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Processo nº 1002078-63.2025.8.26.0554

ID: 312893447

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Santo André - 2ª Vara da Fazenda Pública Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1002078-63.2025.8.26.0554

Data de Disponibilização: 01/07/2025

Polo Ativo:

GABRIELA DE CARVALHO DAL EVEDORE

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

MARIA LÚCIA MORENO LOPES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1002078-63.2025.8.26.0554 - Procedimento Comum Cível - Jornada de Trabalho - Gabriela de Carvalho Dal Evedore - Vistos. GABRIELA DE CARVALHO DALEVEDOVE ajuizou a presente ação em face do MUN… Processo 1002078-63.2025.8.26.0554 - Procedimento Comum Cível - Jornada de Trabalho - Gabriela de Carvalho Dal Evedore - Vistos. GABRIELA DE CARVALHO DALEVEDOVE ajuizou a presente ação em face do MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ, alegando ser servidora pública municipal, ocupante do cargo de professora e genitora do menor LUCAS CARVALHO DALEVEDOVE, portador de Transtorno do Espectro Autista. Aponta a necessidade de redução da sua jornada de trabalho diante da necessidade constante de acompanhamento e apoio nas terapias prescritas a seu filho. Ao final, com fulcro no entendimento fixado no julgamento do Tema 1097 do STF, requer a procedência do pedido para que o requerido seja condenado a implementar a redução de sua jornada de trabalho, sem prejuízo do salário e independente de compensação. A decisão de fls. 28/29 indeferiu a tutela de urgência. Em contestação (fls. 41/52), o réu sustentou, em epítome, que a autora deixou de justificar a necessidade da pretendida redução de jornada ao não especificar dias e horários em que sua presença seria necessária. Apontou, ainda, a necessidade de realização de perícia médica e visita social para comprovar o grau do TEA, o tratamento necessário e a incompatibilidade entre o horário dos tratamentos e o de trabalho dos genitores. Bate na improcedência do pleito. Réplica às fls. 57/65. Instadas a especificar as provas que pretendiam produzir (fl. 67), a autora requereu a produção de prova pericial (fls. 71/72), enquanto o requerido deixou transcorrer in albis o prazo para manifestação (fl. 74). A decisão saneadora de fl. 75, antes de deliberar acerca da pertinência da perícia pretendida às fls. 71/72, e com o fito de averiguar a efetiva necessidade da redução de jornada, bem como a extensão, determinou que a autora apresentasse cronograma detalhado das terapias realizadas de modo permanente pelo seu filho, com a devida comprovação documental emitida pelo estabelecimento/profissional responsável, e indicação, ainda, da necessidade de acompanhamento dos pais. No tocante ao requerido foi determinada a realização de avaliação por Junta Médica Oficial, bem como a visita social. O município apresentou a avaliação da Junta Médica Oficial à fl. 98 e o Relatório Social de Visita Domiciliar às fls. 111/112, sobre os quais a autora se manifestou às fls. 131/132. Em resposta ao questionamento do Juízo (fl. 93), a autora informou que não há indicação de terapias pela manhã, haja vista que o menor frequenta a escola no período matutino. Contudo, haveria necessidade de levar seu filho à escola em razão da sensibilidade sonora do menor, que desencadeia crises em virtude do barulho produzido por outras crianças no transporte escolar. Indicou, ainda, a possibilidade de no ano de 2026, exercer suas atividades de professora no período da tarde no município de Santo André (fls. 114/116). Derradeira manifestação do requerido às fls. 135/136. É o relatório do essencial. Fundamento e DECIDO. Trata-se de ação por meio da qual pretende a autora, servidora pública municipal, a redução de sua jornada de trabalho para que possa prestar a assistência necessária ao seu filho, portador de Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pretensão encontra embase no Estatuto da Criança e Adolescente e na Lei Federal n. 12.764/12, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, bem como na Lei Federal n. 8.112/90, que garante o direito a horário especial ao servidor público federal que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência de qualquer natureza, sem necessidade de compensação de horário. Pois bem. Primeiramente, em relação ao diagnóstico inicialmente questionado pela requerida, é certo que, após trabalho elaborado por assistentes sociais que integram o quadro de servidores do próprio município (fls. 111/112), bem como pela Junta Médica Oficial (fl. 98), não subsiste qualquer dúvida acerca da condição de saúde do menor. Sendo assim, desnecessária a realização de perícia, porquanto já comprovada a presença do TEA. No mais, embora a requerida sustente a inaplicabilidade da legislação federal aos servidores municipais, a Constituição Federal, nos termos do artigo 227, impõe à família, à sociedade e ao Estado o dever de "assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão". Do mesmo modo, o Estatuto da Criança e do Adolescente traz, ao longo de seus artigos, a aplicação dos princípios da proteção integral e da absoluta prioridade no tratamento das crianças e dos adolescentes. Por seu turno, dispõe o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/15), que é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem estar pessoal, social e econômico (art. 8º) e que o processo de habilitação e de reabilitação é um direito da pessoa com deficiência" (art. 14). Igualmente, importa citar o artigo 9º deste Estatuto: "Art. 9º. A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: [...] §1º. Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo." Merece atenção, ainda, em relação especificamente ao transtorno do espectro autista, a Lei n. 12.674/12, que estabelece os seguintes direitos à pessoa com esta síndrome, relacionados à sua saúde: Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e serviços de saúde,com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo:a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante;b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social. Não se ignora, ainda, que o Brasil é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que foi internalizada no ordenamento jurídico segundo o trâmite previsto no artigo 5º, § 3º da Constituição Federal, com status de emenda constitucional. Esse diploma impõe aos Estados Partes a obrigação de adotarem todas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza, necessárias para a realização dos direitos nele previstos. Prevê, ainda, a referida Convenção que "em todas as ações relativas às crianças com deficiência, o superior interesse da criança receberá consideração primordial" (artigo 7º). Assim, não obstante a falta de previsão de lei específica municipal, existe norma no âmbito federal em que se funda a pretensão do autor, consistente na Lei n. 13.370/2016, que alterou o § 3º do art. 98 da Lei 8.112/1990, estendendo o direito de jornada de trabalho reduzida aos servidores federais que possuam cônjuge, filho ou dependente com deficiência. Deste modo, existindo lei em âmbito federal regulamentando o direito perquirido pelo autor, esta deve prevalecer, diante dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da proteção integral da criança e adolescente. Era esse o entendimento que prevalecia nos tribunais pátrios antes mesmo do paradigmático julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, do tema n. 1.097, no bojo do qual firmou-se a seguinte tese: "Aos servidores públicos estaduais e municipais é aplicado, para todos os efeitos, o art. 98, § 2º e § 3º, da Lei 8.112/1990." Assentado o direito em abstrato, vê-se que, no caso em tela, a autora comprovou suficientemente a condição de genitora de criança portadora de TEA, como se depreende dos documentos de fls. 21/24. Acrescem ao diagnóstico o relatório da junta médica e da visita realizados por agentes do município (fls. 98/112). No que concerne à redução da jornada e sua extensão, verifica-se que a própria requerente afirmou que o menor frequenta a escola durante sua jornada de trabalho junto ao réu, não havendo, assim, terapias prescritas no referido período (fls. 114/116). Evidente, assim, inexistir incompatibilidade entre o horário de trabalho da requerente e as terapias prescritas ao seu filho, não havendo necessidade de redução. Não bastasse, não há qualquer demonstração no sentido de que o transporte escolar acarrete prejuízo ao desenvolvimento do menor, idôneo a justificar a ausência da autora ao trabalho para leva-lo à escola. Veja-se que nada nesse sentido foi alegado durante a visita social, em que constatado, outrossim e aparentemente, grau não exacerbado do TEA (fls. 111/112). Neste sentido, é farta a jurisprudência do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Servidor Público do Estado de São Paulo - Policial Militar - Dependente menor com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA)- Insurgência contra decisão que concedeu redução da jornada de trabalho em 50% sem obrigatoriedade de compensação e sem prejuízo da remuneração para acompanhamento em terapias multidisciplinares. Agravado que não demonstra a impossibilidade de intercalar jornada de trabalho a que está submetido com os tratamentos à dependente, constando exercer funções em escalas intercaladas com folgas em dias úteis, além de ser casado e não demonstrar as atividades desempenhadas pela genitora da filha, que também tem dever legal de cuidado. Necessidade de redução da jornada não verificada. Cassação da liminar concedida pelo MM. Juízo a quo - Recurso provido. (TJSP; Agravo de Instrumento 3000540-03.2025.8.26.9061; Relator (a):José Evandro Mello Costa - Colégio Recursal; Órgão Julgador: 1ª Turma Recursal de Fazenda Pública; Foro de Ribeirão Preto -ANEXO DE JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PUBLICA - JEFAZ; Data do Julgamento: 14/05/2025; Data de Registro: 14/05/2025) (grifei) Apelação Cível - Ação Ordinária - Servidora contratada pela USP - PCD - Pretensão de redução de jornada sem redução de vencimentos - Sentença de improcedência - Recurso da autora - Desprovimento de rigor. Embora plenamente possível a aplicação por analogia do artigo 98, § da Lei Federal nº 8112/90 ante o entendimento havido pelo C. STF no julgamento do Tema 1.097 (RE nº 1.237.867/SP)., no presente caso, a autora não logrou êxito em comprovar a presença dos requisitos para reconhecimento do direito pleiteado. Inteligência do artigo 373, I, do CPC Precedentes. Honorários advocatícios majorados. R. Sentença mantida - Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível 0012518-66.2024.8.26.0071; Relator (a):Sidney Romano dos Reis; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Foro de Bauru -1ª Vara da Fazenda Pública; Data do Julgamento: 25/02/2025; Data de Registro: 25/02/2025) (grifei) APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA. Inicialmente, prejudicada a matéria preliminar arguida na apelação do Município, nos termos do art. 488 do CPC/15. Princípio da primazia do julgamento do mérito. Servidor público municipal. Pessoa com deficiência. Direito à redução de jornada para tratamento da saúde. Art. 98, § 2° e § 3°, da Lei 8.112/1990 aplicável ao caso em razão do decidido no Tema 1.097/STF. Ausência de previsão legal em lei municipal não é motivo suficiente para, por si só, afastar a pretensão do impetrante. Caso dos autos, contudo, em que não houve demonstração da necessidade de redução da jornada de trabalho. Concessão da segurança que exigiria prova pré-constituída do direito líquido e certo, inexistente no caso dos autos. Sentença reformada. Recurso voluntário e remessa necessária providos. (TJSP; Apelação Cível 1039175-19.2023.8.26.0053; Relator (a):Eduardo Prataviera; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes -1ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 18/02/2025; Data de Registro: 18/02/2025) (grifei) APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. Redução de jornada de servidora pública estadual com filho portador de Transtorno do Espectro Autista. Descabimento. Direito líquido e certo não demonstrado de plano. Documentos colacionados ao feito que não se mostram aptos a demonstrar a necessidade de redução da jornada de trabalho pleiteada. Inadequação da via eleita. Necessidade de dilação probatória, o que não se admite na estreita via do mandado de segurança. Sentença mantida. Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível 1026702-23.2024.8.26.0002; Relator (a):Heloísa Mimessi; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes -8ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 03/02/2025; Data de Registro: 03/02/2025) (grifei) Por derradeiro, e como bem ponderado pelo réu, a alegação concernente à mudança da jornada de trabalho em 2026 é absolutamente especulativa, e não pode servir de embase para a redução da jornada que hoje não se faz necessária. Logo, e lembrando que o abuso de conquistas legitimamente obtidas leva ao descrédito de benefícios, além de fomentar a sensação de injustiça junto à sociedade, mister o decreto de improcedência, porquanto, frise-se, não demonstrada, hoje, a necessidade de redução da jornada de trabalho. Ressalva-se, todavia, a repetição do pleito acaso verificada alteração no panorama fático. Ante o exposto, julgo IMPROCEDENTE o pedido formulado na presente ação ajuizada por GABRIELA DE CARVALHO DAL'EVEDOVE em face do MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ, extinguindo o feito, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Em virtude da sucumbência, condeno a autora ao pagamento das custas e despesas processuais, corrigidas monetariamente a partir do efetivo desembolso, bem como honorários advocatícios fixados em 10% do valor atualizado da causa. Observe-se o disposto no artigo 98, §3º do Código de Processo Civil. P.R.I.C. - ADV: MARIA LÚCIA MORENO LOPES (OAB 162321/SP)

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