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Inês Janegitz x Amais Brasil Intelegência Ltda. Me e outros

ID: 331795595

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Paraguaçu Paulista - 2ª Vara Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1000673-59.2018.8.26.0417

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

INêS JANEGITZ

Polo Passivo:

AMAIS BRASIL INTELEGÊNCIA LTDA. ME BANCO CETELEM S/A BANCO ITAU CONSIGNADO S/A

Intimação

Advogados:

RÉU REVEL

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EDUARDO CHALFIN

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DIEGO MONTEIRO BAPTISTA

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ANDRÉ LUÍS DE TOLEDO ARAÚJO

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Processo 1000673-59.2018.8.26.0417 - Procedimento Comum Cível - Defeito, nulidade ou anulação - Inês Janegitz - Banco Cetelem S/A - - BANCO ITAU CONSIGNADO S/A - - AMAIS BRASIL INTELEGÊNCIA LTDA. … Processo 1000673-59.2018.8.26.0417 - Procedimento Comum Cível - Defeito, nulidade ou anulação - Inês Janegitz - Banco Cetelem S/A - - BANCO ITAU CONSIGNADO S/A - - AMAIS BRASIL INTELEGÊNCIA LTDA. ME e outro - INEZ JANEGITZ propôs ação de declaração de nulidade/rescisão contratual cc. declaratória de inexistência de débito cc. consignação em pagamento cc. indenização por danos materiais com pedido de tutela antecipada de urgência em face de AMAIS BRASIL INTELIGENCIA FINANCEIRA LTDA ME e BANCO CETELEM S/A, narrando, em síntese, que deu entrada no pedido de aposentadoria, o que não concretizou por vontade própria, mesmo assim foi consultada por telefone se tinha interesse em empréstimos consignado, respondendo de forma negativa. Para sua surpresa em 29/09/2017 recebeu mensagem no celular comunicando o crédito de um empréstimo consignado de R$ 31.337,44 em sua conta bancária junto ao Bradesco. Pediu a concessão da tutela de urgência e ao final a procedência do pedido para declarar a nulidade e inexistência do contrato, com indenização por danos morais. Deu a causa o valor de R$ 38.160,00 e anexou documentos (fls. 41-64). Decisão de folhas 70-72 deferiu a tutela de urgência para excluir o nome da autora, nos órgãos de restrição ao crédito com relação ao contrato de empréstimo consignado objeto destes autos, e autorizou o depósito judicial o valor creditado em sua conta, equivalente a R$ 31.337,44 (trinta e um mil trezentos e trinta e sete reais e quarenta e quatro centavos) até ulterior decisão de mérito. Depósito realizado às folhas 83. Às folhas 84-86 a autora emendou a inicial pedindo a inclusão no polo passivo de BANCO ITAU CONSIGNADO S/A. Inclusão autorizada (fls. 88). Citado, Banco Cetelem S/A, às folhas 119-136, apresentou contestação alegando em preliminar ilegitimidade passiva, e no mérito inexistência da relação contratual, reconhecendo apenas a existência do contrato nº 97.826551808-17, o qual está revestido das formalidades legais. Pediu o acolhimento da preliminar e superada esta a improcedência total dos pedidos. Anexou documentos (fls. 137-174). Audiência de conciliação infrutífera (fls. 193-194). Às folhas 197-201 o Banco Itaú Consignado S/A apresentou contestação alegando regularidade do contrato nº 571161293, no valor de R$ 31.337,74, que foi liberado na conta em nome da autora. Pediu a improcedência total dos pedidos e anexou documentos (fls. 202-227). Réplica às folhas 231-248. Despacho saneador às folhas 249-253 deferiu provas e determinou a redistribuição do processo para a Justiça Comum. Concedeu-se as partes oportunidade para especificar provas (fls. 265-266). Manifestações às folhas 269, 270-271 e 272-274. Nulidade processual declarada para alteração no polo passivo e inclusão da requerida AMAIS BRASIL INTELIGENCIA FINANCEIRA LTDA. Sentença de folhas 278 HOMOLOGOU o acordo firmado entre a autora e o BANCO CETELEM S/A, extinguindo o processo com fundamento no artigo 487, III, b do CPC. Prosseguem os autos com relação ao BANCO ITAU CONSIGNADO e AMAIS BRASIL INTELIGENCIA FINANEIRA LDA ME. Às folhas 296-299 a requerida AMAISapresentou contestação alegando em resumo que o contrato está correto e obedeceu a todas as formalidades, inclusive com o valor liberado em conta corrente em nome da autora. Pediu a improcedência dos pedidos. Anexou procuração (fls.300-310). Deferiu-se a realização da prova pericial, com a nomeação de perito e apresentação de quesitos pelas partes (fls.316, 324, 325, 342-343, 346-348 e 353) Intimada, após renúncia do seu Procurador, a requerida AMAIS, deixou de constituir novo Advogado (fls. 454 e 457). Laudo pericial às folhas 470-483, com manifestação das partes às folhas 490-495 e 496-497 Vieram conclusos. É o relatório. Fundamento e decido. O processo comporta julgamento no estado em que se encontra, com base no artigo 355, inciso I, do CPC. Os pedidos são procedentes. Trata-se de demanda em que a parte autora nega ter firmado com as rés o contrato nº 571161293, A parte ré, por sua vez, sustenta a regularidade da contratação e, consequentemente, dos descontos efetuados. O ponto central da controvérsia reside na validade ou existência do vínculo jurídico entre as partes, sobretudo porque a parte autora negou a autenticidade da sua assinatura nos documentos apresentados na defesa (fls.126/127). Em observância ao disposto no Tema nº 1061 do STJ, foi produzida a prova pericial. Nesse sentido, temos a conclusão pericial A gênese Gráfica, determinante na conclusão de autoria de lançamentos manuscritos é a sequência de movimentos, que comandados pelos impulsos cerebrais, materializam-se na escrita, sendo específicos e inerentes de cada punho escritor. Os documentos originais que esta Perita teve acesso e que foram usados para confronto dos exames foram: o documento pessoal como Carteira Nacional de Habilitação e a coleta de amostras caligráficas, destes documentos, foram extraídos a parte genética, cruzamento de traço, pressão e evolução de manuscritos e hábitos gráficos. Sendo assim, Vossa Excelência, esta Perita se ateve a confrontaras assinaturas questionadasde fls.207/210 com peça testes, sendo elas grafismos autênticos produzidos na presença do Perito e peças padrões, que são grafismos produzidos anteriormente ao surgimento do incidente de falsidade, portanto sem intenção pericial, exemplos: documentos de identificação. Contudo apresentado nestes exames, CONCLUI-SE que os resultados grafotécnicos das assinaturas questionadas nos documentos de fls.207 á 210, NÃO EMANARAM do punho escritor direito da Sra. Inês Janegitz. As assinaturas possuem algumas semelhanças, mas é visivel em microscópio específico e na luz apropriada que as assinaturas possuem divergências em suas finalizações. A segunda parte da assinatura (gitz), essa abreviação esta com ataques e remates totalmente divergente da grafia apresentada nas folhas do Contrato quastionado, além de possuir cosntruções diferentes nas assinaturas de folhas 207,208,209 e 210, possibilitando uma análise clara, que partiram de punhos diferentes. Esta Conclusão esta fundamentada nos exames e estudos conforme demonstra esse Laudo com imagens ilustrativas. (fls. 482-483) A jurisprudência é pacífica ao reconhecer que a perícia grafotécnica realizada sobre cópia não possui a mesma força probatória que aquela feita sobre o documento original, uma vez que a cópia não permite a verificação de elementos essenciais da escrita, como pressão, velocidade, tremores e outros traços característicos da caligrafia humana. Assim, a inconclusividade da perícia compromete a comprovação da autenticidade da assinatura. Ademais, a ausência de justificativa plausível para a não apresentação do documento original reforça a fragilidade da defesa da parte ré, e, somada à impugnação específica do autor e à ausência de outros elementos que corroborem a validade do contrato, fortalece a tese de falsidade da assinatura. Dessa forma, diante da inconclusividade da perícia, da ausência do documento original, e da fragilidade probatória da parte ré, impõe-se o reconhecimento da falsidade da assinatura constante no contrato, com o consequente julgamento procedente do pedido da autora. Inarredável, pois, o reconhecimento de que a narrativa da parte autora é verdadeira quando nega o consentimento na relação jurídica contratual com a parte ré apontando para a possível intervenção de terceiros fraudadores. A constatação de tal fato configura evidente defeito na prestação do serviço, o que atrai a aplicação do art. 14 do CDC, fazendo surgir a responsabilidade objetiva de indenizar a parte autora dos prejuízos eventualmente existentes. Nesse sentido, temos o enunciado nº 479 da Súmula do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. No mesmo sentido, temos a Jurisprudência do TJSP: APELAÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. DECLARATÓRIA. EMPRÉSTIMOCONSIGNADO. SENTENÇA QUE DECLARA A INEXISTÊNCIA DOSCONTRATOS E DETERMINA A RESTITUIÇÃO, EM DOBRO, DOSVALORES DESCONTADOS. DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 5.000,00.1. OBJETO RECURSAL. Insurgência da parte ré, alegando: (a)regularidade das contratações; (b) ausente a má-fé é inadequada a ordem de devolução em dobro; (c) ausência de danos morais; (d) necessidade de adequação do termo inicial dos juros incidentes nas condenações por danos materiais e morais. 2. VALIDADE DA CONTRATAÇÃO. Afastada. Banco que não se desincumbiu do ônus probatório, considerando que: (a) quanto aos contratos assinados fisicamente, deixou precluir a realização de perícia grafotécnica (CPC/15, art. 429, II); (b) quanto ao contrato assinado eletronicamente, deixou de rebater às impugnações específicas apresentadas pela autora sobre os dados, as informações e o meio de efetivação das avenças questionadas, juntando documentos incapazes de demonstrar a validade das contratações. Aplicação do inciso II do art. 429 do CPC/15. 3.DANOS MORAIS. Configurados. Valor arbitrado em R$ 5.000,00 que não comporta redução, já que adequado à complexidade do caso. Aplicação das Súmulas 362 e 54 do C. STJ. 4. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. A Cort eEspecial do C. STJ, fixou tese de que a devolução em dobro, prevista no art.42, do CDC, decorre da boa-fé objetiva (STJ, EAREsp 676.608/RS), mas procedeu a modulação dos seus efeitos, da seguinte forma: a) antes de30/03/21 é necessária a prova da má-fé do fornecedor; b) após 30/03/21, basta que a conduta do fornecedor seja contrária a boa-fé objetiva (sendo irrelevante o dolo/culpa). A partir desta regra, deve haver a dobra para o contrato 636529491, pois supostamente realizado em julho de 2021, enquanto o indébito deve ser simples para os contratos 622618908 e 600017699, pois não demonstrada a má-fé e supostamente firmados em dezembro de 2019 e em agosto de 2020. 5. CONDENAÇÃO DO BANCO AOPAGAMENTO DAS DESPESAS DO PROCESSO. Adequação da previsão da sentença. Dispositivo condicional, ou seja, a obrigação somente existirá se houver pagamento de tais despesas a cargo do autor. Ausência de interesse recursal reconhecida. 6. PROVIMENTO PARCIAL DA PARTECONHECIDA DO APELO DO RÉU. (17ª Câmara de Direito Privado, Apelação nº 1005478-50.2024.8.26.0286). Dessa forma, diante da inexistência de relação jurídica entre as partes, por ausência de consentimento válido (art. 104 do CC/02), deve ser acolhido o pedido da parte autora para declarar a nulidade ou inexistência do contrato, com o consequente cancelamento da autorização de desconto no benefício previdenciário Inexiste descontos, em razão da ação rápida da parte autora que providenciou a devolução do valor disponibilizado e não sofreu nenhum desconto, mesmo porque não concluiu o pedido de aposentadoria. Inegável, no caso, o fato de a parte ré ter falhado na prestação de serviços em relação à parte autora, atraindo, com já assinalado, a aplicação do disposto no art. 14 do CDC e fazendo surgir o dever de indenizar. Dito isso, passa-se a analisar o pedido de indenização por dano moral. Nesse particular, novamente se tem que o pedido é procedente. É que o defeito na prestação do serviço é evidente, como acima consignado. Ademais, observa-se no presente caso que a constatação de descontos no benefício em razão de contrato fraudulento trouxe necessidade da autora de se movimentar pessoalmente, saindo de sua rotina, para resolver questões de ordem financeira que não deu causa, tomando-lhe tempo e esforços, como a contratação de advogado, juntada e entrega do documentos etc (Teoria do desvio produtivo), sem perder de vista o tempo que a situação levará para se regularizar, que causa ansiedade e insegurança naturalmente. Não bastasse isso, o problema gerou repercussão financeira negativa no seu benefício previdenciário, verba de natureza alimentar, gerando por si só agressão ao patrimônio imaterial. Assim, no presente caso, o valor da compensação financeira pela lesão ao patrimônio imaterial deverá levar na conta, além do dissabor causado por ser vítima da fraude, o embaraço na sua rotina, o gasto de energia para resolver o problema. Desta forma, considerando as peculiaridades do presente caso, os valores dos descontos, entendo como razoável que o valor de indenização por dano moral seja fixado no valor de R$ 5.000,00. Não se pode negar a responsabilidade solidaria entre os réus, nos termos do art. 7º, parágrafo único, do CDC (tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo) e ainda o art. 25, § 1º, do mesmo diploma legal (havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista. O depósito de folhas 83, deverá ser restituído ao Banco requerido, podendo ser atualizado parcialmente para abater o crédito da autora. Sem mais, passo ao dispositivo. Diante do quanto exposto, com fundamento no art. 487, inciso I, do CPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos para: Declarar a inexistência do contrato de empréstimo de n°2036894/13001; Condenar os requeridos a pagar à parte parte autora, de forma solidária, a título de indenização por danos morais, o valor de R$ 5.000,00, sendo que a quantia deverá ser corrigida desde esta data pelo índice IPCA, bem como acrescido de juros de mora desde a data da elaboração do contrato anulado, sendo devido o percentual de 1% ao mês até 29/08/24 e após a taxa Selic. Deve-se observar ainda após 29/08/24 o disposto nos parágrafos do art. 406 do Código Civil, conforme redação dada pela Lei nº 14905/24. Considerando a sucumbência e o princípio da causalidade, condeno a parte ré no pagamento das custas e despesas processuais. Condeno ainda a parte ré no pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência, que fixo em 10% do valor da condenação, observado o valor mínimo de R$ 1.000,00. Com o trânsito em julgado libere em favor do Banco Itaú, o depósito de folhas 83, sem prejuízo de sua utilização para quitação do débito. Com o Trânsito em Julgado, providencie a z. Serventia os procedimentos previstos nas Normas de Serviços da CGJ para o arquivamento. Nesse particular, adverte-se ao responsável pelo arquivamento que, nos termos do art. 1098 das NSCGJ, deverá verificar se houve o regular recolhimento das custas eventualmente devidas, inclusive no caso de existência de parte beneficiária da gratuidade de justiça (§5º), podendo-se valer das orientações contidas no Comunicado 951/2023. Feita a cobrança por meio de ato ordinatório e não havendo o pagamento no prazo de 60 dias, fica desde já autorizada a expedição de certidão para inscrição do débito na dívida ativa da Fazenda Estadual Libere-se em favor da Perita os honorários depositados às folhas 398-399, observando que o formulário de MLE se encontra às folhas 485. - ADV: DIEGO MONTEIRO BAPTISTA (OAB 153999/RJ), RÉU REVEL (OAB R/SP), ANDRÉ LUÍS DE TOLEDO ARAÚJO (OAB 208061/SP), EDUARDO CHALFIN (OAB 241287/SP)

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Lara Taina De Jesus Silva x Itaú Unibanco S.A.

ID: 282427621

Tribunal: TJPI Órgão: 1ª Vara Cível da Comarca de Parnaíba Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0804596-83.2024.8.18.0031

Data de Disponibilização: 28/05/2025

Polo Ativo:

LARA TAINA DE JESUS SILVA

Polo Passivo:

ITAú UNIBANCO S.A.

Sentença

Advogados:

GUSTAVO GERBASI GOMES DIAS

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HILZIANE LAYZA DE BRITO PEREIRA LIMA

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ANDREA YASMIN CARVALHO E SILVA

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ 1ª Vara Cível da Comarca de Parnaíba Avenida Dezenove de Outubro, 3495, Fórum "Salmon Lustosa", Conselheiro Alberto Silva, PARNAÍBA - PI - CEP: 64209-060 PROCESSO … PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ 1ª Vara Cível da Comarca de Parnaíba Avenida Dezenove de Outubro, 3495, Fórum "Salmon Lustosa", Conselheiro Alberto Silva, PARNAÍBA - PI - CEP: 64209-060 PROCESSO Nº: 0804596-83.2024.8.18.0031 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO(S): [Seguro, Seguro] AUTOR: LARA TAINA DE JESUS SILVA REU: ITAÚ UNIBANCO S.A. S E N T E N Ç A Vistos etc. Trata-se de AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER DE PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO DE SEGURO DE VIDA C/C DANOS MORAIS (ID n.º 60205208), proposta por LARA TAINÁ DE JESUS SILVA em face de ITAÚ SEGUROS S/A, ambos já devidamente qualificados no processo retro, onde se alega e requer o seguinte: A requerente é filha da Sra. FLORISE AURELINO DE JESUS NETA, que faleceu no dia 01/03/2024, em Brasília-DF e foi verificado pela autora que a falecida deixou um seguro de vida Itaú Viva Mais, no banco requerido, no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) (Proposta n.º 5754180; cotação n.º 572526914, data da cotação 06/03/2023). Porém, ao ser feito o pedido de liberação de valores pelo site do referido banco, não houve andamento no pedido do Seguro, alegando o réu “falta de documentação específica”, como Boletim de Ocorrência e outro documento que comprove que houve morte por acidente. Ocorre que, tais documentos não existem, pois não há boletim de ocorrência, apenas certidão de óbito e laudo do Instituto Médico Legal. Além disso, a demandante já tentou resolver tal situação amigavelmente, explicando sobre a inexistência desses documentos, contudo, sem sucesso. Ao final, a parte suplicante requereu a condenação da parte requerida ao pagamento no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) da indenização securitária, corrigido monetariamente e acrescido de juros de mora; a indenização por danos morais no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). Juntou procuração e documentos (ID's n.º 60205210, 60205206, 60205205, 60205209, 60348523). Despacho (ID n.º 62810287) determinando a intimação da parte autora para emendar a petição, devendo juntar a certidão de óbito da falecida, assim como, indicar a existência/inexistência de outros herdeiros. A parte requerente se manifestou no ID n.º 63249478 e juntou certidão de óbito no ID n.º 63249491. Despacho (ID n.º 64237725) determinando a intimação da parte suplicante para comprovar sua situação de pobreza apta ao deferimento da gratuidade de justiça, inclusive juntando provas, entre outro material probatório, sob pena de indeferimento do pedido. A parte demandante se manifestou no ID n.º 65476975 e juntou documento de ID n.º 65476988. Despacho (ID n.º 65517784) concedendo os benefícios da gratuidade da justiça e determinou a citação da parte ré. Contestação (ID n.º 70638224) em que a parte ré aduz, preliminarmente, a ilegitimidade ativa e a falta de interesse de agir da parte autora. No mérito, a parte requerida alegou que a contratação do seguro foi necessária a digitação de senha, equiparada à assinatura, requisito essencial para a validade dos contratos eletrônicos e que demonstra a ausência de qualquer vício de vontade. Além disso, a parte demandada alegou que os contratos eletrônicos são legítimos e produzem efeitos jurídicos na mesma perspectiva de um contrato realizado por escrito ou verbalmente. Ademais, a parte suplicada afirmou que o seguro possui benefícios extensíveis a sua família, que envolvem morte acidental, invalidez permanente por acidente, diária por incapacidade temporária, dentre outros. Nesse sentido, a parte ré sustentou que a parte contratante tinha pleno conhecimento da cobertura e condições contratadas. Outrossim, o réu ressaltou que a parte autora não comprovou ter sofrido algum prejuízo ou dano que levassem a um abalo moral que justifique indenização e que não traz elementos comprobatórios que corroborem a sua narrativa. Por fim, a parte promovida requereu que sejam acolhidas as preliminares arguidas, com a extinção da ação; que a ação seja julgada improcedente. Juntou procuração e documentos (ID’s n.º 70638240, 70638242, 70638645, 70638646, 70638647, 70638649, 70638651, 70638652, 70638653, 70638654). Réplica à contestação (ID n.º 71479633). Despacho (ID n.º 72606969) o qual determinou a intimação das partes para dizerem se possuem provas a produzir ou se concordam com o julgamento antecipado da lide. As partes se manifestaram nos ID’s n.º 73979254 e 74143310 e informaram que não possuíam mais provas a produzir e requereram o julgamento antecipado da lide. É o relatório. DECIDO. É o caso de julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, I, do CPC. Cinge-se a controvérsia à legalidade da negativa da ré quanto ao pagamento de prêmio contratado em seguro de vida, do qual é beneficiária a autora. Razão não lhe assiste. Inicialmente, importa esclarecer que, por se tratar de relação de consumo, as disposições do Código de Defesa do Consumidor devem ser observadas em sintonia com as demais normas que regulamentam a matéria. Nos termos do art. 757 do Código Civil, “pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”. Cumpre registrar que a relação entre as partes é de cunho contratual, devendo ser observadas, para os efeitos de indenização, apenas as cláusulas pactuadas pelas partes. Em outras palavras, para que a indenização seja paga pela seguradora, deve haver a plena identificação entre o fato descrito pela beneficiária e a hipótese contratada pelo segurado. Nesse sentido é a lição de Pedro Alvim: “(...) uma das normas importantes para o contrato de seguro é a que determina a interpretação restritiva de suas cláusulas. É necessário aplicar estritamente os termos convencionais, sobretudo com relação aos riscos cobertos. Há uma correlação estreita entre a cobertura e o prêmio. Forçar essa correlação por via de interpretação extensiva poderá falsear as condições técnicas do contrato, em que se repousa toda a garantia das operações de seguro. (...) Se as cláusulas da apólice estão regidas com clareza ao delimitar o risco coberto, não devem ser desvirtuadas sob pretexto de interpretação para incluir coberturas que não estavam previstas ou forma expressamente excluídas do contrato” (O Contrato de Seguro, 1ª ed., p. 175/176). Não se pode olvidar, ainda, que as seguradoras têm autonomia para estabelecer os riscos que cobrirão, podendo o consumidor aderir ou não ao que lhe está sendo ofertado. Firmada tal premissa, verifica-se, no caso em apreço, que o seguro foi contratado somente para as coberturas de morte acidental (ID n.º 60205209). Desse modo, considerando que a causa da morte da segurada de cujus decorreu de “MORTE POR EDE HORRAGIA PULMONAR DE ETIOLOGIA INDETERMINADA”, conforme Laudo de Exame de Corpo de Delito n.º 07828/24 (ID n.º 60348523). O que pode ser enquadrada como causa natural, tem-se que o risco afirmado pela autora não possui cobertura contratual, havendo, na verdade, exclusão expressa de cobertura, razão pela qual não há como deferir o pleito condenatório. Embora a morte da segurada se trate de questão delicada, versando a demanda sobre um contrato de seguro, a responsabilidade da seguradora ré circunscreve-se apenas aos danos oriundos de risco expressamente estipulado no pacto, ensejando assim uma interpretação que não pode ser extensiva. Não se trata de restringir o alcance do contrato, mas de lhe dar a estrita interpretação, de forma literal, ou seja, nos exatos limites do que convencionaram as partes. No caso em exame, os riscos cobertos pelo contrato de seguro são limitados, não havendo qualquer ofensa ao Código de Defesa do Consumidor no conteúdo da cláusula que limita os riscos assumidos. A propósito: “APELAÇÕES. CONSUMIDOR. AÇÃO DE CONHECIMENTO. CONTRATO DE SEGURO DE PESSOA. COBERTURA EXCLUSIVA PARA ACIDENTE PESSOAL. FALECIMENTO DO SEGURADO. NÃO ENQUADRAMENTO DO EVENTO NO CONCEITO DE ACIDENTE PESSOAL. NEGATIVA DE COBERTURA SECURITÁRIA. CABIMENTO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. PRÊMIO. COBRANÇA PELA SEGURADORA APÓS O FALECIMENTO DO SEGURADO. DEVOLUÇÃO SIMPLES. SUCUMBÊNICA MÍNIMA DAS RÉS. RECURSO DOS AUTORES CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO DAS RÉS CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Trata-se de recursos de apelação interpostos pelos réus e pelos autores contra sentença que, nos autos da ação de conhecimento, julgou parcialmente procedentes os pedidos deduzidos na petição inicial, para: ‘1. DECLARAR a abusividade, de ofício, do contrato de seguro que exclui a cobertura de pagamento em casos de pandemia, aplicando a abusividade apenas para o caso de COVID-19. 2. CONDENAR as requeridas, de forma solidária [pertencente ao mesmo grupo econômico] ao pagamento de R$ 518.415,19 [quinhentos e dezoito mil, quatrocentos e quinze reais e dezenove centavos], corrigido monetariamente conforme INPC desde a assinatura da apólice, e ainda, com incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação; 3. CONDENAR as requeridas, de forma solidária [pertencente ao mesmo grupo econômico] ao pagamento de R$ 445,03 [quatrocentos e quarenta e cinco reais e três centavos] a título de repetição simples do indébito, corrigido monetariamente conforme INPC desde o desconto, e ainda, com incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação’. 2. No recurso interposto pelas rés, discute-se a viabilidade de pagamento da indenização securitária aos herdeiros do segurado. No recurso da parte autora, controverte-se acerca da possibilidade de devolução em dobro dos valores cobrados, pela seguradora, a título de prêmio após o falecimento do segurado, bem como acerca da possibilidade de condenação das rés ao pagamento de indenização por dano moral. 3. Nos termos do art. 757 do Código Civil, ‘pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados’. Assim, a seguradora se obriga a garantir somente riscos predeterminados, de maneira que é possível a exclusão de certos riscos, sem que tal fato descaracterize o contrato de seguro ou configure enriquecimento ilícito da seguradora. 4. Impende registrar que o contrato de seguro é fundado no risco, na mutualidade e na boa-fé, que constituem seus elementos essenciais. Especificamente em relação ao risco, este se relaciona com os fatos e as situações da vida real que causam probabilidade de dano e com as características pessoais de cada um, aferidas no perfil do segurado e, ao fim e ao cabo, do próprio grupo segurável. 5. Na espécie, é incontroverso que o segurado, quando em vida, contratou dois seguros com cobertura exclusiva para morte ou invalidez permanente decorrentes de acidente pessoal. O produto securitário ‘ABS Total Premiável Bradesco’ foi contratado em 4/7/2018 e deu origem às apólices n. 18308037 e 19211049. 6. Em 10/6/2021, o segurado faleceu em razão de ‘Morte Súbita, Bacteremia, Pneumonia Viral, Doença Pulmonar Obstrutiva; Crônica, Covid-19 e Diabetes Mellitus’ (sic), conforme atesta a certidão de óbito de ID 30581293. 7. Como observado, é certo que a causa da morte do segurado não se encontra albergada pelo conceito de acidente pessoal constante da cláusula 3a do contrato de seguro, tampouco pelo art. 5º, inciso I, da Resolução/CNSP n. 117/2004, por não se tratar de evento com data caracterizada, exclusivo e diretamente externo, súbito, involuntário, violento. 8. Aliás, o contrato, de forma destacada, expressamente excluiu do conceito de acidente pessoal a morte ou invalidez decorrente de ‘doenças, incluídas as profissionais, quaisquer que sejam suas causas’, conforme cláusula 3a, item 1.2, alínea a, das Condições Gerais do seguro contratado, cuja redação vai ao encontro do que prevê o art. 5º, inciso I, alínea ‘b.1’, da Resolução/CNSP n.º 117/2004. 9. Cumpre anotar que é assente na jurisprudência do c. STJ que ‘não se mostra recomendável eventual interpretação elastecida do risco assumido no qual se baseia o cálculo do prêmio, notadamente quando não vislumbrada quebra do dever de boa-fé contratual nem deficiência informacional na relação havida entre estipulante e seguradora’ (AgInt no REsp n.º 1877051/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/09/2021, DJe 27/09/2021). 10. Assim, à míngua de verificação de acidente pessoal na hipótese, não se afigura viável conferir ao contrato de seguro em análise interpretação que promova uma ampliação dos riscos assumidos pela seguradora, o que resultaria em reflexos inevitáveis ao negócio jurídico securitário, a exemplo do aumento do índice de sinistralidade, com consequências inevitáveis na precificação do serviço e, ainda, oneração dos custos de acesso ao produto pelos demais consumidores. Cabível, portanto, a reforma da r. sentença, para julgar improcedente o pedido de cobrança de indenização securitária formulado pelos herdeiros do segurado na petição inicial. 11. Avançando, se legítima a negativa de cobertura securitária pela seguradora, não há falar em prática de ato ilícito e, portanto, em indenização dos autores, herdeiros do segurado, por supostos danos morais decorrentes de tal fato. 12. Por outro lado, a r. sentença não merece reforma no que diz respeito à devolução dos valores cobrados pela seguradora a título de prêmio após o falecimento do segurado. Isso porque, como bem pontuado pelo magistrado sentenciante, configura engano justificável, nos moldes do art. 42, parágrafo único, do CDC, a cobrança, pela seguradora, do prêmio securitário no período compreendido entre o falecimento do segurado e a comunicação formal de sua morte. Assim, a devolução dos prêmios cobrados pela seguradora nesse período deve ocorrer de forma simples. 13. O art. 86, parágrafo único, do CPC, dispõe que, se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários. No aspecto, pondere-se que, dos pedidos deduzidos na petição inicial (ID 30581288), a saber, de cobrança do seguro contratado, de reparação por danos morais e de restituição em dobro dos valores cobrados a título de prêmio pela seguradora, a parte autora logrou êxito, de forma parcial, apenas em relação a este último, diante da condenação das rés à devolução dos valores referentes ao prêmio na modalidade simples. 14. Dessa forma, observada a sucumbência mínima das rés, revela-se viável que a parte autora seja condenada a custear integralmente as verbas sucumbenciais, nos moldes do art. 86, parágrafo único, do CPC. 15. Recurso da autora conhecido e desprovido. Recurso das rés conhecido e parcialmente provido.” (Acórdão 1393108, 07006336020218070002, Relator: SANDRA REVES, 2a Turma Cível, data de julgamento: 9/12/2021, publicado no PJe: 22/1/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada) No mesmo sentido, confira-se: “Seguro de vida. Ação de cobrança. Morte da segurada e recusa da seguradora ao pagamento da indenização. Sinistro não coberto pela apólice. Ação julgada improcedente. Contratação de cobertura para morte e invalidez decorrentes de acidente. Seguradora que faleceu em razão de complicações oriundas da Covid-19. Não enquadramento como hipótese de morte acidental. Limites do sinistro segurado constantes do contrato, não sendo oponíveis à seguradora os riscos não ajustados. Indenização indevida. Sentença mantida. Gratuidade processual indeferida. Recurso desprovido, com majoração da verba honorária. De início, pleiteiam os apelantes a concessão da gratuidade processual em sede recursal. Todavia, diante do recolhimento das custas iniciais, cabia aos interessados a exibição de elementos aptos a demonstrar, de forma objetiva, a alteração de sua situação econômica, providência não observada na hipótese, restando indeferido, portanto, o benefício perseguido. Compete aos interessados, assim, o recolhimento do preparo recursal, no prazo de dez dias, a contar da publicação do acórdão, sob pena de inscrição na dívida ativa. No mais, a cobertura contratada abrange apenas morte e invalidez decorrentes de acidente, não englobando o sinistro que vitimou a segurada, oriundo de complicações decorrentes da Covid-19. De tal modo, não há cobertura para o sinistro em discussão, inexistindo causa suficiente a justificar o pagamento de indenização securitária. A interpretação do contrato é estrita, não sendo oponíveis à seguradora os riscos que excedam aos contratados e que nortearam o cálculo do prêmio pago pela contratante.” (TJ-SP – AC: 1005769-32.2021.8.26.0132 SP, Relator: KIOITSI CHICUTA, Data de Julgamento: 23/05/2022, 32a Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 23/05/2022) Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial e JULGO EXTINTO O PROCESSO, COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, nos termos do artigo 487, I, do CPC. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor atribuído à causa, e fica suspensa a exigibilidade, nos termos do artigo 98, § 3º, do Código de Processo Civil. Considerando que o Código de Processo Civil de 2015 suprimiu o Juízo de admissibilidade dos recursos realizado pelo primeiro grau, sem necessidade de nova conclusão, exceto na hipótese de embargos de declaração, em sendo interposta a apelação, intime-se o apelado para apresentar contrarrazões, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias (§ 1º, do art. 1.010, NCPC). Interposta a apelação, retornem-me os autos conclusos para Juízo de retratação (art. 485, § 7º, do CPC). Na hipótese de sobrevir apelação adesiva, no mesmo lapso, intime-se o recorrido adesivo para apresentar contrarrazões em 15 (quinze) dias (§ 2º, do art. 1.010, NCPC). Cumpridas as diligências legais, encaminhe-se ao e. Tribunal de Justiça. Transitado em julgado, arquivem-se. Publique-se e intimem-se. PARNAÍBA-PI, 27 de maio de 2025. HELIOMAR RIOS FERREIRA Juiz(a) de Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Parnaíba

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Banco Mercantil Do Brasil Sa e outros x Banco Mercantil Do Brasil Sa e outros

ID: 331027702

Tribunal: TJMT Órgão: Terceira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1026326-51.2024.8.11.0003

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA LUIZA MUNIZ

Polo Passivo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA LUIZA MUNIZ

Acórdão

Advogados:

IGOR MACIEL ANTUNES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

CLEUZENI MUNIZ

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1026326-51.2024.8.11.0003 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários, Indenização por Dano Mate… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1026326-51.2024.8.11.0003 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários, Indenização por Dano Material, Indenização por Dano Moral] Relator: Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Turma Julgadora: [DES(A). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, DES(A). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, DES(A). DIRCEU DOS SANTOS] Parte(s): [LUIZA MUNIZ - CPF: 207.408.671-72 (APELADO), CLEUZENI MUNIZ - CPF: 421.539.991-20 (ADVOGADO), BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA - CNPJ: 17.184.037/0412-23 (APELANTE), IGOR MACIEL ANTUNES - CPF: 861.226.226-72 (ADVOGADO), LUIZA MUNIZ - CPF: 207.408.671-72 (APELANTE), CLEUZENI MUNIZ - CPF: 421.539.991-20 (ADVOGADO), BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA - CNPJ: 17.184.037/0412-23 (APELADO), IGOR MACIEL ANTUNES - CPF: 861.226.226-72 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU PARCIALMENTE O RECURSO. E M E N T A DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. FRAUDE EM CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO E TRANSFERÊNCIA VIA PIX. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO. MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RECURSO DO BANCO DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelações cíveis interpostas contra sentença que julgou parcialmente procedente ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos materiais e morais, proposta por consumidora que alegou fraude em contratação de empréstimos e transferência bancária não autorizada. A sentença declarou a inexistência da relação contratual, condenou o banco ao pagamento de indenização por dano material e moral, além de custas e honorários. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) saber se a instituição financeira pode ser responsabilizada por contratação fraudulenta realizada por terceiro, no âmbito de sua plataforma digital; e (ii) saber se o valor fixado a título de indenização por danos morais atende aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade diante da conduta e dos danos experimentados pela autora. III. RAZÕES DE DECIDIR A responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, inclusive quanto a fraudes praticadas por terceiros em ambiente bancário, conforme Súmula 479 do STJ. O banco não comprovou fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora, não se desincumbindo do ônus probatório nos termos do art. 373, II, do CPC. Comprovada a inexistência de autorização da consumidora para as operações, reconhece-se a falha na prestação do serviço. A contratação fraudulenta por terceiro, sem a adoção de mecanismos eficazes de segurança pela instituição bancária, constitui defeito do serviço prestado. A indenização por danos morais deve ser adequada à extensão do dano, à capacidade econômica do ofensor e ao caráter pedagógico da medida, sendo majorado o valor fixado na sentença. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso do banco desprovido. Recurso da autora parcialmente provido para majorar a indenização por dano moral. Tese de julgamento:1. A instituição financeira responde objetivamente pelos danos decorrentes de contratação fraudulenta realizada por terceiro, por se tratar de fortuito interno. 2. A indenização por dano moral deve observar os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, podendo ser majorada em caso de conduta gravemente lesiva ao consumidor.”. R E L A T Ó R I O Trata-se de recursos de apelação interpostos contra r. sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis, que nos ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por dano material e moral, ajuizada por Luzia Muniz e Banco Mercantil, julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na inicial para declarar a inexistência da contratação dos empréstimos e do cartão consignado objeto da demanda, bem como dos débitos deles decorrentes. Condenou ainda o banco ao pagamento de R$ 4.735,07, a título de danos materiais, com correção monetária a partir da sentença e juros de mora desde o ajuizamento da ação, e ao pagamento de R$ 5.000,00 por dano moral, além das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação. Em suas razões recursais, o Banco Mercantil do Brasil S.A. sustenta, em síntese, a inexistência de falha na prestação do serviço, atribuindo a responsabilidade exclusiva à vítima e alegando a ocorrência de fortuito externo. Afirma, ainda, a inexistência de responsabilidade objetiva da instituição financeira. Defende a improcedência do pedido de indenização por dano moral, por entender não haver comprovação de abalo relevante. Subsidiariamente, requer a redução do valor arbitrado a título de indenização moral. Por fim, impugna a forma de restituição dos valores, pleiteando que, caso mantida a condenação, esta ocorra de forma simples, sob o argumento de ausência de má-fé. Por sua vez, a autora, igualmente na qualidade de apelante, pretendendo a majoração do valor da indenização por dano moral, sob o argumento de que a quantia fixada não guarda proporcionalidade com a gravidade do dano sofrido, sobretudo considerando sua condição de aposentada, portadora de comorbidades, que ficou por dois meses com apenas R$ 300,00 mensais à disposição para custeio de sua subsistência e tratamento de saúde. Ambos apresentaram contrarrazões (id. 291785904 e 291785905, respectivamente), pugnando pelo desprovimento do recurso apresentado pela parte adversa. É o relatório. Inclua-se em pauta. Cuiabá, 16 de julho de 2025. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Relator V O T O R E L A T O R Na origem, Luzia Muniz propôs ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por dano material e moral, em desfavor do Banco Mercantil S.A., alegando que foi vítima de fraude realizada por terceiros, que resultou na contratação não autorizada de dois empréstimos, nos valores de R$ 2.240,57 e R$ 496,76 em 27 de agosto de 2024, bem como na transferência via Pix de R$ 4.736,07 para uma terceira pessoa identificada como Julia Moura Ferreira, perfazendo um total de R$ 8.950,00. Afirmou que não realizou tais operações, tampouco autorizado os lançamentos, tendo, inclusive, registrado boletim de ocorrência. Razão pela qual ajuizou a presente demanda. Após a instrução processual, o douto magistrado a quo julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na inicial para declarar a inexistência da contratação dos empréstimos e do cartão consignado objeto da demanda, bem como dos débitos deles decorrentes. Condenou ainda o banco ao pagamento de R$ 4.735,07, a título de danos materiais, com correção monetária a partir da sentença e juros de mora desde o ajuizamento da ação, e ao pagamento de R$ 5.000,00 por dano moral, além das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação. Passo à análise conjunta dos recursos, em razão da conexão entre as matérias suscitadas. Inicialmente, cumpre destacar que é pacífico nos Tribunais que as instituições bancárias devem observar os ditames consumeristas, estando a matéria, inclusive, consolidada na Súmula 297 do STJ. Nesse contexto, a aplicação do art. 14 do CDC impõe a responsabilidade objetiva ao fornecedor pelos danos causados ao consumidor em decorrência de falha na prestação do serviço. A jurisprudência é igualmente uníssona ao reconhecer a responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fortuitos internos, conforme dispõe a Súmula 479 do STJ: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.". Destarte, o banco não se desincumbiu do ônus de comprovar fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito da autora, consoante o disposto no art. 373, inciso II, do CPC, impondo-se, assim, a declaração de inexistência da relação jurídica supostamente firmada entre as partes, sobretudo diante da constatação de fraude nas contratações e da inequívoca falha na prestação do serviço bancário. Nesse sentido, acertadamente decidiu o douto magistrado: “Compulsando o feito, constata-se que restou incontroverso o fato de que a parte autora enfrentou a contratação de financiamento e transferência de valores sem sua anuência. Nota-se pela narrativa da defesa que, embora o banco defenda o procedimento adotado para a contratação dos serviços e a segurança adotada nas movimentações bancárias, restou evidenciada a irregularidade na contratação dos valores e transferências. Ademais, a parte demandada deixou de juntar documentos suficientes para trazer evidências aos seus argumentos, há que se concluir que os referidos créditos objetos dos autos não foram contratados pela parte autora, mormente diante da ausência de assinatura em contratos. No presente caso, em que o consumidor nega que assinou contrato de empréstimos, não vejo como concluir que assinatura pertença ao autor, considerando ser impossível que se produza prova negativa, ou seja, que comprove que não assinou referido documento. Desta forma, entendo que há ilegalidade na realização da contratação, das transferências e do desconto na conta da Requerente, uma vez que não há elementos mínimos de provas a corroborar que a instituição financeira cumpriu as exigências legais para tornar suas condutas lícitas, como informações claras ao consumidor. (...) A parte autora, inclusive, procedeu com a abertura de boletim de ocorrência, conforme documentos de Id. 171912658 e Id. 171912660. Nestes termos, manifesta a desinformação do consumidor acerca do tipo de contrato entabulado, observo afronta ao art. 6º, III, do CDC. (...) O contrato é, pois, nulo, sendo indevidos os descontos efetuados nos proventos da Autora. Nesse passo, são verossimilhantes as alegações do autor, no sentido que não celebrou o contrato, sendo certo que a fraude perpetrada pela ação de terceiro não exclui a responsabilidade objetiva da parte ré-fornecedora, considerando a natureza de seus negócios, em razão dos quais se constitui em caso fortuito interno, ou seja, ocorrido no âmbito de sua atuação e controle, conforme preceituam os verbetes sumulares nºs 94 i , desta Corte e 479, do C.STJ 1 Tal anotação se faz importante, vez que, tratando-se de relação de consumo, incumbe ao polo passivo elidir, satisfatoriamente, o fato constitutivo do direito deduzido na inicial, nos moldes do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil combinado com o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Desta forma, se a instituição bancária não dispõe de prova documental apta a demonstrar que foi a consumidora quem efetivamente procedeu a contratação de empréstimo, a única conclusão possível é a de que o autor foi vítima de golpe. Note-se que os sistemas das instituições financeiras podem ser seguros, mas isto não significa serem infalíveis. Portanto, vale repetir que não há documento que comprove a efetiva realização da contratação pela consumidora, o que seria difícil de explicar ante a alegação de total segurança pela instituição bancária. Nestes termos, a única conclusão possível é a de que houve, de forma fraudulenta, a contratação de empréstimo e transferência, por um terceiro fraudador, o que, por si só, denota evidente insegurança e notório defeito dos serviços.” (id. 291785897). Assim, alegação de culpa exclusiva da vítima ou fortuito externo não encontra guarida nos autos, porquanto o banco apelante não comprovou qualquer conduta negligente por parte da autora, tampouco trouxe aos autos elementos que afastassem o nexo causal entre a falha do serviço prestado e o prejuízo experimentado. Avançando na resolução da celeuma, verificada e inexistência do débito, ante a contratação do empréstimo mediante fraude, passa-se a verificar se há configuração de dano extrapatrimonial. É cediço que para configurar a responsabilidade civil por dano causado, necessário se faz a verificação do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado danoso. No caso vertente, o nexo de causalidade pauta-se na ligação entre a má prestação de serviço pela instituição financeira, configurada na fragilidade do seu sistema, ante a não averiguação da legitimidade dos dados da parte autora, via que se mostra absolutamente insegura facilitando negociação mediante fraude e os transtornos gerados em decorrência dessa conduta, como os descontos indevidos realizados no seu benefício. Destarte, se retirarmos a conduta imputada como causadora do dano, certo que este desapareceria, ensejando concluir pela existência do elo entre a conduta do banco e o dano sofrido pela autora. Portanto, o dever de indenizar independe da existência de culpa, bastando à configuração do nexo causal e do resultado danoso já configurado. Assim, há de se concluir pela responsabilidade do Banco quanto ao dano sofrido pela parte autora, em razão de não ter sido diligente no momento de firmar os contratos de empréstimos consignado e a movimentação bancária através do pix, sem assegurar a legalidade da transação. A propósito: “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – DESCONTOS EM CONTA CORRENTE – AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DA AUTORA – CONTRATO DE SEGURO NÃO RECONHECIDO – ILEGITIMIDADE PASSIVA – ARGUIÇÃO INFUNDADA –DEVER DE CAUTELA –RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – PRELIMINAR REJEITADA – CONTRATAÇÃO NÃO COMPROVADA – ABATIMENTOS INDEVIDOS – DANO MORAL CONFIGURADO – REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO – INVIABILIDADE – AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. O Código de Defesa do Consumidor (arts. 7º e 34) estabelece a responsabilidade solidária de todos aqueles que integram a cadeia de negócios do produto fornecido ou serviço contratado. É evidente a legitimidade passiva do Banco que autoriza a realização de descontos de contrato de seguro em conta-corrente sem se assegurar da legalidade da transação. As instituições financeiras respondem objetivamente por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula 479 do STJ). Não demonstrada a má-fé do credor, deve ser afastada a condenação à repetição em dobro do indébito.” (RAC n. 1005769-34.2021.8.11.0040, 4ª Câm. Dir. Privado. Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 14.09.22) No mais, o dano moral atinge os atributos da personalidade humana, prejudica a paz espiritual, os sentimentos, a convivência social e, no mais, a saúde psíquica do ofendido, tudo claramente evidente no caso vertente, vez que não se olvide que a contratação fraudulenta com o uso de dados pessoais do consumidor lhe acarretou abalo psíquico. Logo, há de se concluir pela responsabilidade da instituição bancária quanto ao dano sofrido pelo autor, em razão do erro que cometeu. Nesse contexto, passando a análise do quantum indenizatório, objeto de insurgência de ambos os recorrentes, é sabido que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, incisos V e X, assegurou a indenização pelo dano material ou moral, porém, o que se vê é a grande dificuldade em se fixar o valor afeto à reparação moral, tendo em vista ser de natureza subjetiva, não havendo valores pré-estabelecidos para cada caso. Correto é que a indenização decorrente de dano moral deve ser feita caso a caso, com bom senso e moderação, respeitando um patamar razoável, atentando-se à proporcionalidade relacionada ao grau de culpa, as circunstâncias que o envolveram, extensão e repercussão dos danos, capacidade econômica, as características individuais e o conceito social das partes. É de bom alvitre ressaltar que a indenização por dano moral tem o escopo de impor uma penalidade ao ofensor, a ponto de que tenha mais cuidado e disciplina, evitando que a conduta danosa se repita. Feitas tais considerações, entendo que a indenização imposta no ato sentencial no valor de R$ 5.000,00 pelo dano moral, mostra-se insuficiente, devendo ser majorada para R$ 8.000,00, em razão das particularidades do pleito em questão, dos fatos assentados, bem como, observados os princípios da moderação e razoabilidade, atento, ainda, aos recentes julgados pátrios, além do que cumprirá a finalidade de inibir o banco à repetição da falha no serviço, considerando-se a sua capacidade econômica. Deste modo, restaram satisfatoriamente demonstrados os requisitos da reparação civil, decorrente da obrigação de indenizar. No arbitramento do valor do dano moral, leva-se em conta as circunstâncias do caso concreto, as condições das partes, o grau de culpa e, principalmente, a finalidade da reparação do dano moral, que é a de compensar o ocorrido, bem como inibir a conduta abusiva. Deve-se atentar, ainda, para que o quantum não seja meramente simbólico, passível de esvaziar o caráter compensatório da sanção, mas que não seja, também, extremamente gravoso ao ofensor, em consonância com a razoabilidade que se exige. Portanto, por estes termos e amparado nas razões expostas, entendo que a sentença deve ser reformada tão somente para majorar a indenização por dano moral para o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), mantendo-se íntegros os demais termos. Posto isso, conheço dos recursos e NEGO PROVIMENTO, ao recurso do Banco Mercantil do Brasil S.A. e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso interposto por Luiza Muniz. Cuiabá, 16 de julho de 2025. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Relator Data da sessão: Cuiabá-MT, 16/07/2025

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Banco Mercantil Do Brasil Sa e outros x Banco Mercantil Do Brasil Sa e outros

ID: 331027713

Tribunal: TJMT Órgão: Terceira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1026326-51.2024.8.11.0003

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA LUIZA MUNIZ

Polo Passivo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA LUIZA MUNIZ

Acórdão

Advogados:

IGOR MACIEL ANTUNES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

CLEUZENI MUNIZ

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1026326-51.2024.8.11.0003 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários, Indenização por Dano Mate… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1026326-51.2024.8.11.0003 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários, Indenização por Dano Material, Indenização por Dano Moral] Relator: Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Turma Julgadora: [DES(A). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, DES(A). ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, DES(A). DIRCEU DOS SANTOS] Parte(s): [LUIZA MUNIZ - CPF: 207.408.671-72 (APELADO), CLEUZENI MUNIZ - CPF: 421.539.991-20 (ADVOGADO), BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA - CNPJ: 17.184.037/0412-23 (APELANTE), IGOR MACIEL ANTUNES - CPF: 861.226.226-72 (ADVOGADO), LUIZA MUNIZ - CPF: 207.408.671-72 (APELANTE), CLEUZENI MUNIZ - CPF: 421.539.991-20 (ADVOGADO), BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA - CNPJ: 17.184.037/0412-23 (APELADO), IGOR MACIEL ANTUNES - CPF: 861.226.226-72 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU PARCIALMENTE O RECURSO. E M E N T A DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. FRAUDE EM CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO E TRANSFERÊNCIA VIA PIX. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO BANCO. MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RECURSO DO BANCO DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelações cíveis interpostas contra sentença que julgou parcialmente procedente ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos materiais e morais, proposta por consumidora que alegou fraude em contratação de empréstimos e transferência bancária não autorizada. A sentença declarou a inexistência da relação contratual, condenou o banco ao pagamento de indenização por dano material e moral, além de custas e honorários. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) saber se a instituição financeira pode ser responsabilizada por contratação fraudulenta realizada por terceiro, no âmbito de sua plataforma digital; e (ii) saber se o valor fixado a título de indenização por danos morais atende aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade diante da conduta e dos danos experimentados pela autora. III. RAZÕES DE DECIDIR A responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, inclusive quanto a fraudes praticadas por terceiros em ambiente bancário, conforme Súmula 479 do STJ. O banco não comprovou fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora, não se desincumbindo do ônus probatório nos termos do art. 373, II, do CPC. Comprovada a inexistência de autorização da consumidora para as operações, reconhece-se a falha na prestação do serviço. A contratação fraudulenta por terceiro, sem a adoção de mecanismos eficazes de segurança pela instituição bancária, constitui defeito do serviço prestado. A indenização por danos morais deve ser adequada à extensão do dano, à capacidade econômica do ofensor e ao caráter pedagógico da medida, sendo majorado o valor fixado na sentença. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso do banco desprovido. Recurso da autora parcialmente provido para majorar a indenização por dano moral. Tese de julgamento:1. A instituição financeira responde objetivamente pelos danos decorrentes de contratação fraudulenta realizada por terceiro, por se tratar de fortuito interno. 2. A indenização por dano moral deve observar os critérios de razoabilidade e proporcionalidade, podendo ser majorada em caso de conduta gravemente lesiva ao consumidor.”. R E L A T Ó R I O Trata-se de recursos de apelação interpostos contra r. sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Rondonópolis, que nos ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por dano material e moral, ajuizada por Luzia Muniz e Banco Mercantil, julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na inicial para declarar a inexistência da contratação dos empréstimos e do cartão consignado objeto da demanda, bem como dos débitos deles decorrentes. Condenou ainda o banco ao pagamento de R$ 4.735,07, a título de danos materiais, com correção monetária a partir da sentença e juros de mora desde o ajuizamento da ação, e ao pagamento de R$ 5.000,00 por dano moral, além das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação. Em suas razões recursais, o Banco Mercantil do Brasil S.A. sustenta, em síntese, a inexistência de falha na prestação do serviço, atribuindo a responsabilidade exclusiva à vítima e alegando a ocorrência de fortuito externo. Afirma, ainda, a inexistência de responsabilidade objetiva da instituição financeira. Defende a improcedência do pedido de indenização por dano moral, por entender não haver comprovação de abalo relevante. Subsidiariamente, requer a redução do valor arbitrado a título de indenização moral. Por fim, impugna a forma de restituição dos valores, pleiteando que, caso mantida a condenação, esta ocorra de forma simples, sob o argumento de ausência de má-fé. Por sua vez, a autora, igualmente na qualidade de apelante, pretendendo a majoração do valor da indenização por dano moral, sob o argumento de que a quantia fixada não guarda proporcionalidade com a gravidade do dano sofrido, sobretudo considerando sua condição de aposentada, portadora de comorbidades, que ficou por dois meses com apenas R$ 300,00 mensais à disposição para custeio de sua subsistência e tratamento de saúde. Ambos apresentaram contrarrazões (id. 291785904 e 291785905, respectivamente), pugnando pelo desprovimento do recurso apresentado pela parte adversa. É o relatório. Inclua-se em pauta. Cuiabá, 16 de julho de 2025. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Relator V O T O R E L A T O R Na origem, Luzia Muniz propôs ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por dano material e moral, em desfavor do Banco Mercantil S.A., alegando que foi vítima de fraude realizada por terceiros, que resultou na contratação não autorizada de dois empréstimos, nos valores de R$ 2.240,57 e R$ 496,76 em 27 de agosto de 2024, bem como na transferência via Pix de R$ 4.736,07 para uma terceira pessoa identificada como Julia Moura Ferreira, perfazendo um total de R$ 8.950,00. Afirmou que não realizou tais operações, tampouco autorizado os lançamentos, tendo, inclusive, registrado boletim de ocorrência. Razão pela qual ajuizou a presente demanda. Após a instrução processual, o douto magistrado a quo julgou parcialmente procedente os pedidos formulados na inicial para declarar a inexistência da contratação dos empréstimos e do cartão consignado objeto da demanda, bem como dos débitos deles decorrentes. Condenou ainda o banco ao pagamento de R$ 4.735,07, a título de danos materiais, com correção monetária a partir da sentença e juros de mora desde o ajuizamento da ação, e ao pagamento de R$ 5.000,00 por dano moral, além das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação. Passo à análise conjunta dos recursos, em razão da conexão entre as matérias suscitadas. Inicialmente, cumpre destacar que é pacífico nos Tribunais que as instituições bancárias devem observar os ditames consumeristas, estando a matéria, inclusive, consolidada na Súmula 297 do STJ. Nesse contexto, a aplicação do art. 14 do CDC impõe a responsabilidade objetiva ao fornecedor pelos danos causados ao consumidor em decorrência de falha na prestação do serviço. A jurisprudência é igualmente uníssona ao reconhecer a responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fortuitos internos, conforme dispõe a Súmula 479 do STJ: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.". Destarte, o banco não se desincumbiu do ônus de comprovar fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito da autora, consoante o disposto no art. 373, inciso II, do CPC, impondo-se, assim, a declaração de inexistência da relação jurídica supostamente firmada entre as partes, sobretudo diante da constatação de fraude nas contratações e da inequívoca falha na prestação do serviço bancário. Nesse sentido, acertadamente decidiu o douto magistrado: “Compulsando o feito, constata-se que restou incontroverso o fato de que a parte autora enfrentou a contratação de financiamento e transferência de valores sem sua anuência. Nota-se pela narrativa da defesa que, embora o banco defenda o procedimento adotado para a contratação dos serviços e a segurança adotada nas movimentações bancárias, restou evidenciada a irregularidade na contratação dos valores e transferências. Ademais, a parte demandada deixou de juntar documentos suficientes para trazer evidências aos seus argumentos, há que se concluir que os referidos créditos objetos dos autos não foram contratados pela parte autora, mormente diante da ausência de assinatura em contratos. No presente caso, em que o consumidor nega que assinou contrato de empréstimos, não vejo como concluir que assinatura pertença ao autor, considerando ser impossível que se produza prova negativa, ou seja, que comprove que não assinou referido documento. Desta forma, entendo que há ilegalidade na realização da contratação, das transferências e do desconto na conta da Requerente, uma vez que não há elementos mínimos de provas a corroborar que a instituição financeira cumpriu as exigências legais para tornar suas condutas lícitas, como informações claras ao consumidor. (...) A parte autora, inclusive, procedeu com a abertura de boletim de ocorrência, conforme documentos de Id. 171912658 e Id. 171912660. Nestes termos, manifesta a desinformação do consumidor acerca do tipo de contrato entabulado, observo afronta ao art. 6º, III, do CDC. (...) O contrato é, pois, nulo, sendo indevidos os descontos efetuados nos proventos da Autora. Nesse passo, são verossimilhantes as alegações do autor, no sentido que não celebrou o contrato, sendo certo que a fraude perpetrada pela ação de terceiro não exclui a responsabilidade objetiva da parte ré-fornecedora, considerando a natureza de seus negócios, em razão dos quais se constitui em caso fortuito interno, ou seja, ocorrido no âmbito de sua atuação e controle, conforme preceituam os verbetes sumulares nºs 94 i , desta Corte e 479, do C.STJ 1 Tal anotação se faz importante, vez que, tratando-se de relação de consumo, incumbe ao polo passivo elidir, satisfatoriamente, o fato constitutivo do direito deduzido na inicial, nos moldes do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil combinado com o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Desta forma, se a instituição bancária não dispõe de prova documental apta a demonstrar que foi a consumidora quem efetivamente procedeu a contratação de empréstimo, a única conclusão possível é a de que o autor foi vítima de golpe. Note-se que os sistemas das instituições financeiras podem ser seguros, mas isto não significa serem infalíveis. Portanto, vale repetir que não há documento que comprove a efetiva realização da contratação pela consumidora, o que seria difícil de explicar ante a alegação de total segurança pela instituição bancária. Nestes termos, a única conclusão possível é a de que houve, de forma fraudulenta, a contratação de empréstimo e transferência, por um terceiro fraudador, o que, por si só, denota evidente insegurança e notório defeito dos serviços.” (id. 291785897). Assim, alegação de culpa exclusiva da vítima ou fortuito externo não encontra guarida nos autos, porquanto o banco apelante não comprovou qualquer conduta negligente por parte da autora, tampouco trouxe aos autos elementos que afastassem o nexo causal entre a falha do serviço prestado e o prejuízo experimentado. Avançando na resolução da celeuma, verificada e inexistência do débito, ante a contratação do empréstimo mediante fraude, passa-se a verificar se há configuração de dano extrapatrimonial. É cediço que para configurar a responsabilidade civil por dano causado, necessário se faz a verificação do nexo de causalidade entre a conduta do agente e o resultado danoso. No caso vertente, o nexo de causalidade pauta-se na ligação entre a má prestação de serviço pela instituição financeira, configurada na fragilidade do seu sistema, ante a não averiguação da legitimidade dos dados da parte autora, via que se mostra absolutamente insegura facilitando negociação mediante fraude e os transtornos gerados em decorrência dessa conduta, como os descontos indevidos realizados no seu benefício. Destarte, se retirarmos a conduta imputada como causadora do dano, certo que este desapareceria, ensejando concluir pela existência do elo entre a conduta do banco e o dano sofrido pela autora. Portanto, o dever de indenizar independe da existência de culpa, bastando à configuração do nexo causal e do resultado danoso já configurado. Assim, há de se concluir pela responsabilidade do Banco quanto ao dano sofrido pela parte autora, em razão de não ter sido diligente no momento de firmar os contratos de empréstimos consignado e a movimentação bancária através do pix, sem assegurar a legalidade da transação. A propósito: “APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – DESCONTOS EM CONTA CORRENTE – AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DA AUTORA – CONTRATO DE SEGURO NÃO RECONHECIDO – ILEGITIMIDADE PASSIVA – ARGUIÇÃO INFUNDADA –DEVER DE CAUTELA –RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA – PRELIMINAR REJEITADA – CONTRATAÇÃO NÃO COMPROVADA – ABATIMENTOS INDEVIDOS – DANO MORAL CONFIGURADO – REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO – INVIABILIDADE – AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. O Código de Defesa do Consumidor (arts. 7º e 34) estabelece a responsabilidade solidária de todos aqueles que integram a cadeia de negócios do produto fornecido ou serviço contratado. É evidente a legitimidade passiva do Banco que autoriza a realização de descontos de contrato de seguro em conta-corrente sem se assegurar da legalidade da transação. As instituições financeiras respondem objetivamente por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (Súmula 479 do STJ). Não demonstrada a má-fé do credor, deve ser afastada a condenação à repetição em dobro do indébito.” (RAC n. 1005769-34.2021.8.11.0040, 4ª Câm. Dir. Privado. Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 14.09.22) No mais, o dano moral atinge os atributos da personalidade humana, prejudica a paz espiritual, os sentimentos, a convivência social e, no mais, a saúde psíquica do ofendido, tudo claramente evidente no caso vertente, vez que não se olvide que a contratação fraudulenta com o uso de dados pessoais do consumidor lhe acarretou abalo psíquico. Logo, há de se concluir pela responsabilidade da instituição bancária quanto ao dano sofrido pelo autor, em razão do erro que cometeu. Nesse contexto, passando a análise do quantum indenizatório, objeto de insurgência de ambos os recorrentes, é sabido que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, incisos V e X, assegurou a indenização pelo dano material ou moral, porém, o que se vê é a grande dificuldade em se fixar o valor afeto à reparação moral, tendo em vista ser de natureza subjetiva, não havendo valores pré-estabelecidos para cada caso. Correto é que a indenização decorrente de dano moral deve ser feita caso a caso, com bom senso e moderação, respeitando um patamar razoável, atentando-se à proporcionalidade relacionada ao grau de culpa, as circunstâncias que o envolveram, extensão e repercussão dos danos, capacidade econômica, as características individuais e o conceito social das partes. É de bom alvitre ressaltar que a indenização por dano moral tem o escopo de impor uma penalidade ao ofensor, a ponto de que tenha mais cuidado e disciplina, evitando que a conduta danosa se repita. Feitas tais considerações, entendo que a indenização imposta no ato sentencial no valor de R$ 5.000,00 pelo dano moral, mostra-se insuficiente, devendo ser majorada para R$ 8.000,00, em razão das particularidades do pleito em questão, dos fatos assentados, bem como, observados os princípios da moderação e razoabilidade, atento, ainda, aos recentes julgados pátrios, além do que cumprirá a finalidade de inibir o banco à repetição da falha no serviço, considerando-se a sua capacidade econômica. Deste modo, restaram satisfatoriamente demonstrados os requisitos da reparação civil, decorrente da obrigação de indenizar. No arbitramento do valor do dano moral, leva-se em conta as circunstâncias do caso concreto, as condições das partes, o grau de culpa e, principalmente, a finalidade da reparação do dano moral, que é a de compensar o ocorrido, bem como inibir a conduta abusiva. Deve-se atentar, ainda, para que o quantum não seja meramente simbólico, passível de esvaziar o caráter compensatório da sanção, mas que não seja, também, extremamente gravoso ao ofensor, em consonância com a razoabilidade que se exige. Portanto, por estes termos e amparado nas razões expostas, entendo que a sentença deve ser reformada tão somente para majorar a indenização por dano moral para o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), mantendo-se íntegros os demais termos. Posto isso, conheço dos recursos e NEGO PROVIMENTO, ao recurso do Banco Mercantil do Brasil S.A. e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso interposto por Luiza Muniz. Cuiabá, 16 de julho de 2025. CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA Relator Data da sessão: Cuiabá-MT, 16/07/2025

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Iolanda Dos Santos Ferreira x Banco Bradesco S.A.

ID: 307317173

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Assis - 1ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1000562-11.2024.8.26.0047

Data de Disponibilização: 25/06/2025

Polo Ativo:

IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S.A.

Intimação

Advogados:

GREGORIO DE OLIVEIRA NEVES JUNIOR

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ALVIN FIGUEIREDO LEITE

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Processo 1000562-11.2024.8.26.0047 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - Iolanda dos Santos Ferreira - Banco Bradesco S.A. - Vistos. Passo ao julgamento conjunto dos processos nº 1000562… Processo 1000562-11.2024.8.26.0047 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - Iolanda dos Santos Ferreira - Banco Bradesco S.A. - Vistos. Passo ao julgamento conjunto dos processos nº 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047, na medida em que se identificou a prática de fragmentação artificial de ações, todas lastreadas em contratos semelhantes contra o mesmo banco, evitando-se assim decisões contraditórias. Feito nº 1000562-11.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123471027485, no valor de R$ 308,77, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 140). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 147/160. No mérito, afirma que o empréstimo foi formalizado mediante contratação telefônica, com uso de computador pessoal da parte autora. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 161/224. Réplica nas fls. 228/247. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fl. 225), houve manifestação das partes nas fls. 248/255 e 259/260 Decisão saneadora de fls. 261/262 deferiu a prova pericial, cujo laudo foi juntado nas fls. 324/368. As partes se manifestaram sobre o laudo nas fls. 372/373 e 374. Vieram conclusos. Feito nº 1000567-33.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123461268433, no valor de R$ 2.581,55, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 148). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 155/184, alegando, preliminarmente, a falta de interesse de agir. No mérito, afirma que o empréstimo de n° 0123461268433 foi formalizado mediante senha da conta corrente e chave de segurança ou token. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 185/348. Réplica nas fls. 353/376. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fls. 349/350), houve manifestação das partes nas fls. 377/384 e 385/386 Decisão saneadora de fls. 387/388 deferiu a prova pericial, cujo laudo foi juntado nas fls. 450/502. As partes se manifestaram sobre o laudo nas fls. 506/508 e 509/510. Vieram conclusos. Feito n° 1000568-18.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123360016123, no valor de R$ 829,20, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 149). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 156/173, alegando, preliminarmente, a falta de interesse de agir. No mérito, afirma a regularidade da contratação do empréstimo consignado de n° 0123360016123. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 174/251. Réplica nas fls. 256/276. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fls. 252/253), houve manifestação das partes nas fls. 277/279 e 280/283. Vieram conclusos. São os relatórios. Fundamento e decido. Em primeiro lugar, reporta-se à Edição do dia 19 de junho de 2024, do Diário da Justiça Eletrônico, Caderno Administrativo, pp. 08/09, em que se publicou o Comunicado CG nº 424/2024, contendo os enunciados aprovados no curso Poderes do Juiz em face da Litigância Predatória, sob coordenação do Desembargador Francisco Eduardo Loureiro, Corregedor Geral da Justiça, com destaque para o Enunciado 6, que assim dispõe: A fragmentação artificial de pretensões em relação a uma mesma obrigação, contrato ou contratos sucessivos configura a prática de abuso de direito processual, justificando a reunião das ações perante o juízo prevento para julgamento conjunto ou a determinação de emenda na primeira ação para a inclusão de todos os pedidos conexos, com a extinção das demais". Nesse sentido, este Juízo, ponderando novamente todos os valores processuais do sistema de justiça envolvidos, bem como os ensinamentos acima expostos, e a prática adotada nesta Comarca, que tem levado à distribuição massiva de processos similares contra a mesma instituição financeira, alterou o entendimento que até este momento adotou para doravante reconhecer a conexão dos processos não julgados e a necessidade de julgamento conjunto, em que se tenham as mesma partes, a mesma pretensão de discussão de validade de contratos de empréstimo e de cartão de crédito na modalidade consignada, como forma de debelar a prática de distribuição de ações com fragmentação artificial e evitando-se decisões contraditórias (art. 55, §3º, do CPC). Dito isso, passa-se a apreciar as preliminares apresentadas nos processos 1000567-33.2024 e 1000568-18.2024. Afasto a preliminar de falta de interesse de agir pela ausência de pretensão resistida arguida no feito n° 1000567-33.2024 e 1000568-18.2024, uma vez que o esgotamento da via administrativa não é requisito essencial de validade para o ajuizamento da presente demanda. Ademais, com a apresentação da contestação pela parte ré, verifica-se que eventual pedido administrativo realizado pelo requerente não seria acolhido pela instituição requerida. Superada a preliminar, o processo comporta julgamento no estado em que se encontra, com base no artigo 355, inciso I, do CPC. Os pedidos dos processos 1000562-11.2024.8.26.0047, 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047 são procedentes. Em primeira análise, no que concerne nos feitos 1000562-11.2024.8.26.0047 e 1000567-33.2024.8.26.0047, vale destacar que o cerne da controvérsia está na negativa da contratação de empréstimos da parte autora junto à parte ré. Sobre a natureza do suposto vínculo jurídico entre as partes não se tem dúvida que incide a normativa do Código Civil, mas deve-se igualmente consignar que incidentes também as normas do CDC, visto que como não há nenhuma indicação de proximidade geográfica ou mesmo pertinência temática específica entre a parte autora e as atividades supostamente exercidas pela entidade ré. De fato, percebe-se que a ré atua sem localidade específica, atraindo aderentes pela oferta de suposta prestação de serviços aos aposentados e pensionista e assim o fazendo se amolda à figura de fornecedor do art. 3º do CDC. Dito isso, concorda-se com a parte autora, visto que não há nos autos comprovação da existência de relação jurídica válida. É que produzida a prova pericial nos feitos 1000562-11.2024.8.26.0047 e 1000567-33.2024.8.26.0047, concluiu o Sr. Perito que não houve a manifestação válida de vontade da parte autora. Nesse sentido, temos a conclusão pericial: Não é possível atribuir a autoria da transação contestada a requerente; e não é possível atestar a legitimidade da transação contestada (fl. 304 - feito n° 1000562-11.2024.8.26.0047 e fl. 490 - feito n° 1000567-33.2024.8.26.0047). Nunca é demais recordar que a relação jurídica ou negócio valido exige, nos termos do art. 104 do Código Civil, partes capazes e livre manifestação da vontade, objeto lícito e a observância à forma legal. Na espécie, não temos nem a comprovação de que houve a manifestação livre da parte e nem a comprovação da forma de filiação, ônus da prova que caberia à parte ré, nos termos do art. 373, inciso II, do CPC, tudo a recomendar que de fato a relação jurídica válida nunca existiu, assim como que os descontos operados no benefício previdenciário são fruto de fraude perpetrada. A constatação de que houve fraude nos descontos no benefício previdenciário leva à conclusão inevitável de que deverá se declarar inexistente a relação jurídica entre as partes, com a devolução dos valores indevidamente descontados da parte autora, todos corrigidos desde a data de cada desconto (Sum 43 do STJ) e com juros de mora a contar do primeiro desconto indevido (Sum 54 do STJ). Mas não é só isso, a devolução deverá se dar em dobro, visto que incidente o regramento do art. 42, parágrafo único, do CDC, na medida em que a fraude perpetrada pela ré naturalmente ofenda ao Princípio da Boa-fé Objetiva, conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça no EREsp 676.608/RS. Em relação ao feito n° 1000568-18.2024, trata-se de demanda em que a parte autora nega conhecimento da contratação firmada com o réu, do empréstimo consignado sob o n° 0123360016123, que vem gerando/gerou descontos em seu benefício previdenciário. A parte ré, por sua vez, em sede de contestação, pede a improcedência da ação, mas não junta aos autos nenhum dos contratos impugnados pela autora. Considerando a inversão do ônus da prova, caberia à ré comprovar as contratações, o que não foi feito, deixando de trazer para os autos os contratos referentes às contratações de empréstimos consignados discutidas neste feito (Tema 1061 do STJ). Inarredável, pois, o reconhecimento de que a narrativa da parte autora é verdadeira quando nega o consentimento na relação jurídica contratual com a parte ré, apontado para a possível intervenção de terceiros fraudadores. A constatação de tal fato configura evidente defeito na prestação do serviço bancário, o que atrai a aplicação do art. 14 do CDC, fazendo surgir a responsabilidade objetiva de indenizar a parte autora dos prejuízos eventualmente existentes. Nesse sentido, temos o enunciado nº 479 da Súmula do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. No mesmo sentido, temos a Jurisprudência do TJSP: APELAÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. DECLARATÓRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SENTENÇA QUE DECLARA A INEXISTÊNCIA DOS CONTRATOS E DETERMINA A RESTITUIÇÃO, EM DOBRO, DOS VALORES DESCONTADOS. DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 5.000,00. 1. OBJETO RECURSAL. Insurgência da parte ré, alegando: (a) regularidade das contratações; (b) ausente a má-fé é inadequada a ordem de devolução em dobro; (c) ausência de danos morais; (d) necessidade de adequação do termo inicial dos juros incidentes nas condenações por danos materiais e morais. 2. VALIDADE DA CONTRATAÇÃO. Afastada. Banco que não se desincumbiu do ônus probatório, considerando que: (a) quanto aos contratos assinados fisicamente, deixou precluir a realização de perícia grafotécnica (CPC/15, art. 429, II); (b) quanto ao contrato assinado eletronicamente, deixou de rebater às impugnações específicas apresentadas pela autora sobre os dados, as informações e o meio de efetivação das avenças questionadas, juntando documentos incapazes de demonstrar a validade das contratações. Aplicação do inciso II do art. 429 do CPC/15. 3. DANOS MORAIS. Configurados. Valor arbitrado em R$ 5.000,00 que não comporta redução, já que adequado à complexidade do caso. Aplicação das Súmulas 362 e 54 do C. STJ. 4. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. A Corte Especial do C. STJ, fixou tese de que a devolução em dobro, prevista no art. 42, do CDC, decorre da boa-fé objetiva (STJ, EAREsp 676.608/RS), mas procedeu a modulação dos seus efeitos, da seguinte forma: a) antes de 30/03/21 é necessária a prova da má-fé do fornecedor; b) após 30/03/21, basta que a conduta do fornecedor seja contrária a boa-fé objetiva (sendo irrelevante o dolo/culpa). A partir desta regra, deve haver a dobra para o contrato 636529491, pois supostamente realizado em julho de 2021, enquanto o indébito deve ser simples para os contratos 622618908 e 600017699, pois não demonstrada a má-fé e supostamente firmados em dezembro de 2019 e em agosto de 2020. 5. CONDENAÇÃO DO BANCO AO PAGAMENTO DAS DESPESAS DO PROCESSO. Adequação da previsão da sentença. Dispositivo condicional, ou seja, a obrigação somente existirá se houver pagamento de tais despesas a cargo do autor. Ausência de interesse recursal reconhecida. 6. PROVIMENTO PARCIAL DA PARTE CONHECIDA DO APELO DO RÉU. (17ª Câmara de Direito Privado, Apelação nº 1005478-50.2024.8.26.0286) Destarte, em face da inexistência de relação jurídica entre as partes, justamente porque ausente o consentimento válido de um dos agentes (art. 104 do CC/02), merece acolhida o pedido da parte autora no sentido de declarar inválido ou inexistente o contrato, procedendo-se o respectivo cancelamento da autorização de desconto no benefício previdenciário e, declarando-se também a ilicitude dos valores descontados pela parte ré, com a consequente devolução deles de forma corrigida, em dobro, porquanto, nos termos do Tema 929 do STJ a devolução em dobro decorre da boa-fé objetiva, sendo irrelevante a comprovação de existência de dolo ou culpa. Inegável, no caso, o fato de a parte ré ter falhado na prestação de serviços em relação à parte autora, atraindo, como já assinalado, a aplicação do disposto no art. 14 do CDC e fazendo surgir o dever de indenizar. Dito isso, passa-se a analisar o pedido de indenização por dano moral. Nesse particular, novamente se tem que o pedido é procedente nos três feitos n° 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047. É que o defeito na prestação do serviço é evidente, como acima consignado. Ademais, observa-se no presente caso que a constatação de descontos na aposentadoria em razão de contrato fraudulento trouxe necessidade da parte autora de se movimentar pessoalmente, saindo de sua rotina, para resolver questões de ordem financeira que não deu causa, tomando-lhe tempo e esforços, como a contratação de advogado, juntada e entrega do documentos etc (Teoria do desvio produtivo), sem perder de vista o tempo que a situação levará para se regularizar, que causa ansiedade e insegurança naturalmente. Não bastasse isso, a parte autora somente percebeu o problema alguns meses após os descontos e sua condição de pessoa simples, titular de benefício previdenciário módico, resulta, por consequência, em desacerto financeiro na medida em que precisará devolver o valor recebido em conta bancária, sendo que talvez sequer possua mais a disponibilidade integral dele, recomendando indenização financeira que ao menos anule esse efeito negativa em suas finanças pessoais. Assim, o valor da compensação financeira pela lesão ao patrimônio imaterial deverá levar na conta, além do dissabor causado por ser vítima da fraude, o embaraço na sua rotina, o gasto de energia para resolver o problema. Vale, contudo, ressalvar que o valor a ser fixado como compensação pelo dano moral deverá ser global, ou seja, deverá se dar por todos os contratos declarados inexistentes, visto que a situação lesiva vivenciada pela parte autora é única e não fragmentada por cada contrato indevido, muito embora a quantidade de contratos possa claramente impactar no quanto de indenização na medida em que aumenta o valor total de descontos no benefício previdenciário. Desta forma, considerando as peculiaridades dos presentes casos, os valores pequenos dos descontos, a quantidade de contratos envolvidos, entendo como razoável que o valor de indenização por dano moral global seja fixado no valor de R$ 5.000,00. Sem mais, passo ao dispositivo. Diante do quanto exposto, com fundamento no art. 487, inciso I, do CPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos dos feitos nº 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047, para: Declarar a inexistência dos contratos de empréstimos consignados de n° 0123471027485 (feito nº 1000562-11.2024), n° 0123461268433 (feito nº 1000567-33.2024) e n° 0123360016123 (feito n° 1000568-18.2024), determinando o cancelamento imediato dos descontos no benefício previdenciário da parte autora, bem como declarar a ilicitude das parcelas já pagas por meio de descontos já realizados; Condenar a parte ré a restituir à parte autora, em dobro, os valores indevidamente descontados do seu benefício previdenciário referidos no item 1 acima, corrigidos desde a data do desconto até o dia 29/08/24 pelo índice INPC e após essa data pelo índice IPCA, bem como acrescido de juros de mora desde a citação, sendo devido o percentual de 1% ao mês até 29/08/24 e após a taxa Selic. Deve-se observar ainda após 29/08/24 o disposto nos parágrafos do art. 406 do Código Civil, conforme redação dada pela Lei nº 14905/24; Condenar a parte ré a pagar à parte autora, a título de indenização por danos morais globais, o valor de R$ 5.000,00, sendo que a quantia deverá ser corrigida desde esta data pelo índice IPCA, bem como acrescido de juros de mora desde a citação, sendo devido o percentual de 1% ao mês até 29/08/24 e após a taxa Selic. Deve-se observar ainda após 29/08/24 o disposto nos parágrafos do art. 406 do Código Civil, conforme redação dada pela Lei nº 14905/24; e, Os valores que forem comprovadamente entregues à parte autora em razão dos contratos referidos no item 1 acima, poderão ser atualizados desde a data da disponibilização e compensados com os valores que exsurgirem das condenações dos itens 2 e 3 desde dispositivo. Considerando a sucumbência recíproca mínima e o princípio da causalidade nos três feitos, condeno a parte ré no pagamento das custas e despesas processuais. Condeno ainda a parte ré no pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência globais e em razão dos três processos, que fixo em 10% dos valores que resultarem das condenações, antes da aplicação do disposto no item 4 do dispositivo. Junte-se cópia desta sentença nos autos do processo n° 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047. Eventual procedimento de cumprimento de sentença deverá ser único para os três feitos agora julgados. Com o Trânsito em Julgado, providencie a z. Serventia os procedimentos previstos nas Normas de Serviços da CGJ para o arquivamento. Nesse particular, adverte-se ao responsável pelo arquivamento que, nos termos do art. 1098 das NSCGJ, deverá verificar se houve o regular recolhimento das custas eventualmente devidas, inclusive no caso de existência de parte beneficiária da gratuidade de justiça (§5º), podendo-se valer das orientações contidas no Comunicado 951/2023. Feita a cobrança por meio de ato ordinatório e não havendo o pagamento no prazo de 60 dias, fica desde já autorizada a expedição de certidão para inscrição do débito na dívida ativa da Fazenda Estadual. P.I.C Assis, 24 de junho de 2025. - ADV: ALVIN FIGUEIREDO LEITE (OAB 178551/SP), GREGORIO DE OLIVEIRA NEVES JUNIOR (OAB 286157/SP)

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Iolanda Dos Santos Ferreira x Banco Bradesco S.A.

ID: 307317158

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Assis - 1ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1000567-33.2024.8.26.0047

Data de Disponibilização: 25/06/2025

Polo Ativo:

IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S.A.

Intimação

Advogados:

GREGORIO DE OLIVEIRA NEVES JUNIOR

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ALVIN FIGUEIREDO LEITE

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1000562-11.2024.8.26.0047 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - Iolanda dos Santos Ferreira - Banco Bradesco S.A. - Vistos. Passo ao julgamento conjunto dos processos nº 1000562… Processo 1000562-11.2024.8.26.0047 - Procedimento Comum Cível - Práticas Abusivas - Iolanda dos Santos Ferreira - Banco Bradesco S.A. - Vistos. Passo ao julgamento conjunto dos processos nº 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047, na medida em que se identificou a prática de fragmentação artificial de ações, todas lastreadas em contratos semelhantes contra o mesmo banco, evitando-se assim decisões contraditórias. Feito nº 1000562-11.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123471027485, no valor de R$ 308,77, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 140). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 147/160. No mérito, afirma que o empréstimo foi formalizado mediante contratação telefônica, com uso de computador pessoal da parte autora. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 161/224. Réplica nas fls. 228/247. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fl. 225), houve manifestação das partes nas fls. 248/255 e 259/260 Decisão saneadora de fls. 261/262 deferiu a prova pericial, cujo laudo foi juntado nas fls. 324/368. As partes se manifestaram sobre o laudo nas fls. 372/373 e 374. Vieram conclusos. Feito nº 1000567-33.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123461268433, no valor de R$ 2.581,55, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 148). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 155/184, alegando, preliminarmente, a falta de interesse de agir. No mérito, afirma que o empréstimo de n° 0123461268433 foi formalizado mediante senha da conta corrente e chave de segurança ou token. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 185/348. Réplica nas fls. 353/376. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fls. 349/350), houve manifestação das partes nas fls. 377/384 e 385/386 Decisão saneadora de fls. 387/388 deferiu a prova pericial, cujo laudo foi juntado nas fls. 450/502. As partes se manifestaram sobre o laudo nas fls. 506/508 e 509/510. Vieram conclusos. Feito n° 1000568-18.2024 IOLANDA DOS SANTOS FERREIRA propôs a ação declaratória de inexistência de débito c.c indenização por dano moral e exibição de documentos em face de BANCO BRADESCO S.A, alegando, em síntese, que é beneficiário do INSS e que não reconhece a contratação de um empréstimo consignado sob n° 0123360016123, no valor de R$ 829,20, com o requerido que ensejou descontos em seu benefício previdenciário. Sustenta não ter contratado o empréstimo. Dessa forma, requer a procedência para declarar a inexistência da contratação do empréstimo, a condenação do réu a restituição em dobro dos valores descontados, bem como ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de dano moral. Juntou procuração e documentos às fls. 24/139. Deferiu-se o benefício da assistência judiciária gratuita à parte autora (fl. 149). Citado, o réu apresentou contestação nas fls. 156/173, alegando, preliminarmente, a falta de interesse de agir. No mérito, afirma a regularidade da contratação do empréstimo consignado de n° 0123360016123. Aduz que o valor foi disponibilizado na conta de titularidade da parte autora. Diante do apresentado, requer a improcedência da ação, a condenação da parte autora ao pagamento das custas e despesas processuais. Juntou procuração e documentos às fls. 174/251. Réplica nas fls. 256/276. Intimadas às partes para indicarem as provas que pretendiam produzir (fls. 252/253), houve manifestação das partes nas fls. 277/279 e 280/283. Vieram conclusos. São os relatórios. Fundamento e decido. Em primeiro lugar, reporta-se à Edição do dia 19 de junho de 2024, do Diário da Justiça Eletrônico, Caderno Administrativo, pp. 08/09, em que se publicou o Comunicado CG nº 424/2024, contendo os enunciados aprovados no curso Poderes do Juiz em face da Litigância Predatória, sob coordenação do Desembargador Francisco Eduardo Loureiro, Corregedor Geral da Justiça, com destaque para o Enunciado 6, que assim dispõe: A fragmentação artificial de pretensões em relação a uma mesma obrigação, contrato ou contratos sucessivos configura a prática de abuso de direito processual, justificando a reunião das ações perante o juízo prevento para julgamento conjunto ou a determinação de emenda na primeira ação para a inclusão de todos os pedidos conexos, com a extinção das demais". Nesse sentido, este Juízo, ponderando novamente todos os valores processuais do sistema de justiça envolvidos, bem como os ensinamentos acima expostos, e a prática adotada nesta Comarca, que tem levado à distribuição massiva de processos similares contra a mesma instituição financeira, alterou o entendimento que até este momento adotou para doravante reconhecer a conexão dos processos não julgados e a necessidade de julgamento conjunto, em que se tenham as mesma partes, a mesma pretensão de discussão de validade de contratos de empréstimo e de cartão de crédito na modalidade consignada, como forma de debelar a prática de distribuição de ações com fragmentação artificial e evitando-se decisões contraditórias (art. 55, §3º, do CPC). Dito isso, passa-se a apreciar as preliminares apresentadas nos processos 1000567-33.2024 e 1000568-18.2024. Afasto a preliminar de falta de interesse de agir pela ausência de pretensão resistida arguida no feito n° 1000567-33.2024 e 1000568-18.2024, uma vez que o esgotamento da via administrativa não é requisito essencial de validade para o ajuizamento da presente demanda. Ademais, com a apresentação da contestação pela parte ré, verifica-se que eventual pedido administrativo realizado pelo requerente não seria acolhido pela instituição requerida. Superada a preliminar, o processo comporta julgamento no estado em que se encontra, com base no artigo 355, inciso I, do CPC. Os pedidos dos processos 1000562-11.2024.8.26.0047, 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047 são procedentes. Em primeira análise, no que concerne nos feitos 1000562-11.2024.8.26.0047 e 1000567-33.2024.8.26.0047, vale destacar que o cerne da controvérsia está na negativa da contratação de empréstimos da parte autora junto à parte ré. Sobre a natureza do suposto vínculo jurídico entre as partes não se tem dúvida que incide a normativa do Código Civil, mas deve-se igualmente consignar que incidentes também as normas do CDC, visto que como não há nenhuma indicação de proximidade geográfica ou mesmo pertinência temática específica entre a parte autora e as atividades supostamente exercidas pela entidade ré. De fato, percebe-se que a ré atua sem localidade específica, atraindo aderentes pela oferta de suposta prestação de serviços aos aposentados e pensionista e assim o fazendo se amolda à figura de fornecedor do art. 3º do CDC. Dito isso, concorda-se com a parte autora, visto que não há nos autos comprovação da existência de relação jurídica válida. É que produzida a prova pericial nos feitos 1000562-11.2024.8.26.0047 e 1000567-33.2024.8.26.0047, concluiu o Sr. Perito que não houve a manifestação válida de vontade da parte autora. Nesse sentido, temos a conclusão pericial: Não é possível atribuir a autoria da transação contestada a requerente; e não é possível atestar a legitimidade da transação contestada (fl. 304 - feito n° 1000562-11.2024.8.26.0047 e fl. 490 - feito n° 1000567-33.2024.8.26.0047). Nunca é demais recordar que a relação jurídica ou negócio valido exige, nos termos do art. 104 do Código Civil, partes capazes e livre manifestação da vontade, objeto lícito e a observância à forma legal. Na espécie, não temos nem a comprovação de que houve a manifestação livre da parte e nem a comprovação da forma de filiação, ônus da prova que caberia à parte ré, nos termos do art. 373, inciso II, do CPC, tudo a recomendar que de fato a relação jurídica válida nunca existiu, assim como que os descontos operados no benefício previdenciário são fruto de fraude perpetrada. A constatação de que houve fraude nos descontos no benefício previdenciário leva à conclusão inevitável de que deverá se declarar inexistente a relação jurídica entre as partes, com a devolução dos valores indevidamente descontados da parte autora, todos corrigidos desde a data de cada desconto (Sum 43 do STJ) e com juros de mora a contar do primeiro desconto indevido (Sum 54 do STJ). Mas não é só isso, a devolução deverá se dar em dobro, visto que incidente o regramento do art. 42, parágrafo único, do CDC, na medida em que a fraude perpetrada pela ré naturalmente ofenda ao Princípio da Boa-fé Objetiva, conforme entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça no EREsp 676.608/RS. Em relação ao feito n° 1000568-18.2024, trata-se de demanda em que a parte autora nega conhecimento da contratação firmada com o réu, do empréstimo consignado sob o n° 0123360016123, que vem gerando/gerou descontos em seu benefício previdenciário. A parte ré, por sua vez, em sede de contestação, pede a improcedência da ação, mas não junta aos autos nenhum dos contratos impugnados pela autora. Considerando a inversão do ônus da prova, caberia à ré comprovar as contratações, o que não foi feito, deixando de trazer para os autos os contratos referentes às contratações de empréstimos consignados discutidas neste feito (Tema 1061 do STJ). Inarredável, pois, o reconhecimento de que a narrativa da parte autora é verdadeira quando nega o consentimento na relação jurídica contratual com a parte ré, apontado para a possível intervenção de terceiros fraudadores. A constatação de tal fato configura evidente defeito na prestação do serviço bancário, o que atrai a aplicação do art. 14 do CDC, fazendo surgir a responsabilidade objetiva de indenizar a parte autora dos prejuízos eventualmente existentes. Nesse sentido, temos o enunciado nº 479 da Súmula do STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. No mesmo sentido, temos a Jurisprudência do TJSP: APELAÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. DECLARATÓRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SENTENÇA QUE DECLARA A INEXISTÊNCIA DOS CONTRATOS E DETERMINA A RESTITUIÇÃO, EM DOBRO, DOS VALORES DESCONTADOS. DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 5.000,00. 1. OBJETO RECURSAL. Insurgência da parte ré, alegando: (a) regularidade das contratações; (b) ausente a má-fé é inadequada a ordem de devolução em dobro; (c) ausência de danos morais; (d) necessidade de adequação do termo inicial dos juros incidentes nas condenações por danos materiais e morais. 2. VALIDADE DA CONTRATAÇÃO. Afastada. Banco que não se desincumbiu do ônus probatório, considerando que: (a) quanto aos contratos assinados fisicamente, deixou precluir a realização de perícia grafotécnica (CPC/15, art. 429, II); (b) quanto ao contrato assinado eletronicamente, deixou de rebater às impugnações específicas apresentadas pela autora sobre os dados, as informações e o meio de efetivação das avenças questionadas, juntando documentos incapazes de demonstrar a validade das contratações. Aplicação do inciso II do art. 429 do CPC/15. 3. DANOS MORAIS. Configurados. Valor arbitrado em R$ 5.000,00 que não comporta redução, já que adequado à complexidade do caso. Aplicação das Súmulas 362 e 54 do C. STJ. 4. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. A Corte Especial do C. STJ, fixou tese de que a devolução em dobro, prevista no art. 42, do CDC, decorre da boa-fé objetiva (STJ, EAREsp 676.608/RS), mas procedeu a modulação dos seus efeitos, da seguinte forma: a) antes de 30/03/21 é necessária a prova da má-fé do fornecedor; b) após 30/03/21, basta que a conduta do fornecedor seja contrária a boa-fé objetiva (sendo irrelevante o dolo/culpa). A partir desta regra, deve haver a dobra para o contrato 636529491, pois supostamente realizado em julho de 2021, enquanto o indébito deve ser simples para os contratos 622618908 e 600017699, pois não demonstrada a má-fé e supostamente firmados em dezembro de 2019 e em agosto de 2020. 5. CONDENAÇÃO DO BANCO AO PAGAMENTO DAS DESPESAS DO PROCESSO. Adequação da previsão da sentença. Dispositivo condicional, ou seja, a obrigação somente existirá se houver pagamento de tais despesas a cargo do autor. Ausência de interesse recursal reconhecida. 6. PROVIMENTO PARCIAL DA PARTE CONHECIDA DO APELO DO RÉU. (17ª Câmara de Direito Privado, Apelação nº 1005478-50.2024.8.26.0286) Destarte, em face da inexistência de relação jurídica entre as partes, justamente porque ausente o consentimento válido de um dos agentes (art. 104 do CC/02), merece acolhida o pedido da parte autora no sentido de declarar inválido ou inexistente o contrato, procedendo-se o respectivo cancelamento da autorização de desconto no benefício previdenciário e, declarando-se também a ilicitude dos valores descontados pela parte ré, com a consequente devolução deles de forma corrigida, em dobro, porquanto, nos termos do Tema 929 do STJ a devolução em dobro decorre da boa-fé objetiva, sendo irrelevante a comprovação de existência de dolo ou culpa. Inegável, no caso, o fato de a parte ré ter falhado na prestação de serviços em relação à parte autora, atraindo, como já assinalado, a aplicação do disposto no art. 14 do CDC e fazendo surgir o dever de indenizar. Dito isso, passa-se a analisar o pedido de indenização por dano moral. Nesse particular, novamente se tem que o pedido é procedente nos três feitos n° 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047. É que o defeito na prestação do serviço é evidente, como acima consignado. Ademais, observa-se no presente caso que a constatação de descontos na aposentadoria em razão de contrato fraudulento trouxe necessidade da parte autora de se movimentar pessoalmente, saindo de sua rotina, para resolver questões de ordem financeira que não deu causa, tomando-lhe tempo e esforços, como a contratação de advogado, juntada e entrega do documentos etc (Teoria do desvio produtivo), sem perder de vista o tempo que a situação levará para se regularizar, que causa ansiedade e insegurança naturalmente. Não bastasse isso, a parte autora somente percebeu o problema alguns meses após os descontos e sua condição de pessoa simples, titular de benefício previdenciário módico, resulta, por consequência, em desacerto financeiro na medida em que precisará devolver o valor recebido em conta bancária, sendo que talvez sequer possua mais a disponibilidade integral dele, recomendando indenização financeira que ao menos anule esse efeito negativa em suas finanças pessoais. Assim, o valor da compensação financeira pela lesão ao patrimônio imaterial deverá levar na conta, além do dissabor causado por ser vítima da fraude, o embaraço na sua rotina, o gasto de energia para resolver o problema. Vale, contudo, ressalvar que o valor a ser fixado como compensação pelo dano moral deverá ser global, ou seja, deverá se dar por todos os contratos declarados inexistentes, visto que a situação lesiva vivenciada pela parte autora é única e não fragmentada por cada contrato indevido, muito embora a quantidade de contratos possa claramente impactar no quanto de indenização na medida em que aumenta o valor total de descontos no benefício previdenciário. Desta forma, considerando as peculiaridades dos presentes casos, os valores pequenos dos descontos, a quantidade de contratos envolvidos, entendo como razoável que o valor de indenização por dano moral global seja fixado no valor de R$ 5.000,00. Sem mais, passo ao dispositivo. Diante do quanto exposto, com fundamento no art. 487, inciso I, do CPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos dos feitos nº 1000562-11.2024.8.26.0047. 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047, para: Declarar a inexistência dos contratos de empréstimos consignados de n° 0123471027485 (feito nº 1000562-11.2024), n° 0123461268433 (feito nº 1000567-33.2024) e n° 0123360016123 (feito n° 1000568-18.2024), determinando o cancelamento imediato dos descontos no benefício previdenciário da parte autora, bem como declarar a ilicitude das parcelas já pagas por meio de descontos já realizados; Condenar a parte ré a restituir à parte autora, em dobro, os valores indevidamente descontados do seu benefício previdenciário referidos no item 1 acima, corrigidos desde a data do desconto até o dia 29/08/24 pelo índice INPC e após essa data pelo índice IPCA, bem como acrescido de juros de mora desde a citação, sendo devido o percentual de 1% ao mês até 29/08/24 e após a taxa Selic. Deve-se observar ainda após 29/08/24 o disposto nos parágrafos do art. 406 do Código Civil, conforme redação dada pela Lei nº 14905/24; Condenar a parte ré a pagar à parte autora, a título de indenização por danos morais globais, o valor de R$ 5.000,00, sendo que a quantia deverá ser corrigida desde esta data pelo índice IPCA, bem como acrescido de juros de mora desde a citação, sendo devido o percentual de 1% ao mês até 29/08/24 e após a taxa Selic. Deve-se observar ainda após 29/08/24 o disposto nos parágrafos do art. 406 do Código Civil, conforme redação dada pela Lei nº 14905/24; e, Os valores que forem comprovadamente entregues à parte autora em razão dos contratos referidos no item 1 acima, poderão ser atualizados desde a data da disponibilização e compensados com os valores que exsurgirem das condenações dos itens 2 e 3 desde dispositivo. Considerando a sucumbência recíproca mínima e o princípio da causalidade nos três feitos, condeno a parte ré no pagamento das custas e despesas processuais. Condeno ainda a parte ré no pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência globais e em razão dos três processos, que fixo em 10% dos valores que resultarem das condenações, antes da aplicação do disposto no item 4 do dispositivo. Junte-se cópia desta sentença nos autos do processo n° 1000567-33.2024.8.26.0047 e nº 1000568-18.2024.8.26.0047. Eventual procedimento de cumprimento de sentença deverá ser único para os três feitos agora julgados. Com o Trânsito em Julgado, providencie a z. Serventia os procedimentos previstos nas Normas de Serviços da CGJ para o arquivamento. Nesse particular, adverte-se ao responsável pelo arquivamento que, nos termos do art. 1098 das NSCGJ, deverá verificar se houve o regular recolhimento das custas eventualmente devidas, inclusive no caso de existência de parte beneficiária da gratuidade de justiça (§5º), podendo-se valer das orientações contidas no Comunicado 951/2023. Feita a cobrança por meio de ato ordinatório e não havendo o pagamento no prazo de 60 dias, fica desde já autorizada a expedição de certidão para inscrição do débito na dívida ativa da Fazenda Estadual. P.I.C Assis, 24 de junho de 2025. - ADV: ALVIN FIGUEIREDO LEITE (OAB 178551/SP), GREGORIO DE OLIVEIRA NEVES JUNIOR (OAB 286157/SP)

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Angelica Pereira Dos Santos x Camila Souza De Paula e outros

ID: 276968801

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Franca - 3ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1005769-97.2022.8.26.0196

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

ANGELICA PEREIRA DOS SANTOS

Polo Passivo:

CAMILA SOUZA DE PAULA WELLINGTON CAMILO NUNES WR EMPREENDIMENTOS IMOBILIáRIOS

Intimação

Advogados:

VANESSA CHECONI MESSIAS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

LUIS ANTONIO GONZAGA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ADV: Luis Antonio Gonzaga (OAB 148696/SP), Vanessa Checoni Messias (OAB 380613/SP) Processo 1005769-97.2022.8.26.0196 - Procedimento Comum Cível - Reqte: Angelica Pereira dos Santos - Reqdo: Wr Empre… ADV: Luis Antonio Gonzaga (OAB 148696/SP), Vanessa Checoni Messias (OAB 380613/SP) Processo 1005769-97.2022.8.26.0196 - Procedimento Comum Cível - Reqte: Angelica Pereira dos Santos - Reqdo: Wr Empreendimentos Imobiliários, Wellington Camilo Nunes, Camila Souza de Paula - A - DO RELATÓRIO. Trata-se de ação declaratória de negócio jurídico e indenização por danos materiais e morais proposta por Angelica Pereira dos Santos em face de Wr Empreendimentos Imobiliários Ltda-ME, Wellington Camilo Nunes e Maurício Ferreira alegando, em síntese, que no ido de 17 de dezembro de 2018 adquiriu dos requeridos, por meio de contrato de compra e venda de lote rural, a unidade de lote de terra rural de n. 11, da quadra n. B; na cidade de Restinga/SP, medindo 1.000 m², pelo valor de R$ 20.000,00 pagos a vista por transferência bancária em favor de Camila Souza de Paula. Algum tempo depois, precisou vender o imóvel, procurou os requeridos para que lhe fosse entregue a documentação para escritura, momento em que constatou que foi vítima de golpe e possível crime de estelionato. Sofreu danos materiais e morais. Assim, busca a anulação do negócio jurídico enfatizado, retornando-se as partes ao status quo ante; indenização por danos materiais de R$ 20.000,00 e indenização por danos morais de R$ 10.0000,00. Atribuiu à causa o valor de R$ 30.000,00. Instruiu a inicial com os documentos de fls. 15 usque 27. Os requeridos não foram localizados para citação pessoal, porquê citados por edital (fls. 229/248). Os requeridos Welligton Camilo Nunes, Camila Souza de Paula e WR Empreendimentos Imobiliários Ltda - Me ofertaram contestação (fls. 229/248), aduziram preliminar de carência de ação por ilegitimidade passiva da requerida Camila Souza de Paula e no mérito sustentaram culpa exclusiva de terceiros, especialmente dos vendedores originários do imóvel objeto do contrato descrito na inicial, Wilson e Dinalva, que arrependeram da venda e proibiram qualquer pessoa de acessar o imóvel negociado. Não praticaram qualquer ato ilícito, o que afasta o dever de indenizar. O requerido Maurício Ferreira teve curador especial nomeado (artigo 72, II, do CPC) e ofertou contestação por negativa geral (fls. 265/267). Houve réplica a fls. 272/277, com juntada de documentos (fls. 278/369). Colheu-se a manifestação da parte contrária (fls. 512/514). Réplica repetida a fls. 526/544, com juntada de documentos (fsl. 545/886). Houve nova manifestação da parte contrária (fls. 892 e 893/895). Audiência de conciliação infrutífera (fls. 907). É o relatório. Decido. B DA MOTIVAÇÃO. Passo ao julgamento no estado em que se encontra, o que fundamento no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil. Da Preliminar. Reporto-me a decisão proferida a fls. 517 item 2, que analisou a preliminar de carência de ação por falta de legitimidade passiva da requerida Camila Souza de Paula. Vejamos: "No mais, determino a exclusão do polo passivo desta ação juntamente no Sistema SAJ/PG5 em relação a Camila Souza de Paula, porque como constou da inicial ela é tão-somente representante legal da Empresa W.R. Empreendimentos Imobiliários. Assim, prejudicada a preliminar de carência de ação por falta de legitimidade passiva aduzida a fls. 230. Cumpra-se a Serventia após a publicação desta decisão e decurso de prazo para eventual recurso." Porquê preclusa a referida decisão, determino à Serventia o seu cumprimento. Do Mérito. A autora pretende a anulação do contrato de compra e venda de lote rural datado de 17 de dezembro de 2018, retornando-se as partes ao status quo ante; indenização por danos materiais de R$ 20.000,00; e, indenização por danos morais de R$ 10.0000,00. Por outro lado, os réus WR Empreendimentos Imobiliários Ltda-ME e Welligton Camilo Nunes admitiu os fatos narrados na inicial, porém, pautaram pela culpa exclusiva de terceiros, especialmente dos vendedores originários do imóvel objeto do contrato descrito na inicial, Wilson e Dinalva, que arrependeram da venda e proibiram qualquer pessoa de acessar o imóvel negociado. Não praticaram qualquer ato ilícito, o que afasta o dever de indenizar. Já o requerido Maurício Ferreira contestou por negativa geral. Pela sistemática de nosso ordenamento processual, os fatos, em realidade, são narrados um a um na petição inicial e assim devem ser impugnados na contestação. O art. 341 do Código de Processo Civil, de modo genérico, estabelece que Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas (...).. A primeira premissa a ser estabelecida, então, é que ao réu incumbe o ônus da impugnação dos fatos postos pela parte autora em sua inicial, sob pena de, não os impugnando, serem eles tidos por verdadeiros, atendidas as restrições feitas pelos três incisos do mencionado dispositivo da lei processual. Tem-se entendido na jurisprudência que as impugnações omitidas em contestação, ainda que posteriormente feitas, são extemporâneas e por isso mesmo há de ser desconsideradas (cf. RT-575/250. JTARS - 47/337). E mais: ainda que haja contestação que impugne os fatos, mas de modo inespecífico, também as terá por corporificada a presunção de veracidade dos fatos afirmados na inicial, porquanto já não se admite em nosso ordenamento a tradicional contestação por negação geral (cf.JTARS - 45/348). Mas não é só: a regra do artigo 341 do Código de Processo Civil é tão forte na atualidade, que não apenas veda a possibilidade de contestação por negação geral, mas também a contestação que se limita a dizer não serem verdadeiros os fatos aduzidos pela parte autora. Afirmar isso e não impugnar são coisas que se equivalerão, mesmo porque não se haverá olvidar que a 'pura e simples negação para o réu carece de eficácia para impedir que se estabeleça a presunção de verdade referida' no indigitado dispositivo. A consequência prática da aplicação dessa regra reside na circunstância de que o fato, `presumido verdadeiro, deixa de ser controvertido. Consequentemente, deixa de ser objeto de prova, visto como só os fatos controvertidos reclamam prova'. Exatamente por esses motivos, no que concerne a fato dessa natureza não impugnado, a 'prova em contrário está preclusa ao réu, pela circunstância mesma de não ter impugnado o fato'. São fatos incontroversos, porque não impugnados e admitidos em contestação (art. 374, incisos II e III, CPC): o negócio jurídico existente entre as partes (documento de fls. 21/23), o pagamento do valor estipulado no contrato de R$ 20.000,00 (documento de fls. 24) e a não entrega dos documentos necessários para realização da escritura definitiva de compra e venda do imóvel objeto do contrato juntado a fls. 21/23. Assim, resta perquirir sobre a culpa pela rescisão contratual e os eventuais danos materiais e morais sofridos bem como valores visados a título de reparação. Como mencionado anteriormente, a relação contratual entre as partes está devidamente comprovada pelo "CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE LOTE RURAL", documento juntado a fls. 21/23, onde consta como vendedora a Empresa W.R. Empreendimentos Imobiliários, representada por Wellington Camilo Nunes, e como compradora a autora Angelica Pereira dos Santos. Tem-se que houve descumprimento contratual por parte da vendedora W.R. Empreendimentos Imobiliários, representada por Wellington Camilo Nunes, que, com o pagamento - leia-se: quitação do contrato - deveria fornecer à compradora-autora os documentos necessários a escrituração e não fez. Tanto é que admite expressamente a impossibilidade de fazer diante da não concretização realizada entre ela (Empresa requerida) e o possíveis proprietários do imóvel que fora negociado à autora, conforme mencionaram a fls. 233: "O objeto é lícito, não obstante existir forte resistência do vendedor Wilson e Dinalva na manutenção da negociação anterior realizada com o Requerido Wellington, objeto de ação própria ainda em curso." (sic e destacado aqui). Tem-se que o imóvel descrito no contrato de fls. 21/23 foi vendido à autora de forma irregular, já que a vendedora não era proprietária do referido bem, tanto que ainda há discussão judicial sobre a propriedade, conforme alegado por ela em contestação. Diante da impossibilidade da vendedora W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda-Me em fornecer à autora a documentação necessária para transferência da propriedade, houve descumprimento contratual por sua culpa exclusiva, impondo a rescisão do contrato e o retorno das partes ao status quo ante, para evitar enriquecimento ilícito de uma das partes frente a outra. Assim, os requeridos W.R. Empreendimentos Imobiliários (na qualidade de vendedora) e Wellington Camilo Nunes (na qualidade de seu representante, já que assinou o contrato de compra e venda) deverão devolver à autora a quantia paga pela aquisição do imóvel no total de R$ 20.000,00, devidamente atualizado pela tabela prática do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o respectivo pagamento (17/12/2018 - documento de fls. 24) e juros legais de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação (artigo 240 do CPC). Por tudo que foi dito anteriormente, tem-se que em decorrência da atitude dos requeridos W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda.-ME e Wellington Camilo Nunes, surge para estes o dever de indenizar os danos morais suportados pela autora, tal como previsto no art. 927 e parágrafo único, do Código Civil, e também pelo fato de que não foram cautelosos e diligentes em cumpri o contrato de compra e venda como foi estipulado de forma livre e consciente entre as partes, principalmente, no tocante ao fornecimento da documentação para transferência da propriedade, acarretando à compradora-autora frustração e aumento de gastos já que teve que dispor de tempo e dinheiro para resolver a questão, que perdura por aproximadamente 04 (quatro) anos, já que mencionou ter procurado os requeridos em junho de 2021 (fls. 04), não refutado por eles (requeridos). Não há se falar em exclusão da responsabilidade pela culpa exclusiva da autora ou em culpa concorrente, pois foram os requeridos que deram causa à lesão. Assim, restou configurada a responsabilidade dos requeridos, merecendo ser ressarcido o dano suportado pela autora. Então, procedendo a convergência dos caracteres consubstanciadores da reparação pelo dano moral, quais sejam, o punitivo, para que o causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa perpetrada e o compensatório para a vítima, que receberá uma soma de dinheiro que lhe proporcione prazeres como contrapartida pelo mal sofrido, fixo a indenização devida pelos requeridos à autora em R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigido na forma prevista na Súmula 362 do Egrégio S.T.J. (a correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento), considerando, para tanto, a frustração na concretização do contrato de compra e venda por culpa exclusiva dos requeridos, a condição econômica da autora, o grau de culpa dos requeridos e a situação econômica destes. Com efeito, A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida; de modo que tampouco signifique enriquecimento despropositado da vítima; mas está também em produzir no agressor, impacto bastante para persuadi-lo a não perpetrar novo atentado. Trata-se então, de uma estimação prudencial, que não dispensa sensibilidade para as coisas da dor e da alegria ou para os estados d'alma humana, e que, destarte, deve ser feita pelo mesmo Juiz, ou, quando não, por outro jurista - inútil por em ação a calculadora do técnico em contas ou em economia. É nesta direção que o citado Brebbia, em sua excelente monografia, aponta elementos a serem levados em conta na fixação da paga: a gravidade objetiva do dano, a personalidade da vítima (situação familiar, social e reputação), gravidade da falta e da culpa, que repercutem na gravidade da lesão e a personalidade (condições) do autor do ilícito. (Essa Inexplicável Indenização Por Dano Moral, Des. Walter Moraes, Repertório IOB de Jurisprudência, nº 23/89, p. 417). Para que nada fique sem resposta, tem-se que em relação ao requerido Maurício Ferreira, os pedidos são improcedentes. É que seu nome não constou do contrato de compra e venda de fls. 21/23, não havendo qualquer documento demonstrando que ele participou da negociação como corretor de imóveis, nos termos alegados na inicial, nem que recebeu qualquer valor a título de serviço de corretagem prestado, cujo ônus da prova competia a autora por ser fato constitutivo de seu direito (artigo 373, I, do CPC). Finalmente, para os fins do artigo 489, § 1º, inciso IV, do CPC, deixo assentado que as demais teses eventualmente não apreciadas não são capazes de infirmar a este Julgador conclusão diferente à acima estabelecida. C- DO DISPOSITIVO. Ante o exposto, JULGO: A) PROCEDENTES os pedidos formulados por Angelica Pereira dos Santos em face de W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda.-ME e Wellington Camilo Nunes declaro rescindido o contrato celebrado entre as partes (documento de fls. 21/23); condeno os requeridos ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de danos materiais à autora, devidamente atualizado pela tabela prática do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o respectivo pagamento (17/12/2018 - documento de fls. 24) e juros legais de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação (artigo 240 do CPC); condeno os requeridos a indenizar à autora pelo importe de R$ 10.000,00 a título de danos morais, corrigido na forma prevista na Súmula 362 do Egrégio S.T.J, acrescido ainda de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a partir desta data; e, por conseguinte, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com resolução de mérito, o que fundamento no art. 487, inciso I, da Lei n. 13.105/15 - CPC. No que pertine aos honorários, efeitos da sucumbência, dispõem os artigos 82, § 2º e 85, ambos do Novo Código de Processo Civil que: A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou" e "honorários ao advogado do vencedor". Assim, diante do princípio da sucumbência, condeno a parte sucumbente (requeridos), ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação devidamente corrigido, o que fundamento no art. 82, par. 2º, do NCPC, observados os critérios constantes do § 2º, incisos I a IV do artigo 85 do mesmo Código. B) IMPROCEDENTES os pedidos formulados por Angelica Pereira dos Santos em face de MAURÍCIO FERREIRA e, por conseguinte, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com resolução de mérito, o que fundamento no art. 487, inciso I, da Lei n. 13.105/15 - CPC. No tocante à sucumbência, dispõe o artigo 82, par. 2º, do Código de Processo Civil que A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou. E o artigo 85 assim dispõe: A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. No caso vertente, em se tratando de sentença declaratória negativa, porque de improcedência dos pedidos, condeno a parte sucumbente (autora) ao pagamento das custas e honorários advocatícios que devem ser fixados consoante dispõe o art. 85, par. 8º, do CPC, considerando as regras previstas no par. 2º do mesmo dispositivo legal. Com base nas normas epigrafadas fixo a verba honorária em 10% (dez por cento) do valor da causa atualizado em favor da parte vencedora (requerido: Maurício Ferreira), cuja satisfação permanecerá suspensa até que permaneça o estado de hipossuficiência da sucumbente, eis que recebeu o os benefícios da assistência judiciária gratuita, conforme art. 98, par. 3º, da Lei 13.105/15 CPC. Não houve recurso da decisão de fls. 517, razão pela qual determino à Serventia o seu cumprimento (decisão de fls. 517 item 2). Providencie-se. Do Recurso. Caso haja recurso de apelação (artigo 1.009 da Lei n. 13.105/15 - CPC), dê-se ciência à parte contrária para, querendo, apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias úteis (artigo 1.010 § 1°, do CPC). O Funcionário deverá cumprir: 1. O artigo 102, incisos V e VI das NSCGJ: Antes da remessa dos autos à instância superior, os escrivães judiciais ou, sob sua supervisão, os escreventes: V - indicarão, obrigatoriamente, na certidão de remessa, a inclusão de mídia(s), ou sua eventual inexistência. (Vide Comunicado CG nº 1181/2017 Vide Comunicado CG nº 1322/2017 Vide Comunicado CG nº 603/2018) e VI. Certificarão o valor do preparo e a quantia efetivamente recolhida com a vinculação da utilização do documento ao número do processo, nos termos do art.1093 das NSCGJ, deixando para apreciação da instância superior eventuais irregularidades. Observação: Para elaboração do cálculo de atualização do valor das custas do preparo, deverá ser observado o COMUNICADO CG 136/2020 (DJE de 22/01/2020 - P. 32): para a elaboração do cálculo de atualização do valor das custas do preparo, conforme Provimento CG nº 01/2020, deverá ser utilizada a planilha TAXA JUDICIÁRIA - PREPARO elaborada pela SPI 3.5.1 - Serviço de Desenvolvimento de Planilhas e Sistemas, disponível em (Intranet Cálculos Judiciais Cálculos Judiciais - Taxa Judiciária Taxa Judiciária) ou diretamente no link https://tjsp.sharepoint.com/sites/Intranet/Paginas/CalculosJudiciais.aspx. 2. Certificar que o processo também não possui nenhuma pendência, conforme artigo 1.275, § 1º das NSCGJ, nos termos do Comunicado CG 01/2020 (DJE de 22.01.2020): Art. 1.275. (...) §1º. O ofício de justiça remeterá o processo à Segunda Instância sem qualquer pendência (juntada de petições, expedientes pendentes de assinatura, certificação de publicações, de recolhimento de custas iniciais e preparo, cadastro atualizado de advogados e outros). 3. Após subam os presentes autos ao E. Tribunal de Justiça de São Paulo, com nossas homenagens e cautelas de estilo. Com o trânsito em julgado, anote-se a extinção e arquivem-se os autos (utilizando a movimentação Cód. 61615 Arquivado Definitivamente), com as cautelas de praxe, devendo o Funcionário certificar nos autos a determinação contida no artigo 1.098 das NSCGJ: Art. 1.098. Os processos findos não poderão ser arquivados sem que o escrivão judicial certifique nos autos estar integralmente paga a taxa judiciária com a respectiva vinculação da guia, os honorários devidos aos órgãos públicos ou entidades conveniadas, a multa prevista no §2º, do art. 77, do Código de Processo Civil e as contribuições, ou sem que faça extrair certidão em que sejam especificadas essas parcelas para fins de inscrição da dívida ativa. P.I.

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Angelica Pereira Dos Santos x Camila Souza De Paula e outros

ID: 277749842

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Franca - 3ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1005769-97.2022.8.26.0196

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

ANGELICA PEREIRA DOS SANTOS

Polo Passivo:

CAMILA SOUZA DE PAULA WELLINGTON CAMILO NUNES WR EMPREENDIMENTOS IMOBILIáRIOS

Intimação

Advogados:

VANESSA CHECONI MESSIAS

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LUIS ANTONIO GONZAGA

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ADV: Luis Antonio Gonzaga (OAB 148696/SP), Vanessa Checoni Messias (OAB 380613/SP) Processo 1005769-97.2022.8.26.0196 - Procedimento Comum Cível - Reqte: Angelica Pereira dos Santos - Reqdo: Wr Empre… ADV: Luis Antonio Gonzaga (OAB 148696/SP), Vanessa Checoni Messias (OAB 380613/SP) Processo 1005769-97.2022.8.26.0196 - Procedimento Comum Cível - Reqte: Angelica Pereira dos Santos - Reqdo: Wr Empreendimentos Imobiliários, Wellington Camilo Nunes, Camila Souza de Paula - A - DO RELATÓRIO. Trata-se de ação declaratória de negócio jurídico e indenização por danos materiais e morais proposta por Angelica Pereira dos Santos em face de Wr Empreendimentos Imobiliários Ltda-ME, Wellington Camilo Nunes e Maurício Ferreira alegando, em síntese, que no ido de 17 de dezembro de 2018 adquiriu dos requeridos, por meio de contrato de compra e venda de lote rural, a unidade de lote de terra rural de n. 11, da quadra n. B; na cidade de Restinga/SP, medindo 1.000 m², pelo valor de R$ 20.000,00 pagos a vista por transferência bancária em favor de Camila Souza de Paula. Algum tempo depois, precisou vender o imóvel, procurou os requeridos para que lhe fosse entregue a documentação para escritura, momento em que constatou que foi vítima de golpe e possível crime de estelionato. Sofreu danos materiais e morais. Assim, busca a anulação do negócio jurídico enfatizado, retornando-se as partes ao status quo ante; indenização por danos materiais de R$ 20.000,00 e indenização por danos morais de R$ 10.0000,00. Atribuiu à causa o valor de R$ 30.000,00. Instruiu a inicial com os documentos de fls. 15 usque 27. Os requeridos não foram localizados para citação pessoal, porquê citados por edital (fls. 229/248). Os requeridos Welligton Camilo Nunes, Camila Souza de Paula e WR Empreendimentos Imobiliários Ltda - Me ofertaram contestação (fls. 229/248), aduziram preliminar de carência de ação por ilegitimidade passiva da requerida Camila Souza de Paula e no mérito sustentaram culpa exclusiva de terceiros, especialmente dos vendedores originários do imóvel objeto do contrato descrito na inicial, Wilson e Dinalva, que arrependeram da venda e proibiram qualquer pessoa de acessar o imóvel negociado. Não praticaram qualquer ato ilícito, o que afasta o dever de indenizar. O requerido Maurício Ferreira teve curador especial nomeado (artigo 72, II, do CPC) e ofertou contestação por negativa geral (fls. 265/267). Houve réplica a fls. 272/277, com juntada de documentos (fls. 278/369). Colheu-se a manifestação da parte contrária (fls. 512/514). Réplica repetida a fls. 526/544, com juntada de documentos (fsl. 545/886). Houve nova manifestação da parte contrária (fls. 892 e 893/895). Audiência de conciliação infrutífera (fls. 907). É o relatório. Decido. B DA MOTIVAÇÃO. Passo ao julgamento no estado em que se encontra, o que fundamento no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil. Da Preliminar. Reporto-me a decisão proferida a fls. 517 item 2, que analisou a preliminar de carência de ação por falta de legitimidade passiva da requerida Camila Souza de Paula. Vejamos: "No mais, determino a exclusão do polo passivo desta ação juntamente no Sistema SAJ/PG5 em relação a Camila Souza de Paula, porque como constou da inicial ela é tão-somente representante legal da Empresa W.R. Empreendimentos Imobiliários. Assim, prejudicada a preliminar de carência de ação por falta de legitimidade passiva aduzida a fls. 230. Cumpra-se a Serventia após a publicação desta decisão e decurso de prazo para eventual recurso." Porquê preclusa a referida decisão, determino à Serventia o seu cumprimento. Do Mérito. A autora pretende a anulação do contrato de compra e venda de lote rural datado de 17 de dezembro de 2018, retornando-se as partes ao status quo ante; indenização por danos materiais de R$ 20.000,00; e, indenização por danos morais de R$ 10.0000,00. Por outro lado, os réus WR Empreendimentos Imobiliários Ltda-ME e Welligton Camilo Nunes admitiu os fatos narrados na inicial, porém, pautaram pela culpa exclusiva de terceiros, especialmente dos vendedores originários do imóvel objeto do contrato descrito na inicial, Wilson e Dinalva, que arrependeram da venda e proibiram qualquer pessoa de acessar o imóvel negociado. Não praticaram qualquer ato ilícito, o que afasta o dever de indenizar. Já o requerido Maurício Ferreira contestou por negativa geral. Pela sistemática de nosso ordenamento processual, os fatos, em realidade, são narrados um a um na petição inicial e assim devem ser impugnados na contestação. O art. 341 do Código de Processo Civil, de modo genérico, estabelece que Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas (...).. A primeira premissa a ser estabelecida, então, é que ao réu incumbe o ônus da impugnação dos fatos postos pela parte autora em sua inicial, sob pena de, não os impugnando, serem eles tidos por verdadeiros, atendidas as restrições feitas pelos três incisos do mencionado dispositivo da lei processual. Tem-se entendido na jurisprudência que as impugnações omitidas em contestação, ainda que posteriormente feitas, são extemporâneas e por isso mesmo há de ser desconsideradas (cf. RT-575/250. JTARS - 47/337). E mais: ainda que haja contestação que impugne os fatos, mas de modo inespecífico, também as terá por corporificada a presunção de veracidade dos fatos afirmados na inicial, porquanto já não se admite em nosso ordenamento a tradicional contestação por negação geral (cf.JTARS - 45/348). Mas não é só: a regra do artigo 341 do Código de Processo Civil é tão forte na atualidade, que não apenas veda a possibilidade de contestação por negação geral, mas também a contestação que se limita a dizer não serem verdadeiros os fatos aduzidos pela parte autora. Afirmar isso e não impugnar são coisas que se equivalerão, mesmo porque não se haverá olvidar que a 'pura e simples negação para o réu carece de eficácia para impedir que se estabeleça a presunção de verdade referida' no indigitado dispositivo. A consequência prática da aplicação dessa regra reside na circunstância de que o fato, `presumido verdadeiro, deixa de ser controvertido. Consequentemente, deixa de ser objeto de prova, visto como só os fatos controvertidos reclamam prova'. Exatamente por esses motivos, no que concerne a fato dessa natureza não impugnado, a 'prova em contrário está preclusa ao réu, pela circunstância mesma de não ter impugnado o fato'. São fatos incontroversos, porque não impugnados e admitidos em contestação (art. 374, incisos II e III, CPC): o negócio jurídico existente entre as partes (documento de fls. 21/23), o pagamento do valor estipulado no contrato de R$ 20.000,00 (documento de fls. 24) e a não entrega dos documentos necessários para realização da escritura definitiva de compra e venda do imóvel objeto do contrato juntado a fls. 21/23. Assim, resta perquirir sobre a culpa pela rescisão contratual e os eventuais danos materiais e morais sofridos bem como valores visados a título de reparação. Como mencionado anteriormente, a relação contratual entre as partes está devidamente comprovada pelo "CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE LOTE RURAL", documento juntado a fls. 21/23, onde consta como vendedora a Empresa W.R. Empreendimentos Imobiliários, representada por Wellington Camilo Nunes, e como compradora a autora Angelica Pereira dos Santos. Tem-se que houve descumprimento contratual por parte da vendedora W.R. Empreendimentos Imobiliários, representada por Wellington Camilo Nunes, que, com o pagamento - leia-se: quitação do contrato - deveria fornecer à compradora-autora os documentos necessários a escrituração e não fez. Tanto é que admite expressamente a impossibilidade de fazer diante da não concretização realizada entre ela (Empresa requerida) e o possíveis proprietários do imóvel que fora negociado à autora, conforme mencionaram a fls. 233: "O objeto é lícito, não obstante existir forte resistência do vendedor Wilson e Dinalva na manutenção da negociação anterior realizada com o Requerido Wellington, objeto de ação própria ainda em curso." (sic e destacado aqui). Tem-se que o imóvel descrito no contrato de fls. 21/23 foi vendido à autora de forma irregular, já que a vendedora não era proprietária do referido bem, tanto que ainda há discussão judicial sobre a propriedade, conforme alegado por ela em contestação. Diante da impossibilidade da vendedora W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda-Me em fornecer à autora a documentação necessária para transferência da propriedade, houve descumprimento contratual por sua culpa exclusiva, impondo a rescisão do contrato e o retorno das partes ao status quo ante, para evitar enriquecimento ilícito de uma das partes frente a outra. Assim, os requeridos W.R. Empreendimentos Imobiliários (na qualidade de vendedora) e Wellington Camilo Nunes (na qualidade de seu representante, já que assinou o contrato de compra e venda) deverão devolver à autora a quantia paga pela aquisição do imóvel no total de R$ 20.000,00, devidamente atualizado pela tabela prática do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o respectivo pagamento (17/12/2018 - documento de fls. 24) e juros legais de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação (artigo 240 do CPC). Por tudo que foi dito anteriormente, tem-se que em decorrência da atitude dos requeridos W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda.-ME e Wellington Camilo Nunes, surge para estes o dever de indenizar os danos morais suportados pela autora, tal como previsto no art. 927 e parágrafo único, do Código Civil, e também pelo fato de que não foram cautelosos e diligentes em cumpri o contrato de compra e venda como foi estipulado de forma livre e consciente entre as partes, principalmente, no tocante ao fornecimento da documentação para transferência da propriedade, acarretando à compradora-autora frustração e aumento de gastos já que teve que dispor de tempo e dinheiro para resolver a questão, que perdura por aproximadamente 04 (quatro) anos, já que mencionou ter procurado os requeridos em junho de 2021 (fls. 04), não refutado por eles (requeridos). Não há se falar em exclusão da responsabilidade pela culpa exclusiva da autora ou em culpa concorrente, pois foram os requeridos que deram causa à lesão. Assim, restou configurada a responsabilidade dos requeridos, merecendo ser ressarcido o dano suportado pela autora. Então, procedendo a convergência dos caracteres consubstanciadores da reparação pelo dano moral, quais sejam, o punitivo, para que o causador do dano, pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa perpetrada e o compensatório para a vítima, que receberá uma soma de dinheiro que lhe proporcione prazeres como contrapartida pelo mal sofrido, fixo a indenização devida pelos requeridos à autora em R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigido na forma prevista na Súmula 362 do Egrégio S.T.J. (a correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento), considerando, para tanto, a frustração na concretização do contrato de compra e venda por culpa exclusiva dos requeridos, a condição econômica da autora, o grau de culpa dos requeridos e a situação econômica destes. Com efeito, A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida; de modo que tampouco signifique enriquecimento despropositado da vítima; mas está também em produzir no agressor, impacto bastante para persuadi-lo a não perpetrar novo atentado. Trata-se então, de uma estimação prudencial, que não dispensa sensibilidade para as coisas da dor e da alegria ou para os estados d'alma humana, e que, destarte, deve ser feita pelo mesmo Juiz, ou, quando não, por outro jurista - inútil por em ação a calculadora do técnico em contas ou em economia. É nesta direção que o citado Brebbia, em sua excelente monografia, aponta elementos a serem levados em conta na fixação da paga: a gravidade objetiva do dano, a personalidade da vítima (situação familiar, social e reputação), gravidade da falta e da culpa, que repercutem na gravidade da lesão e a personalidade (condições) do autor do ilícito. (Essa Inexplicável Indenização Por Dano Moral, Des. Walter Moraes, Repertório IOB de Jurisprudência, nº 23/89, p. 417). Para que nada fique sem resposta, tem-se que em relação ao requerido Maurício Ferreira, os pedidos são improcedentes. É que seu nome não constou do contrato de compra e venda de fls. 21/23, não havendo qualquer documento demonstrando que ele participou da negociação como corretor de imóveis, nos termos alegados na inicial, nem que recebeu qualquer valor a título de serviço de corretagem prestado, cujo ônus da prova competia a autora por ser fato constitutivo de seu direito (artigo 373, I, do CPC). Finalmente, para os fins do artigo 489, § 1º, inciso IV, do CPC, deixo assentado que as demais teses eventualmente não apreciadas não são capazes de infirmar a este Julgador conclusão diferente à acima estabelecida. C- DO DISPOSITIVO. Ante o exposto, JULGO: A) PROCEDENTES os pedidos formulados por Angelica Pereira dos Santos em face de W.R. Empreendimentos Imobiliários Ltda.-ME e Wellington Camilo Nunes declaro rescindido o contrato celebrado entre as partes (documento de fls. 21/23); condeno os requeridos ao pagamento de R$ 20.000,00 a título de danos materiais à autora, devidamente atualizado pela tabela prática do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde o respectivo pagamento (17/12/2018 - documento de fls. 24) e juros legais de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da citação (artigo 240 do CPC); condeno os requeridos a indenizar à autora pelo importe de R$ 10.000,00 a título de danos morais, corrigido na forma prevista na Súmula 362 do Egrégio S.T.J, acrescido ainda de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a partir desta data; e, por conseguinte, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com resolução de mérito, o que fundamento no art. 487, inciso I, da Lei n. 13.105/15 - CPC. No que pertine aos honorários, efeitos da sucumbência, dispõem os artigos 82, § 2º e 85, ambos do Novo Código de Processo Civil que: A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou" e "honorários ao advogado do vencedor". Assim, diante do princípio da sucumbência, condeno a parte sucumbente (requeridos), ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação devidamente corrigido, o que fundamento no art. 82, par. 2º, do NCPC, observados os critérios constantes do § 2º, incisos I a IV do artigo 85 do mesmo Código. B) IMPROCEDENTES os pedidos formulados por Angelica Pereira dos Santos em face de MAURÍCIO FERREIRA e, por conseguinte, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com resolução de mérito, o que fundamento no art. 487, inciso I, da Lei n. 13.105/15 - CPC. No tocante à sucumbência, dispõe o artigo 82, par. 2º, do Código de Processo Civil que A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou. E o artigo 85 assim dispõe: A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. No caso vertente, em se tratando de sentença declaratória negativa, porque de improcedência dos pedidos, condeno a parte sucumbente (autora) ao pagamento das custas e honorários advocatícios que devem ser fixados consoante dispõe o art. 85, par. 8º, do CPC, considerando as regras previstas no par. 2º do mesmo dispositivo legal. Com base nas normas epigrafadas fixo a verba honorária em 10% (dez por cento) do valor da causa atualizado em favor da parte vencedora (requerido: Maurício Ferreira), cuja satisfação permanecerá suspensa até que permaneça o estado de hipossuficiência da sucumbente, eis que recebeu o os benefícios da assistência judiciária gratuita, conforme art. 98, par. 3º, da Lei 13.105/15 CPC. Não houve recurso da decisão de fls. 517, razão pela qual determino à Serventia o seu cumprimento (decisão de fls. 517 item 2). Providencie-se. Do Recurso. Caso haja recurso de apelação (artigo 1.009 da Lei n. 13.105/15 - CPC), dê-se ciência à parte contrária para, querendo, apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias úteis (artigo 1.010 § 1°, do CPC). O Funcionário deverá cumprir: 1. O artigo 102, incisos V e VI das NSCGJ: Antes da remessa dos autos à instância superior, os escrivães judiciais ou, sob sua supervisão, os escreventes: V - indicarão, obrigatoriamente, na certidão de remessa, a inclusão de mídia(s), ou sua eventual inexistência. (Vide Comunicado CG nº 1181/2017 Vide Comunicado CG nº 1322/2017 Vide Comunicado CG nº 603/2018) e VI. Certificarão o valor do preparo e a quantia efetivamente recolhida com a vinculação da utilização do documento ao número do processo, nos termos do art.1093 das NSCGJ, deixando para apreciação da instância superior eventuais irregularidades. Observação: Para elaboração do cálculo de atualização do valor das custas do preparo, deverá ser observado o COMUNICADO CG 136/2020 (DJE de 22/01/2020 - P. 32): para a elaboração do cálculo de atualização do valor das custas do preparo, conforme Provimento CG nº 01/2020, deverá ser utilizada a planilha TAXA JUDICIÁRIA - PREPARO elaborada pela SPI 3.5.1 - Serviço de Desenvolvimento de Planilhas e Sistemas, disponível em (Intranet Cálculos Judiciais Cálculos Judiciais - Taxa Judiciária Taxa Judiciária) ou diretamente no link https://tjsp.sharepoint.com/sites/Intranet/Paginas/CalculosJudiciais.aspx. 2. Certificar que o processo também não possui nenhuma pendência, conforme artigo 1.275, § 1º das NSCGJ, nos termos do Comunicado CG 01/2020 (DJE de 22.01.2020): Art. 1.275. (...) §1º. O ofício de justiça remeterá o processo à Segunda Instância sem qualquer pendência (juntada de petições, expedientes pendentes de assinatura, certificação de publicações, de recolhimento de custas iniciais e preparo, cadastro atualizado de advogados e outros). 3. Após subam os presentes autos ao E. Tribunal de Justiça de São Paulo, com nossas homenagens e cautelas de estilo. Com o trânsito em julgado, anote-se a extinção e arquivem-se os autos (utilizando a movimentação Cód. 61615 Arquivado Definitivamente), com as cautelas de praxe, devendo o Funcionário certificar nos autos a determinação contida no artigo 1.098 das NSCGJ: Art. 1.098. Os processos findos não poderão ser arquivados sem que o escrivão judicial certifique nos autos estar integralmente paga a taxa judiciária com a respectiva vinculação da guia, os honorários devidos aos órgãos públicos ou entidades conveniadas, a multa prevista no §2º, do art. 77, do Código de Processo Civil e as contribuições, ou sem que faça extrair certidão em que sejam especificadas essas parcelas para fins de inscrição da dívida ativa. P.I.

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Processo nº 0801317-85.2021.8.15.2001

ID: 257371063

Tribunal: TJPB Órgão: 3ª Vara Cível da Capital Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0801317-85.2021.8.15.2001

Data de Disponibilização: 16/04/2025

Polo Ativo:

FLAVIA MORICONI CORREA DE LUCENA

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

FERDINANDO HOLANDA DE VASCONCELOS

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Poder Judiciário da Paraíba 3ª Vara Cível da Capital PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) 0801317-85.2021.8.15.2001 [Tabelionatos, Registros, Cartórios, Indenização por Dano Moral, Defeito, nulidade ou anula… Poder Judiciário da Paraíba 3ª Vara Cível da Capital PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) 0801317-85.2021.8.15.2001 [Tabelionatos, Registros, Cartórios, Indenização por Dano Moral, Defeito, nulidade ou anulação] AUTOR: FLAVIA MORICONI CORREA DE LUCENA REU: EDUARDO HELIO SIMOES DE LUCENA, JOAO PESSOA CARTORIO 5 OFICIO DE NOTAS E TABELIONATO, JOAO PESSOA CART DO 6 OF REG DE IMOVEIS DA ZONA NORTE SENTENÇA Vistos, etc. RELATÓRIO Cuida-se de ação anulatória de escritura pública c/c pedido de danos morais ajuizada por FLÁVIA MOROCONI CORRÊA DE LUCENA em face de EDUARDO HÉLIO SIMÕES DE LUCENA e OUTROS, pelas razões a seguir resumidas. Conta a inicial que no dia 30/06/2010, a autora se tornou proprietária de 50% do imóvel localizado na Av. General Osório, nº 416, Centro, nesta Capital. Disse que, em 2015, na véspera de realizar uma cirurgia para retirada de um câncer, outorgou ao promovido, EDUARDO HÉLIO SIMÕES, seu então marido, uma procuração pública. Assevera que, diante do seu quadro de fragilidade, a procuração já estaria eivada de vício, pois não podia consentir de maneira clara os poderes outorgados. Disse que o promovido, já na época da outorga, vivia um caso extraconjugal e que utilizava da outorga concedida para movimentar o benefício previdenciário da demandante por vários anos. Nos idos de 2017, em período de recidiva da doença, decidiu revogar a procuração. No entanto, revela que o demandado procedeu com a venda do quinhão do imóvel pertencente a autora, já com a procuração revogada, em favor da segunda promovida, sua irmã, ILCIANE SIMÕES DE LUCENA MANZATTI MENDES. Aduz que os réus, de maneira ardilosa, reconheceram firma no contrato de compra e venda com data retroativa em 20/07/2015, tratando-se de simulação de venda. Disse que tanto a revogação da procuração como o registro da escritura pública do imóvel foram feitas no Cartório Monteiro da Franca, terceiro demandado. Diante disso, a argumenta que “maculada na origem a cadeia de transmissão do imóvel, por ter emergido de negócio jurídico viciado, consubstanciado na lavratura de instrumento público de procuração revogada, o negócio jurídico deve ser invalidado como forma de ser reposto o patrimônio da lesada, pois provado vício na lavratura da escritura pública, restando anulável o registro da escritura pública(…)”. Assim, pugna pela declaração de nulidade da escritura pública e a condenação dos réus em danos morais no importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Citado, o CARTÓRIO MONTEIRO DA FRANCA apresentou contestação ao Id 50265089. Suscitou a ocorrência da prescrição da pretensão indenizatória, considerando que a escritura de compra e venda foi lavrada em 15/12/2017 e sua ilegitimidade passiva. No mérito, assevera que “a documentação foi apresentada em 27 de outubro de 2017 e ao ter sido verificada, nesta data e na data seguinte, momento em que a escritura fora minutada, a procuração estava válida. Resta evidente, contudo, a má-fé do Sr. Eduardo Hélio Simões de Lucena, que, mesmo tendo renunciado aos poderes que lhe foram outorgados, retornou ao cartório, dezoito dias após a renúncia, pedindo para ler a minuta da escritura e, dizendo estar conforme, solicitado a sua impressão para a devida assinatura”. Na sequência, o CARTÓRIO EUNÁPIO TORRES apresentou contestação ao Id 59000635. Suscitou, igualmente, sua ilegitimidade passiva e a prescrição da pretensão indenizatória. No mérito, aduz que não “compete ao registrador de imóveis re conferir os dados pessoais e de representação dos alienantes e adquirentes do bem, muito menos exigir novamente a documentação de identificação outrora apresentada e arquivada no cartório de notas”. E, ainda, “por óbvio, as informações pertinentes aos alienantes e adquirentes do bem imóvel não poderão ser confrontadas por que, até então, inexistentes na matrícula do imóvel. Elas são colhidas, conferidas, registradas no ato, e têm seus documentos comprobatórios arquivados lá no cartório de notas que a lavrou. O possível ato culposo se deu na lavratura da escritura pública de compra e venda do seu bem, porquanto, no momento da lavratura deste ato notarial, digo, lá nas notas do Cartório Monteiro da Franca”. Ao Id 59024980, o réu, EDUARDO HÉLIO SIMÕES DE LUCENA, apresentou sua contestação. Suscitou a ocorrência de prescrição e decadência do direito autoral, visto que tomou conhecimento da suposta fraude em 2018, passados mais de quatro anos até o ajuizamento da demanda e, preliminarmente a ausência de interesse de agir e impugnação à gratuidade judiciária. No mérito, aduz o réu que a venda do imóvel foi realizada em acordo pelos ex-cônjuges, em razão das dívidas da empresa que mantinham junto, além do tratamento pelo qual a autora estava sendo submetida à época da venda. Esclarece que a escrituração da compra e venda foi realizada em momento posterior à revogação da procuração por erro do cartório, uma vez que desde 27/10/2017, todas as taxas e emolumentos estavam pagos. Réplica às contestações – Id 60837860 e 60837861. Realizada audiência de instrução, foi reconhecida a ilegitimidade das serventias extrajudiciais, com a determinação de exclusão das partes do presente feito. Após, foram apresentadas razões finais aos Ids 100054968 e 100077299. É o resumo necessário. Passo a decisão. PRELIMINARMENTE 1) DA ILEGITIMIDADE DAS SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS E DA PRECLUSÃO CONSUMATIVA Inicialmente, convém rememorar que este Juízo, em sede de despacho saneador, proferido na audiência de instrução, acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelos Cartórios EUNÁPIO TORRES e MONTEIRO DA FRANCA, reconhecendo a ausência de personalidade e capacidade jurídica das serventias extrajudiciais para responder aos feitos. Em suas razões finais, a parte autora protesta contra a ausência de legitimidade passiva e a ausência de oportunidade para emenda à inicial, destacando que será interposto agravo de instrumento, visando a reforma da decisão que excluiu os cartórios da lide. Contudo, razão não assiste à parte autora. A jurisprudência é pacífica no sentido de que as serventias extrajudiciais, por não possuírem personalidade jurídica nem capacidade processual, não podem figurar como parte em processo judicial. Tal entendimento é consolidado, inclusive, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. CABIMENTO. VIOLAÇÃO MANIFESTA DE NORMA JURÍDICA. INTERPRETAÇÃO INCONTROVERSA QUANDO PROFERIDO O ACÓRDÃO RESCINDENDO. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PREJUÍZO CAUSADO POR FALHA EM REGISTRO. ATO DO TITULAR ANTERIOR. RESPONSABILIDADE PESSOAL. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA DA SERVENTIA. INDEFERIMENTO DA INICIAL. ANULAÇÃO. RECOMENDÁVEL NOVO JULGAMENTO PARA EVITAR SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO ESPECIAL ADESIVO PREJUDICADO PELO PROVIMENTO DO PRINCIPAL. 1. Ação rescisória, ajuizada em 09/04/2018, da qual foram extraídos os presentes recursos especiais, interpostos em 15/02/2021 e 25/03/2021, conclusos ao gabinete em 04/06/2024. 2. O propósito recursal consiste em decidir se há violação manifesta de normas jurídicas relativas à legitimidade de serventia extrajudicial ou de seu titular para responder por ilícito praticado pelo titular antecessor da serventia apta a ensejar cabimento de ação rescisória. 3. Não há ofensa ao art. 1.022 do CPC, quando o Tribunal de origem examina, de forma fundamentada, a questão submetida à apreciação judicial na medida necessária para o deslinde da controvérsia, ainda que em sentido contrário à pretensão da parte. Precedentes. 4. A violação manifesta de norma jurídica (art. 966, V, do CPC) pressupõe que inexista controvérsia interpretativa nos tribunais à época em que proferida a decisão rescindenda Precedentes. 5. As normas dos arts. 22 da Lei 8.935/95 e 38 da Lei 9.492/97 já eram interpretadas sem controvérsia desde 2005, no sentido de se compreender pela ilegitimidade tanto da serventia (por ausência de personalidade jurídica) como do titular sucessor (investido na delegação posteriormente) para responder por prejuízo ocasionado por titular anterior da serventia. Precedentes. 6. Recurso em que ação indenizatória foi ajuizada contra a serventia- extrajudicial, ensejando cumprimento de sentença em desfavor da mesma e de seu titular, atribuindo responsabilização por ato praticado por titular antecessor à investidura do atual titular em plausível violação das normas que asseguram a responsabilização pessoal do agente delegado que causou o prejuízo consoante interpretação incontroversa desde a época em que proferida a decisão rescindenda. 7. A ilegitimidade de partes em sede de impugnação ao cumprimento da sentença tem a ação rescisória como única solução para conferir efetividade à interpretação das normas tidas como manifestamente violadas. 8. Necessária anulação do acórdão que indeferiu a petição inicial, devendo ocorrer a retomada da marcha processual na origem a partir da concessão de tutela para suspender cumprimento de sentença, de modo a apreciar preliminar suscitada em contestação e possibilitar alegações finais sob pena de supressão de instância. 9. O provimento do recurso especial principal torna prejudicado o recurso especial interposto na forma adesiva quando seu provimento revelar inócua a apreciação do adesivo. 10. Recurso especial principal conhecido e provido para determinar que o Tribunal de Origem prossiga no julgamento da ação rescisória nos termos delineados no presente acórdão. Recurso especial adesivo prejudicado. (REsp n. 1.946.779/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 3/9/2024, DJe de 6/9/2024.) (grifei). Trata-se de matéria de conhecimento notório no meio jurídico, sendo ônus do advogado diligente indicar corretamente a parte legítima para responder à ação. Ademais, em sua impugnação, a autora seguiu refutando a ausência de capacidade e personalidade jurídica, fomentando que os cartórios detinham personalidade para responder ao feito, deixando de indicar, ainda que alternativamente, a inclusão dos tabeliães no polo passivo, tal omissão revela a falta de diligência da parte em corrigir o vício oportunamente. Outrossim, verifica-se que a preliminar de ilegitimidade passiva foi analisada e expressamente enfrentada no despacho saneador, tendo sido reconhecida a ilegitimidade do cartório. A autora, todavia, deixou de interpor o recurso cabível contra tal decisão, operando-se, assim, a preclusão consumativa da matéria. Diante de tais elementos, não há que se falar em violação ao princípio da cooperação processual, tampouco em necessidade de nova intimação para emenda da inicial em momento posterior à estabilização da relação processual. A atuação judicial observou os princípios do contraditório, da ampla defesa e da boa-fé processual. Assim, pelo exposto, mantenho o acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva dos Cartórios MONTEIRO DA FRANCA e EUNÁPIO TORRES, com a consequente extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, inciso VI, do Código de Processo Civil. 2) DA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA O pedido de indenização por danos morais, de natureza extracontratual, submete-se ao prazo prescricional de 3 anos, nos termos do art. 206, §3º, inciso V, do Código Civil. No presente caso, ainda que se considere como marco inicial o momento da escrituração do imóvel, ocorrida em dezembro de 2017, verifica-se que a presente ação foi ajuizada apenas em janeiro de 2021, ou seja, mais de três anos após o suposto evento danoso. Assim, operou-se a prescrição do direito de ação quanto ao pedido de indenização por danos morais, estando prejudicado o exame do mérito nesse ponto. Quanto a decadência, no entanto, não há que se falar em sua ocorrência. O artigo 178 do Código Civil prevê que: “é de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado (…)”. Portanto, o pedido de anulação não recai sobre a compra e venda ocorrida em 2015, mas da escrituração ocorrida em dezembro de 2017, após a revogação da procuração. Assim, considerando que o pedido de lavratura da escritura pública foi protocolado em cartório em outubro de 2017 (Id 50265093) com a escrituração efetivamente formalizada em dezembro de 2017, tendo a autora ajuizado a presente ação em janeiro de 2021, não há falar em decadência, uma vez que o prazo de quatro anos ainda não havia se esgotado. Rejeita-se, pois, a prejudicial de decadência. 3) DA IMPUGNAÇÃO À GRATUIDADE JUDICIÁRIA CONCEDIDA À AUTORA Analisando a documentação trazida pela autora quando do ajuizamento do feito, este Juízo concedeu a gratuidade judiciária à promovente. Os prints trazidos pelo réu, em sua contestação, não se mostram suficientes à revogação do benefício, notadamente pelo fato de que não comprovam os gastos totais da parte, tampouco que o saldo final era destinado a liberalidade da parte. De outra banda, é importante asseverar que o valor da causa foi atribuído em R$ 97.000,00 (noventa e sete mil reais), cujas custas alcançavam o patamar de R$ 1.455,00 (mil quatrocentos e cinquenta e cinco reais), o que, de fato, mostrou comprometer o orçamento e o sustento da parte autora. Assim, mantenho o benefício concedido a promovente. 4) DA AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR Analisando o teor da preliminar arguida, verifica-se que a matéria trazido pelo réu confunde-se com o próprio mérito da demanda, motivo pelo qual passo a decidi-la junto ao mérito. DO MÉRITO No mérito, a pretensão da autora não merece acolhimento. Explico. Restou comprovado nos autos que a negociação do imóvel ocorreu em agosto de 2015, quando ainda vigente a procuração concedida ao réu. Em que pese a narrativa autoral trazer à baila questões relacionadas à fragilidade da saúde da autora, o necessário e extenso tratamento realizado pela parte em vista do diagnóstico de câncer, em período anterior a outorga da procuração conferida ao promovido, não há discussão nos autos quanto à outorga do instrumento procuratório, não é este a que pretende a parte anular, mesmo porquê referido instrumento encontra-se revogado desde 2017. Diante disso, recordo que o cerne da questão trazida a julgamento consiste em perquirir a anulação da escrituração de compra e venda perfectibilizada em dezembro de 2017, após a revogação da procuração. A meu sentir, o fato relevante na decisão do caso em tela é que o pedido de lavratura da escritura pública foi protocolado no cartório de registro em outubro de 2017, antes da revogação do mandato, que se deu apenas em novembro daquele mesmo ano. A formalização da escritura em dezembro de 2017 foi mero desdobrameno do ato anteriormente requerido, cuja efetivação foi postergada por razões documentais — fato que, por si só, não descaracteriza a validade do negócio jurídico, tampouco torna ilegítima a conduta do réu. A procuração pública com poderes específicos para a venda de determinado imóvel é válida, tendo sido o negócio firmado em consonância com os poderes nela previstos, inexistindo quaisquer dos vícios apontados pela autora. Ademais, não restou demonstrado nos autos que a autora não tinha conhecimento da negociação desde o ano de 2015, o que seu estado de saúde teria lhe retirado a capacidade de compreensão, consciência ou lucidez. Nesse contexto, vê-se também que a parte sustenta em sua inicial, uma suposta simulação do negócio de compra e venda, aduzindo que este só teria sido realizado em 2017, com data simulada em 2015. Também nesse norte, não há nenhuma prova nos autos. A alegação de simulação, segundo a sistemática do direito brasileiro, não admite a presunção como meio de prova, de modo que eventual arguição de tal questão deve ser sustentada por prova robusta. Assim, diante da ausência de prova de ocorrência de simulação no negócio jurídico, bem como de irregularidade na escritura pública, não há que se falar em nulidade do negócio. De outra banda, a alegação da autora de que não participou diretamente da negociação e de que não recebeu o valor da venda, não configura, por si só, causa para anulação do negócio, tampouco afeta a validade da escritura pública. Em outras palavras, as teses de que o valor não lhe foi repassado ou que não participou da negociação do preço e condições da venda não são hipóteses de invalidade do negócio jurídico, pois os poderes conferidos ao mandatário incluíam expressamente “administrar, comprar, vender, permutar, doar, dar em pagamento, adquirir, alienar e onerar quaisquer bens móveis e imóveis (…)” (Id 50265091). Nessa direção, mutatis mutandis: APELAÇÃO – ANULAÇÃO DE ESCRITURA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL – PROCURAÇÃO PÚBLICA COM PODERES ESPECÍFICOS – IMPROCEDÊNCIA – INCONFORMISMO DA AUTORA – REJEIÇÃO – Inexistência de qualquer hipótese de invalidade do negócio jurídico - Escritura definitiva de compra e venda de imóvel realizada por procuração pública com poderes específicos de alienação do imóvel – Teses da mandante de que não participou da negociação e nem recebeu o preço não justificam a pretensão de anulação do registro imobiliário, em que se transferiu o domínio do imóvel – Mandatário com poderes para negociar o preço e efetivar a venda – Questão envolvendo o repasse do preço à mandante que está sendo discutida em ação de prestação de contas – Sentença mantida – NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP – Apelação Cível 1005769-36.2019.8.26.0024; Relator (a): Alexandre Coelho; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Privado; Foro de Andradina – 2ª Vara; Data do Julgamento: 21/02/2022; Data de Registro: 21/02/2022). Desse modo, reconhece-se a validade da venda realizada, bem como da respectiva escritura pública, afastando-se a pretensão anulatória. A autora, portanto, não provou o fato constitutivo do seu direito. DO DISPOSITIVO Ante o exposto, RECONHEÇO a prescrição quanto a pretensão indenizatória e, no mérito, julgo improcedente o pedido autoral, extinguindo o feito, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, I, do CPC. Condeno a autora em custas e despesas processuais, bem como honorários de sucumbência que arbitro em 10% sobre o valor da causa, cuja exigibilidade estará suspensa por ser a parte beneficiária da gratuidade judiciária. Publicações e Registros eletrônicos. Intimem-se. Com o trânsito em julgado, arquive-se com as cautelas de estilo. JOÃO PESSOA, 14 de abril de 2025. Juiz(a) de Direito

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Processo nº 0801317-85.2021.8.15.2001

ID: 257371067

Tribunal: TJPB Órgão: 3ª Vara Cível da Capital Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0801317-85.2021.8.15.2001

Data de Disponibilização: 16/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

EDUARDO HELIO SIMOES DE LUCENA

Sentença

Advogados:

GILVANDRO ASSIS NETO

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PATRICIA MAYER PINHEIRO LIMA FRANCA

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LUIZ ANTONIO ALMEIDA DE FREITAS

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ANA LUCIA PEDROSA GOMES

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EDUARDO HELIO SIMOES DE LUCENA

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DAMASIO BARBOSA DA FRANCA NETO

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ANDERSON FERNANDO COUTINHO DA CUNHA

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FERDINANDO HOLANDA DE VASCONCELOS

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Poder Judiciário da Paraíba 3ª Vara Cível da Capital PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) 0801317-85.2021.8.15.2001 [Tabelionatos, Registros, Cartórios, Indenização por Dano Moral, Defeito, nulidade ou anula… Poder Judiciário da Paraíba 3ª Vara Cível da Capital PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) 0801317-85.2021.8.15.2001 [Tabelionatos, Registros, Cartórios, Indenização por Dano Moral, Defeito, nulidade ou anulação] AUTOR: FLAVIA MORICONI CORREA DE LUCENA REU: EDUARDO HELIO SIMOES DE LUCENA, JOAO PESSOA CARTORIO 5 OFICIO DE NOTAS E TABELIONATO, JOAO PESSOA CART DO 6 OF REG DE IMOVEIS DA ZONA NORTE SENTENÇA Vistos, etc. RELATÓRIO Cuida-se de ação anulatória de escritura pública c/c pedido de danos morais ajuizada por FLÁVIA MOROCONI CORRÊA DE LUCENA em face de EDUARDO HÉLIO SIMÕES DE LUCENA e OUTROS, pelas razões a seguir resumidas. Conta a inicial que no dia 30/06/2010, a autora se tornou proprietária de 50% do imóvel localizado na Av. General Osório, nº 416, Centro, nesta Capital. Disse que, em 2015, na véspera de realizar uma cirurgia para retirada de um câncer, outorgou ao promovido, EDUARDO HÉLIO SIMÕES, seu então marido, uma procuração pública. Assevera que, diante do seu quadro de fragilidade, a procuração já estaria eivada de vício, pois não podia consentir de maneira clara os poderes outorgados. Disse que o promovido, já na época da outorga, vivia um caso extraconjugal e que utilizava da outorga concedida para movimentar o benefício previdenciário da demandante por vários anos. Nos idos de 2017, em período de recidiva da doença, decidiu revogar a procuração. No entanto, revela que o demandado procedeu com a venda do quinhão do imóvel pertencente a autora, já com a procuração revogada, em favor da segunda promovida, sua irmã, ILCIANE SIMÕES DE LUCENA MANZATTI MENDES. Aduz que os réus, de maneira ardilosa, reconheceram firma no contrato de compra e venda com data retroativa em 20/07/2015, tratando-se de simulação de venda. Disse que tanto a revogação da procuração como o registro da escritura pública do imóvel foram feitas no Cartório Monteiro da Franca, terceiro demandado. Diante disso, a argumenta que “maculada na origem a cadeia de transmissão do imóvel, por ter emergido de negócio jurídico viciado, consubstanciado na lavratura de instrumento público de procuração revogada, o negócio jurídico deve ser invalidado como forma de ser reposto o patrimônio da lesada, pois provado vício na lavratura da escritura pública, restando anulável o registro da escritura pública(…)”. Assim, pugna pela declaração de nulidade da escritura pública e a condenação dos réus em danos morais no importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Citado, o CARTÓRIO MONTEIRO DA FRANCA apresentou contestação ao Id 50265089. Suscitou a ocorrência da prescrição da pretensão indenizatória, considerando que a escritura de compra e venda foi lavrada em 15/12/2017 e sua ilegitimidade passiva. No mérito, assevera que “a documentação foi apresentada em 27 de outubro de 2017 e ao ter sido verificada, nesta data e na data seguinte, momento em que a escritura fora minutada, a procuração estava válida. Resta evidente, contudo, a má-fé do Sr. Eduardo Hélio Simões de Lucena, que, mesmo tendo renunciado aos poderes que lhe foram outorgados, retornou ao cartório, dezoito dias após a renúncia, pedindo para ler a minuta da escritura e, dizendo estar conforme, solicitado a sua impressão para a devida assinatura”. Na sequência, o CARTÓRIO EUNÁPIO TORRES apresentou contestação ao Id 59000635. Suscitou, igualmente, sua ilegitimidade passiva e a prescrição da pretensão indenizatória. No mérito, aduz que não “compete ao registrador de imóveis re conferir os dados pessoais e de representação dos alienantes e adquirentes do bem, muito menos exigir novamente a documentação de identificação outrora apresentada e arquivada no cartório de notas”. E, ainda, “por óbvio, as informações pertinentes aos alienantes e adquirentes do bem imóvel não poderão ser confrontadas por que, até então, inexistentes na matrícula do imóvel. Elas são colhidas, conferidas, registradas no ato, e têm seus documentos comprobatórios arquivados lá no cartório de notas que a lavrou. O possível ato culposo se deu na lavratura da escritura pública de compra e venda do seu bem, porquanto, no momento da lavratura deste ato notarial, digo, lá nas notas do Cartório Monteiro da Franca”. Ao Id 59024980, o réu, EDUARDO HÉLIO SIMÕES DE LUCENA, apresentou sua contestação. Suscitou a ocorrência de prescrição e decadência do direito autoral, visto que tomou conhecimento da suposta fraude em 2018, passados mais de quatro anos até o ajuizamento da demanda e, preliminarmente a ausência de interesse de agir e impugnação à gratuidade judiciária. No mérito, aduz o réu que a venda do imóvel foi realizada em acordo pelos ex-cônjuges, em razão das dívidas da empresa que mantinham junto, além do tratamento pelo qual a autora estava sendo submetida à época da venda. Esclarece que a escrituração da compra e venda foi realizada em momento posterior à revogação da procuração por erro do cartório, uma vez que desde 27/10/2017, todas as taxas e emolumentos estavam pagos. Réplica às contestações – Id 60837860 e 60837861. Realizada audiência de instrução, foi reconhecida a ilegitimidade das serventias extrajudiciais, com a determinação de exclusão das partes do presente feito. Após, foram apresentadas razões finais aos Ids 100054968 e 100077299. É o resumo necessário. Passo a decisão. PRELIMINARMENTE 1) DA ILEGITIMIDADE DAS SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS E DA PRECLUSÃO CONSUMATIVA Inicialmente, convém rememorar que este Juízo, em sede de despacho saneador, proferido na audiência de instrução, acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelos Cartórios EUNÁPIO TORRES e MONTEIRO DA FRANCA, reconhecendo a ausência de personalidade e capacidade jurídica das serventias extrajudiciais para responder aos feitos. Em suas razões finais, a parte autora protesta contra a ausência de legitimidade passiva e a ausência de oportunidade para emenda à inicial, destacando que será interposto agravo de instrumento, visando a reforma da decisão que excluiu os cartórios da lide. Contudo, razão não assiste à parte autora. A jurisprudência é pacífica no sentido de que as serventias extrajudiciais, por não possuírem personalidade jurídica nem capacidade processual, não podem figurar como parte em processo judicial. Tal entendimento é consolidado, inclusive, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. CABIMENTO. VIOLAÇÃO MANIFESTA DE NORMA JURÍDICA. INTERPRETAÇÃO INCONTROVERSA QUANDO PROFERIDO O ACÓRDÃO RESCINDENDO. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PREJUÍZO CAUSADO POR FALHA EM REGISTRO. ATO DO TITULAR ANTERIOR. RESPONSABILIDADE PESSOAL. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA DA SERVENTIA. INDEFERIMENTO DA INICIAL. ANULAÇÃO. RECOMENDÁVEL NOVO JULGAMENTO PARA EVITAR SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. RECURSO ESPECIAL ADESIVO PREJUDICADO PELO PROVIMENTO DO PRINCIPAL. 1. Ação rescisória, ajuizada em 09/04/2018, da qual foram extraídos os presentes recursos especiais, interpostos em 15/02/2021 e 25/03/2021, conclusos ao gabinete em 04/06/2024. 2. O propósito recursal consiste em decidir se há violação manifesta de normas jurídicas relativas à legitimidade de serventia extrajudicial ou de seu titular para responder por ilícito praticado pelo titular antecessor da serventia apta a ensejar cabimento de ação rescisória. 3. Não há ofensa ao art. 1.022 do CPC, quando o Tribunal de origem examina, de forma fundamentada, a questão submetida à apreciação judicial na medida necessária para o deslinde da controvérsia, ainda que em sentido contrário à pretensão da parte. Precedentes. 4. A violação manifesta de norma jurídica (art. 966, V, do CPC) pressupõe que inexista controvérsia interpretativa nos tribunais à época em que proferida a decisão rescindenda Precedentes. 5. As normas dos arts. 22 da Lei 8.935/95 e 38 da Lei 9.492/97 já eram interpretadas sem controvérsia desde 2005, no sentido de se compreender pela ilegitimidade tanto da serventia (por ausência de personalidade jurídica) como do titular sucessor (investido na delegação posteriormente) para responder por prejuízo ocasionado por titular anterior da serventia. Precedentes. 6. Recurso em que ação indenizatória foi ajuizada contra a serventia- extrajudicial, ensejando cumprimento de sentença em desfavor da mesma e de seu titular, atribuindo responsabilização por ato praticado por titular antecessor à investidura do atual titular em plausível violação das normas que asseguram a responsabilização pessoal do agente delegado que causou o prejuízo consoante interpretação incontroversa desde a época em que proferida a decisão rescindenda. 7. A ilegitimidade de partes em sede de impugnação ao cumprimento da sentença tem a ação rescisória como única solução para conferir efetividade à interpretação das normas tidas como manifestamente violadas. 8. Necessária anulação do acórdão que indeferiu a petição inicial, devendo ocorrer a retomada da marcha processual na origem a partir da concessão de tutela para suspender cumprimento de sentença, de modo a apreciar preliminar suscitada em contestação e possibilitar alegações finais sob pena de supressão de instância. 9. O provimento do recurso especial principal torna prejudicado o recurso especial interposto na forma adesiva quando seu provimento revelar inócua a apreciação do adesivo. 10. Recurso especial principal conhecido e provido para determinar que o Tribunal de Origem prossiga no julgamento da ação rescisória nos termos delineados no presente acórdão. Recurso especial adesivo prejudicado. (REsp n. 1.946.779/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 3/9/2024, DJe de 6/9/2024.) (grifei). Trata-se de matéria de conhecimento notório no meio jurídico, sendo ônus do advogado diligente indicar corretamente a parte legítima para responder à ação. Ademais, em sua impugnação, a autora seguiu refutando a ausência de capacidade e personalidade jurídica, fomentando que os cartórios detinham personalidade para responder ao feito, deixando de indicar, ainda que alternativamente, a inclusão dos tabeliães no polo passivo, tal omissão revela a falta de diligência da parte em corrigir o vício oportunamente. Outrossim, verifica-se que a preliminar de ilegitimidade passiva foi analisada e expressamente enfrentada no despacho saneador, tendo sido reconhecida a ilegitimidade do cartório. A autora, todavia, deixou de interpor o recurso cabível contra tal decisão, operando-se, assim, a preclusão consumativa da matéria. Diante de tais elementos, não há que se falar em violação ao princípio da cooperação processual, tampouco em necessidade de nova intimação para emenda da inicial em momento posterior à estabilização da relação processual. A atuação judicial observou os princípios do contraditório, da ampla defesa e da boa-fé processual. Assim, pelo exposto, mantenho o acolhimento da preliminar de ilegitimidade passiva dos Cartórios MONTEIRO DA FRANCA e EUNÁPIO TORRES, com a consequente extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, inciso VI, do Código de Processo Civil. 2) DA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA O pedido de indenização por danos morais, de natureza extracontratual, submete-se ao prazo prescricional de 3 anos, nos termos do art. 206, §3º, inciso V, do Código Civil. No presente caso, ainda que se considere como marco inicial o momento da escrituração do imóvel, ocorrida em dezembro de 2017, verifica-se que a presente ação foi ajuizada apenas em janeiro de 2021, ou seja, mais de três anos após o suposto evento danoso. Assim, operou-se a prescrição do direito de ação quanto ao pedido de indenização por danos morais, estando prejudicado o exame do mérito nesse ponto. Quanto a decadência, no entanto, não há que se falar em sua ocorrência. O artigo 178 do Código Civil prevê que: “é de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado (…)”. Portanto, o pedido de anulação não recai sobre a compra e venda ocorrida em 2015, mas da escrituração ocorrida em dezembro de 2017, após a revogação da procuração. Assim, considerando que o pedido de lavratura da escritura pública foi protocolado em cartório em outubro de 2017 (Id 50265093) com a escrituração efetivamente formalizada em dezembro de 2017, tendo a autora ajuizado a presente ação em janeiro de 2021, não há falar em decadência, uma vez que o prazo de quatro anos ainda não havia se esgotado. Rejeita-se, pois, a prejudicial de decadência. 3) DA IMPUGNAÇÃO À GRATUIDADE JUDICIÁRIA CONCEDIDA À AUTORA Analisando a documentação trazida pela autora quando do ajuizamento do feito, este Juízo concedeu a gratuidade judiciária à promovente. Os prints trazidos pelo réu, em sua contestação, não se mostram suficientes à revogação do benefício, notadamente pelo fato de que não comprovam os gastos totais da parte, tampouco que o saldo final era destinado a liberalidade da parte. De outra banda, é importante asseverar que o valor da causa foi atribuído em R$ 97.000,00 (noventa e sete mil reais), cujas custas alcançavam o patamar de R$ 1.455,00 (mil quatrocentos e cinquenta e cinco reais), o que, de fato, mostrou comprometer o orçamento e o sustento da parte autora. Assim, mantenho o benefício concedido a promovente. 4) DA AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR Analisando o teor da preliminar arguida, verifica-se que a matéria trazido pelo réu confunde-se com o próprio mérito da demanda, motivo pelo qual passo a decidi-la junto ao mérito. DO MÉRITO No mérito, a pretensão da autora não merece acolhimento. Explico. Restou comprovado nos autos que a negociação do imóvel ocorreu em agosto de 2015, quando ainda vigente a procuração concedida ao réu. Em que pese a narrativa autoral trazer à baila questões relacionadas à fragilidade da saúde da autora, o necessário e extenso tratamento realizado pela parte em vista do diagnóstico de câncer, em período anterior a outorga da procuração conferida ao promovido, não há discussão nos autos quanto à outorga do instrumento procuratório, não é este a que pretende a parte anular, mesmo porquê referido instrumento encontra-se revogado desde 2017. Diante disso, recordo que o cerne da questão trazida a julgamento consiste em perquirir a anulação da escrituração de compra e venda perfectibilizada em dezembro de 2017, após a revogação da procuração. A meu sentir, o fato relevante na decisão do caso em tela é que o pedido de lavratura da escritura pública foi protocolado no cartório de registro em outubro de 2017, antes da revogação do mandato, que se deu apenas em novembro daquele mesmo ano. A formalização da escritura em dezembro de 2017 foi mero desdobrameno do ato anteriormente requerido, cuja efetivação foi postergada por razões documentais — fato que, por si só, não descaracteriza a validade do negócio jurídico, tampouco torna ilegítima a conduta do réu. A procuração pública com poderes específicos para a venda de determinado imóvel é válida, tendo sido o negócio firmado em consonância com os poderes nela previstos, inexistindo quaisquer dos vícios apontados pela autora. Ademais, não restou demonstrado nos autos que a autora não tinha conhecimento da negociação desde o ano de 2015, o que seu estado de saúde teria lhe retirado a capacidade de compreensão, consciência ou lucidez. Nesse contexto, vê-se também que a parte sustenta em sua inicial, uma suposta simulação do negócio de compra e venda, aduzindo que este só teria sido realizado em 2017, com data simulada em 2015. Também nesse norte, não há nenhuma prova nos autos. A alegação de simulação, segundo a sistemática do direito brasileiro, não admite a presunção como meio de prova, de modo que eventual arguição de tal questão deve ser sustentada por prova robusta. Assim, diante da ausência de prova de ocorrência de simulação no negócio jurídico, bem como de irregularidade na escritura pública, não há que se falar em nulidade do negócio. De outra banda, a alegação da autora de que não participou diretamente da negociação e de que não recebeu o valor da venda, não configura, por si só, causa para anulação do negócio, tampouco afeta a validade da escritura pública. Em outras palavras, as teses de que o valor não lhe foi repassado ou que não participou da negociação do preço e condições da venda não são hipóteses de invalidade do negócio jurídico, pois os poderes conferidos ao mandatário incluíam expressamente “administrar, comprar, vender, permutar, doar, dar em pagamento, adquirir, alienar e onerar quaisquer bens móveis e imóveis (…)” (Id 50265091). Nessa direção, mutatis mutandis: APELAÇÃO – ANULAÇÃO DE ESCRITURA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL – PROCURAÇÃO PÚBLICA COM PODERES ESPECÍFICOS – IMPROCEDÊNCIA – INCONFORMISMO DA AUTORA – REJEIÇÃO – Inexistência de qualquer hipótese de invalidade do negócio jurídico - Escritura definitiva de compra e venda de imóvel realizada por procuração pública com poderes específicos de alienação do imóvel – Teses da mandante de que não participou da negociação e nem recebeu o preço não justificam a pretensão de anulação do registro imobiliário, em que se transferiu o domínio do imóvel – Mandatário com poderes para negociar o preço e efetivar a venda – Questão envolvendo o repasse do preço à mandante que está sendo discutida em ação de prestação de contas – Sentença mantida – NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP – Apelação Cível 1005769-36.2019.8.26.0024; Relator (a): Alexandre Coelho; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Privado; Foro de Andradina – 2ª Vara; Data do Julgamento: 21/02/2022; Data de Registro: 21/02/2022). Desse modo, reconhece-se a validade da venda realizada, bem como da respectiva escritura pública, afastando-se a pretensão anulatória. A autora, portanto, não provou o fato constitutivo do seu direito. DO DISPOSITIVO Ante o exposto, RECONHEÇO a prescrição quanto a pretensão indenizatória e, no mérito, julgo improcedente o pedido autoral, extinguindo o feito, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, I, do CPC. Condeno a autora em custas e despesas processuais, bem como honorários de sucumbência que arbitro em 10% sobre o valor da causa, cuja exigibilidade estará suspensa por ser a parte beneficiária da gratuidade judiciária. Publicações e Registros eletrônicos. Intimem-se. Com o trânsito em julgado, arquive-se com as cautelas de estilo. JOÃO PESSOA, 14 de abril de 2025. Juiz(a) de Direito

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