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Processo nº 1077909-05.2024.8.26.0053

ID: 300954122

Tribunal: TJSP Órgão: Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 10ª Vara de Fazenda Pública Classe: MANDADO DE SEGURANçA CíVEL Nº Processo: 1077909-05.2024.8.26.0053

Data de Disponibilização: 17/06/2025

Polo Ativo:

GILSON GIACOMINI FILHO

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

PAULO RICARDO BAGATIN CORREA

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Processo 1077909-05.2024.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Extinção do Crédito Tributário - GILSON GIACOMINI FILHO - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por… Processo 1077909-05.2024.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Extinção do Crédito Tributário - GILSON GIACOMINI FILHO - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por GILSON GIACOMINI FILHO contra ato imputado a Diretor do Departamento de Rendas Imobiliárias da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo e PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Narra a parte impetrante, em suma, que estava em vias de adquirir bem imóvel; que houve a municipalidade pretendia a cobrança de imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) tomando como base de cálculo o valor venal de referência do imóvel, com fundamento na Lei Municipal n. 14.256/2006; que tal ato é inconstitucional. Pleiteia a concessão da segurança, inclusive em caráter liminar, a fim de que seja determinado o cálculo do imposto com base no valor da transação onerosa, em substituição ao valor de referência. Deferiu-se o pedido liminar (fls. 22/23). Notificada, a autoridade indicada como coatora prestou informações. Preliminarmente, requereu a suspensão da ação até julgamento definitivo do tema no STJ. No mérito, expõe que o imposto foi cobrado com base na Lei Municipal n. 14.256/06 e que a base de cálculo do ITBI não precisa coincidir com a base de cálculo do IPTU. Afirma que o valor deve ser atualizado. Intimado, o Ministério Público apresentou parecer em que se manifesta pela ausência de interesse público primário que justifique a sua intervenção no feito. É o relatório. Passo a decidir. De plano, afasto a preliminar levantada pela impetrada, que requereu a suspensão do processo até julgamento definitivo do Tema 1113. Não se nega que pende de julgamento Recurso Extraordinário interposto contra o acórdão paradigma. Entretanto, não é necessário o trânsito em julgado para que o entendimento do eg. STJ seja aplicado, nos termos do art. 1040, inciso III do CPC. Finalizadas as questões iniciais, passo ao julgamento do mérito. A ação constitucional de mandado de segurança visa à tutela de direito líquido e certo em face de ilegalidade ou abuso de poder praticados por autoridade pública ou por agente particular no exercício de atribuições do Poder Público, na forma do art. 5º, LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB) e do art. 1º da Lei Federal n. 12.016/2009. O direito líquido e certo é definido como aquele cujo fato constitutivo é demonstrável de plano, vale dizer, mediante apresentação de prova pré-constituída. Assim, pela interpretação a contrario sensu do enunciado da Súmula n. 625 do colendo Supremo Tribunal Federal, afastam-se da tutela pelo mandado de segurança além dos direitos amparáveis por habeas corpus (direito à locomoção) e habeas data (direito à autodeterminação informativa) , os direitos cujos fatos constitutivos dependem de certificação quanto à matéria fática. Ou seja, afastam-se aqueles que dependem de dilação probatória. O caso em tela não se submete a nenhum desses afastamentos. O imposto sobre a transmissão de bens imóveis (ITBI) tem por fato gerador a transferência onerosa da propriedade ou de direitos reais sobre bens imóveis, ressalvados os direitos reais de garantia, à luz do art. 156, II e § 2º, da CRFB/88 e dos arts. 35 a 42 do CTN. Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD) e o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) constituíam imposto único: o imposto de transmissão de bens imóveis e direitos a eles relativos, cujas normas gerais estão dispostas nos arts. 35 e 42 do Código Tributário Nacional (CTN). Com o novo sistema tributário inaugurado pela referida constituição, a transmissão causa mortis de bens e direitos e a doação (negócio jurídico gratuito) passaram a constituir fato gerador do ITCMD (imposto estadual, na forma do art. 155, I, da CRFB). E a transmissão inter vivos onerosa de bens imóveis e de direitos reais sobre bens imóveis (exceto os de garantia), passou a constituir fato gerador do ITBI (imposto municipal, na forma do art. 156, II, da CRFB). Os arts. 33 e 38 do Código Tributário Nacional (CTN) determinam que a base de cálculo dos impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos (ITBI) é o valor venal do imóvel. Em relação à questão controvertida, o Órgão Especial do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em arguição de inconstitucionalidade, declarou a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei Municipal n. 11.154/91, com a redação dada pelas Leis n. 14.125/05 e 14.256/06 (TJSP; Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade Cível 0056693-19.2014.8.26.0000; j. 25/3/2015). Reconheceu-se que, por se tratar de imposto sujeito a lançamento por homologação, o sujeito passivo do tributo deverá proceder ao recolhimento do imposto apurado com base no valor do negócio jurídico tributado. Ao passo que cabe à Administração lançar mão do procedimento previsto no artigo 148 do CTN, caso discorde das declarações prestadas pelo sujeito passivo. Não é possível inversão de tal procedimento, com a imposição de uma base de cálculo prévia pela Administração Tributária: O "valor venal de referência", ao qual faz alusão o preceito do artigo 7º-A da Lei Municipal nº 11.154/91, pode servir ao Município tão somente como parâmetro de verificação da compatibilidade da base de cálculo obtida a partir do preço declarado de venda do imóvel, na transação objeto da exação, com a realidade do mercado imobiliário; não pode se prestar à prévia fixação daquele montante tributável, obrigando o contribuinte ao recolhimento respectivo. Assim, tal órgão colegiado reconheceu a constitucionalidade da cobrança de ITBI com base no valor da própria transação imobiliária; e a possibilidade de instauração de procedimento administrativo de apuração da correção de tal valor, e eventual arbitramento de novo valor, à luz das circunstâncias de mercado. Todavia, vedou a possibilidade de a Administração Tributária exigir o recolhimento com base em valor unilateralmente por ela apurado. Portanto, a base de cálculo do tributo é, em regra, o valor real da transação. E tal valor, por força do princípio da boa-fé objetiva, corresponde ao valor de mercado do imóvel. Diante de possível divergência entre o valor da transação e o valor de mercado, pode o Fisco promover o lançamento por arbitramento, com base no valor de mercado apurado em procedimento administrativo fiscal instaurado na forma do art. 148 do CTN. Assim, não é viável o lançamento por arbitramento como regra, mas sim como exceção, mediante demonstração (pelo Fisco) da divergência entre o valor da transação e o valor de mercado. Nesse sentido, a tese firmada pelo colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Tema 1.113 dos recursos especiais repetitivos: a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente." (STJ, REsp 1.937.821-SP, Primeira Seção, j. 24/2/2022) No mesmo sentido, a jurisprudência anterior: O preço efetivamente pago pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu valor venal, considerado como o valor de uma venda regular, em condições normais de mercado. Todavia, se o valor apresentado pelo contribuinte no lançamento do ITBI (por declaração ou por homologação) não merece fé, o Fisco igualmente pode questioná-lo e arbitrá-lo, no curso de regular procedimento administrativo, na forma do art. 148 do CTN (STJ, AgRg no AREsp 847.280/PR, Segunda Turma, j. 10/3/2016) Sobre o tema, cf. ainda: TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1014920-31.2022.8.26.0053; 14ª Câmara de Direito Público; j. 20/07/2022; TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1025288-36.2021.8.26.0053; 18ª Câmara de Direito Público; j. 17/5/2022). Isso posto, julgo extinto o feito, com resolução de mérito, na forma do art. 487, I, do CPC, e procedente o pedido para, confirmando a decisão liminar, conceder a segurança para determinar à autoridade impetrada que promova a apuração do valor devido por GILSON GIACOMINI FILHO a título de ITBI, pelo negócio jurídico imobiliário descrito na petição inicial, com base no valor da transação, atualizado monetariamente, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN. Sem honorários (Lei Federal nº 12.016/2009, art. 25). Custas já pagas ou houve isenção em razão do deferimento do benefício da gratuidade da Justiça. Comunique-se a autoridade coatora, na forma do art. 13 da Lei Federal n. 12.016/2009. Esta sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório (remessa necessária), em razão do disposto no art. 496, § 4º, do CPC (fundada em julgamento repetitivo). Se alguma das partes (ou ambas) apresentar(em) recurso de apelação, int.-se a parte adversa para, no prazo de 15 dias, apresentar contrarrazões. Após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Deixo de determinar a remessa ao Ministério Público em razão da manifestação de desinteresse no julgamento do feito. Se não interposto recurso, arquivem-se. Intime-se. São Paulo,05 de junho de 2025. - ADV: PAULO RICARDO BAGATIN CORREA (OAB 435550/SP)

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Processo nº 1050640-30.2020.8.26.0053

ID: 308758852

Tribunal: TJSP Órgão: Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 10ª Vara de Fazenda Pública Classe: MANDADO DE SEGURANçA CíVEL Nº Processo: 1050640-30.2020.8.26.0053

Data de Disponibilização: 26/06/2025

Polo Ativo:

NEIDE MELLONE ROMANO VICENTE ROMANO NETO

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

FABRICIO DE CALDAS GRIFFO

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EDUARDO NUNES DE SOUZA

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Processo 1050640-30.2020.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - Vicente Romano Neto - - Neide Mellone Romano - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido li… Processo 1050640-30.2020.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - Vicente Romano Neto - - Neide Mellone Romano - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por Neide Mellone Romano e Vicente Romano Neto contra ato imputado a Diretor da Divisão de Acompanhamento do Contencioso Administrativo e Judicial - Dicaj (Secretaria das Finanças do Municí, Diretor do Departamento de Rendas Imobiliárias da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo e PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Narra a parte impetrante, em suma, que adquiriu bem imóvel; que houve a cobrança de imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) tomando como base de cálculo o valor venal de referência do imóvel, com fundamento na Lei Municipal n. 14.256/2006; que tal ato é inconstitucional. Requer pagamento do ITBI com base no valor venal lançado no IPTU ou no valor da transação, o que for maior. Pleiteia a concessão da segurança, inclusive em caráter liminar, a fim de que seja determinado o cálculo do imposto com base no valor da transação onerosa, em substituição ao valor de referência. Deferiu-se o pedido liminar (fls. 79/80). Notificada, a autoridade indicada como coatora prestou informações. Preliminarmente, ventila a inadequação da via eleita. No mérito, expõe que o imposto foi cobrado com base na Lei Municipal n. 14.256/06 e que a base de cálculo do ITBI não precisa coincidir com a base de cálculo do IPTU. Afirma que o valor deve ser atualizado. Intimado, o Ministério Público apresentou parecer em que se manifesta pela ausência de interesse público primário que justifique a sua intervenção no feito. Sobreveio sentença concedendo a segurança (fls. 111/114). O Município opôs embargos de declaração (fls. 118/119), pugnando pela suspensão do feito em razão de decisão do eg. STJ em sede de Recurso Especial com repercussão geral reconhecida. O feito foi suspenso (fl. 127). Com o julgamento definitivo do Tema nº 1113 do eg. STJ, determinou-se o prosseguimento do feito (fl. 137). Intimado, o impetrante não se manifestou quanto aos embargos de declaração. É o relatório. Passo a decidir. Em razão do julgamento do Tema nº 1113, anulo a sentença de fls. 111/114, pois não está de acordo com o entendimento pacificado pelo Eg. STJ. Quanto à preliminar de inadequação da via eleita, deve ser rejeitada. Não se trata de impetração contra lei em tese (vedada nos termos do enunciado da Súmula 266 do colendo Supremo Tribunal Federal. Isso pois não há declaração de inconstitucionalidade como pedido, mas apenas como causa de pedir da cessação de ilegalidade ou abuso de poder que tem efeitos concretos sobre a parte impetrante. A controvérsia é sobre a legalidade da cobrança de imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) com base em valor de referência atribuído unilateralmente pela Administração Tributária. Trata-se de controvérsia exclusivamente jurídica, que independe de apuração contábil e, consequentemente, independe de dilação probatória, o que atrai a adequação da via eleita. Sobre o tema, cf.: TJSP; Remessa Necessária Cível 1016894-11.2019.8.26.0053; 18ª Câmara de Direito Público; j. 21/8/2019. Por tais razões, rejeito a preliminar de inadequação da via eleita. Finalizadas as questões iniciais, passo ao julgamento do mérito. A ação constitucional de mandado de segurança visa à tutela de direito líquido e certo em face de ilegalidade ou abuso de poder praticados por autoridade pública ou por agente particular no exercício de atribuições do Poder Público, na forma do art. 5º, LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB) e do art. 1º da Lei Federal n. 12.016/2009. O direito líquido e certo é definido como aquele cujo fato constitutivo é demonstrável de plano, vale dizer, mediante apresentação de prova pré-constituída. Assim, pela interpretação a contrario sensu do enunciado da Súmula n. 625 do colendo Supremo Tribunal Federal, afastam-se da tutela pelo mandado de segurança além dos direitos amparáveis por habeas corpus (direito à locomoção) e habeas data (direito à autodeterminação informativa) , os direitos cujos fatos constitutivos dependem de certificação quanto à matéria fática. Ou seja, afastam-se aqueles que dependem de dilação probatória. O caso em tela não se submete a nenhum desses afastamentos. O imposto sobre a transmissão de bens imóveis (ITBI) tem por fato gerador a transferência onerosa da propriedade ou de direitos reais sobre bens imóveis, ressalvados os direitos reais de garantia, à luz do art. 156, II e § 2º, da CRFB/88 e dos arts. 35 a 42 do CTN. Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD) e o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) constituíam imposto único: o imposto de transmissão de bens imóveis e direitos a eles relativos, cujas normas gerais estão dispostas nos arts. 35 e 42 do Código Tributário Nacional (CTN). Com o novo sistema tributário inaugurado pela referida constituição, a transmissão causa mortis de bens e direitos e a doação (negócio jurídico gratuito) passaram a constituir fato gerador do ITCMD (imposto estadual, na forma do art. 155, I, da CRFB). E a transmissão inter vivos onerosa de bens imóveis e de direitos reais sobre bens imóveis (exceto os de garantia), passou a constituir fato gerador do ITBI (imposto municipal, na forma do art. 156, II, da CRFB). Os arts. 33 e 38 do Código Tributário Nacional (CTN) determinam que a base de cálculo dos impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos (ITBI) é o valor venal do imóvel. Em relação à questão controvertida, o Órgão Especial do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em arguição de inconstitucionalidade, declarou a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei Municipal n. 11.154/91, com a redação dada pelas Leis n. 14.125/05 e 14.256/06 (TJSP; Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade Cível 0056693-19.2014.8.26.0000; j. 25/3/2015). Reconheceu-se que, por se tratar de imposto sujeito a lançamento por homologação, que o sujeito passivo do tributo deverá proceder ao recolhimento do imposto apurado com base no valor do negócio jurídico tributado. Ao passo que cabe à Administração lançar mão do procedimento previsto no artigo 148 do CTN, caso discorde das declarações prestadas pelo sujeito passivo. Não é possível inversão de tal procedimento, com a imposição de uma base de cálculo prévia pela Administração Tributária: O "valor venal de referência", ao qual faz alusão o preceito do artigo 7º-A da Lei Municipal nº 11.154/91, pode servir ao Município tão somente como parâmetro de verificação da compatibilidade da base de cálculo obtida a partir do preço declarado de venda do imóvel, na transação objeto da exação, com a realidade do mercado imobiliário; não pode se prestar à prévia fixação daquele montante tributável, obrigando o contribuinte ao recolhimento respectivo. Assim, o eg. STJ reconheceu a constitucionalidade da cobrança de ITBI com base no valor da própria transação imobiliária; e a possibilidade de instauração de procedimento administrativo de apuração da correção de tal valor, e eventual arbitramento de novo valor, à luz das circunstâncias de mercado. Todavia, vedou a possibilidade de a Administração Tributária exigir o recolhimento com base em valor unilateralmente por ela apurado. Portanto, a base de cálculo do tributo é, em regra, o valor real da transação. E tal valor, por força do princípio da boa-fé objetiva, corresponde ao valor de mercado do imóvel. Diante de possível divergência entre o valor da transação e o valor de mercado, pode o Fisco promover o lançamento por arbitramento, com base no valor de mercado apurado em procedimento administrativo fiscal instaurado na forma do art. 148 do CTN. Assim, não é viável o lançamento por arbitramento como regra, mas sim como exceção, mediante demonstração (pelo Fisco) da divergência entre o valor da transação e o valor de mercado. Nesse sentido, a tese firmada pelo colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Tema 1.113 dos recursos especiais repetitivos: a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente." (STJ, REsp 1.937.821-SP, Primeira Seção, j. 24/2/2022) No mesmo sentido, a jurisprudência anterior: O preço efetivamente pago pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu valor venal, considerado como o valor de uma venda regular, em condições normais de mercado. Todavia, se o valor apresentado pelo contribuinte no lançamento do ITBI (por declaração ou por homologação) não merece fé, o Fisco igualmente pode questioná-lo e arbitrá-lo, no curso de regular procedimento administrativo, na forma do art. 148 do CTN (STJ, AgRg no AREsp 847.280/PR, Segunda Turma, j. 10/3/2016) Sobre o tema, cf. ainda: TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1014920-31.2022.8.26.0053; 14ª Câmara de Direito Público; j. 20/07/2022; TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1025288-36.2021.8.26.0053; 18ª Câmara de Direito Público; j. 17/5/2022). No caso em tela, houve lançamento do tributo por arbitramento sem prévio procedimento administrativo fiscal em que apurada divergência entre o valor do negócio jurídico e o valor de mercado do bem (à época da transação). Daí haver ilegalidade a ser reparada por esta via mandamental, a fim de determinar o cálculo do ITBI com base no valor da transação, autorizada a incidência de correção monetária desde a data da transação, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN. Isso posto, julgo extinto o feito, com resolução de mérito, na forma do art. 487, I, do CPC, e procedente o pedido para, confirmando a decisão liminar, conceder a segurança para determinar à autoridade impetrada que promova a apuração do valor devido por Neide Mellone Romano e Vicente Romano Neto a título de ITBI, pelo negócio jurídico imobiliário descrito na petição inicial, com base no valor da transação, atualizado monetariamente, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN. Sem honorários (Lei Federal n. 12.016/2009, art. 25). Houve isenção das custas em razão do deferimento do benefício da gratuidade da Justiça. Comunique-se a autoridade coatora, na forma do art. 13 da Lei Federal n. 12.016/2009. Esta sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório (remessa necessária), em razão do disposto no art. 496, § 4º, do CPC (fundada em julgamento repetitivo). Se alguma das partes (ou ambas) apresentar(em) recurso de apelação, int.-se a parte adversa para, no prazo de 15 dias, apresentar contrarrazões. Após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Deixo de determinar a remessa ao Ministério Público em razão da manifestação de desinteresse no julgamento do feito. Se não interposto recurso, arquivem-se. Intime-se. - ADV: EDUARDO NUNES DE SOUZA (OAB 124174/SP), EDUARDO NUNES DE SOUZA (OAB 124174/SP), FABRICIO DE CALDAS GRIFFO (OAB 317102/SP), FABRICIO DE CALDAS GRIFFO (OAB 317102/SP)

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Processo nº 1013645-42.2025.8.26.0053

ID: 325912307

Tribunal: TJSP Órgão: Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 10ª Vara de Fazenda Pública Classe: MANDADO DE SEGURANçA CíVEL Nº Processo: 1013645-42.2025.8.26.0053

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

MBA PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA.

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

NATHALYA RODRIGUES DOS SANTOS

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HELLEN MEDEIROS NOVICKI DURÃES

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Processo 1013645-42.2025.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - MBA PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA. - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impe… Processo 1013645-42.2025.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - MBA PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA. - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por MBA PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA. contra ato imputado a DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE RENDAS MOBILIÁRIAS - SECRETARIA DE FINANÇAS DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO e PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Narra a parte impetrante, em suma, que integralizou seu capital utilizando bens imóveis; que houve a cobrança de imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) tomando como base de cálculo o valor venal de referência do imóvel, com fundamento na Lei Municipal n. 14.256/2006; que tal ato é inconstitucional; que a mesma base de cálculo deve ser utilizada para os emolumentos cartorário; que a data do fato gerador é a transferência no registro de imóveis e, portanto, incabível juros moratórios e multa. Pleiteia a concessão da segurança, inclusive em caráter liminar, a fim de que seja determinado o cálculo do imposto com base no valor da transação onerosa, em substituição ao valor de referência; que tal base de cálculo seja utilizada para os emolumentos cartorários e que não lhe seja imputada multa ou juros moratórios. Fls. 63/65: Deferiu-se o pedido liminar. Fls. 88/99: Notificada, a autoridade indicada como coatora prestou informações. Preliminarmente, requer a suspensão do presente feito em razão da afetação do caso ao eg. STJ. No mérito, expõe que o imposto foi cobrado com base na Lei Municipal n. 14.256/06 e que a base de cálculo do ITBI não precisa coincidir com a base de cálculo do IPTU. Afirma que o valor deve ser atualizado. Fls. 110/116: Intimado, o Ministério Público apresentou parecer em que se manifesta pela ausência de interesse público primário que justifique a sua intervenção no feito. É o relatório. Passo a decidir. Inicialmente, é o caso de extinguir parcialmente o feito em relação à parcela do pedido que trata dos emolumentos. Sua cobrança não é ato da autoridade coatora aqui indicada e, consequentemente, não é possível discutir tal base de cálculo nesses autos. Ainda, com o julgamento do RESP 1.937.821/SP (Tema 1113) pelo eg. STJ, julgo prejudicada a preliminar de suspensão do feito. Por oportuno, destaco que a aplicação do entendimento, em sede de recursos repetitivos, não depende do trânsito em julgado, nos termos do art. 1.040, inciso III, do CPC. Finalizadas as questões iniciais, passo ao julgamento do mérito. A ação constitucional de mandado de segurança visa à tutela de direito líquido e certo em face de ilegalidade ou abuso de poder praticados por autoridade pública ou por agente particular no exercício de atribuições do Poder Público, na forma do art. 5º, LXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB) e do art. 1º da Lei Federal n. 12.016/2009. O direito líquido e certo é definido como aquele cujo fato constitutivo é demonstrável de plano, vale dizer, mediante apresentação de prova pré-constituída. Assim, pela interpretação a contrario sensu do enunciado da Súmula n. 625 do colendo Supremo Tribunal Federal, afastam-se da tutela pelo mandado de segurança além dos direitos amparáveis por habeas corpus (direito à locomoção) e habeas data (direito à autodeterminação informativa) , os direitos cujos fatos constitutivos dependem de certificação quanto à matéria fática. Ou seja, afastam-se aqueles que dependem de dilação probatória. O caso em tela não se submete a nenhum desses afastamentos. O imposto sobre a transmissão de bens imóveis (ITBI) tem por fato gerador a transferência onerosa da propriedade ou de direitos reais sobre bens imóveis, ressalvados os direitos reais de garantia, à luz do art. 156, II e § 2º, da CRFB/88 e dos arts. 35 a 42 do CTN. Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD) e o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) constituíam imposto único: o imposto de transmissão de bens imóveis e direitos a eles relativos, cujas normas gerais estão dispostas nos arts. 35 e 42 do Código Tributário Nacional (CTN). Com o novo sistema tributário inaugurado pela referida constituição, a transmissão causa mortis de bens e direitos e a doação (negócio jurídico gratuito) passaram a constituir fato gerador do ITCMD (imposto estadual, na forma do art. 155, I, da CRFB). E a transmissão inter vivos onerosa de bens imóveis e de direitos reais sobre bens imóveis (exceto os de garantia), passou a constituir fato gerador do ITBI (imposto municipal, na forma do art. 156, II, da CRFB). Os arts. 33 e 38 do Código Tributário Nacional (CTN) determinam que a base de cálculo dos impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos (ITBI) é o valor venal do imóvel. Em relação à questão controvertida, o Órgão Especial do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em arguição de inconstitucionalidade, declarou a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei Municipal n. 11.154/91, com a redação dada pelas Leis n. 14.125/05 e 14.256/06 (TJSP; Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade Cível 0056693-19.2014.8.26.0000; j. 25/3/2015). Reconheceu-se que, por se tratar de imposto sujeito a lançamento por homologação, o sujeito passivo do tributo deverá proceder ao recolhimento do imposto apurado com base no valor do negócio jurídico tributado. Ao passo que cabe à Administração lançar mão do procedimento previsto no artigo 148 do CTN, caso discorde das declarações prestadas pelo sujeito passivo. Não é possível inversão de tal procedimento, com a imposição de uma base de cálculo prévia pela Administração Tributária: O "valor venal de referência", ao qual faz alusão o preceito do artigo 7º-A da Lei Municipal nº 11.154/91, pode servir ao Município tão somente como parâmetro de verificação da compatibilidade da base de cálculo obtida a partir do preço declarado de venda do imóvel, na transação objeto da exação, com a realidade do mercado imobiliário; não pode se prestar à prévia fixação daquele montante tributável, obrigando o contribuinte ao recolhimento respectivo. Assim, tal órgão colegiado reconheceu a constitucionalidade da cobrança de ITBI com base no valor da própria transação imobiliária; e a possibilidade de instauração de procedimento administrativo de apuração da correção de tal valor, e eventual arbitramento de novo valor, à luz das circunstâncias de mercado. Todavia, vedou a possibilidade de a Administração Tributária exigir o recolhimento com base em valor unilateralmente por ela apurado. Portanto, a base de cálculo do tributo é, em regra, o valor real da transação. E tal valor, por força do princípio da boa-fé objetiva, corresponde ao valor de mercado do imóvel. Diante de possível divergência entre o valor da transação e o valor de mercado, pode o Fisco promover o lançamento por arbitramento, com base no valor de mercado apurado em procedimento administrativo fiscal instaurado na forma do art. 148 do CTN. Assim, não é viável o lançamento por arbitramento como regra, mas sim como exceção, mediante demonstração (pelo Fisco) da divergência entre o valor da transação e o valor de mercado. Nesse sentido, a tese firmada pelo colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Tema 1.113 dos recursos especiais repetitivos: a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente." (STJ, REsp 1.937.821-SP, Primeira Seção, j. 24/2/2022) No mesmo sentido, a jurisprudência anterior: O preço efetivamente pago pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu valor venal, considerado como o valor de uma venda regular, em condições normais de mercado. Todavia, se o valor apresentado pelo contribuinte no lançamento do ITBI (por declaração ou por homologação) não merece fé, o Fisco igualmente pode questioná-lo e arbitrá-lo, no curso de regular procedimento administrativo, na forma do art. 148 do CTN (STJ, AgRg no AREsp 847.280/PR, Segunda Turma, j. 10/3/2016) Sobre o tema, cf. ainda: TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1014920-31.2022.8.26.0053; 14ª Câmara de Direito Público; j. 20/07/2022; TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1025288-36.2021.8.26.0053; 18ª Câmara de Direito Público; j. 17/5/2022). No que toca ao tempo do fato gerador, com razão a parte impetrante. O colendo Supremo Tribunal Federal pacificou que o fato gerador é a transferência de propriedade imobiliária no cartório de registro de imóveis: Recurso Extraordinário com Agravo. Tributário. Mandado de segurança. Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis - ITBI. Fato gerador. Cobrança do tributo sobre cessão de direitos. Impossibilidade. Exigência da transferência efetiva da propriedade imobiliária mediante registro em cartório. Precedentes. [...]. (ARE 1294969 RG, Relator(a): Ministro Presidente, Tribunal Pleno, j. em 11/2/2021) De maneira que não é possível a imposição de juros e multa moratórios referentes ao período anterior a data do fato gerador (transferência no registro de imóveis). No caso em tela, houve lançamento do tributo por arbitramento sem prévio procedimento administrativo fiscal em que apurada divergência entre o valor do negócio jurídico e o valor de mercado do bem (à época da transação). Daí haver ilegalidade a ser reparada por esta via mandamental, a fim de determinar o cálculo do ITBI com base no valor da transação, autorizada a incidência de correção monetária desde a data da transação, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN. Ainda, deve-se considerar como data do fato gerador do imposto a transmissão de bens no cartório de registro de imóveis. Isso posto, julgo parcialmente extinto o feito, sem resolução de mérito, na forma do art. 485, VI, no que toca à parcela do pedido referente aos emolumentos cartorários. E julgo extinto o feito, com resolução de mérito, na forma do art. 487, I, do CPC, e procedente o pedido para, confirmando a decisão liminar, conceder a segurança para determinar à autoridade impetrada que promova a apuração do valor devido por MBA PARTICIPAÇÕES SOCIETÁRIAS LTDA. a título de ITBI, pelo negócio jurídico imobiliário descrito na petição inicial, com base no valor da transação, atualizado monetariamente, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN; e para impedir a autoridade coatora de imputar à(s) impetrante(s) multa e juros moratórios em momento anterior à data da transferência do imóvel no cartório de registro de imóveis. Sem honorários (Lei Federal n. 12.016/2009, art. 25). Custas já pagas. Comunique-se a autoridade coatora, na forma do art. 13 da Lei Federal n. 12.016/2009. Esta sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório (remessa necessária), em razão do disposto no art. 496, § 4º, do CPC (fundada em julgamento repetitivo). Se alguma das partes (ou ambas) apresentar(em) recurso de apelação, int.-se a parte adversa para, no prazo de 15 dias, apresentar contrarrazões. Após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Deixo de determinar a remessa ao Ministério Público em razão da manifestação de desinteresse no julgamento do feito. Se não interposto recurso, arquivem-se. Intime-se. São Paulo,04 de julho de 2025. - ADV: NATHALYA RODRIGUES DOS SANTOS (OAB 496503/SP), HELLEN MEDEIROS NOVICKI DURÃES (OAB 431521/SP)

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Processo nº 1090369-24.2024.8.26.0053

ID: 331864224

Tribunal: TJSP Órgão: Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 10ª Vara de Fazenda Pública Classe: MANDADO DE SEGURANçA CíVEL Nº Processo: 1090369-24.2024.8.26.0053

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

VEGA-OFFICE LTDA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

MARIANA ALVES DE OLIVEIRA GALVAN

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1090369-24.2024.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - Vega-office Ltda - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por Vega-offi… Processo 1090369-24.2024.8.26.0053 - Mandado de Segurança Cível - Suspensão da Exigibilidade - Vega-office Ltda - Cuida-se de ação de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrada por Vega-office Ltda contra ato imputado a PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO e Secretário de Finanças do Município de São Paulo/SP. Narra a parte impetrante, em suma, que adquiriu bem imóvel; que houve a cobrança de imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) tomando como base de cálculo o valor venal de referência do imóvel, com fundamento na Lei Municipal n. 14.256/2006. Aduz que possui líquido e certo à imunidade tributária do ITBI na operação de integralização de imóveis no capital social da empresa, com fundamento no artigo 156, parágrafo segundo, inciso I, da Constituição Federal. Sustenta que a exceção à imunidade prevista no final do dispositivo constitucional aplicar-se-ia apenas às operações de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, não alcançando a integralização de capital. Subsidiariamente, requer a declaração de seu direito de recolher o ITBI sobre o valor da transação, e não o valor venal de referência. Pleiteia a concessão da segurança, inclusive em caráter liminar, a fim de que seja determinado que a autoridade coatora se abstenha de exigir o recolhimento do ITBI ou, subsidiariamente, que o cálculo do imposto com base no valor da transação onerosa, em substituição ao valor de referência; e que não lhe seja imputada multa ou juros moratórios. Deferiu-se parcialmente o pedido liminar, apenas para alterar a base de cálculo do ITBI para o valor da transação (fls. 81/84). Notificada, a autoridade indicada como coatora prestou informações (fls. 105/131). Preliminarmente, ventila a ausência de provas do ato coator e inadequação da via eleita. No mérito, expõe que o imposto foi cobrado com base na Lei Municipal n. 14.256/06 e que a base de cálculo do ITBI não precisa coincidir com a base de cálculo do IPTU. Afirma que o valor deve ser atualizado. Intimado, o Ministério Público apresentou parecer em que se manifesta pela ausência de interesse público primário que justifique a sua intervenção no feito (fls. 145/150). É o relatório. Passo a decidir. De plano, rejeito a preliminar de inadequação da via eleita. Isso porque o fato de a empresa realizar atividade de venda ou locação de propriedade imobiliária é incontroverso nos autos, não havendo que se falar em dilação probatória para comprovar tal fato. O que se discute, na verdade, é a abrangência da isenção do ITBI prevista no art 156, § 2º, I, da Constituição Federal. Trata-se de questão eminentemente de direito, adequada à estreita via do mandado de segurança. A ausência de comprovação da ocorrência do fato coator, por sua vez, se confunde com o mérito e será com ele apreciada. Ademais, não constitui requisito para a propositura de ação a comprovação de prévio requerimento administrativo daquilo que se postula judicialmente, sendo adequada a impetração de mandado de segurança preventivo. Finalizadas as questões iniciais, passo ao julgamento do mérito. A ação é parcialmente procedente. No que diz respeito ao pedido principal (imunidade tributária da impetrante), a controvérsia cinge-se à interpretação do alcance da exceção à imunidade tributária do ITBI inscrita no art. 156, §2º, inciso I, da Constituição Federal. Entende a impetrante que a exceção à imunidade prevista no final do dispositivo constitucional aplicar-se-ia apenas às operações de fusão, incorporação, cisão ou extinção de pessoa jurídica, não alcançando a integralização de capital. Isso porque a expressão "nesses casos" se referiria apenas à hipótese imediatamente anterior. Entretanto, tal entendimento não merece prosperar. A uma, porque a análise gramatical feita pela parte autora não se sustenta. Isso porque, embora a expressão "nesses" se refira, em geral, aos elementos textuais mais próximos, o termo está no plural. Quisesse o constituinte se referir a apenas uma das hipóteses do art. 156, §2º, I, teria usado "nesse caso", no singular, a denotar a limitação da hipótese. A duas, porque o Código Tributário Nacional, como lei complementar que regulamenta a imunidade, é claro ao estabelecer a exceção para toda e qualquer hipótese mencionada na Constituição Federal. Vejamos: Art. 36. Ressalvado o disposto no artigo seguinte, o impôsto não incide sobre a transmissão dos bens ou direitos referidos no artigo anterior: I - quando efetuada para sua incorporação ao patrimônio de pessoa jurídica em pagamento de capital nela subscrito; II - quando decorrente da incorporação ou da fusão de uma pessoa jurídica por outra ou com outra. Parágrafo único. O impôsto não incide sôbre a transmissão aos mesmos alienantes, dos bens e direitos adquiridos na forma do inciso I dêste artigo, em decorrência da sua desincorporação do patrimônio da pessoa jurídica a que foram conferidos. Art. 37. O disposto no artigo anterior não se aplica quando a pessoa jurídica adquirente tenha como atividade preponderante a venda ou locação de propriedade imobiliária ou a cessão de direitos relativos à sua aquisição. A redação do artigo 37 é inequívoca ao se referir a "o disposto no artigo anterior", abrangendo todas as hipóteses de imunidade previstas no artigo 36, ou seja, tanto a integralização de capital quanto as operações de reorganização societária. Não há distinção no texto legal que permita excepcionar apenas uma das modalidades de transmissão imune. Examinando o contrato social da impetrante, verifica-se que sua atividade empresarial consiste expressamente em "aluguel e administração de imóveis próprios" e "compra e venda de imóveis próprios", enquadrando-se perfeitamente na exceção legal que afasta a imunidade. A empresa dedica-se exatamente às atividades que o legislador complementar quis excluir do benefício fiscal. Assim, estando demonstrado que a impetrante possui como atividade preponderante a venda e locação de imóveis, não faz jus a imunidade pleiteada, sendo de rigor a denegação da segurança neste ponto. De outro lado, com razão o impetrante no que diz respeito à base de cálculo do ITBI. O imposto sobre a transmissão de bens imóveis (ITBI) tem por fato gerador a transferência onerosa da propriedade ou de direitos reais sobre bens imóveis, ressalvados os direitos reais de garantia, à luz do art. 156, II e § 2º, da CRFB/88 e dos arts. 35 a 42 do CTN. Antes do advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD) e o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) constituíam imposto único: o imposto de transmissão de bens imóveis e direitos a eles relativos, cujas normas gerais estão dispostas nos arts. 35 e 42 do Código Tributário Nacional (CTN). Com o novo sistema tributário inaugurado pela referida constituição, a transmissão causa mortis de bens e direitos e a doação (negócio jurídico gratuito) passaram a constituir fato gerador do ITCMD (imposto estadual, na forma do art. 155, I, da CRFB). E a transmissão inter vivos onerosa de bens imóveis e de direitos reais sobre bens imóveis (exceto os de garantia), passou a constituir fato gerador do ITBI (imposto municipal, na forma do art. 156, II, da CRFB). Os arts. 33 e 38 do Código Tributário Nacional (CTN) determinam que a base de cálculo dos impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos a eles relativos (ITBI) é o valor venal do imóvel. Em relação à questão controvertida, o Órgão Especial do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em arguição de inconstitucionalidade, declarou a inconstitucionalidade do art. 7º da Lei Municipal n. 11.154/91, com a redação dada pelas Leis n. 14.125/05 e 14.256/06 (TJSP; Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade Cível 0056693-19.2014.8.26.0000; j. 25/3/2015). Reconheceu-se que, por se tratar de imposto sujeito a lançamento por homologação, o sujeito passivo do tributo deverá proceder ao recolhimento do imposto apurado com base no valor do negócio jurídico tributado. Ao passo que cabe à Administração lançar mão do procedimento previsto no artigo 148 do CTN, caso discorde das declarações prestadas pelo sujeito passivo. Não é possível inversão de tal procedimento, com a imposição de uma base de cálculo prévia pela Administração Tributária: O "valor venal de referência", ao qual faz alusão o preceito do artigo 7º-A da Lei Municipal nº 11.154/91, pode servir ao Município tão somente como parâmetro de verificação da compatibilidade da base de cálculo obtida a partir do preço declarado de venda do imóvel, na transação objeto da exação, com a realidade do mercado imobiliário; não pode se prestar à prévia fixação daquele montante tributável, obrigando o contribuinte ao recolhimento respectivo. Assim, tal órgão colegiado reconheceu a constitucionalidade da cobrança de ITBI com base no valor da própria transação imobiliária; e a possibilidade de instauração de procedimento administrativo de apuração da correção de tal valor, e eventual arbitramento de novo valor, à luz das circunstâncias de mercado. Todavia, vedou a possibilidade de a Administração Tributária exigir o recolhimento com base em valor unilateralmente por ela apurado. Portanto, a base de cálculo do tributo é, em regra, o valor real da transação. E tal valor, por força do princípio da boa-fé objetiva, corresponde ao valor de mercado do imóvel. Diante de possível divergência entre o valor da transação e o valor de mercado, pode o Fisco promover o lançamento por arbitramento, com base no valor de mercado apurado em procedimento administrativo fiscal instaurado na forma do art. 148 do CTN. Assim, não é viável o lançamento por arbitramento como regra, mas sim como exceção, mediante demonstração (pelo Fisco) da divergência entre o valor da transação e o valor de mercado. Nesse sentido, a tese firmada pelo colendo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Tema 1.113 dos recursos especiais repetitivos: a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação; b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo administrativo próprio (art. 148 do CTN); c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente." (STJ, REsp 1.937.821-SP, Primeira Seção, j. 24/2/2022) No mesmo sentido, a jurisprudência anterior: O preço efetivamente pago pelo adquirente do imóvel tende a refletir, com grande proximidade, seu valor venal, considerado como o valor de uma venda regular, em condições normais de mercado. Todavia, se o valor apresentado pelo contribuinte no lançamento do ITBI (por declaração ou por homologação) não merece fé, o Fisco igualmente pode questioná-lo e arbitrá-lo, no curso de regular procedimento administrativo, na forma do art. 148 do CTN (STJ, AgRg no AREsp 847.280/PR, Segunda Turma, j. 10/3/2016) Sobre o tema, cf. ainda: TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1014920-31.2022.8.26.0053; 14ª Câmara de Direito Público; j. 20/07/2022; TJSP; Apelação / Remessa Necessária 1025288-36.2021.8.26.0053; 18ª Câmara de Direito Público; j. 17/5/2022). Por fim, no que toca ao tempo do fato gerador, com razão a parte impetrante. O colendo Supremo Tribunal Federal pacificou que o fato gerador é a transferência de propriedade imobiliária no cartório de registro de imóveis: Recurso Extraordinário com Agravo. Tributário. Mandado de segurança. Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis - ITBI. Fato gerador. Cobrança do tributo sobre cessão de direitos. Impossibilidade. Exigência da transferência efetiva da propriedade imobiliária mediante registro em cartório. Precedentes. [...]. (ARE 1294969 RG, Relator(a): Ministro Presidente, Tribunal Pleno, j. em 11/2/2021) De maneira que não é possível a imposição de juros e multa moratórios referentes ao período anterior a data do fato gerador (transferência no registro de imóveis). No caso em tela, houve lançamento do tributo por arbitramento sem prévio procedimento administrativo fiscal em que apurada divergência entre o valor do negócio jurídico e o valor de mercado do bem (à época da transação). Daí haver ilegalidade a ser reparada por esta via mandamental, a fim de determinar o cálculo do ITBI com base no valor da transação, autorizada a incidência de correção monetária desde a data da transação, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN. Ainda, deve-se considerar como data do fato gerador do imposto a transmissão de bens no cartório de registro de imóveis. Isso posto, julgo extinto o feito, com resolução de mérito, na forma do art. 487, I, do CPC, e PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido apenas para, confirmando a decisão liminar, CONCEDER PARCIALMENTE a segurança para determinar à autoridade impetrada que promova a apuração do valor devido por Vega-office Ltda a título de ITBI, pelo negócio jurídico imobiliário descrito na petição inicial, com base no valor da transação, atualizado monetariamente, sem prejuízo da instauração de PAF para apuração de eventual divergência em relação ao valor de mercado, na forma do art. 148 do CTN; e para impedir a autoridade coatora de imputar à(s) impetrante(s) multa e juros moratórios em momento anterior à data da transferência do imóvel no cartório de registro de imóveis. Sem honorários (Lei Federal n. 12.016/2009, art. 25). Custas já pagas ou houve isenção em razão do deferimento do benefício da gratuidade da Justiça. Comunique-se a autoridade coatora, na forma do art. 13 da Lei Federal n. 12.016/2009. Esta sentença não está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório (remessa necessária), em razão do disposto no art. 496, § 4º, do CPC (fundada em julgamento repetitivo). Se alguma das partes (ou ambas) apresentar(em) recurso de apelação, int.-se a parte adversa para, no prazo de 15 dias, apresentar contrarrazões. Após, remetam-se os autos ao egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Deixo de determinar a remessa ao Ministério Público em razão da manifestação de desinteresse no julgamento do feito. Se não interposto recurso, arquivem-se. Intime-se. - ADV: MARIANA ALVES DE OLIVEIRA GALVAN (OAB 306313/SP)

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