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Processo nº 0000129-26.2021.8.17.3330

ID: 304611350

Tribunal: TJPE Órgão: Vara Única da Comarca de São José do Belmonte Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0000129-26.2021.8.17.3330

Data de Disponibilização: 20/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

RODRIGUES COMERCIO E LOCACOES DE VEICULOS LTDA - ME

Despacho_Intimação_Intimação (Outros)

Advogados:

ANTONIO FERNANDO PEREIRA LINS

OAB/PE XXXXXX Desbloquear

Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário DIRETORIA REGIONAL DO SERTÃO Vara Única da Comarca de São José do Belmonte AV EUCLIDES DE CARVALHO, S/N, Forum Dr. Geraldo Sobreira de Moura, Centro… Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário DIRETORIA REGIONAL DO SERTÃO Vara Única da Comarca de São José do Belmonte AV EUCLIDES DE CARVALHO, S/N, Forum Dr. Geraldo Sobreira de Moura, Centro, SÃO JOSÉ DO BELMONTE - PE - CEP: 56950-000 Vara Única da Comarca de São José do Belmonte Processo nº 0000129-26.2021.8.17.3330 AUTOR(A): CARLOS AUBERTO PEREIRA ORA VITOR LUCIANO MOREIRA LINS registrado(a) civilmente como VITOR LUCIANO MOREIRA LINS - OAB PE51271 (ADVOGADO) RÉU: RODRIGUES COMERCIO E LOCACOES DE VEICULOS LTDA - ME ANTONIO FERNANDO PEREIRA LINS - OAB PE38520 (ADVOGADO) INTIMAÇÃO Por ordem do(a) Exmo(a). Dr(a). Juiz(a) de Direito da Vara Única da Comarca de São José do Belmonte, fica(m) a(s) parte(s) intimada(s) do inteiro teor da Sentença de ID 206644431, conforme transcrito abaixo: "1. Relatório Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer cumulada com Indenização por Danos Morais, ajuizada por Carlos Auberto Pereira Ora em face de Stop Car Multimarcas, com o objetivo de obter a substituição ou conserto de veículo adquirido com defeito oculto, bem como a compensação por danos morais decorrentes da falha na prestação do serviço. Afirma o autor que, em 19 de janeiro de 2021, adquiriu da empresa ré o veículo automotor Volkswagen Gol G5 1.0, ano 2011/2012, mediante financiamento contratado junto ao Banco Votorantim. Relata que o automóvel lhe foi entregue em 21 de janeiro de 2021 e, com menos de trinta dias de uso, apresentou defeito técnico apontado por alerta de óleo no painel, tendo sido constatada, em oficina especializada, a ausência de pressão suficiente da bomba de óleo, o que impossibilitou o uso do veículo. Informa que, considerando tratar-se de bem essencial para seu deslocamento e exercício da profissão de pedreiro autônomo, procurou a empresa demandada para resolução do problema, na expectativa de ter o veículo consertado ou substituído, sem obter qualquer solução. Alega que a ré se recusou a efetuar o conserto ou substituição do automóvel, mesmo dentro do prazo de garantia legal e do prazo de trinta dias previsto no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor. Diante da inércia da fornecedora, postula a concessão de tutela de urgência para que a ré seja compelida a substituir o veículo por outro da mesma espécie e em perfeitas condições de uso, ou a providenciar o conserto do bem, sob pena de multa diária. Fundamenta o pedido na essencialidade do veículo, destacando que sua ausência compromete sua locomoção e atividade laboral. Sustenta a presença dos requisitos legais da tutela de urgência, com base na verossimilhança das alegações e no risco de dano de difícil reparação. Requer, ainda, a inversão do ônus da prova, com base no artigo 6º, inciso VIII, do CDC, argumentando que se trata de parte hipossuficiente técnica e financeiramente, frente à ré, que possui melhores condições para produção de prova sobre a inexistência do vício. No mérito, requer que a ré seja condenada à obrigação de substituir o veículo com defeito por outro da mesma espécie e em perfeitas condições de uso ou, alternativamente, restituir integralmente o valor pago, devidamente corrigido, nos termos do artigo 18, §1º, do CDC. Argumenta que o bem apresentou vício oculto e que a fornecedora não adotou nenhuma das medidas previstas na legislação consumerista. Postula também a condenação da empresa ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00, alegando que os transtornos, angústias e frustrações sofridas em decorrência da falha na prestação do serviço ultrapassam os limites do mero aborrecimento. Sustenta que o automóvel era essencial à sua subsistência, o que agravou os efeitos da conduta negligente da ré. Ao final, requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita, a procedência total dos pedidos, com a condenação da ré à obrigação de fazer e ao pagamento dos danos morais, bem como a condenação em custas, despesas processuais e honorários advocatícios. Despacho inicial em id. 80798893. Em sua contestação (id. 83750390), a ré, inicialmente, impugna a concessão da justiça gratuita. No mérito, alega que inexiste responsabilidade da empresa pelos vícios alegados, uma vez que o veículo foi adquirido em estado de conservação compatível com sua natureza de bem usado, sendo o vício apontado decorrente de desgaste natural por uso. Afirma que o automóvel foi entregue em perfeitas condições de funcionamento, conforme testado e aprovado pelo autor no momento da retirada do bem. Argumenta que, ao contrário do que foi afirmado na petição inicial, não houve qualquer comunicação oficial do defeito dentro do prazo de trinta dias previsto no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor. Aduz que, mesmo se admitido o vício, a ausência de prévia tentativa de reparo ou comunicação efetiva à empresa impede a responsabilização da ré pelos danos alegados. Réplica em id. 86044189. Decisão de saneamento em id. 179074471. Termo de audiência de instrução em id. 184094691. Alegações finais da parte autora em id. 186109809 e da parte requerida em id. 187895616. É o relatório. 2. Fundamentação Considerando que as preliminares foram examinadas e rejeitadas quando do saneamento do feito, passo ao exame do mérito. Inicialmente, emerge como fato incontroverso que a relação jurídica existente entre as partes tem natureza consumerista, impondo-se, pois, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Cinge-se a controvérsia em aferir se a parte ré descumpriu o dever previsto no art. 18 do Código de Defesa do Consumidor, bem como se há danos materiais e morais a serem reparados. A operação de compra e venda do veículo em questão é incontroversa, eis que se cuida de fato afirmado pelo autor e admitido pelo réu. A existência do vício também é indiscutível, considerando que ambas as partes concordam que o veículo apresentou um problema relacionado à bomba de óleo. A controvérsia fática diz respeito ao fato de que o requerido afirma que assegurou o reparo necessário ao concordar que o autor pudesse abater o valor gasto no saldo devedor remanescente da aquisição do veículo. Além disso, argumenta que o vício foi decorrente do desgaste natural do carro e que o autor deixou de adotar as cautelas necessárias para identificá-lo. Compulsando os autos, observa-se que o veículo foi adquirido no final do mês de janeiro de 2021, entre os dias 19 e 21, e que em 08/03/2021, conforme documento de id. 77097972, detectou-se a ocorrência da inconsistência na pressão da bomba de óleo. Portanto, o alegado vício foi constatado após 46 (quarenta e seis) dias de uso do veículo pelo autor, aproximadamente. Há que se salientar que, no caso, o carro adquirido contava com 10 (dez) anos de uso e mais de 100.000 (cem mil) quilômetros rodados, sendo forçoso reconhecer o grande desgaste natural em decorrência da sua intensa utilização no período anterior à tradição para o consumidor. Os problemas decorrentes do desgaste natural não podem ser imputados à fornecedora, conforme jurisprudência do E. Tribunal de Justiça de Pernambuco e outros Tribunais pátrios: Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Gabinete do Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Rua Imperador Dom Pedro II, 207, Fórum Paula Batista, Santo Antônio, RECIFE - PE - CEP: 50010-240 - F:(81) 31819113 QUINTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002668-95.2023.8 .17.2100 JUÍZO DE ORIGEM: 2ª Vara Cível da Comarca de Abreu e Lima MAGISTRADO DE 1º GRAU: Hugo Bezerra de Oliveira APELANTE: Josenilson Galdino de Santana APELADOS: TM Multimarcas Comércio de Veículos LTDA., Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A . e Banco Santander (Brasil) S.A. RELATOR: Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Ementa: Direito Civil E Do Consumidor . Apelação Cível. Compra E Venda De Veículo Usado. Alegação de vício oculto. Distrato Contratual . Ônus Da Prova que compete ao autor (at. 373, I, CPC). Ausência de prova. Improcedência Do Pedido mantida . Recurso Desprovido. I. Caso em exame 1. Apelação cível interposta contra sentença da 2ª Vara Cível da Comarca de Abreu e Lima que julgou improcedentes os pedidos formulados na ação em que pleiteava a resolução de contrato de compra e venda de veículo usado, com fundamento em alegado vício oculto consistente em superaquecimento do motor . O veículo foi adquirido da empresa TM Multimarcas Comércio de Veículos LTDA., com financiamento pelas instituições Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A. e Banco Santander (Brasil) S .A. II. Questão em discussão 2. Há duas questões em discussão: (i) definir se houve vício oculto no veículo usado adquirido pelo autor que justifique a resolução contratual; (ii) estabelecer se o autor se desincumbiu do ônus de comprovar o vício alegado . III. Razões de decidir 3. A caracterização de vício redibitório exige a comprovação da efetiva inaptidão do bem ao uso, da ocultação do defeito e de sua preexistência à aquisição. 4 . Cabe ao autor o ônus da prova quanto ao fato constitutivo de seu direito, nos termos do art. 373, I, do CPC, especialmente em alegações de vício oculto. 5. O autor não produziu prova técnica – ou qualquer outra prova – apta a comprovar o superaquecimento do motor, limitando-se a apresentar documentos relativos à regularização do sistema de GNV, sem relação com o defeito alegado . 6. O autor expressamente concordou com o julgamento antecipado da lide e deixou de requerer perícia técnica, precludindo a possibilidade de produzir prova essencial. 7. A aquisição de veículo usado, com 6 anos de uso e mais de 210 mil km rodados, exige do comprador cautela prévia, como vistoria técnica, cuja ausência configura negligência . 8. Não há indício de tentativa de solução extrajudicial do alegado defeito, tampouco comprovação de comunicação às rés, contrariando o dever de boa-fé objetiva. 9. O desgaste natural de veículo usado não configura vício oculto e não enseja rescisão contratual ou indenização . IV. DISPOSITIVO E TESE 10. Recurso desprovido. Tese de julgamento: 1 . Em contrato de compra e venda de veículo usado, defeitos oriundos de desgaste natural não configuram vício oculto ensejador de rescisão contratual. 2. Compete ao comprador comprovar o vício preexistente e oculto do bem, não se desincumbindo deste ônus se deixa de requerer a produção de prova técnica necessária. 3 . A ausência de diligência prévia do adquirente configura negligência, afastando a responsabilidade do vendedor por defeitos perceptíveis ou previsíveis. Dispositivos relevantes citados: CDC, arts. 18 e 26, II; CC, art. 441; CPC/2015, art . 373, I. Jurisprudência relevante citada: TJ-PE - APELAÇÃO CÍVEL: 00045135820168172990, Relator.: FABIO EUGENIO DANTAS DE OLIVEIRA LIMA, Data de Julgamento: 25/10/2023, Gabinete do Des Fábio Eugênio Dantas de Oliveira Lima (1ª CC); TJ-PE - Apelação Cível: 0011057-11.2013 .8.17.0810, Relator.: MARCIO FERNANDO DE AGUIAR SILVA, Data de Julgamento: 26/05/2024, Gabinete do Des . Stênio José de Sousa Neiva Coêlho (4ª CC); TJ-SP - Apelação Cível: 10027492620228260220 Guaratinguetá, Relator.: Rosana Santiso, Data de Julgamento: 18/09/2024, Núcleo de Justiça 4.0 em Segundo Grau – Turma IV (Direito Privado 2), Data de Publicação: 18/09/2024; TJ-SP - Apelação Cível: 1002973-58.2023 .8.26.0048 Atibaia, Relator.: Flavio Abramovici, Data de Julgamento: 01/04/2024, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/04/2024 . ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Excelentíssimos Desembargadores integrantes da QUINTA Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, à unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de Apelação Cível, tudo nos termos do voto do Relator e, se houver, Notas Taquigráficas, que passam a fazer parte integrante do presente aresto. Recife, data registrada no sistema. Des. Agenor Ferreira de Lima Filho Relator (TJ-PE - APELAÇÃO CÍVEL: 00026689520238172100, Relator.: AGENOR FERREIRA DE LIMA FILHO, Data de Julgamento: 28/04/2025, Gabinete do Des . Agenor Ferreira de Lima Filho) DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL E CONTRATUAL. APELAÇÃO. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. VÍCIO REDIBITÓRIO . DESGASTE NATURAL. TEMPO DE USO. VISTORIA PRÉVIA. AUSÊNCIA . RECURSO DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Aquisição de veículo usado pela parte autora, ano/modelo 2008/2009, com alegação de problemas mecânicos depois da compra . II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Questões em discussão: (i) se há cerceamento de defesa pelo indeferimento de produção de prova perícia; (ii) se há vício redibitório ao se considerar que o defeito ocasionado decorre do tempo de uso e desgaste do veículo III. RAZÕES DE DECIDIR 3 . Na aquisição de veículo usado incumbe ao comprador adotar diligências necessárias à aferição das condições de funcionamento, não cumpridas pela parte autora; com isso, assumiu os riscos da aquisição do bem advindos de vícios passíveis de constatação imediata em vistoria preliminar. Considerando que o veículo adquirido era usado e, em tese, apresentava alta quilometragem à época da aquisição pelo ano/modelo eventuais defeitos posteriormente apresentados e constatáveis por mecânico, não se confundem com vícios redibitórios, e sim com o desgaste natural do tempo e uso, se não providenciada prévia vistoria mecânica, IV. DISPOSITIVO E TESE 5. Recurso desprovido . Tese de julgamento: (i) Não há cerceamento de defesa o indeferimento de produção de prova pericial, se não se mostrar útil para o julgamento seguro. (ii) Não configura vício redibitório passível de rescisão do contrato de compra e venda se o automóvel era usado, apresentava alta quilometragem à época da aquisição e de possível constatação por exame de profissional mecânico. _________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 355, I . (TJ-SP - Apelação Cível: 10010495220238260358 Mirassol, Relator.: Adilson de Araujo, Data de Julgamento: 23/09/2024, 31ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 23/09/2024) A compra de um veículo usado deve ser precedida da adoção de diversas cautelas pelo comprador, a fim de atestar as condições de conservação do bem, considerando todos os problemas decorrentes da utilização anterior do bem. Nessa perspectiva, cite-se julgamento proferido pelo E. Tribunal de Justiça de Pernambuco: Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário Gabinete do Des. Gabriel de Oliveira Cavalcanti Filho (6ª CC) 6ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº 0000189-30.2018.8 .17.2610 RELATOR: DES. GABRIEL DE OLIVEIRA CAVALCANTI FILHO APELANTE: ALAN MARIANO DA SILVA APELADO: ZS AUTOS LTDA - EPP EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS . DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO USADO. ALEGAÇÃO DE VÍCIO OCULTO. AUSÊNCIA DE PROVA . DANOS ESTÉTICOS COMPATÍVEIS COM DESGASTE NATURAL. RESPONSABILIDADE DO COMPRADOR EM REALIZAR INSPEÇÃO PRÉVIA. INEXISTÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE. DANOS MATERIAIS NÃO COMPROVADOS . REPETIÇÃO EM DOBRO INDEVIDA. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL INDENIZÁVEL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1 . Em contratos de compra e venda de veículos usados, é responsabilidade do comprador realizar inspeção prévia para verificar as condições do bem, especialmente quanto a vícios aparentes, ainda que a relação seja regida pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. A ausência de prova concreta de vício oculto, como o alegado arrombamento da porta, conduz à improcedência do pedido, especialmente quando os danos estéticos apresentados são compatíveis com o desgaste natural de um veículo com mais de cinco anos de uso. 3 . Despesas relativas à transferência de titularidade, envio de placas e serviços diversos não comprovam conduta ilícita ou omissiva do vendedor, sendo obrigações de responsabilidade do comprador, conforme o art. 123, § 1º, do Código de Trânsito Brasileiro. 4. A repetição em dobro de valores pagos só é cabível quando demonstrada a cobrança indevida e a má-fé do fornecedor, conforme o art . 42, parágrafo único, do CDC, o que não ocorreu no caso concreto. 5. Não configuração de dano moral indenizável 6. Recurso a que se nega provimento . Decisão unânime. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, ACORDAM os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara Cível, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, tudo na conformidade dos termos do voto do Relator, da ementa e das notas taquigráficas em anexo, caso integrem o presente julgado. Recife, data da sessão de julgamento. GABRIEL DE OLIVEIRA CAVALCANTI FILHO Desembargador Relator (TJ-PE - APELAÇÃO CÍVEL: 00001893020188172610, Relator.: GABRIEL DE OLIVEIRA CAVALCANTI FILHO, Data de Julgamento: 16/04/2025, Gabinete do Des . Gabriel de Oliveira Cavalcanti Filho (6ª CC)) No caso dos autos, é certo que o problema apontado poderia ter sido facilmente constatado através de verificação detalhada que poderia e deveria ter sido efetuada pelo consumidor quando da aquisição do veículo, a supor pelo baixo valor do serviço de verificação cuja realização se comprovou em id. 77097972, que demonstra não se tratar de apuração complexa. Ao comprador de veículo usado que não adota as cautelas necessárias à verificação de suas condições no ato da aquisição, assume os riscos de eventuais prejuízos posteriores. Portanto, não há nos autos comprovação da existência de vícios que possam ensejar a rescisão contratual, na medida em que o problema apresentado pelo veículo é plenamente compatível com o desgaste natural decorrente da sua utilização anterior à aquisição por mais de 10 (dez) anos e 100.000 (cem mil) quilômetros. Por fim, como não houve a demonstração de prática ilícita que possa a ser atribuída à requerida, considerando a ausência de prova de anterioridade da falha detectada, inexiste nexo causal que possa sustentar o reconhecimento de responsabilidade pela reparação de danos morais. 3. Dispositivo Ante o exposto, resolvo o mérito e julgo improcedentes os pedidos formulados na petição inicial, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios em favor do advogado do requerido, que arbitro em 10% sobre o proveito econômico auferido pela parte contrária, sendo certo que a exigibilidade de tais verbas fica suspensa nos termos do art. 98, §3º, do CPC. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Em sendo interposto recurso de APELAÇÃO, por não haver mais o juízo de prelibação nesta instância (art. 1.010, § 3º, do CPC), sem necessidade de nova conclusão, nos termos do art. 1.010, § 1º, do CPC, INTIME-SE o apelado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias. Se apresentada apelação adesiva pela parte recorrida (art. 997 do CPC), INTIME-SE a parte contrária para contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 1.010, §2º, do CPC. Caso sejam apresentadas contrarrazões, em sendo suscitadas preliminares, INTIME-SE o apelante para que, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 1.009, § 2º, do CPC, manifeste-se acerca das referidas questões. Após o prazo, com ou sem resposta, ex vi do disposto no § 3º do art. 1.010 do CPC, REMETAM-SE os autos ao E. Tribunal de Justiça de Pernambuco, independentemente de juízo de admissibilidade. Certifique-se, oportunamente, o trânsito em julgado. PROCEDA-SE NA FORMA PREVISTA NO ART. 27 DA LEI ESTADUAL Nº. LEI Nº. 17116/2020 QUANTO À ARRECADAÇÃO DAS CUSTAS PROCESSUAIS. Após, nada mais havendo, ARQUIVE-SE, com as cautelas de praxe. São José do Belmonte/PE, [data da assinatura eletrônica]. EDUARDO HENRIQUE MINOSSO Juiz Substituto" SÃO JOSÉ DO BELMONTE, 19 de junho de 2025. DANIELLE RODRIGUES LUCAS DOS SANTOS Diretoria Regional do Sertão

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Processo nº 0801768-16.2022.8.10.0126

ID: 306806503

Tribunal: TJMA Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0801768-16.2022.8.10.0126

Data de Disponibilização: 25/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

MARIZAURA RIBEIRO CAMPOS

Acórdão (expediente)

Advogados:

ALLYSSON CARVALHO CRUZ BRITO

OAB/PI XXXXXX Desbloquear

MAURICIO MARQUES DOMINGUES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

GENESIO FELIPE DE NATIVIDADE

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

JOAO PEDRO KOSTIN FELIPE DE NATIVIDADE

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Sessão Virtual do dia 10 de junho de 2025 a 17 de junho de 2025. APELAÇÃO CÍVEL Nº 0801768-16.2022.8.10.0126 - PJE. 1º APELANTE: BANCO DO BRASIL SA. ADVOGADO: GENES… PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Sessão Virtual do dia 10 de junho de 2025 a 17 de junho de 2025. APELAÇÃO CÍVEL Nº 0801768-16.2022.8.10.0126 - PJE. 1º APELANTE: BANCO DO BRASIL SA. ADVOGADO: GENESIO FELIPE DE NATIVIDADE (OAB/MA 25.883-A) E JOÃO PEDRO KOSTIN FELIPE DE NATIVIDADE( OAB/MA 25.771-A). 2º APELANTE: BRASILSEG COMPANHIA DE SEGUROS. ADVOGADO: MAURÍCIO MARQUES DOMINGUES (OAB/SP 175513). APELADA: MARIZAURA RIBEIRO CAMPOS. ADVOGADO: ALLYSSON CARVALHO CRUZ BRITO (OAB/MA 12700-A). PROC. DE JUSTIÇA: SANDRA LÚCIA ALVES MENDES ELOUF. PROCURADOR DE JUSTIÇA: SANDRA LÚCIA ALVES MENDES ELOUF. RELATOR SUBSTITUTO: FERNANDO MENDONÇA. E M E N T A DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA “BB SEGURO VIDA MULHER”. LEGITIMIDADE PASSIVA DO BANCO DO BRASIL. REJEIÇÃO DA PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE. DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIA MALIGNA DO ENDOMÉTRIO. NEGATIVA DE COBERTURA FUNDADA NA ALEGAÇÃO DE QUE O CONTRATO PREVIA SOMENTE INDENIZAÇÃO EM CASOS DE NEOPLASIA MALIGNA DE MAMA OU DE COLO DE ÚTERO. CLÁUSULA RESTRITIVA NÃO REDIGIDA COM DESTAQUE. QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. MANUTENÇÃO. APELOS DESPROVIDOS. I. "Na esteira de precedentes desta Corte, a oferta de seguro de vida por companhia seguradora vinculada a instituição financeira, dentro de agência bancária, implica responsabilidade solidária da empresa de seguros e do Banco perante o consumidor" (STJ - AgRg no REsp: 1040622 RS 2008/0058736-2, Relator.: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 19/11/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/12/2013). Preliminar rejeitada. II. A distinção técnica entre as estruturas anatômicas denominadas ‘colo do útero’ e ‘endométrio’ — conquanto seja de domínio médico — não pode ser exigida da consumidora média. Para essa, trata-se do mesmo órgão: o útero. O endométrio, como tecido epitelial que reveste internamente a cavidade uterina, compõe a estrutura do próprio útero, sendo, pois, insustentável sob a ótica da boa-fé e da transparência contratual a exclusão de sua cobertura como se se tratasse de região alheia ao órgão uterino. III. No caso dos autos, restou comprovado que a autora foi diagnosticada com carcinoma invasivo do endométrio, enfermidade que acomete tecido localizado no interior do próprio útero. Contudo, não há qualquer demonstração nos autos de que a consumidora tivesse conhecimento técnico suficiente para distinguir, de forma inequívoca, as estruturas anatômicas ‘endométrio’ e ‘colo do útero’ — especialmente diante da literalidade da cláusula contratual que previa cobertura apenas para neoplasia maligna do colo uterino. IV. Em se tratando de contrato por adesão e voltado às mulheres, impõe-se a interpretação mais favorável à consumidora, nos termos do art. 47 do CDC, principalmente quando é evidente a similaridade anatômica e funcional entre os órgãos uterinos atingidos pela patologia. IV. A ausência de informação clara e ostensiva, aliada à complexidade médica da diferenciação, afasta a possibilidade de se imputar à autora o ônus de interpretação técnica especializada do contrato, razão pela qual, à luz do art. 54, § 4º do Código de Defesa do Consumidor, é de se reconhecer a invalidade da cláusula restritiva não destacada e a necessidade de interpretação mais favorável à parte aderente, como expressamente previsto no art. 47 do mesmo diploma. V. em relação ao valor arbitrado a título de indenização por dano moral na quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), entendo que também não assiste razão à Apelante quanto ao pedido de redução, em se tratando de quantia que se mostra razoável ao se sopesar o interesse jurídico lesado, fundado em precedentes jurisprudenciais em casos afins, e, após, nas circunstâncias do caso concreto VI. Apelos desprovidos, de acordo com o parecer ministerial. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Desembargadores da Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, por unanimidade e de acordo com o parecer ministerial, em negar provimento aos Apelos, nos termos do voto do Desembargador Relator Substituto – Fernando Mendonça. Participaram do julgamento os senhores desembargadores: Edimar Fernando Mendonça de Sousa – Relator Substituto, Maria do Socorro Mendonça Carneiro e Rosária de Fátima Almeida Duarte. Funcionou pela Procuradoria Geral de Justiça o Dr. Orfileno Bezerra Neto. Presidência da Desembargadora Maria do Socorro Mendonça Carneiro. São Luís, 24 de junho de 2025. Subst. Des. FERNANDO MENDONÇA. Relator Substituto R E L A T Ó R I O Trata-se de apelações cíveis interpostas por Banco do Brasil S.A. e Brasilseg Companhia de Seguros, inconformados com a sentença proferida pelo juízo da Vara Única da Comarca de São João dos Patos/MA, que julgou procedente a Ação de Cobrança de Seguro de Vida movida por Marizaura Ribeiro Campos, para condenar os requeridos, solidariamente, ao pagamento da respectiva apólice de seguro, nos seguintes moldes: Ante o exposto e pelo mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o pedido autoral para condenar os requeridos, solidariamente, ao pagamento da respectiva apólice de seguro, bem como condeno os réus ao pagamento, solidariamente, de indenização pelo dano moral suportado, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), os quais deverão ser corrigidos monetariamente pelo índice utilizado pela Corregedoria de Justiça do Estado do Maranhão, além de juros legais de 1% ao mês desde a data do vencimento. Por consequência, julgo extinto o feito com resolução do mérito, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil. Após os embargos de declaração (ID nº 34009912), o juízo a quo os acolheu para acrescentar que: “a correção monetária incide a partir do dia da contratação da apólice de seguro e os juros legais incidem a partir da citação”. O primeiro apelante, Banco do Brasil S.A., sustenta em suas razões recursais (ID nº 34009913) que houve erro material no cadastramento do seguro, não sendo parte lícita para figurar no polo passivo da ação, e que não há fundamento jurídico para sua responsabilidade solidária. Alega, ainda, a necessidade de reforma da sentença para afastar a condenação imposta. A segunda apelante, Brasilseg Companhia de Seguros, por sua vez, argumenta que a apólice contratada previa expressamente a cobertura apenas para neoplasia maligna de mama e neoplasia maligna de colo de útero, não contemplando a doença da parte autora, e que houve falha na interpretação contratual pelo juízo de origem. Requer a reforma da sentença para afastar a condenação ou, subsidiariamente, a minoração da indenização por dano moral (ID nº 34009924). A parte apelada apresentou contrarrazões tempestivamente (ID nº 34009929), pugnando pela manutenção integral da sentença, sob o argumento de que a negativa da seguradora configura abusividade e viola os princípios do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que houve falha na informação clara sobre as coberturas contratadas. A D. PGJ, inicialmente, exarou parecer (ID 39090516) pela conversão do feito em diligência para complementar o preparo. Posteriormente, exarou-se o despacho (ID 36918220) para no prazo de 05 (cinco) dias, o primeiro apelante realizasse a complementação do preparo, conforme previsto no art. 1.007, §2º, do Código de Processo Civil, sob pena de deserção do apelo. Manifestação do primeiro apelante (ID 37572327) juntando comprovante de pagamento de custas. Posteriormente, a D. PGJ (ID 44791422) opinou pelo desprovimento de ambos os apelos. É o relatório. V O T O Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal intrínsecos e extrínsecos, conheço de ambos os recursos. A controvérsia recursal restringe-se à possibilidade de reconhecimento de cobertura securitária para neoplasia maligna de endométrio no âmbito de contrato de seguro denominado “BB Seguro Vida Mulher”, cuja cláusula contratual prevê expressamente a cobertura para diagnóstico de neoplasia maligna de mama e de colo de útero. Sustenta a apelante Brasilseg que a doença enfrentada pela parte autora não está entre as patologias previstas na apólice, razão pela qual entende ilegítima a condenação ao pagamento da indenização. Já o Banco do Brasil, também recorrente, alega não possuir legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, aduzindo que sua atuação teria se limitado à intermediação do contrato de seguro, e que, de toda forma, eventual responsabilidade não lhe poderia ser imputada. Inicialmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo Banco do Brasil, haja vista tratar-se de relação de consumo em que a seguradora demandada integra o mesmo grupo econômico da instituição financeira, sendo inclusive a comercialização do seguro realizada no interior da agência bancária, com a utilização da estrutura e credibilidade da instituição financeira para captação dos segurados. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento de que, em tais hipóteses, há responsabilidade solidária entre a instituição financeira e a seguradora vinculada, conforme se extrai do seguinte precedente: STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE VIDA. COBRANÇA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA ESTIPULANTE . SEGURO RELAÇÃO DE CONSUMO. SEGURO CONTRATADO NO INTERIOR DO BANCO. SÚMULA Nº 83/STJ. QUESTÃO DECIDIDA COM BASE NAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DA CAUSA . SÚMULA Nº 7/STJ. 1. "É parte legítima para responder à ação em que é cobrado o cumprimento do contrato de seguro o banco que divulga o produto, recebe o valor do prêmio, expede apólice e presta as informações necessárias ao segurado. Precedentes do STJ" (REsp 592 .510/RO, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ 3/4/2006). 2. "Na esteira de precedentes desta Corte, a oferta de seguro de vida por companhia seguradora vinculada a instituição financeira, dentro de agência bancária, implica responsabilidade solidária da empresa de seguros e do Banco perante o consumidor" (REsp 1 .300.116/SP, Rel. Ministra Nanacy Andrighi, DJe 13/11/2012). 3 . Estando o acórdão recorrido em perfeita harmonia com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça incide a Súmula nº 83 desta Corte, aplicável por ambas as alíneas do permissivo constitucional. 4. Para prevalecer a pretensão em sentido contrário à conclusão do Tribunal de origem quanto à solidariedade passiva do banco na demanda, mister se faz a revisão do conjunto fático dos autos, o que, como já decidido, é inviabilizado ante o óbice da Súmula nº 7 desta Corte. 5 . Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no REsp: 1040622 RS 2008/0058736-2, Relator.: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 19/11/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/12/2013). Portanto, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva. As apelantes insurgem-se contra a sentença de procedência sob o argumento de que o diagnóstico de carcinoma invasivo de endométrio não se enquadra entre os eventos cobertos pelo contrato de seguro, que prevê cobertura apenas para “câncer de mama” e “câncer do colo do útero”. Assevera que o contrato delimita com clareza os riscos cobertos e que não se pode compelir a seguradora a assumir obrigações além daquelas expressamente pactuadas, sob pena de violação aos artigos 757 e 760 do Código Civil. Entretanto, não assiste razão às partes recorrentes. Explico. De fato, a cláusula que limita a cobertura do seguro a neoplasias de mama e de colo do útero deve ser interpretada à luz do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista a inequívoca natureza consumerista da relação jurídica entabulada, notadamente por tratar-se de contrato de adesão, redigido unilateralmente pela fornecedora, sem espaço para negociação individual das cláusulas pela consumidora. Nos termos do artigo 47 do CDC, “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”, o que se aplica com redobrada cautela em contratos de adesão voltados especificamente a um público hipossuficiente sob o ponto de vista técnico — como são os contratos de seguro dirigidos às partes consumidoras. Em se tratando de contrato por adesão, ofertado como produto exclusivo à clientela feminina, e prevendo cobertura para neoplasias em órgãos do aparelho reprodutor da mulher, impõe-se interpretação sistemática e teleológica da cláusula restritiva à luz da função social do contrato (art. 421 do CC) e do princípio da boa-fé objetiva (art. 422 do CC). A distinção técnica entre as estruturas anatômicas denominadas “colo do útero” e “endométrio” — conquanto seja de domínio médico — não pode ser exigida da consumidora média. Para essa, trata-se do mesmo órgão: o útero. O endométrio, como tecido epitelial que reveste internamente a cavidade uterina compõe a estrutura do próprio útero, sendo, pois, insustentável sob a ótica da boa-fé e da transparência contratual a exclusão de sua cobertura como se se tratasse de região alheia ao órgão uterino. Portanto, no caso, diante da evidência de que o câncer enfrentado pela autora acomete o mesmo órgão uterino para o qual o seguro prevê cobertura parcial, é de se reconhecer a abusividade da negativa de cobertura, sob pena de tornar inócuo o contrato que, supostamente, visava proteger a saúde da mulher, sob pena de ferir a boa-fé contratual e a legítima expectativa gerada na parte consumidora contratante. Ademais, é dever do fornecedor prestar informações claras, adequadas e ostensivas quanto às limitações da cobertura contratada, conforme previsto no art. 6º, III, do CDC. Sobre o tema, precedentes recentes encampam o posicionamento que ora se adota, a exemplo: TJ/SP: COBRANÇA – INDENIZAÇÃO – SEGURO DE VIDA DIRIGIDO À MULHER – "BB Seguro Vida Mulher" – Autora que, diagnosticada com neoplasia maligna do endométrio, foi submetida à retirada total do útero e remoção de trompas e de ovários – Negativa de cobertura ao diagnóstico de neoplasia maligna de endométrio - Apólice que prevê cobertura para diagnóstico de neoplasia maligna de mama ou de colo de útero, não abrangendo o câncer de endométrio – Embora o contrato de seguro possua interpretação restritiva, mostra-se abusiva a negativa de cobertura de indenização securitária para o diagnóstico de câncer de endométrio - Endométrio que é um tecido que reveste o útero, de modo que está localizada no interior deste órgão, compondo-o - Ambos os cânceres, portanto, afetam o mesmo órgão, qual seja, o útero – Consumidor médio que não possui conhecimentos específicos de Medicina e saiba diferenciar o que é colo de útero e o endométrio – Interpretação do contrato mais favorável ao consumidor (artigo 46 e 47 do CDC)– Manutenção da r. sentença que condenou a ré ao pagamento de indenização prevista na apólice contratada - Danos morais configurados - Ilegalidade e abusividade da negativa de cobertura de indenização securitária – Desrespeito para com a consumidora que, ligada a um seguro de vida, e já bastante fragilizada em razão de câncer endometrial, doença grave, vê-se ilicitamente impedida de ser acobertada pelo capital segurado - Indenização fixada em R$ 10.000,00 que atende caráter punitivo e pedagógico – Sentença reformada para acolher as razões recursais da autora para condenar a ré em danos morais – Procedência total do pedido inicial - Ônus da sucumbência a cargo da ré - RECURSO DESPROVIDO DA RÉ e RECURSO PROVIDO DA AUTORA (TJ-SP - AC: 10266881820198260001 SP 1026688-18 .2019.8.26.0001, Relator.: Angela Lopes, Data de Julgamento: 07/12/2021, 27ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/12/2021). TJ/SP: SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS – "Seguro Vida Mulher" – Pretensão de cobrança da indenização deduzida pela segurada julgada procedente – Cobertura para diagnóstico de câncer no ovário – Negativa da cobertura fundada na alegação de que só há cobertura para câncer de mama ou de colo de útero – Cláusulas restritivas de direitos que, dada a natureza do seguro, voltado particularmente para mulheres, devem ser redigidas com clareza e destaque, pena de serem interpretadas de forma favorável à consumidora – Nulidade das cláusulas que atenuam a responsabilidade do fornecedor ou redundem em renúncia ou disposição de direitos pelo consumidor, ou ainda desvirtuem direitos inerentes à natureza do contrato – Inteligência dos artigos 47 e 51, do Código de Defesa do Consumidor – Indenização devida – Falta de interesse recursal no tocante à pretendida modificação do termo inicial da correção monetária – Recurso não provido. (TJ-SP - AC: 10056290220158260037 SP 1005629-02.2015.8 .26.0037, Relator.: Sá Duarte, Data de Julgamento: 21/11/2016, 33ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/11/2016). No caso dos autos, restou comprovado que a autora foi diagnosticada com carcinoma invasivo do endométrio, enfermidade que acomete tecido localizado no interior do próprio útero. Contudo, não há qualquer demonstração nos autos de que a consumidora tivesse conhecimento técnico suficiente para distinguir, de forma inequívoca, as estruturas anatômicas ‘endométrio’ e ‘colo do útero’ — especialmente diante da literalidade da cláusula contratual que previa cobertura apenas para neoplasia maligna do colo uterino. E m suma, em se tratando de contrato por adesão e voltado às mulheres, impõe-se a interpretação mais favorável à consumidora, nos termos do art. 47 do CDC, principalmente quando é evidente a similaridade anatômica e funcional entre os órgãos uterinos atingidos pela patologia. A ausência de informação clara e ostensiva, aliada à complexidade médica da diferenciação, afasta a possibilidade de se imputar à autora o ônus de interpretação técnica especializada do contrato, razão pela qual, à luz do art. 54, § 4º do Código de Defesa do Consumidor, é de se reconhecer a invalidade da cláusula restritiva não destacada e a necessidade de interpretação mais favorável à parte aderente, como expressamente previsto no art. 47 do mesmo diploma. Na mesma linha de intelecção, o parecer da PGJ (ID 34009929) evidenciou que: “Compulsando os termos do contrato, colacionado do ao id. 34009777, é possível observar que a redação contratual do item 3.2, “a” da apólice do seguro, ao mencionar "Diagnóstico de Câncer" sem a devida clareza sobre as restrições, transbordou a boa-fé e feriu a legítima expectativa da Autora, sendo tal cláusula nula nos termos do CDC”. Por fim, em relação ao valor arbitrado a título de indenização por dano moral na quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), entendo que também não assiste razão à Apelante quanto ao pedido de redução, em se tratando de quantia que se mostra razoável ao se sopesar o interesse jurídico lesado, fundado em precedentes jurisprudenciais em casos afins, e, após, nas circunstâncias do caso concreto, senão vejamos: TJ/SP: RECURSO – APELAÇÃO CÍVEL – SEGURO DE VIDA E ACIDENTES PESSOAIS – AÇÃO DE COBRANÇA CUMULADA COM REPARAÇÃO MORAL. Autor que contratou com as requeridas 02 (dois) seguros de vida, denominados "Seguro Vida Homem" (apólice 113303) e "Proteção Vida Van Gogh" (apólice 113308), com cobertura para "doença terminal" e "doenças graves", em janeiro de 2016. Ocorre que, após ser, em março de 2019, diagnosticado como portador de HIV, buscou o recebimento do capital segurado, no que foi recusado pelas demandadas sob alegação de ausência de cobertura. Busca a cobrança securitária e reparação de ordem moral . Relação negocial incontroversa (contratação das apólices). Autor que se descobriu portador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA, também denominada HIV), doença ainda sem cura e permanente, que pode apenas ser controlada com a utilização de diversos medicamentos, que possuem efeitos colaterais. Enfermidade que afeta o sistema imunológico, tornando o portador propenso à outras doenças, sendo o prognóstico de agravamento de saúde constante. Caracterizada situação de "doença grave", cobertura expressamente contratada, com capital segurado de R$ 15 .000,00 (quinze mil reais). Não enquadramento, contudo, na situação de "doença terminal', não sendo devida indenização neste tocante. Dano moral. Configuração . Abalo moral suportado pelo autor caracterizado, ante a irregular postura das demandadas, que em momento de fragilidade íntima buscou não cumprir a avença securitário expressamente contratado. Situação, ainda, que levou ao autor buscar diversas vezes justificar a gravidade de sua doença, sem receber das demandadas o suporte esperado em observância aos termos contratados (desvio produtivo do consumidor). Indenização arbitrada em R$ 15.000,00 (quinze mil reais), contudo, que deve ser mitigada para R$ 10.000,00 (dez mil reais), que melhor observa os critérios da proporcionalidade e razoabilidade, bem como as peculiaridades da hipótese. Procedência parcial. Sentença parcialmente reformada. para adequar o valor fixado a título de danos morais . Recurso de apelação das requeridas em parte provido para reduzir o valor da reparação moral, prejudicado o adesivo do autor (TJ-SP - AC: 10029734820208260344 SP 1002973-48.2020.8 .26.0344, Relator.: Marcondes D'Angelo, Data de Julgamento: 01/09/2021, 25ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 01/09/2021). Diante do exposto, de acordo com o parecer ministerial, nego provimento a ambos os apelos, mantendo a sentença recorrida em todos os seus termos. Advirto sobre a possibilidade de imposição da multa prevista no art. 1.026, §§ 2º e 3º, do CPC, na eventual interposição de embargos de declaração manifestamente infundados ou protelatórios contra o presente provimento jurisdicional, inclusive para fins exclusivos de prequestionamento ou visando à rediscussão do aresto, destacando que, nos termos do §4º do art. 98 do CPC, referida penalidade se aplica até mesmo aos beneficiários da justiça gratuita. É como voto. Subst. Des. FERNANDO MENDONÇA. Relator Substituto

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