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Regina Celia Teodoro Dos Santos x Banco Bmg S.A

ID: 306395767

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5002348-50.2024.8.13.0672

Data de Disponibilização: 24/06/2025

Polo Ativo:

REGINA CELIA TEODORO DOS SANTOS

Polo Passivo:

BANCO BMG S.A

Intimação

Advogados:

GIOVANNA MORILLO VIGIL DIAS COSTA

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RAFAELA ABREU DE PINHO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Sete Lagoas / 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Rua José Duarte de Paiva, 715, Jardim Cambuí, Centro, Sete La… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Sete Lagoas / 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Rua José Duarte de Paiva, 715, Jardim Cambuí, Centro, Sete Lagoas - MG - CEP: 35700-059 PROCESSO Nº: 5002348-50.2024.8.13.0672 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Empréstimo consignado, Cartão de Crédito] AUTOR: REGINA CELIA TEODORO DOS SANTOS CPF: 012.805.796-33 RÉU: BANCO BMG S.A CPF: 61.186.680/0001-74 SENTENÇA Vistos, etc. Trata-se de ação de procedimento comum manejada por REGINA CELIA TEODORO DOS SANTOS, qualificado, contra BANCO BMG S.A, também qualificado. Em sua causa de pedir, a parte autora alega que, com a finalidade de obtenção de empréstimo consignado tradicional, procurou um representante da ré, tendo com ele firmado, na sua visão, um empréstimo bancário conforme sistemática de pagamento de empréstimos consignados. Sustenta, no entanto, que, para sua surpresa, posteriormente descobriu que o “empréstimo” formalizado não se tratava de um empréstimo consignado “tradicional”, mas sim de um empréstimo na modalidade de cartão de crédito. Destaca que, como se não bastasse, foi informado, também para sua surpresa, que os valores que estavam sendo descontados dos seus rendimentos referiam-se apenas ao pagamento mínimo da fatura e que não tinham prazo para terminar. Com esses argumentos, pede a conversão da modalidade de cartão de crédito em margem consignável para empréstimo consignado. Pede, ainda, a restituição em dobro dos valores cobrados indevidamente, a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais e a exibição de diversos documentos. A petição inicial foi instruída com documentos. Devidamente citado, o réu apresentou contestação. No mérito, defende a legalidade do contrato firmado, pugnando, assim, pela improcedência dos pedidos. Impugnação acostada. Audiência de instrução realizada. Alegações finais. Vieram os autos conclusos para julgamento. É o relatório. Decido. Processo em ordem, sem vício que possa inquiná-lo de nulidade. Ao que se colhe da petição inicial, a parte autora acreditava que teria contratado um empréstimo consignado para desconto das parcelas em seu benefício previdenciário, mas, na prática, obteve empréstimo vinculado a um cartão de crédito. Não obstante os argumentos da parte autora, inexiste qualquer irregularidade ou fato capaz de recomendar a alteração do ajuste em vigor. De início, importa anotar que as alegações da parte autora revelam a existência de erro, vício de consentimento por ocasião da contratação. Havendo vício de consentimento na realização do negócio jurídico, afetando a livre manifestação de vontade de um dos contratantes, de fato o ajuste pode ser anulado ou alterado, desde que presentes as figuras do erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão (artigo 171, II do CC). Referido vício recai sobre a própria manifestação da vontade, derruindo-a em situações em que, por exemplo, não há liga entre o real querer do agente ou quando a intenção não foi externada de forma efetivamente livre. Sua constatação processual, no entanto, depende de prova robusta. In casu, não obstante os argumentos do autor, não há provas de que foi induzido ou levado em erro, ou ainda, que lhe foram feitas falsas promessas. Acerca do contrato de empréstimo consignado na modalidade cartão de crédito, vale transcrever as precisas palavras da Desa. Lílian Maciel, da 20a Câmara Cível do TJMG, “[…] No ajuste do cartão de crédito consignado, a instituição financeira pré-aprova um limite de utilização do cartão, que pode ser usado para saques, compras no comércio e, ainda, pagamento de serviços. Na folha de pagamento do contratante é descontado o valor mínimo da fatura, correspondente à margem consignável legalmente permitida. Caso o valor total da fatura seja superior à margem consignável e não haja o pagamento integral na data do vencimento, o titular automaticamente entra no rotativo do cartão de crédito, de modo a incidir juros, de acordo com o contratado com a instituição financeira. Uma das características do contrato de cartão de crédito é sua natureza jurídica de negócio jurídico de execução continuada, a perdurar por prazo indeterminado, quer pela vontade das partes, quer pela existência de saldo devedor em aberto. [...](TJMG - Apelação Cível 1.0000.21.085726-4/001, Relator(a): Des.(a) Lílian Maciel , 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/10/2021, publicação da súmula em 21/10/2021) Na espécie, os contratos são claros, se não, vejamos: “TERMO DE ADESÃO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO BENEFÍCIO EMITIDO PELO BANCO BMG S.A E AUTORIZAÇÃO PARA DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO”, “TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO DO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO BENEFÍCIO”, “CÉDULA DE CRÉDITO BANCARIO (“CCB”) CONTRATAÇÃO DE SAQUE MEDIANTE A UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO BENEFÍCIO EMITIDO PELO BMG”. Contratos estes, devidamente assinados pela autora e nos quais consta, ainda, autorização para que a fonte pagadora realize o desconto mensal em sua remuneração para o pagamento correspondente ao mínimo da fatura mensal do seu cartão. Ora, a modalidade dos contratos e as informações concernentes ao produto contratado estão expressas nos instrumentos assinados pela autora, inclusive com destaque no próprio título, sendo que a simples leitura das respectivas cláusulas seria suficiente para compreender o que estava sendo contratado. É fundamental que o consumidor leia o contrato no momento de aderir o serviço. Caso as características do produto ou do serviço estejam bem especificadas no contrato, o simples fato de o consumidor alegar que assinou o contrato sem ler ou que concordou com os termos sem se a atentar a todas as cláusulas, não tornará o contrato nulo. Cumpre destacar que, conforme documentos juntados pelo réu, o valor emprestado foi creditado na conta bancária pertencente à autora. Além disso, a autora utilizou o cartão para efetuar diversas compras. Porém, as faturas não foram quitadas integralmente, o que manteve sempre crescente o saldo devedor. Nessas circunstâncias, não é ilegal a conduta do réu, consistente na realização de descontos contínuos na margem consignável da parte autora, como forma de abatimento do saldo devedor, o qual sempre continuará em nível crescente, haja vista que a diferença entre o valor total da fatura e o valor descontado em folha não é quitada. Nesse sentido: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. CONTRATO BANCÁRIO. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO CONSUMIDOR. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO CONTRATUAL. VALIDADE DA CONTRATAÇÃO. ATO ILÍCITO. INEXISTÊNCIA. DANO MORAL. AUSENCIA DE REQUISITOS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. NÃO CABIMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ. DECISÃO MANTIDA. Comprovado nos autos que a parte autora teve ciência inequívoca da contratação de cartão de crédito consignado, não há que se falar em declaração de nulidade do contrato amparada em vício de consentimento. Inexistindo prática de ato ilícito, estando ausentes os requisitos necessários à condenação do requerido ao pagamento de indenização por danos morais e à repetição do indébito, face à ausência de cobrança indevida. . III. Considera-se litigante de má fé aquele usar do processo para conseguir objetivo ilegal, podendo o juiz, de oficio ou a requerimento da parte, condenar o litigante a pagar multa entre um a dez por cento do valor corrigido da causa. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.20.084098-1/001, Relator(a): Des.(a) Luiz Artur Hilário , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/07/2020, publicação da súmula em 31/07/2020) APELAÇÃO CÍVEL - PRELIMINAR DE INADMISSIBILIDADE DO RECURSO REJEITADA - OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - AÇÃO ORDINÁRIA - PRETENSÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL E DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, COM BASE NA ILEGALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO - CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO - TERMOS CONTRATUAIS CLAROS - AUTORIZAÇÃO EXPRESSA PARA CONSTITUIÇÃO DE RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL - ASSINATURA NÃO CONTESTADA - VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO DEMONSTRADO - VENDA CASADA - AUSÊNCIA DE PROVAS - CLÁUSULA OPTATIVA - CONTRATAÇÃO VÁLIDA - IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS EXORDIAIS - RECURSO DESPROVIDO. - Havendo harmonia entre o conteúdo das razões recursais e o conteúdo da sentença vergastada, não há que se falar em ofensa ao princípio da dialeticidade. - À mingua de provas de que a apelante foi induzida a erro no momento de celebração do contrato de abertura de conta junto à instituição financeira apelada, oportunidade em que aderiu ao serviço adicional de cartão de crédito consignado, não se pode cogitar a existência de vício de consentimento a ensejar a nulidade da avença, notadamente se os termos contratuais são claros e atendem ao dever de informação mínima insculpido no Código de Defesa do Consumidor. - Da mesma forma, não havendo indício algum de que a abertura da conta foi condicionada à adesão ao cartão de crédito consignado, não há que se falar em venda casada, cuja prática não se presume a partir de meras declarações unilaterais. - Assim, comprovada a contratação de cartão de crédito consignado, é regular a anotação da reserva de margem consignável no benefício previdenciário da contratante, impondo-se a manutenção de improcedência dos pedidos inaugurais. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.011223-5/002, Relator(a): Des.(a) Mota e Silva , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 11/08/2020, publicação da súmula em 11/08/2020) EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZATÓRIA - CONTRATO BANCÁRIO - CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO - VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO E VÍCIO DE CONSENTIMENTO - INOCORRÊNCIA - CONTRATO VÁLIDO - REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - DESCABIMENTO - SENTENÇA MANTIDA. - Se no instrumento contratual firmado pelo consumidor consta expressa e claramente a modalidade do produto adquirido e as suas especificidades, não há que se falar invalidação do contrato por violação do dever de informação ou por vício de consentimento. - Uma vez constatada a validade do contrato que lastreia os descontos realizados no benefício previdenciário do autor para pagamento das faturas do cartão de crédito consignado, resta prejudicado o pedido de repetição de indébito. - Desconstituída a premissa de que o banco agiu de forma abusiva ao celebrar o contrato, não há que se falar em condenação ao pagamento de indenização por danos morais, ante a ausência de conduta ilícita que dê ensejo à responsabilização civil. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.20.462508-1/001, Relator(a): Des.(a) Adriano de Mesquita Carneiro , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/08/2020, publicação da súmula em 12/08/2020) Insustentável, portanto, a tese da autora, de que levada em erro, ludibriada ou enganada, ou que desconhecia o que realmente se contratava, o que impede a procedência dos pedidos. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos, nos termos do art. 487, I do CPC. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor atualizado da causa. Suspendo a exigibilidade do pagamento, pois a parte autora está amparada pela gratuidade de justiça. PRI Sete Lagoas, data da assinatura eletrônica. CARLOS ALBERTO DE FARIA Juiz(íza) de Direito 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas

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Processo nº 5011369-87.2022.4.03.6183

ID: 260458836

Tribunal: TRF3 Órgão: Gab. 22 - DES. FED. INÊS VIRGÍNIA Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 5011369-87.2022.4.03.6183

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

CARLOS ALBERTO LAVOURA ABRANTES

Decisão

Advogados:

CARLOS AFONSO GALLETI JUNIOR

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 7ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5011369-87.2022.4.03.6183 RELATOR: Gab. 22 - DES. FED. INÊS VIRGÍNIA APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SO… PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 7ª Turma APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 5011369-87.2022.4.03.6183 RELATOR: Gab. 22 - DES. FED. INÊS VIRGÍNIA APELANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, CARLOS ALBERTO LAVOURA ABRANTES Advogado do(a) APELANTE: CARLOS AFONSO GALLETI JUNIOR - SP221160-A APELADO: CARLOS ALBERTO LAVOURA ABRANTES, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS Advogado do(a) APELADO: CARLOS AFONSO GALLETI JUNIOR - SP221160-A OUTROS PARTICIPANTES: D E C I S Ã O Trata-se de dupla apelação interposta contra sentença que julgou procedente o pedido deduzido em sede de ação em que se busca a denominada “revisão da vida toda”. Não houve antecipação dos efeitos da tutela. Sustenta o INSS, em síntese, que a Revisão da Vida Toda é indevida. Já a parte autora interpôs recurso de apelação, pugnando pela procedência em maior extensão do seu pedido. Regularmente processados, subiram os autos a esta C. Corte. Foi determinado o sobrestamento do feito, já que, no dia 28/07/2023, o e. Ministro ALEXANDRE DE MORAES acolheu o pedido do INSS para determinar a suspensão de todos os processos que versem sobre a matéria julgada no Tema 1102. É o breve relatório. Decido. Inicialmente, consigno que não é o caso de manter o sobrestamento do feito, considerando o efeito vinculante e a eficácia erga omnes do quanto decidido pelo E. STF nas ADIs 2.110 e 2.111. Realmente, a questão posta nos autos versa sobre a possibilidade de revisão do benefício previdenciário mediante a aplicação da regra definitiva do artigo 29, incisos I e II, da Lei 8.213/91, quando mais favorável ao segurado do que a regra de transição contida no artigo 3º da Lei 9.876/99 ("revisão da vida toda"). A respeito da matéria, o C. Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o Tema Repetitivo nº 999 (REsp 1.554.596/SC e REsp 1.596.203/PR), firmou entendimento no sentido de ser aplicável a regra definitiva prevista no art. 29, I e II da Lei 8.213/1991, na apuração do salário de benefício, quando mais favorável do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei 9.876/1999, aos segurados que ingressaram no sistema antes de 26.11.1999 (data de edição da Lei 9.876/1999). Interposto Recurso Extraordinário pelo INSS, o entendimento do C. STJ foi inicialmente mantido pelo E. Supremo Tribunal Federal ao julgar a questão sob o rito de repercussão geral (Tema 1.102): RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. TEMA 1102 DA REPERCUSSÃO GERAL. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO MEDIANTE A APLICAÇÃO DA REGRA DEFINITIVA DO ARTIGO 29, INCISOS I E II, DA LEI 8.213/1991, QUANDO MAIS FAVORÁVEL DO QUE A REGRA DE TRANSIÇÃO CONTIDA NO ARTIGO 3º DA LEI 9.876/1999, AOS SEGURADOS QUE INGRESSARAM NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ANTES DA PUBLICAÇÃO DA REFERIDA LEI 9.876/1999, OCORRIDA EM 26/11/1999. DIREITO DE OPÇÃO GARANTIDO AO SEGURADO. 1. A controvérsia colocada neste precedente com repercussão geral reconhecida consiste em definir se o segurado do INSS que ingressou no sistema previdenciário até o dia anterior à publicação da Lei 9.876, em 26 de novembro de 1999, pode optar, para o cálculo do seu salário de benefício, pela regra definitiva prevista no art. 29, I e II, da Lei 8.213/1991 quando essa lhe for mais favorável do que a previsão da lei, no art. 3º, de uma regra transitória, por lhe assegurar um benefício mais elevado. 2. O INSS argumenta que a única regra legal aplicável ao cálculo de todos os segurados, sejam eles filiados ao RGPS antes ou após a vigência da Lei 9.876/1999, é aquela que limita o cômputo para aposentadoria apenas às contribuições vertidas a partir de julho de 1994, “os primeiros, por expresso imperativo legal; os últimos, por consequência lógica da filiação ocorrida após 1999”. Desse modo, não haveria que se falar em inclusão do período contributivo anterior a tal marco temporal. 3. A partir da leitura da exposição de motivos do Projeto de Lei que originou a Lei 9.876/1999 e os argumentos aduzidos no acórdão recorrido, depreende-se que a regra definitiva veio para privilegiar no cálculo da renda inicial do benefício a integralidade do histórico contributivo. A limitação imposta pela regra transitória a julho de 1994 teve escopo de minimizar eventuais distorções causadas pelo processo inflacionário nos rendimentos dos trabalhadores. 4. A regra transitória, portanto, era favorecer os trabalhadores com menor escolaridade, inserção menos favorável no mercado de trabalho, que tenham uma trajetória salarial mais ou menos linear, só que, em alguns casos, isso se mostrou pior para o segurado, e não favorável como pretendia o legislador na aplicação específica de alguns casos concretos. 5. A regra transitória acabou aumentando o fosso entre aqueles que ganham mais e vão progredindo e, ao longo do tempo, ganhando mais, daqueles que têm mais dificuldades em virtude da menor escolaridade e a sua média salarial vai diminuindo. Acabou-se ampliando a desigualdade social e a distribuição de renda, que não era essa hipótese prevista, inclusive, pelo legislador. 6. Admitir-se que norma transitória importe em tratamento mais gravoso ao segurado mais antigo em comparação ao novo segurado contraria o princípio da isonomia, que enuncia dever-se tratar desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade, a fim de conferir-lhes igualdade material, nunca de prejudicá-los. 7. Efetivamente, os segurados que reuniram os requisitos para obtenção do benefício na vigência do art. 29 da Lei 8.213/1991, com a redação da Lei 9.876/1999, podem ter a sua aposentadoria calculada tomando em consideração todo o período contributivo, ou seja, abarcando as contribuições desde o seu início, as quais podem ter sido muito maiores do que aquelas vertidas após 1994, em decorrência da redução salarial com a consequente diminuição do valor recolhido à Previdência. 8. Recurso Extraordinário a que se nega provimento. Tese de julgamento: “O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após a vigência da Lei 9.876, de 26 de novembro de 1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais introduzidas pela EC em 103/2019, que tornou a regra transitória definitiva, tem o direito de optar pela regra definitiva, acaso esta lhe seja mais favorável”.(RE 1.276.977/DF, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Relator p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 01/12/2022, DJe-076 DIVULG 12-04-2023 PUBLIC 13-04-2023). No Tema 1.102/STF, o INSS opôs embargos de declaração, os quais ainda estão pendentes de apreciação pelo E. STF. Nada obstante, o entendimento firmado pelo E. STF ao apreciar o Tema 1.102 ficou superado, em razão do julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade 2110 e 2111, no qual o Plenário da E. Corte, fixou a seguinte tese com eficácia vinculante: “A declaração da constitucionalidade do artigo 3º da Lei 9.876/1999 impõe que o dispositivo legal seja observado de forma cogente pelos demais órgãos do Poder Judiciário e pela Administração Pública, em sua interpretação textual, que não permite exceção. O segurado do INSS que se enquadre no dispositivo não pode optar pela regra definitiva prevista no artigo 29, incisos I e II da Lei 8.213, independentemente de lhe ser mais favorável”. Vale registrar que o acórdão que apreciou os embargos de declaração opostos nas mencionadas ADI´s, expressamente consignou que “o julgamento de mérito das ADIs 2.110 e 2.111, em 2024, ocasiona a superação da tese do Tema n. 1.102, tanto mais porque ainda sem trânsito em julgado, restabelecendo-se a compreensão manifestada desde o ano 2000”. Acresça-se que o Plenário do E. STF, em sessão realizada em 10.04.2025, “por unanimidade, acolheu parcialmente os embargos de declaração para, a título de modulação dos efeitos da decisão, determinar: a) a irrepetibilidade dos valores percebidos pelos segurados em virtude de decisões judiciais, definitivas ou provisórias, prolatadas até 5/4/24, data da publicação da ata de julgamento do mérito das ADI nºs 2.110/DF e 2.111/DF; b) excepcionalmente, no presente caso, a impossibilidade de se cobrarem valores a título de honorários sucumbenciais, custas e perícias contábeis dos autores que buscavam, por meio de ações judiciais pendentes de conclusão até a referida data, a revisão da vida toda. Ficam mantidas as eventuais repetições realizadas quanto aos valores a que se refere o item a) e os eventuais pagamentos quanto aos valores a que se refere o item b) efetuados”. Por derradeiro, consigno que as decisões proferidas pelo E. STF em sede de controle concentrado de constitucionalidade são dotadas de efeito vinculante e eficácia erga omnes, sendo, portanto, de rigor a imediata observância do quanto decidido nas ADIs 2.110/SF e 2.111/DF: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. PROCESSAMENTO DA RECLAMAÇÃO CONDICIONADO À JUNTADA DA ÍNTEGRA DO ACÓRDÃO DITO VIOLADO. PUBLICAÇÃO DA ATA DE JULGAMENTO DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE NO DIÁRIO DE JUSTIÇA. REFORMA DO ATO QUE NEGOU SEGUIMENTO À RECLAMAÇÃO. 1. O cabimento da reclamação não está condicionado a publicação do acórdão supostamente inobservado. 2. A decisão de inconstitucionalidade produz efeito vinculante e eficácia erga omnes desde a publicação da ata de julgamento e não da publicação do acórdão. 3. A ata de julgamento publicada impõe autoridade aos pronunciamentos oriundos desta Corte. 4. Agravo regimental provido. (Rcl 3632 AgR, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 02-02-2006, DJ 18-08-2006 PP-00018 EMENT VOL-02243-01 PP-00116 RTJ VOL-00199-01 PP-00218 LEXSTF v. 28, n. 333, 2006, p. 247-249) Nesse cenário e diante da modificação do entendimento do E. STF quanto ao tema posto em apreço, forçoso é concluir que o posicionamento firmado no Tema 1.102/STF foi superado, de modo que a pretensão deduzida pela parte autora deve ser julgada improcedente, não sendo necessário se aguardar o julgamento dos embargos de declaração opostos no RE 1276977. Logo, fica reformada a sentença apelada, tanto no que se refere ao pedido revisional, quanto à condenação do INSS ao pagamento de verba honorária. E, conforme modulação de efeitos antes mencionada, no caso vertente, não há que se falar em condenação da parte autora ao pagamento de honorários sucumbenciais ou custas e perícias contábeis. Provido parcialmente o recurso do INSS e julgado improcedente o pedido revisional, fica prejudicado o exame do recurso da parte autora Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso de apelação do INSS, a fim de julgar improcedente o pedido deduzido na exordial, sem condenação da parte autora no pagamento de honorários e demais ônus da sucumbência e dou por prejudicado o recurso da parte autora. Oportunamente, remetam-se os autos à origem. P.I.C. São Paulo, 23 de abril de 2025.

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Processo nº 5011369-67.2024.8.08.0000

ID: 257668291

Tribunal: TJES Órgão: Presidência do Tribunal de Justiça Classe: CONFLITO DE COMPETêNCIA CíVEL Nº Processo: 5011369-67.2024.8.08.0000

Data de Disponibilização: 16/04/2025

Polo Ativo:

LUANNA RODRIGUES VIEIRA PEDRO LEVI PROENCA DE FIGUEIREDO SIMAO

Polo Passivo:

DECISÃO MONOCRÁTICA

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO Tribunal Pleno Endereço: Rua Desembargador Homero Mafra 60, Enseada do Suá, VITÓRIA - ES - CEP: 29050-906 Número telefone:( ) CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 5011… ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO Tribunal Pleno Endereço: Rua Desembargador Homero Mafra 60, Enseada do Suá, VITÓRIA - ES - CEP: 29050-906 Número telefone:( ) CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 5011369-67.2024.8.08.0000 RELATOR : DES. SAMUEL MEIRA BRASIL JR. SUSCITANTE : DESEMBARGADOR EWERTON SCHWAB PINTO JÚNIOR SUSCITADO : DESEMBARGADOR CONVOCADO ALDARY NUNES JUNIOR DECISÃO MONOCRÁTICA EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PREVENÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DISTRIBUÍDO APÓS REMOÇÃO DO RELATOR. INTELIGÊNCIA DO ART. 164, PARÁGRAFO ÚNICO, DO RITJES E DO ART. 117, §3º, DO CÓDIGO DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. PREVENÇÃO DA CÂMARA. I. Caso em exame 1. Conflito negativo de competência entre o Desembargador Ewerton Schwab Pinto Júnior (Suscitante) e o Desembargador Convocado Aldary Nunes Júnior (Suscitado), referente ao Agravo de Instrumento nº 5009319-68.2024.8.08.0000. II. Questão em discussão 2. Existência ou não de prevenção do Desembargador para julgamento de recurso funcionalmente vinculado a recurso anterior, distribuído após ato de remoção de Câmara. III. Razões de decidir 3. De acordo com o art. 164 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, previne-se a competência da Câmara e, em seguida, do relator, se este ainda fizer parte de órgão julgador. Precedente TJES. 4. Os recursos funcionalmente vinculados interpostos após o ato de remoção do Desembargador da Câmara a que pertencia devem ser distribuídos entre os demais integrantes do órgão julgador, remanescendo apenas a prevenção do colegiado. IV. Dispositivo e tese 5. Conflito negativo de competência conhecido. Competência da Primeira Câmara Cível e do Desembargador Ewerton Schwab Pinto Júnior declarada para processar e julgar o Agravo de Instrumento nº 5009319-68.2024.8.08.0000. Tese de julgamento: 6. Os recursos funcionalmente vinculados interpostos após o ato de remoção do Desembargador da Câmara a que pertencia devem ser distribuídos entre os demais integrantes do órgão julgador, remanescendo apenas a prevenção do colegiado. ________________ Dispositivos relevantes citados: RITJES, art. 164, §1º. Jurisprudência relevante citada: TJES, Conflito de competência cível, 100210022867, Relator: PRESIDENTE DO EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTICA ES, Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, j. 19.08.2021; TJES, Conflito de Competência, 100090034032, Relator: PRESIDENTE DO EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTICA ES, Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, j. 11.02.2010; TJES, Conflito de Competência 0015568-33.2018.8.08.0000, Data da publicação: 24/ago/2018 Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Relator PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA; TJES, Conflito de Competência 0015558-86.2018.8.08.000,Data da publicação: 30/ago/2018 Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Relator PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. RELATÓRIO. Trata-se de Conflito Negativo de Competência, deflagrado pelo Desembargador Ewerton Schwab Pinto Júnior, tendo como suscitado o Desembargador Convocado Aldary Nunes Junior, os quais se declararam incompetentes para processar e julgar o Agravo de Instrumento nº 5009319-68.2024.8.08.0000. O recurso foi distribuído inicialmente ao eminente Des. Júlio César Costa de Oliveira, perante a e. Primeira Câmara Cível, que determinou a aferição da prevenção decorrente da distribuição anterior de outros recursos (AI 5006728-36.2024.8.08.0000, Des. Ewerton Schwab Pinto Júnior e AI 5008217-45.2023.8.08.0000, Des. Conv. Aldary Nunes Júnior). Na sequência, os autos foram remetidos, por prevenção, ao e. Desembargador Ewerton Schwab Pinto Júnior, que determinou a redistribuição ao e. Desembargador Convocado Aldary Nunes Junior, integrante da Quarta Câmara Cível, registrando a instauração de Conflito de Competência caso o mesmo entendesse de maneira diversa. O e. Des. Convocado Aldary Nunes Júnior, por sua vez, rejeitou a conclusão, considerando que a prevenção se limitaria ao colegiado da Primeira Câmara Cível, tendo em vista a sua remoção para a Quarta Câmara Cível, havida em momento anterior à distribuição do recurso. Diante disso, houve a instauração do presente Conflito de Competência. Decisão ID 9607194, designando o Des. Suscitante para resolução, em caráter provisório, das medidas urgentes, além da oitiva do Ministério Público. Informações prestadas pelo e. Desembargadora Suscitado ID 10154456. Parecer da Procuradoria de Justiça pelo reconhecimento da competência do Juízo Suscitante (ID 10244948). É o relatório. Decido. 2. FUNDAMENTAÇÃO. Inicialmente, estando ausente a excepcionalidade da questão debatida neste incidente processual, especialmente para fins de sua afetação ao Tribunal Pleno desta Eg. Corte, passo a julgá-lo monocraticamente, na forma do art. 200 do RITJES. Pois bem. A questão controvertida diz respeito à distribuição, por prevenção, de recurso funcionalmente vinculado a outro anterior, no qual exerceu como relator Desembargador que se removeu para outra Câmara deste e. TJES. Nos termos do § 1º do art. 164 do RITJES, a distribuição de recurso cível previne a competência de Câmara e do Relator para o processo e julgamento de recursos posteriores relativos ao mesmo feito, ou em relação a processos funcionalmente vinculados. Confira-se: Art. 164 - A distribuição se fará por sorteio ou por dependência - se for o caso, pelo Sistema Gerência de Processos Segunda Instância, na forma estabelecida pela Resolução nº 15/92. § 1º - A distribuição de mandado de segurança, de habeas corpus e de recurso cível ou criminal previne a competência da Câmara e do Relator, para o processamento e julgamento de todos os recursos posteriores relativos ao mesmo processo ou a processos funcionalmente ligados a ele, como os cautelares, inclusive para habeas corpus e mandado de segurança. O Tribunal Pleno deste e. TJES tem orientação jurisprudencial sedimentada no sentido de que a regra de fixação da competência entre os órgãos julgadores prevista no dispositivo ocorre de forma gradativa, ou seja, em primeiro lugar há a prevenção da Câmara e, sucessivamente, se for o caso, do Desembargador Relator. Nesse sentido: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PREVENÇÃO CÂMARA DECORRENTE DA ANTERIOR DISTRIBUIÇÃO DE RECURSO. DISTRIBUIÇÃO DE RECURSO CÍVEL ANTERIOR. PREVENÇÃO, SUCESSIVAMENTE, DA CÂMARA E DO RELATOR. INTELIGÊNCIA DO § 1º DO ART. 164 DO RITJES. CASO CONCRETO. DESEMBARGADOR QUE NÃO MAIS COMPÕE O ÓRGÃO FRACIONÁRIO. DESEMBARGADOR APOSENTADO. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO DESEMBARGADOR JORGE DO NASCIMENTO VIANA PARA PROCESSAR E JULGAR A APELAÇÃO CÍVEL N.º 001810-95.2006.8.08.0003 POR PREVENÇÃO DE CÂMARA DECORRENTE DA ANTERIOR DISTRIBUIÇÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0902172-47.2007.8.08.000. 1) Em harmonia com a legislação processual civil, o Regimento Interno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo consagra a regra de prevenção em seu art. 164, §1º, segundo o qual a distribuição de habeas corpus, mandado de segurança e recurso cível ou criminal gera a prevenção da Câmara e do Relator para o processamento e julgamento de todos os recursos posteriores, relativamente ao mesmo processo ou a processos funcionalmente ligados a ele 2) O critério de prevenção previsto no §1º, do art. 164 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça visa estabelecer, de forma geral e abstrata, um critério minimamente objetivo de fixação de competência, evitando-se incertezas derivadas de situações pontuais e casuísticas. Isto porque, em tese, é possível a existência de decisões conflitantes a serem proferidas por este Tribunal de Justiça, caso os recursos interpostos em face das decisões prolatadas pelo Magistrado de primeiro grau, em processos funcionalmente relacionados, venham a ser distribuídos a Órgãos julgadores distintos. 3) É proposital a redação da norma regimental ao determinar a prevenção, em primeiro momento, do órgão fracionário (rectius: da câmara) e, em passo seguinte, se for o caso, do Desembargador Relator. In casu, a anterior distribuição do agravo de instrumento n.º 0902172-47.2007.8.08.000, interposto nos autos da ação reivindicatória nº 0001810-95.2006.8.08.0003, à Quarta Câmara Cível, torna-a preventa para posteriores distribuições a ele vinculadas, nos termos do §1º do art. 164, do RITJES. No entanto, considerando que o Relator, à época, Desembargador Carlos Roberto Mignone, não mais integra a composição do órgão julgador, face sua aposentadoria, impõe-se a distribuição do recurso posteriormente interposto nos referidos autos entre os Desembargadores remanescentes na Câmara, a qual, neste caso, foi realizada ao Desembargador Jorge do Nascimento Viana, sendo, portanto, este o Desembargador competente para o processamento e julgamento da apelaçãocível nº 0001810-95.2006.8.08.0003, que ensejou este incidente. Precedentes TJES. 4) Trata-se, portanto, de hipótese de prevenção de Câmara, decorrente de anterior distribuição de recurso vinculado (agravo de instrumento n.º 0902172-47.2007.8.08.000) em que se fez necessária, em razão de o Desembargador Prevento não mais compor o órgão fracionário, a distribuição do recurso interposto após a aposentadoria deste (apelação cível n.º 001810-95.2006.8.08.0003) por livre sorteio entre os atuais componentes do órgão julgador (Quarta Câmara Cível). 5) Conflito conhecido, para DECLARAR A COMPETÊNCIA DO DESEMBARGADOR JORGE DO NASCIMENTO VIANA , perante a Quarta Câmara Cível, para o processamento e julgamento da Apelação Cível nº 001810-95.2006.8.08.0003, por prevenção de Câmara decorrente da anterior distribuição do agravo de instrumento n.º 0902172-47.2007.8.08.000. (TJES, Classe: Conflito de competência cível, 100210022867, Relator: PRESIDENTE DO EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTICA ES, Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento: 19/08/2021, Data da Publicação no Diário: 25/08/2021) ACÓRDÃO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. RECURSO DISTRIBUIDO APÓS APOSENTADORIA DE DESEMBARGADOR. INTELIGÊNCIA DO ART. 164, PARÁGRAFO ÚNICO, DO RITJES E DO ART. 117, §3º, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 234⁄02 (CÓDIGO DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA). PREVENÇÃO DA CÂMARA. NECESSIDADE DE REDISTRIBUIÇÃO. PROCEDÊNCIA. 1. De acordo com o art. 164 do regimento interno, previne-se a competência da Câmara e, em seguida, do relator, se este ainda fizer parte de órgão julgador. Precedente TJES. 2. Portanto, os recursos não distribuidos ao Desembargador até a data de sua aposentação atraem apenas a prevenção para a Câmara e não para o sucessor, conforme dispõe o §4º do art. 117, do Código de Organização Judiciária. 3. Conflito de competência procedente. (TJES, Classe: Conflito de Competência, 100090034032, Relator: PRESIDENTE DO EGREGIO TRIBUNAL DE JUSTICA ES, Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO, Data de Julgamento: 11/02/2010, Data da Publicação no Diário: 08/03/2010) EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO FUNCIONALMENTE LIGADO. REMOÇÃO DO DESEMBARGADOR ORIGINARIAMENTE PREVENTO PARA OUTRO ÓRGÃO JULGADOR. PREVENÇÃO DE CÂMARA, QUE ANTECEDE À PREVENÇÃO DO RELATOR. CONFLITO CONHECIDO. 1. Em harmonia com a legislação processual civil, o Regimento Interno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo consagra a hipótese de prevenção em seu art. 164, §1º, que estabelece a prevenção de Câmara e de Relator para todos os recursos posteriores, relativamente ao mesmo processo ou a processos funcionalmente ligados a ele. 2. A regra da distribuição por prevenção de Relator é excepcionada, entre outras hipóteses, se o Desembargador prevento passar a integrar Câmara distinta ou, então, se assumir um dos cargos da Mesa Diretora do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, quando remanescerá, em ambas as hipóteses, apenas a prevenção de Câmara, que antecede a prevenção do próprio Relator, devendo os recursos posteriores serem distribuídos entre os integrantes do Órgão Colegiado do qual ele (Relator) fazia parte. 3. In casu , infere-se que a distribuição do Agravo de Instrumento objeto deste conflito, à relatoria do Desembargador Suscitado, se deu em decorrência da remoção anterior da Desembargadora originariamente preventa, para outro órgão colegiado desta Corte de Justiça Estadual, tendo sido preservada, neste caso, somente a competência da Câmara julgadora. 4. Conflito conhecido, para declarar a competência do Des. Ronaldo Gonçalves de Sousa. (Data da publicação: 24/ago/2018 Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO Número: 0015568-33.2018.8.08.0000) Assim, pelo disposto no parágrafo único do art. 164, do RITJES, a distribuição do primeiro recurso torna preventa a competência do órgão julgador e do relator para todos os recursos posteriores referentes às decisões que, porventura, forem proferidas no mesmo processo ou em processo que lhe for conexo. No caso em julgamento, o conflito faz referência a Agravos de Instrumento interpostos em face de decisões proferidas no mesmo processo originário (processo nº 5000594-19.2023.8.08.0035). O Agravo de Instrumento nº 5008217-45.2023.8.08.0000 foi distribuído em 27.7.2023 e julgado perante a Primeira Câmara Cível, sob a Relatoria do Des. Conv. Aldary Nunes Júnior. O recurso objeto do presente Conflito, por sua vez, foi distribuído em 16.07.2024, e remetido ao Juízo Suscitante em decorrência da distribuição anterior do Agravo de Instrumento nº 5006728-36.2024.8.08.0000, distribuído perante a Primeira Câmara Cível em 27.5.2024, conforme certidão ID 9300011 dos autos em referência. O Juízo Suscitante, entretanto, determinou a remessa do recurso ao Juízo Suscitado, tendo em vista o julgamento pretérito de Agravo correlato (nº 5008217-45.2023.8.08.0000). Ocorre que, considerando que o Juízo Suscitado foi removido para integrar a composição da Quarta Câmara Cível desde 02.05.2024 (Resolução nº 67/2024), o mesmo devolveu os autos ao anterior que, na sequência, suscitou este incidente. Fixados os principais aspectos do julgamento, tenho que a competência para o julgamento do Agravo de Instrumento nº 5009319-68.2024.8.08.0000 é do Juízo Suscitante, eminente Des. Ewerton Schwab Pinto Júnior, perante a Primeira Câmara Cível. De fato, muito embora o Juízo Suscitado tenha julgado recurso pretérito conexo ao Agravo objeto do presente Conflito, na data da distribuição deste recurso o mesmo já não integrava mais o colegiado da Primeira Câmara Cível, dada a remoção havia em momento anterior. Logo, prevalece apenas a prevenção do órgão colegiado e, assim, do preclaro Des. Ewerton Schwab Pinto Júnior, a quem distribuído inicialmente a irresignação. Nesse sentido, outro precedente do Tribunal Pleno do e. TJES: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO FUNCIONALMENTE LIGADO. REMOÇÃO DO DESEMBARGADOR ORIGINARIAMENTE PREVENTO PARA OUTRO ÓRGÃO JULGADOR. PREVENÇÃO DE CÂMARA, QUE ANTECEDE À PREVENÇÃO DO RELATOR. EM SEGUIDA, FIRMA-SE A PREVENÇÃO DO RELATOR QUE PRIMEIRO RECEBEU OS RECURSOS DECORRENTES DO MESMO PROCESSO OU DE PROCESSOS FUNCIONALMENTE VINCULADOS. CONFLITO CONHECIDO. 1. Em harmonia com a legislação processual civil, o Regimento Interno do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo consagra a hipótese de prevenção em seu art. 164, §1º, que estabelece a prevenção de Câmara e de Relator para todos os recursos posteriores, relativamente ao mesmo processo ou a processos funcionalmente ligados a ele. 2. A regra da distribuição por prevenção de Relator é excepcionada, entre outras hipóteses, se o Desembargador prevento passar a integrar Câmara distinta ou, então, se assumir um dos cargos da Mesa Diretora do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, quando remanescerá, em ambas as hipóteses, apenas a prevenção de Câmara, que antecede a prevenção do próprio Relator, devendo os recursos posteriores serem distribuídos entre os integrantes do Órgão Colegiado do qual ele (Relator) fazia parte. 3. Considerando que após a remoção da Desª. Elisabeth Lordes para a 1ª Câmara Criminal, o Des. Ronaldo Gonçalves de Sousa, enquanto membro da 3ª Câmara Cível, foi o primeiro a receber os recursos decorrentes do processo originário nº 0009650-58.2017.8.08.0014, em razão de distribuição pelo critério de prevenção de Câmara, firmou-se a prevenção daquele Relator para a análise e julgamento de todos os recursos posteriores funcionalmente relacionados, nos exatos termos do art. §1º do art. 164 do RITJES. 4. Conflito conhecido, para declarar a competência do Des. Ronaldo Gonçalves de Sousa. (Data da publicação: 30/ago/2018 Órgão julgador: TRIBUNAL PLENO - PRESIDENTE RELATOR Número: 0015558-86.2018.8.08.0000) De fato, os recursos funcionalmente vinculados interpostos após o ato de remoção do Desembargador da Câmara a que pertencia devem ser distribuídos entre os demais integrantes do órgão julgador, remanescendo apenas a prevenção do colegiado. 3. DISPOSITIVO. Em face do exposto, conheço do conflito negativo de competência e DECLARO a competência do Juízo Suscitante, eminente Desembargador Ewerton Schwab Pinto Júnior, integrante da Primeira Câmara Cível, para processar e julgar o Agravo de Instrumento nº 5009319-68.2024.8.08.0000. Reputo válidos os atos processuais porventura praticados, em atenção ao postulado da segurança jurídica. Considerando tal entendimento, deverá a Secretaria da c. Primeira Câmara Cível adotar as providências necessárias para o regular processamento do mencionado recurso. Publique-se. Intimem-se as autoridades envolvidas neste conflito. Diligencie-se. Vitória/ES, data registrada no sistema. Desembargador SAMUEL MEIRA BRASIL JR. Relator

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Lucia Cristine Da Rocha Silva x Banco Mercantil Do Brasil Sa e outros

ID: 325131159

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Conselheiro Lafaiete Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5009990-86.2024.8.13.0183

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

LUCIA CRISTINE DA ROCHA SILVA

Polo Passivo:

BANCO MERCANTIL DO BRASIL SA BANCO PAN S.A.

Intimação

Advogados:

RAFAEL DE SOUZA OLIVEIRA PENIDO

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JOAO VITOR CHAVES MARQUES DIAS

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

CLAUDIO ALEXANDRE PACHECO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

ADRIANA FRANCISCO RIBEIRO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

RONI ADRIANO DE OLIVEIRA

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PATRICIA IVONE SILVA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Conselheiro Lafaiete / 2ª Vara Cível da Comarca de Conselheiro Lafaiete Rua Melvin Jones, 435, Centro, Conselheiro … PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Conselheiro Lafaiete / 2ª Vara Cível da Comarca de Conselheiro Lafaiete Rua Melvin Jones, 435, Centro, Conselheiro Lafaiete - MG - CEP: 36400-000 PROCESSO Nº: 5009990-86.2024.8.13.0183 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Indenização por Dano Moral, Indenização por Dano Material, Empréstimo consignado] AUTOR: LUCIA CRISTINE DA ROCHA SILVA CPF: 854.382.436-20 RÉU: BANCO PAN S.A. CPF: 59.285.411/0001-13 e outros SENTENÇA I – RELATÓRIO LUCIA CRISTINE DA ROCHA SILVA ajuizou a presente ação de natureza consumerista em face de BANCO MERCANTIL DO BRASIL S/A e BANCO PAN S.A. aduzindo, em resumo, que é correntista do primeiro réu, em agência localizada nesta comarca, e que foi vítima do golpe da falsa central telefônica. Segundo narra, o fraudador, valendo-se de subterfúgios, realizou a contratação de empréstimos consignados e cartão de crédito consignado, além de efetuar transferências via PIX para conta bancária de titularidade de DERLI BARBOSA DE CASTRO, mantida junto ao BANCO PAN. Relata que tentou solucionar a situação administrativamente com o BANCO MERCANTIL, sem sucesso. Afirma ter sofrido prejuízos de ordem material e moral em razão da fraude, razão pela qual ajuizou a presente demanda, requerendo: (i) a declaração de inexistência de relação contratual com os réus; (ii) a restituição, em dobro, dos valores indevidamente descontados de seu benefício previdenciário; (iii) a condenação solidária ao pagamento de indenização por danos morais. O BANCO PAN em contestação de id. 10315162588 arguiu preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, culpa exclusiva da consumidora; ausência do dever de indenizar; inexistência de danos materiais e morais. Já o BANCO MERCANTIL apresentou contestação em id. 10318399389 arguindo validade da contratação firmada por meio digital; rechaçou os pedidos de repetição do indébito e danos morais. Requereu, ao final, a improcedência da ação. Em réplica a autora rechaçou as teses defensivas, reforçando ter sido vítima de fraude. Invertido o ônus da prova em favor da autora (id. 10342026223), não houve requerimento de dilação probatória. O feito retornou à conclusão. Tudo visto e examinado. DECIDO. II – FUNDAMENTOS II.1 – PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA Inicialmente, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo BANCO PAN S.A. Com efeito, embora não tenha participado diretamente das contratações impugnadas, restou incontroverso nos autos que os valores obtidos mediante fraude foram transferidos, por meio de transações PIX, à conta bancária de titularidade de DERLI BARBOSA DE CASTRO, mantida junto à referida instituição financeira. A jurisprudência do e. TJMG tem firmado entendimento no sentido de que o banco recebedor dos valores oriundos de fraude responde solidariamente pelos danos, quando não demonstra ter observado os procedimentos exigidos pelo Banco Central para abertura e monitoramento da conta utilizada no golpe, notadamente nos termos das Resoluções BACEN, bem como das diretrizes do Sistema PIX. A respeito: “Responsabilidade do banco destinatário em casos de fraude envolvendo transações via Pix, decorrente de falhas na verificação dos dados durante a abertura de contas bancárias e na fiscalização das operações realizadas. Configurada a negligência por ausência de zelo, impõe-se a condenação por danos materiais e morais.” (TJES – Recurso Inominado nº 5011369-92.2022.8.08.0024) No caso, tendo sido invertido o ônus da prova em favor da consumidora (art. 6º, VIII, do CDC), competia ao BANCO PAN demonstrar a regularidade da abertura da conta recebedora, bem como a adoção de mecanismos efetivos de controle e prevenção de fraudes. Contudo, quedou-se inerte, não se desincumbindo do seu ônus, razão pela qual deve responder solidariamente pelos danos decorrentes da prática fraudulenta. Preliminar rejeitada. Passo ao mérito. II.2 – MÉRITO Presentes os pressupostos processuais e de constituição e desenvolvimento válido do processo, passo à análise do mérito. No caso em exame, evidencia-se relação de consumo, nos termos dos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. A autora figura como consumidora final dos serviços bancários, ao passo que as instituições requeridas se enquadram como fornecedoras. A controvérsia paira em torno da validade das contratações dos contratos nº 6595476, nº 807589292, nº 807589293, nº 910002031142 e nº 910002031146, supostamente realizados por terceiros em nome da autora, por meio de acesso indevido ao seu dispositivo eletrônico, mediante a prática conhecida como "golpe da falsa central telefônica". Trata-se de fraude sofisticada, amplamente disseminada, na qual estelionatários, se passando por prepostos de instituições financeiras, obtêm o acesso remoto ao aparelho da vítima e, a partir disso, contratam empréstimos e realizam transferências bancárias sem qualquer anuência válida. A autora, pessoa idosa e vulnerável, foi induzida ao erro de forma engenhosa. O BANCO MERCANTIL, por sua vez, falhou na identificação de movimentações atípicas — múltiplos contratos em sequência, somados a transferências vultosas — que claramente destoam do perfil de consumo da autora, situação que já vem sendo combatida por outras instituições com bloqueios preventivos e camadas adicionais de autenticação. Além disso, conforme consta nos autos, os documentos acostados pela instituição financeira (id. 10318410522 e id. 10318396496 e seguintes) não demonstram o uso de assinatura eletrônica válida, tampouco a exigência de reconhecimento biométrico facial, em violação direta à Instrução Normativa INSS nº 138/2022, que estabelece a obrigatoriedade do reconhecimento biométrico nas contratações digitais envolvendo benefícios previdenciários. Diante da inversão do ônus da prova, competia ao BANCO MERCANTIL demonstrar a validade e regularidade das contratações impugnadas. Não o tendo feito, incide o disposto no art. 14 do CDC, sendo evidente a falha na prestação do serviço. Outrossim, como já examinado na preliminar, o BANCO PAN, ao manter conta que foi instrumentalizada para o recebimento de valores fraudulentos, também incorre em responsabilidade, por não ter se cercado dos cuidados mínimos na abertura e fiscalização da conta utilizada no golpe, atraindo a incidência da responsabilidade objetiva e solidária, nos moldes da Súmula 479 do STJ e da jurisprudência dominante. Portanto, restando ausente prova válida da relação jurídica entre a autora e o BANCO MERCANTIL, e comprovada a prática fraudulenta por terceiros, com participação indireta do BANCO PAN, impõe-se o reconhecimento da inexistência dos contratos questionados e a responsabilização solidária dos requeridos pelos danos causados à autora. Seguindo. Quanto à pretensão de indenização por danos morais, entendo que a parte autora faz jus à compensação pleiteada, diante da inequívoca falha na prestação dos serviços por ambas as instituições financeiras rés, em cenário que extrapola o mero aborrecimento e atinge diretamente a esfera da dignidade, segurança e estabilidade emocional da consumidora. No presente caso, restou demonstrado que a autora foi vítima de fraude bancária sofisticada, combinando os mecanismos do “golpe da falsa central telefônica” prática já amplamente reconhecidas pela jurisprudência como capazes de configurar responsabilidade objetiva dos bancos envolvidos, nos termos da Súmula 479 do STJ. A fraude, conforme já abordado, consistiu na indução da vítima, mediante redirecionamento de ligação e simulação de canal oficial do banco, a entregar seus dados sensíveis, permitindo a realização de diversos contratos bancários fraudulentos e transferências via PIX. No que toca ao BANCO MERCANTIL, além da ausência de autenticação biométrica, conforme exigência expressa da Instrução Normativa INSS nº 138/2022, também restou evidenciada sua omissão na identificação e bloqueio de movimentações bancárias atípicas, realizadas em sequência e fora do perfil da autora — o que, por si só, configura defeito na prestação do serviço bancário e violação ao dever de segurança (art. 14 do CDC). No tocante ao BANCO PAN, igualmente se verifica a sua responsabilidade, em razão de ter fornecido a estrutura bancária para que a fraude se concretizasse. Isso porque os valores obtidos mediante as contratações fraudulentas foram transferidos para conta bancária de titularidade de terceiro (Derli Barbosa de Castro), mantida junto àquela instituição. Embora o BANCO PAN não tenha participado diretamente da contratação, sua responsabilidade é clarividente quando este não comprova a adoção de medidas eficazes de controle na abertura e fiscalização da conta bancária envolvida na fraude, nos termos das resoluções do BACEN e diretrizes do Sistema PIX: Ressalte-se que o ônus da prova quanto à regularidade da abertura e movimentação da conta destino foi invertido em favor da autora, conforme art. 6º, VIII, do CDC, mas o BANCO PAN permaneceu inerte, não se desincumbindo do dever de demonstrar que adotou os controles previstos na regulamentação do Banco Central para evitar a utilização de contas por “laranjas” ou terceiros fraudadores. Portanto, ambas as instituições financeiras respondem de forma solidária pelos danos causados à parte autora, uma vez que a conduta omissiva de uma e a participação indireta da outra concorreram diretamente para o resultado lesivo, nos termos do art. 7º, parágrafo único, do CDC. A respeito: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. GOLPE DA "FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO". CONSUMIDORA HIPERVULNERÁVEL. IDOSA. MOVIMENTAÇÕES ATÍPICAS EM VALORES ELEVADOS. MUDANÇA ABRUPTA DE PERFIL. FRAUDE. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. FORTUITO INTERNO. DANOS MORAIS E MATERIAIS CONFIGURADOS. RESTITUIÇÃO DEVIDA. INDENIZAÇÃO. VALOR. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. RECURSO PROVIDO. - A responsabilidade do fornecedor é objetiva, e constitui direito básico do consumidor a ampla reparação por danos patrimoniais e morais, se efetivamente comprovados (art . 6º do CDC). Tal encargo reparatório somente pode ser afastado nas hipóteses de: I) comprovação de inexistência do defeito; II) culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, do CDC)- As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (STJ, Súmula 479) - "Malgrado os consumidores tenham a incumbência de zelar pela guarda e segurança do cartão pessoal e da respectiva senha, é também dever da instituição financeira verificar a regularidade e a idoneidade das transações realizadas, a ponto de dificultar as fraudes, independentemente de qualquer ato dos consumidores. Ademais, tratando-se de consumidor idoso, a imputação de responsabilidade há de ser feita sob as luzes do Estatuto do Idoso e da Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos, sempre considerando a sua peculiar situação de consumidor hipervulnerável" (STJ, AgInt no AREsp n . 2.201.401/RJ) - No caso concreto, foi devidamente demonstrada a responsabilidade da instituição financeira, pois a mudança abrupta de perfil da consumidora deveria ser identificada como indício de fraude - É devida a restituição dos valores retirados de forma fraudulenta da conta bancária da consumidora, bem como descontados em seu cartão de crédito - Resta configurado o dano moral, ante a insegurança, abalo emocional e psicológico experimentados pela consumidora ao se deparar com a possibilidade de não recuperar elevada quantia - Para o arbitramento da reparação pecuniária por danos morais, o juiz deve considerar circunstâncias fáticas e repercussão do ato ilícito, condições pessoais das partes, razoabilidade e proporcionalidade. (TJ-MG - AC: 50018331420228130210, Relator.: Des. (a) Habib Felippe Jabour, Data de Julgamento: 03/10/2023, 18ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 03/10/2023). (negritei). E ainda: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. IRREGULARIDADE EM TRANSAÇÕES REALIZADAS COM CARTÃO DO CONSUMIDOR. "GOLPE DA FALSA CENTRAL TELEFÔNICA" OU "GOLPE DA FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO" . UTILIZAÇÃO DE DADOS PESSOAIS E DO NÚMERO DO CANAL OFICIAL DE ATENDIMENTO. INDUÇÃO DA CONSUMIDORA À ENTREGA DE CARTÃO E SENHA A TERCEIRO. FORTUITO INTERNO. RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA (SÚMULA 479, STJ) . FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS BANCÁRIOS. RESTITUIÇÃO SIMPLES E NÃO EM DOBRO. TUTELA INDENIZATÓRIA. GOLPE DO MOTOBOY. ILÍCITO MORAL. CONFIGURAÇÃO. RECURSO PROVIDO EM PARTE. - Nos termos do artigo 14, do CDC, o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos materiais causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços - O chamado "golpe da falsa central telefônica" ou "golpe da falsa central de atendimento", praticado com acesso aos dados do correntista e utilização do número de telefone do canal oficial de atendimento, constitui fraude praticada por terceiro no âmbito das operações bancárias e caracteriza fortuito interno, razão pela qual a instituição financeira deve ser responsabilizada pelos prejuízos sofridos pelo correntista, nos termos da Súmula 479 do STJ – (...) - Descontos em conta e cobrança indevida em fatura de cartão de crédito do consumidor atingido geram recomposição material em correspondente medida e dano moral indenizável. (Des. Marcelo Pereira da Silva). (TJ-MG - AC: 50064550320218130686, Relator.: Des.(a) Rui de Almeida Magalhães, Data de Julgamento: 12/07/2023, 11ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 14/07/2023). (negritei). Por fim: APELAÇÕES CÍVEIS - DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - GOLPE DA "FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO" - CONTATO TELEFÔNICO REALIZADO POR MEIO DE NÚMERO SEMELHANTE AO DA CENTRAL TELEFÔNICA DO BANCO - MOVIMENTAÇÕES ATÍPICAS EM VALORES ELEVADOS - TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS EM CURTO LAPSO TEMPORAL E EM HORÁRIOS SUSPEITOS - MUDANÇA ABRUPTA DE PERFIL - FRAUDE - FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - FORTUITO INTERNO - DANOS MORAIS E MATERIAIS CONFIGURADOS - RESTITUIÇÃO DEVIDA - FORMA SIMPLES - INDENIZAÇÃO - VALOR - PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - PRIMEIRO RECURSO NÃO PROVIDO E SEGUNDO RECURSO PROVIDO. – (...) - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias (STJ, Súmula 479) - No caso concreto, foi devidamente demonstrada a responsabilidade da instituição financeira, pois a mudança abrupta de perfil dos consumidores (resgate de elevados valores da poupança em curso lapso temporal) deveria ser identificada como indício de fraude - Resta configurado o dano moral, ante a insegurança, abalo emocional e psicológico experimentados pelo consumidor ao se deparar com a possibilidade de não recuperar elevada quantia. (...). (TJ-MG - Apelação Cível: 5013759-56 .2023.8.13.0145 1 .0000.24.179386-8/001, Relator.: Des.(a) Habib Felippe Jabour, Data de Julgamento: 07/05/2024, 18ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 08/05/2024) Adiante. Como sabido, a indenização por danos morais deve observar os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, levando-se em conta a gravidade da lesão, a extensão do dano, a capacidade econômica das partes e a finalidade compensatória e pedagógica da medida. Neste viés, embora a autora tenha sugerido o valor de R$10.000,00 (dez mil reais) como compensação extrapatrimonial, entendo que tal quantia não atende, de forma adequada, aos objetivos da reparação civil. Isto porque, se levada em consideração a condição de vulnerabilidade da autora (idosa), a intensidade do dano, a inércia das instituições financeiras diante de sua obrigação de proteger o consumidor e o seu elevado porte econômico, arbitro a indenização por danos morais em R$12.000,00 (doze mil reais), valor que se mostra justo e adequado às circunstâncias do caso. Saliente-se que, conforme entendimento reiterado do STJ, não há julgamento ultra petita quando o magistrado fixa valor superior ao sugerido na petição inicial, por se tratar de estimativa: “O magistrado, ao arbitrar a indenização por danos morais, não fica vinculado ao valor meramente estimativo indicado na petição inicial.” (AgInt no AREsp 1389028/SP, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 08/05/2019) No tocante aos juros moratórios, tratando-se de responsabilidade extracontratual, estes incidem a partir do evento danoso, conforme dispõe a Súmula 54 do STJ. Por fim, quanto à correção monetária, esta deve incidir a partir da sentença, nos termos da Súmula 362 do STJ. Dessa forma, o arbitramento da indenização em R$12.000,00 (doze mil reais) cumpre a dupla finalidade da reparação civil: compensar a autora pelo sofrimento experimentado e inibir práticas lesivas por parte das instituições requeridas, especialmente em contratações com consumidores vulneráveis e abertura de conta para prática de crime, como no presente caso. De maneira semelhante, quanto ao dano material, reputo procedente o pleito pela restituição em dobro dos valores indevidamente descontados do benefício previdenciário da parte autora, nos termos do art. 42, Parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. O valor a ser restituído haverá de ser apurado em liquidação de sentença, nos termos do artigo 509 do CPC. Assim sendo, por tudo que pude analisar, estou convencido de que, de fato, a parte requerente fora vítima de fraude praticada pelos requeridos, na medida de suas responsabilidades, os quais respondem objetivamente e solidariamente pelos danos causados, nos termos da Súmula 479 do STJ. III – DISPOSITIVO Ante o exposto, com fundamento no artigo 487, inciso I, do CPC, ACOLHO O PEDIDO INICIAL, COM RESOLUÇÃO DO MÉRITO e: 1) DECLARO a inexistência de relação contratual entre a requerente e o BANCO MERCANTIL DO BRASIL partes quanto aos contratos objeto dos autos; 2) CONDENO as requeridas, de forma solidária, ao pagamento, em favor da parte requerente, da importância de R$12.000,00 (doze mil reais), como compensação do dano moral, o qual deverá ser atualizado pelos índices publicados pela Corregedoria Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais a partir do arbitramento (Súmula 362 STJ) e acrescidos de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da data da primeira contratação fraudulenta, correspondente à data do evento danoso, nos termos da Súmula 54 do C. STJ; 3) CONDENO as requeridas, também de forma solidária, a restituir à parte requerente, em dobro, os valores indevidamente descontados de seu benefício previdenciário e/ou conta corrente, referente aos contratos objeto dos autos, corrigidos de acordo com os índices da CGJ e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a contar do efetivo desconto de cada parcela, apurados em liquidação de sentença nos termos do artigo 509 do CPC; 4) CONDENO as requeridas, solidariamente, ao pagamento das custas, despesas e honorários advocatícios de sucumbência, os quais fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação (o que inclui, além das indenizações por dano material e moral ora arbitradas, o valor dos contratos aqui declarado nulos), com os consectários previstos. Após o trânsito em julgado, vista as partes e, nada a prover, ao arquivo com baixa. Publicar. Registrar. Intimar. Cumprir. CONSELHEIRO LAFAIETE, 11 de julho de 2025. ANTÔNIO CARLOS BRAGA Juiz de Direito

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Sergio Magnus De Oliveira x Aymore Credito, Financiamento E Investimento S.A.

ID: 331733864

Tribunal: TJMG Órgão: 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5000990-50.2024.8.13.0672

Data de Disponibilização: 22/07/2025

Polo Ativo:

SERGIO MAGNUS DE OLIVEIRA

Polo Passivo:

AYMORE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A.

Intimação

Advogados:

REGINA MARIA FACCA

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LEONARDO JAMEL SALIBA DE SOUZA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Sete Lagoas / 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Rua José Duarte de Paiva, 715, Jardim Cambuí, Centro, Sete La… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Sete Lagoas / 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas Rua José Duarte de Paiva, 715, Jardim Cambuí, Centro, Sete Lagoas - MG - CEP: 35700-059 PROCESSO Nº: 5000990-50.2024.8.13.0672 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) ASSUNTO: [Capitalização / Anatocismo, Limitação de Juros, Comissão de Permanência, Honorários Advocatícios] AUTOR: SERGIO MAGNUS DE OLIVEIRA CPF: 861.741.856-72 RÉU: AYMORE CREDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S.A. CPF: 07.707.650/0001-10 SENTENÇA Vistos, etc SÉRGIO MAGNUS DE OLIVEIRA, devidamente qualificado, ajuizou a presente AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO contra AYMORÉ CRÉDITO S.A, também qualificado, sob o argumento de que firmou com a parte requerida um contrato de financiamento para aquisição de um veículo. Entretanto, afirma que tal contrato está eivado de cláusulas abusivas. Assim, após vasta explanação sobre o cabimento jurídico da pretensão, requer: seja declarada indevida a comissão de permanência cumulada com outros encargos; sejam decotadas do contrato as cláusulas abusivas referentes às tarifas de “Registro de Contrato”, “Avaliação do Bem" e “Seguro”; sejam restituídos em dobro os valores cobrados a maior. Com a petição inicial vieram documentos. Devidamente citada, a ré apresentou contestação com preliminares de captação irregular de cliente e indevida concessão da gratuidade de justiça. No mérito, defende a legalidade dos encargos contratuais impugnados. Impugnação apresentada. As partes não manifestarem interesse na produção de outras provas. É o relatório. Decido. Processo em ordem, sem vício que possa inquiná-lo de nulidade. Em relação à alegação de litigância predatória por parte do autor e de seu advogado, não comporta acolhimento. Isso porque, primeiramente, intimada pessoalmente, a autora declarou que possui conhecimento da ação, outorgou procuração ao advogado e que o contratou diretamente em seu escritório. Nesse contexto, por parte deste juízo, não cabe nenhuma medida, o que não impede, no entanto, o réu, entendendo que há irregularidade na atuação do advogado, de acioná-lo perante a OAB, independentemente da intervenção deste juízo. Eventual advocacia irregular deve ser apurada em ação própria. Nesse sentido: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE/ INEXIGIBILIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS - RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO - PROCURAÇÃO VÁLIDA - CONDENAÇÃO DO ADVOGADO EM CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - DESCABIMENTO - RECURSO PROVIDO. O instrumento de procuração por advogado constituído pode ser formalizado por instrumento público ou particular. O art. 105, CPC não delimita taxativamente as espécies de constituição de instrumento de procuração, bastando o cumprimento dos seus respectivos requisitos e a anuência da parte patrocinada. É descabida condenação do patrono da parte autora ao pagamento das custas processuais sob a alegação de "Advocacia Predatória", uma vez que este está sujeito às penalidades previstas no Estatuto da OAB. Não se pode utilizar do instituto dos pagamentos das verbas sucumbenciais como forma de punição ao advogado, já que esta não é a forma correta de sanção, tendo em mente os instrumentos punitivos da litigância de má-fé e dos atos atentatórios à dignidade da justiça. No caso de lide temerária a responsabilidade do advogado deve ser apurada em ação própria, conforme preconiza o parágrafo único do art. 32 do EOAB. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.271242-4/001, Relator(a): Des.(a) José Augusto Lourenço dos Santos , 12ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 09/02/2023, publicação da súmula em 15/02/2023) A impugnação à gratuidade de justiça não merece prosperar. Como se sabe, a declaração de hipossuficiência pecuniária firmada pelo requerente da justiça gratuita não ostenta presunção absoluta, o que significa dizer que ela, por si só, não é prova o bastante da pobreza nela anunciada, cabendo ao requerente comprovar a sua alegação. Por outro lado, uma vez concedido o benefício, à parte impugnante cumpre demonstrar que a parte beneficiária possui condições de custear as custas e demais despesas do processo. Em reforço de fundamentação, confiram-se: PROCESSUAL CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO RELATIVA. COMPROVAÇÃO. ADMISSIBILIDADE. EXIGÊNCIA DE 1. A declaração de pobreza, com o intuito de obter os benefícios da assistência judiciária gratuita, goza de presunção relativa, admitindo, portanto, prova em contrário. 2. Para o deferimento da gratuidade de justiça, não pode o juiz se balizar apenas na remuneração auferida, no patrimônio imobiliário, na contratação de advogado particular pelo requerente (gratuidade de justiça difere de assistência judiciária), ou seja, apenas nas suas receitas. Imprescindível fazer o cotejo das condições econômico-financeiras com as despesas correntes utilizadas para preservar o sustento próprio e o da família. 3. Dessa forma, o magistrado, ao analisar o pedido de gratuidade, nos termos do art. 5º da Lei 1.060/1950, perquirirá sobre as reais condições econômico-financeiras do requerente, podendo solicitar que comprove nos autos que não pode arcar com as despesas processuais e com os honorários de sucumbência. Precedentes do STJ. 4. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 257.029/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 15/02/2013) PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ORDINÁRIA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO STF. DECLARAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS DO REQUERENTE. PRESUNÇÃO IURIS TANTUM. CONTRARIEDADE. PARTE ADVERSA E JUIZ, DE OFÍCIO, DECORRENTE DE FUNDADAS RAZÕES. CRITÉRIOS OBJETIVOS. 1. Trata-se de recurso especial cuja controvérsia orbita em torno da concessão do benefício da gratuidade de justiça. 2. O STJ, em sede de recurso especial, conforme delimitação de competência estabelecida pelo artigo 105, III, da Constituição Federal de 1988, destina-se a uniformizar a interpretação do direito infraconstitucional federal, razão pela qual é defeso, em seu bojo, o exame de matéria constitucional, cuja competência é do STF. 3. Há violação dos artigos 2º e 4º da Lei n. 1.060/50, quando os critérios utilizados pelo magistrado para indeferir o benefício revestem-se de caráter subjetivo, ou seja, criados pelo próprio julgador, e pelos quais não se consegue inferir se o pagamento pelo jurisdicionado das despesas com o processo e dos honorários irá ou não prejudicar o seu sustento e o de sua família. 4. A constatação da condição de necessitado e a declaração da falta de condições para pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios erigem presunção relativa em favor do requerente, uma vez que esta pode ser contrariada tanto pela parte adversa quanto pelo juiz, de ofício, desde que este tenha razões fundadas. pedido, 5. Para o indeferimento da gratuidade de justiça, conforme disposto no artigo 5º da Lei n. 1.060/50, o magistrado, ao analisar o perquirirá sobre as reais condições econômico-financeiras do requerente, podendo solicitar que comprove nos autos que não pode arcar com as despesas processuais e com os honorários de sucumbência. Isso porque, a fundamentação para a desconstituição da presunção estabelecida pela lei de gratuidade de justiça exige perquirir, in concreto, a atual situação financeira do requerente. 6. No caso dos autos, os elementos utilizados pelas instâncias de origem para indeferir o pedido de justiça gratuita foram: a remuneração percebida e a contratação de advogado particular. Tais elementos não são suficientes para se concluir que os recorrentes detêm condições de arcar com as despesas processuais e honorários de sucumbência sem prejuízo dos próprios sustentos e os de suas respectivas famílias. 7. Recurso especial provido, para cassar o acórdão de origem por falta de fundamentação, a fim de que seja apreciado o pedido de gratuidade de justiça nos termos dos artigos 4º e 5º da Lei n. 1.060/50. (REsp 1196941/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 23/03/2011) Conforme um dos precedentes citados, "Para o deferimento da gratuidade de justiça, não pode o juiz se balizar apenas na remuneração auferida, no patrimônio imobiliário, na contratação de advogado particular pelo requerente (gratuidade de justiça difere de assistência judiciária), ou seja, apenas nas suas receitas. Imprescindível fazer o cotejo das condições econômico-financeiras com as despesas correntes utilizadas para preservar o sustento próprio e o da família. (AgRg no AREsp 257.029/RS). No caso concreto, a parte ré não se desincumbiu do ônus de comprovar a existência de rendimentos líquidos da parte autora em montante suficiente ao pagamento dos custos processuais da lide, sem prejuízo do sustento próprio da parte autora e de sua família. A parte autora, por sua vez, antes do recebimento da petição, apartou aos documentos hábeis à comprovação de sua hipossuficiência financeira. Dessa forma, rejeito a impugnação à gratuidade de justiça. Em ação revisional de contrato, em que se discute tão somente parte ou algumas cláusulas do contrato, o valor da causa não deve corresponder ao valor integral do ajuste, mas sim ao real proveito econômico almejado com a demanda, consistente no montante dos encargos que se pretende afastar. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO C/C INDENIZAÇÃO - CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO - PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA - REJEITADA - JULGAMENTO CITRA PETITA - ACOLHIDO EM PARTE - INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - CAPITALIZAÇÃO - PACTUADA - TAXA DE JUROS - MANTIDA - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - LIMITADA - VALOR DA CAUSA - ALTERADO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.[...]O valor atribuído à causa, na demanda em que se discute apenas uma parcela do contrato, deve ser proporcional ao valor do pleito. Deve haver uma correlação entre o valor da causa e o proveito econômico que será auferido pelo autor no caso de acolhimento da pretensão inaugural, afastando-se a incidência da norma prescrita no inciso V do art. 259 do Código de Processo Civil. (TJMG - Apelação Cível 1.0694.15.005348-6/001, Relator(a): Des.(a) Amorim Siqueira , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/05/2019, publicação da súmula em 21/05/2019) No presente caso, a parte autora visa anular algumas tarifas previstas no contrato, bem como afastar a comissão de permanência. O valor atribuído à causa, a par disso, não pode ser aquele contido na petição inicial, embora não seja possível apurar, de plano, o valor econômico dos pedidos, visto que, em caso de procedência dos pedidos, o proveito econômico nem perto chegará do montante alcançado pelo autor. Ante a incerteza do proveito econômico perseguido, afigura-se razoável atribuir à causa um valor simbólico à causa. Nesse sentido, já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça: "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA - FORMULAÇÃO DE PEDIDO DE INDENIZAÇÃO GENÉRICO - ATRIBUIÇÃO DE VALOR SIMBÓLICO- DECISÃO QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DO IMPUGNANTE.1. O pedido de indenização formulado foi genérico, uma vez que a parte autora não tinha como aferir, de imediato, o conteúdo econômico da demanda. Sendo assim, legítima foi a atribuição de valor simbólico à causa, nos termos da jurisprudência do STJ.2. A constatação de que houve a formulação de pedido genérico independe do reexame de fatos e provas, dependendo apenas da leitura dos requerimentos finais da petição inicial.3. Agravo regimental desprovido.(AgRg no REsp 1294449/MG, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 02/10/2014, DJe 15/10/2014)" Assim, determino de ofício a alteração do valor da causa para R$ 5.000,00. Superadas as preliminares, passa-se à análise dos pedidos. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS A comissão de permanência tem por fim remunerar a instituição financeira pela disponibilização do capital ao mutuário, durante o período de inadimplência, prestando para corrigir, pois, o saldo devedor em contratos bancários, seguindo índice definido pelo Banco Central do Brasil, o que não implica na potestatividade do encargo, tratando-se de tema pacificado com a edição da Súmula 294 do egrégio Superior Tribunal de Justiça. Confira-se: Súmula 294: “Não é potestativa a cláusula contratual que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato.” A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite a sua cobrança, desde que não cumulada com os juros remuneratórios, a correção monetária, os juros de mora e a multa contratual. A Segunda Seção do STJ, no julgamento do REsp nº 863.887, RS, consolidou o entendimento de que a comissão de permanência abrange três parcelas, a saber, os juros remuneratórios, à taxa média de mercado, nunca superiores àquela contratada para o empréstimo, os juros moratórios e a multa contratual. O entendimento do Tribunal da Cidadania vem estampado nas seguintes súmulas Súmula 30. “A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis”. Súmula 296. “Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual contrato.” Também não se pode desconsiderar o enunciado da súmula 472 do referido Tribunal, que dispõe: Súmula 472. “A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato- exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual”. É permitida, pois, apenas a incidência da comissão de permanência no período de inadimplência, sem cumulação com outro encargo moratório, limitada à soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao ano; e c) multa contratual limitada a 2% do valor da prestação (REsp 1058114/RS). No presente caso, em análise dos encargos moratórios, não houve pactuação expressa de comissão de permanência no contrato objeto de discussão, tampouco o autor logrou êxito em demonstrar sua efetiva incidência nas parcelas pagas em atraso de forma cumulada com outros encargos, o que impossibilita a revisão contratual neste ponto. Também assim já decidiu o TJMG: EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO - CONTRATO DE FINANCIAMENTO - JUROS REMUNERATÓRIOS - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - RE- 592377 pelo STF - LEGALIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO - SERVIÇOS DE TERCEIROS - ILEGALIDADE - TARIFA DE CADASTRO- LEGALIDADE NA COBRANÇA - RESTITUIÇÃO - FORMA SIMPLES 1- Os juros remuneratórios praticados pelas instituições financeiras não estão adstritos a 12% ao ano, conforme Súmula 596 - STF e pacífico entendimento do STJ. 2- É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. 3- Inexistente a contratação da comissão de permanência, não há que se falar em sua limitação. 4- Tenho que a cobrança dos serviços de terceiros trata-se de cobrança abusiva, pois transferem ao consumidor os custos da remuneração daqueles que prestam serviços à instituição financeira. 5- Permanece legítima a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço de "realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao inicio de relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou de poupança ou contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil. 6- Nos casos de cobrança abusiva, mas de acordo com o que restou expressamente contratado, a repetição deve ser realizada de forma simples. (TJMG - Apelação Cível 1.0672.13.012983-2/002, Relator(a): Des.(a) Mota e Silva , 18ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/07/2015, publicação da súmula em 23/07/2015) EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO - REVISÃO - POSSIBILIDADE - JUROS REMUNERATÓRIOS - LIMITAÇÃO - ABUSIVIDADE NÃO CONSTATADA - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - SERVIÇOS DE TERCEIROS - LEGALIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NÃO PREVISTA -LEGALIDADE. - Para limitação dos juros remuneratórios é necessária a comprovação de que foram cobrados em patamar excessivo, muito acima da média praticada no mercado à época da contratação, conforme orientação do STJ. - Admite-se a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano quando expressamente pactuada nos contratos bancários firmados a partir de 30 / 03 / 2000. - Não há que se declarar a ilegalidade da cláusula que prevê a cobrança da tarifa de serviços de terceiros, tendo em vista que a Resolução nº 3.954/2011 do Banco Central do Brasil vedou a referida cobrança a partir de 24/02/2011. - Não há que se falar em ilegalidade da comissão de permanência se ela não está prevista no contrato e ausente provas da sua incidência. (TJMG - Apelação Cível 1.0672.14.037085-5/001, Relator(a): Des.(a) Aparecida Grossi , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/04/2016, publicação da súmula em 03/05/2016) Logo, não evidenciada a pactuação, tampouco a cobrança de comissão de permanência no caso em exame, carece o autor de interesse quanto ao ponto. DAS TARIFAS DE “REGISTRO DE CONTRATO”, “AVALIAÇÃO DO BEM” e “SEGURO” Relativamente às tarifas de Registro de Contrato e Avaliação do Bem, ao julgar o REsp. nº. 1578553/SP, sob a forma de recurso repetitivo, o c.STJ firmou tese acerca da validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a i) abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a ii) possibilidade de controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto. […] (REsp 1578553 SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/11/2018, DJe 06/12/2018). No caso concreto, deve ser reconhecida a legalidade da cobrança de tais encargos, uma vez que existe prova de que os respectivos serviços foram prestados, de acordo com os documentos que acompanham a contestação (IDS 10236945422 e 10236947017). Por fim, quanto ao seguro, o Superior Tribunal de Justiça possui o entendimento de que o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira e/ou com seguradora por ela indicada. Eis a tese fixada pelo STJ, em julgamento do Recurso Especial nº 1.639.320/SP, sob a ótica de Recurso Repetitivo: 2.2 - Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com a instituição financeira ou com seguradora por ela indicada. Dessa forma, a cobrança de seguros em contratos de financiamento só será reputada legal quando o consumidor for livre para optar por sua contratação, bem como para escolher a seguradora, pois não pode ser compelido a contratar com seguradora indicada pela instituição financeira. No caso dos autos, ao analisar o instrumento contratual, pode-se constatar que ele não dispôs sobre a possibilidade de o consumidor optar pela contratação do seguro, pelo que deve ser declarada a nulidade da respectiva cobrança. Eventual pagamento a maior poderá ser apurado em liquidação de sentença, cuja restituição deve ser feita de forma simples, tendo em vista o entendimento que a cobrança efetuada com base em cláusula contratual, ainda que anulada posteriormente por decisão judicial, não enseja a devolução em dobro, por não configurar má-fé, como previsto no parágrafo único do artigo 42 do CDC. DISPOSITIVO Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS INICIAIS, tão somente para declarar a abusividade do “seguro”, afastando, via de consequência, a respectiva exigibilidade. A devolução dos valores cobrados se dará de forma simples, pela não configuração da hipótese de incidência da norma do parágrafo único do art. 42 do CDC (multa pela cobrança de uma dívida que já se encontrava paga), com correção monetária, segundo os índices da Corregedoria-Geral de Justiça deste Tribunal, desde o pagamento, e juros de mora de 1% ao mês, contados da citação, até a entrada em vigor da Lei nº 14.905/24 (01/09/2024), a partir da qual deverá ser aplicada a taxa Selic para os juros e o IPCA para a correção monetária, na forma prevista pela nova redação dos artigos 389 e 406 do CC, observada a dedução do índice de atualização monetária da taxa Selic prevista no art. 406, § 1º do CC. Na forma do art. 86, parágrafo único, do CPC, condeno apenas o autor ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes em 10% sobre o valor da causa. A exigibilidade do pagamento está suspensa, pois o autor está amparado pela gratuidade de justiça. Determino a alteração do valor da causa para R$ 5.000,00. PRI Sete Lagoas, data da assinatura eletrônica. CARLOS ALBERTO DE FARIA Juiz(íza) de Direito 2ª Vara Cível da Comarca de Sete Lagoas

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Wellington Cabral Nunes x Tradicao Administradora De Consorcio Ltda

ID: 329277571

Tribunal: TJMG Órgão: 5ª Vara Cível da Comarca de Uberlândia Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 5011369-57.2024.8.13.0702

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

WELLINGTON CABRAL NUNES

Polo Passivo:

TRADICAO ADMINISTRADORA DE CONSORCIO LTDA

Intimação

Advogados:

NAYARA CORREA DA CONCEICAO

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

LEANDRO AURELIANO BRAGA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE UBERLÂNDIA 5ª Vara Cível da Comarca de Uberlândia Autos n. 5011369-57.2024.8.13.0702 SENTENÇA Vistos etc. WELLINGTON CABRAL NUNES ajuizou a prese… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE UBERLÂNDIA 5ª Vara Cível da Comarca de Uberlândia Autos n. 5011369-57.2024.8.13.0702 SENTENÇA Vistos etc. WELLINGTON CABRAL NUNES ajuizou a presente AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C DANOS MATERIAIS em desfavor de TRADIÇÃO ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIO LTDA, ambos qualificados nos autos em epígrafe, em que alegou, em suma, que o “Réu entrou em contato com o Requerente, ofertando um uma proposta de empréstimo para aquisição de compra de um imóvel, o qual deveria depositar a quantia de R$40.000,00 , e que pegaria a quantia de R$500.000,00”; que “após inúmeras insistência do preposta da empresa ré, informou que o mesmo deveria pagar a quantia de R$40.000,00, na data para ser beneficiado do programa, para estar aderindo o empréstimo para aquisição do imóvel, o qual assim fez”; que “Dias após, a empresa retornou a ligação informando o Autor que o mesmo havia aderido um consórcio, e como não constava com o contrato , o mesmo solicitou a segunda via do documento exarado”; que “se surpreendeu com as informações, constante, onde o mesmo encontrava-se proposta 22017950, grupo 000608, cota 0172”; que “o mesmo se surpreendeu com prestações de R$11.870,62, onde o mesmo não possui nem mesmo condições financeiras mensal para esse valor de prestação”; que “condicionaram um valor de seguro prestamista de 0,06409 e vida 41,53”; que “Compareceu o autor na filial da empresa ré, solicitando o cancelamento do negocio jurídico, porém informaram que iriam cancelar, o que não ocorreu”; que “é pessoa de pouca instrução, não tendo condições de diferenciar os termos específicos que constam nos referidos documentos, acreditando que, conforme lhe havia sido informado, em pouco tempo estaria adquirindo a sua casa própria”; que “O autor, diante de sua vulnerabilidade, foi levado muito mais pela propaganda e apresentação verbal do negócio do que pelo que vem a ser pactuado em linguagem técnica no contrato”; que “a empresa ré enganou o autor, pois fez o demandante acreditar que se tratava de um empréstimo para carta de credito para aquisição do seu imóvel”; que “Houve falha na prestação do serviço, em razão de veiculação de propaganda enganosa, capaz de confundir a população mais aflita pela realização pela melhora da sua vida financeira e vulnerável à informação publicitária, levando-a realizar o negócio jurídico acreditando que estaria realizando um negócio rentável”; e que a “hipótese traduz falha na prestação do serviço por vício de informação, o que macula o negócio jurídico firmado entre as partes, impondo-se o reconhecimento da rescisão do contrato e a consequente restituição da quantia integralizada pelo consumidor”. Diante disso, requereu, inicialmente, a concessão dos benefícios da justiça gratuita; em sede de tutela de urgência, requereu “SUSPENDER AS PARCELAS, bem como determinar que a empresa ré se abstenha de incluir o nome e CPF do autor nos cadastros restritivos de crédito”; e, no mérito, pugnou pela rescisão dos contratos firmados entre as partes, com anulação das multas aplicadas, “condenando a ré na obrigação de restituir os valores pagos pela autor no montante total R$40.000,00(quarenta mil reais)”; bem como pela condenação da parte ré ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$40.000,00 (quarenta mil reais). Com a inicial (ID nº 10177503114) vieram documentos. A inicial foi recebida na decisão de ID nº 10198739088, sendo concedidos à parte autora os benefícios da justiça gratuita e deferido o pedido de tutela de urgência. Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação (ID nº 10234887919), em que, preliminarmente, impugnou a justiça gratuita concedida à parte autora, e, no mérito, alegou, em suma, que “O autor em 13/09/2023 contratou junto à empresa ré três planos de consórcio para aquisição de imóvel”; que “Totalizando a quantia paga de R$35.612,86, conforme soma de pagamentos realizados em cada uma das cotas”; que “a quantia efetivamente paga pela parte autora foi de R$35.612,86”; que “As cotas de consórcio de titularidade do autor foram canceladas por parcelas em atraso, passando a concorrer mensalmente nos Sorteios dos excluídos, para obtenção da restituição de valores”; que “a ré não comercializa veículos, ou cotas contempladas, bem como não realiza intermediação de empréstimos, ou financiamento de qualquer natureza, sendo seu objeto social apenas a administração de consórcios”; que “em todo momento, ficou evidente que o autor estava aderindo ao consórcio e, mesmo após realizar os pagamentos, ele não interpôs qualquer questionamento sobre, revelando assim que este tinha conhecimento do que estava contratando.(…) desde o momento inicial a contratação feita entre o autor com a ré Tradição Administradora de Consórcio foi referente a Consórcio”; que “em 21/09/2023, fora realizado o pós-venda, no qual o autor concordou com a informação de contratação de consórcio, sem apresentar qualquer objeção em momento algum. Em determinado momento este até mencionou o valor pago pelas três cotas juntas”; que “o autor afirmou clara e explicitamente que leu e assinou os três contratos, além de estar ciente quanto questões como contemplação, assembleia, cancelamento e até do seguro contratado”; que “Conforme informado ao autor no pós-venda, a primeira assembleia ocorreria em 16/10/2023, ou seja, o autor teve quase um mês para cancelar seu contrato, caso houvesse quaisquer informações divergentes, o que não ocorreu”; que “o autor, após a ligação, não solicitou a segunda via do contrato, nem entrou com pedido de cancelamento e muito menos compareceu à sede da administradora para cancelamento das cotas”; que “O contrato de consórcio pertencente a cota 0166 fora assinado eletronicamente, via plataforma DocuSign, Envelope ID 3FE16121-EEF6-4D08-B2BF-1140A9AF30AD, pelo qual o autor declarou sua concordância quanto aos termos do consórcio. Do mesmo modo os contratos de consórcio associados as cotas 0169 e 0172 foram assinados de maneira eletrônica, Envelope ID F03BE690-8343-4323-A6B5-47E45E06C77E e Envelope ID 4A4283FF-AD3E-4E31-AD46-8230E2BC1368”; que “o autor tinha plena ciência dos termos pactuados e possuía a faculdade de celebrar o consórcio com qualquer outra administradora, a princípio, sem nenhuma intervenção de terceiros/ representantes”; que “as cláusulas referentes a: taxa de administração, fundo de reserva e seguro de vida FORAM DEVIDAMENTE PACTUADAS, não há qualquer abusividade a justificar a revisão do contrato”; que “o consorciado excluído terá direito a restituição dos valores pagos quando da contemplação das cotas por sorteio dos excluídos conforme determina a lei do consórcio, ou com o encerramento do grupo”; que “a devolução dos valores pagos não será realizada de forma integral, pois como bem demonstrado a ré não deu causa ao cancelamento do contrato, sendo o autor o único responsável por sua resilição”; e que “deduzido da restituição devida, os valores pagos a título de taxa de administração, cláusula penal, fundo de reserva, seguro, se contratado”. Diante disso, pugnou pela improcedência dos pedidos autorais. A peça de defesa veio acompanhada por documentos. Impugnação à contestação sob o ID nº 10250187633. É o relatório. Decido. Em primeiro lugar, considerando que o feito se mostra suficientemente instruído, passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil. Em segundo lugar, rejeito a impugnação à justiça gratuita concedida à parte autora suscitada pela parte ré, tendo em vista ter sido apresentada de modo genérico, não tendo a demandada indicado, concretamente, qualquer elemento apto a desconstituir a hipossuficiência financeira afirmada na exordial. Em terceiro lugar, passo ao exame do mérito propriamente dito. A parte autora alega que firmou contrato junto à parte ré visando a aquisição de um imóvel, entretanto sustenta ter sido induzida pela preposta da demandada, acreditando que estava contratando um empréstimo, e não aderindo a um consórcio. Pretende, assim, a rescisão contratual, bem como restituição dos valores pagos, além de indenização por danos morais. Lado outro, a parte ré se opõe ao pedido, sustentando que a parte autora tinha integral conhecimento acerca da natureza do contrato a que aderia. A princípio, destaco que a relação jurídica mantida entre as partes é de natureza consumerista, pois o autor adquiriu cota de participação em grupo de consórcio como destinatário final, sendo, portanto, consumidor conforme a descrição do art. 2º do CDC, enquanto a ré é a administradora do grupo de consórcio, sendo evidente a prestação de serviço de natureza financeira, o que a enquadra como fornecedora, nos termos do art. 3º, §2º, do CDC. Nesse sentido, inclusive, é uníssona a jurisprudência do col. Superior Tribunal de Justiça quanto a aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor à relação entre consorciado e a administradora, in verbis: CIVIL. CONSÓRCIO. DECRETAÇÃO DE REGIME DE ADMINISTRAÇÃO TEMPORÁRIA. APURAÇÃO DE PREJUÍZOS PELO BACEN. LEILÃO PARA TRANSFERÊNCIA DA CARTEIRA A TERCEIRO ADMINISTRADOR. ASSEMBLEIA. CRIAÇÃO DE TAXA ADICIONAL PARA RATEIO DE PREJUÍZOS. IMPUGNAÇÃO. APLICAÇÃO DO CDC. SEPARAÇÃO DE HIPÓTESES. RELAÇÃO ADMINISTRADORA-CONSORCIADOS. APLICABILIDADE. RELAÇÃO ENTRE CONSORCIADOS. INAPLICABILIDADE. 1. Tendo em vista as características do contrato associativo de consórcio, há dois feixes de relações jurídicas que podem ser autonomamente considerados. A relação entre os consorciados e a administradora, regulada pelo CDC, e a relação dos consorciados entre si, não regulada por esse diploma legal. […] (REsp n. 1.269.632/MG, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18/10/2011, DJe de 3/11/2011) (destaquei). Nesse ponto, importante salientar que, à vista da narrativa da parte autora, de que teria sido induzida a erro durante a aquisição das cotas do consórcio, ao passo que objetivava a aquisição de empréstimo para a compra de um imóvel, formo convencimento no sentido de que, na realidade, a parte autora não foi induzida a erro. Explico. Primeiramente, constata-se que a própria denominação social da empresa ré, qual seja, “Tradição Administradora de Consórcio LTDA.”, já indica a atividade empresarial por ela desempenhada (administração de consórcios). Além do mais, no documento de ID nº 10177503216, juntado pela própria parte autora, restou expresso que “O(a) representante/vendedor(a) da ADMINISTRADORA esclareceu-lhe o que é Pessoa Politicamente Exposta e prestou-lhe todos os esclarecimentos relativos à participação em consórcio, tendo você preenchido, rubricado e assinado a Proposta de Participação em Grupo de Consórcio (‘Proposta’) e recebido 1 (uma) via digital da proposta” (destaquei). Nesse sentido, a parte autora ao firmar o contrato com a parte ré, foi informada de que se tratava de participação em consórcio e não de um empréstimo para a aquisição de imóvel. Para mais, o próprio contrato foi intitulado como “Proposta de Participação em Grupo de Consórcio”, o qual foi juntado aos autos sob o ID n° 10177503216-pág. 3, também pela parte autora. Dessa forma, não há que se falar que a parte autora foi induzida a erro pela parte ré, pois lhe foi informado que se tratava da contratação de consórcio, não podendo o autor dizer que teve uma falsa noção a respeito da natureza do negócio jurídico. À vista disso, depreende-se dos autos como incontroverso e foi efetivamente comprovado que as partes firmaram as seguintes “Proposta de Participação em Grupo de Consórcio”: Proposta n° Grupo Cota ID n° 22017948 000608 0166 10234894776 22017949 000608 0169 10234894777 22017950 000608 0172 10234894778 Restou incontroversa, ainda, a desistência do autor quanto ao contrato face a sua inadimplência, tendo ele alegado que adimpliu a importância de R$40.000,00 (quarenta mil reais). No entanto, os “Extrato de consorciado” juntados pela parte ré nos IDs nº 10234889031, 10234889033 e 10234889035, demonstram o pagamento das quantias de R$11.870,59 (onze mil, oitocentos e setenta e um reais e cinquenta e nove centavos), refere às cotas de nº 0166 e 0169 (cada uma), e de R$11.871,68 (onze mil, oitocentos e setenta e um reais e sessenta e oito centavos), referente à cota n° 0172, totalizando o montante de R$35.612,86 (trinta e cinco mil, seiscentos e doze reais e oitenta e seis centavos). Além disso, constam dos mesmos extratos o pagamento de taxa administrativa, fundo de reserva e seguro, nos seguintes valores: Proposta n° Tx. Adm. Fundo de Reserva Seguro 22017948 R$9.980,12 R$24,20 R$244,50 22017949 R$9.980,12 R$24,20 R$244,50 22017950 R$9.981,05 R$24,20 R$244,50 É induvidoso, portanto, que o caso dos autos comporta hipótese de rescisão contratual por culpa da parte autora, uma vez que foi por ela confessado que adimpliu apenas parte do pagamento das cotas do consórcio, não sendo capaz de continuar o pagamento das demais parcelas. Sendo assim, considerando que a liberdade contratual, por sua natureza, consagra a vontade como um dos pressupostos de constituição do negócio jurídico, tem-se que o ânimo de contratar é importante não apenas para dar início ao pacto como também é essencial para a sua continuidade, principalmente nos casos em que a execução da obrigação assumida é de trato sucessivo, a qual se delonga por considerável prazo, como é o caso dos autos, em que o contrato firmado entre as partes previa o pagamento pela parte autora de 206 (duzentas e seis) prestações mensais (IDs n° 10234889031, 10234889033 e 10234889035). Dessa forma, quando há expressa declaração de interesse no distrato, não se pode dar outra solução à controvérsia senão a de acolher referida pretensão, com a conversão das obrigações assumidas em perdas e danos. Assim, noticiada a impossibilidade de sua execução, a mera vontade da parte autora merece acolhimento para rescindir o vínculo contraído com o consórcio administrado pela ora ré. Não obstante o direito autoral de rescisão contratual pela sua mera declaração de vontade, verifico que a parte ré sequer impugnou o pleito rescisório, mas, pelo contrário, apenas requereu a manutenção das disposições contratuais a respeito da extinção do negócio jurídico. Consequentemente, é de rigor a procedência do pedido autoral neste ponto, para decretar a rescisão do contrato objeto dos autos. Assim, tendo ocorrido a resolução do contrato, é indispensável o retorno das partes contratantes ao status quo ante, todavia, isso não implica em devolução da totalidade da quantia paga, tendo em vista a necessidade de retenção de parte do valor como punição pela rescisão contratual e, na hipótese de contrato de participação em grupo de consórcio, como é o caso dos autos, há ainda que se considerar que a quantia paga a título de taxa de administração não pode ser restituída, como será visto. Pois bem, é sabido que nos contratos de consórcio há a constituição de um grupo promovido pela administradora cuja finalidade é propiciar, mediante autofinanciamento, a aquisição de bens pelos seus integrantes (art. 2º da Lei nº 11.795/08). Além da descrição supra, a Lei nº 11.795/08 traz, em seu art. 22 e seguintes, as regras de contemplação dos consórcios, sendo que “a contemplação ocorre por meio de sorteio ou de lance, na forma prevista no contrato de participação em grupo de consórcio, por adesão” (art. 22, §1º). Os contratos dessa modalidade, portanto, se diferem e muito de outros contratos que visam a aquisição de bens, como contratos de financiamento, sendo diferença notável a ausência de juros remuneratórios e a presença de taxa administrativa, e, principalmente, o caráter indefinido do momento de recebimento do crédito. Não é dizer que os contratos de consórcio são aleatórios, já que as obrigações e suas extensões são bem delimitadas contratualmente, o que ocorre é que apenas o momento em que se recebe a carta de crédito é indefinida. Retira-se dos pedidos autorais que a parte autora requer a restituição dos valores pagos, declarando-se nula a cláusula que versa sobre a aplicação de multa contratual. Já a parte ré defendeu a legalidade da cobrança da multa contratual, da taxa de administração, do seguro e do fundo de reserva. A esse respeito, o contrato firmado entre as partes trouxe em sua cláusula 77ª que “O(A) CONSORCIADO(A) que desistir da sua participação no Grupo, nos termos da Cláusula 15ª acima, estará sujeito(a) à multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor da Restituição dos valores a que tem direito”. Contudo, não há que se falar em aplicação da cláusula penal sem a prova do efetivo prejuízo causado ao grupo. Nesse sentido, dispõe o Código de Defesa do Consumidor: Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. [...] §2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. (grifei) Do mesmo modo, já decidiu o egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO E REVISÃO DO CONTRATO DE CONSÓRCIO E RESTITUIÇÃO DE VALORES - OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - PRELIMINAR REJEITADA - INADIMPLÊNCIA - TAXA DE ADMINISTRAÇÃO - MANUTENÇÃO DO VALOR PREVISTO NO CONTRATO - CLÁUSULA PENAL AFASTADA - AUSÊNCIA DE PROVA DE PREJUÍZO - DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS APÓS 30 DIAS DO ENCERRAMENTO DO GRUPO. - Se o recurso dirigido ao segundo grau de jurisdição foi interposto com os fundamentos necessários e suficientes para proporcionar a análise do pedido de reforma da decisão, não há falar em violação ao princípio da dialeticidade. - O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que as administradoras de consórcio têm liberdade para fixar a respectiva taxa de administração, não havendo ilegalidade ou abusividade da taxa contratada superior a 10%, conforme os termos da Súmula n. 538 do STJ. - Ao consorciado é assegurado o direito à desistência, não se mostrando cabível a dedução do valor correspondente à cláusula penal da quantia a ser restituída ao consumidor sem prova do efetivo prejuízo daí decorrente. - De acordo com o entendimento do STJ, é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim após trinta dias a contarem do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano. (TJMG. Apelação Cível 1.0000.23.348190-2/001, Rel. Des. Valdez Leite Machado, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/02/2024, publicação da súmula em 01/03/2024) (grifei). No caso dos autos, a parte ré se resumiu a narrar que “os danos causados pela desistência do consorciado é tão efetivo, que faz com a administradora tenha de empenhar esforços para substituição do consorciado desistente, e mesmo com a substituição, isso resulta em prejuízos relacionados aos custos associados ao pagamento de comissões aos representantes e parceiros, bem como aos gastos da administradora com equipes de trabalho e toda a gestão do grupo de consórcio”, não trazendo quaisquer provas do efetivo prejuízo suportado. Dessa forma, não restou inconteste o prejuízo causado ao grupo de consórcio, motivo pelo qual não deverá ser descontada cláusula penal ao montante a ser restituído. No que concerne à taxa de administração, a Lei nº 11.795/2008 prevê como um direito à administradora do consórcio a taxa de administração, que serve, portanto, para remunerá-la “pela formação, organização e administração do grupo de consórcio até o encerramento deste, conforme o art. 32, bem como o recebimento de outros valores, expressamente previstos no contrato de participação em grupo de consórcio, por adesão, observados ainda os arts. 28 e 35”. Assim, no caso de rescisão, é evidente que mesmo que o consorciado tenha direito à restituição das quantias que pagou, não será possível restituir o que foi pago como forma de remunerar a administradora, mesmo porque ela de fato prestou o serviço que dela era esperado, a dizer, a formação, organização e administração do grupo. Não obstante, deve-se levar em conta que a rescisão do contrato de participação em grupo de consórcio objeto dos autos não se dá por culpa da administradora ora ré, muito pelo contrário, é pela mera liberalidade da parte autora, não sendo razoável, portanto, obrigar a administradora a restituir a quantia recebida como remuneração. Com isso, verifico que no contrato objeto dos autos foi pactuado, especificamente no parágrafo primeiro da “Cláusula 73ª” (ID n° 10234869894) que “Não serão restituídos ao Consorciado(a) Excluído(a) valores pagos à título de taxa de administração e seguro”. Inclusive, a esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n° 538, in verbis: “As administradoras de consórcio têm liberdade para estabelecer a respectiva taxa de administração, ainda que fixada em percentual superior a dez por cento”. E, analisando as “Proposta de Participação em Grupo de Consórcio” de IDs n° 10234894776, 10234894777 e 10234894778, nota-se que a taxa de administração mensal pactuada foi de 0,088% para a parcela de n° 39, sendo a única quitada pelo autor, em cada cota. O referido percentual não se mostra abusivo no caso em análise, haja vista o teor da Súmula nº 538, acima mencionada, uma vez que, como se trata de remuneração da administradora do consórcio pela operação que se presta a organizar, este valor não deve ser restituído. A saber, a taxa de administração total paga pelo autor corresponde à quantia de R$29.941,29 (vinte e nove mil, novecentos e quarenta e um reais e vinte e nove centavos) – IDs n° 10234889031, 10234889033 e 10234889035. No que concerne ao fundo de reserva, contratado no percentual de 0,4983% para a parcela n° 39, tendo sido quitada pelo autor a quantia de R$72,60 (setenta e dois reais e sessenta centavos), este se destina, de forma prioritária, ao custeio de operações eventuais de interesse do grupo de consórcio. Esses valores serão objeto de restituição aos consorciados, no caso de haver saldo após o encerramento do grupo, uma vez que esse valor pode servir, inclusive, para cobrir a devolução de valores aos excluídos do consórcio, como é o caso do autor. A esse respeito, já decidiu o egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais, in verbis: APELAÇÃO CÍVEL - GRUPO DE CONSÓRCIO - INADIMPLEMENTO - EXCLUSÃO - RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS - TAXA DE ADMINISTRAÇÃO - FUNDO DE RESERVA - SALDO REMANESCENTE - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA - TERMO INICIAL - DANO MORAL - INOCORRÊNCIA. A taxa de Administração constitui a remuneração da administradora aos serviços prestados aos consorciados, sendo lícita, não havendo que se falar em restituição. É devida a devolução do valor a título de fundo de reserva ao consorciado excluído, após o encerramento do grupo, desde que haja sado positivo a se rateado. O termo inicial de incidência da correção monetária sobre os valores a serem restituídos, é a data de pagamento de cada parcela. Os juros de mora incidem, após o trigésimo dia do encerramento do grupo consorcial, uma vez que somente a partir de então, caracteriza-se a mora. O dano moral decorre de violação a atributos inerentes ao direito da personalidade, no que se insere o dano à honra, imagem, bom nome e fama. Para aplicação da teoria do desvio produtivo ou perda de tempo útil, faz-se necessário que a parte demonstre, minimamente, de que forma o fato, ou a perda de tempo dele decorrente violou os seus direitos de personalidade, não bastando a mera alegação neste sentido. (TJMG. Apelação Cível 1.0000.24.151323-3/001, Rel. Des. Marco Aurelio Ferenzini, 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2024, publicação da súmula em 18/04/2024) (destaquei). Desse modo, devida a restituição do fundo de reserva pago pelo autor, caso haja saldo na conta do grupo de consórcio. Já quanto ao seguro de vida contratado, sendo despendido pelo autor o montante de R$733,50 (setecentos e trinta e três reais e cinquenta centavos), não há notícias da inexistência de cobertura securitária, presumindo-se a boa-fé das partes. Isso porque, considerando a natureza do seguro e que este é pago mês a mês, ele serve como contraprestação pelo risco assumido pela Seguradora. Dessa forma, não há que se falar em restituição do valor pago a esse título, pois foi objeto de regular contraprestação. A respeito da devolução dos recursos dispendidos pelo consorciado desistente, prevê o art. 22 da Lei nº 11.795/08, que “a contemplação é a atribuição ao consorciado do crédito para aquisição de bem ou serviço, bem como para a restituição das parcelas pagas, no caso dos consorciados excluídos” (destaquei). Por sua vez, o art. 30 da mesma lei prevê que “o consorciado excluído não contemplado terá direito à restituição da importância paga ao fundo comum do grupo […]”. Com isso, tem-se duas modalidades de recebimento pelo consorciado excluído, a primeira quando é contemplado, e, portanto, lhe é devida a restituição desde o momento da contemplação; e a segunda em que ele não é contemplado, sendo a lei omissa quanto ao momento da restituição. Diante disso, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento de que a restituição deverá ser realizada em até 30 (trinta) dias do encerramento do grupo para aqueles não contemplados, como se segue: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO CONSORCIADO. PRAZO. TRINTA DIAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO. 1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano. 2. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 1.119.300/RS, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 14/4/2010, DJe de 27/8/2010) (destaquei). Sendo assim, a restituição deverá ocorrer quando da contemplação do autor ou, ainda, até trinta dias após o encerramento do grupo. Nesse ínterim, o valor a ser restituído deverá ser reembolsado com correção monetária, nos termos da Súmula n° 35, do STJ, in verbis: “Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio”. A correção monetária é incidente desde a data do efetivo pagamento de cada uma das contribuições, conforme a jurisprudência uníssona do egrégio TJMG, in verbis: APELAÇÃO CÍVEL - RESCISÃO CONTRATUAL - CONSÓRCIO - EXCLUÍDO POR DESISTÊNCIA - RESTITUIÇÃO DOS VALORES 30 DIAS APÓS O ENCERRAMENTO DO GRUPO - FUNDO DE RESERVA - DEVOLUÇÃO AO CONSORCIADO EXCLUÍDO - CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA - MULTA CONTRATUAL - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO COM A SAÍDA DO CONSORCIADO - IMPOSSIBILIDADE DE DEDUÇÃO. De acordo com a jurisprudência do STJ, "é devida a restituição de valores vertidos por consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do prazo previsto contratualmente para o encerramento do plano" (Resp 1119300-RS). O consorciado, em regra, faz jus à devolução dos recursos do fundo de reserva, ao final do plano de consórcio, desse modo não podendo tal parcela ser descontada dos valores restituíveis ao consorciado desistente. Sobre o valor a ser restituído deve incidir correção monetária pelos índices da Corregedoria Geral de Justiça a ser aplicada desde o desembolso de cada parcela. A multa contratual só é devida quando há prova dos prejuízos causados ao grupo em virtude da desistência do consorciado, incumbindo à administradora demonstrá-los. (TJMG. Apelação Cível 1.0000.22.097520-5/001, Rel. Des. Marco Aurélio Ferrara Marcolino, 13ª Câmara Cível, julgamento em 28/07/2022, publicação da súmula em 28/07/2022) (destaquei). Por fim, não há que se falar em indenização a título de danos morais, como requerido pelo demandante, haja vista ter sido ele que deu causa à rescisão do contrato, ao deixar de adimplir as prestações do consórcio. Mediante os fundamentos acima expostos, tenho que a parcial procedência dos pedidos autorais é medida que se impõe, para condenar a ré à restituição da quantia paga pelo autor, decotando-se os valores relativos à taxa de administração e ao seguro, o que resulta no valor de R$4.938,07 (quatro mil, novecentos e trinta e oito reais e sete centavos), corrigido monetariamente desde o desembolso e desde que o grupo de consórcio tenha saldo o suficiente. Ante o exposto e pelo mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos deduzidos por WELLINGTON CABRAL NUNES em desfavor de TRADIÇÃO ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIO LTDA., nos termos do art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, e, consequentemente, CONDENO a ré a restituir ao autor a quantia por ele paga, abatendo-se de referida quantia a importância correspondente à taxa de administração, bem como o valor pago a título de seguro, que resulta no montante a ser restituído de R$4.938,07 (quatro mil, novecentos e trinta e oito reais e sete centavos), caso haja saldo suficiente a título de fundo de reserva, que deverá ser corrigido monetariamente pelo IPCA (art. 389, p. único, do Código Civil) desde o desembolso, e acrescido de juros de mora à taxa legal, na forma do art. 406, §1º, do Código Civil a partir do 31º dia depois do sorteio ou do encerramento do grupo consorcial, o que primeiro ocorrer. Ressalto que a devolução das parcelas pagas pelo consorciado desistente ocorrerá mediante sorteio, porém observado o prazo máximo de 30 (trinta) dias após a sua ocorrência e a existência de saldo no fundo comum, ou após o decurso de 30 (trinta) dias contados da assembleia de encerramento do grupo, o que primeiro ocorrer, o que está amparado na legislação que rege a matéria, qual seja, art. 22 c/c art. 30, da Lei nº 11.795/08, e na jurisprudência (REsp n. 1.119.300/RS). Em apreço à regra da causalidade e considerando a sucumbência em sua maior parte pelo autor, condeno-o ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa (art. 85, §2º, do CPC), corrigido monetariamente pelo IPCA (art. 389, p. único, do Código Civil) a partir da distribuição da ação e acrescido de juros de mora à taxa legal, na forma do art. 406, §1º, do Código Civil, a contar do trânsito em julgado, contudo suspensa a exigibilidade, nos termos do art. 98, §3º, do CPC. P.R.I. Após o trânsito em julgado, em nada sendo requerido, baixem-se e arquivem-se os autos. Uberlândia, data da assinatura eletrônica. LUÍS EUSÉBIO CAMUCI Juiz de Direito da 5ª Vara Cível (assinado eletronicamente)

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