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Empresa Brasileira De Servicos Hospitalares - Ebserh x Carla Dos Santos Silva

ID: 325659146

Tribunal: TRT13 Órgão: Gabinete da Vice Presidência Classe: RECURSO ORDINáRIO TRABALHISTA Nº Processo: 0001248-07.2024.5.13.0023

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH

Polo Passivo:

CARLA DOS SANTOS SILVA

Notificação

Advogados:

SHESKA KERUAI DA SILVA FEITOSA

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MOHAMED RAED MOHAMED RAMADAN

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MARCELO FERREIRA SOARES RAPOSO

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DOUGLAS CANNIGIA DA CUNHA SOARES

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SAMUEL MAGALHAES PAIVA

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MARCELO DE ARAUJO FREIRE

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KALED RAED MOHAMED RAMADAN

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JOSEAM CATANHEDE DE OLIVEIRA

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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO OJC DE ANÁLISE DE RECURSO Relator: WOLNEY DE MACEDO CORDEIRO ROT 0001248-07.2024.5.13.0023 RECORRENTE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EB… TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO OJC DE ANÁLISE DE RECURSO Relator: WOLNEY DE MACEDO CORDEIRO ROT 0001248-07.2024.5.13.0023 RECORRENTE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH RECORRIDO: CARLA DOS SANTOS SILVA INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Decisão ID c857574 proferida nos autos. ROT 0001248-07.2024.5.13.0023 - 2ª Turma Recorrente: Advogado(s): 1. EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH JOSEAM CATANHEDE DE OLIVEIRA (CE51832) MARCELO DE ARAUJO FREIRE (PB17495) MARCELO FERREIRA SOARES RAPOSO (PB13394) SAMUEL MAGALHAES PAIVA (AL14833) SHESKA KERUAI DA SILVA FEITOSA (PI16283) Recorrido: Advogado(s): CARLA DOS SANTOS SILVA DOUGLAS CANNIGIA DA CUNHA SOARES (PB24314) KALED RAED MOHAMED RAMADAN (PB24335) MOHAMED RAED MOHAMED RAMADAN (PB29457) RECURSO DE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS Recurso tempestivo (decisão publicada em 17/06/2025 - Id 0cb7655; recurso apresentado em 02/07/2025 - Id 5dcdd67). Representação processual regular (Id 74849ce/12baad4). Isento de preparo (artigos 790-A da Consolidação das Leis do Trabalho e 1º, inciso IV, do Decreto-lei 779/1969). PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS TRANSCENDÊNCIA Nos termos do artigo 896-A, § 6º, da Consolidação das Leis do Trabalho, cabe ao Tribunal Superior do Trabalho analisar se a causa oferece transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. 1.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO (8826) / JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA (8828) / COMPETÊNCIA Alegação(ões): -contrariedade ao RE nº 1.288.440, tema de Repercussão Geral 1143. -violação ao art. 485, IV e art. 927, V, do CPC. -contrariedade ao Enunciado n. 170, do Fórum Permanente de Processualistas Civis. -violação ao art. 15, I, “e”, da IN nº. 39 do C. TST. -divergência jurisprudencial. A parte recorrente postula a reforma do acórdão, sob o seguinte argumento: "o E. STF reconheceu que a Justiça do Trabalho é absolutamente incompetente para apreciar e julgar ações que envolvam controvérsia de empregados públicos cujo liame empregatício tem como fundamento o regime celetista e cujo o objeto da ação seja de natureza estritamente administrativa", de modo que “o caso dos autos não envolve discussão sobre aplicação da legislação trabalhista, e sim, a aplicação das normas sobre transferência, portanto, parcela de natureza administrativa", o que afasta a competência da Justiça do Trabalho. Prossegue enfatizando que: “os empregados da EBSERH, por força de norma constitucional, são contratados, após prévia aprovação em concurso público, pelo regime celetista, o que demonstra o caráter público desse vínculo”. A Turma Julgadora assim fundamentou a questão trazida a debate pela recorrente: “2.1 INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO Insiste a demandada na tese de que a Justiça do Trabalho não é competente para apreciar e julgar a ação em epígrafe, com base no Recurso Extraordinário (RE) nº 1288440, julgado pelo STF, alegando que o caso dos autos envolve discussão sobre o pagamento de parcela de natureza administrativa. Nesse sentido, cita a sentença proferida no Processo nº 0000002-87.2025.5.13.0007 da 1ª Vara do Trabalho de Campina Grande. Ressalta que os empregados da EBSERH, por força de norma constitucional, são contratados, após prévia aprovação em concurso público, sob o regime celetista, o que demonstra o caráter público do vínculo. Requer, por fim, a extinção do feito, à luz do art. 485, IV, do CPC, ou que seja suscitado o conflito negativo de competência perante o STJ. Sem razão. Conforme a decisão do E. STF, no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) n.º 1288440, com repercussão geral (Tema 1143), cabe à Justiça Comum a competência para julgar ação ajuizada por servidor celetista contra o Poder Público em que se pleiteia parcela de natureza administrativa. No caso dos autos, trata-se de empregada pública, regida pela CLT, em litigância com a empresa pública, postulando direito fundado na relação de trabalho existente entre as partes (exibição de documento para fins de aferição sobre eventuais diferenças de adicional de insalubridade). Assim, em se tratando de pedido que pressupõe a relação de emprego, firma-se a competência da Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, I, da Constituição Federal. A invocação de preceitos constitucionais, especialmente quanto à necessidade de aprovação em concurso para ocupação de emprego público, não afasta a natureza trabalhista da demanda, quando à própria recorrente reconhece que o regime jurídico norteador da contratação é o celetista. Logo, mantém-se a competência da Justiça do Trabalho declarada na origem para apreciar o feito". Registre-se, inicialmente, que a menção genérica aos artigos 926 do CPC e 98 da Lei 8.112/90 esbarra no óbice da S. 221 do TST. Já os artigos 485, IV e 927, V, do CPC não guardam pertinência temática com a hipótese dos autos, qual seja, competência, ou não, da justiça do trabalho para julgar pedido que decorre da relação de trabalho existente entre as partes. Ademais, o Tema 1.143 do STF, o Enunciado n. 170, do Fórum Permanente de Processualistas Civis, e a IN nº. 39 do C. TST não está dentre as hipóteses de cabimento do recurso de revista elencadas no artigo 896 da CLT. Por outro lado, os arestos provenientes do STF são inválidos para o confronto de teses, porque emanam de órgãos jurisdicionais que não figuram no rol estabelecido na alínea "a" do artigo 896 da CLT, a qual prevê expressamente que os arestos ensejadores à comprovação do dissenso jurisprudencial são aqueles oriundos de “outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho”. Nesse contexto, nego seguimento. 2.1 DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO (12936) / FÉRIAS (13809) / BASE DE CÁLCULO Alegação(ões): -violação aos arts. 17 e 485 do CPC. -contrariedade à Súmula 51 do TST. -contrariedade à Resolução n.º 88, de 30/07/2019, publicada no Boletim de Serviços da Sede n.º 633, de 31 de julho de 2019. Insurge-se a parte recorrente contra a decisão regional que manteve a sentença que determinou a apresentação dos documentos correspondentes a fichas funcionais e contracheques das técnicas em enfermagem chamadas em convocação anterior à da autora no concurso público 05/2016-EBSERH-HUJB-UFCG, lotadas no Hospital Universitário Alcides Carneiro. Alega que "para os empregados contatados após 30/07/2019, o pagamento do adicional de insalubridade tem como base de cálculo o salário-mínimo, haja vista a revogação do regulamento de pessoal que previa base de cálculo diversa do salário-mínimo. A revogação do normativo interno se deu por meio da Resolução n.º 88, de 30/07/2019, publicada no Boletim de Serviços da Sede n.º 633, de 31 de julho de 2019, que suprimiu previsão constante em Regulamento de Pessoal da Ebserh, onde estabelecia o cálculo do adicional de insalubridade o salário base dos seus empregados, TEM COMO BASE DE CÁLCULO PARA PAGAMENTO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE O SALÁRIO MÍNIMO!" Acrescenta que "No caso em comento, a apresentação dos documentos solicitados pela recorrida de nada servirão para o embasamento de qualquer ação, pois, como apresentado, o empregado contratado após 30/07/2019, tem como base de cálculo do adicional de insalubridade o salário-mínimo, haja vista a revogação do normativo interno por meio da Resolução n.º 88, de 30/07/2019, publicada no Boletim de Serviços da Sede n.º 633, de 31 de julho de 2019, que suprimiu previsão constante em Regulamento de Pessoal da Ebserh, onde estabelecia o cálculo do adicional de insalubridade o salário base dos seus empregados". Ao final, afirma que "Cabe à reclamante questionar eventual nulidade de revogação do regulamento de pessoal, mas não requerer ficha funcional e contracheques de outros empregados, pois de nada ser virão para a análise do poder judiciário", de modo que "o presente feito deve ser extinto, sem resolução do mérito, por carência de ação, ante a nítida ausência de interesse recursal". Quanto ao tema, assim decidiu o órgão julgador: [...] "2.2 AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL Pugna a promovida pelo reconhecimento da carência de ação por ausência de interesse processual, tendo em vista que não restou verificado o binômio utilidade-necessidade no caso vertente. Aduz que o pagamento do adicional de insalubridade aos empregados contratados antes de 30.07.2019 previa base de cálculo diversa, com base no regulamento da empresa, e que, daquela data em diante, foi alterado para o salário-mínimo, em razão da revogação do referido normativo por meio da Resolução n.º 88, de 30.07.2019. Alega que a exibição dos documentos pretendidos de nada servirá à promovente, tendo em vista a alteração no pagamento do adicional de insalubridade decorrente da mudança normativa. Passa-se a análise da insurgência recursal. Com efeito, não se vislumbra a hipótese de ausência de interesse processual, porquanto a pretensão autoral de que sejam exibidos documentos concernentes às fichas financeiras dos empregados que exercem a mesma função e foram aprovados no mesmo concurso, tendo sido, no entanto, convocados em momento anterior à sua contratação, visa justamente saber se há o correto pagamento do adicional de insalubridade para os empregados que trabalham em atividades idênticas. A discussão em torno da constatação se a autora faz ou não jus à verba pretendida, considerando a mudança dos normativos internos da empresa demandada, desborda dos limites da presente ação, que se restringe apenas à exibição dos documentos ante a mera obediência aos requisitos do art. 381 e ss. do CPC. Logo, não cabe a recorrente negar a exibição dos documentos com os quais a autora poderá, eventualmente, contar para pleitear diferenças salariais, sob a justificativa categórica e prematura de que ela não tem direito ao título pleiteado. Tal situação deverá ser analisada a posteriori, na ação competente, se e tão somente se vier a ocorrer a propositura de nova demanda pela parte interessada nesse sentido. A ação de produção antecipada de provas está prevista nos arts. 381 a 383 do CPC, aplicados supletivamente na seara trabalhista. Trata-se de ação autônoma, de procedimento simplificado, em que o requerente busca assegurar direito que viabilize a autocomposição ou lhe proporcione o conhecimento de fatos que possam justificar ou evitar o ajuizamento da ação. Consoante se denota do art. 381 do CPC, aplicável subsidiariamente ao Processo do Trabalho, nos termos do art. 769 da CLT, a produção antecipada de provas será admitida nos casos em que: Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que: I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação; II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução de conflito; III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação. Segundo consta da petição inicial, a demandante pleiteia que sejam exibidos documentos capazes de permitir estabelecer discrepâncias no valor do adicional de insalubridade pago aos ocupantes da mesma função (técnico em enfermagem) indicados na peça vestibular e listados no documento de ID. 9e07c9a, que, em tese, trabalhariam sob as mesmas condições, tendo sido aprovados no mesmo certame. Ora, o pedido visa subsidiar a recorrida com fatos que possam conduzir ao ajuizamento de uma ação trabalhista ou uma autocomposição, o que autoriza o processamento da presente ação de produção antecipada de prova. Não obstante os argumentos lançados na defesa pela parte ré de que a autora não tem direito ao adicional de insalubridade calculado sob outra base, dada a alteração das normas internas da empresa, trata-se de documentos aptos a demonstrar os motivos ensejadores da alegada e suposta discrepância salarial. Assim, o fato foi perfeitamente especificado para os fins colimados. Por tais fundamentos, considera-se minimamente evidenciado o interesse de agir da recorrida quanto à exibição postulada. Sendo assim, é de se manter a sentença recorrida que determinou a apresentação dos documentos correspondentes a fichas funcionais e contracheques das técnicas em enfermagem chamadas em convocação anterior à da autora no concurso público 05/2016-EBSERH-HUJB-UFCG, que estejam lotadas no Hospital Universitário Alcides Carneiro." [...] Acerca do tema, consta do acórdão: "A discussão em torno da constatação se a autora faz ou não jus à verba pretendida, considerando a mudança dos normativos internos da empresa demandada, desborda dos limites da presente ação, que se restringe apenas à exibição dos documentos ante a mera obediência aos requisitos do art. 381 e ss. do CPC" e, ainda, que "o pedido visa subsidiar a recorrida com fatos que possam conduzir ao ajuizamento de uma ação trabalhista ou uma autocomposição, o que autoriza o processamento da presente ação de produção antecipada de prova”, de modo que, "Por tais fundamentos, considera-se minimamente evidenciado o interesse de agir da recorrida quanto à exibição postulada". A Turma regional frisou que restou evidenciado o interesse de agir da recorrida quanto à exibição postulada, sendo, desse modo patente o interesse de agir e incólume a disposição do art. 17 do CPC. A menção genérica ao artigo 485 do CPC, o qual se subdivide em caput, incisos e parágrafos, esbarra no óbice da Súmula nº 221 do C. TST. A alegação de contrariedade à Resolução n.º 88, de 30/07/2019, publicada no Boletim de Serviços da Sede n.º 633, de 31 de julho de 2019, não está dentre as hipóteses de cabimento do recurso de revista elencadas no artigo 896 da CLT. Ademais, a alegação de contrariedade à Súmula 51 do TST não guarda pertinência temática com a matéria debatida nos autos. Desse modo, inviável o seguimento do apelo. CONCLUSÃO a) DENEGO seguimento ao recurso de revista. Publique-se. b) Não havendo a interposição de recurso, certifique-se o trânsito em julgado e, ato contínuo, independentemente de nova conclusão, encaminhem-se os autos à Vara de origem. c) Interposto agravo de instrumento, independentemente de nova conclusão, notifique-se a parte agravada para, querendo, apresentar contrarrazões ao recurso de revista e contraminuta ao agravo de instrumento, no prazo de 08 dias. Decorrido o lapso temporal do contraditório, remetam-se os autos ao Tribunal Superior do Trabalho. d) Interposto agravo interno, suspenda-se o processamento do agravo de instrumento eventualmente interposto, até ulterior julgamento daquele recurso, nos termos da Instrução Normativa nº 40 do C. TST, e encaminhem-se os autos, com urgência, ao Gabinete da Vice-Presidência para as providências que se fizerem necessárias. GVP/AOPF/RABWF JOAO PESSOA/PB, 14 de julho de 2025. HERMINEGILDA LEITE MACHADO Desembargador Federal do Trabalho Intimado(s) / Citado(s) - EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH

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Procuradoria Geral De Justica x Ana Nubia Holanda De Almeida

ID: 259889205

Tribunal: TJCE Órgão: 3º Gabinete da 2ª Câmara de Direito Público Classe: APELAçãO / REMESSA NECESSáRIA Nº Processo: 0009626-42.2011.8.06.0090

Data de Disponibilização: 24/04/2025

Polo Ativo:

PROCURADORIA GERAL DE JUSTICA

Polo Passivo:

ANA NUBIA HOLANDA DE ALMEIDA

Intimação

Advogados:

PAULO CEZAR NOBRE MACHADO FILHO

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EMETERIO SILVA DE OLIVEIRA NETO

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ESTADO DO CEARÁPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇAGABINETE DO DESEMBARGADOR LUIZ EVALDO GONÇALVES LEITE Processo nº 0009626-42.2011.8.06.0090 - Apelação Apelante: Ministério Público do Estado do Ce… ESTADO DO CEARÁPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇAGABINETE DO DESEMBARGADOR LUIZ EVALDO GONÇALVES LEITE Processo nº 0009626-42.2011.8.06.0090 - Apelação Apelante: Ministério Público do Estado do Ceará Apelada: Ana Núbia Holanda de Almeida Relator: Des. Luiz Evaldo Gonçalves Leite Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Público EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. EX-GESTORA MUNICIPAL. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA NA ORIGEM. AUSÊNCIA DE PROVA DO DOLO ESPECÍFICO E DO EFETIVO DANO AO ERÁRIO. APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI Nº 14.230/2021. DESPROVIMENTO. SENTENÇA MANTIDA. I. CASO EM EXAME 1. Remessa necessária e apelação cível, esta interposta contra sentença que extinguiu, com resolução de mérito, ação civil pública por ressarcimento ao erário ajuizada pelo Ministério Público Estadual contra ex-gestora municipal, em razão da prescrição. 2. O Ministério Público Estadual alega a prática de irregularidades em dispensa de licitação, no exercício financeiro de 2003. Defende a imprescritibilidade da ação por suposto ato doloso de improbidade administrativa, tipificado no art. 10, XIII, da LIA, que, segundo alega, causou dano ao erário. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 3. Há duas questões em discussão: (i) saber se é imprescritível a ação de ressarcimento ao erário fundada em ato de improbidade administrativa; (ii) saber se restaram comprovados o dolo específico e o prejuízo efetivo ao erário, exigidos pela Lei nº 14.230/2021, aplicável retroativamente aos atos praticados anteriormente à sua vigência. III. RAZÕES DE DECIDIR 4. A imprescritibilidade do ressarcimento ao erário exige demonstração de dolo, conforme entendimento do STF no julgamento do Tema 897 da repercussão geral. 5. A Lei nº 14.230/2021, que alterou substancialmente a LIA, exige dolo específico e prejuízo efetivo para a configuração de ato de improbidade previsto no art. 10, VIII. 6. Não restou comprovado nos autos o dolo específico da ex-gestora nem a ocorrência de dano patrimonial efetivo, inviabilizando a pretensão ressarcitória. 7. Aplicação do Tema 1199 do STF, que autoriza a retroatividade da nova LIA aos atos anteriores, desde que sem sentença transitada em julgado, implicando reconhecimento da prescrição. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Remessa necessária e apelação cível conhecidas e desprovidas. Mantida a sentença que extinguiu o feito com resolução de mérito pelo reconhecimento da prescrição. Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 37, § 5º; CPC, art. 487, II; Lei nº 8.429/1992 (redação dada pela Lei nº 14.230/2021), art. 10, caput e inc. VIII. Jurisprudência relevante citada: STF, ARE 843.989, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Plenário, j. 18.08.2022 (Tema 1199); STF, RE 852.475, Rel. Min. Teori Zavascki, Plenário, j. 19.11.2020 (Tema 897). ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Desembargadores membros da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade de votos, em conhecer do reexame necessário e do recurso de apelação, para negar-lhes provimento, tudo nos termos do voto do Relator. Fortaleza, data e hora indicadas pelo sistema. Presidente do Órgão Julgador DES. LUIZ EVALDO GONÇALVES LEITE Relator RELATÓRIO Tratam os autos de remessa necessária e apelação cível, esta interposta pelo Ministério Público Estadual, adversando a sentença de ID 16656832, proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível da Comarca de Icó, que julgou extinta, com resolução de mérito, a Ação Civil Pública de Ressarcimento ao Erário, proposta em desfavor de Ana Núbia Holanda de Almeida, ex-gestora do Fundo Municipal de Educação de Icó, "nos termos do art. 487, inciso II, do CPC, em razão da ocorrência da prescrição". Nas razões de ID 16656836, narra o apelante que a presente ação foi ajuizada "objetivando o ressarcimento de danos ao erário causados pela apelada, ex gestora do Fundo Municipal de Educação de Icó (FUNDEF), no exercício financeiro de 2003. A apelada, à época, praticou irregularidades na dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços, causando prejuízo ao patrimônio público". Alega, em síntese, que: a) "o artigo 37, § 5°, da Constituição Federal dispõe a respeito da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário, assegurando que: "A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento"; b) "o Supremo fixou a tese de que são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa" (Tema 897); c) "No caso dos autos, a recorrida praticou ato doloso de improbidade que causou dano ao erário, em conduta descrita no art. 10, inciso XIII, da Lei de Improbidade Administrativa (...). Assim, a responsabilização pelo ressarcimento de dano ao erário que ora se postula é imprescritível" e d) "além da ausência de licitação, há a inexistência de provas que confirmem a efetiva prestação de alguns dos serviços contratados, o que reforça a suspeita de que a conduta da agente não se limitou a um erro formal ou negligência, mas sim a uma prática intencional voltada para o favorecimento indevido da empresa contratada ou para a apropriação de recursos públicos. Esse quadro configura claramente o dolo, que é o elemento subjetivo necessário para a caracterização do ato de improbidade administrativa". Ao final, pugna pelo provimento do apelo, "com a condenação da apelada ao ressarcimento integral dos danos causados ao erário". Contrarrazões no ID 16656841, pugnando pela manutenção da sentença. É o relatório. VOTO Conforme relatado, tratam os autos de remessa necessária e apelação cível, esta interposta pelo Ministério Público Estadual, adversando sentença que julgou extinta, com resolução de mérito, a Ação Civil Pública de Ressarcimento ao Erário, proposta em desfavor de Ana Núbia Holanda de Almeida, ex-gestora do Fundo Municipal de Educação de Icó, "nos termos do art. 487, inciso II, do CPC, em razão da ocorrência da prescrição". Defende o Ministério Público Estadual que a apelada, "ex gestora do Fundo Municipal de Educação de Icó (FUNDEF), no exercício financeiro de 2003 (...) praticou irregularidades na dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços, causando prejuízo ao patrimônio público", sendo imprescritível a responsabilização pelo ressarcimento de dano ao erário. Com efeito, na situação submetida a exame, há de se observar o que disciplina a nova Lei nº 14.230/2021, que introduziu profundas modificações na Lei de Improbidade Administrativa. Atualmente, a nova regra é no sentido da obrigatoriedade de prova do dolo em algumas situações, a exemplo da previsão do artigo 10, VIII, da LIA, que trata da dispensa indevida de licitação. Anteriormente, para a configuração do artigo 10, bastava que a conduta, dolosa ou culposa, ensejasse algum prejuízo, mesmo que hipotético, ao erário, a exemplo de realização de compras sem o devido processo licitatório. Por sua vez, o inciso VIII preconizava que frustrar a licitude do processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente, seria suficiente para a configuração do ato ímprobo. Atente-se para o que previa o citado dispositivo de lei, ao tempo do ajuizamento da ação: Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (…) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente. Ocorre que, hodiernamente, essa conduta deve acarretar, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei (art. 10, caput). Ademais, a atual redação do inciso VIII exige que tal dispensa acarrete perda patrimonial efetiva, o que não ficou demonstrado nos autos. Veja-se: Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) (…) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021). Realmente, na espécie examinada, forçoso admitir que não há provas do dolo específico e nem da perda patrimonial efetiva, pelo que não se pode imputar à recorrida a conduta descrita no artigo 10, VIII, da LIA. Esse, aliás, é o entendimento pacífico deste Tribunal de Justiça em situações análogas: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AUSÊNCIA DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO NA AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APLICAÇÃO DO TEMA 1199 DO STF. RETROATIVIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO DE DOLO ESPECÍFICO E DE LESÃO AO ERÁRIO. IMPROCEDÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Embora os atos imputados ao apelante tenham sido consumados em momento anterior às modificações introduzidas na Lei nº 8.429/1992 pela Lei nº 14.320, de 25 de outubro de 2021, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar em 18/08/2022 o ARE 843989, sob a sistemática da repercussão geral, firmou a tese de aplicação da nova lei aos atos culposos praticados sob a égide do texto anterior da LIA sem condenação transitada em julgado. 2. Conforme o novo texto da Lei nº 14.320/2021, nos atos tipificados no art. 10, inciso VIII, como é o caso, concernente a ato ímprobo que cause prejuízo ao erário, referente à dispensa indevida de licitação, além da necessidade de ocorrência de dolo específico, deve-se observar o prejuízo ao erário, não mais ocorrendo in re ipsa, isto é, de forma presumida, como entendia iterativamente o Superior Tribunal de Justiça, seguido pelos tribunais pátrios. 3. As provas produzidas consistem em apuração feita pelo TCM em Prestação de Contas, as quais não apresentaram elementos suficientes à caracterização de atos de improbidade capitulados no art. 10, inciso VIII, da LIA, porquanto não ficou delineado se teria efetivamente havido fornecimento dos bens e serviços contratados ou eventual superfaturamento em sua aquisição, não sendo demonstrada, pois, intenção deliberada do agente de locupletamento ilícito ou de desfalque aos cofres públicos. 4. A aduzida violação a princípios administrativos, exposta no art. 11, igualmente carece de respaldo probatório, por exigir igualmente a comprovação de dolo específico. 5. O Parquet não logrou comprovar os fatos constitutivos do direito alegado, ônus que lhe incumbia (art. 373, inciso I, do CPC). 6. Apelação conhecida e provida. Improcedência dos pedidos autorais. (Apelação Cível - 0000002-52.2014.8.06.0190, Rel. Desembargador(a) TEREZE NEUMANN DUARTE CHAVES, 2ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 01/03/2023, data da publicação: 02/03/2023); CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PENA DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. PRESCRIÇÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA APTA A TORNAR A AÇÃO DE RESSARCIMENTO IMPRESCRITÍVEL. TEMA Nº 897 DO STF. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA PARA RECONHECER A PRESCRIÇÃO DA PENALIDADE DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. 1. Em conformidade com o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal no Tema nº 1.199 da Repercussão Geral, como a demanda em exame foi ajuizada em momento anterior à publicação da Lei nº 14.230/2021, aplica-se a redação anterior da Lei nº 8.429/1992, a qual dispunha em seu art. 23, inciso I, o prazo prescricional de 05 (cinco) anos após o término do exercício do mandato. 2. Sendo inconteste que transcorreram mais de cinco anos entre o termo final dos mandatos e o ajuizamento da ação, ocorreu a prescrição, como reconhecido pelo próprio Parquet no parecer de fls. 150/163, devendo ser aferida a ocorrência de dolo com relação à pena de ressarcimento ao erário para que seja considerada imprescritível, conforme Tema nº 897 da Repercussão Geral do STF. 3. Analisando detidamente o caderno processual, tem-se que os elementos colhidos nos autos não permitem a constatação de que os promovidos teriam agido com dolo a ensejar a imprescritibilidade da penalidade em comento, não ficando comprovado documentalmente intenção deliberada dos agentes de locupletamento ilícito ou de desfalque aos cofres públicos quanto ao descumprimento do termo de compromisso de parcelamento de débito administrativo firmado com a SEMACE (TCPDAM nº 37/2018-TCPCD - fls. 20/24), razão pela qual forçoso reconhecer a ocorrência da prescrição também quanto à penalidade de ressarcimento. Precedentes deste TJCE. 4. Recurso de Apelação conhecido e provido. Sentença reformada para reconhecer a prescrição da pena de ressarcimento ao erário, impondo-se a total improcedência dos pedidos autorais. (TJCE, Apelação Cível - 0001870-67.2018.8.06.0047, Rel. Desembargador(a) FRANCISCO GLADYSON PONTES, 2ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 18/10/2023, data da publicação: 18/10/2023); EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO ADMINISTRATIVO. REEXAME NECESSÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. PRESTAÇÃO DE CONTAS JULGADA IRREGULAR PELA CORTE DE CONTAS. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. APLICAÇÃO DO TEMA 1.199 DO STF. DOLO ESPECÍFICO E LESÃO AO ERÁRIO NÃO COMPROVADOS. ÔNUS DO QUAL O AUTOR NÃO SE DESINCUMBIU. ART. 373, I, CPC. PRECEDENTES DO TJCE. REMESSA CONHECIDA E DESPROVIDA. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. Trata-se de Remessa Necessária de sentença que julgou improcedente ação civil pública de ressarcimento ao erário, decorrente da rejeição de contas anuais pelo extinto Tribunal de Contas dos Municípios, por irregularidades, resultando na aplicação de multa. 2. Conforme jurisprudência do STJ, para que haja a imposição de ressarcimento ao erário, é necessária a efetiva demonstração de dano. 3. Nos termos do disposto no art. 373, inc. I, do CPC, compete ao autor o ônus de demonstrar os fatos constitutivos do seu direito. 4. In casu, não restou evidenciado, nos autos, intenção deliberada do gestor público de locupletamento ilícito ou de desfalque aos cofres públicos, não restando sequer comprovada, de fato, a ocorrência de prejuízo ao erário. 5. Remessa conhecida e desprovida. Sentença confirmada. (TJCE, REMESSA NECESSÁRIA CÍVEL - 00070102620188060098, Relator(a): JOSE TARCILIO SOUZA DA SILVA, 1ª Câmara de Direito Público, Data do julgamento: 02/04/2024). De fato, tratando-se de ação de ressarcimento é indispensável que a parte autora comprove a ocorrência do dano, pois este não pode ser presumido. Isso porque não visa, esse tipo de demanda, sancionar o agente supostamente ímprobo, responsável pela inexecução do objeto conveniado ou por eventual desaprovação das contas, providência que deve ser perseguida na via processual adequada. O que busca a ação ressarcitória é recompor o erário pelo prejuízo sofrido, cuja extensão deve ser efetivamente provada, o que não ocorreu na espécie. Assim, ante a ausência de comprovação do dolo específico e do dano efetivo na hipótese ora examinada, impõe-se o desprovimento da insurgência recursal, porquanto considera-se correta a sentença que entendeu pela inaplicabilidade do Tema 897 do Supremo Tribunal Federal ao caso concreto, haja vista que apenas "São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa." (Destacou-se). Efetivamente, não restando comprovado o dolo do agente, correta a incidência do prazo prescricional de 05 (cinco) anos, previsto no art. 23, I, da Lei nº 8.429/1992, aplicável à espécie em razão da tese adotada pelo STF no julgamento do Tema 1199, no sentido de que "O novo regime prescricional previsto na lei 14.230/21 é irretroativo, aplicando-se os novos marcos temporais a partir da publicação da lei". Cabe destacar, por fim, que a recorrida fora exonerada do cargo que exercia perante a municipalidade em 12/08/2004 (ID 16656694), sendo ajuizada a presente ação, entretanto, apenas no dia 15/06/2011 (ID 16656438), o que evidencia o acerto da sentença que reconheceu a prescrição. Diante do exposto, conheço do reexame necessário e do recurso apelatório, mas para negar-lhes provimento, mantendo a sentença em todos os seus termos. É como voto. Fortaleza/CE, data e hora indicadas pelo sistema. Des. LUIZ EVALDO GONÇALVES LEITE Relator a2

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Processo nº 0805184-59.2019.8.20.5124

ID: 328810347

Tribunal: TJRN Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Parnamirim Classe: USUCAPIãO Nº Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

LAERCIO PEREIRA COSTA JUNIOR

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR

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LAERCIO PEREIRA COSTA JUNIOR

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Comarca de Parnamirim/RN 2ª Vara Cível Número do Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124 Parte Autora: MARIA JOSE DE ALMEIDA XAVIER e José Elísio Filho P… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Comarca de Parnamirim/RN 2ª Vara Cível Número do Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124 Parte Autora: MARIA JOSE DE ALMEIDA XAVIER e José Elísio Filho Parte Ré: José Leandro SENTENÇA I - RELATÓRIO MARIA JOSÉ DE ALMEIDA XAVIER, devidamente qualificada nos autos, assistida por inicialmente representada pelo seu filho, JOSÉ ELÍSIO FILHO e, posteriormente pelo seu curador CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR, propôs “Ação de Usucapião Extraordinário” em 04 de junho de 2019, com fundamento no artigo 1.238 do Código Civil Brasileiro, visando a declaração de domínio sobre o imóvel urbano situado na Avenida João XII, n.º 689, Bairro de Santos Reis, Município de Parnamirim/RN, CEP 59141-030, identificado sob o n.º de IPTU 1.0901.020.02.0321.0000.5. Aduziu a parte autora, em síntese, que detém a posse mansa, pacífica, contínua, exclusiva e com animus domini do referido bem há mais de 18 (dezoito) anos, sem qualquer oposição ou turbação. Informou que a posse foi adquirida em meados do ano 2000, por meio de Instrumento Particular de Compra e Venda, junto ao Sr. Ilauro Antônio da Silva, que, por sua vez, teria adquirido o imóvel do Sr. José Leandro e da Sr.ª Miriam Raposo Leandro. Sustentou que, desde a aquisição, agiu como única proprietária, sendo responsável por todas as obrigações inerentes ao imóvel e realizando benfeitorias, como a construção de um muro. Apresentou memorial descritivo georreferenciado, indicando as coordenadas e confrontações do imóvel com a Avenida João XXIII, Jocimar Damasceno (Lote 39), Daniel Tavares da Silva (Lote 44) e um proprietário desconhecido (Lote n.º 673). Requereu a concessão dos benefícios da justiça gratuita, a citação dos senhores Ilauro Antônio da Silva, José Leandro e Miriam Raposo Leandro (por edital, face ao paradeiro incerto), a citação dos confinantes (Proprietário do Lote n.º 673, Avenida João XXIII, Jocimar Damasceno e Daniel Tavares da Silva), a intimação das Fazendas Públicas da União, Estado e Município, e a intimação do Ministério Público. Ao final, pugnou pela procedência do pedido, com a declaração do domínio sobre o imóvel. A justiça gratuita foi deferida por decisão de ID 47006296, que concedeu prazo adicional de 30 dias para as demais exigências. Em ID 48949705, novo despacho apontou divergências nas áreas do imóvel (levantamento topográfico: 300,66m²; certidão imobiliária: 250,00m²; IPTU: 540,00m²; contrato particular: 294,00m²), a expiração da validade da procuração e a necessidade de qualificação completa dos réus e confinantes. A parte autora, em petição de ID 50568963, justificou as divergências com base na imprecisão de métodos antigos de medição em comparação com o georreferenciamento atual, reiterando a área de 300,66m². Informou, ademais, a idade avançada da autora (95 anos à época) e a necessidade de prorrogação de prazo em razão de problemas de saúde. Posteriormente, a parte autora, por petição de ID 53231258, juntou cópias do processo de inventário n.º 0000002-39.1980.8.20.0001, contendo os nomes e endereços dos herdeiros de José Leandro e Miriam Raposo Leandro. Foi juntada decisão da 1ª Vara de Família desta Comarca, na qual foi concedida a interdição provisória da parte autora e nomeado CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR como seu curador provisório (ID 58577581). O termo de curatela provisória foi juntado em ID 59183481, e o substabelecimento em ID 62910973. Por despacho de ID 63460553, determinou-se a citação pessoal dos proprietários e confinantes com respectivos cônjuges, a citação por edital dos réus em lugar incerto e eventuais interessados, e a intimação das Fazendas Públicas (União, Estado e Município). As Fazendas Públicas da União (ID 69355989), do Estado do Rio Grande do Norte (ID 70112214) e do Município de Parnamirim (ID 69945219) manifestaram ausência de interesse na lide. Foram realizadas diversas diligências citatórias:  ILAURO ANTONIO DA SILVA e sua esposa MARIA DE LOURDES ALVES foram citados por mandado (ID 73226718) e não apresentaram contestação;  os confinantes JOCIMAR DAMACENA COSTA e o Sr. RENIER foram citados por mandado (ID 77262044), e não houve contestação;  a citação de DANIEL TAVARES DA SILVA, outro confinante, foi expedida por mandado (ID 69062367), e não consta manifestação;  expediu-se edital de citação para José Leandro, Miriam Raposo Leandro e demais interessados incertos e desconhecidos (ID 69064600). Foi constatado o óbito de José Leandro e Miriam Raposo Leandro (Id 145416823), sendo os seus sucessores devidamente qualificados e citados:  TEREZA CRISTINA LEANDRO DE FARIA foi citada (ID 94824924) e não contestou.  ZAIRA RAPOSO LEANDRO MENDES foi citada (ID 97694904) e não contestou.  MIGUEL LEANDRO e seu cônjuge foram citados (ID 98963621) e não contestaram.  MARIA DE LOURDES RAPOSO LEANDRO MACHADO foi citada (ID 102418470) e não contestou.  LEONARDO AUGUSTO LEANDRO FERREIRA foi citado (ID 104045356) e não contestou.  CARLOS MURILLO LEANDRO FERREIRA foi citado (ID 139787568), e não houve contestação. O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, em seu parecer final de ID 145416801, confirmou a validade das citações dos proprietários registrais falecidos e seus sucessores, bem como dos confinantes, e constatou a ausência de contestação por parte de qualquer réu ou interessado. Atestou que a autora preencheu todos os requisitos legais para a aquisição da propriedade pela usucapião extraordinária, ratificando a área do imóvel em 300,66m² e pugnando pela procedência do pedido autoral. É o que importa relatar. Passo ao julgamento da causa. II - FUNDAMENTAÇÃO Trata-se de Ação de Usucapião Extraordinária, prevista no art. 1.238 do Código Civil, por meio da qual a parte autora pleiteia o reconhecimento do domínio sobre o imóvel descrito na exordial, alegando o preenchimento dos requisitos legais. Inicialmente, cumpre registrar que a justiça gratuita foi devidamente concedida à parte autora, conforme despacho de ID 47006296, dispensando-a do recolhimento de custas processuais e honorários advocatícios. A capacidade processual da autora, Maria José de Almeida Xavier, que foi declarada relativamente incapaz, encontra-se regularizada pela assistência de seu curador, Carlos Roberto Elisio Xavier Junior, garantindo a validade dos atos processuais, nos termos dos artigos 71 e 72 do Código de Processo Civil. A intervenção do Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, foi devidamente observada, em atenção ao disposto no artigo 178, inciso II, do CPC, tendo o Parquet atuado diligentemente em todas as fases do processo e emitido parecer favorável à pretensão autoral. A usucapião, também chamada de prescrição aquisitiva, é um modo originário de aquisição da propriedade ou outro direito real, que tem em seu cerne o exercício da posse com ânimo de dono, de maneira mansa, pacífica e ininterrupta, durante determinado lapso temporal, conforme requisitos estipulados para cada modalidade prevista na legislação. Assim ensina Caio Mário da Silva Pereira: "Usucapião é a aquisição da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo estabelecido e com a observância dos requisitos instituídos em lei. Mais simplificadamente, tendo em vista ser a posse que, no decurso do tempo e associada às outras exigências, se converte em domínio, podemos repetir, embora com a cautela de atentar para a circunstância de que não é qualquer posse senão a qualificada: Usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada. Como se vê, dois elementos são básicos na aquisição per usucapionem: a posse e o tempo. " (PEREIRA, Caio Mário da S. Instituições de Direito Civil: Direitos Reais. v.IV. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN 9788530990862. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885309908 62/. Acesso em: 21 ago. 2024. p. 119). Essa também é a lição de Orlando Gomes: "A posse que conduz à Usucapião deve ser exercida com animus domini, mansa e pacificamente, contínua e publicamente. O animus domini precisa ser frisado para, de logo, afastar a possibilidade de Usucapião dos fâmulos da posse. (...) Necessário, por conseguinte, que o possuidor exerça a posse com animus domini. Se há obstáculo objetivo a que possua com esse animus, não pode adquirir a propriedade por usucapião. (...) Por fim, é preciso que a intenção de possuir como dono exista desde o momento em que o prescribente se apossa do bem." (ORLANDO GOMES, Direitos Reais, 12ª ed. Forense: Rio de Janeiro, 1996, p. 166). Aqui, cumpre destacar que se tratando de usucapião extraordinária não há que se perquirir acerca de justo título ou boa-fé, seja dos atuais possuidores, seja dos possuidores anteriores/cedentes, bastando a posse pacífica e ininterrupta pelo prazo legal. Veja-se o que estabelece o art. 1.238, parágrafo único, do Código Civil: “Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”. Logo, são requisitos da usucapião extraordinária, previstos no art. 1.238, caput, do Código Civil: a) animus domini, b) posse ad usucapionem; e c) lapso temporal de 15 (quinze) anos ou de 10 (dez) anos, quando o imóvel servir de moradia habitual ou tiver destinação produtiva. De tal modo, para se alcançar o período necessário, pode-se computar, além do tempo de posse do requerente, o tempo de posse do antecessor, o que se denomina como acessio possessionis, conforme previsão do art. 1.243 do Código Civil: “Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e boa fé.”. Aliado a isso, consoante jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “é possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no curso da demanda” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226- MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018). Dessa maneira, cabível a complementação do prazo no curso do processo. De mais a mais, o art. 493 do Código de Processo Civil autoriza que o magistrado examine e leve em consideração na sentença fatos ocorridos após a instauração da demanda, senão vejamos: “Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.”. Portanto, a decisão deve refletir o estado de fato e de direito existente no momento de julgar a demanda, desde que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido (Precedente: REsp n. 1.361.226/MG, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 5/6/2018, DJe de 9/8/2018). Nesse aspecto, cabe ao magistrado examinar o requisito temporal da usucapião ao proferir a sentença, permitindo que o prazo seja completado no curso do processo judicial. A parte autora alegou posse por mais de 18 (dezoito) anos, computados desde a aquisição do imóvel em 2000 até o ajuizamento da ação em 2019. Mesmo que se considerasse apenas o prazo geral de 15 anos do caput do artigo 1.238 do Código Civil, este estaria sobejamente cumprido. Embora tenha havido divergências iniciais nas medições da área do imóvel (300,66m² por levantamento topográfico, 250m² em certidão e 540m² em IPTU), a parte autora justificou a disparidade com base na evolução dos métodos de medição (georreferenciamento versus técnicas antigas). A falta de contestação específica sobre a área por parte dos confinantes ou de qualquer interessado reforça a validade da metragem apresentada pelo levantamento topográfico, que é mais precisa e moderna. Dessa forma, a área de 300,66m², descrita detalhadamente no memorial georreferenciado, é a que deve prevalecer para fins de declaração de domínio. No caso, a certidão do Registro Imobiliário atesta que o imóvel está registrado em nome de MIRIAM RAPOSO LEANDRO e JOSÉ LEANDRO. Todavia, nenhum dos herdeiros do casal opôs-se à usucapião buscada pela autora. Assim sendo, restando comprovado que os demandantes exercem há mais de 20 (vinte) anos a posse sobre o imóvel usucapiendo, de forma ininterrupta, pacífica, com ânimo de dono, além do fato de não existirem provas nos autos de que a referida posse chegou a ser contestada ou impugnada pelo antigo proprietário do bem, preenchidos estão os requisitos estabelecidos no art. 1.242 do CC, de sorte que se impõe a procedência da pretensão autoral. III - DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral para declarar a parte autora, MARIA JOSÉ DE ALMEIDA XAVIER, proprietária do imóvel situado na Avenida João XII, n.º 689, Bairro de Santos Reis, Município de Parnamirim/RN, CEP 59141-030, identificado sob o n.º de IPTU 1.0901.020.02.0321.0000.5, com área de 300,66m² (trezentos metros e sessenta e seis centímetros quadrados), registrado perante o Primeiro Ofício de Notas de Parnamirim/RN (Certidão Registro/Ônus de Id 43094511 – Pág. 11), cujos limites e confrontações são os seguintes: “georreferenciado sob as coordenadas N 9.345.368,12m e E 248.814,028m; deste segue confrontando com a propriedade de LOTE Nº 673 e proprietário desconhecido, com azimute de 114°10'08" por uma distância de 27,89m, até o vértice -M-02, de coordenadas N 9.345.356,699m e E 248.839,475m ; deste segue confrontando com a AVENIDA JOÃO XXIII, com azimute de 196°10'25" por uma distância de 10,37m, até o vértice -M- 03, de coordena- das N 9.345.346,744m e E 248.836,588m; deste segue a oeste confrontando com JOCIMAR DAMASCENO -LOTE 39, com azimute de 293°34'43" por uma distância de 5,48m, até o vértice -M-04, de coordenadas N 9.345.348,935m e E 248.831,567m; deste segue ao norte confrontando com DANIEL TAVARES DA SILVA – LOTE 44, com azimute de 293°3'49" por uma distância de 23.86m até o vértice M-05, de coordenadas N 9.345.358.281m e E 248.809,617m; deste segue ao norte confrontando DANIEL TAVARES DA SILVA – LOTE 44, com azimute de 24°9'03" por uma distância de 10,78m até o vértice M-01, ponto inicial da descrição”. (ID 43094511 – Pág. 4). Em consequência, extingo o processo com resolução do mérito, com fulcro no art. 487, I, do CPC. Sem condenação em custas e honorários de sucumbência, haja vista que a pretensão autoral não foi resistida. Transitada em julgado a presente sentença, servirá de título para que a parte autora possa registrar o imóvel no Registro Imobiliário competente, devidamente acompanhada dos documentos necessários. Em seguida, arquivem-se os autos com baixa na distribuição. Caso interposto recurso por quaisquer das partes, intime-se a parte contrária para o oferecimento das contrarrazões no prazo legal e, somente após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça deste Estado. Observe a Secretaria Judiciária eventual pedido para que as intimações dos atos processuais sejam feitas em nome do(s) advogado(s) indicado(s), consoante o disposto no art. 272, § 5º, do CPC. Publique-se. Registre-se. Parnamirim/RN, data do sistema. (Assinado digitalmente conforme previsão da Lei 11.419/2006) GISELLE PRISCILA CORTEZ GUEDES DRAEGER Juíza de Direito

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Processo nº 0805184-59.2019.8.20.5124

ID: 328810351

Tribunal: TJRN Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Parnamirim Classe: USUCAPIãO Nº Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR

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LAERCIO PEREIRA COSTA JUNIOR

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Comarca de Parnamirim/RN 2ª Vara Cível Número do Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124 Parte Autora: MARIA JOSE DE ALMEIDA XAVIER e José Elísio Filho P… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Comarca de Parnamirim/RN 2ª Vara Cível Número do Processo: 0805184-59.2019.8.20.5124 Parte Autora: MARIA JOSE DE ALMEIDA XAVIER e José Elísio Filho Parte Ré: José Leandro SENTENÇA I - RELATÓRIO MARIA JOSÉ DE ALMEIDA XAVIER, devidamente qualificada nos autos, assistida por inicialmente representada pelo seu filho, JOSÉ ELÍSIO FILHO e, posteriormente pelo seu curador CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR, propôs “Ação de Usucapião Extraordinário” em 04 de junho de 2019, com fundamento no artigo 1.238 do Código Civil Brasileiro, visando a declaração de domínio sobre o imóvel urbano situado na Avenida João XII, n.º 689, Bairro de Santos Reis, Município de Parnamirim/RN, CEP 59141-030, identificado sob o n.º de IPTU 1.0901.020.02.0321.0000.5. Aduziu a parte autora, em síntese, que detém a posse mansa, pacífica, contínua, exclusiva e com animus domini do referido bem há mais de 18 (dezoito) anos, sem qualquer oposição ou turbação. Informou que a posse foi adquirida em meados do ano 2000, por meio de Instrumento Particular de Compra e Venda, junto ao Sr. Ilauro Antônio da Silva, que, por sua vez, teria adquirido o imóvel do Sr. José Leandro e da Sr.ª Miriam Raposo Leandro. Sustentou que, desde a aquisição, agiu como única proprietária, sendo responsável por todas as obrigações inerentes ao imóvel e realizando benfeitorias, como a construção de um muro. Apresentou memorial descritivo georreferenciado, indicando as coordenadas e confrontações do imóvel com a Avenida João XXIII, Jocimar Damasceno (Lote 39), Daniel Tavares da Silva (Lote 44) e um proprietário desconhecido (Lote n.º 673). Requereu a concessão dos benefícios da justiça gratuita, a citação dos senhores Ilauro Antônio da Silva, José Leandro e Miriam Raposo Leandro (por edital, face ao paradeiro incerto), a citação dos confinantes (Proprietário do Lote n.º 673, Avenida João XXIII, Jocimar Damasceno e Daniel Tavares da Silva), a intimação das Fazendas Públicas da União, Estado e Município, e a intimação do Ministério Público. Ao final, pugnou pela procedência do pedido, com a declaração do domínio sobre o imóvel. A justiça gratuita foi deferida por decisão de ID 47006296, que concedeu prazo adicional de 30 dias para as demais exigências. Em ID 48949705, novo despacho apontou divergências nas áreas do imóvel (levantamento topográfico: 300,66m²; certidão imobiliária: 250,00m²; IPTU: 540,00m²; contrato particular: 294,00m²), a expiração da validade da procuração e a necessidade de qualificação completa dos réus e confinantes. A parte autora, em petição de ID 50568963, justificou as divergências com base na imprecisão de métodos antigos de medição em comparação com o georreferenciamento atual, reiterando a área de 300,66m². Informou, ademais, a idade avançada da autora (95 anos à época) e a necessidade de prorrogação de prazo em razão de problemas de saúde. Posteriormente, a parte autora, por petição de ID 53231258, juntou cópias do processo de inventário n.º 0000002-39.1980.8.20.0001, contendo os nomes e endereços dos herdeiros de José Leandro e Miriam Raposo Leandro. Foi juntada decisão da 1ª Vara de Família desta Comarca, na qual foi concedida a interdição provisória da parte autora e nomeado CARLOS ROBERTO ELISIO XAVIER JUNIOR como seu curador provisório (ID 58577581). O termo de curatela provisória foi juntado em ID 59183481, e o substabelecimento em ID 62910973. Por despacho de ID 63460553, determinou-se a citação pessoal dos proprietários e confinantes com respectivos cônjuges, a citação por edital dos réus em lugar incerto e eventuais interessados, e a intimação das Fazendas Públicas (União, Estado e Município). As Fazendas Públicas da União (ID 69355989), do Estado do Rio Grande do Norte (ID 70112214) e do Município de Parnamirim (ID 69945219) manifestaram ausência de interesse na lide. Foram realizadas diversas diligências citatórias:  ILAURO ANTONIO DA SILVA e sua esposa MARIA DE LOURDES ALVES foram citados por mandado (ID 73226718) e não apresentaram contestação;  os confinantes JOCIMAR DAMACENA COSTA e o Sr. RENIER foram citados por mandado (ID 77262044), e não houve contestação;  a citação de DANIEL TAVARES DA SILVA, outro confinante, foi expedida por mandado (ID 69062367), e não consta manifestação;  expediu-se edital de citação para José Leandro, Miriam Raposo Leandro e demais interessados incertos e desconhecidos (ID 69064600). Foi constatado o óbito de José Leandro e Miriam Raposo Leandro (Id 145416823), sendo os seus sucessores devidamente qualificados e citados:  TEREZA CRISTINA LEANDRO DE FARIA foi citada (ID 94824924) e não contestou.  ZAIRA RAPOSO LEANDRO MENDES foi citada (ID 97694904) e não contestou.  MIGUEL LEANDRO e seu cônjuge foram citados (ID 98963621) e não contestaram.  MARIA DE LOURDES RAPOSO LEANDRO MACHADO foi citada (ID 102418470) e não contestou.  LEONARDO AUGUSTO LEANDRO FERREIRA foi citado (ID 104045356) e não contestou.  CARLOS MURILLO LEANDRO FERREIRA foi citado (ID 139787568), e não houve contestação. O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, em seu parecer final de ID 145416801, confirmou a validade das citações dos proprietários registrais falecidos e seus sucessores, bem como dos confinantes, e constatou a ausência de contestação por parte de qualquer réu ou interessado. Atestou que a autora preencheu todos os requisitos legais para a aquisição da propriedade pela usucapião extraordinária, ratificando a área do imóvel em 300,66m² e pugnando pela procedência do pedido autoral. É o que importa relatar. Passo ao julgamento da causa. II - FUNDAMENTAÇÃO Trata-se de Ação de Usucapião Extraordinária, prevista no art. 1.238 do Código Civil, por meio da qual a parte autora pleiteia o reconhecimento do domínio sobre o imóvel descrito na exordial, alegando o preenchimento dos requisitos legais. Inicialmente, cumpre registrar que a justiça gratuita foi devidamente concedida à parte autora, conforme despacho de ID 47006296, dispensando-a do recolhimento de custas processuais e honorários advocatícios. A capacidade processual da autora, Maria José de Almeida Xavier, que foi declarada relativamente incapaz, encontra-se regularizada pela assistência de seu curador, Carlos Roberto Elisio Xavier Junior, garantindo a validade dos atos processuais, nos termos dos artigos 71 e 72 do Código de Processo Civil. A intervenção do Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, foi devidamente observada, em atenção ao disposto no artigo 178, inciso II, do CPC, tendo o Parquet atuado diligentemente em todas as fases do processo e emitido parecer favorável à pretensão autoral. A usucapião, também chamada de prescrição aquisitiva, é um modo originário de aquisição da propriedade ou outro direito real, que tem em seu cerne o exercício da posse com ânimo de dono, de maneira mansa, pacífica e ininterrupta, durante determinado lapso temporal, conforme requisitos estipulados para cada modalidade prevista na legislação. Assim ensina Caio Mário da Silva Pereira: "Usucapião é a aquisição da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo estabelecido e com a observância dos requisitos instituídos em lei. Mais simplificadamente, tendo em vista ser a posse que, no decurso do tempo e associada às outras exigências, se converte em domínio, podemos repetir, embora com a cautela de atentar para a circunstância de que não é qualquer posse senão a qualificada: Usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada. Como se vê, dois elementos são básicos na aquisição per usucapionem: a posse e o tempo. " (PEREIRA, Caio Mário da S. Instituições de Direito Civil: Direitos Reais. v.IV. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN 9788530990862. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885309908 62/. Acesso em: 21 ago. 2024. p. 119). Essa também é a lição de Orlando Gomes: "A posse que conduz à Usucapião deve ser exercida com animus domini, mansa e pacificamente, contínua e publicamente. O animus domini precisa ser frisado para, de logo, afastar a possibilidade de Usucapião dos fâmulos da posse. (...) Necessário, por conseguinte, que o possuidor exerça a posse com animus domini. Se há obstáculo objetivo a que possua com esse animus, não pode adquirir a propriedade por usucapião. (...) Por fim, é preciso que a intenção de possuir como dono exista desde o momento em que o prescribente se apossa do bem." (ORLANDO GOMES, Direitos Reais, 12ª ed. Forense: Rio de Janeiro, 1996, p. 166). Aqui, cumpre destacar que se tratando de usucapião extraordinária não há que se perquirir acerca de justo título ou boa-fé, seja dos atuais possuidores, seja dos possuidores anteriores/cedentes, bastando a posse pacífica e ininterrupta pelo prazo legal. Veja-se o que estabelece o art. 1.238, parágrafo único, do Código Civil: “Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”. Logo, são requisitos da usucapião extraordinária, previstos no art. 1.238, caput, do Código Civil: a) animus domini, b) posse ad usucapionem; e c) lapso temporal de 15 (quinze) anos ou de 10 (dez) anos, quando o imóvel servir de moradia habitual ou tiver destinação produtiva. De tal modo, para se alcançar o período necessário, pode-se computar, além do tempo de posse do requerente, o tempo de posse do antecessor, o que se denomina como acessio possessionis, conforme previsão do art. 1.243 do Código Civil: “Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e boa fé.”. Aliado a isso, consoante jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “é possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no curso da demanda” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226- MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018). Dessa maneira, cabível a complementação do prazo no curso do processo. De mais a mais, o art. 493 do Código de Processo Civil autoriza que o magistrado examine e leve em consideração na sentença fatos ocorridos após a instauração da demanda, senão vejamos: “Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.”. Portanto, a decisão deve refletir o estado de fato e de direito existente no momento de julgar a demanda, desde que guarde pertinência com a causa de pedir e com o pedido (Precedente: REsp n. 1.361.226/MG, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 5/6/2018, DJe de 9/8/2018). Nesse aspecto, cabe ao magistrado examinar o requisito temporal da usucapião ao proferir a sentença, permitindo que o prazo seja completado no curso do processo judicial. A parte autora alegou posse por mais de 18 (dezoito) anos, computados desde a aquisição do imóvel em 2000 até o ajuizamento da ação em 2019. Mesmo que se considerasse apenas o prazo geral de 15 anos do caput do artigo 1.238 do Código Civil, este estaria sobejamente cumprido. Embora tenha havido divergências iniciais nas medições da área do imóvel (300,66m² por levantamento topográfico, 250m² em certidão e 540m² em IPTU), a parte autora justificou a disparidade com base na evolução dos métodos de medição (georreferenciamento versus técnicas antigas). A falta de contestação específica sobre a área por parte dos confinantes ou de qualquer interessado reforça a validade da metragem apresentada pelo levantamento topográfico, que é mais precisa e moderna. Dessa forma, a área de 300,66m², descrita detalhadamente no memorial georreferenciado, é a que deve prevalecer para fins de declaração de domínio. No caso, a certidão do Registro Imobiliário atesta que o imóvel está registrado em nome de MIRIAM RAPOSO LEANDRO e JOSÉ LEANDRO. Todavia, nenhum dos herdeiros do casal opôs-se à usucapião buscada pela autora. Assim sendo, restando comprovado que os demandantes exercem há mais de 20 (vinte) anos a posse sobre o imóvel usucapiendo, de forma ininterrupta, pacífica, com ânimo de dono, além do fato de não existirem provas nos autos de que a referida posse chegou a ser contestada ou impugnada pelo antigo proprietário do bem, preenchidos estão os requisitos estabelecidos no art. 1.242 do CC, de sorte que se impõe a procedência da pretensão autoral. III - DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral para declarar a parte autora, MARIA JOSÉ DE ALMEIDA XAVIER, proprietária do imóvel situado na Avenida João XII, n.º 689, Bairro de Santos Reis, Município de Parnamirim/RN, CEP 59141-030, identificado sob o n.º de IPTU 1.0901.020.02.0321.0000.5, com área de 300,66m² (trezentos metros e sessenta e seis centímetros quadrados), registrado perante o Primeiro Ofício de Notas de Parnamirim/RN (Certidão Registro/Ônus de Id 43094511 – Pág. 11), cujos limites e confrontações são os seguintes: “georreferenciado sob as coordenadas N 9.345.368,12m e E 248.814,028m; deste segue confrontando com a propriedade de LOTE Nº 673 e proprietário desconhecido, com azimute de 114°10'08" por uma distância de 27,89m, até o vértice -M-02, de coordenadas N 9.345.356,699m e E 248.839,475m ; deste segue confrontando com a AVENIDA JOÃO XXIII, com azimute de 196°10'25" por uma distância de 10,37m, até o vértice -M- 03, de coordena- das N 9.345.346,744m e E 248.836,588m; deste segue a oeste confrontando com JOCIMAR DAMASCENO -LOTE 39, com azimute de 293°34'43" por uma distância de 5,48m, até o vértice -M-04, de coordenadas N 9.345.348,935m e E 248.831,567m; deste segue ao norte confrontando com DANIEL TAVARES DA SILVA – LOTE 44, com azimute de 293°3'49" por uma distância de 23.86m até o vértice M-05, de coordenadas N 9.345.358.281m e E 248.809,617m; deste segue ao norte confrontando DANIEL TAVARES DA SILVA – LOTE 44, com azimute de 24°9'03" por uma distância de 10,78m até o vértice M-01, ponto inicial da descrição”. (ID 43094511 – Pág. 4). Em consequência, extingo o processo com resolução do mérito, com fulcro no art. 487, I, do CPC. Sem condenação em custas e honorários de sucumbência, haja vista que a pretensão autoral não foi resistida. Transitada em julgado a presente sentença, servirá de título para que a parte autora possa registrar o imóvel no Registro Imobiliário competente, devidamente acompanhada dos documentos necessários. Em seguida, arquivem-se os autos com baixa na distribuição. Caso interposto recurso por quaisquer das partes, intime-se a parte contrária para o oferecimento das contrarrazões no prazo legal e, somente após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça deste Estado. Observe a Secretaria Judiciária eventual pedido para que as intimações dos atos processuais sejam feitas em nome do(s) advogado(s) indicado(s), consoante o disposto no art. 272, § 5º, do CPC. Publique-se. Registre-se. Parnamirim/RN, data do sistema. (Assinado digitalmente conforme previsão da Lei 11.419/2006) GISELLE PRISCILA CORTEZ GUEDES DRAEGER Juíza de Direito

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Processo nº 1001660-02.2023.4.01.3311

ID: 258925730

Tribunal: TRF1 Órgão: 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Itabuna-BA Classe: DESAPROPRIAçãO Nº Processo: 1001660-02.2023.4.01.3311

Data de Disponibilização: 23/04/2025

Polo Ativo:

BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A

Polo Passivo:

Sentença Tipo A

Advogados:

JOSE LUIZ D ABADIA JUNIOR

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HAROLDO REZENDE DINIZ

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

THAISA FREIRE DIOGO DE OLIVEIRA

OAB/GO XXXXXX Desbloquear

JOAO FRANCISCO ALVES ROSA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Subseção Judiciária de Itabuna-BA 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Itabuna-BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1001660-02.2023.4.01.3311 CLASSE: DESAPROPRIAÇÃO (… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Subseção Judiciária de Itabuna-BA 1ª Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de Itabuna-BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO: 1001660-02.2023.4.01.3311 CLASSE: DESAPROPRIAÇÃO (90) POLO ATIVO: BAHIA FERROVIAS S.A. e outros REPRESENTANTES POLO ATIVO: JOAO FRANCISCO ALVES ROSA - BA17023 e HAROLDO REZENDE DINIZ - RJ94107 POLO PASSIVO:ESPOLIO DE SIRENILDES LIMA PIRES SENTENÇA Trata-se de ação proposta pela BAHIA FERROVIAS S/A, qualificada nos autos, assistida pela INFRA S/A (atual empresa pública cuja denominação é VALEC – ENGENHARIA, CONSTRUÇÕES E FERROVIA S.A.) em face do ESPÓLIO DE SIRENILDES LIMA PIRES, representado por RONNY LIMA PIRES, inventariante e filho da falecida, objetivando a desapropriação por utilidade pública (Decreto-lei nº 3.365/41) de área total de 0,2126 hectares da Fazenda Bom Sossego, situada na Zona Limeira, Município de Aurelino Leal/BA, entre os Kms Área 1: km 1442+372,86 e km 1442+399,31 e Área 2: km 1442+357,71 a km 1442+378,33 do presente projeto (doc. 09 – certidão do imóvel, em id. 1517618933), devidamente registrado no Registro de Imóveis de Aurelino Leal, no livro 3-N, matriculado sob número 152, perante Ofício de Registro de Imóveis da Comarca de Aurelino Leal/BA, de propriedade/posse dos expropriados. Alega que o imóvel expropriado integra a poligonal constante da Deliberação ANTT n. 211, de 07 de julho de 2022, e, portanto, a área declarada de utilidade pública, para fins de desapropriação, por onde correrão os trilhos e a respectiva faixa de domínio da Ferrovia de Integração Oeste Leste (FIOL). Sustenta urgência na reivindicação da área descriminada, haja vista a necessidade de realização de obras no trecho em que está localizado o imóvel expropriado e o depósito prévio e integral do preço ofertado da indenização. Oferece a título de indenização a importância de R$7.497,92 (sete mil quatrocentos e noventa e sete reais e noventa e dois centavos), equivalente à terra nua e benfeitorias, conforme laudo específico acostado. Esclarece que o imóvel em questão passará a integrar o patrimônio do Poder Público Federal, enquadrando-se no conceito de bem público, conforme contrato administrativo de subconcessão, segundo o qual os bens serão revertidos em favor da INFRA S/A, atual denominação da VALEC – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., detentora da outorga legal da ferrovia, por força da Lei n. 11.772/2008. Procuração e documentos acostados. Na decisão de ID 1599188347 foi deferida a liminar de imissão da autora na posse da área pretendida. A parte autora juntou o comprovante do depósito do valor ofertado a título de indenização o id. 15552533381. O Banco do Nordeste manifestou-se no ID 1625749350, informando interesse no feito, uma vez que é credor fiduciário, de crédito materializado por meio da CÉDULA RURAL HIPOTECARIA nº 58.2009.3742.2933; Operação de Crédito nº 01/A900181401-001. Citados, os réus quedaram-se inertes (id. 1616205371), com decurso do prazo para apresentação de contestação em 01/06/2023. É o necessário a relatar. Fundamento e DECIDO. De início, decreto a revelia dos requeridos que, malgrado regularmente citados, não apresentaram contestação no prazo legal. Passo ao mérito de causa. Sabe-se que o direito de propriedade possui guarida constitucional, na forma do art. 5º, XXII, CRFB/88. Todavia, tal garantia individual não pode ser caracterizada como absoluta, sendo lícito ao Estado relativizá-la no exercício de suas funções precípuas, a exemplo do atendimento às necessidades de interesse público, mediante a execução dos diversos meios de intervenção na propriedade privada. Nesse contexto, a ação de desapropriação traduz meio de intervenção supressiva do Estado (ou quem lhe faça as vezes) na propriedade privada cujo fundamento primário é o princípio da supremacia do interesse público (art. 5º, XXIII, CF/88), e que objetiva consumar a transferência do bem para o patrimônio do ente expropriante, tratando-se de forma originária de aquisição da propriedade. Dispõe o art. 5º, XXIV, da CF/88, que “A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública (...) mediante justa e prévia indenização em dinheiro (...).”, no que se encontra regulamentada pelo Decreto-lei n.º 3.365/41. Este, por sua vez, preceitua, verbis: Art. 9º “Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública” e Art. 20. “A contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta.” Com efeito, verifico que a Deliberação ANTT n. 211, de 07 de julho de 2022, ao declarar de utilidade pública para fins de desapropriação, em favor da União, os bens imóveis de propriedade particular constituídos de terras, benfeitorias e acessões que constituem áreas necessárias à implantação do Trecho I da Ferrovia de Integração Oeste-Leste - FIOL (EF-334), compreendido entre os municípios de Ilhéus/BA e Caetité/BA, autorizou a subconcessionária Bahia Ferrovias S.A – BAFER a promover as respectivas desapropriações, bem como a invocar o caráter urgente do processo, para fins de imissão de posse, nos termos do art. 15 do Decreto-Lei n. 3.365/41. De acordo com as coordenadas geográficas do projeto ferroviário (ID 1517618937-PÁG 02/1517677846), parte da “FAZENDA BOM SOSSEGO” (localizada na Zona Limeira, Município de Aurelino Leal/BA), de propriedade dos requeridos, conforme documentos no ID 1517618933-PÁG 07), está inserida na área de implantação da ferrovia, razão pela qual foi elaborado o Laudo Técnico de Avaliação do Imóvel (ID 1517618939-pág. 02), que avaliou a área a ser indenizada em R$ 7.497,92 (sete mil quatrocentos e noventa e sete reais e noventa e dois centavos). Assim, não há dúvidas de que a parte autora está autorizada a desapropriar, por utilidade pública, parte do imóvel, de propriedade dos requeridos, descrito na matrícula n. 152, Livro 3N, perante Ofício de Registro de Imóveis da Comarca de Aurelino Leal/BA. Posta a lide nestes termos, tem-se que, presentes todos os requisitos do Decreto-Lei nº 3.365/41, não subsiste qualquer discussão sobre a viabilidade da desapropriação, mas tão somente sobre qual o preço justo a ser pago ao expropriado como indenização pela perda da propriedade da área. No que tange ao valor ofertado, houve concordância tácita da parte requerida, que não contestou o feito. Ademais, reputo que o montante calculado apresenta-se compatível com a avaliação inicial do imóvel, avaliação esta a qual, traduzindo metodologia apropriada à espécie, não apresenta qualquer irregularidade formal ou material. Por outro lado, foi expedido edital de citação para eventuais proprietários, mas não houve qualquer manifestação nos autos. Com efeito, reputo caracterizada a hipótese de revelia, que enseja a aplicação do art. 344 do Código de Processo Civil também no que se refere ao valor da avaliação do imóvel. Além disso, a par de croquis de acesso, fotografias e mapas, a parte requerente acostou aos presentes autos minucioso laudo de avaliação elaborado por profissional legalmente habilitado, que consigna valor da oferta compatível com o preço usualmente oferecido na região, conforme análise comparativa igualmente apresentada. Nesse passo, entendo que o valor encontrado remunera de forma justa os expropriados, conforme exigência constitucional, sendo certo que não enseja o dispêndio de recursos públicos de modo a gerar enriquecimento ilícito do particular. Nesse sentido, confira-se: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO. PARÂMETRO TEMPORAL DA INDENIZAÇÃO. UTILIZAÇÃO DO VALOR DO ITR COMO PARÂMETRO DA INDENIZAÇÃO. JUROS COMPENSATÓRIOS. IMÓVEL IMPRODUTIVO. POSSIBILIDADE. 1. Quanto ao parâmetro temporal da indenização decorrente de desapropriação, a jurisprudência de ambas as Turmas que integram a Primeira Seção é assente na compreensão de que o valor deve pautar-se pela data da perícia judicial realizada no imóvel, o que, aliás, constitui a letra expressa da lei (Decreto-lei 3.365/41, art. 26; LC 76/93, art. 12,§ 2º). 2. O ITR pode ser utilizado como parâmetro para a indenização, se atualizado no ano fiscal imediatamente anterior. 3. Incidem juros compensatórios na desapropriação de imóvel, mesmo que improdutivo, conforme fixado no Resp 1.116.364/PI, julgado sob a sistemática do artigo 543-C do CPC. 4. A interpretação dada ao artigo 543-C do CPC atende à necessidade de aplicação das técnicas próprias dos precedentes judiciais. Firmado o precedente, este há de ser seguido nos casos similares que se identifiquem com a mesma tese jurídica fixada no julgamento. 5. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no REsp 1444785/PB, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/09/2015, DJe 14/09/2015). Grifei. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA. JUSTA INDENIZAÇÃO. LAUDO OFICIAL. DATA DA PERÍCIA. COBERTURA FLORÍSTICA. JUROS COMPENSATÓRIOS E DE MORA. 1. Os valores encontrados na perícia oficial refletem convenientemente a realidade imobiliária da região do imóvel expropriado, atendendo à exigência constitucional da justa indenização, prevista no art. 5º, XXIV, da Constituição da República Federativa do Brasil e na Lei 8.629/93, art. 12. 2. A indenização deve ser justa, sem acarretar locupletamento indevido de nenhuma das partes, e o perito judicial é profissional equidistante do interesse dos litigantes, na busca de uma avaliação imparcial. 3. O valor da indenização deve ser contemporâneo à data da perícia, nos termos do art. 26 do Decreto-Lei 3.365/1941 e § 2º do artigo 12 da Lei Complementar 76/1993. 4. O valor de mercado do imóvel na data da perícia, como expressão do pagamento, decorre do postulado constitucional do justo preço e, no limite, da garantia de que o expropriado possa, ao final do processo, adquirir outro imóvel com as mesmas características daquele que o poder público lhe retira do patrimônio, sob pena deste último experimentar um enriquecimento sem causa. 5. A cobertura vegetal é indenizável em separado da terra nua somente quando comprovada o valor comercial da cobertura florística e a exploração econômica dos recursos. Na hipótese dos autos, não houve nenhum levantamento acerca da cobertura vegetal, não há prova do valor comercial da cobertura florística, tampouco da exploração econômica dos recursos. 6. Segundo a jurisprudência assentada no STJ, a Medida Provisória 1.577/97, que reduziu a taxa dos juros compensatórios em desapropriação de 12% (doze por cento) para 6% (seis por cento) ao ano, é aplicável no período compreendido entre 11/06/1997, quando foi editada, até 13/09/2001, quando foi publicada a decisão liminar do STF na ADIn 2.332/DF, suspendendo a eficácia da expressão 'de até seis por cento ao ano', do caput do art. 15-A do Decreto-Lei 3.365/41, introduzida pela referida MP. Nos demais períodos, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano. 7. Os juros de mora são devidos no percentual de 6% (seis por cento) ao ano, devendo incidir a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento for feito, nos termos do art. 100 da Constituição (art. 15-B do Decreto-Lei 3.365/41, incluído pela Medida Provisória 1.901-30, de 24/09/1999). 8. A correção monetária, para preservar a integridade do valor da justa indenização, deve seguir, no caso, o manual de cálculos da Justiça Federal, exceto em relação aos Títulos da Dívida Agrária - TDA's que possuem regulamentação própria, nos termos do Decreto 578/1992 9. Apelação do INCRA e remessa oficial parcialmente providas. (AC 0000002-18.1972.4.01.3902 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NEY BELLO, TERCEIRA TURMA, e-DJF1 p.863 de 17/07/2015). Grifei. Logo, diante da ausência de impugnação e da instrução satisfatória do feito, com os documentos acostados na petição inicial, reputo desnecessária a realização de perícia judicial, razão pela qual fixo o montante depositado como valor da indenização. Considerando-se que o quantum fixado a título de indenização corresponde ao valor inicialmente oferecido pela parte autora, integralmente depositado desde 10/03/2023 (ID 1555253383), não há falar-se em condenação da expropriante ao pagamento de juros compensatórios e moratórios. Em hipóteses que tais, a atualização do valor depositado judicialmente corre por conta do agente financeiro depositário. No que se refere à demanda incidental, verifico que na certidão de matrícula de ID 1517618933, consta a averbação de hipoteca em que elencado como credores o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste. O Decreto-Lei nº 3.365/41, por sua vez, expressamente prevê no art. 31 que os ônus ou direitos que recaiam sobre o bem ficam subrogados no preço, devendo a garantia real ser, pois, satisfeita com o próprio produto financeiro da desapropriação. O Código Civil, em capítulo que trata das garantias reais, aí incluída a hipoteca, estabelece que: Art. 1.425. A dívida considera-se vencida: (...) V - se se desapropriar o bem dado em garantia, hipótese na qual se depositará a parte do preço que for necessária para o pagamento integral do credor. (...) § 2o Nos casos dos incisos IV e V, só se vencerá a hipoteca antes do prazo estipulado, se o perecimento, ou a desapropriação recair sobre o bem dado em garantia, e esta não abranger outras; subsistindo, no caso contrário, a dívida reduzida, com a respectiva garantia sobre os demais bens, não desapropriados ou destruídos. Não houve, ademais, qualquer impugnação ao direito de crédito por parte dos desapropriados, os quais permaneceram silentes. No entanto, não pode de imediato ser deferido o levantamento pelo credor hipotecário, visto que não se sabe se existe discussão judicial acerca do débito, se ele se encontra vencido, líquido e exigível ou se há qualquer outra discussão apta a infirmar o título averbado. Dessa forma, ficará o valor indenizatório depositado em juízo até que o credor hipotecário proponha a correspondente ação executiva, quando então deverá requerer ao juízo que requisite a transferência do valor para conta vinculada ao feito executivo. Diante do exposto, julgo PROCEDENTE o pedido constante da inicial, resolvendo o mérito nos termos do art. 487, inciso I do CPC, para confirmar a imissão liminar na posse e declarar definitivamente expropriada em favor da parte autora a área objeto do memorial descritivo de ID 1517618936 - págs. 2/12, cujo teor passa a fazer parte integrante do dispositivo desta sentença. Fixo o valor da indenização em R$7.497,92 (sete mil quatrocentos e noventa e sete reais e noventa e dois centavos), referente a 0,2126 ha de terra nua e benfeitorias. Acresço, por oportuno, que será autorizado o levantamento dos valores indenizatórios após o cumprimento de todos os requisitos do art. 34 do Decreto-Lei nº 3.365/41, quais sejam: publicação de edital para conhecimento de terceiros, cópia atualizada da certidão de matrícula do imóvel objeto da expropriação e certidões de quitação das demais dívidas fiscais que recaiam sobre o bem. Durante o prazo recursal deverá a parte autora manifestar interesse na expedição da carta de sentença. Em caso afirmativo, junte aos autos as cópias das peças processuais que entender pertinentes, visando instruir o instrumento que, desde já, fica deferido à expedição. Oficie-se ao CRHI, para que promova a devida averbação à margem da matrícula do imóvel. Custas pela parte autora ante a concordância (ainda que tácita) sobre o valor oferecido (art. 30 do Decreto n. 3.365/41). Sem honorários. Sentença não sujeita a reexame necessário. Após o trânsito em julgado, remetam-se os autos ao arquivo com baixa na distribuição. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Itabuna/BA, na data da assinatura digital. Documento assinado digitalmente Juíza Federal

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Ministério Público Do Trabalho x Atacadao S.A.

ID: 257876400

Tribunal: TRT5 Órgão: Vara do Trabalho de Eunápolis Classe: AçãO CIVIL PúBLICA CíVEL Nº Processo: 0000699-88.2016.5.05.0511

Data de Disponibilização: 22/04/2025

Polo Ativo:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Polo Passivo:

ATACADAO S.A.

Notificação

Advogados:

MURILO MELO BARROS DE SOUSA

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MARCOS VINICIUS CORUJEIRA RODRIGUES

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JOAQUIM ARTHUR PEDREIRA FRANCO DE CASTRO

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GIOVANNA DE MACEDO CARVALHO

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MARCUS VINICIUS AVELINO VIANA

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE EUNÁPOLIS 0000699-88.2016.5.05.0511 : MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO : ATACADAO S.A. INTIMA… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 5ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE EUNÁPOLIS 0000699-88.2016.5.05.0511 : MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO : ATACADAO S.A. INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência do Despacho ID ae8a806 proferido nos autos. Vistos, examinados etc. Inicialmente, verifico que se tratam os presentes autos de execução definitiva de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Trabalho em face da Empresa ATACADÃO S.A., estando o processo atualmente em fase de constrição, para posterior expropriação. Na petição de Id. f6215f1, a Empresa Executada requereu proceder o pagamento da condenação, nos termos do artigo 916 do CPC, ou seja, no prazo de apresentação dos Embargos à Execução, a Reclamada reconheceria o crédito do Exequente, com o parcelamento do débito, com imediato depósito de 30% do valor em execução, acrescido de custas processuais e honorários advocatícios. O MPT, após ser intimado, manifestou-se de forma contrária ao parcelamento, nos termos do petitório de Id. 4fcf96d, uma vez que o parcelamento da execução previsto no art. 916 do CPC/2015 não se aplica ao de cumprimento da sentença, conforme preconiza o § 7º do referido dispositivo legal. Este Juízo, inclusive, prolatou decisão de Id. 3f11d0c indeferindo o parcelamento requerido e determinando, ainda, a apresentação de artigos de liquidação, nos termos requerido pelo MPT na manifestação de Id. 4fcf96d, para que fosse apurada a multa por descumprimento da obrigação de fazer, conforme decidido na sentença de Id. e486fed, proferida nos seguintes termos: "O descumprimento de quaisquer das obrigações de fazer determinadas nesta decisão, implicará no pagamento de multa no valor de R$ 1.000,00 (Hum mil reais) por trabalhador; devendo ser provado pela parte autora, via liquidação por artigos, quais trabalhadores tenham tido seus direitos trabalhistas violados (com indicação completa de nome, função e período de labor)". Contudo, observando-se o caso concreto, verifica este Juízo que o parcelamento requerido não prejudicará o recebimento do valor e a destinação social já determinada em sentença e requerida também pelo MPT, além do que evitará nova discussão da matéria pela Empresa, que poderá levar o processo novamente ao Segundo Grau de Jurisdição em sede de Agravo de Petição, apenas para que seja decidido sobre o parcelamento, o que, na prática, fará o processo demorar muito mais na espera do provimento jurisdicional do Tribunal do que no próprio parcelamento requerido. Diante disso, reconsidero a decisão anterior deste Juízo e defiro o parcelamento requerido pela Empresa Executada. Repise-se que assim o faço porque qualquer insurgência das partes fará com que o processo demore ainda mais para alcançar o seu desiderato. Deverá a Empresa Executada, então, continuar realizando os pagamentos mensais aos quais se comprometeu, sob pena de bloqueio dos seus ativos financeiros pelo SISBAJUD, ficando esclarecido que as diferenças finais decorrentes do acréscimo de correção monetária e juros serão acrescidas ao valor da última parcela. De outra banda, constatei que a própria sentença originária, anexada no expediente de ID. e486fed, estabeleceu que a quantia a ser paga pela Reclamada deveria "ser revertida em prol de instituições ou programas/projetos públicos ou privados, sem fins lucrativos, que tenham objetivos filantrópicos, culturais, educacionais, científicos, de assistência social ou de desenvolvimento e melhoria das condições de trabalho, situada na localidade do réu (município de Eunapólis), indicada pelo autor e aprovada por este Juízo (mediante análise da sua documentação e proposta de trabalho)”. É de se mencionar que a futura apresentação de Artigos de Liquidação pelo MPT para verificação de trabalhadores que tiveram direitos trabalhistas violados, nos termos da Sentença originária de Id. e486fed, conforme mencionados na petição do MPT de Id. 6a25bd2 e no despacho de Id. dddab3c, poderão ser realizados a latere dos pagamentos a serem efetivados pelo Réu, uma vez que o pagamento se refere a condenação já efetivada nos autos, enquanto os Artigos de Liquidação versarão sobre a prova de possível violação que a Reclamada tenha protraído no tempo de trâmite dos presentes autos processuais. Ou seja, uma coisa nada tem a ver com a outra! Além disso, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ e o Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP publicaram a Resolução Conjunta nº 10 de 29 de maio de 2024 que dispõe sobre os procedimentos e as medidas para a destinação de bens e recursos decorrentes de decisões judiciais e instrumentos negociais de autocomposição em tutela coletiva, bem como sobre medidas de transparência, impessoalidade, fiscalização e prestação de contas. A referida norma dispõe no seu artigo 3º que os valores decorrentes de condenação em indenização pecuniária genérica reverterão para um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados, na forma do artigo 13 da Lei nº 7.347/1985. Previu também o artigo 4º da Resolução que a reparação ou compensação pecuniária estabelecida na forma do artigo 11 da Lei nº 7.347/1985, e definida em razão de impossibilidade da reconstituição do bem jurídico lesado, deverá: I – ser proporcional à dimensão do dano; II – beneficiar, preferencialmente, os locais e as comunidades diretamente atingidos pela lesão ou ameaça de lesão; e III – ser aplicada em finalidades que guardem pertinência temática com a natureza do bem jurídico lesado ou ameaçado. Já o artigo 5º determinou que o magistrado e o membro do Ministério Público, no âmbito das suas respectivas competências e atribuições, quando adotada fundamentadamente a tutela específica ou por equivalência da qual decorra a destinação de bens e valores em razão de alguma das hipóteses referidas no artigo 1º, § 2º, da mesmo norma, poderão indicar como destinatários: I – instituições, entidades e órgãos públicos federais, estaduais, distritais ou municipais, que promovam direitos diretamente relacionados à natureza do dano causado; II – pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos e previamente cadastradas, que realizem atividades ou projetos relacionados diretamente à natureza do dano causado; e III – fundos públicos temáticos ou territoriais, constituídos nas esferas federal, estadual, distrital ou municipal, diretamente relacionados ao bem jurídico lesado ou ameaçado e à natureza do dano coletivo, conforme a extensão territorial da lesão, que tenham por objetivo o financiamento de atividades e projetos de promoção ou reparação de direitos. Por sua vez, este Juízo já destinou recursos advindos de processos judiciais, da Varas do Trabalho de Eunápolis e de Porto Seguro, sempre com a participação do Ministério Público do Trabalho, para a construção do Centro de Reabilitação para PCD e Pessoas com Mobilidade Reduzida da Associação de Deficientes Físicos de Eunápolis – ASDEFE, a exemplo dos processos abaixo listados: Processo n. 0000712-29.2019.5.05.0561 (Id. 5ae1e08 e Id. 41e80d7) – Valor R$ 224.272,82. Processo n. 0001640-38.2023.5.05.0561 (Id. 0000) – Valor R$ 60.000,00. Processo n. 0000002-62.2019.5.05.0511 (Id. a1af066) – Valor R$ 20.080,00. Processo n. 0000166-03.2014.5.05.0511 (Id. b9c34a6 e Id. a753be0) – Valor R$ 162.000,00. Processo n. 0000293-23.2023.5.05.0511 (Id. 13315e9) – Valor R$ 12.000,00. Processo n. 0001126-51.2017.5.05.0511 (Id. 71d5f13) – Valor R$ 30.000,00. Processo n. 0010033-83.2015.5.05.0511 (Id. c784741) - Valor R$ 501.554,37. Processo n. 0000311-83.2019.5.05.0511(Id. 3c4bbae) - Valor R$ 47.372,45. Cumpre esclarecer que a ASDEFE é uma instituição fundada em 20 de junho de 1988, por um grupo de pessoas que se preocupavam com as Pessoas com Deficiência Física e/ou Múltipla e que não eram assistidas por nenhum órgão. Essas pessoas são tidas como INVISÍVEIS no seio social. A sociedade civil sem fins lucrativos tem como finalidade precípua oferecer atendimento especializado através de áreas específicas de assistência social, saúde, inclusão da Pessoa com Deficiência, buscando melhoria na qualidade de vida dos ingressos e a inclusão social dos deficientes, bem como viabilizar os mecanismos que assegurem os seus direitos. A construção do Centro de Reabilitação para Pessoas Com Deficiência, foi idealizado pela ASDEFE tem o objetivo de ofertar atendimentos especializados, de forma humanizada nas áreas de Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Ginecologia, Odontologia, Neurologia, Psicologia, Fonoaudiologia, Nutrição, Serviço Social, e demais áreas que serão agregadas conforme o surgimento de novas demandas, garantindo o atendimento de qualidade dentro do próprio Município de Eunápolis, efetivando o direito básico à saúde, sem a necessidade de deslocamento para Teixeira de Freitas, Salvador e outras localidades, proporcionando assim maior conforto e segurança para quem está debilitado e necessitado de tratamento, bem como trazendo alento a centenas de famílias que assistem seus entes queridos deficientes. A ASDEFE possui no seu contrato social como objeto de atuação a previsão de atendimento médico, odontológico e psicossocial daquelas pessoas que possuem diversos espectros de deficiência, seja motora, seja psíquica, inclusive com a socialização do deficiente e de sua família, com a inserção dessas pessoas na sociedade e no mercado de trabalho. A Associação também, está cadastrada como entidade apta a receber valores e bens oriundos da atuação do Ministério Público do Trabalho, conforme se vê na tela abaixo colhida no site do próprio Órgão: https://www.prt5.mpt.mp.br/servicos/entidades-assistenciais Ademais, o projeto do Centro de Reabilitação desenvolvido pela ASDEFE tem o objetivo de atendimento de diversas cidades do Extremo Sul da Bahia, a exemplo de Eunápolis, Porto Seguro, Itabela, Guaratinga, Itagimirim, Belmonte, Santa Cruz Cabrália, Itapebi, dentre outras, uma vez que, como dito anteriormente, o único Centro que faz tal atividade fica localizado em Teixeira de Freitas (CER IV), levando as pessoas com mobilidade reduzida a deslocamentos extensos, dificultando ainda mais o estado de saúde e trazendo mais sofrimento às famílias e aos próprios pacientes. O Centro Especializado em Reabilitação (CER IV) em Teixeira de Freitas - Bahia, realiza serviço de média e alta complexidade e integra o Programa, Viver Sem Limites, do Governo Federal. Atualmente o CER IV é mantido com verbas federais, estaduais e municipais em conjunto, uma vez que a saúde da população PCD é dever concorrente desses entes federativos. Por tudo acima dito, determino a intimação do Ministério Público do Trabalho para se manifestar sobre a possibilidade de remessa da quantia para continuidade da obra já em curso no Centro de Reabilitação para Pessoas Com Deficiência, realizado pela ASDEFE. Após a apresentação dos documentos de construção do equipamento e aprovação da etapa do Projeto pelo Ministério Público do Trabalho, a Associação deverá integrar a presente lide como Terceiro interessado nos autos processuais, passando a ser intimada por seu Presidente, para se manifestar e juntar documentos ao processo eletrônico. Como forma de transparência e fiscalização, a ASDEFE deverá abrir conta corrente específica para o aporte deste processo, com a finalidade de cumprir todas as obrigações de informação de dados bancários, comprovação de recebimento de valores e apresentação mensal de planilhas, acompanhadas por notas fiscais de aquisição de bens e serviços, devidamente chanceladas pelo "Presidente da ASDEFE", para análise deste juízo e fiscalização do Ilustre Membro do Ministério Público do Trabalho - MPT. A conta bancária aberta deverá ser EXCLUSIVA para os valores oriundos dos presentes autos, devendo ser juntado com as planilhas de comprovação, os extratos bancários da referida conta, para fins de apuração e fiscalização pelo MPT e por este Juízo trabalhista. Após o encerramento das transferências e comprovação dos gastos, conforme estabelecidos nesta decisão, a conta bancária deverá ser encerrada, para fins de auditoria e fechamento da contabilidade judicial. A ASDEFE será expressamente cientificada que o acompanhamento da destinação dos recursos, será feita mediante comprovação da utilização, por meio de apresentação de planilhas, acompanhadas por notas fiscais de aquisição de equipamentos, materiais e serviços destinados à referida construção, a serem paulatinamente juntados aos autos, sendo encaminhados os autos do PJE, com a juntada dos referidos documentos, a cada 60 (sessenta) dias corridos, para fins de acompanhamento e registros, com a intimação do Ministério Público do Trabalho – MPT para manifestação. Ao final da utilização dos recursos, é realizada, pelo Contador da Vara, a apuração de todos os valores e respectivos documentos, com emissão de parecer contábil, e na sequência remetidos os autos ao Ilustre Membro do Ministério Público do Trabalho - MPT, para análise e emissão de parecer definitivo, com o posterior arquivamento dos autos. Os incluídos nestes autos como Terceiros Interessados ficam devidamente cientes que qualquer verificação de inconsistência ou irregularidade na prestação de contas resultará na restituição dos valores liberados, bem como responsabilização criminal, com o devido encaminhamento ao Ministério Público Federal - MPF, para adoção das providências criminais cabíveis. Diante de tudo aqui exposto, determino: 1 - Intime-se o Ministério Público do Trabalho - MPT, pelo sistema, para se manifestar sobre a destinação dos recursos dos presentes autos, em valor atual de R$ R$ 204.815,25 e acréscimos legais, além dos valores que porventura venham a ser disponibilizados nos presentes autos, para continuação da construção Centro de Reabilitação para Pessoas Com Deficiência, realizado pela ASDEFE. Prazo de 05 (cinco) dias úteis. 2 - Após a manifestação do MPT, caso aprovada a indicação, inclua-se como Terceiro Interessado a Associação de Deficientes de Eunápolis - ASDEFE, CNPJ 63.170.732/0001-40, devendo ser intimado o seu Presidente, por Oficial de Justiça, para ciência da sua inclusão aos autos processuais, bem como para que possa cumprir todas as obrigações de informação de dados bancários, comprovação de recebimento de valores e apresentação mensal de planilhas, acompanhadas por notas fiscais de aquisição de bens e serviços, para análise deste juízo e fiscalização do Ilustre Membro do Ministério Público do Trabalho - MPT. 3 - O Terceiro Interessado incluído deve ser ainda cientificado que o acompanhamento da destinação dos recursos, será feita mediante comprovação da utilização, por meio de apresentação de planilhas, acompanhadas por notas fiscais de aquisição de equipamentos, materiais e serviços destinados à referida construção, a serem paulatinamente juntados aos autos, sendo encaminhados os autos do PJE, com a juntada dos referidos documentos, a cada 60 dias corridos, para fins de acompanhamento e registros, com a intimação do Ministério Público do Trabalho – MPT para manifestação. 4 - Independentemente da diligência acima, ao final da utilização dos recursos, será realizada, pelo Contador da Vara, a apuração de todos os valores e respectivos documentos, com emissão de parecer contábil, e na sequência remetidos ao Ilustre Membro do Ministério Público do Trabalho - MPT, para análise e emissão de parecer definitivo, com o posterior arquivamento dos autos. 5 - A ASDEFE fica devidamente ciente que qualquer verificação de inconsistência ou irregularidade na prestação de contas resultará na restituição dos valores liberados, bem como responsabilização criminal, com o devido encaminhamento ao Ministério Público Federal - MPF, para adoção das providências cíveis e criminais cabíveis. 6 - Cumpridos os prazos e as determinações dos itens acima, que deverão ser realizados com celeridade pela Secretaria da Vara, determino a intimação, mais uma vez, da Reclamada ATACADÃO S.A. para apresentar nos autos, no prazo de 15 dias úteis, IMPRORROGÁVEIS, os documentos requeridos pelo Ministério Público do Trabalho - MPT, na sua petição de Id. 6a25bd2, para viabilizar ao Exequente a Liquidação do Julgado por Artigos, fixando, desde já, a multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), até o limite de 30 dias corridos, pelo descumprimento da obrigação judicial ora determinada de apresentação dos documentos, a ser revertida a instituição de amparo social a ser indicada pelo MPT. 7 - Após o cumprimento das diligências acima, e decorrido os prazos determinados, retornem os autos a este Magistrado para novas deliberações. EUNAPOLIS/BA, 15 de abril de 2025. IVO DANIEL POVOAS DE SOUZA Juiz do Trabalho Titular Intimado(s) / Citado(s) - ATACADAO S.A.

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Processo nº 0001093-72.2023.8.17.2740

ID: 256602618

Tribunal: TJPE Órgão: Vara Única da Comarca de Ipubi Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0001093-72.2023.8.17.2740

Data de Disponibilização: 15/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

SEBRASEG CLUBE DE BENEFICIOS

Despacho_Intimação_Intimação (Outros)

Advogados:

LEANDRO CHRISTOVAM DE OLIVEIRA

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ANTONIO JOSE PEREIRA LEANDRO JUNIOR

OAB/PE XXXXXX Desbloquear

Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Vara Única da Comarca de Ipubi PÇ SIQUEIRA CAMPOS, S/N, Forum Heli Leitão de Melo, Centro, IPUBI - PE - CEP: 56260-000 - F:(87) 38812965 Processo nº… Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Vara Única da Comarca de Ipubi PÇ SIQUEIRA CAMPOS, S/N, Forum Heli Leitão de Melo, Centro, IPUBI - PE - CEP: 56260-000 - F:(87) 38812965 Processo nº 0001093-72.2023.8.17.2740 AUTOR(A): ANTONIA PEREIRA DA SILVA RÉU: SEBRASEG CLUBE DE BENEFICIOS SENTENÇA I – RELATÓRIO Trata-se de Ação Declaratória de Inexistência de Relação Jurídica c/c Reparação por Danos Morais e Materiais e Pedido de Tutela de Urgência, proposta por ANTONIA PEREIRA DA SILVA em face do SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA. Consta na inicial em síntese, que a requerente se deu conta que está sendo descontado mensalmente de seu benefício, pela empresa Clube SEBRASEG, o valor de R$ 59,90. Reafirma não ter vínculos de qualquer espécie com a instituição supracitada. Requereu inversão do ônus da prova, que seja declarado nulo o suposto negócio jurídico, condenando a requerida a restituir em dobro o valor cobrado indevidamente e danos morais. Com a inicial vieram os documentos da autora e extrato bancário do BRADESCO comprovando o desconto (ID 149347072). Indeferida a tutela de urgência e deferida a Justiça Gratuita para autora. (ID 174579677) A parte requerida apresentou contestação nos autos para em síntese asseverar preliminarmente inépcia da petição inicial, ausência de interesse de agir e impugnação a justiça gratuita. No mérito requer que seja extinta a ação sem resolução do mérito, alega indícios de possível ação predatória; em caso de procedência da ação requer que seja afastada a aplicação do Código de Defesa do Consumidor; julgado improcedente o pedido da parte autora em relação a inversão do ônus da prova; que o pedido de restituição do valor em dobro não prospere e comunica que de boa-fé, efetuou o cancelamento do contrato. (ID 186576031) Réplica juntada aos autos. (ID 187149422) Intimadas as partes para apresentarem as demais provas que pretendessem produzir, a autora informou que tendo em vista que a parte requerida não apresentou o contrato, requer o julgamento antecipado da lide (ID 188223584); por sua vez, a requerida deixou decorrer o prazo, sem manifestação (ID 190120864). Vieram-me os autos conclusos. É a síntese do relatório. Decido. II FUNDAMENTAÇÃO No que concerne à arguição de falta de interesse de agir, por não haver a parte tentado acordo extrajudicial de conciliação, rejeito tal alegação em nome do direito de acesso à Justiça pela inafastabilidade. Ainda, inexiste inépcia. Sobre a alegação de indícios de demandas predatórias, não vislumbro no caso, provas suficientes a comprovar a inexistência de lide real e o abuso do direito de ação. Quanto à impugnação a concessão do benefício de gratuidade judiciária concedido a autora, de logo rejeito a preliminar. Com efeito, o art. 99, § 3º, do CPC dispõe que se presume verdadeira a alegação de hipossuficiência para arcar com as custas processuais deduzida por pessoa natural. Vale dizer que tal presunção é relativa, ou seja, além de estar em conformidade com as demais provas acostadas aos autos, a gratuidade de justiça pode ser impugnada pela parte adversária, sendo desta o ônus de comprovar o descabimento da benesse no caso concreto. No caso em tela, a parte autora juntou declaração de hipossuficiência e não há nos autos outras provas que de alguma forma maculem tal declaração. Por sua vez, a parte requerida, em sua impugnação, limitou-se a requerer o afastamento do benefício da gratuidade citando genericamente, assim, não vislumbro motivo idôneo para revogar a gratuidade outrora concedida, motivo pelo qual afasto a preliminar levantada. O feito encontra-se maduro para julgamento antecipado, nos moldes do art. 355, inciso I, do CPC, já que a matéria é unicamente de direito e não demanda maior dilação probatória. No caso vertente, inexiste dúvida de que são aplicáveis as regras insculpidas no Código de Defesa do Consumidor (arts. 2º e 3º, do CDC), decorrentes da relação jurídica contratual estabelecida entre seguradora e segurado, motivo pelo qual deve ser aplicado o regime jurídico disposto no citado diploma. Neste caso, eventual contratação dos serviços da SEBRASEG Clube de Benefícios LTDA poderia e deveria ter sido provado mediante juntada pela requerida, de cópia assinada do contrato firmado. DO MÉRITO No âmbito do ônus da prova, cabe a parte autora a prova do fato constitutivo de seu direito (art.373, I do CPC), e a requerida de qualquer fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito daquela, consoante dispõe o art. 373, II do NCPC. Neste contexto, tenho que a demandante se desincumbiu do ônus que lhe cabia, porquanto comprovou por meio do extrato colacionado o desconto mensal no importe de R$ 59,90 (cinquenta e nove reais e noventa centavos). Além do mais, que tais descontos se deram em sua conta aberta junto ao BRADESCO e em benefício de CLUBE SEBRASEG. Por outro lado, a parte requerida não demonstra nada que pudesse contradizer o alegado na exordial, pelo contrário, apenas refutam genericamente o direito ao qual se funda a ação. Ademais, ao contrário do alegado em sede de contestação, a requerida não apresentou qualquer documentação digitalizada que comprove a adesão da autora ao contrato objeto da presente demanda. Assim sendo, de rigor que seja declarada a inexistência da relação jurídica entre as partes. Sobre o pedido de restituição em dobro, o Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu art. 42, parágrafo único, que o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, ou seja, restituição do valor exigido, em dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Desse dispositivo, extrai-se que para configuração da sanção por repetição do indébito são necessários cumulativamente: 1) cobrança indevida, 2) pagamento em excesso e 3) inexistência de engano justificável. A propósito: Ementa: QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000002-60.2022.8.17.2940 COMARCA:VARA ÚNICA DA COMARCA DE MARAIAL APELANTE/APELADO:BANCO BRADESCO S.A. APELADO/APELANTE: JOSÉ EDSON DE ALBUQUERQUE RELATOR:DES. AGENOR FERREIRA DE LIMA FILHO EMENTA: DIREITODO CONSUMIDOR– APELAÇÃO CÍVEL DO RÉU – APELAÇÃO ADESIVA DO AUTOR – Ação Declaratória de Inexistência de Débito c/c Indenização com Pedido de Tutela de Urgência Antecipada –CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO– NÃO JUNTADO PELO APELANTE – OFENSA AO PRINCÍPIODA BOA-FÉ CONTRATUAL E DO DIREITO DE INFORMAÇÃO – MÁ-FÉ DO BANCO RÉU - DEVOLUÇÃO EM DOBRO DE QUANTIAS DEDUZIDAS DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR - DANOS MORAIS CONFIGURADOS – “QUANTUM” INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS) – RECURSO IMPROVIDO – RECURSO DO RÉU IMPROVIDO – RECURSO ADESIVO DO AUTOR PROVIDO. 1. Demanda em que se questiona a validade de contrato de cartão de crédito consignado que supostamente justifica os descontos mensais feitos pela instituição financeira Ré nos proventos de aposentadoria do Demandante. 2. Banco limitou-se a afirmar que a contratação ocorreu, mas sem trazer aos autos o instrumento contratual que teria originado a dívida em debate, não comprovando, portanto, ter havido contratação válida. 3. Ausente comprovação de ter sido o empréstimo realmente contratado, deve-se manter a declaração da nulidade da avença. 4. Restou demonstrado, no bojo da documentação que instruiu o feito, que o Banco Réu efetuou descontos no benefício previdenciário do Autor, a título da avença que ora se desconstitui. Por isso, presente a má-fé do Banco Réu, deve haver a restituição em dobro dos valores indevidamente descontados. Incidência de correção monetária pela Tabela ENCOGE e incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos a partir da data de cada desconto realizado em excesso 5. Abalo na honra e na integridade psicológica do autor, que se viu privado de parte dos rendimentos necessários à sua subsistência, sofrendo descontos em seu contracheque sem que ao menos tivesse a perspectiva de quitar integralmente a dívida erroneamente contraída junto à instituição financeira ré. Indenização por danos morais fixada em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), montante que se mostra idôneo a corretamente compensar as aflições de tal fato decorridas e, ao mesmo tempo, servir à função dissuasora do instituto. O referido valor indenizatório deve ser corrigido pela Tabela ENCOGE e, nele, devem incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos a partir da data do arbitramento. 6. Recurso do Réu improvido. 7. Apelação adesiva do autor provida. 8. Mantida a distribuição dos ônus da sucumbência fixada em sede de sentença e, em observância ao disposto no art. 85 , § 11º , do CPC , fixado no percentual de 15% da condenação o valor devido a título de honorários advocatícios. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos o presente recurso, acordam os Excelentíssimos Desembargadores integrantes da QUINTA CÂMARA CÍVEL deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por maioria de votos, negar provimento à apelação do Réu e dar provimento ao apelo adesivo do Autor, para modificar a sentença no sentido de condenar a instituição financeira à restituição em dobro dos valores deduzidos do benefício previdenciário do Demandante, bem como a indenizá-lo, a título de danos morais, no valor de R$5.000,00, tudo nos termos do voto do Relator e, se houver, Notas Taquigráficas, que passam a fazer parte integrante do presente aresto, vencidos os desembargadores Luiz Gustavo e Sílvio Neves . Recife, data registrada no sistema. Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Relator ME. (Data de julgamento 29/04/2024. Publicado em 29/04/2024 ) (grifo meu) In casu, não restam dúvidas de que o autor pagou indevidamente a quantia mensal de R$ 59,90 (cinquenta e nove reais e noventa centavos), estes descontados pelo BRADESCO em favor de SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA. Ademais, seguindo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça quanto a necessidade de comprovação da má-fé daquele que cobra, verifico-a na espécie, pelo fato do próprio desconto indevido, sem qualquer suporte contratual que o justificasse. Frise-se, uma vez mais, que a requerida SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA não apresentou qualquer documento que pudesse minimamente evidenciar que houve a contratação do seguro. Assim, inequívoca a má-fé da requerida. Acerca do pedido de DANOS MORAIS, tenho que este também procede. Isso porque, em casos de descontos indevidos, sobretudo quando estes se dão nos proventos de aposentadoria, verba que possui caráter alimentar, resta nítida a violação aos direitos da personalidade, compreendidos estes como o conjunto de atributos jurídicos emanados do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CF). Nesse sentido é a jurisprudência do TJPE: Ementa: QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N.º 01597-39.2022.8.17.3120 COMARCA: 2ª Vara da Comarca de Petrolândia APELANTE: BANCO C6 CONSIGNADO S.A APELADO: DAMIAO QUINTINO SILVA RELATOR: Des. Agenor Ferreira de Lima Filho EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE DESCONSTITUIÇÃO DE EMPRÉSTIMOS – ALEGAÇÃO DE NÃO CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO - BANCO RÉU QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE COMPROVAR A REGULARIDADE NA CONTRATAÇÃO - DESCONTOS INDEVIDOS EM PROVENTOS - RESTITUIÇÃO EM DOBRO - INEXISTÊNCIA DE ENGANO JUSTIFICÁVEL - DANO MORAL CONFIGURADO - FIXAÇÃO EM R$5.000,00 - VALOR RAZOÁVEL - APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. Por ser fato extintivo do direito do autor (art. 373 , II , do CPC ), cabe ao Réu comprovar a legalidade e o amparo contratual dos descontos realizados nos proventos do Autor, o que não ocorreu no caso em epígrafe. 2. Restou efetivamente demonstrado nos autos que os descontos reclamados têm origem em contratação irregular de empréstimo consignado, sem a iniciativa da parte autora de aderi-lo. 3. Cabível a devolução em dobro, nos termos do parágrafo único , do art. 42 , do CDC , eis que, na hipótese, não foi alegada nem demonstrada a ocorrência de engano justificável. 4. Deve ser condenada a instituição financeira ao pagamento de indenização pelos prejuízos morais suportados pelo autor, estando a quantia de R$5.000,00 (oito mil reais) dentro dos padrões da razoabilidade e da proporcionalidade. 5. Recurso improvido. A C Ó R D Ã O Visto, discutido e votado este recurso, ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores integrantes da QUINTA Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por unanimidade de votos, em negar provimento à presente Apelação Cível, tudo nos termos dos votos e notas taquigráficas em anexos, caso estas últimas sejam juntadas aos autos. Recife, data registrada no sistema. Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Relator(Data de julgamento 16/02/2024. Publicado em 16/02/2024) (grifo meu) A fixação dos danos morais deve ser suficientemente expressiva para compensar a parte autora pelo sofrimento ou tristeza e penalizar o causador do dano, levando em conta ainda a intensidade da culpa e a capacidade econômica do envolvido. Ademais, deve-se observar o método bifásico para a fixação dos danos morais, conforme jurisprudência do STJ, visto ser este o que melhor atende às exigências de um arbitramento equitativo da indenização por danos extrapatrimoniais, uma vez que minimiza eventual arbitrariedade ao se adotar critérios unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual tarifação do dano. Nesse sentido, em uma primeira etapa se estabelece um valor básico para a indenização, com base no interesse jurídico lesado analisado com base em um conjunto de precedentes jurisprudenciais de casos análogos. Após, em um segundo momento, devem ser analisadas as circunstâncias do caso concreto para a fixação de um valor definitivo. No caso dos autos, entendo como razoável e proporcional a fixação de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) a título de indenização por danos morais. DISPOSITIVO Diante do exposto e por tudo mais que dos autos consta, com fulcro no art. 487, I do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO formulado na inicial para: a) CONDENAR a parte requerida a restituição em dobro dos valores indevidamente descontados, a serem apurados em fase de liquidação de sentença, com correção monetária pelo índice ENCOGE, contado a partir da data de cada desconto indevido, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, incidentes desde a data da citação. b) CONDENAR a parte requerida, ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) corrigidos monetariamente pelo índice ENCOGE a contar do arbitramento, acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da data da citação. Condeno a parte requerida ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre valor da condenação. Registre-se, ainda, o teor do enunciado 326 da Súmula do STJ: "Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca." Intimem-se. Transitada em julgado, e decorrido o prazo de 10 (dez) dias, sem a quitação das custas pela parte devedora, informe-se ao Comitê de Arrecadação via e-mail, conforme as disposições da nova Lei de Custas. Ressalte-se que o e-mail deve ser juntado aos autos antes do arquivamento. Após, arquive-se. Ipubi/PE, datado e assinado eletronicamente. Marcelo Thiago Guzovsky Juiz Substituto

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Processo nº 0001093-72.2023.8.17.2740

ID: 256602515

Tribunal: TJPE Órgão: Vara Única da Comarca de Ipubi Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0001093-72.2023.8.17.2740

Data de Disponibilização: 15/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

SEBRASEG CLUBE DE BENEFICIOS

Despacho_Intimação_Intimação (Outros)

Advogados:

LEANDRO CHRISTOVAM DE OLIVEIRA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

ANTONIO JOSE PEREIRA LEANDRO JUNIOR

OAB/PE XXXXXX Desbloquear

Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Vara Única da Comarca de Ipubi PÇ SIQUEIRA CAMPOS, S/N, Forum Heli Leitão de Melo, Centro, IPUBI - PE - CEP: 56260-000 - F:(87) 38812965 Processo nº… Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Vara Única da Comarca de Ipubi PÇ SIQUEIRA CAMPOS, S/N, Forum Heli Leitão de Melo, Centro, IPUBI - PE - CEP: 56260-000 - F:(87) 38812965 Processo nº 0001093-72.2023.8.17.2740 AUTOR(A): ANTONIA PEREIRA DA SILVA RÉU: SEBRASEG CLUBE DE BENEFICIOS SENTENÇA I – RELATÓRIO Trata-se de Ação Declaratória de Inexistência de Relação Jurídica c/c Reparação por Danos Morais e Materiais e Pedido de Tutela de Urgência, proposta por ANTONIA PEREIRA DA SILVA em face do SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA. Consta na inicial em síntese, que a requerente se deu conta que está sendo descontado mensalmente de seu benefício, pela empresa Clube SEBRASEG, o valor de R$ 59,90. Reafirma não ter vínculos de qualquer espécie com a instituição supracitada. Requereu inversão do ônus da prova, que seja declarado nulo o suposto negócio jurídico, condenando a requerida a restituir em dobro o valor cobrado indevidamente e danos morais. Com a inicial vieram os documentos da autora e extrato bancário do BRADESCO comprovando o desconto (ID 149347072). Indeferida a tutela de urgência e deferida a Justiça Gratuita para autora. (ID 174579677) A parte requerida apresentou contestação nos autos para em síntese asseverar preliminarmente inépcia da petição inicial, ausência de interesse de agir e impugnação a justiça gratuita. No mérito requer que seja extinta a ação sem resolução do mérito, alega indícios de possível ação predatória; em caso de procedência da ação requer que seja afastada a aplicação do Código de Defesa do Consumidor; julgado improcedente o pedido da parte autora em relação a inversão do ônus da prova; que o pedido de restituição do valor em dobro não prospere e comunica que de boa-fé, efetuou o cancelamento do contrato. (ID 186576031) Réplica juntada aos autos. (ID 187149422) Intimadas as partes para apresentarem as demais provas que pretendessem produzir, a autora informou que tendo em vista que a parte requerida não apresentou o contrato, requer o julgamento antecipado da lide (ID 188223584); por sua vez, a requerida deixou decorrer o prazo, sem manifestação (ID 190120864). Vieram-me os autos conclusos. É a síntese do relatório. Decido. II FUNDAMENTAÇÃO No que concerne à arguição de falta de interesse de agir, por não haver a parte tentado acordo extrajudicial de conciliação, rejeito tal alegação em nome do direito de acesso à Justiça pela inafastabilidade. Ainda, inexiste inépcia. Sobre a alegação de indícios de demandas predatórias, não vislumbro no caso, provas suficientes a comprovar a inexistência de lide real e o abuso do direito de ação. Quanto à impugnação a concessão do benefício de gratuidade judiciária concedido a autora, de logo rejeito a preliminar. Com efeito, o art. 99, § 3º, do CPC dispõe que se presume verdadeira a alegação de hipossuficiência para arcar com as custas processuais deduzida por pessoa natural. Vale dizer que tal presunção é relativa, ou seja, além de estar em conformidade com as demais provas acostadas aos autos, a gratuidade de justiça pode ser impugnada pela parte adversária, sendo desta o ônus de comprovar o descabimento da benesse no caso concreto. No caso em tela, a parte autora juntou declaração de hipossuficiência e não há nos autos outras provas que de alguma forma maculem tal declaração. Por sua vez, a parte requerida, em sua impugnação, limitou-se a requerer o afastamento do benefício da gratuidade citando genericamente, assim, não vislumbro motivo idôneo para revogar a gratuidade outrora concedida, motivo pelo qual afasto a preliminar levantada. O feito encontra-se maduro para julgamento antecipado, nos moldes do art. 355, inciso I, do CPC, já que a matéria é unicamente de direito e não demanda maior dilação probatória. No caso vertente, inexiste dúvida de que são aplicáveis as regras insculpidas no Código de Defesa do Consumidor (arts. 2º e 3º, do CDC), decorrentes da relação jurídica contratual estabelecida entre seguradora e segurado, motivo pelo qual deve ser aplicado o regime jurídico disposto no citado diploma. Neste caso, eventual contratação dos serviços da SEBRASEG Clube de Benefícios LTDA poderia e deveria ter sido provado mediante juntada pela requerida, de cópia assinada do contrato firmado. DO MÉRITO No âmbito do ônus da prova, cabe a parte autora a prova do fato constitutivo de seu direito (art.373, I do CPC), e a requerida de qualquer fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito daquela, consoante dispõe o art. 373, II do NCPC. Neste contexto, tenho que a demandante se desincumbiu do ônus que lhe cabia, porquanto comprovou por meio do extrato colacionado o desconto mensal no importe de R$ 59,90 (cinquenta e nove reais e noventa centavos). Além do mais, que tais descontos se deram em sua conta aberta junto ao BRADESCO e em benefício de CLUBE SEBRASEG. Por outro lado, a parte requerida não demonstra nada que pudesse contradizer o alegado na exordial, pelo contrário, apenas refutam genericamente o direito ao qual se funda a ação. Ademais, ao contrário do alegado em sede de contestação, a requerida não apresentou qualquer documentação digitalizada que comprove a adesão da autora ao contrato objeto da presente demanda. Assim sendo, de rigor que seja declarada a inexistência da relação jurídica entre as partes. Sobre o pedido de restituição em dobro, o Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu art. 42, parágrafo único, que o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, ou seja, restituição do valor exigido, em dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Desse dispositivo, extrai-se que para configuração da sanção por repetição do indébito são necessários cumulativamente: 1) cobrança indevida, 2) pagamento em excesso e 3) inexistência de engano justificável. A propósito: Ementa: QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000002-60.2022.8.17.2940 COMARCA:VARA ÚNICA DA COMARCA DE MARAIAL APELANTE/APELADO:BANCO BRADESCO S.A. APELADO/APELANTE: JOSÉ EDSON DE ALBUQUERQUE RELATOR:DES. AGENOR FERREIRA DE LIMA FILHO EMENTA: DIREITODO CONSUMIDOR– APELAÇÃO CÍVEL DO RÉU – APELAÇÃO ADESIVA DO AUTOR – Ação Declaratória de Inexistência de Débito c/c Indenização com Pedido de Tutela de Urgência Antecipada –CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO– NÃO JUNTADO PELO APELANTE – OFENSA AO PRINCÍPIODA BOA-FÉ CONTRATUAL E DO DIREITO DE INFORMAÇÃO – MÁ-FÉ DO BANCO RÉU - DEVOLUÇÃO EM DOBRO DE QUANTIAS DEDUZIDAS DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR - DANOS MORAIS CONFIGURADOS – “QUANTUM” INDENIZATÓRIO FIXADO EM R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS) – RECURSO IMPROVIDO – RECURSO DO RÉU IMPROVIDO – RECURSO ADESIVO DO AUTOR PROVIDO. 1. Demanda em que se questiona a validade de contrato de cartão de crédito consignado que supostamente justifica os descontos mensais feitos pela instituição financeira Ré nos proventos de aposentadoria do Demandante. 2. Banco limitou-se a afirmar que a contratação ocorreu, mas sem trazer aos autos o instrumento contratual que teria originado a dívida em debate, não comprovando, portanto, ter havido contratação válida. 3. Ausente comprovação de ter sido o empréstimo realmente contratado, deve-se manter a declaração da nulidade da avença. 4. Restou demonstrado, no bojo da documentação que instruiu o feito, que o Banco Réu efetuou descontos no benefício previdenciário do Autor, a título da avença que ora se desconstitui. Por isso, presente a má-fé do Banco Réu, deve haver a restituição em dobro dos valores indevidamente descontados. Incidência de correção monetária pela Tabela ENCOGE e incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos a partir da data de cada desconto realizado em excesso 5. Abalo na honra e na integridade psicológica do autor, que se viu privado de parte dos rendimentos necessários à sua subsistência, sofrendo descontos em seu contracheque sem que ao menos tivesse a perspectiva de quitar integralmente a dívida erroneamente contraída junto à instituição financeira ré. Indenização por danos morais fixada em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), montante que se mostra idôneo a corretamente compensar as aflições de tal fato decorridas e, ao mesmo tempo, servir à função dissuasora do instituto. O referido valor indenizatório deve ser corrigido pela Tabela ENCOGE e, nele, devem incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, ambos a partir da data do arbitramento. 6. Recurso do Réu improvido. 7. Apelação adesiva do autor provida. 8. Mantida a distribuição dos ônus da sucumbência fixada em sede de sentença e, em observância ao disposto no art. 85 , § 11º , do CPC , fixado no percentual de 15% da condenação o valor devido a título de honorários advocatícios. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos o presente recurso, acordam os Excelentíssimos Desembargadores integrantes da QUINTA CÂMARA CÍVEL deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por maioria de votos, negar provimento à apelação do Réu e dar provimento ao apelo adesivo do Autor, para modificar a sentença no sentido de condenar a instituição financeira à restituição em dobro dos valores deduzidos do benefício previdenciário do Demandante, bem como a indenizá-lo, a título de danos morais, no valor de R$5.000,00, tudo nos termos do voto do Relator e, se houver, Notas Taquigráficas, que passam a fazer parte integrante do presente aresto, vencidos os desembargadores Luiz Gustavo e Sílvio Neves . Recife, data registrada no sistema. Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Relator ME. (Data de julgamento 29/04/2024. Publicado em 29/04/2024 ) (grifo meu) In casu, não restam dúvidas de que o autor pagou indevidamente a quantia mensal de R$ 59,90 (cinquenta e nove reais e noventa centavos), estes descontados pelo BRADESCO em favor de SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA. Ademais, seguindo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça quanto a necessidade de comprovação da má-fé daquele que cobra, verifico-a na espécie, pelo fato do próprio desconto indevido, sem qualquer suporte contratual que o justificasse. Frise-se, uma vez mais, que a requerida SEBRASEG CLUBE DE BENEFÍCIOS LTDA não apresentou qualquer documento que pudesse minimamente evidenciar que houve a contratação do seguro. Assim, inequívoca a má-fé da requerida. Acerca do pedido de DANOS MORAIS, tenho que este também procede. Isso porque, em casos de descontos indevidos, sobretudo quando estes se dão nos proventos de aposentadoria, verba que possui caráter alimentar, resta nítida a violação aos direitos da personalidade, compreendidos estes como o conjunto de atributos jurídicos emanados do princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CF). Nesse sentido é a jurisprudência do TJPE: Ementa: QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N.º 01597-39.2022.8.17.3120 COMARCA: 2ª Vara da Comarca de Petrolândia APELANTE: BANCO C6 CONSIGNADO S.A APELADO: DAMIAO QUINTINO SILVA RELATOR: Des. Agenor Ferreira de Lima Filho EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE DESCONSTITUIÇÃO DE EMPRÉSTIMOS – ALEGAÇÃO DE NÃO CONTRATAÇÃO DO EMPRÉSTIMO - BANCO RÉU QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE COMPROVAR A REGULARIDADE NA CONTRATAÇÃO - DESCONTOS INDEVIDOS EM PROVENTOS - RESTITUIÇÃO EM DOBRO - INEXISTÊNCIA DE ENGANO JUSTIFICÁVEL - DANO MORAL CONFIGURADO - FIXAÇÃO EM R$5.000,00 - VALOR RAZOÁVEL - APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. Por ser fato extintivo do direito do autor (art. 373 , II , do CPC ), cabe ao Réu comprovar a legalidade e o amparo contratual dos descontos realizados nos proventos do Autor, o que não ocorreu no caso em epígrafe. 2. Restou efetivamente demonstrado nos autos que os descontos reclamados têm origem em contratação irregular de empréstimo consignado, sem a iniciativa da parte autora de aderi-lo. 3. Cabível a devolução em dobro, nos termos do parágrafo único , do art. 42 , do CDC , eis que, na hipótese, não foi alegada nem demonstrada a ocorrência de engano justificável. 4. Deve ser condenada a instituição financeira ao pagamento de indenização pelos prejuízos morais suportados pelo autor, estando a quantia de R$5.000,00 (oito mil reais) dentro dos padrões da razoabilidade e da proporcionalidade. 5. Recurso improvido. A C Ó R D Ã O Visto, discutido e votado este recurso, ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores integrantes da QUINTA Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, por unanimidade de votos, em negar provimento à presente Apelação Cível, tudo nos termos dos votos e notas taquigráficas em anexos, caso estas últimas sejam juntadas aos autos. Recife, data registrada no sistema. Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Relator(Data de julgamento 16/02/2024. Publicado em 16/02/2024) (grifo meu) A fixação dos danos morais deve ser suficientemente expressiva para compensar a parte autora pelo sofrimento ou tristeza e penalizar o causador do dano, levando em conta ainda a intensidade da culpa e a capacidade econômica do envolvido. Ademais, deve-se observar o método bifásico para a fixação dos danos morais, conforme jurisprudência do STJ, visto ser este o que melhor atende às exigências de um arbitramento equitativo da indenização por danos extrapatrimoniais, uma vez que minimiza eventual arbitrariedade ao se adotar critérios unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual tarifação do dano. Nesse sentido, em uma primeira etapa se estabelece um valor básico para a indenização, com base no interesse jurídico lesado analisado com base em um conjunto de precedentes jurisprudenciais de casos análogos. Após, em um segundo momento, devem ser analisadas as circunstâncias do caso concreto para a fixação de um valor definitivo. No caso dos autos, entendo como razoável e proporcional a fixação de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) a título de indenização por danos morais. DISPOSITIVO Diante do exposto e por tudo mais que dos autos consta, com fulcro no art. 487, I do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO formulado na inicial para: a) CONDENAR a parte requerida a restituição em dobro dos valores indevidamente descontados, a serem apurados em fase de liquidação de sentença, com correção monetária pelo índice ENCOGE, contado a partir da data de cada desconto indevido, acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, incidentes desde a data da citação. b) CONDENAR a parte requerida, ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$1.500,00 (mil e quinhentos reais) corrigidos monetariamente pelo índice ENCOGE a contar do arbitramento, acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a partir da data da citação. Condeno a parte requerida ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre valor da condenação. Registre-se, ainda, o teor do enunciado 326 da Súmula do STJ: "Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca." Intimem-se. Transitada em julgado, e decorrido o prazo de 10 (dez) dias, sem a quitação das custas pela parte devedora, informe-se ao Comitê de Arrecadação via e-mail, conforme as disposições da nova Lei de Custas. Ressalte-se que o e-mail deve ser juntado aos autos antes do arquivamento. Após, arquive-se. Ipubi/PE, datado e assinado eletronicamente. Marcelo Thiago Guzovsky Juiz Substituto

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Linhas De Taubaté Transmissora De Energia Ltda x Avelino José Bittencourt e outros

ID: 256314600

Tribunal: TJRJ Órgão: Comarca de Paracambi- Cartório da Vara Única Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0000655-93.2013.8.19.0039

Data de Disponibilização: 14/04/2025

Polo Ativo:

LINHAS DE TAUBATÉ TRANSMISSORA DE ENERGIA LTDA

Polo Passivo:

AVELINO JOSÉ BITTENCOURT VÂNIA RITA ELIAS PINHEIRO BITTENCOURT

Sentença

Advogados:

GILSON VICENTE MORAES

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MAURÍCIO RAPHAEL DA COSTA PEREIRA

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

VIVIAN TOPAL

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1- RELATÓRIO: /r/n /r/nTrata-se de AÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA ajuizada por LINHAS DE TAUBATÉ TRANSMISSORA DE ENERGIA LTDA LINHAS DE TAUBATÉ TRANSMISSORA DE ENERGIA LTDA em face d… 1- RELATÓRIO: /r/n /r/nTrata-se de AÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA ajuizada por LINHAS DE TAUBATÉ TRANSMISSORA DE ENERGIA LTDA LINHAS DE TAUBATÉ TRANSMISSORA DE ENERGIA LTDA em face de AVELINO JOSÉ BITTENCOURT e VÂNIA RITA ELIAS PINHEIRO BITTENCOURT, proprietários do imóvel identificado como Fazenda das Canoas, sito a Estrada da Floresta, 5.993, Paracambi, RJ. As medidas que serão objeto da desapropriação correspondem a uma faixa de 158 metros de extensão e 60 metros de largura, necessária para a implantação da linha de transmissão de energia elétrica. /r/n /r/nA autora alegou, em síntese, que foi vencedora de um certame licitatório para a construção e implantação de circuitos elétricos, incluindo a linha de transmissão Taubaté - Nova Iguaçu, que se estende por aproximadamente 247 km. Para a execução do projeto, é necessária a constituição de servidão administrativa sobre uma faixa de terra de 60 metros de largura. /r/n /r/nTal ação se fundamenta na necessidade de atender ao plano emergencial do setor elétrico brasileiro, regulamentado pela ANEEL. A autora argumenta que a servidão é essencial para a implementação das instalações de transmissão e que a urgência se deve à necessidade de iniciar as obras para garantir o fornecimento de energia elétrica. /r/nAssim requer, a concessão da servidão administrativa sobre a área necessária para a passagem da linha de transmissão. A imissão provisória na posse da área, sem a necessidade de citação prévia dos réus, devido à urgência da situação. O depósito do valor de R$ 3.405,41 como indenização pela servidão. Ao final, seja julgado procedente o pedido de constituição da servidão administrativa, fixando-se o valor da indenização, tornando definitiva a imissão provisória. /r/n /r/nContestação nas fls. 246/251, requerendo que seja majorado o valor apontado na perícia do juízo, afirmando que a proposta de indenização é irrisória e desproporcional. /r/n /r/nDecisão às fls. 274/277 indeferindo a imissão provisória, bem como nomeando perito. /r/n /r/nLaudo pericial prévio às fls. 88/114, fixando o valor da indenização no total de R$ 9.466,00. /r/n /r/nAs partes impugnaram o laudo pericial, o autor às fls. 623/627 e os réus às fls. 633/639. /r/n /r/nMandado de imissão na posse às fls. 647, com auto de imissão às fls 655. /r/n /r/nInstados a se manifestarem se tem outras provas a produzirem, o réu requereu nova perícia às fls. 684, já o autor não se manifestou. /r/n /r/nResposta do perito à impugnação nas fls. 698/699. /r/n /r/nNova impugnação ao laudo pericial pelo autor às fls. 702/710. /r/n /r/nEsclarecimentos do perito quanto a impugnação às fls. 715/718. /r/n /r/nAs partes se manifestaram quanto aos esclarecimentos, a parte autora às fls. 719/723, o réu ás fls. 724. /r/n /r/nEm alegações finais somente o autor se manifestou às fls. 784/789. /r/n /r/nVieram os autos conclusos ao grupo de sentença. /r/n /r/nÉ o breve relatório. Passo a decidir. /r/n /r/n2-FUNDAMENTAÇÃO /r/n /r/nO feito está maduro para julgamento, uma vez que não há necessidade da produção de outras provas. Assim, presente a hipótese do art. 355, I, do CPC, promovo o julgamento antecipado do pedido. /r/n /r/nA servidão administrativa é tida como o direito real de gozo de natureza pública instituído sobre imóvel de propriedade alheia com base em lei por entidade pública ou por seus delegados em face de um serviço público ou de um bem afetado a fim de utilidade pública. /r/n /r/nNas lições de Hely Lopes de Meirelles: servidão administrativa ou pública é o ônus real de uso imposto pela Administração à propriedade particular para assegurar a realização e conservação de obras e serviços públicos ou de utilidade pública, mediante indenização dos prejuízos efetivamente suportados pelo proprietário. (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 31ª ed. atual. por Eurico de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo, José Emmanuel Burle Filho. São Paulo: Malheiros, 2005.) /r/n /r/nNos termos do artigo 5º, inciso XXIV, da CRFB/88, XXIV a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição . /r/n /r/nAssim sendo, a desapropriação por utilidade pública deverá ser precedida de justa indenização, em dinheiro, entendendo-se que, no caso da servidão administrativa, deverá recair sobre a limitação ao uso da propriedade, sendo certo que o valor apurado pelo perito atende a este parâmetro. /r/n /r/nO laudo pericial se revela bem fundamentado, demonstrando o método adotado e a pesquisa de valores que norteou a avaliação, tendo sido prestados, ainda, os esclarecimentos a todas as críticas apontadas pelo assistente técnico da parte Autora, com a conclusão de que o valo da indenização corresponde a R$ 9466,00. /r/n /r/nVê-se, pois, que não se trata de números desprovidos de fundamento, e as críticas contra ele lançadas foram todas esclarecidas e justificadas. /r/n /r/nNesse sentido: /r/n /r/nApelação Cível. Administrativo. Servidão administrativa. Restrição ao uso da propriedade. Produção de dois laudos periciais. Indenização consoante o segundo laudo pericial. Sentença de procedência em parte. Apelo da parte ré. Agravo retido da demandada não reproduzido em sede de apelação. Negativa de conhecimento ao mesmo. Imóvel que não vem sendo utilizado para fins turísticos ou de lazer. Inexistência de lucros cessantes ou de danos emergentes a este título. Necessidade de comprovação objetiva, e não de forma hipotética. Alegação de atividades que poderiam, mas que não vem sendo desenvolvidas pela demandada que não podem ser valoradas nem acolhidas. Redução da liquidez do imóvel no mercado imobiliário rural. Obrigação que recairá sobre atual proprietário e eventual comprador de tolerar o ingresso de prepostos da parte ré, com vistas à manutenção e reparo das torres de transmissão, e linhas de alta tensão. Indenização por esta depreciação (perda da competitividade do imóvel) que é fixada com utilização dos elementos constantes dos laudos periciais. Negativa de conhecimento ao recurso de agravo retido. Provimento parcial do apelo. (TJRJ, Apelação Cível nº 0000820-91.2010.8.19.0057, Rel. Des. PEDRO FREIRE RAGUENET, Julgamento: 17/07/2018, Vigésima Primeira Câmara Cível) /r/n /r/nAÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA COM PEDIDO DE IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE. CONSTRUÇÃO DE MINERODUTO (CORREDOR LOGÍSTICO DO AÇU). SENTENÇA PROFERIDA PARA JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO, CONFIRMANDO A IMISSÃO DO ESTADO NA POSSE DA ÁREA DESCRITA, INSTITUINDOSE A SERVIDÃO ADMINISTRATIVA, FIXANDO A INDENIZAÇÃO NA QUANTIA DE R$ 24.450,00, CONSOANTE LAUDO PERICIAL, OBSERVADO O VALOR DEPOSITADO QUANDO DA IMISSÃO PROVISÓRIA. APELAÇÕES DO AUTOR (ESTADO DO RIO DE JANEIRO) E DA ASSISTENTE (ANGLO FERROUS). 1. Controvérsia devolvida que se cinge ao laudo pericial de avaliação de imóvel sobre o qual foi instituída servidão administrativa. 2. Deixo de conhecer do agravo retido interposto pelo autor (Estado do Rio de Janeiro), porquanto não foi ratificado em sede de apelação, conforme dispunha o art. 523, §1º, do CPC/73, vigente à época da interposição do recurso. 3. Agravo retido interposto pela assistente simples que se rejeita, considerando que a homologação de laudo pericial por decisão interlocutória não trouxe prejuízo às partes, que tiveram diversas oportunidades de questionar as conclusões do perito, inclusive, em audiência, na presença de assistente técnico indicado pela empresa de mineração. 4. A sentença encontra-se suficientemente fundamentada e harmoniza-se com o ordenamento pátrio que regula a matéria, havendo valoração da prova e exposição dos motivos que formaram o convencimento do juiz, nos termos do artigo 479 c/c 371 do CPC/15, não havendo que se falar em nulidade. 5. As sucessivas impugnações e questionamentos tem por escopo o descontentamento com o valor aferido pelo perito, que supera a quantia que o Estado autor pretendia pagar, não sendo razoável que o feito, distribuído há nove anos, fique à mercê de intermináveis discussões, desacompanhadas de robustas evidências que infirmem a conclusão do laudo. 6. Incide, na espécie, a Súmula nº 155 deste TJRJ, segundo a qual o mero inconformismo com as conclusões da prova pericial, desacompanhado de fundamentação técnica, não autoriza sua repetição. . 7. Nos termos do artigo 5º, inciso XXIV, da CRFB/88, a desapropriação por utilidade pública deverá ser precedida de justa indenização, em dinheiro, entendendo-se que, no caso da servidão administrativa, deverá recair sobre a limitação ao uso da propriedade, sendo certo que o valor apurado pelo perito atende a este parâmetro, uma vez que calculado somente sobre a área gravada. 8. É cabível a incidência da correção monetária sobre a o valor inicialmente ofertado e depositado, de modo a evitar discrepâncias no cálculo da diferença a ser paga, eis que é parte integrante do montante devido. Precedentes: 0004169-69.2008.8.19.0026 - APELAÇÃO Des(a). CESAR FELIPE CURY - Julgamento: 18/05/2016 - DÉCIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL; 0000002-36.1975.8.19.0003 - APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO - Des(a). EDSON AGUIAR DE VASCONCELOS - Julgamento: 11/11/2015 - DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL. 9. Reparo, de ofício, na forma do verbete da Súmula nº 161 deste E. TJRJ, quanto aos juros moratórios, que deverão incidir a partir do trânsito em julgado, nos termos da Súmula nº 70 do STJ, afastando-se a aplicação do artigo 1º-F da Lei 9.494/97, como restou consignado na sentença, diante da existência de regramento próprio, consoante tese fixada no Recurso Especial Repetitivo nº 1.495.146/MG. 10. Agravo retido do autor (Estado do Rio de Janeiro) não conhecido e apelação por ele interposta desprovida, majorandose os honorários sucumbenciais, fixados em seu desfavor, para 6%, na forma do art. 85, §11, do CPC/15. Agravo da assistente simples (Anglo Ferrous) conhecido e desprovido e recurso de apelação por ela interposto parcialmente provido para determinar que incida correção monetária sobre a parcela inicialmente ofertada e depositada. Alteração, de ofício, do termo inicial dos juros moratórios para o trânsito em julgado da sentença, afastando-se a incidência do artigo 1º-F da Lei n° 9.494/97. (TJRJ, Apelação Cível nº 0010246-60.2009.8.19.0026, Rel. Des. MARIANNA FUX, Julgamento: 10/10/2018, Vigésima Quinta Câmara Cível) /r/n /r/nDIREITO ADMINISTRATIVO. PRETENDIDA INSTITUIÇÃO DE SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. IMÓVEL RURAL. PROJETO DE MINERAÇÃO. JUSTA INDENIZAÇÃO. Ação de instituição de servidão administrativa, com pedido cumulado de imissão na posse, mediante depósito no valor de R$31.255,72. Sentença de parcial procedência, que fixa o valor da justa indenização em R$41.100,00, consoante o laudo pericial realizado. Irresignação limitada a este valor. Laudo pericial efetuado com base em critérios técnicos previstos na legislação pertinente. Ausência de vícios no arbitramento da referida indenização. Manutenção da sentença. Negado provimento aos recursos. (TJRJ, Apelação Cível nº 0013032-77.2009.8.19.0026, Rel. Des. DENISE LEVY TREDLER, Julgamento: 20/02/2018, MARIANNA FUX, Julgamento: 10/10/2018, Vigésima Primeira Câmara Cível) /r/n /r/nA parte ré, embora tenha efetuado críticas ao laudo, não trouxe aos autos o valor que considerava como justo. Todos os questionamentos foram adequadamente examinados e respondidos pelo especialista do juízo, que entendeu por ratificar o laudo apresentado. /r/n /r/nA condição de imparcialidade e equidistância de que goza o perito designado pelo juízo contribuem, sobremaneira, para a formação de minha convicção, pois as informações contidas no laudo oficial não se prestam a favorecer nenhuma das partes envolvidas na lide, diferentemente do que acontece com os assistentes técnicos, que são indicados pelos litigantes para defender seus interesses. /r/n /r/nNeste sentido, cabe observar que o laudo pericial foi fruto de trabalho técnico acurado. Além da vistoria no local, efetuou o perito do Juízo método comparativo para avaliação da propriedade, calculando o valor da terra nua de acordo com pesquisa realizada no mercado em propriedades próximas e com similaridades ao imóvel avaliado, utilizando-se metodologia de trabalho com base em norma brasileira aprovada pela ABNT. /r/n /r/nEm que pese a impugnação da parte autora quanto ao valor apurado pelo perito, analisando o valor ofertado e o fixado na prova técnica percebe-se que a justa indenização está representada pelo valor apurado pelo perito em seu laudo pericial (R$ 9.466,00), o qual deve ser acolhido. /r/n /r/nDesse modo, não há que se falar em realização de nova perícia, ressaltando-se que a mera divergência de valores alcançados entre os laudos não configura causa hábil a se exigir a realização de nova perícia, incidindo, no caso concreto, a Súmula nº 155 do TJRJ, segundo a qual o mero inconformismo com as conclusões da prova pericial, desacompanhado de fundamentação técnica, não autoriza sua repetição. /r/n /r/nA forma de cálculo da indenização apresenta-se coerente e justa. Assim, a impugnação não merece prosperar, uma vez que se baseia exclusivamente em ponto de vista que melhor atende aos interesses da parte autora, não tendo esta logrado êxito em comprovar a incorreção do laudo pericial que demonstra solidez na fundamentação e elaboração técnica correta. /r/n /r/nAdemais, as questões técnicas que serviram de base para a impugnação da demandante foram devidamente respondidas e esclarecidas pelo expert. Efetivada a imissão na posse são devidos os juros compensatórios na forma definida pelo art. 15-A, do Decreto-lei n. 3.365/41. /r/n /r/n3- DISPOSITIVO: /r/n /r/nAnte ao exposto, resolvo o mérito, na forma do art. 487, I, do CPC e JULGO PROCEDENTE o pedido, nos termos do art. 27, §1º, do Decreto Lei 3.365/41, fixando o valor indenizatório em R$ 9.466,00 (Nove mil quatrocentos e sessenta e seis reais), tudo devidamente atualizado, a contar da ocupação (21/08/2014, conforme fls. 655), na forma definida pelo art. 15-A, do Decreto-lei 3.365/41, devendo a diferença ser depositada pela parte autora. /r/n /r/nCondeno o expropriante nas custas e honorários advocatícios, fixados estes em 5% sobre a diferença entre o valor da indenização oferecido e o valor fixado (art. 27, §1º, do Decreto Lei nº 3.365/41). /r/n /r/nNa hipótese de interposição de apelação, tendo em vista a nova sistemática estabelecida pelo CPC - que extinguiu o juízo de admissibilidade a ser exercido pelo Juízo a quo (art. 1.010 do CPC)-, sem nova conclusão, intime-se a parte contrária para que ofereça resposta no prazo de 15 (quinze) dias. Havendo recurso adesivo, também deve ser intimada a parte contrária para oferecer contrarrazões. Após, remetam-se os autos à superior instância. /r/n /r/nTransitada em julgado, nada sendo requerido no prazo de 5 (cinco) dias, dê-se baixa e arquive-se. /r/n /r/nFicam as partes intimadas de que, após o trânsito em julgado, nada sendo requerido, os autos serão baixados e remetidos à Central ou Núcleo de Arquivamento, nos termos do artigo 207 da CNCGJ. /r/n /r/nRegistrada eletronicamente. Publique-se e intimem-se, com as cautelas do art. 207 do CNCGJ, inclusive.

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Fabio De Souza Justino e outros x Oi S.A. - Em Recuperacao Judicial e outros

ID: 332685478

Tribunal: TRT12 Órgão: 5ª Turma Classe: RECURSO ORDINáRIO TRABALHISTA Nº Processo: 0001028-24.2023.5.12.0006

Data de Disponibilização: 23/07/2025

Polo Ativo:

FABIO DE SOUZA JUSTINO OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL RAFAEL LUIZ ORLANDI RODRIGO DE SOUZA MARCOS

Polo Passivo:

OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL RAFAEL LUIZ ORLANDI SEREDE - SERVICOS DE REDE S.A.

Acórdão

Advogados:

ANA CAROLINA VAZ

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SANDRA HELENA QUEIROZ SILVA

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DIEGO RODRIGUES DA SILVA

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MICHELLE MEOTTI TENTARDINI

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

RODRIGO LINNE NETO

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

RAFAEL GEORGE PALUDO BLEYER

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TELMA ELIZE MIOTO ANDRIOLI

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

ROBERTA REZENDE SPENNER CORREA

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HENRIQUE CUSINATO HERMANN

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FLAVIO DA SILVA CANDEMIL

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO 5ª TURMA Relatora: KAREM MIRIAN DIDONE ROT 0001028-24.2023.5.12.0006 RECORRENTE: RAFAEL LUIZ ORLANDI E OUTROS (1… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO 5ª TURMA Relatora: KAREM MIRIAN DIDONE ROT 0001028-24.2023.5.12.0006 RECORRENTE: RAFAEL LUIZ ORLANDI E OUTROS (1) RECORRIDO: RAFAEL LUIZ ORLANDI E OUTROS (2) PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO PROCESSO nº 0001028-24.2023.5.12.0006 (ROT) RECORRENTE: RAFAEL LUIZ ORLANDI, OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL RECORRIDO: RAFAEL LUIZ ORLANDI, SEREDE - SERVICOS DE REDE S.A., OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL RELATOR: KAREM MIRIAN DIDONE EMBARGOS DECLARATÓRIOS. REJEIÇÃO. Ausentes os alegados vícios da decisão, impõe-se a rejeição dos embargos declaratórios. RELATÓRIO O autor opõe embargos de declaração apontando a existência de omissão no julgado e para fins de prequestionamento. É o relatório FUNDAMENTAÇÃO Conheço dos embargos de declaração do autor, porque atendidos os pressupostos legais de admissibilidade. MÉRITO 1 OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO AOS VALORES INDICADOS NA INICIAL O autor sustenta que ao apreciar o recurso quanto à limitação da condenação aos valores indicados na exordial, esta Turma não se manifestou sobre a possibilidade de indicação de pedido genérico nos termos do art. 324, §1º, I e II, do CPC. Sem razão. Consta expressamente no acórdão que "o presente caso não se trata de uma ação universal e era possível determinar desde logo as consequências dos atos relacionados com os pedidos do autor (diferenças da remuneração variável, da PLR e das despesas com veículo próprio, pagamento do auxílio-alimentação e de horas extras), sendo inaplicáveis as exceções que autorizam a apresentação de pedido genérico previstas no art. 324, §1º, I e II, do CPC" (fl. 1732, grifei). Rejeito. 2 OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO. PLR O autor aponta a existência de omissão quanto ao fato de que é incontroversa a instituição da PLR, tendo a ré se limitado a alegar que havia o correto pagamento da parcela, bem como que era ônus da empresa comprová-lo por força do art. 818, II, da CLT, de sorte que a ausência de prova a respeito implica em sua confissão. A esse respeito, consta no acórdão (fls. 1727-1728): A fim de comprovar o seu correto pagamento, a ré apresentou as fichas financeiras do autor (fls. 250-526) e os regramentos (Acordo de Participação nos Resultados) referentes aos exercícios 2020, 2021 e 2022 (fls. 1486-1494 e 250-273). Na manifestação sobre a defesa e documentos, o autor apontou a impossibilidade de verificar o correto pagamento da parcela, diante da incompletude da documentação apresentada, como o relatório de metas e os regulamentos de 2018 e 2019. Também apontou a diferença que ainda seria devida, considerando o teto da PLR (fl. 1506). As fichas financeiras demonstram o pagamento da parcela em todos os anos, inclusive em relação à PLR proporcional devida quando da rescisão contratual. Embora a ré não tenha apresentado os acordos dos exercícios de 2018 e 2019, não é aplicável a disposição contida no art. 400, I, do CPC, pois não houve determinação judicial para que procedesse à juntada desses documentos. Ademais, cabia ao autor ter apresentados tais acordos, documentação que lhe é totalmente acessível, inclusive, e demonstrado que o pagamento não foi efetuado nos termos dos regulamentos da PLR, existindo diferenças ainda devidas, por se tratar de fato constitutivo do seu direito (art. 818, I, da CLT). Como pode-se observar, as questões levantadas pelo autor foram devidamente apreciadas, constando que havia o pagamento da PLR e a análise do ônus probatório. Na realidade, pretende o embargante a rediscussão da matéria e a análise de provas da forma que entende lhe ser mais favorável. Portanto, o pronunciamento jurisdicional ocorreu em conformidade com a ordem constitucional, não se prestando as alegações da demandante para o manejo da via processual aqui eleita. Rejeito 3. OMISSÃO. OBSCURIDADE. PREQUESTIONAMENTO. DIFERENÇAS DA REMUNERAÇÃO VARIÁVEL PAGA O embargante assevera que não houve manifestação sobre a amostragem apresentada quanto às diferenças da remuneração variável, nem sobre a alegação de que era ônus da ré, nos termos do art. 818, II, da CLT, apresentar toda a documentação pertinente. Diferentemente do que sustenta o autor, no acórdão houve a expressa análise da documentação apresentada pela ré, bem como do ônus probatório a respeito das diferenças da remuneração variável e da ausência de amostragem que levasse em consideração a documentação apresentada. Vejamos (fls. 1728-1729): Apesar de já ter votado em sentido contrário, curvo-me ao entendimento dos desembargadores titulares da 5ª Turma, no sentido de que cabe ao autor o encargo de comprovar as incorreções no pagamento da remuneração variável (art. 818, I, da CLT), do qual não se desincumbiu. A ré apresentou a ficha financeira do autor, na qual consta o pagamento dessa rubrica em todos os meses do período (fls. 522-523), os boletins de remuneração variável (fls. 593-606) e regulamento com as métricas para os cargos de gestores de janeiro constando como data de início janeiro de 2017, sem data de término (fls. 862-866). Tais documentos, indicam os critérios utilizados para o pagamento da remuneração variável, não havendo elementos convincentes que indiquem a quitação a menor dessa parcela. Caberia ao autor apontar a existência de diferenças analisando de forma detalhada a documentação, o que não ocorreu. Ademais, se o autor não possui a documentação necessária para comprovar os valores que lhe são efetivamente devidos, nem sequer poderia afirmar que os pagamentos estariam em desacordo com os serviços prestados, o que caracteriza a presente demanda como mera aventura processual. Inclusive, o pedido do autor é genérico, fundamentando-se unicamente na impressão de que não recebeu o valor correspondente à sua produção. Logo, as alegações lançadas pelo embargante caracterizam, na verdade, insurgência própria de recurso, uma vez que busca a reforma da decisão, não sendo os embargos de declaração o instrumento hábil a questionar a valoração da prova pelo Juízo ou rediscutir o resultado do julgamento, se justo ou injusto. Rejeito. 4 OMISSÃO. CARGO DE CONFIANÇA Entende o embargante que esta Turma foi omissa quanto aos documentos e depoimentos citados no recurso a respeito do exercício do cargo de confiança, bem como sobre o ônus da empresa de comprová-lo, nos termos dos arts. 818, II, da CLT e 373, II, do CPC. O acórdão embargado traz todos os fundamentos necessários para a manutenção da sentença quanto ao exercício do cargo de confiança, analisando os documentos apresentados e depoimentos colhidos nos autos, além daqueles presentes na prova emprestada, in verbis (fls. 1736-1739): Segundo o inciso II e parágrafo único do artigo 62 da CLT, "os gerentes, assim considerados os exercentes de cargos de gestão", não estão abrangidos pelas normas relativas à duração do trabalho quando o salário do cargo de confiança, compreendendo a gratificação de função, não for inferior "ao valor do respectivo salário efetivo acrescido de 40%". A referida gratificação não precisa ser paga em rubrica destacada, bastando que o salário do cargo de confiança seja superior aos salários dos subordinados. Da prova documental, infere-se que o autor foi contratado no cargo de Gestor de Área Rede de Acesso I (fl. 503), recebendo, por último, o salário de R$3.676,05 (fl. 511). A partir de 01-03-2019, passou a ocupar o cargo de Gerente de Operações de Rede de AC, com salário inicial de R$6.984,50 (fl. 511). À fl. 530, consta termo aditivo do contrato de trabalho, firmado em 01-06-2017, acrescentando que os empregados que ocupam cargo de gestão não estão sujeitos ao controle de jornada, nos termos do art. 62 da CLT (fl. 530). A ré alega que, desde o início da contratualidade, o autor ocupou cargo de confiança, percebendo remuneração superior à dos seus subordinados. Com efeito, as fichas de registro dos empregados por ela indicados demonstram o pagamento de salário bem superior. Cito como exemplo, quando do exercício do cargo de Gestor de Área, o salário do funcionário Malfriso, que exercia o cargo de Líder de Obras e recebia R$1.935,71 (fl. 814). Quando o autor passou a ocupar o cargo de Gestor de Operações houve um aumento salarial de cerca de 90%, enquanto os empregados indicados pela ré como seus subordinados recebiam salário inferior a R$4.000,00. Logo, o próprio histórico salarial do autor demonstra que, ao menos quando foi promovido para Gestor de Operações, o seu salário era superior a 40% do cargo anteriormente ocupado. Nessa esteira, não havendo qualquer indício nos autos de que tais empregados não ocupavam cargo imediatamente inferior ao do autor, tenho que a empresa arcou satisfatoriamente com o seu ônus processual nesse ponto. Quanto à existência de fidúcia diferenciada, embora a prova testemunhal indique que o autor não podia admitir ou demitir funcionários, nem aplicar penalidade aos seus subordinados por conta própria, e certas decisões estavam sujeitas à ratificação dos seus superiores, coaduno com o entendimento adotado na sentença no sentido de que restou comprovado que ele sempre atuou com amplos poderes de gestão. Conforme consta na sentença, é "incontroverso que o autor tinha subordinados sob sua gestão, seja como gestor de área ou gestor operacional, conforme se extrai do seu depoimento pessoal e, também, do relato da testemunha RODRIGO, subordinado ao reclamante" (fl. 1628). A esse respeito, ficou claro que o autor, como Gestor de Área, coordenava o trabalho em campo das atividades operacionais de 20 equipes, formadas, cada uma, por dois funcionários (02'40'', depoimento pessoal do autor à fl. 1547), e pela cobrança de meta delas (13'40'', depoimento pessoal do autor à fl. 1547). Como Gerente Operacional, passou a ser responsável por 40/45 equipes (04'05'', depoimento pessoal do autor à fl. 1547), sendo que o gestor de área delas também era seu subordinado (04'52'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549), ficando acima do autor o Gerente Geral (03'00'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549). Embora as metas e cronogramas fossem estabelecidos pelo Comitê e o Gerente Geral, sendo repassados para o autor por aquele em reuniões matinais (16'00'', depoimento pessoal da primeira ré à fl. 1548), bem como havia cobrança do Gerente Geral para que elas fossem atendidas (13'20'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549), conforme disse a testemunha Rodrigo, cabia ao autor filtrar as demandas que chegariam até o Gerente Geral e repassar a cobrança de metas e cronogramas para os Gestores de Área (04'52'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549). Assim, o autor tinha como atribuição decidir, por si só, algumas demandas, repassando para o Gerente Geral só o que não estava na sua alçada. A esse respeito, destaco que a testemunha disse que, no caso de saídas antecipadas ou atrasos, solicitava ao autor, o qual repassava para o Gerente Geral, mas que, muitas vezes, o próprio autor já sabia se naquele dia seria possível ou não atender ao pedido (21'00'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549). Ainda, era responsável pela administração das metas estabelecidas, fazendo controle, por exemplo, do gasto de combustível dos funcionários das equipes (25'40'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549). Também, demonstrou que o autor tinha acesso a assuntos e informações que não eram repassadas aos técnicos, cabendo ao próprio gestor definir o que seria repassado ou não (24'30'' - depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549). Ainda, quando prestou depoimento como testemunha no processo n. 0000918-21.2017.5.12.0043, o autor informou que ocupava cargo de confiança (fl. 609). As mensagens de fls. 649-649 corroboram essa conclusão, pois demonstram que o autor era quem comunicava a falta cometida pelos seus subordinados ao setor jurídico da ré, a fim de que lhe fosse indicado o procedimento a ser adotado. Outrossim, a prova testemunhal deixou claro que o autor influenciava nas admissões e dispensas de funcionários (23'45''- depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549), com o encaminhando de solicitações a esse respeito para o RH, bem como participava do processo de aplicação de penalidades (23'45''- depoimento da testemunha Rodrigo, fl. 1549); e 50'30'' - depoimento da testemunha Itamar no RO 0000445-76.2020.5.12.0060). Esclareço que, não obstante o depoimento da testemunha Itamar tenha sido colhido em outro processo, não havendo evidência de que trabalhava diretamente com o autor, ele exercia cargo de Gerente de Área, o mesmo que o autor ocupou no início da contratualidade e que também era exercido por sua testemunha, do que depreendo que tinha conhecimento dos procedimentos gerais adotados pela ré e aos quais o autor também se sujeitava. Ademais, as informações por ele prestadas e ora consideradas apenas reforçam as demais provas dos autos. Outrossim, esta Turma, no processo n. 0000002-86.2023.5.12.0039, em acórdão de relatoria do Exmo. Des. Cesar Luiz Pasold Júnior, com base inclusive no referido depoimento, já se posicionou no sentido de que o cargo de gestor de área, na ré, caracteriza-se como cargo de confiança. Diante desse contexto probatório, ficou demonstrado que tanto como gerente de área e como gestor de operação o autor tinha uma fidúcia diferenciada. Nos termos dos arts. 897-A da CLT e 1.022 do CPC, os embargos de declaração somente se justificam quando houver omissão, contradição ou obscuridade no julgado, bem como a necessidade de retificação de erro material ou de equívoco na análise dos pressupostos de admissibilidade do recurso. No caso, não há falar em vício no acórdão, pois foram devidamente analisados todos os argumentos apresentados pelas partes e capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada, não havendo falar em omissão, contradição ou obscuridade no julgado (art. 489, §1º, IV, CPC). Tendo em vista que as provas dos autos foram suficientes para comprovar o exercício de cargo de confiança, mostra-se irrelevante a discussão sobre o ônus probatório. Rejeito. ACORDAM os membros da 5ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS DO AUTOR e REJEITÁ-LOS. Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 10 de julho de 2025, sob a Presidência da Desembargadora do Trabalho Mari Eleda Migliorini, o Desembargador do Trabalho Marcos Vinicio Zanchetta e a Juíza do Trabalho Convocada Karem Mirian Didoné (Portaria SEAP/SEMAG Nº 264/2025). Presente a Procuradora Regional do Trabalho Dulce Maris Galle. KAREM MIRIAN DIDONE Relator FLORIANOPOLIS/SC, 22 de julho de 2025. MARIA DE AGUIAR Servidor de Secretaria Intimado(s) / Citado(s) - RAFAEL LUIZ ORLANDI

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