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Antonio Geraldo De Jesus Novais x Caixa Economica Federal

ID: 338164254

Tribunal: TRF1 Órgão: Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Tucuruí-PA Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1004967-82.2024.4.01.3907

Data de Disponibilização: 30/07/2025

Polo Ativo:

ANTONIO GERALDO DE JESUS NOVAIS

Polo Passivo:

CAIXA ECONOMICA FEDERAL

Sentença Tipo A

Advogados:

ROSANE GUIMARAES GOLTARA

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KELIN CRISTINA DA SILVA

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

LARA STEFFANY GUIMARAES GOLTARA

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Subseção Judiciária de Tucuruí-PA Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Tucuruí-PA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1004967-82.2024.4.01.3907 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM … PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Subseção Judiciária de Tucuruí-PA Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Tucuruí-PA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1004967-82.2024.4.01.3907 CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) POLO ATIVO: ANTONIO GERALDO DE JESUS NOVAIS REPRESENTANTES POLO ATIVO: LARA STEFFANY GUIMARAES GOLTARA - PA36322, KELIN CRISTINA DA SILVA - PA35007 e ROSANE GUIMARAES GOLTARA - PA38394 POLO PASSIVO: CAIXA ECONOMICA FEDERAL SENTENÇA Trata-se de Ação Anulatória de Consolidação de Propriedade, por Nulidade na Notificação Extrajudicial, cumulada com Pedido de Renegociação de Dívida e Tutela de Urgência, ajuizada por Antonio Geraldo de Jesus Novais em face da Caixa Econômica Federal – CEF. Alega o autor que adquiriu o imóvel situado na Rua Q, Quadra 32, nº 07, Bairro Cidade Universitária, no município de Tucuruí-PA, do Sr. José Arnaldo de Sousa Nascimento, mediante contrato particular de compra e venda, ficando ajustado que o antigo proprietário assumiria o pagamento das parcelas vencidas, enquanto o autor arcaria com as vincendas, relativas ao Contrato de Financiamento Habitacional nº 8555531973983. Sustenta que sempre cumpriu sua parte no acordo, quitando inclusive débitos deixados pelo vendedor, como o ocorrido em novembro de 2022, quando recebeu notificação por Correios e regularizou pendências. Afirma que, ao buscar nova negociação em 2024, a CEF exigiu o pagamento de R$ 10.967,33, compreendendo R$ 6.202,50 de parcelas em atraso e R$ 4.764,83 de honorários advocatícios, quantia que alega não ter condições de quitar. Posteriormente, teria recebido apenas por e-mail, em 28/09/2024, notificação acerca da consolidação da propriedade e do leilão designado para 31/10/2024, sem a intimação pessoal prevista no art. 26, § 3º, da Lei nº 9.514/97, com redação dada pela Lei nº 14.711/2023. Requer, liminarmente, a suspensão da consolidação e do leilão, a possibilidade de purgar a mora com pagamento apenas das parcelas vencidas, bem como a anulação do procedimento extrajudicial. Postula ainda a concessão da justiça gratuita e a inversão do ônus da prova. A tutela de urgência foi indeferida pelo Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Tucuruí-PA, sob fundamento de que a notificação por e-mail é admitida para comunicação da data de leilão e que não se evidenciou a probabilidade do direito. Interposto agravo de instrumento pelo autor, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região manteve o indeferimento da medida liminar, destacando que o autor não possui contrato formal com a CEF, já que não houve transferência do financiamento para seu nome, sendo, portanto, parte ilegítima para questionar a nulidade do procedimento. Assinalou que a notificação foi enviada ao mutuário original, José Arnaldo de Sousa Nascimento. Diante desse entendimento, o autor requereu a denunciação da lide ao mutuário original, para que seja incluído no polo ativo, alegando que apenas ele possui legitimidade para discutir a validade do procedimento extrajudicial. A CEF apresentou contestação, arguindo, em preliminar, a impugnação à justiça gratuita por ausência de comprovação da hipossuficiência. No mérito, sustentou a regularidade do procedimento, a inexistência de vícios na consolidação da propriedade e a ausência de direito à purgação da mora após o prazo legal. Defendeu que a intimação foi válida e que inexiste obrigação legal de intimação pessoal para o leilão após a consolidação. O autor apresentou réplica, reafirmando os fatos narrados na inicial e impugnando os argumentos da contestação. Ressaltou que tentou purgar a mora dentro do prazo, mas foi impedido pela exigência de valores excessivos de honorários advocatícios. Alegou que não houve intimação pessoal para purgação da mora, apontando violação ao art. 26, § 3º, da Lei nº 9.514/97. Em seguida, o autor reiterou o pedido de denunciação da lide em face de José Arnaldo de Sousa Nascimento, indicando seus dados pessoais e contatos. É o relatório. Decido. Inicialmente, analiso o pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita formulado pelo autor. A ré apresentou impugnação genérica, sem trazer elementos concretos aptos a infirmar a declaração de hipossuficiência constante nos autos. É entendimento consolidado que, para afastar a presunção legal de veracidade prevista no art. 99, §3º, do CPC, a parte contrária deve demonstrar, por meio de prova efetiva, a capacidade financeira do requerente, o que não ocorreu no caso. Assim, defiro à parte autora os benefícios da justiça gratuita, nos termos do art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil. O autor requereu a denunciação da lide ao Sr. José Arnaldo de Sousa Nascimento, antigo proprietário do imóvel, sob o argumento de que parte da dívida se refere a inadimplemento de sua responsabilidade. Contudo, dispõe o art. 126 do CPC que a denunciação da lide, quando requerida pelo autor, deve constar na petição inicial, sob pena de preclusão. No caso, o pedido somente foi formulado em momento posterior, após decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região no bojo de agravo de instrumento, quando se apontou eventual ilegitimidade ativa do autor. Portanto, diante da intempestividade, indeferido o pedido de denunciação da lide. A controvérsia envolve contrato de financiamento imobiliário garantido por alienação fiduciária firmado entre a ré e terceiro (Sr. José Arnaldo de Sousa Nascimento), permanecendo este como titular no contrato. O autor afirma que adquiriu o imóvel por contrato particular e, desde então, assumiu o pagamento das prestações, motivo pelo qual se considera legitimado a questionar o procedimento de consolidação da propriedade e subsequente leilão. A Lei nº 9.514/97, em seu art. 26, §1º e §3º, é clara ao estabelecer que a intimação para purgar a mora deve ser dirigida ao fiduciante ou a seu representante legal ou procurador regularmente constituído. Assim, eventuais vícios ou nulidades do procedimento de consolidação somente poderiam ser invocados pelo contratante originário ou por quem detenha representação formalmente constituída nos termos legais. Entretanto, pelo teor da narrativa na inicial, irei analisar o mérito apenas para pontuar que não assiste razão ao autor pugnar com esses fundamentos por reconhecimento de suposto erro da CAIXA. A Lei nº 9.514/97 dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário e a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. Estabelece que, vencida e não paga a dívida, o fiduciante será intimado a satisfazer o débito no prazo de quinze dias. Persistindo o inadimplemento, a propriedade se consolidará em nome do fiduciário, que poderá promover leilão para alienação do bem. A Lei nº 9.514/2017 estabelece o rito para a consolidação da propriedade, bem como a forma de intimação: Art. 26. Vencida e não paga a dívida, no todo ou em parte, e constituídos em mora o devedor e, se for o caso, o terceiro fiduciante, será consolidada, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário. (Redação dada pela Lei nº 14.711, de 2023) § 1º Para fins do disposto neste artigo, o devedor e, se for o caso, o terceiro fiduciante serão intimados, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do registro de imóveis competente, a satisfazer, no prazo de 15 (quinze) dias, a prestação vencida e aquelas que vencerem até a data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e os demais encargos contratuais, os encargos legais, inclusive os tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel e as despesas de cobrança e de intimação. (Redação dada pela Lei nº 14.711, de 2023) § 1º-A Na hipótese de haver imóveis localizados em mais de uma circunscrição imobiliária em garantia da mesma dívida, a intimação para purgação da mora poderá ser requerida a qualquer um dos registradores competentes e, uma vez realizada, importa em cumprimento do requisito de intimação em todos os procedimentos de excussão, desde que informe a totalidade da dívida e dos imóveis passíveis de consolidação de propriedade. (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) § 2º O contrato poderá estabelecer o prazo de carência, após o qual será expedida a intimação. (Redação dada pela Lei nº 14.711, de 2023) § 2º-A Quando não for estabelecido o prazo de carência no contrato de que trata o § 2º deste artigo, este será de 15 (quinze) dias. (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) § 3º A intimação será feita pessoalmente ao devedor e, se for o caso, ao terceiro fiduciante, que por esse ato serão cientificados de que, se a mora não for purgada no prazo legal, a propriedade será consolidada no patrimônio do credor e o imóvel será levado a leilão nos termos dos arts. 26-A, 27 e 27-A desta Lei, conforme o caso, hipótese em que a intimação poderá ser promovida por solicitação do oficial do registro de imóveis, por oficial de registro de títulos e documentos da comarca da situação do imóvel ou do domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso de recebimento, situação em que se aplica, no que couber, o disposto no art. 160 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos). (Redação dada pela Lei nº 14.711, de 2023) § 3o-A. Quando, por duas vezes, o oficial de registro de imóveis ou de registro de títulos e documentos ou o serventuário por eles credenciado houver procurado o intimando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita motivada de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, retornará ao imóvel, a fim de efetuar a intimação, na hora que designar, aplicando-se subsidiariamente o disposto nos arts. 252, 253 e 254 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) § 3o-B. Nos condomínios edilícios ou outras espécies de conjuntos imobiliários com controle de acesso, a intimação de que trata o § 3o-A poderá ser feita ao funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017) § 4º Quando o devedor ou, se for o caso, o terceiro fiduciante, o cessionário, o representante legal ou o procurador regularmente constituído encontrar-se em local ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo serventuário encarregado da diligência e informado ao oficial de registro de imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a intimação por edital publicado pelo período mínimo de 3 (três) dias em jornal de maior circulação local ou em jornal de comarca de fácil acesso, se o local não dispuser de imprensa diária, contado o prazo para purgação da mora da data da última publicação do edital. (Redação dada pela Lei nº 14.711, de 2023) § 4º-A É responsabilidade do devedor e, se for o caso, do terceiro fiduciante informar ao credor fiduciário sobre a alteração de seu domicílio. (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) § 4º-B Presume-se que o devedor e, se for o caso, o terceiro fiduciante encontram-se em lugar ignorado quando não forem encontrados no local do imóvel dado em garantia nem no endereço que tenham fornecido por último, observado que, na hipótese de o devedor ter fornecido contato eletrônico no contrato, é imprescindível o envio da intimação por essa via com, no mínimo, 15 (quinze) dias de antecedência da realização de intimação edilícia. (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) § 4º-C Para fins do disposto no § 4º deste artigo, considera-se lugar inacessível: (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) I - aquele em que o funcionário responsável pelo recebimento de correspondência se recuse a atender a pessoa encarregada pela intimação; ou (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) II - aquele em que não haja funcionário responsável pelo recebimento de correspondência para atender a pessoa encarregada pela intimação. (Incluído pela Lei nº 14.711, de 2023) § 5º Purgada a mora no Registro de Imóveis, convalescerá o contrato de alienação fiduciária. § 6º O oficial do Registro de Imóveis, nos três dias seguintes à purgação da mora, entregará ao fiduciário as importâncias recebidas, deduzidas as despesas de cobrança e de intimação. § 7º Decorrido o prazo de que trata o § 1º sem a purgação da mora, o oficial do competente Registro de Imóveis, certificando esse fato, promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário, à vista da prova do pagamento por este, do imposto de transmissão inter vivos e, se for o caso, do laudêmio. (Redação dada pela Lei nº 10.931, de 2004) § 8o O fiduciante pode, com a anuência do fiduciário, dar seu direito eventual ao imóvel em pagamento da dívida, dispensados os procedimentos previstos no art. 27. (Incluído pela Lei nº 10.931, de 2004) Verifica-se que não há falhas quanto a notificação para purgar a mora. No caso, a análise dos documentos acostados pela Caixa Econômica Federal revela que o procedimento de consolidação observou rigorosamente as formalidades legais, com expedição das notificações ao contratante originário. Verifica-se, ainda, que a ausência de êxito nas diligências decorreu da mudança de endereço do devedor fiduciante, situação que não pode ser imputada à ré como irregularidade procedimental, já que se mostra muita mais verdadeira a informação quando se nota que o autor assumiu o imóvel urbano no lugar do devedor originário, dando clara mostra de que houve, de fato, a mudança. O autor, por sua vez, não detém legitimidade para alegar nulidade do procedimento realizado contra terceiro com quem não mantém vínculo contratual formal junto à instituição financeira. Além disso, assumiu o contrato sem a intervenção da CAIXA, assumindo por sua conta todos os riscos do negócio sem poder opor algo de relevante contra a CAIX. Eventual prejuízo decorrente da aquisição do imóvel deve ser discutido em demanda própria contra o vendedor, não sendo possível, nesta ação, invalidar o procedimento de expropriação regularmente instaurado pela Caixa Econômica Federal. Assim, inexistindo qualquer irregularidade no procedimento de consolidação e considerando que o autor não possui legitimidade para impugnar atos praticados contra o contratante originário, os pedidos deduzidos na inicial não merecem prosperar. Dispositivo Ante o exposto: JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na inicial, nos termos do art. 487, I, do CPC. Defiro à parte autora os benefícios da justiça gratuita. Indefiro o pedido de denunciação da lide por intempestivo. Condeno a parte autora ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, §2º, do CPC, ficando a exigibilidade suspensa em razão da gratuidade ora concedida. Oficie-se ao desembargador relator do agravo de instrumento interposto, informando-lhe acerca da presente. Transitada em julgado, arquivem-se os autos. P. R. I. Tucuruí, data da assinatura eletrônica. JUIZ FEDERAL

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Processo nº 0013987-76.2019.8.27.2729

ID: 276630608

Tribunal: TJTO Órgão: NÚCLEO DE APOIO AS COMARCAS - NACOM Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0013987-76.2019.8.27.2729

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARESSA NAZILE TEIXEIRA SOUZA

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

WASHINGTON GABRIEL PIRES

OAB/TO XXXXXX Desbloquear

Procedimento Comum Cível Nº 0013987-76.2019.8.27.2729/TO AUTOR : MARESSA NAZILE TEIXEIRA SOUZA (Inventariante) ADVOGADO(A) : WASHINGTON GABRIEL PIRES (OAB TO005149) SENTENÇA Vistos. I - RELATÓRIO Cu… Procedimento Comum Cível Nº 0013987-76.2019.8.27.2729/TO AUTOR : MARESSA NAZILE TEIXEIRA SOUZA (Inventariante) ADVOGADO(A) : WASHINGTON GABRIEL PIRES (OAB TO005149) SENTENÇA Vistos. I - RELATÓRIO Cuida-se de AÇÃO DE COBRANÇA movida pelo ESPÓLIO DE WILTON JOSÉ DE SOUSA em detrimento de JOSÉ RODRIGUES DE SÁ , partes já qualificadas nos autos em epígrafe. Em síntese, narra a parte autora que locou um imóvel ao requerido, em 15/06/2017, pelo prazo de 6 (seis) meses, isto é, até 14/12/2017. Argumentou que o preço do aluguel era de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais, a ser pago todo dia 15, sob pena de multa de 10% mais juros e correção monetária. Disse ainda que o demandado saiu do imóvel e não pagou os meses de maio, junho, julho, outubro, novembro e dezembro de 2018, além de janeiro e fevereiro de 2019. Cumpria ainda ao suplicado o pagamento do IPTU. Alegou ainda que o réu foi notificado extrajudicialmente para realizar o pagamento, porém recusou-se a receber a notificação ou assinar o termo de recebimento. Expôs o direito e, ao final, pugnou pela condenação do réu ao pagamento dos valores inadimplidos, que somam: R$ 11.435,79 (onze mil, quatrocentos e trinta e cinco reais e setenta e nove centavos). Com a inicial juntou os documentos que reputou indispensáveis. Recebida a exordial, foi determinada a citação do réu ( evento 12, DESP1 ). Citado, o réu apresentou contestação com reconvenção ( evento 66, CONT1 ). Em sua defesa, argumentou que sempre pagou os aluguéis em mãos da inventariante do Espólio, porém esta nem sempre lhe entregava o recibo. Disse ainda que sofreu acidente em maio de 2019 e informou à autora que entregaria o ponto, pois não conseguiria mais trabalhar, de modo que somente está inadimplente com os meses de junho e julho de 2019. Entretanto, afirmou que a requerente poderia ficar com as benfeitorias que fez no imóvel, a título de pagamento do débito. Quanto ao IPTU, disse que o imóvel é dividido em 4 (quatro) kitnets, um ponto comercial e a área de galpão que foi alugada à parte autora, de maneira que o tributo deveria ser dividido entre todas as unidades. Alegou que gastou R$ 4.024,76 (quatro mil, vinte e quatro reais e setenta e seis reais) com a construção do galpão, mais R$ 2.012,38 (dois mil e doze reais e trinta e oito centavos) com a mão de obra, que perfaz metade do valor dos materiais. Apresentou, nesse sentido, pedido reconvencional, para que o requerente seja condenado ao pagamento de R$ 4.135,62 (quatro mil, cento e trinta e cinco reais e sessenta e dois centavos), valor líquido apurado após subtrair o valor dos aluguéis inadimplidos (R$ 1.000,00 - mil reais) e IPTU correspondente (R$ 901,52 - novecentos e um reais e cinquenta e dois centavos). Juntou os documentos que entendeu necessários. Intimado, o réu apresentou réplica ( evento 69, REPLICA1 ). Foi anunciado o julgamento antecipado do mérito, ante a desnecessidade da produção de outras provas ( evento 90, DECDESPA1 ). Vieram-me os autos conclusos para Julgamento. II - FUNDAMENTAÇÃO O processo comporta julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, inciso I, do diploma processualista civil, uma vez que a par da presunção de veracidade quanto aos fatos da causa e a matéria trazida, o julgamento não prescinde de produção de outras provas, pois trata-se de matéria eminentemente de direito. 1. QUESTÃO PROCESSUL PENDENTE 1.1 Assistência judiciária gratuita do Réu/Reconvinte Pugnou o reconvinte pela concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita. Milita em favor da pessoa física a presunção relativa de pobreza, ausente impugnação específica do autor/reconvindo, não existindo elementos que desqualifiquem o caráter da hipossuficiência, concedo ao réu/reconvinte os benefícios da assistência judiciária gratuita. Nesse sentido: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA - PESSOA FÍSICA - DEFERIMENTO - HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA COMPROVADA - DECISÃO REFORMADA - JUSTIÇA GRATUITA CONCEDIDA. - A jurisprudência consolidou o entendimento de que os benefícios da justiça gratuita devem ser concedidos quando restar comprovada a hipossuficiência financeira da parte para arcar com as custas e despesas processuais, sem prejuízo de seu sustento e de sua família - Suficientemente comprovada a necessidade do deferimento da justiça gratuita, deve ser concedido o benefício da gratuidade judiciária ao recorrente - Em razão do deferimento do pedido, fica o agravante dispensado do recolhimento das custas, nos termos do artigo 98, § 1º, do CPC/2015 - Justiça gratuita deferida - Decisão reformada - Recurso provido. (TJ-MG - AI: 10000170967442001 MG, Relator.: Mariangela Meyer, Data de Julgamento: 27/03/2018, Data de Publicação: 09/04/2018). Sem questões processuais pendentes, passo à análise do caso concreto. MÉRITO A ação de cobrança tem como objetivo um provimento judicial apto a condenar determinada parte ao pagamento de quantia certa, em decorrência de situação jurídica existente entre as partes. No caso dos autos, analisando os termos da inicial e da reconvenção, abstraio os seguintes fatos: a) o réu/reconvinte foi inquilino do autor, inclusive após seu falecimento, quando os aluguéis passaram a ser pagos à inventariante Sra. Maressa; b) o valor do aluguel após o ano de 2017 passou a ser R$ 500,00 (quinhentos reais). Resta controvertido, nesse sentido: a) quais meses do contrato de locação restaram inadimplidos; b) numerário inadimplido e devido quanto ao pagamento do IPTU; c) benfeitorias implementadas pelo locatário. Pois bem. Narra o autor/reconvindo que o réu permanece inadimplente quanto aos meses de maio, junho, julho, outubro, novembro e dezembro de 2018, além de janeiro e fevereiro de 2019, totalizando 8 (oito) meses. Por sua vez, o réu/reconvinte disse que somente deve os meses de junho e julho de 2019, de modo que os demais foram pagos à invetariante, porém sem recibo de pagamento. Nos termos da legislação civil, o devedor que paga a obrigação tem direito à quitação, bem como pode reter o pagamento enquanto a quitação não for dada, sob pena de permanecer vinculado à obrigação (arts. 319 e 324, ambos do CC). É o caso dos autos, diz o reconvinte que efetuou o pagamento das mensalidades, porém não acostou comprovante ou recibo de pagamento, assente que a negativa de entrega do recibo não pode ser oposta como obstáculo, dado que a parte poderia ter retido o pagamento. Não se perde de vista, ainda, que o pagamento deveria ser realizado por meio de depósito em conta da inventariante. Nesse sentido, o inadimplemento das parcelas sujeita o devedor ao pagamento do débito acrescido de multa, juros remuneratórios e correção monetária (cláusula 12, do evento 1, CONT_LOCACAO5 ). Continuamente, em relação às despesas com IPTU, "conforme o artigo 22, inciso VIII, da Lei de Locações, incumbe ao locador efetuar o pagamento dos impostos, contudo poderá ser responsabilidade do locatário tal obrigação, quando as partes, expressamente, convencionarem [...]" (TJ-GO - AC: 02613633420148090051 GOIANIA, Relator.: DR(A) . MARCUS DA COSTA FERREIRA, Data de Julgamento: 20/09/2016, 6A CAMARA CIVEL, Data de Publicação: DJ 2121 de 29/09/2016). In casu , o contrato de locação ( evento 1, CONT_LOCACAO5 ) não prevê que o pagamento do IPTU deverá ser custeado pelo locatário. Logo, é indevida a cobrança do tributo do locatário/reconvinte. Por fim, em relação às benfeitorias. Prevê o contrato ( evento 1, CONT_LOCACAO5 ): 11) DA CONSERVAÇÃO DO IMÓVEL: [...] Quaisquer obras ou modificações poderão ser realizadas com o consentimento do locador, e depois serão incorporadas ao imóvel, sem idreito a qualquer indenização ou retenção, pelas benfeitorias realizadas. Por meio do petitório encartado ao evento 69, REPLICA1 , a reconvinda impugnou as supostas benfeitorias e argumentou que o Orçamento juntado ao evento 66, ANEXO2 diz respeito à matéria prima utilizada pelo réu/reconvinte na serralheria. A Lei nº 8.245/91, em seu artigo 35, dispõe que: Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel. Assim, verificando a inexistência de autorização por parte do locador, a validade da cláusula 11 do contrato e a natureza das benfeitorias realizadas, não assiste razão ao reconvinte buscar a restituição das mesmas, através do pleito indenizatório aqui colocado. Neste sentido: DIREITO CIVIL. APELAÇÕES SIMULTÂNEAS. APELO DO RÉU. ARGUIÇÃO DE NULIDADE DOS ATOS POSTERIORES À SENTENÇA, INCLUSIVE DO ACÓRDÃO. NULIDADE VERIFICADA. FEITO EM CONDIÇÕES DE CONTINUIDADE DO JULGAMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO AO RÉU. RECURSO PROVIDO. APELO DO AUTOR. LOCAÇÃO DE IMÓVEL. BENFEITORIAS. CONTRATO QUE PREVÊ NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E ESCRITA DO LOCADOR. ART. 35 DA LEI DE LOCAÇÕES. CLÁUSULA COM BASE LEGAL. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. INEXISTÊNCIA NA HIPÓTESE DE PROVA DA AUTORIZAÇÃO. INSURGÊNCIA DO LOCADOR ÀS OBRAS. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DEMONSTRADA. CONDENAÇÃO DO JUÍZO DE ORIGEM INCORRETA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. APELOS SIMULTÂNEOS PROVIDOS. Apelo do autor: 1. Na esteira do art. 35 da Lei de Locações, pode o contrato de locação exigir prévia e expressa autorização do locador para a realização das benfeitorias, mesmo as necessárias. Precedentes. 2. Em caso de realização de benfeitoria sem autorização do locador exigida contratualmente, perde o locatário o direito de retenção ou restituição. Precedentes. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0303462-68.2014.8.05.0103, Relator (a): Regina Helena Ramos Reis, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 07/03/2018 )(TJ-BA - APL: 03034626820148050103, Relator: Regina Helena Ramos Reis, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 07/03/2018). Ainda: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO CUMULADA COM COBRANÇA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA POR FALTA DE REPRESENTAÇÃO. REJEIÇÃO QUE SE IMPÕE. LOCAÇÃO. PAGAMENTOS DOS ALUGUÉIS NÃO COMPROVADOS. RETENÇÃO POR BENFEITORIAS. CLÁUSULA CONTRATUAL DE RENÚNCIA EXPRESSA AO DIREITO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO POR PARTE DO LOCADOR PARA EXECUÇÃO DE OBRAS. SENTENÇA MANTIDA. PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Afasta-se a preliminar de ilegitimidade ativa quando restar comprovado nos autos que o espólio estava representado pelo inventariante compromissado. 2. Inexistindo nos autos comprovação de pagamento dos aluguéis cobrados, o montante é devido. 3. Descabe pedido de retenção das benfeitorias supostamente realizadas no imóvel ante a existência de cláusula contratual expressa de renuncia ao referido direito, além de ausência de autorização expressa para realização de benfeitorias. Incidência do art. 35 da Lei 8.245 /91. PRELIMINAR REJEITADA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0134946-47.2007.8.05.0001, Relator (a): Moacyr Montenegro Souto, Terceira Câmara Cível, Publicado em: 01/11/2017 ) (TJ-BA - APL: 01349464720078050001, Relator: Moacyr Montenegro Souto, Terceira Câmara Cível, Data de Publicação: 01/11/2017). Portanto, havendo cláusula contratual que determinava a prévia autorização do locador para a realização de obras e restando evidenciado que as mesmas foram feitas para adequar o imóvel ao empreendimento do locatário (sendo, pois, benfeitorias úteis), é improcedente o pedido. Por fim, afasto a cobrança de honorários advocatícios (cláusula 12, do evento 1, CONT_LOCACAO5 ), uma vez que referem-se à cobrança extrajudicial, não comprovada nos autos. Ex vi: APELAÇÃO. LOCAÇÃO RESIDENCIAL. Sentença julgou parcialmente procedente a ação. COBRANÇA DE ALUGUÉIS E ACESSÓRIOS DA LOCAÇÃO . Inconformismo da parte ré. Acolhimento. Impossibilidade de cumulação da multa moratória por atraso no pagamento dos aluguéis com a multa compensatória, por configurar dupla penalidade sobre o mesmo fato ("bis in idem"). Afastamento de honorários contratuais previstos no contrato de locação . Honorários previstos no contrato que se destinam apenas à purgação da mora. Inteligência do artigo 62, inciso II da Lei nº 8.245/1991. Precedentes desta Colenda Câmara . Sentença reformada nesta parte. Recurso provido. (TJ-SP - Apelação Cível: 1004967-80.2022 .8.26.0073 Avaré, Relator.: Rogério Murillo Pereira Cimino, Data de Julgamento: 29/05/2024, 27ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 29/05/2024). Apurando, nesse sentido, os pedidos das partes, verifico que a autora/reconvinda sucumbiu apenas em relação à cobrança do IPTU e honorários advocatícios da fase extrajudicial. III – DISPOSITIVO Em face do exposto, e por tudo mais que consta nos autos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos iniciais, e extingo o feito com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC, para: CONDENAR o requerido/reconvinte ao pagamento dos 8 (oito) meses de aluguel inadimplidos, somados com os encargos contratuais do evento 1, CONT_LOCACAO5 , tudo a ser apurado em liquidação de sentença; CONDENAR o requerido/reconvinte ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor da condenação, a teor do art. 85, §2º do Código de Processo Civil. Fica suspensa a cobrança dos ônus da sucumbência, dado que o réu/reconvinte é beneficiário da assistência judiciária gratuita. Também JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos reconvencionais, com resolução do mérito, segundo art. 487, inc. I, do Código de Ritos, para: DECLARAR a inexigibilidade do IPTU, dada a inexistência da cláusula ( evento 1, CONT_LOCACAO5 ); DECLARAR a abusividade da cobrança de honorários advocatícios do evento 1, CONT_LOCACAO5 , haja vista que não foi comprovada a cobrança extrajudicial do débito. CONDENAR o reconvindo ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor da causa atribuído aos pedidos que não sucumbiu. Atenda-se ao Provimento nº 02/2023/CGJUS/ASJCGJUS/TJTO. Interposto eventual Recurso, INTIME-SE a parte recorrida para a apresentação de contrarrazões. Caso contrário e operado o trânsito em julgado, certifique-se. Observadas as formalidades legais, proceda-se à baixa dos autos no sistema eletrônico, arquivando-se o feito com as cautelas de estilo. Intimem-se. Cumpra-se. Palmas/TO, data certificada no sistema.

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Processo nº 0871502-07.2023.8.10.0001

ID: 281853034

Tribunal: TJMA Órgão: 4ª Vara Cível de São Luís Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0871502-07.2023.8.10.0001

Data de Disponibilização: 28/05/2025

Polo Ativo:

JAKSON RIBEIRO LOBATO

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

RUY EDUARDO VILLAS BOAS SANTOS

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ANTONIO CESAR DE ARAUJO FREITAS

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FERNANDO VINICIUS REZENDE LINHARES

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JESSICA DE FATIMA RIBEIRO FERREIRA

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JAKSON RIBEIRO LOBATO

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Juízo de Direito da 4ª Vara Cível do Termo de São Luís Secretaria Judicial Única Digital das Varas Cíveis do Termo de São Luís Processo: 0871502-07.2023.8.10.0001 Ação: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) A… Juízo de Direito da 4ª Vara Cível do Termo de São Luís Secretaria Judicial Única Digital das Varas Cíveis do Termo de São Luís Processo: 0871502-07.2023.8.10.0001 Ação: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) AUTOR: J. I. C. L., SIMONE PAIXAO CARVALHO Advogado do(a) AUTOR: JAKSON RIBEIRO LOBATO - MA25035 REU: HUMANA ASSISTENCIA MEDICA LTDA Advogados do(a) REU: ANTONIO CESAR DE ARAUJO FREITAS - MA4695-A, FERNANDO VINICIUS REZENDE LINHARES - MA26120-D, JESSICA DE FATIMA RIBEIRO FERREIRA - MA17662-A, RUY EDUARDO VILLAS BOAS SANTOS - MA4735-A SENTENÇA - Trata-se de AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA movida por JOSÉ INÁCIO CARVALHO LINHARES, representado por sua genitora SIMONE PAIXÃO CARVALHO LINHARES, em face de HUMANA ASSISTÊNCIA MEDICA LTDA, ambos qualificados nos autos. O autor pleiteia a condenação da ré à cobertura do tratamento, nos termos prescritos pelo médico responsável pelo acompanhamento da menor. Em suas considerações iniciais, o Autor, ora representado, alega manter vínculo contratual com a operadora de plano de saúde Requerida para a prestação de serviços médicos e hospitalares, estando integralmente adimplente com todas as suas obrigações contratuais. Relata que foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (CID-11: 6A02, anteriormente classificado como CID-10: F84.0). Em decorrência do diagnóstico, informa a genitora do menor que deu início, por meio do plano de saúde administrado pela Ré, ao qual é beneficiário desde 20/05/2019, às terapias indicadas pelo neuropediatra. Aduz, ainda, que, com o intuito de minimizar os incômodos ao Autor e potencializar os resultados terapêuticos, a família optou por iniciar o acompanhamento na clínica CETFAMA, especializada em terapia ocupacional e devidamente credenciada pela Ré para a prestação dos serviços médicos vinculados ao plano de saúde contratado. No entanto, no dia 02/11/2023, a clínica CETFAMA comunicou aos pais do Autor que, a partir de 04/11/2023, os atendimentos aos usuários do plano de saúde operado pela Ré seriam suspensos, em razão de problemas administrativos de natureza financeira, impossibilitando, assim, a continuidade das terapias de ABA, Psicopedagogia, Integração Sensorial, Eletroestimulação, Psicologia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Assevera que, desde então, o Autor permanece sem acompanhamento terapêutico, já apresentando sinais de regressão em todo o desenvolvimento que vinha sendo conquistado ao longo dos anos. Conforme laudo emitido pela clínica, destaca-se que a interrupção pode acarretar prejuízos ao Autor, uma vez que, sem as devidas estimulações terapêuticas, o processo de aprendizagem torna-se consideravelmente mais difícil. Informa, ainda, que, por intermédio de seu representante legal, buscou atendimento em diversas clínicas que oferecem o referido serviço por meio do plano de saúde operado pela Ré. Contudo, as clínicas contatadas realizam atendimento apenas mediante fila de espera, com prazo estimado de até dois meses. O custeio particular das terapias, por sua vez, mostra-se inviável, em razão dos valores elevados. Diante da omissão da Ré em fornecer o tratamento prescrito por profissional habilitado, a via judicial revelou-se como a única alternativa eficaz para assegurar o direito à saúde, plenamente amparado pela legislação vigente. Com base nos argumentos expostos, o Autor requer a concessão da gratuidade da justiça. Pleiteia, ainda, a total procedência da ação, bem como a concessão da tutela provisória de urgência, determinando à Ré o imediato custeio da cobertura médico-assistencial para todas as terapias e atendimentos necessários ao Autor, seja na clínica CETFAMA ou em qualquer outra credenciada na cidade de São Luís/MA, de forma imediata, sem fila de espera ou quaisquer outros contratempos, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de multa diária no valor de R$ 5.000,00 por descumprimento. Requer-se, ao final, a confirmação da tutela concedida e, no mérito, a condenação da Ré ao pagamento de 30 (trinta) salários mínimos vigentes, a título de indenização por danos morais. Com a petição inicial, foram acostados os documentos pertinentes. Na decisão registrada sob o ID nº 107161140, foram concedidas a assistência judiciária gratuita e a inversão do ônus da prova, além de ter sido deferida a tutela antecipada de urgência, determinando requerida HUMANA ASSISTÊNCIA MEDICA LTDA. autorize/custeie integralmente de forma contínua em favor do demandante JOSÉ INÁCIO CARVALHO LINHARES, os procedimentos solicitados pelo médico na prescrição de ID n. 107093234, quais sejam: Psicologia especializada em análise do comportamento aplicada a TEA (ABA) 02 (duas) horas por sessão, 10 horas semanais. Terapia ocupacional com integração sensorial 01 (uma) hora por sessão, 02 (duas) horas semanais. Terapia ocupacional 01 (uma) hora por sessão, 02 (duas) horas semanais. Fonoaudiologia 01 (uma) hora por sessão, 02(duas) horas semanais Psicopedagoga 01 (uma) hora por sessão, 02 (duas) horas semanais, Psicomotricidade 01 (uma) hora por sessão, 02 (duas) horas semanais, preferencialmente, em clínica conveniada ao plano. A presente decisão liminar deverá ser cumprida pela Ré no prazo de 5 (cinco) dias, a contar do conhecimento do decisum, sob pena de incidência de multa diária no valor de R$1.000,00 (hum mil reais), limitada a 30 (trinta) dias-multa, sem prejuízo da adoção de outras medidas que se fizerem necessárias. Caso as clínicas conveniadas ao plano de saúde não possuam vaga para o atendimento imediato do autor ou não possuam atendimento especializado nos termos do laudo de ID nº 107093234, deverá a parte requerida realizar o custeio do tratamento do autor em clínica particular não conveniada ao plano de saúde. Foi designada audiência de conciliação, contudo não houve êxito, em virtude da ausência da Requerente. Regularmente citado, o Requerido apresentou contestação (ID nº 113344544). Em sede de preliminar, suscitou a incompetência absoluta do juízo, bem como impugnou o valor atribuído à causa e o pedido de gratuidade da justiça. No mérito, refutou integralmente a pretensão inicial, requerendo a total improcedência dos pedidos, ao argumento de que, em nenhum momento, indeferiu autorização para o custeio do tratamento do Autor, tratando-se apenas de uma controvérsia administrativa já solucionada. Asseverou que as atividades e o tratamento já foram devidamente retomados, o que restou comprovado pelas guias anexadas aos autos, quando do cumprimento da liminar. Diante disso, sustenta que as alegações do Autor não merecem acolhimento, uma vez que os atos praticados pela Requerida estão devidamente respaldados na legislação vigente, sendo, portanto, lícitos. Ao final, requereu a improcedência integral da demanda. Em réplica (ID nº 117099095), o Autor reiterou integralmente os termos da petição inicial. Ressalte-se que não houve requerimento de novas provas pelas partes. Foi juntado aos autos o parecer do Ministério Público, sob ID nº 136612530, manifestando-se pela procedência da ação. É a síntese do necessário. Passo à decisão. 2. FUNDAMENTAÇÃO Inicialmente, verifica-se que o processo preenche todos os pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular, encontrando-se pronto para julgamento, uma vez que não há necessidade de produção de outras provas. A jurisprudência consolidada já estabeleceu que, quando há expressa indicação médica, a prova pericial só se faz imprescindível caso existam indícios de fraude ou dúvidas substanciais sobre a credibilidade da prescrição. Na ausência de tais circunstâncias, a recomendação do médico assistente deve prevalecer. É importante destacar que a administração das provas é uma prerrogativa do magistrado, que possui autonomia para decidir sobre os elementos probatórios relevantes ao caso. Nos termos do artigo 371 do Código de Processo Civil, o juiz tem liberdade para avaliar as provas com base no princípio da persuasão racional. Nesse contexto, o magistrado pode se restringir às provas mais adequadas, ágeis e compatíveis com o princípio da razoável duração do processo, conforme disposto no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, e no artigo 139, inciso II, do Código de Processo Civil. Dessa forma, o relatório médico de ID nº 107093234 se mostra suficiente para elucidar a controvérsia, dispensando a necessidade de outras provas. Cabe ao médico assistente determinar o tratamento mais adequado ao paciente, não cabendo à operadora de saúde interferir nessa decisão. 2.1. DAS PRELIMINARES 2.1.1. DA INCOMPETÊNCIA Em sede de contestação, a Requerida alega a incompetência deste juízo para processar e julgar a presente ação. O artigo 9º da Lei Complementar nº 14/1991, que dispõe sobre a Organização Judiciária do Estado do Maranhão, estabelece a divisão dos serviços judiciários na Comarca de São Luís, delimitando a competência de cada órgão judicial para processar e julgar determinados casos, nos seguintes termos: Art. 9"- A competência dos Juízes da Comarca de São Luís será distribuída da seguinte forma: I – 1ª Vara da Infância e da Juventude, com as atribuições cíveis e administrativas definidas na legislação específica; II – 2ª Vara da Infância e da Juventude, com as atribuições para processar e julgar atos infracionais atribuídos a menores de dezoito anos, de acordo com a legislação específica; […] XIV – 4ª Vara Cível e Comércio; […]. Da leitura da norma transcrita, conclui-se que ambas as varas possuem atribuições cíveis; contudo, a competência da Vara da Infância e Juventude restringe-se às ações expressamente definidas na legislação específica, notadamente no Estatuto da Criança e do Adolescente, que, em seu artigo 148, elenca os casos em que a Vara Especializada detém competência, verbis: Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: I- conhecer de representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis: II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção do processo; III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209: V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente: VIl - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente nas hipóteses do art. 98, e também competente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim de a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda ou modificação da tutela ou guarda; c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou materna em relação ao exercício do poder familiar; e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil quando faltarem os pais; f) designar curador especial em Casos de apresentação de queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente: g) conhecer de ações de alimentos; h) determinar o cancelamento a retificação o suprimento dos registros de nascimento e óbito. No caso em análise, observa-se que o Autor pretende que a operadora de saúde, por ele contratada, forneça as terapias indicadas, necessárias ao seu tratamento, tendo em vista ser portador de Transtorno do Espectro Autista, cujo atendimento foi suspenso. A situação apresentada não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas na legislação específica anteriormente transcrita, motivo pelo qual se conclui ser este juízo competente para a apreciação da presente causa. Diante disso, rejeito a preliminar suscitada. 2.1.2. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA Na peça de contestação, o requerido suscita a necessidade de correção do valor atribuído à causa, argumentando que a parte autora indicou a quantia de R$ 140.880,00 (cento e quarenta mil, oitocentos e oitenta reais), mas não apresentou, na petição inicial ou nos pedidos, qualquer fundamentação objetiva acerca de eventuais danos morais. Dessa forma, revela-se pertinente o acolhimento da impugnação ao valor da causa formulada pela ré, uma vez que, conforme dispõe o artigo 292, inciso V, do Código de Processo Civil, o valor da causa deve refletir fielmente o montante indenizatório efetivamente pretendido. A propósito, confira-se o seguinte julgado: "Agravo de instrumento. Redução, de ofício, do valor atribuído à pretensão de indenização por dano moral. Ausência da hipótese prevista no art. 292, § 3º, CPC. No caso, o autor estimou a quantia pretendida a título de indenização por dano moral e a computou no valor da causa, atendendo ao disposto no art. 292, incisos II, V e VI, do CPC. Decisão reformada. RECURSO PROVIDO" (TJSP; Agravo de Instrumento 2213417-02.2023.8.26.0000; Relator (a): Luis Carlos de Barros; Órgão Julgador: 20a Câmara de Direito Privado; Foro Regional XII - Nossa Senhora do Ó - 5a Vara Cível; Data do Julgamento: 14/09/2023; Data de Registro: 14/09/2023). No presente caso, constata-se que, entre os pedidos formulados na petição inicial, a Requerente pleiteia uma obrigação de fazer, consistente no custeio da cobertura médico-assistencial para todas as terapias e atendimentos indicados no relatório médico, bem como a condenação do Requerido ao pagamento de indenização por danos morais, fixada no valor correspondente a 30 (trinta) salários mínimos vigentes. Assim, verifica-se que o único pedido líquido refere-se à indenização por danos morais, cujo montante é expressivamente inferior ao valor originalmente atribuído à causa. Ademais, verifica-se equívoco cometido pela Autora ao sustentar que a pretensão, relativa aos danos morais, incidiria sobre os salários mínimos vigentes. Na realidade, deve-se considerar o salário mínimo vigente à época da propositura da demanda, no valor de R$ 1.320,00 (mil trezentos e vinte reais). Diante disso, com fundamento no art. 293 do Código de Processo Civil, acolho parcialmente a impugnação ao valor da causa, fixando-o no montante de R$ 39.600,00 (trinta e nove mil e seiscentos reais). 2.1.3. DA IMPUGNAÇÃO A JUSTIÇA GRATUITA Quanto à impugnação à justiça gratuita, levantada pela requerida, entendo que o pedido de assistência judiciária gratuita já deferido deve ser mantido. O Código de Processo Civil (CPC) expressamente autoriza o juiz a conceder a gratuidade, desde que não haja elementos nos autos que evidenciem a ausência dos pressupostos legais para sua concessão, capazes de afastar a presunção relativa de insuficiência de recursos (art. 99, §§ 2º e 3º, CPC). A regra para a revogação do benefício exige a comprovação de que os requisitos essenciais deixaram de existir ou nunca estiveram presentes, e tal prova cabe ao impugnante, o que não ocorreu no caso concreto, uma vez que a requerida limitou-se a alegações genéricas, sem apresentar qualquer comprovação documental. Dessa forma, a presunção de hipossuficiência da parte autora não foi afastada pelo réu, a quem competia o ônus da prova. Portanto, não há necessidade de maiores digressões sobre o tema, uma vez que este já se encontra pacificado, no sentido de que não é exigida a comprovação formal do estado de miserabilidade para a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, sendo suficiente a declaração pessoal da parte, a qual pode ser realizada inclusive por seu advogado. Ante o exposto, rejeito a preliminar e mantenho a gratuidade deferida nos autos. 2.2. DO MÉRITO. 2.2.1. DA APLICABILIDADE DO CDC Importa destacar, inicialmente, que a relação jurídica estabelecida entre as partes nos presentes autos é de consumo, pois o autor figura como destinatário final dos serviços fornecidos pela parte requerida, conforme os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor (CDC). De acordo com o entendimento sumulado pelo STJ: “aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de planos de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão” (Súmula 608). Friso que, tratando-se de uma relação de consumo entre o segurado e o plano de saúde, as normas contratuais devem ser interpretadas em favor do consumidor, conforme o disposto no art. 47 do CDC. Além disso, as cláusulas limitativas devem estar expressamente previstas e devidamente destacadas, conforme os §§ 3º e 4º do art. 54 do CDC. Assim, não havendo exclusão expressa da cobertura do tratamento requerido, a operadora do plano de saúde fica obrigada a cobrir as despesas decorrentes do procedimento imprescindível à boa recuperação da saúde do usuário, salvo se restar comprovada a impertinência do tratamento, o que não ocorreu nos autos. Ademais, a inversão do ônus da prova é medida que se impõe em demandas que envolvam relação de consumo, onde há notória fragilidade do consumidor, como no caso sob análise, motivo pelo qual defiro a inversão do ônus da prova. 2.2.2. DA OBRIGAÇÃO DE FAZER. A procedência do pedido impõe-se, na medida em que reconheço que os argumentos tecidos pela parte Demandante foram confirmados pelos elementos probatórios que constituem os autos. No presente caso, resta incontroverso que o autor é beneficiário do plano de saúde da operadora requerida e que possui diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (CID-11: 6A02, anteriormente classificado como CID-10: F84.0). Também restou comprovada a suspensão do tratamento médico, conforme alegado pela parte autora e, de fato, confirmado pela própria contestação. Dessa forma, a controvérsia restringe-se, essencialmente, a analisar se a conduta da parte ré, ao impedir a continuidade do tratamento médico, configurou ato ilícito e, em caso afirmativo, se há obrigação de indenizar. Com efeito, a parte autora apresentou documentos robustos que comprovam suas alegações, destacando-se o laudo médico (ID nº 107093234) e o comunicado de suspensão do atendimento (ID nº 106643091). Por outro lado, a parte ré justificou a suspensão em razão de controvérsias administrativas com a clínica responsável, situação que, posteriormente, foi resolvida. É incontroverso nos autos que a clínica CETFAMA integra a rede credenciada do plano de saúde. Assim, o dever de cobertura e custeio dos tratamentos realizados em rede credenciada é pacificado tanto na legislação quanto na jurisprudência, bem como a obrigação da operadora de manter sua rede de prestadores de serviços, que não se restringe exclusivamente aos estabelecimentos hospitalares. Dispõe o art. 17, da Lei nº 9.656/98: Art. 17. A inclusão de qualquer prestador de serviço de saúde como contratado, referenciado ou credenciado dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei implica compromisso com os consumidores quanto à sua manutenção ao longo da vigência dos contratos, permitindo-se sua substituição, desde que seja por outro prestador equivalente e mediante comunicação aos consumidores com 30 (trinta) dias de antecedência. (Redação dada pela Lei nº 13.003, de 2014) O direito do beneficiário de plano de saúde se restringe à prestação de serviço pela rede credenciada vinculada ao seu contrato, salvo se o tratamento de que necessita não conta com profissionais ou estabelecimentos adequados, caso em que se admite, excepcionalmente, que o tratamento seja realizado fora da rede credenciada. Acrescenta-se, ainda, que a ANS, por meio da Resolução Normativa nº 539, de 23 de junho de 2022, ampliou as regras de cobertura para tratamento de transtornos globais do desenvolvimento, incluindo o transtorno do espectro autista, com vigência a partir de 01º de julho de 2022, de modo que “a operadora deverá oferecer atendimento por prestador apto a executar o método ou técnica indicados pelo médico assistente para tratar a doença ou agravo do paciente. (…)”. No mesmo sentido: "(...) 2. A Resolução Normativa nº 259/2011 da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, que dispõe sobre a garantia de atendimento dos beneficiários de plano privado de assistência à saúde, estabelece em seus artigos 4º e 5º c/c 9º a obrigação da operadora do plano de saúde garantir o atendimento do beneficiário fora de sua rede credenciada, mediante custeio integral, apenas nas hipóteses de indisponibilidade ou inexistência de prestador credenciado que ofereça o procedimento. A propósito, cumpre destacar precedente relevante que reforça o entendimento ora exposto, corroborando a necessidade de manutenção da rede credenciada e o dever de custeio integral do tratamento. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PLANO DE SAÚDE. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. CUSTEIO DE TRATAMENTO ESPECIALIZADO À CRIANÇA COM AUTISMO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA DETERMINOU A AUTORIZAÇÃO PARA PAGAMENTO INTEGRAL DE TRATAMENTO A SER REALIZADO EM CLÍNICA E POR PROFISSIONAIS NÃO CREDENCIADOS NA REDE DO PLANO, SOB PENA DE MULTA. NÃO OBRIGATORIEDADE. EXISTÊNCIA DE PROFISSIONAIS CREDENCIADOS. POSSIBILIDADE DE REEMBOLSO ATÉ O LIMITE DE SUA TABELA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. (TJAL. Agravo de Instrumento nº 0802802-14.2017.8.02.0000; Relator (a): Des. Klever Rêgo Loureiro; 2a Câmara Cível; Data do julgamento: 26/11/2018; Data de registro: 28/11/2018) (Sem grifos no original) Ademais, a eventual substituição dos prestadores de serviços médicos deve obedecer rigorosamente aos requisitos estabelecidos no art. 17 da Lei nº 9.656/98, especialmente no que se refere à equivalência entre o prestador originário e aquele que o substituirá, bem como à obrigação de comunicação prévia aos usuários, com antecedência mínima de trinta dias, assegurando-se, dessa forma, o respeito ao direito à informação e às legítimas expectativas dos consumidores. Segundo o C. Superior Tribunal de Justiça: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. CONSUMIDOR. PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE DE EXAME NO ESPECIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. RECURSO NÃO CONHECIDO NESSA PARTE. MÉRITO: PLANO DE SAÚDE. ALIENAÇÃO VOLUNTÁRIA DE CARTEIRAS. PROCEDIMENTO REGULADO PELA RESOLUÇÃO NORMATIVA 112/2005, DA ANS. MANUTENÇÃO PELA OPERADORA ADQUIRENTE DOS PRESTADORES DE SERVIÇO CREDENCIADOS PELA ALIENANTE. ALTERAÇÃO. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS ESTABELECIDOS NO ART. 17 DA LEI 9.656/1998. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO IMPROVIDO. 1. As operadoras de plano de saúde que pretendam alienar, voluntariamente, todas ou algumas de suas carteiras devem, observados os procedimentos estabelecidos pelas normas editadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, sobretudo o disposto na Resolução Normativa n. 112/2005, formular requerimento, instruindo-o com a documentação exigida, perante a ANS, que, analisando o preenchimento dos requisitos necessários, poderá aprovar a transferência de carteiras. Após a aprovação, a operadora adquirente deve notificar todos os beneficiários que possuam contratos na carteira alienada por meio de comunicação individual e de publicação na imprensa. 2. A Resolução Normativa n. 112/2005, editada pela ANS, exige, na alienação voluntária de carteiras de plano de saúde, que a nova operadora mantenha em relação aos beneficiários da carteira transferida as mesmas condições contratuais vigentes, sem lhes restringir direitos ou causar-lhes prejuízos (art. 4º, caput). Visa, com isso, a resguardar o direito do consumidor de ter mantido, nos mesmos termos em que ajustado originariamente, o contrato que celebrou com a operadora alienante da carteira de plano de saúde da qual faz parte. 3. O art. 4º, § 2º, da aludida resolução normativa estabelece que, em regra, deve ser mantida a mesma rede de serviços de assistência à saúde credenciados, referenciados ou contratados que a operadora alienante oferecia à época da transferência de carteiras, somente autorizando sua alteração se forem observadas as diretrizes estabelecidas no art. 17 da Lei 9.656/1998. 4. Em observância ao princípio da boa-fé objetiva e visando à proteção das legítimas expectativas do consumidor quanto à qualidade, à quantidade, à localização, entre outros critérios, dos serviços prestados pela operadora de plano de saúde no momento da contratação, tanto a operadora originariamente contratada pelo consumidor, por força do art. 17 da Lei 9.656/1998, como a nova operadora adquirente das carteiras alienadas, com base no disposto no art. 4º, § 2º, da RN 112/2005 - ANS, devem respeitar a regra de manutenção, durante a vigência dos contratos celebrados com os beneficiários, dos prestadores de serviço de saúde já credenciados, referenciados ou contratados. 5. A substituição do prestador de serviço de saúde em sentido amplo (incluindo hospitais, clínicas, profissionais de saúde, laboratórios e serviços correlatos), durante a vigência do contrato de plano de assistência à saúde, é legítima e possível, mas desde que observadas as seguintes condições: (I) substituição por profissional ou estabelecimento equivalente (art. 17, § 1º, da Lei 9.656/1998); (II) comunicação à ANS e aos consumidores com, no mínimo, trinta dias de antecedência (art. 17, § 1º, da Lei 9.656/1998); e (III) manutenção de eventual internação de beneficiário iniciada antes da substituição (art. 17, § 2º, da Lei 9.656/1998). Tais requisitos devem ser observados tanto pelas operadoras de plano de saúde originariamente contratadas pelo consumidor como pelas operadoras adquirentes de carteiras alienadas (art. 4º, § 2º, da RN n. 112/2005-ANS). 6. No caso concreto, segundo informações colhidas pelas instâncias ordinárias, soberanas na análise do conjunto fáticoprobatório dos autos, foram observados todos os requisitos exigidos pelos arts. 17, § 1º, da Lei n. 9.656/1998 e 4º da RN 112/2005 para a substituição dos prestadores de serviços de saúde que faziam parte da rede credenciada à Golden Cross, ocorrida em razão da alienação das carteiras individual e familiar à Unimed Rio. 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, improvido”. (REsp. nº 1545315/PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3 T., j. 25/10/2016). No mesmo sentido, destacam-se precedentes que consolidam o entendimento acerca da obrigatoriedade das operadoras de saúde em manter a rede credenciada, bem como o dever de comunicação prévia e de preservação da boa-fé contratual. : "Obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais. Plano de assistência médico- hospitalar. Legitimidade passiva presente. Todos os integrantes da relação negocial formam cadeia única de fornecimento/prestação de serviços, havendo responsabilidade solidária. Segurada portadora de linfoma de Hodgkin, necessitando de ciclos de medicações. Doença que atingiu a paciente tem ampla cobertura. Tratamento sendo realizado em hospital que, posteriormente, fora descredenciado pelo polo passivo. Ausência de informação prévia e de forma transparente para a segurada. Regular sequência do tratamento no local deve sobressair. Rés se predispuseram a 'cuidar de vidas', logo, devem proporcionar o necessário para que a paciente vá em busca da cura ou da amenização da adversidade na higidez. Paciente, que se apresenta em situação fragilizada em razão da doença, ainda teve ampliação da aflição psicológica pela negativa de atendimento. Danos morais caracterizados. Verba reparatória, fixada em R$10.000,00, compatível com as peculiaridades da demanda. Apelos desprovidos. (Apelação Cível 1087111-69.2018.8.26.0100; Relator (a): Natan Zelinschi de Arruda; Órgão Julgador: 4a Câmara de Direito Privado; j. 06/03/2020); “PLANO DE SAÚDE Ação de obrigação de fazer Recurso contra sentença de procedência Descabimento Alienação de carteira de clientes da Golden Cross à Unimed Rio Descredenciamento de rede de atendimento, por esta, sem prévia comunicação, com disponibilização de estabelecimentos de categoria inferior Impossibilidade Manutenção da rede credenciada Incidência da Lei 9.656/98 e da Súmula 100 do TJSP Decisão que bem observou a situação fática emergente dos autos Sentença mantida por seus próprios fundamentos, nos termos do art. 252 do Regimento Interno deste TJSP Recurso desprovido”. (Apelação Cível 1004967-64.2016.8.26.0405, Des. Rel. Rui Cascaldi, 1ª Câmara de Direito Privado, j. 07/03/2019) Conforme dispõe o art. 17, § 1º, da mencionada legislação, a alteração de um prestador de serviço integrante da rede credenciada ou referenciada do plano de saúde exige, de forma cumulativa, a substituição “por outro prestador equivalente” e a “comunicação aos consumidores e à ANS com antecedência mínima de trinta dias”, assegurando-se, assim, a proteção dos direitos dos usuários e a transparência na relação contratual. Ressalte-se que a única comunicação realizada foi a referente à suspensão, efetuada pela clínica em questão (ID nº 106643091). Dessa forma, é cabível o reconhecimento do dever de custeio integral do tratamento prescrito ao autor, sem qualquer limitação quanto ao número de sessões, à espécie ou ao método terapêutico, devendo ser garantido o atendimento tanto em clínica credenciada quanto, na ausência desta, em clínica não credenciada, confirmando-se, assim, a antecipação parcial de tutela anteriormente concedida. 2.2.3. DO DANO MORAL No tocante ao dano moral, verifica-se configurado na hipótese. O dano moral, diferentemente do dano material, prescinde de comprovação em juízo, posto que sua ocorrência é presumida diretamente do ato que apresente potencial de dano, sendo hábil a gerar perturbações na esfera psicológica da vítima, bastando que se configure a potencialidade lesiva do ato para que gere o deve de indenizar. É fato, o Direito Positivo brasileiro autoriza a imposição para reparação de dano moral sempre que restar configurado a violação a algum dos direitos relativos à personalidade do indivíduo, ou seja, quando sofre prejuízo aos sentimentos afetivos de um sujeito de direito (art. 5º, V da CF e art. 183 do CC). No presente caso, ficam evidenciados os danos morais sofridos pela parte autora, uma vez que a quebra da legítima expectativa em relação à continuidade do tratamento já realizado gerou frustração e insegurança, forçando-a a recorrer ao Judiciário para garantir um direito fundamental. O direito à saúde foi gravemente ameaçado, expondo o menor, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ao risco de interrupção de um tratamento essencial e contínuo, com impactos diretos e prejudiciais sobre seu desenvolvimento e bem-estar. Assim, é evidente o abalo e o transtorno de ordem morais experimentadas pelo autor, que ultrapassam o mero dissabor do cotidiano. Diante disso, mostra-se plenamente justificável a condenação da requerida ao pagamento de indenização por danos morais Nesse sentido, o seguinte precedente do Colendo Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE PLANO DE SAÚDE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. DEVER DE COBERTURA. INDISPONIBILIDADE OU INEXISTÊNCIA DE PRESTADOR DA REDE CREDENCIADA. OBRIGAÇÃO DE REEMBOLSO DA OPERADORA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. VALOR FIXADO. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. […] 1. Ação de obrigação de fazer cumulada com compensação por danos morais. 2. Ausentes os vícios do art. 1.022 do CPC, rejeitam-se os embargos de declaração. 3. Na hipótese em que a operadora do plano de saúde se omite em indicar prestador da rede credenciada apto a realizar o atendimento do beneficiário, este faz jus ao reembolso integral das despesas assumidas com o tratamento de saúde que lhe foi prescrito pelo médico assistente, em razão da inexecução contratual. Precedentes. 4. Hipótese em que se reputa abusiva a recusa da operadora do plano de saúde de cobertura do procedimento médico prescrito para o tratamento da doença que acometeu o menor beneficiário, recusa essa que, por causar o agravamento da situação de angústia e a piora do seu estado de saúde, configura dano moral. 5. A revisão da compensação por danos morais só é viável em recurso especial quando o valor fixado for exorbitante ou ínfimo. Salvo essas hipóteses, incide a Súmula 7/STJ, impedindo o conhecimento do recurso. 6. Agravo interno não provido. (STJ, AgInt no AREsp n. 2.396.847/RJ, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18/12/2023, DJe de 20/12/2023). Portanto, presentes os requisitos que enseja o dever de indenizar, conclui-se pela responsabilidade das requeridas em indenizar o autor. Doravante, passa-se a fixar o valor da indenização. Sólida a jurisprudência de que, para dano moral, devem ser objetivados alguns aspectos, a saber, que a extensão pecuniária da condenação seja suficiente para trazer conforto e apaziguamento ao ofendido, mas sem gerar enriquecimento sem causa e, ainda, que seja em valor suficiente a desencorajar futuras ofensas pela ré, considerando também seu patrimônio, pois, se a condenação ficar muito aquém, nenhum efeito prático ocorrerá. Com base em tais premissas e analisando as condições das partes, entendo coerente arbitrar o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Nesse contexto, resta claro o abalo e transtorno de cunho moral sofrido pelo autor, que não se confunde com o simples aborrecimento da vida cotidiana, sendo forçoso o atendimento do pleito de condenação em danos morais. 3. DISPOSITIVO Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na exordial, resolvendo, assim, o mérito da contenda, ex vi do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para o fim de: a) Confirmar e consolidar, em caráter definitivo, os efeitos da tutela de urgência deferida no ID nº 107161140, mantendo-a integralmente em todos os seus termos. b) Condenar o réu ao pagamento à parte autora, a título de danos morais, da quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), valor que deverá ser acrescido, até 29/08/2024, de correção monetária pelo IPCA, a partir da data da prolação desta sentença (Súmula 362 do STJ), e de juros de mora de 1% ao mês, contados desde a citação. A partir de 30/08/2024, passará a incidir somente a Taxa SELIC, que engloba tanto os juros de mora quanto a correção monetária pelo IPCA, nos termos do artigo 406, §1º, do Código Civil, conforme as alterações introduzidas pela Lei nº 14.905/2024, de aplicação imediata. Condeno, ainda, a parte ré ao pagamento das custas processuais, bem como ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC. Com o trânsito em julgado, não havendo novos requerimentos, proceda-se ao arquivamento do feito, com a devida baixa. Publique-se. Registre-se. Intime-se. São Luís/MA, data do sistema. JOSÉ AFONSO BEZERRA DE LIMA Juiz de Direito Titular da 4ª Vara Cível de São Luís

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