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Processo nº 5203346-06.2025.8.21.7000

ID: 333418008

Tribunal: TJRS Órgão: Secretaria da 15ª Câmara Cível Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 5203346-06.2025.8.21.7000

Data de Disponibilização: 24/07/2025

Polo Ativo:

JOANA DARC MACHADO MEIRELLES

Polo Passivo:

DECISÃO MONOCRÁTICA

Advogados:

EDUARDO SOUZA SANTOS

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

Agravo de Instrumento Nº 5203346-06.2025.8.21.7000/RS TIPO DE AÇÃO: Empréstimo consignado RELATOR : Desembargador CLOVIS MOACYR MATTANA RAMOS AGRAVANTE : JOANA DARC MACHADO MEIRELLES ADVOGADO(A) : E… Agravo de Instrumento Nº 5203346-06.2025.8.21.7000/RS TIPO DE AÇÃO: Empréstimo consignado RELATOR : Desembargador CLOVIS MOACYR MATTANA RAMOS AGRAVANTE : JOANA DARC MACHADO MEIRELLES ADVOGADO(A) : EDUARDO SOUZA SANTOS (OAB RS091591) EMENTA DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO BANCÁRIO. CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. TUTELA DE URGÊNCIA. REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. I. CASO EM EXAME: Agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória que indeferiu o pedido de tutela de urgência nos autos de ação declaratória de nulidade cumulada com pedido de restituição e danos morais, na qual a agravante alega ter sido induzida a erro ao contratar cartão de crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC), quando pretendia contratar empréstimo pessoal consignado. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO: Há duas questões em discussão: (i) a existência de probabilidade do direito, a partir da alegação de vício de consentimento na contratação de cartão de crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC); e (ii) a presença do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, considerando os descontos realizados no benefício previdenciário da agravante. III. RAZÕES DE DECIDIR: Em análise de cognição sumária, a probabilidade do direito não se encontra demonstrada, pois embora a agravante alegue vício de consentimento, admite ter firmado contrato com a instituição financeira, e sua argumentação se mostra fragilizada diante da documentação oficial emitida pelo INSS. A alegação de erro substancial carece de substrato probatório mínimo, não havendo evidência de que a agravante tenha solicitado modalidade de crédito diversa ou de que tenha sido induzida a erro. O histórico de crédito da agravante junto ao INSS revela familiaridade com operações de crédito consignado, constando múltiplos contratos com diferentes instituições. Não se vislumbra o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, uma vez que os descontos no benefício previdenciário da agravante ocorrem há mais de cinco anos, desde dezembro de 2019. A inércia da parte em questionar a relação jurídica por período tão extenso é incompatível com a alegação de urgência, militando contra o reconhecimento do perigo na demora da prestação jurisdicional. A suspensão dos descontos, em sede de cognição sumária, poderia causar impacto indevido na relação contratual, sendo prudente aguardar a instauração do contraditório e da ampla defesa. IV. DISPOSITIVO: Recurso desprovido, em decisão monocrática. ___________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 300, §§ 1º e 2º; CDC, arts. 2º, 3º e 6º, VIII. Jurisprudência relevante citada: TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 50074745320258217000, Rel. Roberto Carvalho Fraga, j. 17-01-2025; TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 50033312120258217000, Rel. Carmem Maria Azambuja Farias, j. 13-01-2025; TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 53720380220248217000, Rel. Roberto José Ludwig, j. 19-12-2024. DECISÃO MONOCRÁTICA JOANA DARC MACHADO MEIRELLES interpôs recurso de agravo de instrumento em face da decisão interlocutória que indeferiu a medida liminar nos autos do procedimento comum cível em que contende com BANCO BMG S.A , no qual restou lavrado o seguinte posicionamento: Ciente da decisão proferida em Agravo de Instrumento, concedendo a gratuidade da justiça à parte autora em juízo de retratação ( processo 5256489-41.2024.8.21.7000/TJRS, evento 15, DECMONO1 ). Trata-se de AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE C/C PEDIDO DE RESTITUIÇÃO, DANOS MORAIS E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA ajuizada por JOANA DARC MACHADO MEIRELLES contra BANCO BMG S.A. Narra a parte autora que jamais contratou cartão de crédito consignado com reserva de margem consignável (RMC), modalidade que resultou em descontos mensais indevidos em seu benefício previdenciário desde 2019. Refere que a contratação se deu de forma fraudulenta ou viciada, sem o devido fornecimento de informações claras e prévias, violando normas do Código de Defesa do Consumidor, que impõem dever de transparência e boa-fé, além de exigir autorização expressa para constituição da RMC. Apresenta cálculos que indicariam a abusividade dos juros aplicados, superiores à taxa média de mercado divulgada pelo BACEN, e sustenta que, se respeitada a taxa legal, a dívida já estaria quitada. Pondera que a conduta do banco caracteriza prática abusiva, vantagem manifestamente excessiva, falha na prestação do serviço e afronta à dignidade da pessoa humana, causando-lhe danos materiais e morais. Postula, liminarmente a cessação imediata dos descontos que reputa indevidos. O caso concreto está sob a égide da Lei 8.078/91, pois a relação entre as partes é típica de consumo, na forma de seus arts. 2º e 3º. Desse modo, e considerando a hipossuficiência processual da parte autora, a inversão do ônus probatório é medida que se aplica, na forma do art. 6º, VIII, do CDC. Nos termos do art. 300 do CPC, para a concessão de liminar, é necessário haver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. No caso concreto, não identifico a probabilidade do direito da autora, eis que, em que pese sustente ter contratado negócio diverso, afirma ter efetivamente firmado contrato com a empresa demandada. Assim, em sede de cognição sumária, inviável reconhecer de pronto o direito da parte autora, o que é de ser analisado em sentença, com cognição exauriente, observados os princípios do contraditório e da ampla defesa. Assim, INDEFIRO o pedido liminar pelas razões aduzidas. Cite-se e intimem-se. Em havendo contestação, intime-se a parte autora para, querendo, apresentar a réplica. Na sequência, intimem-se as partes para informarem o interesse na produção de outras provas. Havendo interesse na produção de prova oral, deverão apresentar o rol de testemunhas, para organização de pauta e eventual reserva de sala multiuso. Por fim, voltem os autos conclusos para designação de audiência ou sentença, conforme a situação. Agendada a intimação eletrônica. Em suas razões recursais , em síntese, alegou que a decisão interlocutória que indeferiu o pedido de tutela de urgência comporta modificação. Sustentou que, ao contrário do entendimento do juízo de origem, a probabilidade do direito está evidenciada, pois a existência de um contrato assinado não convalida o negócio jurídico quando este é fruto de erro substancial e vício de consentimento, uma vez que pretendia contratar um empréstimo pessoal consignado, mas foi induzida pela instituição financeira a firmar um contrato de cartão de crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC). Aduziu, ainda, que a medida é plenamente reversível, pois, caso a demanda seja julgada improcedente ao final, os descontos poderão ser retomados sobre seu benefício previdenciário. Por fim, requereu o provimento do recurso. Vieram os autos conclusos para julgamento. É, no essencial, o relatório. Passo a decidir . Recebo e conheço do recurso, já que correto, tempestivo e preparado, e, desde logo, com fundamento no art. 932, inciso VIII, do Código de Processo Civil (CPC), combinado com o art. 206, XXXVI, do RI/TJRS, bem como nos termos da Súmula 568 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), passo ao julgamento monocrático . A controvérsia recursal cinge-se à análise do preenchimento dos requisitos legais para a concessão da tutela de urgência, especificamente: (i) a existência de probabilidade do direito, a partir da alegação de vício de consentimento na contratação de cartão de crédito com Reserva de Margem Consignável (RMC); e (ii) a presença do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, considerando os descontos realizados no benefício previdenciário da agravante. Com fundamento no art. 300, caput , do CPC, " a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo ". Além disso, para o deferimento da medida, nos termos dos §§ 1º e 2º, poderá o julgador exigir a prestação de caução idônea, destinada a ressarcir eventuais danos que a parte contrária possa vir a suportar, sendo certo que a tutela poderá ser concedida liminarmente ou após prévia justificação. Quanto aos requisitos, trago lições de Fredie Didier Júnior 1 : " A probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito/realizado ou acautelado é a plausibilidade de existência desse mesmo direito. O bem conhecido fumus boni iuris (ou fumaça do bom direito). O magistrado precisa avaliar se há "elementos que evidenciem" a probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as chances de êxito do demandante (art. 300, CPC). Inicialmente, é necessária a verossimilhança fática, com a constatação de que há um considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa dos fatos trazida pelo autor. É preciso que se visualize, nessa narrativa, uma verdade provável sobre os fatos, independentemente da produção de prova. Junto a isso, deve haver uma plausibilidade jurídica, com a verificação de que é provável a subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo aos efeitos pretendidos. A tutela provisória de urgência pressupõe, também, a existência de elementos que evidenciem o perigo que a demora no oferecimento da prestação jurisdicional (periculum in mora) representa para a efetividade da jurisdição e a eficaz realização do direito. O perigo da demora é definido pelo legislador como o perigo que a demora processual representa de "dano ou o risco ao resultado útil do processo" (art. 300, CPC). Importante é registrar que o que justifica a tutela provisória de urgência é aquele perigo de dano: i) concreto (certo), e, não hipotético ou eventual, decorrente de mero temor subjetivo da parte; ii) atual, que está na iminência de ocorrer, ou esteja acontecendo; e enfim, iii) grave, que seja de grande ou média intensidade e tenha aptidão para prejudicar ou impedir a fruição do direito. Além de tudo, o dano deve ser irreparável ou de difícil reparação." Não obstante, segundo Jaqueline Mielke Silva 2 " ..a probabilidade do direito nada mais é do que a verossimilhança, também denominada pela doutrina de fumus boni juris. O conhecimento das matérias para a concessão da tutela provisória (antecipatória ou cautelar) é perfunctório, superficial, não havendo a necessidade do exaurimento do conhecimento. A verossimilhança, por sua vez, deve considerar: (a) o valor do bem jurídico ameaçado; (b) a dificuldade de o autor provar a sua alegação; (c) a credibilidade, de acordo com as regras de experiência, da alegação e (d) a própria urgência descrita..". Pois bem. O recurso não merece provimento, porquanto ausentes os requisitos autorizadores para a concessão da tutela de urgência, previstos no art. 300 do Código de Processo Civil. A probabilidade do direito, ou fumus boni iuris , não se encontra demonstrada de plano. Embora a agravante alegue vício de consentimento, admite ter firmado um contrato com a instituição financeira e sua argumentação se mostra fragilizada diante da documentação oficial emitida pelo INSS. Ademais, a alegação de erro substancial carece de substrato probatório mínimo. A agravante não apresentou nenhuma evidência de que tenha solicitado modalidade de crédito diversa ou de que tenha sido induzida a erro. A análise do seu histórico de crédito junto ao INSS, ao contrário, revela familiaridade com operações de crédito consignado, constando múltiplos contratos com diferentes instituições. A mera alegação de que sua vontade era outra, sem respaldo em provas e em confronto com documentos oficiais que atestam a regularidade da averbação e a efetiva utilização do crédito ao longo dos anos, é insuficiente para conferir verossimilhança ao direito invocado. Da mesma forma, não se vislumbra o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo ( periculum in mora ). Os descontos no benefício previdenciário da agravante ocorrem há mais de cinco anos, desde dezembro de 2019, consoante evento 1, ANEXO5, página 06 . A inércia da parte em questionar a relação jurídica por um período tão extenso é incompatível com a alegação de urgência. Se os descontos fossem de fato insuportáveis ou indevidos, seria esperado que a parte tivesse buscado a tutela de seus direitos em momento anterior, e a demora em fazê-lo milita contra o reconhecimento do perigo na demora da prestação jurisdicional. De mais a mais, a suspensão dos descontos, neste momento de cognição sumária, poderia causar um impacto indevido na relação contratual, sendo mais prudente e recomendável que se aguarde a instauração do contraditório e da ampla defesa, permitindo que a instituição financeira apresente seus argumentos e provas. Portanto, diante da ausência de demonstração inequívoca da probabilidade do direito e do perigo de dano, a manutenção da decisão do juízo a quo que indeferiu a tutela de urgência é a medida que se impõe, privilegiando a segurança jurídica e o devido processo legal até que os fatos sejam devidamente elucidados ao longo da instrução probatória. Sobre a temática, transcrevo os seguintes arestos desta Câmara, por analogia: Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO. PLEITO DE SUSPENSÃO DE DESCONTOS DECORRENTES DE EMPRÉSTIMO. FALTA DE PROVA DOCUMENTAL A DEMONSTRAR A PROBABILIDADE DO DIREITO. TUTELA DE URGÊNCIA. INVIABILIDADE. REQUISITOS DO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NÃO DEMONSTRADOS. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 50074745320258217000, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em: 17-01-2025) Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO CONSUMIDOR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. CONTRATO BANCÁRIO. RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE SUSPENSÃO DE DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC NÃO PREENCHIDOS. DECISÃO MANTIDA. I. CASO EM EXAME Agravo de instrumento interposto por mutuário contra decisão que, nos autos de ação anulatória de contratação com pedido de perdas e danos, indeferiu tutela provisória de urgência para determinar a suspensão de descontos em benefício previdenciário. A parte agravante alega que foi induzida em erro ao contratar, acreditando tratar-se de empréstimo consignado tradicional, quando, na realidade, tratava-se de contrato de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RMC). Pleiteia a suspensão dos descontos , afirmando prática abusiva e enriquecimento ilícito. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão:(i) verificar se estão preenchidos os requisitos do art. 300 do CPC para concessão da tutela de urgência;(ii) determinar se a ausência de dilação probatória impede a suspensão dos descontos por meio de medida liminar. III. RAZÕES DE DECIDIR O deferimento da tutela de urgência exige a demonstração cumulativa de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, conforme disposto no art. 300 do CPC.Não há prova inequívoca de vício na contratação, uma vez que o agravante não nega a existência do contrato, mas apenas sustenta ausência de autorização específica para contratação na modalidade de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RMC).A ausência de contemporaneidade entre o início dos descontos (em 2015) e o ajuizamento da ação (em 2024) enfraquece o argumento de urgência, especialmente considerando que a parte permaneceu inerte por quase uma década.A inexistência de contrato nos autos impossibilita a análise da alegada abusividade, demandando dilação probatória.Precedentes reiterados das Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do RS reconhecem a impossibilidade de concessão de tutela de urgência em situações análogas, quando ausentes os requisitos do art. 300 do CPC e havendo significativa demora no ajuizamento da ação após o início dos descontos . IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso desprovido. Tese de julgamento: A concessão de tutela provisória de urgência exige a demonstração cumulativa de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, sendo inviável o deferimento quando ausente prova inequívoca do vício na contratação.A ausência de contemporaneidade entre o início dos descontos e o ajuizamento da ação enfraquece o requisito de urgência necessário para concessão da tutela de urgência.A dilação probatória é indispensável para análise de suposto vício na contratação de modalidade de crédito com reserva de margem consignável (RMC). Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 300. Jurisprudência relevante citada: (...) (Agravo de Instrumento, Nº 50033312120258217000, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carmem Maria Azambuja Farias, Julgado em: 13-01-2025) Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). SUSPENSÃO DOS DESCONTOS . INDEFERIMENTO DE TUTELA DE URGÊNCIA. MANUTENÇÃO. I. CASO EM EXAME. 1.1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que indeferiu tutela de urgência em ação de declaração de inexistência de débito e cancelamento de descontos em benefício previdenciário. A agravante alega não ter contratado o serviço de cartão de crédito com reserva de margem consignável, cujos descontos das parcelas estariam comprometendo sua subsistência. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO. 2.1. A questão consiste em verificar a presença dos requisitos para a concessão de tutela de urgência, com base na alegação de vício de consentimento na contratação do cartão de crédito com reserva de margem consignada. III. RAZÕES DE DECIDIR. 3.1. Nos termos do art. 300 do CPC, para concessão de tutela de urgência, é necessária a demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano. 3.2. No caso, a alegação de não solicitação do empréstimo não foi acompanhada de indícios mínimos, sendo prematura a constatação de vício de consentimento. 3.3. Ausentes elementos que evidenciem, em cognição sumária, a ocorrência de violação ao dever de informação ou vício na contratação, o indeferimento da tutela provisória deve ser mantido. IV. DISPOSITIVO E TESE. 4.1. Recurso desprovido. Mantém-se a decisão recorrida que indeferiu a tutela de urgência. 4.2. Resumo do julgamento: "1. Ausentes os requisitos autorizadores, é inviável a concessão de tutela antecipada para suspensão de descontos em conta-corrente por empréstimo consignado alegadamente não solicitado." AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA.(Agravo de Instrumento, Nº 53720380220248217000, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roberto José Ludwig , Julgado em: 19-12-2024) Por fim, esclareço que, no intuito de evitar a oposição de embargos meramente prequestionadores, dou por prequestionadas as razões e dispositivos legais mencionados neste julgado, advertindo que eventual oposição de embargos protelatórios sujeitar-se-á à sanção prevista no art. 1.026, § 2º, do CPC. Ademais, ressalto que o julgador não está obrigado a se manifestar sobre todos os dispositivos legais invocados pela parte, sendo suficiente a fundamentação da decisão, nos termos dos arts. 489, IV, e 1.025 do CPC. Ante o exposto, nos termos do art. 206, XXXVI, do RI/TJRS, em decisão monocrática, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento, de modo que a pretensão antecipatória vai indeferida, o que faço conforme razões suso referidas. 1. In Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Jus Podivm, 2015. vol. 02. p. 595-596 In Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Jus Podivm, 2015. vol. 02. p. 595-596 2. In A Tutela Provisória no Novo Código de Processo Civil. Tutela de Urgência e Tutela de Evidência: Verbo Jurídico, 2015, p. 77.

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Processo nº 5273464-41.2024.8.21.7000

ID: 333486718

Tribunal: TJRS Órgão: Secretaria da 17ª Câmara Cível Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 5273464-41.2024.8.21.7000

Data de Disponibilização: 24/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

BANCO DO BRASIL S/A

DECISÃO MONOCRÁTICA

Advogados:

GUSTAVO RODRIGO GOES NICOLADELI

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

Agravo de Instrumento Nº 5273464-41.2024.8.21.7000/RS TIPO DE AÇÃO: Bancários RELATORA : Desembargadora VANISE ROHRIG MONTE ACO AGRAVADO : BANCO DO BRASIL S/A (RÉU) EMENTA DIREITO CIVIL. AGRAVO DE I… Agravo de Instrumento Nº 5273464-41.2024.8.21.7000/RS TIPO DE AÇÃO: Bancários RELATORA : Desembargadora VANISE ROHRIG MONTE ACO AGRAVADO : BANCO DO BRASIL S/A (RÉU) EMENTA DIREITO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO. CONTRATO BANCÁRIO. RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. TUTELA DE URGÊNCIA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. I. CASO EM EXAME: 1. Agravo de instrumento interposto contra decisão que indeferiu a tutela de urgência pleiteada em ação anulatória de negócio jurídico, que objetivava a suspensão da exigibilidade do pagamento das parcelas da renegociação dos empréstimos e a abstenção de cadastro do nome da parte autora nos serviços de proteção ao crédito. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO: 1. A questão em discussão consiste na presença ou não dos requisitos autorizadores para a concessão da tutela de urgência que visa suspender os descontos relativos ao contrato de renegociação de dívida alegadamente firmado com vício de consentimento. III. RAZÕES DE DECIDIR: 1. Para a concessão da tutela de urgência, conforme o art. 300 do CPC, é necessária a presença dos requisitos da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. 2. A probabilidade do direito não está suficientemente demonstrada, pois a alegação de vício de consentimento no contrato de renegociação de dívidas é questão de natureza eminentemente fática, que exige instrução probatória e análise detida dos elementos a serem produzidos ao longo do processo. 3. A documentação apresentada nos autos indica a existência de contrato firmado eletronicamente pela parte agravante, o que, em sede de cognição sumária, sugere sua anuência às cláusulas e condições pactuadas. 4. O perigo de dano também não se mostra presente, pois em caso de procedência do pedido de declaração de nulidade do contrato, os valores descontados poderão ser restituídos, inclusive com a possibilidade de repetição em dobro do indébito. 5. A concessão da tutela de urgência em cenário de controvérsia fática relevante, onde a probabilidade do direito não se revela evidente, implicaria em prejulgamento indevido da lide, com potencial ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. IV. DISPOSITIVO: 1. Recurso desprovido. ___________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 300; CDC, art. 4º, I, art. 6º, VIII. Jurisprudência relevante citada: TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 53122453520248217000, Rel. José Vinícius Andrade Jappur, j. 23-10-2024; TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 52996422720248217000, Rel. Eugênio Facchini Neto, j. 15-10-2024; TJRS, Agravo de Instrumento, Nº 52029133620248217000, Rel. Giovanni Conti, j. 24-09-2024. DECISÃO MONOCRÁTICA MARIA NELI DE BRITO DA SILVA interpõe agravo de instrumento contra a decisão proferida nos autos da ação anulatória de negócio jurídico com inexigibilidade de débito c/c indenização por danos morais ajuizada contra BANCO DO BRASIL S/A, que indeferiu a tutela de urgência que objetiva a suspensão da exigibilidade do pagamento das parcelas da renegociação dos empréstimos, bem como a abstenção de cadastro do seu nome nos serviços de proteção ao crédito ( 3.1 ). Nas razões , alega que a urgência está mais do que evidenciada diante do perigo de dano iminente causado pelos descontos indevidos de contrato bancário nunca solicitado, no valor mensal de R$ 646,28, o que reduz sua renda e causa graves abalos econômicos e emocionais. Sustenta que a probabilidade do direito invocado, demonstrada pela farta documentação acostada aos autos, decorre da fraude na contratação dos empréstimos, denotando a ocorrência de prática comercial abusiva que afronta os direitos da parte consumidora. Destaca que se trata de pessoa idosa, com 69 anos de idade, enquadrada no conceito de hipervulnerabilidade, além de possuir déficit informacional. Defende que o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação consubstancia-se no prejuízo financeiro que vem sofrendo por um empréstimo consignado que não contratou, uma vez que tem sofrido descontos mensais indevidos em seu benefício previdenciário. Requer a antecipação da tutela recursal para o fim de que sejam suspensos os descontos na pensão por morte recebida relativamente ao contrato nº 352706614-0 e, ao final, o provimento do recurso. Foi indeferida a antecipação de tutela recursal ( 4.1 ). Apresentadas as contrarrazões ( 10.1 ). Vieram os autos conclusos. É o relatório. Conheço do recurso, visto que preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. Diante do entendimento dos integrantes desta Câmara Cível e, nos termos do art. 932, inc. VIII, do CPC, em conjunto com a previsão constante do art. 206, inc. XXXVI, do Regimento Interno desta Corte, cabível o julgamento monocrático do feito. A parte agravante insurge-se contra a seguinte decisão ( 3.1 ): Vistos. Trata-se de pedido de tutela de urgência em que a parte autora pretende a suspensão da cobrança das parcelas de refinanciamento feito com o requerido, sustentando que a oferta por telefone foi de 19 parcelas de R$ 649,00, ficando sabendo posteriormente que, na verdade. seriam 60 parcelas nesse valor. Com a inicial, juntou documentos e requereu a concessão de AJG. É o breve relato. Decido. 1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA Defiro o benefício da gratuidade da justiça à parte autora, tendo em vista a presunção de hipossuficiência econômica, forte no artigo 98 do Código de Processo Civil, que, no caso em foco, encontra ressonância com a documentação colacionada aos autos (Evento 01, documento 05). 2. DA TUTELA DE URGÊNCIA Previamente a análise do pedido, saliento que de acordo com a redação do art. 300, caput , do CPC/2015, para a concessão da tutela de urgência mostra-se necessária a presença dos seguintes pressupostos: a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Sobre a matéria, Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandre de Oliveira ( in Curso de Direito Processual Civil, v. 2, Editora Juspodivm, Salvador - Bahia, 2016, p. 608), asseveram que: “A probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito/realizado ou acautelado é a plausibilidade de existência desse mesmo direito. O bem conhecido fumus boni iuris (ou fumaça do bom direito). O magistrado precisa avaliar se há “elementos que evidenciem” a probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as chances de êxito do demandante (art. 300, CPC). Inicialmente, é necessária a verossimilhança fática , com a constatação de que há um considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa dos fatos trazida pelo autor . É preciso que se visualize, nessa narrativa, uma verdade provável sobre os fatos , independentemente da produção de prova. […] A tutela provisória de urgência pressupõe, também, a existência de elementos que evidenciem o perigo que a demora no oferecimento da prestação jurisdicional ( periculum in mora ) representa para a efetivação da jurisdição e a eficaz realização do direito. O perigo da demora é definido pelo legislador como o perigo que a demora processual representa de 'dano ao resultado útil do processo' (art. 300, CPC). […] Importante é registrar que o que justifica a tutela provisória de urgência é aquele perigo de dano : i) concreto (certo) e, não, hipotético ou eventual, decorrente de mero temor subjetivo da parte; ii) atual, que está na iminência de ocorrer, ou esteja acontecendo e, enfim, iii) grave, que seja de grande ou média intensidade e tenha aptidão para prejudicar ou impedir a fruição do direito.” No caso dos autos, tenho que não estão presentes dois dos requisitos indicados no artigo 300 do Código de Processo Civil. Senão, vejamos: A probabilidade do direito não está evidenciada no caso em tela, uma vez que os termos da renegociação da dívida entre as partes precisa ser melhor esclarecido nos autos, o que será possível somente com o contraditório e eventual instrução processual. Por fim, importante frisar, por oportuno, que a presente decisão fica sujeita, também, à reavaliação em momento posterior à juntada da contestação nos autos, quando então o contraditório poderá alterar a situação que ensejou seu indeferimento. Por tais razões, INDEFIRO o pedido de tutela de urgência pleiteado pela parte autora. 3. Considerando a obrigatoriedade da realização da audiência preliminar, nos termos do artigo 334 do CPC e a notória importância da resolução do conflito pela autocomposição, determino a remessa dos autos ao CEJUSC para realização de sessão de CONCILIAÇÃO. Deverá a parte ré ser advertida de que o não comparecimento injustificado será considerado ato atentatório à dignidade da justiça e sancionado com multa de até 2% sobre o valor da causa (art. 334, §8º, do CPC). Ainda, deverá ser observado o enunciado nº 53 do FONAMEC: "As pessoas jurídicas deverão indicar prepostos ou procuradores com reais condições de apresentar propostas de autocomposição do litígio, sob pena de incidirem na multa de que trata o §8º do art. 334 do CPC." Honorários do conciliador: Do depósito prévio: Diante do disposto no artigo 169 do CPC e no Ato nº 47/2021-P do TJRS, os conciliadores, nomeados em observância ao sistema de rodízio estabelecido pelo CEJUSC e que não estiverem no exercício de atividade voluntária, farão jus a honorários, de modo que determino a intimação da parte autora para realizar o depósito prévio de 1URC, em conta própria a ser indicada pelo conciliador ou mediante depósito judicial, salvo se a mesma estiver ao amparo da AJG. Do acordo em sessão: Realizada a sessão, com acordo ainda que parcial ou este ocorra em até 30 dias posteriores, vão fixados honorários de 2URCs para cada conciliador certificado, independentemente do número de sessões realizadas, em conta a ser indicada pelo conciliador, podendo o valor ser rateado pelas partes, mediante ajuste na sessão. Se uma ou mais partes estiverem ao amparo do benefício da AJG, ficará suspensa a exigibilidade, e o pagamento dos honorários em relação a ela(s), será suportado por dotação orçamentária própria do TJRS, no valor total de 1URC, e à parte não beneficiária da AJG, cumprirá pagar outra 1 URC, que é a metade do patamar fixado como valor mínimo no ato 47/2021-P. Não havendo acordo: Ainda que não haja acordo, são devidos honorários ao conciliador à razão de 1URC, independentemente do número de sessões e de conciliadores, a cargo da parte não beneficiária da AJG , nos termos do artigo 1º, inciso I, do Ato 47/2021-P (depósito prévio). Cite-se a parte ré para comparecer à sessão de conciliação prévia, acompanhada de advogado e para, querendo, oferecer contestação e reconvenção (art. 334, caput e §9º, do CPC), no prazo de 15 dias, que fluirá da data da audiência (art. 335, I CPC). Do ato citatório, também deverá constar a advertência à parte ré de que, não oferecida contestação, no prazo legal, será considerada revel, presumindo-se verdadeiros os fatos afirmados na inicial, cuja cópia integral deverá instruir o ato. Acaso o requerido tenha necessidade de concessão da AJG, deverá apresentar no dia da sessão comprovante de rendimentos (contracheque/holerite, declaração atualizada IR, p.ex.), já que o benefício ficará concedido de plano, comprovando renda inferior a 05 salários mínimos, piso nacional. Eventuais dúvidas poderão ser esclarecidas junto ao balcão virtual do CEJUSC de nº (51) 995770714. 4 . Considerando a incidência do CDC (Lei 8.078/1990) ao caso "sub judice" , tendo em conta o princípio da vulnerabilidade (art. 4º, inciso I, CDC), determino a inversão do ônus da prova , nos termos do art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/1990. Assim, no prazo defensivo, DEVERÁ a parte demandada acostar toda a documentação relativa aos fatos descritos pelo autor , bem como atentar-se ao ônus processual estabelecido nas Seções II e III, do Capítulo IV, da lei consumerista. Intimem-se da decisão proferida. Para o deferimento da tutela de urgência a que alude o art. 300 do Código de Processo Civil, indispensável o preenchimento dos requisitos essenciais que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Sobre o tema, lecionam Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero 1 : 3. Probabilidade do Direito. No direito anterior a antecipação da tutela estava condicionada à existência de “prova inequívoca” capaz de convencer o juiz a respeito da “verossimilhança da alegação”, expressões que sempre foram alvo de acirrado debate na doutrina. O legislador resolveu, contudo, abandoná-las, dando preferência ao conceito de probabilidade do direito. Com isso, o legislador procurou autorizar o juiz a conceder tutelas provisórias com base em cognição sumária, isto é, ouvindo apenas uma das partes ou então fundado em quadros probatórios incompletos (vale dizer, sem que tenham sido colhidas todas as provas disponíveis para o esclarecimento das alegações de fato). A probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos direitos é a probabilidade lógica – que é aquela que surge da confrontação das alegações e das provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a hipótese que encontra maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O juiz tem que se convencer de que o direito é provável para conceder tutela provisória. 4. Perigo na Demora. A fim de caracterizar a urgência capaz de justificar a concessão de tutela provisória, o legislador falou em “perigo de dano” (provavelmente querendo se referir à tutela antecipada) e “risco ao resultado útil do processo” (provavelmente querendo se referir à tutela cautelar). Andou mal nas duas tentativas. Em primeiro lugar, porque o direito não merece tutela tão somente diante do dano. O próprio Código admite a existência de uma tutela apenas contra o ilícito ao ter disciplinado o direito à tutela inibitória e o direito à tutela de remoção do ilícito (art. 497, parágrafo único, CPC). Daí que falar apenas em perigo de dano é recair na proibição de retrocesso na proteção do direito fundamental à tutela adequada, já que o Código Buzaid, depois das Reformas, utilizava-se de uma expressão capaz de dar vazão à tutela contra o ilícito (“receio de ineficácia do provimento final”). Em segundo lugar, porque a tutela cautelar não tem por finalidade proteger o processo, tendo por finalidade tutelar o direito material diante de um dano irreparável ou de difícil reparação. O legislador tinha à disposição, porém, um conceito mais apropriado, porque suficientemente versátil, para caracterizar a urgência: o conceito de perigo na demora (periculum in mora). A tutela provisória é necessária simplesmente porque não é possível esperar, sob pena de o ilícito ocorrer, continuar ocorrendo, ocorrer novamente, não ser removido ou de dano não ser reparado ou reparável no futuro. Assim, é preciso ler as expressões perigo de dano e risco ao resultado útil do processo como alusões ao perigo na demora. Vale dizer: há urgência quando a demora pode comprometer a realização imediata ou futura do direito. Confrontando as alegações recursais e os elementos aportados aos autos, entendo que não estão suficientemente preenchidos os requisitos necessários para a antecipação dos efeitos finais da tutela jurisdicional pretendida. Na exordial ( 1.1 ), a parte autora alegou a existência de vício de consentimento na celebração do contrato de financiamento. Aduziu, em síntese, ter sido informada, por meio de contato telefônico, de que a quitação do débito daria-se-ia em 15 parcelas mensais no valor de R$ 649,00, de sorte que, ao comparecer à instituição bancária para efetuar o pagamento da primeira parcela, foi surpreendida com a entrega de boleto indicando obrigação de pagamento de 60 parcelas, divergente, portanto, da informação inicialmente prestada. Da análise dos documentos carreados nos autos originários, observa-se que a instituição financeira agravada apresentou o contrato firmado eletronicamente ( 25.2 ), ao passo que a agravante anexou o termo denominado "COMPROMISSO DE PAGAMENTO - EXTRAJUDICIAL" de nº 00000202200790027", igualmente celebrado por meio eletrônico ( 1.9 ). Ainda que a agravante alegue não ter firmado qualquer documentação, verifica-se, ao menos em sede de sumária cognição, a sua anuência às cláusulas e condições pactuadas no contrato em questão. Ressalto que a alegação de vício de consentimento no contrato de renegociação de dívidas, questão central da controvérsia, reveste-se de natureza eminentemente fática, de modo que sua apreciação exige a devida instrução probatória e a análise detida dos elementos que vierem a ser produzidos ao longo do processo, não estando demonstrada pela tão só prova documental produzida até o momento. A concessão da tutela de urgência em um cenário de controvérsia fática relevante, onde a probabilidade do direito não se revela evidente e o perigo de dano não é irreversível, implicaria em um prejulgamento indevido da lide, com a potencial ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa da parte adversa. A prudência recomenda que se aguarde a devida instrução probatória para que a magistrada de primeiro grau, que está em contato direto com os fatos e as provas, possa formar seu convencimento com base em cognição exauriente. Da mesma forma, não se mostra presente o perigo de dano, porque no caso de procedência o pedido de declaração de nulidade do contrato de renegociação de dívida de empréstimos, os valores descontados da parte agravante ser-lhes-ão restituídos, até porque há postulação na petição inicial de repetição em dobro do indébito ( 1.1 , p. 26). Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ART. 1.015, INC. I, DO CPC. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO E PEDIDO DE SUSPENSÃO DOS DESCONTOS. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA INDEFERIDA. DECISÃO QUE SE MOSTRA CONSENTÂNEA COM A PROVA TRAZIDA AOS AUTOS. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA, NOTADAMENTE ANTE A NEGATIVA DA CONTRATAÇÃO, TESE NÃO DEMONSTRADA INEQUIVOCAMENTE. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES À EMISSÃO DE JUÍZO ANTECIPADO, AINDA QUE PROVISÓRIO, SOBRE O TEMA. DECISÃO DE INDEFERIMENTO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 53122453520248217000, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Vinícius Andrade Jappur, Julgado em: 23-10-2024) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. NEGATIVA DE CONTRATAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO ASSISTÊNCIAL. 1. É de ser mantido o indeferimento da tutela provisória de urgência no sentido da suspensão dos descontos realizados no benefício previdenciário da parte autora, pois não verificados os requisitos autorizadores da medida pretendida e elencados no art. 300 do CPC/2015. 2. Ainda que a relação - em princípio - seja regida pelo influxo das regras consumeristas, aquele que pretende a obtenção de tutela provisória de urgência sabe da necessidade de apresentação de elementos que evidenciem a probabilidade do direito invocado. Mas no caso, isso não ocorreu, sendo prudente aguardar-se a formação do contraditório na origem e a ampla instrução probatória. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO, DE PLANO.(Agravo de Instrumento, Nº 52996422720248217000, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eugênio Facchini Neto, Julgado em: 15-10-2024) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO. TUTELA DE URGÊNCIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. NEGATIVA DE CONTRATAÇÃO. DESCONTOS. SUSPENSÃO DA COBRANÇA. PEDIDO INDEFERIDO NO PRIMEIRO GRAU. REQUISITOS DO ARTIGO 300 DO CPC/15 NÃO PREENCHIDOS. DECISÃO MANTIDA. O DEFERIMENTO DA TUTELA DE URGÊNCIA PRESSUPÕE O PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DISPOSTOS NO ART. 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. NO CASO, CARECE O PEDIDO DA PARTE AUTORA DE PROVA INEQUÍVOCA DO DIREITO E DA VEROSSIMILHANÇA DE SUAS ALEGAÇÕES, POIS OS ELEMENTOS TRAZIDOS AOS AUTOS NÃO SE MOSTRAM SUFICIENTES AO FIM DE AUTORIZAR A SUSPENSÃO DOS DESCONTOS NO BENEFÍCIO. ISTO PORQUE, AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS RÉS/AGRAVADAS ACOSTARAM AOS AUTOS DOCUMENTOS QUE INDICAM A LEGITIMIDADE DA CONTRATAÇÃO, AO MENOS EM UM JUÍZO PERFUNCTÓRIO. ALÉM DISSO, AS ALEGAÇÕES RELACIONADAS À SUPOSTA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SÃO GENÉRICAS, DEIXANDO DE INDICAR EVENTUAL ABUSO DE DIREITO POR PARTE DO FORNECEDOR, O QUE SOMENTE PODERÁ SER VERIFICADO NA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº 52029133620248217000, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Giovanni Conti, Julgado em: 24-09-2024). Por fim, ressalto que nada obsta que a magistrada de primeiro grau proceda à nova apreciação da tutela de urgência no caso de aportar aos autos originários novos elementos para a formação de um melhor juízo de convicção. Destarte, inexistindo, por ora, elementos probatórios aptos a evidenciar a ocorrência de vício de consentimento, impõe-se a manutenção da decisão agravada. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento. 1. Código de Processo Civil Comentado. 7. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021. 7. ed. em e-book baseada na 7. ed. impressa

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Processo nº 5596554-30.2024.8.09.0051

ID: 291897695

Tribunal: TJGO Órgão: 7ª Câmara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5596554-30.2024.8.09.0051

Data de Disponibilização: 06/06/2025

Polo Ativo:

WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA SANTOS

Polo Passivo:

Ementa

Advogados:

HUMBERTO PÉRICLES RODRIGUES ROCHA

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ANNA CAROLINA TAQUARY RIOS

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EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelaç… EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de Goiás Gabinete do Desembargador Sergio Mendonça de Araújo 7ª Câmara Cível APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br VOTO 1. Preliminar de afronta à dialeticidade e juízo de admissibilidade. Verifica-se que os apelados arguiram preliminar, que se refere a afronta à dialeticidade, em virtude das razões recursais repetirem os argumentos da petição inicial, sem enfrentar os desacertos da sentença. A afronta à dialeticidade se caracteriza quando o recorrente não impugna de maneira clara e específica as questões decididas na sentença, o que não se revela nos autos, pois a apelante expôs adequadamente que sua insurgência diz respeito ao não reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras em razão de fraude bancária contra ela perpetrada. Portanto, havendo demonstração de que as razões recursais apresentadas são condizentes com a fundamentação lançada no édito, não há se falar em violação à dialeticidade, conforme já decidido por este Tribunal: “Apelação cível. (...) I. Violação ao princípio da dialeticidade. Inocorrência. O princípio da dialeticidade consiste no dever do recorrente em declinar os motivos de seu inconformismo, isto é, as razões de fato e de direito que levam à cassação ou à reforma do ato decisório impugnado, nos termos do artigo 1.010, incisos II e III, do Código de Processo Civil. Atendidos tais requisitos, não há falar em desrespeito do regramento normativo. (...) Apelação parcialmente conhecida e, nesta parte, desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5440616-12.2023.8.09.0137, Rel.Des. ANA CRISTINA RIBEIRO PETERNELLA FRANÇA, 7ª Câmara Cível, julgado em 16/08/2024, Dje de 16/08/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 1. Não viola o princípio da dialeticidade o apelo que rebate os fundamentos da sentença de modo adequado, acerca dos temas controvertidos que o autor pretende a revisão. (...) APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESTA PARTE, DESPROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5459759-06.2022.8.09.0142, Rel. Des. FABIANO ABEL DE ARAGÃO FERNANDES, 7ª Câmara Cível, julgado em 06/10/2023, Dje de 06/10/2023) Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. 2. Questão em debate. Conforme relatado, trata-se de apelação cível, interposta por WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA contra a sentença prolatada pelo Juízo da 9ª Vara Cível da Comarca de Goiânia, nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada em desfavor do BANCO VOTORANTIM S/A e do NEON PAGAMENTOS S/A. A autora alega que realizou o pagamento da segunda via de um boleto fornecido pelo primeiro réu (Banco Votorantim), referente a uma dívida legítima (parcela de contrato de aquisição de veículo); e que após alguns dias começou a receber cobranças a respeito da mesma parcela, quando informou que já havia realizado o pagamento. Afirma que ao acessar o aplicativo do Serasa, constatou que a ré havia incluído seus dados nos órgãos de proteção ao crédito. Acrescenta que foi vítima de um golpe, resultado da negligência da primeira ré, que não manteve em sigilo os dados do contrato junto a seu sistema, e da segunda ré, que viabilizou a abertura de conta em nome de estelionatários. A sentença julgou improcedentes os pedidos, cujo teor transcrevo: “(…)De uma análise dos documentos juntados com a exordial, nota-se facilmente que o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/).Verifica-se ainda que nas conversas jungidas com o suposto credor, possivelmente estelionatário, percebe-se que a parte autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema.E ainda, o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga.Outro ponto a ser destacado é que consta como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária.Desta feita, verificou-se que na realidade a parte autora quitou boleto falso, o qual embora apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon).Destarte, em que pese a relação de consumo constatada, o caso revela configuração de excludente de responsabilidade da empresa ré, consubstanciada na culpa exclusiva de terceiro e da parte autora (fortuito externo), a qual não foi diligente ao efetuar o pagamento, já que seria de fácil constatação que o beneficiário do boleto não é o seu credor.Cabe salientar que não há como os requeridos terem gerência sobre fraudes com a utilização de seu nome em sites falsos.(…)Desta forma, notada a excludente de responsabilidade das requeridas prevista no artigo 14, § 3º, II do Código de Defesa do Consumidor, constatando situação de fortuito externo, o caso é de improcedência dos pedidos iniciais.Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos contidos na inicial.Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que fixo no valor de R$ 1.500,00 (hum mil reais), para cada requerida, ficando suspensa a exigibilidade por ser a mesma beneficiária da gratuidade da justiça.”. (movimentação 52) No recurso, a apelante sustenta que os fatos narrados caracterizam falha na prestação dos serviços pelas instituições bancárias, de modo que sua responsabilidade emerge, conforme súmula 479/STJ. 3. Aplicabilidade das normas de direito do consumidor. A narrativa dos autos permite reconhecer a aplicabilidade das normas consumeristas, pois, além do vínculo contratual que envolve os litigantes, estão presentes as condições de fornecedor e consumidor, conforme arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Além disso, o Superior Tribunal de Justiça, por meio do enunciado sumular 297, sedimentou o entendimento de que o CDC é aplicável às instituições financeiras. Nesse sentido: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 3. A relação entre as partes caracteriza-se como de consumo, sendo aplicáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor, conforme Súmula 297 do STJ. (...)”. (TJGO, Apelação Cível 5201385-26.2023.8.09.0051, Rel.Des. Sandra Regina Teixeira Campos, 2ª Câmara Cível, julgado em 07/05/2025) 4. Mérito recursal. É incontroverso nos autos que a autora mantém vínculo contratual com o primeiro réu, consistente em um financiamento para aquisição de veículo automotor e que em razão do não pagamento da parcela vencida em janeiro/2024, foi solicitada 2ª via do boleto, que foi emitido fraudulentamente e pago pela autora. A autora/apelante busca o reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras pelo prejuízo que sofreu. 4.1. Responsabilidade objetiva. Fortuito Interno. A responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva com fundamento na teoria do risco do empreendimento, ou seja, independe da demonstração do elemento culpa, e, somente não serão responsabilizadas por fato do serviço quando houver prova da inexistência do defeito ou da culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, inciso II, da Lei 8.078/90 – CDC). Considerando, portanto, a narrativa da apelante, a evidência da fraude e o conteúdo da sentença, a controvérsia se limita à verificação da existência de fortuito interno ou externo. A diferença entre os dois institutos, em síntese, está na interferência da instituição financeira no ato indicado como fraudulento. No fortuito interno – que não exime de responsabilidade o fornecedor -, o incidente está relacionado aos riscos da atividade, como no caso em que a fraude decorre de omissão da instituição financeira ou pode ser impedida por ela. Já no externo, a ocorrência da fraude tem relação com ação ou omissão bancária, a exemplo da específica situação narrada pela autora, fato que exclui a responsabilidade civil. Sobre o fortuito interno, o STJ firmou o entendimento de que “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”. (Súmula 479) Muito embora a apelante defenda que foi vítima de fraude, o julgador de primeiro grau rejeitou a pretensão indenizatória, culpando a autora por ter fornecido substrato ao estelionatário para que acessasse os seus dados, o terndo feito com base nos seguintes fatos: (i) o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/);(ii) a autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema;(iii) o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga;(iv) consta no boleto como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária;(v) embora o boleto apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon). O boleto bancário falso (movimentação 1, arquivo 3), de fato, trouxe dados de quem possivelmente tenha se beneficiado do valor (WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS). Entretanto, as demais informações do boleto revelam aparente conformidade e, pelo menos a princípio, não atraem desconfiança. O título ostenta slogam e código do Banco Votorantim, valor idêntico ao contratado e referência ao veículo objeto do financiamento. Inconsistências como a existência de nome de representante jurídico, número de telefone diverso do indicado no site da instituição financeira ou o fato de os primeiros números do código de barras não coincidirem com o código do primeiro réu não são relevantes a ponto de se exigir do consumidor que se atenha detidamente a esses detalhes. Esta Corte já decidiu que a esse respeito: “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. (…) 5. Inexiste culpa exclusiva do consumidor na hipótese em que o boleto bancário falso enviado para pagamento indique, expressamente, o nome da instituição financeira como beneficiária do pagamento (com descrição correta de seu CNPJ) e ostente outros elementos visuais semelhantes ao legítimo, em cujo contexto seja capaz de induzir, aparentemente, sua autenticidade. Precedentes do STJ. (…) RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS”. (TJGO, Apelação Cível 5294804-03.2023.8.09.0051, Rel.Des. Anderson Máximo de Holanda, 10ª Câmara Cível, julgado em 27/09/2024) Alia-se a isso o fato de que, diversamente do que fundamentou o juízo de primeiro grau, não me parece que foi a autora que forneceu os dados do contrato, porquanto a conversa por meio do aplicativo de mensagens “Whatsapp” revela, em tom verde, a manifestação da consumidora. Conclui-se, dessa forma, que a autora, no máximo, forneceu seu CPF, enquanto o estelionatário, com base neste dado, obteve, por meios escusos, as informações do contrato, como o número, valor financiado, etc. A par dessas considerações, não obstante a fraude tenha sido perpetrada por terceiro, os dados do contrato, que permitiram a confecção do boleto falso, não foram fornecidos pela parte autora, revelando-se que o contato do estelionatário se deu em virtude da obtenção de dados junto a instituição financeira, sem que a segurança da consumidora tenha sido preservada. Tal situação atrai a aplicação do artigo 14, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, que impõe ao fornecedor de serviços o dever de responder, independentemente de culpa, por defeitos relativos à prestação dos serviços: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:”. Desse modo, ao revés do decidido na primeira instância, considero os fatos como fortuito interno, situação que atrai a responsabilidade objetiva da instituição financeira, conforme, inclusive, já foi decidido por este Sodalício. Confira-se: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 4. Evidenciada a falha de segurança do apelante quanto aos dados bancários do apelado, na medida em que o fraudador obteve acesso ao valor liberado a título de empréstimo e dados bancários do cliente, o que embasou o golpe aplicado no aplicativo de conversas.5. Embora o autor/apelado tenha contribuído para a fraude, sua conduta imprudente não afasta a responsabilidade do banco. A instituição financeira deve implementar medidas de segurança robustas para prevenir esse tipo de ocorrência, considerando a vulnerabilidade dos consumidores a golpes.6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária. (…) 9. Apelação desprovida.”. (TJGO Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (...) 5. Demonstrado nos autos que o autor efetuou o pagamento de boleto emitido em razão de contato fraudulento com acesso a dados da instituição financeira, sem que a segurança do consumidor tenha sido preservada, caracterizando fortuito interno, conforme a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça. (...) 8. Recurso conhecido e desprovido”. (TJGO, Apelação Cível 5546492-85.2021.8.09.0149, Rel.Des. José Ricardo M. Machado, 8ª Câmara Cível, julgado em 24/01/2025) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2. As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula 479 do STJ), máxime porque compete ao empreendedor ou fornecedor de produtos e serviços os riscos da atividade, na ocorrência de fraudes engendradas contra os sistemas de computação que adota, constrói ou utiliza para o recebimento de faturas e pagamento de boletos. 3. Não se mostra razoável exigir que o consumidor se atente às apontadas divergências entre um boleto original e um falso, porquanto apenas o responsável pela emissão do documento conseguiria indicar os detalhes que evidenciam sua adulteração, mormente no caso, em que o boleto continha o slogan da empresa e descrevia como beneficiária o nome da instituição financeira titular dos créditos derivados do contrato de alienação fiduciária havido entre as partes. Portanto, comprovada a hipótese de vazamento de dados da instituição financeira, será dela, a responsabilidade pela reparação integral de eventuais danos. (...) RECURSO CONHECIDO E PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5441768-33.2021.8.09.0051, Rel.Des. Kisleu Dias Maciel Filho, 5ª Câmara Cível, julgado em 22/11/2023) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Conforme precedente do colendo STJ, “os dados pessoais vinculados a operações e serviços bancários são sigilosos e cujo tratamento com segurança é dever das instituições financeiras. Desse modo, seu armazenamento de maneira inadequada, a possibilitar que terceiros tenham conhecimento dessas informações e causem prejuízos ao consumidor, configura falha na prestação do serviço”. 4. Nos moldes das Lei de Geral de Proteção de Dados - LGPD, o dever de indenizar será afastado caso o prestador de serviço comprove qualquer das hipóteses excludentes previstas no art. 43, da Lei retromencionada, ônus do qual não se desincumbiu a Recorrida. 5. No caso dos autos, a Apelante entrou em contato com a instituição financeira, por um dos canais disponibilizados ao consumidor (e-mail) e requisitou os boletos para a quitação do contrato de empréstimo consignado. 6. Após a referida comunicação, os fraudadores tiveram acesso aos dados da cliente e do contrato, e entraram em contato com a consumidora, via aplicativo de mensagens eletrônicas (whatsapp) através do qual encaminhou-lhe os boletos com as mesmas características do original, caracterizando, dessa forma a falha de segurança na prestação do serviço bancário, uma vez que não é exigível da consumidora que desconfiasse da fraude. (...) APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. SENTENÇA REFORMADA”. (TJGO, Apelação Cível 5693982-30.2021.8.09.0079, Rel.Des. Delintro Belo de Almeida Filho, 4ª Câmara Cível, julgado em 06/11/2023) 4.2. Danos materiais. Restituição do valor. A apelante alega que o boleto foi pago em virtude de ter sido induzida a erro e, como o valor não serviu para a quitação de seu débito, ele deve ser ressarcido pela instituição financeira. Na hipótese, a responsabilidade da instituição financeira é objetiva e, por essa razão, há o dever de ressarcimento da quantia que a consumidora desembolsou para o pagamento do falso boleto. Sobre a matéria é a jurisprudência desta Corte: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2 - Constatada a falha na prestação de serviço da instituição financeira, que não se acautelou das medidas necessárias para impedir a emissão boleto falso, impositivo se faz a manutenção da sentença que condenou o Banco na restituição dos valores pagos pelo boleto fraudulento. Apelação conhecida e desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5599595-48.2021.8.09.0006, Rel.Des. Gilberto Marques Filho, 3ª Câmara Cível, julgado em 22/12/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 6. Comprovado o dano material correspondente ao valor do boleto falso quitado pelo consumidor, deve ser objeto de ressarcimento pela instituição financeira. (...) APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5732141-92.2022.8.09.0051, Rel.Des. Rodrigo de Silveira, 10ª Câmara Cível, julgado em 14/03/2024) 4.3. Dano moral. Provadas as alegações da autora, tem-se que a situação experimentada configurou lesão a direito da personalidade, expondo-a a constrangimento suficiente a causar abalo moral, pois acreditou que as tratativas via aplicativo de mensagens e o fornecimento do boleto, com os dados exatos do contrato, serviriam para quitação do débito, enquanto, na verdade, tratava-se do golpe do falso boleto. Para a configuração do dever de indenizar é necessária a demonstração do dano provocado pela conduta do agente, e que a ação e o resultado sejam materialmente ligados, o que se chama de nexo causal. A indenização por danos morais é uma garantia de direitos individuais, inscrita na Constituição Federal, no art. 5º, incisos V e X, encontrando-se, também, assegurada no Código Civil. Não serão quaisquer sentimentos de incômodo ou de constrangimento que se consubstanciarão em danos morais, mas somente aqueles que se entranham na esfera íntima da pessoa como sensações contundentes e duradouras de dor, sofrimento ou humilhação. A respeito do caso tratado nos autos, é firme o entendimento de que a instituição financeira é deve ser responsabilizada por danos morais, porquanto eles resultam da falha de segurança na proteção dos dados do consumidor e no desgaste deste com as cobranças indevidas. A esse respeito, confiram-se os seguintes julgados: “DIREITO DO CONSUMIDOR. (…) 6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária.7. O dano moral sofrido pelo cliente é evidente, decorrente da fraude e dos transtornos causados. (…) 9. Apelação desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DUPLA APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. GOLPE DO FALSO FUNCIONÁRIO. (...) 4. Caracterizada a falha na prestação dos serviços, resta evidente a responsabilidade objetiva da instituição financeira - Fortuito interno, aplicação da Súmula nº 479 do STJ -, cabendo indenização pelos danos morais sofridos pelo autor. (...) 1ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. 2ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E NÃO PROVIDA. RECURSO ADESIVO CONHECIDO E NÃO PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5715188-53.2022.8.09.0051, Rel.Des. Dioran Jacobina Rodrigues, 11ª Câmara Cível, julgado em 04/07/2024) Superada a discussão sobre os pressupostos do dever de indenizar (dano – conduta culposa – nexo de causalidade), passa-se à quantificação do dano. Na fixação do valor compensatório, o magistrado deve pautar-se pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, conforme se extrai da lição de Sérgio Cavalieri Filho: “Em conclusão, após a Constituição de 1988 não há mais nenhum valor legal prefixado, nenhuma tabela ou tarifa a ser observada pelo juiz na tarefa de fixar o valor da indenização pelo dano moral. Embora deva seguir, em face do caso concreto, a trilha do bom senso, da moderação e da prudência, tendo sempre em mente que se, por um lado, a indenização deve ser a mais completa possível, por outro, não pode tornar-se fonte de lucro indevido. A dor da mãe que perde o filho não é a mesma daquele que tem seu nome indevidamente lançado no rol dos mal pagadores (SPC) o que está a indicar que o juiz não pode se afastar dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, hoje tidos como princípios constitucionais. Afinal de contas, jurisprudência, a obra-prima do juiz, é a junção de duas palavras: juris + prudência vale dizer, na base de todas as decisões judiciais há de estar a prudência”. (Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed., ver. E ampl. São Paulo: Atlas, 2012, p. 100) Cada caso deve ser analisado segundo suas peculiaridades, levando em consideração parâmetros como a capacidade econômica e financeira do ofensor, a função pedagógica da condenação e a necessidade de que o valor fixado não enseje enriquecimento ilícito da vítima. Para essa análise, adota-se o método bifásico delineado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 1.152.541/RS, consistente em duas etapas: na primeira, estabelece-se um valor básico para a indenização, observando o interesse jurídico lesado e a jurisprudência consolidada em casos semelhantes; na segunda, ajusta-se o valor segundo as circunstâncias específicas da lide, tais como a gravidade da conduta, o grau de culpa, eventual concorrência de culpas e a capacidade econômica das partes envolvidas. Assim, atendendo as circunstâncias fáticas do caso e compatibilizando com os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, revela-se adequado fixar a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), montante suficiente para compensar o sofrimento injustamente imposto à consumidora, sem, contudo, implicar enriquecimento sem causa. 5. Legitimidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário. A instituição financeira Neon Pagamentos S/A, segunda apelada, defende sua ilegitimidade passiva, pois não tem nenhuma relação com a narrativa referente aos danos alegados pela consumidora, limitando-se, sua inclusão no polo passivo, somente ao fato de ser a mantenedora da conta para a qual o valor do boleto foi transferido. Segundo o princípio da asserção, as questões relacionadas às condições da ação, como a legitimidade passiva, são aferidas à luz do que o autor afirma na petição inicial, adstritas ao exame da possibilidade, em tese, da existência do vínculo jurídico-obrigacional entre as partes, e não do direito provado, de modo que devem ser enfrentadas em sede de eventual procedência ou improcedência da demanda. Ademais, responsável ou não, a Neon Pagamentos compõe a cadeia da relação de consumo, na medida em que o golpe aplicado na autora por estelionatário, por meio de boleto falso com os dados do 1º apelado, resultaram no pagamento do título e a remessa da quantia para conta mantida em sua instituição. Dessa forma, se está diante da legitimidade passiva da instituição financeira mantenedora da conta para a qual os valores provenientes do pagamento do boleto falso foram enviados. Este Tribunal já decidiu sobre o tema. Confira-se: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Outrossim, o segundo apelante não demonstrou sua tese excludente de responsabilidade, sequer comprovou sua ilegitimidade passiva, porquanto sabe-se que são solidariamente responsáveis todos os que intervem de alguma forma, direta ou indiretamente, na cadeia da relação de consumo, contribuindo em qualquer fase, seja na produção, oferta, distribuição, ou venda do produto, de sorte que é inconteste a solidariedade entre os demandados, sobretudo porque esta parte trata-se da beneficiária do boleto fraudulento. (...) PRIMEIRO APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. SEGUNDO APELO CONHECIDO E DESPROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5316415-45.2023.8.09.0137, Rel.Des. Fabiano Abel de Aragão Fernandes, 7ª Câmara Cível, julgado em 08/11/2024) Todavia, não obstante se reconheça a legitimidade passiva da Neon Pagamentos em razão de compor a relação de consumo, não se pode dizer o mesmo de sua responsabilidade pelas ocorrências narradas pela consumidora. A abertura de conta bancária obedece a rigorosos critérios, especialmente em relação aos documentos utilizados pelo correntista para esta finalidade, de modo que eventual desvio de conduta do titular da conta - que emite boleto válido no intuito de se favorecer ilegalmente -, não pode ser atribuído à instituição financeira mantenedora da conta-corrente. Dessa forma, não há como culpar o 2º apelado por ter contribuído com o estelionatário, ao permitir a abertura da conta, pois o correntista – registrado no cadastro nacional de pessoa jurídica sob o nº 53.437.105/0001-79 – se tratava de uma empresa legalmente constituída, como ainda permanece (https://solucoes.receita.fazenda.gov.br/servicos/cnpjreva/Cnpjreva_Comprovante.asp), não havendo motivo para que fosse rejeitada a abertura da conta. Por essa razão, não há se falar na responsabilidade do 2º apelado. Nesse sentido: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. A instituição financeira não teve participação no crime de estelionato, nem tampouco falhou na prestação de seus serviços, motivo pelo qual a manutenção da sentença, em que o juiz a quo julgou improcedente o pedido indenizatório, é medida que se impõe. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5127864-14.2024.8.09.0051, Rel.Des. Sebastião Luiz Fleury, 7ª Câmara Cível, julgado em 13/12/2024) 6. Dispositivo. Ante o exposto, conheço e dou parcial provimento ao recurso para reformar a sentença, a fim de: (i) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de R$ 1.554,78 (um mil, quinhentos e cinquenta e quatro reais e setenta e oito centavos), que deve ser acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária pelo INPC, ambos a partir do desembolso – 29.1.2024, e, após o advento da Lei nº 14.905/2024 (a contar de 1º/09/2024), deve-se observar a atualização pelo IPCA e os juros de mora pela taxa SELIC, deduzido o IPCA;(ii) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescidos de juros de 1% ao mês desde o evento danoso e de correção monetária a partir da data da publicação do acórdão (Súmula 362/STJ), observada a correção pelo IPCA e os juros de mora pela SELIC após o advento da Lei nº 14.905/2024; e(iii) julgar improcedentes os pedidos em relação ao 2º apelado, condenando a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da Neon Pagamentos S/A, que fixo em 10% (dez por cento) do valor atribuído à causa, cuja exigibilidade fica suspensa em razão de a sucumbente ser beneficiária da gratuidade da justiça (art. 98, § 3º do CPC). Em relação à sucumbência do Banco Votorantim S/A, condeno-o ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 20% (vinte por cento) do valor atualizado da condenação, conforme previsão do art. 85, § 2º, do CPC. A hipótese dos autos não se enquadra na tese referente ao Tema 1.059 do STJ, motivo pelo qual não há se falar em majoração da verba honorária. É o voto. Após o trânsito em julgado, retornem os autos à origem, retirando o feito do acervo desta relatoria.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator A C Ó R D Ã OAPELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051, da Comarca de Goiânia, em que figura como APELANTE WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA e, como APELADOS, o BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRO.ACORDAM os integrantes da Primeira Turma Julgadora da 7ª Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.A sessão foi presidida pela Desembargadora Ana Cristina Ribeiro Peternella França.Presente a Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos da lei e registro no extrato da ata.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator

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Processo nº 5596554-30.2024.8.09.0051

ID: 291897702

Tribunal: TJGO Órgão: 7ª Câmara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5596554-30.2024.8.09.0051

Data de Disponibilização: 06/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

BANCO VOTORANTIM S.A.

Ementa

Advogados:

DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA

OAB/GO XXXXXX Desbloquear

EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelaç… EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de Goiás Gabinete do Desembargador Sergio Mendonça de Araújo 7ª Câmara Cível APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br VOTO 1. Preliminar de afronta à dialeticidade e juízo de admissibilidade. Verifica-se que os apelados arguiram preliminar, que se refere a afronta à dialeticidade, em virtude das razões recursais repetirem os argumentos da petição inicial, sem enfrentar os desacertos da sentença. A afronta à dialeticidade se caracteriza quando o recorrente não impugna de maneira clara e específica as questões decididas na sentença, o que não se revela nos autos, pois a apelante expôs adequadamente que sua insurgência diz respeito ao não reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras em razão de fraude bancária contra ela perpetrada. Portanto, havendo demonstração de que as razões recursais apresentadas são condizentes com a fundamentação lançada no édito, não há se falar em violação à dialeticidade, conforme já decidido por este Tribunal: “Apelação cível. (...) I. Violação ao princípio da dialeticidade. Inocorrência. O princípio da dialeticidade consiste no dever do recorrente em declinar os motivos de seu inconformismo, isto é, as razões de fato e de direito que levam à cassação ou à reforma do ato decisório impugnado, nos termos do artigo 1.010, incisos II e III, do Código de Processo Civil. Atendidos tais requisitos, não há falar em desrespeito do regramento normativo. (...) Apelação parcialmente conhecida e, nesta parte, desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5440616-12.2023.8.09.0137, Rel.Des. ANA CRISTINA RIBEIRO PETERNELLA FRANÇA, 7ª Câmara Cível, julgado em 16/08/2024, Dje de 16/08/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 1. Não viola o princípio da dialeticidade o apelo que rebate os fundamentos da sentença de modo adequado, acerca dos temas controvertidos que o autor pretende a revisão. (...) APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESTA PARTE, DESPROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5459759-06.2022.8.09.0142, Rel. Des. FABIANO ABEL DE ARAGÃO FERNANDES, 7ª Câmara Cível, julgado em 06/10/2023, Dje de 06/10/2023) Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. 2. Questão em debate. Conforme relatado, trata-se de apelação cível, interposta por WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA contra a sentença prolatada pelo Juízo da 9ª Vara Cível da Comarca de Goiânia, nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada em desfavor do BANCO VOTORANTIM S/A e do NEON PAGAMENTOS S/A. A autora alega que realizou o pagamento da segunda via de um boleto fornecido pelo primeiro réu (Banco Votorantim), referente a uma dívida legítima (parcela de contrato de aquisição de veículo); e que após alguns dias começou a receber cobranças a respeito da mesma parcela, quando informou que já havia realizado o pagamento. Afirma que ao acessar o aplicativo do Serasa, constatou que a ré havia incluído seus dados nos órgãos de proteção ao crédito. Acrescenta que foi vítima de um golpe, resultado da negligência da primeira ré, que não manteve em sigilo os dados do contrato junto a seu sistema, e da segunda ré, que viabilizou a abertura de conta em nome de estelionatários. A sentença julgou improcedentes os pedidos, cujo teor transcrevo: “(…)De uma análise dos documentos juntados com a exordial, nota-se facilmente que o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/).Verifica-se ainda que nas conversas jungidas com o suposto credor, possivelmente estelionatário, percebe-se que a parte autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema.E ainda, o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga.Outro ponto a ser destacado é que consta como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária.Desta feita, verificou-se que na realidade a parte autora quitou boleto falso, o qual embora apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon).Destarte, em que pese a relação de consumo constatada, o caso revela configuração de excludente de responsabilidade da empresa ré, consubstanciada na culpa exclusiva de terceiro e da parte autora (fortuito externo), a qual não foi diligente ao efetuar o pagamento, já que seria de fácil constatação que o beneficiário do boleto não é o seu credor.Cabe salientar que não há como os requeridos terem gerência sobre fraudes com a utilização de seu nome em sites falsos.(…)Desta forma, notada a excludente de responsabilidade das requeridas prevista no artigo 14, § 3º, II do Código de Defesa do Consumidor, constatando situação de fortuito externo, o caso é de improcedência dos pedidos iniciais.Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos contidos na inicial.Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que fixo no valor de R$ 1.500,00 (hum mil reais), para cada requerida, ficando suspensa a exigibilidade por ser a mesma beneficiária da gratuidade da justiça.”. (movimentação 52) No recurso, a apelante sustenta que os fatos narrados caracterizam falha na prestação dos serviços pelas instituições bancárias, de modo que sua responsabilidade emerge, conforme súmula 479/STJ. 3. Aplicabilidade das normas de direito do consumidor. A narrativa dos autos permite reconhecer a aplicabilidade das normas consumeristas, pois, além do vínculo contratual que envolve os litigantes, estão presentes as condições de fornecedor e consumidor, conforme arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Além disso, o Superior Tribunal de Justiça, por meio do enunciado sumular 297, sedimentou o entendimento de que o CDC é aplicável às instituições financeiras. Nesse sentido: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 3. A relação entre as partes caracteriza-se como de consumo, sendo aplicáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor, conforme Súmula 297 do STJ. (...)”. (TJGO, Apelação Cível 5201385-26.2023.8.09.0051, Rel.Des. Sandra Regina Teixeira Campos, 2ª Câmara Cível, julgado em 07/05/2025) 4. Mérito recursal. É incontroverso nos autos que a autora mantém vínculo contratual com o primeiro réu, consistente em um financiamento para aquisição de veículo automotor e que em razão do não pagamento da parcela vencida em janeiro/2024, foi solicitada 2ª via do boleto, que foi emitido fraudulentamente e pago pela autora. A autora/apelante busca o reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras pelo prejuízo que sofreu. 4.1. Responsabilidade objetiva. Fortuito Interno. A responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva com fundamento na teoria do risco do empreendimento, ou seja, independe da demonstração do elemento culpa, e, somente não serão responsabilizadas por fato do serviço quando houver prova da inexistência do defeito ou da culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, inciso II, da Lei 8.078/90 – CDC). Considerando, portanto, a narrativa da apelante, a evidência da fraude e o conteúdo da sentença, a controvérsia se limita à verificação da existência de fortuito interno ou externo. A diferença entre os dois institutos, em síntese, está na interferência da instituição financeira no ato indicado como fraudulento. No fortuito interno – que não exime de responsabilidade o fornecedor -, o incidente está relacionado aos riscos da atividade, como no caso em que a fraude decorre de omissão da instituição financeira ou pode ser impedida por ela. Já no externo, a ocorrência da fraude tem relação com ação ou omissão bancária, a exemplo da específica situação narrada pela autora, fato que exclui a responsabilidade civil. Sobre o fortuito interno, o STJ firmou o entendimento de que “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”. (Súmula 479) Muito embora a apelante defenda que foi vítima de fraude, o julgador de primeiro grau rejeitou a pretensão indenizatória, culpando a autora por ter fornecido substrato ao estelionatário para que acessasse os seus dados, o terndo feito com base nos seguintes fatos: (i) o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/);(ii) a autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema;(iii) o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga;(iv) consta no boleto como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária;(v) embora o boleto apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon). O boleto bancário falso (movimentação 1, arquivo 3), de fato, trouxe dados de quem possivelmente tenha se beneficiado do valor (WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS). Entretanto, as demais informações do boleto revelam aparente conformidade e, pelo menos a princípio, não atraem desconfiança. O título ostenta slogam e código do Banco Votorantim, valor idêntico ao contratado e referência ao veículo objeto do financiamento. Inconsistências como a existência de nome de representante jurídico, número de telefone diverso do indicado no site da instituição financeira ou o fato de os primeiros números do código de barras não coincidirem com o código do primeiro réu não são relevantes a ponto de se exigir do consumidor que se atenha detidamente a esses detalhes. Esta Corte já decidiu que a esse respeito: “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. (…) 5. Inexiste culpa exclusiva do consumidor na hipótese em que o boleto bancário falso enviado para pagamento indique, expressamente, o nome da instituição financeira como beneficiária do pagamento (com descrição correta de seu CNPJ) e ostente outros elementos visuais semelhantes ao legítimo, em cujo contexto seja capaz de induzir, aparentemente, sua autenticidade. Precedentes do STJ. (…) RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS”. (TJGO, Apelação Cível 5294804-03.2023.8.09.0051, Rel.Des. Anderson Máximo de Holanda, 10ª Câmara Cível, julgado em 27/09/2024) Alia-se a isso o fato de que, diversamente do que fundamentou o juízo de primeiro grau, não me parece que foi a autora que forneceu os dados do contrato, porquanto a conversa por meio do aplicativo de mensagens “Whatsapp” revela, em tom verde, a manifestação da consumidora. Conclui-se, dessa forma, que a autora, no máximo, forneceu seu CPF, enquanto o estelionatário, com base neste dado, obteve, por meios escusos, as informações do contrato, como o número, valor financiado, etc. A par dessas considerações, não obstante a fraude tenha sido perpetrada por terceiro, os dados do contrato, que permitiram a confecção do boleto falso, não foram fornecidos pela parte autora, revelando-se que o contato do estelionatário se deu em virtude da obtenção de dados junto a instituição financeira, sem que a segurança da consumidora tenha sido preservada. Tal situação atrai a aplicação do artigo 14, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, que impõe ao fornecedor de serviços o dever de responder, independentemente de culpa, por defeitos relativos à prestação dos serviços: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:”. Desse modo, ao revés do decidido na primeira instância, considero os fatos como fortuito interno, situação que atrai a responsabilidade objetiva da instituição financeira, conforme, inclusive, já foi decidido por este Sodalício. Confira-se: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 4. Evidenciada a falha de segurança do apelante quanto aos dados bancários do apelado, na medida em que o fraudador obteve acesso ao valor liberado a título de empréstimo e dados bancários do cliente, o que embasou o golpe aplicado no aplicativo de conversas.5. Embora o autor/apelado tenha contribuído para a fraude, sua conduta imprudente não afasta a responsabilidade do banco. A instituição financeira deve implementar medidas de segurança robustas para prevenir esse tipo de ocorrência, considerando a vulnerabilidade dos consumidores a golpes.6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária. (…) 9. Apelação desprovida.”. (TJGO Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (...) 5. Demonstrado nos autos que o autor efetuou o pagamento de boleto emitido em razão de contato fraudulento com acesso a dados da instituição financeira, sem que a segurança do consumidor tenha sido preservada, caracterizando fortuito interno, conforme a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça. (...) 8. Recurso conhecido e desprovido”. (TJGO, Apelação Cível 5546492-85.2021.8.09.0149, Rel.Des. José Ricardo M. Machado, 8ª Câmara Cível, julgado em 24/01/2025) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2. As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula 479 do STJ), máxime porque compete ao empreendedor ou fornecedor de produtos e serviços os riscos da atividade, na ocorrência de fraudes engendradas contra os sistemas de computação que adota, constrói ou utiliza para o recebimento de faturas e pagamento de boletos. 3. Não se mostra razoável exigir que o consumidor se atente às apontadas divergências entre um boleto original e um falso, porquanto apenas o responsável pela emissão do documento conseguiria indicar os detalhes que evidenciam sua adulteração, mormente no caso, em que o boleto continha o slogan da empresa e descrevia como beneficiária o nome da instituição financeira titular dos créditos derivados do contrato de alienação fiduciária havido entre as partes. Portanto, comprovada a hipótese de vazamento de dados da instituição financeira, será dela, a responsabilidade pela reparação integral de eventuais danos. (...) RECURSO CONHECIDO E PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5441768-33.2021.8.09.0051, Rel.Des. Kisleu Dias Maciel Filho, 5ª Câmara Cível, julgado em 22/11/2023) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Conforme precedente do colendo STJ, “os dados pessoais vinculados a operações e serviços bancários são sigilosos e cujo tratamento com segurança é dever das instituições financeiras. Desse modo, seu armazenamento de maneira inadequada, a possibilitar que terceiros tenham conhecimento dessas informações e causem prejuízos ao consumidor, configura falha na prestação do serviço”. 4. Nos moldes das Lei de Geral de Proteção de Dados - LGPD, o dever de indenizar será afastado caso o prestador de serviço comprove qualquer das hipóteses excludentes previstas no art. 43, da Lei retromencionada, ônus do qual não se desincumbiu a Recorrida. 5. No caso dos autos, a Apelante entrou em contato com a instituição financeira, por um dos canais disponibilizados ao consumidor (e-mail) e requisitou os boletos para a quitação do contrato de empréstimo consignado. 6. Após a referida comunicação, os fraudadores tiveram acesso aos dados da cliente e do contrato, e entraram em contato com a consumidora, via aplicativo de mensagens eletrônicas (whatsapp) através do qual encaminhou-lhe os boletos com as mesmas características do original, caracterizando, dessa forma a falha de segurança na prestação do serviço bancário, uma vez que não é exigível da consumidora que desconfiasse da fraude. (...) APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. SENTENÇA REFORMADA”. (TJGO, Apelação Cível 5693982-30.2021.8.09.0079, Rel.Des. Delintro Belo de Almeida Filho, 4ª Câmara Cível, julgado em 06/11/2023) 4.2. Danos materiais. Restituição do valor. A apelante alega que o boleto foi pago em virtude de ter sido induzida a erro e, como o valor não serviu para a quitação de seu débito, ele deve ser ressarcido pela instituição financeira. Na hipótese, a responsabilidade da instituição financeira é objetiva e, por essa razão, há o dever de ressarcimento da quantia que a consumidora desembolsou para o pagamento do falso boleto. Sobre a matéria é a jurisprudência desta Corte: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2 - Constatada a falha na prestação de serviço da instituição financeira, que não se acautelou das medidas necessárias para impedir a emissão boleto falso, impositivo se faz a manutenção da sentença que condenou o Banco na restituição dos valores pagos pelo boleto fraudulento. Apelação conhecida e desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5599595-48.2021.8.09.0006, Rel.Des. Gilberto Marques Filho, 3ª Câmara Cível, julgado em 22/12/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 6. Comprovado o dano material correspondente ao valor do boleto falso quitado pelo consumidor, deve ser objeto de ressarcimento pela instituição financeira. (...) APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5732141-92.2022.8.09.0051, Rel.Des. Rodrigo de Silveira, 10ª Câmara Cível, julgado em 14/03/2024) 4.3. Dano moral. Provadas as alegações da autora, tem-se que a situação experimentada configurou lesão a direito da personalidade, expondo-a a constrangimento suficiente a causar abalo moral, pois acreditou que as tratativas via aplicativo de mensagens e o fornecimento do boleto, com os dados exatos do contrato, serviriam para quitação do débito, enquanto, na verdade, tratava-se do golpe do falso boleto. Para a configuração do dever de indenizar é necessária a demonstração do dano provocado pela conduta do agente, e que a ação e o resultado sejam materialmente ligados, o que se chama de nexo causal. A indenização por danos morais é uma garantia de direitos individuais, inscrita na Constituição Federal, no art. 5º, incisos V e X, encontrando-se, também, assegurada no Código Civil. Não serão quaisquer sentimentos de incômodo ou de constrangimento que se consubstanciarão em danos morais, mas somente aqueles que se entranham na esfera íntima da pessoa como sensações contundentes e duradouras de dor, sofrimento ou humilhação. A respeito do caso tratado nos autos, é firme o entendimento de que a instituição financeira é deve ser responsabilizada por danos morais, porquanto eles resultam da falha de segurança na proteção dos dados do consumidor e no desgaste deste com as cobranças indevidas. A esse respeito, confiram-se os seguintes julgados: “DIREITO DO CONSUMIDOR. (…) 6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária.7. O dano moral sofrido pelo cliente é evidente, decorrente da fraude e dos transtornos causados. (…) 9. Apelação desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DUPLA APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. GOLPE DO FALSO FUNCIONÁRIO. (...) 4. Caracterizada a falha na prestação dos serviços, resta evidente a responsabilidade objetiva da instituição financeira - Fortuito interno, aplicação da Súmula nº 479 do STJ -, cabendo indenização pelos danos morais sofridos pelo autor. (...) 1ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. 2ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E NÃO PROVIDA. RECURSO ADESIVO CONHECIDO E NÃO PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5715188-53.2022.8.09.0051, Rel.Des. Dioran Jacobina Rodrigues, 11ª Câmara Cível, julgado em 04/07/2024) Superada a discussão sobre os pressupostos do dever de indenizar (dano – conduta culposa – nexo de causalidade), passa-se à quantificação do dano. Na fixação do valor compensatório, o magistrado deve pautar-se pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, conforme se extrai da lição de Sérgio Cavalieri Filho: “Em conclusão, após a Constituição de 1988 não há mais nenhum valor legal prefixado, nenhuma tabela ou tarifa a ser observada pelo juiz na tarefa de fixar o valor da indenização pelo dano moral. Embora deva seguir, em face do caso concreto, a trilha do bom senso, da moderação e da prudência, tendo sempre em mente que se, por um lado, a indenização deve ser a mais completa possível, por outro, não pode tornar-se fonte de lucro indevido. A dor da mãe que perde o filho não é a mesma daquele que tem seu nome indevidamente lançado no rol dos mal pagadores (SPC) o que está a indicar que o juiz não pode se afastar dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, hoje tidos como princípios constitucionais. Afinal de contas, jurisprudência, a obra-prima do juiz, é a junção de duas palavras: juris + prudência vale dizer, na base de todas as decisões judiciais há de estar a prudência”. (Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed., ver. E ampl. São Paulo: Atlas, 2012, p. 100) Cada caso deve ser analisado segundo suas peculiaridades, levando em consideração parâmetros como a capacidade econômica e financeira do ofensor, a função pedagógica da condenação e a necessidade de que o valor fixado não enseje enriquecimento ilícito da vítima. Para essa análise, adota-se o método bifásico delineado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 1.152.541/RS, consistente em duas etapas: na primeira, estabelece-se um valor básico para a indenização, observando o interesse jurídico lesado e a jurisprudência consolidada em casos semelhantes; na segunda, ajusta-se o valor segundo as circunstâncias específicas da lide, tais como a gravidade da conduta, o grau de culpa, eventual concorrência de culpas e a capacidade econômica das partes envolvidas. Assim, atendendo as circunstâncias fáticas do caso e compatibilizando com os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, revela-se adequado fixar a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), montante suficiente para compensar o sofrimento injustamente imposto à consumidora, sem, contudo, implicar enriquecimento sem causa. 5. Legitimidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário. A instituição financeira Neon Pagamentos S/A, segunda apelada, defende sua ilegitimidade passiva, pois não tem nenhuma relação com a narrativa referente aos danos alegados pela consumidora, limitando-se, sua inclusão no polo passivo, somente ao fato de ser a mantenedora da conta para a qual o valor do boleto foi transferido. Segundo o princípio da asserção, as questões relacionadas às condições da ação, como a legitimidade passiva, são aferidas à luz do que o autor afirma na petição inicial, adstritas ao exame da possibilidade, em tese, da existência do vínculo jurídico-obrigacional entre as partes, e não do direito provado, de modo que devem ser enfrentadas em sede de eventual procedência ou improcedência da demanda. Ademais, responsável ou não, a Neon Pagamentos compõe a cadeia da relação de consumo, na medida em que o golpe aplicado na autora por estelionatário, por meio de boleto falso com os dados do 1º apelado, resultaram no pagamento do título e a remessa da quantia para conta mantida em sua instituição. Dessa forma, se está diante da legitimidade passiva da instituição financeira mantenedora da conta para a qual os valores provenientes do pagamento do boleto falso foram enviados. Este Tribunal já decidiu sobre o tema. Confira-se: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Outrossim, o segundo apelante não demonstrou sua tese excludente de responsabilidade, sequer comprovou sua ilegitimidade passiva, porquanto sabe-se que são solidariamente responsáveis todos os que intervem de alguma forma, direta ou indiretamente, na cadeia da relação de consumo, contribuindo em qualquer fase, seja na produção, oferta, distribuição, ou venda do produto, de sorte que é inconteste a solidariedade entre os demandados, sobretudo porque esta parte trata-se da beneficiária do boleto fraudulento. (...) PRIMEIRO APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. SEGUNDO APELO CONHECIDO E DESPROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5316415-45.2023.8.09.0137, Rel.Des. Fabiano Abel de Aragão Fernandes, 7ª Câmara Cível, julgado em 08/11/2024) Todavia, não obstante se reconheça a legitimidade passiva da Neon Pagamentos em razão de compor a relação de consumo, não se pode dizer o mesmo de sua responsabilidade pelas ocorrências narradas pela consumidora. A abertura de conta bancária obedece a rigorosos critérios, especialmente em relação aos documentos utilizados pelo correntista para esta finalidade, de modo que eventual desvio de conduta do titular da conta - que emite boleto válido no intuito de se favorecer ilegalmente -, não pode ser atribuído à instituição financeira mantenedora da conta-corrente. Dessa forma, não há como culpar o 2º apelado por ter contribuído com o estelionatário, ao permitir a abertura da conta, pois o correntista – registrado no cadastro nacional de pessoa jurídica sob o nº 53.437.105/0001-79 – se tratava de uma empresa legalmente constituída, como ainda permanece (https://solucoes.receita.fazenda.gov.br/servicos/cnpjreva/Cnpjreva_Comprovante.asp), não havendo motivo para que fosse rejeitada a abertura da conta. Por essa razão, não há se falar na responsabilidade do 2º apelado. Nesse sentido: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. A instituição financeira não teve participação no crime de estelionato, nem tampouco falhou na prestação de seus serviços, motivo pelo qual a manutenção da sentença, em que o juiz a quo julgou improcedente o pedido indenizatório, é medida que se impõe. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5127864-14.2024.8.09.0051, Rel.Des. Sebastião Luiz Fleury, 7ª Câmara Cível, julgado em 13/12/2024) 6. Dispositivo. Ante o exposto, conheço e dou parcial provimento ao recurso para reformar a sentença, a fim de: (i) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de R$ 1.554,78 (um mil, quinhentos e cinquenta e quatro reais e setenta e oito centavos), que deve ser acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária pelo INPC, ambos a partir do desembolso – 29.1.2024, e, após o advento da Lei nº 14.905/2024 (a contar de 1º/09/2024), deve-se observar a atualização pelo IPCA e os juros de mora pela taxa SELIC, deduzido o IPCA;(ii) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescidos de juros de 1% ao mês desde o evento danoso e de correção monetária a partir da data da publicação do acórdão (Súmula 362/STJ), observada a correção pelo IPCA e os juros de mora pela SELIC após o advento da Lei nº 14.905/2024; e(iii) julgar improcedentes os pedidos em relação ao 2º apelado, condenando a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da Neon Pagamentos S/A, que fixo em 10% (dez por cento) do valor atribuído à causa, cuja exigibilidade fica suspensa em razão de a sucumbente ser beneficiária da gratuidade da justiça (art. 98, § 3º do CPC). Em relação à sucumbência do Banco Votorantim S/A, condeno-o ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 20% (vinte por cento) do valor atualizado da condenação, conforme previsão do art. 85, § 2º, do CPC. A hipótese dos autos não se enquadra na tese referente ao Tema 1.059 do STJ, motivo pelo qual não há se falar em majoração da verba honorária. É o voto. Após o trânsito em julgado, retornem os autos à origem, retirando o feito do acervo desta relatoria.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator A C Ó R D Ã OAPELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051, da Comarca de Goiânia, em que figura como APELANTE WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA e, como APELADOS, o BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRO.ACORDAM os integrantes da Primeira Turma Julgadora da 7ª Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.A sessão foi presidida pela Desembargadora Ana Cristina Ribeiro Peternella França.Presente a Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos da lei e registro no extrato da ata.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator

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Processo nº 5596554-30.2024.8.09.0051

ID: 291897709

Tribunal: TJGO Órgão: 7ª Câmara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5596554-30.2024.8.09.0051

Data de Disponibilização: 06/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

NEON PAGAMENTOS SA INSTITUICAO DE PAGAMENTO

Ementa

Advogados:

CARLOS AUGUSTO TORTORO JUNIOR

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelaç… EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de Goiás Gabinete do Desembargador Sergio Mendonça de Araújo 7ª Câmara Cível APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. BOLETO FRAUDULENTO. RESPONSABILIDADE DO BANCO. FORTUITO INTERNO.I. CASO EM EXAME 1. Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais, apresentados por consumidora contra instituições financeiras, em razão do pagamento de boleto fraudulento. A consumidora alegou ter sido vítima de golpe, resultante de falha na segurança dos dados do banco e da facilitação da abertura de conta para estelionatários pela outra instituição financeira.II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. As questões em discussão consistem: (i) na responsabilidade do banco pela fraude ocorrida; (ii) na legitimidade passiva e responsabilidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário; (iii) no direito à indenização por danos materiais e morais.III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O banco responde objetivamente pelos danos causados por fortuito interno, ou seja, falhas em seus sistemas de segurança que permitem a ocorrência de fraudes, conforme Súmula 479 do STJ. A conduta da consumidora, embora imprudente, não exclui a responsabilidade do banco, pois o boleto falso continha elementos que o tornavam aparentemente legítimo. O banco não comprovou a ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 4. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não possui responsabilidade, pois a abertura da conta foi feita por empresa legalmente constituída, sem indícios de fraude. 5. Há direito à restituição do valor pago pelo boleto falso a título de danos materiais. 6. A consumidora tem direito à indenização por danos morais em razão do abalo sofrido com o golpe e as cobranças indevidas.IV. DISPOSITIVO E TESE 7. Recurso conhecido e parcialmente provido. A sentença é reformada para condenar o 1º apelado ao pagamento de danos materiais e morais, julgando improcedentes os pedidos em relação à outra instituição financeira. "1. O banco responde objetivamente por danos decorrentes de fortuito interno em fraudes com boletos, mesmo com contribuição culposa do consumidor, se não provar ausência de falha em seu sistema de proteção de dados. 2. A instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário não responde pelos danos se a abertura da conta foi regular. 3. Há direito à indenização por danos materiais pelo valor do boleto falso pago e a indenização por danos morais pelo abalo sofrido com o golpe e cobranças indevidas."Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 1º e § 3º, II; CPC, art. 85, § 2º e art. 98, § 3º. Jurisprudências relevantes citadas: Súmula 479 do STJ; Súmula 362/STJ. APELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051ORIGEM: COMARCA DE GOIÂNIA – 9ª Vara CívelAPELANTE: WANIA DE OLIVEIRA VIEIRAAPELADOS: BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRORELATOR: ÉLCIO VICENTE – Juiz Substituto em 2º Graugab.smaraujo@tjgo.jus.br VOTO 1. Preliminar de afronta à dialeticidade e juízo de admissibilidade. Verifica-se que os apelados arguiram preliminar, que se refere a afronta à dialeticidade, em virtude das razões recursais repetirem os argumentos da petição inicial, sem enfrentar os desacertos da sentença. A afronta à dialeticidade se caracteriza quando o recorrente não impugna de maneira clara e específica as questões decididas na sentença, o que não se revela nos autos, pois a apelante expôs adequadamente que sua insurgência diz respeito ao não reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras em razão de fraude bancária contra ela perpetrada. Portanto, havendo demonstração de que as razões recursais apresentadas são condizentes com a fundamentação lançada no édito, não há se falar em violação à dialeticidade, conforme já decidido por este Tribunal: “Apelação cível. (...) I. Violação ao princípio da dialeticidade. Inocorrência. O princípio da dialeticidade consiste no dever do recorrente em declinar os motivos de seu inconformismo, isto é, as razões de fato e de direito que levam à cassação ou à reforma do ato decisório impugnado, nos termos do artigo 1.010, incisos II e III, do Código de Processo Civil. Atendidos tais requisitos, não há falar em desrespeito do regramento normativo. (...) Apelação parcialmente conhecida e, nesta parte, desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5440616-12.2023.8.09.0137, Rel.Des. ANA CRISTINA RIBEIRO PETERNELLA FRANÇA, 7ª Câmara Cível, julgado em 16/08/2024, Dje de 16/08/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 1. Não viola o princípio da dialeticidade o apelo que rebate os fundamentos da sentença de modo adequado, acerca dos temas controvertidos que o autor pretende a revisão. (...) APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESTA PARTE, DESPROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5459759-06.2022.8.09.0142, Rel. Des. FABIANO ABEL DE ARAGÃO FERNANDES, 7ª Câmara Cível, julgado em 06/10/2023, Dje de 06/10/2023) Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. 2. Questão em debate. Conforme relatado, trata-se de apelação cível, interposta por WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA contra a sentença prolatada pelo Juízo da 9ª Vara Cível da Comarca de Goiânia, nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada em desfavor do BANCO VOTORANTIM S/A e do NEON PAGAMENTOS S/A. A autora alega que realizou o pagamento da segunda via de um boleto fornecido pelo primeiro réu (Banco Votorantim), referente a uma dívida legítima (parcela de contrato de aquisição de veículo); e que após alguns dias começou a receber cobranças a respeito da mesma parcela, quando informou que já havia realizado o pagamento. Afirma que ao acessar o aplicativo do Serasa, constatou que a ré havia incluído seus dados nos órgãos de proteção ao crédito. Acrescenta que foi vítima de um golpe, resultado da negligência da primeira ré, que não manteve em sigilo os dados do contrato junto a seu sistema, e da segunda ré, que viabilizou a abertura de conta em nome de estelionatários. A sentença julgou improcedentes os pedidos, cujo teor transcrevo: “(…)De uma análise dos documentos juntados com a exordial, nota-se facilmente que o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/).Verifica-se ainda que nas conversas jungidas com o suposto credor, possivelmente estelionatário, percebe-se que a parte autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema.E ainda, o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga.Outro ponto a ser destacado é que consta como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária.Desta feita, verificou-se que na realidade a parte autora quitou boleto falso, o qual embora apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon).Destarte, em que pese a relação de consumo constatada, o caso revela configuração de excludente de responsabilidade da empresa ré, consubstanciada na culpa exclusiva de terceiro e da parte autora (fortuito externo), a qual não foi diligente ao efetuar o pagamento, já que seria de fácil constatação que o beneficiário do boleto não é o seu credor.Cabe salientar que não há como os requeridos terem gerência sobre fraudes com a utilização de seu nome em sites falsos.(…)Desta forma, notada a excludente de responsabilidade das requeridas prevista no artigo 14, § 3º, II do Código de Defesa do Consumidor, constatando situação de fortuito externo, o caso é de improcedência dos pedidos iniciais.Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos contidos na inicial.Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que fixo no valor de R$ 1.500,00 (hum mil reais), para cada requerida, ficando suspensa a exigibilidade por ser a mesma beneficiária da gratuidade da justiça.”. (movimentação 52) No recurso, a apelante sustenta que os fatos narrados caracterizam falha na prestação dos serviços pelas instituições bancárias, de modo que sua responsabilidade emerge, conforme súmula 479/STJ. 3. Aplicabilidade das normas de direito do consumidor. A narrativa dos autos permite reconhecer a aplicabilidade das normas consumeristas, pois, além do vínculo contratual que envolve os litigantes, estão presentes as condições de fornecedor e consumidor, conforme arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Além disso, o Superior Tribunal de Justiça, por meio do enunciado sumular 297, sedimentou o entendimento de que o CDC é aplicável às instituições financeiras. Nesse sentido: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 3. A relação entre as partes caracteriza-se como de consumo, sendo aplicáveis as normas do Código de Defesa do Consumidor, conforme Súmula 297 do STJ. (...)”. (TJGO, Apelação Cível 5201385-26.2023.8.09.0051, Rel.Des. Sandra Regina Teixeira Campos, 2ª Câmara Cível, julgado em 07/05/2025) 4. Mérito recursal. É incontroverso nos autos que a autora mantém vínculo contratual com o primeiro réu, consistente em um financiamento para aquisição de veículo automotor e que em razão do não pagamento da parcela vencida em janeiro/2024, foi solicitada 2ª via do boleto, que foi emitido fraudulentamente e pago pela autora. A autora/apelante busca o reconhecimento da responsabilidade das instituições financeiras pelo prejuízo que sofreu. 4.1. Responsabilidade objetiva. Fortuito Interno. A responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva com fundamento na teoria do risco do empreendimento, ou seja, independe da demonstração do elemento culpa, e, somente não serão responsabilizadas por fato do serviço quando houver prova da inexistência do defeito ou da culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, inciso II, da Lei 8.078/90 – CDC). Considerando, portanto, a narrativa da apelante, a evidência da fraude e o conteúdo da sentença, a controvérsia se limita à verificação da existência de fortuito interno ou externo. A diferença entre os dois institutos, em síntese, está na interferência da instituição financeira no ato indicado como fraudulento. No fortuito interno – que não exime de responsabilidade o fornecedor -, o incidente está relacionado aos riscos da atividade, como no caso em que a fraude decorre de omissão da instituição financeira ou pode ser impedida por ela. Já no externo, a ocorrência da fraude tem relação com ação ou omissão bancária, a exemplo da específica situação narrada pela autora, fato que exclui a responsabilidade civil. Sobre o fortuito interno, o STJ firmou o entendimento de que “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”. (Súmula 479) Muito embora a apelante defenda que foi vítima de fraude, o julgador de primeiro grau rejeitou a pretensão indenizatória, culpando a autora por ter fornecido substrato ao estelionatário para que acessasse os seus dados, o terndo feito com base nos seguintes fatos: (i) o número de WhatsApp do credor é falso, comparado com aquele que se encontra no site do mesmo (https://www.bancovotorantim.com.br/);(ii) a autora repassou os seus dados para a confecção do boleto fraudulento, o que deveria lhe ter chamado a atenção, eis que foram necessários o envio dos seus dados e até mesmo o número de parcelas a ser paga, o que o banco teria em seu sistema;(iii) o boleto emitido não veio com os dados que a consumidora não sabia informar, tais como o número do contrato e o número da parcela que seria paga;(iv) consta no boleto como representante jurídico WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS, situação que não se observa em boletos, ainda mais de instituição bancária;(v) embora o boleto apresentasse dados da instituição financeira Banco Votorantim, o comprovante de pagamento indicava outro beneficiário (Banco Neon). O boleto bancário falso (movimentação 1, arquivo 3), de fato, trouxe dados de quem possivelmente tenha se beneficiado do valor (WUELINTHON OLIVEIRA DOS SANTOS). Entretanto, as demais informações do boleto revelam aparente conformidade e, pelo menos a princípio, não atraem desconfiança. O título ostenta slogam e código do Banco Votorantim, valor idêntico ao contratado e referência ao veículo objeto do financiamento. Inconsistências como a existência de nome de representante jurídico, número de telefone diverso do indicado no site da instituição financeira ou o fato de os primeiros números do código de barras não coincidirem com o código do primeiro réu não são relevantes a ponto de se exigir do consumidor que se atenha detidamente a esses detalhes. Esta Corte já decidiu que a esse respeito: “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. (…) 5. Inexiste culpa exclusiva do consumidor na hipótese em que o boleto bancário falso enviado para pagamento indique, expressamente, o nome da instituição financeira como beneficiária do pagamento (com descrição correta de seu CNPJ) e ostente outros elementos visuais semelhantes ao legítimo, em cujo contexto seja capaz de induzir, aparentemente, sua autenticidade. Precedentes do STJ. (…) RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS”. (TJGO, Apelação Cível 5294804-03.2023.8.09.0051, Rel.Des. Anderson Máximo de Holanda, 10ª Câmara Cível, julgado em 27/09/2024) Alia-se a isso o fato de que, diversamente do que fundamentou o juízo de primeiro grau, não me parece que foi a autora que forneceu os dados do contrato, porquanto a conversa por meio do aplicativo de mensagens “Whatsapp” revela, em tom verde, a manifestação da consumidora. Conclui-se, dessa forma, que a autora, no máximo, forneceu seu CPF, enquanto o estelionatário, com base neste dado, obteve, por meios escusos, as informações do contrato, como o número, valor financiado, etc. A par dessas considerações, não obstante a fraude tenha sido perpetrada por terceiro, os dados do contrato, que permitiram a confecção do boleto falso, não foram fornecidos pela parte autora, revelando-se que o contato do estelionatário se deu em virtude da obtenção de dados junto a instituição financeira, sem que a segurança da consumidora tenha sido preservada. Tal situação atrai a aplicação do artigo 14, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, que impõe ao fornecedor de serviços o dever de responder, independentemente de culpa, por defeitos relativos à prestação dos serviços: “Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:”. Desse modo, ao revés do decidido na primeira instância, considero os fatos como fortuito interno, situação que atrai a responsabilidade objetiva da instituição financeira, conforme, inclusive, já foi decidido por este Sodalício. Confira-se: “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (…) 4. Evidenciada a falha de segurança do apelante quanto aos dados bancários do apelado, na medida em que o fraudador obteve acesso ao valor liberado a título de empréstimo e dados bancários do cliente, o que embasou o golpe aplicado no aplicativo de conversas.5. Embora o autor/apelado tenha contribuído para a fraude, sua conduta imprudente não afasta a responsabilidade do banco. A instituição financeira deve implementar medidas de segurança robustas para prevenir esse tipo de ocorrência, considerando a vulnerabilidade dos consumidores a golpes.6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária. (…) 9. Apelação desprovida.”. (TJGO Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. (...) 5. Demonstrado nos autos que o autor efetuou o pagamento de boleto emitido em razão de contato fraudulento com acesso a dados da instituição financeira, sem que a segurança do consumidor tenha sido preservada, caracterizando fortuito interno, conforme a Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça. (...) 8. Recurso conhecido e desprovido”. (TJGO, Apelação Cível 5546492-85.2021.8.09.0149, Rel.Des. José Ricardo M. Machado, 8ª Câmara Cível, julgado em 24/01/2025) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2. As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula 479 do STJ), máxime porque compete ao empreendedor ou fornecedor de produtos e serviços os riscos da atividade, na ocorrência de fraudes engendradas contra os sistemas de computação que adota, constrói ou utiliza para o recebimento de faturas e pagamento de boletos. 3. Não se mostra razoável exigir que o consumidor se atente às apontadas divergências entre um boleto original e um falso, porquanto apenas o responsável pela emissão do documento conseguiria indicar os detalhes que evidenciam sua adulteração, mormente no caso, em que o boleto continha o slogan da empresa e descrevia como beneficiária o nome da instituição financeira titular dos créditos derivados do contrato de alienação fiduciária havido entre as partes. Portanto, comprovada a hipótese de vazamento de dados da instituição financeira, será dela, a responsabilidade pela reparação integral de eventuais danos. (...) RECURSO CONHECIDO E PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5441768-33.2021.8.09.0051, Rel.Des. Kisleu Dias Maciel Filho, 5ª Câmara Cível, julgado em 22/11/2023) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Conforme precedente do colendo STJ, “os dados pessoais vinculados a operações e serviços bancários são sigilosos e cujo tratamento com segurança é dever das instituições financeiras. Desse modo, seu armazenamento de maneira inadequada, a possibilitar que terceiros tenham conhecimento dessas informações e causem prejuízos ao consumidor, configura falha na prestação do serviço”. 4. Nos moldes das Lei de Geral de Proteção de Dados - LGPD, o dever de indenizar será afastado caso o prestador de serviço comprove qualquer das hipóteses excludentes previstas no art. 43, da Lei retromencionada, ônus do qual não se desincumbiu a Recorrida. 5. No caso dos autos, a Apelante entrou em contato com a instituição financeira, por um dos canais disponibilizados ao consumidor (e-mail) e requisitou os boletos para a quitação do contrato de empréstimo consignado. 6. Após a referida comunicação, os fraudadores tiveram acesso aos dados da cliente e do contrato, e entraram em contato com a consumidora, via aplicativo de mensagens eletrônicas (whatsapp) através do qual encaminhou-lhe os boletos com as mesmas características do original, caracterizando, dessa forma a falha de segurança na prestação do serviço bancário, uma vez que não é exigível da consumidora que desconfiasse da fraude. (...) APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. SENTENÇA REFORMADA”. (TJGO, Apelação Cível 5693982-30.2021.8.09.0079, Rel.Des. Delintro Belo de Almeida Filho, 4ª Câmara Cível, julgado em 06/11/2023) 4.2. Danos materiais. Restituição do valor. A apelante alega que o boleto foi pago em virtude de ter sido induzida a erro e, como o valor não serviu para a quitação de seu débito, ele deve ser ressarcido pela instituição financeira. Na hipótese, a responsabilidade da instituição financeira é objetiva e, por essa razão, há o dever de ressarcimento da quantia que a consumidora desembolsou para o pagamento do falso boleto. Sobre a matéria é a jurisprudência desta Corte: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 2 - Constatada a falha na prestação de serviço da instituição financeira, que não se acautelou das medidas necessárias para impedir a emissão boleto falso, impositivo se faz a manutenção da sentença que condenou o Banco na restituição dos valores pagos pelo boleto fraudulento. Apelação conhecida e desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5599595-48.2021.8.09.0006, Rel.Des. Gilberto Marques Filho, 3ª Câmara Cível, julgado em 22/12/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 6. Comprovado o dano material correspondente ao valor do boleto falso quitado pelo consumidor, deve ser objeto de ressarcimento pela instituição financeira. (...) APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5732141-92.2022.8.09.0051, Rel.Des. Rodrigo de Silveira, 10ª Câmara Cível, julgado em 14/03/2024) 4.3. Dano moral. Provadas as alegações da autora, tem-se que a situação experimentada configurou lesão a direito da personalidade, expondo-a a constrangimento suficiente a causar abalo moral, pois acreditou que as tratativas via aplicativo de mensagens e o fornecimento do boleto, com os dados exatos do contrato, serviriam para quitação do débito, enquanto, na verdade, tratava-se do golpe do falso boleto. Para a configuração do dever de indenizar é necessária a demonstração do dano provocado pela conduta do agente, e que a ação e o resultado sejam materialmente ligados, o que se chama de nexo causal. A indenização por danos morais é uma garantia de direitos individuais, inscrita na Constituição Federal, no art. 5º, incisos V e X, encontrando-se, também, assegurada no Código Civil. Não serão quaisquer sentimentos de incômodo ou de constrangimento que se consubstanciarão em danos morais, mas somente aqueles que se entranham na esfera íntima da pessoa como sensações contundentes e duradouras de dor, sofrimento ou humilhação. A respeito do caso tratado nos autos, é firme o entendimento de que a instituição financeira é deve ser responsabilizada por danos morais, porquanto eles resultam da falha de segurança na proteção dos dados do consumidor e no desgaste deste com as cobranças indevidas. A esse respeito, confiram-se os seguintes julgados: “DIREITO DO CONSUMIDOR. (…) 6. Além do apelante não se desincumbir de demonstrar a ausência de vazamento de dados do apelado, por força do art. 43 da LGDP, restou demonstrado que a fraude perpetrada somente foi possível através de dados sigilosos do consumidor, havendo clara falha no sistema de segurança da instituição bancária.7. O dano moral sofrido pelo cliente é evidente, decorrente da fraude e dos transtornos causados. (…) 9. Apelação desprovida”. (TJGO, Apelação Cível 5697397-11.2022.8.09.0168, Rel.Des. Nelma Branco Ferreira Perilo, 4ª Câmara Cível, julgado em 28/04/2025) “DUPLA APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. GOLPE DO FALSO FUNCIONÁRIO. (...) 4. Caracterizada a falha na prestação dos serviços, resta evidente a responsabilidade objetiva da instituição financeira - Fortuito interno, aplicação da Súmula nº 479 do STJ -, cabendo indenização pelos danos morais sofridos pelo autor. (...) 1ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. 2ª APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E NÃO PROVIDA. RECURSO ADESIVO CONHECIDO E NÃO PROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5715188-53.2022.8.09.0051, Rel.Des. Dioran Jacobina Rodrigues, 11ª Câmara Cível, julgado em 04/07/2024) Superada a discussão sobre os pressupostos do dever de indenizar (dano – conduta culposa – nexo de causalidade), passa-se à quantificação do dano. Na fixação do valor compensatório, o magistrado deve pautar-se pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, conforme se extrai da lição de Sérgio Cavalieri Filho: “Em conclusão, após a Constituição de 1988 não há mais nenhum valor legal prefixado, nenhuma tabela ou tarifa a ser observada pelo juiz na tarefa de fixar o valor da indenização pelo dano moral. Embora deva seguir, em face do caso concreto, a trilha do bom senso, da moderação e da prudência, tendo sempre em mente que se, por um lado, a indenização deve ser a mais completa possível, por outro, não pode tornar-se fonte de lucro indevido. A dor da mãe que perde o filho não é a mesma daquele que tem seu nome indevidamente lançado no rol dos mal pagadores (SPC) o que está a indicar que o juiz não pode se afastar dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, hoje tidos como princípios constitucionais. Afinal de contas, jurisprudência, a obra-prima do juiz, é a junção de duas palavras: juris + prudência vale dizer, na base de todas as decisões judiciais há de estar a prudência”. (Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed., ver. E ampl. São Paulo: Atlas, 2012, p. 100) Cada caso deve ser analisado segundo suas peculiaridades, levando em consideração parâmetros como a capacidade econômica e financeira do ofensor, a função pedagógica da condenação e a necessidade de que o valor fixado não enseje enriquecimento ilícito da vítima. Para essa análise, adota-se o método bifásico delineado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 1.152.541/RS, consistente em duas etapas: na primeira, estabelece-se um valor básico para a indenização, observando o interesse jurídico lesado e a jurisprudência consolidada em casos semelhantes; na segunda, ajusta-se o valor segundo as circunstâncias específicas da lide, tais como a gravidade da conduta, o grau de culpa, eventual concorrência de culpas e a capacidade econômica das partes envolvidas. Assim, atendendo as circunstâncias fáticas do caso e compatibilizando com os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, revela-se adequado fixar a indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), montante suficiente para compensar o sofrimento injustamente imposto à consumidora, sem, contudo, implicar enriquecimento sem causa. 5. Legitimidade da instituição financeira mantenedora da conta do estelionatário. A instituição financeira Neon Pagamentos S/A, segunda apelada, defende sua ilegitimidade passiva, pois não tem nenhuma relação com a narrativa referente aos danos alegados pela consumidora, limitando-se, sua inclusão no polo passivo, somente ao fato de ser a mantenedora da conta para a qual o valor do boleto foi transferido. Segundo o princípio da asserção, as questões relacionadas às condições da ação, como a legitimidade passiva, são aferidas à luz do que o autor afirma na petição inicial, adstritas ao exame da possibilidade, em tese, da existência do vínculo jurídico-obrigacional entre as partes, e não do direito provado, de modo que devem ser enfrentadas em sede de eventual procedência ou improcedência da demanda. Ademais, responsável ou não, a Neon Pagamentos compõe a cadeia da relação de consumo, na medida em que o golpe aplicado na autora por estelionatário, por meio de boleto falso com os dados do 1º apelado, resultaram no pagamento do título e a remessa da quantia para conta mantida em sua instituição. Dessa forma, se está diante da legitimidade passiva da instituição financeira mantenedora da conta para a qual os valores provenientes do pagamento do boleto falso foram enviados. Este Tribunal já decidiu sobre o tema. Confira-se: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. Outrossim, o segundo apelante não demonstrou sua tese excludente de responsabilidade, sequer comprovou sua ilegitimidade passiva, porquanto sabe-se que são solidariamente responsáveis todos os que intervem de alguma forma, direta ou indiretamente, na cadeia da relação de consumo, contribuindo em qualquer fase, seja na produção, oferta, distribuição, ou venda do produto, de sorte que é inconteste a solidariedade entre os demandados, sobretudo porque esta parte trata-se da beneficiária do boleto fraudulento. (...) PRIMEIRO APELO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. SEGUNDO APELO CONHECIDO E DESPROVIDO”. (TJGO, Apelação Cível 5316415-45.2023.8.09.0137, Rel.Des. Fabiano Abel de Aragão Fernandes, 7ª Câmara Cível, julgado em 08/11/2024) Todavia, não obstante se reconheça a legitimidade passiva da Neon Pagamentos em razão de compor a relação de consumo, não se pode dizer o mesmo de sua responsabilidade pelas ocorrências narradas pela consumidora. A abertura de conta bancária obedece a rigorosos critérios, especialmente em relação aos documentos utilizados pelo correntista para esta finalidade, de modo que eventual desvio de conduta do titular da conta - que emite boleto válido no intuito de se favorecer ilegalmente -, não pode ser atribuído à instituição financeira mantenedora da conta-corrente. Dessa forma, não há como culpar o 2º apelado por ter contribuído com o estelionatário, ao permitir a abertura da conta, pois o correntista – registrado no cadastro nacional de pessoa jurídica sob o nº 53.437.105/0001-79 – se tratava de uma empresa legalmente constituída, como ainda permanece (https://solucoes.receita.fazenda.gov.br/servicos/cnpjreva/Cnpjreva_Comprovante.asp), não havendo motivo para que fosse rejeitada a abertura da conta. Por essa razão, não há se falar na responsabilidade do 2º apelado. Nesse sentido: “APELAÇÃO CÍVEL. (...) 3. A instituição financeira não teve participação no crime de estelionato, nem tampouco falhou na prestação de seus serviços, motivo pelo qual a manutenção da sentença, em que o juiz a quo julgou improcedente o pedido indenizatório, é medida que se impõe. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA”. (TJGO, Apelação Cível 5127864-14.2024.8.09.0051, Rel.Des. Sebastião Luiz Fleury, 7ª Câmara Cível, julgado em 13/12/2024) 6. Dispositivo. Ante o exposto, conheço e dou parcial provimento ao recurso para reformar a sentença, a fim de: (i) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de R$ 1.554,78 (um mil, quinhentos e cinquenta e quatro reais e setenta e oito centavos), que deve ser acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária pelo INPC, ambos a partir do desembolso – 29.1.2024, e, após o advento da Lei nº 14.905/2024 (a contar de 1º/09/2024), deve-se observar a atualização pelo IPCA e os juros de mora pela taxa SELIC, deduzido o IPCA;(ii) condenar o 1º apelado ao pagamento de indenização por danos morais de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), acrescidos de juros de 1% ao mês desde o evento danoso e de correção monetária a partir da data da publicação do acórdão (Súmula 362/STJ), observada a correção pelo IPCA e os juros de mora pela SELIC após o advento da Lei nº 14.905/2024; e(iii) julgar improcedentes os pedidos em relação ao 2º apelado, condenando a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios ao patrono da Neon Pagamentos S/A, que fixo em 10% (dez por cento) do valor atribuído à causa, cuja exigibilidade fica suspensa em razão de a sucumbente ser beneficiária da gratuidade da justiça (art. 98, § 3º do CPC). Em relação à sucumbência do Banco Votorantim S/A, condeno-o ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 20% (vinte por cento) do valor atualizado da condenação, conforme previsão do art. 85, § 2º, do CPC. A hipótese dos autos não se enquadra na tese referente ao Tema 1.059 do STJ, motivo pelo qual não há se falar em majoração da verba honorária. É o voto. Após o trânsito em julgado, retornem os autos à origem, retirando o feito do acervo desta relatoria.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator A C Ó R D Ã OAPELAÇÃO CÍVEL Nº 5596554-30.2024.8.09.0051, da Comarca de Goiânia, em que figura como APELANTE WANIA DE OLIVEIRA VIEIRA e, como APELADOS, o BANCO VOTORANTIM S/A e OUTRO.ACORDAM os integrantes da Primeira Turma Julgadora da 7ª Câmara Cível, por unanimidade de votos, em conhecer e dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.A sessão foi presidida pela Desembargadora Ana Cristina Ribeiro Peternella França.Presente a Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos da lei e registro no extrato da ata.Goiânia, datado e assinado digitalmente.Élcio VicenteJuiz Substituto em 2º GrauRelator

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