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Processo nº 0828032-51.2024.8.15.0000

ID: 321440100

Tribunal: TJPB Órgão: 3ª Câmara Cível Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº Processo: 0828032-51.2024.8.15.0000

Data de Disponibilização: 10/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ASSOCIACAO DOS PROCURADORES DO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE

EXPEDIENTE

Advogados:

PAULO ANTONIO MAIA E SILVA

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Processo nº: 0828032-51.2024.8.15.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assuntos: [Indenização / Terço Constitucional, Férias, Gratificação Natalina/13º Salário, Gratificação Natalina/13º salário]… Processo nº: 0828032-51.2024.8.15.0000 Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Assuntos: [Indenização / Terço Constitucional, Férias, Gratificação Natalina/13º Salário, Gratificação Natalina/13º salário] AGRAVANTE: MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE - Advogado do(a) AGRAVANTE: CAIO DE OLIVEIRA CAVALCANTI - PB14199-A AGRAVADO: ASSOCIACAO DOS PROCURADORES DO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRELIMINARES. REJEIÇÃO. TUTELA DE URGÊNCIA. VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR. ABATE-TETO. DECISÃO MANTIDA. I. CASO EM EXAME 1. Agravo interno interposto contra decisão monocrática que indeferiu pedido de efeito suspensivo a agravo de instrumento, mantendo os efeitos da tutela de urgência deferida em primeiro grau para afastar o teto constitucional sobre o terço de férias e 13º salário de procuradores municipais e determinar a restituição dos valores descontados. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Há três questões em discussão: (i) se é vedada a concessão de tutela satisfativa contra o Poder Público; (ii) se a medida liminar afronta o regime de precatórios previsto no art. 100 da CF/1988; e (iii) se é legítima a aplicação do teto remuneratório sobre verbas indenizatórias e de periodicidade anual. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. A vedação à concessão de medidas liminares contra o Poder Público prevista no art. 1º, § 3º, da Lei nº 8.437/1992 foi afastada pela declaração de inconstitucionalidade do § 2º do art. 7º da Lei nº 12.016/2009 (ADI 4296/DF, STF), sendo inaplicável ao caso concreto. 4. A liminar não infringe o regime de precatórios, pois trata de verba alimentar já prevista no orçamento municipal, cuja restituição não representa despesa nova. 5. A decisão agravada está em conformidade com o art. 37, § 11, da CF/1988, que exclui do teto remuneratório as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei. O terço constitucional de férias e o 13º salário possuem natureza excepcional e periodicidade anual, não integrando a remuneração habitual. IV. DISPOSITIVO 6. Preliminares rejeiTadas. Agravo interno conhecido e desprovido. ________________ Dispositivos relevantes citados: CF/1988, arts. 37, XI e § 11, e 100; CPC/2015, art. 1.059; Lei nº 8.437/1992, art. 1º, § 3º; Lei nº 12.016/2009, art. 7º, § 2º. Jurisprudência relevante citada: STF, ADI 4296, Rel. p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, Pleno, j. 09.06.2021; STF, RE 650.898-RG/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, Pleno, j. 01.02.2017; STF, AgR ARE 1229029, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, j. 29.11.2019; TJPR, RI 0005553-02.2018.8.16.0026, Rel. Juíza Camila Henning Salmoria, 4ª Turma Recursal, j. 05.12.2018. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos acima identificados. Acordam os desembargadores da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade, em negar provimento ao agravo interno. RELATÓRIO Trata-se de AGRAVO INTERNO interposto pelo MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE contra decisão monocrática proferida nos autos do Agravo de Instrumento nº 0828032-51.2024.8.15.0000, que indeferiu o pedido de concessão de efeito suspensivo à decisão interlocutória proferida pelo Juízo da 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Campina Grande-PB, nos autos da Ação Ordinária de Obrigação de Não-Fazer e Restituição de Retenção Indevida (Processo nº 0832291-86.2024.8.15.0001), movida pela ASSOCIAÇÃO DOS PROCURADORES DO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE. Na origem, foi concedida tutela provisória para determinar que o Município agravante se abstivesse de aplicar o chamado abate-teto constitucional sobre o pagamento do terço constitucional de férias e da gratificação natalina (13º salário) aos Procuradores Municipais, representados pela associação autora, determinando ainda a restituição, no prazo de 30 dias, dos valores descontados a esse título. Veja-se o dispositivo da decisão de primeiro grau impugnada: “ (...) DEFIRO O PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA para determinar que o MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE se abstenha de aplicar o abate teto no valor do adicional de férias e décimo terceiro salário a todos os Procuradores Municipais, ora representados da Associação promovente, a título de “abate-teto constitucional” refletidos na remuneração representados pela autora, e a restituir os valores descontados no prazo de 30 dias, sob pena de adoção de medida legais para efetivação da medida. “. (grifo nosso). O agravante alegou que a decisão ofende os princípios da legalidade e da supremacia do interesse público, além de afrontar o art. 1º, §3º, da Lei nº 8.437/92 e o art. 100 da Constituição Federal. Aduziu, também, que os valores de terço de férias e 13º salário possuem natureza remuneratória e, portanto, estariam sujeitos à incidência do teto constitucional. Requereu, inicialmente, a retratação da decisão monocrática e, ao final, o provimento do presente agravo interno para reformá-la. É o relatório. Contrarrazões opostas. É o relatório. VOTO 1. Da Preliminar de Proibição de Medidas Satisfativas Contra o Poder Público: A parte agravante sustenta, preliminarmente, que a decisão agravada teria natureza satisfativa, o que violaria o art. 1º, § 3º, da Lei nº 8.437/92, dispositivo que vedaria a concessão de liminares dessa natureza contra o Poder Público. A possibilidade de concessão de tutelas provisórias contra o Poder Público não se limita às ações de mandado de segurança. Isso porque a vedação prevista no §2º do art. 7º da Lei nº 12.016/2009, que vedava esse tipo de medida, era estendida ao procedimento comum por força do art. 1.059 do Código de Processo Civil, combinado com o art. 1º da Lei nº 8.437/1992. No entanto, tal proibição foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI nº 4.296/DF, afastando-se, assim, a restrição generalizada à concessão de tutelas provisórias contra a Fazenda Pública. Ademais, o próprio STF ressaltou a necessidade de avaliação caso a caso, com base na razoabilidade e nas peculiaridades da demanda, especialmente em hipóteses como a dos autos, em que a verba pleiteada possui natureza alimentar e foi indevidamente suprimida da remuneração dos agravados. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4296, o STF destacou o Princípio da Isonomia Constitucional, entendendo que os dispositivos declarados inconstitucionais “concedem à Fazenda Pública tratamento preferencial incompatível com o Estado Democrático de Direito”, em desacordo com o texto constitucional que preza pela isonomia. Neste passo, veja-se o julgado pelo STF: "EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 1º, §2º, 7º, III E §2º, 22, §2º, 23 E 25, DA LEI DO MANDADO DE SEGURANÇA (LEI 12.016/2009). ALEGADAS LIMITAÇÕES À UTILIZAÇÃO DESSA AÇÃO CONSTITUCIONAL COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO DE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS. SUPOSTA OFENSA AOS ARTS. 2º E 5º, XXXV E LXIX, DA CONSTITUIÇÃO. NÃO CABIMENTO DO “WRIT” CONTRA ATOS DE GESTÃO COMERCIAL DE ENTES PÚBLICOS, PRATICADOS NA EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE ECONÔMICA, ANTE A SUA NATUREZA ESSENCIALMENTE PRIVADA. EXCEPCIONALIDADE QUE DECORRE DO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL. POSSIBILIDADE DE O JUIZ EXIGIR CONTRACAUTELA PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR. MERA FACULDADE INERENTE AO PODER GERAL DE CAUTELA DO MAGISTRADO. INOCORRÊNCIA, QUANTO A ESSE ASPECTO, DE LIMITAÇÃO AO JUÍZO DE COGNIÇÃO SUMÁRIA. CONSTITUCIONALIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO DIREITO DE IMPETRAÇÃO E DA PREVISÃO DE INVIABILIDADE DE CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROIBIÇÃO DE CONCESSÃO DE LIMINAR EM RELAÇÃO A DETERMINADOS OBJETOS. CONDICIONAMENTO DO PROVIMENTO CAUTELAR, NO ÂMBITO DO MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO, À PRÉVIA OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE A LEI CRIAR ÓBICES OU VEDAÇÕES ABSOLUTAS AO EXERCÍCIO DO PODER GERAL DE CAUTELA. EVOLUÇÃO DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. CAUTELARIDADE ÍNSITA À PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL AO DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RESTRIÇÃO À PRÓPRIA EFICÁCIA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. PREVISÕES LEGAIS EIVADAS DE INCONSTITUCIONALIDADE. PARCIAL PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. O mandado de segurança é cabível apenas contra atos praticados no desempenho de atribuições do Poder Público, consoante expressamente estabelece o art. 5º, inciso LXIX, da Constituição Federal. Atos de gestão puramente comercial desempenhados por entes públicos na exploração de atividade econômica se destinam à satisfação de seus interesses privados, submetendo-os a regime jurídico próprio das empresas privadas. 2. No exercício do poder geral de cautela, tem o juiz a faculdade de exigir contracautela para o deferimento de medida liminar, quando verificada a real necessidade da garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto. Razoabilidade da medida que não obsta o juízo de cognição sumária do magistrado. 3. Jurisprudência pacífica da CORTE no sentido da constitucionalidade de lei que fixa prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança (Súmula 632/STF) e que estabelece o não cabimento de condenação em honorários de sucumbência (Súmula 512/STF). 4. A cautelaridade do mandado de segurança é ínsita à proteção constitucional ao direito líquido e certo e encontra assento na própria Constituição Federal. Em vista disso, não será possível a edição de lei ou ato normativo que vede a concessão de medida liminar na via mandamental, sob pena de violação à garantia de pleno acesso à jurisdição e à própria defesa do direito líquido e certo protegida pela Constituição. Proibições legais que representam óbices absolutos ao poder geral de cautela. 5. Ação julgada parcialmente procedente, apenas para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 7º, §2º, e 22º, §2º, da Lei 12.016/2009, reconhecendo-se a constitucionalidade dos arts. 1º, § 2º; 7º, III; 23 e 25 dessa mesma lei. "(ADI 4296, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 09/06/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-202 DIVULG 08-10-2021 PUBLIC 11-10-2021). Assim, sendo declarada inconstitucional a vedação à concessão de liminares contra o Poder Público prevista na Lei do Mandado de Segurança, essa restrição também deixa de produzir efeitos no âmbito das tutelas de urgência previstas na Lei nº 8.437/92, em razão do seu fundamento ter sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesse contexto, como o Código de Processo Civil autorizava a aplicação subsidiária dos dispositivos da Lei do Mandado de Segurança ao procedimento comum (art. 1.059 do CPC), a declaração de inconstitucionalidade atinge igualmente o processo civil ordinário, afastando por completo a proibição. Veja-se o dispositivo do CPC/2015: "Art. 1.059. À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992 , e no art. 7º, § 2º, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009 ." Veja-se a Lei 8.437, de 30 de junho de 1992: Art. 1° Não será cabível medida liminar contra atos do Poder Público, no procedimento cautelar ou em quaisquer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que providência semelhante não puder ser concedida em ações de mandado de segurança, em virtude de vedação legal. Assim, diante da inconstitucionalidade declarada pelo STF quanto ao §2º do art. 7º da Lei nº 12.016/2009, a proibição de concessão de liminar contra o Poder Público deixou de produzir efeitos, inclusive no procedimento comum, por arrastamento, afastando-se também a eficácia do art. 1º, §3º, da Lei nº 8.437/92. No presente feito, trata-se de verbas de natureza alimentar, o que confere urgência especial à medida concedida, justificando a atuação excepcional do Judiciário com fundamento no poder geral de cautela. Assim, rejeito a preliminar de impossibilidade de medidas satisfativas contra o poder público. 2. Preliminar de Mácula ao Procedimento de Precatórios/RPVS art. 100 da CF/88 Não prospera a alegação de violação ao regime de pagamento por precatório previsto no art. 100 da Constituição Federal. Isso porque a determinação liminar de restituição de verba de natureza alimentar, decorrente de descontos indevidos, ou seja, valores que deixaram de ser corretamente pagos, não caracteriza afronta ao referido regime. A razão é simples: tais verbas já estavam previstas no orçamento do Município para o pagamento dos servidores ou procuradores, não configurando, portanto, despesa nova ou inesperada capaz de comprometer a dotação orçamentária. O regime de precatórios tem por fundamento a necessidade de proteger o ente público contra obrigações financeiras não previstas, de modo a resguardar o equilíbrio fiscal. No entanto, essa lógica não se aplica às verbas que, embora indevidamente suprimidas, já integravam o planejamento orçamentário prévio, não podendo ser consideradas como despesas extraordinárias ou surpresa que exijam submissão ao rito do art. 100 da CF. Logo, também rejeito essa preliminar. 3. Do mérito do Agravo interno. Presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade recursal, conheço do agravo interno. A insurgência do Município de Campina Grande dirige-se contra decisão monocrática que indeferiu o pedido de efeito suspensivo ao agravo de instrumento, mantendo os efeitos da tutela de urgência proferida em primeiro grau, a qual determinou o afastamento do teto remuneratório constitucional (art. 37, XI, da CF/88) sobre o terço de férias e o 13º salário dos procuradores municipais, bem como a restituição dos valores descontados, no prazo de 30 dias. O Magistrado singular concedeu a tutela de urgência requerida pela agravada para que o agravante suspenda o desconto realizado na remuneração da agravada, considerando o seguinte: “Tanto o terço de férias, quanto o décimo terceiro salário, são verbas autônomas, carecendo de cálculo individualizado que terá como limite máximo da sua base de cálculo o próprio teto constitucional. (…) Portanto, embora o terço de férias e o décimo terceiro salário não possam exceder o valor do teto remuneratório, bem como a sua base de cálculo, consoante previsão do art. 37, XI, da Constituição Federal, entendo que não devem ser somados entre si ou com a remuneração do mês em que forem pagos, como foi o caso, bem como se constata que o teto atual dos servidores estaduais e municipais, é de o equivalente a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) corresponderia a R$ 39.717,681, e não ao valor de R$ 33.763,00, como demonstrado na exordial, em decorrência da Lei nº 14.520 de 09/01/2023, que estabeleceu o reajuste dos subsídios dos Ministros do STF para o valor de R$ 44.008,52, a partir de 1º de fevereiro de 2024. ” Dos autos originários observo que o Município procedeu com o cálculo do “abate-teto”, sem levar em consideração o último reajuste na Lei nº 14.520 de 09/01/2023, que estabeleceu o reajuste dos subsídios dos Ministros do STF para o valor de R$ 44.008,52, a partir de 1º de fevereiro de 2024. Assim, o Município realizou o somatório da remuneração mensal com o adicional do terço constitucional de férias e o décimo terceiro salário, aplicando o redutor do teto de forma cumulativa, o que se revela indevido, tendo em vista que ambas as verbas possuem natureza indenizatória ou excepcional, por se destinarem a compensar encargos financeiros específicos do servidor, no caso do terço, durante o período de gozo das férias, e, no caso do décimo terceiro, como parcela de periodicidade anual desvinculada da remuneração habitual. A esse respeito, a Constituição Federal, no art. 37, inciso XI, §11, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 47/2005, dispõe expressamente que as parcelas de caráter indenizatório não devem ser computadas para fins de incidência do teto remuneratório constitucional. A Constituição Federal, em seu art. 37, inciso XI, §11, alterada pela EC/47/2005, veda expressamente a incidência do teto sobre verba indenizatória: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (…) XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) (Grifei). (…) § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei." (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005) Ademais, é oportuno destacar que, para fins de aplicação do teto remuneratório constitucional, devem ser consideradas todas as espécies de retribuição percebidas pelo agente público, sejam elas vencimentos, subsídios, proventos, pensões ou quaisquer outras parcelas de natureza remuneratória, ainda que acumuladas. No entanto, excluem-se desse cômputo as parcelas de natureza indenizatória, bem como outras verbas que, por sua característica excepcional ou periodicidade específica, como o 13º salário, o terço constitucional de férias e o adiantamento de férias, não se enquadram como remuneração mensal habitual. Nesse sentido, é expletiva a ementa do RE nº 650.898- RG/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. do Acórdão Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, j. 1º/02/2017, p. 24/08/2017 - TEMA 484 do STF - sobre o assunto: "Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Ação direta de inconstitucionalidade estadual. Parâmetro de controle. Regime de subsídio. Verba de representação, 13º salário e terço constitucional de férias. 1. Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Precedentes. 2. O regime de subsídio é incompatível com outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, O QUE NÃO É O CASO DO DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO E DO TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS, PAGOS A TODOS OS TRABALHADORES E SERVIDORES COM PERIODICIDADE ANUAL. 3. A ‘verba de representação’ impugnada tem natureza remuneratória, independentemente de a lei municipal atribuir-lhe nominalmente natureza indenizatória . Como consequência, não é compatível com o regime constitucional de subsídio. 4. Recurso parcialmente provido." (RE nº 650.898-RG/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. do Acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1º/02/2017, p. 24/08/2017; grifos acrescidos). E mais: "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. REGIME DE SUBSÍDIO. VERBA DE REPRESENTAÇÃO, DÉCIMO TERCEIRO E TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS. COMPATIBILIDADE COM O ENTENDIMENTO FIRMADO NO RE 650.898-RG/RS. REEXAME DE FATOS E PROVAS E DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 279/STF E 280/STF. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. I O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 650.898-RG/RS, Relator para o acórdão Ministro Roberto Barroso, firmou a tese de repercussão geral no sentido de que “o regime de subsídio é incompatível com outras parcelas remuneratórias de natureza mensal”, o que não é o caso do décimo terceiro salário e do terço constitucional de férias, pagos a todos os trabalhadores e servidores com periodicidade anual II Conforme a Súmula 279/STF, é inviável, em recurso extraordinário, o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos. III – É inadmissível o recurso extraordinário quando sua análise implica a revisão da interpretação de normas infraconstitucionais locais que fundamentam o acórdão recorrido. Incidência da Súmula 280/STF. IV Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC." (STF - AgR ARE: 1229029 SP - SÃO PAULO 1004295-32.2018.8.26.0358, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 29/11/2019, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-270 09-12-2019) No caso concreto, a probabilidade do direito e o perigo da demora demonstrados em favor das gravadas estão intrinsecamente relacionados à controvérsia acerca da regularidade da incidência do abatimento do teto constitucional, especialmente diante da existência de verbas de natureza indenizatória, cuja inclusão no cômputo do limite remuneratório revela-se, em tese, indevida. Referida incidência sobre tais verbas, quando somadas à remuneração mensal, esvazia o conteúdo econômico das parcelas de pagamento anual, configurando enriquecimento ilícito da Administração Pública. Isso porque tais verbas possuem periodicidade anual e não se confundem com a remuneração mensal habitual, sendo indevido tratá-las como se assim o fossem. Veja-se jurisprudência dos Tribunais pátrios a respeito: Tribunal de Justiça do Paraná: "RECURSO INOMINADO. FAZENDA PÚBLICA. SERVIDOR DO MUNICÍPIO DE CAMPO LARGO. SOMA DO 13º E DO TERÇO DE FÉRIAS À REMUNERAÇÃO PARA INCIDÊNCIA DO ‘ABATE-TETO’ EM UMA ÚNICA VEZ. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA INDIVIDUAL DA LIMITAÇÃO PREVISTA NO ART. 37, XI DA CF. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9099/95. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Por se tratar de direitos sociais autônomos que não são incorporados de qualquer forma ao provento do servidor, o terço de férias e o 13º salário devem sofrer a incidência do ‘abate-teto’ individualmente, comparando-se o valor de cada um deles com o limite constitucional aplicável. É incabível a soma de tais benefícios com a remuneração básica no cálculo da adequação ao teto constitucional, pois seriam extirpados e jamais usufruídos pelo servidor em afronta ao art. 7º da Constituição. O teto abrange todas as espécies2. Conforme se extra da sentença: “ remuneratórias e todas as parcelas integrantes do valor total percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras. Entretanto, se a vantagem é paga ao servidor público de forma pontual, em razão do exercício do cargo em condições extraordinárias, seu caráter permanente resta afastado, ainda que possua natureza salarial. Neste caso, a verba não integrará a remuneração, devendo, por consequência, ser excluída do cálculo destinado a verificação da observância do teto remuneratório. ” 3. Precedente: 0002354-69.2018.8.16.0026 (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0005553-02.2018.8.16.0026 - Campo Largo - Rel.: Juíza Camila Henning Salmoria - J. 05.12.2018)." (TJ-PR - RI: 00055530220188160026 PR 0005553-02.2018.8.16.0026 (Acórdão), Relator: Juíza Camila Henning Salmoria, Data de Julgamento: 05/12/2018, 4ª Turma Recursal, Data de Publicação: 05/12/2018). Por outro lado, é cediço que a concessão do efeito suspensivo requer a demonstração concomitante do fumus boni iuris e do periculum in mora. Na ausência de qualquer desses requisitos, torna-se inviável o acolhimento da medida, tendo em vista o caráter excepcional da suspensão da decisão agravada, que só se justifica diante de evidente plausibilidade jurídica do direito invocado e risco concreto de dano grave ou de difícil reparação. No caso em exame, contudo, não restou demonstrado, em favor da parte agravante, o preenchimento dos requisitos legais para a concessão da tutela liminar, conforme fundamentado nos tópicos anteriores, razão pela qual deve ser mantida a decisão monocrática que indeferiu o pedido de efeito suspensivo, a fim de que, na análise meritória, o juízo possa verificar se a aplicação do teto constitucional está observando os critérios corretos de abatimento, especialmente quanto à exclusão das verbas de natureza indenizatória. Diante do exposto, REJEITO AS PRELIMINARES SUSCITADAS E NEGO PROVIMENTO AO AGRAVO INTERNO, mantendo incólume a decisão agravada. É como voto. Presidiu o julgamento, com voto, a Exma. Desa. Túlia Gomes de Souza Neves (Presidente). Participaram do julgamento o Exmo. Des. Marcos Cavalcanti de Albuquerque (Relator) e o Exmo. Dr. Inácio Jário de Queiroz Albuquerque. Acompanhou como representante do Ministério Público: Exmo. Procurador Victor Manoel Magalhaes Granadeiro Rio Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 06 de julho de 2025. Desembargador Marcos Cavalcanti de Albuquerque R e l a t o r

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Processo nº 0130692-81.2007.8.09.0110

ID: 324846275

Tribunal: TJGO Órgão: Aruanã - Vara Cível Classe: USUCAPIãO Nº Processo: 0130692-81.2007.8.09.0110

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRA

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

ANA PAULA GONZAGA SOUZA

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Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana Urba… Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana UrbanizacaoS E N T E N Ç A I – RELATÓRIOLÁZARO DE SOUZA PEREIRA e MARIA DO CARMO PEREIRA ajuizaram ação de usucapião em face de ARUANÃ URBANIZAÇÃO LTDA.Alegam, em suma, que: a) exercem posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre os imóveis rurais identificados como chácaras nº 156-A (com área de 3.000,00 m²) e 155-F (com área de 4.000,00 m²), totalizando 7.000,00 m², situados na Rua “K”, Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO; b) realizaram diversas benfeitorias no local, incluindo desmatamento, gradagem do solo, cultivo de arroz por três anos, manutenção da limpeza, plantio de capim, criação de vacas leiteiras e outras plantações para sustento familiar; c) efetuaram o pagamento de tributos referentes à posse, como ITU/IPU; d) atendem aos requisitos legais para o reconhecimento da usucapião extraordinária, conforme o art. 1.238 e parágrafo único do Código Civil, que reduz o prazo para dez anos em caso de moradia habitual ou obras produtivas; e) invocam o art. 5º, inciso XXII da Constituição Federal; f) requereram a gratuidade da justiça.Ao final, requerem o reconhecimento da aquisição da propriedade por usucapião das áreas descritas, com a expedição de mandado de registro imobiliário e concessão da gratuidade da justiça.Citada, a parte ré apresentou contestação (p. 57/61, vol. 1, do histórico do processo físico), arguindo, em preliminar: a) carência da ação por ausência de interesse de agir, sob o argumento de que os requerentes não teriam cumprido o prazo legal de 15 anos para usucapião extraordinária. No mérito, sustenta, em suma, que: a) não houve posse pacífica e ininterrupta pelo período alegado, pois os autores somente teriam iniciado a posse em 2002, não preenchendo o requisito temporal; b) a área não comportaria atividades agropecuárias suficientes para o sustento familiar, como alegado; c) inexistência de animus domini por parte dos requerentes.Instada, a parte autora apresentou réplica à contestação, na qual alega, em síntese: a) reafirma a posse desde 1993, destacando a realização de benfeitorias e manutenção da área como prova da posse qualificada; b) refuta a preliminar de carência de ação, sustentando que a posse superior a dez anos é suficiente conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil; c) menciona o art. 2.029 do Código Civil, que assegura a contagem de dois anos adicionais ao prazo legal anterior em casos de posse iniciada antes da vigência do novo Código; d) afirma que a área é compatível com as atividades desenvolvidas e que os tributos foram regularmente pagos (p.92/93, vol. 1, do histórico do processo físico).O Ministério Público e as Fazendas Públicas declararam desinteresse na causa.O feito tramitou inicialmente na Comarca de Mozarlândia e, com a criação da Comarca de Aruanã pela Lei Estadual n. 16.435/2008, foi redistribuído em 2009 (p. 111, vol. 1, do histórico do processo físico).A audiência de conciliação restou infrutífera (p. 265, vol. 1, do histórico do processo físico).Determinada a produção de prova pericial (mov. 15).Instada, a Prefeitura juntou planta do loteamento Chácaras Recreio do Araguaia (mov. 19).Na mov. 27, informado o óbito do autor LAZARO DE SOUZA PEREIRA e requerida a suspensão dos autos para habilitação dos herdeiros, o que foi deferido em mov. 29.A autora indicou os herdeiros do falecido em mov. 49, sendo deferida da habilitação na decisão de mov. 52.Laudo pericial em mov. 93, homologado em decisão de mov. 120, oportunidade em que também fora designada audiência de instrução e julgamento.Realizada audiência de instrução e julgamento (mov. 162), constatou a presença do promovido e seu advogado e a ausência da parte autora bem como a sua advogada. Diante da ausência de requerimento e testemunhas, declarada o encerramento da instrução, com prazo de 05 (cinco) dias para as alegações finais.Os autores apresentaram justificativa de ausência, ocasião em que pugnaram pela redesignação do ato (mov. 161).Alegações finais da requerida em mov. 170, nas quais alega, em suma, que: a) os autores ajuizaram ação de usucapião ordinária, alegando posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre as chácaras 156-A e 155-F, situadas no loteamento "Chácaras Recreio do Araguaia", em Aruanã-GO, mas não apresentaram qualquer prova robusta nesse sentido, limitando-se a juntar guias de IPTU dos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em 05 de abril de 2007; b) os autores não compareceram à audiência de instrução e não produziram qualquer prova oral, fotográfica ou testemunhal, tampouco comprovaram pagamento de tributos antes de 2007; c) a ausência de comprovação da posse desde 1993 inviabiliza a configuração das hipóteses de usucapião previstas nos artigos 1.238 (usucapião extraordinária), 1.242 (usucapião ordinária) e 2.029 do Código Civil, sendo que, além de inexistir justo título ou boa-fé, a confissão de que os autores invadiram os imóveis afasta qualquer presunção favorável; d) todos os tributos foram quitados em um único dia, o que indica preparo para o ajuizamento da ação e não exercício contínuo da posse; e) os autores não se desincumbiram do ônus de provar os fatos constitutivos do direito alegado, nos termos do art. 373, I, do CPC, sendo unânime a jurisprudência no sentido de exigir prova inequívoca da posse mansa, pacífica e com animus domini; f) a ausência de justo título, de boa-fé, de comprovação do início da posse e de produção de qualquer outra prova torna inviável a pretensão inicial.Em alegações finais, os autores, alegam, em suma, que: a) exercem posse sobre o imóvel situado na Rua “K”, Chácaras n. 156-A e 155-F, no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO, desde 27 de setembro de 1993, totalizando mais de 32 anos de posse; b) ao ocuparem a área, desmataram, gradearam, plantaram arroz, implantaram cercas e realizaram diversas plantações, incluindo capim para pastagem de vacas, utilizando o local para sustento familiar; c) mantêm a posse de forma mansa, pacífica e ininterrupta, sem oposição de terceiros; d) os impostos incidentes sobre o imóvel, como o IPTU, sempre foram pagos pelos autores, conforme comprovantes juntados aos autos; e) não possuem outro imóvel urbano ou rural; f) o imóvel objeto da demanda possui 7.000 m²; g) a posse é exercida com animus domini, atendendo aos requisitos do artigo 1.238 do Código Civil; h) embora os documentos mais antigos nos autos remontem a 2000, a posse é exercida desde 1993 e sempre com boa-fé, conforme demonstrado pelas benfeitorias realizadas e ausência de oposição de terceiros; i) a contestação do réu tenta descaracterizar a boa-fé dos autores, mas não apresenta elementos aptos a infirmar os fatos alegados; j) a parte ré não apresentou documentos que afastem o direito à usucapião, sendo a posse comprovada de forma contínua, pacífica e por longo período. Ao final, requerem o reconhecimento do direito à usucapião extraordinária sobre o imóvel descrito, bem como a gratuidade da justiça.Autos conclusos para sentença.II – FUNDAMENTAÇÃOQuestões processuaisTendo em vista a justificativa apresentada pela patrona da parte autora (mov. 161), acompanhada de atestado médico, acolho os motivos indicados como causa da ausência na audiência de instrução e julgamento anteriormente designada. Todavia, deixo de designar nova audiência, porquanto já encerrada a instrução processual não havendo pendências probatórias relevantes a justificar a reabertura da fase instrutória, ainda mais considerando que o feito tramita desde o ano de 2007. Cumpre destacar ainda que nenhuma testemunha compareceu a audiência e sequer foi apresentado rol de testemunhas nos autos, nos termos e prazos legais. Assim, INDEFIRO o pedido de reabertura da instrução processual.Da preliminar de carência de açãoA requerida alega carência de ação por ausência de interesse de agir. Neste ponto, embora a ré sustente a não configuração do prazo legal de 15 anos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo. Assim, a controvérsia quanto ao prazo de posse deve ser analisada no mérito, motivo pelo qual REJEITO a preliminar.Do méritoA usucapião é um dos modos de aquisição da propriedade, pois prestigia o possuidor através de uma posse mansa, pacífica e ininterrupta, no qual a propriedade ociosa e descuidada passou a desenvolver sua função social, conforme previsto na Constituição Federal.Os dois requisitos essenciais para a usucapião são a posse e o decurso do tempo. A posse é o exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade, em outras palavras, a exteriorização da propriedade. A posse deve ser qualificada pelo animus domini, ou seja, o possuidor exerce a posse no intento de tornar-se proprietário.Tal posse tem que ser mansa, pacífica e contínua, pois a inércia do proprietário constitui fundamento da prescrição aquisitiva, não podendo haver qualquer resistência ou oposição à posse do usucapiente.Conforme o disposto no artigo 1.238 do Código Civil, constituem requisitos para a aquisição de domínio por meio de usucapião extraordinária a posse ad usucapionem do imóvel, vale dizer, aquela ininterrupta, sem oposição e com animus domini, e o transcurso do lapso temporal de 15 (quinze anos).No caso dos autos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo.Não é toda e qualquer espécie de posse que possibilita a aquisição da propriedade pela usucapião. Na verdade, a posse ad usucapionem caracteriza-se pelo animus domini, elemento psíquico do possuidor, que revela a intenção de ter a coisa como dono.A parte autora sustenta que exerce a posse do imóvel, com animus domini, desde 27 de setembro de 1993, de forma mansa, pacífica e ininterrupta.É imperioso ressaltar que na ação de usucapião não exige a comprovação de vínculo contratual anterior, tampouco depende da validade ou existência de negócio jurídico translativo de domínio.Trata-se de modo originário de aquisição da propriedade, cuja constituição decorre exclusivamente da posse qualificada, contínua, mansa e pacífica, com animus domini, pelo prazo legalmente exigido, nos termos dos artigos 1.238 e seguintes do Código Civil. Cuidando-se de usucapião extraordinária, o prazo é de 15 (quinze) anos.Assim, eventual invalidade ou inexistência de título de aquisição anterior não impede o reconhecimento da usucapião, desde que preenchidos os requisitos legais.Regressando ao caso concreto, a parte autora não comprovou os requisitos para concessão da usucapião.Com efeito, os requerentes não produziram prova testemunhal ou fotográfica, tampouco demonstraram por meio documental a posse desde 1993, limitando-se a juntar guias de pagamento de tributos (IPTU/ITU) referentes aos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em um único dia (abril de 2007), o que, por si só, não é suficiente para comprovar o exercício da posse ad usucapionem pelo prazo de 10 ou 15 anos exigido pelos arts. 1.238 e parágrafo único do Código Civil.Ademais, não foram arroladas testemunhas nem trazidos aos autos elementos probatórios que comprovem o alegado uso do imóvel para moradia habitual ou para o desenvolvimento de atividades produtivas com constância e continuidade, conforme exigido pela legislação vigente para a configuração da usucapião extraordinária com prazo reduzido.Em caso semelhante, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:DIREITO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. AUSÊNCIA DE POSSE AD USUCAPIONEM. FALTA DE PROVA ROBUSTA. REQUISITOS NÃO COMPROVADOS. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Apelação cível contra sentença que julgou improcedente o pedido de usucapião extraordinária de imóvel rural, sob o fundamento de ausência de comprovação do requisito temporal e de posse ad usucapionem. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. A questão em discussão consiste em verificar se o autor preenche os requisitos legais para a aquisição da propriedade do imóvel por usucapião extraordinária, com base na alegada posse contínua, pacífica e com animus domini desde 1997, conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. A usucapião extraordinária exige posse contínua, pacífica e com ânimo de dono, por 15 anos ou por 10 anos se o possuidor tiver estabelecido moradia habitual no imóvel ou realizado obras de caráter produtivo, conforme art. 1.238, parágrafo único, do Código Civil. 4. A alegação de posse desde 1997, embora sujeita à regra de transição do art. 2.029 do Código Civil, não encontra respaldo em prova eficaz e convincente nos autos. 5. Os documentos apresentados não identificam o autor como responsável pelo pagamento dos tributos e não demonstram exercício de posse com animus domini. 6. A prova oral apresenta lacunas quanto ao início e à natureza da ocupação, revelando possível relação de permissão ou prestação de serviços, sem configuração de posse qualificada. 7. O autor não comprovou os requisitos legais da usucapião extraordinária, conforme exigido pelo art. 373, I, do CPC. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Apelação Cível conhecida e desprovida. Teses de julgamento: "1. A ausência de prova robusta da posse com animus domini, mansa, pacífica, contínua e ininterrupta pelo prazo legal impede o reconhecimento da usucapião extraordinária." "2. Comprovantes de pagamento de tributos desacompanhados de outros elementos de prova não demonstram, por si só, posse ad usucapionem." Dispositivos relevantes citados: CC, arts. 1.208 e 1.238, parágrafo único; CPC, arts. 373, I, e 85, § 11. Jurisprudência relevante citada: TJGO, Apelação Cível 0060495-61.2011.8.09.0175, Rel. Des(a). Stefane Fiúza Cançado Machado, 6ª Câmara Cível, j. 29/04/2024; TJSP, Apelação Cível 1004295-30.2017.8.26.0079, Rel. Fatima Cristina Ruppert Mazzo, 4ª Câmara de Direito Privado, j. 10/02/2025; TJMG, Apelação Cível 1.0024.16.146780-8/001, Rel. Claret de Moraes, j. 19/10/2021. (Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível, 0457745-47.2015.8.09.0024, STEFANE FIUZA CANÇADO MACHADO - (DESEMBARGADOR), 10ª Câmara Cível, julgado em 08/07/2025 13:00:00) Original sem destaqueCumpre destacar que o laudo técnico pericial apresentado nos autos (mov. 93) compreende os memoriais descritivos e mapas das chácaras nº 156-A e 155-F, situadas no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, no município de Aruanã/GO, elaborados por profissional habilitado, com registro no CREA-GO e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) devidamente registrada.De acordo com o referido laudo, a Chácara 156-A possui área de 2.990,705 m², com perímetro de 259,51 metros, confrontando com a Chácara 156-B, Rua K, Chácara 155-F e Chácara 151. Já a Chácara 155-F apresenta área de 3.979,040 m², com perímetro de 279,40 metros, confrontando com as Chácaras 156-A, 155-E, 152 e a Rua K. Os vértices das áreas foram georreferenciados ao sistema SIRGAS2000, estando corretamente delimitados.Os mapas topográficos anexados demonstram graficamente os limites e a localização dos imóveis, corroborando a descrição constante dos memoriais. Todavia, a prova pericial limita-se à identificação técnica e geográfica das áreas, não abrangendo qualquer elemento relativo ao exercício da posse pelos autores. Não houve constatação, por parte do perito, de benfeitorias, cultivos ou qualquer outro indicativo de ocupação efetiva, tampouco houve produção de prova testemunhal ou documental complementar nesse sentido.Assim, o laudo técnico comprova apenas o tamanho, perímetro e localização das áreas, sem atestar ou confirmar o efetivo exercício da posse qualificada pelos autores, o que reforça a conclusão pela ausência de provas mínimas quanto ao preenchimento dos requisitos exigidos para a usucapião extraordinária.Por consequência, não restaram preenchidos os requisitos legais para o reconhecimento da prescrição aquisitiva da área objeto da presente demanda, de modo que imperiosa a improcedência da demanda.III – DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial, resolvendo o mérito nos termos do art. 487, I, do CPC.CONDENO os autores, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes, no percentual de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, contudo, com a exigibilidade suspensa, em razão da gratuidade da justiça.Caso ocorra a interposição de recurso de apelação, deverá a Escrivania proceder a intimação da parte recorrida para apresentar as contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.010, §1°, do CPC).Cumpridas as formalidades previstas nos §§1° e 2°, do art. 1.010, do CPC, o que deverá ser certificado, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, independente de nova conclusão (CPC, art. 1.010, §3°).Não havendo requerimentos, certifique-se a Escrivania o trânsito em julgado e arquivem-se os autos com as baixas e cautelas de estilo.Publicação e Registro eletrônico.Cumpra-se. Intimem-se.Esta decisão possui força de mandado/ofício, dispensada a geração de outro documento, bastando o cadastro em sistema próprio e a entrega ao Oficial de Justiça ou destinatário, nos termos dos artigos 136 a 139 do Código de Normas e Procedimentos do Foro Judicial da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás.Aruanã, datado e assinado eletronicamente. CAIO TRISTÃO DE ALMEIDA FRANCOJuiz Substituto(Decreto Judiciário n.º 1.388/2025).

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Processo nº 0130692-81.2007.8.09.0110

ID: 324846283

Tribunal: TJGO Órgão: Aruanã - Vara Cível Classe: USUCAPIãO Nº Processo: 0130692-81.2007.8.09.0110

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

ESPÓLIO MARIA DO CARMO PEREIRA

Polo Passivo:

Sentença

Advogados:

ANA PAULA GONZAGA SOUZA

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Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana Urba… Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana UrbanizacaoS E N T E N Ç A I – RELATÓRIOLÁZARO DE SOUZA PEREIRA e MARIA DO CARMO PEREIRA ajuizaram ação de usucapião em face de ARUANÃ URBANIZAÇÃO LTDA.Alegam, em suma, que: a) exercem posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre os imóveis rurais identificados como chácaras nº 156-A (com área de 3.000,00 m²) e 155-F (com área de 4.000,00 m²), totalizando 7.000,00 m², situados na Rua “K”, Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO; b) realizaram diversas benfeitorias no local, incluindo desmatamento, gradagem do solo, cultivo de arroz por três anos, manutenção da limpeza, plantio de capim, criação de vacas leiteiras e outras plantações para sustento familiar; c) efetuaram o pagamento de tributos referentes à posse, como ITU/IPU; d) atendem aos requisitos legais para o reconhecimento da usucapião extraordinária, conforme o art. 1.238 e parágrafo único do Código Civil, que reduz o prazo para dez anos em caso de moradia habitual ou obras produtivas; e) invocam o art. 5º, inciso XXII da Constituição Federal; f) requereram a gratuidade da justiça.Ao final, requerem o reconhecimento da aquisição da propriedade por usucapião das áreas descritas, com a expedição de mandado de registro imobiliário e concessão da gratuidade da justiça.Citada, a parte ré apresentou contestação (p. 57/61, vol. 1, do histórico do processo físico), arguindo, em preliminar: a) carência da ação por ausência de interesse de agir, sob o argumento de que os requerentes não teriam cumprido o prazo legal de 15 anos para usucapião extraordinária. No mérito, sustenta, em suma, que: a) não houve posse pacífica e ininterrupta pelo período alegado, pois os autores somente teriam iniciado a posse em 2002, não preenchendo o requisito temporal; b) a área não comportaria atividades agropecuárias suficientes para o sustento familiar, como alegado; c) inexistência de animus domini por parte dos requerentes.Instada, a parte autora apresentou réplica à contestação, na qual alega, em síntese: a) reafirma a posse desde 1993, destacando a realização de benfeitorias e manutenção da área como prova da posse qualificada; b) refuta a preliminar de carência de ação, sustentando que a posse superior a dez anos é suficiente conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil; c) menciona o art. 2.029 do Código Civil, que assegura a contagem de dois anos adicionais ao prazo legal anterior em casos de posse iniciada antes da vigência do novo Código; d) afirma que a área é compatível com as atividades desenvolvidas e que os tributos foram regularmente pagos (p.92/93, vol. 1, do histórico do processo físico).O Ministério Público e as Fazendas Públicas declararam desinteresse na causa.O feito tramitou inicialmente na Comarca de Mozarlândia e, com a criação da Comarca de Aruanã pela Lei Estadual n. 16.435/2008, foi redistribuído em 2009 (p. 111, vol. 1, do histórico do processo físico).A audiência de conciliação restou infrutífera (p. 265, vol. 1, do histórico do processo físico).Determinada a produção de prova pericial (mov. 15).Instada, a Prefeitura juntou planta do loteamento Chácaras Recreio do Araguaia (mov. 19).Na mov. 27, informado o óbito do autor LAZARO DE SOUZA PEREIRA e requerida a suspensão dos autos para habilitação dos herdeiros, o que foi deferido em mov. 29.A autora indicou os herdeiros do falecido em mov. 49, sendo deferida da habilitação na decisão de mov. 52.Laudo pericial em mov. 93, homologado em decisão de mov. 120, oportunidade em que também fora designada audiência de instrução e julgamento.Realizada audiência de instrução e julgamento (mov. 162), constatou a presença do promovido e seu advogado e a ausência da parte autora bem como a sua advogada. Diante da ausência de requerimento e testemunhas, declarada o encerramento da instrução, com prazo de 05 (cinco) dias para as alegações finais.Os autores apresentaram justificativa de ausência, ocasião em que pugnaram pela redesignação do ato (mov. 161).Alegações finais da requerida em mov. 170, nas quais alega, em suma, que: a) os autores ajuizaram ação de usucapião ordinária, alegando posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre as chácaras 156-A e 155-F, situadas no loteamento "Chácaras Recreio do Araguaia", em Aruanã-GO, mas não apresentaram qualquer prova robusta nesse sentido, limitando-se a juntar guias de IPTU dos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em 05 de abril de 2007; b) os autores não compareceram à audiência de instrução e não produziram qualquer prova oral, fotográfica ou testemunhal, tampouco comprovaram pagamento de tributos antes de 2007; c) a ausência de comprovação da posse desde 1993 inviabiliza a configuração das hipóteses de usucapião previstas nos artigos 1.238 (usucapião extraordinária), 1.242 (usucapião ordinária) e 2.029 do Código Civil, sendo que, além de inexistir justo título ou boa-fé, a confissão de que os autores invadiram os imóveis afasta qualquer presunção favorável; d) todos os tributos foram quitados em um único dia, o que indica preparo para o ajuizamento da ação e não exercício contínuo da posse; e) os autores não se desincumbiram do ônus de provar os fatos constitutivos do direito alegado, nos termos do art. 373, I, do CPC, sendo unânime a jurisprudência no sentido de exigir prova inequívoca da posse mansa, pacífica e com animus domini; f) a ausência de justo título, de boa-fé, de comprovação do início da posse e de produção de qualquer outra prova torna inviável a pretensão inicial.Em alegações finais, os autores, alegam, em suma, que: a) exercem posse sobre o imóvel situado na Rua “K”, Chácaras n. 156-A e 155-F, no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO, desde 27 de setembro de 1993, totalizando mais de 32 anos de posse; b) ao ocuparem a área, desmataram, gradearam, plantaram arroz, implantaram cercas e realizaram diversas plantações, incluindo capim para pastagem de vacas, utilizando o local para sustento familiar; c) mantêm a posse de forma mansa, pacífica e ininterrupta, sem oposição de terceiros; d) os impostos incidentes sobre o imóvel, como o IPTU, sempre foram pagos pelos autores, conforme comprovantes juntados aos autos; e) não possuem outro imóvel urbano ou rural; f) o imóvel objeto da demanda possui 7.000 m²; g) a posse é exercida com animus domini, atendendo aos requisitos do artigo 1.238 do Código Civil; h) embora os documentos mais antigos nos autos remontem a 2000, a posse é exercida desde 1993 e sempre com boa-fé, conforme demonstrado pelas benfeitorias realizadas e ausência de oposição de terceiros; i) a contestação do réu tenta descaracterizar a boa-fé dos autores, mas não apresenta elementos aptos a infirmar os fatos alegados; j) a parte ré não apresentou documentos que afastem o direito à usucapião, sendo a posse comprovada de forma contínua, pacífica e por longo período. Ao final, requerem o reconhecimento do direito à usucapião extraordinária sobre o imóvel descrito, bem como a gratuidade da justiça.Autos conclusos para sentença.II – FUNDAMENTAÇÃOQuestões processuaisTendo em vista a justificativa apresentada pela patrona da parte autora (mov. 161), acompanhada de atestado médico, acolho os motivos indicados como causa da ausência na audiência de instrução e julgamento anteriormente designada. Todavia, deixo de designar nova audiência, porquanto já encerrada a instrução processual não havendo pendências probatórias relevantes a justificar a reabertura da fase instrutória, ainda mais considerando que o feito tramita desde o ano de 2007. Cumpre destacar ainda que nenhuma testemunha compareceu a audiência e sequer foi apresentado rol de testemunhas nos autos, nos termos e prazos legais. Assim, INDEFIRO o pedido de reabertura da instrução processual.Da preliminar de carência de açãoA requerida alega carência de ação por ausência de interesse de agir. Neste ponto, embora a ré sustente a não configuração do prazo legal de 15 anos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo. Assim, a controvérsia quanto ao prazo de posse deve ser analisada no mérito, motivo pelo qual REJEITO a preliminar.Do méritoA usucapião é um dos modos de aquisição da propriedade, pois prestigia o possuidor através de uma posse mansa, pacífica e ininterrupta, no qual a propriedade ociosa e descuidada passou a desenvolver sua função social, conforme previsto na Constituição Federal.Os dois requisitos essenciais para a usucapião são a posse e o decurso do tempo. A posse é o exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade, em outras palavras, a exteriorização da propriedade. A posse deve ser qualificada pelo animus domini, ou seja, o possuidor exerce a posse no intento de tornar-se proprietário.Tal posse tem que ser mansa, pacífica e contínua, pois a inércia do proprietário constitui fundamento da prescrição aquisitiva, não podendo haver qualquer resistência ou oposição à posse do usucapiente.Conforme o disposto no artigo 1.238 do Código Civil, constituem requisitos para a aquisição de domínio por meio de usucapião extraordinária a posse ad usucapionem do imóvel, vale dizer, aquela ininterrupta, sem oposição e com animus domini, e o transcurso do lapso temporal de 15 (quinze anos).No caso dos autos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo.Não é toda e qualquer espécie de posse que possibilita a aquisição da propriedade pela usucapião. Na verdade, a posse ad usucapionem caracteriza-se pelo animus domini, elemento psíquico do possuidor, que revela a intenção de ter a coisa como dono.A parte autora sustenta que exerce a posse do imóvel, com animus domini, desde 27 de setembro de 1993, de forma mansa, pacífica e ininterrupta.É imperioso ressaltar que na ação de usucapião não exige a comprovação de vínculo contratual anterior, tampouco depende da validade ou existência de negócio jurídico translativo de domínio.Trata-se de modo originário de aquisição da propriedade, cuja constituição decorre exclusivamente da posse qualificada, contínua, mansa e pacífica, com animus domini, pelo prazo legalmente exigido, nos termos dos artigos 1.238 e seguintes do Código Civil. Cuidando-se de usucapião extraordinária, o prazo é de 15 (quinze) anos.Assim, eventual invalidade ou inexistência de título de aquisição anterior não impede o reconhecimento da usucapião, desde que preenchidos os requisitos legais.Regressando ao caso concreto, a parte autora não comprovou os requisitos para concessão da usucapião.Com efeito, os requerentes não produziram prova testemunhal ou fotográfica, tampouco demonstraram por meio documental a posse desde 1993, limitando-se a juntar guias de pagamento de tributos (IPTU/ITU) referentes aos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em um único dia (abril de 2007), o que, por si só, não é suficiente para comprovar o exercício da posse ad usucapionem pelo prazo de 10 ou 15 anos exigido pelos arts. 1.238 e parágrafo único do Código Civil.Ademais, não foram arroladas testemunhas nem trazidos aos autos elementos probatórios que comprovem o alegado uso do imóvel para moradia habitual ou para o desenvolvimento de atividades produtivas com constância e continuidade, conforme exigido pela legislação vigente para a configuração da usucapião extraordinária com prazo reduzido.Em caso semelhante, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:DIREITO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. AUSÊNCIA DE POSSE AD USUCAPIONEM. FALTA DE PROVA ROBUSTA. REQUISITOS NÃO COMPROVADOS. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Apelação cível contra sentença que julgou improcedente o pedido de usucapião extraordinária de imóvel rural, sob o fundamento de ausência de comprovação do requisito temporal e de posse ad usucapionem. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. A questão em discussão consiste em verificar se o autor preenche os requisitos legais para a aquisição da propriedade do imóvel por usucapião extraordinária, com base na alegada posse contínua, pacífica e com animus domini desde 1997, conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. A usucapião extraordinária exige posse contínua, pacífica e com ânimo de dono, por 15 anos ou por 10 anos se o possuidor tiver estabelecido moradia habitual no imóvel ou realizado obras de caráter produtivo, conforme art. 1.238, parágrafo único, do Código Civil. 4. A alegação de posse desde 1997, embora sujeita à regra de transição do art. 2.029 do Código Civil, não encontra respaldo em prova eficaz e convincente nos autos. 5. Os documentos apresentados não identificam o autor como responsável pelo pagamento dos tributos e não demonstram exercício de posse com animus domini. 6. A prova oral apresenta lacunas quanto ao início e à natureza da ocupação, revelando possível relação de permissão ou prestação de serviços, sem configuração de posse qualificada. 7. O autor não comprovou os requisitos legais da usucapião extraordinária, conforme exigido pelo art. 373, I, do CPC. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Apelação Cível conhecida e desprovida. Teses de julgamento: "1. A ausência de prova robusta da posse com animus domini, mansa, pacífica, contínua e ininterrupta pelo prazo legal impede o reconhecimento da usucapião extraordinária." "2. Comprovantes de pagamento de tributos desacompanhados de outros elementos de prova não demonstram, por si só, posse ad usucapionem." Dispositivos relevantes citados: CC, arts. 1.208 e 1.238, parágrafo único; CPC, arts. 373, I, e 85, § 11. Jurisprudência relevante citada: TJGO, Apelação Cível 0060495-61.2011.8.09.0175, Rel. Des(a). Stefane Fiúza Cançado Machado, 6ª Câmara Cível, j. 29/04/2024; TJSP, Apelação Cível 1004295-30.2017.8.26.0079, Rel. Fatima Cristina Ruppert Mazzo, 4ª Câmara de Direito Privado, j. 10/02/2025; TJMG, Apelação Cível 1.0024.16.146780-8/001, Rel. Claret de Moraes, j. 19/10/2021. (Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível, 0457745-47.2015.8.09.0024, STEFANE FIUZA CANÇADO MACHADO - (DESEMBARGADOR), 10ª Câmara Cível, julgado em 08/07/2025 13:00:00) Original sem destaqueCumpre destacar que o laudo técnico pericial apresentado nos autos (mov. 93) compreende os memoriais descritivos e mapas das chácaras nº 156-A e 155-F, situadas no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, no município de Aruanã/GO, elaborados por profissional habilitado, com registro no CREA-GO e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) devidamente registrada.De acordo com o referido laudo, a Chácara 156-A possui área de 2.990,705 m², com perímetro de 259,51 metros, confrontando com a Chácara 156-B, Rua K, Chácara 155-F e Chácara 151. Já a Chácara 155-F apresenta área de 3.979,040 m², com perímetro de 279,40 metros, confrontando com as Chácaras 156-A, 155-E, 152 e a Rua K. Os vértices das áreas foram georreferenciados ao sistema SIRGAS2000, estando corretamente delimitados.Os mapas topográficos anexados demonstram graficamente os limites e a localização dos imóveis, corroborando a descrição constante dos memoriais. Todavia, a prova pericial limita-se à identificação técnica e geográfica das áreas, não abrangendo qualquer elemento relativo ao exercício da posse pelos autores. Não houve constatação, por parte do perito, de benfeitorias, cultivos ou qualquer outro indicativo de ocupação efetiva, tampouco houve produção de prova testemunhal ou documental complementar nesse sentido.Assim, o laudo técnico comprova apenas o tamanho, perímetro e localização das áreas, sem atestar ou confirmar o efetivo exercício da posse qualificada pelos autores, o que reforça a conclusão pela ausência de provas mínimas quanto ao preenchimento dos requisitos exigidos para a usucapião extraordinária.Por consequência, não restaram preenchidos os requisitos legais para o reconhecimento da prescrição aquisitiva da área objeto da presente demanda, de modo que imperiosa a improcedência da demanda.III – DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial, resolvendo o mérito nos termos do art. 487, I, do CPC.CONDENO os autores, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes, no percentual de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, contudo, com a exigibilidade suspensa, em razão da gratuidade da justiça.Caso ocorra a interposição de recurso de apelação, deverá a Escrivania proceder a intimação da parte recorrida para apresentar as contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.010, §1°, do CPC).Cumpridas as formalidades previstas nos §§1° e 2°, do art. 1.010, do CPC, o que deverá ser certificado, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, independente de nova conclusão (CPC, art. 1.010, §3°).Não havendo requerimentos, certifique-se a Escrivania o trânsito em julgado e arquivem-se os autos com as baixas e cautelas de estilo.Publicação e Registro eletrônico.Cumpra-se. Intimem-se.Esta decisão possui força de mandado/ofício, dispensada a geração de outro documento, bastando o cadastro em sistema próprio e a entrega ao Oficial de Justiça ou destinatário, nos termos dos artigos 136 a 139 do Código de Normas e Procedimentos do Foro Judicial da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás.Aruanã, datado e assinado eletronicamente. CAIO TRISTÃO DE ALMEIDA FRANCOJuiz Substituto(Decreto Judiciário n.º 1.388/2025).

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Processo nº 0130692-81.2007.8.09.0110

ID: 324846289

Tribunal: TJGO Órgão: Aruanã - Vara Cível Classe: USUCAPIãO Nº Processo: 0130692-81.2007.8.09.0110

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ARUANA URBANIZACAO

Sentença

Advogados:

ANA PAULA GOMIDES BORGES SANTOS AMORIM

OAB/GO XXXXXX Desbloquear

Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana Urba… Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de Aruanã Ação: UsucapiãoProcesso n.°: 0130692-81.2007.8.09.0110Requerente/Exequente: ESPÓLIO DE LAZARO DE SOUZA PEREIRARequerido/Executado: Aruana UrbanizacaoS E N T E N Ç A I – RELATÓRIOLÁZARO DE SOUZA PEREIRA e MARIA DO CARMO PEREIRA ajuizaram ação de usucapião em face de ARUANÃ URBANIZAÇÃO LTDA.Alegam, em suma, que: a) exercem posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre os imóveis rurais identificados como chácaras nº 156-A (com área de 3.000,00 m²) e 155-F (com área de 4.000,00 m²), totalizando 7.000,00 m², situados na Rua “K”, Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO; b) realizaram diversas benfeitorias no local, incluindo desmatamento, gradagem do solo, cultivo de arroz por três anos, manutenção da limpeza, plantio de capim, criação de vacas leiteiras e outras plantações para sustento familiar; c) efetuaram o pagamento de tributos referentes à posse, como ITU/IPU; d) atendem aos requisitos legais para o reconhecimento da usucapião extraordinária, conforme o art. 1.238 e parágrafo único do Código Civil, que reduz o prazo para dez anos em caso de moradia habitual ou obras produtivas; e) invocam o art. 5º, inciso XXII da Constituição Federal; f) requereram a gratuidade da justiça.Ao final, requerem o reconhecimento da aquisição da propriedade por usucapião das áreas descritas, com a expedição de mandado de registro imobiliário e concessão da gratuidade da justiça.Citada, a parte ré apresentou contestação (p. 57/61, vol. 1, do histórico do processo físico), arguindo, em preliminar: a) carência da ação por ausência de interesse de agir, sob o argumento de que os requerentes não teriam cumprido o prazo legal de 15 anos para usucapião extraordinária. No mérito, sustenta, em suma, que: a) não houve posse pacífica e ininterrupta pelo período alegado, pois os autores somente teriam iniciado a posse em 2002, não preenchendo o requisito temporal; b) a área não comportaria atividades agropecuárias suficientes para o sustento familiar, como alegado; c) inexistência de animus domini por parte dos requerentes.Instada, a parte autora apresentou réplica à contestação, na qual alega, em síntese: a) reafirma a posse desde 1993, destacando a realização de benfeitorias e manutenção da área como prova da posse qualificada; b) refuta a preliminar de carência de ação, sustentando que a posse superior a dez anos é suficiente conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil; c) menciona o art. 2.029 do Código Civil, que assegura a contagem de dois anos adicionais ao prazo legal anterior em casos de posse iniciada antes da vigência do novo Código; d) afirma que a área é compatível com as atividades desenvolvidas e que os tributos foram regularmente pagos (p.92/93, vol. 1, do histórico do processo físico).O Ministério Público e as Fazendas Públicas declararam desinteresse na causa.O feito tramitou inicialmente na Comarca de Mozarlândia e, com a criação da Comarca de Aruanã pela Lei Estadual n. 16.435/2008, foi redistribuído em 2009 (p. 111, vol. 1, do histórico do processo físico).A audiência de conciliação restou infrutífera (p. 265, vol. 1, do histórico do processo físico).Determinada a produção de prova pericial (mov. 15).Instada, a Prefeitura juntou planta do loteamento Chácaras Recreio do Araguaia (mov. 19).Na mov. 27, informado o óbito do autor LAZARO DE SOUZA PEREIRA e requerida a suspensão dos autos para habilitação dos herdeiros, o que foi deferido em mov. 29.A autora indicou os herdeiros do falecido em mov. 49, sendo deferida da habilitação na decisão de mov. 52.Laudo pericial em mov. 93, homologado em decisão de mov. 120, oportunidade em que também fora designada audiência de instrução e julgamento.Realizada audiência de instrução e julgamento (mov. 162), constatou a presença do promovido e seu advogado e a ausência da parte autora bem como a sua advogada. Diante da ausência de requerimento e testemunhas, declarada o encerramento da instrução, com prazo de 05 (cinco) dias para as alegações finais.Os autores apresentaram justificativa de ausência, ocasião em que pugnaram pela redesignação do ato (mov. 161).Alegações finais da requerida em mov. 170, nas quais alega, em suma, que: a) os autores ajuizaram ação de usucapião ordinária, alegando posse mansa, pacífica e ininterrupta desde 27 de setembro de 1993 sobre as chácaras 156-A e 155-F, situadas no loteamento "Chácaras Recreio do Araguaia", em Aruanã-GO, mas não apresentaram qualquer prova robusta nesse sentido, limitando-se a juntar guias de IPTU dos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em 05 de abril de 2007; b) os autores não compareceram à audiência de instrução e não produziram qualquer prova oral, fotográfica ou testemunhal, tampouco comprovaram pagamento de tributos antes de 2007; c) a ausência de comprovação da posse desde 1993 inviabiliza a configuração das hipóteses de usucapião previstas nos artigos 1.238 (usucapião extraordinária), 1.242 (usucapião ordinária) e 2.029 do Código Civil, sendo que, além de inexistir justo título ou boa-fé, a confissão de que os autores invadiram os imóveis afasta qualquer presunção favorável; d) todos os tributos foram quitados em um único dia, o que indica preparo para o ajuizamento da ação e não exercício contínuo da posse; e) os autores não se desincumbiram do ônus de provar os fatos constitutivos do direito alegado, nos termos do art. 373, I, do CPC, sendo unânime a jurisprudência no sentido de exigir prova inequívoca da posse mansa, pacífica e com animus domini; f) a ausência de justo título, de boa-fé, de comprovação do início da posse e de produção de qualquer outra prova torna inviável a pretensão inicial.Em alegações finais, os autores, alegam, em suma, que: a) exercem posse sobre o imóvel situado na Rua “K”, Chácaras n. 156-A e 155-F, no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, em Aruanã/GO, desde 27 de setembro de 1993, totalizando mais de 32 anos de posse; b) ao ocuparem a área, desmataram, gradearam, plantaram arroz, implantaram cercas e realizaram diversas plantações, incluindo capim para pastagem de vacas, utilizando o local para sustento familiar; c) mantêm a posse de forma mansa, pacífica e ininterrupta, sem oposição de terceiros; d) os impostos incidentes sobre o imóvel, como o IPTU, sempre foram pagos pelos autores, conforme comprovantes juntados aos autos; e) não possuem outro imóvel urbano ou rural; f) o imóvel objeto da demanda possui 7.000 m²; g) a posse é exercida com animus domini, atendendo aos requisitos do artigo 1.238 do Código Civil; h) embora os documentos mais antigos nos autos remontem a 2000, a posse é exercida desde 1993 e sempre com boa-fé, conforme demonstrado pelas benfeitorias realizadas e ausência de oposição de terceiros; i) a contestação do réu tenta descaracterizar a boa-fé dos autores, mas não apresenta elementos aptos a infirmar os fatos alegados; j) a parte ré não apresentou documentos que afastem o direito à usucapião, sendo a posse comprovada de forma contínua, pacífica e por longo período. Ao final, requerem o reconhecimento do direito à usucapião extraordinária sobre o imóvel descrito, bem como a gratuidade da justiça.Autos conclusos para sentença.II – FUNDAMENTAÇÃOQuestões processuaisTendo em vista a justificativa apresentada pela patrona da parte autora (mov. 161), acompanhada de atestado médico, acolho os motivos indicados como causa da ausência na audiência de instrução e julgamento anteriormente designada. Todavia, deixo de designar nova audiência, porquanto já encerrada a instrução processual não havendo pendências probatórias relevantes a justificar a reabertura da fase instrutória, ainda mais considerando que o feito tramita desde o ano de 2007. Cumpre destacar ainda que nenhuma testemunha compareceu a audiência e sequer foi apresentado rol de testemunhas nos autos, nos termos e prazos legais. Assim, INDEFIRO o pedido de reabertura da instrução processual.Da preliminar de carência de açãoA requerida alega carência de ação por ausência de interesse de agir. Neste ponto, embora a ré sustente a não configuração do prazo legal de 15 anos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo. Assim, a controvérsia quanto ao prazo de posse deve ser analisada no mérito, motivo pelo qual REJEITO a preliminar.Do méritoA usucapião é um dos modos de aquisição da propriedade, pois prestigia o possuidor através de uma posse mansa, pacífica e ininterrupta, no qual a propriedade ociosa e descuidada passou a desenvolver sua função social, conforme previsto na Constituição Federal.Os dois requisitos essenciais para a usucapião são a posse e o decurso do tempo. A posse é o exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade, em outras palavras, a exteriorização da propriedade. A posse deve ser qualificada pelo animus domini, ou seja, o possuidor exerce a posse no intento de tornar-se proprietário.Tal posse tem que ser mansa, pacífica e contínua, pois a inércia do proprietário constitui fundamento da prescrição aquisitiva, não podendo haver qualquer resistência ou oposição à posse do usucapiente.Conforme o disposto no artigo 1.238 do Código Civil, constituem requisitos para a aquisição de domínio por meio de usucapião extraordinária a posse ad usucapionem do imóvel, vale dizer, aquela ininterrupta, sem oposição e com animus domini, e o transcurso do lapso temporal de 15 (quinze anos).No caso dos autos, os autores invocam a incidência do parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil, que autoriza a usucapião extraordinária com prazo reduzido para 10 anos, em caso de utilização do imóvel para moradia ou realização de obras ou serviços de caráter produtivo.Não é toda e qualquer espécie de posse que possibilita a aquisição da propriedade pela usucapião. Na verdade, a posse ad usucapionem caracteriza-se pelo animus domini, elemento psíquico do possuidor, que revela a intenção de ter a coisa como dono.A parte autora sustenta que exerce a posse do imóvel, com animus domini, desde 27 de setembro de 1993, de forma mansa, pacífica e ininterrupta.É imperioso ressaltar que na ação de usucapião não exige a comprovação de vínculo contratual anterior, tampouco depende da validade ou existência de negócio jurídico translativo de domínio.Trata-se de modo originário de aquisição da propriedade, cuja constituição decorre exclusivamente da posse qualificada, contínua, mansa e pacífica, com animus domini, pelo prazo legalmente exigido, nos termos dos artigos 1.238 e seguintes do Código Civil. Cuidando-se de usucapião extraordinária, o prazo é de 15 (quinze) anos.Assim, eventual invalidade ou inexistência de título de aquisição anterior não impede o reconhecimento da usucapião, desde que preenchidos os requisitos legais.Regressando ao caso concreto, a parte autora não comprovou os requisitos para concessão da usucapião.Com efeito, os requerentes não produziram prova testemunhal ou fotográfica, tampouco demonstraram por meio documental a posse desde 1993, limitando-se a juntar guias de pagamento de tributos (IPTU/ITU) referentes aos anos de 2001 a 2007, todas quitadas em um único dia (abril de 2007), o que, por si só, não é suficiente para comprovar o exercício da posse ad usucapionem pelo prazo de 10 ou 15 anos exigido pelos arts. 1.238 e parágrafo único do Código Civil.Ademais, não foram arroladas testemunhas nem trazidos aos autos elementos probatórios que comprovem o alegado uso do imóvel para moradia habitual ou para o desenvolvimento de atividades produtivas com constância e continuidade, conforme exigido pela legislação vigente para a configuração da usucapião extraordinária com prazo reduzido.Em caso semelhante, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:DIREITO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. AUSÊNCIA DE POSSE AD USUCAPIONEM. FALTA DE PROVA ROBUSTA. REQUISITOS NÃO COMPROVADOS. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Apelação cível contra sentença que julgou improcedente o pedido de usucapião extraordinária de imóvel rural, sob o fundamento de ausência de comprovação do requisito temporal e de posse ad usucapionem. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. A questão em discussão consiste em verificar se o autor preenche os requisitos legais para a aquisição da propriedade do imóvel por usucapião extraordinária, com base na alegada posse contínua, pacífica e com animus domini desde 1997, conforme o parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. A usucapião extraordinária exige posse contínua, pacífica e com ânimo de dono, por 15 anos ou por 10 anos se o possuidor tiver estabelecido moradia habitual no imóvel ou realizado obras de caráter produtivo, conforme art. 1.238, parágrafo único, do Código Civil. 4. A alegação de posse desde 1997, embora sujeita à regra de transição do art. 2.029 do Código Civil, não encontra respaldo em prova eficaz e convincente nos autos. 5. Os documentos apresentados não identificam o autor como responsável pelo pagamento dos tributos e não demonstram exercício de posse com animus domini. 6. A prova oral apresenta lacunas quanto ao início e à natureza da ocupação, revelando possível relação de permissão ou prestação de serviços, sem configuração de posse qualificada. 7. O autor não comprovou os requisitos legais da usucapião extraordinária, conforme exigido pelo art. 373, I, do CPC. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Apelação Cível conhecida e desprovida. Teses de julgamento: "1. A ausência de prova robusta da posse com animus domini, mansa, pacífica, contínua e ininterrupta pelo prazo legal impede o reconhecimento da usucapião extraordinária." "2. Comprovantes de pagamento de tributos desacompanhados de outros elementos de prova não demonstram, por si só, posse ad usucapionem." Dispositivos relevantes citados: CC, arts. 1.208 e 1.238, parágrafo único; CPC, arts. 373, I, e 85, § 11. Jurisprudência relevante citada: TJGO, Apelação Cível 0060495-61.2011.8.09.0175, Rel. Des(a). Stefane Fiúza Cançado Machado, 6ª Câmara Cível, j. 29/04/2024; TJSP, Apelação Cível 1004295-30.2017.8.26.0079, Rel. Fatima Cristina Ruppert Mazzo, 4ª Câmara de Direito Privado, j. 10/02/2025; TJMG, Apelação Cível 1.0024.16.146780-8/001, Rel. Claret de Moraes, j. 19/10/2021. (Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -> Apelação Cível, 0457745-47.2015.8.09.0024, STEFANE FIUZA CANÇADO MACHADO - (DESEMBARGADOR), 10ª Câmara Cível, julgado em 08/07/2025 13:00:00) Original sem destaqueCumpre destacar que o laudo técnico pericial apresentado nos autos (mov. 93) compreende os memoriais descritivos e mapas das chácaras nº 156-A e 155-F, situadas no Loteamento Chácaras Recreio do Araguaia, no município de Aruanã/GO, elaborados por profissional habilitado, com registro no CREA-GO e Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) devidamente registrada.De acordo com o referido laudo, a Chácara 156-A possui área de 2.990,705 m², com perímetro de 259,51 metros, confrontando com a Chácara 156-B, Rua K, Chácara 155-F e Chácara 151. Já a Chácara 155-F apresenta área de 3.979,040 m², com perímetro de 279,40 metros, confrontando com as Chácaras 156-A, 155-E, 152 e a Rua K. Os vértices das áreas foram georreferenciados ao sistema SIRGAS2000, estando corretamente delimitados.Os mapas topográficos anexados demonstram graficamente os limites e a localização dos imóveis, corroborando a descrição constante dos memoriais. Todavia, a prova pericial limita-se à identificação técnica e geográfica das áreas, não abrangendo qualquer elemento relativo ao exercício da posse pelos autores. Não houve constatação, por parte do perito, de benfeitorias, cultivos ou qualquer outro indicativo de ocupação efetiva, tampouco houve produção de prova testemunhal ou documental complementar nesse sentido.Assim, o laudo técnico comprova apenas o tamanho, perímetro e localização das áreas, sem atestar ou confirmar o efetivo exercício da posse qualificada pelos autores, o que reforça a conclusão pela ausência de provas mínimas quanto ao preenchimento dos requisitos exigidos para a usucapião extraordinária.Por consequência, não restaram preenchidos os requisitos legais para o reconhecimento da prescrição aquisitiva da área objeto da presente demanda, de modo que imperiosa a improcedência da demanda.III – DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial, resolvendo o mérito nos termos do art. 487, I, do CPC.CONDENO os autores, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes, no percentual de 15% (quinze por cento) sobre o valor da causa, nos termos do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, contudo, com a exigibilidade suspensa, em razão da gratuidade da justiça.Caso ocorra a interposição de recurso de apelação, deverá a Escrivania proceder a intimação da parte recorrida para apresentar as contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.010, §1°, do CPC).Cumpridas as formalidades previstas nos §§1° e 2°, do art. 1.010, do CPC, o que deverá ser certificado, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, independente de nova conclusão (CPC, art. 1.010, §3°).Não havendo requerimentos, certifique-se a Escrivania o trânsito em julgado e arquivem-se os autos com as baixas e cautelas de estilo.Publicação e Registro eletrônico.Cumpra-se. Intimem-se.Esta decisão possui força de mandado/ofício, dispensada a geração de outro documento, bastando o cadastro em sistema próprio e a entrega ao Oficial de Justiça ou destinatário, nos termos dos artigos 136 a 139 do Código de Normas e Procedimentos do Foro Judicial da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás.Aruanã, datado e assinado eletronicamente. CAIO TRISTÃO DE ALMEIDA FRANCOJuiz Substituto(Decreto Judiciário n.º 1.388/2025).

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