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Processo nº 5002567-96.2025.8.21.0028

ID: 308878634

Tribunal: TJRS Órgão: 1ª Vara Criminal da Comarca de Santa Rosa Classe: RESTITUIçãO DE COISAS APREENDIDAS Nº Processo: 5002567-96.2025.8.21.0028

Data de Disponibilização: 26/06/2025

Polo Ativo:

HDI SEGUROS S.A.

Polo Passivo:

DESPACHO/DECISÃO

Advogados:

JAIR CANALLE

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS Nº 5002567-96.2025.8.21.0028/RS REQUERENTE : HDI SEGUROS S.A. ADVOGADO(A) : JAIR CANALLE (OAB RS069380) DESPACHO/DECISÃO Cuida-se de analisar pedido de restituição … RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS Nº 5002567-96.2025.8.21.0028/RS REQUERENTE : HDI SEGUROS S.A. ADVOGADO(A) : JAIR CANALLE (OAB RS069380) DESPACHO/DECISÃO Cuida-se de analisar pedido de restituição do veículo marca KIA/SPORTAGE, de cor Branca e placas IVI0G70, formulado por HDI Seguros S.A. Sustenta a requerente que o automóvel foi objeto de roubo/furto e recuperado pela Delegacia de Polícia da cidade de Santa Rosa - RS, conforme Ocorrência Policial nº 1036/2025/151210, sendo que está apreendido e sua liberação depende de ordem judicial. Requereu seja oficiado ao DETRAN-RS por meio dos e-mails leiloes@detran.rs.gov.br e cdmi@detran.rs.gov.br acerca do presente pedido, para que se abstenha de reciclar/triturar e/ou leiloar administrativamente o veículo modelo KIA/SPORTAGE de placas originais IVI0G70, ante a pretensão de restituição do bem pela proprietária; a isenção de pagamento de diárias e taxas de remoção de depósito, em razão da empresa estar sub-rogada na condição de vítima, nos exatos termos do §1º do art. 15 da Portaria nº 441/2018, do DETRAN/RS; e que seja fornecida uma cópia do laudo pericial do automóvel no presente feito ( evento 1, INIC1 ). O Ministério Público não se opôs ao deferimento do pedido inicial ( evento 7, PROM1 ). Decido. No caso em tela, entendo que o veículo apreendido no processo principal deve ser restituído à requerente/proprietária, tendo em vista que não mais interessa ao feito. Ademais, não identifico a presença de quaisquer dos requisitos legais para que se mantenha a constrição patrimonial em desfavor da requerente, uma vez que comprovada a propriedade legal do bem, a condição de terceiro de boa-fé. Registre-se que a manutenção do veículo em depósito não contribuirá ao processo principal, uma vez que já juntado o laudo pericial no inquérito n.º 5001406-51.2025.8.21.0028, no qual foi constatado que "as numerações identificadoras de chassi e motor apresentavam as características do fabricante. Segundo pesquisa realizada no Sistema de Consultas Integradas, da Secretaria da Segurança pública do Estado do Rio Grande do Sul, o veículo com numeração de chassi KNAPB817BE7571586 possui placa identificadora IVI0G70 e numeração de motor F4NADH017323, sendo esta uma camioneta da marca Kia, modelo Sportage, ano 2014, cor branca, constatando coo furtado/roubado, sendo este o veículo periciado" . Outrossim, o Ministério Público - titular da ação - foi favorável à restituição, de modo que, não existindo perícias pendentes e não tendo o bem sido adquirido com proventos ilícitos, poderá ser restituído. Afora isso, a apreensão desnecessária do bem trará grande prejuízo à proprietária, pela evidente deterioração decorrente da manutenção em depósito. Nesse cenário, possível, neste momento processual, a devolução do automóvel à requerente, que comprovou ser sua proprietária em razão de contrato de seguro firmado com a antiga proprietária, consoante documentos que instruíram o pedido inicial. Outrossim, com relação às despesas decorrentes da apreensão e estada do veículo em depósito, necessária análise do artigo 15, §1°, da Portaria n. 441/2018, do DETRAN/RS. Da análise do teor do previsto na referida Portaria, publicada em 20/08/2018, verifica-se que a postulante se enquadra nas hipóteses de isenção das despesas. Pela pertinência, oportuna a transcrição do art. 15, in verbis : Art. 15. A liberação de veículos recolhidos exclusivamente por crime ou acidente com lesão dar-se-á somente depois do adimplemento das despesas decorrentes da remoção e estadas, estas últimas limitadas em seis meses, devendo no cadastramento do mandado ser registrado “com ônus”. § 1º Nos casos em que o proprietário ou condutor do bem automotor tenha sido vítima do ilícito criminal ou do acidente de trânsito com lesão, não será exigido o pagamento dos valores de remoção e estadas , cadastrando-se o mandado judicial de natureza criminal “sem ônus”. [grifado] No caso em apreço, constato que a requerente é vítima do fato, pois proprietária do veículo roubado, razão pela qual entendo ser possível a isenção das despesas à requerente. Nesse sentido: RESTITUIÇÃO DE VEÍCULO APREENDIDO. TERCEIRO DE BOA- FÉ. DESNECESSIDADE DE PAGAMENTO DOS ENCARGOS COM O DEPÓSITO. Como sem decidindo este Colegiado em situações semelhantes a deste mandado: “... Vigia à época da apreensão, em dezembro de 2017, a Portaria do Detran nº 34/2009, com redação dada pela Portaria nº 487/2012, a qual isentava de pagamento de custas com estadia e remoção a retirada de veículo apreendido por ilícito criminal. Assim, não pode a proprietária do bem, reconhecida terceira de boa-fé, arcar com o ônus das despesas relativas ao depósito do automóvel, uma vez que não deu causa à apreensão . Nesse contexto, mesmo considerada a nova Portaria que regula a matéria (nº 441/2018), à impetrante deve ser estendida a isenção das custas concedida às vítimas de ilícito criminal, pois teve apreendido seu veículo por acaso, sem ter qualquer relação com o fato criminoso. Desproporcional exigir o pagamento das custas pela remoção e estadia do bem de terceiro que não teve responsabilidade pela apreensão ou pelo período em que ficou recolhido em depósito credenciado pelo Detran... Segurança concedida.” Mandado de Segurança concedido.(Mandado de Segurança Criminal, Nº 70083521393, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sylvio Baptista Neto, Julgado em: 12-02-2020). (grifei). Por todo o exposto, defiro o pedido de restituição do veículo marca KIA/SPORTAGE, de cor Branca, e placas IVI0G70, à requerente/proprietária HDI Seguros, independentemente de ônus, pelas razões acima expostas. Intime-se a requerente para que indique o nome completo e o CPF da pessoa que irá retirar o veículo, a fim de que possa ser expedido o alvará. Com a informação, expeça-se alvará de autorização, sem ônus, nos termos do previsto no art. 15, §1°, da Portaria n. 441/2018 do DETRAN-RS, devendo a retirada do veículo ocorrer no máximo em 15 (quinze) dias , contados da data da expedição do alvará judicial, sob pena de cobrança dos dias excedentes, nos termos do art. 15, § 4º , da Portaria nº 441/2018 do DETRAN/RS. Oficie-se à Autoridade Policial responsável pela apreensão. Oficie-se ao DETRAN/RS, por meio do e-mail leiloes@detran.rs.gov.br, para que se abstenha de reciclar/triturar/leiloar administrativamente o automóvel marca KIA/SPORTAGE, de cor Branca, e placas IVI0G70. Translade-se cópia da presente decisão ao processo principal. Intimações automáticas. Tudo cumprido e nada mais sendo requerido, arquive-se o incidente de restituição. Diligências legais.

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Processo nº 0006361-16.2015.4.03.6102

ID: 292515930

Tribunal: TRF3 Órgão: Gab. 04 - DES. FED. ALESSANDRO DIAFERIA Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0006361-16.2015.4.03.6102

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ADRIANA APARECIDA RUFINO

Acórdão

Advogados:

ARLINDO RAMOS DAS NEVES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 2ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0006361-16.2015.4.03.6102 RELATOR: Gab. 04 - DES. FED. ALESSANDRO DIAFERIA APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL A… PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 2ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0006361-16.2015.4.03.6102 RELATOR: Gab. 04 - DES. FED. ALESSANDRO DIAFERIA APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Advogados do(a) APELANTE: ANTONIO ALEXANDRE FERRASSINI - SP112270-A, TATIANA MIGUEL RIBEIRO - SP209396-A APELADO: ADRIANA APARECIDA RUFINO Advogado do(a) APELADO: ARLINDO RAMOS DAS NEVES - SP266914-A OUTROS PARTICIPANTES: PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 2ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0006361-16.2015.4.03.6102 RELATOR: Gab. 04 - DES. FED. ALESSANDRO DIAFERIA APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Advogados do(a) APELANTE: ANTONIO ALEXANDRE FERRASSINI - SP112270-A, TATIANA MIGUEL RIBEIRO - SP209396-A APELADO: ADRIANA APARECIDA RUFINO Advogado do(a) APELADO: ARLINDO RAMOS DAS NEVES - SP266914-A OUTROS PARTICIPANTES: R E L A T Ó R I O O EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL ALESSANDRO DIAFERIA (RELATOR): As partes que integram a lide pactuaram, em 01/11/2016, por instrumento particular, contrato de arrendamento residencial mercantil com opção de compra (n.º 00.360.305/0001-04), tendo por objeto imóvel adquirido com recursos do PAR — Programa de Arrendamento Residencial (ID 273648233, fls. 10/16). Em 24/09/2010, a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ingressou com ação de reintegração de posse em face de ADRIANA APARECIDA RUFINO, tendo em vista o inadimplemento, a partir de 30/03/2010, do pagamento das parcelas ajustadas (processo n.º 0008957-46.2010.4.03.6102). Nestes autos, após a arrendatária ter efetuado depósito judicial com o intuito de quitar o débito, a CEF levantou quantia apta a liquidar os encargos contratuais vencidos até o mês de janeiro do ano de 2011. O montante excedente foi levantado pela arrendatária. Posteriormente, a instituição financeira ingressou com outra ação de reintegração de posse, ora sub judice, alegando novo inadimplemento contratual por parte de ADRIANA APARECIDA RUFINO, eis que as parcelas contratuais referentes aos meses de fevereiro do ano de 2011 a abril do ano de 2012, bem como dos meses de fevereiro a junho de 2015, não teriam sido devidamente pagas (ID 273648233, fls. 4/6 e 20/22). Em contrapartida, ADRIANA APARECIDA RUFINO, ora ré, propôs ação ordinária de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais em face da instituição financeira (processo n.º 0006681-32.2016.4.03.6102), cujos autos se encontram apensados. Após regular trâmite processual, foi prolatada sentença, a qual julgou ambas as ações em conjunto, nos seguintes termos (ID 273648233, fls. 100/102): “(...) Ante o exposto, julgo procedentes os pedidos da ação de procedimento comum, para condenar a Caixa Econômica Federal - CEF: a) ao pagamento, em favor da parte autora, da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de danos morais, corrigida monetariamente até a data do efetivo pagamento. b) ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) do valor da condenação, segundo o disposto no art. 85, §2,do CPC/2015; c) a proceder ao refinanciamento do montante do saldo devedor, acrescido no valor do débito em atraso, com os acréscimos devidos, utilizando os critérios estabelecidos no contrato de fls. 7-13, dos autos n° 6361-16.2015.403.6102,consoante os critérios do cálculo da fl. 50 dos autos da ação de reintegração, pelos quais foi fixado o valor da parcela mensal, considerando os valores pagos e a quantidade de parcelas pendentes. Concedo a antecipação doa efeitos da tutela nos autos da ação de procedimento comum, determinando que a CEF, em até 30 (dias), promova a atualização do valor da parcela apurado no cálculo da fl. 50 dos autos da reintegração e passe a emitir e enviar diretamente os boletos para a autora, reativando o financiamento em tais termos, com o primeiro vencimento fixado em março de 2017. Traslade-se cópia do referido cálculo para os autos da ação de procedimento comum. Decreto a extinção da reintegração sem deliberação quanto ao mérito, pois o resultado da ação de procedimento comum fez perecer o seu objeto. (...)” A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL interpôs recurso de apelação em face da r. sentença (ID 273648233, fls. 108/119). Em suas razões, em síntese, negou ter cometido qualquer falha procedimental durante o trâmite da ação de reintegração de posse n.º 0008957-46.2010.4.03.6102, notadamente durante o levantamento dos valores depositados em juízo pela apelada. Isto porque a recorrente teria ciência de que havia parcelas em aberto posterior ao mês de janeiro do ano de 2011, as quais não foram cobertas pelo quantum levantado. Ademais, suscitou que o dano moral sofrido pela recorrida não restou devidamente comprovado e, subsidiariamente, requereu a diminuição do valor fixado a título de indenização, para se evitar o enriquecimento sem causa da arrendatária. A apelada apresentou contrarrazões ao recurso (ID 273648233, fls. 125/128). Pleiteou, em suma, a manutenção integral da sentença prolatada. Nesse sentido, argumentou que, no bojo do processo n.º 0008957-46.2010.4.03.6102, purgou a mora por completo, mas o montante necessário à quitação total do débito não foi devidamente levantado por falha da instituição financeira. Outrossim, afirmou que o dano moral sofrido restou devidamente comprovado, devendo a apelante ser condenada ao pagamento de indenização. Vieram os autos conclusos. É o relatório. PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 2ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0006361-16.2015.4.03.6102 RELATOR: Gab. 04 - DES. FED. ALESSANDRO DIAFERIA APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Advogados do(a) APELANTE: ANTONIO ALEXANDRE FERRASSINI - SP112270-A, TATIANA MIGUEL RIBEIRO - SP209396-A APELADO: ADRIANA APARECIDA RUFINO Advogado do(a) APELADO: ARLINDO RAMOS DAS NEVES - SP266914-A OUTROS PARTICIPANTES: V O T O O EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL ALESSANDRO DIAFERIA (RELATOR): Trata-se de ação de reintegração de posse proposta pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF em face de ADRIANA APARECIDA RUFINO devido ao inadimplemento de contrato de arrendamento mercantil com opção de compra, cujo objeto é imóvel adquirido com recursos do PAR - Programa de Arrendamento Residencial. O MM. Juízo da 6ª Vara Federal em Ribeirão Preto julgou o feito em conjunto com o processo em apenso (nº 0006681-32.2016.4.03.6102), sob os seguintes fundamentos: "(...) A controvérsia entre as partes nas duas ações e na reintegração anteriormente proposta diz respeito ao mesmo imóvel financiado (Matricula n° 96400, do 2° R.I. desta Comarca). Verifico que, na ação de reintegração de posse ajuizada anteriormente (autos a° 8957-46.2010.403.6102), a autora efetuou depósitos judiciais em montante superior ao devido naquela ação, o que possibilitava o adimplemento das prestações do financiamento em questão. Quando do levantamento do alvará, a CEF informou que as prestações seriam quitadas até janeiro de 2011, reconhecendo que havia prestações em atraso. Mesmo assim, sequer cogitou de requerer a apropriação de todo o montante depositado em juízo para o abatimento nas parcelas vencidas, declarando que pretendia ingressar com nova ação possessória. Nem cabe a alegação de que a autora (arrendatária) teria se apropriado do montante, porque o levantamento deu-se somente em 08.05.2012, havendo tempo suficiente para manifestar ao juízo, naquela ocasião, a necessidade de apropriação do dinheiro depositado naqueles autos. Em 15.09.2015, a CEF ingressou com nova ação de reintegração de posse (autos n° 6361-16.2015.403.6102), alegando o não pagamento dos valores contratados. Realizada audiência de justificação, a senhora Adriana alegou que não recebeu os boletos para os pagamentos, tendo concluído que nada devia ao banco. Segundo as informações prestadas pela Caixa Econômica Federal - CEF (Oficio n° 02-0466/2016, ás fls. 188-190), houve tentativa de entrega dos boletos em atraso á arrendatária, por intermédio da empresa contratada para a administração dos imóveis (Mark ml, á época, mas que houve recusa no recebimento. Contudo, a CEF não fez prova dessa recusa. Apesar das dificuldades financeiras, a senhora Adriana fez vários depósitos judiciais nos autos da reintegração de posse, demonstrando a sua boa - fé e a manifesta intenção de pagar a divida. Há interesse na manutenção do financiamento do imóvel que constitui a Sua moradia. Caberia, então, à CEF direcionar seus esforços para manter a pessoa na posse do imóvel, especialmente porque se trata de financiamento com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial, de notório interesse social. Feitas essas considerações, verifico que a CEF teria condições de compor a situação, evitando as demandas possessórias para a reto a do imóvel. Entendo que a CEF não agiu com a cautela devida para evitar a inadimplência da arrendatária, tendo em vista que houve a purgação da mora pela ora e o levantamento na reintegração anterior deixou de ocorrer diante e erro da referida empresa pública. Nessas circunstâncias, impõe-se concluir que a nova ação de reintegração de posse causou injustificado dano moral para a senhora Adriana, que, nesse contexto, foi ameaçada de forma indevida de perder a sua moradia. Pelos fundamentos já consignados, verifico a ocorrência de dano moral. Passo a analisar a questão do quantum devido. De acordo com a jurisprudência pátria, o valor arbitrado a titulo de danos morais possui dupla função: a de ressarcir a parte afetada pelos danos sofridos, e a de evitar que atos semelhantes venham a ocorrer novamente. Desta forma, o quantum não pode ser ínfimo, mas também não pode implicar enriquecimento sem causa á parte lesada. O valor da indenização deve observar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Para o caso dos autos, entendo ser suficiente a fixação do dano moral sofrido no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Diante da procedência dos pedidos da ação de procedimento comum, fica prejudicada a reintegração. Ante o exposto, julgo procedentes os pedidos da ação de procedimento comum, para condenar a Caixa Econômica Federal - CEF: a) ao pagamento, em favor da parte autora, da quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de danos morais, corrigida monetariamente até a data do efetivo pagamento. b) ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) do valor da condenação, segundo o disposto no art. 85, § 2º, do CPC/20 15; c) a proceder ao refinanciamento do montante do saldo devedor, acrescido no valor do débito em atraso, com os acréscimos devidos, utilizando os critérios estabelecidos no contrato de fls. 7-13, dos autos n° 6361-16.2015.403.6102, consoante os critérios do cálculo da fl. 50 dos autos da ação de reintegração, pelos quais foi fixado o valor da parcela mensal, considerando os valores pagos e a quantidade de parcelas pendentes. Concedo a antecipação dos efeitos da tutela nos autos da ação de procedimento comum, determinando que a CEF, em até30 (dias), promova a atualização do valor da parcela apurado no cálculo da fl. 50 dos autos da reintegração e passe a emitir e enviar diretamente os boletos para a autora, reativando o financiamento em tais termos, com o primeiro vencimento fixado em março de 2017. Traslade-se cópia do referido cálculo para os autos da ação de procedimento comum. Decreto a extinção da reintegração sem deliberação quanto ao mérito, pois o resultado da ação de procedimento comum fez perecer o seu objeto. (...)" Data a máxima venia ao entendimento adotado pelo MM. Juízo a quo, entendo que a r. sentença deve ser reformada, eis que procedente a pretensão da apelante. Inicialmente, denoto que o decisum se baseou, principalmente, nos atos processuais efetuados no bojo do processo nº 0008957-46.2010.4.03.6102, primeira ação de reintegração de posse proposta pela recorrente em face da recorrida. Cópias dos autos foram juntadas ao processo nº 0006681-32.2016.4.03.6102 em apenso (ID 93316257, fls. 21/80 e 103/127, dos autos em apenso). À época, após regular trâmite processual e ter sido efetuado depósito pela recorrida, foi determinado pelo MM. Juízo da 6ª Vara Federal em Ribeirão Preto (ID 93316257, fl. 106, dos autos em apenso): "SENTENÇA Tendo em vista o pagamento da dívida noticiado pela ré a fls. 33, 35, 42, e a aquiescência da autora (fls. 38/39), DECLARO EXTINTO o processo, com resolução do mérito, a teor do artigo 269, III, do CPC. Custas na forma da lei. Sem condenação em honorários. Transitada em julgado esta decisão, expeça-se alvará para levantamento dos valores depositados (fls. 35 e 42), cientificando o i. procurador das partes de que deverá retirá-lo imediatamente após sua intimação, bem como de que o referido alvará terá validade de 60 (sessenta) dias, a contar da data da expedição. Deverão ser expedidos dois alvarás, um em favor da CEF (montante apurado às fls. 38/39) e o valor remanescente, em favor da ré. Noticiados os levantamentos, ao arquivo (baixa-findo). P.R.I." Posteriormente, o MM. Juízo também determinou o levantamento da quantia remanescente pelo procurador da recorrida (ID 93316257, fl. 120, dos autos em apenso). Em cumprimento à determinação judicial, a CEF levantou a quantia de R$ 1.802,62 (mil oitocentos e dois reais e sessenta e dois centavos) e se manifestou informando que o valor apenas cobriria a quitação das parcelas contratuais vencidas até o mês de janeiro de 2011. Na mesma oportunidade, ainda esclareceu que haviam outros débitos a serem pagos pela apelada, os quais seriam demandados através dos meios próprios para tanto (ID 93316257, fl. 115, dos autos em apenso). Desta feita, não se pode imputar falha à instituição financeira por ausência de levantamento do valor total depositado em juízo pela recorrida. A uma, porque cumpriu fielmente o determinado pelo magistrado a quo. A duas, porque se manifestou, expressamente, acerca da ausência da quitação do valor total do débito. Portanto, não se pode interpretar que houve má-fé por parte da apelante, eis que não se quedou inerte e apenas não levantou montante suficiente ao pagamento de todas as parcelas vencidas e não pagas por circunstâncias inerentes ao próprio trâmite processual. É certo que a CEF, em observância aos princípios da celeridade e economia processual, poderia ter pleiteado o levantamento de quantia superior, de modo a quitar a dívida por inteiro. Contudo, não se pode afirmar que tal postura se constituía como dever processual. Ademais, uma vez informado nos autos que o montante levantado não supriria o total do débito, também caberia à própria arrendatária empreender esforços processuais e administrativos para que a dívida fosse quitada, inclusive mediante a formulação de requerimento voltado ao levantamento de quantia a maior pela instituição financeira. Outrossim, ainda que se interprete que houve erro por parte da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF e que, por isso, a recorrida incorreu em inadimplemento das parcelas referentes aos meses de fevereiro de 2011 a abril de 2012, observa-se que a presente ação possessória também foi proposta em decorrência da ausência de pagamento de parcelas dos meses de fevereiro de 2015 a junho de 2015 (ID 273648233, fls. 4/6 e 20/22). A notificação acerca do inadimplemento referente ao primeiro período antes mencionado não foi juntada aos autos e CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF não comprovou a recusa por parte da recorrida em receber os boletos de pagamento, tal como argumenta. Não obstante, a apelante juntou aos autos notificação extrajudicial entregue à apelada que indicava o inadimplemento referente a ambos os períodos (ID 273648233, fls. 20/21). Uma vez ultrapassado o prazo estipulado na referida notificação sem regularização da situação de inadimplência, resta caracterizado o esbulho possessório, nos termos do que prevê o art. 9º da Lei nº 10.188/01, pois a posse da arrendatária se tornou precária. Nesse sentido, colaciono precedentes jurisprudenciais da C. 2ª Turma, a qual componho neste E. Tribunal: APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. CPC 1973. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - PAR. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO CONFIGURADO. ESBULHO CARACTERIZADO. REQUISITOS RIGOROSOS DA LEI Nº 10.188/01. - Afastada a alegação de cerceamento de defesa devido à ausência de produção de prova testemunhal, uma vez que não há nos autos qualquer indício de violação às normas processuais aplicáveis. artigo 130 do CPC/73. - No mérito, a apelada comprovou a sua propriedade e posse anterior através do contrato de arrendamento e matrícula do imóvel. - Arrendatários devidamente notificados para a regularização do pagamento das prestações. Mora constituída. - Uma vez ultrapassado o prazo de 15 dias estipulado na notificação enviada pela Caixa Econômica Federal para regularização da situação de inadimplência, ficou caracterizado o esbulho possessório – nos termos do citado art. 9º, da Lei 10.188/01 -, uma vez que a posse do arrendatário passa a ser então precária. - Apelação desprovida. (Apelação Cível nº 0022054-27.2007.4.03.6100, 2ª Turma do TRF - 3ª Região, Relatora: Desembargadora Federal Diana Brunstein, Data de Julgamento: 08/11/2024, DJE data: 12/11/2024) - Grifos acrescidos. APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL. INADIMPLEMENTO. - O Programa de Arrendamento Residencial – PAR foi instituído pela Lei nº 10.188/2001 com o objetivo de suprir a falta de oferta de moradia à população de baixa renda, competindo sua operacionalização à Caixa Econômica Federal. - No Programa de Arrendamento Residencial, a Caixa Econômica Federal detém a propriedade fiduciária dos imóveis, estabelecendo o art. 9º, da Lei n. 10.188/2001, que na hipótese de inadimplemento no arrendamento, findo o prazo da notificação ou interpelação, sem pagamento dos encargos em atraso, fica configurado o esbulho possessório que autoriza o arrendador a propor a competente ação de reintegração de posse. - Não há nenhum impeditivo legal a que uma terceira empresa proceda à notificação prevista no art. 9º, da Lei nº 10.188/2001, desde que atendida a finalidade do ato. - Foi providenciado o envio de notificação dando ciência à arrendatária da ausência de pagamento das taxas de arrendamento, informando ainda a necessidade de regularização no prazo máximo de 5 dias, sob pena de restar configurado esbulho possessório, autorizando o ajuizamento de ação de reintegração de posse. - O endereço ao qual a notificação foi encaminhada é o mesmo do imóvel objeto do contrato de arrendamento residencial, razão pela qual deve ser dada como cumprida a exigência legal. - Restou comprovado o inadimplemento das taxas de arrendamento, o que caracteriza esbulho possessório e enseja a rescisão contratual, ao mesmo tempo em que não há irregularidade na notificação da arrendatária. - Apelação desprovida. (Apelação Cível nº 5002567-96.2020.4.03.6110, 2ª Turma do TRF - 3ª Região, Relatora: Desembargadora Federal Silvia Figueiredo Marques, Data de Julgamento: 03/07/2024, DJE data: 08/07/2024) - Grifos acrescidos. Uma vez reconhecida a procedência da pretensão autoral de reintegração de posse, não há que se falar em danos morais à apelada. A propositura da presente ação foi legítima, seja sob a ótica de ausência de falha da CEF no bojo do processo nº 0008957-46.2010.4.03.6102, seja sob a perspectiva de que, notificada, a recorrida não reparou o inadimplemento referente ao pagamento das parcelas relativas ao período de fevereiro a junho de 2015. Por fim, diante da inversão da sucumbência, devidos honorários advocatícios pela recorrida à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF, fixados em 10% sobre o valor atualizado do proveito econômico obtido ou não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, cuja exigibilidade deve ser suspensa, tendo em vista a concessão de gratuidade de justiça, nos termos do que preceitua o art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil. Ante o exposto, julgo procedente o recurso de apelação, nos termos da fundamentação. É o voto. Autos: APELAÇÃO CÍVEL - 0006361-16.2015.4.03.6102 Requerente: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL Requerido: ADRIANA APARECIDA RUFINO EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL - PAR. INADIMPLEMENTO. DANOS MORAIS. RECURSO PROVIDO. I. Caso em exame Trata-se de apelação interposta pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF contra sentença que julgou procedente ação de procedimento comum movida por Adriana Aparecida Rufino, condenando a CEF ao pagamento de danos morais e determinação de refinanciamento do saldo devedor referente a contrato de arrendamento mercantil com opção de compra, além de ter extinto a ação de reintegração de posse sem julgamento de mérito. II. Questão em discussão A controvérsia reside na verificação da legitimidade da ação de reintegração de posse proposta pela CEF, considerando-se: (i) se houve falha da instituição financeira no levantamento de valores depositados em juízo em processo anterior; e (ii) se restou caracterizado o esbulho possessório em razão do inadimplemento das parcelas contratuais. III. Razões de decidir A sentença recorrida fundamentou-se no fato de que a CEF não teria solicitado o levantamento integral dos valores depositados pela recorrida em processo anterior, o que teria levado ao seu inadimplemento. No entanto, verificou-se que a CEF cumpriu fielmente a determinação judicial, informando a insuficiência do montante levantado para quitar integralmente a dívida. O inadimplemento da recorrida decorreu também da ausência de pagamento de parcelas vencidas entre fevereiro e junho de 2015, após notificação da CEF, não tendo havido comprovação de pagamento ou contestação da dívida pela arrendatária. Nos termos do art. 9º da Lei nº 10.188/01, ultrapassado o prazo da notificação sem regularização, configura-se esbulho possessório, autorizando a reintegração de posse. A ação possessória é lícita e justificável, afastando-se a condenação da CEF ao pagamento de danos morais. Inversão da sucumbência, com condenação da recorrida ao pagamento de honorários advocatícios, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC, suspensa a exigibilidade devido à gratuidade de justiça. IV. Dispositivo e tese Recurso provido. Reforma da sentença para julgar procedente a reintegração de posse e afastar a condenação por danos morais. Tese de julgamento: "1. A notificação extrajudicial do inadimplemento é suficiente para caracterizar esbulho possessório no âmbito do Programa de Arrendamento Residencial. 2. O cumprimento das determinações judiciais relativas ao levantamento de depósitos judiciais afasta a caracterização de conduta ilícita por parte da CEF." Dispositivos relevantes citados: Lei nº 10.188/2001, art. 9º; CPC, art. 85, § 2º. Jurisprudência relevante citada: TRF-3, Apelação Cível nº 0022054-27.2007.4.03.6100, Rel. Des. Federal Diana Brunstein; TRF-3, Apelação Cível nº 5002567-96.2020.4.03.6110, Rel. Des. Federal Silvia Figueiredo Marques. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Segunda Turma decidiu, por unanimidade, dar provimento à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. ALESSANDRO DIAFERIA Desembargador Federal

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Adriana Maria De Andrade x Azul Linhas Aéreas Brasileiras S/A

ID: 330187167

Tribunal: TJMG Órgão: Unidade Jurisdicional da Comarca de São João del-Rei Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-73.2025.8.13.0625

Data de Disponibilização: 21/07/2025

Polo Ativo:

ADRIANA MARIA DE ANDRADE

Polo Passivo:

AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A

Intimação

Advogados:

FERNANDO ANTONIO GONCALVES CHALUP

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GUILHERME DOS SANTOS PONTES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

FLAVIO IGEL

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GUSTAVO DE CARVALHO CHALUP

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São João Del Rei / Unidade Jurisdicional da Comarca de São João del-Rei Rua Antônio Manoel de Souza Guerra, 125, Fó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São João Del Rei / Unidade Jurisdicional da Comarca de São João del-Rei Rua Antônio Manoel de Souza Guerra, 125, Fórum Carvalho Mourão, Vila Marchetti, São João Del Rei - MG - CEP: 36307-201 PROJETO DE SENTENÇA PROCESSO: 5002567-73.2025.8.13.0625 AUTOR: ADRIANA MARIA DE ANDRADE CPF: 562.759.786-00 RÉU/RÉ: AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A CPF: 09.296.295/0001-60 Vistos. I – BREVE RESUMO DOS FATOS ADRIANA MARIA DE ANDRADE, qualificada nos autos, ajuizou a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS em face de AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A., igualmente qualificada no feito, ao argumento de que, na qualidade de sócia-proprietária de uma clínica de radiologia em Belo Horizonte, foi convidada para participar de um congresso profissional em Balneário Camboriú, Santa Catarina, entre os dias 11 e 15 de novembro de 2024. Para isso, adquiriu passagens aéreas da ré, com embarque em Belo Horizonte em 11 de novembro de 2024, com destino a São Paulo (escala) e, em seguida, a Florianópolis. Ao desembarcar em Florianópolis, foi surpreendida com o extravio de sua bagagem, que continha roupas, roupas íntimas, produtos de higiene pessoal, maquiagens, perfumes e um ferro de passar roupas. A autora afirma que os itens eram essenciais para sua participação no evento, forçando-a a adquirir novas roupas e artigos pessoais. A bagagem foi devolvida somente no final do dia 13 de novembro de 2024, dois dias após o início do congresso, o que prejudicou sua experiência profissional e causou constrangimento. A autora alega que a postura da ré em não oferecer uma solução rápida e a falta de informações claras agravaram seu abalo emocional e a obrigaram a lidar com situações constrangedoras. Em decorrência do extravio, a autora buscou indenização por danos materiais pelos gastos emergenciais com roupas e itens pessoais, e por danos morais devido ao abalo emocional e transtornos. Com a petição inicial vieram acostados documentos (ID Num. 10413393385). A AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S.A. apresentou contestação (ID Num. 10478830803), aduzindo que a autora efetuou a compra de passagens aéreas da ré para os trechos Belo Horizonte/MG a Florianópolis/SC, com conexão em Campinas/SP, com embarque previsto para 11/11/2024. A autora constatou a ausência de sua bagagem ao desembarcar em Florianópolis/SC, tendo a ré iniciado o procedimento de localização e entrega. No entanto, a ré afirma que as bagagens foram entregues no dia posterior à chegada da autora ao destino, e não dois dias depois, como alegado na inicial. Quanto ao direito aplicável, a ré defende a aplicação do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) em detrimento do Código de Defesa do Consumidor (CDC), por se tratar de lei específica para o transporte aéreo, em conformidade com o artigo 178 da Constituição Federal. Argumenta que o CDC é uma norma genérica e que a Lei nº 14.034/2020 alterou preceitos do CBA, reforçando sua validade. No mérito, a ré alega que tomou todas as medidas necessárias para localização e devolução da bagagem, gerando o Registro de Irregularidade de Bagagem (RIB) em 11/11/2024. Informa que a bagagem foi localizada e entregue à autora em 12/11/2024, ou seja, em menos de 2 dias após a chegada. A ré sustenta que o Judiciário já reconhece a validade de telas sistêmicas como prova. Afirma que o prazo para localização e entrega de bagagem extraviada é de até 7 dias em voos domésticos e 21 dias em voos internacionais, conforme a Resolução 400 da ANAC, e que a indenização só é devida após o transcurso desse prazo. Diante da entrega da bagagem dentro do prazo regulamentar, a ré defende a ausência do dever de indenizar, argumentando que o simples atraso não caracteriza dano moral e que a autora busca enriquecimento ilícito. Quanto aos danos materiais, a ré contesta o valor pleiteado de R$ 10.273,82. Alega que a aquisição de itens pela autora foi desnecessária e desproporcional, uma vez que a bagagem foi devolvida em curto período. Sustenta que os itens foram incorporados ao patrimônio da autora, não configurando dano material indenizável, e que as notas fiscais apresentadas são de produtos supérfluos e de alto valor, como tênis, conjuntos de tricô, vestidos, bolsas e camisas de seda, que extrapolam a necessidade de suprir itens essenciais. Em relação aos danos morais, a ré defende que não houve lesão psíquica grave, mas meros aborrecimentos, não sendo cabível indenização por simples dissabores. Cita jurisprudências que, segundo a ré, confirmam que o extravio temporário de bagagem, por si só, não gera dano moral indenizável. Realizada audiência de conciliação, esta restou infrutífera, pugnando as partes pelo julgamento antecipado do feito (ID Num. 10480021050) Impugnação à contestação, onde a parte requerente ratifica a pretensão inaugural (ID Num. 10491712253). É o breve resumo dos fatos relevantes. II – FUNDAMENTO E DECIDO DAS PRELIMINARES DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO BRASILEIRO DE AERONÁUTICA EM DETRIMENTO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR A controvérsia sobre a aplicação do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) em detrimento do Código de Defesa do Consumidor (CDC) em casos de transporte aéreo é uma questão reiteradamente enfrentada pelo Poder Judiciário. A ré defende a prevalência do CBA por ser uma lei específica para o setor aeronáutico, invocando o artigo 178 da Constituição Federal e a Lei nº 14.034/2020. No entanto, a jurisprudência dominante, inclusive do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tem se consolidado no sentido de que as relações de consumo no transporte aéreo são regidas pelo Código de Defesa do Consumidor. O CDC, Lei nº 8.078/90, é uma norma de ordem pública e interesse social, que visa a proteção e defesa dos direitos do consumidor. O consumidor, no contexto da relação de consumo, é considerado a parte vulnerável e hipossuficiente. Essa vulnerabilidade justifica a aplicação da responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, conforme previsto no artigo 14 do CDC, que estabelece que o fornecedor responde, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. É fundamental destacar que a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXII, prevê expressamente a defesa do consumidor como direito fundamental. Dessa forma, qualquer interpretação que restrinja a aplicação do CDC em detrimento de uma legislação setorial específica deve ser analisada com cautela, a fim de não esvaziar a proteção constitucionalmente garantida ao consumidor. O argumento de que o CBA seria uma lei posterior e específica, revogando o CDC ou prevalecendo sobre ele, não se sustenta. O CDC, embora anterior à Lei nº 14.034/2020 que alterou o CBA, possui caráter de lei geral de proteção e defesa do consumidor. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), em seu artigo 2º, § 2º, preceitua que "a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior". O CDC é uma lei geral que trata das relações de consumo de forma ampla, enquanto o CBA é uma lei que disciplina um tipo específico de transporte. Não há incompatibilidade que justifique a revogação integral do CDC em matéria de responsabilidade civil no transporte aéreo. A responsabilidade objetiva da companhia aérea, em casos de falha na prestação do serviço como o extravio de bagagem, é amplamente reconhecida pela jurisprudência. Diante do exposto, rejeito a preliminar de inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e, por conseguinte, da prevalência do Código Brasileiro de Aeronáutica. O presente caso será analisado sob a ótica da legislação consumerista, que ampara a parte autora na sua condição de hipossuficiente na relação. MÉRITO DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E RESPONSABILIDADE OBJETIVA A parte autora fundamenta seu pedido na falha da prestação de serviços da ré, que se manifestou em uma conduta principal: o extravio temporário da bagagem. A ré, por sua vez, admite o extravio da bagagem, argumentando que a mesma foi localizada e entregue dentro do prazo regulamentar. Conforme o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, a responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva, ou seja, independe da existência de culpa. Basta a comprovação do dano e do nexo causal entre o dano e o defeito na prestação do serviço para que surja o dever de indenizar. O extravio da bagagem da autora é um fato incontroverso. A ré confirma que foi informada do extravio e que a bagagem foi localizada e devolvida. Contudo, a devolução da bagagem no dia seguinte, período em que a autora ficou sem seus pertences essenciais, roupas e materiais de trabalho, caracteriza uma falha grave na prestação do serviço. O argumento da ré de que a bagagem foi entregue dentro do prazo máximo previsto na ANAC (Artigo 32 da Resolução 400/2016) não elide a situação de desconforto e angústia sofrida pela consumidora durante esse período. Assim, a conduta da ré no extravio da bagagem configura defeito na prestação do serviço, nos termos do artigo 14 do CDC, atraindo sua responsabilidade objetiva pelos danos causados à autora. DOS DANOS MORAIS A autora busca indenização por danos morais no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) em decorrência do extravio de sua bagagem, que continha itens essenciais para sua participação em um congresso profissional, e pela demora na sua devolução. A ré, por sua vez, alega que os fatos configuram mero aborrecimento, que não há lesão psíquica grave e que o dano moral não é presumido, devendo a autora comprovar efetivamente o prejuízo e sua extensão, conforme o artigo 251-A do CBA. Conforme já amplamente fundamentado na rejeição da preliminar, a relação em tela é de consumo, e a responsabilidade da companhia aérea é objetiva, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. A falha na prestação do serviço de transporte aéreo, evidenciada pelo extravio da bagagem, é, por si só, um fato gerador de abalo que transcende o mero dissabor cotidiano. A bagagem extraviada da autora continha roupas, roupas íntimas, necessaire com produtos de higiene pessoal, maquiagens, perfumes e um ferro de passar roupas. Tais itens eram essenciais para sua participação em um congresso profissional, evento de significativa importância para sua atualização e troca de experiências na área de radiologia, como sócia-proprietária de uma clínica. A autora foi forçada a adquirir novas roupas e artigos pessoais para se apresentar adequadamente, o que, por si só, já demonstra a situação de constrangimento e transtorno. Alegar que a autora permaneceu sem seus pertences por “apenas questões de horas” ou “menos de 2 dias” não mitiga o impacto do extravio. O extravio da bagagem em um contexto de viagem profissional, especialmente quando se trata de itens essenciais para a apresentação e participação em um evento importante, gera uma evidente sensação de impotência, frustração e constrangimento. A autora se viu em uma cidade estranha, desprovida de seus pertences básicos e profissionais, o que, indubitavelmente, afetou sua tranquilidade e a qualidade de sua experiência na viagem. A jurisprudência tem reconhecido o dano moral in re ipsa em casos de extravio de bagagem. Isso significa que o dano é presumido a partir da própria ocorrência do fato, não necessitando de prova da efetiva dor ou sofrimento. O extravio de bagagem não se configura como mero aborrecimento, mas como um evento capaz de gerar significativa perturbação no bem-estar psíquico do indivíduo, especialmente em situações como a presente, onde há um compromisso profissional diretamente afetado. Considerando os transtornos causados, a frustração decorrente da impossibilidade de usufruir plenamente do congresso e o abalo emocional vivenciado pela autora, entendo que a fixação de indenização por danos morais é devida. Para a quantificação, devem ser observados os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, bem como o caráter punitivo-pedagógico da medida, sem que se configure enriquecimento ilícito da parte ofendida. A indenização deve ser suficiente para compensar o sofrimento da vítima e desestimular a reiteração da conduta pela empresa. Diante disso, e considerando a intensidade do dano e a repercussão na vida profissional e pessoal da autora, bem como a capacidade econômica da ré, fixo o valor da indenização por danos morais em R$ 6.000,00 (seis mil reais). Este valor se mostra adequado para compensar o abalo sofrido pela autora sem configurar enriquecimento sem causa. DOS DANOS MATERIAIS A autora pleiteia indenização por danos materiais no valor de R$ 10.273,82 (dez mil duzentos e setenta e três reais e oitenta e dois centavos), referentes aos gastos emergenciais com a aquisição de roupas e itens pessoais devido ao extravio da bagagem. A ré contesta esse pedido, alegando que os valores são desnecessários e desproporcionais, uma vez que a bagagem foi entregue em menos de dois dias, e que os itens adquiridos foram incorporados ao patrimônio da autora, não configurando dano material. A análise dos danos materiais requer a comprovação efetiva do prejuízo, conforme preceitua o artigo 402 do Código Civil. A autora apresentou diversas notas fiscais para comprovar os gastos, localizadas no ID Num. 10413390640. A ré sustenta que a bagagem foi entregue em 12/11/2024, e não em 13/11/2024 como alegado pela autora, com base em seus sistemas internos (RIB – Registro de Irregularidade de Bagagem) que indicam a “Closing Date: 13NOV24 10:21 GMT” e “Received Date & Time: 12NOV24”. A autora, por sua vez, afirma que a bagagem somente foi devolvida no final do dia 13 de novembro de 2024. Analisando os documentos, o registro de irregularidade da bagagem (RIB) apresentado pela ré (ID Num. 10478825818) indica "Received Date & Time: 12NOV24", o que sugere que a bagagem foi recuperada em 12 de novembro de 2024. O registro também mostra que o "File Status" foi "Closed" em 13 de novembro de 2024, às 10:21 GMT. Considerando a informação de "Received Date & Time: 12NOV24", infere-se que a bagagem foi de fato recebida em 12/11/2024, e o "Closing Date" de 13/11/2024 refere-se ao encerramento administrativo do processo do RIB. Portanto, a autora ficou sem sua bagagem do dia 11/11/2024 até 12/11/2024, ou seja, por aproximadamente um dia. Diante dessa constatação, é razoável considerar como indenizáveis os gastos emergenciais realizados pela autora no dia 11/11/2024, data de sua chegada e do extravio. No entanto, os gastos realizados em 12/11/2024 e 13/11/2024, ou em datas posteriores, perdem a caracterização de urgência e necessidade imediata, uma vez que a autora já estaria em posse de sua bagagem. Analisando as notas fiscais anexadas no ID Num. 10413390640, verifica-se que a única nota fiscal emitida em 11/11/2024 é a de Número 6245, Série 14, emitida pela COMERCIO DE MEDICAMENTOS BRAIR LTDA, com valor total de R$ 403,73 (quatrocentos e três reais e setenta e três centavos). Esta nota inclui itens como creme dental, escova de cabelo, pastilhas, escova dental, fio dental, protetor solar e hidratante. Estes são itens de higiene pessoal e cuidado básico, caracterizando-se como despesas essenciais para suprir a falta da bagagem. As demais notas fiscais apresentadas pela autora foram emitidas em 12/11/2024 e 13/11/2024. A nota fiscal da LIVE STORE BRASIL COM DE ROUPAS FIL I, emitida em 12/11/2024, no valor de R$ 2.539,30, inclui diversas peças de vestuário como shorts, regatas, tops, calças e vestidos. A nota fiscal da NASCHU COMERCIO DE ROUPAS E ACESSORIOS LTDA, também de 12/11/2024, é de um tênis no valor de R$ 799,90. A nota fiscal da HOPE - BALNEARIO CAMBORIU, de 12/11/2024, totaliza R$ 419,70 em roupas íntimas e bodies. Outras notas de 13/11/2024 incluem mais vestuário, acessórios e cosméticos. Considerando que a bagagem foi entregue em 12/11/2024, as compras realizadas em 12/11/2024 e 13/11/2024 e posteriormente não se enquadram como despesas emergenciais e necessárias devido ao extravio. Mesmo as compras de roupas realizadas em 12/11/2024, apesar de ainda em período de extravio, podem ser consideradas excessivas para uma necessidade de "um dia", especialmente quando se trata de itens de valor elevado e em quantidade que excede o estritamente necessário para suprir a falta temporária de pertences para um evento profissional. A própria ré aponta que alguns itens são de "grife e alto valor agregado", como um tênis de R$ 799,90 e um conjunto de tricô de R$ 549,90, o que corrobora a tese de que tais compras extrapolaram a finalidade de suprir necessidades básicas urgentes. A indenização não pode ter o objetivo de acrescer bens ao patrimônio do requerente, gerando enriquecimento indevido, quando os bens adquiridos permanecem em sua posse e uso. Portanto, apenas as despesas comprovadamente realizadas no dia 11/11/2024, data do extravio, e que se mostrem estritamente necessárias para a subsistência e o cumprimento dos compromissos da autora, devem ser consideradas para fins de indenização material. Nesse sentido, a única nota fiscal que se enquadra nessa premissa é a de: EMISSÃO NORMAL Número: 6245, Série: 14, Emissão: 11/11/2024 21:36:50, valor: R$ 403,73 (quatrocentos e três reais e setenta e três centavos) (ID Num. 10413390640, pág. 14). Desse modo, o pedido de danos materiais é parcialmente procedente. DISPOSITIVO Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS, resolvendo o feito com mérito para: a) CONDENAR a requerida a ressarcir à autora o valor de R$ 403,73 (quatrocentos e três reais e setenta e três centavos) a título de reparação por danos materiais, valor este a ser atualizado monetariamente de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA (parágrafo único do art. 389 do Código Civil), devidos desde o ajuizamento da ação, acrescido de juros de mora pela Taxa Selic, deduzido o índice de atualização monetária de que trata o parágrafo único do art. 389 do Código Civil, devido desde a data da citação; e b) CONDENAR a requerida a pagar a quantia de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a título de reparação por danos morais, que deverá ser atualizado monetariamente de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA (parágrafo único do art. 389 do Código Civil) devidos desde a data do arbitramento, conforme Súmula 362 do Superior Tribunal de Justiça e acrescida de juros de mora pela Taxa Selic, deduzido o índice de atualização monetária de que trata o parágrafo único do art. 389 do Código Civil, desde a citação. Sem custas e ônus sucumbenciais, nos termos da Lei nº. 9.099/95. Os documentos físicos apresentados no processo eletrônico pelas partes, nos termos Portaria Conjunta nº. 411/PR/2015, deverão ser retirados pelos interessados no prazo de 45 (quarenta e cinco dias), a contar desta intimação, para que sejam preservados por seu detentor, caso tenha interesse, sob pena de serem descartados. Desde já ficam as partes cientes de que findo o prazo supracitado, os avisos de recebimento, mandados, cartas precatórias e ofícios também serão descartados sob a supervisão da Escrivã Judicial, caso a parte não manifeste o interesse em manter sua guarda (Provimento nº. 355/CGJ/2018, art. 314, §§ 1º e 2º). Em razão do que dispõe o art. 40 da Lei 9.099/95, submeto esta proposta de decisão à Exmª. Juíza Togada para fins de homologação. São João Del Rei, 16 de julho de 2025 LUCAS ZANITTI E SILVA Juiz Leigo SENTENÇA PROCESSO: 5002567-73.2025.8.13.0625 AUTOR: ADRIANA MARIA DE ANDRADE CPF: 562.759.786-00 RÉU/RÉ: AZUL LINHAS AÉREAS BRASILEIRAS S/A CPF: 09.296.295/0001-60 Vistos. Nos termos do art. 40 da Lei 9099/95, homologo o projeto de sentença para que produza os seus jurídicos e legais efeitos. Havendo a interposição de recurso inominado por qualquer das partes, dê-se vista à parte contrária para apresentar suas contrarrazões no prazo legal, remetendo-se os autos, em seguida, à Egrégia Turma Recursal. Transitada em julgado a sentença, aguarde-se, em secretaria, por 05 (cinco) dias, a iniciativa da parte interessada. Decorrido esse prazo sem que o interessado promova o competente cumprimento de sentença, os autos deverão ser arquivados com as cautelas de estilo, sem prejuízo de posterior desarquivamento, caso haja manifestação da parte interessada e desde que demonstrado o pagamento da guia respectiva, excepcionada está para o beneficiário da AJG. Havendo condenação de custas, intime-se a parte devedora para o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias. No silêncio, expeça-se CNPDP. Transitada em julgado, nada sendo requerido, arquivem-se com baixa. P.I.C. São João del-Rei, 17 de julho de 2025. MARIA AUGUSTA BALBINOT Juíza de Direito Documento assinado eletronicamente

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Ederson Alves Da Silva x Banco Itau Consignado S.A.

ID: 320862527

Tribunal: TJMG Órgão: Juizado Especial da Comarca de Buritis Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-88.2023.8.13.0093

Data de Disponibilização: 09/07/2025

Polo Ativo:

EDERSON ALVES DA SILVA

Polo Passivo:

BANCO ITAU CONSIGNADO S.A.

Intimação

Advogados:

GIOVANA NISHINO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

MAGALI DE MELO ROCHA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

DIEGO MARLON DA SILVA FRADES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

FRANCISCO ANTONIO FRAGATA JUNIOR

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Buritis / Juizado Especial da Comarca de Buritis Rua Dois Poderes, 01, ZONA RURAL, Buritis - MG - CEP: 38660-000 PR… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Buritis / Juizado Especial da Comarca de Buritis Rua Dois Poderes, 01, ZONA RURAL, Buritis - MG - CEP: 38660-000 PROCESSO Nº: 5002567-88.2023.8.13.0093 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSUNTO: [Inclusão Indevida em Cadastro de Inadimplentes] AUTOR: EDERSON ALVES DA SILVA CPF: 071.788.386-80 RÉU: BANCO ITAU CONSIGNADO S.A. CPF: 33.885.724/0001-19 SENTENÇA Trata-se de Ação de Indenização por Danos Morais c/c Repetição de Indébito e pedido de tutela ajuizada por Ederson Alves da Silva, devidamente qualificado nos autos, em face de Banco Itaú Consignado S.A., igualmente qualificado. Narra a parte autora, em síntese, que teve seu nome indevidamente inscrito nos cadastros de inadimplentes, em razão da suposta falta de pagamento da parcela nº 59, de um contrato de empréstimo consignado composto por 60 parcelas. Afirma que referida parcela foi regularmente descontada em sua folha de pagamento do mês de fevereiro de 2020, tendo, portanto, o débito sido quitado. Alega ainda ter buscado administrativamente solucionar a questão, sem êxito. Sustenta que a inscrição indevida gerou-lhe danos morais, além de configurar cobrança de dívida já paga. Ao final, requereu a concessão do pedido de tutela para exclusão do nome do autor dos cadastros restritivos, a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais, a repetição do indébito, em dobro. Decisão que indeferiu a antecipação da tutela (ID 10149460675). Regularmente citado, o réu apresentou contestação (ID 10207363251), arguindo, em sede preliminar, a ausência de interesse de agir, diante da inexistência de pretensão resistida, a complexidade da causa incompatível com os Juizados Especiais e necessidade de formação de litisconsórcio passivo com o Estado de Minas Gerais. No mérito, sustenta a regularidade do contrato de empréstimo, a ausência de repasse da consignação pelo órgão pagador, a inexistência de dano moral ou material e inexistência de pagamento a justificar repetição do indébito. Pugnando pela improcedência dos pedidos. Audiência de conciliação infrutífera (ID 10215984131). A parte autora deixou decorrer o prazo para apresentação de impugnação à contestação (ID 10358281194). Devidamente intimados para manifestarem o interesse na produção de novas provas, as partes quedaram-se inerte, conforme certidão de ID 10378715902. É o relatório do necessário. Passo a fundamentar e decidir. FUNDAMENTAÇÃO O feito se encontra apto para julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil, por versar sobre matéria exclusivamente de direito e por estar suficientemente instruído com prova documental. Passo à análise das preliminares. PRELIMINARES I - Da ausência de interesse de agir A parte ré suscitou a ausência de interesse de agir, ao argumento de que não houve resistência à pretensão do autor, por ausência de tentativa prévia de solução administrativa. Entretanto, a existência de negativação indevida em cadastro restritivo de crédito, por si só, configura lesão jurídica atual e concreta, apta a autorizar o exercício do direito de ação, independentemente da existência de prévia reclamação administrativa. O acesso ao Poder Judiciário é garantido constitucionalmente (art. 5º, XXXV, da CF/88), e a busca pela via judicial independe de exaurimento da esfera extrajudicial. Assim, rejeito a preliminar. II – Da complexidade da causa Ademais, a parte requerida pugnou pela preliminar da complexidade da demanda, com alegação de necessidade de produção de prova pericial contábil e de intervenção de terceiro (órgão pagador), o que inviabilizaria a tramitação no âmbito do Juizado Especial Cível, nos termos do art. 51, II, da Lei n. 9.099/95; Contudo, no que tange a preliminar arguida, à complexidade da demanda e suposta necessidade de prova pericial contábil, observa-se que os documentos constantes nos autos são suficientes para a formação do convencimento deste Juízo. A análise da existência ou não de repasse de valores, bem como eventual falha na prestação do serviço bancário, não demanda prova técnica especializada, bastando a verificação de documentos financeiros já apresentados. Dessa forma, rejeito também esta preliminar. III- Da necessidade de formação de litisconsórcio passivo com o Estado de Minas Gerais. Por fim, quanto à alegação de necessidade de inclusão do órgão pagador como litisconsorte passivo, igualmente não procede. A jurisprudência pátria é firme ao reconhecer que, em ações que envolvem contratos de empréstimo consignado, a responsabilidade pelo eventual inadimplemento da obrigação perante o consumidor é atribuída à instituição financeira contratada, independentemente da participação ou não do ente público responsável pelo desconto em folha. O Código de Defesa do Consumidor, aplicável à hipótese, impõe responsabilidade objetiva ao fornecedor de serviços (art. 14, CDC), bastando a existência de defeito na prestação para gerar o dever de reparação, se presentes os demais pressupostos legais. Assim, é irrelevante a apuração de eventual falha exclusiva do órgão pagador, não se configurando, portanto, a hipótese de litisconsórcio necessário. Assim, rejeito a preliminar de necessidade de litisconsórcio. MÉRITO O caso em tela versa sobre uma relação de consumo, enquadrando-se nas definições de fornecedor e consumidor estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), nos artigos 2º e 3º. A vulnerabilidade do consumidor é a própria razão de ser do CDC, visando restabelecer o equilíbrio nas relações de consumo. A controvérsia gira em torno da alegação de que o autor teria quitado a parcela nº 59 de contrato de empréstimo consignado, referente ao mês de fevereiro de 2020, mas, ainda assim, teve seu nome indevidamente inscrito em cadastros de inadimplentes pela instituição financeira ré. Conforme se extrai da contestação (ID 10207363251), bem como do extrato detalhado do contrato de empréstimo (ID 10207368643), não há qualquer cobrança ou apontamento em relação à parcela nº 59, sendo a negativação decorrente da parcela nº 60. Em relação a esta, não há nos autos comprovação de que o valor correspondente tenha sido efetivamente repassado à instituição financeira ré, embora o autor alegue, de forma genérica, que os valores contratados vinham sendo descontados diretamente em folha, juntando como forma de comprovação, apenas o contracheque referente ao mês de fevereiro de 2020 (ID 10143019187). O contracheque carreado aos autos não aponta para a existência da quitação da parcela de número 60, de modo que não há comprovação da quitação do referido valor, o que é essencial para caracterizar a quitação (ou não) da obrigação contratual. Ademais, é certo que a obrigação contratual do consumidor somente se considera adimplida com o efetivo recebimento da quantia pela instituição credora, nos termos do art. 319 do Código Civil. No caso dos autos, não se verifica qualquer documento que comprove o repasse da parcela 60 à parte ré, tampouco há nos contracheques ou extratos bancários apresentados elemento probatório suficiente para atestar a liquidação da obrigação. A ausência de repasse é, inclusive, corroborada pelo extrato do contrato apresentado pela ré, no qual consta expressamente a inadimplência relativa à última parcela. Dessa forma, ausente qualquer elemento nos autos capaz de infirmar a irregularidade na negativação do nome do autor, mantém-se a validade da cobrança realizada e, por conseguinte, a improcedência da presente demanda. II – DO DANO MORAL E DA RESTITUIÇÃO DO VALOR De outro lado, inexistindo irregularidade na negativação do nome do autor, que decorreu da inadimplência contratual, não há que se falar em configuração de dano moral, pois se trata de exercício regular de direito pela credora, respaldado nos artigos 186 e 927 do Código Civil, que exigem a presença de ato ilícito como pressuposto para o dever de indenizar. Por conseguinte, uma vez que a negativação é considerada legítima em razão do débito não quitado, não há que se falar em abalo à honra ou imagem do autor que enseje indenização por danos morais. O dano moral, que seria presumido em caso de inscrição indevida, não se aplica quando a dívida é legítima e não paga. A jurisprudência consolidada dos tribunais superiores é pacífica ao reconhecer que a negativação decorrente de débito existente e não pago é legítima, afastando-se, assim, a pretensão de indenização por danos morais. EMENTA : APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONTRATAÇÃO TELEFÔNICA - SERVIÇO DE RASTREAMENTO VEICULAR - NEGATIVAÇÃO - ALEGAÇÃO DE DÍVIDA DESCONHECIDA - CONTRATAÇÃO COMPROVADA - REGULARIDADE DA COBRANÇA - CLÁUSULA PENAL NÃO IMPUGNADA - INEXISTÊNCIA DE ILICITUDE - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO - INAPLICABILIDADE - RECURSO NÃO PROVIDO. I - Comprovada a contratação por meio de gravação de ligação telefônica, em que há manifesta concordância expressa com os termos, não se constata qualquer irregularidade na cobrança ou na inscrição em cadastros restritivos, em hipóteses de inadimplência. III - A inscrição do nome do consumidor em banco de dados de inadimplentes, fundada em dívida existente e decorrente de contratação válida, configura exercício regular de direito, não ensejando indenização por danos morais. III - A restituição em dobro prevista no art. 42, parágrafo único, do CDC, exige cobrança indevida com violação à boa-fé objetiva, o que não se verifica quando a cobrança se baseia em cláusula contratual legítima e prestação de serviço efetivamente iniciada. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.25.059936-2/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 13/05/2025, publicação da súmula em 19/05/2025) – grifei. Ademais, o pedido de repetição de indébito carece de fundamento. O artigo 42, parágrafo único do CDC, prevê a repetição do indébito por valor igual ao dobro do que foi pago em excesso quando o consumidor é cobrado em quantia indevida. O autor fundamenta seu pedido na alegação de que a ré demandou dívida já paga. Contudo, conforme analisado, a quitação da dívida não restou demonstrada, tendo o réu comprovado a ausência de recepção do valor. Portanto, não houve cobrança indevida de uma dívida já paga, afastando-se o direito à repetição. Assim, a improcedência dos pedidos é medida que se impõe. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos iniciais e, em consequência, julgo extinto o feito, com resolução do mérito, com fundamento no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Sem custas e honorários, nos termos do artigo 55 da Lei nº 9.099/95. Havendo recurso de quaisquer das partes (art. 42, § 1º, da Lei 9.099/95), independentemente de nova conclusão, intime-se o apelado para apresentar contrarrazões, no prazo de 10 (dez) dias (art. 42, § 2º, da Lei 9.099/95). Apresentadas as contrarrazões ou decorrido o prazo in albis, remetam-se os autos à Turma Recursal, com nossas homenagens de estilo. Transitada em julgado e cumpridas as cautelas legais, arquivem-se os autos. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Buritis, data da assinatura eletrônica. AMANDA CHARBEL SALIM Juiz(íza) de Direito Juizado Especial da Comarca de Buritis

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Processo nº 5002567-37.2024.4.03.6343

ID: 323895671

Tribunal: TRF3 Órgão: 41º Juiz Federal da 14ª TR SP Classe: RECURSO INOMINADO CíVEL Nº Processo: 5002567-37.2024.4.03.6343

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

VANIA APARECIDA DE PAIVA

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

ANDREZA MORATO FRANZINO CHAVES

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PLINIO SILVESTRE DE OLIVEIRA RAMOS

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CHARLES CARLOS COSTA

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PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 5002567-37.2024.4.03.6343 RELATOR: 41º Juiz Feder… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 5002567-37.2024.4.03.6343 RELATOR: 41º Juiz Federal da 14ª TR SP RECORRENTE: VANIA APARECIDA DE PAIVA Advogados do(a) RECORRENTE: ANDREZA MORATO FRANZINO CHAVES - SP476015-A, CHARLES CARLOS COSTA - SP437312-A, PLINIO SILVESTRE DE OLIVEIRA RAMOS - SP461520-A RECORRIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS OUTROS PARTICIPANTES: D E C I S Ã O Trata-se de recurso interposto em face de sentença de mérito. Com base no artigo 2º, § 2º, da Resolução/CJF nº 347/2015, redação dada pela Resolução/CJF nº 393/2016, impõe-se o julgamento monocrático. Observe-se comando referido: Ao relator compete negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante da Turma Nacional de Uniformização, do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal, ou em confronto com tese firmada em julgamento em incidente de resolução de demandas repetitivas. (destacou-se) Nesse sentido, necessário afastar-se da literalidade do Código de Processo Civil (CPC), cuja aplicação, por óbvio, não pode ir contra princípios atinentes ao microssistema dos Juizados, especificamente: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade (art. 2º, Lei nº 9.099/95, c/c art. 1º, Lei nº 10.259/2001). Tais princípios permitiram, por exemplo, que os Juizados promovessem julgamento de mérito sem citação, a despeito de inexistir, à época, no já distante ano de 2003, previsão legal expressa (TARANTO, Caio Márcio Guterres. “Fechamento sistêmico do procedimento dos juizados especiais federais pelos precedentes jurisdicionais”. Revista da SJRJ, Rio de Janeiro, n. 24, p. 19-45, 2009): o artigo 285-A, antigo CPC, foi incluído no código depois, apenas em 2006. Passo à análise do recurso. Não constato cerceamento de defesa, pois o laudo pericial produzido analisou os males que acometem a recorrente. O fato de a parte recorrente discordar das conclusões apresentadas pelo perito não justifica anulação. Pois bem. Os benefícios por incapacidade encontram desenho normativo nos artigos 42, 59 e 86, Lei nº 8.213/1991: Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição. (destacou-se) Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. (destacou-se) Art. 86. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia. (destacou-se) Eis, portanto, os requisitos legais exigidos: (i) qualidade de segurado, (ii) cumprimento de período de carência, salvo quando legalmente dispensada; (iii) incapacidade para o exercício de atividade profissional, cujo grau e período de duração identificarão o benefício que deve ser deferido e (iv) surgimento da patologia após a filiação do segurado ao Regime Geral de Previdência Social - RGPS, salvo se, cumprido o período de carência, a incapacidade advier de agravamento ou progressão da doença ou lesão. A jurisprudência dominante na TNU aceita a fungibilidade entre os benefícios de incapacidade: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NACIONAL. PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO DE BENEFÍCIO NÃO REQUERIDO NA INICIAL. FUNGIBILIDADE ENTRE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS POR INCAPACIDADE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DA TNU. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO PROVIDO. 1. Consoante entendimento já uniformizado por este Colegiado, de que é exemplo o PUIL nº 5001406-71.2020.4.04.7129, "não extrapola os limites objetivos da lide a concessão judicial de outra espécie de benefício por incapacidade, requerida apenas na interposição do recurso inominado, quando a inicial formula pedido de espécie diversa de benefício por incapacidade". 2. Hipótese dos autos em que a Turma Recursal de origem rechaçou o pedido de concessão de auxílio-acidente, veiculado na fase recursal, por se tratar de benefício por incapacidade diverso daquele postulado na inicial. 3. Pela aplicação do princípio da fungibilidade, é possível ao julgador conhecer de pretensão relativa à concessão de benefício por incapacidade não expressamente requerido na inicial, sem extrapolar os limites objetivos da lide, desde que presentes os pressupostos necessários para sua concessão. 4. Pedido de uniformização provido, com retorno dos autos à Turma de origem para reanálise do caso concreto, em conformidade com o entendimento uniformizado. (Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (Turma) 0001963-06.2022.4.05.8404, GIOVANI BIGOLIN - TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO, 15/12/2023 – destaques nossos) Neste feito, a sentença trouxe a seguinte fundamentação naquilo que importa ao recurso: Submetida a parte requerente ao exame pericial em 5/2/2025 (id 354672861), o Expert designado pelo Juízo consignou o que segue: “Periciada relata a existência de dores lombares, nos joelhos e quadris, refere estar em tratamento conservador. Todavia não apresenta qualquer exame comprobatório, ao exame físico apresenta algumas alterações. Entretanto sem a documentação adequada não é possível realizar afirmações sobre a doença e consequentemente sobre sua capacidade laboral. Além disso, foi avaliada pelo INSS recebendo parecer contrário, nele não colho nenhum erro que seja passível de se indicar contradição. Logo, não foi constatada incapacidade para sua atividade laboral, assim pode exercer sua função habitual. Conclusão: Não foi constatada incapacidade para sua atividade laboral habitual.” - grifei e destaquei O perito não identifica incapacidade laboral atual ou pretérita para as atividades laborais habituais declaradas pela autora: babá, empregada doméstica e diarista (quesito 2 do INSS). Do CNIS (id 361820834), denota-se que a autora teve vínculo empregatício formal até 10/10/2020; após, reingressou ao RGPS em 1/4/2023 como segurada facultativa de baixa renda. Ou seja, na DER objeto da lide, a autora era segurada facultativa de baixa renda, espécie contributiva caracterizada pela ausência de renda própria, dedicação exclusiva ao trabalho doméstico, pertencimento a família com renda de até dois salários mínimos e necessidade de inscrição no cadúnico. Ressalte-se que o exercício de ativa laboral, ainda que informal, gera óbice ao enquadramento do contribuinte como segurado facultativo de baixa renda, conforme Tema 241/TNU: O exercício de atividade remunerada, ainda que informal e de baixa expressão econômica, obsta o enquadramento como segurado facultativo de baixa renda, na forma do art. 21, §2º, II, alínea 'b', da Lei 8.212/91, impedindo a validação das contribuições recolhidas sob a alíquota de 5%. Sendo assim, ausente incapacidade para as atividades declaradas na perícia judicial, tampouco há incapacidade para as atividades “do lar”. No mais, não depreendo do laudo pericial médico contradições ou erros objetivamente detectáveis que pudessem de pronto afastá-lo ou justificar a realização de nova perícia médica. O postulado do livre convencimento motivado aponta no sentido do acolhimento da opinião do Perito (art. 35 Lei 9099/95), vez que o laudo oficial fora elaborado por técnico imparcial. Nesse sentido: PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO. AUXÍLIO-DOENÇA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. LAUDO PERICIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. VINCULAÇÃO DO JUIZ (ARTS. 131 E 436, CPC). AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE O CONTRARIEM. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. A concessão de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez depende da comprovação da incapacidade laborativa, total e temporária para o primeiro e total, permanente e insuscetível de reabilitação para o segundo (artigos 25, I, 42 e 59, Lei n.º 8.213/1991). 2. A prova técnica produzida nos autos é determinante nas hipóteses em que a incapacidade somente pode ser aferida por intermédio de perícia médica, não tendo o julgador conhecimento técnico nem tampouco condições de formar sua convicção sem a participação de profissional habilitado. 3. Laudo médico peremptório ao afirmar a inexistência de incapacidade laborativa total da parte autora. 4. O juiz não deve se afastar das conclusões do laudo pericial quanto ausentes outros elementos que o contrarie. 5. Irrelevante o preenchimento dos demais requisitos carência e qualidade de segurado. 6. Recurso improvido. (5ª Turma Recursal – SP, Processo 00017354620094036301, rel. Juiz Federal Omar Chamon, j. 10.05.2013) – g.n. Tampouco cabem esclarecimentos complementares ou mesmo quesitação ulterior, uma vez que foram respondidos adequadamente os quesitos formulados quanto à capacidade laboral. Portanto, deve prevalecer o laudo colacionado aos autos, eis que marcado pela equidistância das partes. Neste panorama, não preenchidos os requisitos para concessão do benefício pleiteado, a improcedência do pedido é a medida que se impõe. Dispositivo Diante do exposto, com fundamento no artigo 487, I, do Código de Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO. Não vejo razão para alterar posicionamento do Juízo singular, que, afinal, julgou conforme laudo. Doença não se confunde com incapacidade, sendo evidentemente possível estar em tratamento e manter força de trabalho. Para tanto, existe perícia, que, concretamente, afastou limitação ao trabalho. Em suma, porque não foi apresentado pela parte subsídio objetivo e seguro contrariamente à perícia judicial. Igualmente, não vejo ausência de análise de documentos particulares juntados. Ou seja, do que constato concretamente, a perícia mostra-se crível, devendo, por isso, ser confirmada. Esta Turma Recursal tem entendimento sedimentado sobre a prevalência, em regra, da perícia judicial: PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. LAUDO NEGATIVO. AUSÊNCIA DE INCAPACIDADE. PREVALÊNCIA DO LAUDO JUDICIAL EM RELAÇÃO AS DEMAIS PROVAS. 1. Trata-se de recurso interposto pela parte autora, em face da sentença que julgou improcedente o pedido, diante do laudo pericial médico constatar a ausência de incapacidade da parte autora para o exercício de sua atividade habitual, na atualidade. 2. Não caracterizada situação de incapacidade para o exercício de sua atividade laborativa. 3. Prevalência do laudo judicial em relação as demais provas. 4. Recurso da parte autora que se nega provimento. (TRF 3ª Região, 14ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo, RecInoCiv - RECURSO INOMINADO CÍVEL - 5002962-33.2022.4.03.6332, Rel. Juiz Federal FERNANDA SOUZA HUTZLER, julgado em 27/03/2023, DJEN DATA: 03/04/2023) PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. PRIMAZIA DO LAUDO PERICIAL, QUE ANALISOU A SAÚDE DA AUTORA NA ESTEIRA DE DOCUMENTOS TRAZIDOS COM INICIAL. DESNECESSIDADE DE NOVA PERÍCIA. RECURSO DA PARTE AUTORA NÃO PROVIDO. (TRF 3ª Região, 14ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo, RecInoCiv - RECURSO INOMINADO CÍVEL - 5055978-92.2022.4.03.6301, Rel. JUIZ FEDERAL ROGERIO VOLPATTI POLEZZE, julgado em 21/02/2025, DJEN DATA: 27/02/2025) Registra-se, por derradeiro, que a sentença, bem analisando a questão e trazendo fundamentação suficiente, não incorre em cerceamento de defesa. O motivo é singelo: não existe necessidade de esgotar eventual discussão judicial, impõe-se, sim, agregar os elementos necessários ao julgamento. Ou seja, o juiz singular entendeu que o laudo pericial produzido bastava ao julgamento. Entendendo dessa maneira, mas porventura determinando outras perícias ou esclarecimentos (sem necessidade, com base em seu próprio entendimento), o juiz, ele próprio, provocaria atraso desnecessário, indo contra o princípio constitucional da razoável duração do processo. Diante do exposto, nego provimento ao recurso da parte autora. Fixo os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação (ou da causa, na ausência daquela). Na hipótese de a parte autora ser beneficiária de assistência judiciária gratuita e recorrente vencida, o pagamento dos valores mencionados ficará suspenso. Intimem-se. São Paulo, 10 de julho de 2025.

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Processo nº 5002567-67.2025.4.04.7121

ID: 313909690

Tribunal: TRF4 Órgão: 1ª Vara Federal de Capão da Canoa Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-67.2025.4.04.7121

Data de Disponibilização: 02/07/2025

Polo Ativo:

ETELVINA GENEROSA DE OLIVEIRA

Polo Passivo:

DESPACHO/DECISÃO

Advogados:

FABIO MACIEL CEZAR DA SILVA

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JEANINE EMANUELLE ROSA PALHARIN

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PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5002567-67.2025.4.04.7121/RS AUTOR : ETELVINA GENEROSA DE OLIVEIRA ADVOGADO(A) : FABIO MACIEL CEZAR DA SILVA (OAB RS088014) ADVOGADO(A) : JEANINE EMANUELLE … PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5002567-67.2025.4.04.7121/RS AUTOR : ETELVINA GENEROSA DE OLIVEIRA ADVOGADO(A) : FABIO MACIEL CEZAR DA SILVA (OAB RS088014) ADVOGADO(A) : JEANINE EMANUELLE ROSA PALHARIN (OAB RS085015) DESPACHO/DECISÃO Trata-se de demanda apresentada por ETELVINA GENEROSA DE OLIVEIRA em face de INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS visando à concessão de benefício assistencial à pessoa com deficiência, NB 717.054.002-0, requerido em 10/09/2024, indeferido em razão de não atender ao critério de miserabilidade para renda mensal familiar per capita de 1/4 do salário mínimo para BPC (Ev. 1 - PROCADM10, p. 65). Das Custas e Despesas Processuais Tramitando sob o rito sumariíssimo estabelecido pela Lei 10.259/01, a demanda é isenta de custas, taxas e demais despesas, em primeira instância (artigo 54, caput , da Lei nº 9.099/95). Da(s) Prioridade(s) e Preferência(s) Legal(is) Tratando-se de idoso, defiro a prioridade na tramitação do feito, nos termos do art. 1.048, I do CPC e da Lei 10.741/2003. Anote-se. Da Gratuidade da Justiça Preenchidos os requisitos legais e critérios estabelecidos jurisprudencialmente, defiro o benefício da gratuidade da justiça. Da Tutela Provisória O CPC de 2015 promoveu disciplina mais racional e unificada da tutela provisória, compreendendo a tutela de urgência, dependente de requerimento no procedimento comum e passível de deferimento de ofício no rito sumariíssimo dos Juizados Especiais. O art. 300 daquele Código prevê como pressupostos para sua concessão a existência de perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo e a probabilidade do direito alegado, não identificáveis no caso em tela, tornando-se indispensável a dilação probatória para o deslinde da controvérsia, razão pela qual não vislumbro, em sede cognição sumária, elementos suficientes ao deferimento, nesta oportunidade, de quaisquer das modalidade de tutela provisória. Saliento que a antecipação do provimento final constitui exceção em nosso ordenamento jurídico, pelo que somente deverá ser utilizado mediante prova robusta a indicar a conclusão pela grande probabilidade do juízo de verdade. Ante o exposto, indefiro, por ora, o pedido de tutela provisória , sem prejuízo de que seja analisado na ocasião da sentença. Da Perícia Socioeconômica Tendo em vista a necessidade de esclarecer a real situação social e econômica da família do(a) autor(a), determino a realização de perícia socioeconômica , que deve ser acompanhada por fotos, a ser realizada no endereço do(a) autor(a), por assistente social. Remetam-se os autos à Central de Perícias , onde será designada a prova pericial com assistente social. Os quesitos do Juízo, formulados na forma do artigo 470, II, CPC, bem como os do INSS (arquivados em Secretaria), são os seguintes: 1) Quantas pessoas moram na mesma casa onde reside a parte autora? 2) Se for o caso, qual o nome e idade dessa(s) pessoa(s) e qual o grau de parentesco ou relacionamento existente entre ela(s) e a parte autora? 3) Especifique, a Sra. Perita, se essa(s) pessoa(s) desenvolvem atividade laborativa ou atividade econômica, bem como os rendimentos líquidos auferidos por cada uma, ainda que de forma aproximada. Se possível, apresente com o laudo, cópia de documentos que comprovem os rendimentos líquidos auferidos. 4) Especifique, a Sra. Perita, o valor gasto mensalmente pela família, ainda que de forma aproximada, com despesas permanentes, tais como: água, luz, gás, alimentação, remédios, aluguel etc. Se possível, apresente com o laudo, cópia de documentos que comprovem tais gastos. 5) Alguma dessa(s) pessoa(s) recebe benefício previdenciário do Regime Geral da Previdência Social ou do serviço público? Especifique a espécie de benefício e o valor atual dos respectivos proventos. 6) Quem vem assegurando os meios de subsistência da parte autora até o momento? 7) O imóvel onde a parte autora reside é próprio ou alugado? Qual o nome do proprietário? Qual o valor aproximado do imóvel ou qual o valor do aluguel? 8) Descreva o imóvel onde reside a parte autora: se de alvenaria ou de madeira, se novo ou antigo e qual o número de peças. Registre outros elementos ou circunstâncias entendidas relevantes. 9) Qual a escolaridade da parte autora? 9.1) Apresenta a parte autora condições de cumprir normalmente as tarefas do cotidiano independentemente do auxílio de terceiros, sejam parentes ou não? 10) Acaso não apresente condições, qual o tipo de auxílio que depende constantemente? 11) A parte autora necessita tomar medicamentos constantemente em razão de sua deficiência ou doença? 12) Acaso necessite tomar esses medicamentos, especifique a Sra. Perita o nome e a indicação dos medicamentos, bem como o valor gasto mensalmente para a respectiva aquisição, bem assim apresente nota de compra desses medicamentos. 13) Há medicamentos adquiridos pelo SUS? Quais? 14) Transcreva, a Sra. Perita, depoimento de vizinhos acerca de quantas pessoas moram na casa com a parte autora, se desenvolvem alguma atividade laborativa, bem como se apresentam algum tipo de enfermidade. 15) Explicite se, em face da deficiência ou doença da parte autora, há despesas extraordinárias, tais como: alimentação especial, remédios especiais ou caros, equipamentos necessários ou especiais. 16) Considerando o contato do Sr(a). Perito(a) com o (a) autor (a), seus familiares e vizinhos, bem como sua vida doméstica, relações e interações interpessoais (áreas principais da vida) e vida comunitária, social e cívica, é possível verificar barreiras que obstruam sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas? Se sim, quais? 17) Outros esclarecimentos que possa a Sra. Perita prestar para melhor elucidação da causa. O(A) autor(a) deverá disponibilizar ao(à) perito(a), quando da realização da perícia, os seguintes documentos: 1. Comprovantes das despesas da família, tais como recibos de aluguel, contas de água e luz, despesas médicas, despesas com educação, etc.; 2. Carteira de Trabalho e Previdência Social com anotações atualizadas; 3. Contracheque de pagamento ou documento expedido pelo empregador; 4. Carnê de contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS; 5. Extrato de pagamento de benefício ou declaração fornecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ou outro regime de previdência social público ou privado. Faculto às partes a indicação de assistentes técnicos no prazo de 10 (dez) dias , com base no § 2º do artigo 12 da Lei 10.259/01, assim como, querendo, a complementação dos quesitos apresentados. É de responsabilidade das partes a comunicação aos assistentes técnicos porventura indicados. Fica determinado que o(a) Procurador(a) do(a) autor(a) deverá informar o endereço correto onde será realizada a perícia socioeconômica, bem como informações adicionais da localização (pontos de referência, andar, complemento), a fim de possibilitar a busca do local pela perita nomeada. Destaca-se, por fim, que deverão ser observadas as normas de distanciamento social e redução de concentração de pessoas, bem como adotadas as cautelas sanitárias indicadas pelos órgãos competentes (como utilização de máscaras e higienização das mãos e do ambiente com álcool ou outro produto adequado). Não sendo atendidas estas orientações, o(a) perito(a) fará anotação da situação nos autos, podendo recusar-se a realizar a perícia, caso em que a parte autora fica advertida que se der causa ao cancelamento do ato pericial por tal motivo, responderá pelas despesas e o processo será julgado no estado em que se encontra. Retornando os autos com o laudo, intimem-se as partes para que se manifestem no prazo comum de 15 (quinze) dias . A parte autora deve, ainda, esclarecer se a pensão alimentícia de R$ 755,00 referida na p. 20 do PA recebida do ex-cônjuge Waldir Guimarães Dias de Oliveira foi concedida judicialmente e, sendo o caso, devem ser juntados dados do processo. Deve, ainda, ser fornecido o CPF do Sr. Waldir. Das Demais Determinações Cite-se o INSS, pelo prazo de 30 (trinta) dias , no qual poderá, entre outras medidas, contestar o pedido inicial (se ainda não o fez), manifestar-se sobre as provas, e, ainda, apresentar proposta de conciliação. Apresentada, em resposta do réu, proposição conciliatória, intime-se a parte contrária para se manifestar em 5 (cinco) dias . Concluída a instrução, venham conclusos para sentença.

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Processo nº 5002567-73.2025.4.02.5003

ID: 320763724

Tribunal: TRF2 Órgão: 2º Núcleo de Justiça 4.0 - RJ Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-73.2025.4.02.5003

Data de Disponibilização: 09/07/2025

Polo Ativo:

CAROLINE VIANA DOS SANTOS JOAO MIGUEL VIANA SOUZA

Polo Passivo:

DESPACHO/DECISÃO

Advogados:

SARA ELIS FANTECELLE MATTOS

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5002567-73.2025.4.02.5003/ES REPRESENTANTE LEGAL DO AUTOR : CAROLINE VIANA DOS SANTOS (Representante) ADVOGADO(A) : SARA ELIS FANTECELLE MATTOS (OAB ES03977… PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5002567-73.2025.4.02.5003/ES REPRESENTANTE LEGAL DO AUTOR : CAROLINE VIANA DOS SANTOS (Representante) ADVOGADO(A) : SARA ELIS FANTECELLE MATTOS (OAB ES039775) AUTOR : JOAO MIGUEL VIANA SOUZA (Representado - art. 10, Lei 10.259/2001) ADVOGADO(A) : SARA ELIS FANTECELLE MATTOS (OAB ES039775) DESPACHO/DECISÃO Trata-se de ação redistribuída ao 2º Núcleo de Justiça 4.0, nos termos da Resolução TRF2-RSP-2024/00056, de 04/07/2024, onde tramitará em conformidade com o "Juízo 100% Digital" . Assim, todos os atos processuais serão exclusivamente praticados por meio eletrônico e remoto, por intermédio da rede mundial de computadores. Caberá à parte, se for o caso, manifestar-se em sentido contrário à adesão automática ao rito do "Juízo 100% Digital", no prazo de 5 dias , ciente de que a recusa deverá ser justificada mediante alegação de impossibilidade técnica ou instrumental, nos termos do artigo 6º da Resolução TRF2-RSP-2024/00056. Deverá a parte autora, na primeira oportunidade, declinar seu endereço eletrônico (email), bem como telefone(s) de contato. Trata-se de ação em que a parte autora pleiteia a concessão do benefício assistencial de amparo à pessoa com deficiência. 1. Da análise da inicial Defiro o pedido de gratuidade de justiça, devendo a Secretaria providenciar as respectivas anotações no sistema processual. Neste momento processual, entendo não estar configurada a probabilidade do direito de modo a autorizar o deferimento da tutela de urgência ora pretendida sem a oitiva da parte ré, máxime em razão da necessidade de dilação probatória por meio de exame pericial, uma vez que a documentação médica apresentada não é capaz de infirmar a decisão administrativa que ostenta presunção de legitimidade e veracidade. Assim, INDEFIRO, por ora, o pedido de antecipação dos efeitos da tutela. 2. Da citação CITE-SE o INSS para oferecimento de resposta, no prazo de 30 dias, oportunidade em que deverá fornecer ao Juízo a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa, em especial a cópia do processo administrativo referente ao pedido do benefício em questão, incluindo o CNIS, o relatório da avaliação social a cargo do instituto e as telas do sistema SABI e HISMED/Plenus do(a) autor(a) CAROLINE VIANA DOS SANTOS e JOAO MIGUEL VIANA SOUZA (CPF: 18104623710 e 20877164711), sob pena de multa. No mesmo prazo, caso queira, poderá o INSS apresentar os quesitos para a perícia médica ora designada. 3. Da avaliação social Expeça-se mandado de verificação socioeconômica da parte autora, a ser cumprido por oficial de justiça ou assistente social. O mandado de verificação social deverá ser cumprido preferencialmente de forma presencial, ressalvada justificativa nos autos , a fim de obter informações mais detalhadas e concretas acerca da situação em que vive a parte demandante da ação, e deverão ser respondidos os questionamentos abaixo: 1) Com que pessoas a parte autora mora, seus nomes completos, CPF, estados civis, idades, graus de parentesco com a parte autora, respectivos graus de instrução, ocupações e rendas. Incluir as informações sobre a própria parte autora. Na hipótese de renda variável, informar qual o valor diário, se for o caso, e mensal aproximado. Poderá o Oficial de Justiça/assistente social solicitar documentos que comprovem a renda declarada, tais como: CTPS, contrato de trabalho, Declaração do imposto de renda, entre outros. 2) Se a parte autora ou algum dos membros da família que vive junto com a parte autora recebe algum tipo de benefício da previdência social ou algum tipo de benefício assistencial do Poder Público ou da sociedade civil (bolsa de estudante, vale-gás, cesta básica, etc.). Em caso positivo, informar quem recebe, a origem e discriminar o valor mensal. 3) Até o momento, quem e de que maneira vem garantindo a subsistência da parte autora. 4) Se a parte autora necessita fazer uso constante de algum medicamento. Em caso positivo, informar se consegue obtê-lo na rede pública de saúde ou se o adquire, informando o respectivo valor mensal gasto. 5) Se a parte autora necessita de algum cuidado especial (curativos, fraldas, alimentação especial, consultas médicas, tratamentos, etc.). Em caso positivo, informar qual o custo mensal de cada um desses cuidados. 6) Favor descrever o imóvel em que a parte autora vive (localidade, existência de calçamento e saneamento, se próprio ou alugado e valor do aluguel, tamanho total aproximado, material da construção, idade e estado de conservação do imóvel, valor estimado do imóvel, número de cômodos, mobília e seu estado). Se possível, obter fotos da residência, a fim de ilustrar melhor as condições da moradia da parte autora, devendo ser justificada a impossibilidade de juntada de fotografias. 7) Outras observações que julgar relevantes. 4. Da perícia médica R emetam-se os autos à Central de Perícias ( Portarias JFES-POR-2024/00053 e JFES-POR-2024/00060), que procederá a realização de todos os trâmites necessários à realização da perícia médica ora determinada. Determino a realização de perícia médica, nomeando-se perito(a) cadastrado(a) no sistema AJG, na especialidade NEUROLOGIA , ou, na inexistência de agenda com perito nessa área, a perícia será realizada com CLÍNICO GERAL, ou MEDICO DO TRABALHO, ou GENERALISTA , nos termos do art. 35 da Lei n.° 9.099/1995, bem como da Resolução n.º 305/2014 do CJF. Fixo os honorários correspondentes no valor de R$ 270,00 (duzentos e setenta reais) , nos termos da Portaria Conjunta CJF/MPO nº 2/2024. As partes poderão apresentar quesitos em até 5 dias antes da data fixada para a realização da perícia, devendo utilizar a ação "Quesitos da Parte Autora/ré" quando do protocolo, a fim de facilitar a gestão processual. Autorizo a Central de Perícias a majorar os honorários até o valor máximo da tabela do CJF, nas hipóteses em que: (i) inexista perito na especialidade requerida na localidade e não seja possível a realização do exame por profissional de outra especialidade; (ii) não haja perito na localidade que aceite o encargo; (iii) caso seja necessário o deslocamento de perito de uma Subseção para outra; e (iv) seja necessária a realização de perícia domiciliar. Fica o perito ciente de que, havendo necessidade, deverá apresentar informações ou laudo complementar. A parte autora deverá comparecer à perícia portando documento pessoal com foto, bem como todos os exames, atestados e laudos médicos que possuir, ciente de que todos os documentos apresentados ao perito deverão, obrigatoriamente, ser juntados aos autos. Caso queiram, as partes poderão comparecer acompanhadas de assistente técnico. O não comparecimento da parte autora à perícia deverá ser justificado e comprovado no prazo de 05 dias após a data designada para o exame, sob pena de extinção . Após identificar a parte autora (mediante a apresentação e devida conferência de seu documento de identidade e de seu CPF), deverá o(a) perito(a) responder à quesitação constante do formulário específico indicado no link https://modjus.vercel.app/bpc-loas-pcd , nos termos do Ofício Circular SEI TRF2 0892892, além daqueles eventualmente apresentados pela parte autora. Fixo o prazo de 20 dias para a entrega do laudo , contado da data da realização da perícia. Com a juntada da diligência de verificação socioeconômica e do laudo pericial, dê-se vista às partes , pelo prazo de 10 dias, devendo o INSS se manifestar sobre a possibilidade de acordo. Oferecida a proposta de acordo, intime-se a parte autora para se manifestar, no prazo de 05 dias. Outrossim, com a juntada do laudo, proceda-se à solicitação de pagamento dos honorários periciais no sistema AJG. Caso haja interesse de incapaz, remetam-se os autos ao Ministério Público Federal, nos termos do artigo 178, inciso II, do CPC. Prazo: 30 dias. Esclareço, por oportuno, que o balcão virtual do Juízo pode ser acessado através do seguinte link, de segunda a sexta-feira, de 12h00 às 17h00: https://jfrj-jus-br.zoom.us/j/2812723392#success Tudo cumprido, venham conclusos.

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Adriene Aparecida Oliveira x Bianca Aparecida De Oliveira

ID: 310795916

Tribunal: TJMG Órgão: COMARCA DE CAMPO BELO, 2ª VARA CÍVEL Classe: INTERDIçãO Nº Processo: 5002567-94.2024.8.13.0112

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA

Polo Passivo:

BIANCA APARECIDA DE OLIVEIRA

Interdição/Curatela

Advogados:

DAVI RODARTE BARBOSA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

COMARCA DE CAMPO BELO 2ª VARA CÍVEL INTERDIÇÃO/CURATELA DATA DE EXPEDIENTE: 26/06/2025 Processo nº 5002567-94.2024.8.13.0112 I ¿ RELATÓRIO Trata-se de ação de interdição com pedido de curatela provi… COMARCA DE CAMPO BELO 2ª VARA CÍVEL INTERDIÇÃO/CURATELA DATA DE EXPEDIENTE: 26/06/2025 Processo nº 5002567-94.2024.8.13.0112 I ¿ RELATÓRIO Trata-se de ação de interdição com pedido de curatela provisória proposta por ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA em face de BIANCA APARECIDA OLIVEIRA, sua irmã, sob a alegação de que esta é portadora de condições psiquiátricas que a incapacitam para os atos da vida civil. Aduz a requerente, em síntese, que a interditanda realiza tratamento psiquiátrico no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) desde o ano de 2006, apresentando um quadro de retardo mental associado a epilepsia, com limitação cognitiva importante, agitação psicomotora, agressividade, intolerância a frustrações e puerilidade. Alega que a interditanda necessita de auxílio de terceiros para a realização de suas atividades cotidianas, não possuindo condições para o trabalho, tampouco para cuidar de si e de seus bens, inclusive para representar os interesses de seus filhos menores em questões alimentares. Com a petição inicial (ID 10219630991), foram juntados documentos, dentre os quais: procuração (ID 10219628060), declaração de hipossuficiência (ID10219634535), documentos pessoais da requerente (ID 10219641084) e da interditanda (ID 10219632698), comprovantes de endereço da requerente (ID 10219627053) e da interditanda (ID 10219643918), Carteiras de Trabalho e Previdência Social (CTPS) da requerente (ID 10219629255) e da interditanda (ID 10219645870), e laudos médicos (ID 10219639431). Em decisão datada de 21/08/2024 (ID 10292566083), este Juízo nomeou a Sra. ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA como curadora provisória da requerida. Na mesma decisão, foi designada entrevista com a interditanda para o dia 24 de setembro de 2024, nomeada a Defensoria Pública como curadora especial e determinada a realização de estudo social e perícia médica, a ser realizada pelo Dr. Antuany Casarino Almohalha. Foram deferidos os benefícios da justiça gratuita à requerente. O mandado de citação e intimação da requerida foi devidamente cumprido, conforme certidão do oficial de justiça (ID 10298501270), juntada aos autos em 30/08/2024. A ata de audiência (ID 10316547830), juntada em 27/09/2024, registra a realização da entrevista com a interditanda. O termo de curatela provisória, devidamente assinado pela curadora, foi juntado aos autos em 23/09/2024 (ID 10312958801), acompanhado de petição com quesitos para a perícia (ID 10313006222). O Ministério Público manifestou-se inicialmente pelo deferimento da tutela de urgência (ID 10251492009). Posteriormente, tomou ciência da decisão que deferiu a curatela provisória e determinou as provas (ID 10294712035), da designação da data da perícia (ID 10308556831), e do laudo pericial (ID10330312325). Em manifestação de ID 10343044825, aguardou a realização do estudo social. O laudo pericial, elaborado pelo Dr. Antuany Casarino Almohalha, foi juntado aos autos em 16/10/2024 (ID 10327193526), concluindo que a interditanda é portadora de "TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO (DEFICIÊNCIA INTELECTUAL MODERADA A GRAVE), CID: F71/F72. ESQUIZOFRENIA, CID: F20", resultando em "INCAPACIDADE ABSOLUTA PARA GERIR TODOS OS ATOS DE VIDA CIVIL", com necessidade de assistência total em período integral. O estudo social foi juntado aos autos em 03/02/2025 (ID 10384356983), concluindo que a requerente, Sra. Adriene Aparecida Oliveira, é a pessoa mais indicada para exercer o múnus da curatela, uma vez que já desempenha essa função de fato, suprindo as necessidades básicas da irmã e mantendo com ela vínculos afetivos fortalecidos. Em despacho de ID 10390198873, datado de 12/02/2025, o Juízo chamou o feito à ordem para determinar o cadastramento da Defensoria Pública e sua intimação para manifestar-se sobre o encargo de curadora especial e apresentar defesa. A Defensoria Pública apresentou contestação por negativa geral em 04/03/2025 (ID 10404402835), discorrendo sobre o novo regime jurídico das incapacidades instituído pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e pugnando para que, em caso de procedência, a curatela fosse limitada aos atos de natureza patrimonial e negocial. Requereu, ainda, a juntada de atestado de antecedentes e certidões cível e criminal da autora, bem como atestado de higidez física e mental. A parte autora apresentou impugnação à contestação em 31/03/2025 (ID10423077513), refutando a negativa geral e reiterando a necessidade da interdição com base nas provas produzidas, especialmente o laudo pericial e o estudo social. O Ministério Público apresentou parecer final em 10/02/2025 (ID10388608571), anterior à contestação da Defensoria Pública, manifestando-se pela procedência do pedido e nomeação da Sra. Adriene Aparecida Oliveira como curadora definitiva de Bianca Aparecida Oliveira, com a ressalva da necessidade de prestação de contas anual e da limitação da curatela aos atos de natureza patrimonial e negocial, não alcançando direitos existenciais. Após a juntada do estudo social, o MP reiterou seu parecer pela procedência (ID 10388608571). II- Fundamentação O feito encontra-se em ordem, não havendo nenhuma nulidade ou irregularidade a serem sanadas, presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. A presente ação de interdição visa a proteger os interesses de pessoa que, por enfermidade ou deficiência, não possui pleno discernimento para a prática dos atos da vida civil. Primeiramente, importante destacar que a Lei 13.146/15 ¿ Estatuto das Pessoas com Deficiência ¿ alterou e revogou disposições do Código Civil atinentes à curatela, trazendo grandes mudanças estruturais e funcionais na antiga teoria das incapacidades. Em rápido resumo, com a alteração sofrida pelo art. 3º do CC/02, não existe mais, no sistema privado brasileiro, pessoa absolutamente incapaz que seja maior de idade. Como consequência, não há que se falar mais em ação de interdição absoluta no nosso sistema civil, na medida em que os arts. 6º e 84, do mesmo diploma, deixam claro que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa. Todas as pessoas com deficiência, das quais tratava o comando anterior, passam a ser, em regra, plenamente capazes para o Direito Civil, o que visa a sua plena inclusão social, em prol de sua dignidade. Isso não impede, Entretanto, a adoção de institutos assistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e, extraordinariamente, a curatela, para a prática de atos na vida civil. Eventualmente, e em casos excepcionais, tais pessoas podem ser tidas como relativamente incapazes em algum enquadramento do novo art. 4º do Código Civil. Anote-se que a nova redação do art. 4º passa a enunciar as pessoas que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir vontade, o que antes estava previsto no inciso III do art. 3º como situação típica de incapacidade absoluta. Agora a hipótese, da qual tratam os autos, é, em tese, de incapacidade relativa. Flávio Tartuce, em análise às mudanças da lei, registra: ¿Verificadas as alterações, parece-nos que o sistema de incapacidades deixou de ter um modelo rígido, passando a ser mais maleável, pensado a partir das circunstâncias do caso concreto e em prol da inclusão das pessoas com deficiência, tutelando a sua dignidade e a sua interação social.¿ Nessa linha, a curatela, restrita a atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial, passa a ser uma medida extraordinária: Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. § 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto. § 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado. Pablo Stolze Gagliano salienta: ¿Note-se que a lei não diz que se trata de uma medida 'especial', mas sim, 'extraordinária', o que reforça a sua excepcionalidade¿. Lembra também o civilista que ¿as pessoas com deficiência e que sejam dotadas de grau de discernimento que permita a indicação dos seus apoiadores, até então sujeitas a uma inafastável interdição e curatela geral, poderão se valer de um instituto menos invasivo em sua esfera existencial¿, que é a ¿tomada de decisão apoiada¿. Porém, repete-se, por força do art. 85, somente os atos de conteúdo econômico e patrimonial estariam sujeitos ao apoio e curatela, e daí as únicas hipóteses para que continue existindo o procedimento de interdição (ou de curatela), ainda que em uma nova perspectiva. Tais normas, por incidirem na dimensão existencial da pessoa física, têm eficácia e aplicabilidade imediatas, flexibilizando os processos de interdição em andamento, bem como os termos de curatela já lavrados, para adequarem-se às normas impositivas da nova lei. Acrescenta-se que, em consonância com a inovação legislativa, a interdição é um instituto com caráter nitidamente protetivo da pessoa, não se podendo ignorar que constitui também uma medida extremamente drástica, e, por essa razão, é imperiosa a adoção de todas as cautelas para agasalhar a decisão de privar alguém parcialmente da capacidade civil, ou deixar de dar tal amparo quando é incapaz. Diante do conjunto probatório do processo de interdição, em não havendo elementos suficientes a amparar a pretensão inicial, isto é, não evidenciada a relativa incapacidade civil do requerido, inviável aplicar a medida de interdição, prevista no artigo 1.767 do Código Civil. No presente caso, entretanto, restou demonstrado pelas provas carreadas aos autos, evidência de que a interditanda é incapaz para administrar seus bens e reger os atos de sua vida civil. O laudo pericial (ID 10327193526) é conclusivo ao atestar que BIANCA APARECIDA DE OLIVEIRA é portadora de "TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO (DEFICIÊNCIA INTELECTUAL MODERADA A GRAVE), CID: F71/F72. ESQUIZOFRENIA, CID: F20", o que acarreta "INCAPACIDADE ABSOLUTA PARA GERIR TODOS OS ATOS DE VIDA CIVIL". O perito destacou, ainda, a necessidade de assistência total em período integral para a realização de todas as atividades básicas de vida diária da interditanda. Tal condição demonstra com clareza a causa permanente que a impede de exprimir sua vontade, a fim de administrar negócios e patrimônio, nos termos do art. 1.767, inciso I, do Código Civil e art. 85 da Lei 13.146/15. Lado outro, o estudo social realizado (ID 10384356983) apurou que a requerente, Sra. ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA, irmã da interditanda, é a pessoa mais indicada para exercer o múnus da curatela. O relatório técnico social ressaltou que a requerente já desempenha essa função de fato, suprindo as necessidades básicas da irmã, mantendo com ela vínculos afetivos fortalecidos e proporcionando os cuidados necessários de forma aparentemente adequada. O estudo social também consignou que a genitora da interditanda está de acordo com a nomeação da requerente como curadora. Tais elementos demonstram ter a requerente capacidade para o exercício da curatela, atendendo ao melhor interesse da interditanda. Diante desse quadro, entendo que restou demonstrada a incapacidade da Sra. BIANCA APARECIDA DE OLIVEIRA para os atos da vida civil, bem como a aptidão da Sra. ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA para exercer o múnus da curatela. Desse modo, observo que a requerente cumpriu com o que determina o art. 373, I do CPC/15, demonstrou claramente os fatos constitutivos do que requereu na exordial. III- Dispositivo Posto isso e considerando o mais que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE a pretensão aforada, com resolução de mérito, nos termos do art.487, I, do CPC/15 e DECRETO A INTERDIÇÃO DE BIANCA APARECIDA DE OLIVEIRA, nomeando como curadora definitiva ADRIENE APARECIDA OLIVEIRA, para a sua representação nos atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial, devendo ser lavrado o necessário termo de compromisso, dispensada a especialização da hipoteca legal. Ressalte-se que a curadora dependerá de prévia provocação e autorização judicial para a prática dos atos descritos no artigo 1.748, do Código Civil de 2002, em especial negócios jurídicos vultosos, sob pena de sua responsabilização pessoal e direta, ressalvando-se o direito da curatelada à prática dos atos da vida civil discriminados pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. ESTA SENTENÇA SERVIRÁ COMO MANDADO, a ser inscrita no Cartório de Registro Civil, acompanhada das cópias necessárias ao seu cumprimento, a serem providenciadas pela parte e juntadas a esta sentença, inclusive da certidão de trânsito em julgado, para que a Sr(a).Oficial(a) da Unidade de Registro Civil das Pessoas Naturais competente proceda ao seu cumprimento. SERVIRÁ ESTA SENTENÇA como edital, publicando-se o dispositivo pelo órgão oficial por três vezes, com intervalo de dez dias e na imprensa local, uma vez. Sendo a parte autora beneficiária da gratuidade, as custas de publicação observarão a legislação pertinente. SERVIRÁ ESTA SENTENÇA: como termo de compromisso e certidão de curatela, para todos os fins legais, independentemente de assinatura. Para tanto, deverá o(a) curador(a) imprimir esta sentença, ficando advertido e ciente das limitações e responsabilidade legais (dentre outros, arts. 1740 a 1754, c/c 1774, Código Civil). Conforme ressaltado, a curatela se limitará aos direitos, interesses e aspectos de natureza patrimonial e negocial (art.85, Lei 13.146/2015). O prazo para a curatela será indeterminado, à míngua de indicativo de reversibilidade imediata da situação que afeta a curatelada (art.84, §3°, Lei 13.146/2015). Comunique-se o Cartório de Registro Civil para as anotações necessárias, nos termos do art. 92 da Lei nº 6.015/73. Transitada em julgado a presente sentença, esta servirá como mandado para averbação no registro civil, cumprindo ainda o que determina o art.755, §3°¹ , CPC/2015. Custas na forma da lei, suspensa a exigibilidade em razão da gratuidade de justiça, já deferida à requerente e que ora defiro à curatelada. P.R.I.C

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Processo nº 5002567-19.2023.4.03.6328

ID: 294498616

Tribunal: TRF3 Órgão: 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-19.2023.4.03.6328

Data de Disponibilização: 10/06/2025

Polo Ativo:

VIRGILIO CLARO RODRIGUES

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

TIAGO PINAFFI DOS SANTOS

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5002567-19.2023.4.03.6328 / 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente AUTOR: VIRGILIO CLARO RO… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5002567-19.2023.4.03.6328 / 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente AUTOR: VIRGILIO CLARO RODRIGUES Advogado do(a) AUTOR: TIAGO PINAFFI DOS SANTOS - SP251868 REU: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF SENTENÇA 1. Relatório Cuida-se de ação especial cível ajuizada em desfavor da CAIXA ECONOMICA FEDERAL – CEF objetivando a alteração do índice de correção monetária dos valores depositados na sua conta de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS – da TR para o INPC ou outro índice correspondente. Devidamente citada, a CEF pugnou pela improcedência dos pedidos. É a síntese do necessário. DECIDO. 2. Fundamentação Sem preliminares, passo a análise do mérito propriamente dito. A Lei nº 5.107/1966 instituiu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que foi criado com o intuito de compor um fundo para financiamento de moradias e obras públicas, entre outros objetos de interesse social, além do objetivo de estabelecer uma espécie de poupança para o trabalhador e toda a sociedade. O FGTS surgiu como uma alternativa à estabilidade decenal existente à época. Para tanto, naquele período, os empregados poderiam optar pelo novo regime - FGTS - ou permanecer no regime anterior - estabilidade decenal – no qual após dez anos de trabalho no mesmo empregador, o trabalhador adquiria sua estabilidade e não poderia ser dispensado. Este novo regime tornou-se obrigatório a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. Assim, o FGTS é compreendido como um amparo ao trabalhador na hipótese de dispensa arbitrária que possibilita também o crédito para o financiamento da casa própria aos menos favorecidos. Diante disto, ao ser depositado na sua conta de FGTS, o valor passa a integrar o patrimônio do trabalhador, de modo que em caso de eventual falecimento do fundista, o saldo não é restituído à empresa, mas repassado aos dependentes previdenciários, ou na falta destes, aos seus sucessores (art. 20, IV, da Lei Federal nº 8.036/90). Por isso, os valores depositados em contas do FGTS, evidentemente, devem receber correção monetária. Logo, por ter uma função social a cumprir, este Fundo está sujeito a critérios diferenciados do mercado financeiro em geral, de modo que o índice oficial da inflação (IPCA) deve ser a referência mínima para a correção dos saldos dos depósitos realizados nas contas a ele vinculadas, a fim de garantir a manutenção do poder aquisitivo do trabalhador (CF/1988, arts. 5º, XXII e XXIII, e 170, III). Neste sentido, o rendimento do FGTS, se mais oneroso do que o legalmente previsto, ensejaria restrições ao crédito para o financiamento imobiliário em desfavor dos mais carentes, tendo em vista o custo financeiro. Sobre este ponto é o que passou a dispor o artigo 13 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, in verbis: Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano. Posteriormente, a Lei n.º 8.177/91 passou a estabelecer as regras para a desindexação da economia, tendo disposto em seu artigo 15: Art. 15. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia primeiro, mantida a periodicidade atual para remuneração. Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo. Por sua vez, o artigo 12 desta mesma Lei definia a TRD como fator de remuneração das cadernetas de poupança, e, consequentemente, das contas vinculadas de FGTS: Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados: I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive; No entanto, algum tempo depois, a Lei n.º 8.660/93 extinguiu a TRD, passando a poupança a ser remunerada pela TR, consoante previsto em seus artigos 2º e 7º: Art. 2º Fica extinta, a partir de 1º de maio de 1993, a Taxa Referencial Diária - TRD de que trata o art. 2º da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Art. 7º Os depósitos de poupança têm como remuneração básica a Taxa Referencial - TR relativa à respectiva data de aniversário. Tal é a atual situação da poupança hoje, o mesmo se aplicando ao FGTS, conforme até então sumulado pelo STJ: SÚMULA 459/STJ - A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de correção monetária, aos débitos com o FGTS recolhidos pelo empregador mas não repassados ao fundo. No presente caso, afirma a parte autora em sua prefacial que a adoção da Taxa Referencial (TR) como critério de atualização monetária não é capaz atualmente de refletir idoneamente o fenômeno inflacionário. Um dos motivos se dá pela alteração que a TR foi sofrendo ao longo do tempo, pois com o intuito de evitar uma transferência em massa de capitais investidos em títulos públicos e privados para a caderneta de poupança, alterou-se a metodologia de cálculo da TR (Resolução CMN 2.604, de 23/04/1999), desvinculando-se inclusive da inflação futura. Assevera a parte demandante que a utilização da TR como forma de correção dos saldos das contas de FGTS tem gerado uma gigantesca destruição do valor do patrimônio dos trabalhadores, que há anos não experimentam ganhos reais, pois tiverem rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3% ao ano previstos no art. 13 da Lei 8.036/90. Assim, requer que, a partir de 1999, a correção monetária das suas contas-vinculadas de FGTS deixe de ser feita pela TR, passando a ser realizada pelo INPC ou pelo IPCA, visto que estes índices são capazes de refletir a inflação. Requer, ainda, que a empresa requerida seja condenada a pagar as diferenças decorrentes da aplicação do novo índice, em relação às prestações vencidas e não prescritas. Pois bem. A presente demanda é semelhante a inúmeras outras ajuizadas neste juízo e nas demais varas de todo o país. Em decorrência das milhares de ações promovidas com este mesmo assunto, e com o intuito de se chegar ao melhor deslinde deste tema, houve um acordo firmado no dia 03/04/2024 entre a Advocacia Geral da União e as quatro maiores centrais sindicais do País, no sentido de que, nos anos em que a forma legal de atualização for inferior ao IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo — órgão tripartite, formado por empresários, trabalhadores e o governo — determinar a forma de compensação, nos termos do parágrafo quinto do artigo 13 da Lei nº 8.036/90. Essa medida foi criada visando garantir o direito de propriedade do trabalhador — por permitir que a correção monetária acompanhe o aumento geral dos preços -, bem como para proteger os projetos sociais a serem realizados com o dinheiro do Fundo, o qual não funciona apenas como uma “poupança compulsória do trabalhador”, mas também, como dito, como um financiador da política habitacional, isto é, da aquisição da casa própria por pessoas de baixa renda e da realização de obras de saneamento básico e de infraestrutura urbana. Com o intuito de prestigiar a autonomia privada coletiva (CF/1988, art. 7º, XXVI), aliado ao fato de que há limitações para a atuação do Poder Judiciário, pois a intervenção pública no domínio econômico é excepcional, e, em respeito ao primado da livre iniciativa, ao zelo com a responsabilidade fiscal e à consequente mitigação de novas despesas obrigatórias, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5090-DF movida pelo Partido Solidariedade, em 12/02/2014, a maioria da Corte do Supremo Tribunal Federal seguiu o voto do ministro Flávio Dino para adotar o modelo apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU) a partir deste acordo com parte das centrais sindicais. Assim, o Plenário do E. STF, ao julgar a ADI nº 5090, em julgamento em 12/06/2024, por maioria, estabeleceu o seguinte entendimento: “a) Remuneração das contas vinculadas na forma legal (TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA) em todos os exercícios; e b) Nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/1990) determinar a forma de compensação. Vencidos os Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente e Relator), André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin, que julgavam parcialmente procedente o pedido para declarar que a remuneração das contas do FGTS não pode ser inferior à da caderneta de poupança, modulando os efeitos para os novos depósitos efetuados a partir de 2025. Ficaram vencidos parcialmente os Ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que julgavam inteiramente improcedente o pedido”. Em sede de Embargos de Declaração, o E. Tribunal atribuiu efeitos ex nunc ao seu entendimento, para que seus efeitos ocorram a partir da publicação da ata do julgamento (04/04/2025), tendo sido proferida a seguinte ementa: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. FGTS. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. IMPOSSIBILIDADE DE RECOMPOSIÇÃO RETROATIVA. ATUAÇÃO DO CONSELHO CURADOR. AUSÊNCIA DE OBSCURIDADE OU OMISSÃO. TENTATIVA DE REDISCUSSÃO DO MÉRITO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Não há omissão quanto à modulação dos efeitos, pois a questão foi expressamente apreciada na decisão embargada, que estabeleceu que a nova sistemática de remuneração do FGTS produzirá efeitos apenas a partir da publicação da ata do julgamento. A tese de que trabalhadores que ajuizaram ações antes da decisão teriam direito à recomposição de perdas passadas contraria a determinação expressa do Supremo Tribunal Federal, que vedou a recomposição retroativa em qualquer hipótese. 2. A determinação de eventuais medidas compensatórias nos anos em que a remuneração das contas vinculadas não atingir o IPCA é matéria de gestão do Fundo e deve ser conduzida por seu órgão gestor. É o Conselho Curador do FGTS que tem a expertise necessária para avaliar a sustentabilidade do Fundo e definir eventuais ajustes, dentro dos limites estabelecidos pela legislação. Assim, qualquer tentativa de detalhar sua atuação extrapolaria a função jurisdicional do STF, invadindo o espaço de decisão administrativa e técnica do órgão. Dessa forma, não há obscuridade a ser sanada em relação à atuação do Conselho Curador. 3. O embargante busca, em verdade, rediscutir o mérito da decisão, em evidente tentativa de obter a reconsideração da modulação dos efeitos e da interpretação conferida à legislação que rege a correção dos saldos do FGTS. Tal pretensão, no entanto, não é compatível com a finalidade dos embargos de declaração. 4. Embargos de declaração rejeitados”. Desse modo, o pedido de condenação da CEF ao pagamento de diferenças relativas ao FGTS revela-se improcedente, vez que os efeitos temporais do acolhimento da tese dar-se-ão apenas a contar da publicação da ata do julgamento, ou seja, não retroagirão. A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5090, por sua vez, transitou em julgado em 15/04/2025. Quanto ao pedido de condenação da empresa requerida as diferenças das parcelas vincendas, em outras palavras, com efeitos futuros, entendo que este pleito deve ser julgado sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir superveniente, visto que a ADI já garantiu isso independente de novo pronunciamento judicial. Por fim, não acolho eventual pedido de desistência desta ação formulado pela parte autora, visto que, se acolhida, implicaria numa burla ao sistema focada em evitar os efeitos da sentença de improcedência, sobretudo à luz da decisão do STF já referida. Neste ponto, importante destacar que “O processo não pode ser entendido simplesmente como um modo de exercício de direitos pelo autor, mas como um instrumento do estado para o exercício de uma função sua, qual seja, a jurisdição” (STJ, Recurso Especial Nº 1.318.558 - RS, Relatora MINISTRA NANCY ANDRIGHI), de modo que o julgamento do mérito leva à formação da coisa julgada material, impedindo a propositura de nova ação com idênticos fundamentos. 3. Dispositivo Pelo exposto, no mérito, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, nos termos do art. 487, I, do CPC, bem como declaro extinto por superveniente perda do objeto processual, a pretensão de quaisquer efeitos futuros, nos termos do art. 485, VI, do CPC, porque já assegurados pelo julgamento da Suprema Corte. Sem custas e honorários advocatícios, em face do disposto no art. 55 da Lei n° 9.099/1995. Defiro a parte autora os benefícios da justiça gratuita. Publicação e registro na forma eletrônica. Intimem-se as partes. Após o trânsito em julgado, remetam-se os autos ao arquivo eletrônico. Presidente Prudente, data da assinatura. Juiz Federal assinado eletronicamente

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Processo nº 5002567-19.2023.4.03.6328

ID: 294498624

Tribunal: TRF3 Órgão: 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 5002567-19.2023.4.03.6328

Data de Disponibilização: 10/06/2025

Polo Ativo:

INTEGRAçãO DJEN-TRF3

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

TIAGO PINAFFI DOS SANTOS

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PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5002567-19.2023.4.03.6328 / 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente AUTOR: VIRGILIO CLARO RO… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) Nº 5002567-19.2023.4.03.6328 / 2ª Vara Gabinete JEF de Presidente Prudente AUTOR: VIRGILIO CLARO RODRIGUES Advogado do(a) AUTOR: TIAGO PINAFFI DOS SANTOS - SP251868 REU: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF SENTENÇA 1. Relatório Cuida-se de ação especial cível ajuizada em desfavor da CAIXA ECONOMICA FEDERAL – CEF objetivando a alteração do índice de correção monetária dos valores depositados na sua conta de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS – da TR para o INPC ou outro índice correspondente. Devidamente citada, a CEF pugnou pela improcedência dos pedidos. É a síntese do necessário. DECIDO. 2. Fundamentação Sem preliminares, passo a análise do mérito propriamente dito. A Lei nº 5.107/1966 instituiu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que foi criado com o intuito de compor um fundo para financiamento de moradias e obras públicas, entre outros objetos de interesse social, além do objetivo de estabelecer uma espécie de poupança para o trabalhador e toda a sociedade. O FGTS surgiu como uma alternativa à estabilidade decenal existente à época. Para tanto, naquele período, os empregados poderiam optar pelo novo regime - FGTS - ou permanecer no regime anterior - estabilidade decenal – no qual após dez anos de trabalho no mesmo empregador, o trabalhador adquiria sua estabilidade e não poderia ser dispensado. Este novo regime tornou-se obrigatório a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. Assim, o FGTS é compreendido como um amparo ao trabalhador na hipótese de dispensa arbitrária que possibilita também o crédito para o financiamento da casa própria aos menos favorecidos. Diante disto, ao ser depositado na sua conta de FGTS, o valor passa a integrar o patrimônio do trabalhador, de modo que em caso de eventual falecimento do fundista, o saldo não é restituído à empresa, mas repassado aos dependentes previdenciários, ou na falta destes, aos seus sucessores (art. 20, IV, da Lei Federal nº 8.036/90). Por isso, os valores depositados em contas do FGTS, evidentemente, devem receber correção monetária. Logo, por ter uma função social a cumprir, este Fundo está sujeito a critérios diferenciados do mercado financeiro em geral, de modo que o índice oficial da inflação (IPCA) deve ser a referência mínima para a correção dos saldos dos depósitos realizados nas contas a ele vinculadas, a fim de garantir a manutenção do poder aquisitivo do trabalhador (CF/1988, arts. 5º, XXII e XXIII, e 170, III). Neste sentido, o rendimento do FGTS, se mais oneroso do que o legalmente previsto, ensejaria restrições ao crédito para o financiamento imobiliário em desfavor dos mais carentes, tendo em vista o custo financeiro. Sobre este ponto é o que passou a dispor o artigo 13 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, in verbis: Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização juros de (três) por cento ao ano. Posteriormente, a Lei n.º 8.177/91 passou a estabelecer as regras para a desindexação da economia, tendo disposto em seu artigo 15: Art. 15. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia primeiro, mantida a periodicidade atual para remuneração. Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo. Por sua vez, o artigo 12 desta mesma Lei definia a TRD como fator de remuneração das cadernetas de poupança, e, consequentemente, das contas vinculadas de FGTS: Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados: I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive; No entanto, algum tempo depois, a Lei n.º 8.660/93 extinguiu a TRD, passando a poupança a ser remunerada pela TR, consoante previsto em seus artigos 2º e 7º: Art. 2º Fica extinta, a partir de 1º de maio de 1993, a Taxa Referencial Diária - TRD de que trata o art. 2º da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Art. 7º Os depósitos de poupança têm como remuneração básica a Taxa Referencial - TR relativa à respectiva data de aniversário. Tal é a atual situação da poupança hoje, o mesmo se aplicando ao FGTS, conforme até então sumulado pelo STJ: SÚMULA 459/STJ - A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de correção monetária, aos débitos com o FGTS recolhidos pelo empregador mas não repassados ao fundo. No presente caso, afirma a parte autora em sua prefacial que a adoção da Taxa Referencial (TR) como critério de atualização monetária não é capaz atualmente de refletir idoneamente o fenômeno inflacionário. Um dos motivos se dá pela alteração que a TR foi sofrendo ao longo do tempo, pois com o intuito de evitar uma transferência em massa de capitais investidos em títulos públicos e privados para a caderneta de poupança, alterou-se a metodologia de cálculo da TR (Resolução CMN 2.604, de 23/04/1999), desvinculando-se inclusive da inflação futura. Assevera a parte demandante que a utilização da TR como forma de correção dos saldos das contas de FGTS tem gerado uma gigantesca destruição do valor do patrimônio dos trabalhadores, que há anos não experimentam ganhos reais, pois tiverem rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3% ao ano previstos no art. 13 da Lei 8.036/90. Assim, requer que, a partir de 1999, a correção monetária das suas contas-vinculadas de FGTS deixe de ser feita pela TR, passando a ser realizada pelo INPC ou pelo IPCA, visto que estes índices são capazes de refletir a inflação. Requer, ainda, que a empresa requerida seja condenada a pagar as diferenças decorrentes da aplicação do novo índice, em relação às prestações vencidas e não prescritas. Pois bem. A presente demanda é semelhante a inúmeras outras ajuizadas neste juízo e nas demais varas de todo o país. Em decorrência das milhares de ações promovidas com este mesmo assunto, e com o intuito de se chegar ao melhor deslinde deste tema, houve um acordo firmado no dia 03/04/2024 entre a Advocacia Geral da União e as quatro maiores centrais sindicais do País, no sentido de que, nos anos em que a forma legal de atualização for inferior ao IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo — órgão tripartite, formado por empresários, trabalhadores e o governo — determinar a forma de compensação, nos termos do parágrafo quinto do artigo 13 da Lei nº 8.036/90. Essa medida foi criada visando garantir o direito de propriedade do trabalhador — por permitir que a correção monetária acompanhe o aumento geral dos preços -, bem como para proteger os projetos sociais a serem realizados com o dinheiro do Fundo, o qual não funciona apenas como uma “poupança compulsória do trabalhador”, mas também, como dito, como um financiador da política habitacional, isto é, da aquisição da casa própria por pessoas de baixa renda e da realização de obras de saneamento básico e de infraestrutura urbana. Com o intuito de prestigiar a autonomia privada coletiva (CF/1988, art. 7º, XXVI), aliado ao fato de que há limitações para a atuação do Poder Judiciário, pois a intervenção pública no domínio econômico é excepcional, e, em respeito ao primado da livre iniciativa, ao zelo com a responsabilidade fiscal e à consequente mitigação de novas despesas obrigatórias, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5090-DF movida pelo Partido Solidariedade, em 12/02/2014, a maioria da Corte do Supremo Tribunal Federal seguiu o voto do ministro Flávio Dino para adotar o modelo apresentado pela Advocacia-Geral da União (AGU) a partir deste acordo com parte das centrais sindicais. Assim, o Plenário do E. STF, ao julgar a ADI nº 5090, em julgamento em 12/06/2024, por maioria, estabeleceu o seguinte entendimento: “a) Remuneração das contas vinculadas na forma legal (TR + 3% a.a. + distribuição dos resultados auferidos) em valor que garanta, no mínimo, o índice oficial de inflação (IPCA) em todos os exercícios; e b) Nos anos em que a remuneração das contas vinculadas ao FGTS não alcançar o IPCA, caberá ao Conselho Curador do Fundo (art. 3º da Lei nº 8.036/1990) determinar a forma de compensação. Vencidos os Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente e Relator), André Mendonça, Nunes Marques e Edson Fachin, que julgavam parcialmente procedente o pedido para declarar que a remuneração das contas do FGTS não pode ser inferior à da caderneta de poupança, modulando os efeitos para os novos depósitos efetuados a partir de 2025. Ficaram vencidos parcialmente os Ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que julgavam inteiramente improcedente o pedido”. Em sede de Embargos de Declaração, o E. Tribunal atribuiu efeitos ex nunc ao seu entendimento, para que seus efeitos ocorram a partir da publicação da ata do julgamento (04/04/2025), tendo sido proferida a seguinte ementa: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. FGTS. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. IMPOSSIBILIDADE DE RECOMPOSIÇÃO RETROATIVA. ATUAÇÃO DO CONSELHO CURADOR. AUSÊNCIA DE OBSCURIDADE OU OMISSÃO. TENTATIVA DE REDISCUSSÃO DO MÉRITO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Não há omissão quanto à modulação dos efeitos, pois a questão foi expressamente apreciada na decisão embargada, que estabeleceu que a nova sistemática de remuneração do FGTS produzirá efeitos apenas a partir da publicação da ata do julgamento. A tese de que trabalhadores que ajuizaram ações antes da decisão teriam direito à recomposição de perdas passadas contraria a determinação expressa do Supremo Tribunal Federal, que vedou a recomposição retroativa em qualquer hipótese. 2. A determinação de eventuais medidas compensatórias nos anos em que a remuneração das contas vinculadas não atingir o IPCA é matéria de gestão do Fundo e deve ser conduzida por seu órgão gestor. É o Conselho Curador do FGTS que tem a expertise necessária para avaliar a sustentabilidade do Fundo e definir eventuais ajustes, dentro dos limites estabelecidos pela legislação. Assim, qualquer tentativa de detalhar sua atuação extrapolaria a função jurisdicional do STF, invadindo o espaço de decisão administrativa e técnica do órgão. Dessa forma, não há obscuridade a ser sanada em relação à atuação do Conselho Curador. 3. O embargante busca, em verdade, rediscutir o mérito da decisão, em evidente tentativa de obter a reconsideração da modulação dos efeitos e da interpretação conferida à legislação que rege a correção dos saldos do FGTS. Tal pretensão, no entanto, não é compatível com a finalidade dos embargos de declaração. 4. Embargos de declaração rejeitados”. Desse modo, o pedido de condenação da CEF ao pagamento de diferenças relativas ao FGTS revela-se improcedente, vez que os efeitos temporais do acolhimento da tese dar-se-ão apenas a contar da publicação da ata do julgamento, ou seja, não retroagirão. A Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5090, por sua vez, transitou em julgado em 15/04/2025. Quanto ao pedido de condenação da empresa requerida as diferenças das parcelas vincendas, em outras palavras, com efeitos futuros, entendo que este pleito deve ser julgado sem resolução do mérito, por falta de interesse de agir superveniente, visto que a ADI já garantiu isso independente de novo pronunciamento judicial. Por fim, não acolho eventual pedido de desistência desta ação formulado pela parte autora, visto que, se acolhida, implicaria numa burla ao sistema focada em evitar os efeitos da sentença de improcedência, sobretudo à luz da decisão do STF já referida. Neste ponto, importante destacar que “O processo não pode ser entendido simplesmente como um modo de exercício de direitos pelo autor, mas como um instrumento do estado para o exercício de uma função sua, qual seja, a jurisdição” (STJ, Recurso Especial Nº 1.318.558 - RS, Relatora MINISTRA NANCY ANDRIGHI), de modo que o julgamento do mérito leva à formação da coisa julgada material, impedindo a propositura de nova ação com idênticos fundamentos. 3. Dispositivo Pelo exposto, no mérito, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, nos termos do art. 487, I, do CPC, bem como declaro extinto por superveniente perda do objeto processual, a pretensão de quaisquer efeitos futuros, nos termos do art. 485, VI, do CPC, porque já assegurados pelo julgamento da Suprema Corte. Sem custas e honorários advocatícios, em face do disposto no art. 55 da Lei n° 9.099/1995. Defiro a parte autora os benefícios da justiça gratuita. Publicação e registro na forma eletrônica. Intimem-se as partes. Após o trânsito em julgado, remetam-se os autos ao arquivo eletrônico. Presidente Prudente, data da assinatura. Juiz Federal assinado eletronicamente

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