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Processo nº 1007766-97.2020.4.01.9999

ID: 314753546

Tribunal: TRF6 Órgão: SEC.GAB.22 (Des. Federal LUCIANA PINHEIRO COSTA) Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1007766-97.2020.4.01.9999

Data de Disponibilização: 03/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

MARIA CAMARGOS GOMES DA SILVA

Acórdão

Advogados:

DENISE RODRIGUES ALVES

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ANTONIO MAGNO DE OLIVEIRA MOREIRA

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Apelação Cível Nº 1007766-97.2020.4.01.9999/MG RELATORA : Desembargadora Federal LUCIANA PINHEIRO COSTA APELADO : MARIA CAMARGOS GOMES DA SILVA ADVOGADO(A) : DENISE RODRIGUES ALVES (OAB MG178290) AD… Apelação Cível Nº 1007766-97.2020.4.01.9999/MG RELATORA : Desembargadora Federal LUCIANA PINHEIRO COSTA APELADO : MARIA CAMARGOS GOMES DA SILVA ADVOGADO(A) : DENISE RODRIGUES ALVES (OAB MG178290) ADVOGADO(A) : ANTONIO MAGNO DE OLIVEIRA MOREIRA (OAB MG170823) EMENTA DIREITO PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. APELAÇÃO. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADOR RURAL. REQUISITOS COMPROVADOS. RECURSO NÃO PROVIDO. I. CASO EM EXAME 1. Sentença proferida na vigência do CPC/2015 e não sujeita ao reexame necessário, visto que a condenação nela imposta não tem o potencial de ultrapassar o limite previsto no art. 496, § 3º do referido diploma legal. 2. Apelação interposta em face da sentença que julgou procedente o pedido de concessão do benefício previdenciário de aposentadoria por idade rural. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 3. A questão em discussão consiste em saber se os documentos apresentados pela parte autora podem ser admitidos como início de prova material. III. RAZÕES DE DECIDIR 4. O exercício de atividade de natureza urbana por um dos membros do grupo familiar não descaracteriza, por si só, os demais integrantes como segurados especiais, devendo ser averiguada, no caso concreto, a dispensabilidade do trabalho rural para a subsistência daquele grupo (Tema 532 do STJ). Não se trata, contudo, de prefixar, abstratamente, um limite máximo para a renda advinda do trabalho urbano, acima do qual a condição de segurado especial do postulante estaria automaticamente afastada, sob pena de se dar guarida à atuação do Judiciário como legislador positivo. Inexistindo na lei qualquer limitação expressa neste sentido, não cabe ao aplicador do direito fazê-lo, nem mesmo sob o pretexto de aplicação, por analogia, de teto correspondente a 1 (um) salário-mínimo, o que implicaria interpretação extensiva de regra restritiva, prática vedada em nosso ordenamento jurídico. Em verdade, o que se busca aferir, mediante análise do caso concreto, é se o produto advindo do trabalho rural do segurado especial faz parte da renda do grupo familiar composto também de trabalhador urbano - seja pela produção em si ou pela renda advinda de eventual comercialização - podendo até mesmo se tratar de renda secundária na perspectiva do grupo familiar, desde que seja relevante naquele contexto. 5. O entendimento do STJ é firme quanto à desnecessidade de contemporaneidade da prova material durante todo o período em que se pretende comprovar o exercício de atividade rural, devendo haver ao menos um início razoável de prova material contemporânea aos fatos alegados, a ser complementado por prova testemunhal. 6. É possível o reconhecimento de tempo de serviço rural anterior ao documento mais antigo, ou posterior ao documento mais recente, desde que amparado por convincente prova testemunhal, colhida sob contraditório (Tema 638 do STJ). 7. O rol legal de documentos hábeis à comprovação do exercício de atividade rural é meramente exemplificativo, admitindo-se, inclusive, aqueles que estejam em nome de membros do grupo familiar do postulante, sejam públicos ou particulares. Seguindo tal premissa, são aceitos como início da prova material: (a) certidões de nascimento, casamento e óbito, acaso a profissão rural esteja expressamente consignada; (b) documentos que apontem residência em zona rural, como conta de energia elétrica, documentos escolares, fichas e prontuários médicos; (c) contratos de parceria, comodato ou arrendamento rural, ainda que ausente o reconhecimento de firma ou com reconhecimento extemporâneo; (d) fichas e carteiras de filiação a Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mesmo quando desacompanhadas do comprovante de pagamento das mensalidades respectivas; dentre outros, haja vista a usual informalidade no exercício da referida atividade, a demandar efetiva proteção previdenciária. De igual modo, impõe-se que a prova testemunhal seja analisada em consonância com tal contexto - de reconhecida dificuldade na obtenção de provas do direito pleiteado - evitando-se rigor excessivo na sua apreciação, capaz de invalidar depoimentos que, por sua natureza, pelo decurso do tempo, pela baixa escolaridade da população rural, possam se apresentar lacunosos ou imprecisos em seus termos técnicos. Trata-se de meio de prova passível de corroborar o indício de exercício de atividade rural que já se faz presente na documentação apresentada - conjunto probatório considerado em sua totalidade - e não de prova plena dos fatos alegados, não se podendo esperar ou exigir precisão absoluta em todas as informações fornecidas, sob pena de se inviabilizar a tutela dos direitos do trabalhador rural. 8. A CTPS com registro de vínculo empregatício de natureza rural (a exemplo de vaqueiro, serviços gerais, tratorista, safrista, retireiro) configura prova plena do período anotado, além de constituir início de prova material para fins de comprovação da alegada condição de rurícola em períodos não registrados - ainda que sob regime diverso - a ser corroborado por prova testemunhal. 9. O segurado empregado rural - que presta serviços a empregador mediante salário, com subordinação e habitualidade - pode optar pela aposentadoria por idade com o requisito etário reduzido em 5 (cinco) anos e renda mensal fixada em 1 salário-mínimo, sendo-lhe permitido, também, o cômputo de parte da carência como segurado especial e parte como empregado rural, para fins de obtenção do referido benefício. Além disso, para o empregado rural basta comprovar o exercício da atividade rural nesta qualidade, sendo do empregador a obrigação de recolher as contribuições previdenciárias devidas, não podendo o descumprimento da referida obrigação obstar os direitos previdenciários do trabalhador. 10. O fato de o trabalhador rural ser titular de pensão por morte no valor mínimo não infirma a sua alegada condição de segurado especial, conforme art. 11, § 9º, I da Lei nº 8.213/1991. 11. A prova testemunhal produzida em audiência (realizada em 22/11/2019) não deixa dúvidas acerca da qualidade de trabalhadora rural da parte autora pelo período necessário à concessão do benefício pleiteado, à medida que as testemunhas foram firmes e convictas ao afirmarem que a parte autora sempre exerceu o labor rural, chegando a citar os nomes de alguns proprietários de terras em que a autora trabalhou. IV. DISPOSITIVO 12. Remessa necessária não conhecida. Apelação do INSS não provida. De ofício, determinada a atualização da metodologia de cálculo dos juros de mora e da correção monetária, nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal. _________ Dispositivos relevantes citados: Lei nº 8.213/1991, art. 11, VII e § 9º, I; Lei nº 8.213/1991, art. 55, § 3º; Lei nº 8.213/1991, art. 106; Lei nº 8.213/1991, art. 48, § 1º; Lei nº 8.213/1991, art. 11, § 9º, I. Jurisprudência relevante citada: STJ, REsp 1.304.479, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, j. 10/10/2012; Súmula nº 41 da TNU; Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, PU 2008.70.54.001696-3 , Rel. Juiz Federal José Antônio Savaris, 2ª Turma Recursal do Paraná, j. 08/02/2010; Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, PEDILEF 2010.72.64.000247-0, Rel. Juiz Federal Paulo Ricardo Arena Filho, publicação 20/09/2013; Súmula nº 149 do STJ; STJ, REsp 1.321.493, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, j. 10/10/2012; Súmula nº 34 da TNU; STJ, AREsp 1.550.603, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 03/10/2019; STJ, AgRg no AREsp 436.471, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 25/03/2014; STJ, REsp 1.348.633, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, j. 28/08/2013; Súmula nº 577 do STJ; STJ, EREsp 1.171.565, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção, j. 25/02/2015; TRF1, AC 1000246-52.2021.4.01.9999, Rel. Desembargador Federal César Jatahy, Segunda Turma, j. 02/06/2021; TRF4, AC 5024960-97.2016.404.9999, Rel. Ana Carine Busato Daros, Quinta Turma, j. 30/05/2017. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Egrégia 2ª Turma - Prev/Serv do Tribunal Regional Federal da 6ª Região decidiu, por unanimidade, não conhecer da remessa necessária e negar provimento à apelação do INSS, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Belo Horizonte, 17 de junho de 2025.

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Amper - Empreendimentos Imobiliarios Ltda x Sebastiao Goncalves Dos Santos

ID: 262405907

Tribunal: TJMT Órgão: 8ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1007766-88.2017.8.11.0041

Data de Disponibilização: 29/04/2025

Polo Ativo:

AMPER - EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA

Polo Passivo:

SEBASTIAO GONCALVES DOS SANTOS

Sentença

Advogados:

CARLOS EDUARDO CARMONA DE AZEVEDO

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LEONARDO BOAVENTURA ZICA

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RODRIGO LEITE DE BARROS ZANIN

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 8ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1007766-88.2017.8.11.0041. AUTOR(A): AMPER - EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA REU: SEBASTIAO GONCALVES DOS SANTOS Vi… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 8ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ SENTENÇA Processo: 1007766-88.2017.8.11.0041. AUTOR(A): AMPER - EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA REU: SEBASTIAO GONCALVES DOS SANTOS Vistos. Trata-se de ação de rescisão contratual com pedido de tutela de urgência ajuizada por AMPER Empreendimentos Imobiliários Ltda. em face de Sebastião Gonçalves dos Santos, objetivando a rescisão do contrato particular de promessa de compra e venda do lote 01, quadra 14, do loteamento Jardim das Oliveiras, em razão do inadimplemento contratual, bem como a restituição da posse do imóvel e demais pedidos acessórios. A parte autora alegou, em síntese, que o requerido adquiriu o imóvel derivado de cessão contratual e, não obstante tenha recebido a posse, deixou de adimplir parcelas contratuais, acumulando débito atualizado de R$ 7.974,06, conforme planilha anexa. Aduziu também que o requerido realizou construção irregular no lote, sem autorização e em desacordo com o contrato, requerendo a rescisão contratual, devolução da posse e fixação de aluguel por ocupação. Decisão inicial indeferiu o pedido de tutela de urgência postulado pela autora (Id. 6843075). Depois de reiteradas tentativas, o espólio do requerido foi citado, tendo os herdeiros Maria Ribeiro dos Santos Gonçalves, Leilamar dos Santos e Erlani Gonçalves dos Santos, apresentado contestação (Id. 133717608), alegando que a inadimplência decorreu do falecimento do Sr. Sebastião, que era o principal provedor da família. Sustentaram que mais de dois terços do contrato já haviam sido pagos, que houve tolerância da autora com a construção no imóvel, e que se trata de bem de família, pleiteando a improcedência da ação. Na sequência, a autora apresentou réplica (Id. 160606632), em que rebateu as alegações defensivas, sustentando que, embora tenha havido cessão de contrato, a inadimplência restou incontroversa. Defendeu a validade da cláusula de rescisão contratual, reiterou a ausência de autorização para a construção e a inaplicabilidade da proteção do bem de família na hipótese. Posteriormente, foi determinada a intimação das partes para manifestação acerca de provas. O espólio de Sebastião Gonçalves dos Santos apresentou rol de testemunhas e pugnou pela produção de prova testemunhal (Id. 164094996), enquanto a autora, por sua vez, pleiteou o julgamento antecipado do mérito, entendendo que a controvérsia era eminentemente de direito e que os documentos acostados aos autos eram suficientes para o deslinde da causa (Id. 163460570). É o relatório. Decido. Ao analisar o feito verifico que este admite o julgamento no estado em que se encontra, na medida em que desnecessária se mostra a produção de outras provas, além da prova documental já existente nos autos (art. 347, CPC). Embora o requerido tenha postulado pela produção de prova testemunhal, verifico que os fatos controvertidos dizem respeito à validade do contrato, ao inadimplemento e à construção em lote alheio, todos devidamente comprovados por documentos juntados, não se vislumbrando a necessidade de instrução oral para o deslinde da controvérsia. Vale ressaltar que o Código de Processo Civil adotou o princípio do livre convencimento do juiz, de sorte que cabe a ele, como destinatário da prova, verificar a real necessidade de outros elementos para formação do próprio convencimento. Assim, com esteio nos ensinamentos jurisprudenciais firmados pelos Tribunais Superiores, diante das provas já produzidas nos autos, passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, incisos I e II, do Código de Processo Civil. Registro que o julgamento antecipado, in casu, não representa cerceamento de defesa ou violação ao princípio do contraditório, pois há nos autos elementos suficientes para que a sentença seja proferida, evitando-se que a causa tenha seu desfecho protraído, homenageando-se desse modo a tão colimada celeridade processual, máxime porque se trata de feito inserido na Meta 02/CNJ. Ab initio, é cediço que em casos como o presente é evidente a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, eis que em se tratando de contrato de aquisição de unidade imobiliária, bem imóvel, manifesta a incidência da lei consumerista, ante a clareza do artigo 3º, §1º, do CDC. Ressalto, ainda, que o fato de o contrato ser fruto de acordo de livre vontade manifestada entre as partes contratantes, por si só, não basta para descaracterizar sua natureza consumerista, mantendo-se, portanto, o negócio sujeito ao regime do CDC, sem descurarmos do estabelecido pelos arts. 6º, V, 39, V e 51, incisos IV e XI e § 1º, incisos I e III da legislação consumerista. Pois bem. A parte autora pretende a rescisão do contrato firmado entre as partes, referente à aquisição de um imóvel localizado no Residencial Jardim das Oliveiras, tendo em vista a situação de inadimplência do requerido com o valor de R$ 7.974,06. O espólio do requerido, por sua vez, em sua defesa, alegou apenas dificuldades financeiras e que foram pagos mais de dois terços do contrato. Nesse contexto, verifica-se que é incontroverso nos autos que o requerido, na qualidade de cessionário de contrato de promessa de compra e venda firmado inicialmente por Ana Paula de Oliveira Marques, assumiu a posse e a titularidade do lote 01, quadra 14, do loteamento Jardim das Oliveiras. É incontroverso, também, que houve inadimplemento contratual por parte do requerido, que admitiu que deixou de efetuar o pagamento das parcelas pactuadas. Não há dúvidas de que o demandado não cumpriu a sua obrigação, já que não trouxe quaisquer provas de quitação do bem, sendo que suas alegações no sentido de que deixou de efetuar o pagamento por razões de força maior, mesmo ciente de sua obrigação contratual, não atende o princípio da boa fé contratual e não justificam sua inadimplência. Embora a contestação traga alegações de que o falecimento do Sr. Sebastião Gonçalves dos Santos teria causado dificuldades financeiras e que foram pagos mais de dois terços do contrato, tal circunstância, por si só, não afasta a incidência da cláusula resolutiva expressa prevista no instrumento contratual (item 8), a qual prevê a possibilidade de rescisão em caso de inadimplemento. Desse modo, não comprovado o pagamento, cabível a rescisão contratual, devendo as partes retornarem ao estado anterior. Diante do inadimplemento do réu, impõe-se a rescisão do contrato celebrado e, por consequência deverão as partes retornar ao status quo ante a partir das compensações necessárias, termos dos artigos 421, 422 e 475 do Código Civil, respeitando-se a função social dos contratos e a boa-fé objetiva. É certo que o contrato firmado entre as partes constitui a expressão da autonomia da vontade dos envolvidos, que livremente pactuam o objeto pretendido, sendo que, pela autonomia da vontade ninguém é obrigado a contratar, mas se o fizer, deve cumprir o acordado, não podendo se esquivar às suas consequências. Os contratos bilaterais geram obrigações para ambos os contratantes, cujas prestações são recíprocas e interdependentes, motivo pelo qual uma das partes pode recusar a sua prestação sob a alegação de que o outro não cumpriu a contraprestação que lhe competia. Quanto à devolução dos valores pagos, verifica-se que a autora, em sua inicial, apresentou planilha apontando que o requerido pagou o montante de R$ 14.231,74. Contudo, também indicou que, sobre esse montante, incidiria dedução de despesas administrativas, tributárias, judiciais e eventuais custos de desocupação e regularização. De acordo com o contrato há a possibilidade da retenção de até 23% dos valores pagos. Com efeito, apesar de ser lícita a estipulação de cláusula que autorize a retenção de parte dos valores, sua incidência não pode, em contratos de consumo, como no presente caso, acarretar desvantagem exagerada ao consumidor, pois tal prática é vedada pelo artigo 51, inciso IV, do Estatuto Protetivo. Dessa forma, o percentual de retenção merece redução, a fim de compatibilizá-lo com o Código de Defesa do Consumidor, cuja medida é, inclusive, facultada ao magistrado no caso de constatação de onerosidade excessiva da estipulação para o promitente comprador e, consequente, enriquecimento sem causa da promitente vendedora. Diante da abusividade da referida cláusula, é cabível a sua revisão, à luz dos princípios que regem a relação de consumo, de forma que não há que falar em intangibilidade da força do pacta sunt servanda, sendo irrelevantes as alegações no sentido de que as cláusulas do contrato eram de amplo conhecimento do contratante e foram livremente pactuadas ou de que a rescisão decorreu de culpa do contratante. Quanto ao valor a ser retido pela promitente vendedora diante da rescisão contratual por inadimplência do promitente comprador, há que se destacar que o percentual não é peremptoriamente de 25%, mas pode variar de 10% a 25% do valor pago, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, vejamos: Súmula 543 do STJ: “Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento." Nesse sentido: “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. REVISÃO DE CONTRATO FINDO. POSSIBILIDADE. PARCELAS PAGAS. RETENÇÃO PARCIAL. CABIMENTO. PERCENTUAL RETIDO. ALTERAÇÃO. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO - PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. VALOR DA INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. DESCABIMENTO. SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA. (...). 3. "A jurisprudência desta Corte tem considerado razoável, em resolução de contrato de compra e venda de imóvel por culpa do comprador, que o percentual de retenção, pelo vendedor, de parte das prestações pagas, seja arbitrado entre 10% e 25%, conforme as circunstâncias de cada caso, avaliando-se os prejuízos suportados" (AgInt no AREsp n. 725.986/RJ, Relator Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 20/6/2017, DJe 29/6/2017). (...)” (STJ - AgInt no AREsp 727.632/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe 02/04/2018) [Destaquei]. Feito esse registro, a resolução da controvérsia submetida a reexame há de ser feita mediante a aferição se as cláusulas do contrato de promessa de compra e venda firmado entre as partes se conformam com a jurisprudência do STJ, no tocante ao percentual da retenção do valor pago – já que não há que se discutir quanto à possibilidade de rescisão contratual por parte do promitente comprador, quando não mais reúne condições econômicas para suportar as prestações assumidas. Consoante pontuado, da leitura das cláusulas contratuais que versam sobre a rescisão do contrato por iniciativa do adquirente, e/ou por iniciativa do promitente vendedor ante o inadimplemento do promissário comprador, infere-se que a requerente teria direito de reter 10% do valor pago. A partir do exposto, conclui-se que a retenção, por parte da autora, do percentual de 10% (dez por cento) dos valores pagos pelo consumidor, afastada a retenção das arras confirmatórias, afigura-se conforme o princípio da razoabilidade e enseja a devida reparação das despesas que experimentara com a celebração das avenças e sua subsequente rescisão. Assim, o percentual de retenção deve observar as circunstâncias de cada caso, respeitado os limites mínimos e máximos. No presente caso, o percentual de 10% dos valores pagos pelo autor, mostra-se suficiente para reparar os gastos suportados pela requerente, referentes às despesas administrativas, impostos e taxas. Por último, a autora pleiteou o pagamento de alugueres no valor de R$ 30,00 (trinta reais) por dia de ocupação. Embora a ocupação sem contraprestação gere enriquecimento ilícito, considerando o longo decurso do processo e a natureza da lide, o valor do aluguel deverá ser fixado em liquidação de sentença, após apuração do período efetivo de ocupação e do valor de mercado da locação, observados critérios de razoabilidade. Ante o exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na presente ação para: a) DECLARAR rescindido o Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de Unidade Imobiliária entabulado entre as partes, devendo a requerente restituir ao requerido os valores pagos, acrescidos de correção monetária pelo INPC, a partir do respectivo desembolso, e juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação, retendo-se o valor equivalente a 10% dos valores pagos. b) FIXAR que eventual valor de locação devido pela ocupação do imóvel, no montante de R$ 30,00 (trinta reais) por dia, deverá ser apurado em liquidação de sentença, considerando-se o período compreendido entre o trânsito em julgado desta decisão e a efetiva desocupação do imóvel. Como a autora decaiu de parte mínima dos pedidos, condeno o requerido ao pagamento das custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios os quais, atento às diretrizes traçadas pelo art. 85, § 2º, do CPC, fixo em 10% sobre o valor da causa. Após o trânsito em julgado, e decorrido o prazo de 30 (trinta) dias úteis sem eventual pedido de cumprimento de sentença, arquive-se com baixa na distribuição. P.I. Cumpra-se. Cuiabá, data da assinatura digital. Alexandre Elias Filho Juiz de Direito

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Maria José Zuicker Da Silva Dias x Paraná Banco S/A

ID: 278886049

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Bauru - 4ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1021936-11.2024.8.26.0071

Data de Disponibilização: 26/05/2025

Polo Ativo:

MARIA JOSé ZUICKER DA SILVA DIAS

Polo Passivo:

PARANá BANCO S/A

Intimação

Advogados:

RENATO MULLER DA SILVA OPICE BLUM

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PABLO BATISTA RÊGO

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ORLANDO DOS SANTOS FILHO

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CAMILLA DO VALE JIMENE

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ADV: Renato Muller da Silva Opice Blum (OAB 138578/SP), Orlando dos Santos Filho (OAB 149675/SP), Camilla do Vale Jimene (OAB 222815/SP), Pablo Batista Rêgo (OAB 38856/GO) Processo 1021936-11.2024.8.… ADV: Renato Muller da Silva Opice Blum (OAB 138578/SP), Orlando dos Santos Filho (OAB 149675/SP), Camilla do Vale Jimene (OAB 222815/SP), Pablo Batista Rêgo (OAB 38856/GO) Processo 1021936-11.2024.8.26.0071 - Procedimento Comum Cível - Reqte: Maria José Zuicker da Silva Dias - Reqdo: Paraná Banco S/A - Vistos. MARIA JOSÉ ZUICKER DA SILVA DIAS, qualificada nos autos, ajuizou ação de declaração de inexistência de débito cumulada com obrigação de fazer e indenização por danos materiais e morais contra PARANÁ BANCO S/A, também qualificado nos autos, alegando, em síntese, que, constatou descontos no benefício previdenciário que recebe, referentes aos empréstimos consignados nº 58006542347-331 e 58014715650-331, averbados em 9 de maio de 2020 e 18 de novembro de 2021, respectivamente, os quais não contraiu e tampouco autorizou qualquer desconto. Requereu a declaração de inexistência dos débitos, a devolução em dobro dos valores descontados e dos que ocorrerem no curso da ação e, ao final, a confirmação da tutela, a declaração de inexigibilidade do instrumento contratual e a condenação do réu a pagar indenização por danos morais sugerida em R$ 10.000,00. Concedida a gratuidade de justiça à autora, o pedido de inversão do ônus da prova foi indeferido por decisão interlocutória que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. Citado, o réu apresentou contestação na qual arguiu as preliminares de advocacia predatória, de conexão, de ausência de interesse processual, de falta de interesse de agir e de inépcia da inicial e, quanto ao mérito, alegou, em resumo, que a contratação é válida, não tendo o réu praticado qualquer ato ilícito, entre outras considerações. Teceu mais alguns comentários e requereu, ao final, a condenação da autora como litigante de má-fé, a extinção do processo sem resolução do mérito ou a improcedência dos pedidos e, no caso de procedência, a compensação de valores. A autora ofereceu réplica e nela rebateu os argumentos contidos na contestação. Em seguida, afastadas a preliminares arguidas, indeferida a produção de provas orais e declarado saneado o processo por decisão interlocutória que também se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela, determinou-se a produção de exame documentoscópio para se verificar a autenticidade ou falsidade do contrato trazido pelo réu, cujo laudo se encontra nos autos, sobrevindo manifestação das partes. É o relatório. Fundamento e decido Trata-se de ação de conhecimento que tramita pelo procedimento comum e que comporta o julgamento no estado em que se encontra, sem a mínima necessidade de produção de provas orais que, ademais, foram indeferidas de forma amplamente fundamentada pela decisão interlocutória de saneamento do processo (páginas 276/281, último parágrafo), publicada em 04 de novembro de 2024 (páginas 284/285), que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. A matéria está suficientemente esclarecida pela perícia realizada nos autos, certo de que nenhuma testemunha, por mais idônea e capacitada que seja, pode infirmar ou seus depoimentos sobreporem-se às conclusões a que chegou o perito judicial, de maneira que o julgamento do processo sem a inquirição de pessoas não configura nenhum cerceamento de defesa. É que fatos e situações suscetíveis de conhecimento especializado, científico ou técnico, não se compaginam com prova oral. A parte irresignada com exame, vistoria, avaliação ou perícia realizada, deve diligenciar por meio de assistente técnico, a produção da prova adequada que não se pode substituir por inquirição de testemunhas ou tomada de depoimento pessoal da parte contrária. A inquirição de testemunhas, como dito, por mais idôneas e capacitadas que sejam, jamais se prestaria para impugnar ou infirmar as conclusões de prova pericial regularmente produzida. Na verdade, a vedação de provar-se com testemunhas contra ou além do conteúdo de laudo pericial funda-se na necessidade de assentarem-se os fatos em prova de natureza mais estável, menos falível e menos infiel do que o depoimento de pessoas (testes, quum de fide tabularum, nihil dicitur, adversus scriptum interrogari non possunt). O art. 442 do Código de Processo Civil de 2015 dispõe que é sempre admissível a inquirição de pessoas sobre fatos, salvo nos casos que só por documentos ou por exame pericial puderem ser provados (CPC/2015, art. 443, II). No caso, diante da regra prevista no art. 443, II, do Código de Processo Civil de 2015, descabe a produção de prova testemunhal, pois o fato só poderia ser provado por perícia, já realizada nos autos e, segundo Moacyr Amaral Santos, Há fatos cuja prova reclama conhecimento especial de técnico (Cód. Proc. Civil, art. 420, parágrafo único), ou seja, reclamam prova por meio de exame pericial. Uma vez que só através desse exame possam ser provados, não se admite a prova testemunhal para substituí-lo (Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Editora Saraiva, 10ª edição, 1985, vol. II, p. 465). A propósito, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já julgou: Prova - Testemunhal - Indeferimento - Fatos que já foram comprovados por perícia e confissão da parte - Artigo 400, incisos I e II, do Código de Processo Civil - Cerceamento de defesa inocorrente - Recurso não provido (JTJ 153/123). O laudo elucidou todos os pontos controvertidos, tendo feito a detalhada análise do que era necessário e apurou que "Diante do exposto neste laudo conclui-se que os documentos digitais apresentados estão devidamente descritos no item Peças de Exame, atribuídos à Sra. Maria José Zuicker da Silva Dias, não cumpriram os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento total e autoria da contratação do serviço em conformidade com a Medida Provisória n.º 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, assim sendo, os documentos digitais NÃO SÃO VÁLIDOS (página 328). E mais: "Devido à ausência desses critérios de segurança para verificação das assinaturas digitais não foi possível atender plenamente aos requisitos de autenticidade, contemporaneidade, quantidade e adequabilidade preconizados pela ciência técnica pericial" (página 322). Deste modo, não sobra dúvida de que a contratação não cumpriu os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento da parte autora, sendo inválidos. A impugnação ao laudo feita pela parte ré revela apenas o natural inconformismo dele que, no entanto, não é suficiente para impor a desconsideração das sólidas conclusões do perito judicial (páginas 339/342). É que Ao perito cabe tão-somente a realização do ato determinado pelo magistrado que o nomeou, limitando-se a responder aos quesitos formulados. A irresignação contra as respostas deve ser ofertada mediante parecer discordante, inviável o debate entre a parte e o louvado. Cabe ao juiz, em sua função jurisdicional, apreciar a suficiência ou insuficiência da instrução do feito e indeferir a produção de provas inúteis, desnecessárias e protelatórias, que só viriam a retardar o desfecho da ação (art. 130 do Código de Processo Civil) (2º TACSP, 3ª Câmara, AI 651.733-00/5, rel. Juiz Cambrea Filho, j. 30.01.2001, JTACSP 187/398). De qualquer forma, no caso específico destes autos, a parte ré critica o laudo do perito judicial por si só, sem qualquer respaldo, não por intermédio de parecer divergente de assistente técnico, o que é inadmissível. O laudo contém ampla, convincente e conclusiva fundamentação, demonstrando com criteriosa parcimônia e sólido amparo técnico-científico as razões pelas quais apontou a conclusão desinteressada. Sendo assim, tendo que em vista que a perícia foi conclusiva se faz necessário reconhecimento da inexigibilidade dos descontos no beneficio previdenciário da parte autora e dos empréstimos consignados realizados. Nesse sentido: "Ação declaratória cumulada com repetição do indébito e indenizatória - Empréstimo consignado - Autora - Contratação - Não reconhecimento - Perícia grafotécnica - Conclusão - Assinatura - Falsificação - Instituição financeira - Negligência - Autora - Quantias pagas - Direito à devolução - Restabelecimento da situação patrimonial - Forma - Observância da modulação dos efeitos no REesp nº 676.608/RS - Compensação entre o que percebido, se o caso, e a condenação imposta ao réu - Possibilidade - Inteligência do art. 368 do Código Civil - Dano moral - Configuração - Autora - Aposentada - Parcelas - Lançamentos - Benefício previdenciário - Verba - Caráter alimentar - Valor indenitário - Sentença - Valor - Arbitramento - Mitigação - Cabimento - Respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade - Art. 8º do CPC. Apelo do réu e recurso adesivo da autora parcialmente providos" (TJSP, 23ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1044603-67.2020.8.26.0576, rel. Des. Tavares de Almeida, j. 20/05/2024). E também: "Declaratória c/c indenizatória Contratos bancários Empréstimos consignados Contratação mediante fraude Falsidade de assinatura Comprovação através de perícia grafotécnica Nulidade dos negócios Reconhecimento Retorno das partes ao 'status quo ante' Devolução dos valores descontados em benefício previdenciário Repetição em dobro Impossibilidade Regra de incidência Artigo 42 do CDC e artigo 940 do Código Civil Requisitos Má-fé Inocorrência Não comprovado dolo ou malícia da instituição financeira Súmula 159 do STF Tese firmada pelo STJ no julgamento do EAREsp nº 676.608/RS Inaplicabilidade Modulação de efeitos Incidência a partir da publicação (30/03/2021) Compensação com a importância creditada na conta da autora Cabimento Artigo 368 do Código Civil Danos morais Não reconhecimento Peculiaridades do caso Inexistência de comprometimento de renda ou de anotação restritiva Parte autora que não demonstra a ocorrência de ato depreciativo, desabonador ou de efetivas consequências na esfera moral Inobservância do artigo 373, inciso I, do CPC Fatos da causa que não ensejam danos extrapatrimoniais Pretensão afastada Sentença reformada Procedência parcial da demanda Sucumbência recíproca caracterizada (artigo 86, 'caput', do CPC). Recurso provido em parte"(TJSP, 18ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1007766-58.2022.8.26.0506, rel. Des. Henrique Rodriguero Clavisio, j. 20/05/2024). A pretensão à devolução em dobro não pode ser acolhida, uma vez que não se vislumbra má-fé da parte ré, assim, para fins de aplicação da sanção do art. 940 do Código Civil de 2002, há necessidade de comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qual tenha plena consciência de que é indevida ou está paga (STJ, Resp 466338-PB, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. 04.11.2003). Quanto ao dano moral é evidente que fraude bancária e débito não autorizado são causas de preocupação, ansiedade, sofrimento, porquanto se debita valores sem causa jurídica ou autorização do beneficiário, além do descaso com a restituição que se impunha desde logo. O dever de indenizar prescinde de demonstração objetiva do abalo moral sofrido, porquanto decorre da experiência comum, exigindo-se como prova apenas o fato ensejador do dano, ou seja, o débito não autorizado no benefício da parte autora. Nesse sentido: Desconto de seguro de vida em conta corrente não contratado pelo autor - Danos morais configurados - O desconto de seguro não reconhecido em conta corrente é causa de dano moral - Dano moral majorado em consonância com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade - Recurso provido - Dano moral - A condenação em valor inferior a indenização por danos morais, não implica em sucumbência recíproca (Súmula 326 do STJ) - Recurso provido - Sucumbência - Honorários advocatícios - Verba honorária majorada para 20% do valor da condenação (art. 20, § 3º, do CPC) - Sentença reformada -Recurso provido" (TJSP, 13ª Câmara de Direito Privado, Ap. 4005806- 96.2013.8.26.0161, rel.Des. Francisco Giaquinto, v. u., j. 06.08.2014). Quanto à indenização, o direito positivo não instituiu especificamente o montante para a reparação da honra e moral violados com a inscrição indevida, portanto, razão pela qual deve ser adotado o montante de R$ 5.000,00, quantia que se mostra razoável para reparar a parte autoar, sem constituir fonte de enriquecimento injusto dela e, ao mesmo tempo, mostra-se suficiente para dissuadir a parte ré de novo e igual atentado contra o direito alheio, pois é bom que se diga que O arbitramento de indenização por dano moral deve pautar-se pela moderação e equitatividade, obedecendo os critérios já proclamados pela jurisprudência dos nossos tribunais (TJDF, 3ª Turma, Ap. 50.868/98, rel. Des. Wellington Medeiros, DJU 23.06.1999, p. 53). E mais: O arbitramento da indenização decorrente de dano moral deve ser feito caso a caso, com bom senso, moderação e razoabilidade, atentando-se à proporcionalidade com relação ao grau de culpa, extensão e repercussão dos danos, à capacidade econômica, características individuais e o conceito social das partes (RT 806/331). Vale lembrar, por fim, que na ação de reparação de danos morais, em que o pedido feito na petição inicial é meramente estimativo ou sugerido, a condenação da parte ré em quantia inferior à pretendida pela parte autora não configura sucumbência recíproca, o que impede a aplicação do art. 86, caput, do Código de Processo Civil. Nesse sentido: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca (STJ, Súmula 326). Indefere-se ainda o pedido formulado pela parte ré, para condenação da parte autora nas sanções por litigância de má fé, pois não se vislumbra que tenha esta atuado com dolo processual neste feito, já que "Para a caracterização do improbus litigator exige-se prova irrefragável do dolo e demonstração de dano processual à parte contrária" (RT 813/314). Por fim, não há que se falar na condenação da parte autora na devolução de eventuais valores depositados na conta bancária dela, até porque essa matéria deveria ter sido alegada em sede de reconvenção, meio adequado para se propor pedido em relação à parte contrária. As demais alegações da parte ré foram refutadas especificamente pela parte autora na réplica, tratando-se de argumentos infundados e de manifesta impertinência para a solução da questão, cujo cerne foi acima abordado. Posto isso, julgo procedentes em parte os pedidos para: a) declarar a inexistência dos débitos e declarar a nulidade dos contratos indicados na petição inicial e determinar a cessação dos descontos no benefício previdenciário da autora que tenham origem nos referidos contratos, no prazo de trinta dias, contados da intimação pessoal do réu, sob pena de multa diária a ser fixada em cumprimento de sentença; b) condenar o réu a devolver os valores descontados indevidamente, inclusive aqueles cobrados após a propositura da ação, até o trânsito em julgado desta, na forma simples, acrescida de correção monetária desde cada desembolso e com juros de mora de 1% ao mês a partir da juntada aos autos do aviso de recebimento de página 171 (28.09.2024), tudo a ser apurado oportunamente mediante simples demonstrativo aritmético; c) condenar o réu a pagar à autora R$ 5.000,00, a título de reparação do dano moral, a ser acrescida de correção monetária a contar desta data (STJ, Súmula 362) e de juros de mora de 1% ao mês, na forma do item anterior; d) diante do decaimento mínimo da autora, condeno o réu a pagar a integralidade das custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da causa, atendidos os requisitos do art. 85, § 2º, I a IV, combinado com o art. 86, parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil de 2015. Se interposta apelação contra esta sentença e também eventual recurso adesivo, como nostermos do Código de Processo Civil de 2015, cabe apenas à instânciaad quemexaminar os requisitos e pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade recursal (art. 1.010, § 3º), providencie a serventia a intimação da parte apelada e/ou da parte recorrente em caráter adesivo pra apresentar, se quiser,as correspondentes contrarrazões, no prazo de quinze dias (art. 1.010, § 1º), sob pena de preclusão e, após, independentemente de nova decisão ou despacho, remeta-se os autos do processo judicial eletrônico (digital) ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Seção de Direito Privado, no prazo e com as cautelas de estilo. P. R. I.

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Processo nº 1010385-49.2024.8.11.0007

ID: 324546755

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1010385-49.2024.8.11.0007

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO NORTE MATO-GROSSENSE E OESTE PARAENSE - SICREDI GRANDES RIOS MT PA AM

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

EDUARDO ALVES MARCAL

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1010385-49.2024.8.11.0007 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários] Relator: Des(a). CLARICE … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1010385-49.2024.8.11.0007 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários] Relator: Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA Turma Julgadora: [DES(A). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, DES(A). MARCIO APARECIDO GUEDES, DES(A). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS] Parte(s): [COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO NORTE MATO-GROSSENSE E OESTE PARAENSE - SICREDI GRANDES RIOS MT PA AM - CNPJ: 37.442.605/0001-42 (APELANTE), EDUARDO ALVES MARCAL - CPF: 902.715.131-87 (ADVOGADO), LUCINEIA ALVES DE SOUZA 46930744115 - CNPJ: 22.004.449/0001-60 (APELADO), MILTON DOS SANTOS SOUZA JUNIOR - CPF: 887.556.651-87 (ADVOGADO), KAROLINA SILVEIRA DOS SANTOS - CPF: 062.265.651-10 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DEU PROVIMENTO AO RECURSO. E M E N T A Direito Civil E Consumidor. Apelação Cível. Ação De Indenização Por Danos Materiais E Morais. Transferências Via Pix. Fortuito Externo. Excludente De Responsabilidade. Ausência De Falha No Serviço Bancário. Improcedência Dos Pedidos. Sentença Reformada. Recurso Provido. I. Caso Em Exame 1. Apelação cível interposta por instituição financeira em virtude da sentença que julgou procedente o pedido de indenização por danos materiais e morais, em razão de transferências não reconhecidas via PIX, determinando a restituição dos valores transferidos e o pagamento de indenização por danos morais. II. Questão Em Discussão 2. A questão em discussão consiste em saber se a instituição financeira responde objetivamente por transações realizadas via PIX, quando comprovado que as operações partiram de dispositivo pessoal e senha cadastrados pelo titular, sem falha sistêmica, considerando a existência de fortuito externo como excludente de responsabilidade. III. Razões De Decidir 3. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras (Súmula 297/STJ). 4. A responsabilidade objetiva das instituições financeiras é afastada pelo fortuito externo, especialmente quando há culpa exclusiva do consumidor, nos termos do art. 14, § 3º, II, do CDC. 5. O conjunto probatório demonstra que as operações foram realizadas em dispositivo cadastrado em nome do titular, mediante senha pessoal, sem indício de violação dos mecanismos de segurança ou falha imputável à instituição financeira. 6. Não comprovada fraude bancária ou falha no sistema de segurança, as operações resultam de fortuito externo, excluindo a responsabilidade da instituição financeira. IV. Dispositivo E Tese 8. Recurso de apelação provido. Pedido inicial julgado improcedente. Tese de julgamento: “O fortuito externo, configurado pela realização de transações financeiras por meio de dispositivo pessoal e senha do titular, sem comprovação de falha no sistema ou de violação dos mecanismos de segurança do banco, constitui excludente de responsabilidade civil da instituição financeira.” Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 3º, II; CPC, arts. 373, I, e 1.010, II, III e IV; CF/1988, art. 5º, XXXV. Jurisprudência relevante citada: Súmula 297/STJ; Súmula 479/STJ; STJ, AgInt no REsp 1914255/AL, Rel. Min. Moura Ribeiro, 3ª Turma, j. 10.05.2021; STJ, AgInt no REsp 2009646/SP, 4ª Turma, j. 24.10.2022; TJMT, Apelação Cível 1002298-09.2023.8.11.0050, Rel. Des. Sebastião de Arruda Almeida, 5ª Câmara de Direito Privado, j. 12.11.2024; TJMT, Apelação Cível 1010770-47.2024.8.11.0055, Rel. Des. Luiz Octavio Oliveira Saboia Ribeiro, 5ª Câmara de Direito Privado, j. 08.06.2025. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO N. 1010385-49.2024.8.11.0007 Trata-se de Recurso de Apelação interposto pela Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI NORTE MT, em virtude da sentença proferida pelo Juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Alta Floresta, nos autos da Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais proposta por Lucineia Alves de Souza, em razão de alegadas transferências não autorizadas via PIX a partir de suas contas, sob a alegação de fraude bancária. O Juiz sentenciante entendeu procedentes os pedidos, reconheceu a ocorrência de falha na prestação do serviço bancário, condenou a Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI NORTE MT à restituição dos valores transferidos via PIX no montante de R$ 14.640,00 (quatorze mil e seiscentos e quarenta reais) e ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), corrigidos e acrescidos de juros de mora. Em suas razões recursais, a Apelante sustenta, em síntese, a inexistência de falha no serviço, alegando que as transações ocorreram a partir do aparelho celular cadastrado pela própria autora, mediante uso regular de Mobile Token e senha pessoal, não se verificando violação de sistema ou participação de terceiro, de modo que não se configura hipótese de responsabilidade objetiva. Afirma que toda a segurança prevista foi regularmente observada e que não houve qualquer irregularidade na autenticação das operações. Ao final, requer o provimento do recurso para reformar integralmente a sentença, julgando improcedentes os pedidos formulados. Em contrarrazões, a Apelada pugna pela manutenção da sentença. É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMA. SR.ª DES.ª CLARICE CLAUDINO DA SILVA (RELATORA) Egrégia Câmara: Lucineia Alves de Souza ajuizou Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais sob o fundamento de que não realizou ou autorizou as transferências bancárias via PIX contestadas nos autos, as quais totalizaram R$ 14.640,00 e teriam sido direcionadas a terceiro desconhecido. Sustenta que jamais efetuou tais operações ou forneceu autorização para que fossem realizadas, razão pela qual pleiteou a restituição integral dos valores transferidos, bem como a condenação da instituição financeira ao pagamento de indenização por danos morais, diante da alegada falha na prestação do serviço bancário. O Juiz a quo reconheceu a falha na prestação do serviço bancário, reputou indevidas as transferências realizadas via PIX e condenou a Cooperativa à restituição integral dos valores transferidos (R$ 14.640,00), bem como ao pagamento de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a título de danos morais. Inconformada, a Ré interpôs este Recurso de Apelação. Desde logo, cumpre destacar que é pacífico o entendimento consubstanciado no Verbete 297 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual, “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Trata-se, pois, de orientação consolidada, que reafirma o compromisso do ordenamento jurídico com a proteção do consumidor, mesmo nas relações envolvendo agentes do sistema financeiro. Impõe-se, de conseguinte, a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do referido diploma legal, ante a verossimilhança das alegações formuladas pelo consumidor e sua notória hipossuficiência técnica e econômica comparado à instituição financeira. A controvérsia posta nos autos reside na apuração da responsabilidade da instituição financeira por supostas transações indevidas via PIX, no montante total de R$ 14.640,00 (quatorze mil e seiscentos e quarenta reais), realizadas nas contas da autora, sob o fundamento de que não teria efetuado ou autorizado as movimentações, alegando ter sido vítima de fraude. No caso, a Apelada sustenta, tanto em sua petição inicial quanto no boletim de ocorrência, que não reconhece as transações impugnadas, afirmando que estas teriam partido de aparelho diverso daquele cadastrado junto à instituição financeira (mencionando especificamente um iPhone 8, ao passo que utiliza um Samsung S10). No entanto, a análise dos registros do sistema apresentados pela instituição financeira demonstra que todas as transações contestadas foram realizadas por meio do aplicativo bancário regularmente instalado no aparelho Samsung Galaxy S10, modelo “SM-G975F”, devidamente cadastrado em nome da própria titular da conta, no caso, a Autora, mediante uso de mobile token e senha pessoal e intransferível, sem qualquer indício de acesso externo ou de substituição fraudulenta do aparelho cadastrado. Ademais, o IP vinculado às operações corresponde à região de domicílio da Autora, afastando qualquer indicativo de acesso remoto por terceiro. Ressalte-se, ainda, que, não obstante a gravidade dos fatos narrados e o alegado uso de dispositivo supostamente estranho à rotina da Autora, não foi apresentada prova técnica autônoma capaz de infirmar as informações trazidas pela instituição financeira, tampouco houve requerimento de produção de prova pericial para elucidar eventual divergência quanto à titularidade ou autenticação do aparelho utilizado nas transações. Ademais, ambas as partes se manifestaram pelo julgamento antecipado da lide, dispensando dilação probatória. Diante desse contexto, reputo suficientemente esclarecida a dinâmica das operações a partir dos elementos constantes dos autos, inexistindo qualquer indício objetivo de falha sistêmica ou de violação dos mecanismos de segurança sob responsabilidade da instituição financeira. É de se registrar que, em situações dessa natureza, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite a responsabilização objetiva das instituições financeiras por fortuito interno, nos termos do Verbete 479 da Súmula do STJ, mas ressalva expressamente a hipótese de culpa exclusiva do consumidor, nos moldes do art. 14, § 3º, II, do CDC. No caso, está evidenciado nos autos que as operações partiram de dispositivo registrado em nome da Autora, por meio de senha pessoal, sem que se identifique falha imputável ao serviço bancário. Destaco que a engenharia social, eventual indução do titular ao erro por terceiros, não caracteriza vício de segurança bancária, quando inexistente acesso indevido ao sistema da instituição financeira. E, na hipótese, inexiste prova de que o sistema do Banco tenha sido burlado ou que a senha pessoal da autora tenha sido obtida por meios ilícitos sem a sua colaboração. Por outro lado, o Banco logrou comprovar a regularidade de suas operações, afastando o nexo de causalidade entre a suposta fraude e eventual conduta omissiva ou comissiva de sua parte. Portanto, não há qualquer ilação lógica ou respaldo jurídico que autorize a conclusão de que houve fraude, de modo que as alegações da parte Autora, ora Apelada, são meramente frágeis e dissociadas do conjunto probatório constante nos autos. Assim, não havendo demonstração de falha no sistema ou violação de mecanismos de segurança sob responsabilidade do Banco, não há falar em dever de indenizar. Colaciono, para reforço da tese, precedentes deste Tribunal: DIREITO CIVIL E CONSUMERISTA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO. GOLPE FINANCEIRO. ENGENHARIA SOCIAL. TRANSFERÊNCIA PIX REALIZADA PELO PRÓPRIO CORRENTISTA. FORTUITO EXTERNO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO. I. Caso em exame 1. Apelação cível interposta por instituição financeira contra sentença que julgou procedente pedido de declaração de nulidade de contrato de empréstimo, restituição de valores e indenização por danos morais, decorrentes de fraude conhecida como "golpe da falsa central de atendimento", em que a consumidora, induzida por terceiro que se apresentou como preposto do banco, forneceu suas credenciais bancárias e realizou transferência via PIX no valor de R$ 5.700,00. II. Questão em discussão 2. A questão em discussão consiste em verificar a responsabilidade civil da instituição financeira pelos danos materiais e morais suportados pela consumidora em decorrência de empréstimo e transações bancárias realizadas mediante fraude perpetrada por terceiros através do chamado "golpe da falsa central de atendimento", especificamente: (i) se houve falha no dever de segurança por parte do banco, caracterizando fortuito interno abrangido pela Súmula 479 do STJ; ou (ii) se o caso configura hipótese de culpa exclusiva da consumidora ou de terceiros, caracterizando fortuito externo. III. Razões de decidir 3. A relação jurídica entabulada entre as partes se reveste das características típicas das relações de consumo, atraindo a incidência do art. 14 do CDC, que estabelece responsabilidade objetiva do fornecedor, com exceções previstas nos incisos I e II do § 3º do mesmo dispositivo. 4. O "golpe da falsa central de atendimento" praticado contra a consumidora envolveu spoofing telefônico, técnicas de engenharia social e manipulação psicológica, sem que houvesse qualquer falha no sistema de segurança da instituição financeira ou violação nos mecanismos de proteção de dados. 5. Diferentemente dos casos típicos de fraude bancária amparados pela Súmula 479 do STJ, não ocorreu clonagem de cartão, violação de sistema ou vazamento de dados, mas sim fornecimento voluntário de credenciais e realização de transferência por iniciativa da própria consumidora, através de seu dispositivo pessoal. 6. A solicitação de transferência via PIX como requisito para suposto bloqueio de transações ou estorno de valores configura prática evidentemente estranha aos protocolos bancários, devendo despertar cautela de um correntista minimamente diligente. 7. Conforme jurisprudência do STJ e da 5ª Câmara de Direito Privado do TJMT, o fornecimento voluntário de dados bancários e senhas pessoais pelo correntista a terceiros configura culpa exclusiva da vítima, atraindo a aplicação da excludente de responsabilidade prevista no art. 14, §3º, II, do CDC. IV. Dispositivo e tese 8. Recurso de apelação conhecido e provido para julgar improcedentes todos os pedidos formulados na inicial. Recurso adesivo da autora prejudicado. Tese de julgamento: "Em casos de fraude denominada 'golpe da falsa central de atendimento', praticada exclusivamente por meio de engenharia social, sem violação dos sistemas de segurança da instituição financeira, afasta-se a responsabilidade civil do banco quando o próprio consumidor, voluntariamente, fornece suas credenciais e realiza transferências bancárias, configurando fortuito externo." Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, §3º, I e II; CC, art. 389. Jurisprudência relevante citada: Súmula 479/STJ; STJ, AgInt no REsp 1914255/AL, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, j. 10/05/2021; STJ, AgInt no REsp 2009646/SP, Quarta Turma, j. 24/10/2022; TJ-MT, Apelação Cível 10022980920238110050, Rel. Des. Sebastião de Arruda Almeida, Quinta Câmara de Direito Privado, j. 12/11/2024. (TJMT, Quinta Câmara de Direito Privado, Apelação 1010770-47.2024.8.11.0055, relator Desembargador Luiz Octavio Oliveira Saboia Ribeiro, Julgado em 08/06/2025, publicado no DJE 08/06/2025). [...] II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO A controvérsia gira em torno de saber se há responsabilidade da instituição financeira pelos prejuízos sofridos pelo Apelante. III. RAZÕES DE DECIDIR A responsabilidade objetiva das instituições financeiras por danos gerados por fraudes e delitos praticados por terceiros é prevista na Súmula 479 do STJ. A responsabilidade civil objetiva do banco pode ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. No caso em apreço, houve demonstração de que as transferências do valor ao PIX fornecido pelos fraudadores, foi mediante utilização de login e senha do consumidor. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso desprovido. Tese de julgamento: "A responsabilidade civil objetiva do banco nos casos de golpe pix pode ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. Constatada que a transação efetuada foi realizada pelo próprio consumidor mediante utilização do seu dispositivo pessoal e senha de segurança, não há que se falar em responsabilidade da instituição financeira." Dispositivo relevante citado: Código de Processo Civil, 373, I e art. 1.010, incisos II, III e IV, do Código de Processo Civil; CF/88, art. 5º, XXXV. Jurisprudência relevante citada: TJMT, 1000131-88.2022.8.11.0006 e 1000388-28.2023.8.11.0023. (TJMT, Quinta Câmara de Direito Privado, apelação 1007766-49.2024.8.11.0007, relator Desembargador Sebastiao De Arruda Almeida, Julgado em 31/05/2025, publicado no DJE 31/05/2025). Pelo exposto, dou provimento ao Apelo interposto pela Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI Norte MT e julgo improcedentes os pedidos iniciais. Por fim, inverto o ônus sucumbencial e condeno a Apelada ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 12% (doze por cento) sobre o valor da condenação, com a ressalva de que a exigibilidade está suspensa vez que é beneficiária da justiça gratuita (art. 98, § 3.º, do CPC). Não há falar em majoração de honorários (art. 85, § 11, CPC), diante do provimento do Recurso. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 08/07/2025

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Processo nº 1010385-49.2024.8.11.0007

ID: 324546757

Tribunal: TJMT Órgão: Primeira Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 1010385-49.2024.8.11.0007

Data de Disponibilização: 14/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

LUCINEIA ALVES DE SOUZA 46930744115

Acórdão

Advogados:

MILTON DOS SANTOS SOUZA JUNIOR

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

KAROLINA SILVEIRA DOS SANTOS

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1010385-49.2024.8.11.0007 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários] Relator: Des(a). CLARICE … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO Número Único: 1010385-49.2024.8.11.0007 Classe: APELAÇÃO CÍVEL (198) Assunto: [Contratos Bancários] Relator: Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA Turma Julgadora: [DES(A). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, DES(A). MARCIO APARECIDO GUEDES, DES(A). SEBASTIAO BARBOSA FARIAS] Parte(s): [COOPERATIVA DE CREDITO, POUPANCA E INVESTIMENTO NORTE MATO-GROSSENSE E OESTE PARAENSE - SICREDI GRANDES RIOS MT PA AM - CNPJ: 37.442.605/0001-42 (APELANTE), EDUARDO ALVES MARCAL - CPF: 902.715.131-87 (ADVOGADO), LUCINEIA ALVES DE SOUZA 46930744115 - CNPJ: 22.004.449/0001-60 (APELADO), MILTON DOS SANTOS SOUZA JUNIOR - CPF: 887.556.651-87 (ADVOGADO), KAROLINA SILVEIRA DOS SANTOS - CPF: 062.265.651-10 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). CLARICE CLAUDINO DA SILVA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DEU PROVIMENTO AO RECURSO. E M E N T A Direito Civil E Consumidor. Apelação Cível. Ação De Indenização Por Danos Materiais E Morais. Transferências Via Pix. Fortuito Externo. Excludente De Responsabilidade. Ausência De Falha No Serviço Bancário. Improcedência Dos Pedidos. Sentença Reformada. Recurso Provido. I. Caso Em Exame 1. Apelação cível interposta por instituição financeira em virtude da sentença que julgou procedente o pedido de indenização por danos materiais e morais, em razão de transferências não reconhecidas via PIX, determinando a restituição dos valores transferidos e o pagamento de indenização por danos morais. II. Questão Em Discussão 2. A questão em discussão consiste em saber se a instituição financeira responde objetivamente por transações realizadas via PIX, quando comprovado que as operações partiram de dispositivo pessoal e senha cadastrados pelo titular, sem falha sistêmica, considerando a existência de fortuito externo como excludente de responsabilidade. III. Razões De Decidir 3. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras (Súmula 297/STJ). 4. A responsabilidade objetiva das instituições financeiras é afastada pelo fortuito externo, especialmente quando há culpa exclusiva do consumidor, nos termos do art. 14, § 3º, II, do CDC. 5. O conjunto probatório demonstra que as operações foram realizadas em dispositivo cadastrado em nome do titular, mediante senha pessoal, sem indício de violação dos mecanismos de segurança ou falha imputável à instituição financeira. 6. Não comprovada fraude bancária ou falha no sistema de segurança, as operações resultam de fortuito externo, excluindo a responsabilidade da instituição financeira. IV. Dispositivo E Tese 8. Recurso de apelação provido. Pedido inicial julgado improcedente. Tese de julgamento: “O fortuito externo, configurado pela realização de transações financeiras por meio de dispositivo pessoal e senha do titular, sem comprovação de falha no sistema ou de violação dos mecanismos de segurança do banco, constitui excludente de responsabilidade civil da instituição financeira.” Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, § 3º, II; CPC, arts. 373, I, e 1.010, II, III e IV; CF/1988, art. 5º, XXXV. Jurisprudência relevante citada: Súmula 297/STJ; Súmula 479/STJ; STJ, AgInt no REsp 1914255/AL, Rel. Min. Moura Ribeiro, 3ª Turma, j. 10.05.2021; STJ, AgInt no REsp 2009646/SP, 4ª Turma, j. 24.10.2022; TJMT, Apelação Cível 1002298-09.2023.8.11.0050, Rel. Des. Sebastião de Arruda Almeida, 5ª Câmara de Direito Privado, j. 12.11.2024; TJMT, Apelação Cível 1010770-47.2024.8.11.0055, Rel. Des. Luiz Octavio Oliveira Saboia Ribeiro, 5ª Câmara de Direito Privado, j. 08.06.2025. R E L A T Ó R I O RECURSO DE APELAÇÃO N. 1010385-49.2024.8.11.0007 Trata-se de Recurso de Apelação interposto pela Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI NORTE MT, em virtude da sentença proferida pelo Juiz da 3ª Vara Cível da Comarca de Alta Floresta, nos autos da Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais proposta por Lucineia Alves de Souza, em razão de alegadas transferências não autorizadas via PIX a partir de suas contas, sob a alegação de fraude bancária. O Juiz sentenciante entendeu procedentes os pedidos, reconheceu a ocorrência de falha na prestação do serviço bancário, condenou a Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI NORTE MT à restituição dos valores transferidos via PIX no montante de R$ 14.640,00 (quatorze mil e seiscentos e quarenta reais) e ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), corrigidos e acrescidos de juros de mora. Em suas razões recursais, a Apelante sustenta, em síntese, a inexistência de falha no serviço, alegando que as transações ocorreram a partir do aparelho celular cadastrado pela própria autora, mediante uso regular de Mobile Token e senha pessoal, não se verificando violação de sistema ou participação de terceiro, de modo que não se configura hipótese de responsabilidade objetiva. Afirma que toda a segurança prevista foi regularmente observada e que não houve qualquer irregularidade na autenticação das operações. Ao final, requer o provimento do recurso para reformar integralmente a sentença, julgando improcedentes os pedidos formulados. Em contrarrazões, a Apelada pugna pela manutenção da sentença. É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMA. SR.ª DES.ª CLARICE CLAUDINO DA SILVA (RELATORA) Egrégia Câmara: Lucineia Alves de Souza ajuizou Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais sob o fundamento de que não realizou ou autorizou as transferências bancárias via PIX contestadas nos autos, as quais totalizaram R$ 14.640,00 e teriam sido direcionadas a terceiro desconhecido. Sustenta que jamais efetuou tais operações ou forneceu autorização para que fossem realizadas, razão pela qual pleiteou a restituição integral dos valores transferidos, bem como a condenação da instituição financeira ao pagamento de indenização por danos morais, diante da alegada falha na prestação do serviço bancário. O Juiz a quo reconheceu a falha na prestação do serviço bancário, reputou indevidas as transferências realizadas via PIX e condenou a Cooperativa à restituição integral dos valores transferidos (R$ 14.640,00), bem como ao pagamento de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a título de danos morais. Inconformada, a Ré interpôs este Recurso de Apelação. Desde logo, cumpre destacar que é pacífico o entendimento consubstanciado no Verbete 297 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual, “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Trata-se, pois, de orientação consolidada, que reafirma o compromisso do ordenamento jurídico com a proteção do consumidor, mesmo nas relações envolvendo agentes do sistema financeiro. Impõe-se, de conseguinte, a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do referido diploma legal, ante a verossimilhança das alegações formuladas pelo consumidor e sua notória hipossuficiência técnica e econômica comparado à instituição financeira. A controvérsia posta nos autos reside na apuração da responsabilidade da instituição financeira por supostas transações indevidas via PIX, no montante total de R$ 14.640,00 (quatorze mil e seiscentos e quarenta reais), realizadas nas contas da autora, sob o fundamento de que não teria efetuado ou autorizado as movimentações, alegando ter sido vítima de fraude. No caso, a Apelada sustenta, tanto em sua petição inicial quanto no boletim de ocorrência, que não reconhece as transações impugnadas, afirmando que estas teriam partido de aparelho diverso daquele cadastrado junto à instituição financeira (mencionando especificamente um iPhone 8, ao passo que utiliza um Samsung S10). No entanto, a análise dos registros do sistema apresentados pela instituição financeira demonstra que todas as transações contestadas foram realizadas por meio do aplicativo bancário regularmente instalado no aparelho Samsung Galaxy S10, modelo “SM-G975F”, devidamente cadastrado em nome da própria titular da conta, no caso, a Autora, mediante uso de mobile token e senha pessoal e intransferível, sem qualquer indício de acesso externo ou de substituição fraudulenta do aparelho cadastrado. Ademais, o IP vinculado às operações corresponde à região de domicílio da Autora, afastando qualquer indicativo de acesso remoto por terceiro. Ressalte-se, ainda, que, não obstante a gravidade dos fatos narrados e o alegado uso de dispositivo supostamente estranho à rotina da Autora, não foi apresentada prova técnica autônoma capaz de infirmar as informações trazidas pela instituição financeira, tampouco houve requerimento de produção de prova pericial para elucidar eventual divergência quanto à titularidade ou autenticação do aparelho utilizado nas transações. Ademais, ambas as partes se manifestaram pelo julgamento antecipado da lide, dispensando dilação probatória. Diante desse contexto, reputo suficientemente esclarecida a dinâmica das operações a partir dos elementos constantes dos autos, inexistindo qualquer indício objetivo de falha sistêmica ou de violação dos mecanismos de segurança sob responsabilidade da instituição financeira. É de se registrar que, em situações dessa natureza, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite a responsabilização objetiva das instituições financeiras por fortuito interno, nos termos do Verbete 479 da Súmula do STJ, mas ressalva expressamente a hipótese de culpa exclusiva do consumidor, nos moldes do art. 14, § 3º, II, do CDC. No caso, está evidenciado nos autos que as operações partiram de dispositivo registrado em nome da Autora, por meio de senha pessoal, sem que se identifique falha imputável ao serviço bancário. Destaco que a engenharia social, eventual indução do titular ao erro por terceiros, não caracteriza vício de segurança bancária, quando inexistente acesso indevido ao sistema da instituição financeira. E, na hipótese, inexiste prova de que o sistema do Banco tenha sido burlado ou que a senha pessoal da autora tenha sido obtida por meios ilícitos sem a sua colaboração. Por outro lado, o Banco logrou comprovar a regularidade de suas operações, afastando o nexo de causalidade entre a suposta fraude e eventual conduta omissiva ou comissiva de sua parte. Portanto, não há qualquer ilação lógica ou respaldo jurídico que autorize a conclusão de que houve fraude, de modo que as alegações da parte Autora, ora Apelada, são meramente frágeis e dissociadas do conjunto probatório constante nos autos. Assim, não havendo demonstração de falha no sistema ou violação de mecanismos de segurança sob responsabilidade do Banco, não há falar em dever de indenizar. Colaciono, para reforço da tese, precedentes deste Tribunal: DIREITO CIVIL E CONSUMERISTA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO. GOLPE FINANCEIRO. ENGENHARIA SOCIAL. TRANSFERÊNCIA PIX REALIZADA PELO PRÓPRIO CORRENTISTA. FORTUITO EXTERNO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO. I. Caso em exame 1. Apelação cível interposta por instituição financeira contra sentença que julgou procedente pedido de declaração de nulidade de contrato de empréstimo, restituição de valores e indenização por danos morais, decorrentes de fraude conhecida como "golpe da falsa central de atendimento", em que a consumidora, induzida por terceiro que se apresentou como preposto do banco, forneceu suas credenciais bancárias e realizou transferência via PIX no valor de R$ 5.700,00. II. Questão em discussão 2. A questão em discussão consiste em verificar a responsabilidade civil da instituição financeira pelos danos materiais e morais suportados pela consumidora em decorrência de empréstimo e transações bancárias realizadas mediante fraude perpetrada por terceiros através do chamado "golpe da falsa central de atendimento", especificamente: (i) se houve falha no dever de segurança por parte do banco, caracterizando fortuito interno abrangido pela Súmula 479 do STJ; ou (ii) se o caso configura hipótese de culpa exclusiva da consumidora ou de terceiros, caracterizando fortuito externo. III. Razões de decidir 3. A relação jurídica entabulada entre as partes se reveste das características típicas das relações de consumo, atraindo a incidência do art. 14 do CDC, que estabelece responsabilidade objetiva do fornecedor, com exceções previstas nos incisos I e II do § 3º do mesmo dispositivo. 4. O "golpe da falsa central de atendimento" praticado contra a consumidora envolveu spoofing telefônico, técnicas de engenharia social e manipulação psicológica, sem que houvesse qualquer falha no sistema de segurança da instituição financeira ou violação nos mecanismos de proteção de dados. 5. Diferentemente dos casos típicos de fraude bancária amparados pela Súmula 479 do STJ, não ocorreu clonagem de cartão, violação de sistema ou vazamento de dados, mas sim fornecimento voluntário de credenciais e realização de transferência por iniciativa da própria consumidora, através de seu dispositivo pessoal. 6. A solicitação de transferência via PIX como requisito para suposto bloqueio de transações ou estorno de valores configura prática evidentemente estranha aos protocolos bancários, devendo despertar cautela de um correntista minimamente diligente. 7. Conforme jurisprudência do STJ e da 5ª Câmara de Direito Privado do TJMT, o fornecimento voluntário de dados bancários e senhas pessoais pelo correntista a terceiros configura culpa exclusiva da vítima, atraindo a aplicação da excludente de responsabilidade prevista no art. 14, §3º, II, do CDC. IV. Dispositivo e tese 8. Recurso de apelação conhecido e provido para julgar improcedentes todos os pedidos formulados na inicial. Recurso adesivo da autora prejudicado. Tese de julgamento: "Em casos de fraude denominada 'golpe da falsa central de atendimento', praticada exclusivamente por meio de engenharia social, sem violação dos sistemas de segurança da instituição financeira, afasta-se a responsabilidade civil do banco quando o próprio consumidor, voluntariamente, fornece suas credenciais e realiza transferências bancárias, configurando fortuito externo." Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 14, §3º, I e II; CC, art. 389. Jurisprudência relevante citada: Súmula 479/STJ; STJ, AgInt no REsp 1914255/AL, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, j. 10/05/2021; STJ, AgInt no REsp 2009646/SP, Quarta Turma, j. 24/10/2022; TJ-MT, Apelação Cível 10022980920238110050, Rel. Des. Sebastião de Arruda Almeida, Quinta Câmara de Direito Privado, j. 12/11/2024. (TJMT, Quinta Câmara de Direito Privado, Apelação 1010770-47.2024.8.11.0055, relator Desembargador Luiz Octavio Oliveira Saboia Ribeiro, Julgado em 08/06/2025, publicado no DJE 08/06/2025). [...] II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO A controvérsia gira em torno de saber se há responsabilidade da instituição financeira pelos prejuízos sofridos pelo Apelante. III. RAZÕES DE DECIDIR A responsabilidade objetiva das instituições financeiras por danos gerados por fraudes e delitos praticados por terceiros é prevista na Súmula 479 do STJ. A responsabilidade civil objetiva do banco pode ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. No caso em apreço, houve demonstração de que as transferências do valor ao PIX fornecido pelos fraudadores, foi mediante utilização de login e senha do consumidor. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso desprovido. Tese de julgamento: "A responsabilidade civil objetiva do banco nos casos de golpe pix pode ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. Constatada que a transação efetuada foi realizada pelo próprio consumidor mediante utilização do seu dispositivo pessoal e senha de segurança, não há que se falar em responsabilidade da instituição financeira." Dispositivo relevante citado: Código de Processo Civil, 373, I e art. 1.010, incisos II, III e IV, do Código de Processo Civil; CF/88, art. 5º, XXXV. Jurisprudência relevante citada: TJMT, 1000131-88.2022.8.11.0006 e 1000388-28.2023.8.11.0023. (TJMT, Quinta Câmara de Direito Privado, apelação 1007766-49.2024.8.11.0007, relator Desembargador Sebastiao De Arruda Almeida, Julgado em 31/05/2025, publicado no DJE 31/05/2025). Pelo exposto, dou provimento ao Apelo interposto pela Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de Associados Norte Mato-Grossense – SICREDI Norte MT e julgo improcedentes os pedidos iniciais. Por fim, inverto o ônus sucumbencial e condeno a Apelada ao pagamento das custas e honorários advocatícios que fixo em 12% (doze por cento) sobre o valor da condenação, com a ressalva de que a exigibilidade está suspensa vez que é beneficiária da justiça gratuita (art. 98, § 3.º, do CPC). Não há falar em majoração de honorários (art. 85, § 11, CPC), diante do provimento do Recurso. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 08/07/2025

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Maria Aparecida Pereira De Souza x Banco Bmg S/A

ID: 298561846

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Bauru - 4ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1019083-29.2024.8.26.0071

Data de Disponibilização: 13/06/2025

Polo Ativo:

MARIA APARECIDA PEREIRA DE SOUZA

Polo Passivo:

BANCO BMG S/A

Intimação

Advogados:

SILVANIO AMELIO MARQUES

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HENRIQUE JOSÉ PARADA SIMÃO

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GLAUCO GOMES MADUREIRA

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Processo 1019083-29.2024.8.26.0071 - Procedimento Comum Cível - Bancários - Maria Aparecida Pereira de Souza - BANCO BMG S/A - Vistos. MARIA APARECIDA PEREIRA DE SOUZA, qualificada nos autos, ajuiz… Processo 1019083-29.2024.8.26.0071 - Procedimento Comum Cível - Bancários - Maria Aparecida Pereira de Souza - BANCO BMG S/A - Vistos. MARIA APARECIDA PEREIRA DE SOUZA, qualificada nos autos, ajuizou ação de declaratória cumulada com pedido de repetição de indébito e indenização por danos morais contra BANCO BMG S/A, também qualificado nos autos, alegando, em síntese, que não contratou com a réu empréstimo sobre cartão de crédito consignável. Discorreu sobre o abuso deste, requereu a declaração de ilegalidade do contrato firmado entre as partes ou subsidiariamente, caso comprovada a contratação, a conversão do contrato de cartão de crédito consignado (RMC) em empréstimo consignado segundo as taxas médias praticadas na época da disponibilização do crédito para essa modalidade de operação, com abatimento dos valores cobrados pelo pagamento mínimo do cartão de crédito em relação ao valor emprestado. Requereu ainda a condenação do réu à repetição do indébito em dobro e ao pagamento de indenização por danos morais, indicada a quantia de R$ 10.000,00. O pedido de inversão do ônus da prova foi indeferido e a gratuidade de justiça concedida por decisão interlocutória que se tomou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. Emendada a petição inicial, corrigiu-se o valor da causa. Citado, o réu apresentou contestação na qual impugnou a gratuidade da justiça concedida ao autor, arguiu preliminar de inépcia da inicial e prejudicial de mérito pela ocorrência da prescrição e decadência e, quanto ao mérito, alegou, em resumo, que a Reserva de margem Consignável (RMC) advém da solicitação de cartão consignado e que o contrato foi firmado diretamente pela autora, não tendo praticando qualquer ato ilícito. Teceu outras considerações. Requereu, ao final, a improcedência dos pedidos. A autora, em seguida, ofereceu réplica à contestação. Em seguida, rejeitas as preliminares, a impugnação e a produção de provas orais, declarado saneado o processo por decisão interlocutória que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela, durante a fase de instrução foi produzida prova pericial, cujo laudo se encontra nos autos, sobrevindo manifestação das partes. É o relatório. Fundamento e decido, Trata-se de ação de conhecimento que tramita pelo procedimento comum e que comporta o julgamento no estado em que se encontra, sem a mínima necessidade de produção de provas orais que, ademais, foram indeferidas de forma amplamente fundamentada pela decisão interlocutória de saneamento do processo (páginas 461/468, último parágrafo), publicada em 11 de setembro de 2024 (páginas 472/474), que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. A matéria está suficientemente esclarecida pela perícia realizada nos autos, certo que nenhuma testemunha, por mais idônea e capacitada que seja, pode infirmar ou seus depoimentos sobreporem-se às conclusões a que chegou o perito judicial, de maneira que o julgamento do processo sem a inquirição de pessoas não configura nenhum cerceamento de defesa. É que fatos e situações suscetíveis de conhecimento especializado, científico ou técnico, não se compaginam com prova oral. A parte irresignada com exame, vistoria, avaliação ou perícia realizada, deve diligenciar por meio de assistente técnico, a produção da prova adequada que não se pode substituir por inquirição de testemunhas ou tomada de depoimento pessoal da parte contrária. A inquirição de testemunhas, como dito, por mais idôneas e capacitadas que sejam, jamais se prestaria para impugnar ou infirmar as conclusões de prova pericial regularmente produzida. Na verdade, a vedação de provar-se com testemunhas contra ou além do conteúdo de laudo pericial funda-se na necessidade de assentarem-se os fatos em prova de natureza mais estável, menos falível e menos infiel do que o depoimento de pessoas (testes, quum de fide tabularum, nihil dicitur, adversus scriptum interrogari non possunt). O art. 442 do Código de Processo Civil de 2015 dispõe que é sempre admissível a inquirição de pessoas sobre fatos, salvo nos casos que só por documentos ou por exame pericial puderem ser provados (CPC/2015, art. 443, II). No caso, diante da regra prevista no art. 443, II, do Código de Processo Civil de 2015, descabe a produção de prova testemunhal, pois o fato só poderia ser provado por perícia, já realizada nos autos e, segundo Moacyr Amaral Santos, Há fatos cuja prova reclama conhecimento especial de técnico (Cód. Proc. Civil, art. 420, parágrafo único), ou seja, reclamam prova por meio de exame pericial. Uma vez que só através desse exame possam ser provados, não se admite a prova testemunhal para substituí-lo (Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Editora Saraiva, 10ª edição, 1985, vol. II, p. 465). A propósito, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já julgou: Prova - Testemunhal - Indeferimento - Fatos que já foram comprovados por perícia e confissão da parte - Artigo 400, incisos I e II, do Código de Processo Civil - Cerceamento de defesa inocorrente - Recurso não provido (JTJ 153/123). O laudo de páginas 884/891 elucidou todos os pontos controvertidos, fez detalhada análise do que era necessário e apurou que os documentos digitais apresentados não são válidos: "Diante do exposto neste laudo conclui-se que os documentos digitais apresentados devidamente descritos no item Peças de Exame, atribuídos a Sra. Maria Aparecida Pereira de Souza, não cumpriram os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento total e autoria da contratação do serviço em conformidade com a Medida Provisória n.º 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, assim sendo, os documentos digitais NÃO SÃO VÁLIDOS" (página 891). Deste modo, não sobra dúvida de que a contratação não cumpriu os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento da parte autora, sendo inválidos. O réu nem sequer impugnou o laudo (página 900) e, ainda que tivesse, revelaria apenas o natural inconformismo dele que, no entanto, não é suficiente para impor a desconsideração das sólidas conclusões do perito judicial. O laudo contém ampla, convincente e conclusiva fundamentação, demonstrando com criteriosa parcimônia e sólido amparo técnico-científico as razões pelas quais apontou a conclusão desinteressada. Sendo assim, tendo que em vista que a perícia foi conclusiva se faz necessário reconhecimento da inexigibilidade dos descontos no benefício previdenciário da parte autora. Nesse sentido: "Ação declaratória cumulada com repetição do indébito e indenizatória - Empréstimo consignado - Autora - Contratação - Não reconhecimento - Perícia grafotécnica - Conclusão - Assinatura - Falsificação - Instituição financeira - Negligência - Autora - Quantias pagas - Direito à devolução - Restabelecimento da situação patrimonial - Forma - Observância da modulação dos efeitos no REesp nº 676.608/RS - Compensação entre o que percebido, se o caso, e a condenação imposta ao réu - Possibilidade - Inteligência do art. 368 do Código Civil - Dano moral - Configuração - Autora - Aposentada - Parcelas - Lançamentos - Benefício previdenciário - Verba - Caráter alimentar Valor indenitário - Sentença - Valor - Arbitramento - Mitigação - Cabimento - Respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade - Art. 8º do CPC. Apelo do réu e recurso adesivo da autora parcialmente providos" (TJSP, 23ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1044603-67.2020.8.26.0576, rel. Des. Tavares de Almeida, j. 20/05/2024). E também: "Declaratória c/c indenizatória Empréstimos consignados Contratação mediante fraude Contratos bancários Falsidade de assinatura Comprovação através de perícia grafotécnica Nulidade dos negócios Reconhecimento Retorno das partes ao 'status quo ante' Devolução dos valores descontados em benefício previdenciário Repetição em dobro Impossibilidade Regra de incidência Artigo 42 do CDC e artigo 940 do Código Civil Requisitos Má-fé Inocorrência Não comprovado dolo ou malícia da instituição financeira Súmula 159 do STF Tese firmada pelo STJ no julgamento do EAREsp nº 676.608/RS Inaplicabilidade Modulação de efeitos Incidência a partir da publicação (30/03/2021) Compensação com a importância creditada na conta da autora Cabimento Artigo 368 do Código Civil Danos morais Não reconhecimento Peculiaridades do caso Inexistência de comprometimento de renda ou de anotação restritiva Parte autora que não demonstra a ocorrência de ato depreciativo, desabonador ou de efetivas consequências na esfera moral Inobservância do artigo 373, inciso I, do CPC Fatos da causa que não ensejam danos extrapatrimoniais Pretensão afastada Sentença reformada Procedência parcial da demanda Sucumbência recíproca caracterizada (artigo 86, caput, do CPC). Recurso provido em parte" (TJSP, 18ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1007766-58.2022.8.26.0506, rel. Des. Henrique Rodriguero Clavisio, j. 20/05/2024). No caso dos autos, a responsabilidade do réu decorre do risco da própria atividade, risco consagrado também pela doutrina para assegurar a reparação de prejuízos que possa causar aos usuários dos serviços dele. E ainda que a culpa tenha sido de terceiro que de alguma forma adulterou o contrato, isso não afastaria a responsabilidade objetiva do réu pelos danos causados no âmbito das respectivas operações, entendimento esse pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça com a edição da Súmula 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Se a instituição financeira disponibiliza um serviço, mas não é capaz de garantir a devida segurança aos consumidores que desse serviço se beneficiam, deve arcar com eventuais danos dele decorrentes. Verifica-se relação tipicamente consumerista, sendo aplicável, o quanto dispõe a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme entendimento já pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça por meio da Súmula 297. Dessa forma, a responsabilidade da instituição financeira pela reparação de eventuais danos ocorridos independe de comprovação de culpa, exigindo apenas o defeito na prestação do serviço, o dano e o nexo causal entre eles, conforme disposto no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. O réu não comprovou que o serviço prestado fora feito de forma adequada e que a autora fora responsável pela transação mal-sucedida. Evidente, pois, que houve falha na prestação de serviço pela ré e que em decorrência houve lesão à honra subjetiva da parte autora. Ainda: ''Segurança de autenticidade por senha e token: durante a análise do fluxo de contratação, observamos que foram aplicados poucos critérios de segurança que garantisse a autoria e o total conhecimento das cláusulas contratadas.'' (página 702). Como escreve Wendell Lopes Barbosa de Souza, o risco de ter que arcar com a indenização pela abertura de uma conta fraudulenta deve ser suportado por quem enriquece com a abertura de milhares de outras contas regulares. Quem aufere o bônus, deve arcar com o ônus. E, como é cediço, esse risco já está devidamente contabilizado e inserido nas taxas que a instituição financeira cobra dos seus clientes honestos, de tal forma que nem a ínfima quantia arbitrada a título de danos morais para as vítimas de fraudes é sentida pelos bancos (A Responsabilidade Civil Objetiva Fundada na Atividade de Risco, Editora Atlas, 2010, p. 135). Nesse sentido: Indenização por dano moral e material - Contratação, por terceiro, de crédito consignado em nome do autor, vindo a ocorrer indevidos descontos em sua aposentadoria - Culpa da instituição bancária bem caracterizada, por ausente o cuidado na averiguação da documentação apresentada - Indenização por danos morais devida e materiais devida - Adoção dos fundamentos da sentença, em razão do permissivo do artigo 252 do Regimento Interno desta Egrégia Corte - Sentença mantida - Recurso desprovido" (TJSP, 5ª Câmara de Direito Privado, Ap. 0002973-66.2009.8.26.0242, rel. Des. A. C. Mathias Coltro, j. 06.07.2011). Quanto à indenização, o direito positivo não instituiu especificamente o montante para a reparação da honra e moral violados com a situação ocorrida, portanto, razão pela qual deve ser adotado o montante de R$ 4.000,00, quantia que se mostra razoável para reparar a autora, sem constituir fonte de enriquecimento injusto dela e, ao mesmo tempo, mostra-se suficiente para dissuadir o réu de novo e igual atentado contra o direito alheio, pois é bom que se diga que O arbitramento de indenização por dano moral deve pautar-se pela moderação e equitatividade, obedecendo os critérios já proclamados pela jurisprudência dos nossos tribunais (TJDF, 3ª Turma, Ap. 50.868/98, rel. Des. Wellington Medeiros, DJU 23.06.1999, p. 53). E mais: O arbitramento da indenização decorrente de dano moral deve ser feito caso a caso, com bom senso, moderação e razoabilidade, atentando-se à proporcionalidade com relação ao grau de culpa, extensão e repercussão dos danos, à capacidade econômica, características individuais e o conceito social das partes (RT 806/331). Vale lembrar, por fim, que na ação de reparação de danos morais, em que o pedido feito na petição inicial é meramente estimativo ou sugerido, a condenação da parte ré em quantia inferior à pretendida pela parte autora não configura sucumbência recíproca, o que impede a aplicação do art. 86, caput, do Código de Processo Civil. Nesse sentido: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca (STJ, Súmula 326). A pretensão à devolução em dobro não pode ser acolhida, uma vez que não se vislumbra má-fé da parte ré, assim, para fins de aplicação da sanção do art. 940 do Código Civil de 2002, há necessidade de comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qual tenha plena consciência de que é indevida ou está paga'' (STJ, Resp 466338-PB, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. 04.11.2003). A pretensão à devolução em dobro não pode ser acolhida, uma vez que não se vislumbra má-fé da parte ré, assim, para fins de aplicação da sanção do art. 940 do Código Civil de 2002, há necessidade de comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qual tenha plena consciência de que é indevida ou está paga (STJ, Resp 466338-PB, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. 04.11.2003). Por fim, não há que se falar na compensação dos valores com aqueles depositados na conta bancária da autora, até porque essa matéria deveria ter sido alegada em sede de reconvenção, meio adequado para se propor pedido em relação à parte contrária. Posto isso, julgo procedentes em parte os pedidos para: a) declarar inexigível em relação à parte autora o contrato objeto da ação e determinar, se ainda necessário, a cessação dos descontos no benefício previdenciário dela, que tenham origem no referido contrato, no prazo de trinta dias, contados da intimação pessoal da parte ré, sob pena de multa diária a ser fixada na fase de cumprimento de sentença; b) condenar a parte ré a cancelar o cartão de crédito encaminhado à parte autora c) condenar a parte ré ao pagamento dos valores descontados indevidamente, ainda não devolvidos, inclusive aqueles cobrados após a propositura da ação, na forma simples, acrescida de correção monetária desde cada desembolso e com juros de mora de 1% ao mês da citação; d) condenar a parte ré a pagar R$ 4.000,00 à parte autora, a título de reparação do dano moral, a serem acrescidos de correção monetária a contar desta data (STJ, Súmula 362) e de juros de mora de 1% ao mês na forma da letra anterior; e) diante do decaimento mínimo da parte autora, condenar a parte ré ao pagamento da integralidade das custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% do valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 2º I a IV, do Código de Processo Civil de 2015. Se interposta apelação contra esta sentença e também eventual recurso adesivo, como nos termos do Código de Processo Civil de 2015, cabe apenas à instância ad quem examinar os requisitos e pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade recursal (art. 1.010, § 3º), providencie a serventia a intimação da parte apelada e/ou da parte recorrente em caráter adesivo pra apresentar, se quiser, as correspondentes contrarrazões, no prazo de quinze dias (art. 1.010, § 1º), sob pena de preclusão e, após, independentemente de nova decisão ou despacho, remeta-se os autos do processo judicial eletrônico (digital) ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Seção de Direito Privado, no prazo e com as cautelas de estilo. P. R. I - ADV: HENRIQUE JOSÉ PARADA SIMÃO (OAB 221386/SP), GLAUCO GOMES MADUREIRA (OAB 188483/SP), SILVANIO AMELIO MARQUES (OAB 293188/SP)

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Nilson Severino x Banco Bmg S/A

ID: 298561850

Tribunal: TJSP Órgão: Foro de Bauru - 4ª Vara Cível Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1022877-58.2024.8.26.0071

Data de Disponibilização: 13/06/2025

Polo Ativo:

NILSON SEVERINO

Polo Passivo:

BANCO BMG S/A

Intimação

Advogados:

PABLO BATISTA RÊGO

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ORLANDO DOS SANTOS FILHO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

HENRIQUE JOSÉ PARADA SIMÃO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

Processo 1022877-58.2024.8.26.0071 - Procedimento Comum Cível - Responsabilidade do Fornecedor - Nilson Severino - BANCO BMG S/A - NILSON SEVERINO, qualificado nos autos, ajuizou ação de conhecimen… Processo 1022877-58.2024.8.26.0071 - Procedimento Comum Cível - Responsabilidade do Fornecedor - Nilson Severino - BANCO BMG S/A - NILSON SEVERINO, qualificado nos autos, ajuizou ação de conhecimento declaratória cumulada com obrigação de fazer e reparação de danos materiais e morais contra BANCO BMG S/A, também qualificado nos autos, alegando, em síntese, que ocorreram descontos automáticos no benefício previdenciário que recebe, sendo imposta reserva de margem consignável com venda casada de um cartão de crédito. Disse que não solicitou e nem usou cartão de crédito algum e tampouco autorizou a reserva de margem que consta no benefício que recebe. Requereu, portanto, seja declarada nula ou inexistente a contratação do mencionado cartão com a consequente inexistência do débito, a devolução em dobro dos valores pagos e a condenação da ré a pagar R$ 20.000,00, a título de reparação de danos morais. Os pedidos de gratuidade da justiça e de prioridade da tramitação foram concedidos e o de inversão do ônus da prova indeferido por decisão interlocutória que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. Citado, o réu apresentou contestação na qual impugnou a gratuidade de justiça concedida ao autor, arguiu preliminares de inépcia da inicial, de ausência de procuração valida, de carência da ação e prejudiciais de prescrição e a decadência e, quanto ao mérito, alegou, em resumo, que a Reserva de Margem Consignável (RMC) advém da solicitação de cartão de crédito consignado, não tendo praticado qualquer ato ilícito e, por isso, não tem o dever de indenizar. Além, da aceitação por parte do autor. Pleiteou, ao final, a extinção do processo sem resolução de mérito ou a improcedência dos pedidos. A autora ofereceu réplica e nela rebateu todos os argumentos da contestação. Em seguida, rejeitadas as preliminares, as prejudiciais e a impugnação arguidas, indeferida a produção de provas orais e declarado saneado o processo por decisão interlocutória que também se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela, durante a fase de instrução foi produzido exame documentoscópico, cujo laudo se encontrar nos autos, sobrevindo manifestação das partes. É o relatório. Fundamento e decido. Trata-se de ação declaratória que tramita pelo procedimento comum e que comporta o julgamento no estado em que se encontra, sem a mínima necessidade de produção de provas orais que, ademais, foram indeferidas de forma amplamente fundamentada pela decisão interlocutória de saneamento do processo (páginas 439/446, último parágrafo), publicada em 19 de novembro de 2024 (páginas 445/446), que se tornou irremediavelmente preclusa, ante a não interposição de agravo de instrumento contra ela. A matéria está suficientemente esclarecida pela perícia realizada nos autos, certo que nenhuma testemunha, por mais idônea e capacitada que seja, pode infirmar ou seus depoimentos sobreporem-se às conclusões a que chegou o perito judicial, de maneira que o julgamento do processo sem a inquirição de pessoas não configura nenhum cerceamento de defesa. É que fatos e situações suscetíveis de conhecimento especializado, científico ou técnico, não se compaginam com prova oral. A parte irresignada com exame, vistoria, avaliação ou perícia realizada, deve diligenciar por meio de assistente técnico, a produção da prova adequada que não se pode substituir por inquirição de testemunhas ou tomada de depoimento pessoal da parte contrária. A inquirição de testemunhas, como dito, por mais idôneas e capacitadas que sejam, jamais se prestaria para impugnar ou infirmar as conclusões de prova pericial regularmente produzida. Na verdade, a vedação de provar-se com testemunhas contra ou além do conteúdo de laudo pericial funda-se na necessidade de assentarem-se os fatos em prova de natureza mais estável, menos falível e menos infiel do que o depoimento de pessoas (testes, quum de fide tabularum, nihil dicitur, adversus scriptum interrogari non possunt). O art. 442 do Código de Processo Civil de 2015 dispõe que é sempre admissível a inquirição de pessoas sobre fatos, salvo nos casos que só por documentos ou por exame pericial puderem ser provados (CPC/2015, art. 443, II). No caso, diante da regra prevista no art. 443, II, do Código de Processo Civil de 2015, descabe a produção de prova testemunhal, pois o fato só poderia ser provado por perícia, já realizada nos autos e, segundo Moacyr Amaral Santos, Há fatos cuja prova reclama conhecimento especial de técnico (Cód. Proc. Civil, art. 420, parágrafo único), ou seja, reclamam prova por meio de exame pericial. Uma vez que só através desse exame possam ser provados, não se admite a prova testemunhal para substituí-lo (Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Editora Saraiva, 10ª edição, 1985, vol. II, p. 465). A propósito, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo já julgou: Prova - Testemunhal - Indeferimento - Fatos que já foram comprovados por perícia e confissão da parte - Artigo 400, incisos I e II, do Código de Processo Civil - Cerceamento de defesa inocorrente - Recurso não provido (JTJ 153/123). O laudo de páginas 691/703 elucidou todos os pontos controvertidos, fez detalhada análise do que era necessário e apurou que '' Diante do exposto neste laudo conclui-se que os documentos digitais apresentados devidamente descritos no item Peças de Exame, atribuídos ao Sr. Nilson Severino, não cumpriram os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento total e autoria da contratação do serviço em conformidade com a Medida Provisória n.º 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, assim sendo, os documentos digitais NÃO SÃO VÁLIDOS'' (página 703). Deste modo, não sobra dúvida de que a contratação não cumpriu os requisitos de segurança necessários para comprovar o consentimento da parte autora, sendo inválidos. O réu nem sequer impugnou o laudo e, ainda que tivesse, revelaria apenas o natural inconformismo dele que, no entanto, não é suficiente para impor a desconsideração das sólidas conclusões do perito judicial. O laudo contém ampla, convincente e conclusiva fundamentação, demonstrando com criteriosa parcimônia e sólido amparo técnico-científico as razões pelas quais apontou a conclusão desinteressada. Sendo assim, tendo que em vista que a perícia foi conclusiva se faz necessário reconhecimento da inexigibilidade dos descontos no benefício previdenciário da parte autora. Nesse sentido: "Ação declaratória cumulada com repetição do indébito e indenizatória - Empréstimo consignado - Autora - Contratação - Não reconhecimento - Perícia grafotécnica - Conclusão - Assinatura - Falsificação - Instituição financeira - Negligência - Autora - Quantias pagas - Direito à devolução - Restabelecimento da situação patrimonial - Forma - Observância da modulação dos efeitos no REesp nº 676.608/RS - Compensação entre o que percebido, se o caso, e a condenação imposta ao réu - Possibilidade - Inteligência do art. 368 do Código Civil - Dano moral - Configuração - Autora - Aposentada - Parcelas - Lançamentos - Benefício previdenciário - Verba - Caráter alimentar Valor indenitário - Sentença - Valor - Arbitramento - Mitigação - Cabimento - Respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade - Art. 8º do CPC. Apelo do réu e recurso adesivo da autora parcialmente providos" (TJSP, 23ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1044603-67.2020.8.26.0576, rel. Des. Tavares de Almeida, j. 20/05/2024). E também: "Declaratória c/c indenizatória Empréstimos consignados Contratação mediante fraude Contratos bancários Falsidade de assinatura Comprovação através de perícia grafotécnica Nulidade dos negócios Reconhecimento Retorno das partes ao 'status quo ante' Devolução dos valores descontados em benefício previdenciário Repetição em dobro Impossibilidade Regra de incidência Artigo 42 do CDC e artigo 940 do Código Civil Requisitos Má-fé Inocorrência Não comprovado dolo ou malícia da instituição financeira Súmula 159 do STF Tese firmada pelo STJ no julgamento do EAREsp nº 676.608/RS Inaplicabilidade Modulação de efeitos Incidência a partir da publicação (30/03/2021) Compensação com a importância creditada na conta da autora Cabimento Artigo 368 do Código Civil Danos morais Não reconhecimento Peculiaridades do caso Inexistência de comprometimento de renda ou de anotação restritiva Parte autora que não demonstra a ocorrência de ato depreciativo, desabonador ou de efetivas consequências na esfera moral Inobservância do artigo 373, inciso I, do CPC Fatos da causa que não ensejam danos extrapatrimoniais Pretensão afastada Sentença reformada Procedência parcial da demanda Sucumbência recíproca caracterizada (artigo 86, caput, do CPC). Recurso provido em parte" (TJSP, 18ª Câmara de Direito Privado, Ap. 1007766-58.2022.8.26.0506, rel. Des. Henrique Rodriguero Clavisio, j. 20/05/2024). No caso dos autos, a responsabilidade do réu decorre do risco da própria atividade, risco consagrado também pela doutrina para assegurar a reparação de prejuízos que possa causar aos usuários dos serviços dele. E ainda que a culpa tenha sido de terceiro que de alguma forma adulterou o contrato, isso não afastaria a responsabilidade objetiva do réu pelos danos causados no âmbito das respectivas operações, entendimento esse pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça com a edição da Súmula 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. Se a instituição financeira disponibiliza um serviço, mas não é capaz de garantir a devida segurança aos consumidores que desse serviço se beneficiam, deve arcar com eventuais danos dele decorrentes. Verifica-se relação tipicamente consumerista, sendo aplicável, o quanto dispõe a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme entendimento já pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça por meio da Súmula 297. Dessa forma, a responsabilidade da instituição financeira pela reparação de eventuais danos ocorridos independe de comprovação de culpa, exigindo apenas o defeito na prestação do serviço, o dano e o nexo causal entre eles, conforme disposto no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. O réu não comprovou que o serviço prestado fora feito de forma adequada e que a autora fora responsável pela transação mal-sucedida. Evidente, pois, que houve falha na prestação de serviço pela ré e que em decorrência houve lesão à honra subjetiva da parte autora. Ainda: ''Segurança de autenticidade por senha e token: durante a análise do fluxo de contratação, observamos que foram aplicados poucos critérios de segurança que garantisse a autoria e o total conhecimento das cláusulas contratadas.'' (página 702). Como escreve Wendell Lopes Barbosa de Souza, o risco de ter que arcar com a indenização pela abertura de uma conta fraudulenta deve ser suportado por quem enriquece com a abertura de milhares de outras contas regulares. Quem aufere o bônus, deve arcar com o ônus. E, como é cediço, esse risco já está devidamente contabilizado e inserido nas taxas que a instituição financeira cobra dos seus clientes honestos, de tal forma que nem a ínfima quantia arbitrada a título de danos morais para as vítimas de fraudes é sentida pelos bancos (A Responsabilidade Civil Objetiva Fundada na Atividade de Risco, Editora Atlas, 2010, p. 135). Neste sentido: Indenização por dano moral e material - Contratação, por terceiro, de crédito consignado em nome do autor, vindo a ocorrer indevidos descontos em sua aposentadoria - Culpa da instituição bancária bem caracterizada, por ausente o cuidado na averiguação da documentação apresentada - Indenização por danos morais devida e materiais devida - Adoção dos fundamentos da sentença, em razão do permissivo do artigo 252 do Regimento Interno desta Egrégia Corte - Sentença mantida - Recurso desprovido" (TJSP, 5ª Câmara de Direito Privado, Ap. 0002973-66.2009.8.26.0242, rel. Des. A. C. Mathias Coltro, j. 06.07.2011). Quanto à indenização, o direito positivo não instituiu especificamente o montante para a reparação da honra e moral violados com a situação ocorrida, portanto, razão pela qual deve ser adotado o montante de R$ 4.000,00, quantia que se mostra razoável para reparar a autora, sem constituir fonte de enriquecimento injusto dela e, ao mesmo tempo, mostra-se suficiente para dissuadir o réu de novo e igual atentado contra o direito alheio, pois é bom que se diga que O arbitramento de indenização por dano moral deve pautar-se pela moderação e equitatividade, obedecendo os critérios já proclamados pela jurisprudência dos nossos tribunais (TJDF, 3ª Turma, Ap. 50.868/98, rel. Des. Wellington Medeiros, DJU 23.06.1999, p. 53). E mais: O arbitramento da indenização decorrente de dano moral deve ser feito caso a caso, com bom senso, moderação e razoabilidade, atentando-se à proporcionalidade com relação ao grau de culpa, extensão e repercussão dos danos, à capacidade econômica, características individuais e o conceito social das partes (RT 806/331). Vale lembrar, por fim, que na ação de reparação de danos morais, em que o pedido feito na petição inicial é meramente estimativo ou sugerido, a condenação da parte ré em quantia inferior à pretendida pela parte autora não configura sucumbência recíproca, o que impede a aplicação do art. 86, caput, do Código de Processo Civil. Nesse sentido: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca (STJ, Súmula 326). A pretensão à devolução em dobro não pode ser acolhida, uma vez que não se vislumbra má-fé da parte ré, assim, para fins de aplicação da sanção do art. 940 do Código Civil de 2002, há necessidade de comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qual tenha plena consciência de que é indevida ou está paga'' (STJ, Resp 466338-PB, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. 04.11.2003). A pretensão à devolução em dobro também não pode ser acolhida, uma vez que não se vislumbra má-fé da parte ré, assim, para fins de aplicação da sanção do art. 940 do Código Civil de 2002, há necessidade de comportamento doloso do pretenso credor, pela cobrança maliciosa da dívida sobre a qual tenha plena consciência de que é indevida ou está paga (STJ, Resp 466338-PB, rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, j. 04.11.2003). Por fim, não há que se falar na compensação dos valores com aqueles depositados na conta bancária da autora, até porque essa matéria deveria ter sido alegada em sede de reconvenção, meio adequado para se propor pedido em relação à parte contrária. Quanto aos honorários de sucumbência, o critério instituído pelo art. 85, § 8º-A, do Código de Processo Civil de 2015, para fixação equitativa de honorários sucumbenciais, não pode ser fixado em um valor exato e muito menos definido por órgão de classe profissional. O arbitramento dos honorários de sucumbência é atribuição do juiz, caso contrário, esse encargo teria sido entregue a um órgão de classe alheio à função jurisdicional, exclusiva do Poder Judiciário (estatal), e estaria, ademais, submetido à tabela predeterminada e fora das circunstâncias do caso concreto. Os valores que constam da tabela editada pelo Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil representam mera recomendação para efeito de arbitramento equitativo de que trata o mencionado dispositivo. Tratando-se de recomendação, isto é, de um conselho, uma indicação, uma sugestão, não pode vincular certamente o juiz. A referida a tabela regula o trabalho prestado pelo profissional da advocacia a quem o contrata, não podendo servir de vínculo exclusivo ou de patamar mínimo à quantificação de um valor que será suportado pela parte contrária, que sucumbiu. Posto isso, julgo procedentes em parte os pedidos para: a) declarar inexigível em relação à parte autora o contrato objeto da ação e determinar, se ainda necessário, a cessação dos descontos no benefício previdenciário dela, que tenham origem no referido contrato, no prazo de trinta dias, contados da intimação pessoal da parte ré, sob pena de multa diária a ser fixada na fase de cumprimento de sentença; b) condenar a parte ré a cancelar o cartão de crédito encaminhado à parte autora c) condenar a parte ré ao pagamento dos valores descontados indevidamente, ainda não devolvidos, inclusive aqueles cobrados após a propositura da ação, na forma simples, acrescida de correção monetária desde cada desembolso e com juros de mora de 1% ao mês da citação; d) condenar a parte ré a pagar R$ 4.000,00 à parte autora, a título de reparação do dano moral, a serem acrescidos de correção monetária a contar desta data (STJ, Súmula 362) e de juros de mora de 1% ao mês na forma da letra anterior; e) diante do decaimento mínimo da parte autora, condenar a parte ré ao pagamento da integralidade das custas, despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.500,00, corrigidos desta data, atendidos os requisitos do art. 85, § 8º combinado com o art. 86, parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil de 2015; f) os honorários do advogado foram fixados nesses patamares, atentando-se aos critérios do tempo da demanda, baixa complexidade da causa e proveito econômico. Os honorários em favor do advogado do autor, insista-se, refletiram o benefício econômico obtido, até para se evitar uma situação de incongruência, dado o valor da causa, que, in casu, beneficiaria mais o advogado da ação do que o próprio cliente. Se interposta apelação contra esta sentença e também eventual recurso adesivo, como nos termos do Código de Processo Civil de 2015, cabe apenas à instância ad quem examinar os requisitos e pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade recursal (art. 1.010, § 3º), providencie a serventia a intimação da parte apelada e/ou da parte recorrente em caráter adesivo pra apresentar, se quiser, as correspondentes contrarrazões, no prazo de quinze dias (art. 1.010, § 1º), sob pena de preclusão e, após, independentemente de nova decisão ou despacho, remeta-se os autos do processo judicial eletrônico (digital) ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Seção de Direito Privado, no prazo e com as cautelas de estilo. P. R. I - ADV: HENRIQUE JOSÉ PARADA SIMÃO (OAB 221386/SP), ORLANDO DOS SANTOS FILHO (OAB 149675/SP), PABLO BATISTA RÊGO (OAB 38856/GO)

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