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Espólio De Maria Antonieta Teixeira De Mayrinck x Allianz Seguros S/A

ID: 328809478

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5001567-70.2023.8.13.0637

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

ESPÓLIO DE MARIA ANTONIETA TEIXEIRA DE MAYRINCK

Polo Passivo:

ALLIANZ SEGUROS S/A

Intimação

Advogados:

EDGARD PEREIRA VENERANDA

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HELVECIO NANI RICARDO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de São Lourenço / 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço Praça Doutor Emílio Abdon Póvoa, 0, São Lourenço - MG - CEP: 37470-000 PROCESSO Nº: 5001567-70.2023.8.13.0637 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Seguro] AUTOR: ESPÓLIO DE MARIA ANTONIETA TEIXEIRA DE MAYRINCK CPF: não informado RÉU: ALLIANZ SEGUROS S/A CPF: 61.573.796/0001-66 SENTENÇA I – Relatório Trata-se de ação de cobrança de seguro com pedido de tutela antecipada ajuizada por Maria Antonieta Teixeira de Mayrinck, representada por sua curadora, Jussara Bressane Teixeira de Mayrinck, em face de Allianz Seguros S.A, aduzindo, em síntese: - QUE é portadora de Síndrome de Down e interditada judicialmente, tendo como representante legal e curadora sua mãe; - QUE teve seu seguro de vida aprovado após resposta ao questionário social, com termo inicial de vigência no dia 26/05/2022; - QUE o seguro cobre também a invalidez permanente em caso de doença; - QUE no dia 04/06/2022, foi acometida por um AVC – Acidente Vascular Cerebral, com crise convulsiva, que a deixou em estado de declínio quanto a sua capacidade cognitiva, motora e comportamental, com graves limitações de funções cognitivas superiores e motoras; - QUE devido ao grave acidente, seus familiares abriram sinistro junto à seguradora ré, para perceber a indenização contratada, uma vez que restaram caracterizados os requisitos para o recebimento do prêmio; - QUE a abertura do sinistro ocorreu em 20/10/2022 e a resposta da seguradora, recusando o pagamento, em 16/12/2023; - QUE a ré cancelou a apólice da autora em 04/01/2023, estando com a vigência interrompida desde 20/10/2022; - QUE a autora se sentiu ultrajada e humilhada pela ré, gigante do segmento de seguros, tendo sido banida em seu contrato, sem direito à defesa. Ao final, requereu, em sede liminar, seja determinada a reativação imediata do seguro de vida da autora e, no mérito, seja julgada procedente a ação, determinando-se a reativação definitiva do seguro de vida da autora e a condenação da ré ao pagamento do valor correspondente à indenização devida (invalidez permanente em caso de doença), além de indenização por danos morais, em montante a ser arbitrado pelo Juízo, sugerindo o valor correspondente a 50 salários mínimos. Decisão indeferindo a tutela de urgência (ID 9754141533). A ré apresentou contestação (ID 9779695468), alegando, em suma: Inicialmente, suscitou preliminares de intervenção obrigatória do Ministério Público, inépcia da exordial, impugnação ao valor da causa e à concessão de justiça gratuita. No mérito, alegou: - QUE não há nenhuma irregularidade no fato da seguradora limitar ou mesmo excluir riscos a serem garantidos; - QUE o contrato firmado entre as partes é nulo, vez que firmado por pessoa absolutamente incapaz; - QUE na fase de regulação do sinistro, a seguradora realizou a avaliação dos documentos encaminhados pela família e constatou que a segurada não poderia ter ingressado no seguro de vida, posto que possui Síndrome de Down, sendo portadora de cardiopatia grave; - QUE a mãe da autora, sua curadora, omitiu deliberadamente a real condição de sua filha e contratou apólice de seguros em seu próprio benefício; - QUE o motivo pelo qual houve a negativa do pagamento da indenização pleiteada e cancelamento da apólice, está amparado no fato de que à data da contratação, a segurada tinha ciência das doenças que lhe acometiam e não repassou essas informações à seguradora; - QUE no presente caso, evidente a preexistência do quadro clínico da segurada e a demonstração de que a autora não preenchia os requisitos que a habilitariam à contratação do seguro de vida, devendo ser julgados improcedentes os seus pedidos; - QUE, pelo princípio da eventualidade, acaso seja reconhecida a regularidade da contratação, não restou comprovado nos autos que a autora foi acometida por um Acidente Vascular Cerebral – AVC, não tendo sido anexado nenhum documento nesse sentido; - QUE, além disso, não restaram comprovados os requisitos autorizadores de indenização por danos morais. Ao final, requereu sejam acolhidas as preliminares e, no mérito, a improcedência da ação. Informado o óbito da autora/segurada, por sua representante legal, que requereu a extinção do feito. Proferida sentença de desistência da ação, extinguindo-se o processo, sem resolução do mérito, do qual a ré interpôs recurso de apelação. Acórdão do E. TJMG dando provimento à apelação para cassar a sentença e determinar o retorno dos autos à origem, dando-se regular seguimento ao processo, com a devida substituição processual. Despacho determinando a substituição do polo ativo pelo espólio de Maria Antonieta Teixeira de Mayrinck, representado pela inventariante, Jussara Bressane Teixeira de Mayrinck. Intimadas para especificar provas, a parte autora requereu a realização de perícia médica e a ré o julgamento antecipado do feito. Decisão saneadora (ID 10297212271) determinando a intimação da autora para retificar o valor dado à causa, bem como afastando as demais preliminares arguidas e deferindo a produção da prova pericial (ID 10297212271). Retificado o valor da causa para R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais). Laudo médico pericial em ID 10432000872. Apresentação de razões finais pela parte autora e ré, respectivamente, ratificando os termos da inicial e da defesa. Não há que se falar em colheita de parecer final do MP, haja vista que a curatelada faleceu no curso do feito. É o relatório, no essencial. II – Fundamentação Tendo restado afastadas as preliminares arguidas na decisão saneadora de ID 10297212271, passo à análise do mérito. Trata-se de ação de cobrança em que a parte autora pretende a reativação do seu seguro de vida, com o pagamento de indenização por invalidez permanente decorrente de doença, conforme previsão contratual, além de indenização por danos morais. Alega que sofreu um Acidente Vascular Cerebral – AVC, com crise convulsiva, que a deixou em estado de invalidez permanente, com graves sequelas, e, tendo comunicado o sinistro à ré, teve o pagamento da indenização negado, além de ter tido o seu seguro cancelado. A ré alega que agiu corretamente, por ser a autora portadora de condição clínica especial, qual seja, síndrome de down, além de uma série de comorbidades a ela associada, que foram omitidas quando da contratação, tratando-se de doença preexistente, que autoriza a exclusão de cobertura pela seguradora. Além disso, alega que a contratação é nula, uma vez que, trata-se a autora de parte absolutamente incapaz, interditada desde 2017, não podendo celebrar o contrato dos autos. Ocorre que, não assiste razão à ré, conforme se verá. Denota-se da apólice anexada (ID 9753889066), que houve a contratação de seguro de vida pela segurada, abrangendo o pacote contratado, além da cobertura por morte, outras hipóteses, como a de IFPD – Invalidez Funcional Permanente Total por Doença. No caso dos autos, a contratação se deu em maio de 2022 e no mês seguinte, qual seja, junho de 2022, a autora foi acometida por um Acidente Vascular Cerebral – AVC, conforme documentos anexados aos autos (ficha de atendimento do SAMU, ficha de internação hospitalar, laudo de tomografia do crânio e demais laudos médicos). A prova pericial médica (ID 10432000872) constatou que em junho de 2022 a segurada apresentou quadro de convulsão tônico clônica generalizada, tendo sido internada e realizada tomografia, evidenciando alteração sugestiva de Acidente Vascular Cerebral, CID I64. Constatou, também, que referido AVC trouxe sequelas de caráter irreversível à autora, persistindo até a data do óbito. Assim, comprovada a contratação e a invalidez funcional permanente da autora, decorrente da doença que lhe acometeu, a segurada faz jus ao pagamento da indenização prevista na apólice, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Não há que se falar de doença preexistente como pretende a ré, uma vez que a doença que acometeu a segurada e a deixou incapacitada, qual seja, o AVC, ocorreu comprovadamente após a contratação do seguro (o contrato firmado em maio de 2022 e a doença ocorreu em junho de 2022). O fato de a autora ser portadora de Síndrome de Down não caracteriza incapacidade física ou mental generalizada, conforme quer nos fazer crer a requerida. Ademais, mesmo que assim não fosse, conforme entendimento sumulado do C. Superior Tribunal de Justiça, a recusa de cobertura securitária sob a alegação de doença preexistente é ilícita se não houver, por parte da seguradora, a exigência de exames prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado (Súmula 609, do STJ). Assim, caberia à seguradora exigir exames de saúde prévios, a fim de constatar a existência de doença preexistente, sendo que, não o fazendo, ela deve responde pelo risco assumido. Nesse sentido a jurisprudência do E. TJMG: “APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA - SEGURO PRESTAMISTA - DOENÇA PREEXISTENTE - EXAMES CLÍNICOS - AUSÊNCIA - MÁ-FÉ DO CONTRATANTE - NÃO DEMONSTRAÇÃO - RECURSO PROVIDO. - A recusa de cobertura securitária sob alegação de doença pré-existente é ilícita se não houve a exigência de exames prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado. (Súmula 609, STJ). - Se cabe ao réu a prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (CPC, art. 373, inciso II), a ausência dessa prova implica na procedência do pedido inicial”.(TJMG - Apelação Cível 1.0000.25.116764-9/001, Relator(a): Des.(a) Ramom Tácio , 16ª Câmara Cível Especializada, julgamento em 12/06/2025, publicação da súmula em 18/06/2025). Quanto à alegada nulidade da contratação, também não merece prosperar tal tese, vez que caberia à ré demonstrar a referida nulidade (art. 373, II, do CPC), não tendo comprovado que a contratação ocorreu sem a participação da curadora da contratante. Nesse sentido, denota-se que a ré anexou apenas a apólice do seguro, bem como suas condições gerais, em que não há sequer campo de assinatura da parte contratante, pelo que não há se falar em nulidade à míngua de prova pela Seguradora de que fora a própria contratante a pessoa que assinou o contrato. Ademais, a autora anexou termo de autorização de pagamento de sinistro assinado pela curadora da autora (ID 9753891867), demonstrando boa fé na execução do contrato, nos termos do art. 422 do Código de Processo Civil. Assim, deve ser julgado procedente o pedido de condenação da ré ao pagamento da indenização securitária devida, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). No tocante ao pedido de reativação do seguro, diante do ato ilícito perpetrado pela ré, que cancelou indevidamente a avença, este deve ser julgado procedente, para que a Seguradora reative o contrato da autora, assim permanecendo até a data do seu óbito em 11/04/2023. Em relação ao pedido de danos morais, cediço que para a sua configuração é necessário que o indivíduo seja atingido em sua honra, reputação, personalidade ou sentimento de dignidade. No caso dos autos, a meu ver, os fatos narrados não são passíveis de gerar danos à personalidade da segurada, traduzindo-se em mero dissabor, razão pela qual não há que se falar na indenização pleiteada. Trata a hipótese de inadimplemento contratual, tendo a Seguradora ré trazido aos autos elementos que de fato evidenciam dúvidas de sua parte em relação à execução do contrato. Logo, a procedência parcial do pedido é de rigor. III - Dispositivo Diante do exposto, e por tudo o mais que dos autos consta, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido, com fulcro no art. 487, I, do CPC, para: a) determinar a reativação da apólice de seguro de vida da autora até a data do seu óbito, em 11/04/2023; b) condenar a requerida ao pagamento de indenização securitária no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), corrigida monetariamente pela tabela prática do TJMG, desde a data da verificação do sinistro, e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, desde a citação. Quanto aos índices, a partir de 28/08/2024, com a vigência da Lei n. 14.905/2024, a correção monetária dar-se-á pela aplicação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e os juros de mora pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), deduzido o IPCA (caso o valor obtido seja negativo, os juros serão considerados como “zero”). Tendo em vista a sucumbência recíproca, condeno as partes autora e ré ao pagamento de 30% e 70% das custas processuais, respectivamente, mais honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da condenação, na mesma proporção, suspensa a exigibilidade da autora, por litigar sob o pálio da justiça gratuita. Transitada em julgado a presente e pagas as custas finais, se houver, arquivem-se os autos oportunamente. PRIC. São Lourenço, data da assinatura eletrônica. 05 FERNANDO ANTONIO JUNQUEIRA Juiz(íza) de Direito 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço

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Cleidson Antonio Lima x Ativos S.A. Securitizadora De Creditos Financeiros

ID: 328692202

Tribunal: TJMG Órgão: Vara Única da Comarca de Buritis Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5001567-19.2024.8.13.0093

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

CLEIDSON ANTONIO LIMA

Polo Passivo:

ATIVOS S.A. SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS

Intimação

Advogados:

RAFAEL FURTADO AYRES

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RAFAEL MATOS GOBIRA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Buritis / Vara Única da Comarca de Buritis Rua Dois Poderes, 01, ZONA RURAL, Buritis - MG - CEP: 38660-000 PROCESSO… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Buritis / Vara Única da Comarca de Buritis Rua Dois Poderes, 01, ZONA RURAL, Buritis - MG - CEP: 38660-000 PROCESSO Nº: 5001567-19.2024.8.13.0093 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Práticas Abusivas] AUTOR: CLEIDSON ANTONIO LIMA CPF: 027.677.311-09 RÉU: ATIVOS S.A. SECURITIZADORA DE CREDITOS FINANCEIROS CPF: 05.437.257/0001-29 SENTENÇA Trata-se de ação de nulidade da dívida cumulada com declaração de prescrição e pedido de indenização por danos morais, ajuizada por Cleidson Antonio Lima em desfavor de Ativos S.A. Securitizadora de Créditos Financeiros, na qual alega que vem sendo insistentemente cobrado por dívida vencida desde o ano de 2009, com registros em plataformas como o Serasa Limpa Nome. Sustenta que se trata de dívida prescrita, cuja cobrança extrajudicial seria ilícita, conforme recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça (REsp 2.088.100 e REsp 2.094.303). Afirma que tais cobranças têm lhe causado constrangimentos e prejudicado sua imagem perante o mercado. Requer a declaração de inexigibilidade da dívida, a retirada de qualquer informação do seu nome junto aos cadastros de inadimplentes, e a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 30.000,00. Não houve pedido de tutela de urgência. Devidamente citada, a ré apresentou contestação no ID 10355210424, na qual alega que adquiriu o crédito do Banco do Brasil S.A. por cessão regular, nos termos da legislação civil e das normas do Banco Central. Sustenta que não houve inscrição do nome do autor nos cadastros de proteção ao crédito, mas mera disponibilização de proposta de acordo na plataforma Serasa Limpa Nome, o que, segundo a tese defensiva, não configura negativação nem ato ilícito. Aduz, ainda, que a prescrição atinge a pretensão de cobrança, mas não elimina o direito de crédito em si, razão pela qual não haveria ilegalidade na oferta de negociação. Por fim, sustenta que não há prova de dano moral e que o Serasa Limpa Nome é ferramenta legítima de contato com devedores, sem publicidade a terceiros. A parte autora apresentou impugnação à contestação no ID 10371359053, na qual sustenta que a ré não comprovou a origem da dívida nem apresentou documentos válidos que justifiquem a cobrança. Reitera a tese de que a cobrança extrajudicial de dívida prescrita, ainda que por meio de plataformas como o Serasa Limpa Nome, é ilegal e afronta entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça. Alega, ainda, que a conduta da ré configura prática abusiva e é suficiente para ensejar o reconhecimento de dano moral, independentemente de inscrição formal nos cadastros de inadimplência, por afetar o score de crédito e gerar constrangimentos ao consumidor. As partes não requereram provas. Vieram os autos conclusos. É o relatório do necessário. Decido. I – Da regularidade do feito O feito tramitou de forma regular, inexistindo vícios ou nulidades a serem sanados. Estão presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, motivo pelo qual passo à análise do mérito. Além disso, comporta julgamento antecipado, nos termos do art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil, tendo em vista que a controvérsia posta nos autos é unicamente de direito e prescinde de dilação probatória. Ademais, ambas as partes foram intimadas para manifestação quanto à produção de outras provas, não havendo qualquer requerimento nesse sentido. Vencido esse ponto, passo ao exame do mérito. II - Do mérito No mérito, entendo que a pretensão autoral é improcedente. O autor Cleidson Antonio Lima ajuizou a presente demanda alegando que vem sendo cobrado de forma indevida por dívida originada em contrato bancário firmado com o Banco do Brasil S/A, atualmente sob titularidade da ré Ativos S.A. Securitizadora de Créditos Financeiros. Sustenta que a dívida é prescrita e que, mesmo assim, seu nome permanece vinculado à plataforma Serasa Limpa Nome, o que, segundo alega, configuraria cobrança extrajudicial ilícita e lhe causaria danos morais. Inicialmente, é oportuno lembrar que a prescrição é instituto de direito material pelo qual se extingue a pretensão de exigir judicialmente o cumprimento de uma obrigação. Nos termos do art. 189 do Código Civil, violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos fixados pelos arts. 205 e 206 do mesmo diploma legal. No caso em análise, a dívida discutida é oriunda de contrato bancário, o qual, por sua natureza, consubstancia título executivo extrajudicial. Assim, nos termos do art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil, o prazo prescricional aplicável é de cinco anos. Diante disso, assiste razão ao autor quanto à alegação de que se trata de dívida prescrita. De fato, conforme recente entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a prescrição da pretensão impede tanto a cobrança judicial quanto a extrajudicial da dívida. Nesse sentido, a Terceira Turma, ao julgar o REsp n. 2.088.100/SP, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, firmou o entendimento de que, “se a pretensão é o poder de exigir o cumprimento da prestação, uma vez paralisada em razão da prescrição, não será mais possível exigir o referido comportamento do devedor, ou seja, não será mais possível cobrar a dívida”. Dessa forma, reconhecida a prescrição, a cobrança, seja por meio de ações judiciais, seja por vias indiretas de pressão extrajudicial, mostra-se indevida. Em corroboração, correlaciono o entendimento da Colenda Câmara em sua integralidade: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7/STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL PREJUDICADA. 1. Cuida-se de ação declaratória de inexigibilidade de débito cumulada com obrigação de fazer, objetivando a declaração de inexigibilidade do débito em razão da prescrição para a cobrança e a determinação de que a ré cesse as cobranças judiciais e extrajudiciais. 2. Uma vez prescrita a dívida, mostra-se ilícita sua cobrança não apenas em juízo, mas também nas vias extrajudiciais, pois, nos termos do entendimento mais recente desta Turma, "Se a pretensão é o poder de exigir o cumprimento da prestação, uma vez paralisada em razão da prescrição, não será mais possível exigir o referido comportamento do devedor, ou seja, não será mais possível cobrar a dívida. Logo, o reconhecimento da prescrição da pretensão impede tanto a cobrança judicial quanto a cobrança extrajudicial do débito" (REsp n. 2.088.100/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 17/10/2023, DJe de 23/10/2023). 3. A inclusão do nome do devedor no portal Serasa Limpa Nome não pode caracterizar, nem mesmo de forma indireta, cobrança extrajudicial nem impactar o seu score, tendo em vista caracterizar-se como plataforma destinada à renegociação entre o consumidor e o credor (REsp n. 2.082.766, Ministra Nancy Andrighi, DJe de 7/11/2023; REsp n. 2.100.422, Ministra Nancy Andrighi, DJe de 7/11/2023), e não como cadastro negativo. 4. Alterar as conclusões do Tribunal de origem, no sentido de que não foi comprovada qualquer conduta que caracterize cobrança extrajudicial de dívida prescrita, demandaria a reanálise do contexto fático-probatório dos autos, o que é vedado a esta Corte, nos termos da Súmula n. 7/STJ. Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp n. 2.449.482/SP, relator Ministro Humberto Martins, Terceira Turma, julgado em 10/6/2024, DJe de 12/6/2024.) (grifo nosso) Em sentido semelhante é o entendimento do e. Tribunal de Justiça de Minas Gerais: EMENTA: APELAÇÃO. DECLARATÓRIA DE PRESCRIÇÃO. EXIGIBILIDADE DO DÉBITO. SERASA LIMPA NOME. SISTEMA DE NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. DANO MORAL. NÃO CABIMENTO. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 (art. 189 do CC). Verificado que o débito está prescrito, não é cabível a cobrança extrajudicial do débito. A plataforma "Serasa Limpa Nome" facilita a renegociação de dívidas, mas a presença de um débito nela não implica restrição de crédito nem dano moral, salvo se houver prejuízo à reputação do consumidor. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.24.412785-8/001, Relator(a): Des.(a) Marco Aurélio Ferrara Marcolino , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 03/04/2025, publicação da súmula em 10/04/2025) (grifo nosso) No entanto, é justamente nesse ponto que reside o cerne da presente controvérsia: o autor sustenta que a simples inclusão de seu nome na plataforma Serasa Limpa Nome configuraria cobrança indevida. Tal alegação, no entanto, não merece prosperar. Isso porque, segundo jurisprudência consolidada pela mesma Corte, a disponibilização de débito em plataformas de negociação como o Serasa Limpa Nome não se equipara à cobrança extrajudicial. Trata-se, na realidade, de ferramenta criada para permitir a comunicação entre credores e consumidores inadimplentes, com o objetivo de facilitar eventual negociação voluntária da dívida. Nesse sentido, correlaciono o seguinte precedente: CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE. DÍVIDA PRESCRITA. COBRANÇA EXTRAJUDICIAL. INEXISTÊNICA. INCLUSÃO OU PERMANÊNCIA DE DÍVIDA PRESCRITA EM PLATAFORMAS DE NEGOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA. POSSIBILIDADE. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. A plataforma Serasa Limpa Nome tem por finalidade a facilitação de acordos de dívidas, sem imputação pública da condição de inadimplente, sendo o acesso aos dados sigiloso obtido somente pelo credor e consumidor mediante login e senha próprios, não caracterizando, portanto, cobrança extrajudicial nem cadastro negativo. Precedente. 2. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp n. 2.123.899/SP, relator Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 27/5/2024, DJe de 29/5/2024.) (grifo nosso) O entendimento consolidado do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais reconhece, de igual modo, que a plataforma "Serasa Limpa Nome" em nada se confunde com os cadastros restritivos tradicionais, tendo em vista a ausência de publicidade das informações nela lançadas, bem como a finalidade específica a que se destina, conforme o seguinte julgado: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE NULIDADE DE DÍVIDA C/C AÇÃO DECLARATÓRIA DE PRESCRIÇÃO C/C DANOS MORAIS - IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA - INDEFERIR - MANTER O BENEFÍCIO - DÍVIDA PRESCRITA - COBRANÇA EXTRAJUDICIAL - POSSIBILIDADE - INCLUSÃO NA PLATAFORMA "SERASA LIMPA NOME" - MERA OFERTA DE RENEGOCIAÇÃO - DANO MORAL INDEVIDO. - Não se admite a revogação do benefício da justiça gratuita por provocação da parte contrária, quando não comprovada a alteração da situação financeira do beneficiário da gratuidade. - Conforme entendimento do STJ, "o reconhecimento da prescrição afasta apenas a pretensão do credor de exigir o débito judicialmente, mas não extingue o débito ou o direito subjetivo da cobrança na via extrajudicial". - A plataforma "Serasa Limpa Nome" em nada se confunde com os cadastros restritivos comuns, tendo em vista a ausência de publicidade das informações nela lançadas e, ainda, a finalidade a qual se destina. - Em tal situação, não resta caracterizado qualquer dano moral passível de reparação. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.082778-4/001, Relator(a): Des.(a) Habib Felippe Jabour , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/05/2025, publicação da súmula em 28/05/2025) (grifo nosso) Assim, a referida plataforma não constitui cadastro de inadimplentes nem se confunde com mecanismos restritivos de crédito, tampouco implica qualquer forma de constrição ao devedor. Nesse contexto, não há publicidade a terceiros, tampouco inscrição negativa em sistemas de proteção ao crédito. O acesso à informação é sigiloso, realizado exclusivamente mediante login e senha pessoais, e não possui o condão de atingir a imagem ou a honra do consumidor. Ou seja, a plataforma Serasa Limpa Nome é apenas um ambiente restrito de negociação, sem repercussão pública ou legal equivalente à cobrança extrajudicial. Acrescento, ainda, que muito embora o autor, em impugnação à contestação, tenha alegado que o requerido não logrou êxito em comprovar a origem da dívida nem apresentou documentos válidos que justifiquem a cobrança, observo que a matéria dos autos versa, tão somente, quanto à regularidade ou não da inclusão de dívida prescrita junto ao aludido sistema, não havendo o que se falar, neste momento processual, quanto à origem da dívida propriamente dita. O exame do feito restringe-se à análise da licitude da manutenção da dívida em plataforma privada de renegociação, não abrangendo o exame do vínculo contratual que a originou. Portanto, não se verifica ilegalidade na conduta da requerida, razão pela qual não há falar em indenização por danos morais, pois ausente a prática de qualquer ato ilícito. Igualmente, não se justifica a exclusão do nome do autor da plataforma Serasa Limpa Nome, cuja função é promover, em ambiente privado e restrito, alternativas de renegociação de débitos, inclusive prescritos, o que não é vedado pelo ordenamento jurídico. III – Do dispositivo Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados por Cleidson Antonio Lima e, por conseguinte, extingo o feito com resolução de mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil. Condeno o autor ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil. Todavia, reconheço presentes os pressupostos legais para a concessão do benefício da justiça gratuita, nos moldes do art. 98 do CPC, motivo pelo qual suspendo a exigibilidade das referidas verbas, nos termos do art. 98, § 3º, do mesmo diploma legal. Se alguma das partes interpuser apelação, intime-se o apelado para apresentar contrarrazões ao recurso, no prazo de 15 (quinze) dias, na forma do 1.010, §1º, CPC. Se o apelado interpuser apelação adesiva, intime-se o apelante para apresentar contrarrazões, no mesmo prazo. Apresentadas as contrarrazões e não sendo suscitadas questões preliminares ou transcorrido o prazo sem manifestação, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, com as nossas homenagens e as cautelas de estilo. Suscitadas questões preliminares em contrarrazões, intime o recorrente para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas, nos termos do artigo 1.009, § 2º, do CPC, e após proceda a remessa ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais na forma determinada. IV – Da suspensão No mais, considerando que a Segunda Seção do STJ afetou os Recursos Especiais 2.092.190 –SP, 2.121.593 –SP e 2.122.017-SP, de relatoria do Ministro João Otávio Noronha, para julgamento pelo rito dos repetitivos a respeito da seguinte controvérsia: “definir se a dívida prescrita pode ser exigida extrajudicialmente, inclusive com a inscrição do nome do devedor em plataformas de acordo ou de renegociação de débitos" (tema 1.264), mantenho o teor da decisão de ID 10330644623, devendo o feito ser mantido suspenso até o julgamento final do precedente. Com o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com baixa na distribuição, observadas as cautelas legais e de estilo. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Buritis, data da assinatura eletrônica. AMANDA CHARBEL SALIM Juiz(íza) de Direito Vara Única da Comarca de Buritis

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Processo nº 5001567-79.2024.8.13.0558

ID: 308079027

Tribunal: TJMG Órgão: Vara Única da Comarca de Rio Pomba Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5001567-79.2024.8.13.0558

Data de Disponibilização: 26/06/2025

Polo Ativo:

JOSE ANTONIO DE FARIA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

FELIPE FAYER MANSOLDO

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PAULA VIEIRA SILVA E FIDELIS

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Rio Pomba / Vara Única da Comarca de Rio Pomba Praça: Doutor Último de Carvalho, 234, Centro, Rio Pomba - MG - CEP:… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Rio Pomba / Vara Única da Comarca de Rio Pomba Praça: Doutor Último de Carvalho, 234, Centro, Rio Pomba - MG - CEP: 36180-000 PROCESSO Nº: 5001567-79.2024.8.13.0558 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Contratos Bancários, Empréstimo consignado] AUTOR: JOSE ANTONIO DE FARIA CPF: 279.145.346-68 RÉU: BANCO ITAU CONSIGNADO S.A. CPF: 33.885.724/0001-19 e outros DECISÃO Cuida-se de ação declaratória de inexistência de negócio jurídico cumulada com repetição de indébito e indenização por danos morais, movida por José Antônio de Faria em face de Banco Itaú Consignado S.A. e de Banco Olé Consignado S.A. (sucedido pelo Banco Santander S.A.), todos devidamente qualificados nos autos. Conforme consta, a parte autora descobriu descontos indevidos em seu benefício previdenciário, mais precisamente 45 descontos mensais de R$ 100,00 desde dezembro de 2020 relativos ao suposto empréstimo que teria contraído junto ao Itaú (R$ 4.500,00 no total) e 59 descontos mensais de R$ 186,10 desde setembro de 2018 relativos ao suposto empréstimo que teria sido contraído junto ao Olé Consignado S.A. (R$ 10.979,90 no total), apesar de alegadamente nunca ter contratado tais serviços. Assim, pugna pela concessão de tutela antecipada para determinar que os requeridos se abstenham de realizar quaisquer descontos em seu benefício previdenciário, cessando imediatamente descontos provenientes dos contratos de nº 620366540 e 146005965 e, ao final, seja confirmada a referida medida e julgados procedentes os pedidos iniciais para declarar a inexistência de relação jurídica entre as partes; condenar os requeridos ao pagamento de indenização por danos morais em seu favor, no importe de R$10.000,00 (dez mil reais) cada e repetição de indébito em dobro. A inicial veio acompanhada de documentos. Após intimação, a parte autora colacionou aos autos comprovante de endereço (ID 10286495124) e documento de identificação (ID 10286495125). Em contestação de ID 10299817269, o Banco Itaú Consignado S.A., primeiro requerido, preliminarmente, suscita a ausência de interesse de agir, diante da falta de prévia tentativa de resolução administrativa. Alega, ainda, a inexistência de pretensão resistida, uma vez que não houve prévio contato com a instituição financeira. Sustenta a prescrição da pretensão autoral, nos termos do art. 206, § 3º, IV, do Código Civil, argumentando que o ajuizamento da ação ocorreu mais de três anos após a celebração do contrato e início dos descontos. No mérito, defende a regularidade da contratação, afirmando que houve expressa manifestação de vontade da parte autora, devidamente documentada, com liberação do valor em conta bancária de titularidade do autor. Argumenta que o contrato questionado trata-se de refinanciamento, com quitação de dívida anterior, tendo havido liberação de “troco” ao consumidor. Assim, alega a inexistência de vícios que invalidem o negócio jurídico, observando-se os requisitos do art. 104 do Código Civil, além da boa-fé objetiva e função social do contrato (arts. 421 e 422 do CC). Impugna, ainda, o pedido de devolução em dobro dos valores descontados, por ausência de má-fé e de prova de conduta abusiva por parte do banco, requerendo, em caso de condenação, que a devolução seja feita de forma simples, com compensação dos valores efetivamente repassados. No que tange ao pedido de danos morais, sustenta a inexistência de ato ilícito, dano ou nexo causal, defendendo tratar-se de mero aborrecimento cotidiano, insuficiente para configurar abalo moral indenizável. Ao final, requer a improcedência da ação, com condenação da parte autora ao pagamento das custas e honorários advocatícios, impugna o percentual de 20% pretendido na inicial e requer a designação de audiência de instrução e julgamento, com depoimento pessoal da parte autora. Protesta por todos os meios de prova admitidos em direito. A contestação veio acompanhada de documentos. Em decisão de ID 10290450421 foi deferida a gratuidade de justiça em favor do autor e indeferida a tutela de urgência por ele pretendida. Ao ID 10305281776, o Banco Itaú Consignado S.A. destaca ter colacionado aos autos instrumento contratual com documento pessoal idêntico ao acostado à exordial e comprovante de envio de crédito para mesma conta de recebimento de benefício da parte autora, desincumbindo-se do ônus que lhe é atribuído pelo art. 373, II, do CPC. Ademais, pugna pela expedição de ofício à instituição bancária para que apresente extrato da conta em que a parte recebeu os valores conforme TED anexado em contestação ou confirmar em juízo o crédito efetivado em nome do autor e requer a produção de prova oral, qual seja o depoimento pessoal do demandante. Em ID 10347772440, o segundo requerido, Banco Santander S.A., apresenta contestação, sustentando, preliminarmente, a ocorrência de prescrição da pretensão autoral, uma vez que os descontos questionados iniciaram-se em outubro de 2018, sendo a ação ajuizada apenas em agosto de 2024, após o decurso do prazo trienal previsto no art. 206, §3º, incisos IV e V, do Código Civil, aplicável às pretensões de ressarcimento por enriquecimento sem causa e reparação civil. Impugna também o valor atribuído à causa, de R$ 31.799,20, alegando ausência de critérios objetivos para sua fixação e defendendo que o valor deve corresponder ao efetivo montante do débito questionado. No mérito, o banco afirma que houve a contratação regular do empréstimo objeto da demanda, conforme o contrato nº 146005965, celebrado em 29/08/2018, com valor total de R$ 6.608,81, a ser pago em 72 parcelas. Assevera que o valor foi efetivamente disponibilizado por meio de TED em conta bancária de titularidade do autor, sendo esta operação formalizada por meio de envio de documentos pessoais e aceite por SMS. Defende a regularidade da contratação e a ausência de má-fé, o que afastaria o pedido de repetição de indébito em dobro, nos termos da Súmula 159 do STF. Quanto aos danos morais, sustenta a inexistência de abalo concreto à dignidade do autor, conforme entendimento firmado no IRDR nº 50114694620228240000 do TJSC, e que não há dano moral presumido pela simples alegação de fraude em empréstimo consignado. Argumenta, ainda, que eventual anulação do contrato somente poderia ocorrer mediante a devolução, pelo autor, dos valores recebidos, sob pena de enriquecimento ilícito. Aponta que os documentos apresentados comprovam a efetiva transferência dos valores contratados, conforme determina a Circular nº 3.710/2014 do BACEN. Ao final, requer a extinção do feito sem resolução de mérito, em razão da prescrição, ou, caso superada a preliminar, a total improcedência dos pedidos autorais, inclusive os de danos morais, e, subsidiariamente, que eventual condenação se dê em valor razoável. Pede também a produção de provas e a expedição de ofício ao BACEN para confirmação da regularidade da TED apresentada nos autos. A contestação veio acompanhada de documentos. Em audiência de conciliação realizada em 25/11/2024 (ID 10353985340), a parte autora manifestou expressamente desinteresse no prosseguimento do feito em relação à requerida Banco Olé Consignado S.A., sendo a desistência aceita pela parte requerida, que não apresentou oposição. Na manifestação registrada sob o ID 10373146027, o Banco Olé reafirma sua concordância com a desistência, mas requer a condenação do autor por litigância de má-fé. O autor apresenta impugnação às contestações no ID 10376332059, na qual contesta, em relação ao Banco Itaú, as alegações de prescrição, falta de interesse processual e validade do contrato, apontando indícios de irregularidades e a possível falsificação de sua assinatura. Requer a inversão do ônus da prova, para que o banco custeie a realização de perícia grafotécnica, e pleiteia a anulação do contrato caso seja comprovada a falsidade, além de indenização pelos danos sofridos. Em relação ao Banco Olé Consignado (Santander), o autor aponta inconsistências no processo de contratação, que teria sido realizado de forma inadequada, com o uso de “selfies” e aceites via SMS sem sua plena compreensão. Contesta a acusação de má-fé feita pelo banco e ressalta que, após a audiência de conciliação, a instituição financeira propôs um acordo, o que indicaria o reconhecimento de falhas. Por fim, solicita a manutenção da assistência judiciária gratuita, a devolução dos valores descontados indevidamente e indenização por danos morais. O autor enfatiza a necessidade de um julgamento justo, destacando sua condição de idoso e a vulnerabilidade diante de possíveis fraudes, responsabilizando os bancos pela falta de cautela e diligência na concessão dos empréstimos. No ID 10373530434, o autor foi intimado a se manifestar quanto a retratação do pedido de desistência. Manifestação no ID 10395032823, confirma a retratação ao pedido de desistência. Em decisão de ID 10439780533, foi acolhido o pedido de retratação formulado pela parte autora, sendo determinado o prosseguimento do feito com a indicação de provas a serem produzidas pelas partes. Em ID 10437737086, o Banco Itaú Consignado S.A. requer a expedição de ofício à instituição bancária para que apresente extrato da conta em que a parte recebeu os valores conforme TED anexado em contestação ou confirmar em juízo o crédito efetivado em nome da parte autora. Ademais, pugna pela designação de audiência de instrução e julgamento para oitiva da parte autora acerca da regularidade da contratação. O autor, em petição de ID 10446733629, pugna pela realização de perícia grafotécnica a fim de apurar a autenticidade da assinatura constante no contrato apresentado pela ré, Banco Itaú Consignado S.A. (ID 10299816881), reitera o pedido de inversão do ônus da prova, requer a produção de prova oral, consistente no depoimento pessoal dos réus, por meio de prepostos, com vistas a esclarecer como foi formalizada a suposta contratação de empréstimo. O Banco Santander, por sua vez, em ID 10452570508, informou não ter outras provas a produzir, requerendo o julgamento antecipado do feito. É o relato. Passo ao saneamento do feito. Com relação aos atos instrutórios, com base no art. 357 do CPC, não é o caso de extinção do feito sem resolução do mérito, nem de julgamento antecipado do mérito ou de parte dele. Inicialmente, verifica-se que no caso em tela não incide a hipótese do art. 357, §3º, do CPC. O ponto controvertido se trata sobre a suposta existência de relação jurídica entre as partes, a qual teria gerado o débito apontado na inicial, bem como eventuais danos morais e materiais. Da inversão do ônus da prova. No que se refere ao pedido de inversão do ônus probatório, com fulcro no art. 6º, VIII, do CDC, tenho que não merece acolhimento, pois incabível em ações de inexistência/inexigibilidade de débito. O ônus probatório de fato negativo (ausência de contratação realizada pela parte autora) é automaticamente da parte contrária. Isso porque tal comprovação é considerada prova diabólica, ou seja, impossível ou excessivamente difícil para parte que o alega. Assim sendo, cabe aos bancos réus comprovarem a existência e legalidade do contrato, inclusive juntando-o aos autos. No caso em apreço, os requeridos apresentaram os contratos nos autos (ID 10299816881 – Itaú, IDs 10347779230, 10347783766, 10347777979, 10347744807, 10347775981, Banco Olé / Santander), sendo desnecessária a inversão do ônus da prova. Isto posto, indefiro a inversão do ônus da prova. Da prescrição. Inicialmente, destaque-se a inaplicabilidade, ao caso concreto, do disposto no art. 26, do CDC, que versa sobre vício do produto e/ou serviço, uma vez que a demanda em análise não trata desse tema, mas sim de fato do serviço (art. 27, do CDC). O citado art. 27 do CDC, prevê: “Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.” Ademais, cumpre ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor é aplicável ao caso dos autos, revelando-se a relação jurídica vertente da espécie como sendo uma relação de consumo. Nesses termos, forçoso concluir, que o requerente, em que pese afirmar não ser consumidor, pois alega não ter contratado os serviços junto à instituição financeira, enquadra-se no conceito consumidor por equiparação, nos termos do parágrafo único do art. 2º, do CDC. Assim, não se aplicam as disposições contidas no Código Civil quanto aos prazos prescricionais, na espécie. Dessa forma, o prazo começa a fluir a partir do último desconto indevido, pois, consoante o entendimento jurisprudencial, em se tratando de relação de trato sucessivo, a cada desconto indevido surge uma nova lesão e, por conseguinte, o prazo prescricional começa a fluir a partir da data da última dedução no benefício previdenciário do autor. A esse respeito: “AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE DÉBITO CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. FATO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. TERMO INICIAL APLICÁVEL À PRETENSÃO RESSARCITÓRIA ORIUNDA DE FRAUDE NA CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ÚLTIMO DESCONTO INDEVIDO. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que, em se tratando de pretensão de repetição de indébito decorrente de descontos indevidos, por falta de contratação de empréstimo com a instituição financeira, ou seja, em decorrência de defeito do serviço bancário, aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC. 2. O termo inicial do prazo prescricional da pretensão de repetição do indébito relativo a desconto de benefício previdenciário é a data do último desconto indevido. Precedentes. 3. O entendimento adotado pelo acórdão recorrido coincide com a jurisprudência assente desta Corte Superior, circunstância que atrai a incidência da Súmula 83/STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento.” (AgInt no AREsp n. 1.720.909/MS, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 26/10/2020, DJe de 24/11/2020.) No caso em análise, os descontos alegadamente indevidos ocorreram até o momento de ajuizamento da ação, conforme extrato do INSS, ID 10280609851, fl. 37, não se operando, assim, prescrição no caso em análise. Assim, não há que se falar em prescrição, pelo que rejeito a preliminar. Da falta de interesse de agir. O requerido Banco Itaú Consignado alega falta de interesse de agir do autor, diante da falta de prévia tentativa de solução da questão pela via administrativa. Nos termos do julgamento do Tema 91 do IRDR, a caracterização do interesse de agir em demandas consumeristas de natureza prestacional depende da comprovação de tentativa prévia de resolução extrajudicial. Na ementa do julgado, foram modulados os efeitos da decisão, in verbis: “Nas ações ajuizadas após a publicação das teses fixadas no presente IRDR, nas quais não exista comprovação da prévia tentativa extrajudicial de solução da controvérsia e que não haja pedido expresso e fundamentado sobre a excepcionalidade por risco de perecimento do direito, recebida a inicial e constatada a ausência de interesse de agir, a parte autora deverá ser intimada para emendar a inicial de modo a demonstrar, no prazo de 30 dias úteis, o atendimento a uma das referidas exigências. Decorrido o prazo sem cumprimento da diligência, o processo será extinto sem julgamento de mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC. (vi) Com relação à modulação dos efeitos da tese ora proposta, por questão de interesse social e segurança jurídica (art. 927, §3º do CPC c/c art. 46 da Recomendação n. 134/ 2022 do CNJ), nas ações ajuizadas antes da publicação das teses fixadas no presente IRDR, o interesse de agir deverá ser analisado casuisticamente pelo magistrado, considerando-se o seguinte: a) nas hipóteses em que o réu ainda não apresentou contestação, constatada a ausência do interesse de agir, a parte autora deverá ser intimada para emendar a inicial (art. 321 do CPC), nos termos do presente IRDR, com o fim de coligir aos autos, no prazo de 30 dias úteis, o requerimento extrajudicial de solução da controvérsia ou fundamentar o pleito de dispensa da prévia comprovação do pedido administrativo, por se tratar de situação em que há risco de perecimento do direito. Quedando-se inerte, o juiz julgará extinto o feito sem resolução de mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC. b) nas hipóteses em que já houver contestação nos autos, tendo sido alegado na peça de defesa fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC), restará comprovado o interesse de agir.” O processo em tela foi ajuizado em 06 de agosto de 2024, antes da publicação das teses firmadas no mencionado incidente. Assim, considerando que as contestações apresentadas pelos requeridos alegaram fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor (art. 373, II, do CPC), resta evidenciado o interesse de agir no caso em epígrafe. Logo, rejeito a preliminar. Das provas. É patente que a admissão da produção das provas passa pela apreciação do julgador quanto à legalidade, à necessidade, à oportunidade e à conveniência, cabendo ao juiz o indeferimento das diligências inúteis (art. 370 e 371 do CPC). O ordenamento processual brasileiro adotou, no tocante à análise das provas, a teoria do livre convencimento motivado ou da persuasão racional do juiz, não havendo provas com valores preestabelecidos, deixando o magistrado com ampla liberdade na análise dos elementos de convicção trazidos aos autos pelas partes, inclusive em respeito ao princípio da razoável duração do processo. Assim, tenho que os elementos de instrução trazidos aos autos bastam à plena valoração do direito, de modo que indefiro o pedido de expedição de ofício à Caixa Econômica Federal. No que concerne ao pleito de produção de prova oral, consistente no depoimento pessoal do autor e de prepostos dos requeridos, também não merece acolhida. Em função dos princípios da celeridade e economia processual, a produção de prova oral somente deve realizada quando for imprescindível para o deslinde da causa e formação do convencimento do juiz, sendo certo que a prova documental deve ser sempre priorizada. No caso dos autos, entendo que os elementos constantes dos autos tornam dispensável o depoimento pessoal do autor e dos prepostos das instituições financeiras requeridas, razão pela qual a prova oral deve ser indeferida. Assim, indefiro a produção de prova oral. Por fim, a parte autora ainda formula pleito de perícia grafotécnica da assinatura constante no contrato apresentado pelo requerido Banco Itaú Consignado S.A. (ID 10299816881), sustentando não tê-lo assinado. Tendo em vista que a parte demandante impugnou as assinaturas do contrato firmado com o Banco Itaú Consignado, defiro a produção de prova pericial grafotécnica específica daquele contrato, colacionado ao ID 10299816881, pois perfaz-se necessária a opinião de perito com conhecimento especializado a fim de apurar se as assinaturas firmadas no contrato foram feitas pelo autor. Portanto, nomeio perito grafotécnico, de acordo com os profissionais cadastrados no Banco de Peritos, fixando os honorários periciais de acordo com o valor tabelado, os quais serão pagos através do Sistema Eletrônico de Assistência Judiciária Gratuita da Jurisdição Federal – AJG/JF. O laudo deverá ser realizado em até 30 dias. Não havendo impugnação quanto à nomeação, intimem-se as partes interessadas (autor e Banco Itaú Consignado) para que apresentem quesitos e indiquem assistentes técnicos, caso desejem. Prazo: 15 (quinze) dias. Em seguida, o perito deve dar início aos trabalhos, respondendo aos quesitos formulados pelas partes e entregando o laudo pericial no prazo de 30 (trinta) dias, na forma do art. 465 do CPC. Com a entrega do laudo, vista às partes, no prazo comum de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 477, §1º do CPC. Concedida vista às partes, após o decurso do prazo, retornem os autos conclusos, independente de manifestação das partes. Declaro saneado o feito. Intimem-se. Cumpra-se. Rio Pomba, data da assinatura eletrônica. LUCIANA DE OLIVEIRA TORRES Juiz(íza) de Direito Vara Única da Comarca de Rio Pomba

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