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Quezia Iracema Gomes Borges x Tam Linhas Aéreas S.A.

ID: 315027117

Tribunal: TJMT Órgão: JUIZADOS ESPECIAIS DE PRIMAVERA DO LESTE Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1010279-94.2024.8.11.0037

Data de Disponibilização: 03/07/2025

Polo Ativo:

QUEZIA IRACEMA GOMES BORGES

Polo Passivo:

TAM LINHAS AÉREAS S.A.

Sentença

Advogados:

FABIO RIVELLI

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ARACELLY COUTO MACEDO MATTOS

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ARIANE KELEM ARCANGELA ARRUDA

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ADRIANO VIEIRA DAMACENO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO JUIZADOS ESPECIAIS DE PRIMAVERA DO LESTE SENTENÇA Processo: 1010279-94.2024.8.11.0037. ADMINISTRADOR(A) JUDICIAL: QUEZIA IRACEMA GOMES BORGES ADMINISTRADOR(A) J… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO JUIZADOS ESPECIAIS DE PRIMAVERA DO LESTE SENTENÇA Processo: 1010279-94.2024.8.11.0037. ADMINISTRADOR(A) JUDICIAL: QUEZIA IRACEMA GOMES BORGES ADMINISTRADOR(A) JUDICIAL: TAM LINHAS AÉREAS S.A. Vistos etc. Ausente o relatório, com fulcro no artigo 38 da Lei n.º 9.099/1995. Fundamento. Decido. Cumpre anotar que o caso em apreço é hipótese que comporta o julgamento imediato do mérito, nos termos do inciso I do artigo 355 do CPC, não havendo, a necessidade de dilação probatória. QUEZIA IRACEMA GOMES BORGES ajuizou ação de indenização por danos morais contra LATAM LINHAS AÉREAS S.A., alegando atraso em voo contratado para o trecho São Paulo-Cuiabá, programado para o dia 19/08/2024, às 12h15min, com previsão de chegada às 13h35min. Contudo, houve atraso superior a 11 horas, ocasionando transtornos significativos à rotina da autora e de sua família, inclusive no descanso necessário para o trabalho do esposo no dia seguinte, além de frustração quanto a reservas de hospedagem, afetando sua dignidade. A parte ré apresentou contestação, aduzindo que o atraso decorreu de condições climáticas adversas — caso fortuito ou força maior — e que prestou a devida assistência conforme previsto na Resolução nº 400 da ANAC, motivo pelo qual não haveria dever de indenizar. Argumentou, ainda, que não houve prova de dano moral efetivo, pugnando pela improcedência do pedido. A parte autora apresentou impugnação, reiterando a tese de falha na prestação do serviço e destacando a responsabilidade objetiva da ré, bem como o dever de indenizar os danos morais, cuja configuração prescinde de prova. É o relatório. Decido. Não havendo arguição de preliminares, nem vislumbrando questões de nulidades passo a análise do mérito. O feito comporta julgamento antecipado do mérito, nos termos do art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil, por se tratar de matéria de direito e de fato suficientemente comprovada pela documentação juntada aos autos, sendo desnecessária a produção de outras provas. A relação jurídica entre as partes é de consumo, sendo a autora consumidora e a ré fornecedora de serviço de transporte aéreo, atraindo a incidência das normas do Código de Defesa do Consumidor, especialmente o art. 14, que consagra a responsabilidade objetiva do fornecedor por falhas na prestação do serviço, independentemente de culpa. Conforme os autos, a requerida reconhece que houve atraso no voo, de mais de 11 horas. Justifica o ocorrido com base em condições climáticas adversas, amparando-se no art. 256 do Código Brasileiro de Aeronáutica, e alega tratar-se de fortuito externo, apto a afastar o nexo de causalidade. Não obstante eventuais questões relacionadas a condições climáticas possam ser consideradas como casos fortuitos, este juízo entende que, de forma diversa das alegações defensivas, a situação narrada não é estranha às atividades típicas desenvolvidas pela requerida, consistindo em um verdadeiro fortuito interno. Apesar da demandada ter sustentado que os fatos relacionados ao atraso no voo ocorreram em decorrência de condições meteorológicas desfavoráveis, entendo que não há como este juízo deixar de reconhecer que houve uma falha na prestação dos seus serviços. O entendimento consolidado na jurisprudência nacional, especialmente do Superior Tribunal de Justiça, é de que o cancelamento ou atraso de voo decorrente de condições climáticas configura fortuito interno, inerente à atividade de transporte aéreo, o que não afasta a responsabilidade do fornecedor. Assim, impõe-se à companhia aérea o dever de minimizar os danos causados ao consumidor, com assistência adequada e prestação de informações claras e tempestivas. Logo, por tratar de um fato intrínseco à prestação do serviço de transporte aéreo, entendo que as considerações insertas na contestação não podem ser utilizadas como pretexto para eximir a companhia ré de suas obrigações, ou seja, cumprir o contrato de transporte aéreo nos termos originalmente pactuados, consoante artigo 737 do Código Civil, in verbis: “Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.”. (Destaquei). Acerca do tema, oportuno transcrever os ensinamentos do doutrinador Bruno Miragem (Miragem, Bruno. Curso de direito do consumidor – 6. Ed. ver., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 614/615): “Todavia, refira-se, que no direito do consumidor, considerando que o regime de responsabilidade objetiva tem por fundamento o profissionalismo dos fornecedores e a existência do defeito, admite-se atualmente a distinção entre caso fortuito interno e caso fortuito externo, segundo os termos que já estabelecemos acima. Nesse sentido, de regra só é considerada excludente da responsabilidade do fornecedor o chamado caso fortuito externo, ou seja, quando o evento que dá causa ao dano é estranho à atividade típica, profissional, do fornecedor. Apenas nesta condição estará apta a promover o rompimento do nexo de causalidade, afastando totalmente a conduta do fornecedor como causadora do dano sofrido pelo consumidor. (...)”. (Destaquei). Nesse mesmo sentido, colaciono abaixo, por analogia, a jurisprudência do TJRJ: “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRANSPORTE AÉREO. VIAGEM DOMÉSTICA. ATRASO DE VOO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. DANOS MORAIS FIXADOS EM R$ 8 .000,00. RECURSO DA RÉ. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ADVERSAS. NECESSIDADE DE READEQUAÇÃO DA MALHA AEROVIÁRIA. ATIVIDADE DE NAVEGAÇÃO AÉREA SUJEITA A CONTINGÊNCIAS DE ORDEM CLIMÁTICA E OPERACIONAL. RECORRENTE QUE SE LIMITOU A APRESENTAR TELA SISTÊMICA PARA DEMONSTRAR O ATRASO, ESPECIFICAMENTE, DO VÔO DO AUTOR/APELADO POR MOTIVO DE CHUVA FORTE/TEMPESTADE LEVE. SITUAÇÃO QUE SE ENQUADRA NO CONCEITO DE FORTUITO INTERNO. PRECEDENTES. DANOS MORAIS QUE NÃO SE PRESUMEM. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. PRECEDENTES. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. ATRASO DE 12 HORAS. ALTERNATIVAS, INFORMAÇÕES E SUPORTE MATERIAL NÃO FORNECIDOS AO CONSUMIDOR. LESÃO MORAL CONFIGURADA. QUANTUM FIXADO NOS PARÂMETROS DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. MANUTENÇÃO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 343 DESTA CORTE DE JUSTIÇA. TERMO INICIAL DOS JUROS DE MORA CORRETAMENTE ARBITRADO. RELAÇÃO CONTRATUAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 405 DO CÓDIGO CIVIL. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-RJ - APELAÇÃO: 08722127520238190001 202400153213, Relator.: Des(a). FRANCISCO DE ASSIS PESSANHA FILHO, Data de Julgamento: 11/07/2024, DECIMA SEGUNDA CAMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA 14ª CÂMARA CÍVEL), Data de Publicação: 12/07/2024).”. (Destaquei). Insta salientar que, na presente demanda, o descumprimento do contrato de transporte aéreo pela reclamada é evidente. Tratando o vínculo existente entre as partes de uma relação consumerista, tenho que a reclamada, na condição de fornecedora, assume todos os riscos do seu negócio (Teoria do Risco do Empreendimento), razão pela qual, deveria ter adotado medidas para evitar que consumidores como a reclamante fossem prejudicados, o que, na presente lide, não foi observado (artigo 373, II, do CPC). No caso, embora a ré tenha promovido a realocação e prestado assistência parcial, tal conduta não é suficiente para afastar o dever de indenizar, pois não evitou o dano decorrente do atraso excessivo que impôs à autora transtornos que ultrapassam os meros aborrecimentos do cotidiano, comprometendo sua programação pessoal e familiar, além de lhe causar frustração e desconforto. A jurisprudência do STJ reconhece que o dano moral decorrente de atraso de voo superior a 4 horas é presumido (in re ipsa), bastando a comprovação do fato e do nexo de causalidade, conforme demonstrado nos autos. Dessa forma, resta caracterizada a falha na prestação do serviço por parte da requerida, sendo devida a indenização por danos morais, cujo valor deve ser fixado de forma a cumprir dupla função: compensatória e pedagógica, observando os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Ante o exposto, julgo procedente o pedido, com fundamento no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para condenar a requerida TAM LINHAS AÉREAS S.A. ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 6.000,00 (seis mil reais) em favor da autora QUEZIA IRACEMA GOMES BORGES, corrigidos pelo IPCA/IBGE, na forma do art. 389, parágrafo único, do Código Civil, a partir da publicação desta sentença e juros de mora à taxa Selic, com a dedução do índice de atualização monetária acima aplicado, consoante o art. 406, § 1º, do Código Civil, a partir da citação. Sem custas e honorários de sucumbência, com base nos artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/1995. Submeto o presente projeto à homologação deste juízo para que surta os efeitos legais, nos termos do art. 40 da Lei 9099/95. Publicada e registrada eletronicamente. Intime(m)-se. Transitada em julgado, cumpra-se a sentença e arquive-se o processo, depois das baixas necessárias. Marcia Olga Lucas Reginato juíza Leiga Vistos, HOMOLOGO, para que surtam seus jurídicos e legais efeitos, o Projeto de Sentença da lavra da juíza Leiga deste Juizado Especial. Intimem-se as partes da sentença. EVINER VALÉRIO Juiz de Direito

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Tacia Rapfaely De Sousa x Eb Comercio De Eletrodomesticos Eireli

ID: 259173896

Tribunal: TJMT Órgão: JUIZADOS ESPECIAIS DE BARRA DO GARÇAS Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1004307-14.2025.8.11.0004

Data de Disponibilização: 23/04/2025

Polo Ativo:

TACIA RAPFAELY DE SOUSA

Polo Passivo:

EB COMERCIO DE ELETRODOMESTICOS EIRELI

Decisão

Advogados:

CLAUDIA PEREIRA DOS SANTOS NEVES

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Crente de que a rusga tem como pano de fundo relação consumerista, deseja a parte requerente elidir a ausência de possíveis provas por meio do cômodo caminho de conjurar a inversão do ônus probatório… Crente de que a rusga tem como pano de fundo relação consumerista, deseja a parte requerente elidir a ausência de possíveis provas por meio do cômodo caminho de conjurar a inversão do ônus probatório, olvidando-se que não obstante a lei 8.078/90 constituir-se em um sistema autônomo e próprio, sendo fonte primária para o exegeta, deverá tal norma ser interpretada em consonância com o disposto em nossa Carta Magna, aplicando-se, ainda que de forma subsidiária, as disposições do CPC, sendo que este último define o momento processual adequado para apreciação da inversão probante (artigo 357) no âmbito dos processos sob sua regência, tratando-se de uma regra de instrução. No que diz respeito aos feitos em que inexiste a fase de saneamento, a semelhança do que ocorre no âmbito dos juizados especiais, o instituto deve ser manejado quando do proferimento da sentença. Com efeito, nestas hipóteses a regra da inversão se presta mais a um juízo de valor sobre as provas já produzidas, pois sua banalização detém potencialidade para permitir a inércia do consumidor caso saiba previamente que o encargo foi repassado ao fornecedor, o que desprestigia a busca da verdade real, vez que as partes devem contribuir ativamente para o desfecho da celeuma, produzindo as provas que se prestam a caracterizar suas alegações. Isto se dá pelo fato de que nestas hipóteses as regras da inversão do ônus probatório são de julgamento da causa e somente após a instrução do feito, no momento da valoração das provas, estará o juiz habilitado a afirmar se existe situação de non liquet, sendo o caso ou não de inversão do ônus da prova. Esta é a razão pela qual tenho reiterado que salvo situações excepcionais reclamando providências antecipadas no campo probatório, em regra nos juizados especiais apenas quando da prolação da sentença deve ser avaliada a aplicação do artigo 6º do CDC, notadamente quando a inversão ali preconizada também invoca a inviabilidade técnica, fática ou lógica para produção da prova por parte do consumidor, o qual não se desobriga do encargo de ilustrar materialmente suas alegações quando lhe é possível, sob pena de se deturpar o instituto para fins de autorizar um julgado escorado em meras presunções advindas da simples inércia de quem se beneficia do instituto em comento, motivo pelo qual INDEFIRO A INVERSÃO POSTULADA. Ademais, aduz a demandante que após adquirir um produto com a requerida por meio de sua loja física, no mês de dezembro o produto apresentou falhas, o que motivou a consumidora contatar a empresa fornecedora para solucionar (15/12/2024). No entanto, após ser esclarecido que a situação não se tratava vício do produto, no mês posterior a geladeira adquirida não mais funcionou (31/01/2025) e após se dirigir novamente à loja física da reclamada, foi informado que a garantia havia vencido em 24/01/2025 e que a reclamante “deveria procurar a fabricante”. Conforme muito bem relatado na inicial, em se tratando de vícios ocultos, que o consumidor apenas tomou conhecimento após o decurso de considerável lapso temporal com o produto, o prazo decadencial de 90 (noventa) dias (bens duráveis – art. 26, II, do CDC) deve ser contado a partir de quando evidenciado o defeito (art. 26, § 3º, da lei consumerista), o que ocorreu apenas em 31/01/2025. Nestes termos, a informação apresentada pela empresa está em descompasso às normas protecionistas ao consumidor e revela o suposto desrespeito a direito básico do consumidor à obter informação adequada (art. 6º, inciso III, do CDC). A Turma Recusal mato-grossense muito bem explica sobre a ilegalidade de condutas deste jaez pelas empresas comerciantes, de modo que merecem ser transcritos alguns trechos: A responsabilidade do fabricante não se limita ao período de garantia contratual, uma vez que o Códigod e Defesa do Consumidor adotou o critério da vida útil do bem ao tratar de vício oculto em seu art. 26, § 3º. (...) No caso em apreço, é evidente que se trata o caso de vício oculto. Assim o prazo decadencial passa fluir da ciência inequívoca desse vício, conforme dispõe artigo 26, § 3º do CDC. Logo, não há falar em fluência do prazo a partir da aquisição da TV da marca Philips, modelo TV PHILIPS 50PUG7625 e sim da constatação do vício oculto. Sabe-se que o vício redibitório se traduz como o vício oculto do bem que o torna impróprio a seu uso, eis que inerente à essência do produto e tem o condão de torna-lo imprestável ao fim a que se destina ou mesmo, de vir a reduzir a sua capacidade de utilização e essa responsabilidade do fabricante tem fundamento no princípio da garantia, inerente aos negócios jurídicos onerosos, dispensando, portanto, do dolo da parte Recorrente, que assumirá objetivamente a obrigação de ressarcir os prejuízos. Ademais, considerando a vida útil de um aparelho de televisão não é razoável o defeito relatado (linhas na tela) em apenas 01 ano e 01 mês, tornando-o obviamente impróprio ao fim a que se destina. Ressalto ainda que não se pode exigir do consumidor a fácil constatação de defeito interno na fabricação do produto, no caso, queima do display, por isso, o termo inicial da decadência do direito de reclamar por vício dessa natureza ocorreu no momento da constatação (art. 26, § 3º, do CDC), e não na data da compra. (...) (TJ-MT, RI 1010279-42.2023.8.11.0001, rel. Valmir Alaércio dos Santos, Terceira Turma Recursal, j. 09/04/2024, DJe: 11/04/2024 Bem expostas estas premissas, há elementos que permitem verificar o direito de encaminhamento do produto pela empresa reclamada à assistência técnica e/ou fabricante para solucionar o vício. Todavia, a parte reclamante postula tão somente pela “substituição imediata da geladeira”, porquanto negado o encaminhamento para sanar o vício (art. 18, § 1º, do CDC), circunstância que torna duvidosa a probabilidade do direito para a concessão da tutela de urgência vindicada. Certamente, não se olvida que houve, segundo relatado pela requerente, a negativa do encaminhamento do produto para verificar os vícios, o que denota a impossibilidade de exercer as faculdades disponíveis no art. 18, § 1º, do CDC. Por outro lado, não há elementos seguros do vício do produto que o tornam impróprio para utilização, mas apenas a narrativa da requerente sobre a visita de um “técnico” para verificar a situação do produto, mas não há declaração do especialista, tampouco laudo ou outro documento hábil capaz de comprovar a sua assertiva. Do mesmo modo, o ilícito verificado, neste momento, diz respeito à negativa do encaminhamento para a assistência técnica, o que poderia, posteriormente, culminar na utilização pelo consumidor das faculdades franqueadas pelo dispositivo acima informado. Isto posto, a despeito dos argumentos trazidos pela reclamante em sua súplica inicial, vislumbro em suas razões a ausência da plausibilidade mínima necessária para aplicação do artigo 300 do CPC ao caso sub judice, razão pela qual INDEFIRO A TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA pretendida CONCEDO à parte autora os benefícios da justiça gratuita, pois não enxergo nesta sede suporte para aplicação do artigo 99, § 2º, do CPC. Intime-se a requerente a fim de lhe cientificar do conteúdo deste decisum. Cite-se a parte requerida para comparecer à audiência de conciliação a ser designada pela secretaria, conforme disponibilidade em pauta. Após a solenidade, poderá esta apresentar contestação no prazo de 05 (cinco) dias, cujo termo inicial será a data da indigitada sessão, sob pena de revelia (súmula 11, TRU/MT). Advirta-se a parte demandante que, na hipótese de não comparecer injustificadamente à sessão, configurar-se-á a contumácia, o que implicará na extinção do feito sem resolução do mérito, condenando-a ao pagamento das custas processuais (art. 51, inc. I, da Lei n.º 9.099/95 c/c Enunciado n.º 28, do FONAJE). A parte requerente deverá ser previamente notificada que poderá, no prazo de 05 (cinco) dias, impugnar a peça defensiva (súmula 12, do TRU/MT). Transcorridos os prazos, façam os autos conclusos para sentença. Expeça-se o necessário. Cumpra-se. Fernando da Fonsêca Melo Juiz Titular

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Processo nº 1010279-29.2025.8.11.0015

ID: 260785790

Tribunal: TJMT Órgão: 3ª VARA CÍVEL DE SINOP Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1010279-29.2025.8.11.0015

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

EDU RODRIGUES DE ALMEIDA LEODETE GUIZZO DE ALMEIDA

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

ADEMYR CESAR FRANCO

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 3ª VARA CÍVEL DE SINOP DECISÃO Processo n.º 1010279-29.2025.8.11.0015. Com efeito, de acordo com a norma de regência, para a concessão da tutela de urgência se … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 3ª VARA CÍVEL DE SINOP DECISÃO Processo n.º 1010279-29.2025.8.11.0015. Com efeito, de acordo com a norma de regência, para a concessão da tutela de urgência se mostra imprescindível que, fundamentado em prova inequívoca, desponte razoável a probabilidade de êxito na ação após cognição exauriente, traduzida através da plausibilidade do direito e da verossimilhança da alegação (‘fumus boni iuris’) e, ao mesmo tempo, também subsista fundado risco de dano grave irreparável ou de difícil reparação ou, ainda, que quando caracterizado abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte adversa (‘periculum in mora’). Interpretação que resulta da exegese do conteúdo do art. 300 do Código de Processo Civil. Deverás, a questão relacionada à temática dos reajustes dos planos de saúde encontra respaldo na Lei n.º 9.656/1998 que, no seu art. 15, autoriza o aumento/reajuste de mensalidade, desde que expressamente prevista em contrato. O Estatuto do Idoso [Lei n.º 10.741/2003], por sua vez, no § 3.º do art. 15, veda a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade. No entanto, não se pode reputar abusivo todo e qualquer reajuste baseado apenas nessa premissa, mas tão somente os exorbitantes. Em conformidade com a norma de regência, respeitada a lei vigente quando da ultimação do contrato, o valor da mensalidade do plano de saúde pode sofrer aumento/reajuste quando sobrevier mudança de faixa etária, de acordo com critérios definidos pela ANS e, uma vez ao ano, por variação de custos, na data de aniversário do contrato. Os reajustes são calculados com base na livre negociação entre as partes, não sendo considerados ilegais ou abusivos se subsiste previsão contratual de alteração, se houver o respeito às normas expedidas pelos órgãos governamentais e se forem aplicados percentuais razoáveis, que não onerem excessivamente o consumidor e/ou discriminem o idoso. Cumpre relembrar, por oportuno, que o Colendo Superior Tribunal de Justiça reafirmou essa diretriz jurisprudencial, em sucessivos e diversos julgamentos, valendo referir, por ser expressiva dessa orientação, a decisão consubstanciada em acórdão, julgado conforme procedimento previsto para os recursos repetitivos, cuja ementa transcrevo, de maneira integral: “RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. MODALIDADE INDIVIDUAL OU FAMILIAR. CLÁUSULA DE REAJUSTE DE MENSALIDADE POR MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA. LEGALIDADE. ÚLTIMO GRUPO DE RISCO. PERCENTUAL DE REAJUSTE. DEFINIÇÃO DE PARÂMETROS. ABUSIVIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO. EQUILÍBRIO FINANCEIRO-ATUARIAL DO CONTRATO. 1. A variação das contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência à saúde em razão da idade do usuário deverá estar prevista no contrato, de forma clara, bem como todos os grupos etários e os percentuais de reajuste correspondentes, sob pena de não ser aplicada (arts. 15, caput, e 16, IV, da Lei nº 9.656/1998). 2. A cláusula de aumento de mensalidade de plano de saúde conforme a mudança de faixa etária do beneficiário encontra fundamento no mutualismo (regime de repartição simples) e na solidariedade intergeracional, além de ser regra atuarial e asseguradora de riscos. (...). 7. Para evitar abusividades (Súmula nº 469/STJ) nos reajustes das contraprestações pecuniárias dos planos de saúde, alguns parâmetros devem ser observados, tais como (i) a expressa previsão contratual; (ii) não serem aplicados índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o consumidor, em manifesto confronto com a equidade e as cláusulas gerais da boa-fé objetiva e da especial proteção ao idoso, dado que aumentos excessivamente elevados, sobretudo para esta última categoria, poderão, de forma discriminatória, impossibilitar a sua permanência no plano; e (iii) respeito às normas expedidas pelos órgãos governamentais: a) No tocante aos contratos antigos e não adaptados, isto é, aos seguros e planos de saúde firmados antes da entrada em vigor da Lei nº 9.656/1998, deve-se seguir o que consta no contrato, respeitadas, quanto à abusividade dos percentuais de aumento, as normas da legislação consumerista e, quanto à validade formal da cláusula, as diretrizes da Súmula Normativa nº 3/2001 da ANS. b) Em se tratando de contrato (novo) firmado ou adaptado entre 2/1/1999 e 31/12/2003, deverão ser cumpridas as regras constantes na Resolução CONSU nº 6/1998, a qual determina a observância de 7 (sete) faixas etárias e do limite de variação entre a primeira e a última (o reajuste dos maiores de 70 anos não poderá ser superior a 6 (seis) vezes o previsto para os usuários entre 0 e 17 anos), não podendo também a variação de valor na contraprestação atingir o usuário idoso vinculado ao plano ou seguro saúde há mais de 10 (dez) anos. c) Para os contratos (novos) firmados a partir de 1º/1/2004, incidem as regras da RN nº 63/2003 da ANS, que prescreve a observância (i) de 10 (dez) faixas etárias, a última aos 59 anos; (ii) do valor fixado para a última faixa etária não poder ser superior a 6 (seis) vezes o previsto para a primeira; e (iii) da variação acumulada entre a sétima e décima faixas não poder ser superior à variação cumulada entre a primeira e sétima faixas. 8. (...). 10. TESE para os fins do art. 1.040 do CPC/2015: O reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na mudança de faixa etária do beneficiário é válido desde que (i) haja previsão contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso. (...). 12. Recurso especial não provido” (STJ, REsp 1.568.244/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, julgado em 14/12/2016) — com destaques não inseridos no texto original. Pois bem. Compulsando os elementos informativos do processo, sobretudo do teor do contrato de prestação de serviços arquivado no ID n.º 190050549, págs. 4/20, deflui-se que os requerentes aderiram ao plano de saúde coletivo mantido pela requerida. O contrato prevê, em sua cláusula “15.6 – Reajuste”, a incidência de reajuste automático e anual de acordo com o IGPM (Índice Geral de Preços de Mercado), publicado pela Fundação Getúlio Vargas, bem como a incidência de reajuste nas seguintes faixas etárias: E mais, de acordo com os documentos acostados ao ID n.º 190053413, ID n.º 190053427, ID n.º 190053416, ID n.º 190053419, ID n.º 190053420, ID n.º 190053421, ID n.º 190053422, ID n.º 190053424 e ID n.º 190053425, denota-se que, entre os meses de julho e agosto de 2024, os autores (Leodete, com 65 anos e Edu, com 74 anos), pagavam as mensalidades devidas ao plano de saúde no valor de R$ 3.257,04 (três mil, duzentos e cinquenta e sete reais e quatro centavos), cada um, totalizando o valor de R$ 6.514,08 (seis mil, quinhentos e quatorze reais e oito centavos). Já entre o período de setembro 2024 a março de 2025, o valor das mensalidades devidas por cada um dos autores passou a ser de R$ 7.179,49 (sete mil, cento e setenta e nove reais e quarenta e nove centavos), totalizando a quantia R$ 14.358,98 (quatorze mil, trezentos e cinquenta e oito reais e noventa e oito centavos). Ou seja, houve um reajuste nas mensalidades no percentual de aproximadamente 220,42% (duzentos e vinte vírgula quarenta e dois por cento). As evidências produzidas no processo, nesta fase embrionária, não permitem concluir, com um grau mínimo de segurança e certeza, a presença dos requisitos que justifiquem o reajuste dos valores que estão sendo cobrados, sendo inegável que há uma discrepância exorbitante dos valores cobrados nos períodos supramencionados. Neste caso, a dúvida (acerca da regularidade ou irregularidade do reajuste dos valores do plano de saúde), deve ser interpretada e dirimida em favor dos consumidores, partes mais vulneráveis da relação jurídico-contratual. Assim, com o objetivo de corrigir iniquidades de ordem prática e de instituir um ambiente ético-processual, depreende-se que a distribuição do ônus da prova, de produção materialmente impossível ou excessivamente difícil (‘probatio diabolica’ ou ‘devil’s proof’), dado a natureza, se estabelece de modo a prescrever que, àquele que, afirma ter o fato/evento se concretizado (fato constitutivo do direito que fundamenta a pretensão), incumbe o dever de comprovar a sua existência, rechaçando-se a exigência de impor-se o dever de demonstração de fato negativo. Não se pode olvidar que, entre março de 2024 a março de 2025, o IGPM acumulou alta de 8,58% (https://portal.fgv.br/noticias/igp-m-marco-2025): Além disso, conforme consulta ao site: https://www.gov.br/ans/pt-br/assuntos/consumidor/reajuste-variacao-de-mensalidade/reajuste-anual-de-planos-coletivos, no período de março a abril de 2025, o reajuste aplicado pela Unimed Cuiabá Cooperativa de Trabalho Médico aos contratos coletivos com menos de 30 beneficiários foi no percentual de 29,46%. Estas circunstâncias, analisadas de maneira contextualizada, evidenciam, em um juízo de cognição sumária e não-exauriente, a abusividade e desproporcionalidade do reajuste das mensalidades aplicadas ao contrato celebrado entre as partes (‘fumus boni iuris’). D’outra banda, considero também que os autores lograram êxito em expor situação pontual que evidencia o ‘periculum in mora’, caracterizado pelo risco da manutenção das cobranças abusivas e impossibilidade de utilização do plano de saúde. Assim, a concessão da tutela de urgência é medida que se impõe. Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE o requerimento de tutela de urgência, para o fim de Determinar que a requerida se abstenha de aplicar o reajuste ao contrato do plano de saúde em percentual superior a 29,46% (vinte e nove vírgula quarenta e seis por cento), sob pena de aplicação de multa diária para a hipótese de descumprimento da obrigação de não-fazer. Com lastro no teor do art. 334 do Código de Processo Civil e do Enunciado n.º 27 do FONAMEC, Determino que se designe audiência de conciliação/mediação, de acordo com a pauta do conciliador. Intimem-se os requerentes. Proceda-se à citação e à intimação do réu. O prazo de 15 (quinze) dias, para oferecimento da contestação, será contabilizado a partir da data da realização da audiência de conciliação [art. 335, inciso I do Código de Processo Civil]. A falta de contestação acarretará em revelia e presunção de veracidade da matéria fática apresentada na petição inicial [art. 344 do Código de Processo Civil]. O comparecimento à audiência é obrigatório (pessoalmente ou por intermédio de representante, por meio de procuração específica, que outorgue poderes para transigir). A ausência injustificada à solenidade configura ato atentatório à dignidade da justiça e implica na imposição de multa, arbitrada em até 2% sobre o valor atribuído a causa [art. 334, § 8.º do Código de Processo Civil]. As partes devem estar acompanhadas de advogado ou de Defensor Público [art. 334, § 9.º do Código de Processo Civil]. Concedo aos requerentes o benefício da assistência judiciária gratuita. Intimem-se. Sinop/MT, em 24 de abril de 2025. Cristiano dos Santos Fialho, Juiz de Direito.

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Processo nº 0001251-29.2016.8.11.0093

ID: 311018669

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0001251-29.2016.8.11.0093

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

ROBERTO KONZEN

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

ARY FRUTO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0001251-29.2016.8.11.0093 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Perdas e Danos, Indenização por Dano Moral, Inde… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0001251-29.2016.8.11.0093 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Perdas e Danos, Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Seguro] Relator: Des(a). MARCOS REGENOLD FERNANDES Turma Julgadora: [DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA] Parte(s): [ROBERTO KONZEN - CPF: 906.471.651-04 (APELANTE), ARY FRUTO - CPF: 543.443.101-44 (ADVOGADO), AGV BRASIL ASSOCIACAO DE AUTOGESTAO VEICULAR - CNPJ: 21.577.171/0001-58 (APELADO), JOANNA GRASIELLE GONCALVES GUEDES - CPF: 079.795.936-00 (ADVOGADO), EDERLAINE MIRIAM OLIVEIRA BARBOSA - CPF: 028.626.721-73 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. PROTEÇÃO VEICULAR. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA INDEVIDA DE COBERTURA. LAUDO TÉCNICO UNILATERAL. ÔNUS DA PROVA. CLÁUSULA EXCLUDENTE DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA. CDC APLICÁVEL. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. I. CASO EM EXAME 1. Apelação interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos em ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, ajuizada por associado em face de associação de proteção veicular, diante da negativa de cobertura em sinistro automobilístico, sob alegação de ausência de manutenção preventiva. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. (i) Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor à relação entre as partes; (ii) Validade e eficácia das cláusulas excludentes de cobertura por ausência de manutenção; (iii) Valor probante do laudo técnico unilateral apresentado pela ré e suficiência da prova produzida pelo autor. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. Ainda que formalmente constituída como associação civil, restou caracterizada a natureza de consumo do serviço ofertado pela ré, sendo aplicáveis as normas do CDC à espécie (art. 2º e 3º, CDC). 4. A mera existência de cláusula excludente não afasta, por si só, a obrigação de cobertura, cabendo à associação comprovar a ocorrência da hipótese excludente. 5. O laudo técnico produzido unilateralmente pela ré não é desprovido de valor, mas sua força probante é limitada, devendo ser cotejado com outros elementos dos autos. No caso, o autor não apresentou contraprova técnica, tampouco documentos que atestassem a manutenção periódica do veículo, restringindo-se ao depoimento testemunhal de empregado seu, sem independência probatória. 6. Nos termos do art. 373, I, do CPC, incumbe ao autor demonstrar os fatos constitutivos do seu direito, especialmente a regularidade da manutenção do veículo e a ausência de nexo causal entre a alegada falta de manutenção e o sinistro. 7. A negativa de cobertura se mostrou legítima diante da ausência de elementos que infirmassem a causa excludente prevista no contrato, não havendo que se falar em ato ilícito ou dano moral indenizável. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Recurso de apelação desprovido. Sentença mantida. Tese de julgamento: "1. A relação entre associado e associação de proteção veicular é regida pelo Código de Defesa do Consumidor quando presentes os requisitos legais. 2. A prova unilateral produzida pela ré pode ser considerada, porém sua eficácia é reduzida se não corroborada por outros elementos e não afastada por contraprova técnica. 3. Incumbe ao autor o ônus de comprovar a regularidade da manutenção do veículo e infirmar a incidência da cláusula excludente de cobertura. 4. Não configurado o ato ilícito, não há falar em indenização por danos materiais ou morais." Dispositivos relevantes citados: CDC, arts. 2º, 3º, 6º, VIII; CPC, art. 373. Jurisprudência relevante citada: TJ-GO, Apelação 5123697-61.2018.8.09.0051, Rel. Des. Marcus da Costa Ferreira, DJe 08/05/2023; TJ-SP, Apelação 1010279-11.2022.8.26.0114, Rel. Mary Grün, DJe 10/04/2024 R E L A T Ó R I O Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto por ROBERTO KONZEN, em face de sentença prolatada pelo juízo da Vara Única da Comarca de Feliz Natal/MT, que julgou improcedente o pedido contido nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Dano Material c/c Dano Moral e Perda e Danos, movida em face AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR. Inconformada, a Apelante sustenta que a sentença está baseada exclusivamente em laudo unilateral produzido pela Empresa Requerida, desconsiderando prova testemunhal produzida sob o crivo do contraditório que atestaria a regular manutenção do veículo. Alega a afronta ao contraditório, má valoração da prova e violação ao Código de Defesa do Consumidor, especialmente no que tange a interpretação das cláusulas restritivas do contrato. A Empresa Apelada apresentou contrarrazões, defendendo a manutenção da sentença. Preliminarmente, arguiu a inadmissibilidade do recurso por ausência de impugnação específica aos fundamentos da decisão, com base no art. 1.010, III, do CPC. No mérito, sustenta que o laudo técnico possui validade, que a relação entre as partes é associativa (e não de consumo), e que a cláusula de exclusão de cobertura por falta de manutenção é válida e aplicável ao caso concreto. Custas devidamente recolhida. É o relatório. Em pauta. V O T O R E L A T O R VOTO (PRELIMINAR) EXMO. SR. DES. MARCOS REGENOLD FERNANDES (RELATOR). Egrégia Câmara: Preambularmente, a Apelada AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR alegou a violação do princípio da dialeticidade, o qual impõe ao recorrente o dever de expor os fundamentos de fato e de direito que embasam o seu inconformismo, conforme determina o art. 1.010, II, do Código de Processo Civil, possibilitando, assim, o contraditório. No caso em análise, verifica-se que o Apelante impugna de forma concreta a fundamentação da sentença, notadamente quanto à valoração do laudo pericial unilateral apresentado pela Empresa Requerida, à interpretação das cláusulas contratuais excludentes de cobertura e a desconsideração da prova testemunhal produzida em audiência. Ainda que a peça contenha repetições da narrativa inicial, extrai-se a exposição dos fundamentos de fato e de direito do inconformismo, o que é suficiente para atender ao princípio da dialeticidade, razão pela qual rejeito a preliminar arguida. É como VOTO. VOTO (MÉRITO) EXMO. SR. DES. MARCOS REGENOLD FERNANDES (RELATOR). Egrégia Câmara: Trata-se, na origem, de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Dano Material c/c Dano Moral e Perda e Danos, movida por ROBERTO KONZEN, em face de AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR. Consta dos autos que o apelante contratou plano de assistência veicular junto à apelada em 22 de outubro de 2015, tendo sido regularmente adimplente até a ocorrência de acidente com seu caminhão em 29 de maio de 2016, na BR-163, Km 844. Após o sinistro, a requerida negou cobertura sob o fundamento de exclusão contratual por ausência de manutenção preventiva do veículo, razão pela qual ajuizou a demanda, visando compelir a requerida a custear o conserto do veículo e ao pagamento de indenização por danos morais. Após a instrução processual, o juízo singular assim sentenciou o processo: “(...) Trata-se de ação de indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, na qual o autor busca a condenação da ré ao pagamento de indenização decorrente de um sinistro envolvendo seu veículo. Alega o requerente que, apesar de possuir contrato de assistência veicular com a ré, esta se recusou a cobrir os prejuízos sofridos em decorrência do acidente. No que tange à relação consumerista existente entre as partes, é inegável a incidência das normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que visa a equilibrar a relação entre o consumidor, parte vulnerável, e o fornecedor de serviços. Contudo, ainda que o CDC preveja a possibilidade de inversão do ônus da prova em favor do consumidor, tal prerrogativa não exime as partes de produzirem as provas necessárias para comprovar suas alegações, conforme preconiza o artigo 373 do Código de Processo Civil, que estabelece a distribuição do ônus da prova entre as partes. Assim, incumbe ao autor demonstrar os fatos constitutivos de seu direito, enquanto ao réu compete comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Analisando detidamente os autos, verifica-se que o autor, em sua petição inicial, limitou-se a alegar que o acidente ocorreu durante a vigência do contrato com a AGV Brasil e que a ré se negou a cobrir os prejuízos, apresentando como prova apenas o Boletim de Ocorrência de Trânsito (Id. 59253320 – Págs, 28/45). No referido boletim, consta a seguinte narrativa da ocorrência: “Em Placas PA, no KM 844 da BR 163, sentido crescente, a 15 horas, do dia 29 de maio de 2016, o veículo V1, placa NSL 2520, seguia em trecho em declive em aproximação de ponte quando saiu de sua trajetória vindo a sair de pista e tombando sua carga”. A prova documental apresentada pelo autor, portanto, restringe-se à comprovação da ocorrência do acidente, não sendo suficiente para demonstrar a responsabilidade da ré pelos danos alegados. O Boletim de Ocorrência, por si só, não permite concluir que a AGV Brasil agiu de forma negligente ou descumpriu o contrato de assistência veicular. Nesse sentido, a jurisprudência tem se manifestado no sentido de que a simples ocorrência do sinistro não gera, por si só, o direito à indenização, sendo necessária a comprovação da responsabilidade da seguradora. Como bem ilustra o seguinte julgado: (TJ-SP - Apelação Cível: AC 10319935120178260001 SP 1031993-51.2017.8.26.0001 Jurisprudência. Acórdão. Data de publicação: 05/02/2020). (texto original sem grifos) Por outro lado, a ré, em sua contestação, apresentou laudo pericial que demonstra que a responsabilidade pelo sinistro recai sobre o autor, em razão da falta de manutenção adequada do veículo (Id. 59253323 – Págs. 66/84). O laudo aponta que a causa determinante do acidente foi a quebra do suporte do amortecedor traseiro direito, decorrente da ausência de manutenção preventiva e corretiva. É certo que o laudo pericial foi elaborado de forma unilateral pela ré, sem a participação do autor. Contudo, tal fato não invalida, por si só, as conclusões do laudo, que se baseiam em elementos técnicos e objetivos. Caberia ao autor, portanto, apresentar contraprovas capazes de infirmar as conclusões do laudo pericial, demonstrando que a manutenção do veículo estava em dia e que a falha mecânica não se relacionava com a falta de cuidados com o bem. Entretanto, o autor quedou-se inerte, preferindo se ater aos fatos alegados na inicial, sem apresentar qualquer elemento probatório que pudesse colocar em dúvida a veracidade das conclusões do laudo pericial. A ausência de comprovação da manutenção adequada do veículo, portanto, corrobora a tese de que a responsabilidade pelo sinistro recai sobre o autor. Nesse sentido, é importante destacar que o contrato de assistência veicular firmado entre as partes, denominado Plano de Assistência Recíproca (PAR), possui cláusulas que excluem a cobertura em casos de sinistros decorrentes de falta de manutenção ou defeitos mecânicos preexistentes, o que de fato era de conhecimento do autor, diante de sua anuência. Especificamente, a cláusula 4.1 “d” dispõe que não serão incluídos os danos decorrentes de "desgaste natural ou pelo uso, deterioração gradativa e vício próprio, defeito de fabricação, defeito mecânico, da instalação elétrica do veículo, vibrações, corrosão, ferrugem, umidade e chuva." Ademais, a cláusula 5.1, “j” estabelece que o integrante do plano não terá direito a reparação ou ressarcimento de dano causado ao automóvel na hipótese de "veículos que não mantiverem suas manutenções em dia, tais como trocas de pneus e revisão no sistema de freios." A responsabilidade pela conservação e manutenção do veículo é do proprietário, que deve zelar pela sua segurança e bom funcionamento, sob pena de colocar em risco a sua própria vida e a de terceiros. Ao negligenciar a manutenção do veículo, o autor descumpriu com o seu dever de cuidado, ensejando o sinistro. Dessa forma, não pode a ré ser responsabilizada pelos danos decorrentes do acidente, não havendo que se falar em dano material, lucros cessantes, danos emergentes ou obrigação de fazer. Ademais, os Tribunais, em consonância com a natureza dos contratos de seguro e a imprescindibilidade da comprovação do nexo causal entre o risco coberto e o sinistro, têm sistematicamente afastado a responsabilidade da seguradora quando a causa determinante do evento danoso reside em falha mecânica preexistente ou falta de manutenção do veículo, situações que, em regra, não se encontram abrangidas pela apólice contratada. Nesse sentido: (TJ-SP - Apelação: APL 40017516320138260077 SP 4001751-63.2013.8.26.0077 Jurisprudência. Acórdão. Data de publicação: 03/02/2015). (texto original sem grifos) (TJ-MG - Apelação Cível: 50018857720218130684, Relator.: Des.(a) Lúcio de Brito, Data de Julgamento: 22/02/2024, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 29/02/2024). (texto original sem grifos) No que pertine ao pedido de indenização por danos morais, entende-se que não restou configurada qualquer lesão à honra ou à imagem do autor que justifique a sua concessão. A mera recusa da ré em cobrir os prejuízos decorrentes do acidente, por si só, não é suficiente para caracterizar o dano moral, sendo necessária a comprovação de um abalo psicológico significativo, o que não ocorreu no caso em tela. Em razão da responsabilidade atribuída ao autor pelo sinistro, não há que se falar em danos morais, uma vez que não houve qualquer conduta ilícita por parte da ré que pudesse ensejar a sua responsabilização. Diante de todo o exposto, e considerando a ausência de comprovação dos fatos constitutivos do direito do autor, a improcedência da presente ação é medida que se impõe. IV. DISPOSITIVO Diante do exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial, com resolução do mérito. Por conseguinte, CONDENO o autor ao pagamento das custas e despesas processuais remanescentes, considerando a alteração do valor da causa, bem como honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC.(...)”. (ID. 291088383) Pois bem. A controvérsia central do presente recurso reside na verificação de três aspectos fundamentais: i) a natureza jurídica da relação estabelecida entre as partes e, consequentemente, o regime jurídico aplicável; ii) a validade e eficácia das cláusulas de exclusão de cobertura invocadas pela ré; e iii) a análise das provas produzidas para aferição da real causa do acidente e da legitimidade da recusa de cobertura. I. Vê-se que a Apelada sustenta que se trata de relação associativa, regida exclusivamente pelo Código Civil, por ser uma associação de proteção veicular se finalidade lucrativa. Noutro giro, o apelante sustenta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Apesar de formal caracterização como associação civil, observa-se que a Apelada oferece serviços de natureza securitária no mercado de consumo, mediante contraprestação financeira mensal, configurando-se como fornecedora de serviços nos termos do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor. Assim, o Apelante ao contratar tais serviços como destinatário final, enquadra-se na definição de consumidor prevista no art. 2º do mesmo diploma legal. Aliás, a jurisprudência entende que a denominação formal da entidade não descaracteriza a natureza consumerista da relação quando presentes os requisitos legais. Vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA C/C DANOS MORAIS. PROGRAMA DE PROTEÇÃO VEICULAR. ASSOCIAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS . PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO . EMBRIAGUEZ. AGRAVAMENTO DO RISCO NÃO COMPROVADO. DESCONTO DE COTA DE PARTICIPAÇÃO DEVIDO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA . 1. Conforme orientação do STJ, as associações que fornecem proteção veicular mediante recebimento de remuneração mensal se enquadram no conceito de fornecedoras de serviços, e os associados, responsáveis pelo pagamento das mensalidades para proteção material dos veículos, adequam-se à figura de consumidores, razão pela qual devem ser aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor, e que além disso, as atividades da associação de proteção automotiva caracterizam-se como prática securitária. 2. A responsabilidade da associação pela cobertura, em caso de acidente automobilístico, não é automaticamente afastada em virtude da constatação da embriaguez do condutor do veículo, devendo ser demonstrado que o agravamento de risco dela decorrente influiu intencionalmente e decisivamente na ocorrência do sinistro, o que não se vislumbra no caso dos autos, porquanto impossível concluir, com certeza, se a imprudência cometida pelo associado resultou do seu estado de ebriedade . 3. Não há irregularidade na cobrança da cota de participação do associado em caso de acidente do automóvel cadastrado, por se tratar de espécie de ?franquia? devida à associação, cujo valor cobrado, no caso, corresponde a 3% do valor da tabela FIPE do veículo à época do sinistro, e que deverá ser abatida APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (TJ-GO 5123697-61.2018 .8.09.0051, Relator.: DESEMBARGADOR MARCUS DA COSTA FERREIRA, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: 08/05/2023) Destaquei Ressalte-se que o reconhecimento das normas consumeristas não afasta por completo a aplicação das regras do direito civil e do estatuto associativo. Trata-se, na verdade, de diálogo de fontes, em que as normas do CDC, quando mais favoráveis ao consumidor, devem prevalecer sobre disposições contratuais mais restritivas de direitos. II. No segundo ponto, o Apelante alega que há divergência entre as cláusulas citadas na sentença e aquelas efetivamente constantes no contrato juntado aos autos. De fato, ao redigir a sentença, o MM. Juiz prolator incorreu em erro material ao indicar a cláusula excludente de responsabilidade da empresa requerida, mencionando se tratar da cláusula 5.1, “j”, quando, na verdade, a correta é a cláusula 5.1, “m”, que assim dispõe: “Veículos que não mantiverem suas manutenções em dia, tais como trocas de pneus e revisão no sistema de freios, mas não se limitando a estes.”. No entanto, é fato que o contrato prevê a exclusão de cobertura para danos decorrentes de defeitos mecânicos preexistentes ou falta de manutenção. O ponto central da controvérsia, portanto, não é tanto a existência formal da cláusula, mas sim se o evento danoso efetivamente se enquadra na hipótese de exclusão. III. O apelante impugna o laudo pericial utilizado pelo juízo para fundamentar a sentença, sob o argumento de que foi produzido de forma unilateral, sem a observância do contraditório, e quando o veículo já havia sofrido múltiplos danos. Alega, ainda, que foram desconsiderados os depoimentos das testemunhas que contradizem as conclusões do referido laudo pericial. Ao analisar o conjunto probatório, verifico que o laudo pericial ora questionado, de fato, foi produzido unilateralmente, pela empresa apelada, sem a participação do apelante ou a nomeação de assistente técnico. Tal circunstância não invalida completamente o documento, mas reduz sua força probatória, especialmente quando confrontado com outras provas produzidas sob o crivo do contraditório. Por outro lado, em favor do Apelante, há apenas o depoimento da testemunha Emerson dos Santos de Almeida, motorista do veículo, que afirmou em juízo que “o caminhão estava com prevenção em dia, estava em perfeito estado de conservação, não necessitava de reparo” e que “tinha feito revisão uma semana antes do acidente.”. Embora o depoimento testemunhal tenha sido produzido sob o crivo do contraditório, devo ponderar que se trata de uma única testemunha, que mantinha relação de dependência econômica com o apelante na condição de seu empregado, o que pode comprometer parcialmente sua isenção. Além disso, sua afirmação quanto à realização de revisão recente não está corroborada por nenhum documento, como notas fiscais, ordens de serviço ou recibos que comprovariam a efetiva realização da manutenção alegada. O Apelante, a quem incumbia o ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I, do CPC), não trouxe aos autos qualquer documentação que comprovasse a realização de manutenções periódicas no veículo, especialmente a revisão mencionada pela testemunha. Tais documentos seriam de fácil obtenção pelo proprietário do veículo, caso efetivamente existissem. Por outro lado, a Apelada, a quem cabia comprovar fato impeditivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC), apresentou laudo técnico que, embora produzido unilateralmente, aponta com detalhes a causa do acidente, respaldando a sua recusa de cobertura. Se o laudo contivesse informações manifestamente inverídicas ou tecnicamente inconsistentes, caberia ao Apelante demonstrar tais vícios por meio de contraprova técnica adequada, que não ocorreu. Nesse contexto, à luz do princípio do livre convencimento motivado e da proporcionalidade, analisando as provas apresentadas, não vislumbro elementos suficientes para afastar, com a segurança necessária, a conclusão alcançada pelo juízo de primeiro grau. Ora, a simples existência de dúvida quanto à causa do acidente, em cenário de insuficiência probatória, não autoriza automaticamente a procedência dos pedidos do Apelante, sobretudo quando este não se desincumbiu satisfatoriamente do ônus probatório que lhe competia. Nesse sentido: INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, LUCROS CESSANTES e DANOS MORAIS. ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO VEICULAR. Autor pretende o recebimento de indenizações por danos materiais e morais, além de lucros cessantes, pela perda total do veículo em acidente, diante da injusta recusa de pagamento pela associação. Extinção da ação, sem resolução do mérito, em relação à instituição financeira por ilegitimidade passiva ad causam e improcedência do pedido em relação à Associação . Apelo do autor. Contrato de proteção veicular. Pacto que se afigura verdadeiro contrato de seguro atípico. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso que não implica em automática inversão do ônus probatório . Ônus do autor em demonstrar minimamente os fatos constitutivos de seu direito. Ré que se recusou a pagar a indenização ajustada, ao argumento de que o autor incorreu em causa de exclusão da cobertura, consubstanciada na ausência de manutenção regular do veículo. Requerida que juntou laudo técnico indicando falha no sistema de freios do veículo protegido, suficiente a dar causa ao sinistro. Subsídio apto a demonstrar fato extintivo do direito do autor, cabendo a este a produção de elementos probatórios suficientes a afastar tais conclusões. Contudo, ciente do laudo técnico colacionado pela ré e instado a se manifestar acerca do interesse na produção de outras provas, o requerente deixou transcorrer in albis o prazo concedido. Inércia que indica conformismo com o acervo probatório produzido. Autor que não se desincumbiu, portanto, do ônus que lhe cabia, quanto ao fato constitutivo de seu direito ( CPC, art. 373, I), não produzindo nos autos prova técnica capaz de afastar as falhas apuradas no laudo apresentado pela ré e garantir o direito à cobertura contratada. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJ-SP 1010279-11.2022 .8.26.0114 Campinas, Relator.: Mary Grün, Data de Julgamento: 10/04/2024, 32ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/04/2024) Destaquei Ainda que se aplique o Código de Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova não é automática nem absoluta, dependendo de verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica do consumidor, conforme determina o art. 6º, VIII, do CDC. No caso concreto, o Apelante tinha plenas condições de comprovar documentalmente a realização de manutenções periódicas em seu veículo, prova que seria determinante para afastar a aplicação da cláusula de exclusão de cobertura. Ressalto que, em contratos de seguro e congêneres, a boa-fé opera de forma bilateral, impondo deveres tanto a seguradora quanto ao segurado. Dentre os deveres do segurado, destaca-se o de manter o bem segurado em adequadas condições de uso e conservação, adotando medidas preventivas para mitigas riscos. A comprovação de cumprimento desse dever, no caso em análise, competia ao apelante, o que não ocorreu de forma satisfatória. Vale mencionar ainda que, tecnicamente, não é impossível que a quebra de um componente estrutural como o suporte do amortecedor possa resultar em instabilidade veicular e consequente perda de controle direcional, especialmente em curvas ou declives. A alegação do apelante de que tal defeito não poderia causar o acidente carece de respaldo técnico nos autos, não sendo produzida qualquer contraprova pericial nesse sentido. Considerando todos esses fatores, entendo que não há nos autos elementos probatórios suficientes para afastar a conclusão alcançada na sentença quanto à causa do acidente e à aplicabilidade da cláusula de exclusão de cobertura. IV. Havendo legitimidade na recusa de cobertura, fica prejudicada a análise dos pedidos de indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, uma vez que não restou configurado o ato ilícito por parte da Apelada ao negar a cobertura com base em cláusula contratual válida e aplicável ao caso concreto. Posto isso, NEGO PROVIMENTO ao Recurso de Apelação interposto por ROBERTO KONZEN, para manter intacta a sentença prolatada. Por conseguinte, desprovido o apelo, majoro a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais de 10% para 12% (doze por cento). É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 24/06/2025

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Processo nº 0001251-29.2016.8.11.0093

ID: 311018677

Tribunal: TJMT Órgão: Quinta Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0001251-29.2016.8.11.0093

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

AGV BRASIL ASSOCIACAO DE AUTOGESTAO VEICULAR

Acórdão

Advogados:

JOANNA GRASIELLE GONCALVES GUEDES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0001251-29.2016.8.11.0093 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Perdas e Danos, Indenização por Dano Moral, Inde… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 0001251-29.2016.8.11.0093 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Perdas e Danos, Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Seguro] Relator: Des(a). MARCOS REGENOLD FERNANDES Turma Julgadora: [DES(A). MARCOS REGENOLD FERNANDES, DES(A). LUIZ OCTAVIO OLIVEIRA SABOIA RIBEIRO, DES(A). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA] Parte(s): [ROBERTO KONZEN - CPF: 906.471.651-04 (APELANTE), ARY FRUTO - CPF: 543.443.101-44 (ADVOGADO), AGV BRASIL ASSOCIACAO DE AUTOGESTAO VEICULAR - CNPJ: 21.577.171/0001-58 (APELADO), JOANNA GRASIELLE GONCALVES GUEDES - CPF: 079.795.936-00 (ADVOGADO), EDERLAINE MIRIAM OLIVEIRA BARBOSA - CPF: 028.626.721-73 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a QUINTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). SEBASTIAO DE ARRUDA ALMEIDA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. PROTEÇÃO VEICULAR. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA INDEVIDA DE COBERTURA. LAUDO TÉCNICO UNILATERAL. ÔNUS DA PROVA. CLÁUSULA EXCLUDENTE DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA. CDC APLICÁVEL. IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. I. CASO EM EXAME 1. Apelação interposta contra sentença que julgou improcedentes os pedidos em ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, ajuizada por associado em face de associação de proteção veicular, diante da negativa de cobertura em sinistro automobilístico, sob alegação de ausência de manutenção preventiva. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. (i) Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor à relação entre as partes; (ii) Validade e eficácia das cláusulas excludentes de cobertura por ausência de manutenção; (iii) Valor probante do laudo técnico unilateral apresentado pela ré e suficiência da prova produzida pelo autor. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. Ainda que formalmente constituída como associação civil, restou caracterizada a natureza de consumo do serviço ofertado pela ré, sendo aplicáveis as normas do CDC à espécie (art. 2º e 3º, CDC). 4. A mera existência de cláusula excludente não afasta, por si só, a obrigação de cobertura, cabendo à associação comprovar a ocorrência da hipótese excludente. 5. O laudo técnico produzido unilateralmente pela ré não é desprovido de valor, mas sua força probante é limitada, devendo ser cotejado com outros elementos dos autos. No caso, o autor não apresentou contraprova técnica, tampouco documentos que atestassem a manutenção periódica do veículo, restringindo-se ao depoimento testemunhal de empregado seu, sem independência probatória. 6. Nos termos do art. 373, I, do CPC, incumbe ao autor demonstrar os fatos constitutivos do seu direito, especialmente a regularidade da manutenção do veículo e a ausência de nexo causal entre a alegada falta de manutenção e o sinistro. 7. A negativa de cobertura se mostrou legítima diante da ausência de elementos que infirmassem a causa excludente prevista no contrato, não havendo que se falar em ato ilícito ou dano moral indenizável. IV. DISPOSITIVO E TESE 8. Recurso de apelação desprovido. Sentença mantida. Tese de julgamento: "1. A relação entre associado e associação de proteção veicular é regida pelo Código de Defesa do Consumidor quando presentes os requisitos legais. 2. A prova unilateral produzida pela ré pode ser considerada, porém sua eficácia é reduzida se não corroborada por outros elementos e não afastada por contraprova técnica. 3. Incumbe ao autor o ônus de comprovar a regularidade da manutenção do veículo e infirmar a incidência da cláusula excludente de cobertura. 4. Não configurado o ato ilícito, não há falar em indenização por danos materiais ou morais." Dispositivos relevantes citados: CDC, arts. 2º, 3º, 6º, VIII; CPC, art. 373. Jurisprudência relevante citada: TJ-GO, Apelação 5123697-61.2018.8.09.0051, Rel. Des. Marcus da Costa Ferreira, DJe 08/05/2023; TJ-SP, Apelação 1010279-11.2022.8.26.0114, Rel. Mary Grün, DJe 10/04/2024 R E L A T Ó R I O Egrégia Câmara: Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto por ROBERTO KONZEN, em face de sentença prolatada pelo juízo da Vara Única da Comarca de Feliz Natal/MT, que julgou improcedente o pedido contido nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Dano Material c/c Dano Moral e Perda e Danos, movida em face AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR. Inconformada, a Apelante sustenta que a sentença está baseada exclusivamente em laudo unilateral produzido pela Empresa Requerida, desconsiderando prova testemunhal produzida sob o crivo do contraditório que atestaria a regular manutenção do veículo. Alega a afronta ao contraditório, má valoração da prova e violação ao Código de Defesa do Consumidor, especialmente no que tange a interpretação das cláusulas restritivas do contrato. A Empresa Apelada apresentou contrarrazões, defendendo a manutenção da sentença. Preliminarmente, arguiu a inadmissibilidade do recurso por ausência de impugnação específica aos fundamentos da decisão, com base no art. 1.010, III, do CPC. No mérito, sustenta que o laudo técnico possui validade, que a relação entre as partes é associativa (e não de consumo), e que a cláusula de exclusão de cobertura por falta de manutenção é válida e aplicável ao caso concreto. Custas devidamente recolhida. É o relatório. Em pauta. V O T O R E L A T O R VOTO (PRELIMINAR) EXMO. SR. DES. MARCOS REGENOLD FERNANDES (RELATOR). Egrégia Câmara: Preambularmente, a Apelada AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR alegou a violação do princípio da dialeticidade, o qual impõe ao recorrente o dever de expor os fundamentos de fato e de direito que embasam o seu inconformismo, conforme determina o art. 1.010, II, do Código de Processo Civil, possibilitando, assim, o contraditório. No caso em análise, verifica-se que o Apelante impugna de forma concreta a fundamentação da sentença, notadamente quanto à valoração do laudo pericial unilateral apresentado pela Empresa Requerida, à interpretação das cláusulas contratuais excludentes de cobertura e a desconsideração da prova testemunhal produzida em audiência. Ainda que a peça contenha repetições da narrativa inicial, extrai-se a exposição dos fundamentos de fato e de direito do inconformismo, o que é suficiente para atender ao princípio da dialeticidade, razão pela qual rejeito a preliminar arguida. É como VOTO. VOTO (MÉRITO) EXMO. SR. DES. MARCOS REGENOLD FERNANDES (RELATOR). Egrégia Câmara: Trata-se, na origem, de Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Dano Material c/c Dano Moral e Perda e Danos, movida por ROBERTO KONZEN, em face de AGV BRASIL ASSOCIAÇÃO DE AUTOGESTÃO VEICULAR. Consta dos autos que o apelante contratou plano de assistência veicular junto à apelada em 22 de outubro de 2015, tendo sido regularmente adimplente até a ocorrência de acidente com seu caminhão em 29 de maio de 2016, na BR-163, Km 844. Após o sinistro, a requerida negou cobertura sob o fundamento de exclusão contratual por ausência de manutenção preventiva do veículo, razão pela qual ajuizou a demanda, visando compelir a requerida a custear o conserto do veículo e ao pagamento de indenização por danos morais. Após a instrução processual, o juízo singular assim sentenciou o processo: “(...) Trata-se de ação de indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, na qual o autor busca a condenação da ré ao pagamento de indenização decorrente de um sinistro envolvendo seu veículo. Alega o requerente que, apesar de possuir contrato de assistência veicular com a ré, esta se recusou a cobrir os prejuízos sofridos em decorrência do acidente. No que tange à relação consumerista existente entre as partes, é inegável a incidência das normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que visa a equilibrar a relação entre o consumidor, parte vulnerável, e o fornecedor de serviços. Contudo, ainda que o CDC preveja a possibilidade de inversão do ônus da prova em favor do consumidor, tal prerrogativa não exime as partes de produzirem as provas necessárias para comprovar suas alegações, conforme preconiza o artigo 373 do Código de Processo Civil, que estabelece a distribuição do ônus da prova entre as partes. Assim, incumbe ao autor demonstrar os fatos constitutivos de seu direito, enquanto ao réu compete comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Analisando detidamente os autos, verifica-se que o autor, em sua petição inicial, limitou-se a alegar que o acidente ocorreu durante a vigência do contrato com a AGV Brasil e que a ré se negou a cobrir os prejuízos, apresentando como prova apenas o Boletim de Ocorrência de Trânsito (Id. 59253320 – Págs, 28/45). No referido boletim, consta a seguinte narrativa da ocorrência: “Em Placas PA, no KM 844 da BR 163, sentido crescente, a 15 horas, do dia 29 de maio de 2016, o veículo V1, placa NSL 2520, seguia em trecho em declive em aproximação de ponte quando saiu de sua trajetória vindo a sair de pista e tombando sua carga”. A prova documental apresentada pelo autor, portanto, restringe-se à comprovação da ocorrência do acidente, não sendo suficiente para demonstrar a responsabilidade da ré pelos danos alegados. O Boletim de Ocorrência, por si só, não permite concluir que a AGV Brasil agiu de forma negligente ou descumpriu o contrato de assistência veicular. Nesse sentido, a jurisprudência tem se manifestado no sentido de que a simples ocorrência do sinistro não gera, por si só, o direito à indenização, sendo necessária a comprovação da responsabilidade da seguradora. Como bem ilustra o seguinte julgado: (TJ-SP - Apelação Cível: AC 10319935120178260001 SP 1031993-51.2017.8.26.0001 Jurisprudência. Acórdão. Data de publicação: 05/02/2020). (texto original sem grifos) Por outro lado, a ré, em sua contestação, apresentou laudo pericial que demonstra que a responsabilidade pelo sinistro recai sobre o autor, em razão da falta de manutenção adequada do veículo (Id. 59253323 – Págs. 66/84). O laudo aponta que a causa determinante do acidente foi a quebra do suporte do amortecedor traseiro direito, decorrente da ausência de manutenção preventiva e corretiva. É certo que o laudo pericial foi elaborado de forma unilateral pela ré, sem a participação do autor. Contudo, tal fato não invalida, por si só, as conclusões do laudo, que se baseiam em elementos técnicos e objetivos. Caberia ao autor, portanto, apresentar contraprovas capazes de infirmar as conclusões do laudo pericial, demonstrando que a manutenção do veículo estava em dia e que a falha mecânica não se relacionava com a falta de cuidados com o bem. Entretanto, o autor quedou-se inerte, preferindo se ater aos fatos alegados na inicial, sem apresentar qualquer elemento probatório que pudesse colocar em dúvida a veracidade das conclusões do laudo pericial. A ausência de comprovação da manutenção adequada do veículo, portanto, corrobora a tese de que a responsabilidade pelo sinistro recai sobre o autor. Nesse sentido, é importante destacar que o contrato de assistência veicular firmado entre as partes, denominado Plano de Assistência Recíproca (PAR), possui cláusulas que excluem a cobertura em casos de sinistros decorrentes de falta de manutenção ou defeitos mecânicos preexistentes, o que de fato era de conhecimento do autor, diante de sua anuência. Especificamente, a cláusula 4.1 “d” dispõe que não serão incluídos os danos decorrentes de "desgaste natural ou pelo uso, deterioração gradativa e vício próprio, defeito de fabricação, defeito mecânico, da instalação elétrica do veículo, vibrações, corrosão, ferrugem, umidade e chuva." Ademais, a cláusula 5.1, “j” estabelece que o integrante do plano não terá direito a reparação ou ressarcimento de dano causado ao automóvel na hipótese de "veículos que não mantiverem suas manutenções em dia, tais como trocas de pneus e revisão no sistema de freios." A responsabilidade pela conservação e manutenção do veículo é do proprietário, que deve zelar pela sua segurança e bom funcionamento, sob pena de colocar em risco a sua própria vida e a de terceiros. Ao negligenciar a manutenção do veículo, o autor descumpriu com o seu dever de cuidado, ensejando o sinistro. Dessa forma, não pode a ré ser responsabilizada pelos danos decorrentes do acidente, não havendo que se falar em dano material, lucros cessantes, danos emergentes ou obrigação de fazer. Ademais, os Tribunais, em consonância com a natureza dos contratos de seguro e a imprescindibilidade da comprovação do nexo causal entre o risco coberto e o sinistro, têm sistematicamente afastado a responsabilidade da seguradora quando a causa determinante do evento danoso reside em falha mecânica preexistente ou falta de manutenção do veículo, situações que, em regra, não se encontram abrangidas pela apólice contratada. Nesse sentido: (TJ-SP - Apelação: APL 40017516320138260077 SP 4001751-63.2013.8.26.0077 Jurisprudência. Acórdão. Data de publicação: 03/02/2015). (texto original sem grifos) (TJ-MG - Apelação Cível: 50018857720218130684, Relator.: Des.(a) Lúcio de Brito, Data de Julgamento: 22/02/2024, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 29/02/2024). (texto original sem grifos) No que pertine ao pedido de indenização por danos morais, entende-se que não restou configurada qualquer lesão à honra ou à imagem do autor que justifique a sua concessão. A mera recusa da ré em cobrir os prejuízos decorrentes do acidente, por si só, não é suficiente para caracterizar o dano moral, sendo necessária a comprovação de um abalo psicológico significativo, o que não ocorreu no caso em tela. Em razão da responsabilidade atribuída ao autor pelo sinistro, não há que se falar em danos morais, uma vez que não houve qualquer conduta ilícita por parte da ré que pudesse ensejar a sua responsabilização. Diante de todo o exposto, e considerando a ausência de comprovação dos fatos constitutivos do direito do autor, a improcedência da presente ação é medida que se impõe. IV. DISPOSITIVO Diante do exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na petição inicial, com resolução do mérito. Por conseguinte, CONDENO o autor ao pagamento das custas e despesas processuais remanescentes, considerando a alteração do valor da causa, bem como honorários advocatícios, os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do CPC.(...)”. (ID. 291088383) Pois bem. A controvérsia central do presente recurso reside na verificação de três aspectos fundamentais: i) a natureza jurídica da relação estabelecida entre as partes e, consequentemente, o regime jurídico aplicável; ii) a validade e eficácia das cláusulas de exclusão de cobertura invocadas pela ré; e iii) a análise das provas produzidas para aferição da real causa do acidente e da legitimidade da recusa de cobertura. I. Vê-se que a Apelada sustenta que se trata de relação associativa, regida exclusivamente pelo Código Civil, por ser uma associação de proteção veicular se finalidade lucrativa. Noutro giro, o apelante sustenta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Apesar de formal caracterização como associação civil, observa-se que a Apelada oferece serviços de natureza securitária no mercado de consumo, mediante contraprestação financeira mensal, configurando-se como fornecedora de serviços nos termos do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor. Assim, o Apelante ao contratar tais serviços como destinatário final, enquadra-se na definição de consumidor prevista no art. 2º do mesmo diploma legal. Aliás, a jurisprudência entende que a denominação formal da entidade não descaracteriza a natureza consumerista da relação quando presentes os requisitos legais. Vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA C/C DANOS MORAIS. PROGRAMA DE PROTEÇÃO VEICULAR. ASSOCIAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS . PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO . EMBRIAGUEZ. AGRAVAMENTO DO RISCO NÃO COMPROVADO. DESCONTO DE COTA DE PARTICIPAÇÃO DEVIDO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA . 1. Conforme orientação do STJ, as associações que fornecem proteção veicular mediante recebimento de remuneração mensal se enquadram no conceito de fornecedoras de serviços, e os associados, responsáveis pelo pagamento das mensalidades para proteção material dos veículos, adequam-se à figura de consumidores, razão pela qual devem ser aplicadas as regras do Código de Defesa do Consumidor, e que além disso, as atividades da associação de proteção automotiva caracterizam-se como prática securitária. 2. A responsabilidade da associação pela cobertura, em caso de acidente automobilístico, não é automaticamente afastada em virtude da constatação da embriaguez do condutor do veículo, devendo ser demonstrado que o agravamento de risco dela decorrente influiu intencionalmente e decisivamente na ocorrência do sinistro, o que não se vislumbra no caso dos autos, porquanto impossível concluir, com certeza, se a imprudência cometida pelo associado resultou do seu estado de ebriedade . 3. Não há irregularidade na cobrança da cota de participação do associado em caso de acidente do automóvel cadastrado, por se tratar de espécie de ?franquia? devida à associação, cujo valor cobrado, no caso, corresponde a 3% do valor da tabela FIPE do veículo à época do sinistro, e que deverá ser abatida APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (TJ-GO 5123697-61.2018 .8.09.0051, Relator.: DESEMBARGADOR MARCUS DA COSTA FERREIRA, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: 08/05/2023) Destaquei Ressalte-se que o reconhecimento das normas consumeristas não afasta por completo a aplicação das regras do direito civil e do estatuto associativo. Trata-se, na verdade, de diálogo de fontes, em que as normas do CDC, quando mais favoráveis ao consumidor, devem prevalecer sobre disposições contratuais mais restritivas de direitos. II. No segundo ponto, o Apelante alega que há divergência entre as cláusulas citadas na sentença e aquelas efetivamente constantes no contrato juntado aos autos. De fato, ao redigir a sentença, o MM. Juiz prolator incorreu em erro material ao indicar a cláusula excludente de responsabilidade da empresa requerida, mencionando se tratar da cláusula 5.1, “j”, quando, na verdade, a correta é a cláusula 5.1, “m”, que assim dispõe: “Veículos que não mantiverem suas manutenções em dia, tais como trocas de pneus e revisão no sistema de freios, mas não se limitando a estes.”. No entanto, é fato que o contrato prevê a exclusão de cobertura para danos decorrentes de defeitos mecânicos preexistentes ou falta de manutenção. O ponto central da controvérsia, portanto, não é tanto a existência formal da cláusula, mas sim se o evento danoso efetivamente se enquadra na hipótese de exclusão. III. O apelante impugna o laudo pericial utilizado pelo juízo para fundamentar a sentença, sob o argumento de que foi produzido de forma unilateral, sem a observância do contraditório, e quando o veículo já havia sofrido múltiplos danos. Alega, ainda, que foram desconsiderados os depoimentos das testemunhas que contradizem as conclusões do referido laudo pericial. Ao analisar o conjunto probatório, verifico que o laudo pericial ora questionado, de fato, foi produzido unilateralmente, pela empresa apelada, sem a participação do apelante ou a nomeação de assistente técnico. Tal circunstância não invalida completamente o documento, mas reduz sua força probatória, especialmente quando confrontado com outras provas produzidas sob o crivo do contraditório. Por outro lado, em favor do Apelante, há apenas o depoimento da testemunha Emerson dos Santos de Almeida, motorista do veículo, que afirmou em juízo que “o caminhão estava com prevenção em dia, estava em perfeito estado de conservação, não necessitava de reparo” e que “tinha feito revisão uma semana antes do acidente.”. Embora o depoimento testemunhal tenha sido produzido sob o crivo do contraditório, devo ponderar que se trata de uma única testemunha, que mantinha relação de dependência econômica com o apelante na condição de seu empregado, o que pode comprometer parcialmente sua isenção. Além disso, sua afirmação quanto à realização de revisão recente não está corroborada por nenhum documento, como notas fiscais, ordens de serviço ou recibos que comprovariam a efetiva realização da manutenção alegada. O Apelante, a quem incumbia o ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I, do CPC), não trouxe aos autos qualquer documentação que comprovasse a realização de manutenções periódicas no veículo, especialmente a revisão mencionada pela testemunha. Tais documentos seriam de fácil obtenção pelo proprietário do veículo, caso efetivamente existissem. Por outro lado, a Apelada, a quem cabia comprovar fato impeditivo do direito do autor (art. 373, II, do CPC), apresentou laudo técnico que, embora produzido unilateralmente, aponta com detalhes a causa do acidente, respaldando a sua recusa de cobertura. Se o laudo contivesse informações manifestamente inverídicas ou tecnicamente inconsistentes, caberia ao Apelante demonstrar tais vícios por meio de contraprova técnica adequada, que não ocorreu. Nesse contexto, à luz do princípio do livre convencimento motivado e da proporcionalidade, analisando as provas apresentadas, não vislumbro elementos suficientes para afastar, com a segurança necessária, a conclusão alcançada pelo juízo de primeiro grau. Ora, a simples existência de dúvida quanto à causa do acidente, em cenário de insuficiência probatória, não autoriza automaticamente a procedência dos pedidos do Apelante, sobretudo quando este não se desincumbiu satisfatoriamente do ônus probatório que lhe competia. Nesse sentido: INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS, LUCROS CESSANTES e DANOS MORAIS. ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO VEICULAR. Autor pretende o recebimento de indenizações por danos materiais e morais, além de lucros cessantes, pela perda total do veículo em acidente, diante da injusta recusa de pagamento pela associação. Extinção da ação, sem resolução do mérito, em relação à instituição financeira por ilegitimidade passiva ad causam e improcedência do pedido em relação à Associação . Apelo do autor. Contrato de proteção veicular. Pacto que se afigura verdadeiro contrato de seguro atípico. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso que não implica em automática inversão do ônus probatório . Ônus do autor em demonstrar minimamente os fatos constitutivos de seu direito. Ré que se recusou a pagar a indenização ajustada, ao argumento de que o autor incorreu em causa de exclusão da cobertura, consubstanciada na ausência de manutenção regular do veículo. Requerida que juntou laudo técnico indicando falha no sistema de freios do veículo protegido, suficiente a dar causa ao sinistro. Subsídio apto a demonstrar fato extintivo do direito do autor, cabendo a este a produção de elementos probatórios suficientes a afastar tais conclusões. Contudo, ciente do laudo técnico colacionado pela ré e instado a se manifestar acerca do interesse na produção de outras provas, o requerente deixou transcorrer in albis o prazo concedido. Inércia que indica conformismo com o acervo probatório produzido. Autor que não se desincumbiu, portanto, do ônus que lhe cabia, quanto ao fato constitutivo de seu direito ( CPC, art. 373, I), não produzindo nos autos prova técnica capaz de afastar as falhas apuradas no laudo apresentado pela ré e garantir o direito à cobertura contratada. Sentença mantida. Recurso não provido. (TJ-SP 1010279-11.2022 .8.26.0114 Campinas, Relator.: Mary Grün, Data de Julgamento: 10/04/2024, 32ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/04/2024) Destaquei Ainda que se aplique o Código de Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova não é automática nem absoluta, dependendo de verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica do consumidor, conforme determina o art. 6º, VIII, do CDC. No caso concreto, o Apelante tinha plenas condições de comprovar documentalmente a realização de manutenções periódicas em seu veículo, prova que seria determinante para afastar a aplicação da cláusula de exclusão de cobertura. Ressalto que, em contratos de seguro e congêneres, a boa-fé opera de forma bilateral, impondo deveres tanto a seguradora quanto ao segurado. Dentre os deveres do segurado, destaca-se o de manter o bem segurado em adequadas condições de uso e conservação, adotando medidas preventivas para mitigas riscos. A comprovação de cumprimento desse dever, no caso em análise, competia ao apelante, o que não ocorreu de forma satisfatória. Vale mencionar ainda que, tecnicamente, não é impossível que a quebra de um componente estrutural como o suporte do amortecedor possa resultar em instabilidade veicular e consequente perda de controle direcional, especialmente em curvas ou declives. A alegação do apelante de que tal defeito não poderia causar o acidente carece de respaldo técnico nos autos, não sendo produzida qualquer contraprova pericial nesse sentido. Considerando todos esses fatores, entendo que não há nos autos elementos probatórios suficientes para afastar a conclusão alcançada na sentença quanto à causa do acidente e à aplicabilidade da cláusula de exclusão de cobertura. IV. Havendo legitimidade na recusa de cobertura, fica prejudicada a análise dos pedidos de indenização por danos materiais, morais e lucros cessantes, uma vez que não restou configurado o ato ilícito por parte da Apelada ao negar a cobertura com base em cláusula contratual válida e aplicável ao caso concreto. Posto isso, NEGO PROVIMENTO ao Recurso de Apelação interposto por ROBERTO KONZEN, para manter intacta a sentença prolatada. Por conseguinte, desprovido o apelo, majoro a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais de 10% para 12% (doze por cento). É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 24/06/2025

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Processo nº 1010279-05.2024.8.11.0002

ID: 291779586

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1010279-05.2024.8.11.0002

Data de Disponibilização: 06/06/2025

Polo Ativo:

CF COMERCIO ATACADISTA E REPRESENTACAO DE SUPRIMENTOS PARA INFORMATICA LTDA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

ARIANE RADEL DOS SANTOS ARAUJO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

GABRIEL PAULINO BATISTA BANDEIRA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1010279-05.2024.8.11.0002. AUTOR(A): CF COMERCIO ATACADISTA E REPRESENTACAO DE SUPRIMENTOS PARA INF… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA ESP. DA FAZENDA PÚBLICA DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1010279-05.2024.8.11.0002. AUTOR(A): CF COMERCIO ATACADISTA E REPRESENTACAO DE SUPRIMENTOS PARA INFORMATICA LTDA REU: ESTADO DE MATO GROSSO VISTO. Trata-se de ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada proposta por CF COMÉRCIO ATACADISTA E REPRESENTAÇÃO DE SUPRIMENTOS PARA INFORMÁTICA LTDA move em desfavor do ESTADO DE MATO GROSSO, com o escopo de obter a concessão de medida liminar inaudita altera parte, especialmente com fulcro no art. 5º, XIII, e do art. 170, parágrafo único, da CF, para que o demandado reestabeleça, até o julgamento de mérito, de forma imediata, a emissão de Nota Fiscal Eletrônica – NFe e a emissão de Conhecimento de Transporte Eletrônico (CTe), bem como restabeleça a inscrição estadual da empresa requerente, as quais estão suspensas/bloqueadas pela SEFAZ em razão do relatado nesta peça vestibular. O pedido liminar foi indeferido (id. 144494219). Conhecido e parcialmente provido o Agravo de Instrumento n.º 1009984-71.2024.8.11.0000, para reformar a r. decisão agravada e, confirmar a tutela recursal deferida, suspendendo os efeitos das penalidades impostas pela medida cautelar administrativa que determinou o impedimento de emissão de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e) por meio do sistema da SEFAZ (id. 173013259) O requerido apresentou contestação, pugnando pela improcedência da ação e informou o cumprimento da liminar (id. 177188144 e 177188572). Impugnação à contestação anexada ao id. 187601634. É o relatório. Fundamento e decido. Primeiramente, entendo que, no caso sub examine, a questão de mérito é unicamente de direito e de fato, sendo desnecessária a produção de novas provas, uma vez que os elementos imprescindíveis para a análise do pleito já estão à disposição deste Juízo, razão pela qual passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, I, do CPC. Pelo que consta dos autos, a requerente foi incluída no Regime Cautelar Administrativo, consoante id. 144444298. A respeito do tema, é de conhecimento que o Egrégio TJMT tem se posicionado no sentido de admitir a legalidade do regime cautelar administrativo aplicado aos contribuintes inadimplentes, no que tange à forma de quitação do tributo, que deve ocorrer de maneira antecipada, considerando que tal procedimento não altera a regra matriz de incidência do ICMS. Nesse sentido: RECURSO DE APELAÇÃO COM REMESSA NECESSÁRIA – MANDADO DE SEGURANÇA – PRETENSÃO DE CANCELAMENTO DE TERMO DE APREENSÃO E DEPÓSITO – CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DEMONSTRA QUE O DÉBITO OMISSO QUE DEU AZO À LAVRATURA DO ATO ADMINISTRATIVO NÃO MAIS SE ENCONTRAVA SUSPENSO – REATIVAÇÃO NO SISTEMA DE CONTA CORRENTE FISCAL – CONTRIBUINTE SUJEITA AO REGIME ADMINISTRATIVO CAUTELAR – EXIGÊNCIA DO RECOLHIMENTO ANTECIPADO DO ICMS – RESOLUÇÃO Nº. 007 /2008- SARP – LEGALIDADE – CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO ENSEJA ALTERAÇÃO DE REGRA MATRIZ DE TRIBUTO – RECURSO PROVIDO – SENTENÇA RETIFICADA. O regime administrativo cautelar, instituído pela Resolução nº. 007 /2008/ SARP /SEFAZ-MT e regulamentado pelo art. 444 e seguintes do RICMS/MT é legal, porquanto apenas obriga o contribuinte em débito com o Fisco ao recolhimento antecipado do imposto, não criando ou instituindo situação jurídica além daquela já prevista em lei. [...]”. (TJMT - N.U 0025789-41.2013.8.11.0041, Desa. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES , SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO, Julgado em 27/11/2018, Publicado no DJE 18/12/2018) “MANDADO DE SEGURANÇA – APREENSÃO DE MERCADORIA – RECOLHIMENTO ANTECIPADO DO TRIBUTO – RESOLUÇÃO N. 07/2008- SARP – AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE - SENTENÇA RETIFICADA. [...] 2. Não há qualquer ilegalidade na inclusão do contribuinte em débito com o fisco, no regime diferenciado cautelar instituído pelo RICMS e Resolução nº 007 /2008/ SARP /SEFAZ, haja vista que aludido regime é apenas uma forma de recolhimento do tributo, exigida de todos os contribuintes que se encontram nas mesmas hipóteses previstas na lei e no regulamento”. (TJMT - N.U 0037101-48.2012.8.11.0041, Desa. MARIA EROTIDES KNEIP, PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO, Julgado em 26/02/2018, Publicado no DJE 16/04/2018) Todavia, na presente situação, além de se impor o recolhimento antecipado do tributo, foi aplicada ao contribuinte a sanção prevista no artigo 916, §2º, incisos III, IV, VIII, XI e XIV do RICMS, consistente na suspensão da autorização para emissão de Nota Fiscal eletrônica, obrigando-o a emitir o documento fiscal, operação por operação, diretamente na Agência Fazendária: “Art. 915 Quando o contribuinte, reiteradamente, deixar de cumprir suas obrigações fiscais, a administração tributária poderá impor-lhe um regime que assegure o cumprimento desses deveres. (cf. artigos 17-H e 17-I da Lei n° 7.098/98, acrescentados pela Lei n° 9.425/2010) [...] Art. 916 do RICMS. A autoridade administrativo-tributária, titular da respectiva atribuição no Regimento Interno da Secretaria de Estado de Fazenda, para garantir o cumprimento da obrigação tributária e promover a segurança jurídica do tributo, poderá determinar a aplicação do disposto no artigo 915, mediante regime de tutela ao pagamento do imposto e restrição de direitos, inclusive aplicável a estabelecimento ou sujeito passivo de determinada categoria, grupos ou setores de quaisquer atividades econômicas. (cf. artigos 17-H e 17-I da Lei n° 7.098/98, acrescentados pela Lei n° 9.425/2010) § 1° A autoridade administrativa que determinar a medida cautelar administrativa registrará o fato nos respectivos sistemas eletrônicos de registro e controle cadastrais da Secretaria de Estado de Fazenda, em relação ao estabelecimento e às empresas interligadas, controladas e controladoras, bem como expedirá notificação ao contribuinte, na forma prevista na legislação. § 2° A medida cautelar administrativa será aplicada, provisoriamente, a estabelecimento especificado no sistema eletrônico a que se refere o § 1° deste artigo e, durante a sua vigência, implicará: I – exigência, a cada operação ou prestação, do recolhimento do imposto no primeiro Posto Fiscal de divisa interestadual; II – obrigatoriedade de anexação, conforme o caso, da GNRE On-Line ou do DAR-1/AUT, correspondente à Nota Fiscal que acobertar o trânsito da mercadoria, para comprovação do recolhimento do valor do ICMS destacado, inclusive o devido a título de substituição tributária relativo a cada operação interestadual ou interna; III – suspensão dos credenciamentos, reduções e benefícios fiscais de caráter não geral, cadastrados e previstos para o estabelecimento, sua interligada, controlada, controladora, quadro societário ou diretivo; IV – emissão, a cada operação ou prestação de saída, do documento fiscal a que se refere o artigo 216, feito em substituição ao documento fiscal autorizado ao estabelecimento, hipótese em que o documento emitido na forma do referido artigo 216 será acompanhado do DAR-1/AUT correspondente ao recolhimento do respectivo imposto destacado; [...] VIII – exigência, de ofício, do imposto, sem aplicação das reduções decorrentes dos credenciamentos pertinentes ao estabelecimento, sua interligada, controlada ou controladora; [...] XI – inclusão em medida cautelar administrativa de todos os estabelecimentos interligados, coligados ou controlados pelo sujeito passivo, sócios, gerentes ou diretores; [...] XIV – suspensão dos prazos concedidos para pagamento do imposto ou do regime de apuração em conta gráfica; [...] § 6° Mediante pedido do sujeito passivo e desde que não haja risco ao cumprimento da obrigação, a autoridade administrativa que determinar a medida cautelar administrativa poderá autorizar, em substituição ao disposto no inciso IV do § 2° deste artigo, o uso de Nota Fiscal Eletrônica – NF-e e/ou de Conhecimento de Transporte Eletrônico CT-e, desde que: I – seja efetuada a Escrituração Fiscal Digital – EFD pertinente ao respectivo período de apuração; II – cada operação ou prestação seja devidamente acompanhada do DAR-1/AUT referente ao imposto destacado; III – sejam observadas as demais condições e obrigações estatuídas no § 2° deste artigo. § 7° A Agência Fazendária do domicílio tributário ou a autoridade administrativa que determinar a medida cautelar administrativa promoverá, de oficio, até que ocorra o adimplemento pelo sujeito passivo, a suspensão da respectiva inscrição estadual do estabelecimento inadimplente com os deveres indicados no § 2° deste artigo. § 8° A autorização prevista no § 6° deste artigo poderá ser suspensa ou cassada na hipótese de descumprimento de cláusula imposta pela medida cautelar administrativa ou de outras obrigações tributárias acessórias, bem como na ocorrência de recolhimentos incompatíveis com operações e prestações realizadas”. “Art. 216 do RICMS. A Secretaria de Fazenda utilizará Nota Fiscal Avulsa, de modelo próprio e de sua exclusiva emissão. (v. § 3° do art. 19 do Convênio SINIEF s/n°, de 15/12/70, redação dada pelo Ajuste SINIEF 2/97).” Verifica-se, contudo, que embora o Estado de Mato Grosso sustente estar apenas exercendo o poder de polícia atribuído à Administração Pública, ao instituir um regime especial ao contribuinte inadimplente com o objetivo de garantir o cumprimento da obrigação tributária principal (quitação do tributo), entendo que a vedação à emissão de Nota Fiscal Eletrônica (NFe) e/ou Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e) configura medida de caráter sancionatório, por representar obstáculo ao livre exercício da atividade econômica e à livre iniciativa, comprometendo, de forma direta e inevitável, o direito de atuação no mercado, em afronta aos artigos 1º, inciso IV, e 170 da Constituição Federal, conforme se observa: “ Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; [...]” “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” Nessa perspectiva, destaca-se o posicionamento já pacificado pelo Supremo Tribunal Federal, conforme estabelecido nas Súmulas 70 e 547, in verbis: “Súmula nº 70 STF - É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo. Súmula nº 547 do STF - Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.” Importa salientar que a jurisprudência tem firmado o entendimento de que a mera inadimplência do contribuinte não pode justificar a suspensão da emissão de Nota Fiscal Eletrônica e demais documentos essenciais, uma vez que tal medida impede o pleno exercício da atividade empresarial. Nesse sentido: DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROIBIÇÃO DE EMISSÃO DE NOTAS FISCAIS. SANÇÃO POLÍTICA COMO MEIO COERCITIVO PARA PAGAMENTO DE TRIBUTOS. INCONSTITUCIONALIDADE. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal considera inconstitucionais as medidas fiscais que se revestem de restrições abusivas, limitadoras do livre exercício da atividade econômica. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento”. (STF – AG.ERG no RE com Agravo 917.191-SP – RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO – Publicação: 28/06/2016) “DÉBITO FISCAL - IMPRESSÃO DE NOTAS FISCAIS - PROIBIÇÃO - INSUBSISTÊNCIA. Surge conflitante com a Carta da República legislação estadual que proíbe a impressão de notas fiscais em bloco, subordinando o contribuinte, quando este se encontra em débito para com o fisco, ao requerimento de expedição, negócio a negócio, de nota fiscal avulsa.” (STF - RE 413.782, Rel. Min. Marco Aurélio) Corroborando esse entendimento, a jurisprudência do TJMT também se manifesta no mesmo sentido: “AGRAVO DE INSTRUMENTO – MANDADO DE SEGURANÇA – DECISÃO QUE DEFERIU PEDIDO DE LIMINAR – SUSPENSÃO - MEDIDA CAUTELAR ADMINISTRATIVA – POSSIBILIDADE – REGIME DE APURAÇÃO E RECOLHIMENTO DO ICMS – POSSIBILIDADE – EMISSÃO DE NOTA FISCAL ELETRÔNICA (NFE-e) – IMPOSSIBILIDADE – OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA LIVRE INICIATIVA E LIVRE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE ECONÔMICA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (...) II - A partir do momento em que a Agravada/impetrante depende de emissão das NFE-e para o desenvolvimento de sua atividade empresarial, este elemento já é apto a demonstrar a plausibilidade do direito invocado, tal qual pretendido no "mandamus", tendo em vista que a suspensão da autorização para a emissão das NF-e, por óbvio, trata-se de verdadeiro óbice capaz de trazer prejuízos. III – Recurso parcialmente provido. (N.U 1021566-73.2021.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, MARIA EROTIDES KNEIP, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 12/12/2022, Publicado no DJE 22/12/2022)” “AGRAVO INTERNO EM MANDADO DE SEGURANÇA – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE CONCEDEU A LIMINAR VINDICADA – SUSPENSÃO DA EMISSÃO DE NOTA FISCAL ELETRÔNICA – EXISTÊNCIA DE DÉBITOS FISCAIS – SANÇÃO POLÍTICA COMO MEIO COERCITIVO PARA PAGAMENTO DE TRIBUTOS – INCONSTITUCIONALIDADE – SEGURANÇA CONCEDIDA – RECURSO DESPROVIDO. 1. A inadimplência do contribuinte perante o fisco não pode servir de fundamento para suspensão da emissão de Nota Fiscal Eletrônica ou de Conhecimento de Transporte Eletrônico, sob a pena de violar a garantia constitucional da livre iniciativa e do livre exercício da atividade econômica, porquanto a Administração dispõe de outros meios administrativos e judiciais para cobrança de seus tributos. (TJ-MT 10124261520218110000 MT, Relator: ALEXANDREELIAS FILHO, Data de Julgamento: 02/12/2021, Turma de Câmaras Cíveis Reunidas de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 07/12/2021)” Dessa forma, fica evidenciado que o ente público responsável, ao aplicar a penalidade prevista no artigo 916, §2º, inciso IV, do RICMS, está violando direito líquido e certo garantido pela Constituição Federal. Ante o exposto, RATIFICO a decisão liminar deferida no agravo de instrumento de n° 1009984-71.2024.8.11.0000 e ACOLHO PARCIALMENTE OS PEDIDOS da exordial, tão somente para determinar a suspensão das penalidades impostas pela medida cautelar administrativa relativa ao impedimento de emissão de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e) via sistema SEFAZ. Por consequência, JULGO EXTINTO O PROCESSO, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, inc. I, do CPC. Isento o requerido do pagamento das custas, em face do art. 3º, I, da Lei Estadual nº 7.603/01. Condeno o Estado de Mato Grosso ao pagamento dos honorários advocatícios em favor do advogado do autor, estes fixados de forma equitativa no valor de R$ 2.000,00, levando-se em conta o tempo exigido e o zelo dos profissionais, com fundamento nos artigos 85, §2° e § 8° do Código de Processo Civil. Para atualização do valor dos honorários advocatícios, como os honorários foram fixados em quantia certa, o termo inicial da correção monetária (IPCA – E) é a data do arbitramento dos honorários, e os juros de mora (índice de remuneração da caderneta de poupança), a partir da data do trânsito em julgado da decisão, nos termos do artigo 85, §16, do CPC. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos. P.R.I.C. Cuiabá, data do sistema. FRANCISCO ROGÉRIO BARROS Juiz de Direito

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