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Processo nº 5005200-97.2023.4.03.6329

ID: 310756499

Tribunal: TRF3 Órgão: 1ª Vara Gabinete JEF de Bragança Paulista Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5005200-97.2023.4.03.6329

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

INTEGRAçãO DJEN-TRF3

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

NATHALIA FRANCO ZANINI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

JOAO RUBENS TAVARES VIEIRA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5005200-97.2023.4.03.6329 / 1ª Vara Gabinete JEF de Bragança Paulista AUTOR: CLODOALDO DE OLIVEI… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5005200-97.2023.4.03.6329 / 1ª Vara Gabinete JEF de Bragança Paulista AUTOR: CLODOALDO DE OLIVEIRA CUNHA Advogados do(a) AUTOR: JOAO RUBENS TAVARES VIEIRA - SP462734, NATHALIA FRANCO ZANINI - SP361831 REU: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF SENTENÇA Dispensado o relatório (art. 38 Lei 9099/95). Trata-se de ação proposta em face da Caixa Econômica Federal – CEF, por meio da qual pretende a parte autora a alteração do índice de correção dos depósitos existentes em saldo de conta vinculada ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com o afastamento da Taxa Referencial (TR) e, por conseguinte, a aplicação de índice que melhor reflita a inflação (INPC, IPCA-E, Selic ou outro adequado à reposição da perda do poder aquisitivo da moeda). Preliminarmente, não há que se falar em litisconsórcio passivo necessário com quem quer que seja, uma vez que a Caixa Econômica Federal é a única legitimada para tanto. Isso porque o artigo 7º da Lei nº 8.036/90 atribui à instituição financeira a qualidade de agente operadora do fundo. É essa a previsão da Súmula nº 249 do Superior Tribunal de Justiça. Não há que se falar, ademais, em prescrição. Por se tratar o objeto do processo de correção monetária dos saldos dos depósitos fundiários, por analogia, aplica-se o quanto disposto na Súmula 398 do Superior Tribunal de Justiça (“A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos de conta vinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às parcelas vencidas”). Por se tratar de prestação continuada que se renova sucessivamente, deve ser observado o lapso prescricional em relação a cada interregno mensal, portanto. Inobstante, cabe referir que o julgamento da ADI 5.090 possui efeito vinculante e erga omnes, sendo que, independentemente da fase processual deste feito, é possível aplicar, de imediato, o entendimento estampado do acórdão da referida Ação de Controle de Constitucionalidade, inclusive, com amparo no artigo 332, do CPC/2015 (improcedência liminar do pedido). Passo à apreciação do mérito. O artigo 13 da Lei nº 8.036/90 estabelece que o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é constituído pelos saldos das contas vinculadas e outros recursos incorporados, sendo que os “depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de três por cento ao ano”. O artigo 17 da Lei nº 8.177/1991 consagra previsão normativa semelhante. Finalmente, o artigo 7º da Lei nº 8.660/93 prevê que os “depósitos de poupança têm como remuneração básica a Taxa Referencial - TR”. Em resumo, os saldos das contas vinculadas do FGTS são corrigidos monetariamente com base na TR. Neste passo, o STF, no julgamento da ADI 5.090, pacificou a questão, conforme ementa do acórdão que segue: “O Tribunal, por maioria e nos termos do voto médio do Ministro Flávio Dino, Redator para o acórdão, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta, com atribuição de efeitos ex nunc, a contar da publicação da ata de julgamento, estabelecendo o seguinte entendimento: a) Remuneração das contas vinculadas na forma legal (TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA) em todos os exercícios; e b) Nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/1990) determinar a forma de compensação. Vencidos os Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente e Relator), André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin, que julgavam parcialmente procedente o pedido para declarar que a remuneração das contas do FGTS não pode ser inferior à da caderneta de poupança, modulando os efeitos para os novos depósitos efetuados a partir de 2025. Ficaram vencidos parcialmente os Ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que julgavam inteiramente improcedente o pedido. Plenário, 12.6.2024. ” (Grifos e destaques nossos). DAS DIFERENÇAS REFERENTES AO PERÍODO ANTERIOR À PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO Neste ponto, trago trecho do voto médio proferido pelo Ministro Flávio Dino, redator para o acórdão, sendo: (...). As incertezas sobre o tema devem ser eliminadas. Não se pode permitir que um ato subsequente de outro Poder venha a atribuir efeito diverso ao que decidido pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de estender grave imprevisibilidade. A recomposição financeira das supostas perdas passadas não pode ficar condicionada a eventual solução a ser elaborada por outros Poderes. O Fundo e os trabalhadores ficariam numa situação de incalculabilidade do Direito. Não saberiam quando e como a questão seria resolvida. (...). A função social a que se destina o FGTS é mais um motivo para afastamento da permissão de recomposição das supostas perdas passadas. A aplicação de um novo critério de atualização com efeitos pretéritos causaria grave desequilíbrio econômico no Fundo, com risco de comprometimento dos contratos já celebrados, de linhas de crédito, de investimentos em curso e do desenvolvimento de projetos de interesse social. Entendo que esta Corte deve assegurar a transição do passado para o futuro sem comprometimento do equilíbrio financeiro do FGTS, em atenção ao art. 23 da LINDB, segundo o qual a decisão judicial “deverá prever regime de transição quando indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e sem prejuízo aos interesses gerais”. Observo que a recomposição das supostas perdas também encontra um obstáculo de ordem prática. Para calcular as perdas de cada cidadão, seria necessário aplicar diferentes critérios de correção existentes desde o início do fundo em 1966. Essa medida violaria o art. 22 da LINDB, segundo o qual, “Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados”. Com base nesses fundamentos, divirjo, em parte, do Ilustre Relator para julgar parcialmente procedente o pedido para: (i) interpretar conforme a Constituição os dispositivos impugnados (art. 13, caput, da Lei nº 8.036/1990 e art. 17, caput, da Lei nº 8.177/1991), para declarar que a remuneração do saldo das contas do FGTS não pode ser inferior ao índice legal (TR + 3% ao ano + distribuição dos lucros auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA). (ii) estabelecer que, nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/1990) determinar a forma de compensação; (iii) estabelecer que os efeitos da presente decisão se produzirão prospectivamente (ex nunc), a partir da publicação da ata de julgamento.” (Destaques nossos). Portanto, no que diz respeito às diferenças anteriores à publicação da ata de julgamento (17/06/2024), não há maiores discussões, em face que a decisão proferida na ADI 5.090, do STF, a qual atribuiu efeito ex nunc ao decidido, não restando qualquer valor devido em relação ao período anterior à 17/06/2024. Assim, nesta parte, a demanda deve ser julgada improcedente. DAS EVENTUAIS DIFERENÇAS FUTURAS POSTERIORES À PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DA ADI 5.090, DO STF. De acordo com o acórdão, abaixo transcrito, caberá ao Conselho Curador do Fundo apurar, ANUALMENTE (OU EM CADA EXERCÍCIO), se a “TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos” alcançou, ou não, o IPCA no respectivo ano/exercício. Assim, a apuração somente acontecerá futuramente, sendo impossível, na presente data, saber se a ré cumprirá o julgado. “O Tribunal, por maioria e nos termos do voto médio do Ministro Flávio Dino, Redator para o acórdão, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta, com atribuição de efeitos ex nunc, a contar da publicação da ata de julgamento, estabelecendo o seguinte entendimento: a) Remuneração das contas vinculadas na forma legal (TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA) em todos os exercícios; e b) Nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/1990) determinar a forma de compensação. Vencidos os Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente e Relator), André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin, que julgavam parcialmente procedente o pedido para declarar que a remuneração das contas do FGTS não pode ser inferior à da caderneta de poupança, modulando os efeitos para os novos depósitos efetuados a partir de 2025. Ficaram vencidos parcialmente os Ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que julgavam inteiramente improcedente o pedido. Plenário, 12.6.2024. ” (Grifos e destaques nossos). Ressalte-se, ainda, que o trânsito em julgado da ADI 5.090 ocorreu em 15/04/2025, quando, então, passou a produzir efeitos (permaneceram interrompidos pelos embargos de declaração interpostos), o que significa que o Conselho Curador do Fundo somente efetuará a apuração acima referida no final do ano de 2025. O artigo 505, I, do CPC/2015 disciplina a situação em que há modificação no estado de direito: “Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei. “ (Grifo e destaque nossos). Em análise ao referido inciso I reproduzo os ensinamentos da doutrina, sendo: “Coisa julgada nas sentenças determinativas. Sentença determinativa é aquela que estabelece a norma individualizadora quanto às relações jurídicas continuativas, ou seja, àquelas que protraem-se no tempo. Por decidir relações de trato sucessivo, este tipo de sentença pode se deparar com modificações nas circunstâncias de fato ou de direito existentes quando de sua prolação. Por assim ser, admite-se a revisão do que restou estatuído na sentença. A questão que se coloca nesta seara refere-se à existência ou inexistência da coisa julgada nestas sentenças. Admitindo-se a autoridade da coisa julgada em relação às sentenças determinativas, surge uma nova dúvida, a de saber qual o fundamento que justifica a alteração de algo que se estabeleceu através de sentença tornada imutável e indiscutível. Pontue-se que há manifestação equivocada em sede normativa (artigo 15 da lei 5.478/68) e em sede doutrinária afirmando, respectivamente, que essas causas seriam peculiares em razão de as sentenças neles proferidas não transitarem em julgado ou não formarem coisa julgada material. No entanto, a sentença determinativa transita normalmente em julgado. Negar a aptidão destas sentenças ao trânsito em julgado – como faz Greco Filho – ensejariam graves problemas, como a execução definitiva da carga condenatória. Dificuldade maior vem sendo enfrentada em relação à formação da coisa julgada material em relação a estas sentenças. Há, inclusive, neste ponto, maior controvérsia em sede doutrinária. A tese que conta com maior adesão entre os doutrinadores admite a possibilidade destas sentenças alcançarem a coisa julgada material, tornando-se imutáveis e indiscutíveis. Trata-se, apenas, de aplicação da regra da tríplice identidade, como sói acontecer na análise de qualquer coisa julgada, de modo que há trânsito em julgado e forma-se coisa julgada material nos limites das partes, da causa de pedir e do pedido. A maior dificuldade, no entanto, encontra-se na fundamentação capaz de autorizar a revisão do que ficou estabelecido em sentença transitada em julgado, coberta pelo manto da coisa julgada. A maior parte da doutrina fundamenta a possibilidade desta revisão na existência de cláusula rebus sic stantibus nas sentenças determinativas. Nas relações jurídicas continuativas, que se protraem no tempo, podem ocorrer alterações nas circunstâncias de fato e de direito, assemelhando-as à “teoria da imprevisão”, o que autorizaria a revisão. Há quem sustente, no entanto, que todas as sentenças contêm esta cláusula rebus sic stantibus e nem todas admitem revisão. Para esta parcela da doutrina a justificação para a alteração do que disposto na sentença é a especial natureza da res in iudicium deducta, o que dá ensejo a uma sentença diferente das demais, no sentido de autorizar, no futuro, sua alteração, desde que haja mudança na realidade fática ou de direito. Esta seria, inclusive, a opção do legislador ordinário, tendo em conta o disposto no artigo 505, inciso I, do Código de Processo Civil. Registre-se uma terceira posição, a qual se adere, que entende desnecessário o recurso à clausula rebus sic stantibus ou à especial natureza da relação jurídica deduzida no processo, pois as sentenças determinativas não possuiriam nada de diferente em relação aos princípios gerais da coisa julgada. Afirma que a coisa julgada só atinge aquilo que foi julgado, ou seja, que a coisa julgada é a própria res iudicanda depois de ter sido iudicata e conclui, utilizando-se da teoria da tríplice identidade (artigo 337, § 2º, Código de Processo Civil), no sentido de não haver demandas idênticas a justificar o impedimento de apreciação da segunda demanda, de revisão, especialmente por conter causa de pedir distinta. A coisa julgada adere à decisão jurisdicional em relação a fatos pretéritos que foram, ou que deveriam ter sido alegados, nunca em relação a fatos que estão por acontecer. Estes, aliás, por questão lógica, não integram a causa de pedir da demanda que fora julgada. Assim, de acordo com a estudada teoria dos trea idem, este novo fato deverá servir de suporte a uma nova demanda, integrando a causa de pedir desta, sem que seja confundindo com a que já fora julgada. Assim posta a matéria, os fatos que ocorreram antes da propositura da demanda, estejam ou não inseridos na causa de pedir, ficarão acobertados pelo manto da coisa julgada, respectivamente por conta do limite objetivo e da eficácia preclusiva (princípio do deduzido dedutível) da coisa julgada. Neste sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme se depreende do acórdão proferido no Agravo Regimental em Recurso Especial nº 703.526-MG, e do Supremo Tribunal Federal, consubstanciada no Enunciado 239 de sua Súmula de jurisprudência dominante. (VIEIRA, Artur Diego Amorim. Coisa Julgada. Curitiba: Juruá, 2021, páginas 141/144)” (Grifos e destaques nossos). Aplicando-se a disposição do artigo 505, I, do CPC/2015 ao caso concreto conjugada com o entendimento dominante da doutrina, tem-se que a presente sentença não faria coisa julgada material em relação ao período posterior à publicação da ata de julgamento (17/06/2024), tendo em vista que não atingiria os eventos futuros. Desta forma, mesmo diante da improcedência do pedido, a parte autora, caso viesse a constatar futuramente (quando da apuração da “TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos”) diferenças a serem cobradas bastaria mover nova demanda judicial. Em síntese, a presente demanda não formaria a coisa julgada material em relação aos fatos futuros decorrentes de possíveis diferenças resultantes da apuração incidência dos índices nas contas vinculadas do FGTS, nos moldes, e em analogia, com a Súmula 239, do STF, sendo: “Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores.” Noutro norte, e também em relação aos eventos futuros posteriores à publicação da ata de julgamento da ADI 5.090 (17/06/2024), entendo ser mais acertado o entendimento que acolhe a falta de interesse de agir da parte. Isto porque, até que ocorre a apuração pelo Conselho Curador do Fundo, ao FINAL DO EXERCÍCIO, quanto à superação, ou não, da “TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos” em relação ao IPC-A, a parte autora não terá pretensão resistida e, consequentemente, lhe falta interesse de agir. Em síntese, até a apuração, a qual ocorrerá no final do exercício, a parte autora não possui interesse de agir, haja vista que não há direito violado. Aliás, neste aspecto, cabe trazer o artigo 28, da Lei 9.868/1999, sendo: “Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União a parte dispositiva do acórdão. Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal.” (Grifo e destaque nossos). Isto significa que, a par do efeito vinculante e erga omnes, não restará outra alternativa ao Conselho Curador do Fundo e à própria ré do que cumprir o acordão da ADI 5.090. O eventual de descumprimento do acordão viabilizaria o manejo, inclusive, da Reclamação, nos moldes do artigo 988, do CPC/2015: Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para: I - preservar a competência do tribunal; II - garantir a autoridade das decisões do tribunal; III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) § 1º A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir. § 2º A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida ao presidente do tribunal. § 3º Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao relator do processo principal, sempre que possível. § 4º As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos que a ela correspondam. § 5º É inadmissível a reclamação: (Vigência) I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada; (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) II – proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias. (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) § 6º A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto contra a decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a reclamação.” (Grifos e destaques nossos). Aqui, também reproduzo o artigo 103-A, e §3º, da CF/1988, sendo: “Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 11.417, de 2006). (...). § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.” (Grifos e destaques nossos). Melhor esclarecendo. Atos administrativos que violem Súmula Vinculante (possui efeito vinculante) podem ser atacados por Reclamação perante o STF. O mesmo entendimento pode ser aplicável caso a parte ré, por ato administrativo, viesse a descumprir o decidido na ADI 5.090, a qual também possui efeito vinculante e erga omnes. Consequentemente, eventual descumprimento pela parte demandada poderá ser rechaçado diretamente no STF, inclusive, por meio das entidades interessadas e/ou partes na ADI 5.090. Todo este detalhamento não almeja orientar quais devem ser os remédios processuais adequados na hipótese de eventual descumprimento, pela ré, do acórdão da ADI 5.090, mas, sim, demonstrar que a parte não possui interesse de agir nesta demanda, ao menos, em relação à eventuais diferenças futuras e posteriores à publicação da ata de julgamento da ADI 5.090, do STF, (17/06/2024). Assim sendo, entendo, em relação à possíveis diferenças futuras resultantes da apuração incidência dos índices nas contas vinculadas do FGTS (quando da apuração da “TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos” e se esta alcançou, ou não, o IPCA no respectivo ano/exercício), que, nesta demanda, falta interesse de agir para a parte requerente. Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, resolvo o mérito da controvérsia na forma do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil/2015, em relação ao período pretérito à publicação da ata de julgamento da ADI 5.090, do STF, (17/06/2024); e JULGO EXTINTO O PROCESSO, com base no artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil/2015, referente às possíveis diferenças futuras resultantes da apuração da incidência dos índices nas contas vinculadas do FGTS, ou seja, a partir de 17/06/2024. Sem custas ou honorários advocatícios neste grau de jurisdição (art. 55 da Lei nº 9.099/1995 combinado com o art. 1º da Lei nº 10.259/2001). Concedo à parte autora a Gratuidade da Justiça. Cientifiquem-se as partes de que, caso pretendam recorrer, seu prazo é de 10 (dez) dias, mediante representação por advogado. Transitada em julgado, arquivem-se. Sentença registrada eletronicamente. Publique-se. Intimem-se. Bragança Paulista/SP, data da assinatura eletrônica. Juiz Federal

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Ivone Silva Coutinho x Casa De Caridade De Muriae - Hospital Sao Paulo

ID: 328867758

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Muriaé Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5005200-04.2023.8.13.0439

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

IVONE SILVA COUTINHO

Polo Passivo:

CASA DE CARIDADE DE MURIAE - HOSPITAL SAO PAULO

Intimação

Advogados:

MYRTES MAGALHAES DIAS

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

BRUNO DE CASTRO ALMEIDA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PAULO ENRIQUE FREITAS CRUZ

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

MARIA FERNANDA MACHADO BIZZO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

DEBORA CAROLINA DE OLIVEIRA VILELA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

CAROLINA DE OLIVEIRA AVELAR

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Muriaé / 2ª Vara Cível da Comarca de Muriaé Avenida Presidente Arthur Bernardes, 123, Centro, Muriaé - MG - CEP: 36… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Muriaé / 2ª Vara Cível da Comarca de Muriaé Avenida Presidente Arthur Bernardes, 123, Centro, Muriaé - MG - CEP: 36880-005 PROCESSO Nº: 5005200-04.2023.8.13.0439 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Serviços de Saúde] AUTOR: IVONE SILVA COUTINHO CPF: 281.344.946-68 RÉU: CASA DE CARIDADE DE MURIAE - HOSPITAL SAO PAULO CPF: 22.780.498/0001-95 SENTENÇA Vistos. Cuida-se de "Ação de Reparação Civil por Danos Morais Decorrentes de Erro Médico - Imprudência", proposta por IVONE SILVA COUTINHO, devidamente qualificada nos autos, em desfavor da CASA DE CARIDADE DE MURIAE - HOSPITAL SAO PAULO, igualmente qualificada, sustentando, em suma, que, em 08 de fevereiro de 2023, deu entrada no estabelecimento hospitalar da Ré, buscando alívio para fortes e insuportáveis dores nas pernas. Durante o atendimento, foi realizado acesso venoso em seu braço direito para administração de medicações. Aduz que, ao ser retirado o referido acesso em 10 de fevereiro de 2023, o "silicone do jelco" – componente flexível do cateter intravenoso – não foi removido integralmente, permanecendo no interior de seu corpo. Afirma que o ocorrido foi comunicado aos médicos, que tentaram a retirada do objeto mediante cirurgia, sem êxito inicial. Prossegue, aduzindo que em 13 de fevereiro de 2023, foi novamente submetida a procedimento cirúrgico com a finalidade de remover o corpo estranho, o qual, embora retirado, teria resultado em "defeito na parede vascular causado pela fibrose e pela remoção de corpo estranho". A Autora recebeu alta hospitalar apenas em 27 de fevereiro de 2023, alegando ter sofrido, durante todo o período de internação, intensas dores físicas e considerável abalo psicológico, sustentando, assim, a ocorrência de imprudência por parte da equipe hospitalar e, por conseguinte, a responsabilidade civil do Réu por danos morais e estéticos. Requereu a condenação da Ré ao pagamento de indenização por danos morais em valor não inferior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e por danos estéticos não inferior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), conforme fatos e fundamentos contidos em ID. 9816336588. A inicial veio instruída com documentos. Despacho inicial proferido em ID. 9902014135. Ata da audiência de conciliação infrutífera em ID: 10126110124. A Ré, devidamente citada, apresentou contestação (ID 10141088793), refutando as alegações autorais. Preliminarmente, requereu a concessão dos benefícios da justiça gratuita, que lhe foi deferida em decisão de ID 10246101172, de 14 de junho de 2024, dada a sua natureza filantrópica e a comprovação de déficit financeiro. No mérito, a Ré alegou a ausência de ato ilícito e de nexo causal, argumentando que o cateter utilizado era aprovado pela ANVISA (ID 10141088061), de material flexível (Teflon), e que a equipe agiu com profissionalismo, seguindo todos os protocolos de segurança. A fragmentação do cateter, segundo a Ré, constituiu um evento imprevisível e isolado, sem relação com a atuação dos profissionais. Informou que o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) da instituição foi imediatamente acionado, notificou a ANVISA (ID 10141068017), suspendeu o uso do lote do material (ID 10141092090), e que a cirurgia vascular subsequente foi bem-sucedida na remoção do fragmento e de um segmento vascular trombosado, preservando as funções do membro. Por fim, impugnou os valores pleiteados a título de indenização, classificando-os como exorbitantes e ensejadores de enriquecimento sem causa. A parte Autora apresentou réplica às laudas de ID 10176811061, reiterando os termos da inicial e pugnando pelo acolhimento de seus pleitos. Em decisão de saneamento (ID 10246101172), foi deferida a produção de prova pericial médica para elucidar a controvérsia, dada a sua natureza eminentemente técnica. Para tanto, foi nomeada a Dra. PRISCILA CINTRA CAMPOS RESENDE, CRM-MG 72810, para atuar como perita do Juízo (ID 10327772982). A Ré apresentou seus quesitos em ID 10289575202. A parte Autora, embora intimada, não apresentou quesitos. O laudo pericial foi apresentado em 16 de fevereiro de 2025 (ID 10393192125). Ambas as partes foram intimadas para se manifestar sobre o laudo: a Ré o fez em 11 de março de 2025 (ID 10408348450), pugnando pela sua homologação, enquanto a Autora permaneceu inerte, conforme certidão de decurso de prazo (ID 10440270886). Não havendo mais provas a serem produzidas, as partes foram intimadas para apresentar alegações finais por meio de memoriais sucessivos (ID 10452891519). A Autora reiterou os termos da exordial e da impugnação (ID 10471699957), enquanto a Ré apresentou suas alegações finais em 13 de junho de 2025 (ID 10471948081), ratificando os argumentos da contestação e pugnando pela improcedência dos pedidos iniciais com base nas conclusões da perícia. Após, os autos vieram conclusos para sentença. É o relatório necessário. Decido. Tendo em vista que o feito teve regular tramitação, vencidas as questões processuais pendentes e inexistindo vícios a serem sanados, passo à análise do meritum causae. De plano, impende registrar que, em se tratando de atendimento médico prestado por hospital conveniado ao Sistema Único de Saúde, mostram-se inaplicáveis as regras do Código de Defesa do Consumidor, haja vista tratar-se de serviço prestado de forma universal (uti universi). A propósito: "APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. ERRO MÉDICO. HOSPITAL CONVENIADO AO SUS. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE CONDUTA ILÍCITA OU NEGLIGÊNCIA. NEXO CAUSAL NÃO DEMONSTRADO. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS INICIAIS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Não se aplicam as normas do Código de Defesa do Consumidor aos atendimentos médicos realizados em hospitais conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), prevalecendo a responsabilidade subjetiva para a análise de eventual erro médico. A responsabilidade civil, para fins de indenização, exige a comprovação de conduta antijurídica (comissiva ou omissiva), a ocorrência de dano e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano, nos termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil. No caso concreto, não restou demonstrada a conduta ilícita ou antijurídica dos requeridos, tampouco a negligência no atendimento prestado ao menor, tendo em vista que foram adotadas as providências possíveis diante do quadro clínico grave e da ausência de vagas em unidades de terapia intensiva." Sem grifo no original. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.25.063370-8/001, Relator(a): Des.(a) NEWTON TEIXEIRA CARVALHO, 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 04/07/2025, publicação da súmula em 08/07/2025) Desta feita, trata-se a parte Demandada de uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social do Ministério de Educação e Cultura, CGC 22.780.498/0001-95, reconhecido de utilidade pública federal, pelo Decreto Lei n.º 88.488, de 07.07.1963, que tem por finalidade a prestação especializado em Saúde e Educação. Ademais, da Ficha do paciente acostada às laudas de ID: 9816358576, tem-se como “Categoria: SUS – Sistema Único de Saúde. Dessa forma, afasto a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. À vista disso, no que tange à responsabilidade civil, incide, no caso em arrimo, o artigo 37, §6º, da Constituição Federal, uma vez que os hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde, ao prestarem serviço público, exercem atividade típica da administração. Sobre a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito público e das de direito privado prestadoras de serviços públicos, sob a modalidade do risco administrativo, a Constituição Federal, em seu art. 37, §6º, dispõe: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Com efeito, enquanto prestadores de serviço público, a responsabilidade civil dos hospitais conveniados ao SUS é de natureza objetiva, que prescinde da comprovação dos elementos subjetivos dolo ou culpa. Sobre os pressupostos da responsabilidade objetiva, precisas são as palavras de José dos Santos Carvalho Filho: “ A marca característica da responsabilidade objetiva é a desnecessidade de o lesado pela conduta estatal provar a existência de culpa do agente ou do serviço público. O fator culpa, então, fica desconsiderado como pressuposto da responsabilidade objetiva. Para configurar-se esse tipo de responsabilidade, bastam três pressupostos. O primeiro deles é a ocorrência do fato administrativo, assim considerado como qualquer forma de conduta, comissiva ou omissiva, legítima ou ilegítima, singular ou coletiva, atribuída ao Poder Público. Ainda que o agente estatal atue fora de suas funções, mas a pretexto de exercê-las, o fato é tido como administrativo, no mínimo pela má escolha do agente (culpa in eligendo) ou pela má fiscalização de sua conduta (culpa in vigilando). O segundo pressuposto é o dano. Já vimos que não há falar em responsabilidade civil sem que a conduta haja provocado um dano. Não importa a natureza do dano: tanto é indenizável o dano patrimonial como o dano moral. Logicamente, se o dito lesado não prova que a conduta estatal lhe causou um prejuízo, nenhuma reparação terá a postular. O último pressuposto é o nexo causal (ou relação de causalidade) entre o fato administrativo e o dano. Significa dizer que ao lesado cabe apenas demonstrar que o prejuízo sofrido se originou da conduta estatal, sem qualquer consideração sobre o dolo ou culpa. Se o dano decorre de fato que, de modo algum, pode ser imputado à Administração, não se poderá imputar responsabilidade civil a esta; inexistindo o fato administrativo, não haverá, por conseqüência, o nexo causal. Essa é a razão por que não se pode responsabilizar o Estado por todos os danos sofridos pelos indivíduos, principalmente quando decorrem de fato de terceiro ou de ação própria da vítima”. (in Manual de Direito Administrativo. 22ª edição. Editora Lumen Juris, 2009, páginas 531/531). Assim sendo, é ônus da parte Autora provar a existência do fato, do dano e do nexo de causalidade entre eles, nos termos do art. 373, I, do Código de Processo Civil. Pois bem, após análise acurada dos elementos insertos nos fólios da lide, denoto que NÃO prosperam os pleitos autorais, pelas seguintes razões: A controvérsia central nos presentes autos cinge-se à apuração de eventual responsabilidade civil da CASA DE CARIDADE DE MURIAE - HOSPITAL SAO PAULO por supostos danos morais e estéticos alegadamente sofridos pela Autora, IVONE SILVA COUTINHO, em decorrência da retenção de um fragmento de cateter intravenoso em seu braço, atribuída à imprudência ou negligência da equipe hospitalar durante a retirada do dispositivo. Para a completa e justa elucidação dos fatos e da aplicação do direito, impõe-se a análise pormenorizada dos elementos fáticos e probatórios, notadamente o laudo pericial, bem como dos fundamentos jurídicos pertinentes à responsabilidade civil na seara da saúde. No caso em análise, a pretensão indenizatória da Autora fundamenta-se precipuamente na alegação de falha na conduta da equipe de enfermagem ou médica durante a remoção do cateter, o que, por sua natureza, recai sobre o ato técnico do profissional de saúde. Portanto, a análise da responsabilidade do hospital demanda a verificação da existência de culpa (negligência, imprudência ou imperícia) por parte dos profissionais que atuaram no atendimento da Sra. Ivone Silva Coutinho. A narrativa inicial da Autora aponta que, em 10 de fevereiro de 2023, durante a retirada do acesso venoso periférico, o "silicone do jelco" permaneceu em seu braço, culminando na necessidade de uma cirurgia posterior para a remoção do fragmento. Esta alegação levanta a necessidade de um exame aprofundado das circunstâncias do ocorrido e das condutas adotadas, que, por sua complexidade técnica, justificou a produção de prova pericial. O laudo pericial, elaborado pela Dra. Priscila Cintra Campos Resende (ID 10393192125), revelou-se um instrumento probatório de fundamental importância para a elucidação dos fatos. A perita, em sua análise minuciosa, acessou o prontuário médico completo da paciente, incluindo evoluções médicas e de enfermagem, laudos de exames complementares, relatórios de internação e dados sobre os materiais utilizados, realizando, ademais, entrevista pericial com a Autora. Conforme as conclusões periciais, o cateter utilizado era um Jelco 20G da marca TKL, fabricado em Teflon (politetrafluoroetileno - PTFE), material flexível, biocompatível e de baixa aderência, homologado pela ANVISA. A função deste dispositivo é permitir o acesso venoso periférico para administração de soluções intravenosas, medicamentos e coleta de sangue. O laudo é categórico ao afirmar que "Sim, o cateter utilizado foi um Jelco 20G da marca TKL, fabricado pela empresa Mediplus. Cateter com material em Teflon (politetrafluoroetileno - PTFE), um material flexível, biocompatível e de baixa aderência, o que reduz o risco de trombose e inflamação local. Sua função é permitir acesso venoso periférico para administração de soluções intravenosas, medicamentos, soroterapia, hemoderivados e coleta de sangue." (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 13). A perita abordou a questão da possibilidade de rompimento do cateter sem erro profissional, asseverando que "Sim, é possível. Estudos científicos demonstram que a fragmentação de cateteres venosos periféricos, embora rara, pode ocorrer independentemente da técnica utilizada" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 13). Apontou como possíveis causas da ruptura fatores mecânicos (dobra excessiva, compressão externa, uso prolongado, fatores anatômicos), fatores químicos (interação com soluções irritantes) e fatores relacionados à remoção (força excessiva, movimentação brusca). Todavia, ao analisar o prontuário e os relatos da técnica de enfermagem e da própria paciente, a perita enfaticamente afirmou que "Não. Os documentos analisados não apontam falha na inserção do cateter. Não há registros de resistência excessiva na punção, dificuldades técnicas, reposicionamentos repetidos ou qualquer intercorrência que pudesse ter fragilizado o dispositivo. Assim como não há relato de alguma das partes sobre" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 14). Esta constatação é corroborada pela própria declaração da técnica de enfermagem e da paciente, que não relataram movimentos bruscos ou dificuldades na retirada, como explicitado no laudo. A raridade do evento de rompimento de cateter venoso periférico foi destacada pela perita, que citou estudo de tecnovigilância conduzido no Brasil entre 2007 e 2016. O estudo indicou que, dentre 671 notificações de eventos adversos envolvendo cateteres venosos periféricos, apenas 7% correspondiam a casos de ruptura dentro da veia, o que, diante do volume de acessos venosos realizados diariamente no país, configura uma incidência estatisticamente irrelevante (cerca de 67 casos por ano). A perita concluiu que a "principal causa da fragmentação do cateter está associada a falhas estruturais do material, e não a erro técnico da equipe médica ou de enfermagem" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 11). No tocante à conduta da equipe hospitalar após a constatação da fragmentação, o laudo pericial é uníssono em atestar a correção e a tempestividade das ações. A perita afirmou que "Sim, a equipe agiu prontamente assim que foi identificada a fragmentação do cateter. Inicialmente, foi realizada tentativa de remoção por incisão local e acesso superficial. Diante da dificuldade, a equipe solicitou exames de imagem e acionou a cirurgia vascular, seguindo os protocolos estabelecidos" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 14). A conduta de acionar o cirurgião vascular e a indicação do procedimento cirúrgico para remoção do fragmento e do segmento vascular trombosado foram consideradas corretas e tempestivas. A cirurgia, realizada em 13 de fevereiro de 2023, logrou êxito na remoção do corpo estranho e do trombo, sem comprometimento funcional do membro da Autora, conforme a conclusão pericial de que "Sim, o fragmento do cateter e o segmento vascular trombosado foram removidos com sucesso, sem comprometimento funcional do membro. O exame pericial não constatou déficits motores ou neurológicos significativos" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 15). No que diz respeito às normas de segurança dos órgãos públicos competentes e os protocolos internos, a perita confirmou que "Sim, o hospital seguiu todas as normas de segurança e os protocolos estabelecidos pelos órgãos reguladores conforme constatado através dos documentos apresentados nos laudos" (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 16). O fato de o mesmo lote de material ter sido utilizado em 4.601 pacientes no mês de fevereiro de 2023, sem nenhuma outra intercorrência, corrobora a natureza imprevisível e isolada do evento, alinhando-se aos dados de tecnovigilância que indicam baixa incidência desse tipo de falha, afastando qualquer relação com erro técnico dos profissionais envolvidos, como também constatou a perícia (Laudo Pericial, ID 10393192125, página 16). No que concerne às alegadas sequelas e danos, o exame pericial não constatou déficits motores ou neurológicos significativos no membro superior direito da Autora. Embora a Autora relate dor e dormência, o exame físico pericial revelou mobilidade, força, sensibilidade e reflexos preservados, com boa perfusão periférica. A perita concluiu que a cicatriz na fossa cubital é "bem formada" e sem sinais de inflamação ativa, e que sua localização em uma região de dobra do cotovelo a torna mais visível apenas com o braço estendido, não caracterizando um dano estético grave, mas um desconforto subjetivo. A própria perícia aponta que os sintomas referidos pela Autora, como dor intensa e dormência, podem estar relacionados a condições preexistentes, como a doença de Parkinson ou o quadro depressivo, sem que haja nexo causal com o evento hospitalar. A alegação de abalo psicológico, embora compreensível diante de qualquer intercorrência médica, não foi robustamente comprovada como decorrente da conduta do hospital, sendo a perita taxativa ao indicar que a Autora já apresentava "humor deprimido" em seu histórico. A conjugação dos elementos fáticos e da prova técnica produzida nos autos permite concluir, com segurança, pela ausência de qualquer falha na prestação do serviço hospitalar por parte do Réu e de culpa na atuação de seus prepostos. Não se demonstrou que a conduta dos profissionais foi negligente, imprudente ou imperita, requisitos indispensáveis para a configuração da responsabilidade civil subjetiva dos médicos, e, por extensão, do hospital em casos de atos técnicos. A intercorrência da fragmentação do cateter, embora lamentável, foi um evento adverso raro, imprevisível e inerente a uma falha do material, e não a um erro humano, conforme cabalmente demonstrado pelo laudo pericial. A atuação do hospital e de sua equipe foi pautada pela diligência e observância dos protocolos, tanto na inserção e retirada do cateter quanto no manejo da complicação. Desde o momento da constatação do fragmento, todas as medidas cabíveis foram adotadas prontamente, incluindo exames de imagem, acionamento do cirurgião vascular, realização da cirurgia corretiva e notificação aos órgãos competentes, sempre visando a segurança e o bem-estar da paciente. Tais condutas demonstram que o hospital agiu com o devido zelo profissional, afastando qualquer pretensão indenizatória. A responsabilidade civil, nos termos do artigo 186 do Código Civil, exige a presença de um ato ilícito, do dano e do nexo de causalidade entre a conduta e o dano. No presente caso, a prova pericial, que é o meio mais apto para a elucidação de questões de natureza técnica, foi categórica em afastar tanto o ato ilícito (erro profissional) quanto o nexo de causalidade entre a conduta da equipe e a fragmentação do material ou os alegados danos permanentes. A ausência de quaisquer desses elementos essenciais descaracteriza o dever de indenizar. No mesmo sentido, confira os seguintes julgados do E. TJMG: "DIREITO CIVIL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. AUSÊNCIA DE FALHA NA CONDUTA MÉDICA. RECURSO DESPROVIDO. I. Caso em exame Trata-se de ação indenizatória ajuizada contra hospital e médico, sob alegação de ocorrência de erro médico, consistente na suposta permanência de fragmento de bisturi no joelho do autor e paciente após cirurgia. A sentença julgou parcialmente procedente os pedidos iniciais, apenas quanto à restituição de valores referentes a materiais cirúrgicos cobrados do autor, rejeitando os demais pleitos indenizatórios. O autor interpôs apelação buscando a realização de nova perícia e a condenação dos réus ao pagamento de indenização por danos materiais e morais. II. Questão em discussão 2. As questões em discussão são: (i) a necessidade de realização de nova perícia judicial, diante da alegada insuficiência do laudo pericial apresentado; (ii) a ocorrência de erro médico que justifique a responsabilização civil dos réus; (iii) a caracterização de danos materiais e morais indenizáveis. III. Razões de decidir 3. A perícia judicial foi conclusiva ao afastar qualquer indício de negligência, imprudência ou imperícia na conduta médica adotada, demonstrando que o procedimento realizado está em conformidade com a literatura médica. 4. A presença de fragmento metálico no joelho do autor foi reconhecida, mas não foram constatados sinais inflamatórios ou infecciosos, tampouco agravamento clínico diretamente atribuível ao corpo estranho. 5. A alegação de erro médico não se sustenta, pois a decisão pela não remoção imediata do fragmento integra a autonomia técnica do cirurgião, conforme foi justificado no laudo pericial apresentado. 6. Não restou comprovado o pagamento indevido de honorários médicos, uma vez que o documento apresentado pelo autor não possui elementos hábeis a demonstrar o dispêndio ou destinação da quantia alegada. 7. Inexisti ndo falha na prestação do serviço médico e não comprovado o nexo causal entre a conduta dos réus e os danos alegados, é de se manter a sentença de improcedência quanto aos pedidos indenizatórios. IV. Dispositivo e tese 8. Recurso desprovido. Tese de julgamento: "1. A responsabilidade civil do profissional médico é, via de regra, subjetiva, exigindo-se a demonstração de culpa na modalidade de negligência, imprudência ou imperícia. 2. A permanência de fragmento metálico no organismo do paciente, sem evidências de falha técnica ou agravamento clínico, não caracteriza, por si só, erro médico passível de indenização. 3. A ausência de prova da realização, destinação e finalidade de pagamento não autoriza a condenação ao ressarcimento por supostos honorários médicos cobrados de forma indevida." Dispositivos relevantes citados: CC/2002, arts. 186 e 927; CDC, art. 14, § 4º; CPC, arts. 373, I, e 480. Jurisprudência relevante citada: TJMG, Apelação Cível 1.0000.22.179317-7/003, Rel. Des. Sérgio André da Fonseca Xavier, 18ª Câmara Cível, j. 06/05/2025, pub. 07/05/2025." Sem grifo no original. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.25.192567-3/001, Relator(a): Des.(a) EVELINE FELIX, 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 01/07/2025, publicação da súmula em 02/07/2025) "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ERRO MÉDICO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO NOSOCÔMIO - CURETAGEM - AUSÊNCIA DE CONSTATAÇÃO DE ERRO MÉDICO - LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO - COMPATIBILIDADE DOS PROCEDIMENTOS COM O DIAGNÓSTICO - IMPROCEDÊNCIA DA DEMANDA - SENTENÇA MANTIDA. É objetiva a responsabilidade do nosocômio, nos termos do art. 14 do CDC, limitada aos serviços relacionados ao estabelecimento empresarial, tais como estadia do paciente (internação e alimentação), instalações, equipamentos e serviços auxiliares (enfermagem, exames, Radiologia e etc). Comprovada através de perícia a ausência de qualquer inobservância, pelo corpo clínico da ré, das condutas técnico-científicas necessárias ao tratamento da parte autora, cujas complicações decorrentes do procedimento de curetagem se deram dentro do esperado na literatura médica e em consonância com o quadro clínico da paciente, não há que se falar em responsabilização do nosocômio ao pagamento de qualquer indenização." Sem grifo no original. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.25.116765-6/001, Relator(a): Des.(a) Jaqueline Calábria Albuquerque , 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/05/2025, publicação da súmula em 02/06/2025) Assim sendo, a tese autoral, fundada em suposta imprudência e erro médico, desvanesce diante do arcabouço probatório, especialmente o laudo pericial, que corrobora integralmente a tese defensiva. Não há, portanto, fundamentos fáticos ou jurídicos que suportem a procedência dos pedidos iniciais. Ante o exposto, com fulcro no artigo 487, I, do CPC, com resolução de mérito, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais manejados por Inove Silva Coutinho em desfavor de Casa de Caridade de Muriaé - Hospital São Paulo, para que produza seus jurídicos e legais efeitos. Condeno a Autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios que arbitro, nos termos do art. 85, §8º, do CPC, em R$2.000,00 (dois mil reais), suspensa a exigibilidade nos termos do art. 98, § 3º, do CPC. P. R. I. C. Muriaé, data da assinatura eletrônica. MAURÍCIO JOSÉ MACHADO PIROZI Juiz de Direito - em substituição 2ª Vara Cível da Comarca de Muriaé

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