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"1004226-06.2023.8.26.0655" - Resultados da Busca – Página 42 de 42

Processo nº 1004513-44.2019.8.11.0002

ID: 337615866

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1004513-44.2019.8.11.0002

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A.

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

JOSE CARLOS VAN CLEEF DE ALMEIDA SANTOS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1004513-44.2019.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Seguro, Acidente de Trânsito] Relator: Des(a). … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1004513-44.2019.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Seguro, Acidente de Trânsito] Relator: Des(a). MARILSEN ANDRADE ADDARIO Turma Julgadora: [DES(A). MARILSEN ANDRADE ADDARIO, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS] Parte(s): [ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. - CNPJ: 08.816.067/0001-00 (APELANTE), JOSE CARLOS VAN CLEEF DE ALMEIDA SANTOS - CPF: 326.415.498-67 (ADVOGADO), JOANIR PAES DE DEUS - CPF: 568.856.441-53 (APELADO), JONATAS PEIXOTO LOPES - CPF: 004.280.311-02 (ADVOGADO), YASMIN DE PINHO NOVO - CPF: 045.747.311-84 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. E M E N T A E M E N T A RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REGRESSIVA DE DANOS CAUSADOS – IMPROCEDÊNCIA – ACIDENTE DE TRÂNSITO – ENGAVETAMENTO – CULPA DO RÉU NÃO COMPROVADA – BOLETIM DE OCORRÊNCIA INSUFICIENTE – AUSÊNCIA DE PROVA ORAL – ÔNUS DA PROVA NÃO CUMPRIDO (ART. 373, I, CPC/15) – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. 1. A ação regressiva da seguradora contra terceiro requer prova clara e suficiente da culpa deste, conforme os arts. 186 do CC e 373, I, do CPC/15. 2. O boletim de ocorrência, por ter presunção apenas relativa, não basta, por si só, para demonstrar responsabilidade em acidentes complexos como engavetamentos. 3. Ao sub-rogar-se nos direitos do segurado, a autora assume integralmente o ônus da prova, do qual não se desincumbiu, limitando-se à juntada do boletim e ausentando-se injustificadamente da audiência de instrução. A ausência de prova oral ou técnica inviabiliza a apuração adequada da dinâmica do sinistro. 4. Recurso desprovido.- R E L A T Ó R I O SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO CÍVEL 1004513-44.2019.8.11.0002 – COMARCA DE VÁRZEA GRANDE/MT APELANTE: ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. APELADO: JOANIR PAES DE DEUS R E L A T Ó R I O EXMO. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO Egrégia Câmara: Trata-se de Recurso de Apelação Cível interposto por ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. na Ação Regressiva de Danos ajuizada em face de JOANIR PAES DE DEUS, contra a sentença que julgou improcedente o pedido formulado e, condenou a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixou em R$ 3.000,00 (três mil reais), nos termos do artigo 85, §§2º e 8º, do CPC/15, conforme ID 294840447. Em suas razões recursais, a recorrente sustenta, em síntese, que o boletim de ocorrência goza de presunção juris tantum de veracidade, prevalecendo até prova em contrário, e que a dinâmica do acidente é clara e incontroversa, podendo ser verificada no boletim de ocorrência acostado à peça inaugural, do qual se extrai a culpa exclusivamente imputável ao apelado e, que o mesmo, infringindo as regras de trânsito, não manteve a distância segura do veículo que o antecedia, vindo a abalroar na traseira do automóvel segurado. Alega que a transgressão do dever de cuidado pelo apelado, de forma negligente e imprudente, caracteriza ato ilícito, nos termos do artigo 186 do Código Civil, bem como que o acidente ocorreu por culpa exclusiva do apelado, que desrespeitou normas de trânsito ao deixar de guardar distância frontal segura e transitar em velocidade incompatível. Assevera, ainda, que os documentos anexos comprovam de forma inequívoca a indenização referente aos consertos realizados no veículo segurado, no valor total de R$ 65.853,17 (sessenta e cinco mil, oitocentos e cinquenta e três reais e dezessete centavos), considerando a alienação do salvado por R$ 13.000,00 (treze mil reais). Por fim, requer o provimento do recurso, com a consequente reforma da sentença para julgar procedente o pedido inicial, condenando o apelado ao ressarcimento do valor despendido pela seguradora. Contrarrazões pelo desprovimento (ID 294840454). É o relatório.- V O T O R E L A T O R SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO CÍVEL 1004513-44.2019.8.11.0002 – COMARCA DE VÁRZEA GRANDE/MT APELANTE: ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. APELADO: JOANIR PAES DE DEUS V O T O EXMO. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO Egrégia Câmara: A demanda originária decorre de colisão de trânsito ocorrida em 22 de fevereiro de 2018, na BR-163, km 794, município de Vera/MT, envolvendo o veículo HONDA CIVIC SPORT CVT, cor preta, placa BAZ-1793, segurado pela apelante, conduzido pelo senhor Tiago de Oliveira Delani, e o veículo VOLVO/FH 440 6X2T, cor branca, placa NOM-1303, conduzido pelo apelado, JOANIR PAES DE DEUS. Alegou-se que o condutor do caminhão Volvo teria colidido na traseira do veículo segurado, causando um engavetamento que atingiu outros veículos à frente e gerando danos materiais ao automóvel segurado de grande monta. A sentença recorrida concluiu pela insuficiência probatória quanto à culpa do apelado, julgando improcedente a demanda, principalmente em razão da ausência injustificada da parte autora na audiência de instrução, somada à insuficiência do boletim de ocorrência como prova exclusiva da responsabilidade em um acidente complexo na modalidade engavetamento. Pois bem. Conforme se infere dos autos, a controvérsia principal reside em verificar se a parte autora/apelante logrou comprovar a culpa exclusiva do réu/apelado pelo acidente de trânsito que ensejou o pagamento da indenização securitária, requisito indispensável para o acolhimento da pretensão regressiva. Analisando detidamente os elementos constantes dos autos, tenho que o recurso não comporta provimento. Primeiramente, impende ressaltar que, nas ações de ressarcimento fundadas em acidente de trânsito, a responsabilidade civil a ser apurada é de natureza subjetiva, dependendo da demonstração dos seguintes pressupostos: (i) conduta culposa do agente; (ii) dano; e (iii) nexo causal entre a conduta e o dano. No caso em apreço, é inconteste a ocorrência do dano e o consequente pagamento da indenização pela seguradora ao seu segurado. A celeuma, portanto, cinge-se à demonstração da culpa do réu/apelado pelo sinistro e do nexo causal entre sua conduta e os prejuízos experimentados. O ônus da prova, em tal situação, compete à parte autora, nos termos do artigo 373, inciso I, do CPC/15: "Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;" A seguradora autora, ao sub-rogar-se nos direitos do segurado, assume a posição deste na relação jurídica material, mas também herda o ônus probatório que seria dele em eventual ação de reparação de danos. A prova juntada aos autos pela apelante para demonstrar a culpa do réu/apelado consiste basicamente no Boletim de Ocorrência (ID 294840350), no qual consta a seguinte narrativa: "Conforme averiguações realizadas no local do acidente, no perímetro municipal de Vera/MT, no km 794 da BR-163, sentido crescente, constatamos através dos vestígios e declarações dos envolvidos que o V1 (CHEVROLET/CLASSIC LS, cor cinza, placa OBO-4830, conduzido por LUIZ RODRIGUES DA SILVA, CPF 32752563604) se deparou com uma caminhão baú e um outro veículo parados sobre a via. V1 parou seu veículo também sobre a via, ligou o pisca-alerta. V2 (HONDA/CIVIC SPORT CVT, cor preta, placa BAZ-1793, conduzido por TIAGO DE OLIVEIRA DELANI, CPF 05284205936) também parou sobre a via e ligou o pisca-alerta, logo atrás de V1. V3 (VOLVO/FH 440 6X2T, cor branca, placa NOM-1303, conduzido por JOANIR PAES DE DEUS, CPF 56885644153) vinha logo atrás, freou, porém não conseguiu parar o veículo e colidiu na traseira de V2, que colidiu na traseira de V1, que colidiu na traseira de outro veículo à frente." O Boletim de Ocorrência, enquanto documento público, goza de presunção juris tantum (relativa) de veracidade quanto aos fatos que o agente público tenha verificado pessoalmente. No entanto, em se tratando de documento elaborado após o evento, baseado em vestígios e declarações dos envolvidos, sua força probante é mitigada, especialmente quanto à dinâmica exata do acidente e à individualização de culpas. Este é o entendimento consolidado da jurisprudência, inclusive deste Tribunal de Justiça: “APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO REGRESSIVA. IMPROCEDÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVAS DA RESPONSABILIDADE DA PARTE DEMANDADA PELO ACIDENTE ENVOLVENDO VEÍCULO SEGURADO. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO BASEADA UNICAMENTE EM BOLETIM DE OCORRÊNCIA. DOCUMENTO UNILATERAL QUE POSSUI APENAS PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. PARTE QUE DEIXOU DE PRODUZIR OUTRAS PROVAS DO FATO CONSTITUTIVO DE DEU DIREITO. ARTIGO 373, I, DO CPC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Ainda que o segurador possa buscar ressarcimento junto ao causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro, conforme inteligência do art. 786, do Código Civil, e da Súmula 188, do STF, é necessário que comprove a responsabilidade da parte ré pelo dano causado. 2. De acordo com as provas dos autos não há como reconhecer a culpa da parte apelada pelo acidente, tendo em vista que o Boletim de Ocorrência, único documento por meio do qual a seguradora pretende comprovar suas alegações, foi elaborado pelo condutor do veículo, ou seja, pelo próprio segurado, sendo que as informações nele constantes são de sua inteira responsabilidade. 3. Cabia à demandante a prova dos fatos constitutivos do direito que alega, sendo certo que a prova produzida nos autos não é suficiente para responsabilizar o réu, como bem decidiu o juízo de primeiro grau 4. Apelação conhecida e improvida. Sentença mantida.” (TJ-CE - Apelação Cível: 0147531-89.2016.8 .06.0001 Fortaleza, Relator.: RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS, Data de Julgamento: 29/11/2023, 1ª Câmara Direito Privado) (g.n.) “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – NEXO DE CAUSALIDADE – AUSÊNCIA – INEXISTÊNCIA DE PROVA PARA COMPROVAR QUE O VEÍCULO DO MUNICÍPIO TEVE ENVOLVIMENTO NO ACIDENTE – RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. 1 – Como regra, o Boletim de Ocorrência não gera presunção iuris tantum de veracidade dos fatos nele narrados, pois se trata de declaração unilateral do interessado. 2 – A ausência de prova, para fins de demonstrar o nexo de causalidade, afasta a pretensão indenizatória contra o município. 3 – Recurso de Apelação provido.” (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 10290938920178110041, Relator.: HELENA MARIA BEZERRA RAMOS, Data de Julgamento: 04/09/2024, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 12/09/2024) (g.n.) No caso em análise, o boletim de ocorrência, isoladamente considerado, não possui o condão de comprovar, de forma inequívoca, a culpa exclusiva do réu pelo acidente, sobretudo diante da complexidade da dinâmica de um engavetamento envolvendo múltiplos veículos. Cabe ressaltar que, embora o documento policial indique que o réu "freou porém não conseguiu parar o veículo e colidiu na traseira", tal registro, por si só, não elucida completamente as circunstâncias em que o acidente ocorreu, como, por exemplo: (i) a velocidade em que trafegava o veículo do réu; (ii) as condições da via no momento do sinistro; (iii) se a parada dos veículos à frente foi abrupta ou gradual; (iv) se havia sinalização adequada da parada dos veículos; (v) o tempo de reação possível para evitar a colisão; dentre outras variáveis que seriam relevantes para a aferição da culpa. Importante destacar que, nas situações de engavetamento, a presunção relativa de culpa daquele que colide na traseira deve ser analisada com especial cautela, não se aplicando de forma automática e absoluta como em casos de colisões simples entre dois veículos. Isso porque, em cenários de colisão múltipla e em cadeia, diversos fatores podem influenciar a dinâmica do acidente, exigindo uma análise mais aprofundada das circunstâncias fáticas. Nesse contexto, a prova oral, que poderia ser produzida em audiência de instrução, mostrava-se fundamental para esclarecer os pontos controvertidos da lide e permitir uma adequada individualização de responsabilidades. Contudo, conforme destacado na sentença, a parte autora, ora apelante, embora regularmente intimada, não compareceu à audiência de instrução designada, tampouco apresentou testemunhas ou justificou sua ausência. Tal comportamento processual revela notório desinteresse na dilação probatória e representa verdadeiro abandono do ônus que lhe competia de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. Sobre o tema, vale transcrever o seguinte trecho da sentença, que merece ser mantido por seus próprios fundamentos: "Embora tenha sido juntado aos autos boletim de ocorrência e documentos atinentes ao pagamento da indenização securitária, é cediço que o mero registro policial não tem força probatória absoluta, especialmente quando contestado e desacompanhado de outras provas robustas, razão pela qual deve ser valorado com parcimônia nos termos do art. 405 do CPC e da jurisprudência consolidada sobre o tema. Ademais, trata-se de colisão traseira com múltiplos veículos envolvidos (engavetamento), situação que requer cuidadosa análise da dinâmica fática para aferição de eventual culpa exclusiva ou concorrente. Nessa perspectiva, a prova oral se mostrava indispensável à formação do convencimento do Juízo (art. 370 do CPC), mormente diante das teses contrapostas apresentadas pelas partes. Ocorre que a autora, embora regularmente intimada, não compareceu à audiência de instrução e tampouco apresentou testemunhas, não justificando sua ausência. Tal inércia revela desinteresse na instrução e, por conseguinte, representa verdadeiro abandono da carga probatória que lhe competia." (ID 294840447, p.2) Em casos como o dos autos, onde existe controvérsia sobre a culpa pelo acidente, a produção de prova oral seria essencial para a formação do convencimento do juízo, não sendo o boletim de ocorrência, por si só, suficiente para embasar a condenação, especialmente diante da complexidade do evento danoso (engavetamento com múltiplos veículos). Vale ressaltar que o não comparecimento injustificado da parte à audiência de instrução, embora não implique automaticamente na improcedência do pedido, constitui elemento relevante na valoração global do conjunto probatório e na aferição do cumprimento do ônus que lhe competia. Outrossim, a alegação da apelante de que a culpa pelo acidente recai integralmente sobre o apelado, por supostamente não ter mantido a distância segura e trafegado em velocidade incompatível, demandaria comprovação robusta, o que não ocorreu no caso em tela. Com efeito, em que pesem as alegações da apelante quanto à presunção de culpa em colisões traseiras, tal presunção é relativa e, no contexto de um engavetamento, demandaria maiores elementos probatórios para sua confirmação, os quais não foram produzidos nos autos por inércia da própria parte interessada. Importante destacar também que a versão do apelado, que alega que "a fila parou de repente", sugere possível fato superveniente que poderia caracterizar excludente de responsabilidade, hipótese que demandaria maior dilação probatória para ser adequadamente avaliada. Além disso, não houve produção de prova técnica que pudesse demonstrar, por exemplo, a velocidade dos veículos, as distâncias mantidas e as condições da via, elementos que seriam cruciais para a correta aferição da responsabilidade pelo sinistro. Por fim, ressalte-se que o simples pagamento de indenização pela seguradora ao segurado, com a consequente sub-rogação nos direitos deste (art. 786 do Código Civil), não exime a autora do ônus de comprovar a responsabilidade civil do terceiro apontado como causador do dano. Como bem consignou o magistrado de primeiro grau: "Cabe sublinhar, por fim, que o simples pagamento de indenização pela seguradora ao seu segurado, no exercício do direito de regresso (art. 786 do CC), não gera presunção de culpa do terceiro apontado como causador do dano, sendo necessária a demonstração efetiva do dever de indenizar. A sub-rogação transmite os direitos do segurado ao segurador, mas não exime o novo titular da ação do cumprimento do ônus probatório originário." Nesse sentido: “REGRESSIVA. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ENGAVETAMENTO. Pese à presunção de culpa de quem colide na traseira, a verdade formal colhida impede se conclua pela responsabilidade do réu. Via de rápida circulação, onde o motorista segurado empreendeu parada brusca e desnecessária, segundo versão colhida na fase policial. Álea natural da atividade securitária que deve prevalecer. Improcedência mantida. Recurso desprovido.” (TJ-SP - AC: 10042264820218260114 SP 1004226-48.2021.8.26 .0114, Relator.: Ferreira da Cruz, Data de Julgamento: 10/10/2022, 28ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/10/2022) Diante desse contexto, não tendo a apelante se desincumbido do ônus de comprovar, de forma robusta e inequívoca, a culpa exclusiva do réu pelo acidente que ensejou o pagamento da indenização securitária, deve ser mantida a sentença que julgou improcedente o pedido de ressarcimento. Diante do exposto, nego provimento ao recurso e elevo os honorários advocatícios fixados na sentença em mais R$1.500,00 (mil e quinhentos reais). É como voto.- Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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Processo nº 1004513-44.2019.8.11.0002

ID: 337615867

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1004513-44.2019.8.11.0002

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JOANIR PAES DE DEUS

Acórdão

Advogados:

JONATAS PEIXOTO LOPES

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YASMIN DE PINHO NOVO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1004513-44.2019.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Seguro, Acidente de Trânsito] Relator: Des(a). … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1004513-44.2019.8.11.0002 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Seguro, Acidente de Trânsito] Relator: Des(a). MARILSEN ANDRADE ADDARIO Turma Julgadora: [DES(A). MARILSEN ANDRADE ADDARIO, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS] Parte(s): [ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. - CNPJ: 08.816.067/0001-00 (APELANTE), JOSE CARLOS VAN CLEEF DE ALMEIDA SANTOS - CPF: 326.415.498-67 (ADVOGADO), JOANIR PAES DE DEUS - CPF: 568.856.441-53 (APELADO), JONATAS PEIXOTO LOPES - CPF: 004.280.311-02 (ADVOGADO), YASMIN DE PINHO NOVO - CPF: 045.747.311-84 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME. E M E N T A E M E N T A RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REGRESSIVA DE DANOS CAUSADOS – IMPROCEDÊNCIA – ACIDENTE DE TRÂNSITO – ENGAVETAMENTO – CULPA DO RÉU NÃO COMPROVADA – BOLETIM DE OCORRÊNCIA INSUFICIENTE – AUSÊNCIA DE PROVA ORAL – ÔNUS DA PROVA NÃO CUMPRIDO (ART. 373, I, CPC/15) – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. 1. A ação regressiva da seguradora contra terceiro requer prova clara e suficiente da culpa deste, conforme os arts. 186 do CC e 373, I, do CPC/15. 2. O boletim de ocorrência, por ter presunção apenas relativa, não basta, por si só, para demonstrar responsabilidade em acidentes complexos como engavetamentos. 3. Ao sub-rogar-se nos direitos do segurado, a autora assume integralmente o ônus da prova, do qual não se desincumbiu, limitando-se à juntada do boletim e ausentando-se injustificadamente da audiência de instrução. A ausência de prova oral ou técnica inviabiliza a apuração adequada da dinâmica do sinistro. 4. Recurso desprovido.- R E L A T Ó R I O SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO CÍVEL 1004513-44.2019.8.11.0002 – COMARCA DE VÁRZEA GRANDE/MT APELANTE: ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. APELADO: JOANIR PAES DE DEUS R E L A T Ó R I O EXMO. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO Egrégia Câmara: Trata-se de Recurso de Apelação Cível interposto por ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. na Ação Regressiva de Danos ajuizada em face de JOANIR PAES DE DEUS, contra a sentença que julgou improcedente o pedido formulado e, condenou a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixou em R$ 3.000,00 (três mil reais), nos termos do artigo 85, §§2º e 8º, do CPC/15, conforme ID 294840447. Em suas razões recursais, a recorrente sustenta, em síntese, que o boletim de ocorrência goza de presunção juris tantum de veracidade, prevalecendo até prova em contrário, e que a dinâmica do acidente é clara e incontroversa, podendo ser verificada no boletim de ocorrência acostado à peça inaugural, do qual se extrai a culpa exclusivamente imputável ao apelado e, que o mesmo, infringindo as regras de trânsito, não manteve a distância segura do veículo que o antecedia, vindo a abalroar na traseira do automóvel segurado. Alega que a transgressão do dever de cuidado pelo apelado, de forma negligente e imprudente, caracteriza ato ilícito, nos termos do artigo 186 do Código Civil, bem como que o acidente ocorreu por culpa exclusiva do apelado, que desrespeitou normas de trânsito ao deixar de guardar distância frontal segura e transitar em velocidade incompatível. Assevera, ainda, que os documentos anexos comprovam de forma inequívoca a indenização referente aos consertos realizados no veículo segurado, no valor total de R$ 65.853,17 (sessenta e cinco mil, oitocentos e cinquenta e três reais e dezessete centavos), considerando a alienação do salvado por R$ 13.000,00 (treze mil reais). Por fim, requer o provimento do recurso, com a consequente reforma da sentença para julgar procedente o pedido inicial, condenando o apelado ao ressarcimento do valor despendido pela seguradora. Contrarrazões pelo desprovimento (ID 294840454). É o relatório.- V O T O R E L A T O R SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELAÇÃO CÍVEL 1004513-44.2019.8.11.0002 – COMARCA DE VÁRZEA GRANDE/MT APELANTE: ITAU SEGUROS DE AUTO E RESIDENCIA S.A. APELADO: JOANIR PAES DE DEUS V O T O EXMO. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO Egrégia Câmara: A demanda originária decorre de colisão de trânsito ocorrida em 22 de fevereiro de 2018, na BR-163, km 794, município de Vera/MT, envolvendo o veículo HONDA CIVIC SPORT CVT, cor preta, placa BAZ-1793, segurado pela apelante, conduzido pelo senhor Tiago de Oliveira Delani, e o veículo VOLVO/FH 440 6X2T, cor branca, placa NOM-1303, conduzido pelo apelado, JOANIR PAES DE DEUS. Alegou-se que o condutor do caminhão Volvo teria colidido na traseira do veículo segurado, causando um engavetamento que atingiu outros veículos à frente e gerando danos materiais ao automóvel segurado de grande monta. A sentença recorrida concluiu pela insuficiência probatória quanto à culpa do apelado, julgando improcedente a demanda, principalmente em razão da ausência injustificada da parte autora na audiência de instrução, somada à insuficiência do boletim de ocorrência como prova exclusiva da responsabilidade em um acidente complexo na modalidade engavetamento. Pois bem. Conforme se infere dos autos, a controvérsia principal reside em verificar se a parte autora/apelante logrou comprovar a culpa exclusiva do réu/apelado pelo acidente de trânsito que ensejou o pagamento da indenização securitária, requisito indispensável para o acolhimento da pretensão regressiva. Analisando detidamente os elementos constantes dos autos, tenho que o recurso não comporta provimento. Primeiramente, impende ressaltar que, nas ações de ressarcimento fundadas em acidente de trânsito, a responsabilidade civil a ser apurada é de natureza subjetiva, dependendo da demonstração dos seguintes pressupostos: (i) conduta culposa do agente; (ii) dano; e (iii) nexo causal entre a conduta e o dano. No caso em apreço, é inconteste a ocorrência do dano e o consequente pagamento da indenização pela seguradora ao seu segurado. A celeuma, portanto, cinge-se à demonstração da culpa do réu/apelado pelo sinistro e do nexo causal entre sua conduta e os prejuízos experimentados. O ônus da prova, em tal situação, compete à parte autora, nos termos do artigo 373, inciso I, do CPC/15: "Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;" A seguradora autora, ao sub-rogar-se nos direitos do segurado, assume a posição deste na relação jurídica material, mas também herda o ônus probatório que seria dele em eventual ação de reparação de danos. A prova juntada aos autos pela apelante para demonstrar a culpa do réu/apelado consiste basicamente no Boletim de Ocorrência (ID 294840350), no qual consta a seguinte narrativa: "Conforme averiguações realizadas no local do acidente, no perímetro municipal de Vera/MT, no km 794 da BR-163, sentido crescente, constatamos através dos vestígios e declarações dos envolvidos que o V1 (CHEVROLET/CLASSIC LS, cor cinza, placa OBO-4830, conduzido por LUIZ RODRIGUES DA SILVA, CPF 32752563604) se deparou com uma caminhão baú e um outro veículo parados sobre a via. V1 parou seu veículo também sobre a via, ligou o pisca-alerta. V2 (HONDA/CIVIC SPORT CVT, cor preta, placa BAZ-1793, conduzido por TIAGO DE OLIVEIRA DELANI, CPF 05284205936) também parou sobre a via e ligou o pisca-alerta, logo atrás de V1. V3 (VOLVO/FH 440 6X2T, cor branca, placa NOM-1303, conduzido por JOANIR PAES DE DEUS, CPF 56885644153) vinha logo atrás, freou, porém não conseguiu parar o veículo e colidiu na traseira de V2, que colidiu na traseira de V1, que colidiu na traseira de outro veículo à frente." O Boletim de Ocorrência, enquanto documento público, goza de presunção juris tantum (relativa) de veracidade quanto aos fatos que o agente público tenha verificado pessoalmente. No entanto, em se tratando de documento elaborado após o evento, baseado em vestígios e declarações dos envolvidos, sua força probante é mitigada, especialmente quanto à dinâmica exata do acidente e à individualização de culpas. Este é o entendimento consolidado da jurisprudência, inclusive deste Tribunal de Justiça: “APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO REGRESSIVA. IMPROCEDÊNCIA. AUSÊNCIA DE PROVAS DA RESPONSABILIDADE DA PARTE DEMANDADA PELO ACIDENTE ENVOLVENDO VEÍCULO SEGURADO. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO BASEADA UNICAMENTE EM BOLETIM DE OCORRÊNCIA. DOCUMENTO UNILATERAL QUE POSSUI APENAS PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. PARTE QUE DEIXOU DE PRODUZIR OUTRAS PROVAS DO FATO CONSTITUTIVO DE DEU DIREITO. ARTIGO 373, I, DO CPC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. Ainda que o segurador possa buscar ressarcimento junto ao causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro, conforme inteligência do art. 786, do Código Civil, e da Súmula 188, do STF, é necessário que comprove a responsabilidade da parte ré pelo dano causado. 2. De acordo com as provas dos autos não há como reconhecer a culpa da parte apelada pelo acidente, tendo em vista que o Boletim de Ocorrência, único documento por meio do qual a seguradora pretende comprovar suas alegações, foi elaborado pelo condutor do veículo, ou seja, pelo próprio segurado, sendo que as informações nele constantes são de sua inteira responsabilidade. 3. Cabia à demandante a prova dos fatos constitutivos do direito que alega, sendo certo que a prova produzida nos autos não é suficiente para responsabilizar o réu, como bem decidiu o juízo de primeiro grau 4. Apelação conhecida e improvida. Sentença mantida.” (TJ-CE - Apelação Cível: 0147531-89.2016.8 .06.0001 Fortaleza, Relator.: RAIMUNDO NONATO SILVA SANTOS, Data de Julgamento: 29/11/2023, 1ª Câmara Direito Privado) (g.n.) “RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – NEXO DE CAUSALIDADE – AUSÊNCIA – INEXISTÊNCIA DE PROVA PARA COMPROVAR QUE O VEÍCULO DO MUNICÍPIO TEVE ENVOLVIMENTO NO ACIDENTE – RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. 1 – Como regra, o Boletim de Ocorrência não gera presunção iuris tantum de veracidade dos fatos nele narrados, pois se trata de declaração unilateral do interessado. 2 – A ausência de prova, para fins de demonstrar o nexo de causalidade, afasta a pretensão indenizatória contra o município. 3 – Recurso de Apelação provido.” (TJ-MT - APELAÇÃO CÍVEL: 10290938920178110041, Relator.: HELENA MARIA BEZERRA RAMOS, Data de Julgamento: 04/09/2024, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 12/09/2024) (g.n.) No caso em análise, o boletim de ocorrência, isoladamente considerado, não possui o condão de comprovar, de forma inequívoca, a culpa exclusiva do réu pelo acidente, sobretudo diante da complexidade da dinâmica de um engavetamento envolvendo múltiplos veículos. Cabe ressaltar que, embora o documento policial indique que o réu "freou porém não conseguiu parar o veículo e colidiu na traseira", tal registro, por si só, não elucida completamente as circunstâncias em que o acidente ocorreu, como, por exemplo: (i) a velocidade em que trafegava o veículo do réu; (ii) as condições da via no momento do sinistro; (iii) se a parada dos veículos à frente foi abrupta ou gradual; (iv) se havia sinalização adequada da parada dos veículos; (v) o tempo de reação possível para evitar a colisão; dentre outras variáveis que seriam relevantes para a aferição da culpa. Importante destacar que, nas situações de engavetamento, a presunção relativa de culpa daquele que colide na traseira deve ser analisada com especial cautela, não se aplicando de forma automática e absoluta como em casos de colisões simples entre dois veículos. Isso porque, em cenários de colisão múltipla e em cadeia, diversos fatores podem influenciar a dinâmica do acidente, exigindo uma análise mais aprofundada das circunstâncias fáticas. Nesse contexto, a prova oral, que poderia ser produzida em audiência de instrução, mostrava-se fundamental para esclarecer os pontos controvertidos da lide e permitir uma adequada individualização de responsabilidades. Contudo, conforme destacado na sentença, a parte autora, ora apelante, embora regularmente intimada, não compareceu à audiência de instrução designada, tampouco apresentou testemunhas ou justificou sua ausência. Tal comportamento processual revela notório desinteresse na dilação probatória e representa verdadeiro abandono do ônus que lhe competia de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. Sobre o tema, vale transcrever o seguinte trecho da sentença, que merece ser mantido por seus próprios fundamentos: "Embora tenha sido juntado aos autos boletim de ocorrência e documentos atinentes ao pagamento da indenização securitária, é cediço que o mero registro policial não tem força probatória absoluta, especialmente quando contestado e desacompanhado de outras provas robustas, razão pela qual deve ser valorado com parcimônia nos termos do art. 405 do CPC e da jurisprudência consolidada sobre o tema. Ademais, trata-se de colisão traseira com múltiplos veículos envolvidos (engavetamento), situação que requer cuidadosa análise da dinâmica fática para aferição de eventual culpa exclusiva ou concorrente. Nessa perspectiva, a prova oral se mostrava indispensável à formação do convencimento do Juízo (art. 370 do CPC), mormente diante das teses contrapostas apresentadas pelas partes. Ocorre que a autora, embora regularmente intimada, não compareceu à audiência de instrução e tampouco apresentou testemunhas, não justificando sua ausência. Tal inércia revela desinteresse na instrução e, por conseguinte, representa verdadeiro abandono da carga probatória que lhe competia." (ID 294840447, p.2) Em casos como o dos autos, onde existe controvérsia sobre a culpa pelo acidente, a produção de prova oral seria essencial para a formação do convencimento do juízo, não sendo o boletim de ocorrência, por si só, suficiente para embasar a condenação, especialmente diante da complexidade do evento danoso (engavetamento com múltiplos veículos). Vale ressaltar que o não comparecimento injustificado da parte à audiência de instrução, embora não implique automaticamente na improcedência do pedido, constitui elemento relevante na valoração global do conjunto probatório e na aferição do cumprimento do ônus que lhe competia. Outrossim, a alegação da apelante de que a culpa pelo acidente recai integralmente sobre o apelado, por supostamente não ter mantido a distância segura e trafegado em velocidade incompatível, demandaria comprovação robusta, o que não ocorreu no caso em tela. Com efeito, em que pesem as alegações da apelante quanto à presunção de culpa em colisões traseiras, tal presunção é relativa e, no contexto de um engavetamento, demandaria maiores elementos probatórios para sua confirmação, os quais não foram produzidos nos autos por inércia da própria parte interessada. Importante destacar também que a versão do apelado, que alega que "a fila parou de repente", sugere possível fato superveniente que poderia caracterizar excludente de responsabilidade, hipótese que demandaria maior dilação probatória para ser adequadamente avaliada. Além disso, não houve produção de prova técnica que pudesse demonstrar, por exemplo, a velocidade dos veículos, as distâncias mantidas e as condições da via, elementos que seriam cruciais para a correta aferição da responsabilidade pelo sinistro. Por fim, ressalte-se que o simples pagamento de indenização pela seguradora ao segurado, com a consequente sub-rogação nos direitos deste (art. 786 do Código Civil), não exime a autora do ônus de comprovar a responsabilidade civil do terceiro apontado como causador do dano. Como bem consignou o magistrado de primeiro grau: "Cabe sublinhar, por fim, que o simples pagamento de indenização pela seguradora ao seu segurado, no exercício do direito de regresso (art. 786 do CC), não gera presunção de culpa do terceiro apontado como causador do dano, sendo necessária a demonstração efetiva do dever de indenizar. A sub-rogação transmite os direitos do segurado ao segurador, mas não exime o novo titular da ação do cumprimento do ônus probatório originário." Nesse sentido: “REGRESSIVA. ACIDENTE DE TRÂNSITO. ENGAVETAMENTO. Pese à presunção de culpa de quem colide na traseira, a verdade formal colhida impede se conclua pela responsabilidade do réu. Via de rápida circulação, onde o motorista segurado empreendeu parada brusca e desnecessária, segundo versão colhida na fase policial. Álea natural da atividade securitária que deve prevalecer. Improcedência mantida. Recurso desprovido.” (TJ-SP - AC: 10042264820218260114 SP 1004226-48.2021.8.26 .0114, Relator.: Ferreira da Cruz, Data de Julgamento: 10/10/2022, 28ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/10/2022) Diante desse contexto, não tendo a apelante se desincumbido do ônus de comprovar, de forma robusta e inequívoca, a culpa exclusiva do réu pelo acidente que ensejou o pagamento da indenização securitária, deve ser mantida a sentença que julgou improcedente o pedido de ressarcimento. Diante do exposto, nego provimento ao recurso e elevo os honorários advocatícios fixados na sentença em mais R$1.500,00 (mil e quinhentos reais). É como voto.- Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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Processo nº 1004226-56.2022.8.11.0041

ID: 319652388

Tribunal: TJMT Órgão: 5ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1004226-56.2022.8.11.0041

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

MARIA TERESA MOTA DE JESUS MARTINS

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

ISABELLY FURTUNATO REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO ISABELLY FURTUNATO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 5ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1004226-56.2022.8.11.0041. AUTOR(A): MARIA TERESA MOTA DE JESUS MARTINS REU: ESTADO DE MATO GROSSO … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 5ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1004226-56.2022.8.11.0041. AUTOR(A): MARIA TERESA MOTA DE JESUS MARTINS REU: ESTADO DE MATO GROSSO VISTOS EM MUTIRÃO, NOS TERMOS DA PORTARIA TJMT/PRES N. 866/2025 DE 09 DE JUNHO DE 2025. Trata-se de ação declaratória e restituição de valores indevidamente descontados com pedido de tutela provisória de urgência proposta pelo MARIA TERESA MOTA DE JESUS MARTINS em face do ESTADO DE MATO GROSSO. Em síntese, objetiva a autora a concessão do provimento para que seja declarado seu direito à isenção de imposto de renda e determinada a restituição do desconto a título de Imposto de Renda sobre os proventos de aposentadoria da Requerente. Aduz, em apertada síntese, que é servidora pública aposentada no cargo de professora da educação básica, sendo diagnosticada no ano de 2017 com síndrome do impacto subacromial, artrose acromioclavicular, tendinopatia do sufra e infra, artrose gleunomeral e bursite no ombro, além de espondilouncoartrose (CID M751, M255, M543 e M199). Pontua que, em razão das patologias que a acometem, faz jus à isenção do recolhimento do Imposto de Renda e previdência, não lhe restando alternativa senão a propositura da presente demanda para resguardar os seus direitos. Pugnou pela concessão dos benefícios da Justiça Gratuita. Instruiu a inicial com documentos acostados eletronicamente. A inicial foi recebida em id. 75582085, ocasião que fora indeferido o pedido de tutela de urgência e determinada a citação do requerido para que contestasse o feito no prazo legal. Citado, o Estado de Mato Grosso apresentou contestação em id. 76359594, na qual se opôs ao pedido da parte autora, alegando ausência de interesse de agir e, no mérito, a insubsistência do pedido tendo em vista a ausência de comprovação de que as doenças que acometem a autora estão previstas no rol taxativo de isenção. A parte autora apresentou recurso de agravo de instrumento ao Tribunal de Justiça, sendo indeferido o efeito suspensivo ao recurso (id. 87545808). Instada, a parte autora impugnou a contestação (id. 90690737) Intimadas as partes para as provas que ainda pretendiam produzir (id. 108504123), a ré requereu o julgamento antecipado da lide, por ser matéria exclusivamente de direito e prova documental (id. 108911255). Por sua vez, a autora pugnou pela prova pericial a fim de comprovar que as doenças acometidas pela Requerente são decorrentes da atividade laborativa exercida na função de professora (id. 109225881). Houve provimento do recurso de agravo de instrumento junto ao Tribunal de Justiça, sendo dado provimento ao recurso, determinando que o ESTADO DE MATO GROSSO suspenda o desconto do imposto de renda sobre a aposentadoria de MARIA TERESA MOTA DE JESUS MARTINS, tendo em vista o seu direito à isenção prevista no rol taxativo do art. 6º, XIV, da Lei n.º 7.713/1988 (portadora de moléstia profissional) (id. 115026707). Instado a manifestar-se, o Ministério Público informou que não há matéria passível de intervenção ministerial nos presentes autos, nos termos do art. 178 do CPC. Vieram-me os autos conclusos. É o relatório. DECIDO. Do julgamento antecipado da lide Inicialmente, deve ser consignado que o litígio versa sobre matéria exclusivamente de direito, nos termos do artigo 355, I, do Código de Processo Civil, dispensando dilação probatória, razão pela qual, em observância aos princípios da celeridade processual e da razoável duração do processo, passo a julgar antecipadamente a lide. Do interesse de agir O interesse de agir está presente, diante do princípio da inafastabilidade de jurisdição e da solução adequada dos conflitos, sendo que da análise dos autos por óbvio houve oposição quantos aos pedidos da autora pela parte ré, o que demonstra a pretensão resistida. Assim, afasto a preliminar alegada. Do mérito Não havendo questões prejudiciais a serem apreciadas ou irregularidade a ser expurgada, passo ao mérito. O cerne da questão consiste em definir se a parte autora, em razão do acometimento de doença grave tem legítima pretensão à isenção e restituição do imposto de renda no período não fulminado pela prescrição quinquenal (a partir dos 05 anos anteriores à propositura da ação) e demais até a data da sua efetiva suspensão. As pessoas portadoras de doenças graves são isentas do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (IRPF) segundo a Lei nº 7.713/88, desde que os rendimentos sejam relativos à aposentadoria, pensão ou reforma, e possuam alguma das doenças elencadas no rol do art. 6º. O artigo 6º, XIV, Lei nº 7.713/88, com redação dada pela Lei nº 11.052/04, assim disciplina: “Art. 6º. Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por pessoas físicas: (...) XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma”. Com efeito, a isenção do IRPF exige e decorre, unicamente, da identificação da existência do quadro médico, cujo requisito do laudo médico (artigo 30 da Lei nº 9.250/1995), segundo decidiu o C. Superior Tribunal de Justiça é impositivo à Administração. Nesse sentido, é a Súmula nº 598 do Colendo Superior Tribunal de Justiça: “É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova.” In casu, o autora alega que desde o ano de 2017 foi diagnosticada com “síndrome do impacto subacromial, artrose acromioclavicular, tendinopatia do sufra e infra, artrose gleunomeral e bursite no ombro, além de espondilouncoartrose, CID’s M751, M255, M543, M199”, conforme descrito no laudo médico anexado na exordial (id. 75339144 a id. 75339154) e que sua incapacidade é total e permanente, portanto, é portadora de enfermidade que está no rol das doenças graves, incuráveis e contagiantes e desenvolvidas em razão da atividade laborativa exercida; sendo que é professora aposentada e durante 19 anos ministrou aulas na Rede de Educação Básica do Estado de Mato Grosso, aposentando-se em dezembro de 2012 e que, em razão dessa atividade laborativa adquiriu as moléstias profissionais acima descritas, que constam do rol do art. 213, §1º da LC n.º 04/1990. Nesse ponto, cumpre destacar o Relatório Médico colacionado, datado de 20/01/2022, assinado pelo Dr. Fellipe Ferreira Valle (CRM 7413/MT), onde consta, em relação a condição física da autora: “(...) A PACIENTE SUPRACITADA É PORTADORA DE SINDROME DO IMPACTO SUBACROMIAL, ARTROSE ACROMIO CLAVICULAR, TENDINOPATIA DO SUPRA E INFRA, ARTROSE GLEUNOMERAL E BURSITE EM OMBROS. TRATA SE DE UMA PATOLOGIA INCAPACITANTE PARA REALIZAR ATIVIDADES COM OS MEMBROS SUPERIORES, COMO PEGAR PESO E REALIZAR MOVIMENTOS FREQUENTES DE ABDUÇÃO E ELEVAÇÃO, INERENTES À ATIVIDADE DE PROFESSORA.” (id. 75339148). Ressalta-se que a autora teve deferido seu pedido de suspensão, reconhecendo comprovado o direito à isenção de IR, reconhecido junto ao TJMT (id. 115026707). Outrossim, como bem destacado pelo E.TJMT na decisão do recurso de agravo de instrumento, não há uma CID específica para o que a lei denomina “moléstia profissional”. Porém, isso não obsta que determinada doença seja reconhecida como laboral, ou seja, muito embora o art. 6º, XVI, da Lei n.º 7.713/1988 faça menção expressa à “moléstia profissional”, frise-se, dentre seu rol taxativo,é certo que esta não se insere como uma doença propriamente dita, mas como um conjunto de características que diversas enfermidades podem apresentar, assim seu reconhecimento não retrata, portanto, interpretação extensiva ou analógica. A Lei n.º 8.213/1991 (art. 20), traz os conceitos legais atualmente vigentes de doença profissional e doença do trabalho, dispondo que: “Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. Nesse sentido, o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n.º 3.048/1999, relaciona em seu Anexo II (Grupo XIII da CID-10) os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no art. 20 da Lei n.º 8.213/91, rol em que é possível extrair as moléstias que acometem a autora: “DOENÇAS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E DO TECIDO CONJUNTIVO, RELACIONADAS COM O TRABALHO (Grupo XIII da CID-10) (...) III - Outras Artroses (M19) IV - Outros transtornos articulares não classificados em outra parte: Dor Articular (M25.5) (...) VI - Dorsalgia (M54.): Cervicalgia (M54.2); Ciática (M54.3); Lumbago com Ciática (M54.4) (...) X - Lesões do Ombro (M75.-): Capsulite Adesiva do Ombro (Ombro Congelado, Periartrite do Ombro) (M75.0); Síndrome do Manguito Rotatório ou Síndrome do Supraespinhoso (M75.1); Tendinite Bicipital (M75.2); Tendinite Calcificante do Ombro (M75.3); Bursite do Ombro (M75.5); Outras Lesões do Ombro (M75.8); Lesões do Ombro, não especificadas (M75.9)” Assim, inexiste dúvida sobre a aplicação do dispositivo legal, visto que a servidora inativa comprovou ser portadora de doenças incapacitantes elencadas no art. 6°, XIV, da Lei Federal nº 7.713/88, e por esse motivo tem direito à isenção da alíquota do imposto de renda descontado sobre seus rendimentos, independentemente de prévio requerimento administrativo ou de submissão à perícia médica oficial, cujo termo inicial é a data do diagnóstico da enfermidade, respeitada a prescrição quinquenal. Nesse sentido, é o entendimento do TJMT: RECURSO INOMINADO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA DECORRENTE DE MOLÉSTIA GRAVE C/C RESTITUIÇÃO DOS VALORES - SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO – NEOPLASIA MALIGNA – LAUDOS E ATESTADOS MÉDICOS - PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A CONCESSÃO DA ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA REQUERIDO - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Diante do laudo que comprova a doença grave que acomete o autor desde 2012, tem ele direito à isenção de imposto de renda retido na fonte, nos moldes do art . 6º, inciso XIV da Lei Federal nº 7.713/88, e à consequente restituição dos valores indevidamente retidos, respeitada a prescrição quinquenal. 2. Recurso conhecido e não provido. (TJ-MT - RECURSO INOMINADO: 1061980-42.2023.8.11 .0001, Relator.: VALDECI MORAES SIQUEIRA, Data de Julgamento: 03/06/2024, Terceira Turma Recursal, Data de Publicação: 06/06/2024) Quanto ao termo inicial, no presente caso, diante dos documentos juntados à inicial, a parte autora comprovou que já padecia das moléstias elencadas no art. 6°, XIV, da Lei Federal nº 7.713/88, desde o ano de 2017 (id. 75339145), portanto, há de ser reconhecido que desde sua aposentadoria já se encontrava agraciado com a benesse da isenção da alíquota do imposto de renda descontado sobre seus rendimentos, eis que já era diagnosticado previamente com doença grave. A propósito: “PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. PORTADORES DE MOLÉSTIA GRAVE. ART. 6º, XIV, DA LEI 7.713/1988. TERMO INICIAL. DATA DO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA. SÚMULA 83/STJ. 1. A jurisprudência do STJ sedimentou-se no sentido de que o termo inicial da isenção do Imposto de Renda sobre proventos de aposentadoria prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/1988 é a data de comprovação da doença mediante diagnóstico médico especializado e não necessariamente a data de emissão do laudo oficial. 2. Incidência da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida." 3. Recurso Especial não provido.” (REsp 1735616/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe 02/08/2018). (negritei) Assim, em observação aos documentos médicos é devida a restituição observando-se o prazo prescricional dos 5 anos anteriores ao ajuizamento da ação. Em relação a restituição, correção monetária e prazo de prescrição. A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos tributários deve corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso e não havendo disposição legal específica, os juros de mora devem ser calculados à taxa de 1% ao mês (artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional), sendo que, a partir de dezembro de 2021, sobre os valores deverá incidir, tão somente, a taxa SELIC para os encargos moratórios surgidos após o início da vigência da EC 113/2021. Nesse sentido é a jurisprudência da Turma Recursal do E. TJMT: “RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA –SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL APOSENTADO – PORTADOR DE DOENÇA GRAVE –IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE – ISENÇÃO NOS TERMOS DO ARTIGO 6º, INCISO XIV, DA LEI Nº 7.713/1988 - DIREITO À RESTITUIÇÃO DO IMPORTE DESCONTADO INDEVIDAMENTE – INCIDÊNCIA DE JUROS MORATÓRIOS, DE 1% AO MÊS, A PARTIR DO TRÂNSITO EM JULGADO - SÚMULA 188 DO STJ - CORREÇÃO MONETÁRIA PELO IGP-DI, DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, INCIDENTE A PARTIR DO PAGAMENTO INDEVIDO - SÚMULA 162 DO STJ - APLICAÇÃO DE LEGISLAÇÃO ESTADUAL ESPECÍFICA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.(N.U 1047306-30.2021.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, GONCALO ANTUNES DE BARROS NETO, Turma Recursal Única, Julgado em 27/02/2023, Publicado no DJE 03/03/2023).” No mais, vejamos o entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça: “Súmula 188 - Os juros moratórios, na repetição do indébito tributário, são devidos a partir do trânsito em julgado da sentença”. “Súmula 162 - Na repetição de indébito tributário, a correção incide a partir do pagamento indevido.” Compartilho, ainda, o disposto no Tema n° 810 do STF e Tema n° 905 do STJ: “1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina”. (TEMA 810 do STF).” “1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza. 1.1 Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção monetária. No presente julgamento, o estabelecimento de índices que devem ser aplicados a título de correção monetária não implica pré-fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização monetária. Do contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente, refletem a correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse contexto, em relação às situações futuras, a aplicação dos índices em comento, sobretudo o INPC e o IPCA-E, é legítima enquanto tais índices sejam capazes de captar o fenômeno inflacionário. 1.2 Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão. A modulação dos efeitos da decisão que declarou inconstitucional a atualização monetária dos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos precatórios expedidos ou pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse modo, a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices diversos. Assim, mostra-se descabida a modulação em relação aos casos em que não ocorreu expedição ou pagamento de precatório. 2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas de relação jurídico-tributária. 3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. 3.1 Condenações judiciais de natureza administrativa em geral. As condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária com base no IPCA-E. 3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos. As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção monetária: IPCA-E. 3.1.2 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas. No âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas existem regras específicas, no que concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão pela qual não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração do capital. 3.2 Condenações judiciais de natureza previdenciária. As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei 8.213/91. Quanto aos juros de mora, incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança (art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009). 3.3 Condenações judiciais de natureza tributária. A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso. Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e havendo previsão na legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo vedada sua cumulação com quaisquer outros índices. 4. Preservação da coisa julgada. Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e compensação da mora, de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda Pública, cumpre ressalvar eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de índices diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto” (TEMA 905 do STJ).” No que tange à prescrição quinquenal sabe-se que, de regra, o direito de ação contra a Fazenda Pública prescreve em cinco anos, a teor do Decreto 20.910/32, de 06/01/32, complementada pelo Decreto Lei 4.597, de 19.08.42, que assim preconiza: “O decreto n º 20.910, de 06/01/1932, que regula a prescrição quinquenal, abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos parestatais, criados por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todos e quaisquer direito e ação contra os mesmos”. A propósito, sobre o tema o entendimento da jurisprudência pátria é pacífica, vejamos: TJMT - Tribunal de Justiça do Mato Grosso PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL - CLASSE II - 20 - Nº 26.072 – CAPITAL, Relator: EXMO. SR. DES. LICÍNIO CARPINELLI STEFANI Partes: APELANTE - WILSON PEREIRA DA SILVA APELADO - ESTADO DE MATO GROSSO TJ Ementa: AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO C/C COM REINTEGRAÇÃO À POLÍCIA MILITAR E COBRANÇA DE SALÁRIOS ATRASADOS - AÇÃO PROPOSTA CONTRA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL - PRESCRIÇÃO - PRAZO QÜINQÜENAL - DECURSO DE TEMPO - EXTINÇÃO DO FEITO NOS TERMOS DO ARTIGO 295 DO CPC - DECRETO Nº 20.910/32 - RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL IMPROVIDO. O Decreto-lei nº 20.910/32 limitou ao máximo de 05 (cinco) anos o lapso prescricional das dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, circunscrevendo, igualmente, a esse prazo o exercício das ações, de qualquer natureza, em que essas pessoas jurídicas de direito público interno forem rés. Acórdão: Vistos, relatados e discutidos os autos do Recurso de Apelação Cível - Classe II - 20 - nº 26.072, da Capital. ACORDA, em TURMA, a Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sem discrepância de votos, improver o recurso de acordo com o parecer ministerial. Presidiu o julgamento o Desembargador LICÍNIO CARPINELLI STEFANI, e dele participaram o Desembargador LICÍNIO CARPINELLI STEFANI (Relator), Doutora MARGARETE DA GRAÇA BLANCK MIGUEL SPADONI (Revisora, convocada) e Desembargador JURANDIR FLORÊNCIO DE CASTILHO (Vogal). O voto proferido pelo Desembargador-relator foi acompanhado na íntegra pelos demais componentes da Turma julgadora. Deste modo, eventual período atingido pelo prazo prescricional, deverá ser excluído no momento da elaboração do cálculo. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na inicial para CONDENAR o Estado de Mato Grosso a restituir os valores descontados no período de 09.02.2017 a 09.02.2022, observando-se assim o período do prazo prescricional, e DECLARO EXTINTO o processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC. Os valores a serem restituídos serão acrescidos de correção monetária pelo Índice Geral de Preços, Conceito Disponibilidade Interna (IGP-DI/FGV) desde o desembolso e juros de mora equivalentes a 1% (um) por cento a partir do trânsito em julgado da decisão (artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional) e correção monetária desde cada recolhimento indevido, nos termos da súmula nº 162/Superior Tribunal de Justiça, sendo que a partir de dezembro de 2021, sobre os valores deverá incidir, tão somente, a taxa SELIC para os encargos moratórios surgidos após o início da vigência da EC 113/2021. Quanto ao termo inicial, em se tratando de indébito tributário, a correção monetária deverá incidir a partir do pagamento indevido e os juros moratórios a partir do trânsito em julgado da sentença, nos termos das Súmulas 162 e 188 do STJ. Isento o réu de custas, e pelo princípio da causalidade condeno o réu aos honorários de sucumbência os quais fixo no percentual de 10% (dez por cento) do valor da causa, nos termos do § 2º, § 3º e § 5º do art. 85 do CPC/2015. Determino a remessa dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça, em exercício do “duplo grau de jurisdição obrigatório”. No momento oportuno, se ainda não tiver sido feito, CERTIFIQUE-SE o trânsito em julgado e ARQUIVEM-SE os autos, mediante as baixas e cautelas de praxe, expedindo-se o necessário, porém, sem necessidade de conclusão ao gabinete. Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se, expedindo-se o necessário. CUIABÁ/MT, datado e assinado digitalmente. JEAN LOUIS MAIA DIAS Juiz designado para o mutirão do NAE

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Processo nº 1004513-44.2019.8.11.0002

Processo nº 1004513-44.2019.8.11.0002

Processo nº 1004226-56.2022.8.11.0041