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Processo nº 1002080-85.2024.8.11.0004

ID: 262133356

Tribunal: TJMT Órgão: 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA CONTRA A FAZENDA PúBLICA Nº Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004

Data de Disponibilização: 29/04/2025

Polo Ativo:

EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

LUCIANO FREITAS FARIA

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ROLDRIGO QUEIROZ DE OLIVEIRA

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ANDERSON ADIEL POSTAL

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS DECISÃO Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004. EXEQUENTE: EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS EXECUTADO: MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Vis… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS DECISÃO Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004. EXEQUENTE: EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS EXECUTADO: MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Vistos. Trata-se de Cumprimento de Sentença movido por Epaminondas Oliveira Farias em face do Município de Barra do Garças. O cumprimento de sentença foi desmembrado do processo 0001499-78.2010.8.11.0004, Ação de Desapropriação, movido pelo ente ora executado. Intimado, o município de Barra do Garças/MT impugnou o cumprimento de sentença (Id. 143964770). O exequente veio aos autos (Id. 189283380) narrando que no processo principal, interpôs embargos de declaração questionando a omissão quanto à aplicação do Tema 865 do Supremo Tribunal Federal (exceção ao pagamento pelo regime de precatório). É o relatório. Decido. Consoante o relatado, trata-se de cumprimento de sentença movido pelo Espólio de Epaminondas Antônio de Farias em face do município de Barra do Garças. De início, quanto ao questionamento realizado pelo exequente sobre os embargos de declaração interpostos no processo principal (Id. 139697943 – Proc. 0001499-78.2010.8.11.0004), tenho que não merece ser acolhido. Deveras, o STF fixou a tese de que, No caso de necessidade de complementação da indenização, ao final do processo expropriatório, deverá o pagamento ser feito mediante depósito judicial direto se o Poder Público não estiver em dia com os precatórios (STF. Plenário. RE 922.144/MG, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 19/10/2023 – Repercussão Geral - Tema 865). Ocorre que, a fim de resguardar as legítimas expectativas daqueles que confiaram nos parâmetros anteriores estabelecidos pelas decisões do Supremo Tribunal Federal, além de considerar a mudança de entendimento, criando novo direito, os efeitos da decisão foram modulados para alcançar apenas às desapropriações propostas a partir da publicação da ata do julgamento. Portanto, o pagamento mediante depósito judicial, excepcionando a regra do precatório não atinge este processo. No tocante à impugnação, o ente executado questiona o modo que os cálculos foram realizados, alegando, em resumo, incorreção da correção monetária e dos juros. Sustenta que a correção monetária é devida a partir do arbitramento e os juros de mora são devidos a partir do trânsito em julgado. Sobre os juros compensatórios, argumenta que o exequente deveria comprovar a efetiva renda pela imissão na posse provisória para recebê-lo e que o índice, caso comprovado o direito aos juros compensatórios, deve observar o importe de 6%. Pois bem. Tenho que o tema que versa sobre a necessidade de comprovação pelo proprietário da perda da renda sofrida pela privação da posse, para fazer jus aos juros compensatórios, encontra-se precluso, pois matéria fática que reclama dilação probatória. No caso, diferentemente das normas que tratam unicamente do regime monetário, incluindo as de correção monetária, a condenação ao pagamento dos juros compensatórios faz coisa julgada, na medida em que eles têm por fim compensar o proprietário da perda antecipada do bem, com base em valor inferior ao realmente devido. Por fim, considerando a divergência sobre o cálculo apresentado, remetam-se os autos ao contador do juízo para que efetue novo cálculo nos termos da sentença de Id. 142778397 – Pág. 1/10, levando em consideração, como termo inicial para correção monetária, a data da avaliação do imóvel, e para a aplicação dos juros de mora, a data do trânsito em julgado, quando, então, deixarão de incidir os juros compensatórios. Entretanto, a partir de dezembro de 2023, deverá incidir apenas a SELIC ao valor a ser executado. Intime-se. Cumpra-se. Barra do Garças/MT, 15 de abril de 2025. Carlos Augusto Ferrari Juiz de Direito

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Processo nº 1002080-85.2024.8.11.0004

ID: 258319868

Tribunal: TJMT Órgão: 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA CONTRA A FAZENDA PúBLICA Nº Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004

Data de Disponibilização: 17/04/2025

Polo Ativo:

EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

ANDERSON ADIEL POSTAL

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LUCIANO FREITAS FARIA

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ROLDRIGO QUEIROZ DE OLIVEIRA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS DECISÃO Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004. EXEQUENTE: EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS EXECUTADO: MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Vis… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 4ª VARA CÍVEL DE BARRA DO GARÇAS DECISÃO Processo: 1002080-85.2024.8.11.0004. EXEQUENTE: EPAMINONDAS OLIVEIRA FARIAS EXECUTADO: MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS Vistos. Trata-se de Cumprimento de Sentença movido por Epaminondas Oliveira Farias em face do Município de Barra do Garças. O cumprimento de sentença foi desmembrado do processo 0001499-78.2010.8.11.0004, Ação de Desapropriação, movido pelo ente ora executado. Intimado, o município de Barra do Garças/MT impugnou o cumprimento de sentença (Id. 143964770). O exequente veio aos autos (Id. 189283380) narrando que no processo principal, interpôs embargos de declaração questionando a omissão quanto à aplicação do Tema 865 do Supremo Tribunal Federal (exceção ao pagamento pelo regime de precatório). É o relatório. Decido. Consoante o relatado, trata-se de cumprimento de sentença movido pelo Espólio de Epaminondas Antônio de Farias em face do município de Barra do Garças. De início, quanto ao questionamento realizado pelo exequente sobre os embargos de declaração interpostos no processo principal (Id. 139697943 – Proc. 0001499-78.2010.8.11.0004), tenho que não merece ser acolhido. Deveras, o STF fixou a tese de que, No caso de necessidade de complementação da indenização, ao final do processo expropriatório, deverá o pagamento ser feito mediante depósito judicial direto se o Poder Público não estiver em dia com os precatórios (STF. Plenário. RE 922.144/MG, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 19/10/2023 – Repercussão Geral - Tema 865). Ocorre que, a fim de resguardar as legítimas expectativas daqueles que confiaram nos parâmetros anteriores estabelecidos pelas decisões do Supremo Tribunal Federal, além de considerar a mudança de entendimento, criando novo direito, os efeitos da decisão foram modulados para alcançar apenas às desapropriações propostas a partir da publicação da ata do julgamento. Portanto, o pagamento mediante depósito judicial, excepcionando a regra do precatório não atinge este processo. No tocante à impugnação, o ente executado questiona o modo que os cálculos foram realizados, alegando, em resumo, incorreção da correção monetária e dos juros. Sustenta que a correção monetária é devida a partir do arbitramento e os juros de mora são devidos a partir do trânsito em julgado. Sobre os juros compensatórios, argumenta que o exequente deveria comprovar a efetiva renda pela imissão na posse provisória para recebê-lo e que o índice, caso comprovado o direito aos juros compensatórios, deve observar o importe de 6%. Pois bem. Tenho que o tema que versa sobre a necessidade de comprovação pelo proprietário da perda da renda sofrida pela privação da posse, para fazer jus aos juros compensatórios, encontra-se precluso, pois matéria fática que reclama dilação probatória. No caso, diferentemente das normas que tratam unicamente do regime monetário, incluindo as de correção monetária, a condenação ao pagamento dos juros compensatórios faz coisa julgada, na medida em que eles têm por fim compensar o proprietário da perda antecipada do bem, com base em valor inferior ao realmente devido. Por fim, considerando a divergência sobre o cálculo apresentado, remetam-se os autos ao contador do juízo para que efetue novo cálculo nos termos da sentença de Id. 142778397 – Pág. 1/10, levando em consideração, como termo inicial para correção monetária, a data da avaliação do imóvel, e para a aplicação dos juros de mora, a data do trânsito em julgado, quando, então, deixarão de incidir os juros compensatórios. Entretanto, a partir de dezembro de 2023, deverá incidir apenas a SELIC ao valor a ser executado. Intime-se. Cumpra-se. Barra do Garças/MT, 15 de abril de 2025. Carlos Augusto Ferrari Juiz de Direito

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Processo nº 1003054-96.2024.8.11.0045

ID: 261476800

Tribunal: TJMT Órgão: 1ª VARA CRIMINAL DE LUCAS DO RIO VERDE Classe: PROCEDIMENTO ESPECIAL DA LEI ANTITóXICOS Nº Processo: 1003054-96.2024.8.11.0045

Data de Disponibilização: 28/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

DENILSON VICTOR FERREIRA GOMES

Intimação

Advogados:

MARCOS WAGNER SANTANA VAZ REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO MARCOS WAGNER SANTANA VAZ

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA CRIMINAL DE LUCAS DO RIO VERDE DECISÃO Processo: 1003054-96.2024.8.11.0045. Vistos, etc. 1. Da informação de inimputabilidade do acusado A douta Defesa … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA CRIMINAL DE LUCAS DO RIO VERDE DECISÃO Processo: 1003054-96.2024.8.11.0045. Vistos, etc. 1. Da informação de inimputabilidade do acusado A douta Defesa do acusado DENILSON VICTOR FERREIRA GOMES, por ocasião da defesa prévia, pugnou pela absolvição imprópria do denunciado vez que portador de retardo mental moderado (id. 167953072). Acostou laudo pericial confeccionado no incidente de insanidade mental instaurado na 2ª Vara Criminal desta Comarca sob n. 1002080-93.2023.8.11.0045. Consultado o Ministério Público, rogou pela instauração de novo incidente de insanidade mental (id. 170506373). A seguir, vieram-me os autos conclusos. É o Relatório. Fundamento e Decido. Pertinente à preliminar alegada pela defesa do acusado verifico que foi atestado por perito oficial, no dia 20.05.2023, que o acusado é portador de retardo mental moderado (CID 10 F71). Outrossim, tem-se que a doença que acomete o acusado não é transitória, motivo pelo qual entendo viável o aproveitamento do laudo pericial confeccionado anteriormente (id. 167959555) para o presente feito, dispensando a instauração de novo incidente de insanidade mental. Assim sendo, Homologo o laudo pericial n. 110.1.06.9067.2023.116698-A01 (id. 167959555) para que surta os efeitos legais e determino a continuidade da ação penal (artigo 152, § 2º, do CPP). Em face da comprovação pericial, de que o implicado ao tempo da ação era inteiramente capaz de entender a ilicitude de seus atos e incapaz de determinar-se atento aos limites procedimentais estatuídos no artigo 151 do CPP, determino que o processo seguirá com a presença do curador e, para tal função, nomeio o advogado constituído pelo acusado, Dr. Marcos Wagner Santana Vaz (OAB/MT n. 14783). Intime-se o curador nomeado. 2. Do recebimento da denúncia RECEBO A DENÚNCIA na forma em que foi posta em Juízo, vez que a mesma preenche os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, e não se enquadra em nenhuma das hipóteses do artigo 395 do mesmo Diploma Legal. Fundamento a presente decisão no fato da peça inicial ser apta, por vislumbrar a presença dos pressupostos processuais e condições para o exercício da ação penal, bem como existir nos autos lastro probatório mínimo e idôneo a caracterizar justa causa para o exercício da ação penal. Ante o que preceitua o art. 56 da Lei 11.343/2006, designo audiência de instrução e julgamento para o dia 23 de junho de 2025, às 15h30min, a qual será realizada por videoconferência/telepresencial, por meio do aplicativo “Microsoft Teams”, através do seguinte link de acesso: https://tinyurl.com/aud1varacriminallrv Saliento, que na referida audiência será realizado o interrogatório do denunciado, bem como a oitiva das testemunhas arroladas pela acusação e defesa que residem nesta Comarca. Se houver testemunhas residentes em outra comarca, expeça-se imediatamente carta precatória, salvo se no Estado de Mato Grosso, caso em que deverá ser observado o Provimento nº 15, de 10 de maio de 2020. Cite-se o acusado do recebimento da presente denúncia. Intimem-se o Ministério Público e o Defensor do acusado. Intimem-se o acusado e as testemunhas arroladas pela acusação e defesa, consignando no mandado de intimação que: 1) O Oficial de Justiça deverá indagar o intimando acerca do seu telefone para contato e endereço de e-mail, constando tal informação na certidão. 2) O Oficial de Justiça deverá intimar as partes para que, no dia e hora marcados, utilizando-se de um computador equipado com dispositivos de áudio (microfone) e vídeo (câmera), ou de um celular (nesse caso, a parte deverá baixar o aplicativo “Teams” no equipamento), acessem o link supracitado. 3) O Oficial de Justiça deverá informar ao intimando que, caso possua dúvida ou dificuldade no acesso, deverá entrar em contato com a assessoria pelo WhatsApp nº. (65) 3548-2115. Requisite-se, se necessário. SERVE A PRESENTE DECISÃO COMO OFÍCIO para comunicação do recebimento da denúncia ao Instituto de Identificação do Estado de Mato Grosso (identificacao@politec.mt.gov.br), conforme art. 376, I, e art. 441, II, do Código de Normas Gerais da Corregedoria-Geral da Justiça. Proceda a Secretaria do Juízo à alimentação do banco de dados do Sistema Nacional de Informações Criminais (SINIC), nos moldes do art. 397, I, do Código de Normas Gerais da Corregedoria-Geral da Justiça. Desnecessária a comunicação ao Distribuidor e à Delegacia de Polícia, por se tratarem de autos virtuais. 3. Às providências e expedientes necessários, observando as formalidades legais. Lucas do Rio Verde/MT, data registrada no sistema. (assinado digitalmente) Conrado Machado Simão Juiz de Direito

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Processo nº 1002080-46.2019.8.11.0009

ID: 306288207

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA DE COLÍDER Classe: AçãO CIVIL PúBLICA CíVEL Nº Processo: 1002080-46.2019.8.11.0009

Data de Disponibilização: 24/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

ALDEVINO RIBEIRO SALES

Intimação

Advogados:

LARISSA BIANCHI DE OLIVEIRA

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TALES SALES

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EDILAINE MATCHIL MACHADO DA SILVA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE COLÍDER DECISÃO Processo: 1002080-46.2019.8.11.0009. AUTOR(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO REU: ALDEVINO RIBEIRO SALES Vistos. Trata-… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE COLÍDER DECISÃO Processo: 1002080-46.2019.8.11.0009. AUTOR(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO REU: ALDEVINO RIBEIRO SALES Vistos. Trata-se de demanda intitulada: Ação Civil de Responsabilidade Por Ato de Improbidade Administrativa Com Pedido Liminar de Indisponibilidade de Bens, ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso em face de Aldevino Ribeiro Sales. Em decisão, determinou-se a notificação do requerido para oferecer resposta no prazo legal (Id. 26881471). Posteriormente, citado (Id. 66412152), o requerido apresentou contestação aos autos, ocasião em que requereu o julgamento improcedente da demanda (Id. 67991843). Na esteira, o Ministério Público pleiteou pelo recebimento da inicial e o prosseguimento do feito (Id. 75599581). Ainda, pugnou pela tentativa de auto composição das partes (Id. 89130212), o que restou deferido, sendo os autos remetidos ao CEJUSC (Id. 90541193). Diante da designação da solenidade, o requerido aduziu que no período em questão, estaria no Estado do Pará, desprovido de acesso à internet, ainda, aduziu seu desinteresse pela auto composição (Id. 93274388). A conciliação restou prejudicada diante da ausência do requerido (Id. 103369906). Novamente instado, o requerido reiterou a manifestação retro (Id. 124362216). Ato contínuo recebeu-se a inicial, indeferiu-se o pedido de indisponibilidade de bens e determinou-se a citação do requerido para contestar o feito no prazo legal (Id. 163661566). Novamente citado (Id. 176303023), o requerido apresentou contestação aos autos (Id. 182934733), avençando preliminar de (i) inadequação da ação de improbidade; e, prejudicial de (ii) prescrição intercorrente. No mérito, requereu a improcedência dos pedidos iniciais. Impugnação à contestação apresentada ao Id. 188798168. É o relatório. Decide-se. Trata-se de fase de saneamento e organização do processo prevista no artigo 357 do Código de Processo Civil. Compulsando os autos, verifica-se que o feito computa preliminar e prejudicial de mérito a serem apreciadas, as quais passam a ser examinadas: A preliminar de inadequação da ação de improbidade, suscitada sob o argumento de ausência de respaldo jurídico, não merece acolhimento. Isso porque o artigo 2º da Lei nº 8.429/92 conceitua como agente público: “o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei.” No caso dos autos, o demandado exercia a função delegada de Oficial Interino do Cartório de Registro de Imóveis, ou seja, exercia atividade delegada do Poder Público, mantendo vínculo contratual integrante da administração pública, na qualidade de agente público. Assim, o exercício da atividade notarial ou registral por delegação do poder público constitui forma de atuação funcional em nome do Estado, estando o agente submetido ao regime de responsabilização previsto na Lei de Improbidade Administrativa. Diante disso, AFASTA-SE a preliminar de inadequação da ação, com o regular prosseguimento do feito. De mais a mais, quanto a prejudicial de prescrição intercorrente, esta, igualmente, não merece prosperar. A Lei nº 14.230/2021 entrou em vigor em 26/10/2021, portanto, para processos ajuizados anteriormente a essa data, como o presente caso (distribuído em 27/11/2019), aplica-se o regime prescricional anterior. Assim, não se pode aplicar a prescrição intercorrente nos termos do artigo 23, §4º, inciso I, da nova redação da Lei de Improbidade, uma vez que o prazo prescricional deverá ser contado conforme a legislação vigente à época do ajuizamento da ação. Dessa forma, não há que se reconhecer a prescrição intercorrente neste momento, considerando que a nova norma não retroage para alcançar os processos anteriores à sua vigência. Destarte, AFASTA-SE a preliminar avençada. Seguindo-se adiante, analisando-se o contexto processual, salienta-se que não é caso de “julgamento antecipado” (arts. 354 a 356 do CPC), por haver necessidade/possibilidade de atividade probatória. Sendo assim, delimitam-se as seguintes questões fáticas sobre as quais recairá a atividade probatória (sem prejuízo de, em cooperação, outras serem apontadas): § A prática dolosa dos atos de improbidade administrativa; § A ocorrência de efetivo dano ao patrimônio público e sua apuração; § As próprias questões de mérito. MANTÉM-SE o ônus probatório tal previsto no artigo 373, caput, do CPC. Por isso, SANEADO está o processo (art. 357 do CPC). Diante da natureza da ação, devem as partes ser intimadas para que, no prazo de 10 (dez) dias, se manifestem sobre as provas que pretendam produzir, se há interesse em realização de audiência de instrução para oitiva das partes e testemunhas ou se pugnam pelo julgamento antecipado do mérito. Assim, à SECRETARIA para: 1. INTIMAR as partes para que, no prazo de 10 (dez) dias, se manifestem sobre as provas que desejam produzir, justificando sua pertinência, sob pena de indeferimento, nos termos desta decisão; 2. Após, CONCLUSOS. Intimar. Cumprir. Colíder/MT, datado e assinado digitalmente. ÉRIKA CRISTINA CAMILO CAMIN Juíza de Direito em Substituição Legal

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Processo nº 1002080-59.2023.8.11.0024

ID: 300019483

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA DE CHAPADA DOS GUIMARÃES Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1002080-59.2023.8.11.0024

Data de Disponibilização: 16/06/2025

Polo Ativo:

LWX SERVICOS LTDA - EPP

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

ALAN VAGNER SCHMIDEL

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE CHAPADA DOS GUIMARÃES DECISÃO Processo: 1002080-59.2023.8.11.0024. REQUERENTE: LWX SERVICOS LTDA - EPP REQUERIDO: MUNICIPIO DE NOVA BRASILANDIA Visto… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE CHAPADA DOS GUIMARÃES DECISÃO Processo: 1002080-59.2023.8.11.0024. REQUERENTE: LWX SERVICOS LTDA - EPP REQUERIDO: MUNICIPIO DE NOVA BRASILANDIA Vistos. Cuida-se de ação revisional de lançamento tributário, cumulada com repetição de indébito e indenização por danos morais, com pedido de tutela de urgência, proposta por FORTERRA ARMAZÉNS E SERVIÇOS LTDA em face do MUNICÍPIO DE NOVA BRASILÂNDIA, sob alegação de cobrança desproporcional e discriminatória da taxa de alvará de localização e funcionamento, em valores significativamente superiores aos praticados por outros municípios para atividades idênticas, configurando, segundo sustenta, violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, II, CF/88). Postula liminarmente que o réu se abstenha de efetuar novo lançamento com base nos mesmos critérios, e que observe os valores cobrados pelo Município de Planalto da Serra. É o breve relato. Decido. A tutela de urgência requer demonstração da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC). Todavia, trata-se de matéria que demanda análise técnica e probatória sobre a validade do critério de cálculo adotado na legislação municipal impugnada, bem como eventual afronta à isonomia tributária constitucional, cuja comprovação requer análise da estrutura de cada ente federativo. Não obstante os argumentos expostos, o deferimento de medida liminar que interfira na competência tributária do ente público deve ser adotado com extrema cautela, sob pena de indevida interferência no exercício da autonomia municipal (art. 30, III, CF/88). Neste sentido a jurisprudência do STJ, é clara quanto à necessidade de prudência em medidas que impliquem suspensão de exigência tributária sem o devido contraditório e dilação probatória. Vejamos: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. OBJEÇÃO INDEFERIDA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS ANTE A NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA . APLICAÇÃO DA SÚMULA 393. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME. SÚMULA 7/STJ. 1 . Inexiste contrariedade ao art. 535, II, do CPC/1973, quando a Corte local decide fundamentadamente todas as questões postas ao seu exame. Ademais, não se deve confundir entre decisão contrária aos interesses da parte e ausência de prestação jurisdicional. 2 . A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.110.925/SP, submetido ao regime dos recursos repetitivos, firmou a orientação de que: "A exceção de pré-executividade é cabível quando atendidos simultaneamente dois requisitos, um de ordem material e outro de ordem formal, ou seja: (a) é indispensável que a matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz; e (b) é indispensável que a decisão possa ser tomada sem necessidade de dilação probatória." ( REsp 1 .110.925/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJe 4/5/2009) . 3. O Tribunal de origem negou a pretensão da recorrente, afirmando que, para se conhecer do pedido trazido no âmbito da exceção de pré-executividade, seria necessária a dilação probatória, incabível na via eleita, atraindo a incidência da Súmula 393 do STJ. 4. Para afastar o entendimento a que chegou a Corte de origem, de modo a albergar as peculiaridades do caso e verificar se é possível o exame das questões apresentadas em exceção de pré-executividade, como sustentado no apelo excepcional, é necessário o revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, o que se mostra inviável em recurso especial por óbice da Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial ." 5. Agravo interno a que se nega provimento.(STJ - AgInt no REsp: 1581769 PE 2016/0031386-6, Relator.: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 22/04/2020, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 28/04/2020). Destaquei Ademais, verifica-se dos autos que os valores referentes às taxas em questão já foram integralmente quitados pela parte autora, inclusive com o pagamento da quantia de R$ 32.251,53 (trinta e dois mil duzentos e cinquenta e um reais e cinquenta e três centavos) destinado à finalidade específica de emissão de alvará e cancelamento de protesto. Logo, nessas circunstâncias, inexiste risco iminente de cobrança ou constrição patrimonial que justifique, neste momento, a concessão da medida liminar em caráter de urgência. Diante do exposto, indefiro o pedido de tutela de urgência, por não vislumbrar, neste momento processual, elementos suficientemente robustos para concessão da medida sem o contraditório. Cite-se o Município de Nova Brasilândia, na pessoa de seu representante legal, para, no prazo legal, apresentar defesa nos autos. Considerando a alegada afronta ao art. 150, II, da Constituição Federal, requisitem-se os autos ao Ministério Público, nos termos do art. 178, I, do CPC, para que, no prazo de 15 (quinze) dias, manifeste-se acerca do interesse público subjacente à lide. Após a apresentação de contestação e manifestação do parquet, voltem conclusos para apreciação. Cumpra-se, expedindo o necessário, com as cautelas de estilo. Às providências. PIERRO DE FARIA MENDES Juiz de Direito Designado – NAE PORTARIA N. 108/2025-CGJG, DE 19 DE ABRIL DE 2025

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Elizabete Emilia Valejo x Mercantil Do Brasil Financeira S.A. Crédito Fin E Invest

ID: 330809857

Tribunal: TJMT Órgão: 3ª VARA CÍVEL DE CÁCERES Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1002080-45.2025.8.11.0006

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

ELIZABETE EMILIA VALEJO

Polo Passivo:

MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO FIN E INVEST

Sentença

Advogados:

GIOVANNA MORILLO VIGIL DIAS COSTA REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO GIOVANNA MORILLO VIGIL DIAS COSTA

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LETHICIA CARVALHO PENHA

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ITALO DA SILVA FRAGA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 3ª VARA CÍVEL DE CÁCERES SENTENÇA Processo: 1002080-45.2025.8.11.0006. AUTOR: ELIZABETE EMILIA VALEJO REU: MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO FIN E INV… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 3ª VARA CÍVEL DE CÁCERES SENTENÇA Processo: 1002080-45.2025.8.11.0006. AUTOR: ELIZABETE EMILIA VALEJO REU: MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO FIN E INVEST Autos n° 1002080-45.2025.8.11.0006 Vistos. Trata-se de AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE IMPORTÂNCIAS PAGAS C/C REVISÃO CONTRATUAL E REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS, ajuizada por ELIZABETE EMÍLIA VALEJO GOMES em face de MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS. Em síntese, aduz a autora que firmou dois contratos de empréstimo pessoal com a requerida, com os seguintes termos: Argumenta que os encargos contratuais estão ilicitamente elevados e acima da média de mercado estipulado pelo Banco Central do Brasil e acima do pactuado; assevera a conduta ilícita e abusiva da requerida, em onerar excessivamente o requerente com a cobrança de juros acima do legal, e que tentou através das vias consensual e administrativa a resolução das mencionadas irregularidades, todavia, sem êxito. Após tecer as questões de fato e de direito, pugna a autora, em síntese e dentre os demais pontos, pela readequação da taxa de juros remuneratórios para os índices de média de mercado estipulados pelo Banco Central do Brasil; restituição, de forma dobrada, dos valores pagos reconhecidos como indébito; e condenação indenizatória da requerida por danos morais. Na decisão de id. 187922753, recebida a inicial e deferido a justiça gratuita e inversão do ônus da prova em prol da autora. Nas ids. 195096661 e seguintes, contestação da requerida, em que a mesma, em síntese e dentre os demais pontos, suscita preliminarmente a inépcia da inicial e documentos que a instruem, impugna a justiça gratuita concedida ao autor e alega ausência de pretensão resistida administrativa, e, no mérito, refuta os argumentos da inicial; alega a existência de contrato assinado; negócio jurídico válido; que as taxas cobradas são legais; regularidade das cobranças e a inexistência de ato ilícito e dano indenizável, e pugna pela improcedência da ação. Tentada a autocomposição entre as partes, o ato restou inexitoso, conforme id. 195192230. Na id. 189031684 e anexos, impugnação à contestação em que a requerente refuta os argumentos da contestação. Propiciado às partes a produção de novas provas, a parte requerida suscitou pela ausência de inscrição suplementar do patrono da autora e pugnou pela para que a autora compareça em juízo para depoimento pessoal, e a parte requerente pugnou pela prova pericial. Vieram os autos conclusos. É o Relatório, fundamento e decido. Quanto aos pedidos da parte requerida de depoimento pessoal da autora; e da requerente de prova pericial contábil, indefiro-os, porquanto não justificados e/ou vislumbrados a pertinência, nos termos do § único, do art. 370, do CPC. Neste sentido: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE COBRANÇA – CERCEAMENTO DE DEFESA – AUSÊNCIA DE DEPOIMENTO PESSOAL – SITUAÇÃO NÃO CARACTERIZADA – RECURSO NÃO PROVIDO. Compete ao magistrado analisar a necessidade de produção de provas, pois é ele o destinatário (art. 370 do CPC e princípios do livre convencimento motivado e da persuasão racional). E seu indeferimento não caracteriza cerceamento de defesa se o requerente não demonstra o prejuízo concreto advindo dessa decisão e se os elementos constantes nos autos permitem o julgamento antecipado da lide. (N.U 1001604-18.2020.8.11.0059, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 05/10/2022, Publicado no DJE 06/10/2022) Passo ao julgamento do feito, porquanto inexiste matéria específica controvertida a demandar dilação probatória (art. 355, inciso I do Código de Processo Civil). Em relação à alegada ausência de pretensão resistida administrativa, infere-se não ser motivo suficiente para obstar o trâmite da ação judicial, vide o princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 5°, XXXV, da CF). Quanto à alegada preliminar de inépcia da inicial e dos documentos anexos e impugnação à justiça gratuita concedida ao autor, estas merecem serem afastadas, pois tais tópicos já foram apreciados e decididos na decisão inaugural, de acordo com os documentos juntados anexos à inicial, bem como não sobrevieram elementos informativos ou probatórios capazes de ensejar sua modificação. Outrossim, quanto à imputação e pedido de providências acerca da possível ausência de inscrição suplementar pela patrona da requerente, infere-se que a competência para a fiscalização da profissional compete à respectiva entidade de classe, cabendo a este juízo no máximo a devida comunicação, pois trata-se de mera irregularidade administrativa e disciplinar, que não deixa o profissional inabilitado ou impedido de postular em juízo. Neste sentido, entende o STJ que "A inexistência de inscrição suplementar do Advogado em outra Seccional gera, apenas, infração administrativa ou disciplinar, não inabilitando o profissional, ou tornando nulos os atos processuais por ele praticados" (AgRg no REsp 1.398.523/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, DJe 5/2/2014). Não havendo questões preliminares ou prejudiciais a serem apreciadas, estando presentes os requisitos de admissibilidade do processo, passo ao exame do mérito. Cuida-se de AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE IMPORTÂNCIAS PAGAS C/C REVISÃO CONTRATUAL E REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS, ajuizada por ELIZABETE EMÍLIA VALEJO GOMES em face de MERCANTIL DO BRASIL FINANCEIRA S.A. CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTOS. A questão debatida nos autos se revela relação de consumo, visto que a parte autora é destinatária final dos serviços prestados pela ré, situando-se no art. 2º, do Código de Defesa do Consumidor, e a parte requerida se enquadra no conceito do art. 3º do mesmo diploma protetivo, por se tratar de pessoa jurídica que desenvolve os serviços como descritos em tal dispositivo. Além disso, envolvendo a demanda questões de consumo, é de se inverter o ônus da prova em favor do consumidor, com suporte no art. 6º, inciso VIII, do CDC, visando assegurar-lhe o direito fundamental ao contraditório e a facilitação da defesa dos seus interesses, que tem natureza constitucional. Compulsando detidamente os autos, verifica-se que a Reclamante argumenta que a requerida lhe impôs taxa de juros abusivas acima da média de mercado entabulado pelo Banco Central do Brasil e embutiu cobranças indevidas, em contratos firmados de fornecimento de empréstimo pessoal. Por outro lado, verifica-se que a Reclamada, em sede de contestação, sustenta a regularidade e legalidade das taxas da mencionada operação de crédito, frisa a existência de contrato devidamente anuído pelo requerente e negócios jurídicos válidos, bem como junta cópias dos instrumentos e demais documentos jungidos. Em análise aos aludidos instrumentos, verifica-se que as taxas de juros remuneratórios cobradas pelo banco requerido à autora foram: Contrato de empréstimo pessoal n° 998000303783, 19,85% ao mês e 778,32% ao ano; e contrato de empréstimo pessoal n° 998000339983: 19,85% ao mês e 778,32% (ids. 186436375 e 186436371). No mérito, é incontroversa a existência da relação jurídica formalizada entre as partes, residindo o dissenso em relação a abusividade ou não das taxas mensal e anual de juros incidentes no contrato, e se ocorreram danos indenizáveis em desfavor da parte autora. Em relação à alegação de que a taxa mensal de juros extrapola a taxa média de mercado, este juízo realizou pesquisa no site do Banco Central (SGS – Sistema Gerenciador de Séries Temporais – v2.1), e conforme extrato que disponível no portal da mencionada instituição financeira nacional e juntados pela parte autora (ids. 186436372 e 186436377), as taxas médias ponderadas de mercado relativos às operações objeto da lide apresentam percentual de 5,56 % ao mês e 91,47 % ao ano (contrato n° 998000303783) e 5,61 % ao mês e 92,60 % ao ano (contrato n° 998000339983), ou seja, taxas de juros muito inferiores às aplicadas nos contratos contestados. É sobre este patamar que o juízo adotará como parâmetro para julgar. São desnecessárias maiores considerações para afirmar que a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça considera abusiva a taxa de juros que ultrapasse relevantemente a taxa média de mercado, principalmente quando é caso de relação de consumo, em que é vedado ao fornecedor impor ao consumidor “obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”, sob pena de nulidade absoluta da cláusula, vide o art. 51, IV e §1°, do CDC. No julgamento do REsp. 1.061.530/RS, submetido ao rito do artigo 1.036 do Código de Processo Civil (representativo de controvérsia), o Superior Tribunal de Justiça se posicionou no sentido de que o abuso nos juros deve ser aferido com base na média praticada pelo mercado no período, vejamos: “DIREITO PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CONFIGURAÇÃO DA MORA. JUROS MORATÓRIOS. INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. DELIMITAÇÃO DO JULGAMENTO (...) ORIENTAÇÃO 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS a) As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto. ORIENTAÇÃO 2 - CONFIGURAÇÃO DA MORA a) O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora; [...].” (REsp 1061530/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008, DJe 10/03/2009) (g.n.) Outrossim é o entendimento do TJ/MT: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO – PRELIMINARES REJEITADAS – APLICAÇÃO DO CDC – PACTA SUNT SERVANDA – JUROS REMUNERATÓRIOS ABUSIVOS – LIMITAÇÃO A TAXA MÉDIA DE MERCADO – DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA – RESTITUIÇÃO NA FORMA SIMPLES – SENTENÇA REFORMADA EM PARTE – RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. É pacífico nos Tribunais que as instituições bancárias devem ser regidas pelos ditames consumeristas, estando tal matéria inserida no verbete sumular 297/STJ, não havendo ofensa ao ato jurídico perfeito e ao princípio do “pacta sunt servanda”. É admitida a revisão da taxa de juros remuneratórios em situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade em relação à taxa média praticada pelo mercado financeiro (capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, §1º, do CDC) fique cabalmente demonstrada. O reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios) descaracteriza a mora. O entendimento dominante no STJ é no sentido de admitir a repetição do indébito na forma simples no caso de cobrança indevida. (N.U 1020044-92.2023.8.11.0015, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 05/06/2024, Publicado no DJE 09/06/2024) Sendo assim, existindo comprovação da alegada taxa de juros maior que o devido nos contrato contestado, o valor de cada parcela e da operação devem ser readequados em conformidade com a taxa média de mercado da época da contratação, no caso, 5,56 % ao mês e 91,47 % ao ano (contrato n° 998000303783) e 5,61 % ao mês e 92,60 % ao ano (contrato n° 998000339983), devendo os valores pagos a mais serem ressarcidos de forma dobrada, nos termos do art. 42, do CD, e informativo N° 803, do STJ. Por fim, quanto à pretensão à reparação por danos morais, a situação retratada na hipótese não tem o condão de configurar danos morais indenizáveis. A mera cobrança de encargos bancários em desconformidade com o contrato ou a lei não acarreta, por si só, o reconhecimento de violação a direitos da personalidade suficiente para gerar dano moral, mormente na hipótese em que se reputou abusiva tão somente a cobrança de juros contratuais limitados à média divulgada pelo BACEN, tratando-se, no máximo, de mero aborrecimento, razão pela qual reputo inexistente a ocorrência do dano moral. Neste sentido: (...) A simples constatação de encargos abusivos e a consequente revisão contratual não ensejam danos morais. No caso dos autos, muito embora incida o Código de Defesa do Consumidor, não há nenhuma hipótese de dano in re ipsa, posto que sequer houve inscrição do nome do autor nos órgãos de proteção ao crédito, cabia ao autor/apelado comprovar que sofreu os danos morais. 6. Sentença parcialmente reformada. 7. Recurso parcialmente provido. (N.U 1041332-18.2023.8.11.0041, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, SEBASTIAO BARBOSA FARIAS, Primeira Câmara de Direito Privado, Julgado em 04/06/2024, Publicado no DJE 05/06/2024) Posto isto, JULGO parcialmente procedente a ação revisional em epígrafe, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC, para reconhecer que a taxa de juros contratada extrapola a taxa média de mercado divulgada pelo BACEN referente ao período de maio/2023 e agosto/2023, devendo ser reduzidas para o patamar de 5,56 % ao mês e 91,47 % ao ano (contrato n° 998000303783) e 5,61 % ao mês e 92,60 % ao ano (contrato n° 998000339983), devendo ser realizada a compensação dos valores pagos a mais pelo Autor/devedor por ocorrência das parcelas já debitadas, estes valores corrigidos pelo índice INPC/IBGE a partir do desembolso e acrescidos de juros de mora de 1% a.m. a partir da citação, e, constatado valor pago a mais que o devido, deverá ser restituído ao requerente de forma dobrada. Condeno a parte vencida ao pagamento das custas, despesas processuais e dos honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor do proveito econômico obtido, nos termos do art. 85, § 2º, e vide o art. 86, do CPC. Publique-se e intime-se. Com o trânsito em julgado, nada sendo requerido pelas partes, arquive-se o feito com as cautelas legais e de praxe. Cumpra-se. Juiz(a) de Direito

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Processo nº 1049878-28.2024.8.11.0041

ID: 336490553

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1049878-28.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

ISABEL CECILIA DA SILVA

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

ODENIL DO CARMO DE SOUZA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1049878-28.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1049878-28.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Capitalização e Previdência Privada] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES Turma Julgadora: [DES(A). SERLY MARCONDES ALVES, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO] Parte(s): [ISABEL CECILIA DA SILVA - CPF: 870.068.041-91 (APELANTE), ODENIL DO CARMO DE SOUZA - CPF: 812.740.091-20 (ADVOGADO), BANCO BRADESCO SA - CNPJ: 60.746.948/1298-24 (APELADO), PAULO EDUARDO PRADO - CPF: 130.886.688-70 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: PROVIDO, UNANIME E M E N T A DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C ANULAÇÃO DE CONTRATO, REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO DA LIDE SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. FALTA DE INTERESSE. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO PRÉVIO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. DESCONTOS INDEVIDOS EM CONTA DESTINADA A BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. EXIGÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5º, XXXV, DA CF. HIPERVULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Recurso de apelação cível interposto por idosa, analfabeta e aposentada, contra sentença que extinguiu, sem resolução de mérito, ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais, ao fundamento de ausência de interesse de agir, em razão da não comprovação de prévio requerimento administrativo. A autora alega descontos indevidos em sua conta bancária no valor de R$ 62,28 mensais, entre dezembro/2021 e fevereiro/2022, comprometendo sua subsistência. Pretende a reforma da sentença para o regular prosseguimento do feito, com análise do mérito. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) definir se o ajuizamento da ação para discutir descontos indevidos depende de requerimento administrativo prévio; (ii) estabelecer se a situação de hipervulnerabilidade da autora afasta eventual exigência de demonstração da pretensão resistida para configurar o interesse de agir. III. RAZÕES DE DECIDIR O acesso ao Poder Judiciário constitui garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo indevida a exigência de esgotamento da via administrativa como condição para o exercício do direito de ação. Em ações que versem sobre relação de consumo, especialmente envolvendo descontos indevidos em conta bancária destinada a benefício previdenciário, o prévio requerimento administrativo não se configura como pressuposto de admissibilidade da demanda. A jurisprudência do STJ e do TJMT é firme no sentido de que o interesse de agir está presente quando há plausibilidade na narrativa de lesão ao direito, sendo dispensável a demonstração da pretensão resistida em hipóteses como a dos autos. A hipervulnerabilidade da autora – pessoa idosa, analfabeta e dependente exclusivamente de benefício previdenciário – impõe interpretação protetiva, relativizando formalidades processuais e reforçando a necessidade de apreciação judicial do mérito. A tentativa frustrada de solução administrativa por meio de reclamação ao Banco Central evidencia diligência da autora e reforça a presença do interesse de agir, sendo desarrazoada a extinção do feito sem exame do mérito. Não se verifica litigância predatória ou abusiva, mas sim uso legítimo do direito de ação diante de conduta bancária que compromete a subsistência da consumidora. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso provido. Tese de julgamento: O ajuizamento de ação para discutir descontos indevidos em conta destinada a benefício previdenciário independe de prévio requerimento administrativo. A hipervulnerabilidade do consumidor impõe interpretação protetiva das condições da ação, sendo desnecessária a demonstração da pretensão resistida para configuração do interesse de agir. O princípio da inafastabilidade da jurisdição assegura o direito de acesso ao Judiciário mesmo na ausência de tentativa prévia de solução administrativa. Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 5º, XXXV; CPC, art. 485, I; CDC, arts. 4º, I e 6º, VIII. Jurisprudência relevante citada: STJ, AgInt no REsp 1954342/RS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 21.02.2022; TJMT, Apelação Cível n. 1002080-51.2025.8.11.0004, Quarta Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 30.06.2025. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL N. 1049878-28.2024.8.11.0041 ISABEL CECILIA DA SILVA X BANCO BRADESCO S/A Eminentes pares: Trata-se de recurso de apelação cível, interposto por ISABEL CECILIA DA SILVA, com o fito de reformar a sentença, proferida pelo Juízo da Vara Única de Poconé-MT, que julgou extinta sem resolução de mérito a ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais, ajuizada em face de BRADESCO S/A, nos termos do art. 485, inc. I, do CPC, por ausência de interesse de agir, uma vez que a parte autora não teria comprovado requerimento administrativo válido. Irresignada, a apelante pretende a reforma da sentença para que seja determinado o regular prosseguimento do feito, com análise do mérito da demanda. Sustenta, preliminarmente, que o direito de acesso à justiça constitui pilar do Estado Democrático de Direito, sendo inconstitucional a exigência de esgotamento da via administrativa como condição para o processamento da ação, inclusive alega que é nesse sentido o posicionamento do STF. Argumenta que acostou comprovações documentais de que buscou solucionar o problema junto ao Banco Central (BACEN), no entanto, não teve a reclamação analisada por questões formais que não lhe podem ser imputadas como culpa. Afirma que não se configura litigância abusiva sua conduta, sendo a ação uma medida extrema e necessária para cessar descontos indevidos em sua conta bancária. Pondera a conduta dos apelados configura prática abusiva vedada pelo CDC, especialmente considerando sua condição de idosa analfabeta e aposentada. Pondera que os descontos indevidos realizados em sua conta bancária (R$ 770,39) comprometeram sua subsistência. E, pede a devolução em dobro desses valores. Argumenta que os descontos indevidos transcendem o mero dissabor, configurando dano moral, em especial por sua condição de consumidora hipervulnerável. Não foram apresentadas contrarrazões pelos apelados. É o relatório. V O T O R E L A T O R Eminentes pares: Conforme relatado, trata-se de recurso de apelação interposto pela autora, contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única de Poconé-MT, que julgou extinto o processo sem resolução de mérito, por ausência de interesse de agir, ante a não comprovação de requerimento administrativo válido. A controvérsia recursal cinge-se, essencialmente, à análise da necessidade de prévio requerimento administrativo como condição para o ajuizamento de ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais. O objeto da discussão são os descontos indevidos realizados na conta bancária da autora, destinada exclusivamente para recebimento do benefício previdenciário, sob título de “pagto eletron cobrança mbm previdência complementar”, no valor de R$ 62,28 por mês, no período entre 01/12/2021 a 01/02/2022. Analisando detidamente os autos, verifica-se que a apelante, pessoa idosa, analfabeta e aposentada, que recebe mensalmente apenas um salário-mínimo do INSS, ajuizou a presente ação visando cessar descontos que alega serem indevidos em sua conta bancária, realizados pelo Banco Bradesco SA e pela MBM Previdência Complementar, bem como obter a devolução desses valores e indenização por danos morais. De início, destaca-se que a questão preliminar levantada pela apelante merece acolhida, uma vez que o entendimento consolidado desta Quarta Câmara de Direito Privado é no sentido de que o prévio requerimento administrativo não constitui condição para o ajuizamento de ações que versem sobre relações de consumo, especialmente em se tratando de descontos indevidos em conta corrente. Com efeito, o acesso ao Poder Judiciário constitui garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo certo que a exigência de esgotamento da via administrativa, como regra geral, representa indevida limitação ao exercício desse direito. A Constituição Federal assegura a inafastabilidade da jurisdição, garantindo a todos o acesso ao Poder Judiciário em caso de lesão ou ameaça a direito, sendo indevida a exigência de prévia provocação administrativa para admissibilidade da demanda judicial. A jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Estaduais é firme no sentido de que o prévio requerimento administrativo não constitui condição para o exercício do direito de ação, sobretudo em demandas que discutem descontos indevidos em benefícios previdenciários, por força da falta de vínculo, não se aplicando o Tema648do STJ, por este enfatizar a necessidade de confortar o vínculo com prévio requerimento administrativo necessário para comprová-lo. No caso em apreço, observa-se que a apelante é pessoa idosa, analfabeta e hipossuficiente, que depende exclusivamente de benefício previdenciário para sua subsistência, o que evidencia sua vulnerabilidade agravada e torna ainda mais censurável a imposição de óbices processuais ao exame de seu pleito. Ademais, verifica-se que a apelante demonstrou ter tentado solucionar o problema administrativamente, conforme comprovante de reclamação junto ao Banco Central do Brasil acostado aos autos, não tendo obtido êxito por questões formais relacionadas à identificação no sistema eletrônico. Tais circunstâncias, por si só, já seriam suficientes para configurar o interesse de agir da apelante, sendo desarrazoada a extinção do processo sem resolução de mérito. Vale ressaltar que esta Câmara já firmou entendimento no sentido de que, em casos envolvendo consumidores hipervulneráveis, como idosos e analfabetos, a exigência de prévio requerimento administrativo deve ser relativizada, em respeito aos princípios da proteção integral do consumidor e da facilitação de sua defesa em juízo. Ademais, é importante destacar que não se vislumbra nos autos elementos que caracterizem litigância abusiva ou predatória por parte da apelante, que buscou o Judiciário como meio legítimo de proteção de seus direitos, após ver comprometida parte significativa de sua renda mensal por descontos que alega desconhecer a origem. O exercício regular do direito de ação, amparado por elementos mínimos que indicam a plausibilidade do direito invocado, não pode ser confundido com utilização abusiva do sistema judicial, sendo temerária a extinção prematura do processo sem a devida análise do mérito da causa. Impõe-se, portanto, a reforma da sentença, determinando-se o retorno dos autos à origem para o regular processamento do feito, com a análise do mérito da demanda, após a citação dos réus e a devida instrução processual. Nesse sentido: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. PRESTAÇÃO DE CONTAS. FUNDO 157. ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. Não constitui requisito para a aferição do interesse processual a comprovação do encaminhamento de requerimento administrativo daquilo que se postula judicialmente. 2. Agravo interno a que se nega provimento”. (STJ - AgInt no REsp: 1954342 RS 2021/0248738-0, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Julgamento: 21/02/2022, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/02/2022). A propósito: APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO DA LIDE SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO PRÉVIO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. FINALIDADE DE COMPROVAR O INTERESSE DE AGIR. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5º, XXXV, DA CF. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. RECURSO PROVIDO. (...) III. RAZÕES DE DECIDIR. O acesso à jurisdição independe do esgotamento da via administrativa, conforme estabelece o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo vedada a exigência de requerimento administrativo como condição para o exercício do direito de ação. A exigência de demonstração da pretensão resistida como requisito à propositura da ação não encontra respaldo legal nas hipóteses em que se discute relação contratual bancária e descontos em folha de pagamento decorrentes de operação não reconhecida. O descumprimento da determinação judicial de emenda da inicial, para juntar documento de prévio requerimento administrativo, não justifica a extinção do feito sem resolução do mérito, quando ausente previsão legal para tal exigência. IV. DISPOSITIVO E TESE. Recurso provido. Tese de julgamento: O ajuizamento de ação para discutir descontos indevidos decorrentes de contratação bancária supostamente não reconhecida independe de requerimento administrativo prévio. A ausência de demonstração da pretensão resistida não justifica a extinção do feito, quando não há exigência legal para tentativa prévia de solução administrativa da controvérsia. O princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, da CF) assegura o direito de acesso à jurisdição independentemente de esgotamento da via administrativa. (N.U 1002080-51.2025.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/06/2025, Publicado no DJE 30/06/2025) Diante do exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para anular a sentença e determinar o retorno dos autos à origem para o regular prosseguimento do feito. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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Processo nº 1049878-28.2024.8.11.0041

ID: 336490555

Tribunal: TJMT Órgão: Quarta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1049878-28.2024.8.11.0041

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO SA

Acórdão

Advogados:

PAULO EDUARDO PRADO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1049878-28.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1049878-28.2024.8.11.0041 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Capitalização e Previdência Privada] Relator: Des(a). SERLY MARCONDES ALVES Turma Julgadora: [DES(A). SERLY MARCONDES ALVES, DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO] Parte(s): [ISABEL CECILIA DA SILVA - CPF: 870.068.041-91 (APELANTE), ODENIL DO CARMO DE SOUZA - CPF: 812.740.091-20 (ADVOGADO), BANCO BRADESCO SA - CNPJ: 60.746.948/1298-24 (APELADO), PAULO EDUARDO PRADO - CPF: 130.886.688-70 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: PROVIDO, UNANIME E M E N T A DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C ANULAÇÃO DE CONTRATO, REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO DA LIDE SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. FALTA DE INTERESSE. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO PRÉVIO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. DESCONTOS INDEVIDOS EM CONTA DESTINADA A BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. EXIGÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5º, XXXV, DA CF. HIPERVULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO. SENTENÇA ANULADA. RECURSO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Recurso de apelação cível interposto por idosa, analfabeta e aposentada, contra sentença que extinguiu, sem resolução de mérito, ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais, ao fundamento de ausência de interesse de agir, em razão da não comprovação de prévio requerimento administrativo. A autora alega descontos indevidos em sua conta bancária no valor de R$ 62,28 mensais, entre dezembro/2021 e fevereiro/2022, comprometendo sua subsistência. Pretende a reforma da sentença para o regular prosseguimento do feito, com análise do mérito. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) definir se o ajuizamento da ação para discutir descontos indevidos depende de requerimento administrativo prévio; (ii) estabelecer se a situação de hipervulnerabilidade da autora afasta eventual exigência de demonstração da pretensão resistida para configurar o interesse de agir. III. RAZÕES DE DECIDIR O acesso ao Poder Judiciário constitui garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo indevida a exigência de esgotamento da via administrativa como condição para o exercício do direito de ação. Em ações que versem sobre relação de consumo, especialmente envolvendo descontos indevidos em conta bancária destinada a benefício previdenciário, o prévio requerimento administrativo não se configura como pressuposto de admissibilidade da demanda. A jurisprudência do STJ e do TJMT é firme no sentido de que o interesse de agir está presente quando há plausibilidade na narrativa de lesão ao direito, sendo dispensável a demonstração da pretensão resistida em hipóteses como a dos autos. A hipervulnerabilidade da autora – pessoa idosa, analfabeta e dependente exclusivamente de benefício previdenciário – impõe interpretação protetiva, relativizando formalidades processuais e reforçando a necessidade de apreciação judicial do mérito. A tentativa frustrada de solução administrativa por meio de reclamação ao Banco Central evidencia diligência da autora e reforça a presença do interesse de agir, sendo desarrazoada a extinção do feito sem exame do mérito. Não se verifica litigância predatória ou abusiva, mas sim uso legítimo do direito de ação diante de conduta bancária que compromete a subsistência da consumidora. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso provido. Tese de julgamento: O ajuizamento de ação para discutir descontos indevidos em conta destinada a benefício previdenciário independe de prévio requerimento administrativo. A hipervulnerabilidade do consumidor impõe interpretação protetiva das condições da ação, sendo desnecessária a demonstração da pretensão resistida para configuração do interesse de agir. O princípio da inafastabilidade da jurisdição assegura o direito de acesso ao Judiciário mesmo na ausência de tentativa prévia de solução administrativa. Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 5º, XXXV; CPC, art. 485, I; CDC, arts. 4º, I e 6º, VIII. Jurisprudência relevante citada: STJ, AgInt no REsp 1954342/RS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, j. 21.02.2022; TJMT, Apelação Cível n. 1002080-51.2025.8.11.0004, Quarta Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 30.06.2025. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL N. 1049878-28.2024.8.11.0041 ISABEL CECILIA DA SILVA X BANCO BRADESCO S/A Eminentes pares: Trata-se de recurso de apelação cível, interposto por ISABEL CECILIA DA SILVA, com o fito de reformar a sentença, proferida pelo Juízo da Vara Única de Poconé-MT, que julgou extinta sem resolução de mérito a ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais, ajuizada em face de BRADESCO S/A, nos termos do art. 485, inc. I, do CPC, por ausência de interesse de agir, uma vez que a parte autora não teria comprovado requerimento administrativo válido. Irresignada, a apelante pretende a reforma da sentença para que seja determinado o regular prosseguimento do feito, com análise do mérito da demanda. Sustenta, preliminarmente, que o direito de acesso à justiça constitui pilar do Estado Democrático de Direito, sendo inconstitucional a exigência de esgotamento da via administrativa como condição para o processamento da ação, inclusive alega que é nesse sentido o posicionamento do STF. Argumenta que acostou comprovações documentais de que buscou solucionar o problema junto ao Banco Central (BACEN), no entanto, não teve a reclamação analisada por questões formais que não lhe podem ser imputadas como culpa. Afirma que não se configura litigância abusiva sua conduta, sendo a ação uma medida extrema e necessária para cessar descontos indevidos em sua conta bancária. Pondera a conduta dos apelados configura prática abusiva vedada pelo CDC, especialmente considerando sua condição de idosa analfabeta e aposentada. Pondera que os descontos indevidos realizados em sua conta bancária (R$ 770,39) comprometeram sua subsistência. E, pede a devolução em dobro desses valores. Argumenta que os descontos indevidos transcendem o mero dissabor, configurando dano moral, em especial por sua condição de consumidora hipervulnerável. Não foram apresentadas contrarrazões pelos apelados. É o relatório. V O T O R E L A T O R Eminentes pares: Conforme relatado, trata-se de recurso de apelação interposto pela autora, contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única de Poconé-MT, que julgou extinto o processo sem resolução de mérito, por ausência de interesse de agir, ante a não comprovação de requerimento administrativo válido. A controvérsia recursal cinge-se, essencialmente, à análise da necessidade de prévio requerimento administrativo como condição para o ajuizamento de ação declaratória de inexistência de débito cumulada com anulação de contrato, repetição de indébito e indenização por danos morais. O objeto da discussão são os descontos indevidos realizados na conta bancária da autora, destinada exclusivamente para recebimento do benefício previdenciário, sob título de “pagto eletron cobrança mbm previdência complementar”, no valor de R$ 62,28 por mês, no período entre 01/12/2021 a 01/02/2022. Analisando detidamente os autos, verifica-se que a apelante, pessoa idosa, analfabeta e aposentada, que recebe mensalmente apenas um salário-mínimo do INSS, ajuizou a presente ação visando cessar descontos que alega serem indevidos em sua conta bancária, realizados pelo Banco Bradesco SA e pela MBM Previdência Complementar, bem como obter a devolução desses valores e indenização por danos morais. De início, destaca-se que a questão preliminar levantada pela apelante merece acolhida, uma vez que o entendimento consolidado desta Quarta Câmara de Direito Privado é no sentido de que o prévio requerimento administrativo não constitui condição para o ajuizamento de ações que versem sobre relações de consumo, especialmente em se tratando de descontos indevidos em conta corrente. Com efeito, o acesso ao Poder Judiciário constitui garantia fundamental prevista no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo certo que a exigência de esgotamento da via administrativa, como regra geral, representa indevida limitação ao exercício desse direito. A Constituição Federal assegura a inafastabilidade da jurisdição, garantindo a todos o acesso ao Poder Judiciário em caso de lesão ou ameaça a direito, sendo indevida a exigência de prévia provocação administrativa para admissibilidade da demanda judicial. A jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Estaduais é firme no sentido de que o prévio requerimento administrativo não constitui condição para o exercício do direito de ação, sobretudo em demandas que discutem descontos indevidos em benefícios previdenciários, por força da falta de vínculo, não se aplicando o Tema648do STJ, por este enfatizar a necessidade de confortar o vínculo com prévio requerimento administrativo necessário para comprová-lo. No caso em apreço, observa-se que a apelante é pessoa idosa, analfabeta e hipossuficiente, que depende exclusivamente de benefício previdenciário para sua subsistência, o que evidencia sua vulnerabilidade agravada e torna ainda mais censurável a imposição de óbices processuais ao exame de seu pleito. Ademais, verifica-se que a apelante demonstrou ter tentado solucionar o problema administrativamente, conforme comprovante de reclamação junto ao Banco Central do Brasil acostado aos autos, não tendo obtido êxito por questões formais relacionadas à identificação no sistema eletrônico. Tais circunstâncias, por si só, já seriam suficientes para configurar o interesse de agir da apelante, sendo desarrazoada a extinção do processo sem resolução de mérito. Vale ressaltar que esta Câmara já firmou entendimento no sentido de que, em casos envolvendo consumidores hipervulneráveis, como idosos e analfabetos, a exigência de prévio requerimento administrativo deve ser relativizada, em respeito aos princípios da proteção integral do consumidor e da facilitação de sua defesa em juízo. Ademais, é importante destacar que não se vislumbra nos autos elementos que caracterizem litigância abusiva ou predatória por parte da apelante, que buscou o Judiciário como meio legítimo de proteção de seus direitos, após ver comprometida parte significativa de sua renda mensal por descontos que alega desconhecer a origem. O exercício regular do direito de ação, amparado por elementos mínimos que indicam a plausibilidade do direito invocado, não pode ser confundido com utilização abusiva do sistema judicial, sendo temerária a extinção prematura do processo sem a devida análise do mérito da causa. Impõe-se, portanto, a reforma da sentença, determinando-se o retorno dos autos à origem para o regular processamento do feito, com a análise do mérito da demanda, após a citação dos réus e a devida instrução processual. Nesse sentido: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. PRESTAÇÃO DE CONTAS. FUNDO 157. ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. DECISÃO MANTIDA. 1. Não constitui requisito para a aferição do interesse processual a comprovação do encaminhamento de requerimento administrativo daquilo que se postula judicialmente. 2. Agravo interno a que se nega provimento”. (STJ - AgInt no REsp: 1954342 RS 2021/0248738-0, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de Julgamento: 21/02/2022, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/02/2022). A propósito: APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO DA LIDE SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO PRÉVIO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. FINALIDADE DE COMPROVAR O INTERESSE DE AGIR. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5º, XXXV, DA CF. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. RECURSO PROVIDO. (...) III. RAZÕES DE DECIDIR. O acesso à jurisdição independe do esgotamento da via administrativa, conforme estabelece o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, sendo vedada a exigência de requerimento administrativo como condição para o exercício do direito de ação. A exigência de demonstração da pretensão resistida como requisito à propositura da ação não encontra respaldo legal nas hipóteses em que se discute relação contratual bancária e descontos em folha de pagamento decorrentes de operação não reconhecida. O descumprimento da determinação judicial de emenda da inicial, para juntar documento de prévio requerimento administrativo, não justifica a extinção do feito sem resolução do mérito, quando ausente previsão legal para tal exigência. IV. DISPOSITIVO E TESE. Recurso provido. Tese de julgamento: O ajuizamento de ação para discutir descontos indevidos decorrentes de contratação bancária supostamente não reconhecida independe de requerimento administrativo prévio. A ausência de demonstração da pretensão resistida não justifica a extinção do feito, quando não há exigência legal para tentativa prévia de solução administrativa da controvérsia. O princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, da CF) assegura o direito de acesso à jurisdição independentemente de esgotamento da via administrativa. (N.U 1002080-51.2025.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/06/2025, Publicado no DJE 30/06/2025) Diante do exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para anular a sentença e determinar o retorno dos autos à origem para o regular prosseguimento do feito. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 23/07/2025

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Valdenir Teixeira Neves x Banco Mercantil Do Brasil S.A.

ID: 259117766

Tribunal: TJMT Órgão: 1º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA Nº Processo: 1035441-02.2024.8.11.0002

Data de Disponibilização: 23/04/2025

Polo Ativo:

VALDENIR TEIXEIRA NEVES

Polo Passivo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL S.A.

Sentença

Advogados:

HIVERSON LUIZ GOMES DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

BREINER RICARDO DINIZ RESENDE MACHADO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE CumSen: 1035441-02.2024.8.11.0002 Parte credora: Valdenir Teixeira Neves Parte devedora: Banco Mercantil do Brasil S.A. SEN… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1º JUIZADO ESPECIAL DE VÁRZEA GRANDE CumSen: 1035441-02.2024.8.11.0002 Parte credora: Valdenir Teixeira Neves Parte devedora: Banco Mercantil do Brasil S.A. SENTENÇA Trata-se de Embargos à Execução em que a parte devedora não ofereceu a segurança do juízo no momento de sua oposição, motivo pelo qual a rejeição deste é a medida que se impõe. Isso porque, “É obrigatória a segurança do Juízo pela penhora para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial perante o Juizado Especial.” (ENUNCIADO 117 do FONAJE). Nesse sentido, não se pode olvidar que “O art. 914 do Código de Processo Civil dispensou a garantia do juízo para oferecimento de embargos. Essa regra, entretanto, não é aplicável aos Juizados Especiais, pois a Lei nº 9.099/95 prevê expressamente a penhora como pressuposto para oferecimento de embargos. O artigo 53, § 1°, dispõe: “efetuada a penhora, o devedor será intimado a comparecer à audiência de conciliação, quando poderá oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.”. Logo, no procedimento especial, os embargos somente serão recebidos, inclusive na fase de cumprimento de sentença, depois de garantido o Juízo com a penhora de bens suficientes para satisfação da obrigação. Ressalva-se, é claro, a hipótese de alegação de matéria de ordem pública, da qual o juiz poderá conhecer de ofício. Sobrelevam-se, pois, as alterações feitas pela Lei nº 9.099/95, que prevalece sobre o mencionado Código.” (Os enunciados cíveis do Fonaje e seus fundamentos/ Maria do Carmo Honório; Erick Linhares; Guilherme Ribeiro Baldan (organizadores). Porto Velho-RO. Emeron, 2017. Página 73). No mesmo sentido leciona o ilustre professor Araken Assis em sua valorosa obra Execução Civil nos Juizados Especiais: “A despeito de o art. 919, § 1.º, do CPC ter dispensado a prévia segurança do juízo, requisito apenas da concessão do efeito suspensivo, tal sistemática não se aplica nos juizados especiais. Isso decorre, explicitamente, do art. 53, § 1.º, da Lei 9.099/1995 (‘Efetuada a penhora...’). Estabelece o Enunciado 117: ‘É obrigatória a segurança do juízo pela penhora para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial perante o Juizado Especial’. Vale, pois, o quanto se afirmou no sistema anterior, in verbis: ‘O sistema processual que rege a execução por quantia certa, salvo as exceções legais, exige a segurança do juízo como pressuposto para o oferecimento dos embargos do devedor’ Cuida-se de pressuposto processual, objetivo e extrínseco. A sua inexistência apenas posterga o juízo de admissibilidade dos embargos ao seu ulterior preenchimento.” Por igual talho, exaustivamente a Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso: “[...] Nos termos do § 1º do artigo 53 da Lei n. 9.099/95, os embargos à execução podem ser opostos mediante a garantia do juízo. 2. No caso, a parte recorrente não comprovou no momento oportuno que garantiu o juízo da execução, requisito essencial para o recebimento dos embargos à execução no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis. 3. Incidência do Enunciando nº 117 do FONAJE que exige a segurança do Juízo pela penhora para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial. 4. Não preenchidos os pressupostos de admissibilidade, não podem ser recebidos os embargos à execução opostos. [...]” (N.U 1047803-44.2021.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, VALDECI MORAES SIQUEIRA, Turma Recursal Única, Julgado em 03/05/2022, Publicado no DJE 05/05/2022). “É obrigatória a segurança do Juízo, por penhora ou recolhimento voluntário, para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial perante o Juizado Especial, conforme o teor do (Enunciado 117, do FONAJE) e do artigo 53, §1º, da Lei n. 9.099/95. [...] Não somente a garantida do juízo é imprescindível, assim como o é também a sua comprovação nos autos. [...]” (N.U 1026449-94.2020.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, LUCIA PERUFFO, Turma Recursal Única, Julgado em 29/06/2021, Publicado no DJE 01/07/2021). “O § 1º do artigo 53 da Lei n. 9.099/95, determina que os embargos à execução podem ser opostos mediante a garantia do juízo. Incidência do Enunciando nº 117 do FONAJE que exige a segurança do Juízo pela penhora para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial.” (N.U 1009974-63.2020.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, ANTONIO VELOSO PELEJA JUNIOR, Turma Recursal Única, Julgado em 15/10/2020, Publicado no DJE 18/10/2020) “De acordo com o Enunciado nº 117 do FONAJE é obrigatória a segurança do Juízo pela penhora para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial perante o Juizado Especial.” (N.U 1002080-50.2019.8.11.0040, TURMA RECURSAL CÍVEL, VALMIR ALAERCIO DOS SANTOS, Turma Recursal Única, Julgado em 10/12/2019, Publicado no DJE 11/12/2019). Como se observa, no âmbito dos Juizados Especiais a lei de regência (Lei nº 9.099/95) condiciona o oferecimento de segurança do Juízo para apresentação de embargos à execução de título judicial ou extrajudicial. Cuida-se de pressuposto processual, objetivo e extrínseco. A sua inexistência apenas posterga o juízo de admissibilidade dos embargos ao seu ulterior preenchimento. Dispositivo. Diante do exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, proponho julgar improcedente os embargos à execução face a ausência de segurança do juízo, e por oportuno: 1. Reconhecer como valor total devido pela parte devedora à parte credora a importância de R$1.867,21 (um mil oitocentos e sessenta e sete reais, vinte e um centavos).; 2. Intimar da parte devedora, para no prazo de 15 (quinze) dias, efetuar o pagamento voluntário e comprovar nos autos, sob pena de penhora forçada, e; 3. Decorrido o prazo concedido à parte devedora, sem manifestação, renove-se a conclusão. Sem custas processuais e sem honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54 e 55, ambos da Lei nº 9.099/95. Submeto o presente projeto de decisão à homologação da Magistrada Togada, para que surta os efeitos legais previstos no artigo 40 da Lei nº 9.099/95. Francys Loide Lacerda da Silva Juíza Leiga Homologo, para que surtam seus jurídicos e legais efeitos, o Projeto de Sentença elaborado pela Juíza Leiga deste Juizado Especial. Preclusas as vias recursais, intimem-se novamente as partes, agora, para que, no prazo de 5 (cinco) dias, requeiram o que entenderem de direito, sob pena dos autos serem encaminhados ao arquivo. Tudo cumprido, arquive-se, com as cautelas de estilo, dando-se baixa na distribuição. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Várzea grande, datado e assinado eletronicamente. MARILZA APARECIDA VITÓRIO Juíza de Direito

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Processo nº 1000781-33.2025.8.11.0006

ID: 332209768

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1000781-33.2025.8.11.0006

Data de Disponibilização: 23/07/2025

Polo Ativo:

FELIPE DE ARAUJO E SOUZA

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

CHRISLAYNE KARINE FERREIRA LOPES

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1000781-33.2025.8.11.0006 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1000781-33.2025.8.11.0006 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Bancários] Relator: Des(a). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO Turma Julgadora: [DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES, DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA] Parte(s): [FELIPE DE ARAUJO E SOUZA - CPF: 007.492.741-82 (APELANTE), CHRISLAYNE KARINE FERREIRA LOPES - CPF: 043.467.281-54 (ADVOGADO), BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. - CNPJ: 07.207.996/0001-50 (APELADO), NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES - CPF: 668.018.009-06 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU O RECURSO. E M E N T A DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. INTERESSE DE AGIR. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. PRETENSÃO RESISTIDA CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. I. Caso em exame 1. Apelação interposta contra sentença que extinguiu, sem resolução de mérito, ação declaratória de inexistência de débito cumulada com indenização por danos materiais e morais e pedido de tutela de urgência, sob o fundamento de ausência de interesse de agir. O autor alega descontos indevidos em conta bancária vinculados a empréstimos não contratados. II. Questão em discussão 2. A questão em discussão consiste em saber se a ausência de requerimento administrativo prévio inviabiliza o interesse de agir em ações consumeristas que visam a declaração de inexistência de débito e reparação por danos decorrentes de descontos bancários supostamente indevidos. III. Razões de decidir 3. O princípio da inafastabilidade da jurisdição assegura o direito de acesso à justiça independentemente de esgotamento da via administrativa (CF/1988, art. 5º, XXXV). 4. A relação jurídica é regida pelo Código de Defesa do Consumidor, que garante proteção ampla ao consumidor, especialmente quanto ao acesso ao Judiciário. 5. Comprovada a tentativa de solução administrativa via PROCON e o conhecimento prévio do litígio pelo banco, inclusive por meio de ação anterior, caracteriza-se pretensão resistida. 6. A jurisprudência desta Corte reconhece que o requerimento administrativo não é pressuposto para propositura de ação em demandas dessa natureza. IV. Dispositivo e tese 7. Recurso provido. Tese de julgamento: "1. É desnecessária a comprovação de requerimento administrativo prévio para caracterizar o interesse de agir em ações consumeristas que visam à declaração de inexistência de débito. 2. A existência de descontos bancários não autorizados e de litígios anteriores evidencia a pretensão resistida e legitima o acesso direto ao Poder Judiciário." Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 5º, incs. XXXV e LXXIV; CPC, arts. 98, 99, §2º; CDC, arts. 6º, incs. III, VII e VIII, e 14. Jurisprudência relevante citada: TJMT, Apelação Cível n. 1004592-07.2025.8.11.0004, Rel. Des. Sebastião de Arruda Almeida, j. 23/06/2025; Apelação Cível n. 1013573-53.2024.8.11.0006, Rel. Des. Marcos Regenold Fernandes, j. 30/04/2025; Apelação Cível n. 1002080-51.2025.8.11.0004, Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, j. 30/06/2025. R E L A T Ó R I O EXMO. DES. LUIZ OCTÁVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO Egrégia Câmara: Cuida-se de recurso de apelação interposto por FELIPE DE ARAUJO E SOUZA contra BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A., com o objetivo de reformar a sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Cáceres/MT, no bojo da ação declaratória de inexistência de débito cumulada com pedido de indenização por danos materiais e morais e tutela de urgência nº 1000781-33.2025.8.11.0006, extinguiu o feito sem resolução de mérito por alegada ausência de interesse de agir. Conforme documentação constante nos autos, o Apelante, aposentado e pensionista, foi surpreendido, em setembro de 2021, com descontos indevidos em sua conta bancária referentes a supostos empréstimos pessoais não contratados junto ao Banco Bradesco Financiamentos S.A., ora Apelado. Os valores, segundo o Apelante, teriam sido creditados em sua conta, mas os contratos que ensejaram os descontos mensais carecem de sua assinatura, sendo que em outros processos judiciais já foram comprovadas fraudes em suas assinaturas por meio de perícias. Em face desses descontos, o Apelante ajuizou, inicialmente, ação perante o Juizado Especial Cível da Comarca de Cáceres/MT, sob o número 1000916-50.2022.8.11.0006. Contudo, o referido processo foi extinto sem resolução de mérito, nos termos do art. 3º, caput, c/c art. 51, II, da Lei n.º 9.099/95, ante a necessidade de produção de perícia grafotécnica para aferir a veracidade da assinatura lançada nos contratos, prova incompatível com o rito sumaríssimo dos Juizados Especiais. Diante do trânsito em julgado de tal decisão, e permanecendo os descontos indevidos, o Apelante propôs a presente demanda perante a Justiça Comum. A petição inicial foi instruída com declaração de hipossuficiência e comprovantes de rendimentos que indicam o recebimento de aproximadamente dois salários-mínimos, mas com descontos que reduzem o valor líquido percebido pelo Apelante. A parte requerente também apresentou documento de abertura de CIP no PROCON em 2021. A sentença objurgada extinguiu o processo sem resolução de mérito, sob o fundamento de que a parte autora não teria demonstrado prévia tentativa extrajudicial de solução da controvérsia, carecendo, assim, de interesse de agir. Inconformado, o Apelante interpôs o presente recurso, reiterando o pedido de concessão dos benefícios da justiça gratuita, ao argumento de que preenche os requisitos legais. Outrossim, pugnou pela reforma da sentença quanto à ausência de interesse de agir, sustentando a desnecessidade de esgotamento da via administrativa para o acesso ao Poder Judiciário, especialmente em relações consumeristas, e que, ademais, já havia buscado o PROCON, e a parte adversa já tinha ciência do litígio desde a ação anterior nos Juizados. Não foram apresentadas contrarrazões. Desnecessária a intervenção ministerial, nos termos do art. 178 do CPC. É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMO. DES. LUIZ OCTÁVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO Egrégia Câmara: Conforme relatado, cuida-se de recurso de apelação interposto por FELIPE DE ARAUJO E SOUZA contra BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A., com o objetivo de reformar a sentença proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Cáceres/MT, no bojo da ação declaratória de inexistência de débito cumulada com pedido de indenização por danos materiais e morais e tutela de urgência nº 1000781-33.2025.8.11.0006, extinguiu o feito sem resolução de mérito por alegada ausência de interesse de agir. Presentes os demais pressupostos de admissibilidade recursal, tanto os intrínsecos (cabimento, legitimidade, interesse recursal e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer) quanto os extrínsecos (tempestividade, preparo e regularidade formal), conheço do recurso. Insta consignar, de início, que a controvérsia se submete às normas do Código de Defesa do Consumidor de acordo com a Súmula 297 do STJ, atraindo a incidência da responsabilidade civil objetiva, nos termos do art. 14 do CDC, bem como a inversão do ônus da prova, com fundamento no art. 6º, VIII, do mesmo diploma legal. · DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA Conforme consta dos autos, a autora é beneficiária da Previdência Social e afirma jamais ter celebrado o referido contrato, sustentando que os descontos incidentes sobre seu benefício decorrem de relação contratual inexistente. O benefício da justiça gratuita exige prova inequívoca da insuficiência de recursos, conforme previsto no art. 98 do CPC e no art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, não bastando mera declaração unilateral de pobreza quando há elementos que suscitam dúvida quanto à real situação financeira do requerente. Nos termos de o §2º do art. 99 do CPC estabelece que "o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos". No caso em apreço, o Apelante, FELIPE DE ARAUJO E SOUZA demonstrou, por meio de extratos bancários e comprovantes de rendimentos, ser aposentado e pensionista (Id. 296405353), com percepção de valores próximos a dois salários-mínimos, os quais, em razão de descontos, se reduzem a patamares ainda menores. Essa documentação corrobora a alegação de incapacidade de arcar com as custas e despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua família. Portanto, diante da comprovação da hipossuficiência financeira e da ausência de elementos que ilidam a presunção legal, impõe-se o deferimento do benefício da justiça gratuita ao Apelante. · MÉRITO A questão central do mérito recursal reside na exigibilidade ou não de prévio requerimento administrativo como condição para o regular exercício do direito de ação, especificamente em demandas consumeristas que buscam a declaração de inexistência de débito e indenização por danos materiais e morais. O juízo de primeira instância, ao extinguir o processo sem resolução de mérito, fundamentou sua decisão na ausência de interesse de agir do Apelante, por entender que não houve demonstração de pretensão resistida em esfera administrativa. Em análise detida dos fatos e da fundamentação jurídica aplicável, verifica-se que a decisão a quo merece reforma. Primeiramente, cumpre destacar o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, consagrado no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, que preceitua: "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". O dispositivo revela-se princípio fundamental que assegura a todos o amplo e irrestrito acesso ao Judiciário para a defesa de seus direitos, sem que o exaurimento da via administrativa seja, em regra, uma condição sine qua non para a propositura de uma demanda judicial. No presente caso, a relação jurídica estabelecida entre as partes é inequivocamente de consumo, na qual o Apelante se apresenta como consumidor e o Banco Apelado como fornecedor de serviços. O Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90) reconhece a vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor no mercado e, em seu artigo 6º, incisos III e VII, garante-lhe a efetiva prevenção e reparação de danos, bem como o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à proteção de seus direitos. Essa sistemática normativa visa facilitar a defesa dos direitos do consumidor, não impor entraves ao seu acesso à justiça. Ademais, a análise dos autos revela que o Apelante, em conformidade com o devido processo legal e com a boa-fé que se espera das partes, buscou a solução da controvérsia em esfera extrajudicial antes de propor a presente ação. Conforme documentado, o Apelante registrou junto ao PROCON em 2021 (Id. 292242864). Essa iniciativa demonstra uma clara tentativa de resolução amigável do conflito, caracterizando a pretensão resistida. Outrossim, a existência de uma ação prévia no Juizado Especial Cível (autos n. 1000916-50.2022.8.11.0006 – ID.292242868), na qual o Apelado apresentou contestação e teve plena ciência da insurgência do Apelante quanto aos descontos e à autenticidade das assinaturas nos contratos, reforça a tese de que a lide já era conhecida da instituição financeira. A sentença proferida naquele feito, que extinguiu o processo pela necessidade de perícia grafotécnica, e não por ausência de requerimento administrativo, evidencia a existência de um litígio consolidado entre as partes, que demandava, e ainda demanda, a intervenção do Poder Judiciário para sua resolução. A jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso, inclusive, tem se posicionado reiteradamente no sentido da desnecessidade de esgotamento da via administrativa como condição para o ajuizamento de ações em matéria consumerista, sob pena de violação ao princípio da inafastabilidade da jurisdição. Nesse sentido, conforme citado pelo próprio Apelante, este Tribunal já se manifestou: EMENTA. DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. INTERESSE DE AGIR. DESNECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR AUSÊNCIA DE DOCUMENTO. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA CASSADA. RECURSO PROVIDO. Tese de julgamento: "1. É prescindível a comprovação de prévio requerimento administrativo para a caracterização do interesse de agir em ações declaratórias de inexistência de débito. 2. O indeferimento da petição inicial por ausência de documento que comprove a resistência à pretensão viola o princípio da inafastabilidade da jurisdição e o devido processo legal." (N.U 1004592-07.2025.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, Quinta Câmara de Direito Privado, Julgado em 23/06/2025, Publicado no DJE 23/06/2025n – grifo nosso) RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PRETENSÃO RESISTIDA. EXCESSO DE FORMALISMO. DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTOP ADMINISTRATIVO PRÉVIO. RECURSO PROVIDO. Tese de julgamento: 1. A ausência de requerimento administrativo prévio ou de comprovação de pretensão resistida não constitui motivo suficiente para indeferimento da petição inicial e extinção do processo sem resolução de mérito. 2. Configura excesso de formalismo a exigência de prova de tentativa extrajudicial de resolução do conflito como condição para o exercício do direito de ação. 3. O princípio da inafastabilidade da jurisdição impede que o acesso ao Judiciário seja condicionado à atuação administrativa prévia da parte autora. (N.U 1013573-53.2024.8.11.0006, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARCOS REGENOLD FERNANDES, Quinta Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/04/2025, Publicado no DJE 30/04/2025 – grifo nosso). APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. EXTINÇÃO DA LIDE SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. AUSÊNCIA DE JUNTADA DO PRÉVIO REQUERIMENTO NA VIA ADMINISTRATIVA. FINALIDADE DE COMPROVAR O INTERESSE DE AGIR. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. ART. 5º, XXXV, DA CF. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. RECURSO PROVIDO. Tese de julgamento: O ajuizamento de ação para discutir descontos indevidos decorrentes de contratação bancária supostamente não reconhecida independe de requerimento administrativo prévio. A ausência de demonstração da pretensão resistida não justifica a extinção do feito, quando não há exigência legal para tentativa prévia de solução administrativa da controvérsia. O princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, da CF) assegura o direito de acesso à jurisdição independentemente de esgotamento da via administrativa. (N.U 1002080-51.2025.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 30/06/2025, Publicado no DJE 30/06/2025 – grifo nosso) Dessa forma, a exigência de um prévio requerimento administrativo, como condição para o exercício do direito de ação em um caso como o presente, representa um obstáculo injustificado ao acesso à justiça, violando preceitos constitucionais e infraconstitucionais. A pretensão resistida, nesse contexto, não se limita a um protocolo formal de solicitação administrativa não atendida, mas se configura pela própria conduta da instituição financeira em efetuar descontos sem autorização e pela manifestação inequívoca de sua oposição à pretensão do consumidor, seja em âmbito administrativo ou em processos judiciais pretéritos. Ante o exposto, CONHEÇO do recurso de apelação e lhe DOU PROVIMENTO para deferir os benefícios da justiça gratuita ao Apelante, FELIPE DE ARAUJO E SOUZA, nos termos do artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil e cassar a sentença recorrida e determinar o retorno dos autos ao juízo de origem para o seu regular processamento. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 22/07/2025

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