior Tribunal de Justiça, ao revisar o Tema 692, relativizou a tese anterior (como o Tema 51 da TNU, que não mais se aplica em face do precedente vinculante do STJ), consolidando o entendimento de que a boa-fé e o caráter alimentar não afastam a obrigação de restituição. O entendimento atual prevê que a devolução dos valores pagos indevidamente pode ser realizada por meio de descontos em benefício ainda percebido, respeitando o limite de 30% (trinta por cento) do valor mensal, conforme o princípio da razoabilidade e da proteção ao mínimo existencial do beneficiário O entendimento consolidado pelo STJ encontra fundamento, ainda, na moralidade administrativa e no dever de restituição ao erário, em consonância com o artigo 37, § 5º, da Constituição Federal, que impõe a devolução de valores indevidamente recebidos, independentemente de má-fé. Nesse sentido é a jurisprudência: Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Gabinete do Des. Paulo Romero de Sá Araújo Praça da República, S/N, Santo Antônio, RECIFE - PE - CEP: 50010-040 - F:() APELAÇÃO CÍVEL (198) nº 0009373-89.2018.8.17.2810 APELANTE: JAIME CARREIRO DE ANDRADE JUNIOR, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL APELADO (A): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, JAIME CARREIRO DE ANDRADE JUNIOR PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRABALHO. DEVOLUÇÃO DE VALORES PAGOS A TÍTULO DE AUXÍLIO-DOENÇA EM SEDE DE TUTELA ANTECIPADA. POSSIBILIDADE. REAFIRMAÇÃO DA TESE 695 DO STJ EM 24/05/2022. AUSÊNCIA DE INCAPACIDADE. PERÍCIA JUDICIAL QUE ATESTA A APTIDÃO DA AUTORA. AUSÊNCIA DE REQUISITO PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. BENEFÍCIO ACIDENTÁRIO INDEVIDO. APELO DO INSS PROVIDO. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA IMPROVIDA. DECISÃO UNÂNIME. 1. Cuida-se, na origem, de Ação de conversão de benefício previdenciário proposta por Jaime Carreiro de Andrade Júnior em face do INSS pugnando pela conversão do auxílio doença para auxílio doença acidentário em virtude das sequelas advindas de sua condição de trabalho diária que teria resultado na redução de seu potencial laboral. 2. Quanto à devolução dos valores recebidos a título de tutela antecipada, sabe-se que o STJ, em sede de Recurso Repetitivo - RESP Nº 1.401.560/MT -, firmando tese no Tema 692, decidiu pela devolução dos valores recebidos pelo demandante beneficiário do RGPS decorrentes de decisão judicial precária que venha a ser revogada. 3. Assim restou ementada a referida tese:"A reforma da decisão que antecipa a tutela obriga o autor da ação a devolver os benefícios previdenciários indevidamente recebidos". 4. Em maio do ano de 2022 (24/05/2022), o STJ reanalisou o precedente do Tema Repetitivo 692/STJ (RESP N. 1.401.560/MT), julgando a questão de ordem apresentada (Petição nº 12482/DF), no sentido de reafirmar a tese jurídica desenvolvida no referido tema com acréscimo redacional para ajuste à nova legislação de regência, nos termos a seguir:"A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago". 5. Dessa forma, deve ser estabelecida a devolução do pagamento de verbas pagas a título de tutela antecipada nestes autos, diante da reversibilidade da medida antecipatória e a vedação do enriquecimento sem causa. 6. No que tange ao recurso interposto pelo segurado, é necessário destacar o apresentado pelo perito no exame no sentido de que apesar da redução da capacidade laborativa do requerente, não houve perda anatômica, a força muscular está mantida e está apto para exercer outras atividades. Assim, embora o laudo médico particular exalte a incapacidade da parte autora, é preciso considerar a perícia realizada pelo médico do INSS e pelo perito judicial no sentido de que o requerente está apto para o retorno ao trabalho, ainda que distinto. Desse modo, é necessário concluir que não há provas suficientes aptas a afastar a avaliação no sentido da capacidade do autor para o retorno ao trabalho. 7. Apelo do INSS provido, para determinar a condenação da parte autora à devolução dos valores que tenha percebido a título de tutela antecipada neste processo, observado o limite percentual estabelecido e recurso da parte autora improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos da Apelação Cível nº 0009373-89.2018.8.17.2810, ACORDAM os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara de Direito Público deste e. Tribunal de Justiça, à unanimidade, em dar provimento ao apelo do INSS e negar provimento ao apelo da parte autora, na conformidade do relatório e dos votos proferidos neste julgamento. Recife, data conforme registro de assinatura eletrônica. Paulo Romero de Sá Araújo Desembargador Relator p05 (TJ-PE - Apelação Cível: 00093738920188172810, Relator: ANDRE OLIVEIRA DA SILVA GUIMARAES, Data de Julgamento: 13/11/2024, Gabinete do Des. Paulo Romero de Sá Araújo) grifo nosso. In casu, independentemente de sua boa-fé, e considerando a vedação de enriquecimento sem causa, a natureza precária dos provimentos liminares, bem como a tese fixada no Tema 692 do STJ, não há dúvida de que a parte beneficiária deve restituir as parcelas recebidas indevidamente. Portanto, a existência de título executivo judicial é manifesta, e a irrepetibilidade dos valores não se sustenta diante do precedente vinculante do Superior Tribunal de Justiça. O Tema 692/STJ, ao mesmo tempo que estabelece a obrigatoriedade da devolução, também prevê uma forma específica para tal: "o que pode ser feito por meio de desconto em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago." Esta previsão específica do Tema 692/STJ harmoniza a necessidade de ressarcimento ao erário com a proteção ao mínimo existencial do devedor que continua a receber benefício previdenciário. Por fim, no que tange à alegação de que não é possível o desconto quando o benefício é de valor mínimo, tal como mencionado em julgado do TRF4, o Tema 692 do STJ é claro ao permitir o desconto "em valor que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago". A tese não estabelece uma proibição de desconto para benefícios de valor mínimo, mas sim um limite percentual para o desconto. A questão da impenhorabilidade de verbas alimentares, como benefícios previdenciários de valor mínimo, é fundamental e encontra respaldo no art. 833, IV, do CPC. Contudo, a devolução de valores recebidos a título de tutela provisória posteriormente revogada é uma exceção a essa regra, conforme o entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça. A lógica é que o recebimento provisório cria uma expectativa de direito precária, e a revogação da tutela implica o retorno ao status quo ante, sob pena de enriquecimento sem causa. No caso do falecimento da segurada, a cobrança se direciona ao espólio ou aos herdeiros nos limites da herança, conforme o art. 1.792 do Código Civil. A jurisprudência, embora reconheça a obrigatoriedade da devolução, também pondera a necessidade de preservar a dignidade do devedor. Esta modalidade de cobrança, além de estar expressamente prevista na tese de observância obrigatória, alinha-se ao princípio da menor onerosidade ao executado, insculpido no artigo 805 do Código de Processo Civil, que preconiza que a execução deve se dar pelo meio menos gravoso para o devedor, desde que eficaz para o cumprimento da obrigação. O acórdão estabeleceu um limite de 30% para o desconto em caso de benefício ainda em pagamento, o que não se aplica in casu, visto que o benefício foi cessado e a parte autora faleceu. Com a morte da parte, a sucessão processual é medida imperativa para a continuidade do feito, nos termos dos artigos 110 e 313, inciso I, do Código de Processo Civil. Ademais, é fundamental esclarecer a extensão da responsabilidade dos herdeiros pela dívida deixada pela falecida. A responsabilidade dos herdeiros, é limitada às forças da herança, conforme preceituam os artigos 1.792 e 1.997 do Código Civil. Isso significa que a responsabilidade dos sucessores se limita ao quinhão hereditário que efetivamente receberam, não podendo seus patrimônios pessoais serem atingidos para saldar dívidas do de cujus que excedam o valor dos bens herdados. A execução, portanto, deve prosseguir observando-se estritamente este limite, recaindo sobre os bens que compõem o espólio ou, na sua ausência, sobre o valor da herança já partilhada, até o limite do que cada herdeiro recebeu. Tal limitação é inerente à própria natureza da sucessão hereditária e deve ser observada na fase de cumprimento de sentença. Nesse contexto, a ausência de bens do devedor, ou a comprovação de que o espólio não possui ativos suficientes para cobrir a dívida, pode, de fato, impedir o prosseguimento da execução em relação aos herdeiros, na medida em que não há patrimônio a ser constrito. Nesse sentido é a jurisprudência: PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. INCIDENTE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS . FIXAÇÃO. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA . - Trata-se de liquidação de julgado objetivando o ressarcimento de valores pagos a título de tutela antecipada posteriormente revogada. - O INSS peticionou nos autos (id 277948355) informando que após “realizadas as devidas pesquisas, não foram localizados inventários judiciais ou extrajudiciais. Conforme art. 1 .792 do Código Civil, os herdeiros somente respondem até o limite da herança. Diante da impossibilidade de prosseguimento do feito em decorrência da ilegitimidade passiva superveniente, bem como ausentes bens em nome do devedor, requer a extinção do feito, nos termos do art. 485, VI, do Código de Processo Civil” acostando comprovantes - A r. sentença julgou extinto o cumprimento de sentença, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, VI, do Código de Processo Civil e condenou o INSS ao pagamento de honorários sucumbenciais no valor de 10% sobre o valor atualizado da causa - Efetivamente, a responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios devem ser decididas à luz do princípio da causalidade, segundo o qual, tais verbas devem ser suportadas pela parte que ensejou a instauração da demanda - No caso, não se justifica o arbitramento de honorários advocatícios sucumbenciais, pois o INSS não deu causa à propositura do presente incidente de liquidação de sentença, tampouco ofertou resistência ao seu prosseguimento - Apelação provida .(TRF-3 - ApCiv: 50690654520234039999, Relator.: Desembargador Federal GILBERTO RODRIGUES JORDAN, Data de Julgamento: 07/12/2023, 9ª Turma, Data de Publicação: Intimação via sistema DATA: 11/12/2023) VOTO Nº 26163 EMBARGOS À EXECUÇÃO. Falecimento do devedor. Requerimento de habilitação dos herdeiros, para responder até os limites da herança. Inclusão da viúva e dos três filhos no polo passivo da execução . Alegação de ilegitimidade passiva, pois ausentes bens deixados pelo devedor falecido. Certidão de óbito que atestou a inexistência de bens. Credor, por outro lado, que se manteve inerte, sem demonstrar a existência de herança suscetível de responder pelas dívidas do "de cujus". Herdeiros que respondem apenas até o limite das forças da herança . Inteligência do art. 1.792 do Código Civil e 616, inc. VI, do NCPC . Sentença reformada, para extinguir a execução em relação aos herdeiros incluídos no polo passivo, nos termos do art. 485, inc. VI, do NCPC. Recurso provido .(TJ-SP 11306817620168260100 SP 1130681-76.2016.8.26 .0100, Relator.: Tasso Duarte de Melo, Data de Julgamento: 14/03/2018, 12ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 14/03/2018) Da mesma forma, a ilegitimidade passiva superveniente, que ocorreria caso se demonstrasse que os herdeiros não são os legítimos sucessores ou que a dívida não lhes é imputável nos termos da lei, também seria um óbice ao prosseguimento do feito. Contudo, no presente momento processual, a habilitação dos herdeiros foi devidamente realizada e a discussão sobre a existência de bens ou a extensão da herança é matéria a ser verificada na fase de cumprimento de sentença, por meio de atos de constrição patrimonial, se necessário, sempre respeitando o limite da herança recebida. Da Prescrição Intercorrente Os executados alegam a ocorrência de prescrição intercorrente. A prescrição intercorrente na execução de título judicial ocorre quando o processo permanece paralisado por inércia do credor por prazo superior ao da prescrição da pretensão executória, que, no caso de cobrança de valores, é de cinco anos, conforme o art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil, e a Súmula 150 do STF. No entanto, a análise do andamento processual revela que não houve inércia do exequente. O pedido de cobrança foi formulado em 31/01/2020 (ID 10335235865). A decisão que indeferiu a cobrança foi proferida em 01/02/2021 (ID10335235865, fls. 283-284), e o INSS prontamente interpôs agravo de instrumento. O processo permaneceu suspenso aguardando a decisão do Tribunal Superior, que somente veio a ser proferida em 10/06/2024 (ID 10282738973). Ademais, o falecimento da parte autora em 31/03/2021 (ID 10295460525) implicou a suspensão do processo, nos termos do art. 313, inciso I, do CPC. O INSS, ao tomar conhecimento do óbito, diligenciou para informar o Juízo e requerer a habilitação dos herdeiros (ID 10373180878). O período de suspensão do processo não se computa para fins de prescrição, conforme o art. 313, § 2º, do CPC. Não se verifica, portanto, a inércia do credor que caracterize a prescrição intercorrente. O processo seguiu seu curso regular, com as devidas interrupções e suspensões legais. Da Condenação do INSS pelo Art. 940 do Código Civil Os executados pleiteiam a condenação do INSS ao pagamento do dobro do valor cobrado, com base no art. 940 do Código Civil, sob a alegação de cobrança indevida e de má-fé. O art. 940 do Código Civil estabelece a penalidade de pagamento em dobro para aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas, ou pedir mais do que for devido. Para a aplicação desta penalidade, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça exige a comprovação da má-fé ou dolo do credor. No caso em tela, o INSS está exercendo um direito que lhe foi expressamente reconhecido por decisão judicial de instância superior (TRF6, ID10282738973), que deu provimento ao seu agravo de instrumento para permitir a cobrança dos valores. Não há qualquer indício de má-fé ou dolo por parte do INSS, que apenas busca a restituição de valores que, segundo o entendimento judicial vinculante, foram recebidos indevidamente pela parte autora em virtude de uma tutela provisória que não se confirmou. A mera existência de uma perícia em outro processo com conclusão diversa não configura má-fé na cobrança, pois o INSS age com base na coisa julgada formada neste processo e no precedente vinculante que autoriza a cobrança. Diante de todo o exposto, e em estrito cumprimento da decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região no Agravo de Instrumento nº 1009363-91.2021.4.01.0000, que é vinculante a este Juízo, impõe-se o acolhimento do pedido de cumprimento de sentença formulado pelo Instituto Nacional do Seguro Social. DISPOSITIVO Ante o exposto, e o mais que dos autos consta, REJEITO A IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA apresentada pelos sucessores de Denise das Graças Aguiar Cassiano (ID10440452119). Em consequência, DETERMINO O PROSSEGUIMENTO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA para a restituição dos valores percebidos pela de cujus Denise das Graças Aguiar Cassiano a título de tutela antecipada, posteriormente revogada. A execução deverá prosseguir em face dos herdeiros habilitados, limitada às forças da herança, nos termos dos artigos 1.792 e 1.997 do Código Civil. Ademais, considerando que a responsabilidade dos herdeiros se limita às forças da herança, deverá o exequente, ser intimado para que no prazo de 30 dias, diligenciar para verificar a existência de inventário ou outros meios para a aferição do patrimônio deixado pela de cujus, apresentando nos autos as informações pertinentes para a correta delimitação da responsabilidade, sob pena de extinção execução em relação aos herdeiros incluídos no polo passivo, nos termos do art. 485, inc. VI, do CPC DEFIRO a manutenção dos benefícios da assistência judiciária gratuita aos herdeiros da falecida Denise das Graças Aguiar Cassiano, nos termos do artigo 98 do Código de Processo Civil. Condeno em honorários advocatícios nesta fase de cumprimento de sentença os executados. Todavia, considerando que os executados são beneficiários da assistência judiciária gratuita, as eventuais custas e honorários advocatícios a que forem condenados ficam com a exigibilidade suspensa, nos termos do art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil. O INSS é isento de custas processuais, conforme legislação específica. Por último, venham-me os autos conclusos. P. R.Intime-se e cumpra-se. Campo Belo, data da assinatura eletrônica. EMERSON DE OLIVEIRA CORREA Juiz de Direito 2ª Vara Cível da Comarca de Campo Belo

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Processo nº 1009363-83.2025.8.26.0562

ID: 319147222

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Santos - 3ª Vara da Fazenda Pública Classe: MANDADO DE SEGURANçA CíVEL Nº Processo: 1009363-83.2025.8.26.0562

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

THAIS BERNARDO CUNHA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

MARITA FABIANA DE LIMA BRUNELI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1009363-83.2025.8.26.0562 - Mandado de Segurança Cível - Concurso Público / Edital - Thais Bernardo Cunha - THAIS BERNARDO CUNHA, qualificada na inicial, impetrou Mandado de Segurança face a… Processo 1009363-83.2025.8.26.0562 - Mandado de Segurança Cível - Concurso Público / Edital - Thais Bernardo Cunha - THAIS BERNARDO CUNHA, qualificada na inicial, impetrou Mandado de Segurança face a ato do CHEFE DA UNIDADE I DA SEÇÃO DE INGRESSO, ACESSO E MOVIMENTAÇÃO DE PESSOAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS alegando, em síntese, que participou do Concurso Público objeto do Edital n° 21/2023 para o cargo de "médica generalista - saúde da família", promovido pela Prefeitura Municipal de Santos, logrando êxito em obter a aprovação e posterior convocação para posse em 07/03/2025. Ocorre que, em tal data, a demandante não poderia prosseguir com o cumprimento dos requisitos para a investidura no cargo, já que perdeu o diploma original de conclusão de curso superior em medicina. Por tal motivo, a demandante solicitou, em 07/04/2025 a prorrogação do prazo, mas obteve como resposta, em 09/04/2025, a impossibilidade de atendimento do pedido formulado, pontuando, ainda, que o prazo para posse teria como data limite o dia 05/04/2025. Pugna pela concessão da segurança para compelir a autoridade impetrada a prorrogar o prazo para a realização do exame médico, entrega de documentos faltantes e demais trâmites por 90 dias. Pela decisão de fls. 24/26 a liminar foi indeferida. Notificada, a autoridade coatora prestou informações (fls. 71/185), alegando, em sede preliminar, a ilegitimidade passiva, e no mérito, afirmou que inicialmente convocou a demandante por publicação em 16/09/2024 para a posse, competindo à requerente entrar em contato com a SEMED no prazo de 3 dias úteis para agendamento dos exames médicos admissionais, quedando-se inerte, o que culminou na revogação de sua nomeação. Ocorre que, por força do Mandado de Segurança n° 1026274-10.2024.8.26.0562, a demandante obteve seu reposicionamento para o final da fila de habilitados, motivo pelo qual, após o esgotamento da lista de candidatos habilitados para o cargo, foi novamente nomeada, ocasião em que mais uma vez deixou de atender ao comando para agendamento de seus exames admissionais. Sustentou a impetrada que seguiu rigorosamente as previsões editalícias, regras com as quais a requerente anuiu ao participar do certame, e que vinculam o modo de agir da autoridade coatora. O Ministério Público opinou pela denegação da segurança (fls. 194/196). É o relatório. DECIDO. Rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva. Não é possível exigir da impetrante o conhecimento de toda a estrutura da Administração Pública, de notória complexidade, sobretudo quando não são claras as atribuições de cada um de seus prepostos. Ademais, a própria impetrada promoveu a defesa do ato combatido nestes autos quando convocada a prestar informações, inclusive informando acerca da tramitação do processo administrativo formado para tratar do objeto da lide. Conforme já decidido pelo E. Superior Tribunal de Justiça: Deveras, a estrutura complexa dos órgãos administrativos pode gerar dificuldade, por parte do administrado, na identificação da autoridade coatora, revelando, a priori, aparência de propositura correta. Aplica-se a teoria da encampação quando a autoridade apontada como coatora, ao prestar suas informações, não se limita a alegar sua ilegitimidade,mas defende o mérito do ato impugnado, requerendo a denegação da segurança, assumindo a legitimatio ad causam passiva. Precedentes da Corte: RMS19378/DF, DJ 19.04.2007; RMS 17802/PE, DJ de 20/03/2006; RMS18418/MG, DJ de 02/05/2006; RMS 15262/TO, DJ de 02/02/2004". (RMS 21508/MG, Relator Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento 18/03/2008, Data da Publicação/Fonte DJe 12/05/2008)." Passo ao exame do tema de mérito. A situação dos autos não sofreu alteração fática desde que proferida a decisão inicial, de modo que seus motivos permanecem relevantes ao julgado, razão pela qual serão integrados a esta sentença. Como outrora mencionado, o documento de fl. 11 alude a decisão judicial proferida no bojo do processo nº 1026274-10.2024.8.26.0562, referente a mandado de segurança, que tramitou por este juízo, com as mesmas partes e sobre o mesmo certame, cuja decisão inicial trouxe os seguintes fundamentos para deferir o pleito liminar naquele feito: "(...) 2-A impetrante é candidata ao Concurso Público para o cargo de "médica generalista - saúde da família", objeto do Edital n° 21/2023, promovido pela Prefeitura Municipal de Santos. Após a divulgação do resultado final, alcançou a 28ª colocação em uma lista com 48 candidatos. Narra que foi convocada para tomar posse em 09/09/2024, porém, não preenche os requisitos para o cargo pretendido, no momento, para a especialidade médica de "saúde da família". Pugna pela concessão da liminar para que a impetrada seja compelida a remanejar a impetrante para o final da fila de candidatos aprovados ao cargo de "médica generalista - saúde da família", no concurso público objeto do Edital n° 21/2023. 3-Em juízo de cognição sumária, presentes os requisitos para a concessão da liminar. Isto porque a medida pretendida não parece implicar em qualquer prejuízo à impetrada, que não estará privada do preenchimento da vaga do serviço público, pois outro candidato será convocado em seu lugar, tampouco sua implementação criará encargo financeiro inesperado ao erário. A medida igualmente não parece vulnerar direito alheio, pois, a princípio, é do interesse dos candidatos aprovados em menor classificação sua convocação célere, iniciando o quanto antes seu exercício no cargo em que aprovado em concurso público. Assim, à luz do princípio da razoabilidade, não pode prevalecer, ao menos a priori, o excessivo formalismo no ato convocatório para a finalidade específica do remanejamento na modalidade pretendida - candidata melhor classificada pretende ser realocada para a última posição -, onde inexiste prejuízo aparente a qualquer um dos envolvidos, apenas potencial benefício tanto à impetrante, quanto à impetrada. (...) 4-Ante o exposto, DEFIRO a liminar para compelir a autoridade impetrada a promover o remanejamento da impetrante à ultima posição na lista de aprovados ao cargo de "médica generalista - saúde da família", objeto do Edital nº 21/2023." (destaquei) O referido edital encontra-se disponível no site do Instituto Mais, onde constam os requisitos para ingresso no cargo almejado de "Médico Generalista - Saúde da Família": "Certificado de Conclusão de Ensino Superior em Medicina, Certificado de Especialização em Medicina da Família e Comunidade, ambos registrados no CRM/SP, na CNRM ou na AMB e Registro Profissional; ou, Certificado de Conclusão de Ensino Superior em Medicina, e experiência comprovada de, no mínimo, 2 anos, atuando na Área de Medicina da Família e Comunidade e Registro Profissional." Como a cédula de identidade de médica da demandante traz como data de inscrição o dia 22/12/2022 (fl. 10), e diante do teor do mandado de segurança nº 1026274-10.2024.8.26.0562, seguro inferir que a impetrante já era médica antes mesmo da publicação do edital, de modo que a referida carência na comprovação dos requisitos somente poderia relacionar-se ao "Certificado de Especialização em Medicina da Família" ou "experiência comprovada de, no mínimo, 2 anos, atuando na Área de Medicina da Família e Comunidade", servindo qualquer um dos dois para a finalidade de comprovação dos requisitos para investidura no cargo. Como relatado em sede administrativa à fl. 14, a demandante foi nomeada em 07/03/2025 para a posse, portanto, possuía o prazo de 30 dias para o início das tratativas, com termo final em 05/04/2025. Ainda, a demandante foi convocada na mesma data para a realização dos exames médicos admissionais no prazo de 3 dias úteis. Não obstante, apesar da convocação publicada na imprensa oficial, a impetrante quedou-se inerte, deixando escorrer integralmente o prazo conferido para o início dos trâmites para seu exame admissional, etapa prévia necessária à investidura no cargo. O edital traz as seguintes regras para convocação dos candidatos à nomeação e etapas posteriores: "13.1.1. A nomeação dos candidatos classificados ocorrerá exclusivamente por meio de publicação no Diário Oficial de Santos, que na mesma edição e na sequência conterá as instruções referentes à realização dos exames médicos pré admissionais e da avaliação médica pré-admissional. 13.1.2. Quando ocorrer a publicação da nomeação no Diário Oficial de Santos os candidatos nomeados devem atentar para as instruções relativas à realização dos exames médicos pré-admissionais e da avaliação médica pré-admissional, sendo que a não observância de qualquer instrução acarretará a eliminação do candidato. 13.1.3. Na publicação prevista no item 13.1.2. constará o endereço de e-mail pelo qual o candidato nomeado solicitará a relação dos exames médicos pré-admissionais e data designada para a realização da avaliação médica pré-admissional, de modo que apenas nesse momento a comunicação ocorrerá por e-mail. 13.1.4. O candidato nomeado deverá submeter-se aos exames médicos pré-admissionais, de caráter eliminatório, por ocasião da nomeação. 13.1.5. Após a realização dos exames médicos pré-admissionais, o candidato nomeado deverá submeter-se à avaliação médica pré-admissional, de caráter eliminatório, a ser realizada pela Seção de Medicina do Trabalho - SEMED/ DEGEPAT/SEFIN. 13.2.2. Somente será investido em Cargo Público o candidato que for julgado apto física e mentalmente para o exercício do Cargo Público após submeter-se aos exames médicos pré-admissionais e à avaliação médica pré-admissional." Igualmente consta destacada a obrigatoriedade do acompanhamento das publicações oficiais pelo candidato, tratando-se de encargo exclusivo do interessado: "14.1.1. O acompanhamento das publicações, Editais, avisos e comunicados referentes ao item anterior são de responsabilidade exclusiva do candidato." Não obstante a clareza dos dispositivos mencionados, a requerente solicitou a prorrogação de prazo em 07/04/2025, quando decorridos mais de 30 dias da publicação, admitindo na ocasião não possuir os documentos solicitados para a posse devido ao extravio de seu diploma de conclusão de curso superior (fl. 15). Ocorre que o boletim de ocorrência relacionado a perda do diploma de graduação foi registrado apenas em 08/04/2025 (fl. 19), após o decurso do prazo integral para o início dos atos relacionados à posse, com data da ocorrência indicada como o dia 07/03/2025 (fl. 19), ou seja, um mês antes do registro do B.O., mesma data da publicação da posse, agravada pela comunicação tardia do ocorrido à autoridade policial, apesar de já ciente do dever de entrega do documento desde 07/03/2025. Ainda, é questionável o cumprimento do requisito específico da apresentação de certificado de especialização na área de medicina da família ou de comprovante de atuação mínima de 2 anos na mesma área, já que, como informado nos autos nº 1026274-10.2024.8.26.0562 pela própria impetrante, o motivo do pretendido atraso em sua nomeação consistia justamente no não cumprimento deste requisito naquele momento. Também parece pouco crível a provocação em sede administrativa objetivando a prorrogação do prazo da posse em 11/03/2025, sem qualquer menção à perda do documento e instrução do pedido com boletim de ocorrência na mesma ocasião (fls. 16/17), em especial porque assistida por advogada à época, dada a relevância e a gravidade da situação (extravio de documento essencial à posse no cargo). Por fim, o boletim de ocorrência é documento que registra as informações unilaterais transmitidas à autoridade policial pelo interessado, portanto, as informações ali anotadas não comungam da presunção de legitimidade que socorre a todos os atos administrativos, já que impossível considerar a veracidade das declarações de forma isolada. Este conjunto de fatores descredibiliza o informado extravio do documento como motivo determinante da perda do prazo. Trata-se, portanto, de descumprimento consciente das regras editalícias pela impetrante, desobedecendo de maneira livre e consciente a convocação do Diário Oficial na data da publicação relevante, sem que tenha incorrido em qualquer erro escusável ou causado pela demandada. Isto porque não há, na situação relatada nos autos, o descumprimento de regra de publicidade ou falta de razoabilidade da medida na via eleita para transmissão de informação relevante do certame ao candidato, nem há comprovação de fator externo e imprevisível que possa escusar de qualquer maneira a perda do prazo. Neste cenário, prevendo o edital do concurso que a convocação ocorreria por publicação no Diário Oficial do Município, com prazo certo e definido para a manifestação da demandante para o prosseguimento dos atos de convocação e investidura no cargo, não é possível exigir da Administração convocação por meio ou prazo diverso, pois implicaria em ofensa ao princípio da isonomia pelo tratamento discrepante dispensado à impetrante em relação aos demais candidatos. Logo, incumbia à demandante apenas observar a publicação no Diário Oficial de chamada dos candidatos para posse no cargo, conforme dispunha o edital, respondendo no prazo conferido à convocação. Inexiste ilegalidade no ato administrativo questionado, bem como este não ofende o princípio da eficiência administrativa - pelo contrário, a padronização de atos repetitivos busca imprimir celeridade e garantir a isonomia dos atos administrativos praticados no âmbito da comunicação com candidatos do certame. Relevante para a hipótese dos autos o julgado cuja ementa segue doravante transcrita: "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. CONCURSO PÚBLICO. TÉCNICO MUNICIPAL. CONVOCAÇÃO DOS CANDIDATOS PELO DIÁRIO OFICIAL. PERDA DE PRAZO. Previsão expressa do edital, cuja observância pelo interessado é compulsória, de que a convocação para escolha de vagas seria realizada através do Diário Oficial. O edital é a lei do concurso e, como tal, vincula as partes. Improcedência do pedido. Sentença mantida. Recurso não provido." (TJSP; Apelação Cível 1001665-34.2023.8.26.0291; Relator (a):Camargo Pereira; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Foro de Jaboticabal -3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 14/05/2024; Data de Registro: 14/05/2024). Anota-se que ao Poder Judiciário compete, tão somente, o controle da legalidade e a constatação de existência ou não de vícios que possam implicar na nulidade do ato administrativo. Não restou comprovada a irregularidade aventada pela impetrante que, ao se inscrever no concurso, concordou com todas as regras do edital de convocação, sem se insurgir no momento oportuno quanto aos seus termos e disposições. A pretensão do impetrante, na verdade, ofende ao princípio da isonomia, ao permitir sua continuidade no concurso apesar do descumprimento de regra editalícia, em detrimento aos demais candidatos que não tiveram concedida em seu favor a mesma oportunidade. Ante o exposto, DENEGO A SEGURANÇA. Condeno a parte impetrante no pagamento das despesas processuais. Não há condenação em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/09). P.R.I. - ADV: MARITA FABIANA DE LIMA BRUNELI (OAB 208683/SP)

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Associacao Dos Advogados Do Banco Do Brasil - Asabb e outros x Associacao Dos Advogados Do Banco Do Brasil - Asabb e outros

ID: 336170743

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1009363-60.2024.8.11.0037

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB IRIETE CARDOSO CECATTO RONALDO CARDOSO DA SILVA

Polo Passivo:

ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB IRIETE CARDOSO CECATTO RONALDO CARDOSO DA SILVA

Acórdão

Advogados:

RODRIGO RIBEIRO ARAUJO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

NAGIB KRUGER

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

RODRIGO MISCHIATTI

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1009363-60.2024.8.11.0037 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Honorários Advocatícios, Confissão/Composição de… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1009363-60.2024.8.11.0037 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Honorários Advocatícios, Confissão/Composição de Dívida] Relator: Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO Turma Julgadora: [DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). SERLY MARCONDES ALVES] Parte(s): [ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB - CNPJ: 00.438.999/0001-55 (APELANTE), NAGIB KRUGER - CPF: 293.388.671-53 (ADVOGADO), RODRIGO MISCHIATTI - CPF: 871.243.439-68 (ADVOGADO), RONALDO CARDOSO DA SILVA - CPF: 570.419.116-91 (APELADO), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), IRIETE CARDOSO CECATTO - CPF: 919.034.081-72 (APELADO), ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB - CNPJ: 00.438.999/0001-55 (APELADO), RODRIGO MISCHIATTI - CPF: 871.243.439-68 (ADVOGADO), NAGIB KRUGER - CPF: 293.388.671-53 (ADVOGADO), RONALDO CARDOSO DA SILVA - CPF: 570.419.116-91 (APELANTE), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), IRIETE CARDOSO CECATTO - CPF: 919.034.081-72 (APELANTE), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), TRAVESSIA SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS VIII S.A. - CNPJ: 36.699.663/0001-93 (TERCEIRO INTERESSADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: RECURSO DA AUTORA (ASSOCIAÇÃO) PROVIDO E DOS REQUERIDOS PREJUDICADO. E M E N T A EMENTA: APELAÇÕES. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM AÇÃO DE COBRANÇA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. CESSÃO DE CRÉDITO PRINCIPAL PELO BANCO DO BRASIL. AUTONOMIA DA VERBA HONORÁRIA. LEGITIMIDADE ATIVA DA ASSOCIAÇÃO. RECURSO DA AUTORA PROVIDO E DOS RÉUS PREJUDICADO. I. CASO EM EXAME Apelações interpostas em Cumprimento de Sentença que acolheu a Impugnação dos executados Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto, extinguindo o feito sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC, por ilegitimidade ativa da exequente Associação dos Advogados do Banco do Brasil (ASABB), com condenação ao pagamento de honorários fixados por equidade em R$ 5.000,00. A ASABB recorreu alegando legitimidade para executar honorários sucumbenciais fixados em favor de advogados do Banco do Brasil, enquanto os executados pleitearam majoração da verba honorária arbitrada na sentença. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) definir se a cessão do crédito principal pelo Banco do Brasil à empresa Travessia Securitizadora afeta a legitimidade da ASABB para promover execução dos honorários advocatícios de sucumbência; (ii) verificar a adequação da fixação dos honorários advocatícios por equidade no valor de R$5.000,00. III. RAZÕES DE DECIDIR Os honorários advocatícios de sucumbência são crédito autônomo do advogado, com natureza alimentar, conforme o art. 23 da Lei nº 8.906/94 e art. 85, § 14, do CPC, não se confundindo com o crédito principal da parte representada. A cessão de crédito firmada entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora ocorreu após a formação do título executivo judicial referente aos honorários de sucumbência, o que impede que tal cessão afete a obrigação dos executados quanto ao pagamento da verba honorária. A cláusula contratual que transfere à cessionária a responsabilidade pelo pagamento de honorários contratuais e sucumbenciais não tem eficácia em relação aos advogados, terceiros estranhos ao contrato, em respeito ao princípio da relatividade dos efeitos dos contratos. A substituição do devedor por terceiro, nos termos do art. 299 do Código Civil, depende do consentimento expresso do credor, o que não ocorreu no caso concreto. A ASABB possui legitimidade para promover a execução dos honorários sucumbenciais em nome de seus associados, conforme previsão estatutária e precedentes do STJ. A existência de outra execução proposta pela cessionária do crédito principal não configura duplicidade de cobrança, por se tratarem de créditos distintos. A sentença deve ser reformada para reconhecer a legitimidade da ASABB e determinar o prosseguimento do cumprimento de sentença. Prejudicada a análise do recurso dos executados quanto à majoração da verba honorária, diante da reforma da sentença. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso da autora provido e dos réus prejudicado. Tese de julgamento: Os honorários advocatícios de sucumbência constituem crédito autônomo dos advogados e não são afetados por cessão de crédito realizada entre as partes do processo principal após a formação do título judicial. A associação representativa dos advogados detém legitimidade ativa para executar honorários sucumbenciais em nome de seus associados. A cláusula contratual de cessão de crédito que prevê obrigação de pagamento de honorários a cargo da cessionária não produz efeitos em relação aos advogados sem sua expressa anuência. R E L A T Ó R I O Apelações interpostas no Cumprimento de Sentença que acolheu a Impugnação apresentada por Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto, julgando extinto o processo, sem resolução de mérito, por ilegitimidade ativa, nos termos do art. 485, inciso VI, do CPC, com a consequente condenação da exequente ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados por equidade em R$5.000,00. Ambas as partes recorreram. A autora alega que a execução tem por objeto o cumprimento de sentença transitada em julgado que reconheceu o direito dos advogados do Banco do Brasil S/A ao recebimento dos honorários de sucumbência. Afirma que é legítima representante dos advogados que atuaram na causa originária, nos termos do estatuto da entidade, com poderes para substituição processual dos associados. Menciona que a cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil e a empresa Travessia Securitizadora não interfere na titularidade dos honorários de sucumbência, que são autônomos, pessoais e pertencem aos advogados que atuaram na causa, conforme jurisprudência do STJ e previsão legal nos arts. 22 a 24 da Lei 8.906/94. Diz que não houve renúncia, cessão, negociação, novação ou qualquer outro ato que tenha implicado perda da titularidade da verba honorária por parte dos advogados representados pela ASABB. Registra que a cessão do crédito principal (da instituição bancária) ocorreu em momento posterior à constituição do título judicial relativo aos honorários, sendo, portanto, irrelevante para a pretensão executória. Argui que o título judicial está lastreado em decisão transitada em julgado, que determinou aos réus o pagamento dos honorários advocatícios, os quais não foram adimplidos. Aduz que os devedores não possuem legitimidade para impugnar a titularidade do crédito de honorários, cabendo a eles apenas pagar a dívida e que segundo o CPC e a jurisprudência do STJ, os honorários de sucumbência são verbas autônomas, de natureza alimentar, e que a sua execução pode ocorrer separadamente da principal, inclusive em autos apartados. Por fim, requer que seja reformada a sentença, determinando-se o prosseguimento do feito até o integral pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do título executivo judicial. Os réus, por outro lado, argumentam que o juízo de primeiro grau fixou a verba honorária em valor fixo de R$5.000,00, com base no critério da equidade, afastando a aplicação dos percentuais previstos no art. 85, §2º, do Código de Processo Civil. Pede a reforma da sentença para fixar os honorários entre 10% e 20% sobre o valor da execução ou do proveito econômico obtido, nos termos do art. 85, §2º, do CPC. Subsidiariamente, caso mantida a fixação por equidade, que o valor arbitrado seja majorado para refletir de forma adequada o trabalho desenvolvido e o resultado econômico obtido. Contrarrazões nos Ids 296115864 e 298441881. É o relatório. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho Relator V O T O R E L A T O R A controvérsia originou-se de cumprimento de sentença referente a honorários advocatícios sucumbenciais fixados nos autos da Ação de Cobrança nº 1000528-93.2018.8.11.0037, ajuizada pelo Banco do Brasil S/A contra Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto. A sentença recorrida fundamentou-se na cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil S/A e a empresa Travessia Securitizadora de Créditos Financeiros VIII S/A, entendendo que, com a transferência do crédito principal, não subsistiria obrigação dos executados para com o Banco do Brasil ou com a Associação autora quanto aos honorários advocatícios. Considerou ainda que a cláusula quinta do instrumento de cessão estabelecia que a cessionária se responsabilizaria pelo pagamento dos honorários advocatícios contratuais e sucumbenciais devidos aos patronos do cedente. Em suas razões recursais, a autora sustenta, em síntese: a) a ilegitimidade e falta de interesse processual dos apelados para questionar a titularidade do crédito; b) sua legitimidade para representar e substituir processualmente os advogados do Banco do Brasil; c) a inexistência de negociação, cessão ou extinção dos honorários de sucumbência por quem de direito, argumentando que os advogados beneficiários não participaram do negócio jurídico de cessão; d) a autonomia da verba honorária de sucumbência em relação ao crédito principal; e) a existência de coisa julgada material, sendo a cessão de crédito posterior ao fato gerador que originou a obrigação; f) a impossibilidade de substituição do devedor sem concordância do credor; g) a inexistência de duplicidade de cobrança. Os réus também interpuseram Recurso, pleiteando a majoração dos honorários advocatícios fixados na sentença, argumentando que o valor de R$ 5.000,00 seria irrisório diante do valor da causa. Inicialmente, quanto ao pedido de isenção de custas formulado pela apelante ASABB, a Lei Estadual nº 7.603/2001, com a alteração promovida pela Lei Estadual nº 11.077/2020, estabelece em seu art. 3º, inciso V, a isenção de emolumentos, despesas e custas aos advogados na execução dos honorários advocatícios. Sendo este precisamente o caso dos autos, reconheço a isenção pleiteada. Passo à análise do mérito recursal da Apelação, interposta pela ASABB. A questão central da controvérsia reside em definir se a cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil S/A e a empresa Travessia Securitizadora de Créditos Financeiros VIII S/A afeta a legitimidade da ASABB para executar os honorários advocatícios de sucumbência fixados em favor dos advogados do Banco do Brasil. A sentença recorrida entendeu que, com a cessão do crédito principal, não subsistiria obrigação dos executados para com o Banco do Brasil ou com a associação autora, cabendo a esta exigir eventual pagamento diretamente do cedente Banco do Brasil. Os honorários advocatícios de sucumbência constituem direito autônomo do advogado, conforme expressamente estabelecido no art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) e reforçado pelo art. 85, § 14, do Código de Processo Civil, que dispõe: "os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial". Esta autonomia significa que, uma vez fixados por decisão judicial transitada em julgado, os honorários advocatícios constituem crédito próprio e independente do advogado, não se confundindo com o crédito da parte que ele representa no processo. Trata-se de relação jurídica distinta, com titulares diferentes. No caso em análise, os honorários advocatícios foram fixados em favor dos advogados do Banco do Brasil em duas oportunidades: primeiramente, na sentença de mérito da ação de cobrança, transitada em julgado em 04/05/2023, e posteriormente, na fase de cumprimento de sentença. A cessão de crédito entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora, por sua vez, foi formalizada apenas em 25/07/2024 e juntada aos autos do processo principal em 13/08/2024, ou seja, em momento posterior à constituição do título executivo judicial referente aos honorários advocatícios (Id 165453575). Sendo os honorários advocatícios direito autônomo dos advogados, não poderia o Banco do Brasil, ao ceder seu crédito principal, dispor também sobre o crédito de titularidade de seus advogados, já constituído por decisão judicial transitada em julgado. Para que tal cessão pudesse afetar os honorários advocatícios, seria imprescindível a participação e anuência expressa dos advogados titulares do crédito, o que não ocorreu no caso em tela. Conforme se verifica da análise dos documentos, os advogados beneficiários dos honorários de sucumbência não participaram, não compareceram e não anuíram no referido negócio de cessão. O instrumento de cessão de crédito foi firmado exclusivamente entre o Banco do Brasil S/A e a Travessia Securitizadora, sem a participação de qualquer advogado titular do crédito dos honorários de sucumbência. Ademais, a ASABB detém legitimidade para representar os advogados empregados do Banco do Brasil. A propósito: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. COBRANÇA DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DE ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL. PRECEDENTES A RECONHECER A AUTORIZAÇÃO LEGAL, REGULAMENTAR E ESTATUTÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA DOS SUCESSIVOS ACLARATÓRIOS OPOSTOS PELO EXECUTADO. CORRETA APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. 1. Negativa de prestação jurisdicional. Reconhecida a negativa de prestação jurisdicional por esta Corte Superior em assentada anterior, decisão esta transitada formalmente em julgado, cumpria ao Tribunal de origem atendê-la, procedendo ao rejulgamento dos aclaratórios e enfrentando a alegação de afronta ao art. 527, inciso V, do CPC, como o fizera. A pretensão formulada em sucessivos embargos de declaração no sentido de que a Corte de origem reconhecesse que a referida omissão não poderia ter sido reconhecida, porque não suscitada pela parte nos embargos, revelava-se manifestamente improcedente, razão por que nova negativa de prestação jurisdicional inexiste. Escorreita a aplicação da multa do art. 538, parágrafo único, do CPC. 2. Legitimidade da Associação dos Advogados do Banco do Brasil para a execução dos honorários de sucumbência em favor de seus associados. Precedente: "Nada obsta, assim, que, existindo uma associação regularmente criada para representar os interesses dos advogados empregados de determinado empregador, possa essa entidade associativa, mediante autorização estatutária, ser legitimada a executar os honorários sucumbenciais pertencentes aos "advogados empregados", seus associados, o que apenas facilita a formação, administração e rateio dos recursos do fundo único comum, destinado à divisão proporcional entre todos os associados." (REsp 634.096/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 29/08/2013) 3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO”. (AgRg no REsp 1514660/MS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe 25/02/2016) Quanto à cláusula quinta do instrumento de cessão de crédito, que estabelece que "a Cessionária se responsabiliza pelo pagamento dos honorários advocatícios contratuais e sucumbenciais devidos aos patronos do Cedente constituídos nos processos judiciais relacionados aos Créditos, conforme as condições estabelecidas no Termo de Cessão, para serem repassados pelo Cedente aos referidos advogados com a observância das regras internas de distribuição dos valores entre os advogados que atuaram nos processos", é necessário interpretá-la à luz dos princípios que regem os negócios jurídicos. Primeiramente, cumpre observar que tal cláusula estabelece uma relação obrigacional entre o cedente (Banco do Brasil) e o cessionário (Travessia Securitizadora), não podendo afetar direitos de terceiros (advogados) que não participaram do negócio jurídico. Trata-se de aplicação do princípio da relatividade dos contratos, segundo o qual os efeitos do contrato se limitam às partes contratantes, não prejudicando nem beneficiando terceiros. Ademais, a interpretação sistemática da cláusula sugere que ela se refere a eventuais honorários futuros ou pendentes de pagamento pelo Banco do Brasil, e não àqueles já constituídos em favor dos advogados por decisão judicial transitada em julgado. Isso porque, sendo os honorários direito autônomo dos advogados, não poderia o Banco do Brasil dispor sobre eles sem a participação de seus titulares. Outro aspecto relevante é que, nos termos do art. 299 do Código Civil, “é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Desse modo, para que houvesse a substituição dos executados pela Travessia Securitizadora na obrigação de pagar os honorários advocatícios, seria necessário o consentimento expresso dos credores, ou seja, dos advogados titulares dos honorários, o que não ocorreu no caso em tela. A decisão que fixou os honorários advocatícios em favor dos advogados do Banco do Brasil transitou em julgado em 04/05/2023, enquanto a cessão de crédito entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora foi formalizada apenas em 25/07/2024. Assim, quando da cessão de crédito, já havia se formado coisa julgada material quanto à obrigação dos executados de pagar os honorários advocatícios aos advogados do Banco do Brasil. Esta obrigação, uma vez constituída por decisão judicial transitada em julgado, não poderia ser afetada por negócio jurídico posterior entre terceiros (Banco do Brasil e Travessia Securitizadora). A coisa julgada material, nos termos do art. 502 do CPC, torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso, constituindo garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Permitir que um negócio jurídico posterior entre terceiros afetasse a eficácia de uma decisão judicial transitada em julgado seria violar frontalmente o princípio da segurança jurídica e a garantia constitucional da coisa julgada. Além disso, o fato de a ação principal ainda estar em trâmite, agora com a Travessia Securitizadora no polo ativo, não configura duplicidade de cobrança, pois se trata de execuções distintas e autônomas: uma referente ao crédito principal, outra referente aos honorários advocatícios. Se eventualmente a Travessia Securitizadora estiver incluindo em seus cálculos valores referentes aos honorários advocatícios já executados nestes autos, tal questão deve ser resolvida no âmbito daquele processo, não afetando a legitimidade da presente execução. Por fim, quanto à Apelação interposta pelos executados, que pleiteiam a majoração dos honorários advocatícios fixados na sentença, verifico que, diante da reforma da sentença, tal recurso resta prejudicado. Pelo exposto, dou provimento ao Recurso da autora para desconstituir a sentença e determinar o retorno dos autos à primeira instância para regular prosseguimento. Por conseguinte, julgo prejudicado o Recurso dos réus. Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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Associacao Dos Advogados Do Banco Do Brasil - Asabb e outros x Associacao Dos Advogados Do Banco Do Brasil - Asabb e outros

ID: 336170748

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1009363-60.2024.8.11.0037

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB IRIETE CARDOSO CECATTO RONALDO CARDOSO DA SILVA

Polo Passivo:

ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB IRIETE CARDOSO CECATTO RONALDO CARDOSO DA SILVA

Acórdão

Advogados:

RODRIGO RIBEIRO ARAUJO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

NAGIB KRUGER

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

RODRIGO MISCHIATTI

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1009363-60.2024.8.11.0037 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Honorários Advocatícios, Confissão/Composição de… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1009363-60.2024.8.11.0037 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Honorários Advocatícios, Confissão/Composição de Dívida] Relator: Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO Turma Julgadora: [DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). SERLY MARCONDES ALVES] Parte(s): [ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB - CNPJ: 00.438.999/0001-55 (APELANTE), NAGIB KRUGER - CPF: 293.388.671-53 (ADVOGADO), RODRIGO MISCHIATTI - CPF: 871.243.439-68 (ADVOGADO), RONALDO CARDOSO DA SILVA - CPF: 570.419.116-91 (APELADO), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), IRIETE CARDOSO CECATTO - CPF: 919.034.081-72 (APELADO), ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL - ASABB - CNPJ: 00.438.999/0001-55 (APELADO), RODRIGO MISCHIATTI - CPF: 871.243.439-68 (ADVOGADO), NAGIB KRUGER - CPF: 293.388.671-53 (ADVOGADO), RONALDO CARDOSO DA SILVA - CPF: 570.419.116-91 (APELANTE), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), IRIETE CARDOSO CECATTO - CPF: 919.034.081-72 (APELANTE), RODRIGO RIBEIRO ARAUJO - CPF: 044.261.816-66 (ADVOGADO), TRAVESSIA SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS VIII S.A. - CNPJ: 36.699.663/0001-93 (TERCEIRO INTERESSADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: RECURSO DA AUTORA (ASSOCIAÇÃO) PROVIDO E DOS REQUERIDOS PREJUDICADO. E M E N T A EMENTA: APELAÇÕES. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EM AÇÃO DE COBRANÇA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. CESSÃO DE CRÉDITO PRINCIPAL PELO BANCO DO BRASIL. AUTONOMIA DA VERBA HONORÁRIA. LEGITIMIDADE ATIVA DA ASSOCIAÇÃO. RECURSO DA AUTORA PROVIDO E DOS RÉUS PREJUDICADO. I. CASO EM EXAME Apelações interpostas em Cumprimento de Sentença que acolheu a Impugnação dos executados Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto, extinguindo o feito sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC, por ilegitimidade ativa da exequente Associação dos Advogados do Banco do Brasil (ASABB), com condenação ao pagamento de honorários fixados por equidade em R$ 5.000,00. A ASABB recorreu alegando legitimidade para executar honorários sucumbenciais fixados em favor de advogados do Banco do Brasil, enquanto os executados pleitearam majoração da verba honorária arbitrada na sentença. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) definir se a cessão do crédito principal pelo Banco do Brasil à empresa Travessia Securitizadora afeta a legitimidade da ASABB para promover execução dos honorários advocatícios de sucumbência; (ii) verificar a adequação da fixação dos honorários advocatícios por equidade no valor de R$5.000,00. III. RAZÕES DE DECIDIR Os honorários advocatícios de sucumbência são crédito autônomo do advogado, com natureza alimentar, conforme o art. 23 da Lei nº 8.906/94 e art. 85, § 14, do CPC, não se confundindo com o crédito principal da parte representada. A cessão de crédito firmada entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora ocorreu após a formação do título executivo judicial referente aos honorários de sucumbência, o que impede que tal cessão afete a obrigação dos executados quanto ao pagamento da verba honorária. A cláusula contratual que transfere à cessionária a responsabilidade pelo pagamento de honorários contratuais e sucumbenciais não tem eficácia em relação aos advogados, terceiros estranhos ao contrato, em respeito ao princípio da relatividade dos efeitos dos contratos. A substituição do devedor por terceiro, nos termos do art. 299 do Código Civil, depende do consentimento expresso do credor, o que não ocorreu no caso concreto. A ASABB possui legitimidade para promover a execução dos honorários sucumbenciais em nome de seus associados, conforme previsão estatutária e precedentes do STJ. A existência de outra execução proposta pela cessionária do crédito principal não configura duplicidade de cobrança, por se tratarem de créditos distintos. A sentença deve ser reformada para reconhecer a legitimidade da ASABB e determinar o prosseguimento do cumprimento de sentença. Prejudicada a análise do recurso dos executados quanto à majoração da verba honorária, diante da reforma da sentença. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso da autora provido e dos réus prejudicado. Tese de julgamento: Os honorários advocatícios de sucumbência constituem crédito autônomo dos advogados e não são afetados por cessão de crédito realizada entre as partes do processo principal após a formação do título judicial. A associação representativa dos advogados detém legitimidade ativa para executar honorários sucumbenciais em nome de seus associados. A cláusula contratual de cessão de crédito que prevê obrigação de pagamento de honorários a cargo da cessionária não produz efeitos em relação aos advogados sem sua expressa anuência. R E L A T Ó R I O Apelações interpostas no Cumprimento de Sentença que acolheu a Impugnação apresentada por Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto, julgando extinto o processo, sem resolução de mérito, por ilegitimidade ativa, nos termos do art. 485, inciso VI, do CPC, com a consequente condenação da exequente ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados por equidade em R$5.000,00. Ambas as partes recorreram. A autora alega que a execução tem por objeto o cumprimento de sentença transitada em julgado que reconheceu o direito dos advogados do Banco do Brasil S/A ao recebimento dos honorários de sucumbência. Afirma que é legítima representante dos advogados que atuaram na causa originária, nos termos do estatuto da entidade, com poderes para substituição processual dos associados. Menciona que a cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil e a empresa Travessia Securitizadora não interfere na titularidade dos honorários de sucumbência, que são autônomos, pessoais e pertencem aos advogados que atuaram na causa, conforme jurisprudência do STJ e previsão legal nos arts. 22 a 24 da Lei 8.906/94. Diz que não houve renúncia, cessão, negociação, novação ou qualquer outro ato que tenha implicado perda da titularidade da verba honorária por parte dos advogados representados pela ASABB. Registra que a cessão do crédito principal (da instituição bancária) ocorreu em momento posterior à constituição do título judicial relativo aos honorários, sendo, portanto, irrelevante para a pretensão executória. Argui que o título judicial está lastreado em decisão transitada em julgado, que determinou aos réus o pagamento dos honorários advocatícios, os quais não foram adimplidos. Aduz que os devedores não possuem legitimidade para impugnar a titularidade do crédito de honorários, cabendo a eles apenas pagar a dívida e que segundo o CPC e a jurisprudência do STJ, os honorários de sucumbência são verbas autônomas, de natureza alimentar, e que a sua execução pode ocorrer separadamente da principal, inclusive em autos apartados. Por fim, requer que seja reformada a sentença, determinando-se o prosseguimento do feito até o integral pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do título executivo judicial. Os réus, por outro lado, argumentam que o juízo de primeiro grau fixou a verba honorária em valor fixo de R$5.000,00, com base no critério da equidade, afastando a aplicação dos percentuais previstos no art. 85, §2º, do Código de Processo Civil. Pede a reforma da sentença para fixar os honorários entre 10% e 20% sobre o valor da execução ou do proveito econômico obtido, nos termos do art. 85, §2º, do CPC. Subsidiariamente, caso mantida a fixação por equidade, que o valor arbitrado seja majorado para refletir de forma adequada o trabalho desenvolvido e o resultado econômico obtido. Contrarrazões nos Ids 296115864 e 298441881. É o relatório. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho Relator V O T O R E L A T O R A controvérsia originou-se de cumprimento de sentença referente a honorários advocatícios sucumbenciais fixados nos autos da Ação de Cobrança nº 1000528-93.2018.8.11.0037, ajuizada pelo Banco do Brasil S/A contra Ronaldo Cardoso da Silva e Iriete Cardoso Cecatto. A sentença recorrida fundamentou-se na cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil S/A e a empresa Travessia Securitizadora de Créditos Financeiros VIII S/A, entendendo que, com a transferência do crédito principal, não subsistiria obrigação dos executados para com o Banco do Brasil ou com a Associação autora quanto aos honorários advocatícios. Considerou ainda que a cláusula quinta do instrumento de cessão estabelecia que a cessionária se responsabilizaria pelo pagamento dos honorários advocatícios contratuais e sucumbenciais devidos aos patronos do cedente. Em suas razões recursais, a autora sustenta, em síntese: a) a ilegitimidade e falta de interesse processual dos apelados para questionar a titularidade do crédito; b) sua legitimidade para representar e substituir processualmente os advogados do Banco do Brasil; c) a inexistência de negociação, cessão ou extinção dos honorários de sucumbência por quem de direito, argumentando que os advogados beneficiários não participaram do negócio jurídico de cessão; d) a autonomia da verba honorária de sucumbência em relação ao crédito principal; e) a existência de coisa julgada material, sendo a cessão de crédito posterior ao fato gerador que originou a obrigação; f) a impossibilidade de substituição do devedor sem concordância do credor; g) a inexistência de duplicidade de cobrança. Os réus também interpuseram Recurso, pleiteando a majoração dos honorários advocatícios fixados na sentença, argumentando que o valor de R$ 5.000,00 seria irrisório diante do valor da causa. Inicialmente, quanto ao pedido de isenção de custas formulado pela apelante ASABB, a Lei Estadual nº 7.603/2001, com a alteração promovida pela Lei Estadual nº 11.077/2020, estabelece em seu art. 3º, inciso V, a isenção de emolumentos, despesas e custas aos advogados na execução dos honorários advocatícios. Sendo este precisamente o caso dos autos, reconheço a isenção pleiteada. Passo à análise do mérito recursal da Apelação, interposta pela ASABB. A questão central da controvérsia reside em definir se a cessão de crédito realizada entre o Banco do Brasil S/A e a empresa Travessia Securitizadora de Créditos Financeiros VIII S/A afeta a legitimidade da ASABB para executar os honorários advocatícios de sucumbência fixados em favor dos advogados do Banco do Brasil. A sentença recorrida entendeu que, com a cessão do crédito principal, não subsistiria obrigação dos executados para com o Banco do Brasil ou com a associação autora, cabendo a esta exigir eventual pagamento diretamente do cedente Banco do Brasil. Os honorários advocatícios de sucumbência constituem direito autônomo do advogado, conforme expressamente estabelecido no art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) e reforçado pelo art. 85, § 14, do Código de Processo Civil, que dispõe: "os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial". Esta autonomia significa que, uma vez fixados por decisão judicial transitada em julgado, os honorários advocatícios constituem crédito próprio e independente do advogado, não se confundindo com o crédito da parte que ele representa no processo. Trata-se de relação jurídica distinta, com titulares diferentes. No caso em análise, os honorários advocatícios foram fixados em favor dos advogados do Banco do Brasil em duas oportunidades: primeiramente, na sentença de mérito da ação de cobrança, transitada em julgado em 04/05/2023, e posteriormente, na fase de cumprimento de sentença. A cessão de crédito entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora, por sua vez, foi formalizada apenas em 25/07/2024 e juntada aos autos do processo principal em 13/08/2024, ou seja, em momento posterior à constituição do título executivo judicial referente aos honorários advocatícios (Id 165453575). Sendo os honorários advocatícios direito autônomo dos advogados, não poderia o Banco do Brasil, ao ceder seu crédito principal, dispor também sobre o crédito de titularidade de seus advogados, já constituído por decisão judicial transitada em julgado. Para que tal cessão pudesse afetar os honorários advocatícios, seria imprescindível a participação e anuência expressa dos advogados titulares do crédito, o que não ocorreu no caso em tela. Conforme se verifica da análise dos documentos, os advogados beneficiários dos honorários de sucumbência não participaram, não compareceram e não anuíram no referido negócio de cessão. O instrumento de cessão de crédito foi firmado exclusivamente entre o Banco do Brasil S/A e a Travessia Securitizadora, sem a participação de qualquer advogado titular do crédito dos honorários de sucumbência. Ademais, a ASABB detém legitimidade para representar os advogados empregados do Banco do Brasil. A propósito: “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. COBRANÇA DE HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DE ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DO BANCO DO BRASIL. PRECEDENTES A RECONHECER A AUTORIZAÇÃO LEGAL, REGULAMENTAR E ESTATUTÁRIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA DOS SUCESSIVOS ACLARATÓRIOS OPOSTOS PELO EXECUTADO. CORRETA APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. 1. Negativa de prestação jurisdicional. Reconhecida a negativa de prestação jurisdicional por esta Corte Superior em assentada anterior, decisão esta transitada formalmente em julgado, cumpria ao Tribunal de origem atendê-la, procedendo ao rejulgamento dos aclaratórios e enfrentando a alegação de afronta ao art. 527, inciso V, do CPC, como o fizera. A pretensão formulada em sucessivos embargos de declaração no sentido de que a Corte de origem reconhecesse que a referida omissão não poderia ter sido reconhecida, porque não suscitada pela parte nos embargos, revelava-se manifestamente improcedente, razão por que nova negativa de prestação jurisdicional inexiste. Escorreita a aplicação da multa do art. 538, parágrafo único, do CPC. 2. Legitimidade da Associação dos Advogados do Banco do Brasil para a execução dos honorários de sucumbência em favor de seus associados. Precedente: "Nada obsta, assim, que, existindo uma associação regularmente criada para representar os interesses dos advogados empregados de determinado empregador, possa essa entidade associativa, mediante autorização estatutária, ser legitimada a executar os honorários sucumbenciais pertencentes aos "advogados empregados", seus associados, o que apenas facilita a formação, administração e rateio dos recursos do fundo único comum, destinado à divisão proporcional entre todos os associados." (REsp 634.096/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 29/08/2013) 3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO”. (AgRg no REsp 1514660/MS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2016, DJe 25/02/2016) Quanto à cláusula quinta do instrumento de cessão de crédito, que estabelece que "a Cessionária se responsabiliza pelo pagamento dos honorários advocatícios contratuais e sucumbenciais devidos aos patronos do Cedente constituídos nos processos judiciais relacionados aos Créditos, conforme as condições estabelecidas no Termo de Cessão, para serem repassados pelo Cedente aos referidos advogados com a observância das regras internas de distribuição dos valores entre os advogados que atuaram nos processos", é necessário interpretá-la à luz dos princípios que regem os negócios jurídicos. Primeiramente, cumpre observar que tal cláusula estabelece uma relação obrigacional entre o cedente (Banco do Brasil) e o cessionário (Travessia Securitizadora), não podendo afetar direitos de terceiros (advogados) que não participaram do negócio jurídico. Trata-se de aplicação do princípio da relatividade dos contratos, segundo o qual os efeitos do contrato se limitam às partes contratantes, não prejudicando nem beneficiando terceiros. Ademais, a interpretação sistemática da cláusula sugere que ela se refere a eventuais honorários futuros ou pendentes de pagamento pelo Banco do Brasil, e não àqueles já constituídos em favor dos advogados por decisão judicial transitada em julgado. Isso porque, sendo os honorários direito autônomo dos advogados, não poderia o Banco do Brasil dispor sobre eles sem a participação de seus titulares. Outro aspecto relevante é que, nos termos do art. 299 do Código Civil, “é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Desse modo, para que houvesse a substituição dos executados pela Travessia Securitizadora na obrigação de pagar os honorários advocatícios, seria necessário o consentimento expresso dos credores, ou seja, dos advogados titulares dos honorários, o que não ocorreu no caso em tela. A decisão que fixou os honorários advocatícios em favor dos advogados do Banco do Brasil transitou em julgado em 04/05/2023, enquanto a cessão de crédito entre o Banco do Brasil e a Travessia Securitizadora foi formalizada apenas em 25/07/2024. Assim, quando da cessão de crédito, já havia se formado coisa julgada material quanto à obrigação dos executados de pagar os honorários advocatícios aos advogados do Banco do Brasil. Esta obrigação, uma vez constituída por decisão judicial transitada em julgado, não poderia ser afetada por negócio jurídico posterior entre terceiros (Banco do Brasil e Travessia Securitizadora). A coisa julgada material, nos termos do art. 502 do CPC, torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso, constituindo garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Permitir que um negócio jurídico posterior entre terceiros afetasse a eficácia de uma decisão judicial transitada em julgado seria violar frontalmente o princípio da segurança jurídica e a garantia constitucional da coisa julgada. Além disso, o fato de a ação principal ainda estar em trâmite, agora com a Travessia Securitizadora no polo ativo, não configura duplicidade de cobrança, pois se trata de execuções distintas e autônomas: uma referente ao crédito principal, outra referente aos honorários advocatícios. Se eventualmente a Travessia Securitizadora estiver incluindo em seus cálculos valores referentes aos honorários advocatícios já executados nestes autos, tal questão deve ser resolvida no âmbito daquele processo, não afetando a legitimidade da presente execução. Por fim, quanto à Apelação interposta pelos executados, que pleiteiam a majoração dos honorários advocatícios fixados na sentença, verifico que, diante da reforma da sentença, tal recurso resta prejudicado. Pelo exposto, dou provimento ao Recurso da autora para desconstituir a sentença e determinar o retorno dos autos à primeira instância para regular prosseguimento. Por conseguinte, julgo prejudicado o Recurso dos réus. Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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