Resultados para "1000724-04.2022.5.02.0432" – Página 163 de 165

Processo nº 1029867-04.2024.8.11.0000

ID: 292741356

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo Classe: AGRAVO REGIMENTAL CíVEL Nº Processo: 1029867-04.2024.8.11.0000

Data de Disponibilização: 09/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

CLAUDIO SCHAUREN FLORINDO JOSE GONCALVES

Acórdão

Advogados:

ALEX SANDRO SARMENTO FERREIRA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO NÚMERO ÚNICO: 1029867-04.2024.8.11.0000 CLASSE: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) ASSUNTO: [COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO FISCAL… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO NÚMERO ÚNICO: 1029867-04.2024.8.11.0000 CLASSE: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) ASSUNTO: [COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO FISCALIZADOR, MULTAS E DEMAIS SANÇÕES] RELATORA: EXMA. SRA. ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA TURMA JULGADORA: [EXMA. SRA. DESA. ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, EXMO. SRA. DESA. MARIA APARECIDA FERREIRA FAGO, EXMO. SR. DES. MARIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA] PARTE(S): [ALEX SANDRO SARMENTO FERREIRA - CPF: 109.211.228-61 (ADVOGADO), FLORINDO JOSE GONCALVES - CPF: 429.470.221-49 (AGRAVADO), CLAUDIO SCHAUREN - CPF: 563.481.859-15 (AGRAVADO), ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 03.507.415/0003-06 (AGRAVANTE), ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 03.507.415/0020-07 (AGRAVANTE), CLAUDINEI DA SILVA GASQUES - CPF: 626.772.761-00 (TERCEIRO INTERESSADO), PEDRO DANIEL MAGALHAES - CPF: 102.988.428-58 (TERCEIRO INTERESSADO), ANTONIO MARCELO PEREIRA ANDRADE - CPF: 595.943.906-97 (TERCEIRO INTERESSADO), ERIVELTO DA SILVA GASQUES - CPF: 522.946.921-87 (TERCEIRO INTERESSADO), DISMOBRAS IMPORTACAO, EXPORTACAO E DISTRIBUICAO DE MOVEIS E ELETRODOMESTICOS S/A (TERCEIRO INTERESSADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO E COLETIVO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). MARIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE PROVERAM O RECURSO. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO A EXCELENTÍSSIMA SRA. DESA. RELATORA ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, 1º VOGAL EXMO. SR. DES. MÁRIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA E 2ª VOGAL EXMA. SRA. DESA. MARIA APARECIDA FERREIRA FAGO. E M E N T A DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO. EXECUÇÃO FISCAL. EXCLUSÃO DE COEXECUTADO POR EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO POR EQUIDADE. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. I. Caso em exame Agravo interno contra a decisão monocrática que deu provimento a agravo de instrumento, reformando decisão agravada para fixar os honorários advocatícios nos termos do art. 85, §3º, do CPC, sobre o valor da execução dividido pelo número total de executados, reduzidos pela metade conforme o art. 90, §4º, do CPC. II. Questão em discussão A questão em discussão consiste em definir se, na hipótese de acolhimento de exceção de pré-executividade para exclusão de coexecutado da execução fiscal, sem extinção do crédito tributário, os honorários advocatícios devem ser fixados com base no critério da equidade, conforme o art. 85, §8º, do CPC. III. Razões de decidir O julgamento do Tema Repetitivo n. 1.076 do STJ estabelece que a fixação por equidade é excepcional, mas aplicável nos casos em que o proveito econômico for inestimável, como ocorre nas hipóteses de ilegitimidade passiva reconhecida em exceção de pré-executividade. É legítima a fixação dos honorários advocatícios por apreciação equitativa, nos termos do art. 85, §8º, do CPC. Considerando o valor da CDA executada, a natureza da causa, o trabalho realizado pelo advogado, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, fixa-se os honorários em R$ 20.798,32. IV. Dispositivo e tese Recurso provido. Honorários fixados em R$ 20.798,32. Tese de julgamento: “1. É admissível a fixação de honorários advocatícios por equidade, nos termos do art. 85, § 8º, do CPC, quando a exclusão do coexecutado na execução fiscal decorre do reconhecimento de ilegitimidade passiva em exceção de pré-executividade, sem impugnação ao crédito tributário.” Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 85, §8º. Jurisprudência relevante citada: STJ, REsp 1.850.512/SP (Tema 1.076), rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, j. 16.12.2020; STJ, AgInt no REsp 2.168.345/TO, rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, j. 25.11.2024. R E L A T O R IO EXMA. SRA. DESA. ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA (RELATORA): Egrégia Câmara: Cuida-se de agravo interno interposto pelo Estado de Mato Grosso, contra a decisão monocrática que, deu provimento ao agravo de instrumento, para reformar a decisão agravada e fixar os honorários nos termos do artigo 85, §3º do CPC, sobre o valor da execução dividido pelo número total dos executados, reduzidos pela metade conforme o artigo 90, §4º do CPC (id. 262878266). A insurgência decorre do entendimento de que, nas hipóteses em que a exceção objetiva apenas a exclusão de coexecutado sem extinção do crédito tributário, a fixação dos honorários deve ocorrer por equidade, conforme o art. 85, § 8º, do CPC. O Estado alega, ainda, subsidiariamente, se entender pela inexistência da fixação por equidade, que seja aplicado o entendimento do AREsp 2.231.216 do STJ, sendo o proveito econômica o valor da execução rateada pelo número de executados (id. 274477883). Contrarrazões devidamente apresentadas (id. 280794367). Dispensável a manifestação da Procuradoria-Geral de Justiça (Súmula 189/STJ). É o relatório. V O T O EXMA. SRA. DESA. ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA (RELATORA): Egrégia Câmara: Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. A controvérsia cinge-se ao critério de fixação dos honorários de sucumbência em razão da exclusão de sócio do polo passivo de execução fiscal por meio de exceção de pré-executividade, bem como, de forma subsidiária, à aplicação do entendimento firmado no AREsp 2.231.216, do Superior Tribunal de Justiça. No que tange à fixação dos honorários sucumbenciais com base na equidade, o Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento, por meio do julgamento do Tema Repetitivo n. 1.076, no sentido de afastar essa possibilidade nos casos em que o valor da causa ou o proveito econômico se apresentem elevados. O Tribunal delimitou, ainda, hipóteses específicas para o arbitramento por equidade, estabelecendo os critérios que autorizam sua aplicação. Contudo, importa registrar que o STJ tem decidido, de forma reiterada, pela possibilidade de fixação dos honorários sucumbenciais por equidade nos casos em que se objetiva unicamente a exclusão de parte do polo passivo da execução fiscal, conforme se observa do seguinte julgado: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489 E 1.022 DO CPC. INOCORRÊNCIA. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO PARA O SÓCIO ACÓRDÃO EMBASADO EM PREMISSAS FÁTICAS. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE EM RECURSO ESPECIAL. OFENSA À SÚMULA. CONCEITO DE TRATADO OU LEI FEDERAL. NÃO ENQUADRAMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 518/STJ. FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCOS POR APRECIAÇÃO EQUITATIVA. LEGITIMIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO DEMONSTRADO. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. [...] V - Esta Corte adota o entendimento segundo o qual o § 8º do art. 85 do CPC/2015 deve ser observado nos casos em que se objetiva tão somente a exclusão de parte do polo passivo da execução, sem impugnação do crédito tributário, porquanto, nesses casos, não há como estimar proveito econômico algum. Na espécie, o acórdão recorrido está em confronto com orientação desta Corte. Recurso Especial do Agravado provido. VI - Em regra, descabe a imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil de 2015 em razão do mero desprovimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso. VII - Agravo Interno improvido. (AgInt no REsp n. 2.168.345/TO, relatora Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 25/11/2024, DJEN de 29/11/2024.) (destaquei) No âmbito do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, verifica-se o mesmo posicionamento do E. STJ: DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS POR EQUIDADE. CABIMENTO. RECURSO PROVIDO. (...) Tese de julgamento: “Os honorários advocatícios devem ser fixados por equidade nos casos de exclusão de parte do polo passivo em execução fiscal, por ilegitimidade.” (...) (TJ-MT 1031388-81.2024.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, RODRIGO ROBERTO CURVO, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 26/03/2025, Publicado no DJE 31/03/2025) (destaquei) Diante desse contexto jurisprudencial consolidado, revejo o posicionamento anteriormente adotado e DOU PROVIMENTO ao recurso de agravo interno, reformando a decisão monocrática (id. 266978297), para fixar os honorários advocatícios em R$ 5.000,00, nos termos do art. 85, § 8º, do Código de Processo Civil. É como voto. V O T O EXMO. SR. DES. MÁRIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA (1º VOGAL): Peço vista dos autos para melhor análise da matéria. V O T O EXMA. SRA. DESA. MARIA APARECIDA FERREIRA FAGO (2ª VOGAL): Aguardo o pedido de vista. SESSÃO DE 03 DE JUNHO DE 2025 (CONTINUAÇÃO D JULGAMENTO) V O T O (VISTA) EXMO. SR. DES. MÁRIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA (1º VOGAL): Egrégia Câmara: Trata-se de Agravo Interno interposto pelo ESTADO DE MATO GROSSO, contra a decisão monocrática que, deu provimento ao Agravo de Instrumento, para reformar a decisão proferida nos autos da Ação de Execução Fiscal nº 1003074-07.2021.8.11.0041, que havia fixado os honorários advocatícios por equidade no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e fixá-los nos termos do artigo 85, §3º do CPC, sobre o valor da execução, dividido pelo número total dos executados, reduzidos pela metade conforme o artigo 90, §4º do CPC. Sustenta o Estado de Mato Grosso, que a verba honorária deve ser fixada por equidade. A eminente relatora votou para DAR provimento ao presente Agravo Interno, para rever sua decisão e fixar os honorários advocatícios em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do art. 85, § 8º, do Código de Processo Civil. Pedi vista dos autos, para melhor analisar a questão posta em debate. Pois bem. Embora já tenha me posicionado no sentido de aplicar os honorários em percentual (artigo 85, § 3º do CPC) na hipótese de exclusão de corresponsável do polo passivo da Execução Fiscal, a Segunda Câmara de Direito Público deste Sodalício firmou entendimento no sentido de fixar, nesses casos, os honorários por equidade (artigo 85, § 8º do CPC), quando o valor da causa ou o proveito econômico forem exorbitantes. Assim, coaduno com o entendimento da douta relatora de que os honorários, no caso concreto, podem ser fixados por equidade, mas divirjo dos valores fixados, pelos motivos que passo a explicitar. In casu, a última CDA apresentada nos autos de origem, antes da exclusão dos sócios, possui o valor de R$ 7.279.412,50 (Id. 48179741 – Pje 1º grau – autos n.º 1003074-07.2021.8.11.0041), de modo que, o valor da demanda e/ou o possível proveito econômico se revelam exorbitante. Tem-se, portanto, que no presente caso, os honorários devem ser fixados por equidade, na forma do artigo 85, § 8º do CPC. Nesse sentido: “Direito Processual Civil. Embargos de declaração em ação cível originária. Honorários advocatícios. 1. Embargos de declaração opostos contra acórdão que julgou parcialmente procedente o pedido com fixação de honorários em percentual sobre o valor da causa. 2. Fixação dos honorários que gera à parte sucumbente condenação desproporcional e injusta. Processo que tratou de questão exclusivamente de direito. 3. Revisão do valor dos honorários para arbitrá-los por equidade, conforme art. 85, § 8º, do CPC. Precedentes. 4. Embargos de declaração parcialmente providos para fixar os honorários advocatícios por apreciação equitativa. (STF - ACO: 2988 DF 0001571-24.2017.1.00.0000, Relator: ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 21/02/2022, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 11/03/2022, g.n)” “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA - CDA. [...] 3. Considerada a distinção entre as controvérsias ora analisadas, a decidida pela Corte Especial no REsp 1.850.512/SP (tema 1076) e aquela a ser definida pela Primeira Seção no REsp 2.097.166/PR (tema 1265), deve-se destacar o pacífico entendimento jurisprudencial deste Tribunal Superior, segundo o qual, à luz da regra do § 8º do art. 85 do CPC/2015, é legal o arbitramento dos honorários advocatícios de sucumbência mediante apreciação equitativa, na hipótese em que o juízo de procedência dos embargos à execução fiscal resultar só na exclusão de corresponsável tributário do polo passivo da execução fiscal. Precedentes da Primeira e Segunda Turmas. 4. Agravo interno não provido”. (STJ - AgInt nos EDcl no REsp n. 2.116.115/ES, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 26/8/2024, DJe de 28/8/2024.) [...] 2. Não é possível exigir do legislador que a tarifação dos honorários advocatícios por ele criada no art. 85, §§2º e 3º, do CPC/2015 atenda com razoabilidade todas as situações possíveis, sendo certo que a sua aplicação em alguns feitos pode gerar distorções. 3. Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha correlação com o valor da causa ou não se observe proveito econômico com a extinção da execução, os honorários de sucumbência devem ser arbitrados por apreciação equitativa, com observância dos critérios do § 2º do art. 85 do CPC/2015, conforme disposto no § 8º desse mesmo dispositivo. [...]. (STJ, Primeira Turma, AgInt no REsp 1807900/RS, relator Ministro Gurgel de Faria, publicado no Diário da Justiça Eletrônico em 26 de maio de 2021). “DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA. [...] III. Razões de decidir [...] 6. Nos casos em que a exceção de pré-executividade objetiva apenas a exclusão do excipiente do polo passivo, sem impugnar o crédito executado, a jurisprudência do STJ orienta que os honorários sejam fixados por equidade, conforme artigo 85, § 8º, do CPC. [...]” (N.U 1000724-33.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PÚBLICO, RODRIGO ROBERTO CURVO, Primeira Câmara de Direito Público e Coletivo, Julgado em 26/02/2025, Publicado no DJE 28/02/2025) Ressalta-se que, para a fixação do quantum, deve ser observado pelo Julgador os critérios previstos no artigo 85, §§ 2º, 8º e 8º-A, do Código de Processo Civil (equidade), como cito: “Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. [...] § 2º Os honorários serão fixados [...], atendidos: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. [...] § 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2º. § 8º-A. Na hipótese do § 8º deste artigo, para fins de fixação equitativa de honorários sucumbenciais, o juiz deverá observar os valores recomendados pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil a título de honorários advocatícios ou o limite mínimo de 10% (dez por cento) estabelecido no § 2º deste artigo, aplicando-se o que for maior. [...]”. Tem-se, portanto que, os honorários a serem fixados devem considerar o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado, o tempo exigido para o seu serviço, os valores recomendados pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, bem como os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Destarte, para que o valor dos honorários a serem fixados não se torne excessivo, implicando em enriquecimento indevido, e nem irrisório, a importância remuneratória não pode ser estabelecida de forma aleatória pelo julgador. Por quanto, para que os honorários por equidade traduzam em uma remuneração digna e proporcional ao advogado da parte vencedora pelo trabalho dispendido, tenho que a melhor forma de fixação, em caso de exclusão de corresponsável do polo passivo da execução fiscal, é com a multiplicação do valor atualizado do título executado por 2%, sendo o resultado, posteriormente, dividido pelo número de devedores apresentados na CDA originária (Valor Atualizado da CDA X 2% ÷ Nº de Executados apontados no título originários). No caso dos autos, conforme mencionado alhures, a CDA apresentada nos autos de origem possuí o valor atualizado de R$ 7.279.412,50 (Id. 48179741 – Pje 1º grau – autos n.º 1003074-07.2021.8.11.0041) e a ação foi ajuizada em desfavor de 7 devedores, de modo que ao se aplicar a referida fórmula encontra-se o seguinte valor: R$ 7.279.412,50 X 2% ÷ 7 = R$ 20.798,32 Assim, considerando o valor, a natureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, tenho que os honorários devem ser fixados por equidade, na hipótese, em 20.798,32 (vinte mil, setecentos e noventa e oito reais e trinta e dois centavos), de modo remunerar dignamente o patrono da parte vencedora. Posto isso, acompanho a relatora para DAR PROVIMENTO ao recurso do Estado de Mato Grosso, no entanto, divirjo do valor dos honorários, que devem ser fixados em R$ 20.798,32 (vinte mil, setecentos e noventa e oito reais e trinta e dois centavos). É como voto. V O T O (RETIFICADO) EXMA. SRA. DESA. ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA (RELATORA): Eminentes pares, A matéria é referente a honorários advocatícios. Concordamos que a fixação deve ser por equidade de forma que quanto aos valores adiro ao voto do Des. Mário Roberto Kono de Oliveira V O T O EXMA. SRA. DESA. MARIA APARECIDA FERREIRA FAGO (2ª VOGAL): Acompanho o voto retificado da Relatora. Data da sessão: Cuiabá-MT, 03/06/2025

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Condominio Iguatemi Business & Flat x Luiz Felipe Campos Varanda

ID: 290821349

Tribunal: TJBA Órgão: 1ª V CÍVEL E COMERCIAL DE SALVADOR Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 8038047-83.2023.8.05.0001

Data de Disponibilização: 06/06/2025

Polo Ativo:

CONDOMINIO IGUATEMI BUSINESS & FLAT

Polo Passivo:

LUIZ FELIPE CAMPOS VARANDA

Sentença

Advogados:

DANIELLE MASCARENHAS LEAL

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

GETULIO BEZERRA DE ARAUJO NETO

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

THIAGO ALEM ROCHA

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

VIVIAN FERNANDES DE MIRANDA

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA 1ª V CÍVEL E COMERCIAL DE SALVADOR Processo: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL n. 8038047-83.2023.8.05.0001 Órgão Julgador: 1ª V CÍVEL E COME… PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA 1ª V CÍVEL E COMERCIAL DE SALVADOR Processo: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL n. 8038047-83.2023.8.05.0001 Órgão Julgador: 1ª V CÍVEL E COMERCIAL DE SALVADOR AUTOR: CONDOMINIO IGUATEMI BUSINESS & FLAT Advogado(s): VIVIAN FERNANDES DE MIRANDA (OAB:BA59007), THIAGO ALEM ROCHA (OAB:BA27054), GETULIO BEZERRA DE ARAUJO NETO (OAB:BA46044) REU: LUIZ FELIPE CAMPOS VARANDA Advogado(s): DANIELLE MASCARENHAS LEAL (OAB:BA27981) SENTENÇA Trata-se de uma AÇÃO DE COBRANÇA DE CRÉDITOS CONDOMINIAIS, ajuizada pelo CONDOMÍNIO IGUATEMI BUSINESS & FLAT, em face de LUIZ FELIPE CAMPOS VARANDA. O autor, representado por seu síndico, alega inadimplemento reiterado do réu quanto às cotas condominiais de outubro/2021 a março/2023. Requereu o pagamento do montante de R$ 16.587,14, incluindo multa de 2%, juros moratórios de 1% ao mês, correção monetária pelo INPC/IBGE e honorários contratuais de 20%, com fundamento no art. 82 da Convenção Condominial (Id. 377327766), arts. 389 e 395 do Código Civil e art. 323 do CPC. Foram juntados documentos comprobatórios, incluindo convenção, matrícula do imóvel e demonstrativo de débitos. A parte ré apresentou contestação (Id. 389833351), reconhecendo parcialmente o débito (R$13.822,62), mas impugnando a cobrança de honorários de 20%. Propôs pagamento de R$14.513,75 (incluindo 5% de honorários), com entrada de 30% e parcelamento do restante em 6 vezes, com base no art. 916 do CPC. A parte autora apresentou réplica (Id. 394366697). As partes foram intimadas a informarem o interesse na produção de novas provas (Id. 448679263). A parte autora requereu a juntada de novos documentos. A saber, atas das assembleias gerais ordinárias e extraordinárias e relatório atualizado da dívida da unidade 1001, montante que alcança o importe de R$41.309,65 (quarenta e um mil trezentos e nove reais e sessenta e cinco centavos) (Id. 449155273). A parte ré pugna pela designação de audiência para tentativa de conciliação e instrução para a oitiva de testemunhas e depoimento pessoal das partes (Id. 450119153). A parte ré foi intimada a se manifestar sobre os documentos juntados pela parte autora no ID. 449155273 (Id. 469085914). A parte ré impugnou os documentos juntados pelo autor, por alegada ausência de discriminação dos encargos, reiterando pedido de audiência (Id. 470965944). O autor, por sua vez, manifestou-se contrário ao parcelamento e à designação de audiência, reiterando o pedido de julgamento antecipado com base no art. 355, I, do CPC (Id. 471042569). O feito foi saneado, sendo deferido o pedido de designação de audiência para a tentativa de conciliação (Id. 484946438). A parte autora juntou ata da assembleia ordinária de 31/05/2025 e relatório atualizado da dívida, agora no valor de R$62.326,55 (sessenta e dois mil trezentos e vinte e seis reais e cinquenta e cinco centavos) (Id. 503666087). Em audiência, constatou-se a ausência injustificada da parte ré e de seu advogado, apesar de pedidos extemporâneos para participação remota, indeferidos pela magistrada por falta de justificativa plausível e comprovação de problemas de saúde. Diante disso, este Juízo considerou evidenciada a falta de interesse na conciliação e determinou a conclusão dos autos para julgamento. A parte autora, por sua advogada, requereu a aplicação de multa por ato atentatório à dignidade da justiça e o julgamento antecipado da lide. Vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Passo a sentença. O feito comporta julgamento antecipado, nos termos do art. 355, I, do CPC, uma vez que a matéria é unicamente de direito e de prova documental, estando suficientemente instruídos os autos. DA LEGITIMIDADE DA COBRANÇA A obrigação de pagar as cotas condominiais possui natureza jurídica de obrigação propter rem, nos termos do art. 1.336, inciso I, do Código Civil e do art. 12 da Lei nº 4.591/64, recaindo sobre o titular do direito real sobre a unidade autônoma, independentemente de quem esteja na posse ou fruição direta do imóvel. Dispõe o art. 1.336 do Código Civil: "São deveres do condômino: I - contribuir para as despesas do condomínio, na proporção de suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção." O dever de contribuir com as despesas condominiais decorre diretamente da titularidade do imóvel, e não do uso efetivo ou da relação contratual com terceiros, como no caso de locações. Por essa razão, eventuais inadimplementos do locatário ou de ocupantes da unidade não afastam a responsabilidade do proprietário perante o condomínio. No caso dos autos, o réu não nega sua condição de proprietário da unidade 1001, conforme reconhecido expressamente em sua contestação, tampouco contesta a existência do débito em si, apenas questionando parte dos encargos. A certidão de matrícula do imóvel (Id. 377327767) comprova a titularidade dominial do réu, o que, por si só, confere plena legitimidade passiva para responder pela dívida condominial, ainda que o imóvel esteja alugado, cedido ou desocupado. Trata-se de relação jurídica objetiva, de natureza real, em que a dívida acompanha o imóvel, não a pessoa. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. TAXAS CONDOMINIAIS . OBRIGAÇÃO PROPTER REM. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL 1. Julgamento sob a égide do CPC/15. 2 . A obrigação pelo pagamento de débitos de condomínio possui natureza propter rem, sendo o proprietário do imóvel a responsabilidade pelo adimplemento das despesas. Súmula 568/STJ. 3. Agravo interno não provido . (STJ - AgInt no REsp: 1730607 SP 2018/0061332-0, Relator.: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 26/06/2018, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/08/2018) Dessa forma, inexistindo controvérsia quanto à titularidade do imóvel e tendo sido demonstrada a existência do débito, é plenamente legítima a cobrança intentada pelo condomínio autor. DO VALOR DA DÍVIDA A dívida cobrada encontra-se adequadamente comprovada nos autos, por meio de planilhas, relatório de inadimplência e documentos que refletem o histórico do débito da unidade condominial do réu. Em especial, destaca-se o documento de Id. 503666092, que atualiza o montante devido até maio de 2025 para R$ 62.326,55, com detalhamento mês a mês dos encargos contratuais, cotas ordinárias vencidas, multa moratória, juros e atualização monetária, nos termos do art. 82 da Convenção Condominial. A planilha de débitos condominiais é suficiente para aparelhar a pretensão executiva ou de cobrança. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONDOMÍNIO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. A ata da assembleia geral em que está previsto o reajuste da taxa condominial, aliada à planilha de débitos em nome da executada, são documentos suficientes para a propositura da ação de execução . Inteligência do art. 784, X, CPC/15. Decisão mantida. Recurso desprovido . (TJ-SP - AI: 22278375120198260000 SP 2227837-51.2019.8.26 .0000, Relator.: Felipe Ferreira, Data de Julgamento: 18/02/2020, 26ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 18/02/2020) AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. TAXAS CONDOMINIAIS. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE . INCIDENTE QUE NÃO ADMITE VEICULAÇÃO DE DEFESA PRÓPRIA DE EMBARGOS À EXECUÇÃO. APRESENTAÇÃO DE ATAS DE ASSEMBLEIA PARA JUSTIFICAR A COBRANÇA DE DÉBITOS CONDOMINIAIS. DESNECESSIDADE. SUFICIÊNCIA DOS BOLETOS DE COBRANÇA E PLANILHA DE DÉBITOS . TÍTULO EXECUTIVO CERTO, LÍQUIDO E EXIGÍVEL. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1 . O instituto da exceção de pré-executividade se presta à suscitação de questões que devam ser conhecidas de ofício pelo Julgador, como as atinentes à liquidez do título executivo, os pressupostos processuais e as condições da ação executiva, independentemente de seguro o juízo. É cabível quando se tratar de vício de fácil percepção que dispense dilação probatória para a sua verificação. 2. A exceção de pré-executividade é via inadequada para deduzir matéria de defesa que deveria ter sido trazida em embargos à execução, referente à formação do título executivo e excesso de execução (art . 917 do CPC). 3. Para a cobrança de débitos condominiais, não há necessidade da apresentação de atas da assembleia que aprovou as contas, bastando a planilha de débitos e/ou os respectivos boletos de cobrança. Precedentes . (TJPR - 8ª C.Cível - 0048298-70.2021.8 .16.0000 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR HELIO HENRIQUE LOPES FERNANDES LIMA - J. 15 .03.2022) (TJ-PR - AI: 00482987020218160000 Curitiba 0048298-70.2021.8 .16.0000 (Acórdão), Relator.: Helio Henrique Lopes Fernandes Lima, Data de Julgamento: 15/03/2022, 8ª Câmara Cível, Data de Publicação: 15/03/2022) Esses entendimentos refletem a moderna compreensão jurisprudencial quanto à natureza documental e objetiva dos débitos condominiais, especialmente em se tratando de obrigação propter rem, cujos valores são normalmente aprovados em assembleia e rateados com base em critérios previstos na convenção condominial. No caso concreto, não houve impugnação específica do réu quanto aos valores cobrados. A defesa restringe-se a alegações genéricas de suposta irregularidade na composição da dívida, sem indicar com precisão quais parcelas estariam incorretas, tampouco apresentar prova de pagamento parcial ou erro material nos cálculos. Tal postura processual é insuficiente para infirmar a presunção de veracidade dos documentos apresentados pelo condomínio, nos termos do art. 341 do CPC. Vale lembrar que a jurisprudência tem reiteradamente afastado alegações genéricas como meio de resistência eficaz à cobrança de débitos condominiais, atribuindo ao réu o ônus de impugnar de modo concreto e fundamentado o valor da cobrança. A ausência de impugnação específica autoriza a presunção relativa de veracidade dos valores apresentados. IMUNIDADE JURISDICIONAL - RENÚNCIA EXPRESSA - CONVÊNIO. Havendo renúncia expressa, em convênio, à imunidade de jurisdição, ressalvada a execução, é possível o julgamento de ato de organismo internacional. CONTESTAÇÃO - IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA - AUSÊNCIA - A falta de impugnação específica, em contestação, revela presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicial. PRESTAÇÃO DE CONTAS - INEXISTÊNCIA . Uma vez previsto, em convênio, repasse de verbas para execução de políticas públicas agrárias, prestação de contas relativamente às quantias transferidas, é dever do organismo internacional prestá-las. (STF - ACO: 1202 SE 0003711-46.2008.1 .00.0000, Relator.: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 22/03/2021, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 12/04/2021) Por todo o exposto, resta plenamente caracterizada a certeza, liquidez e exigibilidade da dívida condominial no valor de R$ 62.326,55 (atualizado até maio de 2025), atualização monetária do valor devido pelo INPC a partir do desembolso e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, contados da citação. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONVENCIONAIS A cobrança de honorários advocatícios contratuais no percentual de 20% sobre o débito encontra previsão expressa no art. 82 da Convenção Condominial, documento dotado de natureza estatutária e vinculante a todos os condôminos, inclusive ao réu. A convenção de condomínio, nos termos do art. 1.333 do Código Civil, tem força normativa interna e obriga todos os condôminos, atuais ou futuros. Assim, a estipulação de cláusula prevendo a incidência de honorários advocatícios em caso de cobrança judicial ou extrajudicial do débito condominial se insere dentro da autonomia da vontade coletiva, não sendo abusiva ou desproporcional, desde que observado o percentual razoável, o que se verifica no presente caso, com a fixação em 20%. A jurisprudência pátria tem reiteradamente reconhecido a validade e exigibilidade das cláusulas convencionais que preveem honorários advocatícios contratuais em caso de inadimplemento, seja no âmbito de contratos privados, seja nas convenções condominiais. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. INCIDÊNCIA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM CASO DE COBRANÇA EXTRAJUDICIAL DA DÍVIDA. POSSIBILIDADE . PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. É plenamente possível a existência de cláusula contratual que fixe antecipadamente o valor devido a título de honorários advocatícios, caso haja a necessidade de persecução do pagamento judicialmente . Precedentes. 2. Agravo interno desprovido. (STJ - AgInt no REsp: 1973614 SP 2021/0351132-1, Relator.: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 04/04/2022, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 07/04/2022) A fixação antecipada dos honorários contratuais tem, inclusive, o objetivo legítimo de ressarcir o condomínio pelos custos decorrentes da necessidade de contratação de advogado para promover a cobrança da dívida, resguardando o equilíbrio econômico da massa condominial, que não deve suportar os encargos causados por condôminos inadimplentes. Além disso, a cláusula em questão não se confunde com os honorários sucumbenciais previstos no art. 85 do CPC, tratando-se de encargo contratual devido à parte autora, condomínio, pela atuação do profissional que promoveu a cobrança da dívida condominial. Trata-se, portanto, de valor adicional ao montante principal da dívida, de natureza autônoma e com respaldo normativo e jurisprudencial. Ademais, o percentual estabelecido (20%) é compatível com os parâmetros usualmente aceitos pela jurisprudência e não foi objeto de impugnação específica pelo réu, tampouco demonstrado excesso ou desproporcionalidade. Dessa forma, impõe-se o reconhecimento da validade e exigibilidade dos honorários advocatícios contratuais de 20%, conforme expressamente previsto na Convenção Condominial, integrando o montante da dívida cobrada nos autos. DA POSSIBILIDADE DE PARCELAMENTO O pedido de parcelamento com fundamento no art. 916 do CPC é inaplicável à presente ação, pois se trata de ação de conhecimento e não de cumprimento de sentença ou execução. De todo modo, não houve qualquer pagamento parcial pelo réu que demonstrasse boa-fé e justificasse a flexibilização da forma de adimplemento. A ausência injustificada à audiência reforça a ausência de interesse efetivo em resolver o débito de forma conciliatória. DA APLICAÇÃO DO ART. 323 DO CPC Tratando-se de obrigação condominial de trato sucessivo, é cabível a condenação do réu ao pagamento das cotas vencidas após a propositura da ação até o efetivo pagamento, conforme art. 323 do CPC. APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA DE DESPESAS CONDOMINIAIS. Sentença de procedência do pedido. Apelação do Condomínio autor . Honorários advocatícios. Previsão na Convenção Condominial. Inclusão no débito. Vedação . Impossibilidade. Ausência de previsão legal. inclusão de parcelas vincendas. Aplica-se ao caso concreto o disposto no art . 323 do CPC, pois as despesas condominiais são de trato sucessivo, de modo que as parcelas vencidas no curso da ação (consideradas vincendas à época do ajuizamento) fazem parte do pedido, cujo termo final será a data do efetivo pagamento. RECURSO PROVIDO EM PARTE, COM OBSERVAÇÃO. (TJ-SP - AC: 10007240620208260642 SP 1000724-06.2020 .8.26.0642, Relator.: Carmen Lucia da Silva, Data de Julgamento: 19/10/2021, 25ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 19/10/2021) DA MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA Verificou-se a ausência injustificada do réu e de sua patrona à audiência designada exclusivamente a pedido da própria defesa, sem qualquer justificativa plausível ou comprovação de impossibilidade, não obstante o indeferimento do pedido extemporâneo de comparecimento remoto. Tal conduta configura abuso do direito de defesa e violação ao dever de lealdade processual, nos termos do art. 77, inciso IV, do Código de Processo Civil. Incide, portanto, a penalidade prevista no art. 334, § 8º, do CPC, que assim dispõe: Art. 334, § 8º - O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado. Diante disso, fixo a multa em 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, a ser revertida em favor da União ou do Estado, nos termos do art. 334, § 8º, parte final, do CPC. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido inicial, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil, para: a) condenar o réu, LUIZ FELIPE CAMPOS VARANDA, ao pagamento da quantia de R$ 62.326,55 (sessenta e dois mil, trezentos e vinte e seis reais e cinquenta e cinco centavos), atualizada até maio de 2025, referente a débitos condominiais da unidade 1001 do Condomínio Iguatemi Business & Flat; b) determinar a atualização monetária do valor devido pelo INPC a partir do desembolso e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, contados da citação; c) condenar o réu ao pagamento dos honorários advocatícios contratuais no percentual de 20% sobre o valor do débito, nos termos do art. 82 da Convenção Condominial; d) condenar o réu, ainda, ao pagamento das cotas condominiais vincendas após a propositura da ação até o efetivo pagamento, nos termos do art. 323 do CPC, com os acréscimos legais e convencionais cabíveis. Fica indeferido o pedido de parcelamento, tendo em vista a inaplicabilidade do art. 916 do CPC à presente ação de cobrança, bem como a ausência de demonstração de boa-fé objetiva por parte do réu. Aplico multa por ato atentatório à dignidade da justiça, no percentual de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, com fundamento no art. 334, § 8º, do Código de Processo Civil, em razão da ausência injustificada do réu e de sua patrona à audiência designada exclusivamente a pedido da própria defesa, sem apresentação de justificativa plausível, multa esta a ser revertida em favor do Estado. Condeno o réu ao pagamento das custas processuais e honorários sucumbenciais, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, §2º, do CPC, observando-se a cumulação com os honorários contratuais, de natureza autônoma. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe. Salvador(BA), 04 de junho de 2025 Indira Fábia dos Santos Meireles Juíza de Direito 1VC09

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou o que procurava? Faça login para ver mais resultados e detalhes completos.

Fazer Login para Ver Mais

Denize Pereira De Oliveira Araujo x Banco Bmg S.A.

ID: 332922008

Tribunal: TJMT Órgão: NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1000724-09.2025.8.11.0008

Data de Disponibilização: 23/07/2025

Polo Ativo:

DENIZE PEREIRA DE OLIVEIRA ARAUJO

Polo Passivo:

BANCO BMG S.A.

Sentença

Advogados:

LUCAS ARAUJO CARVALHO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Processo: 1000724-09.2025.8.11.0008 Parte reclamante: Denize Pereira de Oliveira Araújo. Parte reclamada: Banco… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO NÚCLEO DE JUSTIÇA DIGITAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Processo: 1000724-09.2025.8.11.0008 Parte reclamante: Denize Pereira de Oliveira Araújo. Parte reclamada: Banco BMG S.A. S E N T E N Ç A Relatório minucioso dispensado (art. 38 da Lei nº 9.099/95). Resumo relevante DENIZE PEREIRA DE OLIVEIRA ARAÚJO ajuizou uma ação de reparação de danos morais e materiais cumulada com declaratória de inexistência de débito em desfavor do BANCO BMG S.A. Em síntese, alegou que identificou descontos em sua aposentadoria decorrente de empréstimo que não contratou junto a parte reclamada (ID 186083843). Relatou que os descontos iniciaram em 9/2019, em valores diversos, somando a importância de R$1.291,65 (ID 186083844). Pelos fatos narrados, pleiteou a declaração de inexistência da relação jurídica, o cancelamento dos descontos, a devolução em dobro dos valores pagos e a indenização pelos danos morais. Realizada audiência de conciliação, o acordo restou infrutífero. A contestação foi apresentada no ID 190043838, na qual arguiu a prescrição e decadência, além das preliminares incompetência do juizado especial, a inépcia da petição inicial, a falta de interesse de agir, a irregularidade da procuração, impugnou o valor da causa e a concessão a justiça gratuita. Sustentou a validade do negócio jurídico, o descabimento da repetição do indébito, a ausência do ato ilícito e de dano moral a ser indenizado. Ao final, postulou pela improcedência dos pedidos iniciais. Em seguida a parte reclamante apresentou a impugnação a contestação. Decadência com dano. A decadência é a extinção do direito pela inércia de seu titular. Nas relações de consumo, se houver vício do produto ou falha na prestação do serviço, que os tornem impróprios ou lhes diminua o valor, o consumidor tem o direito de escolher entre as alternativas de substituição do produto, abatimento proporcional do preço, reexecução do serviço, ou resolução do contrato, com a restituição do preço (art. 18, § 1º, e art. 20 e seus incisos). Esse direito de escolha deve ser exercido dentro do prazo decadencial de 30 ou 90 dias (art. 26, I e II). Todavia, quando há danos ao consumidor, causados por fato do produto ou do serviço (CDC, art. 27), o direito de pleitear as consequentes indenizações deve ser exercido no prazo prescricional de cinco anos. Não destoa a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MATERIAL E MORAL. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. PROPAGANDA ENGANOSA. DECADÊNCIA. PRAZO NONAGESIMAL. NÃO INCIDÊNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Nos termos do entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, o prazo decadencial de 90 (noventa) dias, a que alude o art. 26, II, do CDC, não se aplica à pretensão em caso de indenização por danos materiais e morais decorrentes de fato do produto, devendo ser observado o prazo quinquenal previsto no art. 27 do CDC. Precedentes. 2. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ, 4ª Turma, AgInt no REsp nº 995.064/RJ, Rel. Min.: Raul Araújo, DJU 18/05/2017) (Destacamos). Em análise do conjunto fático probatório disponível nos autos, observa-se que além da falha na prestação de serviço referente ao desconto indevido, há arguição de dano (indisponibilidade financeira), situação em que não se aplica o prazo decadencial, mas de prescrição. Prescrição. Conforme estabelecido no artigo 189 do Código Civil, a prescrição ocasiona a perda da pretensão de requerer em juízo a reparação de direito violado em virtude da inércia da vítima por determinado tempo. Para as pretensões de cobrança de dívida liquida, o prazo prescricional é de cinco anos, conforme dispõe o artigo 206, inciso I do Código Civil. Artigo 206 - Prescreve: [...] §5º Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. Neste sentido é o entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça: CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO. SUSTAÇÃO DE PROTESTO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/73. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 284 DO STF. CHEQUE. PRESCRIÇÃO. DÍVIDA LÍQUIDA CONSTANTE DE INSTRUMENTO PARTICULAR. PRAZO. CINCO ANOS. ART. 206, § 5º, I, DO CC. ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM CONSONÂNCIA COM O DESTA CORTE. [...] 3. O Tribunal de origem reconheceu que o cheque, objeto da presente ação e reconvenção, encontra-se prescrito, pois representa dívida líquida constante de instrumento particular, tendo decorrido mais de cinco anos desde sua emissão. Incidência, no caso, da prescrição quinquenal, prevista no art. 206, § 5°, I (prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular). Precedentes desta Corte. (STJ, 3ª Turma, AgInt no AREsp nº 970.537/RS, Rel. Min.: Moura Ribeiro, DJU 27/06/2017, DJe 04/08/2017). Portanto, considerando a lesão sucessiva e a propositura da demanda em 06/03/2025, acolho parcialmente a arguição de prescrição referente aos descontos efetuados anterior ao mês 3/2020. Incompetência em razão da matéria. Nos termos do artigo 3º da Lei nº 9.099/95, o Juizado Especial Cível é competente para processar e julgar causas cíveis de menor complexidade. Em relação ao conceito de menor complexidade, o Enunciado 54 do Fórum Nacional de Juizados Especiais estabelece que este leva em consideração o objeto da prova e não o direito material discutido: ENUNCIADO 54 - A menor complexidade da causa para a fixação da competência é aferida pelo objeto da prova e não em face do direito material. Mesma exegese é extraída da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. COMPLEXIDADE DA CAUSA. NECESSIDADE DE PERÍCIA. [...] 3. O art. 3º da Lei 9.099/95 adota dois critérios distintos - quantitativo (valor econômico da pretensão) e qualitativo (matéria envolvida) - para definir o que são causas cíveis de menor complexidade. Exige-se a presença de apenas um desses requisitos e não a sua cumulação, salvo na hipótese do art. 3º, IV, da Lei 9.099/95. Assim, em regra, o limite de 40 salários-mínimos não se aplica quando a competência dos Juizados Especiais Cíveis é fixada com base na matéria. [...] (STJ, 3ª Turma, RMS nº 30170/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 05/10/2010). Assim sendo, os Juizados Especiais Cíveis não são competentes para processar e julgar causas em que for necessária a produção de prova pericial, visto que se trata de prova complexa. No caso concreto, não é necessária a produção de perícia, visto que as provas reunidas nos autos são suficientes para o deslide. Consequentemente, este juízo é competente para processar e julgar a presente demanda. Inépcia da inicial. Documentos imprescindíveis. Nos termos do artigo 320 do Código de Processo Civil, a petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. O ajuizamento de ação sem a juntada de documento imprescindível ocasiona a inépcia da inicial e implica no julgamento sem resolução de mérito. Impõe elucidar que o documento imprescindível se refere a demonstração regular do exercício do direito de ação e não do direito material, pois a ausência deste último implicará na improcedência do pedido e não na extinção sem resolução de mérito. Neste sentido: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. [...] PETIÇÃO INICIAL. AUSÊNCIA DE JUNTADA DOS DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS DO ALEGADO - A jurisprudência deste STJ reconhece que a petição inicial deve vir acompanhada dos documentos necessários à comprovação do regular exercício do direito de ação, o que não inclui, em regra, os documentos probantes do direito material alegado pelo autor, os quais poderão ser produzidos no momento processual oportuno. - A prova relativa à existência, ou não, de comprometimento ilegal de renda do mutuário não constitui documento imprescindível à propositura da ação de embargos fundada em excesso de execução e, ainda que indispensável fosse, não autoriza de plano o indeferimento da petição inicial por inépcia, mas a abertura de prazo à parte interessada para que supra o vício existente. - Recurso especial não conhecido. (STJ, 3ª Turma, REsp nº 497.742/SE, Rel. Min.: Nancy Andrighi DJU 03/06/2003). A apresentação de comprovante de residência em nome próprio, nos termos do artigo 319, inciso II, do Código de Processo Civil, é necessário apenas que a inicial indique o endereço eletrônico, o domicílio e a residência das partes. Neste sentido: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDEFERIMENTO DA INICIAL. COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA. DESNECESSIDADE. Demanda veiculada com base em alegada ilegalidade do sistema de pontuação de crédito ofertada pela entidade cadastral. O comprovante de residência e, no caso, não é documento indispensável à propositura da demanda. Descabimento do indeferimento da inicial. Precedentes desta Corte. APELAÇÃO PROVIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA. (TJRS, 10ª Câm. Cív., APC nº 70057584260, Rel.: Jorge Alberto Schreiner Pestana, DJU 09/05/2014). Ademais, os documentos necessários foram apresentados pela parte reclamante. Por isso, a preliminar deve ser afastada. Interesse processual. Segundo a Teoria da Asserção, o simples fato de a parte reclamante ter imputado à parte reclamada a prática de ato ilícito, independentemente da análise da tese de defesa e do conjunto fático probatório, é suficiente para a demonstração de seu interesse processual. Entender de forma contrária violaria frontalmente o Princípio ao Livre Acesso ao Poder Judiciário, ancorado no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal. Neste sentido: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONDIÇÕES DA AÇÃO. POSSIBILIDADE JURÍDICA. INTERESSE DE AGIR. TUTELA INIBITÓRIA. PRESENÇA. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS CÍVEL E PENAL. [...] 5. As condições da ação devem ser aferidas com base na teoria da asserção, ou seja, à luz das afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se qualquer atividade instrutória. Precedentes. [...] (STJ, 3ª Turma, REsp nº 1731125/SP, Rel. Min.: Nancy Andrighi, DJU 27/11/2018). Desta forma, para evidenciar o interesse processual, não é necessário o esgotamento da via administrativa, mas a simples alegação contida na inicial de violação a norma com danos na esfera moral. Por essa razão, a preliminar deve ser rejeitada. Valor da causa. Toda petição inicial, inclusive aquelas distribuídas sob o rito dos Juizados Especiais, deve indicar precisamente o valor da causa (CPC, arts. 14, § 1º, inciso III, e 319, inciso V), o qual deve representar o valor econômico da pretensão, formulada de acordo com os critérios estabelecidos no artigo 292 do Código de Processo Civil. Neste sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA. [...] VALOR DA CAUSA. FIXAÇÃO. CRITÉRIO. CONTEÚDO ECONÔMICO DA DEMANDA. RAZOABILIDADE. REEXAME DE FATOS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. [...] 3. O valor da causa deve equivaler ao conteúdo econômico a ser obtido na demanda, ainda que a pretensão envolva conteúdo meramente declaratório. Precedentes. [...] (STJ, 3ª Turma, AgInt no AREsp 1062493/SP, Rel. Min.: Ricardo Villas Bôas Cuêva, DJU 19/09/2017). Nos termos do artigo 292, inciso V do Código de Processo Civil, nas ações indenizatórias o valor da causa deve ser indicado de acordo com a pretensão formulada, inclusive do dano moral. Assim o valor atribuído pela parte reclamante, coincide com a pretensão econômica deduzida na inicial. Logo, não há retificação a ser feita. Justiça gratuita. A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita ou sua impugnação não tem cabimento nesta fase processual, uma vez que o acesso ao primeiro grau em sede de Juizado Especial independe do recolhimento de custas, taxas ou despesas processuais, conforme dispõe o artigo 54 da Lei nº 9.099/95. Portanto, remete-se a discussão para a fase de admissibilidade de eventual Recurso Inominado que possa futuramente ser interposto. Julgamento antecipado da lide. Inicialmente, destaco o cabimento do julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, visto que os fatos controvertidos só podem ser comprovados por meio documental. Com fulcro nos artigos 370 e 371 do Código de Processo Civil, em que disciplinam o Princípio da Livre Apreciação Motivada das Provas e para que não haja procrastinação ao trâmite processual deste feito (CF, art. 5º, inciso LXXVIII), julgo desnecessária a produção de outras provas em audiência de instrução, justificando o julgamento antecipado da lide, com a aplicação dos ônus específicos. Registro, que, no sistema dos Juizados Especiais, o juiz não está obrigado a rebater uma a uma as teses apresentadas pelas partes, bastando que consigne na sentença os elementos formadores da sua convicção. Inversão do ônus da prova A relação de consumo restou caracterizada, nos termos dos artigos 2º e 3º, ambos da Lei nº 8.078/90, sendo devida a inversão do ônus da prova. Incumbe à parte reclamada provar a veracidade de seus alegados na qualidade de fornecedora de serviços, seja em razão da inversão do ônus da prova, seja porque as assertivas são fatos extintivos de direito, nos termos do artigo 373, inciso II do Código de Processo Civil. Existência de dívida totalmente desconhecida. É do credor o ônus de provar a higidez do seu crédito, para legitimar as ações adotadas para seu recebimento, inclusive a inscrição do nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito. E é assim, primeiro, por se tratar do fato constitutivo do seu direito (CPC, art. 373, inciso I) e, depois, por não ser razoável atribuir ao devedor a obrigação de fazer prova de fato negativo. Neste sentido: Recurso Cível Inominado - Ação declaratória de inexistência de débito c/c pedido de indenização por danos morais - Consumidor - Empréstimo consignado - Contratação por meio do cartão de crédito - Pagamento mínimo mediante o crédito rotativo do cartão - Desconto em folha de pagamento - Alegação de cobrança indevida - Sentença de improcedência - Insurgência da reclamante - Juntada de contrato comprovando a contratação de empréstimo consignado mediante cartão de crédito - Desconto em contracheque que se refere ao mínimo da fatura desde 2009 - Contrato - Sentença Mantida - Recurso Conhecido e Desprovido. (TJMT, TRU, RI nº 8058436-97.2018.811.0001, Rel.: Alex Nunes de Figueiredo, DJU 12/04/2019). (Destacamos). No caso, a parte reclamante nega a existência da obrigação que resultou nos descontos em folha de pagamento pela parte reclamada a título de empréstimo mediante cartão de crédito. Em exame do conjunto fático probatório disponível nos autos, verifico que a parte reclamada apresentou os extratos (ID 190045653), faturas (ID 190045661), comprovante de TED (ID 190045666) e os contratos (ID 190045645), devidamente assinado pela parte reclamante. Ademais, não há nos autos prova de fato impeditivo, modificativo o extintivo do referido crédito (CPC, art. 373, inciso II), situação em que evidencia a legitimidade da dívida e que não há conduta ilícita por parte da empresa reclamada. Destaca-se também que, embora não tenha sido produzida perícia grafotécnica para comprovar a autenticidade da assinatura da parte reclamante, no caso em exame, a referida rubrica é visivelmente idêntica às exaradas nos documentos que instrui a inicial, o que torna desnecessária a perícia. Nesse sentido: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. BANCOS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. RÉ QUE JUNTA CONTRATO COM A ASSINATURA DA AUTORA. DESNECESSIDADE DE PERÍCIA. ASSINATURA VISIVELMENTE IGUAL A DO DOCUMENTO DE IDENTIDADE DA AUTORA. SENTENÇA IMPROCEDENTE MANTIDA. RECURSO INOMINADO IMPROVIDO. Desnecessidade de perícia técnica para fins de análise de assinatura, pois a mesma é visivelmente idêntica a da autora no decorrer da lide, bem como a do documento de identidade acostado na inicial. Ré que logrou êxito em trazer fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito da autora, acostando cópia do contrato do empréstimo com a assinatura e documentos da autora, afastando assim, o alegado na inicial. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, conforme art. 46 da Lei dos Juizados Especiais Cíveis. RECURSO IMPROVIDO (TJRS, 3ª Tur. Cív; RC nº 71005028071, Rel.: Roberto Arriada Lorea, DJU 11/09/2014). Consequentemente, encontra-se prejudicado o exame dos demais pressupostos caracterizadores da responsabilidade civil, bem como a discussão em relação ao dano e o seu quantum indenizatório. Dispositivo. Posto isso, julgar improcedentes os pedidos contidos na inicial, extinguindo o processo com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, e na oportunidade reconhecer a prescrição dos descontos anteriores a março/2020 e rejeitar as demais preliminares arguidas. Sem custas processuais e sem honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54 e 55, ambos da Lei nº 9.099/95. Submeto o presente projeto de decisão à homologação do Magistrado Togado, para que surta os efeitos legais previstos no artigo 40 da Lei nº 9.099/95. Francys Loide Lacerda da Silva Juíza Leiga Vistos, etc... Homologo, para que surtam seus jurídicos e legais efeitos, o Projeto de Sentença elaborado pela Juíza Leiga deste Juizado Especial. Tudo cumprido, arquive-se, com as cautelas de estilo, dando-se baixa na distribuição. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Data registrada no sistema. Maurício Alexandre Ribeiro Juiz de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Guidoni Brasil S/A x Marcelo Barbosa Rodrigues

ID: 336912762

Tribunal: TST Órgão: 7ª Turma Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA Nº Processo: 0000346-59.2021.5.17.0181

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

GUIDONI BRASIL S/A

Polo Passivo:

MARCELO BARBOSA RODRIGUES

DECISÃO MONOCRÁTICA

Advogados:

LUCIANO MOURA ROSA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

MARCOS LUIZ DALMASO PINTO

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

FELIPE ALVES DE OLIVEIRA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

FERNANDA REBELIM DE OLIVEIRA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 7ª TURMA Relator: EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES AIRR 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A AGRAVADO: MARCEL… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 7ª TURMA Relator: EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES AIRR 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A AGRAVADO: MARCELO BARBOSA RODRIGUES PROCESSO Nº TST-AIRR - 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A ADVOGADO: Dr. MARCOS LUIZ DALMASO PINTO ADVOGADA: Dra. FERNANDA REBELIM DE OLIVEIRA AGRAVADO: MARCELO BARBOSA RODRIGUES ADVOGADO: Dr. FELIPE ALVES DE OLIVEIRA ADVOGADO: Dr. LUCIANO MOURA ROSA GMEV/pje/bpc/htn D E C I S Ã O Trata-se de agravo de instrumento interposto pela parte reclamada em face de decisão em que se denegou seguimento ao recurso de revista. A publicação do acórdão regional deu-se na vigência da Lei nº 13.467/2017. Não houve apresentação de contraminuta nem contrarrazões. Os autos não foram remetidos à Procuradoria-Geral do Trabalho, porquanto ausentes Atendidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo de instrumento. A decisão em que se denegou seguimento ao recurso de revista está assim fundamentada: RECURSO DE: GUIDONI ORNAMENTAL ROCKS LTDA CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES O presente recurso foi apresentado na vigência da Lei 13.467 /2017. Vale registrar que, nos termos do art. 896-A, §1º e incisos da CLT, incumbe ao Tribunal Superior do Trabalho o exame da transcendência do recurso de revista. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS Tempestivo o recurso (ciência da decisão em 02/04/2024 - Id 0f9663b; petição recursal apresentada em 15/04/2024 - Id e072fe9). Regular a representação processual (Id ec8355f). No entanto, o recurso de revista não merece seguimento, porque deserto. Com efeito, a apólice de seguro garantia de Id ef25dba está desacompanhada da comprovação de registro na SUSEP, deixando de atender, assim, aos requisitos exigidos no art. 5º, II, do Ato Conjunto n.º 1/2019 TST / CSJT / CGJT. Saliente-se, por oportuno, que, revendo posicionamento anterior, passei a adotar o entendimento iterativo do TST no sentido de que o vício, no caso, não enseja a intimação da Recorrente para regularização, na forma do art. 1.007, § 2º, do CPC c / c a Orientação Jurisprudencial 140 da SBDI-1 do TST, que versam apenas sobre insuficiência do preparo realizado, o que não se coaduna com a hipótese dos autos. Do mesmo modo, indevida a aplicação do art. 12 do Ato Conjunto, uma vez que a apólice apresentada é posterior à edição do Ato Conjunto nº 1/TST.CSJT.CGJT. Nestes termos, vale transcrever o seguinte julgado: [...] No mesmo sentido: AIRR-0000349-18.2021.5.06.0311, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 09/02/2024; AIRR-1801-16.2016.5.09.0130, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT 19/12/2023; Ag-AIRR- 1000724-80.2020.5.02.0009, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 15/12/2023; Ag-AIRR-20154-37.2018.5.04.0013, 2ª Turma, Relatora Ministra Liana Chaib, DEJT 11/12/2023; AIRR-10970-43.2021.5.15.0014, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 15/12/2023; Ag-AIRR-10441-42.2018.5.15.0042, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 17/11/2023. CONCLUSÃO DENEGO seguimento ao recurso de revista. Nas razões do agravo de instrumento, a parte agravante, em síntese, defende a validade da apólice de seguro garantia apresentada em substituição ao depósito recursal relativo ao recurso de revista. Como se observa, o Tribunal Regional denegou seguimento ao recurso de revista interposto pela parte ora agravante por ausência de preparo recursal, sob o fundamento de que não houve a comprovação de registro na SUSEP da apólice de seguro garantia judicial apresentada, razão pela qual estaria descumprido o requisito previsto no art. 5º, II, do Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1/2019. Não se afigura razoável exigir da parte tal comprovação quando a apólice de seguro garantia juntada aos autos tempestivamente já contempla o número do documento para fins de verificação de seu registro na SUSEP. Ao consultar o site da SUSEP para verificar o registro da apólice, constata-se que nem sequer existe um documento propriamente dito. Não é emitida uma certidão. Nesse caso, portanto, exigir da parte que fotografe a tela do site do sistema de consulta de seguros não me parece razoável, na medida em que um "print" da tela não é "documento" apto a demonstrar um fato. Além disso, uma vez que incumbe ao magistrado o dever de conferir a validade da apólice mediante cotejo com o registro constante no sítio eletrônico da SUSEP, na forma do art. 5º, § 2º, do Ato Conjunto, reputo dispensável a aludida comprovação, mesmo porque não vislumbro qual seria a forma de comprovação. Não há necessidade de provar algo que está no ambiente virtual e que deve ser verificado pelo juiz. Logo, por se tratar de consectário lógico e diante da atribuição judicial de conferência da autenticidade da apólice e do registro, a meu juízo, não é possível fazer prova do registro da apólice. Assim, por não vislumbrar a possibilidade de prova de algo que está em ambiente virtual e que não se produz sob a forma de um documento propriamente dito, na medida em que a SUSEP não emite uma certidão no que toca ao registro da apólice e, ainda, considerando o dever expresso no art. 5º, § 2º, do Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1/2019, que exige do magistrado a conferência da validade da apólice pelo número de registro na SUSEP, reputo que a simples indicação desse número no frontispício do documento supre a exigência descrita pelo art. 5º, II, do Ato. No caso dos autos, verifica-se que a apólice de seguro garantia apresentada contém o número de registro que possibilita a conferência de sua validade no sítio eletrônico da SUSEP. Assim, tratando-se de mera consulta e estando a apólice válida, o requisito foi atendido. Desse modo, não há falar em deserção, visto que demonstrado, na ocasião da interposição do recurso de revista, que o juízo estava garantido por meio de seguro garantia judicial. Em face do afastamento do óbice indicado no despacho denegatório, prossegue-se no exame dos demais pressupostos de admissibilidade do recurso de revista (Orientação Jurisprudencial nº 282 da SbDI-1 do TST). I – DOENÇA OCUPACIONAL. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA LESÃO. PRESCRIÇÃO BIENAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA. NÃO RECONHECIMENTO. A parte reclamada alega que “o Egrégio Regional operou em evidente violação à legislação constitucional (art. 7º, XXIX da CRFB) e federal (art. 11 da CLT), ao não ter considerado a ocorrência da prescrição bienal in casu, tendo em vista que a ciência inequívoca da lesão ocorrera em 21/11/2018, enquanto a reclamação trabalhista somente foi ajuizada em 13/07/2021” (fl. 888 – Visualização Todos PDFs). Ao exame. Ausente, em primeiro lugar, a transcendência política, pois não se detecta contrariedade, pelo Tribunal Regional, a súmula ou orientação jurisprudencial do TST, a súmula do STF ou a decisões oriundas dos microssistemas de formação de precedentes, de recursos repetitivos ou de repercussão geral. Não se observa, à luz dos critérios objetivos fixados pela maioria desta Sétima Turma, transcendência econômica, pois o recurso de revista foi interposto pelo empregador e o valor total dos temas devolvidos no recurso de revista não ultrapassa 1000 (mil) salários mínimos (empresa de âmbito nacional). Não se verifica, ainda, transcendência jurídica, pois não se discutem questões novas em torno da interpretação da legislação trabalhista, tampouco questões antigas, ainda não definitivamente solucionadas pela manifestação jurisprudencial. Não há, por fim, transcendência social, pois o recurso foi interposto pela parte reclamada. Assim, em face do não atendimento do critério da transcendência, não conheço do recurso de revista. II – PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. INCLUSÃO NA FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. RECONHECIMENTO. A controvérsia cinge em torno da possibilidade de cumulação da inclusão da parte reclamante em folha de pagamento com a constituição de capital. Ao exame. Nos termos do art. 896-A da CLT, no recurso de revista, cabe a esta Corte Superior examinar, previamente, se a causa oferece transcendência sob o prisma de quatro vetores taxativos (econômico, político, social e jurídico), que se desdobram em um rol de indicadores meramente exemplificativo, referidos nos incisos I a IV do dispositivo em apreço. Observa-se, de plano, que o tema oferece transcendência política, pois este vetor da transcendência mostra-se presente quanto a questão jurídica devolvida a esta Corte Superior revela a contrariedade, pelo Tribunal Regional, a súmula ou orientação jurisprudencial do TST, a súmula do STF ou a decisões que, pelos microssistemas de formação de precedentes, de recursos repetitivos ou de repercussão geral, possuam efeito vinculante ou sejam de observância obrigatória. Da mesma forma, o desrespeito à jurisprudência reiterada caracteriza esse vetor da transcendência. O recurso de revista atende os pressupostos intrínsecos previstos no art. 896, § 1º-A, I, II e III, da CLT. Eis os fundamentos consignados no acórdão regional: A sentença determinou o seguinte: "O pagamento das parcelas vencidas efetuar-se-á de uma só vez; o das vincendas mensalmente, mediante inclusão em folha, por aplicação do art. 950 do CC. Para tanto a reclamada deverá constituir capital cuja finalidade consiste em assegurar o pagamento do valor mensal das parcelas, tal como dispõe o art. 533 do CPC" A recorrente afirma que o pedido como deferido importa em dupla oneração, devendo ser reformado. Nessa linha, argumenta que o art. 533, §2º, faculta ao juiz ordenar a constituição de capital para garantia do valor da pensão mensal, ao mesmo tempo em que permite a ele substituir tal regra se o beneficiário estiver inscrito em folha de pagamento. Sustenta que ao ter sido compelida a incluir o reclamante em folha de pagamento, a reclamada garante a percepção dos valores devidos ao trabalhador conjuntamente com todos os seus demais funcionários, atribuindo maior segurança jurídica, o que é suficiente para garantir a exclusão da constituição de capital. Sem razão. Com vistas a que o reclamante não fique sujeito às instabilidades econômicas, podendo perder, de um momento para outro, a renda, com fulcro no art. 533 do CPC, correta a sentença que determinou que a reclamada efetue a constituição de capital, suficiente para gerar renda equivalente ao valor da indenização. Nego provimento. (fls. 805/806 – Visualização Todos PDFs) A jurisprudência do TST tem entendimento firme no sentido de que fica a cargo do magistrado decidir, discricionariamente, qual a melhor forma liquidar o valor da pensão, sendo vedada, entretanto, a cumulação da constituição de capital com a inclusão em folha. Citem-se, nesse sentido, os seguintes julgados: RECURSO DE REVISTA DA RÉ. PENSÃO MENSAL. DETERMINAÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL CONCOMITANTE COM A INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. 1. A causa diz respeito à possibilidade de se determinar a constituição de capital de forma concomitante com a inclusão do benefício em folha de pagamento para garantir o pagamento da pensão mensal. 2. O art. 533, § 2º, do CPC/15, ao estabelecer a faculdade de o juiz poder “ substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica”, evidencia a impossibilidade de que haja a aplicação conjunta dessas referidas medidas. 3 . Por esse motivo, a jurisprudência desta Corte Superior se firmou no sentido de que a determinação cumulada da constituição de capital e da inclusão em folha de pagamento extrapola os limites descritos pelo art. 533, § 2º, do CPC/15. Precedentes. 4 . Decisão regional em descompasso com a jurisprudência da Corte. Recurso de revista conhecido por violação do art. 533, § 2º, do CPC/15 e provido" (ARR-2582-22.2012.5.15.0062, 7ª Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 27/09/2024). "AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. INVIABILIDADE . [...] CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. INVIABILIDADE. O artigo 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q do CPC/1973) faculta ao julgador ordenar a constituição de capital para garantir a execução de prestações periódicas alimentícias, em decorrência de condenação por ato ilícito, ou determinar a inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento, quando a empresa condenada tenha notória capacidade econômica, sendo, portanto, medida discricionária do julgador. Na hipótese , o TRT negou provimento ao agravo de petição da Executada PETROBRAS, no aspecto em que pleiteava a liberação do capital garantidor da obrigação, por fundamentar: " No caso sub judice, como visto em item anterior, embora esteja comprovada nos autos a inclusão da pensão mensal devida ao exequente em folha de pagamento, tem-se que essa medida não substitui a determinação de constituição de capital ". A Corte de origem extrapolou, portanto, a faculdade prevista no art. 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q do CPC/1973), além de impor forma mais gravosa para o cumprimento da execução à 2ª Reclamada, ora Executada (artigo 805 do CPC/2015). Assim, deve-se excluir da condenação a constituição de capital, mantendo-se a determinação quanto à inclusão do pensionamento em folha de pagamento ante o porte da empresa recorrente, nos moldes do § 2º do artigo 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q, § 2º, do CPC/1973). Recurso de revista conhecido e provido [...] (RR-198-23.2013.5.04.0203, 3ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 23/09/2022). "A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. 1. CERCEAMENTO DE DEFESA. Não se cogita em violação do art. 5º, LV, da CF, na medida em que, conforme registrado pelo Regional, houve intimação do perito, o qual respondeu aos questionamentos da parte, bem como que as perguntas dirigidas ao reclamante e sua testemunha mostraram-se desnecessárias em razão do próprio depoimento pessoal do preposto da reclamada. Agravo de instrumento conhecido e não provido. 2. PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE . Diante da possível violação do § 2º do artigo 533 do CPC/15, dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento da revista. Agravo de instrumento conhecido e provido. B) PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. O § 2º do artigo 533 do CPC/15 é explícito ao estabelecer que a constituição do capital prevista no caput da norma, a critério do magistrado, " poderá ser pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ". Evidente, portanto, que os meios de garantia do cumprimento da obrigação não são cumulativos, mas alternativos, uma vez que a norma estabeleceu a possibilidade de substituição da constituição de capital por outros meios que assegurem o pagamento da pensão mensal, como no caso concreto, em que foi determinada a inclusão do beneficiário na folha de pagamento da empresa. Assim, é indevida a determinação concomitante de constituição de capital. Recurso de revista conhecido e provido" (ARR-1001726-41.2015.5.02.0242, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 08/11/2019). Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por violação ao art. 533, § 2º, do CPC/15, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a determinação imposta à parte reclamada quanto à constituição de capital em favor da parte reclamante. CONCLUSÃO Diante do exposto, e nos termos dos arts. 932, III, IV e V, do CPC de 2015 e 896, § 14, da CLT e 251, I, II e III, do Regimento Interno desta Corte Superior, (a) conheço do agravo de instrumento interposto pela parte reclamada e, no mérito, dou-lhe provimento para afastar a deserção do recurso de revista e determinar o seu imediato processamento; (b) não conheço do recurso de revista quanto ao tema “doença ocupacional – ciência inequívoca da lesão – prescrição”; (c) conheço do recurso de revista quanto ao tema “pensão mensal – constituição de capital e inclusão em folha de pagamento – impossibilidade de cumulação”, por violação ao art. 533, § 2º, do CPC/15, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a determinação imposta à parte reclamada quanto à constituição de capital em favor da parte reclamante. Publique-se. BrasÃlia, 28 de julho de 2025. EVANDRO VALADÃO Ministro Relator Intimado(s) / Citado(s) - GUIDONI BRASIL S/A

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Guidoni Brasil S/A x Marcelo Barbosa Rodrigues

ID: 336912801

Tribunal: TST Órgão: 7ª Turma Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA Nº Processo: 0000346-59.2021.5.17.0181

Data de Disponibilização: 29/07/2025

Polo Ativo:

GUIDONI BRASIL S/A

Polo Passivo:

MARCELO BARBOSA RODRIGUES

DECISÃO MONOCRÁTICA

Advogados:

LUCIANO MOURA ROSA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

MARCOS LUIZ DALMASO PINTO

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

FELIPE ALVES DE OLIVEIRA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

FERNANDA REBELIM DE OLIVEIRA

OAB/ES XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 7ª TURMA Relator: EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES AIRR 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A AGRAVADO: MARCEL… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO 7ª TURMA Relator: EVANDRO PEREIRA VALADÃO LOPES AIRR 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A AGRAVADO: MARCELO BARBOSA RODRIGUES PROCESSO Nº TST-AIRR - 0000346-59.2021.5.17.0181 AGRAVANTE: GUIDONI BRASIL S/A ADVOGADO: Dr. MARCOS LUIZ DALMASO PINTO ADVOGADA: Dra. FERNANDA REBELIM DE OLIVEIRA AGRAVADO: MARCELO BARBOSA RODRIGUES ADVOGADO: Dr. FELIPE ALVES DE OLIVEIRA ADVOGADO: Dr. LUCIANO MOURA ROSA GMEV/pje/bpc/htn D E C I S Ã O Trata-se de agravo de instrumento interposto pela parte reclamada em face de decisão em que se denegou seguimento ao recurso de revista. A publicação do acórdão regional deu-se na vigência da Lei nº 13.467/2017. Não houve apresentação de contraminuta nem contrarrazões. Os autos não foram remetidos à Procuradoria-Geral do Trabalho, porquanto ausentes Atendidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo de instrumento. A decisão em que se denegou seguimento ao recurso de revista está assim fundamentada: RECURSO DE: GUIDONI ORNAMENTAL ROCKS LTDA CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES O presente recurso foi apresentado na vigência da Lei 13.467 /2017. Vale registrar que, nos termos do art. 896-A, §1º e incisos da CLT, incumbe ao Tribunal Superior do Trabalho o exame da transcendência do recurso de revista. PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS Tempestivo o recurso (ciência da decisão em 02/04/2024 - Id 0f9663b; petição recursal apresentada em 15/04/2024 - Id e072fe9). Regular a representação processual (Id ec8355f). No entanto, o recurso de revista não merece seguimento, porque deserto. Com efeito, a apólice de seguro garantia de Id ef25dba está desacompanhada da comprovação de registro na SUSEP, deixando de atender, assim, aos requisitos exigidos no art. 5º, II, do Ato Conjunto n.º 1/2019 TST / CSJT / CGJT. Saliente-se, por oportuno, que, revendo posicionamento anterior, passei a adotar o entendimento iterativo do TST no sentido de que o vício, no caso, não enseja a intimação da Recorrente para regularização, na forma do art. 1.007, § 2º, do CPC c / c a Orientação Jurisprudencial 140 da SBDI-1 do TST, que versam apenas sobre insuficiência do preparo realizado, o que não se coaduna com a hipótese dos autos. Do mesmo modo, indevida a aplicação do art. 12 do Ato Conjunto, uma vez que a apólice apresentada é posterior à edição do Ato Conjunto nº 1/TST.CSJT.CGJT. Nestes termos, vale transcrever o seguinte julgado: [...] No mesmo sentido: AIRR-0000349-18.2021.5.06.0311, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 09/02/2024; AIRR-1801-16.2016.5.09.0130, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT 19/12/2023; Ag-AIRR- 1000724-80.2020.5.02.0009, 1ª Turma, Relator Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 15/12/2023; Ag-AIRR-20154-37.2018.5.04.0013, 2ª Turma, Relatora Ministra Liana Chaib, DEJT 11/12/2023; AIRR-10970-43.2021.5.15.0014, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 15/12/2023; Ag-AIRR-10441-42.2018.5.15.0042, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao, DEJT 17/11/2023. CONCLUSÃO DENEGO seguimento ao recurso de revista. Nas razões do agravo de instrumento, a parte agravante, em síntese, defende a validade da apólice de seguro garantia apresentada em substituição ao depósito recursal relativo ao recurso de revista. Como se observa, o Tribunal Regional denegou seguimento ao recurso de revista interposto pela parte ora agravante por ausência de preparo recursal, sob o fundamento de que não houve a comprovação de registro na SUSEP da apólice de seguro garantia judicial apresentada, razão pela qual estaria descumprido o requisito previsto no art. 5º, II, do Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1/2019. Não se afigura razoável exigir da parte tal comprovação quando a apólice de seguro garantia juntada aos autos tempestivamente já contempla o número do documento para fins de verificação de seu registro na SUSEP. Ao consultar o site da SUSEP para verificar o registro da apólice, constata-se que nem sequer existe um documento propriamente dito. Não é emitida uma certidão. Nesse caso, portanto, exigir da parte que fotografe a tela do site do sistema de consulta de seguros não me parece razoável, na medida em que um "print" da tela não é "documento" apto a demonstrar um fato. Além disso, uma vez que incumbe ao magistrado o dever de conferir a validade da apólice mediante cotejo com o registro constante no sítio eletrônico da SUSEP, na forma do art. 5º, § 2º, do Ato Conjunto, reputo dispensável a aludida comprovação, mesmo porque não vislumbro qual seria a forma de comprovação. Não há necessidade de provar algo que está no ambiente virtual e que deve ser verificado pelo juiz. Logo, por se tratar de consectário lógico e diante da atribuição judicial de conferência da autenticidade da apólice e do registro, a meu juízo, não é possível fazer prova do registro da apólice. Assim, por não vislumbrar a possibilidade de prova de algo que está em ambiente virtual e que não se produz sob a forma de um documento propriamente dito, na medida em que a SUSEP não emite uma certidão no que toca ao registro da apólice e, ainda, considerando o dever expresso no art. 5º, § 2º, do Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1/2019, que exige do magistrado a conferência da validade da apólice pelo número de registro na SUSEP, reputo que a simples indicação desse número no frontispício do documento supre a exigência descrita pelo art. 5º, II, do Ato. No caso dos autos, verifica-se que a apólice de seguro garantia apresentada contém o número de registro que possibilita a conferência de sua validade no sítio eletrônico da SUSEP. Assim, tratando-se de mera consulta e estando a apólice válida, o requisito foi atendido. Desse modo, não há falar em deserção, visto que demonstrado, na ocasião da interposição do recurso de revista, que o juízo estava garantido por meio de seguro garantia judicial. Em face do afastamento do óbice indicado no despacho denegatório, prossegue-se no exame dos demais pressupostos de admissibilidade do recurso de revista (Orientação Jurisprudencial nº 282 da SbDI-1 do TST). I – DOENÇA OCUPACIONAL. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA LESÃO. PRESCRIÇÃO BIENAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. TRANSCENDÊNCIA. NÃO RECONHECIMENTO. A parte reclamada alega que “o Egrégio Regional operou em evidente violação à legislação constitucional (art. 7º, XXIX da CRFB) e federal (art. 11 da CLT), ao não ter considerado a ocorrência da prescrição bienal in casu, tendo em vista que a ciência inequívoca da lesão ocorrera em 21/11/2018, enquanto a reclamação trabalhista somente foi ajuizada em 13/07/2021” (fl. 888 – Visualização Todos PDFs). Ao exame. Ausente, em primeiro lugar, a transcendência política, pois não se detecta contrariedade, pelo Tribunal Regional, a súmula ou orientação jurisprudencial do TST, a súmula do STF ou a decisões oriundas dos microssistemas de formação de precedentes, de recursos repetitivos ou de repercussão geral. Não se observa, à luz dos critérios objetivos fixados pela maioria desta Sétima Turma, transcendência econômica, pois o recurso de revista foi interposto pelo empregador e o valor total dos temas devolvidos no recurso de revista não ultrapassa 1000 (mil) salários mínimos (empresa de âmbito nacional). Não se verifica, ainda, transcendência jurídica, pois não se discutem questões novas em torno da interpretação da legislação trabalhista, tampouco questões antigas, ainda não definitivamente solucionadas pela manifestação jurisprudencial. Não há, por fim, transcendência social, pois o recurso foi interposto pela parte reclamada. Assim, em face do não atendimento do critério da transcendência, não conheço do recurso de revista. II – PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL. INCLUSÃO NA FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. RECONHECIMENTO. A controvérsia cinge em torno da possibilidade de cumulação da inclusão da parte reclamante em folha de pagamento com a constituição de capital. Ao exame. Nos termos do art. 896-A da CLT, no recurso de revista, cabe a esta Corte Superior examinar, previamente, se a causa oferece transcendência sob o prisma de quatro vetores taxativos (econômico, político, social e jurídico), que se desdobram em um rol de indicadores meramente exemplificativo, referidos nos incisos I a IV do dispositivo em apreço. Observa-se, de plano, que o tema oferece transcendência política, pois este vetor da transcendência mostra-se presente quanto a questão jurídica devolvida a esta Corte Superior revela a contrariedade, pelo Tribunal Regional, a súmula ou orientação jurisprudencial do TST, a súmula do STF ou a decisões que, pelos microssistemas de formação de precedentes, de recursos repetitivos ou de repercussão geral, possuam efeito vinculante ou sejam de observância obrigatória. Da mesma forma, o desrespeito à jurisprudência reiterada caracteriza esse vetor da transcendência. O recurso de revista atende os pressupostos intrínsecos previstos no art. 896, § 1º-A, I, II e III, da CLT. Eis os fundamentos consignados no acórdão regional: A sentença determinou o seguinte: "O pagamento das parcelas vencidas efetuar-se-á de uma só vez; o das vincendas mensalmente, mediante inclusão em folha, por aplicação do art. 950 do CC. Para tanto a reclamada deverá constituir capital cuja finalidade consiste em assegurar o pagamento do valor mensal das parcelas, tal como dispõe o art. 533 do CPC" A recorrente afirma que o pedido como deferido importa em dupla oneração, devendo ser reformado. Nessa linha, argumenta que o art. 533, §2º, faculta ao juiz ordenar a constituição de capital para garantia do valor da pensão mensal, ao mesmo tempo em que permite a ele substituir tal regra se o beneficiário estiver inscrito em folha de pagamento. Sustenta que ao ter sido compelida a incluir o reclamante em folha de pagamento, a reclamada garante a percepção dos valores devidos ao trabalhador conjuntamente com todos os seus demais funcionários, atribuindo maior segurança jurídica, o que é suficiente para garantir a exclusão da constituição de capital. Sem razão. Com vistas a que o reclamante não fique sujeito às instabilidades econômicas, podendo perder, de um momento para outro, a renda, com fulcro no art. 533 do CPC, correta a sentença que determinou que a reclamada efetue a constituição de capital, suficiente para gerar renda equivalente ao valor da indenização. Nego provimento. (fls. 805/806 – Visualização Todos PDFs) A jurisprudência do TST tem entendimento firme no sentido de que fica a cargo do magistrado decidir, discricionariamente, qual a melhor forma liquidar o valor da pensão, sendo vedada, entretanto, a cumulação da constituição de capital com a inclusão em folha. Citem-se, nesse sentido, os seguintes julgados: RECURSO DE REVISTA DA RÉ. PENSÃO MENSAL. DETERMINAÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL CONCOMITANTE COM A INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. 1. A causa diz respeito à possibilidade de se determinar a constituição de capital de forma concomitante com a inclusão do benefício em folha de pagamento para garantir o pagamento da pensão mensal. 2. O art. 533, § 2º, do CPC/15, ao estabelecer a faculdade de o juiz poder “ substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica”, evidencia a impossibilidade de que haja a aplicação conjunta dessas referidas medidas. 3 . Por esse motivo, a jurisprudência desta Corte Superior se firmou no sentido de que a determinação cumulada da constituição de capital e da inclusão em folha de pagamento extrapola os limites descritos pelo art. 533, § 2º, do CPC/15. Precedentes. 4 . Decisão regional em descompasso com a jurisprudência da Corte. Recurso de revista conhecido por violação do art. 533, § 2º, do CPC/15 e provido" (ARR-2582-22.2012.5.15.0062, 7ª Turma, Relator Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 27/09/2024). "AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. INVIABILIDADE . [...] CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. INVIABILIDADE. O artigo 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q do CPC/1973) faculta ao julgador ordenar a constituição de capital para garantir a execução de prestações periódicas alimentícias, em decorrência de condenação por ato ilícito, ou determinar a inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento, quando a empresa condenada tenha notória capacidade econômica, sendo, portanto, medida discricionária do julgador. Na hipótese , o TRT negou provimento ao agravo de petição da Executada PETROBRAS, no aspecto em que pleiteava a liberação do capital garantidor da obrigação, por fundamentar: " No caso sub judice, como visto em item anterior, embora esteja comprovada nos autos a inclusão da pensão mensal devida ao exequente em folha de pagamento, tem-se que essa medida não substitui a determinação de constituição de capital ". A Corte de origem extrapolou, portanto, a faculdade prevista no art. 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q do CPC/1973), além de impor forma mais gravosa para o cumprimento da execução à 2ª Reclamada, ora Executada (artigo 805 do CPC/2015). Assim, deve-se excluir da condenação a constituição de capital, mantendo-se a determinação quanto à inclusão do pensionamento em folha de pagamento ante o porte da empresa recorrente, nos moldes do § 2º do artigo 533 do CPC/2015 (artigo 475-Q, § 2º, do CPC/1973). Recurso de revista conhecido e provido [...] (RR-198-23.2013.5.04.0203, 3ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 23/09/2022). "A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. 1. CERCEAMENTO DE DEFESA. Não se cogita em violação do art. 5º, LV, da CF, na medida em que, conforme registrado pelo Regional, houve intimação do perito, o qual respondeu aos questionamentos da parte, bem como que as perguntas dirigidas ao reclamante e sua testemunha mostraram-se desnecessárias em razão do próprio depoimento pessoal do preposto da reclamada. Agravo de instrumento conhecido e não provido. 2. PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE . Diante da possível violação do § 2º do artigo 533 do CPC/15, dá-se provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento da revista. Agravo de instrumento conhecido e provido. B) PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL E INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. CUMULAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. O § 2º do artigo 533 do CPC/15 é explícito ao estabelecer que a constituição do capital prevista no caput da norma, a critério do magistrado, " poderá ser pela inclusão do exequente em folha de pagamento de pessoa jurídica de notória capacidade econômica ". Evidente, portanto, que os meios de garantia do cumprimento da obrigação não são cumulativos, mas alternativos, uma vez que a norma estabeleceu a possibilidade de substituição da constituição de capital por outros meios que assegurem o pagamento da pensão mensal, como no caso concreto, em que foi determinada a inclusão do beneficiário na folha de pagamento da empresa. Assim, é indevida a determinação concomitante de constituição de capital. Recurso de revista conhecido e provido" (ARR-1001726-41.2015.5.02.0242, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 08/11/2019). Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por violação ao art. 533, § 2º, do CPC/15, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a determinação imposta à parte reclamada quanto à constituição de capital em favor da parte reclamante. CONCLUSÃO Diante do exposto, e nos termos dos arts. 932, III, IV e V, do CPC de 2015 e 896, § 14, da CLT e 251, I, II e III, do Regimento Interno desta Corte Superior, (a) conheço do agravo de instrumento interposto pela parte reclamada e, no mérito, dou-lhe provimento para afastar a deserção do recurso de revista e determinar o seu imediato processamento; (b) não conheço do recurso de revista quanto ao tema “doença ocupacional – ciência inequívoca da lesão – prescrição”; (c) conheço do recurso de revista quanto ao tema “pensão mensal – constituição de capital e inclusão em folha de pagamento – impossibilidade de cumulação”, por violação ao art. 533, § 2º, do CPC/15, e, no mérito, dou-lhe provimento para excluir a determinação imposta à parte reclamada quanto à constituição de capital em favor da parte reclamante. Publique-se. BrasÃlia, 28 de julho de 2025. EVANDRO VALADÃO Ministro Relator Intimado(s) / Citado(s) - MARCELO BARBOSA RODRIGUES

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Sebastiao Miranda Dos Santos x Keila Cristina Guarato

ID: 258238122

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA CÍVEL DE ÁGUA BOA Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1000724-48.2017.8.11.0021

Data de Disponibilização: 17/04/2025

Polo Ativo:

SEBASTIAO MIRANDA DOS SANTOS

Polo Passivo:

KEILA CRISTINA GUARATO

Intimação

Advogados:

CRISTIANE VIEIRA DE SOUZA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ANDERSON VALENTE ARAUJO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA CÍVEL DE ÁGUA BOA PROCESSO N. 1000724-48.2017.8.11.0021 RECONVINTE: SEBASTIAO MIRANDA DOS SANTOS REQUERIDO: KEILA CRISTINA GUARATO SENTENÇA I. RELATÓRIO… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA CÍVEL DE ÁGUA BOA PROCESSO N. 1000724-48.2017.8.11.0021 RECONVINTE: SEBASTIAO MIRANDA DOS SANTOS REQUERIDO: KEILA CRISTINA GUARATO SENTENÇA I. RELATÓRIO Trata-se de AÇÃO DE COBRANÇA de natureza trabalhista ajuizada por SEBASTIÃO MIRANDA DE SANTOS contra KEILA CRISTINA GUARATO, ambos qualificados no encarte processual acima especificado. Em síntese, narra o autor que foi contratado pela ré para realizar serviços de pedreiro por empreitada em obras contratadas pelo Município de Água Boa/MT, consistente na construção de uma escola e um posto de saúde localizado no Projeto de Assentamento Santa Maria. Segue a narrativa, alegando que para a construção do posto de saúde foi fixado o valor de R$ 300,00 (trezentos reais) o metro quadrado (180 m²) e para a edificação da escola (800 m²) o montante de R$ 460,00 (quatrocentos e sessenta reais) o metro quadrado. Assevera que, em relação à construção do posto de saúde, requer a condenação da ré na quantia de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Por sua vez, no que tange à edificação da escola que não restou concluída, pugnou pelo pagamento da quantia de R$ 368.000,00 (trezentos e sessenta e oito mil reais); Requer sejam descontados os valores já adimplidos pela ré, os quais deverão ser apurados, visto que não detém o montante devido. Requer, ainda, o adimplemento do valor de R$ 1.166,00 (mil cento e sessenta e seis reais) correspondentes aos equipamentos de proteção individual não adimplidos pela ré; restituição de equipamentos de trabalho que permaneceram na obra. Além disso, requer a condenação da ré ao valor de R$ 7.200,00 (sete mil e duzentos reais) correspondentes à alugueres de alojamento que teriam sido custeados pelo autor. Por fim, requer a condenação da ré ao pagamento de vale refeição e transporte em montante a ser apurado, que também teria sido custeado pelo autor. Com a demanda vieram documentos. A petição inicial foi recebida (id n. 8256224). A audiência de conciliação restou infrutífera (id n. 9256621). Foi certificado o decurso do prazo para contestação (Id n. 11353916), contudo, após a oposição de embargos de declaração, foi verificado que, na seara trabalhista, a requerida havia apresentado contestação, como se verifica nos eventos n. 8248487 (pag. 13/24), 8248493 (pag. 01/10), 8248500 (pag. 01/17), 8248508 (pag. 01/13), 8248514 (pag. 01/09), 8248521 (pag. 03/21), 8248530 (pag. 05/11). No entanto, no id. 24087855 foi juntada novamente. O feito foi saneado, oportunidade em que foram fixados os pontos controvertidos (id. 24020177 e id. 93249409). No id. 151781171 foi admitida a prova oral, consistente no depoimento pessoal da parte autora e inquirição de testemunhas. Instalada a audiência, a representante do autor pugnou pelo aproveitamento de provas, considerando que foi colhido o depoimento das partes em audiência realizada na Vara do Trabalho. O advogado da parte requerida insistiu no depoimento do autor e concordou com a dispensa do depoimento da requerida; O autor prestou depoimento pessoal; As testemunhas arroladas pelo autor, Joel Francisco da Silva e Jose Domingos Pereira dos Santos, foram inquiridas; Dispensou-se a testemunha arrolada pelo autor, Arivaldo Pereira dos Santos. De igual modo, a testemunha arrolada pela parte requerida Sílvio Neves Xavier; Declarada encerrada a instrução processual, o debate oral foi substituído por razões finais escritas, em razão da existência de questões complexas de fato ou de direito (id. 167344728). Relatório de mídias encartado no id. 168025231. Alegações finais do autor (id. 169443583); a ré, por sua vez, juntou suas alegações finais no id. 170083770. II. FUNDAMENTAÇÃO Da Relação Jurídica e do Contrato de Empreitada A existência de relação jurídica contratual entre as partes, especificamente sob a modalidade de empreitada, para a execução de serviços de construção civil em obras públicas contratadas pela ré junto ao Município de Água Boa/MT, é matéria incontroversa nos autos. O autor, SEBASTIÃO MIRANDA DE SANTOS, alega ter sido contratado pela ré, KEILA CRISTINA GUARATO, para realizar serviços de pedreiro na construção de uma escola e de um posto de saúde no Projeto de Assentamento Santa Maria. A própria ré, em sua contestação apresentada na Justiça do Trabalho e posteriormente juntada nestes autos (Id. 24087855), bem como em seu depoimento pessoal colhido naquela esfera e aproveitado nestes autos (Id. 8248530, págs. 6/8), confirma a contratação do autor para a execução das referidas obras. Quanto à formalização e aos termos específicos da contratação, verifica-se que para a obra da escola, foi juntado um instrumento contratual escrito (Ids. 8248508 e 8248514), enquanto para a obra do posto de saúde, a contratação se deu de forma verbal, conforme alegado pelo autor e não especificamente impugnado pela ré quanto à modalidade verbal, embora conteste os valores e o adimplemento. A validade do contrato verbal de empreitada é reconhecida em nosso ordenamento jurídico, incumbindo à parte que alega a sua existência e seus termos o ônus da prova, nos termos do artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil. No que concerne ao valor pactuado pelos serviços, o autor sustenta que para a construção do posto de saúde (180 m²), o valor ajustado foi de R$ 300,00 (trezentos reais) por metro quadrado, totalizando R$ 54.000,00 (cinquenta e quatro mil reais), e para a edificação da escola (aproximadamente 800 m²), o montante acordado foi de R$ 460,00 (quatrocentos e sessenta reais) por metro quadrado, alcançando R$ 368.000,00 (trezentos e sessenta e oito mil reais). A ré, em seu depoimento pessoal (Id. 8248530, págs. 6/8), confessou que o valor ajustado para a obra da escola foi, de fato, R$ 460,00 (quatrocentos e sessenta reais) por metro quadrado, informação esta que prevalece sobre o valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais) constante do contrato escrito (Ids. 8248508 e 8248514), dada a força probante da confissão judicial, nos termos do artigo 389 do Código de Processo Civil. Quanto ao valor da empreitada do posto de saúde, a ré não impugnou especificamente o valor de R$300,00 (trezentos reais) por metro quadrado alegado pelo autor, centrando sua defesa na alegação de pagamento integral dos serviços efetivamente prestados e na exceção do contrato não cumprido. Assim, reputa-se como valor contratado para o posto de saúde o montante de R$ 300,00 por metro quadrado. Da Execução dos Serviços e do Inadimplemento Contratual Obra do Posto de Saúde O autor postula o pagamento de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a título de saldo remanescente pela construção do posto de saúde. Alega ter concluído a parte que lhe cabia na empreitada. A ré, por sua vez, sustenta ter adimplido integralmente os valores devidos pelos serviços prestados e, paradoxalmente ao alegar vícios em outras partes da contestação, confessou em seu depoimento pessoal (Id. 8248530, págs. 6/8) que o autor concluiu a parte que lhe competia na obra do posto de saúde ("a parte contratada referente ao posto de saúde o autor concluiu"), porém ressaltou a existência de “vários problemas” A testemunha Joel Francisco da Silva, ouvida sob o crivo do contraditório (Id. 168025231), corroborou a versão do autor, afirmando que trabalhou na obra do posto de saúde desde o alicerce até o final e que, quando saiu, a obra estava concluída quanto à parte do autor, restando apenas detalhes para a inauguração pela prefeitura: "Ela ficou pronta, faltando só a prefeitura inaugurar e fazer alguma coisinha que não era da parte de pedreiro."; "Isso, estava concluída, vaso colocado, banheiro pronto.". As planilhas de medição da obra do posto de saúde, juntadas aos autos (Ids. 8248530 – pag. 10 e 11; 8248533, 8248536 – pagina 1; e 31464078), especialmente a 6ª Medição (Id. 31464078, pág. 16), demonstram um elevado percentual de conclusão dos serviços. A própria testemunha arrolada pela ré na Justiça do Trabalho, Sra. Aline Favaretto, engenheira fiscal da prefeitura à época, afirmou em depoimento (Id. 8248530 – fls. 6/8) que "A prefeitura fez o pagamento de acordo com as medições realizadas, inclusive em relação às medições finais de cada obra". Isso indica que o Município considerou os serviços medidos como realizados, apesar dos defeitos relatados pela engenheira, e efetuou o pagamento correspondente à ré. Diante da confissão da ré quanto à conclusão da parte do autor na obra do posto de saúde, do depoimento da testemunha Joel Francisco da Silva e da análise das medições, conclui-se que o autor cumpriu sua obrigação contratual referente a esta obra, porém com descontos decorrentes de vícios. Importante ressaltar que, no caso da obra do posto de saúde, a exceção do contrato não cumprido não se aplica, tendo em vista que a ré confessou que o autor concluiu a parte que lhe competia na obra. A jurisprudência é clara ao dispor que, comprovada a entrega da obra objeto do contrato, ainda que com eventuais vícios, não é possível a invocação da exceptio non adimpleti contractus sem que o contratante lesado tenha buscado oportunamente a rescisão do pacto. Neste sentido entende este Tribunal: APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO MONITÓRIA – CONTRATO DE EMPREITADA – INADIMPLEMENTO CONTRATUAL – ENTREGA DA OBRA COMPROVADA – EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO (ART. 476 DO CÓDIGO CIVIL) – INAPLICABILIDADE – NECESSIDADE DE POSTULAÇÃO OPORTUNA DA RESCISÃO CONTRATUAL – MULTA CONTRATUAL – CULPA CONCORRENTE - RECURSOS DESPROVIDOS. Comprovada a entrega da obra objeto do contrato, ainda que com eventuais vícios, não é possível a invocação da exceptio non adimpleti contractus sem que o contratante lesado tenha buscado oportunamente a rescisão do pacto. (N.U 0008767-02.2015.8.11.0040, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 26/03/2025, Publicado no DJE 27/03/2025 - grifou-se) Assim, resta, portanto, analisar a alegação de pagamento integral feita pela ré. A ré juntou diversos recibos (Id. 8248477), totalizando R$260.896,26, alegando serem pagamentos feitos ao autor ou a terceiros por ele indicados. Contudo, o autor impugnou esses recibos em suas alegações finais (Id. 169443583), argumentando que muitos não especificam a qual obra se referem (e ele prestava serviços em outras obras para a ré concomitantemente) e que alguns foram assinados por terceiros. A ré, em seu depoimento (Id. 8248530, págs. 6/8), afirmou que "os recibos juntados aos autos indicam a obra a que se referem os pagamentos", porém, em uma análise detida dos documentos revela-se que nem todos possuem essa especificação clara. Dessa forma, como autor e réu não especificaram quais valores já receberam ou pagaram referentes a esta obra, deve ser delegada tal apuração de débito à fase de liquidação de sentença, a fim de apontar os valores realmente devidos. Obra da Escola Em relação à obra da escola, o autor pleiteia o pagamento de R$ 368.000,00 (trezentos e sessenta e oito mil reais), correspondente ao valor total da empreitada (800 m² x R$ 460,00/m²), descontados os valores já adimplidos pela ré, a serem apurados. É incontroverso que esta obra não foi concluída. A controvérsia reside no percentual executado, na existência de vícios construtivos e na responsabilidade pela paralisação e rescisão do contrato principal entre a ré e o Município. A ré sustenta que o autor executou apenas 60% da obra (Id. 24087855, item 6) e que o fez de forma defeituosa, com vícios estéticos e estruturais graves, que foram objeto de notificações pelo Município (Ids. 24087855, docs 32/38) e culminaram na rescisão do contrato principal (Ids. 24087855, docs 40/41), conforme relatório de vistoria final (Id. 24087855, doc 39). Invoca, assim, a exceção do contrato não cumprido (artigo 476 do Código Civil) para se eximir do pagamento do saldo pleiteado. O autor, em seu depoimento (Id. 168025231), admitiu ter recebido notificações sobre a necessidade de reparos e afirmou tê-los realizado ("Corrigi"). Atribuiu eventuais problemas posteriores, como trincas, ao aterro profundo realizado na obra, sobre o qual não teria responsabilidade. As testemunhas do autor apresentaram versões semelhantes sobre o percentual de conclusão: Jose Domingos Pereira dos Santos afirmou que, quando saiu (em 2016), a obra estava na fase de finalização do reboco (Id. 168025231); Joel Francisco da Silva declarou que a obra estava aproximadamente 85% concluída, na fase de reboco e colocação de revestimento (Id. 168025231). A testemunha Joel também negou ter recebido advertências sobre defeitos, mencionando apenas reclamações sobre a limpeza da obra. A prova documental apresentada pela ré, consistente nas notificações do Município (Ids. 24087855, docs 32/38), no relatório de vistoria final (Id. 24087855, doc 39) e nos termos de rescisão contratual (Ids. 24087855, docs 40/41), possui força probante significativa. O relatório de vistoria final (Id. 24087855, doc 39) detalha diversos problemas graves na construção, como pilares fora de esquadro, problemas em instalações hidráulicas e elétricas, caixas de passagem fora das medidas, portas e janelas fora de esquadro, revestimento cerâmico torto, piso desnivelado e com rachaduras, calçada com rachaduras e rachaduras significativas em paredes e vigas. Os termos de rescisão contratual (Ids. 24087855, docs 40/41) confirmam que a rescisão se deu pelo descumprimento de cláusulas contratuais pela empresa contratada (a ré), motivada pelas notificações relativas aos problemas na execução da obra. A Cláusula Quarta do Termo de Rescisão (Id. 24087855, doc 40) é explícita ao mencionar as 12 notificações aplicadas à empresa pelo descumprimento contratual. Embora o autor alegue ter corrigido os problemas apontados, a prova documental demonstra a persistência dos vícios a ponto de justificar a rescisão do contrato principal pelo Município. A responsabilidade pela correta execução da obra, conforme as especificações técnicas e contratuais, incumbia ao empreiteiro, no caso, o autor, em relação à parte que lhe foi subempreitada. A existência de vícios graves e não sanados configura inadimplemento contratual por parte do autor, o que atrai a aplicação da exceptio non adimpleti contractus, prevista no artigo 476 do Código Civil. Se o empreiteiro não cumpre sua obrigação de entregar a obra conforme ajustado e livre de defeitos que comprometam sua solidez, segurança ou finalidade, não pode exigir a contraprestação integral do dono da obra (ou, no caso, da empreiteira principal). Neste sentido entende este Tribunal: APELAÇÕES CÍVEIS – AÇÃO MONITÓRIA – CONTRATO DE EMPREITADA – INADIMPLEMENTO CONTRATUAL – ENTREGA DA OBRA COMPROVADA – EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO (ART. 476 DO CÓDIGO CIVIL) – INAPLICABILIDADE – NECESSIDADE DE POSTULAÇÃO OPORTUNA DA RESCISÃO CONTRATUAL – MULTA CONTRATUAL – CULPA CONCORRENTE - RECURSOS DESPROVIDOS. A exceção do contrato não cumprido, prevista no art. 476 do Código Civil, exige que a prestação da parte contrária não tenha sido realizada, ou tenha sido realizada de forma tão defeituosa que inviabilize o cumprimento da obrigação da outra parte. (N.U 0008767-02.2015.8.11.0040, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, MARIA HELENA GARGAGLIONE POVOAS, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 26/03/2025, Publicado no DJE 27/03/2025) Assim, considerando o percentual de execução da obra da escola (que, mesmo na versão mais otimista da testemunha Joel, não atingiu 100%) e, principalmente, a comprovação dos vícios construtivos graves que levaram à rescisão do contrato principal, entendo que o autor não faz jus ao recebimento do saldo pleiteado referente a esta obra. Os valores já pagos pela ré, mesmo que não totalmente individualizados por obra, parecem cobrir, ou até exceder, o valor correspondente à parte da obra efetivamente aproveitável e executada sem os vícios que levaram à rescisão. A culpa pela não conclusão e pela rescisão, com base nas provas documentais robustas (notificações, relatório de vistoria, termos de rescisão), recai sobre a execução defeituosa da empreitada pelo autor. Portanto, julgo improcedente o pedido de pagamento do saldo remanescente referente à obra da escola. Dos demais pedidos Em relação aos pedidos de pagamentos dos valores relativos a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), Aluguel de Alojamento, Vale-Refeição, Transporte e Restituição de Equipamentos de Trabalho, destaco que estes pedidos devem ser julgados improcedentes. Isto porque não está claro nos autos que tais obrigações eram de responsabilidade da requerida. Não há nos autos qualquer documentação que comprove que no que fora pactuado, a requerida deveria fornecer ou restituir os gastos referentes a estes pedidos. Destaca-se que cabe ao autor a comprovação de fato constitutivo de seu direito, o que não o fez. Neste sentido entende este Tribunal: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO C/C RESCISÃO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE PROVA DA TRANSAÇÃO. ÔNUS DA PROVA NÃO CUMPRIDO. RECURSO NÃO PROVIDO. I. CASO EM EXAME Conforme entendimento do STJ, incumbe ao autor o ônus da prova do fato constitutivo de seu direito, não sendo possível presumir a existência de contrato ou inadimplemento sem provas (AgInt no AREsp 2407219/PR). (N.U 1038638-93.2023.8.11.0003, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Quarta Câmara de Direito Privado, Julgado em 09/04/2025, Publicado no DJE 09/04/2025 - grifou-se) Assim, a parcial procedência da demanda é a medida que se impõe. III. DISPOSITIVO Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados por SEBASTIÃO MIRANDA DE SANTOS em face de KEILA CRISTINA GUARATO, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, a fim de determinar que a ré proceda o pagamento dos valores remanescentes dos serviços realizados pelo autor na empreitada do posto de saúde, devendo tal montante ser apurado em fase de liquidação de sentença. Considerando a sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, em igual proporção (50% para cada), qual fixo, nos termos do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil, em 10% do valor da condenação que será apurado em sede de liquidação de sentença. Publique-se. Registre. Intimem-se. Cumpram-se as demais disposições do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso/MT. Oportunamente, arquivem-se definitivamente os autos, com as baixas e anotações necessárias. Água Boa/MT, datado e assinado pelo sistema. LUIS OTÁVIO TONELLO DOS SANTOS Juiz de Direito Substituto

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Adilson Clovis Stefanski x Cooperativa De Credito De Livre Admissao De Associados Do Vale Do Juruena - Sicredi Univales Mt

ID: 332777467

Tribunal: TJMT Órgão: VARA ÚNICA DE TABAPORÃ Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1000724-76.2024.8.11.0094

Data de Disponibilização: 23/07/2025

Polo Ativo:

ADILSON CLOVIS STEFANSKI

Polo Passivo:

COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE ASSOCIADOS DO VALE DO JURUENA - SICREDI UNIVALES MT

Sentença

Advogados:

FERNANDA CRISTINA SAVELA VIEIRA

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

MAURO SOMACAL

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

RENATA DE CASSIA MORAES NICODEMOS

OAB/MS XXXXXX Desbloquear

ALVARO SAVIO VIEIRA

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

ERNESTO BORGES NETO

OAB/MS XXXXXX Desbloquear

RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO VARA ÚNICA DE TABAPORÃ SENTENÇA Processo: 1000724-76.2024.8.11.0094. AUTOR(A): ADILSON CLOVIS STEFANSKI REU: COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE ASSOCIA… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO VARA ÚNICA DE TABAPORÃ SENTENÇA Processo: 1000724-76.2024.8.11.0094. AUTOR(A): ADILSON CLOVIS STEFANSKI REU: COOPERATIVA DE CREDITO DE LIVRE ADMISSAO DE ASSOCIADOS DO VALE DO JURUENA - SICREDI UNIVALES MT Vistos, etc. Trata-se de Ação Revisional de Contrato de Crédito Rural c/c Pedido de Antecipação de Tutela Provisória Jurisdicional ajuizada por ADILSON CLOVIS STEFANSKI em face de SICREDI UNIVALES – COOPERATIVA DE CRÉDITO, POUPANÇA E INVESTIMENTO UNIVALES – MT/RO. Alega o autor ter celebrado Contrato de Crédito Rural (Título: C11222274-5) para aquisição de colheitadeira agrícola e plataforma de corte, no valor de R$ 2.550.000,00, em 27.10.2021, com juros de 9,5% ao ano, indexador TR, capitalização diária, juros de mora de 1% ao mês e multa de 2%. Sustenta abusividade contratual, requerendo: a) revisão dos juros remuneratórios para adequação ao Plano Safra 2021/2022; b) afastamento da capitalização diária; c) limitação dos juros de mora a 1% ao ano; d) repetição do indébito em dobro; e) descaracterização da mora. A tutela de urgência foi indeferida (id. 175046326), sendo posteriormente deferida em parte pelo Tribunal de Justiça em sede de agravo de instrumento, determinando abstenção de negativação. A ré apresentou contestação (id. 188193185), arguindo preliminares de falta de interesse de agir, inépcia da inicial e abuso do direito de ação. No mérito, sustenta a legalidade do contrato, ausência de cláusulas abusivas e inaplicabilidade do CDC às cooperativas de crédito. Houve impugnação à contestação (id. 192363388). O processo foi saneado (id. 194568877), rejeitando-se as preliminares, invertendo-se o ônus da prova e determinando-se especificação de provas. A parte autora requereu julgamento antecipado (id. 195421736). A ré postulou perícia contábil (id. 195421737). É o relatório. Decido. II – FUNDAMENTAÇÃO 2.1 - DO AFASTAMENTO DA PROVA PERICIAL Inicialmente, INDEFIRO o pedido de produção de prova pericial formulado pela ré. A controvérsia versa sobre questões eminentemente jurídicas: aplicabilidade de normas do crédito rural, legalidade das taxas praticadas e validade de cláusulas contratuais. Os elementos probatórios necessários ao julgamento já constam dos autos, especialmente o contrato e a documentação do Plano Safra. A perícia seria desnecessária, pois os cálculos podem ser realizados mediante aplicação das taxas legalmente estabelecidas aos valores incontroversos do contrato, não demandando conhecimento técnico especializado para questões que são de direito. 2.2 DAS PRELIMINARES 2.2.1 - DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR REJEITO a preliminar. O interesse de agir manifesta-se pelo binômio necessidade-adequação. A necessidade decorre da resistência da ré em reconhecer as alegadas abusividades contratuais, tornando indispensável a intervenção jurisdicional. A adequação evidencia-se pela escolha da via processual correta (ação revisional) para o fim almejado. A Constituição Federal consagra o princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV), dispensando o esgotamento da via administrativa. A apresentação de contestação pela ré, abordando o mérito, confirma a existência de pretensão resistida, caracterizando o interesse processual. Precedente do TJMT: "A extinção do processo por carência de ação - falta de interesse de agir - somente se justifica quando a parte não tiver necessidade de ir a juízo para atingir o objetivo almejado (...) A Constituição Federal vigente consagra o princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário, cuja análise da tutela pleiteada dispensa a necessidade de qualquer requerimento prévio ou de esgotamento da esfera administrativa" (Recurso Inominado 10023699420208110024). 2.2.2 - DA ALEGADA INÉPCIA DA INICIAL POR INOBSERVÂNCIA AO ART. 330, §§2º E 3º DO CPC A parte requerida alega preliminarmente o não cumprimento da previsão do artigo 330, §§2º e 3º do Código de Processo Civil, pela ausência de depósito dos valores incontroversos. Sem razão a parte requerida. O §2º do art. 330 do CPC exige que o autor discrimine na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito, o que foi devidamente cumprido pela parte autora, que indicou expressamente as cláusulas que pretendia revisar (juros remuneratórios, capitalização diária e juros de mora). Quanto ao §3º do mesmo dispositivo, que prevê que o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados, trata-se de norma que não implica em condição de procedibilidade da ação, mas sim em consequência processual para o autor que não efetuar o pagamento, qual seja, a manutenção da mora. Portanto, rejeito a preliminar suscitada. 2.2.3 - DO ALEGADO ABUSO DO DIREITO DE AÇÃO A ação não constitui expediente protelatório, mas exercício regular do direito constitucional de ação. O autor fundamenta seus pedidos em alegações jurídicas plausíveis, amparadas na legislação específica do crédito rural e na jurisprudência consolidada. A Súmula 380 do STJ ("A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor") não impede o ajuizamento da ação revisional, apenas esclarece que o mero ajuizamento não afasta automaticamente a mora. Diversa é a situação quando se comprova abusividade nos encargos do período de normalidade, hipótese em que a mora pode ser descaracterizada (Tema 1.061.530/RS do STJ). A ação está fundamentada em tese jurídica consistente, não configurando abuso do direito de ação. 2.3 DO MÉRITO 2.3.1 DA APLICABILIDADE DO CDC Inicialmente, cumpre analisar a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica em questão. A parte requerida sustenta a inaplicabilidade do CDC por se tratar de relação associativa entre cooperado e cooperativa, e não de relação de consumo. Contudo, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento de que as instituições financeiras estão sujeitas às disposições do Código de Defesa do Consumidor, conforme Súmula 297: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". Ademais, o STJ já decidiu especificamente que aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos firmados entre instituições financeiras e agricultor, pessoa física, ainda que para viabilizar o seu trabalho como produtor rural. Portanto, reconheço a aplicabilidade do CDC ao caso em análise. 2.3.2 DA NATUREZA DO CONTRATO Ponto controvertido nos autos é a natureza do contrato firmado entre as partes. A parte autora sustenta tratar-se de Cédula de Crédito Rural, regida pelo Decreto-Lei nº 167/67 e pela Lei nº 4.829/65, enquanto a parte requerida afirma ser uma Cédula de Crédito Bancário, regida pela Lei nº 10.931/2004. Da análise do contrato, verifica-se que o instrumento foi denominado como Cédula de Crédito Bancário, porém, emitido para formalização de operação de crédito rural, com finalidade específica de aquisição de maquinário agrícola. O art. 2º da Lei nº 4.829/65 define o crédito rural como "o suprimento de recursos financeiros por entidades públicas e estabelecimentos de crédito particulares a produtores rurais ou a suas cooperativas para aplicação exclusiva em atividades que se enquadrem nos objetivos indicados na legislação em vigor". No caso em análise, independentemente da denominação formal do título, o contrato tem por finalidade o financiamento de maquinário agrícola para produtor rural, enquadrando-se materialmente no conceito de crédito rural, o que atrai a aplicação das normas específicas do crédito rural. 2.3.3 DOS JUROS REMUNERATÓRIOS A parte autora alega que os juros remuneratórios aplicados no contrato (9,5% a.a.) excedem o limite estabelecido pelo Plano Safra 2021/2022 para financiamentos por Cooperativas de Crédito, que seria de 7,5% a.a. A Lei nº 4.829/1965, que instituiu o crédito rural, determina que somente o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem o poder de fixar os juros para as operações de crédito rural, o que é feito quando do lançamento do Plano Safra anualmente. Analisando o Plano Safra 2021/2022, vigente à época da contratação (27/10/2021), verifica-se que para operações de investimento no âmbito de Bancos Cooperativos, as taxas de juros estavam limitadas em 7,5% ao ano, conforme Resolução CMN nº 4.889, de 26/01/2021. No contrato em análise, foi pactuada taxa de juros de 9,5% ao ano, superior ao limite estabelecido pelo Plano Safra 2021/2022 para a linha de crédito específica. Portanto, reconheço a abusividade dos juros remuneratórios pactuados, devendo ser limitados ao percentual máximo de 7,5% ao ano, conforme estabelecido pelo Plano Safra 2021/2022 para operações de investimento no âmbito de Bancos Cooperativos. 2.3.4 DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS A parte autora alega que a capitalização diária prevista no contrato é ilegal em contratos de crédito rural, sendo permitida apenas a capitalização semestral, conforme o Decreto-Lei nº 167/67. O art. 5º do Decreto-Lei nº 167/67 estabelece que "As importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetário Nacional fixar e serão exigíveis em 30 de junho e 31 de dezembro ou no vencimento das prestações, se assim acordado entre as partes; no vencimento do título e na liquidação, por outra forma que vier a ser determinada por aquele Conselho, podendo o financiador, nas datas previstas, capitalizar tais encargos na conta vinculada à operação". A jurisprudência do STJ, consolidada na Súmula 93, estabelece que "A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros". Contudo, essa capitalização deve observar a periodicidade semestral, conforme previsto no Decreto-Lei nº 167/67. No caso em análise, o contrato prevê capitalização diária, o que contraria a legislação específica do crédito rural, que permite apenas a capitalização semestral. Ademais, conforme destacado pela parte autora, o contrato não especifica qual seria a taxa de capitalização diária, violando o dever de informação previsto no CDC. Portanto, reconheço a ilegalidade da capitalização diária prevista no contrato, devendo ser aplicada a capitalização semestral, conforme previsto no Decreto-Lei nº 167/67. 2.3.5 DOS JUROS DE MORA A parte autora alega que os juros de mora previstos no contrato (1% ao mês) são abusivos, pois em contratos de crédito rural estão limitados a 1% ao ano, conforme o art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 167/67. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um por cento) ao ano. O referido dispositivo legal não estabelece expressamente o limite de 1% ao ano para os juros de mora em contratos de crédito rural. Contudo, a jurisprudência tem entendido que, em se tratando de crédito rural, os juros de mora devem ser limitados a 1% ao ano. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CÉDULA RURAL PIGNORATÍCIA E CÉDULAS DE CRÉDITO BANCÁRIO. 1. JULGAMENTO “CITRA PETITA”. OCORRÊNCIA. PLEITO DE LIMITAÇÃO DOS JUROS MORATÓRIOS E ILEGALIDADE DO SEGURO PENHOR. APLICAÇÃO DO ART. 1.013, § 3º, II, DO CPC. NECESSIDADE DE INTEGRAÇÃO DA SENTENÇA. 2. SEGURO PENHOR. LEGALIDADE. CONTRATAÇÃO EXPRESSA. 3. CÉDULAS DE CRÉDITO BANCÁRIO ORIGINÁRIAS DE DÍVIDA RURAL. DESVIO DE FINALIDADE CARACTERIZADO. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO RURAL. JUROS MORATÓRIOS. LIMITAÇÃO EM 1% AO ANO. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA AO DECRETO-LEI 167/67. 4. JULGAMENTO ULTRA PETITA. CONFIGURAÇÃO. JUROS REMUNERATÓRIOS. TÓPICO A SER DECOTADO DA SENTENÇA. 5. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PACTUAÇÃO EXPRESSA E CLARA. POSSIBILIDADE. 6. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE COBRANÇA ABUSIVA NO PERÍODO DE NORMALIDADE CONTRATUAL. 7. ENCARGOS MORATÓRIOS. REGULARIDADE NA COBRANÇA. MANUTENÇÃO DOS ENCARGOS FINANCEIROS DE NORMALIDADE PARA O PERÍODO DE INADIMPLEMENTO QUE INCLUI A INCIDÊNCIA DE JUROS CAPITALIZADOS. MULTA. COBRANÇA. POSSIBILIDADE. EXEGESE DO ARTIGO 71, DO DECRETO LEI 167/678. 8. SUCUMBÊNCIA. REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS. 1. O fato de alguns pedidos não terem sido analisados na sentença, embora constitua vício por julgamento citra petita, não conduz à nulidade do decisum, uma vez que tais questões, por haverem sido suficientemente debatidas nos autos, podem ser apreciadas por esta Corte, sem prejuízo às partes, nos termos do art. 1.013, § 3º, inciso III, do NCPC.2. O artigo 76 do Decreto Lei 167/1967 estabelece que "serão segurados, até final resgate da cédula, os bens nela descritos e caracterizados, observada a legislação de seguros obrigatórios". Isso se justifica porque os bens dados em garantia devem assegurar o pagamento da dívida e seus consectários (artigo 65). Assim, desde que previsto no título e se não ficar comprovado abuso, legítima se mostra a cobrança do prêmio junto ao segurado.” 3. Considerando o desvio de finalidade nas cédulas de crédito bancário, os juros moratórios devem ser limitados ao percentual de 1% ao ano, de acordo com o parágrafo único, do artigo 5º do Decreto Lei 167/67. 4. É ultra petita a sentença que analisa a abusividade dos juros remuneratórios, quando inexistente pedido do embargante na petição inicial. 5. Nos termos da Súmula 93 do STJ, a capitalização de juros é permitida nas cédulas de crédito rural quando expressamente pactuada; tal como ocorre no caso em apreço.6. De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, conforme decidido no REsp n. 1.061.530/RS, submetido à sistemática de julgamento dos recursos repetitivos, para a descaracterização da mora contratual, impositivo o reconhecimento da abusividade dos encargos exigidos no período de normalidade do contrato; o que não ocorreu no caso concreto.7. Considerando que os encargos moratórios foram cobrados de acordo com as disposições legais, deve ser reconhecida a regularidade de sua cobrança. 8. O ônus de sucumbência deve ser distribuído considerando o aspecto quantitativo e o jurídico em que cada parte decai de suas pretensões.Apelação Cível parcialmente provida.(TJPR - 15ª Câmara Cível - 0001237-93.2022.8.16.0061 - Capanema - Rel.: DESEMBARGADOR JUCIMAR NOVOCHADLO - J. 18.03.2023) Portanto, reconheço a abusividade dos juros de mora pactuados (1% ao mês), devendo ser limitados a 1% ao ano. 2.3.6 DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA A parte autora pleiteia a descaracterização da mora em razão das abusividades contratuais reconhecidas. Conforme entendimento consolidado pelo STJ no julgamento do REsp 1.061.530/RS (Tema 28), "o reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização) descaracteriza a mora". No caso em análise, foram reconhecidas abusividades nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e capitalização), o que, segundo o entendimento do STJ, descaracteriza a mora. Portanto, reconheço a descaracterização da mora da parte autora. 2.3.7 DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO A parte autora pleiteia a repetição em dobro dos valores pagos indevidamente. Com relação aos valores descontados oriundos do contrato objeto da presente ação, é certo que deve a requerida restituir a parte autora, em dobro, nos termos do artigo 42, parágrafo único do CDC, o qual prevê o seguinte: Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável”. Isso porque, o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça caminha no sentido de que a restituição em dobro do indébito, prevista no dispositivo legal acima mencionado, independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor, revelando-se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva, hipótese dos autos, uma vez que a parte requerida não atuou com a lealdade que lhe cabia, diante da inobservância das normas específicas do crédito rural, da abusividade contratual reconhecida e da consequente cobrança indevida, caracterizada pela ausência de informação clara sobre as condições contratuais e desrespeito ao limite legal de encargos. Confira-se: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA C/C PEDIDO CONDENATÓRIO - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE DEMANDADA. 1. A alegação de afronta ao art. 1.022 do CPC/15 de forma genérica, sem a efetiva demonstração de omissão do Tribunal a quo no exame de teses imprescindíveis para o julgamento da lide, impede o conhecimento do recurso especial ante a deficiência na fundamentação. Incidência da Súmula 284/STF. 2. Segundo a orientação firmada pela Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça, "a repetição em dobro, prevista no parágrafo único do art. 42 do CDC, é cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva, ou seja, deve ocorrer independentemente da natureza do elemento volitivo" (EREsp n. 1.413.542/RS, relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, relator para acórdão Ministro Herman Benjamin, Corte Especial, julgado em 21/10/2020, DJe de 30/3/2021). Incidência da Súmula 83/STJ. 3. Agravo interno desprovido. (STJ - AgInt no REsp: 1988191 TO 2022/0058883-3, Data de Julgamento: 03/10/2022, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/10/2022) Dessa forma, sendo desnecessária a comprovação da má-fé, verificando-se a ocorrência de conduta contrária à boa-fé objetiva, ante a incidência de descontos indevidos nos proventos da parte autora, a restituição em dobro é à medida que se impõe. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial, com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, para: a) Reconhecer a abusividade dos juros remuneratórios pactuados, limitando-os ao percentual máximo de 7,5% ao ano, conforme estabelecido pelo Plano Safra 2021/2022 para operações de investimento no âmbito do PRONAF; b) Reconhecer a ilegalidade da capitalização diária prevista no contrato, determinando a aplicação da capitalização semestral, conforme previsto no Decreto-Lei nº 167/67; c) Reconhecer a abusividade dos juros de mora pactuados (1% ao mês), limitando-os a 1% ao ano; d) Reconhecer a descaracterização da mora da parte autora; e) Determinar a repetição do indébito em dobro dos valores pagos indevidamente pela parte autora, a serem apurados em liquidação de sentença, com correção monetária pelo IPCA e juros de mora na forma do art. 406 § 1º, do Código Civil, desde o prejuízo/desembolso/vencimento. Considerando a sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa, na proporção de 30% para a parte autora e 70% para a parte requerida, nos termos do art. 86 do CPC, observada a suspensão da exigibilidade em relação à parte autora, se beneficiária da justiça gratuita, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC. Na hipótese de interposição de recurso de apelação, por não haver mais juízo de admissibilidade a ser exercido pelo Juízo a quo (art. 1.010, CPC), sem nova conclusão, intime-se a parte contrária, caso possua advogado, para oferecer resposta, no prazo de 15 dias. Em havendo recurso adesivo, também deve ser intimada a parte contrária para oferecer contrarrazões. Após, remetam-se os autos à Superior Instância, para apreciação do recurso de apelação. Com o trânsito em julgado, nada mais sendo requerido, desde já determino o arquivamento destes autos na condição de findo, mediante adoção das anotações e formalidade de praxe. P. R. I. C. Às providências. Tabaporã/MT, data registrada no sistema. (assinado digitalmente) LAIO PORTES STHEL Juiz de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Elissandra Da Costa Amorim x Banpara

ID: 262216190

Tribunal: TJPA Órgão: 1ª Vara Cível e Empresarial de Xinguara Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 0804971-90.2024.8.14.0065

Data de Disponibilização: 29/04/2025

Polo Ativo:

ELISSANDRA DA COSTA AMORIM

Polo Passivo:

BANPARA

Sentença

Advogados:

IGOR ANTONIO AMORIM MARQUES

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

THIAGO DOS SANTOS ALMEIDA

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

VITOR CABRAL VIEIRA

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

NILSON JOSE DE SOUTO JUNIOR

OAB/PA XXXXXX Desbloquear

Processo Judicial Eletrônico Tribunal de Justiça do Pará 1ª Vara Cível da Comarca de Xinguara PROCESSO 0804971-90.2024.8.14.0065 CLASSE PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSUNTO [Contratos… Processo Judicial Eletrônico Tribunal de Justiça do Pará 1ª Vara Cível da Comarca de Xinguara PROCESSO 0804971-90.2024.8.14.0065 CLASSE PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSUNTO [Contratos Bancários, Empréstimo consignado, Crédito Direto ao Consumidor - CDC, Repetição do Indébito] Nome: ELISSANDRA DA COSTA AMORIM Endereço: Rua Marechal Cordeiro de Farias, 300, Centro, XINGUARA - PA - CEP: 68555-221 Nome: BANPARA Endereço: Rua "1º de Maio", s/n, Agência 0031-00 (RONDON DO PARÁ - PA), Centro, RONDON DO PARá - PA - CEP: 68638-000 SENTENCA Trata-se de ação declaratória de inexistência de débito c/c repetição de indébito, indenização por danos morais e pedido de tutela de urgência proposta por Elissandra da Costa Amorim em face de Banco do Estado do Pará S.A. – Banpará. A autora alega que é correntista do Banpará desde 2012, onde recebe seus vencimentos como servidora pública estadual. Informa que, em 24/10/2024, constatou movimentações bancárias suspeitas em sua conta corrente, consistentes na contratação não autorizada de dois empréstimos na modalidade Banparacard, nos valores de R$ 10.104,78 e R$ 3.011,69, respectivamente, além do pagamento de um título no valor de R$ 10.000,00. Relata que não realizou tais operações, razão pela qual lavrou boletim de ocorrência e registrou contestação junto à instituição financeira, sem, contudo, obter a solução administrativa da controvérsia. Narra, ainda, que o banco exigiu o pagamento dos valores oriundos do suposto empréstimo fraudulento, impondo parcelas que comprometem substancialmente seu orçamento pessoal. Em sede de tutela de urgência, pleiteou a suspensão dos descontos relacionados aos empréstimos fraudulentos, bem como a abstenção da negativação de seu nome. A inicial foi instruída com documentos comprobatórios, dentre eles boletim de ocorrência, extratos bancários e comprovantes de contestação administrativa. Deferida parcialmente a tutela de urgência para suspender a exigibilidade dos débitos questionados. Regularmente citado, o requerido apresentou contestação, sustentando, em síntese, que não houve falha na prestação do serviço bancário, alegando adotar políticas internas de segurança contra fraudes, e atribuiu a terceiros a responsabilidade pelos fatos narrados. A parte autora apresentou impugnação à contestação, reiterando suas alegações iniciais e reforçando o pleito de procedência. Designada audiência de instrução e julgamento, realizada regularmente, conforme termo de audiência acostado aos autos. É o relatório. Decido. MÉRITO Com relação ao mérito, cumpre destacar que as relações firmadas entre as partes têm cunho consumerista, razão pela qual deverá ser aplicada, para efeitos de composição da presente lide, a teoria da responsabilidade objetiva, encartada no Código de Defesa do Consumidor em seu art. 14, caput. Ademais, a Súmula 297, do Superior Tribunal de Justiça dispõe: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, incumbia à parte ré demonstrar a existência de fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito da autora. Contudo, da análise dos documentos acostados aos autos, verifica-se que a instituição financeira demandada não se desincumbiu desse ônus, pois não comprovou que a autora tenha agido com negligência, circunstância que, em tese, poderia afastar sua responsabilidade pela fraude noticiada. Além disso, o réu não logrou êxito em comprovar a regularidade das operações bancárias realizadas, tampouco evidenciou a ausência de defeito na prestação dos serviços ou a existência de culpa exclusiva da consumidora ou de terceiros. Importante ressaltar, ainda, que o parecer técnico apresentado pela requerida possui natureza eminentemente unilateral, não se revestindo da necessária imparcialidade para infirmar as alegações autorais. Cumpre salientar que a fraude perpetrada por terceiros configura fortuito interno, diretamente relacionado ao risco da atividade desempenhada pela instituição financeira ré. Dessa forma, não é apta a afastar a sua responsabilidade objetiva, conforme entendimento consolidado na Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça, que dispõe: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. A falha na prestação do serviço, no caso concreto, é ainda mais evidente diante da análise dos registros de IP constantes do documento de ID 134737048, que revelam que as transações impugnadas foram realizadas a partir de diferentes Estados da Federação. Embora o endereço de IP não possua a precisão geográfica de um sistema de localização por GPS, é instrumento técnico capaz de delimitar, com razoável grau de confiabilidade, a região de origem das operações. Essa discrepância deveria ter acionado os mecanismos de segurança da instituição financeira, o que não ocorreu, caracterizando, assim, a ineficiência dos serviços prestados e reforçando a responsabilidade objetiva do réu pelos danos causados ao autor. Ademais, a parte autora demonstrou ter buscado solucionar a controvérsia extrajudicialmente, tendo registrado boletim de ocorrência e formalizado contestação administrativa junto à instituição financeira, evidenciando sua diligência em tentar reverter a situação. Tais providências, contudo, mostraram-se infrutíferas, reforçando a necessidade de intervenção judicial para a recomposição dos danos sofridos. Portanto, os documentos acostados aos autos, bem como as providências adotadas pela autora, corroboram a veracidade de sua versão dos fatos e demonstram a ausência de culpa ou negligência de sua parte, evidenciando, ao contrário, sua postura diligente, de boa-fé e de zelo na tentativa de reparar o prejuízo sofrido. A autora, ao registrar boletim de ocorrência e formalizar reclamação administrativa junto à instituição bancária, demonstrou agir prontamente para tentar resolver a situação de maneira extrajudicial. Diante desse cenário, As operações contestadas pela parte autora revelam fortes indícios de fraude, o que, diante da natureza suspeita das transações e da responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, impunha à instituição financeira o dever de implementar mecanismos de segurança adequados para bloqueá-las ou, ao menos, submetê-las à verificação prévia. A ausência de procedimentos eficazes de contenção e verificação configura grave falha na prestação do serviço, em evidente descumprimento do dever de segurança previsto nas relações de consumo. Outrossim, a parte ré não se desincumbiu do ônus probatório que lhe competia, nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, de comprovar a regularidade das operações impugnadas. Tal omissão não pode ser atribuída à parte autora, a quem cabia apenas demonstrar a verossimilhança de suas alegações, encargo que foi devidamente cumprido por meio da apresentação de documentos e da tentativa de solução extrajudicial do conflito. Dessa forma, a falha na prestação do serviço e a ausência de comprovação da legitimidade das transações reforçam a responsabilidade da instituição financeira pelos prejuízos suportados pela autora. As operações contestadas pela parte autora revelam fortes indícios de fraude, o que, diante da natureza atípica das transações e da responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, impunha à instituição financeira o dever de implementar mecanismos de segurança adequados para bloqueá-las ou, ao menos, submetê-las à verificação prévia. A ausência de procedimentos eficazes de contenção e verificação configura grave falha na prestação do serviço, em evidente descumprimento do dever de segurança previsto nas relações de consumo. Outrossim, a parte ré não se desincumbiu do ônus probatório que lhe competia, nos termos do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, de comprovar a regularidade das operações impugnadas. Tal omissão não pode ser atribuída à parte autora, a quem cabia apenas demonstrar a verossimilhança de suas alegações, encargo que foi devidamente cumprido por meio da apresentação de documentos e da tentativa de solução extrajudicial do conflito. Dessa forma, a falha na prestação do serviço e a ausência de comprovação da legitimidade das transações reforçam a responsabilidade da instituição financeira pelos prejuízos suportados pela autora. Nesse sentido à jurisprudência: APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA E INDENIZATÓRIA – OPERAÇÕES BANCÁRIAS NÃO RECONHECIDAS - FRAUDE – INEXIGIBILIDADE DE DÉBITOS – Movimentação indevida em conta corrente – Fraude - Responsabilidade do banco - Inteligência da Súmula 479 do C. STJ- Lesão ao patrimônio – Demonstração – Ocorrência: – Operações contestadas pelo autor que revelam robustos indícios de fraude e deveriam ter sido barradas pelo sistema de segurança da instituição financeira - Inobservância do ônus de demonstrar a regularidade da transação impugnada que somente pode ser imputada à instituição financeira. DANO MORAL – Compras e contratação de empréstimos que geraram dívida não reconhecida pelo autor – Cobranças insistentes e negativação indevida– Indenização – Cabimento – Danos morais demonstrados na espécie: – É de rigor a reparação dos danos morais causados ao consumidor em razão dos transtornos advindos de débito decorrente da ocorrência de fraude e da negativação indevida nos órgãos de proteção ao crédito - Consequências danosas superam e muito a noção de mero aborrecimento. DANO MORAL – Fixação que deve servir como repreensão do ato ilícito – Enriquecimento indevido da parte prejudicada – Impossibilidade – Razoabilidade do quantum indenizatório: – A fixação de indenização por danos morais deve servir como repreensão do ato ilícito e pautada no princípio da razoabilidade sem que se transforme em fonte de enriquecimento indevido da parte prejudicada . RECURSO NÃO PROVIDO. (TJ-SP - Apelação Cível: 1000724-26.2022.8 .26.0063 Barra Bonita, Relator.: Nelson Jorge Júnior, Data de Julgamento: 17/02/2024, 13ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 17/02/2024) Ementa: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. OPERAÇÕES BANCÁRIAS NÃO RECONHECIDAS . FRAUDE COMETIDA POR TERCEIROS. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. INOCORRÊNCIA. FORTUITO EXTERNO . SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. CASO EM EXAME 1 .1. Recurso inominado interposto na mov. nº 68, com o objetivo de reformar a sentença que julgou improcedente o pedido autoral. 1 .2. A sentença destacou que ?Extrai-se dos autos que a própria autora informou, na plataforma da primeira reclamada, seus dados de rede social, saindo da intermediação da plataforma para tratativas privadas, contrariando, assim, os termos de uso e as regras de segurança do sítio da reclamada, colaborando, de maneira incauta, no sucesso da empreitada criminosa elaborada pelos golpistas? (mov. nº 63 - sentença). 1 .3. O recurso da autora é próprio, tempestivo e dispensado o preparo por força da gratuidade da justiça, deferida na mov. nº 77, razão pela qual dele conheço. 2 . QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2.1. A questão em discussão consiste em saber se há responsabilidade das recorridas pelos danos sofridos pela autora quando da realização de transações bancárias que tiveram origem por meio de fraude. 3 . RAZÕES DE DECIDIR 3.1. No caso em apreço, restou clara a configuração do fortuito externo, tendo em vista que o fato não guarda nenhuma relação de causalidade com a atividade desenvolvida pelos fornecedores. É uma situação absolutamente estranha ao produto ou ao serviço fornecido . Assim, o fortuito externo é alheio ou estranho ao processo de elaboração do produto ou execução do serviço, excluindo a responsabilidade civil. 3.2. As recorridas lograram comprovar que as transações foram realizadas através de informações prestadas pela própria recorrente, sem o mínimo de cautela e atenção quanto à estranheza da necessidade de teste financeiro para concretização de uma venda em plataforma virtual, não havendo motivos para responsabilizar as recorridas pelos danos sofridos pela autora . 3.3. Soma-se a isso que as recorridas não tem gerência sobre os valores transferidos instantaneamente para outras instituições, não havendo motivos para responsabilizá-las pelos danos sofridos pela autora, restando incontroverso nos autos que as rés em nada contribuíram para a ocorrência da fraude sofrida pela recorrente. 3 .4. Firme nessas considerações, não merece reparo a sentença recorrida. Nesse sentido: ?RECURSO INOMINADO. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL . AÇÃO INDENIZATÓRIA. DIREITO DO CONSUMIDOR. BANCO. TRANSFERÊNCIAS VIA PIX . OPERAÇÕES BANCÁRIAS NÃO RECONHECIDAS. USO DE SENHA PESSOAL DA AUTORA. FRAUDE COMETIDA POR TERCEIROS. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DO BANCO . INOCORRÊNCIA. FORTUITO INTERNO. INEXISTÊNCIA. DANO MATERIAL INDEVIDO . DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. PRELIMINAR AFASTADA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA .? (TJGO, RI n.º 5532224-58.2023.8 .09.0051, Relator suplente Dr. Fernando César Rodrigues Salgado, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais, sessão do dia: 19/03/2024). 4 . DISPOSITIVO 4.1. Recurso inominado conhecido e desprovido. 4 .2. Recorrente condenado ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes arbitrados em R$ 1.300,00 (mil e trezentos reais), nos termos do art. 55 da Lei nº 9 .099/95, ficando, no entanto, sobrestado o pagamento, tendo em vista ser beneficiário da assistência judiciária (art. 98, § 3º, do CPC). 4.3 . Advirto que eventual oposição de embargos de declaração com caráter meramente protelatórios, com o nítido propósito de rediscutir o mérito, será aplicada multa em favor da parte adversa, nos termos do art. 1.026, § 2º, do Código de Processo Civil. (TJ-GO 52705965320248090007, Relator.: LUIS FLAVIO CUNHA NAVARRO - (MAGISTRADO UPJ SEGUNDO GRAU), 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de Publicação: 16/10/2024) Passo à análise do pedido de indenização por danos morais e de repetição de indébito. É sabido que a responsabilidade civil é definida como a obrigação de reparar o dano, imposta a todo aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, nos termos do artigo 186 do Código Civil. Da definição extraem-se três requisitos indispensáveis para a caracterização do dever de indenizar: (i) a prática de uma conduta ilícita, (ii) a ocorrência de dano e (iii) a existência de nexo de causalidade entre ambos. No caso concreto, entendo que restou configurada a conduta ilícita da parte requerida, consistente na falha na prestação do serviço bancário, permitindo a realização de operações fraudulentas que geraram prejuízos financeiros à parte autora, sem que fossem adotados mecanismos eficazes de segurança. Acrescente-se, ainda, a aplicação da teoria da perda do tempo útil, segundo a qual se reconhece que o tempo livre, passível de ser utilizado para atividades pessoais, profissionais ou de lazer, constitui bem jurídico digno de proteção. Assim, a obrigatoriedade de o consumidor destinar parte de seu tempo para resolver problemas que não deu causa — como a necessidade de contestar transações fraudulentas, buscar solução administrativa junto ao banco e ajuizar a presente demanda — configura dano indenizável, independente de comprovação de prejuízo material direto. Tal entendimento encontra respaldo em precedentes do Superior Tribunal de Justiça, que reconhecem o direito à reparação pela perda injustificada do tempo útil. Outrossim, é sabido que a dor interna, os aborrecimentos, as tristezas e os dissabores que caracterizam o dano moral não são suscetíveis de mensuração pecuniária precisa. Todavia, a ausência de critério legal objetivo para quantificação não exime o julgador do dever de fixar a indenização, segundo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. De acordo com a melhor doutrina, a fixação do valor da indenização deve levar em consideração a gravidade e extensão do dano, a reincidência do ofensor, a posição profissional e social do ofendido, bem como a condição financeira das partes. Assim, ponderando esses elementos, entendo que a fixação da indenização por danos morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) mostra-se adequada, considerando a extensão dos danos sofridos pela autora, a falha no dever de segurança do banco, o tempo útil despendido para a solução da controvérsia e o caráter pedagógico da medida. No tocante ao pedido de repetição do indébito, é importante destacar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sedimentou o entendimento de que a devolução em dobro do valor cobrado indevidamente não exige a comprovação de má-fé do fornecedor. Com efeito, no julgamento dos Embargos de Divergência nº 1.413.542/RS, restou fixada a seguinte tese: "A repetição em dobro, prevista no parágrafo único do art. 42 do CDC, é cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva, independentemente da natureza do elemento volitivo." Tal orientação foi acolhida também pela jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, conforme se extrai da Apelação Cível nº 0801235-84.2020.8.14.0039, de relatoria do Desembargador Leonardo de Noronha Tavares, que reconhece a restituição em dobro sem necessidade de comprovação da má-fé do fornecedor. No presente caso, comprovado que a autora realizou pagamento indevido no importe de R$ 3.134,03 (três mil cento e trinta e quatro reais e três centavos), decorrente de desconto em sua conta corrente oriundo de contratação fraudulenta, faz jus à repetição do indébito em dobro, conforme pleiteado. Assim, condeno a parte requerida a restituir à parte autora o valor de R$ 6.268,06 (seis mil duzentos e sessenta e oito reais e seis centavos), correspondente ao dobro do montante pago, acrescido de correção monetária. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos iniciais, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para: a) Declarar a nulidade dos empréstimos e dos descontos realizados pela requerida na conta bancária da autora, determinando, em consequência, a cessação definitiva de quaisquer cobranças decorrentes das operações impugnadas; b) Condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), valor que deverá ser atualizado monetariamente pelo IPCA a partir da data do arbitramento (data desta sentença) e acrescido de juros de mora pela taxa SELIC, a partir da citação, devendo-se observar, após a entrada em vigor da Lei nº 14.905/2024, a dedução do índice do IPCA da taxa SELIC, nos termos do novo art. 406, §1º, do Código Civil; c) Condenar a ré à restituição, em dobro, dos valores descontados indevidamente, fixados em R$ 3.134,03 (três mil, cento e trinta e quatro reais e três centavos), totalizando, portanto, o montante de R$ 6.268,06 (seis mil, duzentos e sessenta e oito reais e seis centavos), valor este que deverá ser: • Corrigido monetariamente pelo INPC desde cada desconto indevido, até a vigência da Lei nº 14.905/2024; • A partir da vigência da referida lei, corrigido monetariamente pelo IPCA e acrescido de juros de mora pela taxa SELIC, com a devida dedução do índice do IPCA da taxa SELIC, em conformidade com o novo regramento do Código Civil. Isento as partes de custas, despesas processuais e honorários de sucumbência, em virtude da gratuidade do primeiro grau de jurisdição nos Juizados Especiais (arts. 54 e 55, da Lei nº 9.099/95). Certificado o trânsito em julgado, expirado o prazo de trinta dias sem pedido de cumprimento de sentença, arquivem-se com as devidas baixas. Xinguara, datado e assinado eletronicamente. HAENDEL MOREIRA RAMOS Juiz de Direito Para ter acesso aos documentos do processo, basta acessar o link abaixo e informar a chave de acesso. Link: http://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-1g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam? CHAVES DE ACESSO: Documentos associados ao processo Tï¿½tulo Tipo Chave de acesso** Petição Inicial Petição Inicial 24112117032442200000123262906 02. PROCURAÇÃO Instrumento de Procuração 24112117032461400000123262907 03. IDENTIDADE Documento de Identificação 24112117032481100000123262909 04. Carteira Profissional Documento de Identificação 24112117032498600000123262910 05. Comprovante de residencia Documento de Comprovação 24112117032522900000123262911 06. CNPJ Documento de Comprovação 24112117032563700000123262912 07. Extrato Bancário Documento de Comprovação 24112117032585400000123262913 08. Boletim de Ocorrência Documento de Comprovação 24112117032604400000123262914 09. Demonstrativo das Parcelas dos Empréstimos Documento de Comprovação 24112117032632000000123262915 10. Demonstrativo dos Emprestimos Fraudulentos Documento de Comprovação 24112117032653300000123262917 Decisão Decisão 24120811491447100000124288400 PETIÇÃO INFORMANDO O DESCUMPRIMENTO DA LIMINAR PELA RÉ Petição 24121807571292100000124924847 Contestação Contestação 25011314091051600000125657060 [ASSINADA] RAF20241087 - ELISSANDRA DA COSTA AMORIM (1) (2) Documento de Comprovação 25011314091110100000125657062 KIT_HABILITACAO_2024_V5 Instrumento de Procuração 25011314091152400000125657065 CAMPANHAS BANCARIAS CONTRA GOLPES E FRAUDES Documento de Comprovação 25011314091199900000125657066 cláusulas-gerais_2 Documento de Comprovação 25011314091308700000125657067 cláusulas-gerais-banparacard-atualizada Documento de Comprovação 25011314091352300000125657068 Substabelecimento Petição 25032808352009100000130322999 Ato Ordinatório Ato Ordinatório 25040414030881500000130890028 Impugnação à Contestação Petição 25040816163398300000131111514 2. Identificação dos IPs Documento de Comprovação 25040816163429800000131111515 3. Desconto 1 de 4. Empréstimo Documento de Comprovação 25040816163454700000131111516 4. Histórico Empréstimos Documento de Comprovação 25040816163479200000131111517 Relatório de gravação de audiência Relatório de gravação de audiência 25040912003300000000131172343 JUIZADO_ 0804971-90.2024.8.14.0065-20250409_113155-Gravação de Reunião.mp4_Parte1 Mídia de audiência 25040912003300000000131172344 Relatório de gravação de audiência Relatório de gravação de audiência 25040912010600000000131172345 JUIZADO_ 0804971-90.2024.8.14.0065-20250409_113155-Gravação de Reunião.mp4_Parte2 Mídia de audiência 25040912010600000000131172346 análise_zeus, PROCESSO080497190.2024.8.14.0065 Termo de Audiência 25041013540021000000131271735 Decisão Decisão 25041013540072600000131173066 Avenida Xingu, s/n - CENTRO - CEP: 68555-010 - FONE (94) 34261816

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Carlos Alberto Lopes Dias e outros x Comercial E Distribuidora Bonfiglioli Ltda

ID: 336366657

Tribunal: TRT2 Órgão: 5ª Vara do Trabalho de Osasco Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1000724-77.2024.5.02.0385

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

CARLOS ALBERTO LOPES DIAS JOSE DA SILVA CRUZ

Polo Passivo:

COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA

Notificação

Advogados:

CELSO KAZUYUKI INAGAKI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

LARISSA ZAPPE BUZATTI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

RENAN HENRIQUE BALIEIRO DE FRANCA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

SILVIA MARIA PORTO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 5ª VARA DO TRABALHO DE OSASCO ATOrd 1000724-77.2024.5.02.0385 RECLAMANTE: JOSE DA SILVA CRUZ RECLAMADO: COMERCIAL… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 5ª VARA DO TRABALHO DE OSASCO ATOrd 1000724-77.2024.5.02.0385 RECLAMANTE: JOSE DA SILVA CRUZ RECLAMADO: COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID 31e33d8 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: S E N T E N Ç A I. RELATÓRIO. JOSÉ DA SILVA CRUZ ajuizou reclamação trabalhista em face de COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA, todos qualificados, alegando os fatos e fundamentos da exordial sob ID. 6ca5bbf com base nos quais pleiteou o pagamento das parcelas elencadas na lista de pedidos, assim como os benefícios da justiça gratuita. Atribuiu à causa o valor de R$ R$ 140.406,02. Juntou procuração sob ID. e436c6d e documentos. Citada, a reclamada apresentou defesa de mérito com preliminares, pugnando pelo decreto da improcedência da ação. Manifestação sobre a defesa em ID. 3202754. Determinada a realização de perícia técnica para apuração das alegadas insalubridade e periculosidade. Laudo pericial juntado sob id 25560f0, com impugnação lançada pelo reclamante (id 3f8b390). Apresentados esclarecimentos periciais (id. 0cac7a9). Em audiência, partes restaram inconciliáveis. Colhidos os depoimentos pessoais. Ouvidas duas testemunhas do reclamante e uma da reclamada. Sem outras provas, foi encerrada a instrução. Frustrada derradeira tentativa conciliatória. Razões finais do reclamante, em ID. c8b1869, e da reclamada, em ID. 944befe. Sentença prolatada em id. 4ee5592 declarada nula pelo v. acórdão id. 0546197, que determinou a intimação do perito para a apresentação de novos esclarecimentos. Esclarecimentos periciais apresentados em id. 1496b8c, com insurgência do reclamante em id. 2033435 e manifestação de concordância pela reclamada em id. 6d520a0. Razões finais remissivas. É o relatório. II. FUNDAMENTOS PRELIMINARMENTE DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL A alegada inépcia da inicial não procede. A parte reclamante atribuiu valor a seus pedidos economicamente mensuráveis e a narrativa da peça de introito atende, a contento, a singela exigência do § 1º, do art. 840, da CLT. Tanto não é inepta a inicial que puderam as reclamadas se defenderem adentrando, sem qualquer dificuldade, à questão de fundo, impugnando todas as argumentações e parcelas postuladas pela parte reclamante. De outro, tanto não restou evidenciada nenhuma das hipóteses previstas no artigo 330, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015. Não falta pedido nem causa de pedir; da narrativa prefacial decorre a conclusão lógica; os pleitos são juridicamente possíveis e não há pedidos incompatíveis entre si. Preliminar que se rejeita. MÉRITO DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL Acolho o pedido de prescrição quinquenal, declarando inexigíveis os pedidos anteriores a cinco anos da data da propositura da ação, ou seja, 02/05/2019, com fulcro no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal. DO ACÚMULO DE FUNÇÕES Ao argumento de ter sido promovido à motorista, mas a partir de 2020, passou a ter que também realizar atividades de ajudante (descarregamento), requer seja a reclamada condenada ao pagamento do adicional por acumulo de função e reflexos. A reclamada nega o acúmulo e funções e afirma que o reclamante sempre laborou como motorista durante o período não prescrito do contrato de trabalho, contando com um ajudante, que não era fixo. Aduz ainda que as atividades descritas pelo obreiro na exordial fazem parte do escopo das funções de motorista. Assim, competia ao reclamante comprovar o exercício do alegado acumulo de função, nos termos do art. 818, I, da CLT. Em depoimento pessoal, o preposto da reclamada afirmou “que quando motorista o reclamante também poderia realizar o descarregamento da mercadoria, vez que o ajudante acompanha o motorista somente quando há necessidade”. A primeira testemunha ouvida a convite do obreiro relatou “que somente na época da pandemia o motorista saia sozinho (...) que não sabe dizer quantos eram os motoristas e os ajudantes”. Em que pese as informações prestadas pela testemunha mencionada, é fato que não houve apresentação pela mesma de maiores detalhes acerca da atividade tida como acumulada, porquanto o fato do motorista sair sozinho para algumas entregas, somente confirma a tese da defesa, de que nem sempre este era acompanhado de ajudante. Outrossim, sendo o reclamante motorista de carga, a atividade de descarregamento de mercadorias ou auxílio ao ajudante, não se deve entender como incompatível com a função para qual foi contratado, ao revés, a compatibilidade se revela, até porque não lhe era exigido habilidades diferenciadas ou maiores responsabilidades do que as demandada como motorista. Assim é que, na condição de motorista, a atividade de auxílio ao ajudante ou descarregamento do caminhão, cuja complexidade e responsabilidade da atividade é compatível com sua função motorista e com a respectiva contraprestação financeira ajustada, não caracteriza acúmulo de funções, inexistindo direito a qualquer acréscimo de salário. Improcede o pedido de adicional e reflexos. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE O reclamante afirma que laborava exposto a condições perigosas, sem que lhe tenham sido fornecidos equipamentos de proteção adequados a elidir os agentes nocivos. Postula pelo pagamento de adicional de insalubridade e reflexos. O laudo pericial juntado sob ID 3b80b45 concluiu que o reclamante não trabalhava exposto a qualquer agente físico, químico ou biológico capaz de causar danos à sua saúde, não restando caracterizada, portanto, a alegada insalubridade. De acordo com o louvado, os produtos químicos movimentados pelo reclamante eram armazenados em suas embalagens originais, certificadas, fechadas e lacradas, não havendo qualquer contato físico do obreiro com os mesmos. O reclamante apresentou impugnação à prova técnica (id. 3f8b390), apenas formulando quesitos complementares. Em sede de esclarecimentos (id. 0cac7a9), o expert ratificou suas conclusões e respondeu aos quesitos complementares. Com efeito, o reclamante não apresentou qualquer impugnação à prova técnica no tocante à insalubridade, sendo que o único ponto que poderia se considerar uma observação quanto a condições insalubres, refere-se ao questionamento acerca dos materiais cortantes transportados, que poderiam perfurar as embalagens dos produtos e, assim, ocasionar algum contato dermal do obreiro com os mesmos. Porém, de acordo com o louvado, não havia materiais cortantes que pudessem perfurar as embalagens originais dos produtos transportados. Destarte, diante do exposto, homologo a prova pericial produzida, concluindo com o perito, que o reclamante não se ativou em local ou condições nocivas à saúde, de modo que, julgo improcedente o pedido de adicional de insalubridade e reflexos. Ademais, de acordo com a petição inicial, o reclamante laborava exposto a condições perigosas, que colocavam em risco sua vida. Realizada perícia técnica, o i. louvado constatou que as atividades desenvolvidas pela parte reclamante, assim como seu ambiente de trabalho, não eram perigosas, nos termos do laudo de ID. 3b80b45. O reclamante apresentou impugnação à prova técnica (id. 3f8b390), com questionamento acerca da quantidade de líquidos inflamáveis transportados pelo reclamante, a qual estaria acima da capacidade máxima permitida de acordo com o Anexo 2 da NR-16. Em sede de esclarecimentos (id. 0cac7a9), o expert ratificou suas conclusões e respondeu aos quesitos complementares, tendo o mesmo também respondido em manifestação complementar de id. 1496b8c, sobre a quantidade de diária média de inflamáveis transportados. Pois bem. O reclamante apresentou impugnação aos esclarecimentos periciais (ID 2033435), arguindo contradições no laudo e nas manifestações do expert. Sustenta, em síntese, que: (i) as notas fiscais anexadas demonstram transporte superior a 100 litros em poucas entregas; (ii) uma única entrega alcançou 80 litros, o que, multiplicado pela média de 20 a 22 entregas diárias, superaria facilmente o limite de 200 litros previsto no Anexo 2 da NR-16; (iii) o perito teria considerado, de forma equivocada, que o estoque de 540 litros representaria três meses de vendas; e (iv) não teriam sido juntadas aos autos todas as notas fiscais analisadas, requerendo nova intimação do perito para complementar informações e documentos. O perito, em manifestação aos quesitos e determinações do acórdão (ID 1496b8c), reafirmou suas conclusões anteriores, esclarecendo que: (a) o transporte de inflamáveis só caracteriza periculosidade quando superior a 200 litros por viagem; (b) a análise documental e a vistoria in loco evidenciaram que as embalagens eram originais e lacradas, variando entre 200 ml e 18 litros; (c) a amostragem das notas fiscais indicou transporte muito inferior ao limite legal, com registros de 16,6 litros, 7 litros e menos de 80 litros, havendo inclusive viagens sem inflamáveis; (d) a média de consumo apurada a partir do estoque era de aproximadamente 30 litros/dia, divididos entre cinco motoristas; e (e) não houve constatação de transporte regular ou eventual acima de 200 litros em uma única viagem. Confrontando-se os argumentos da parte autora e os esclarecimentos do perito, observa-se que a impugnação não logra infirmar a conclusão técnica. As notas fiscais apontadas pelo reclamante não se referem a um único transporte diário integral, mas a pedidos fracionados e distintos, não havendo prova de que o somatório dessas entregas em uma única viagem ultrapassasse o limite previsto na NR-16. Ressalte-se que o parâmetro legal considera o volume por viagem e não o acumulado diário de diferentes rotas ou veículos. Ademais, a perícia foi realizada com base em inspeção direta, entrevistas e análise documental, não sendo apresentados elementos concretos pela parte autora capazes de desconstituir a credibilidade do laudo. A mera existência de entregas pontuais de 80 litros não comprova transporte habitual superior a 200 litros, especialmente diante do porte dos veículos utilizados (vans e kombis) e do perfil de clientes da reclamada (pequenas e médias lojas). Por fim, quanto ao pedido de nova juntada de notas fiscais, o perito já apresentou amostragem representativa, inexistindo demonstração de que os documentos omitidos alterariam a conclusão técnica. A produção de prova testemunhal não se mostra útil ou necessária para aferir volume de inflamáveis transportados, que depende de prova documental e técnica, já produzida. Diante disso, rejeito a impugnação do reclamante e mantenho o laudo pericial e seus esclarecimentos como prova técnica apta à formação do convencimento deste juízo. Assim é que, de acordo com o laudo pericial e esclarecimentos prestados, as embalagens transportadas pelo obreiro eram originais, certificadas, fechadas e lacradas, o que enquadra a hipótese nos itens 4.1 do Anexo 2 da NR-16, segundo o qual, é descaracterizada a periculosidade do transporte de líquidos inflamáveis em embalagens certificadas, simples, compostas ou combinadas, independentemente do número total de embalagens transportadas, desde que respeitados os limites do Quadro I do Anexo 2. Vale dizer que o Quadro I do Anexo 2 da NR-16 estabelece a capacidade máxima das embalagens de líquidos inflamáveis. E, de acordo com o louvado, as embalagens transportadas pelo reclamante classificavam-se como bombonas e possuíam capacidade de 18 litros, estando abaixo, portanto, da capacidade máxima ditada pela norma, que é de 60 litros para este tipo de embalagem. Assim, o volume de líquido inflamável transportado pelo reclamante estava dentro da capacidade permitida pela NR-16. Registro que o item 16.6 da norma técnica refere-se ao volume total permitido para o transporte de líquido inflamável em quaisquer vasilhames ou a granel, o que não era o caso do obreiro, que somente transportava líquidos inflamáveis em embalagens originais, certificadas e lacradas. Destarte, diante do exposto, homologo a prova pericial produzida para concluir, com o i. louvado, que a parte reclamante não faz jus a adicional de periculosidade. Rejeito tal pedido. Considerando que a parte reclamante sucumbiu na pretensão objeto da perícia, mas é beneficiária da justiça gratuita; e diante da inconstitucionalidade do art. 790-B, caput e § 4º, da CLT, declarada pelo Eg. STF na ADI 5766, determino que os honorários periciais, fixados no limite máximo de R$ 806,00, sejam pagos nos termos do Ato GP/CR nº 02, de 15 de setembro de 2021, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Após o trânsito em julgado da ação, providencie a Secretaria a solicitação de pagamento dos honorários periciais. Diante da ausência de constatação da ausência da insalubridade, rejeito o pedido de entrega do PPP ou de sua retificação. DAS HORAS EXTRAS E REFLEXOS. DO INTERVALO INTRAJORNADA O reclamante afirma que laborava das 07h45 às 17h33, prorrogando a jornada, cerca de 2 vezes por semana, até às 20h, sempre com 10/15 minutos de intervalo intrajornada. Postula pelo pagamento de horas extras e reflexos. Em defesa, a reclamada afirma que toda a jornada, inclusive a extraordinária, foi anotada nos cartões de ponto, sendo as horas extras laboradas, compensadas ou quitadas. A prova da jornada de trabalho é feita, primordialmente, pelos controles de frequência, conforme dispõe o § 2º do artigo 74 da CLT. As anotações contidas nos cartões de ponto geram presunção relativa de veracidade, podendo ser elididas por outros elementos de convicção presentes nos autos. A reclamada juntou aos autos os cartões de ponto de todo o período contratual não prescrito (a partir de ID. 6f98cd6), cabendo ao reclamante, portanto, provar a invalidade das anotações, por se tratar de fato constitutivo do seu direito (art. 818, I, da CLT e art. 373, I, do CPC). Em depoimento pessoal, o reclamante afirmou “que assinava o controle de ponto, mas o horário de saída nem sempre estava correto posto que, em 2 vezes na semana, retornava em média por volta das 20h, sendo a anotação feita pelo porteiro que repassava ao RH”. O preposto da reclamada, a seu turno, disse “que o reclamante encerrava às 17h48, com prorrogações em 1/2 vezes na semana, por cerca de 30 minutos”. A primeira testemunha ouvida a convite do reclamante relatou “que encerrava às 17h48, exceto em 3 vezes na semana quando encerrava por volta das 19h; que não encontrava com o reclamante no horário de encerramento da jornada; que o cartão de ponto era anotado biometricamente de forma correta; que após às 19h, por vezes, os conferentes continuavam trabalhando (...) que nunca viu o documento de fl. 150 dentro do veículo”. E a testemunha convidada pela reclamada declarou “que no caso do motorista, quando este chega além das 18h, marca o ponto manualmente em um caderno que fica na portaria, sendo este enviado após ao RH, para que seja lançado no sistema; que ao final do mês o ponto é exibido para conferência e, havendo divergência, é possível a reanálise; que o depoente encerrava sua jornada em 2/3 vezes por volta das 19h30/20h; que em média o reclamante chegava às 18h, de 2/3 dias na semana”. Da prova oral convergida aos autos, verifico que não restou comprovada a incorreção dos controles de ponto quanto ao horário de saída, conforme narrado pelo reclamante em seu depoimento. Isto porque, além de sua testemunha ter dito que o cartão de ponto era assinado biometricamente de forma correta, a testemunha da reclamada afirmou que, nas ocasiões em que o motorista chegava após às 18h, o horário é registrado manualmente pelo mesmo, em um caderno que fica na portaria, o qual é posteriormente repassado ao RH, com a conferência de todos os horários feita pelo obreiro ao final do mês. Assim, não há comprovação de que os horários repassados estavam incorretos, mormente porque o reclamante não logrou êxito em comprovar que terminava sua jornada às 20h em duas vezes na semana; além de sua testemunha ter afirmado que não o encontrava no término da jornada, a testemunha da reclamada declarou que o obreiro encerrava às 18h, cerca de 2/3 vezes na semana. Destarte, reconheço a validade dos espelhos de ponto apresentados. Cabia ao reclamante, portanto, apontar eventuais diferenças a seu favor, por força dos art. 818, I, da CLT e 373, I, do CPC. Entretanto, de tal ônus não se desvencilhou a contento, não tendo apontado qualquer diferença em réplica. Assim, reputo que não há horas extras a serem quitadas ao reclamante. Rejeito o pedido, no particular. Quanto ao intervalo intrajornada, melhor sorte não assiste ao obreiro. Isto porque, sendo incontroverso que o reclamante trabalhava externamente, a ele competia comprovar que a pausa intervalar era fiscalizada pela empresa. Entretanto, de tal ônus não se desincumbiu, pois, em que pese sua testemunha tenha dito “que uma vez ou outra ajudava o motorista, quando o intervalo era de 10 a 15 minutos”, a testemunha da reclamada, em eficiente contraprova, afirmou “que embora o rastreador indicasse todas as paradas do caminhão, este não era utilizado para acompanhar o intervalo do motorista, sendo este orientado para gozo de 1h”. Destarte, não se vislumbra violação ao art. 71 da CLT, não havendo falar, portanto, indenização pela redução do intervalo intrajornada. Rejeito. DOS DANOS MORAIS O reclamante postula pelo pagamento de indenização por danos morais, devido à supressão do intervalo intrajornada e à ausência de pagamento de horas extras, relatados na petição inicial. No entanto, conforme visto, tais fatos não restaram comprovados. E ainda que assim não fosse, o mero descumprimento de obrigações trabalhistas, por si só, não tem o condão de malferir direito da personalidade, eis que repercute, tão-somente, na esfera patrimonial do indivíduo. Destarte, não há dano a ser indenizado. Rejeito o pedido, no particular. DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ A parte reclamada pretende seja a reclamante condenada nas penalidades pela litigância de má-fé. Ocorre que não se vislumbra, no caso, qualquer atitude da parte que vá além do legítimo exercício do direito de ação, constitucionalmente garantido. Rejeito o requerimento. DA JUSTIÇA GRATUITA Trata-se de demanda ajuizada quando já estavam vigentes as alterações na CLT promovidas pela Lei nº 13.467, de 2017, as quais, assim, são plenamente aplicáveis ao presente processo. A última remuneração da parte reclamante revela que ela se enquadra no quesito objetivo de “percepção de salário igual ou inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social”, previsto no art. 790, § 3º, da CLT. Assim, com base neste mesmo diploma, conjugado com o art. 99, § 3º, do CPC/2015, subsidiariamente aplicável ao processo do trabalho por força dos art. 769 da CLT e 15 do CPC/2015, defiro o pedido de justiça gratuita. DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA A presente demanda foi ajuizada após a vigência da Lei nº 13.467/17, a qual promoveu a chamada “reforma trabalhista”, instituindo inovações, tais como o cabimento honorários advocatícios sucumbenciais. Referida lei incluiu na CLT o art. 791-A, versando sobre honorários advocatícios, devidos, inclusive, no caso de sucumbência recíproca (§ 3º). Destaco que o § 4º do referido dispositivo impunha o pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais até mesmo ao beneficiário da justiça gratuita, entretanto, em 20/10/2021, ao apreciar a ADI 5766, o Pleno do Eg. STF decidiu, por maioria, julgar parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta, para declarar inconstitucionais os artigos 790-B, caput e § 4º, e 791-A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desse modo, a responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais cabe à parte sucumbente, sendo referidas despesas suportadas pela União se a parte for beneficiária da justiça gratuita. Já no tocante aos honorários de sucumbência, restou mantida a suspensão da exigibilidade do pagamento da verba pelo prazo de dois anos, afastada a possibilidade de utilização de créditos obtidos em juízo, em processo diverso, capazes de suportar a despesa. Assim, considerando a complexidade da causa e o trabalho realizado pelos representantes da parte, critérios previstos no § 2º do indigitado dispositivo, condeno o reclamante ao pagamento de honorários sucumbenciais, no percentual de 10% sobre o valor dos pedidos julgados improcedentes, que ficará sob a condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executados se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que os certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos do devedor, que, contudo, não poderá decorrer da mera obtenção de outros créditos na presente ação ou em outras. Ultrapassado o prazo, extinguir-se-á a obrigação do beneficiário. III. DISPOSITIVO Pelo exposto, julgo extinto com resolução do mérito, com fulcro no art. 487, II, do CPC/2015, por prescritas as parcelas anteriores a 02/05/2019 e IMPROCEDENTES os pedidos apresentados por JOSÉ DA SILVA CRUZ em face de COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA, para o fim de absolvê-la de todos os pedidos da exordial, na forma da fundamentação supra, a qual é parte integrante do presente dispositivo em todos os seus termos. Honorários sucumbenciais a cargo do reclamante, com suspensão de exigibilidade na forma da fundamentação. Considerando que a parte reclamante sucumbiu na pretensão objeto da perícia, mas é beneficiária da justiça gratuita; e diante da inconstitucionalidade do art. 790-B, caput e § 4º, da CLT, declarada pelo Eg. STF na ADI 5766, determino que os honorários periciais, fixados no limite máximo de R$ 806,00, sejam pagos nos termos do Ato GP/CR nº 02, de 15 de setembro de 2021, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Após o trânsito em julgado da ação, providencie a Secretaria a solicitação de pagamento dos honorários periciais. Cumprimento em 08 dias após o trânsito em julgado (art. 835 da CLT). Deferida gratuidade da justiça. Custas pelo reclamante, no importe de 2% sobre o valor atribuído à causa. Dispensadas. Devem as partes atentar ao art. 1.026, § 2º, do CPC/2015, bem como aos artigos 80 e 81 do mesmo diploma legal, não cabendo embargos de declaração para rever fatos, provas e a própria decisão. Intimem-se as partes. Nada mais. CRISTIANE SERPA PANZAN Juíza do Trabalho Titular Intimado(s) / Citado(s) - COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Carlos Alberto Lopes Dias e outros x Comercial E Distribuidora Bonfiglioli Ltda

ID: 336366671

Tribunal: TRT2 Órgão: 5ª Vara do Trabalho de Osasco Classe: AçãO TRABALHISTA - RITO ORDINáRIO Nº Processo: 1000724-77.2024.5.02.0385

Data de Disponibilização: 28/07/2025

Polo Ativo:

CARLOS ALBERTO LOPES DIAS JOSE DA SILVA CRUZ

Polo Passivo:

COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA

Notificação

Advogados:

CELSO KAZUYUKI INAGAKI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

LARISSA ZAPPE BUZATTI

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

RENAN HENRIQUE BALIEIRO DE FRANCA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

SILVIA MARIA PORTO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 5ª VARA DO TRABALHO DE OSASCO ATOrd 1000724-77.2024.5.02.0385 RECLAMANTE: JOSE DA SILVA CRUZ RECLAMADO: COMERCIAL… PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO 5ª VARA DO TRABALHO DE OSASCO ATOrd 1000724-77.2024.5.02.0385 RECLAMANTE: JOSE DA SILVA CRUZ RECLAMADO: COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA INTIMAÇÃO Fica V. Sa. intimado para tomar ciência da Sentença ID 31e33d8 proferida nos autos, cujo dispositivo consta a seguir: S E N T E N Ç A I. RELATÓRIO. JOSÉ DA SILVA CRUZ ajuizou reclamação trabalhista em face de COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA, todos qualificados, alegando os fatos e fundamentos da exordial sob ID. 6ca5bbf com base nos quais pleiteou o pagamento das parcelas elencadas na lista de pedidos, assim como os benefícios da justiça gratuita. Atribuiu à causa o valor de R$ R$ 140.406,02. Juntou procuração sob ID. e436c6d e documentos. Citada, a reclamada apresentou defesa de mérito com preliminares, pugnando pelo decreto da improcedência da ação. Manifestação sobre a defesa em ID. 3202754. Determinada a realização de perícia técnica para apuração das alegadas insalubridade e periculosidade. Laudo pericial juntado sob id 25560f0, com impugnação lançada pelo reclamante (id 3f8b390). Apresentados esclarecimentos periciais (id. 0cac7a9). Em audiência, partes restaram inconciliáveis. Colhidos os depoimentos pessoais. Ouvidas duas testemunhas do reclamante e uma da reclamada. Sem outras provas, foi encerrada a instrução. Frustrada derradeira tentativa conciliatória. Razões finais do reclamante, em ID. c8b1869, e da reclamada, em ID. 944befe. Sentença prolatada em id. 4ee5592 declarada nula pelo v. acórdão id. 0546197, que determinou a intimação do perito para a apresentação de novos esclarecimentos. Esclarecimentos periciais apresentados em id. 1496b8c, com insurgência do reclamante em id. 2033435 e manifestação de concordância pela reclamada em id. 6d520a0. Razões finais remissivas. É o relatório. II. FUNDAMENTOS PRELIMINARMENTE DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL A alegada inépcia da inicial não procede. A parte reclamante atribuiu valor a seus pedidos economicamente mensuráveis e a narrativa da peça de introito atende, a contento, a singela exigência do § 1º, do art. 840, da CLT. Tanto não é inepta a inicial que puderam as reclamadas se defenderem adentrando, sem qualquer dificuldade, à questão de fundo, impugnando todas as argumentações e parcelas postuladas pela parte reclamante. De outro, tanto não restou evidenciada nenhuma das hipóteses previstas no artigo 330, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015. Não falta pedido nem causa de pedir; da narrativa prefacial decorre a conclusão lógica; os pleitos são juridicamente possíveis e não há pedidos incompatíveis entre si. Preliminar que se rejeita. MÉRITO DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL Acolho o pedido de prescrição quinquenal, declarando inexigíveis os pedidos anteriores a cinco anos da data da propositura da ação, ou seja, 02/05/2019, com fulcro no art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal. DO ACÚMULO DE FUNÇÕES Ao argumento de ter sido promovido à motorista, mas a partir de 2020, passou a ter que também realizar atividades de ajudante (descarregamento), requer seja a reclamada condenada ao pagamento do adicional por acumulo de função e reflexos. A reclamada nega o acúmulo e funções e afirma que o reclamante sempre laborou como motorista durante o período não prescrito do contrato de trabalho, contando com um ajudante, que não era fixo. Aduz ainda que as atividades descritas pelo obreiro na exordial fazem parte do escopo das funções de motorista. Assim, competia ao reclamante comprovar o exercício do alegado acumulo de função, nos termos do art. 818, I, da CLT. Em depoimento pessoal, o preposto da reclamada afirmou “que quando motorista o reclamante também poderia realizar o descarregamento da mercadoria, vez que o ajudante acompanha o motorista somente quando há necessidade”. A primeira testemunha ouvida a convite do obreiro relatou “que somente na época da pandemia o motorista saia sozinho (...) que não sabe dizer quantos eram os motoristas e os ajudantes”. Em que pese as informações prestadas pela testemunha mencionada, é fato que não houve apresentação pela mesma de maiores detalhes acerca da atividade tida como acumulada, porquanto o fato do motorista sair sozinho para algumas entregas, somente confirma a tese da defesa, de que nem sempre este era acompanhado de ajudante. Outrossim, sendo o reclamante motorista de carga, a atividade de descarregamento de mercadorias ou auxílio ao ajudante, não se deve entender como incompatível com a função para qual foi contratado, ao revés, a compatibilidade se revela, até porque não lhe era exigido habilidades diferenciadas ou maiores responsabilidades do que as demandada como motorista. Assim é que, na condição de motorista, a atividade de auxílio ao ajudante ou descarregamento do caminhão, cuja complexidade e responsabilidade da atividade é compatível com sua função motorista e com a respectiva contraprestação financeira ajustada, não caracteriza acúmulo de funções, inexistindo direito a qualquer acréscimo de salário. Improcede o pedido de adicional e reflexos. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. DO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE O reclamante afirma que laborava exposto a condições perigosas, sem que lhe tenham sido fornecidos equipamentos de proteção adequados a elidir os agentes nocivos. Postula pelo pagamento de adicional de insalubridade e reflexos. O laudo pericial juntado sob ID 3b80b45 concluiu que o reclamante não trabalhava exposto a qualquer agente físico, químico ou biológico capaz de causar danos à sua saúde, não restando caracterizada, portanto, a alegada insalubridade. De acordo com o louvado, os produtos químicos movimentados pelo reclamante eram armazenados em suas embalagens originais, certificadas, fechadas e lacradas, não havendo qualquer contato físico do obreiro com os mesmos. O reclamante apresentou impugnação à prova técnica (id. 3f8b390), apenas formulando quesitos complementares. Em sede de esclarecimentos (id. 0cac7a9), o expert ratificou suas conclusões e respondeu aos quesitos complementares. Com efeito, o reclamante não apresentou qualquer impugnação à prova técnica no tocante à insalubridade, sendo que o único ponto que poderia se considerar uma observação quanto a condições insalubres, refere-se ao questionamento acerca dos materiais cortantes transportados, que poderiam perfurar as embalagens dos produtos e, assim, ocasionar algum contato dermal do obreiro com os mesmos. Porém, de acordo com o louvado, não havia materiais cortantes que pudessem perfurar as embalagens originais dos produtos transportados. Destarte, diante do exposto, homologo a prova pericial produzida, concluindo com o perito, que o reclamante não se ativou em local ou condições nocivas à saúde, de modo que, julgo improcedente o pedido de adicional de insalubridade e reflexos. Ademais, de acordo com a petição inicial, o reclamante laborava exposto a condições perigosas, que colocavam em risco sua vida. Realizada perícia técnica, o i. louvado constatou que as atividades desenvolvidas pela parte reclamante, assim como seu ambiente de trabalho, não eram perigosas, nos termos do laudo de ID. 3b80b45. O reclamante apresentou impugnação à prova técnica (id. 3f8b390), com questionamento acerca da quantidade de líquidos inflamáveis transportados pelo reclamante, a qual estaria acima da capacidade máxima permitida de acordo com o Anexo 2 da NR-16. Em sede de esclarecimentos (id. 0cac7a9), o expert ratificou suas conclusões e respondeu aos quesitos complementares, tendo o mesmo também respondido em manifestação complementar de id. 1496b8c, sobre a quantidade de diária média de inflamáveis transportados. Pois bem. O reclamante apresentou impugnação aos esclarecimentos periciais (ID 2033435), arguindo contradições no laudo e nas manifestações do expert. Sustenta, em síntese, que: (i) as notas fiscais anexadas demonstram transporte superior a 100 litros em poucas entregas; (ii) uma única entrega alcançou 80 litros, o que, multiplicado pela média de 20 a 22 entregas diárias, superaria facilmente o limite de 200 litros previsto no Anexo 2 da NR-16; (iii) o perito teria considerado, de forma equivocada, que o estoque de 540 litros representaria três meses de vendas; e (iv) não teriam sido juntadas aos autos todas as notas fiscais analisadas, requerendo nova intimação do perito para complementar informações e documentos. O perito, em manifestação aos quesitos e determinações do acórdão (ID 1496b8c), reafirmou suas conclusões anteriores, esclarecendo que: (a) o transporte de inflamáveis só caracteriza periculosidade quando superior a 200 litros por viagem; (b) a análise documental e a vistoria in loco evidenciaram que as embalagens eram originais e lacradas, variando entre 200 ml e 18 litros; (c) a amostragem das notas fiscais indicou transporte muito inferior ao limite legal, com registros de 16,6 litros, 7 litros e menos de 80 litros, havendo inclusive viagens sem inflamáveis; (d) a média de consumo apurada a partir do estoque era de aproximadamente 30 litros/dia, divididos entre cinco motoristas; e (e) não houve constatação de transporte regular ou eventual acima de 200 litros em uma única viagem. Confrontando-se os argumentos da parte autora e os esclarecimentos do perito, observa-se que a impugnação não logra infirmar a conclusão técnica. As notas fiscais apontadas pelo reclamante não se referem a um único transporte diário integral, mas a pedidos fracionados e distintos, não havendo prova de que o somatório dessas entregas em uma única viagem ultrapassasse o limite previsto na NR-16. Ressalte-se que o parâmetro legal considera o volume por viagem e não o acumulado diário de diferentes rotas ou veículos. Ademais, a perícia foi realizada com base em inspeção direta, entrevistas e análise documental, não sendo apresentados elementos concretos pela parte autora capazes de desconstituir a credibilidade do laudo. A mera existência de entregas pontuais de 80 litros não comprova transporte habitual superior a 200 litros, especialmente diante do porte dos veículos utilizados (vans e kombis) e do perfil de clientes da reclamada (pequenas e médias lojas). Por fim, quanto ao pedido de nova juntada de notas fiscais, o perito já apresentou amostragem representativa, inexistindo demonstração de que os documentos omitidos alterariam a conclusão técnica. A produção de prova testemunhal não se mostra útil ou necessária para aferir volume de inflamáveis transportados, que depende de prova documental e técnica, já produzida. Diante disso, rejeito a impugnação do reclamante e mantenho o laudo pericial e seus esclarecimentos como prova técnica apta à formação do convencimento deste juízo. Assim é que, de acordo com o laudo pericial e esclarecimentos prestados, as embalagens transportadas pelo obreiro eram originais, certificadas, fechadas e lacradas, o que enquadra a hipótese nos itens 4.1 do Anexo 2 da NR-16, segundo o qual, é descaracterizada a periculosidade do transporte de líquidos inflamáveis em embalagens certificadas, simples, compostas ou combinadas, independentemente do número total de embalagens transportadas, desde que respeitados os limites do Quadro I do Anexo 2. Vale dizer que o Quadro I do Anexo 2 da NR-16 estabelece a capacidade máxima das embalagens de líquidos inflamáveis. E, de acordo com o louvado, as embalagens transportadas pelo reclamante classificavam-se como bombonas e possuíam capacidade de 18 litros, estando abaixo, portanto, da capacidade máxima ditada pela norma, que é de 60 litros para este tipo de embalagem. Assim, o volume de líquido inflamável transportado pelo reclamante estava dentro da capacidade permitida pela NR-16. Registro que o item 16.6 da norma técnica refere-se ao volume total permitido para o transporte de líquido inflamável em quaisquer vasilhames ou a granel, o que não era o caso do obreiro, que somente transportava líquidos inflamáveis em embalagens originais, certificadas e lacradas. Destarte, diante do exposto, homologo a prova pericial produzida para concluir, com o i. louvado, que a parte reclamante não faz jus a adicional de periculosidade. Rejeito tal pedido. Considerando que a parte reclamante sucumbiu na pretensão objeto da perícia, mas é beneficiária da justiça gratuita; e diante da inconstitucionalidade do art. 790-B, caput e § 4º, da CLT, declarada pelo Eg. STF na ADI 5766, determino que os honorários periciais, fixados no limite máximo de R$ 806,00, sejam pagos nos termos do Ato GP/CR nº 02, de 15 de setembro de 2021, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Após o trânsito em julgado da ação, providencie a Secretaria a solicitação de pagamento dos honorários periciais. Diante da ausência de constatação da ausência da insalubridade, rejeito o pedido de entrega do PPP ou de sua retificação. DAS HORAS EXTRAS E REFLEXOS. DO INTERVALO INTRAJORNADA O reclamante afirma que laborava das 07h45 às 17h33, prorrogando a jornada, cerca de 2 vezes por semana, até às 20h, sempre com 10/15 minutos de intervalo intrajornada. Postula pelo pagamento de horas extras e reflexos. Em defesa, a reclamada afirma que toda a jornada, inclusive a extraordinária, foi anotada nos cartões de ponto, sendo as horas extras laboradas, compensadas ou quitadas. A prova da jornada de trabalho é feita, primordialmente, pelos controles de frequência, conforme dispõe o § 2º do artigo 74 da CLT. As anotações contidas nos cartões de ponto geram presunção relativa de veracidade, podendo ser elididas por outros elementos de convicção presentes nos autos. A reclamada juntou aos autos os cartões de ponto de todo o período contratual não prescrito (a partir de ID. 6f98cd6), cabendo ao reclamante, portanto, provar a invalidade das anotações, por se tratar de fato constitutivo do seu direito (art. 818, I, da CLT e art. 373, I, do CPC). Em depoimento pessoal, o reclamante afirmou “que assinava o controle de ponto, mas o horário de saída nem sempre estava correto posto que, em 2 vezes na semana, retornava em média por volta das 20h, sendo a anotação feita pelo porteiro que repassava ao RH”. O preposto da reclamada, a seu turno, disse “que o reclamante encerrava às 17h48, com prorrogações em 1/2 vezes na semana, por cerca de 30 minutos”. A primeira testemunha ouvida a convite do reclamante relatou “que encerrava às 17h48, exceto em 3 vezes na semana quando encerrava por volta das 19h; que não encontrava com o reclamante no horário de encerramento da jornada; que o cartão de ponto era anotado biometricamente de forma correta; que após às 19h, por vezes, os conferentes continuavam trabalhando (...) que nunca viu o documento de fl. 150 dentro do veículo”. E a testemunha convidada pela reclamada declarou “que no caso do motorista, quando este chega além das 18h, marca o ponto manualmente em um caderno que fica na portaria, sendo este enviado após ao RH, para que seja lançado no sistema; que ao final do mês o ponto é exibido para conferência e, havendo divergência, é possível a reanálise; que o depoente encerrava sua jornada em 2/3 vezes por volta das 19h30/20h; que em média o reclamante chegava às 18h, de 2/3 dias na semana”. Da prova oral convergida aos autos, verifico que não restou comprovada a incorreção dos controles de ponto quanto ao horário de saída, conforme narrado pelo reclamante em seu depoimento. Isto porque, além de sua testemunha ter dito que o cartão de ponto era assinado biometricamente de forma correta, a testemunha da reclamada afirmou que, nas ocasiões em que o motorista chegava após às 18h, o horário é registrado manualmente pelo mesmo, em um caderno que fica na portaria, o qual é posteriormente repassado ao RH, com a conferência de todos os horários feita pelo obreiro ao final do mês. Assim, não há comprovação de que os horários repassados estavam incorretos, mormente porque o reclamante não logrou êxito em comprovar que terminava sua jornada às 20h em duas vezes na semana; além de sua testemunha ter afirmado que não o encontrava no término da jornada, a testemunha da reclamada declarou que o obreiro encerrava às 18h, cerca de 2/3 vezes na semana. Destarte, reconheço a validade dos espelhos de ponto apresentados. Cabia ao reclamante, portanto, apontar eventuais diferenças a seu favor, por força dos art. 818, I, da CLT e 373, I, do CPC. Entretanto, de tal ônus não se desvencilhou a contento, não tendo apontado qualquer diferença em réplica. Assim, reputo que não há horas extras a serem quitadas ao reclamante. Rejeito o pedido, no particular. Quanto ao intervalo intrajornada, melhor sorte não assiste ao obreiro. Isto porque, sendo incontroverso que o reclamante trabalhava externamente, a ele competia comprovar que a pausa intervalar era fiscalizada pela empresa. Entretanto, de tal ônus não se desincumbiu, pois, em que pese sua testemunha tenha dito “que uma vez ou outra ajudava o motorista, quando o intervalo era de 10 a 15 minutos”, a testemunha da reclamada, em eficiente contraprova, afirmou “que embora o rastreador indicasse todas as paradas do caminhão, este não era utilizado para acompanhar o intervalo do motorista, sendo este orientado para gozo de 1h”. Destarte, não se vislumbra violação ao art. 71 da CLT, não havendo falar, portanto, indenização pela redução do intervalo intrajornada. Rejeito. DOS DANOS MORAIS O reclamante postula pelo pagamento de indenização por danos morais, devido à supressão do intervalo intrajornada e à ausência de pagamento de horas extras, relatados na petição inicial. No entanto, conforme visto, tais fatos não restaram comprovados. E ainda que assim não fosse, o mero descumprimento de obrigações trabalhistas, por si só, não tem o condão de malferir direito da personalidade, eis que repercute, tão-somente, na esfera patrimonial do indivíduo. Destarte, não há dano a ser indenizado. Rejeito o pedido, no particular. DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ A parte reclamada pretende seja a reclamante condenada nas penalidades pela litigância de má-fé. Ocorre que não se vislumbra, no caso, qualquer atitude da parte que vá além do legítimo exercício do direito de ação, constitucionalmente garantido. Rejeito o requerimento. DA JUSTIÇA GRATUITA Trata-se de demanda ajuizada quando já estavam vigentes as alterações na CLT promovidas pela Lei nº 13.467, de 2017, as quais, assim, são plenamente aplicáveis ao presente processo. A última remuneração da parte reclamante revela que ela se enquadra no quesito objetivo de “percepção de salário igual ou inferior a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social”, previsto no art. 790, § 3º, da CLT. Assim, com base neste mesmo diploma, conjugado com o art. 99, § 3º, do CPC/2015, subsidiariamente aplicável ao processo do trabalho por força dos art. 769 da CLT e 15 do CPC/2015, defiro o pedido de justiça gratuita. DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA A presente demanda foi ajuizada após a vigência da Lei nº 13.467/17, a qual promoveu a chamada “reforma trabalhista”, instituindo inovações, tais como o cabimento honorários advocatícios sucumbenciais. Referida lei incluiu na CLT o art. 791-A, versando sobre honorários advocatícios, devidos, inclusive, no caso de sucumbência recíproca (§ 3º). Destaco que o § 4º do referido dispositivo impunha o pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais até mesmo ao beneficiário da justiça gratuita, entretanto, em 20/10/2021, ao apreciar a ADI 5766, o Pleno do Eg. STF decidiu, por maioria, julgar parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta, para declarar inconstitucionais os artigos 790-B, caput e § 4º, e 791-A, § 4º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desse modo, a responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais cabe à parte sucumbente, sendo referidas despesas suportadas pela União se a parte for beneficiária da justiça gratuita. Já no tocante aos honorários de sucumbência, restou mantida a suspensão da exigibilidade do pagamento da verba pelo prazo de dois anos, afastada a possibilidade de utilização de créditos obtidos em juízo, em processo diverso, capazes de suportar a despesa. Assim, considerando a complexidade da causa e o trabalho realizado pelos representantes da parte, critérios previstos no § 2º do indigitado dispositivo, condeno o reclamante ao pagamento de honorários sucumbenciais, no percentual de 10% sobre o valor dos pedidos julgados improcedentes, que ficará sob a condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executados se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que os certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos do devedor, que, contudo, não poderá decorrer da mera obtenção de outros créditos na presente ação ou em outras. Ultrapassado o prazo, extinguir-se-á a obrigação do beneficiário. III. DISPOSITIVO Pelo exposto, julgo extinto com resolução do mérito, com fulcro no art. 487, II, do CPC/2015, por prescritas as parcelas anteriores a 02/05/2019 e IMPROCEDENTES os pedidos apresentados por JOSÉ DA SILVA CRUZ em face de COMERCIAL E DISTRIBUIDORA BONFIGLIOLI LTDA, para o fim de absolvê-la de todos os pedidos da exordial, na forma da fundamentação supra, a qual é parte integrante do presente dispositivo em todos os seus termos. Honorários sucumbenciais a cargo do reclamante, com suspensão de exigibilidade na forma da fundamentação. Considerando que a parte reclamante sucumbiu na pretensão objeto da perícia, mas é beneficiária da justiça gratuita; e diante da inconstitucionalidade do art. 790-B, caput e § 4º, da CLT, declarada pelo Eg. STF na ADI 5766, determino que os honorários periciais, fixados no limite máximo de R$ 806,00, sejam pagos nos termos do Ato GP/CR nº 02, de 15 de setembro de 2021, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Após o trânsito em julgado da ação, providencie a Secretaria a solicitação de pagamento dos honorários periciais. Cumprimento em 08 dias após o trânsito em julgado (art. 835 da CLT). Deferida gratuidade da justiça. Custas pelo reclamante, no importe de 2% sobre o valor atribuído à causa. Dispensadas. Devem as partes atentar ao art. 1.026, § 2º, do CPC/2015, bem como aos artigos 80 e 81 do mesmo diploma legal, não cabendo embargos de declaração para rever fatos, provas e a própria decisão. Intimem-se as partes. Nada mais. CRISTIANE SERPA PANZAN Juíza do Trabalho Titular Intimado(s) / Citado(s) - JOSE DA SILVA CRUZ

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou 1648 resultados. Faça login para ver detalhes completos e mais informações.

Fazer Login para Ver Detalhes