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Massa Falida Yamazato Com. Empreendimentos Imobiliários Ltda. x Josivaldo Oliveira De Andrade e outros

ID: 313061263

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Santos - 1ª Vara Cível Classe: REINTEGRAçãO / MANUTENçãO DE POSSE Nº Processo: 1009637-18.2023.8.26.0562

Data de Disponibilização: 02/07/2025

Polo Ativo:

MASSA FALIDA YAMAZATO COM. EMPREENDIMENTOS IMOBILIáRIOS LTDA.

Polo Passivo:

JOSIVALDO OLIVEIRA DE ANDRADE NOELSON FRANCISCO DA CONCEIçãO

Intimação

Advogados:

PATRICIA SAMEK SILVA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

MAURICIO MARQUES DOMINGUES

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1009637-18.2023.8.26.0562 - Reintegração / Manutenção de Posse - Esbulho / Turbação / Ameaça - Massa Falida Yamazato Com. Empreendimentos Imobiliários Ltda. - Noelson Francisco da Conceição… Processo 1009637-18.2023.8.26.0562 - Reintegração / Manutenção de Posse - Esbulho / Turbação / Ameaça - Massa Falida Yamazato Com. Empreendimentos Imobiliários Ltda. - Noelson Francisco da Conceição - - JOSIVALDO OLIVEIRA DE ANDRADE e outros - Vistos. Trata-se de AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA proposta por MASSA FALIDA YAMAZATO COM. EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA em face de OCUPANTES AINDA NÃO IDENTIFICADOS, posteriormente identificados como NOELSON FRANCISCO DA CONCEIÇÃO E OUTROS, e JOSIVALDO OLIVEIRA DE ANDRADE E OUTROS. A parte Autora alegou ter adquirido o imóvel objeto da matrícula nº 61.648 do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Santos em 21 de março de 1996, com o objetivo de edificar empreendimento residencial. Contudo, sobreveio a decretação de sua falência. Afirma que terceiros invadiram o imóvel, desviando energia elétrica, gerando risco de incêndio e causando danos aos imóveis vizinhos. Requereu a concessão de tutela de urgência para a imediata reintegração na posse do imóvel. Juntou documentos (fls. 15/61). O Ministério Público (fls. 68/71) requereu a intervenção da Defensoria Pública e do Município de Santos antes da concessão da tutela de urgência, considerando a ocupação por pessoas de baixa renda. A Autora se manifestou contrariamente (fls. 90/93). A tutela de urgência foi indeferida, e o Município de Santos e a Defensoria Pública foram intimados (fls. 110). O Município de Santos não se manifestou (fls. 113). A Defensoria Pública (fls. 123/124) solicitou a constatação da efetiva situação de moradia no local por Oficial de Justiça. Foi determinada a citação dos ocupantes, cumprida às fls. 140/141 e 176/177. Os Requeridos Noelson Francisco da Conceição e Outros apresentaram contestação com reconvenção (fls. 147/151), arguindo preliminar de inépcia da inicial por ausência de interesse de agir e, no mérito, alegando ocupação do imóvel para moradia há cerca de 20 anos. Pleitearam a improcedência da demanda e, em reconvenção, a restituição ou indenização por benfeitorias. Juntaram documentos e requereram gratuidade de justiça (fls. 152/175, 166/173 e 181). O correquerido Josivaldo Oliveira de Andrade apresentou contestação (fls. 182/199), arguindo preliminar de carência da ação por ilegitimidade ativa. No mérito, alegou que a Autora não comprovou a posse ou a data do esbulho, e que sua família reside no local desde 2009, em posse mansa e pacífica. Requereu justiça gratuita e, em reconvenção, a retenção e indenização por benfeitorias. Juntou documentos (fls. 204/241). Os demais ocupantes citados não contestaram (fls. 242). A gratuidade de justiça foi deferida aos contestantes (fls. 244). A Autora apresentou réplica (fls. 249/261), juntou documentos (fls. 262/270 e 274/288) e impugnou a gratuidade deferida. As partes foram instadas a especificar provas (fls. 271). A Autora manifestou-se pela desnecessidade de produção de outras provas (fls. 274/288). O Corréu Josivaldo requereu produção de prova pericial para apurar benfeitorias (fls. 291/292). A Defensoria Pública (fls. 295/328) arguiu a necessidade de citação de todos os possuidores como litisconsortes necessários, a designação de audiência de conciliação e a intimação da Prefeitura do Município de Santos para manifestação sobre a área e inclusão dos ocupantes em programas sociais. Requereu, ainda, ofício à Secretaria Municipal de Finanças sobre débitos tributários. O Ministério Público (fls. 335/342) solicitou a citação por edital dos ocupantes não localizados e reiterou o pedido de intimação do Município. Foi determinada a apresentação de minuta de citação dos ocupantes não localizados e expedição de ofício à Secretaria Municipal de Finanças (fls. 374 e 377). O Município de Santos (fls. 387 e 392/395) informou não haver famílias cadastradas com o endereço no sistema do Cadastro Único para Programas Sociais. O Corréu Josivaldo (fls. 399/401) alegou que a manifestação do Município estava equivocada, juntando comprovante de inscrição no Cadastro Único (fls. 402/403). O edital foi publicado (fls. 410/411), e a Autora requereu o julgamento antecipado (fls. 419/420). Foi determinada a nomeação de Curador Especial aos réus citados por edital (fls. 425), sendo nomeada a Dra. Luciana (fls. 430/432). Contudo, a Curadora informou que as pessoas indicadas haviam sido citadas pessoalmente (fls. 446/452). O Ministério Público (fls. 463) não se opôs ao pedido da curadora. A decisão de fls. 472/474 cancelou o ofício de nomeação de Curador, pois a intervenção para ocupantes incertos citados por edital é desnecessária. Também se determinou a manifestação da Autora sobre a impugnação à gratuidade de justiça (fls. 276/277). A Autora se manifestou às fls. 477/478. O Ministério Público (fls. 481/483) opinou pela procedência do pedido, com expedição de mandado de desocupação, assegurando-se a atuação da municipalidade para acompanhamento social e dignidade dos envolvidos. É o relatório. Decido. Os Requeridos arguiram preliminares de inépcia da petição inicial por ausência de interesse de agir e carência da ação por ilegitimidade ativa. Tais questões se confundem com o mérito da demanda possessória e serão analisadas em conjunto com este. A legitimidade ad causam, nos termos do art. 17 do Código de Processo Civil de 2015, deve ser aferida in status assertionis, ou seja, pela narrativa fática constante na petição inicial. No caso, a Autora alega ser proprietária do imóvel e ter sofrido esbulho, o que, em tese, a legitima para figurar no polo ativo da ação possessória. O interesse de agir, por sua vez, configura-se pela necessidade e utilidade da tutela jurisdicional. A pretensão de reaver a posse de um bem supostamente esbulhado demonstra, em princípio, a presença do interesse. Conforme lição de Fredie Didier Jr., em sua obra Curso de Direito Processual Civil Teoria Geral do Processo, v. 1 (2020, p. 320): "As condições da ação, portanto, são elementos ou requisitos cuja presença é indispensável para que o órgão jurisdicional possa apreciar o mérito da causa. A sua ausência, via de regra, gera a extinção do processo sem resolução do mérito". Contudo, as alegações dos Réus sobre a posse da Autora e a data do esbulho são temas que adentram o mérito da posse e serão analisados como tal. A Autora impugnou a gratuidade de justiça concedida aos Requeridos. No entanto, a documentação apresentada pelos Requeridos, notadamente os comprovantes de inscrição em programas sociais e a natureza da ocupação para moradia, demonstram a presunção de hipossuficiência econômica. A Autora não trouxe elementos aptos a desconstituir essa presunção, nos termos do art. 99, § 3º, do Código de Processo Civil. A Defensoria Pública suscitou a necessidade de citação de todos os possuidores como litisconsortes necessários. É cediço que, em ações possessórias, o litisconsórcio passivo necessário se forma quando a pluralidade de réus decorre da natureza indivisível da relação jurídica ou por disposição legal. No caso de ocupação coletiva de imóveis, a jurisprudência pátria tem se consolidado no sentido de que todos os ocupantes devem ser citados, sob pena de nulidade. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu: RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - BEM PÚBLICO - OCUPAÇÃO IRREGULAR - INEXISTÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DE TODOS OS OCUPANTES DO IMÓVEL, BEM COMO AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DE UM OCUPANTE DO IMÓVEL - TRIBUNAL A QUO QUE AFASTOU AS PRELIMINARES DE AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DA AÇÃO E DE NULIDADE POR FALTA DE CITAÇÃO DE OCUPANTE.INSURGÊNCIA DOS RÉUS Hipótese: ação de reintegração de posse ajuizada em face de ocupantes irregulares, julgada procedente.Arguição de ausência de pressuposto processual e nulidade do feito, ante a ausência de citação de litisconsorte, afastadas pelas instâncias ordinárias.1. A partir da leitura dos artigos 924, 927 e 928 do CPC/73, equivalentes aos artigos 558, 561 e 562 do CPC/15, infere-se que a notificação prévia não é documento essencial à propositura da ação possessória.2. Em ação possessória na qual que se aprecia a legitimidade de composse, que é exercida conjuntamente e sem fracionamento do bem por todos os ocupantes, a sentença deverá ser cumprida por todos os co-possuidores considerados ilegítimos, configurando-se a hipótese de litisconsórcio necessário prevista no artigo 47 do CPC/73, correspondente aos artigos 114, 115 e 116 do CPC/15.3. A ausência da citação de litisconsorte passivo necessário enseja a nulidade da sentença, nos termos do artigo 47 do CPC/73, correspondente ao artigo 115 do CPC/15.4. Recurso provido para declarar a nulidade da sentença, determinando a remessa dos autos à origem para que seja admitido o comparecimento espontâneo de Vanir Esteves Soares, bem como lhe seja conferida oportunidade para constituir novo patrono, considerando a destituição noticiada a fl. 413 e-STJ, e para apresentar defesa, com regular processamento e posterior julgamento do feito. (STJ - REsp 1263164 / DF, Relator(a): Ministro MARCO BUZZI (1149), T4 - QUARTA TURMA, Data de Julgamento: 21/11/2016, Data de Publicação: 28/11/2016). No presente caso, houve tentativa de citação pessoal de diversos ocupantes, e alguns foram citados por edital. A Curadora Especial nomeada, embora inicialmente destinada aos citados por edital, constatou que os nomes a ela indicados já haviam sido citados pessoalmente, o que demonstra a tentativa de regularização processual. A citação por edital para "ocupantes incertos" é medida excepcional, mas cabível em casos de invasão coletiva, onde a identificação de todos os envolvidos se mostra inviável. A ausência de identificação de todos os ocupantes, após as diligências realizadas, não pode servir de óbice intransponível à marcha processual, sob pena de inviabilizar a tutela jurisdicional. A ação de reintegração de posse, de natureza possessória, pressupõe a prova da posse anterior do autor, o esbulho praticado pelo réu, a data do esbulho e a perda da posse (art. 561 do CPC/2015). A Autora é uma massa falida, o que implica que a posse de seus bens é, em princípio, transferida ao administrador judicial com a arrecadação. O fato de o processo falimentar estar em curso e a arrecadação não ter sido encerrada não significa a perda definitiva da posse para a massa, mas sim uma modificação em seu exercício, que passa a ser exercido pelo síndico/administrador judicial em nome da massa. A falência, por si só, não representa um abandono do bem ou uma interrupção da posse para fins de usucapião, como alegado pelos Réus. A posse da Autora, no caso, deriva da propriedade do imóvel, conforme matrícula acostada aos autos (fls. 18/20). Embora a ação possessória não se confunda com a ação petitória, a prova da propriedade pode ser utilizada como um dos elementos para demonstrar a posse anterior, especialmente quando não há controvérsia sobre a aquisição do bem. Os Réus alegam que residem no imóvel há cerca de 20 anos (Noelson e Outros) ou desde 2009 (Josivaldo), em posse mansa, pacífica e sem oposição, com intuito de moradia, o que, em tese, configuraria usucapião. No entanto, a alegação de posse mansa e pacífica é refutada pela própria ação de reintegração de posse. O esbulho, no contexto da invasão, é a conduta dos Réus de adentrar no imóvel sem autorização e passar a exercer posse sobre ele, impedindo o exercício da posse pela Autora. A data do esbulho é um ponto crucial. A Autora alega que a invasão ocorreu após a decretação da falência e antes do encerramento da arrecadação. A decretação da falência da Autora ocorreu em 1998, conforme processo nº 0022522-58.1998.8.26.0562. Considerando que a ocupação alegada pelos Réus remonta a 20 anos (ou desde 2009), é possível que o esbulho tenha ocorrido em data anterior à propositura da ação, mas não necessariamente antes da posse da massa falida. A doutrina processualista ressalta a importância da prova da posse e do esbulho: Para obter a tutela possessória, o autor tem o ônus de provar a sua posse, o esbulho (ou turbação), a data do esbulho (ou turbação) e a perda da posse (ou a manutenção da posse). A posse é o poder de fato sobre a coisa, exercido em nome próprio ou de terceiro. O esbulho é a privação da posse, total ou parcial, por ato de terceiro. A data do esbulho é relevante para se verificar a natureza da posse (nova ou velha) e, consequentemente, o rito processual a ser adotado (posse nova rito especial; posse velha rito comum). A perda da posse é o resultado do esbulho. ( Luiz Guilherme Marinoni, Sergio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, in Novo Curso de Processo Civil, v. 3: Tutela dos Direitos Mediante o Processo de Conhecimento, 4. ed., 2018, p. 334). A prova da posse anterior pela massa falida é inconteste, dada a sua propriedade e o fato de que a propriedade confere o direito à posse, ainda que exercida indiretamente por meio do administrador judicial. A questão central reside na alegação de usucapião como matéria de defesa. É pacífico o entendimento de que a usucapião pode ser alegada em defesa em ação possessória, conforme a Súmula 237 do Supremo Tribunal Federal: "O usucapião pode ser arguido em defesa." No entanto, a mera alegação não é suficiente. Para que a usucapião seja acolhida como defesa, é imprescindível que os requisitos para a sua configuração estejam devidamente comprovados nos autos. Os Réus alegam posse há 20 anos e 2009, respectivamente, para fins de moradia, o que, em tese, poderia configurar usucapião especial urbana (art. 1.240 do Código Civil), que exige posse ininterrupta e sem oposição de área urbana de até 250 m², utilizada para moradia própria ou da família, pelo prazo de 5 anos, desde que o possuidor não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. No caso concreto, o imóvel é uma área destinada a empreendimento imobiliário, localizada em área urbana (Santos). A área total do imóvel objeto da matrícula nº 61.648 não foi expressamente informada em metros quadrados nos autos, o que seria relevante para a análise da usucapião especial urbana. Ademais, a alegação de posse mansa e pacífica é diretamente confrontada pela existência do processo de falência e, agora, pela presente ação de reintegração de posse. A posse da massa falida, mesmo que indireta, não se extingue com a decretação da quebra, o que pode afastar o requisito de "posse sem oposição". O fato de o imóvel estar em processo de falência gera uma situação jurídica peculiar. A massa falida, embora não exerça a posse direta do bem, mantém a posse jurídica sobre ele, exercida pelo administrador judicial. A Lei nº 11.101/2005 (Lei de Falências) estabelece que a decretação da falência acarreta a arrecadação de todos os bens do devedor, a fim de serem alienados para pagamento dos credores. A posse da massa falida, portanto, não é meramente precária, mas sim uma posse com finalidade de liquidação, que visa à preservação do patrimônio para os credores. A invasão de um bem da massa falida constitui esbulho, pois retira um bem que integra o ativo falimentar e que está sob a guarda e administração do síndico. Diante do exposto, os requisitos para a usucapião não se mostram preenchidos, notadamente o da posse mansa e pacífica. A publicidade da falência impede que a posse dos ocupantes seja considerada sem oposição, pois o bem está sob a administração judicial para fins de liquidação. A Autora demonstrou a posse anterior (decorrente da propriedade e do regime falimentar) e o esbulho, caracterizado pela ocupação não autorizada dos Réus. A data do esbulho, embora imprecisa, é contemporânea à arrecadação do bem pela massa falida, período em que a Autora teve a posse do bem modificada em seu exercício. Os Réus, em reconvenção, pleitearam a retenção e indenização por benfeitorias realizadas no imóvel. De acordo com o art. 1.219 do Código Civil, "O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis." Por sua vez, o art. 1.220 do Código Civil estabelece que "Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias." A qualificação da posse como de boa-fé ou má-fé é determinante para a extensão do direito às benfeitorias. A posse de má-fé se caracteriza pela ciência do possuidor de que sua posse é ilegítima. No caso em tela, a ocupação de um imóvel em processo de falência, cuja publicidade se dá desde a decretação, não permite a configuração da boa-fé. A ciência da situação jurídica do imóvel, integrante de massa falida, é presumida a partir da publicidade dos atos falimentares. Considerando que a posse dos Réus é de má-fé, eles teriam direito apenas ao ressarcimento das benfeitorias necessárias, nos termos do art. 1.220 do Código Civil, sem direito de retenção. No entanto, os Réus não especificaram as benfeitorias realizadas, nem comprovaram sua natureza (necessárias, úteis ou voluptuárias) ou seu valor. A mera alegação genérica de benfeitorias, sem a devida comprovação, inviabiliza o acolhimento do pedido. Ademais, no âmbito das ações possessórias, o pedido de indenização por benfeitorias deve ser formulado de maneira clara e comprovado. A ausência de elementos probatórios mínimos sobre a realização e o tipo das benfeitorias impede o deferimento da pretensão. A prova pericial solicitada pelo corréu Josivaldo (fls. 291/292) seria pertinente caso houvesse elementos mínimos para se verificar a existência e a natureza das benfeitorias. Contudo, em virtude da ausência de demonstração mínima de tais benfeitorias, a produção de prova pericial se mostra desnecessária. A despeito da procedência da ação possessória, a questão social da desocupação de imóveis em ocupações coletivas exige a intervenção do Poder Público. O Ministério Público e a Defensoria Pública atuaram diligentemente nesse sentido, requerendo a intervenção do Município para acompanhamento social e inclusão dos ocupantes em programas habitacionais. Embora o Município de Santos tenha informado que não há famílias cadastradas no endereço no sistema do Cadastro Único, a situação de vulnerabilidade social de algumas famílias, comprovada pela concessão da gratuidade de justiça e pela manifestação da Defensoria Pública e do Ministério Público, impõe a necessidade de atuação estatal para mitigar os impactos da desocupação. O Supremo Tribunal Federal (STF), em decisões recentes, notadamente no contexto da pandemia da COVID-19 e da ADPF 828, tem enfatizado a importância de observância do direito à moradia e da necessidade de diálogo institucional e atuação intersetorial em casos de desocupação coletiva. Direito Constitucional e Civil. Arguição de descumprimento de preceito Fundamental. Direito à moradia e à saúde de pessoas vulneráveis no contexto da pandemia da Covid-19. Ratificação da prorrogação da medida cautelar. 1. Pedido de extensão da medida cautelar anteriormente deferida, pelo prazo de um ano, a fim de que se mantenha a suspensão de desocupações coletivas e despejos enquanto perdurarem os efeitos da crise sanitária da COVID-19. 2. Após a concessão da medida cautelar, foi editada a Lei nº 14.216/2021, que determinou a suspensão das ordens de desocupação e despejo até 31.12.2021. A lei foi mais favorável às populações vulneráveis na maior parte de sua disciplina, exceto na parte em que restringe seu âmbito de incidência a áreas urbanas. 3. Tendo em vista a superveniência da lei, os critérios legais devem prevalecer sobre os termos da medida cautelar, na parte em que ela prevê critérios mais favoráveis para pessoas em situação de vulnerabilidade. 4. No tocante aos imóveis situados em áreas rurais, há uma omissão inconstitucional por parte do legislador, tendo em vista que não há critério razoável para proteger aqueles que estão em área urbana e deixar de proteger quem se encontra em área rural. Por isso, nessa parte, prorroga-se a vigência da medida cautelar até 31.03.2022 e determina-se que a suspensão das ordens de desocupação e despejo devem seguir os parâmetros fixados na Lei nº 14.216/2021. 5. Realização de apelo ao legislador, a fim de que prorrogue a vigência do prazo de suspensão das ordens de desocupação e despejo por, no mínimo, mais três meses, a contar do prazo fixado na Lei nº 14.216/2021, tendo em vista que os efeitos da pandemia ainda persistem. 6. Caso não venha a ser deliberada a prorrogação pelo Congresso Nacional ou até que isso ocorra, é concedida a medida cautelar incidental, a fim de que a suspensão determinada na Lei nº 14.216/2021 siga vigente até 31.03.2022. 7. Medida cautelar incidental ratificada. (STF - ADPF 828 TPI-Ref, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, Data de Julgamento: 08/12/2021, Data de Publicação: 09/02/2022) Embora a decisão da ADPF 828 tenha se referido a um contexto pandêmico específico e com prazo determinado, a sua fundamentação realça a responsabilidade do Estado na busca por soluções que garantam a dignidade humana. Assim, mesmo que a reintegração de posse seja devida, é imperativo que a desocupação ocorra com a devida cautela e com o acompanhamento social do Município, a fim de minimizar os danos aos ocupantes vulneráveis, especialmente aqueles comprovadamente inscritos em programas sociais, como o corréu Josivaldo. Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado por MASSA FALIDA YAMAZATO COM. EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA em face de OCUPANTES AINDA NÃO IDENTIFICADOS, atualmente identificados como NOELSON FRANCISCO DA CONCEIÇÃO E OUTROS e JOSIVALDO OLIVEIRA DE ANDRADE E OUTROS, para REINTEGRAR a Autora na posse do imóvel objeto da matrícula nº 61.648 do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Santos, localizado na Avenida Siqueira Campos nº 371, esquina com a Rua Torres Homem nº 379, no bairro do Embaré, Santos/SP. Em consequência, JULGO IMPROCEDENTE as preliminares arguidas pelos Réus e as reconvenções apresentadas por Noelson Francisco da Conceição e Outros e Josivaldo Oliveira de Andrade, referentes à retenção e indenização por benfeitorias. Fica confirmada a gratuidade de justiça concedida aos Requeridos Noelson Francisco da Conceição e Outros e Josivaldo Oliveira de Andrade. Considerando a natureza da ocupação e a vulnerabilidade social dos ocupantes, determino que a reintegração de posse seja cumprida mediante a prévia intimação do Município de Santos e da Defensoria Pública para acompanhamento social e fornecimento de apoio aos ocupantes, especialmente no que tange à inclusão em programas habitacionais, buscando-se, sempre que possível, soluções que garantam a dignidade dos envolvidos, observando-se, ainda, o prazo razoável para a desocupação voluntária, a ser fixado pelo Oficial de Justiça em conjunto com o apoio social, nunca inferior a 30 (trinta) dias. Decorrido o prazo para desocupação voluntária, expeça-se mandado de reintegração de posse. Fica autorizada a requisição de força policial, se necessário, bem como o arrombamento e o uso de outros meios coercitivos, na forma da lei, para o fiel cumprimento da ordem judicial. Em virtude da sucumbência, condeno os Requeridos ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil. A exigibilidade da verba sucumbencial fica suspensa em relação aos Réus beneficiários da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se. - ADV: PATRICIA SAMEK SILVA (OAB 474613/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP), MAURICIO MARQUES DOMINGUES (OAB 175513/SP), ANDRE LUIS AUGUSTO DA SILVA (OAB 261999/SP)

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