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Paulo De Oliveira Venancio x Banco Bradesco S.A.

ID: 311518643

Tribunal: TJMT Órgão: VARA ESPECIALIZADA EM DIREITO BANCÁRIO DE VÁRZEA GRANDE Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1011044-73.2024.8.11.0002

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

PAULO DE OLIVEIRA VENANCIO

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S.A.

Sentença

Advogados:

CARLA PASSOS MELHADO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

SULPICIO MOREIRA PIMENTEL NETO

OAB/PB XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO ESTADO DE MATO GROSSO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA - NAE Processo nº 1011044-73.2024.8.11.0002 Ação Revisional de Contrato Requerente: Paulo de Oliveira Venâncio … PODER JUDICIÁRIO ESTADO DE MATO GROSSO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA - NAE Processo nº 1011044-73.2024.8.11.0002 Ação Revisional de Contrato Requerente: Paulo de Oliveira Venâncio Requerido: Banco Bradesco S.A. Vistos etc. Trata-se de Ação Revisional de Contrato, com pedido de tutela provisória de urgência, proposta por Paulo de Oliveira Venâncio em face de Banco Bradesco S.A., ambos qualificados nos autos em epígrafe. A pretensão material fundamenta-se na Cédula de Crédito Bancário n° 004.659.947, firmada em 02/04/2019, decorrente de operação de crédito com garantia de alienação fiduciária para aquisição de veículo automotor. A causa de pedir consiste na: i) capitalização de juros; ii) cobrança indevida da comissão de permanência, uma vez que não fora pactuada expressamente e houve sua cumulação com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios ou multa moratória; iii)) abusividade de cláusula que prevê a transferência, ao consumidor, do pagamento das despesas de cobrança de dívida extrajudiciais e judiciais; iv) e ausência de informação clara e prévia sobre os juros incidentes. Os pedidos de mérito consubstanciam-se: i) no recálculo dos juros de forma simples, utilizando-se o "MÉTODO DE GAUSS", declarando-se a nulidade da capitalização mensal dos juros; ii) na declaração de ilegalidade da cobrança da comissão de permanência cumulada com outros encargos moratórios; iii) na declaração de nulidade da cláusula que transfere ao autor as despesas de cobrança; iv) no reconhecimento do afastamento da mora; v) na readequação do valor das parcelas, em conformidade com a Lei do Superendividamento, para garantir o mínimo existencial do consumidor; vi) na repetição de todos os valores indevidamente cobrados ou revisados, em dobro. A petição inicial foi instruída com documentos. Decisão inicial (Num. 160494608). Formada a angularidade da relação jurídica processual, a requerida apresentou contestação (Num. 162506591), oportunidade em que, preliminarmente, arguiu a inépcia da petição inicial por suposta ausência de especificação das ilegalidades e do valor incontroverso do débito, bem como sustentou ausência do interesse de agir, ante a ausência de busca de solução administrativa da demanda. No mérito, defendeu a legalidade das taxas de juros remuneratórios, do cumprimento do direito à informação e da capitalização mensal de juros com periodicidade inferior a um ano. Por fim, pugnou pela impossibilidade de devolução em dobro dos valores e pela improcedência de todos os pedidos autorais. Impugnação à contestação (Num. 169477169). Decisão da instância superior desprovendo o recurso de Agravo de Instrumento interposto pela parte autora (Num. 172219232). Intimadas para especificação de provas, o autor manifestou interesse na produção de prova pericial contábil e a parte requerida permaneceu silente. Formalizados os autos, vieram conclusos para julgamento. É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO. DECIDO. A prova documental colacionada nos autos, notadamente o contrato firmado entre as partes, revela-se suficiente para formar o convencimento do Juízo, desnecessitando, portanto, da nomeação de perito contábil, motivo pelo qual indefiro o pedido de produção de prova pericial. Destarte, promovo o julgamento da ação no estado em que se encontra, ante a ausência de necessidade da produção de outras provas (CPC, art. 355, I). DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL A requerida sustenta a ausência de especificação das ilegalidades e do valor incontroverso do débito. No entanto, verifica-se que o autor discriminou na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de ter quantificado o valor incontroverso do débito, conforme preleciona o art. 330, §2º do CPC. Ademais, especificou as ilegalidades supostamente praticadas pela instituição financeira. Isso posto, rejeito a impugnação correlata. DA AUSÊNCIA DO INTERESSE AGIR Sem maiores delongas, é notório que o argumento utilizado pela parte requerida acerca da ausência do interesse de agir, ante a inexistência de tentativa de resolução extrajudicial, afronta diretamente o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, conforme art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo, assim, vedada a exigência de esgotamento das vias administrativas para a obtenção de tutela judicial. Confira-se entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso: INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL – DESNECESSIDADE DA FORMULAÇÃO DE PRÉVIO PEDIDO ADMINISTRATIVO – AUSÊNCIA DO INTERESSE DE AGIR AFASTADA – PRONUNCIAMENTO JUDICIAL EQUIVOCADO – SENTENÇA REFORMADA – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. A exigência de esgotamento da via administrativa para fins de pleito judicial configura ofensa ao livre acesso ao Judiciário, em conformidade com o disposto no art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. (N.U 1002781-88.2021.8.11.0024, TURMA RECURSAL CÍVEL, SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, Turma Recursal Única, Julgado em 06/06/2022, Publicado no DJE 07/06/2022) Assim, rejeito a preliminar arguida. MÉRITO A pretensão material fundamenta-se na Cédula de Crédito Bancário n° 004.659.947, firmada em 02/04/2019, decorrente de operação de crédito para aquisição de veículo automotor. A causa de pedir consiste na: i) capitalização de juros; ii) cobrança indevida da comissão de permanência, uma vez que não fora pactuada expressamente e houve sua cumulação com juros remuneratórios, correção monetária, juros moratórios ou multa moratória; iii)) abusividade de cláusula que prevê a transferência, ao consumidor, do pagamento das despesas de cobrança de dívida extrajudiciais e judiciais; iv) e ausência de informação clara e prévia sobre os juros incidentes. DA CAPITALIZAÇÃO Nos termos do artigo 5º da Medida Provisória nº 2.170-36, publicada em 24 de agosto de 2000, nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Assim, a capitalização de juros em periodicidade inferior à anual é admitida pela legislação pátria. Nesse passo, há previsão expressa da capitalização mensal e anual de juros quando o contrato apresenta distintamente a taxa mensal da taxa anual, a qual ultrapassa o décuplo da taxa mensal. Pertinente destacar, nesse ponto, que o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento, firmado em recurso especial repetitivo, de que há previsão expressa de cobrança de juros capitalizados em periodicidade mensal quando a taxa de juros anual ultrapassa o duodécuplo da taxa mensal (REsp 973.827/RS, Rel. para o acórdão Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe de 24/9/2012). Nesse sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ART. 476 DO CPC/1973. INAPLICABILIDADE. ENUNCIADO 3/STJ. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. PACTUAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE FIRMADO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO (RESP 973.827/RS). AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC" (Enunciado 3 do Plenário do STJ). 2. O incidente de uniformização de jurisprudência previsto no art. 476 do CPC/73 não foi reproduzido no CPC/2015. Ademais, constituía mera faculdade do magistrado, para sanar divergência prévia entre órgãos fracionários de um mesmo tribunal, o que não se verifica no caso. 3. O STJ possui entendimento, firmado em recurso especial repetitivo, de que há previsão expressa de cobrança de juros capitalizados em periodicidade mensal quando a taxa de juros anual ultrapassa o duodécuplo da taxa mensal (REsp 973.827/RS, Rel. para o acórdão Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe de 24/9/2012). 4. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 1340813/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 18/10/2018, DJe 26/10/2018) Outrossim, conquanto o Superior Tribunal de Justiça, no acórdão repetitivo oriundo do REsp 1.388.972/SC (Tema 953), tenha abordado o conceito de “expressa pactuação” no sentido de que o contrato deve apontar de forma clara e inequívoca a capitalização de juros, por ocasião do julgamento do AREsp 1516913/RS, o Ministro Paulo de Tarso Sanseverino esclareceu que o entendimento sedimentado no julgamento do recurso especial sob o rito do recurso repetitivo REsp 1.388.972/SC (Tema 953) não superou a tese firmada no REsp 973.827/RS, mas sim, reforçou o posicionamento anteriormente consolidado no sentido de que é indispensável a expressa contratação da capitalização dos juros, independentemente da periodicidade discutida. Nesse sentido: AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.516.913 - RS (2019/0159508-6) DECISÃO. Vistos, etc. Trata-se de agravo interposto por LEONICE GEREMIAS MONTEIRO em face da decisão que negou seguimento a recurso especial, fundamentado na alínea "c" do art. 105, III, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL. REGIME DE EXCEÇÃO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. OBJETO. - Contrato de Abertura de Crédito Pessoal Consignado Banrisul n° 2010084430141165000115, datado de 04/11/2010, no valor de R$ 9.500, 00. ENCARGOS DA NORMALIDADE JUROS REMUNERATÓRIOS. Aplicação das orientações do Superior Tribunal de Justiça, extraídas dos julgamentos dos Recursos Especiais Representativos de Controvérsia n. 1.061.530/RS e n. 1.112.879/PR. Afinado a isso, o entendimento desta Câmara é de que a taxa de juros remuneratórios deve ser limitada somente quando for superior à taxa média de mercado registrada pelo Banco Central do Brasil - BACEN, à época da contratação e em conformidade com a respectiva operação, somada do percentual de 30% (trinta por cento), tido como a margem tolerável. No caso, a taxa prevista no contrato encontra-se abaixo da taxa média divulgada pelo Bacen acrescida de 30% em relação à operação da mesma natureza e para o mesmo período contratual, razão pela qual deve ser mantida. No ponto, recurso desprovido. CAPITALIZAÇÃO. Aplicação das orientações do Superior Tribunal de Justiça, extraídas do julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia n. 973.827/RS. No caso, verifica-se que o percentual de juros anual é superior a doze vezes o de juros mensal, devendo ser mantida a capitalização de juros mensal. No ponto, apelo desprovido. ENCARGOS DA INADIMPLÊNCIA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. DESCABIMENTO. Aplicação das orientações do Superior Tribunal de Justiça, extraídas do julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia n. 1.061.530/RS. No caso, não houve a declaração da abusividade de encargos do período da normalidade, o que se mostra insuficiente a descaracterização da mora, devendo ser mantida a cobrança dos respectivos encargos. No ponto, recurso desprovido. CADASTRAMENTO JUNTO AOS ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. POSSIBILIDADE. Aplicação das orientações do Superior Tribunal de Justiça, extraídas do julgamento do Recurso Especial Representativo de Controvérsia n. 1.061.530/RS. No caso, possível a inscrição do nome da parte autora em órgãos restritivos de crédito, pois não houve a declaração da abusividade dos encargos exigidos no período da normalidade contratual. No ponto, recurso desprovido. REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO. Cabimento da repetição do indébito e compensação de valores quando procedidas modificações no contrato, caso comprovado o pagamento a maior. No caso, diante da ausência de revisão contratual, não há falar em compensação de valores e repetição do indébito. No ponto, recurso desprovido. RECURSO DESPROVIDO. (e-STJ, fls. 227/228) Nas razões do recurso, a recorrente alegou violação aos arts. 6º, 46, 47 e 52, I, II e III, do Código de Defesa do Consumidor; ao art. 28, §1º, I, da Lei 10.931/04; e ao art. 1.030, II, do Novo Código de Processo Civil. Defendeu a impossibilidade da incidência da capitalização dos juros, por ausência de expressa previsão contratual. Sustentou que o entendimento firmado no REsp 973.827/RS encontra-se superado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, pugnando pelo encaminhamento do feito para juízo de retratação, afirmando contrariedade entre a decisão recorrida e a tese fixada no julgamento do REsp 1.388.972/SC (Tema 953/STJ). Ao final, pugnou pelo afastamento da mora. Suscitou dissídio jurisprudencial. Contrarrazões apresentadas (e-STJ, fls. 340/354). É o breve relatório. Passo a decidir. A pretensão recursal não merece ser acolhida. Primeiramente, cumpre esclarecer que o juízo de admissibilidade do presente recurso será realizado com base nas normas do CPC/15 e com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme disposto no Enunciado Administrativo n. 3/STJ. De início, no que concerne à capitalização mensal de juros, esta Corte Superior já afirmou que: 7. CAPITALIZAÇÃO MENSAL: 7.1 Admissibilidade após a MP n.º 1.963-17/2000, desde que expressamente pactuada: "É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada (REsp n.º 973.827, submetido ao art. 543-C do CPC). 7.2 Forma de pactuação a capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada" (REsp n.º 973.827, submetido ao art. 543-C do CPC). 7.3 Não juntada do contrato ou não reconhecimento da pactuação da capitalização mensal: se não houver a juntada do contrato ou o Tribunal de origem não reconhecer, no acórdão recorrido, a pactuação expressa da capitalização mensal (o que compreende a pactuação de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal), é inviável a capitalização mensal dos juros e, nos termos das Súmulas 5 e 7/STJ, o conhecimento da alegação do recurso especial relativa à capitalização. 7.4 Capitalização anual: "Autoriza-se a incidência de capitalização anual dos juros nos contratos de cartão de crédito, na linha da jurisprudência da Corte" (EREsp 917.570/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, DJe 04/08/2008). No caso dos autos, verifica-se no acórdão recorrido que o contrato firmado entre as partes estabeleceu de forma clara e expressa a pactuação do encargo, razão pela qual não impôs sua cobrança, tendo o Tribunal de origem consignado da seguinte forma: No caso, verifica-se que a taxa de juros anual (26,83%) é superior a doze vezes o percentual de juros mensal (2,0%), motivo pelo qual possível a capitalização de juros na forma mensal. (e-STJ, fls. 235 - grifou-se) Por conseguinte, a mudança da moldura fática estabelecida pelo Tribunal a quo quanto à presença de pactuação expressa da capitalização mensal de juros no instrumento contratual demandaria um inevitável reexame da matéria fático-probatória, bem como de cláusulas contratuais, acostada aos autos, hipótese vedada por força das Súmulas 5 e 7/STJ. Ademais, tem-se que a Corte Superior sacramentou, definitivamente, a necessidade de expressa pactuação para que seja possível a cobrança da capitalização dos juros, tanto na periodicidade inferior a um ano (questão submetida a julgamento no REsp 973.827/RS - Temas 246 e 247 do STJ), quanto na forma anual (matéria tratada no REsp 1.388.972/SC - Tema 953 do STJ). Assim, totalmente infundada a alegação de que o entendimento recentemente sedimentado pelo STJ, no julgamento do REsp 1.388.972/SC (Tema 953 do STJ), superou a tese firmada no REsp 973.827/RS (Temas 246 e 247 do ST)). Ao contrário, veio tão somente para reforçar o posicionamento há muito tempo consolidado pela Corte Superior, no sentido de que é indispensável a expressa contratação da capitalização dos juros, independentemente da periodicidade discutida. Relativamente à caracterização da mora, cumpre referir que, por ocasião do julgamento do REsp. 1.061.530/RS, restou consolidado o entendimento no sentido de que "Não descaracteriza a mora o ajuizamento isolado de ação revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir sobre os encargos inerentes ao período de inadimplência contratual'. Desse modo, pode-se observar que a conclusão existente na decisão recorrida (inexistência de abusividade acerca dos encargos exigidos no período da normalidade contratual) está em convergência com o paradigma do Superior Tribunal de Justiça. Advirta-se, por fim, que eventual recurso interposto contra este decisum estará sujeito às normas do CPC/2015, conforme Enunciado Administrativo n. 3/STJ. Ante o exposto, conheço o agravo para, desde logo, não conhecer o recurso especial. (AREsp n. 1.516.913, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe de 06/08/2019.) Como é cediço, é obrigatória a observância, pelos juízes e tribunais, dos acórdãos em julgamento de recurso especial repetitivo (CPC, art.927, III). Por fim, e encerrando a discussão, há previsão expressa no contrato de capitalização com periodicidade inferior à anual. Não há, portanto, ilegalidade que enseje a declaração de nulidade da capitalização dos juros remuneratórios em periodicidade inferior à anual. O contrato prevê expressamente taxa anual superior ao duodécuplo da mensal. Desta forma, é permitida a capitalização mensal dos juros expressamente contratada, nos termos do entendimento acima exposto. Por conseguinte, o uso da Tabela Price, como método de amortização de juros, não ostenta qualquer ilegalidade. Além de não haver nenhum óbice a sistemas de capitalização de juros, a tabela é comumente usada em operações dessa natureza. Portanto, não há que se falar na substituição pelo Método Gauss, metodologia linear, que dispõe de juros simples, pois significaria afronta ao princípio da autonomia da vontade, o que não se pode admitir. DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - DA CUMULAÇÃO DE JUROS MORATÓRIOS, REMUNERATÓRIOS E MULTA A jurisprudência do Tribunal de Justiça de Mato Grosso possui entendimento acerca da possibilidade de cobrança cumulativa, nos casos de inadimplência, de juros remuneratórios, juros moratórios e multa, bem como de que, nas Cédulas de Crédito Bancário, os juros de mora não podem ser superiores a 1% ao mês. Nesse sentido: APELAÇÃO. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATOS BANCÁRIOS, C/C CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO OU OBRIGAÇÃO DE FAZER, COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. JUROS REMUNERATÓRIOS CONFORME A MÉDIA DE MERCADO. MANUTENÇÃO. CAPITALIZAÇÃO. VIABILIDADE, DESDE QUE CONVENCIONADA. ENCARGOS DE INADIMPLÊNCIA. ABUSO NÃO VERIFICADO. RECURSO NÃO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Apelação interposta contra sentença que julgou improcedente a ação de revisão de contratos bancários com pedido de consignação em pagamento, consignando que a autora deveria arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa. A autora alegou que a taxa de juros aplicada no contrato é excessiva, que a capitalização dos juros é indevida, e que houve cerceamento de defesa com a negativa de prova pericial. Requer a revisão das cláusulas contratuais, a restituição de valores pagos indevidamente e a reconsideração do ônus da prova, em razão de sua hipossuficiência. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Definir se as taxas de juros remuneratórios pactuadas são abusivas, com base na alegação de desvantagem excessiva para a autora; Determinar se a capitalização de juros e os encargos de inadimplência contratualmente acordados são legais e adequadamente aplicados, conforme as normas pertinentes. III. RAZÕES DE DECIDIR A revisão das taxas de juros remuneratórios não é justificada, uma vez que, embora a autora alegue desvantagem excessiva, a taxa pactuada de 1,98% ao mês (26,52% ao ano) não apresenta discrepância relevante em relação à média de mercado, não configurando abuso. A capitalização de juros mensalmente, prevista no contrato, é permitida desde que expressamente pactuada, conforme a Súmula 539 do STJ, e foi validada pelo Superior Tribunal de Justiça em diversos precedentes. Não há ilegalidade na forma de cobrança adotada, uma vez que a capitalização foi expressamente acordada e respeitou a normativa vigente à época da contratação. Não há irregularidade nos encargos de inadimplência, pois a instituição financeira limitou-se à cobrança de juros remuneratórios, moratórios e multa contratual, sem a incidência de comissão de permanência, em conformidade com a Súmula 296 do STJ, que autoriza a cobrança de juros remuneratórios de acordo com a taxa média de mercado e a estipulação contratual. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso não provido. Tese de julgamento: Não há abusividade nas taxas de juros remuneratórios contratualmente estabelecidas quando não há discrepância relevante em relação à média de mercado. A capitalização de juros mensal, prevista em contrato bancário e expressamente pactuada, é válida, conforme a legislação aplicável e a jurisprudência consolidada. A cobrança de encargos de inadimplência, sem a cumulação indevida de comissão de permanência, é legal e deve ser mantida conforme pactuado. (N.U 1002336-78.2017.8.11.0002, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/04/2025, Publicado no DJE 30/04/2025) No que tange à comissão de permanência, ela tem como objetivo remunerar a instituição financeira pela disponibilização do capital ao mutuário, durante o período de inadimplência. O Superior Tribunal de Justiça firmou a orientação, em sede de recurso repetitivo, de que é lícita a cobrança, nos contratos em que ela foi prevista, devendo, no entanto, ser observado o disposto nas Súmulas de nºs 296 e 472, respectivamente, in verbis: "Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contratado". (Enunciado nº 296)". " A cobrança de comissão de permanência - cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato - exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual ". (Enunciado nº 472)". No caso em análise, a parte autora sustenta a cobrança indevida da comissão de permanência com base em cálculos que apontam diferenças entre valores pagos e os valores devidos nas parcelas pagas em atraso, totalizando uma cobrança a maior na ordem de R$ 331,09. Ocorre que, da análise dos referidos cálculos (Num. 147948821 – Pág. 2), constata-se a incidência da taxa de juros remuneratórios de 1,60% a.m., que fora pactuada entre as partes, com a indevida denominação de “comissão de permanência”, o que infirma a causa de pedir autoral, porquanto a jurisprudência admite a cobrança cumulativa, nos casos de inadimplência, de juros remuneratórios, juros moratórios e multa, conforme exposição alhures. Destarte, não há pertinência na insurgência de que há indevida cobrança de comissão de permanência no contrato firmado entre as partes. DA CLÁUSULA QUE TRANSFERE AO AUTOR AS DESPESAS DE COBRANÇA O autor alega a abusividade de cláusula que prevê a transferência, ao consumidor, do pagamento das despesas de cobrança de dívida extrajudiciais e judiciais. O contrato, por sua vez, ao dispor sobre as despesas de cobrança (Item 5.1, “b” - Num. 162506595 – Pág. 6), em caso de mora do consumidor, prevê igual direito em favor do autor, em consonância com o art. 51, XII, do Código de Defesa do Consumidor, que permite a incidência da referida obrigação, desde que igual direito seja conferido contra o fornecedor. Assim, não há abusividade evidenciada. DO DEVER DE INFORMAÇÃO O autor sustenta a ausência de informação clara e prévia sobre os juros incidentes. Sem razão. As taxas de juros remuneratórios e moratórios foram devidamente demonstradas na pactuação (Num. 162506595 – Pág. 2/3, 6). Destarte, o dever informacional fora devidamente cumprido pela parte requerida. DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA O simples ajuizamento de ação revisional não é o bastante para impedir a constituição do devedor em mora, havendo a necessidade de avaliar a existência de abusividade nos encargos do período de normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização dos juros), conforme tese firmada no julgamento do REsp Repetitivo nº 1.061.530/RS (Relatora Ministra Nancy Andrighi) - Tema 28 do Superior Tribunal de Justiça. Nos termos do referido Tema 28/STJ, “o reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora.” Assim, inexistindo a revisão dos juros remuneratórios e da capitalização dos juros, no caso concreto, não há que se falar em afastamento da mora do consumidor e, por consequência, tampouco em qualquer readequação das parcelas, sendo certo que vulnerabilidade do consumidor em ação individual de revisão contratual bancária requer prova objetiva da abusividade. DISPOSITIVO Isso posto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na Ação Revisional de Contrato, proposta por Paulo de Oliveira Venâncio em face de Banco Bradesco S.A. Por consequência, JULGO EXTINTO O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil. Custas pelo autor, bem como honorários advocatícios, que fixo em 10% do valor atualizado da causa (art. 85, § 2º, do CPC) em face do julgamento antecipado do mérito, fato que abreviou o labor profissional. Transitada em julgado, arquivem-se os autos com as baixas e anotações pertinentes. P.R.I.C. De Primavera do Leste/MT para Várzea Grande/MT, data registrada no sistema. Patrícia Cristiane Moreira Juíza de Direito Designada pela Portaria TJMT/PRES N. 864 de 06 de junho de 2025

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Jovenal De Oliveira Dos Santos x Energisa Mato Grosso - Distribuidora De Energia S.A.

ID: 262983543

Tribunal: TJMT Órgão: 2º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1000723-42.2025.8.11.0002

Data de Disponibilização: 30/04/2025

Polo Ativo:

JOVENAL DE OLIVEIRA DOS SANTOS

Polo Passivo:

ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A.

Sentença

Advogados:

DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

GLECY KELLY NUNES DE MELO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE SENTENÇA Processo: 1000723-42.2025.8.11.0002. REQUERENTE: JOVENAL DE OLIVEIRA DOS SANTOS REQUERIDA: ENERGISA MATO GROSSO - … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE SENTENÇA Processo: 1000723-42.2025.8.11.0002. REQUERENTE: JOVENAL DE OLIVEIRA DOS SANTOS REQUERIDA: ENERGISA MATO GROSSO - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A. Vistos, Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito com pedido de indenização por danos morais. Relatório dispensado, nos termos do art. 38 da Lei n. 9.099/95. Fundamento e decido. Julgamento antecipado do mérito Nos termos do artigo 355 do CPC, o juiz julgará antecipadamente o pedido, dispensando a fase instrutória, quando não houver necessidade de provas em audiência de instrução ou quando forem aplicados os efeitos da revelia e não houver requerimento de provas. Examinando os autos, nota-se que, para a solução do presente conflito, não há necessidade de produção de novas provas, visto que os fatos controvertidos podem ser comprovados por meio documental. Com fundamento nos artigos 370 e 371 do CPC, que disciplinam o princípio da livre apreciação motivada das provas, e para evitar procrastinação no trâmite processual (artigo 5º, inciso LXXVIII, CRFB), julgo desnecessária a produção de outras provas em audiência de instrução. Ausência de interesse de agir Em relação à ausência de interesse de agir, é válido mencionar que é predominante na jurisprudência que não é necessário o esgotamento das instâncias administrativas para que se leve a questão para a tutela fornecida pelo Poder Judiciário, consoante a inteligência do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. No caso em tela, presentes os pressupostos e as condições da ação, ainda que a autora não tivesse efetivado o pedido na esfera administrativa, isso não poderia levar ao reconhecimento da falta de interesse de agir, nem, tampouco, ao indeferimento da inicial, por essas razões, rejeito a preliminar suscitada. A corroborar: RECURSO INOMINADO. INSCRIÇÃO DO NOME DA AUTORA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. EXIGÊNCIA DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO PERANTE A PLATAFORMA VIRTUAL “CONSUMIDOR.GOV.BR”. DESCABIMENTO. MERA FACULDADE DO CONSUMIDOR. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PROVIDO. A utilização da ferramenta “consumidor.gov.br” é mera faculdade da parte autora, sendo descabida a exigência no sentido de que a mesma esgote a via administrativa previamente ao ajuizamento da ação judicial visando solucionar o conflito de consumo, sob pena de violação à garantia constitucional do livre acesso à Justiça.(N.U 1002430-18.2021.8.11.0024, TURMA RECURSAL CÍVEL, VALMIR ALAERCIO DOS SANTOS, Turma Recursal Única, Julgado em 13/05/2022, Publicado no DJE 16/05/2022). Indeferimento da inicial por ausência de documento comprobatório Não merece guarida a preliminar de indeferimento da inicial por ausência de prova mínima, quando a parte reclamante trouxe com a petição inicial os documentos que entendeu necessários à demonstração dos fatos constitutivos de seu pedido. Ademais, a petição inicial observou todos os comandos do art. 319 do CPC. Os fatos, os fundamentos estão em sintonia com os pedidos apresentados, logo, não há inviabilidade ou afronta ao contraditório e ampla defesa, à vista disso, rejeito a preliminar. Mérito De início, insta assentar que o presente caso é regulado pelo Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que a parte autora é destinatária final da prestação do serviço, enquanto a empresa reclamada figura como fornecedora de serviços, conforme os conceitos legais dos artigos 2º e 3º da Lei n.º 8.078/90. A controvérsia reside em averiguar se a interrupção do serviço de energia elétrica em 10/1/2025 foi indevida, bem como se deve aferir se cobranças das quantias nos valores de R$ 1.319,40 e R$ 454,69 são indevidas. No intuito de dirimir a lide, mantenho a inversão do ônus da prova, em face da verossimilhança das alegações da parte autora e de sua hipossuficiência. À vista disso, compete à reclamada a comprovação da inexistência de falha na prestação do serviço nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Na espécie, a ré afirmou que agiu no exercício regular de um direito, pois as cobranças são provenientes do procedimento de recuperação de consumo que ocorreu em 2/10/2024. Para averiguar a legitimidade do débito derivado do procedimento de recuperação de consumo exige-se a demonstração da observância da Resolução 1000/2021 da ANEEL e, subsidiariamente, a comprovação da variação significativa de consumo entre o período objeto de recuperação e o período posterior à recuperação. Em relação aos parâmetros da Resolução 1000/2021 da ANEEL, o art. 590 e seguintes dispõe: Art. 590. Na ocorrência de indício de procedimento irregular, a distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua fiel caracterização, compondo um conjunto de evidências por meio dos seguintes procedimentos: I - emitir o Termo de Ocorrência e Inspeção – TOI, em formulário próprio, elaborado conforme instruções da ANEEL; II - solicitar a verificação ou a perícia metrológica, a seu critério ou quando requerida pelo consumidor; III - elaborar relatório de avaliação técnica quando constatada a violação do medidor ou demais equipamentos de medição, contendo as informações técnicas e a descrição das condições físicas de suas partes, peças e dispositivos, exceto quando for solicitada a perícia metrológica do inciso II; IV - avaliar o histórico de consumo e das grandezas elétricas; e V - implementar, quando julgar necessário: a) medição fiscalizadora, com registros em memória de massa de pelo menos 15 dias consecutivos; e b) recursos visuais, tais como fotografias e vídeos. § 1º A medição fiscalizadora, calibrada conforme padrão do INMETRO ou órgão metrológico delegado, pode permanecer instalada no circuito da medição de faturamento da unidade consumidora, com o objetivo de comparação das grandezas elétricas medidas, pelo tempo que a distribuidora julgar necessário. § 2º Enquadra-se como procedimento irregular o aumento de carga à revelia da distribuidora que cause defeito no sistema de medição, o que deve ser comprovado pela distribuidora. § 3º Em caso de defeito na medição sem comprovação do procedimento irregular ou do aumento de carga à revelia, a distribuidora deve proceder conforme Seção V do Capítulo VIII do Título I, não se aplicando o disposto neste Capítulo. Art. 591. Ao emitir o TOI, a distribuidora deve: I - entregar cópia legível ao consumidor ou àquele que acompanhar a inspeção, mediante recibo com assinatura do consumidor ou do acompanhante; e II - informar: a) a possibilidade de solicitação de verificação ou de perícia metrológica junto ao INMETRO ou ao órgão metrológico delegado; e b) os prazos, os custos de frete e de verificação ou da perícia metrológica, e que o consumidor será responsabilizado pelos custos se comprovada a irregularidade, vedada a cobrança de outros custos. § 1º É permitida a emissão eletrônica do TOI e a coleta eletrônica da assinatura do consumidor ou daquele que acompanhar a inspeção, devendo a distribuidora garantir a impressão no local ou o envio ao consumidor com comprovação do recebimento. § 2o Se o consumidor se recusar a receber a cópia do TOI, a distribuidora deve armazenar evidências que comprovem a recusa, inclusive, se for o caso, com prova testemunhal. § 3º Em caso de recusa do recebimento do TOI ou se não for o consumidor que acompanhar a inspeção, a distribuidora deve enviar ao consumidor em até 15 dias da emissão, por qualquer modalidade que permita a comprovação do recebimento, a cópia do TOI e demais informações dos incisos do caput. § 4º O consumidor tem 15 dias, contados a partir do recebimento do TOI, para solicitar à distribuidora a verificação ou a perícia metrológica no medidor e demais equipamentos junto ao INMETRO ou órgão metrológico delegado. § 5º As marcas de selagem que são controladas pelo INMETRO ou pelo órgão metrológico delegado não podem ser rompidas pela distribuidora enquanto dentro do prazo do § 4º ou antes da realização da verificação ou da perícia metrológica. § 6º A cópia do TOI e do conjunto de evidências utilizados para caracterização da irregularidade devem ser disponibilizadas adicionalmente no espaço reservado de atendimento pela internet. Art. 592. Constatada a necessidade de retirada do medidor ou demais equipamentos de medição, a distribuidora deve: I - acondicionar o medidor e demais equipamentos de medição em invólucro específico; II - lacrar o invólucro no ato da retirada, mediante entrega de comprovante desse procedimento ao consumidor ou àquele que acompanhar a inspeção; III - encaminhar o medidor e demais equipamentos para realização da avaliação técnica; e IV - comunicar ao consumidor por escrito, mediante comprovação e com pelo menos 10 dias de antecedência, o local, data e horário da realização da avaliação técnica, para que ele possa acompanhá- la caso deseje. § 1º O consumidor pode solicitar um novo agendamento para realização da avaliação técnica uma única vez, desde que antes da data previamente informada pela distribuidora. § 2º A distribuidora pode reagendar a data da avaliação técnica do equipamento caso o consumidor não compareça na data previamente informada, devendo proceder conforme inciso IV do caput. § 3º A distribuidora pode oferecer ao consumidor, de forma gratuita, a possibilidade de acompanhar a realização da avaliação técnica por meio de metodologias interativas de comunicação audiovisual. Todavia, verifica-se que a empresa concessionária não provou a fiel observância à Resolução 1000/2021, já que não há provas de que o consumidor foi comunicado acerca do termo de ocorrência e inspeção, pois o TOI não foi assinado pelo requerente. Além disso, não há registros de que a cópia do TOI foi enviada à parte requerente. Portanto, nota-se que o procedimento ocorreu unilateralmente, por isso, ofendeu o direito ao contraditório e à ampla defesa. Sob o rito dos repetitivos, o Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a controvérsia à luz da possibilidade de corte do serviço, estabeleceu critérios, dentre os quais a regularidade do procedimento e o fator temporal (Tema 699): "ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. SERVIÇOS PÚBLICOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE NO MEDIDOR DE CONSUMO. CORTE ADMINISTRATIVO DO SERVIÇO. DÉBITOS DO CONSUMIDOR. CRITÉRIOS. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO DO ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) 1. A concessionária sustenta que qualquer débito, atual ou antigo, dá ensejo ao corte administrativo do fornecimento de energia elétrica, o que inclui, além das hipóteses de mora do consumidor, débitos pretéritos relativos à recuperação de consumo por fraude do medidor. In casu, pretende cobrar débito oriundo de fraude em medidor, fazendo-o retroagir aos cinco anos antecedentes. (…)"RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA 9. Como demonstrado acima, em relação a débitos pretéritos mensurados por fraude do medidor de consumo causada pelo consumidor, a jurisprudência do STJ orienta-se no sentido do seu cabimento, desde que verificada com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. 10. O não pagamento dos débitos por recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor enseja o corte do serviço, assim como acontece para o consumidor regular que deixa de pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza pessoal (não propter rem) da obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ. 11. Todavia, incumbe à concessionária do serviço público observar rigorosamente os direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito, já que o entendimento do STJ repele a averiguação unilateral da dívida. 12. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de corte de energia elétrica deve ter limite temporal de apuração retroativa, pois incumbe às concessionárias o dever não só de fornecer o serviço, mas também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema de controle de consumo. 13. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a suspensão administrativa do fornecimento do serviço - como instrumento de coação extrajudicial ao pagamento de parcelas pretéritas relativas à recuperação de consumo por fraude do medidor atribuível ao consumidor - deve ser possibilitada quando não forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem prejuízo do uso das vias judiciais ordinárias de cobrança. 14. Da mesma forma, deve ser fixado prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da fatura de recuperação de consumo, para que a concessionária possa suspender o serviço. TESE REPETITIVA 15. Para fins dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fica assim resolvida a controvérsia repetitiva: Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 16. Na hipótese dos autos, o Tribunal Estadual declarou a ilegalidade do corte de energia por se lastrear em débitos não relacionados ao último mês de consumo. 17. Os débitos em litígio são concernentes à recuperação de consumo do valor de R$ 9.418,94 (nove mil, quatrocentos e dezoito reais e noventa e quatro centavos) por fraude constatada no aparelho medidor no período de cinco anos (15.12.2000 a 15.12.2005) anteriores à constatação, não sendo lícita a imposição de corte administrativo do serviço pela inadimplência de todo esse período, conforme os parâmetros estipulados no presente julgamento. 18. O pleito recursal relativo ao cálculo da recuperação de consumo não merece conhecimento por aplicação do óbice da Súmula 7/STJ. 19. Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015. (REsp 1412433/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/04/2018, DJe 28/09/2018) (grifei). Na mesma dicção, julgados proferidos no âmbito da Turma Recursal deste Estado: "COBRANÇA INDEVIDA DE FATURA DE RECUPERAÇÃO DE CONSUMO – ALEGAÇÃO DE FRAUDE NO EQUIPAMENTO DE MEDIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – APURAÇÃO UNILATERAL PELA CONCESSIONÁRIA – ILEGALIDADE – PRECEDENTES DO STJ – RECURSO CONHECIDO DESPROVIDO. Deve ser responsabilizada a concessionária de energia elétrica, pelos prejuízos causados ao consumidor, com cobrança indevida de energia, em virtude da constatação de fraude no equipamento de medição de energia elétrica apurada unilateralmente pela concessionária. (N.U 1002781-93.2019.8.11.0045, TURMA RECURSAL CÍVEL, SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, Turma Recursal Única, Julgado em 15/06/2020, Publicado no DJE 16/06/2020).”. "EMENTA RECURSO INOMINADO – RELAÇÃO DE CONSUMO – PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA POR NECESSIDADE DE PERÍCIA – SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA – INCÊNDIO NA UC – PRIVAÇÃO DO SERVIÇO – EMISSÃO INDEVIDA DE FATURAS – APLICAÇÃO DE MULTA E COBRANÇA DE FATURA DE RECUPERAÇÃO DE CONSUMO – ALEGAÇÃO DE CONSTATAÇÃO DE IRREGULARIDADE – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – INSURGÊNCIA DA PARTE PROMOVIDA – INSPEÇÃO REALIZADA UNILATERALMENTE – AUSÊNCIA DE ASSINATURA DO CONSUMIDOR – AUSÊNCIA DE ACOMPANHAMENTO – AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO – AUSÊNCIA DE LAUDO OFICIAL (INMETRO) – DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DO DÉBITO DEVIDA – INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO – PRIVAÇÃO DE SERVIÇO ESSENCIAL – RECLAMAÇÃO ADMINISTRATIVA – DANO MORAL CONFIGURADO – VALOR RAZOÁVEL – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO. Sendo as provas produzidas suficientes para a prolação da sentença, o julgamento antecipado não se constituiu em faculdade, mas dever do magistrado, em homenagem aos princípios da celeridade e economia processual. Cabe à concessionária realizar a vistoria, observado o contraditório e ampla defesa, ou determinar a avaliação por meio do INMETRO, como comumente realiza nos demais casos. A responsabilidade do fabricante e do fornecedor de serviços é objetiva, pelo que responde, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores em decorrência da falha na prestação de serviço, nos termos do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor. Inexistindo laudo elaborado por órgão oficial (INMETRO), bem como se tratando de TOI unilateral, sem acompanhamento e assinatura do consumidor, não tendo sido respeitado o contraditório e a ampla defesa, inexiste parâmetros para sustentar a legalidade da multa aplicada e das faturas de recuperação de consumo, sendo devida a declaração de inexistência do débito, bem como o dano moral a ser indenizado em razão da interrupção do serviço decorrente de incêndio na instalação, sem solução administrativa, com emissão indevida de faturas sem consumo. O valor da indenização por dano moral deve ser mantido quando fixado de acordo com os critérios de proporcionalidade de razoabilidade. Sentença mantida. Recurso desprovido.(TJ-MT - RI: 10062452920208110001 MT, Relator: LUCIA PERUFFO, Data de Julgamento: 29/09/2020, Turma Recursal Única, Data de Publicação: 07/10/2020)”. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1938751 - RJ (2021/0218279-6) DECISÃO Trata-se de agravo de decisão que inadmitiu recurso especial interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, conforme a ementa a seguir: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE CUMULADA COM INDENIZAÇÃO. FORNECIMENTO DE ENERGIA. TOI LAVRADO PELA CONCESSIONÁRIA. ARTIGO 129 DA RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL 414/2010. AUSÊNCIA DE PROVA TÉCNICA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL. IRRESIGNAÇÃO DA RÉ. LAVRATURA DE TERMO DE OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE (TOI). AUSÊNCIA DE PROVA. TELAS INTERNAS UNILATERAIS. AUSÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CARACTERIZADA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. AFASTAMENTO. DECAIMENTO MÍNIMO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. MAJORAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA EM SEDE RECURSAL. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (…)Embora a apelante insista que a lavratura do TOI foi regular, não se desincumbiu de comprovar a alegada irregularidade do medidor, pois não acostou aos autos qualquer laudo técnico, limitando-se a juntar ilegível Termo de Ocorrênciae Inspeção (TOI) e somente nas razões recursais e meras telas internas que constituem documentos unilaterais e que não têm o condão de provar o invocado furto de energia praticado pelo autor/apelado. De fato, a jurisprudência desta Corte pacificou entendimento, por meio do Enunciado 256 que o TOI emitido pela concessionária ré não goza de presunção de ilegitimidade, a saber: "O termo de ocorrência de irregularidade, emanado de concessionária, não ostenta o atributo da presunção de legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário." Logo, é necessário a partir de inspeção no local, que o aparelho medidor e o lacre do respectivo aparelho sejam periciados e, comprovada a adulteração,após a lavratura do registro de ocorrência policial e notificação pessoal é que ocorre a constituição do devedor em mora. Aliás, a ré/apelante não demonstrou que algum perito tenha participado do evento para legitimá-lo, atestando a efetiva irregularidade no medidor, que foi manipulado unilateralmente por seus prepostos (...) Na espécie, do caderno processual não se verifica a juntada de qualquer documentação que comprovasse o suposto "desvio de energia no ramal de ligação em uma fase"informado no TOI, repito ilegível, constante no corpo das razões recursais na fls. 433 (index 000425), estando a peça de resistência desacompanhada deo TOI, do histórico do consumo aferido pelo relógio medidor da unidade do autor nos períodos anteriores e posteriores à verificação da irregularidade, limitando-se a juntar meras telas do sistema de dados unilateralmente alimentadas por seus prepostos. Como consequência, ante a incidência do princípio da boa-fé que norteia as relações de consumo, a mera variação do consumo, por si só, não faz presumir a existência de fraude, visto que a má-fé do consumidor precisa ser provada, correta a sentença ao declarar a nulidade do TOI e do contrato de confissão de dívida fundado no Termo de Ocorrência de Inspeção objeto da lide. Nesse contexto, a modificação das conclusões do acórdão recorrido exigiria necessariamente o revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, vedado em recurso especial, a teor da Súmula n. 7/STJ. Além disso, seria necessária a análise de dispositivos da Resolução ANEEL nº 414/2010, pretensão insuscetível de ser apreciada em recurso especial, uma vez que tal ato normativo não se enquadra no conceito de "tratado ou lei federal" de que cuida o art. 105, III, a, da Constituição Federal. Ante o exposto, com fulcro no art. 932, III e IV, do CPC/2015 c/c o art. 253, parágrafo único, II, b, do RISTJ, conheço do agravo para não conhecer do recurso especial. Caso exista nos autos prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, determino sua majoração em desfavor da parte recorrente, no importe de 15% sobre o valor já arbitrado, percentual esse justificado pelo tempo decorrido entre a interposição do recurso e a data de julgamento e a complexidade da causa, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil. Os limites percentuais previstos nos §§ 2º e 3º do referido dispositivo legal devem ser observados, bem como eventual concessão da gratuidade da justiça. Publique-se e intimem-se. Brasília, 26 de outubro de 2021. MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES Relator.(STJ - AREsp: 1938751 RJ 2021/0218279-6, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Data de Publicação: DJ 28/10/2021). APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE ATO ILICÍTO COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. FORNECIMENTO DE SERVIÇO DE ÁGUA. PROLAGOS S/A. VISTORIA E LAVRATURA DE AUTO DE INFRAÇÃO. CONSTATAÇÃO UNILATERAL DE IRREGULARIDADE. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA VIOLADOS. DANO MORAL CONFIGURADOS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. Falha na prestação de serviço configurado. Prepostos da concessionária que não são servidores públicos, razão pela qual suas constatações e investidas em relação ao consumidor, bem como os registros por eles feitos, não gozam de presunção de veracidade e não têm fé pública. Auto de infração que consta a descrição sumária da irregularidade, desacompanhada de laudo técnico detalhado. Violação das garantias constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. Irregularidade produzida unilateralmente pela concessionária ré que não possui o atributo da presunção de legitimidade. Dever indenizatório configurado. Quantum reparatório que deve se pautar nos critérios da proporcionalidade e da razoabilidade. Indenização fixada no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), que mostra-se condizente com os critérios descritos e com as circunstâncias do caso concreto. RECURSO DESROVIDO.(TJ-RJ - APL: 00269888420188190208, Relator: Des(a). JDS. DES. LUIZ EDUARDO C CANABARRO, Data de Julgamento: 28/04/2021, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 30/04/2021). À guisa de conclusão, mostram-se ilegítimas as cobranças derivadas do procedimento de recuperação de consumo. Com efeito, há que se declarar a inexistência dos débitos. O Código de Defesa do Consumidor preceitua em seu art. 14 que: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Cumpre à prestadora de serviços agir com a diligência necessária a impedir a má prestação do serviço contratado, que possa acarretar prejuízo aos seus clientes e terceiros de boa-fé. Não há dúvida de que a conduta da promovida provocou transtornos, aflição e angústia, na extensão suficiente para caracterizar o dano moral, uma vez que o serviço essencial de energia elétrica foi suspenso indevidamente em 10/1/2024 e somente foi religado após o deferimento da liminar. ID 186214857 - Pág. 19. Dessa forma, provado o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano, nasce o dever de reparar. No mesmo sentido, aduz o art. 927 do CC, “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” Referente ao valor, o arbitramento considera as circunstâncias do caso concreto, as condições das partes, e, principalmente, a finalidade de compensar o dano ocorrido. Deve-se atentar, ainda, ao princípio da razoabilidade, de modo que o valor não seja meramente simbólico, mas também que não seja extremamente gravoso ao ofensor. Neste cenário, a fixação da quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de dano moral, se mostra adequada e proporcional, e, ainda, não caracteriza o enriquecimento sem causa. Por fim, diante da ilegalidade das cobranças, não há razões para acolher o pedido contraposto. Do mesmo modo, não há elementos que evidenciem atos de litigância de má-fé. - Dispositivo Em face do exposto, rejeito as preliminares, confirmo a tutela de urgência antecipada e JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos da petição inicial, resolvendo o mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC, para: 1. reconhecer como inexigíveis as faturas de energia elétrica derivadas do procedimento de recuperação de consumo no valor total de R$ 1.774,09 (mil setecentos e setenta e quatro reais e nove centavos); 2. condenar o polo passivo na reparação por dano moral na quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com juros simples de mora, indexados pela taxa SELIC, a partir da citação, devendo ser descontado (subtraído) do período a correção monetária, indexada pelo IPCA, conforme art. 406, § 1º do CC. A partir do arbitramento, realizar a correção monetária e os juros de mora exclusivamente pela taxa SELIC. (Enunciado da Súmula 362 do STJ); Julgar improcedente o pedido contraposto. Indeferir o pedido de imposição de multa por litigância de má-fé. RATIFICO a liminar concedida no id. 180542867. Sem custas e sem honorários neste grau de jurisdição (art. 54 e 55 da Lei n.º 9.099/95). Decisão sujeita à homologação do Douto Juiz de Direito, conforme o art. 40 da Lei 9.099/95. Publicado e registrado. Intimem-se. Tathyane G. M. Kato Juíza Leiga Vistos. HOMOLOGO, para que surtam seus jurídicos e legais efeitos, o Projeto de Sentença da lavra da Juíza Leiga deste Juizado Especial. Havendo CUMPRIMENTO VOLUNTÁRIO da CONDENAÇÃO/TRANSAÇÃO/REMANESCENTE e a concordância da parte CREDORA com o(s) VALOR(ES) PAGO(S)/DEPOSITADO(S), tem-se a quitação do valor devido, não havendo outras obrigações a serem cumpridas. EXPEÇA-SE, se necessário, o competente ALVARÁ JUDICIAL na forma requerida. Caso a solicitação de transferência de valor(es) seja para a conta do(a) advogado(a) da parte credora, fica já autorizado, desde que tenha sido juntado aos autos o instrumento procuratório com poderes para o(a) causídico(a)“receber, dar quitação”. Tudo cumprido, ARQUIVE-SE, com as cautelas de estilo, dando-se baixa na distribuição. Intimem-se as partes da sentença. Várzea Grande/MT, data registrada no sistema. (Assinado Digitalmente) HUGO JOSÉ FREITAS DA SILVA Juiz de Direito em Substituição Legal

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