Resultados para "1007281-07.2021.8.26.0405" – Página 31 de 31

1. Defensoria Pública Do Estado De São Paulo (Impetrante) x 2. Tribunal De Justiça Do Estado De São Paulo (Impetrado)

ID: 319554111

Tribunal: STJ Órgão: SPF COORDENADORIA DE PROCESSAMENTO DE FEITOS DE DIREITO PENAL Classe: HABEAS CORPUS Nº Processo: 0192807-19.2025.3.00.0000

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

1. DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO (IMPETRANTE)

Polo Passivo:

2. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO (IMPETRADO)

DESPACHO / DECISÃO

Advogados:

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

HC 1007281/SP (2025/0192807-1) RELATOR : MINISTRO CARLOS CINI MARCHIONATTI (DESEMBARGADOR CONVOCADO TJRS) IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTAD… HC 1007281/SP (2025/0192807-1) RELATOR : MINISTRO CARLOS CINI MARCHIONATTI (DESEMBARGADOR CONVOCADO TJRS) IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : MAURILIO PARREIRA NETO INTERESSADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO DECISÃO Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de MAURILIO PARREIRA NETO contra acórdão proferido pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO assim ementado (fl. 6): AGRAVO EM EXECUÇÃO — Progressão ao regime semiaberto - Lei nº 14.843/2024 que impôs a obrigatoriedade do exame criminológico — Norma, todavia, que não se aplica ao caso concreto, forte no novatio legis in pejus Necessidade da providência - Súmula nº 439 do STJ - Furto qualificado e tráfico-privilegiado — Reincidência — Habitualidade/reiteração delitiva - Necessária cautela — Precedente - Personalidade que deve ser aferida na imposição da pena, bem como, durante a aplicação da reprimenda, salvo em casos excepcionais — Decisão cassada — Regressão ao regime fechado - Recurso provido, com determinação. Consta dos autos que o paciente se encontra cumprindo pena privativa de liberdade e obteve a concessão de progressão de regime prisional. O Ministério Público recorreu, pugnando pela realização de exame criminológico. A autoridade coatora deu provimento ao recurso para cassar a decisão “a quo” e determinar a realização de exame criminológico e a recondução do sentenciado ao regime fechado. Argumenta que o paciente vem mantendo bom comportamento nos últimos anos, cumpriu o lapso temporal para a concessão do benefício, possui bom comportamento carcerário e não cometeu falta grave recente. Requer a cassação do acórdão do Tribunal de Justiça, concedendo-se a ordem de habeas corpus para restabelecer a decisão que deferiu ao paciente a progressão de regime prisional. Após o indeferimento do pedido de liminar e prestadas as informações solicitadas, o Ministério Público Federal ofertou parecer com a seguinte ementa (fl. 175): HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CONHECIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. EXAME CRIMINOLÓGICO. EXIGÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. - Habeas corpus substitutivo. Não conhecimento. - A orientação dessa Colenda Corte Cidadã é no sentido de que a gravidade abstrata do delito, a longa pena a cumprir e a reincidência ostentada pelo acusado, desvinculados de elementos concertos ocorridos no curso da execução, não são suficientes para fundamentar a necessidade do exame criminológico. Constrangimento ilegal configurado. - Parecer pelo não conhecimento do habeas corpus e pela concessão de ofício da ordem. É o relatório. Decido. A Constituição da República assegura, no artigo 5º, caput, LXVII, que "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". Não obstante, é entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça que o habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, salvo em casos de manifesta ilegalidade, abuso de poder ou teratologia, conforme demonstrado nos precedentes: AgRg no HC n. 990.879/MS, relator Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 18/6/2025, DJEN de 26/6/2025; AgRg no HC n. 1.003.850/RS, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 3/6/2025, DJEN de 10/6/2025. Todavia, em atenção aos arts. 647-A e 654, § 2º, do Código de Processo Penal, passa-se à análise do feito, a fim de verificar a eventual constrangimento ilegal que autorize a atuação excepcional desta Corte. Na espécie, assim se manifestou o Tribunal de origem (fls. 8-10, grifos acrescidos): No caso concreto, o acusado é reincidente, havendo, ainda, ao menos três feitos em seu detrimento (fls. 12 e 43/49). Em acréscimo, o término da pena é previsto apenas para 13/04/2030 (fls. 83). Por isso, a reiteração/habitualidade delitiva denotam que a sociedade merece resguardo (princípio do in dubio pro societate) e, assim, necessário que a proteção não seja insuficiente, uma das facetas da proporcionalidade. [...] Em outras palavras, a personalidade deve ser cotejada na imposição da pena, bem como, durante seu cumprimento, salvo em casos pontualíssimos, e especialmente no caso concreto, pela série de infrações cometidas. [...] Pelo exposto, por meu voto, DÁ-SE PROVIMENTO AO RECURSO, para cassar a r. decisão (fls. 92/94), com a consequente regressão do agravado ao regime fechado, com determinação para a realização de exame criminológico. Conforme se verifica, o Tribunal de origem condicionou a análise da progressão de regime à realização de exame criminológico, baseando-se unicamente na reincidência do paciente e na longa pena a cumprir. No entanto, não foram apresentados elementos concretos e atuais do curso da execução pudessem evidenciar a necessidade excepcional do referido exame. Com efeito, a jurisprudência do egrégio STJ é assente no sentido de que a gravidade abstrata do delito, a quantidade de pena remanescente ou, ainda, a reincidência não constituem, por si sós, fundamentos idôneos para a exigência do exame criminológico, devendo a decisão judicial basear-se em elementos concretos extraídos da execução penal, aptos a justificar a negativa de benefícios. Ademais, "[d]e acordo com a Súmula n. 439 do STJ, a realização do exame criminológico exige motivação idônea, não admitindo a jurisprudência deste Tribunal Superior que tal determinação se embase apenas na gravidade abstrata do crime, na reincidência ou na pena a cumprir, exigindo-se a análise dos elementos concretos da execução penal" (AgRg no HC n. 977.556/SP, relator Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 26/3/2025, DJEN de 31/3/2025.). Dessa forma, não havendo circunstância que demonstre, efetivamente, a necessidade de realização de exame criminológico, deve ser reconhecido o constrangimento ilegal. No mesmo sentido: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. PROGRESSÃO DE REGIME. IMPOSIÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO. GRAVIDADE ABSTRATA DOS DELITOS, REINCIDÊNCIA OU LONGA PENA A CUMPRIR. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. PRECEDENTES. LEI N. 14.843/2024. NOVATIO LEGIS IN PEJUS. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. Agravo regimental improvido. Ordem concedida de ofício, nos termos do dispositivo. (AgRg no HC n. 1.002.513/SP, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 3/6/2025, DJEN de 6/6/2025.) DIREITO PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. EXAME CRIMINOLÓGICO. PROGRESSÃO DE REGIME. AGRAVO DESPROVIDO. I. Caso em exame 1. Agravo regimental interposto pelo Ministério Público estadual contra decisão que concedeu habeas corpus de ofício, cassando acórdão que determinava a realização de exame criminológico para progressão de regime prisional. 2. O Tribunal de origem havia determinado a realização do exame criminológico, justificando que a promoção ao regime semiaberto sem tal exame colocaria a comunidade em risco, dado o crime grave cometido pelo agravado. 3. A decisão agravada considerou a ilegalidade da exigência do exame criminológico, com base na jurisprudência do STJ, que não admite a retroatividade de normas mais gravosas introduzidas pela Lei n. 14.843/2024. II. Questão em discussão 4. A questão em discussão consiste em saber se a exigência de exame criminológico para progressão de regime, introduzida pela Lei n. 14.843/2024, pode ser aplicada retroativamente a condenações anteriores à sua vigência. 5. Outra questão é se a gravidade abstrata do crime, a longa pena a cumprir e a probabilidade de reincidência são fundamentos idôneos para justificar a necessidade de exame criminológico. III. Razões de decidir 6. A retroatividade de normas mais gravosas é vedada, conforme o art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, e a jurisprudência do STJ, que considera a exigência de exame criminológico como novatio legis in pejus. 7. A gravidade abstrata do crime, a longa pena a cumprir e a probabilidade de reincidência não constituem fundamentos idôneos para a exigência de exame criminológico, devendo a decisão ser baseada em elementos concretos da execução da pena. 8. O agravo regimental não apresentou novos argumentos capazes de modificar a decisão agravada, que deve ser mantida por seus próprios fundamentos. IV. Dispositivo e tese 9. Agravo regimental desprovido. Tese de julgamento: "1. A exigência de exame criminológico para progressão de regime, introduzida pela Lei n. 14.843/2024, não pode ser aplicada retroativamente a condenações anteriores à sua vigência. 2. A gravidade abstrata do crime, a longa pena a cumprir e a probabilidade de reincidência não são fundamentos idôneos para justificar a necessidade de exame criminológico, devendo a decisão ser baseada em elementos concretos da execução da pena." Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 5º, XL; Lei n. 14.843/2024, art. 112, § 1º.Jurisprudência relevante citada: STJ, AgRg no HC 888628, Rel. Min. Otávio De Almeida, Sexta Turma, j. 23/10/2024; STJ, AgRg no HC 929.034/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, j. 30/9/2024; STJ, HC 519.301/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção, j. 27/11/2019. (AgRg no HC n. 978.222/SP, relator Ministro Messod Azulay Neto, Quinta Turma, julgado em 9/4/2025, DJEN de 28/4/2025.) AGRAVO REGIMENTAL MINISTERIAL NO HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. EXIGÊNCIA DE EXAME CRIMINOLÓGICO. NATUREZA PENAL. ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI N. 14.843/2024. APLICAÇÃO RETROATIVA. IMPOSSIBILIDADE. NOVATIO LEGIS IN PEJUS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A exigência do exame criminológico para progressão de regime, introduzida pela Lei n. 14.843/2024, constitui inovação legislativa que impõe requisito adicional à obtenção do benefício, configurando novatio in legis in pejus, razão pela qual não pode ser aplicada retroativamente, nos termos do artigo 5º, XL, da Constituição Federal. 2. [...] A nova redação conferida ao § 1º do art. 112 da LEP constitui implemento de norma de natureza penal, e não processual, de modo que a sua aplicação retroativa se mostra inconstitucional, haja vista o art. 5º, XL, da Constituição Federal, bem como, ilegal, nos termos do art. 2º do Código Penal. [...] (AgRg no HC n. 888.628/SP, relator Ministro Otávio de Almeida Toledo (Desembargador Convocado do Tjsp), Sexta Turma, julgado em 23/10/2024, DJe de 28/10/2024.). 3. A determinação do exame criminológico deve estar fundamentada em elementos concretos do comportamento carcerário do apenado, não podendo ser imposta de forma automática e generalizada, sob pena de violação ao princípio da individualização da pena. 4. No caso, não foram utilizados fundamentos concretos, relacionados ao cumprimento da pena corporal, para justificar a realização do exame criminológico. Destacou-se apenas elementos abstratos, ao se mencionar a gravidade dos delitos praticados pelo executado e sua reincidência, aspectos estes que não podem ser mais avaliados na fase de execução, porquanto já sopesados pelo legislador, ao tipificar o crime e sua pena, e pelo julgador, ao fixar o quantum da reprimenda. Assim, não foi relatado, de forma concreta, em nenhum momento, o comportamento do executado e suas eventuais faltas disciplinares. 5. Constatada, na espécie, flagrante ilegalidade, impõe-se, a concessão do writ de ofício com determinação de que o Juízo das Execuções Criminais reaprecie o pedido de progressão ao regime aberto apenas com base em aspectos concretos do cumprimento da pena, afastando as faltas disciplinares antigas, bem como a aplicação da Lei n. 14.843/2024. 6. Agravo regimental ministerial não provido. (AgRg no HC n. 964.207/SP, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 11/3/2025, DJEN de 19/3/2025.) Ante o exposto, concedo a ordem de habeas corpus a fim de restabelecer a decisão do juízo da execução que deferiu a progressão de regime ao paciente. Comunique-se. Publique-se. Intimem-se. Relator CARLOS CINI MARCHIONATTI (DESEMBARGADOR CONVOCADO TJRS)

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Processo nº 0809528-45.2025.8.20.5004

ID: 321259406

Tribunal: TJRN Órgão: 12º Juizado Especial Cível da Comarca de Natal Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 0809528-45.2025.8.20.5004

Data de Disponibilização: 10/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

RAFAEL DOS SANTOS GALERA SCHLICKMANN

Intimação

Advogados:

RAFAEL DOS SANTOS GALERA SCHLICKMANN

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 12° Juizado Especial Cível da Comarca de Natal/RN Praça André de Albuquerque, 534, Cidade Alta, NATAL - RN - CEP: 59025-580 fone: (84) 3673-8855, e-m… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 12° Juizado Especial Cível da Comarca de Natal/RN Praça André de Albuquerque, 534, Cidade Alta, NATAL - RN - CEP: 59025-580 fone: (84) 3673-8855, e-mail: atendimento2jec@tjrn.jus.br _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 0809528-45.2025.8.20.5004 PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) AUTOR: THAYNARA VIANA DA SILVA e outros (2) REU: Azul Linhas Aereas Brasileiras S.A SENTENÇA I – RELATÓRIO Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei nº 9.099/95. II - FUNDAMENTAÇÃO II.1. DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA De início, importa consignar que o acesso ao Juizado Especial Cível, no primeiro grau de jurisdição, é isento de custas, a teor do art. 54 da Lei nº 9.099/95, razão pela qual não há que se apreciar, neste momento, o pedido de justiça gratuita, ficando postergada sua análise para eventual fase recursal. II.2. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA A parte ré suscitou, em sede preliminar, a sua ilegitimidade passiva, sob o argumento de que não teria qualquer relação com os fatos narrados na inicial, uma vez que a aquisição das passagens aéreas foi realizada por intermédio da agência DECOLAR, não tendo, portanto, participação direta na controvérsia. Contudo, a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pela ré não merece prosperar. Trata-se de típica relação de consumo, submetida às disposições do Código de Defesa do Consumidor, que adota a teoria da responsabilidade solidária entre os integrantes da cadeia de fornecimento. Assim, todos os fornecedores que concorrem para a prestação do serviço respondem solidariamente pelos danos causados ao consumidor. No caso, a companhia aérea é responsável direta pela execução do contrato de transporte, razão pela qual possui legitimidade para compor o polo passivo da presente demanda. Portanto, rejeito a preliminar suscitada. II.3. MÉRITO Trata-se de ação de indenização por danos morais, na qual os autores alegam que adquiriram passagens aéreas com destino final a São Paulo/SP, com embarque saindo de Natal no dia 21/05/2025, às 02h45, com conexões em Belo Horizonte/MG, saindo às 06h10, e no Rio de Janeiro/RJ, às 08h, com previsão de chegada ao destino final às 09h05. Relatam que, ao realizarem o primeiro trecho da viagem, o desembarque em Belo Horizonte sofreu atraso superior a 30 minutos, em razão da lotação do aeroporto e da ausência de local disponível para o desembarque da aeronave, o que resultou na perda do voo seguinte para o Rio de Janeiro, marcado para as 06h10. Narram que, após perderem a conexão em Belo Horizonte, foram orientados a remarcar o voo, inicialmente para as 07h50. Contudo, ao serem informados de que precisariam retirar suas bagagens para o novo embarque, constataram que as malas não estavam disponíveis, sendo-lhes informado por funcionário da companhia aérea que os volumes teriam sido enviados diretamente para São Paulo. Informam, ainda, que somente conseguiram remarcar os bilhetes para o voo das 11h30, o que ocasionou atraso significativo na chegada ao destino. Alegam que foi fornecido um lanche e um voucher para almoço, porém, ao tentarem utilizá-lo no restaurante indicado, foram informados de sua invalidade, sendo necessário arcar com os custos da refeição. Ao chegarem ao destino final, as bagagens não foram encontradas na esteira, sendo localizadas após cerca de 3 horas, totalizando um atraso aproximado de 6 horas no serviço contratado. Em razão dos transtornos suportados, requerem indenização por danos morais no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Devidamente citada, a parte ré apresentou contestação, sustentando que o voo AD2861 sofreu atraso por questões operacionais aeroportuárias. Alegou, ainda, que os autores adquiriram bilhetes com intervalos reduzidos entre os voos de conexão e que prestou toda a assistência material devida. Quanto à bagagem, defende que jamais foi considerada extraviada, tendo sido restituída aos passageiros cerca de 2 horas após o desembarque. Réplica apresentada no id. 156211403. É o que importa mencionar. Decido. Diante da desnecessidade de produção de provas em audiência, passo ao julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 355, inciso I, do Código de Processo Civil, uma vez que as provas documentais constantes dos autos são suficientes para o deslinde da causa. Primeiro, destaco que, embora o Código Brasileiro de Aeronáutica seja a lei específica que regulamenta os contratos de transporte aéreo, a relação contratual celebrada entre as partes é eminentemente de consumo, visto que, de um lado, a empresa aérea pode ser identificada como fornecedora de serviço e, de outro, o passageiro é enquadrado como consumidor. Além disso, é firme a jurisprudência do STJ no sentido de que "a responsabilidade civil das companhias aéreas em decorrência da má prestação de serviços, após a entrada em vigor da Lei 8.078/90, não é mais regulada pela Convenção de Varsóvia e suas posteriores modificações (Convenção de Haia e Convenção de Montreal), ou pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, subordinando-se, portanto, ao Código Consumerista." (AgRg no AREsp 141.630/RN, Relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 18.12.2012). Dito isso, não só afasto a aplicação dos dispositivos da mencionada norma citados na defesa e a tese a eles vinculada, como também, diante da verossimilhança da narrativa da peça inaugural e do consectário legal do art. 6º, inciso VIII, da Lei nº 8.078/90, declaro invertido o ônus da prova na presente demanda, em sentença, o que é admitido pela jurisprudência. Inicialmente, importa destacar que, em virtude da responsabilidade objetiva prevista pelo diploma legal consumerista, o dever de indenizar da empresa ré somente será elidido nos casos em que demonstrada a ocorrência de culpa exclusiva da vítima, de terceiro ou motivo de força maior, consoante disposto no art. 14, §3º, do Código de Defesa do Consumidor. Da análise dos autos, percebe-se que restou incontroverso que os autores adquiriram passagens aéreas junto à ré para empreender viagem de ida de Natal a São Paulo, com conexões em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, conforme reservas (ID nº 153271239). Além disso, também ficou fartamente comprovado que, na data de 21/05/2025, ocorreu o atraso do voo de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, em decorrência de razões operacionais, conforme declaração de contingência (ID nº 153271232). Dessa forma, houve a perda da conexão para o Rio de Janeiro, tendo os passageiros sido realocados para um voo partindo de Belo Horizonte para São Paulo às 11h30, conforme cartões de embarque (ID nº 153271237 e 153271238), denotando um atraso de 3 horas e 30 minutos em relação ao voo originário. Também é incontroverso que a bagagem dos autores foi extraviada temporariamente, conforme Relatório de Irregularidade de Bagagem preenchido (ID nº 153271233), tendo sido entregue com um atraso superior a 2 horas após o desembarque. Com efeito, observa-se que a controvérsia posta na presente lide reside tão somente em torno da existência do dever de indenizar por parte da demandada. Pois bem. Pelo que se infere das alegações tecidas, entendo que assiste razão aos demandantes em sua pretensão de reparação civil. Compulsando detidamente os autos, verifica-se que a parte ré não se desincumbiu do ônus que lhe cabia de comprovar a ausência de caracterização dos elementos da responsabilidade objetiva (ato ilícito, dano e nexo causal). Imperioso destacar que a tese da parte demandada deve ser afastada, pois o fato apontado como causa determinante, motivos operacionais, caracteriza-se como fortuito interno, inerente ao risco da atividade comercial desenvolvida pela empresa ré, razão pela qual não se admite juridicamente a exclusão da responsabilidade civil com base apenas nessa justificativa. Nesse sentido, colaciono o entendimento da Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte: EMENTA: RECURSO INOMINADO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO DE VOO EM TRANSPORTE AÉREO DE PASSAGEIROS. CHEGADA AO DESTINO FINAL CERCA DE 12 HORAS DEPOIS DO ORIGINALMENTE PROGRAMADO. ALEGAÇÃO GENÉRICA DE PROBLEMA TÉCNICO OPERACIONAL. AUSÊNCIA DE PROVA. FORTUITO INTERNO. AUSÊNCIA DE QUEBRA DO NEXO CAUSAL. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CARACTERIZADA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. ATRASO SUPERIOR A 10H E PERDA DE COMPROMISSOS.QUANTIFICAÇÃO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. PARTICULARIDADES DO CASO.MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (RECURSO INOMINADO CÍVEL, 0809963-43.2021.8.20.5106, Mag. FABIO ANTONIO CORREIA FILGUEIRA, 2ª Turma Recursal, JULGADO em 01/07/2022, PUBLICADO em 21/08/2022) (Grifos acrescidos) Ainda, o curto intervalo entre desembarque e embarque em conexão não pode ser atribuído aos consumidores, uma vez que os voos realizados em ambos os trechos foram operados pela requerida, sendo as passagens aéreas adquiridas conforme a grade de horários por ela disponibilizada. Assim, foi a própria companhia aérea a responsável por agendar os voos com tempo exíguo entre as conexões. A propósito: Ação de indenização por danos morais. Transporte aéreo. Atraso no voo do primeiro trecho injustificado pela companhia aérea. Perda de conexão. Recolocação em voo diverso, com nova conexão. Chegada ao destino 6hs55min após a previsão. A organização da grade de voos e horários e a disponibilização das passagens para aquisição, com voos diretos ou com escala e/ou conexão são de responsabilidade da companhia aérea. Intervalo exíguo entre os voos de conexão agendados pela ré e por ela operados. Alegações genéricas da ré, desacompanhadas de elementos de prova. Excludente de responsabilidade não verificada no caso concreto. Fortuito interno não afasta a responsabilidade de indenizar. Responsabilidade objetiva da companhia-ré. Má prestação do serviço. Dano moral configurado. "Quantum" indenizatório. Critérios de prudência e razoabilidade. Recurso parcialmente provido. (TJ-SP - AC: 10269720720218260405 SP 1026972-07.2021.8.26.0405, Relator: Cauduro Padin, Data de Julgamento: 07/11/2022, 13ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 07/11/2022) (Grifos acrescidos) Reconhecido o ato ilícito praticado pela ré, passo à análise do pedido de indenização por danos morais. Diante da situação analisada, estou convencida de que há, nos autos, consequências que extrapolam o mero inadimplemento contratual, configurando efetivo abalo de ordem moral. Isso porque os autores enfrentaram um atraso de 3 horas e 30 minutos no voo, e, ao desembarcarem no destino final, ainda tiveram que aguardar mais de 2 horas pela bagagem, que não havia sido localizada. Ademais, embora a parte ré alegue ter fornecido vouchers de alimentação aos passageiros em decorrência do atraso no voo, os autores demonstraram que tais vouchers estavam indisponíveis no aeroporto (ID nº 153271243), não sendo possível utilizá-los para suprir suas necessidades básicas durante a espera, em manifesta afronta ao disposto nos arts. 26 e 27 da Resolução nº 400 da ANAC. Ora, como é sabido, as companhias aéreas têm o dever de prestar serviços eficientes, adequados e seguros aos consumidores, conduzindo-os ao seu destino na data e horário contratados. No caso em apreço, restou comprovado que a empresa requerida não honrou esse compromisso, agindo com negligência e desídia na prestação do serviço ofertado, razão pela qual deve ser responsabilizada pelos danos causados. Desta feita, considerando que a empresa aérea requerida não cumpriu o compromisso de conduzir os consumidores no dia e horário contratados, agindo com negligência e desídia na prestação do serviço para o qual é especializada, entendo também configurados os elementos da responsabilidade objetiva. Comprovados os ilícitos perpetrados pela empresa ré, os danos provocados e o nexo causal, entendo configurado o seu dever de indenizar a parte autora. Por conseguinte, passo a estabelecer o parâmetro para essa indenização. Como é sabido, o dano moral corresponde a qualquer sofrimento não decorrente de uma perda pecuniária, que atinge o íntimo do indivíduo, sua dignidade humana, seus direitos da personalidade, ou seja, os atributos inerentes à pessoa, vulnerando sua integridade física, psíquica ou emocional, sob os aspectos social, afetivo e/ou intelectual. Ademais, o dano moral possui também um aspecto pedagógico, destinado a desestimular a prática de atos ilícitos, bem como a garantir que os serviços ou produtos sejam prestados ou fornecidos sem a presença de vícios ou defeitos. Não resta dúvida, portanto, de que tais condutas se mostram abusivas e reprováveis. Não se trata, no presente caso, de mero aborrecimento cotidiano, mas sim de fatos que causam elevado grau de estresse, aflição, decepção e revolta, isto é, transtornos e frustrações que atingem diretamente os direitos da personalidade do consumidor, sendo, portanto, passíveis de indenização. No que se refere à fixação do valor pecuniário da reparação por danos morais, o ordenamento jurídico confere ao julgador o prudente arbítrio, devendo este adequar os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade aos requisitos da capacidade econômica das partes, da extensão do dano e da intensidade da culpa. No caso em análise, em consonância com a orientação jurisprudencial atual, no sentido de que deve haver moderação no arbitramento, entendo ser razoável fixar o valor da indenização em R$ 3.000,00 (três mil reais) a ser pago pela parte demandada a cada autor, quantia que não se mostra excessiva a ponto de gerar enriquecimento sem causa, tampouco irrisória a ponto de não cumprir a função pedagógica da condenação, revelando-se coerente com os fatos dos autos. III – DISPOSITIVO Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a pretensão formulada na inicial, para CONDENAR a demandada, Azul Linhas Aéreas Brasileiras S.A., ao pagamento, a título de reparação por danos morais, da quantia de R$ 3.000,00 ( três mil reais) a cada autor, acrescida de juros de 1% ao mês, a contar da citação, e de correção monetária pela Tabela 1 da JFRN (IPCA-E – ações condenatórias em geral), a partir da data da prolação da sentença. Havendo interesse das partes em recorrer, estas devem fazê-lo através de advogado habilitado nos autos e cadastrado no sistema, no prazo de 10 (dez) dias a partir da ciência da sentença. Fica a parte vencedora ciente de que, transitada em julgado a presente decisão, deverá requerer a sua execução, com a atualização do débito por meio da calculadora automática do site do TJRN disponível no link: https://apps.tjrn.jus.br/calculadoraAutomatica/f/public/paginapublicinicial.xhtml e utilizando-se do índice de correção monetária da JFRN (Tabela1: IPCA-E). Certificado o trânsito, arquive-se imediatamente, ressaltando-se que a qualquer momento a parte poderá solicitar o desarquivamento dos autos e iniciar a execução da sentença. Deixo de proferir condenação em custas e honorários advocatícios, de acordo com o artigo 55 da Lei nº 9.099/95. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Natal/RN, 8 de julho de 2025. Sulamita Bezerra Pacheco Juíza de Direito (documento assinado digitalmente na forma da Lei n°11.419/06)

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou o que procurava? Faça login para ver mais resultados e detalhes completos.

Fazer Login para Ver Mais

Processo nº 0216767-21.2022.8.06.0001

ID: 277100068

Tribunal: TJCE Órgão: 4º Gabinete da 1ª Câmara de Direito Público Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0216767-21.2022.8.06.0001

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JAYNNY DE LIMA DO NASCIMENTO VIEIRA

Intimação

Advogados:

VANESSA CABRAL AMADOR MOURAO

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

Processo n. 0216767-21.2022.8.06.0001 - APELAÇÃO CÍVEL APELANTE: PROCURADORIA GERAL DO ESTADO, ESTADO DO CEARA APELADO: JAYNNY DE LIMA DO NASCIMENTO VIEIRA EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGO… Processo n. 0216767-21.2022.8.06.0001 - APELAÇÃO CÍVEL APELANTE: PROCURADORIA GERAL DO ESTADO, ESTADO DO CEARA APELADO: JAYNNY DE LIMA DO NASCIMENTO VIEIRA EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE REFORMOU DE OFÍCIO OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. POSSIBILIDADE. AGRAVO INTERNO QUE NÃO FOI CONHECIDO. CONTRADIÇÃO INEXISTENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. A questão em discussão consiste em verificar se o acórdão embargado apresenta contradição interna apta a ensejar embargos de declaração, em razão da reforma de ofício dos honorários advocatícios na decisão monocrática que negou 2. A contradição que autoriza a oposição de embargos de declaração é aquela interna ao julgado, caracterizada por afirmações logicamente incompatíveis entre si ou por desarmonia entre a fundamentação e a conclusão. 3. Não vislumbra-se a presença do vício alegado, eis que o entendimento contido na decisão unilateral está coerente com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que os honorários advocatícios, enquanto consectários legais da condenação principal, possuem natureza de ordem pública, podendo ser revistos a qualquer momento e até mesmo de ofício, sem que isso configure reformatio in pejus. 4. Inexistem no acórdão afirmações contraditórias ou excludentes entre si, tampouco foi demonstrada desarmonia lógica entre os fundamentos e a conclusão do julgado. 5. A pretensão da embargante traduz tentativa de rediscussão do mérito da decisão, visando à correção de eventual error in judicando, hipótese não autorizada na via dos embargos de declaração, que não se prestam à revisão do julgamento nem à superação de contradições externas ao acórdão. 6. Embargos de Declaração rejeitados. _____________________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 1.022, inciso I. Jurisprudência relevante citada: STJ, AgInt no AREsp: 1578138 SC 2019/0252222-7, Relator: Ministro FRANCISCO FALCÃO, Segunda Turma, DJe 19/10/2023; AgInt nos EDcl no REsp: 1978112 RJ 2021/0261795-2, Primeira Turma, DJe 11/11/2022; EDcl no REsp n. 1.996.685/RS, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe de 17/5/2024; EDcl no AgInt no AREsp n. 2.093.035/RS, Relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Turma, DJe de 17/11/2023; EDcl no AgInt nos EDcl na Rcl n. 43.275/MG, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Seção, julgado em 18/4/2023, DJe de 24/4/2023. TJCE, Súmula 18. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Desembargadores da 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em rejeitar os Embargos de Declaração, nos termos do voto da Relatora, parte integrante deste. Fortaleza/CE, 05 de maio de 2025. Desa. Lisete de Sousa Gadelha Relatora e Presidente do Órgão Julgador RELATÓRIO Trata-se de Embargos de Declaração opostos pelo Estado do Ceará contra Acórdão da 1ª Câmara de Direito Público deste egrégio Tribunal de Justiça, cuja ementa de julgamento recebeu a seguinte redação: EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE MANTEVE A SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. FALTA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA, PERTINENTE E ATUAL AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE. APLICAÇÃO DO ENUNCIADO N. 43 DA SÚMULA DO TJCE. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Deve ser reconhecida a inadmissibilidade recursal, pois o Ente agravante limitou-se a reproduzir os mesmos argumento expostos na apelação cível, deixando de impugnar especificamente os fundamentos da decisão monocrática que conheceu em parte e negou provimento ao recurso apelatório. 2. Inviável, pois, o conhecimento do agravo interno, nos termos do art. 1021, § 1º, do CPC e do Enunciado n. 43 da Súmula do TJCE, ante o descumprimento do ônus da dialeticidade. 3. Recurso não conhecido. Em suas razões recursais (Id 16931582), o Embargante argumenta que o acórdão incorreu em contradição, tendo em vista que os honorários sucumbenciais que eram de R$ 622,00 (seiscentos e vinte e dois reais) passaram a R$ 1.000,00 (um mil reais) com o provimento do recurso estatal, configurando reformatio in pejus, princípio que veda a piora da situação do recorrente no julgamento de seu recurso - quando não há recurso da parte contrária Ao final, requer o acolhimento dos embargos de declaração para que seja corrigido o vício indicado. Preparo inexigível, nos termos do art. 62, §1º, IV, do RTJCE. Sem contrarrazões (art. 1.023, § 2º, CPC). É o que importa relatar. VOTO Nos termos do art. 1.022 do Código de Processo Civil, os embargos de declaração constituem o meio processual adequado para suprir omissão, esclarecer obscuridade, eliminar contradição ou corrigir erro material existente na decisão embargada. Trata-se de recurso de natureza integrativa, destinado a completar pronunciamentos omissos ou aclarar pontos obscuros ou contraditórios, bem como a corrigir inexatidões materiais, sem, contudo, substituir a decisão originária. As hipóteses de cabimento são restritas e dizem respeito a vícios intrínsecos ao ato judicial impugnado, não se prestando à rediscussão da fundamentação adotada, da conclusão alcançada, das provas constantes dos autos ou da interpretação conferida pela parte embargante ao julgado Quanto ao vício apontado pela embargante, nos termos do inciso I do art. 1.022 do CPC, cumpre esclarecer que a contradição passível de embargos é aquela interna ao julgado. Configura-se, por exemplo, quando há grave desarmonia entre a fundamentação e a conclusão da própria decisão, comprometendo a coerência lógica do raciocínio adotado pelo julgador, o que não se configurou na hipótese. No presente caso, no entanto, os embargos carecem de fundamento apto a demonstrar a existência de vícios. Vejamos os trechos pertinentes do acórdão embargado (Id 16596459): "embora tempestivo, o presente agravo não comporta acolhimento, por não ter impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida (art. 932, III, CPC). Explico. De acordo com o princípio da dialeticidade é ônus do recorrente impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida. Tal preceito concretiza os princípios da boa-fé e do contraditório: de um lado, evita recursos com motivação genérica ou mera repetição de manifestações anteriores, sem especificar as razões pelas quais a decisão não convenceu a parte recorrente; de outro, assegura o contraditório, pois permite que o recorrido possa elaborar as suas contrarrazões, no mesmo prazo legal. […] Na hipótese vertente, o referido princípio não foi observado. Se não, vejamos. Na apelação (Id 7044412), argumentou o recorrente, em síntese, que restou verificada a culpa presumida do motorista que colidiu com a viatura e, por conseguinte, a responsabilidade da proprietária do automóvel pelos danos causados, posto que o guiador imprudente era seu funcionário à época dos fatos, razão pela qual a sentença prolatada pelo juízo a quo merece reforma, medida que se impõe e requer, desde já. Contudo, a decisão monocrática, conheceu em parte da apelação cível, em razão da evidência de que a parte apelante se limitou a "copiar e colar" os mesmos argumentos esposados em peça inicial, contudo, sem proceder com distinção ou enquadramento de seu raciocínio em relação ao que fora amplamente debatido na Sentença hostilizada, portanto, não demonstrando superação ou distinção do que fora fundamentado.[…] Por outro lado, em relação a parte conhecida, acerca dos honorários advocatícios sucumbenciais, esta Relatora entendeu por alterar o critério fixado na origem para a equidade, conforme estabelece o art. 85, §§ 2º e 8º, do CPC e o Tema 1.076 do STJ, arbitrando o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), porquanto justo e adequado a casos dessa natureza, vez que envolve demanda de baixa complexidade, estando em consonância com os valores estabelecidos em reiterados julgados dessa Corte de Justiça, ressaltando que por trata-se de matéria de ordem pública, é passível de reforma de ofício. Todavia, ao interpor o presente agravo (Id 8440586), as recorrentes não impugnaram especificamente os fundamentos da decisão monocrática agravada, em inobservância ao que dispõe o art. 1.021, §1º, do CPC1. Em vez disso, como se infere do relatório, limitaram-se a reproduzir, nos mesmos termos, os argumentos contidos no recurso de apelação, sem rebater os motivos de decidir postos no julgamento monocrático, ora recorrido. Sem pertinência, especificidade e atualidade das razões do agravo interno, que não dialogaram com os fundamentos da decisão agravada, não cabe conhecer do recurso, por violação ao princípio da dialeticidade. Aplica-se, assim, o Enunciado n. 43 da Súmula deste egrégio Tribunal de Justiça, que estabelece:"Não se conhece de recurso quando não se faz a exposição do direito e das razões do pedido de nova decisão." Em suas razões recursais, afirma a embargante que o acórdão incorreu em contradição, eis que a majoração dos honorários advocatícios de R$ 622,00 (seiscentos e vinte e dois reais) para R$ 1.000,00 (um mil reais), sem que houvesse recurso nesse sentido, configura reformatio in pejus. Contudo, diversamente do que ente o embargante, não há falar em contradição, muito menos em reformatio in pejus, pois além dos honorários advocatícios constituir matéria de ordem pública, passível de reforma de ofício, o recorrente não impugnou as razões de decidir contida na decisão monocrática de Id 8122261, quando teve a oportunidade, violando o princípio da dialeticidade recursal, razão pela qual o agravo interno não foi conhecido. Inclusive, é esse o entendimento do STJ: PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. ICMS. BASE DE CÁLCULO DO PIS E DA COFINS . TEMA N. 69 DO STJ. DEFINIÇÃO DO CRITÉRIO DE EXCLUSÃO DO ICMS. MATÉRIA CONSTITUCIONAL . RECURSO ESPECIAL INADMITIDO. AGRAVO CONHECIDO PARA NÃO CONHECER DO RECURSO. AGRAVO INTERNO. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS . SENTENÇA ILÍQUIDA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ART. 85, § 4º, II, DO CPC. REVISÃO DE OFÍCIO . POSSIBILIDADE. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. I - Na origem, trata-se de ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária c/c pedido de repetição de indébito contra a Fazenda Nacional, objetivando a exclusão do ICMS da base de cálculo das contribuições ao PIS e à COFINS, bem como a restituição dos valores pagos a esse título, observada a prescrição quinquenal .Deu-se à causa o valor de R$ 30.000.00 (trinta mil reais), em agosto de 2016. Na sentença, o pedido foi julgado procedente . [...] IV - Anote-se, ainda, que a jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que os honorários advocatícios, enquanto consectários legais da condenação principal, possuem natureza de ordem pública, podendo ser revistos a qualquer momento e até mesmo de ofício, sem que isso configure reformatio in pejus. Precedentes. V - Agravo interno parcialmente provido, para reformar o acórdão recorrido no capítulo atinente aos honorários sucumbenciais, determinando que a definição do percentual ocorra somente quando da liquidação do julgado, de acordo com a redação do art . 85, § 4º, II, do CPC/2015. (STJ - AgInt no AREsp: 1578138 SC 2019/0252222-7, Relator.: Ministro FRANCISCO FALCÃO, Data de Julgamento: 16/10/2023, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/10/2023) (Destaque nossos) SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. VIOLAÇÃO AO ART. 1.022 DO CPC. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE VÍCIOS NO ACÓRDÃO RECORRIDO. HORONÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. REFORMATIO IN PEJUS. INOCORRÊNCIA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015. II - A Corte de origem apreciou todas as questões relevantes apresentadas com fundamentos suficientes, mediante apreciação da disciplina normativa e cotejo ao posicionamento jurisprudencial aplicável à hipótese. Inexistência de omissão, contradição ou obscuridade. III Os honorários advocatícios constituem matéria de ordem pública, cognoscível de ofício. IV - A Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. V - Em regra, descabe a imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo Civil de 2015 em razão do mero desprovimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso. VI - Agravo Interno improvido. (STJ - AgInt nos EDcl no REsp: 1978112 RJ 2021/0261795-2, Data de Julgamento: 09/11/2022, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/11/2022) (Destaque nossos) Dessa forma, observa-se que o acórdão embargado não contém afirmações excludentes ou logicamente incompatíveis entre si. Tampouco o embargante demonstrou qualquer dissociação entre a fundamentação e a conclusão do julgado. Assim, não merece acolhimento a alegação de contradição - vício interno à decisão, caracterizado por premissas inconciliáveis ou evidente desarmonia entre os fundamentos e a conclusão, de modo a comprometer a lógica do raciocínio adotado pelo julgador (CPC, art. 1.022, I, 2.ª parte). Sobre o tema, Araken de Assis leciona: "A contradição decorre da existência de proposições inconciliáveis entre si nos elementos do provimento e de um elemento em relação ao(s) outro(s). As proposições inconciliáveis consistem na afirmação e na negação simultâneas de algo. Defeitos dessa natureza são embargáveis (art. 1.022, I, 2.ª parte)." (Manual dos Recursos / Araken de Assis. -- 10. ed. rev. e atual. -- São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 741) Prosseguindo, o doutrinador exemplifica algumas hipóteses de contradição: "Existirá contradição nos fundamentos do ato quando o juiz declarar o autor parte legítima e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua ilegitimidade para postular perante o réu. Ocorrerá contradição entre a motivação e o dispositivo se o juiz, reconhecendo a ilegitimidade de uma das partes, nada obstante julgar procedente o pedido formulado pelo autor. Esse é um caso em que, decididamente, não se aplica o art. 488; por exemplo, o segurado A pleiteia a prestação do seguro do estipulante C, em vez da seguradora B: não há como obrigar o estipulante C, segundo o direito material, à atribuição patrimonial que incumbe à seguradora B. A fundamentação inadequada e dissociada do que se quis expressar, porque contaminada pela obscuridade, fatalmente implicará contradição com o dispositivo. A troca do "autor" pelo "réu", no contexto da motivação, ou o erro da indicação do vitorioso no dispositivo, também representará vício dessa natureza. Outro exemplo do mesmo quilate avultará do acórdão que, após identificar motivo bastante para invalidar o processo, e declarar o vício insanável, nega provimento à apelação em vez de lhe dar provimento, restituindo o processo ao órgão a quo ou, sanado o defeito, passando ao exame do mérito. Também pode ocorrer contradição entre a ementa e o corpo do acórdão ou entre proposições da própria ementa. Embora tal defeito não comprometa o alcance do julgado, convém escoimá-lo, evitando que sua leitura provoque impressão errônea e sirva de enganos no precedente para os recursos especial e extraordinário. Uma ementa mal redigida tem efeitos colaterais terríveis: o princípio do menor esforço talvez leve outros julgadores a adotar a tese jurídica aí exposta, ignorando o conteúdo do julgado, que muitas vezes é diferente ou até oposto." (Idem, 2021, p. 742) Inexistindo contradição nos moldes exigidos para a oposição de embargos de declaração, não há que se cogitar em seu acolhimento, tampouco na atribuição de efeitos infringentes. Na realidade, das razões recursais depreende-se apenas a inconformidade da embargante com o resultado do julgamento, evidenciando tentativa de apontar erro de julgamento, e não contradição interna no acórdão. Ressalte-se, porém, que os embargos de declaração não se prestam à correção de eventual error in judicando, nem constituem meio processual adequado para sanar contradições externas à decisão Nesse sentido, o entendimento do STJ: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. O fato de as razões da embargante e as razões do acórdão embargado partirem de premissas diversas não autoriza, por si só, o acolhimento dos embargos de declaração, pois não caracteriza omissão, obscuridade, contradição ou erro material. 2. A tentativa de promoção via embargos de declaração de uma interpretação do texto de lei diversa daquela produzida e acolhida por este Superior Tribunal no julgamento do acórdão embargado caracteriza a interposição de aclaratórios com o intuito de levantar error in judicando, o que não é cabível. Precedentes: EDcl no AgRg nos EREsp. n. 1.191.316/SP, Corte Especial, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17.04.2013 e EDcl na AR n. 5.289/SP, Primeira Seção, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 31.10.2023. 3. "Os embargos não se prestam a esclarecer, como via de prequestionamento, temas constitucionais, sobretudo se não correspondentes com o quanto discutido e aprofundadamente debatido" (EDcl no AgRg nos EDcl nos EREsp 1007281 / ES, Corte Especial, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1.7.2011). 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no REsp n. 1.996.685/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 18/4/2024, DJe de 17/5/2024) (Destaque nossos) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 1.022 DO CPC. REDISCUSSÃO DA CONTROVÉRSIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REJEITADO. 1. Nos termos do art. 1.022 do Código de Processo Civil, os embargos de declaração destinam-se a esclarecer obscuridade, eliminar contradição, suprir omissão e corrigir erro material eventualmente existentes no julgado, o que não se verifica na espécie. [...] 5. A argumentação apresentada pela parte embargante denota mero inconformismo e intuito de rediscutir a controvérsia, mas não se prestam os aclaratórios a esse fim. 6. Os embargos de declaração não constituem instrumento adequado a rever entendimento já manifestado e devidamente embasado, à correção de eventual error in judicando ou ao prequestionamento de dispositivos constitucionais, mesmo que com vistas à interposição de recurso extraordinário. 7. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt no AREsp n. 2.093.035/RS, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Turma, julgado em 13/11/2023, DJe de 17/11/2023) (Destaque nossos) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGADA CONTRARIEDADE À JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SUCEDÂNEO RECURSAL. NÃO CABIMENTO. CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. [...]. A contradição passível de ser sanada na via dos embargos declaratórios é a contradição interna, entendida como incoerência existente entre os fundamentos e a conclusão do julgado em si mesmo considerado, e não a contradição externa, relativa à incompatibilidade do julgado com argumento, tese, lei ou precedente tido pela parte embargante como acertado. [...]. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt nos EDcl na Rcl n. 43.275/MG, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Seção, julgado em 18/4/2023, DJe de 24/4/2023) (Destaque nossos) Se a recorrente discorda das razões decidir do acórdão embargado, deve interpor sua irresignação por meio da via adequada, pois os embargos de declaração não se prestam a reabrir a discussão da matéria, na forma da Súmula 18 do repositório de jurisprudência do TJCE, que estabelece: "São indevidos embargos de declaração que têm por única finalidade o reexame da controvérsia jurídica já apreciada". Ressalte-se, por fim, que não há necessidade de manifestação expressa acerca de todos os dispositivos legais invocados, considerando-se incluídos no Acórdão os elementos que a parte embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados (art. 1.025, CPC). Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração, porquanto não restou configurado o vício de contradição apontado. Desde já, advirto de que a eventual oposição de novos Embargos Declaratórios fora das hipóteses legais e/ou com postulação meramente de caráter infringente ou protelatória poderá acarretar-lhes a imposição de penalidade prevista na legislação processual civil (art. 1.026, § 2º, do CPC), visto que existe recurso adequado para o caso de mero inconformismo. É como voto.

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Ministério Público Do Estado Do Ceará e outros x Antonio Marcio Cavalcante Soares e outros

ID: 260543439

Tribunal: TJCE Órgão: 4º Gabinete da 1ª Câmara de Direito Público Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0019369-29.2017.8.06.0070

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ PROCURADORIA GERAL DE JUSTICA

Polo Passivo:

ANTONIO MARCIO CAVALCANTE SOARES ELISABETH MORAIS MACHADO JOAO DE DEUS FERREIRA

Intimação

Advogados:

MARCELO GLEIDSON CAVALCANTE MELO

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

MARIA LEIDIANE COUTINHO COELHO

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

ANTONIO FERNANDES ALVES JUNIOR

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

Processo n. 0019369-29.2017.8.06.0070 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL EMBARGANTE: ELISABETH MORAIS MACHADO EMBARGADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ EMENTA: DIRE… Processo n. 0019369-29.2017.8.06.0070 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL EMBARGANTE: ELISABETH MORAIS MACHADO EMBARGADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO INTERNO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. PRECLUSÃO. CONTRADIÇÃO INTERNA INEXISTENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. A questão em discussão consiste em verificar se o acórdão embargado apresenta contradição interna apta a ensejar embargos de declaração, em razão da aplicação da preclusão à alegação de ilegitimidade passiva. 2. A contradição que autoriza a oposição de embargos de declaração é aquela interna ao julgado, caracterizada por afirmações logicamente incompatíveis entre si ou por desarmonia entre a fundamentação e a conclusão (CPC, art. 1.022, I, 2.ª parte). 3. O acórdão embargado está coerente com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ao reconhecer que a ilegitimidade passiva, ainda que matéria de ordem pública, quando não impugnada tempestivamente após ciência inequívoca da decisão que a rejeita, sofre os efeitos da preclusão. 4. Inexistem no acórdão afirmações contraditórias ou excludentes entre si, tampouco foi demonstrada desarmonia lógica entre os fundamentos e a conclusão do julgado. 5. A pretensão da embargante traduz tentativa de rediscussão do mérito da decisão, visando à correção de eventual error in judicando, hipótese não autorizada na via dos embargos de declaração, que não se prestam à revisão do julgamento nem à superação de contradições externas ao acórdão. 6. Embargos de Declaração rejeitados. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Desembargadores da 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em rejeitar os Embargos de Declaração, nos termos do voto da Relatora, parte integrante deste. Fortaleza/CE, 07 de abril de 2025. Desa. Lisete de Sousa Gadelha Relatora e Presidente do Órgão Julgador RELATÓRIO Trata-se de Embargos de Declaração opostos por Elisabeth Morais Machado contra Acórdão da 1ª Câmara de Direito Público deste Tribunal de Justiça, cuja ementa de julgamento recebeu a seguinte redação: EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO POR AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE AFASTADA. DISCUSSÃO SOBRE ILEGITIMIDADE PASSIVA JÁ DECIDIDA NA INSTÂNCIA DE ORIGEM, SEM INTERPOSIÇÃO DE RECURSO CABÍVEL, CONFIGURANDO PRECLUSÃO. INADMISSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DAS CONTRARRAZÕES COMO SUCEDÂNEO RECURSAL. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Trata-se de Agravo Interno interposto contra decisão monocrática que afastou a prescrição intercorrente reconhecida em primeiro grau, ao dar provimento a apelo interposto pelo Ministério Público do Estado do Ceará, com base nos princípios do tempus regit actum e da proteção à confiança no regime jurídico anterior. A decisão agravada também rejeitou a tentativa de impugnação, em contrarrazões, de questões decididas em decisão interlocutória que recebeu a inicial de improbidade administrativa, bem como de matérias não enfrentadas na sentença. 2. O Agravo Interno atende ao requisito de dialeticidade, pois as razões apresentadas atacam parte dos fundamentos da decisão monocrática, em conformidade com o art. 1.021, § 1º, do CPC. Preliminar de não conhecimento do recurso rejeitada. 3. A ilegitimidade passiva, arguida como matéria de ordem pública, já foi objeto de decisão interlocutória proferida pelo juízo de primeiro grau, que rejeitou a preliminar por se confundir com o mérito da demanda, decisão esta não impugnada oportunamente pela parte recorrente mediante agravo de instrumento. 4. Matérias de ordem pública, ainda que arguíveis a qualquer tempo, tornam-se insuscetíveis de reexame quando já decididas e não impugnadas no prazo legal, operando-se a preclusão, conforme jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça (STJ). 5. As contrarrazões ao recurso de apelação possuem natureza eminentemente defensiva, sendo inadequadas para a veiculação de pretensões que busquem a reforma de decisões interlocutórias. Assim, seu uso como sucedâneo recursal, como ocorre na hipótese dos autos, é manifestamente incabível. 6. Recurso conhecido e desprovido. Decisão monocrática mantida. Nas razões recursais (Id 16703183), a embargante alega, de forma objetiva, que há contradição no acórdão em relação ao conteúdo da decisão, à prova dos autos, e aos atos processuais praticados. Argumenta que jamais foi intimada sobre a decisão interlocutória que rejeitou a arguição de ilegitimidade passiva, não havendo como interposto agravo de instrumento impugnando a referida decisão. Desse modo, entende que o acórdão embargado não poderia falar em preclusão. Ao final, requer o acolhimento do recurso, com o fim de obter o saneamento do vício apontado e a atribuição de efeitos infringentes ao julgado. Preparo inexigível, nos termos do art. 62, §1º, IV, do RTJCE. Regularmente intimado, o Ministério Público do Estado do Ceará apresentou contrarrazões (Id 17275370), nas quais persegue a rejeição dos aclaratórios. Voltaram-me os autos em conclusão. É o relatório adotado. VOTO Na forma do art. 1.022 do CPC, os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade, eliminar contradição ou corrigir erro material existentes no julgado. Ademais, a atribuição de efeitos infringentes é admitida apenas de forma excepcional, quando o acolhimento dos embargos para sanar o vício apontado conduza, de forma necessária, à alteração do resultado do julgado. No presente caso, no entanto, os embargos carecem de fundamento apto a demonstrar a existência de vícios. Vejamos os trechos pertinentes do acórdão embargado: "Como relatado, a magistrada da 1ª Vara Cível da Comarca de Crateús extinguiu o processo de origem com resolução de mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC, fundamentando-se na ocorrência de prescrição intercorrente, nos termos dos §§4º e 5º do art. 23 da Lei n. 8.429/1992. Todavia, a decisão monocrática agravada deu provimento ao apelo do Ministério Público, afastando a prescrição intercorrente, ao considerar inviável sua aplicação retroativa, à luz dos princípios tempus regit actum e da proteção da confiança. Além disso, a decisão monocrática rejeitou, em capítulo próprio, a possibilidade de impugnação, em contrarrazões, de temas tratados em decisão interlocutória que recebe a inicial de improbidade administrativa, bem como o exame de questões não enfrentadas na sentença, sob pena de violação ao duplo grau de jurisdição. A agravante, inconformada, sustenta que as preliminares arguidas em contrarrazões - ilegitimidade passiva e, consequentemente, ilegitimidade ativa do Ministério Público do Estado do Ceará - deveriam ser reconhecidas de ofício, por se tratar de matéria de ordem pública. Embora seja incontroverso que a ilegitimidade passiva constitua matéria de ordem pública, arguível a qualquer tempo, verifica-se que a questão foi enfrentada pelo Juízo da 1ª Vara em decisão proferida em 06/06/2018 (Id 6795315 - 6795325), nos seguintes termos: "A ilegitimidade passiva, como condição da ação, deve ser analisada apenas sob o aspecto abstrato dos elementos pedido e causa de pedir, sendo certo que sua aferição deve ser cognitiva sumária, não dependendo de qualquer análise aprofundada sobre os argumentos de mérito da demanda. Caso haja a necessidade de tal aprofundamento, a preliminar alegada, em verdade, se confundirá com o mérito da causa. Desta forma, saber se a requerida ELIZABETH MORAIS pagou, ou não, pela publicidade veiculada, antes mesmo de tomar posse no cargo de vereador ou se o requerido JOÃO DE DEUS praticou, ou não, o ato ímprobo ao ordenar a despesa da publicidade da sua própria pessoa, enquanto vereador, atinge diretamente o resultado da demanda, gerando a procedência ou improcedência da ação. Portanto, em razão da alegação dos requeridos não se referir à genuína condição da ação de ilegitimidade, mas sim se confundir com o mérito, rejeito a preliminar suscitada." Tratando-se de ato processual perfeito, proferido conforme as normas vigentes, eventual inconformismo deveria ter sido manifestado por agravo de instrumento no prazo legal, sob pena de preclusão. [...] Além disso, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconhece a possibilidade de interposição de agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas em ações de improbidade administrativa. Conforme entendimento do colegiado, a previsão específica contida no artigo 19, parágrafo 1º, da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/1965) prevalece sobre as disposições gerais do artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015. [...] No presente caso, entretanto, a ora agravante utilizou as contrarrazões ao recurso de apelação como meio para impugnar a decisão interlocutória que rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva. Todavia, é sabido que as contrarrazões não possuem natureza recursal, não se prestando à impugnação de decisões judiciais. Seu objetivo é assegurar o contraditório, não podendo ser utilizadas como sucedâneo de recurso, revelando-se inadequadas para essa finalidade. [...] Por outro lado, conforme dispõe a legislação processual, o prazo para interposição de agravo de instrumento é de 15 (quinze) dias úteis, contados, em regra, a partir da intimação dos advogados ou da sociedade de advogados. Contudo, o termo inicial desse prazo também pode ser deflagrado pela ciência inequívoca da parte em relação ao ato processual a ser praticado. Isso significa que, ainda que a decisão interlocutória não tenha sido formalmente publicada, considera-se efetivada a comunicação do ato processual quando o representante legal da parte tenha tomado conhecimento dele por outro meio. Em tais hipóteses, a finalidade da intimação - conferir ciência às partes sobre determinado ato processual - é alcançada pela ciência inequívoca, dispensando-se, assim, a necessidade de publicação no diário da justiça, em observância ao princípio da instrumentalidade das formas. [...] Dessa forma, ainda que a parte agravante alegue ciência tardia da decisão interlocutória que rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva - especificamente quando da publicação da decisão que aplicou a prescrição intercorrente - incide a teoria da ciência inequívoca. Tal teoria estabelece como marco inicial do prazo recursal o momento em que a parte teve conhecimento efetivo do ato, independentemente de sua publicação no Diário da Justiça. Assim, a decisão encontra-se alcançada pela preclusão. Ressalte-se que, conforme entendimento consolidado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mesmo as matérias de ordem pública, como a ilegitimidade passiva, quando já analisadas e não impugnadas tempestivamente, tornam-se insuscetíveis de reexame, operando-se a preclusão. [...] Com tais considerações, e não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar a inadequação dos fundamentos invocados pelo pronunciamento vergastado, o presente agravo não se revela apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado." Em suas razões recursais, afirma a embargante que o acórdão incorreu em contradição quanto ao conteúdo da decisão, à prova dos autos e aos atos processuais praticados. Alega que jamais foi intimada da decisão interlocutória que rejeitou a arguição de ilegitimidade passiva, razão pela qual não poderia ter interposto agravo de instrumento para impugná-la. Assim, defende que o acórdão embargado não poderia reconhecer a preclusão. Contudo, conforme destacado, embora seja incontroverso que a ilegitimidade passiva constitua matéria de ordem pública, arguível a qualquer tempo, a questão já havia sido decidida na origem e não foi impugnada pelo recurso cabível. Nesse contexto, consignou-se que, nos termos da legislação processual, o prazo para a interposição do agravo de instrumento é de 15 (quinze) dias úteis, contado, em regra, a partir da intimação dos advogados ou da sociedade de advogados. No entanto, o voto condutor, referendado pelo órgão colegiado, assentou que esse prazo também pode ser deflagrado pela ciência inequívoca da parte acerca do ato processual a ser impugnado. Assim, compreendeu-se que a intimação, cuja finalidade é dar ciência às partes sobre determinado ato processual, torna-se dispensável quando essa ciência ocorre de forma inequívoca, afastando a necessidade de publicação no Diário da Justiça, em observância ao princípio da instrumentalidade das formas. Nesse sentido, o acórdão citou precedentes do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios: REsp 1.656.403/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 26/02/2019, DJe 06/03/2019; e AI 0721251-32.2021.8.07.0000, Rel. Robson Teixeira de Freitas, 8ª Turma Cível, julgado em 02/12/2021, DJe 16/12/2021. Compreendeu-se, nesse contexto, que, ainda que a parte agravante tenha alegado ciência tardia da decisão interlocutória que rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva - especificamente quando da publicação da decisão que aplicou a prescrição intercorrente -, cabia a aplicação da teoria da ciência inequívoca. Por fim, a Câmara assentou que, mesmo as matérias de ordem pública, como a ilegitimidade passiva, quando já analisadas e não impugnadas tempestivamente, tornam-se insuscetíveis de reexame, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Para tanto, foram citados os seguintes precedentes: AgInt no AREsp n. 2.502.203/SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 2/9/2024, DJe 4/9/2024; AgInt no AREsp n. 2.063.954/SC, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, julgado em 1/7/2024, DJe 8/7/2024; AgInt no AREsp n. 1.682.192/SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 2/10/2023, DJe 6/10/2023; e AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.306.554/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 15/5/2023, DJe 22/5/2023. Dessa forma, observa-se que o acórdão embargado não contém afirmações excludentes ou logicamente incompatíveis entre si. Tampouco a embargante demonstrou qualquer dissociação entre a fundamentação e a conclusão do julgado. Assim, não merece acolhimento a alegação de contradição - vício interno à decisão, caracterizado por premissas inconciliáveis ou evidente desarmonia entre os fundamentos e a conclusão, de modo a comprometer a lógica do raciocínio adotado pelo julgador (CPC, art. 1.022, I, 2.ª parte). Sobre o tema, Araken de Assis leciona: "A contradição decorre da existência de proposições inconciliáveis entre si nos elementos do provimento e de um elemento em relação ao(s) outro(s). As proposições inconciliáveis consistem na afirmação e na negação simultâneas de algo. Defeitos dessa natureza são embargáveis (art. 1.022, I, 2.ª parte)." (Manual dos Recursos / Araken de Assis. -- 10. ed. rev. e atual. -- São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 741) Prosseguindo, o doutrinador exemplifica algumas hipóteses de contradição: "Existirá contradição nos fundamentos do ato quando o juiz declarar o autor parte legítima e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua ilegitimidade para postular perante o réu. Ocorrerá contradição entre a motivação e o dispositivo se o juiz, reconhecendo a ilegitimidade de uma das partes, nada obstante julgar procedente o pedido formulado pelo autor. Esse é um caso em que, decididamente, não se aplica o art. 488; por exemplo, o segurado A pleiteia a prestação do seguro do estipulante C, em vez da seguradora B: não há como obrigar o estipulante C, segundo o direito material, à atribuição patrimonial que incumbe à seguradora B. A fundamentação inadequada e dissociada do que se quis expressar, porque contaminada pela obscuridade, fatalmente implicará contradição com o dispositivo. A troca do "autor" pelo "réu", no contexto da motivação, ou o erro da indicação do vitorioso no dispositivo, também representará vício dessa natureza. Outro exemplo do mesmo quilate avultará do acórdão que, após identificar motivo bastante para invalidar o processo, e declarar o vício insanável, nega provimento à apelação em vez de lhe dar provimento, restituindo o processo ao órgão a quo ou, sanado o defeito, passando ao exame do mérito. Também pode ocorrer contradição entre a ementa e o corpo do acórdão ou entre proposições da própria ementa. Embora tal defeito não comprometa o alcance do julgado, convém escoimá-lo, evitando que sua leitura provoque impressão errônea e sirva de enganos no precedente para os recursos especial e extraordinário. Uma ementa mal redigida tem efeitos colaterais terríveis: o princípio do menor esforço talvez leve outros julgadores a adotar a tese jurídica aí exposta, ignorando o conteúdo do julgado, que muitas vezes é diferente ou até oposto." (Idem, 2021, p. 742) Inexistindo contradição nos moldes exigidos para a oposição de embargos de declaração, não há que se cogitar em seu acolhimento, tampouco na atribuição de efeitos infringentes. Na realidade, das razões recursais depreende-se apenas a inconformidade da embargante com o resultado do julgamento, evidenciando tentativa de apontar erro de julgamento, e não contradição interna no acórdão. Ressalte-se, porém, que os embargos de declaração não se prestam à correção de eventual error in judicando, nem constituem meio processual adequado para sanar contradições externas à decisão Nesse sentido, o entendimento do STJ: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. O fato de as razões da embargante e as razões do acórdão embargado partirem de premissas diversas não autoriza, por si só, o acolhimento dos embargos de declaração, pois não caracteriza omissão, obscuridade, contradição ou erro material. 2. A tentativa de promoção via embargos de declaração de uma interpretação do texto de lei diversa daquela produzida e acolhida por este Superior Tribunal no julgamento do acórdão embargado caracteriza a interposição de aclaratórios com o intuito de levantar error in judicando, o que não é cabível. Precedentes: EDcl no AgRg nos EREsp. n. 1.191.316/SP, Corte Especial, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17.04.2013 e EDcl na AR n. 5.289/SP, Primeira Seção, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 31.10.2023. 3. "Os embargos não se prestam a esclarecer, como via de prequestionamento, temas constitucionais, sobretudo se não correspondentes com o quanto discutido e aprofundadamente debatido" (EDcl no AgRg nos EDcl nos EREsp 1007281 / ES, Corte Especial, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1.7.2011). 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no REsp n. 1.996.685/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 18/4/2024, DJe de 17/5/2024) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 1.022 DO CPC. REDISCUSSÃO DA CONTROVÉRSIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REJEITADO. 1. Nos termos do art. 1.022 do Código de Processo Civil, os embargos de declaração destinam-se a esclarecer obscuridade, eliminar contradição, suprir omissão e corrigir erro material eventualmente existentes no julgado, o que não se verifica na espécie. [...] 5. A argumentação apresentada pela parte embargante denota mero inconformismo e intuito de rediscutir a controvérsia, mas não se prestam os aclaratórios a esse fim. 6. Os embargos de declaração não constituem instrumento adequado a rever entendimento já manifestado e devidamente embasado, à correção de eventual error in judicando ou ao prequestionamento de dispositivos constitucionais, mesmo que com vistas à interposição de recurso extraordinário. 7. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt no AREsp n. 2.093.035/RS, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Turma, julgado em 13/11/2023, DJe de 17/11/2023) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGADA CONTRARIEDADE À JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SUCEDÂNEO RECURSAL. NÃO CABIMENTO. CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. [...]. A contradição passível de ser sanada na via dos embargos declaratórios é a contradição interna, entendida como incoerência existente entre os fundamentos e a conclusão do julgado em si mesmo considerado, e não a contradição externa, relativa à incompatibilidade do julgado com argumento, tese, lei ou precedente tido pela parte embargante como acertado. [...]. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt nos EDcl na Rcl n. 43.275/MG, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Seção, julgado em 18/4/2023, DJe de 24/4/2023) Se a recorrente discorda das razões decidir do acórdão embargado, deve interpor sua irresignação por meio da via adequada, pois os embargos de declaração não se prestam a reabrir a discussão da matéria, na forma da Súmula 18 do repositório de jurisprudência do TJCE, que estabelece: "São indevidos embargos de declaração que têm por única finalidade o reexame da controvérsia jurídica já apreciada". Ressalte-se, por fim, que não há necessidade de manifestação expressa acerca de todos os dispositivos legais invocados, considerando-se incluídos no Acórdão os elementos que a parte embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados (art. 1.025, CPC). Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração, porquanto não restou configurado o vício de contradição apontado. É como voto.

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Municipio De Juazeiro Do Norte x Tereza Cristina Ribeiro

ID: 318878824

Tribunal: TJCE Órgão: 4º Gabinete da 1ª Câmara de Direito Público Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 3000619-83.2023.8.06.0112

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

MUNICIPIO DE JUAZEIRO DO NORTE

Polo Passivo:

TEREZA CRISTINA RIBEIRO

Intimação

Advogados:

MARCOS ANTONIO INACIO DA SILVA

OAB/CE XXXXXX Desbloquear

Processo n. 3000619-83.2023.8.06.0112 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL EMBARGANTE: TEREZA CRISTINA RIBEIRO EMBARGADO: MUNICIPIO DE JUAZEIRO DO NORTE EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBAR… Processo n. 3000619-83.2023.8.06.0112 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL EMBARGANTE: TEREZA CRISTINA RIBEIRO EMBARGADO: MUNICIPIO DE JUAZEIRO DO NORTE EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL. CONVERSÃO EM PECÚNIA DE LICENÇA-PRÊMIO A SERVIDORA PÚBLICA BENEFICIADA PELA ESTABILIDADE EXCEPCIONAL DO ART. 19 DA ADCT. ALEGAÇÃO DE CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO. INEXISTÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. I. Caso em exame 1. Embargos de Declaração opostos contra acórdão proferido pela 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça, que deu provimento ao apelo do Município de Juazeiro do Norte, reformando a sentença para julgar improcedente o pleito autoral. II. Questão em discussão 2. A questão em discussão consiste em verificar se o acórdão embargado apresenta contradição interna apta a ensejar embargos de declaração, em razão de fazer remissão ao Tema 1157/STF para negar a pretensão autoral de conversão em pecúnia dos períodos de licença-prêmio não usufruído quando em atividade. III. Razões de decidir 3. A contradição que autoriza a oposição de embargos de declaração é aquela interna ao julgado, caracterizada por afirmações logicamente incompatíveis entre si ou por desarmonia entre a fundamentação e a conclusão (CPC, art. 1.022, I, 2.ª parte). 4. O acórdão embargado está coerente com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, ao reconhecer que os servidores abrangidos pela estabilidade excepcional prevista no art. 19 do ADCT não se equiparam aos servidores efetivos, os quais foram aprovados em concurso público, possuindo aqueles somente o direito de permanecer no serviço público nos cargos em que foram admitidos, não tendo direito aos benefícios privativos dos servidores efetivos. 5. Inexistem no acórdão afirmações contraditórias ou excludentes entre si, tampouco foi demonstrada desarmonia lógica entre os fundamentos e a conclusão do julgado. 6. A pretensão da embargante traduz tentativa de rediscussão do mérito da decisão, hipótese não autorizada na via dos embargos de declaração, que não se prestam à revisão do julgamento nem à superação de contradições externas ao acórdão. IV. Dispositivo 7. Embargos de Declaração rejeitados. Acórdão mantido. _______________________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 1.022, inciso I. Jurisprudência relevante citada: STJ, EDcl no REsp n. 1.996.685/RS, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe de 17/5/2024; EDcl no AgInt no AREsp n. 2.093.035/RS, Relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Turma, DJe de 17/11/2023; EDcl no AgInt nos EDcl na Rcl n. 43.275/MG, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Seção, julgado em 18/4/2023, DJe de 24/4/2023. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima indicadas, ACORDA a 1ª Câmara de Direito Público do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do recurso, mas para rejeitá-lo, nos termos do voto da eminente Relatora, parte integrante deste. Fortaleza/CE, 16 de junho de 2025. Desa. Lisete de Sousa Gadelha Relatora e Presidente do Órgão Julgador RELATÓRIO Cuida-se de Embargos de Declaração opostos por Tereza Cristina Ribeiro, adversando Acórdão da 1ª Câmara de Direito Público desta Corte, cuja ementa de julgamento recebeu a seguinte redação: EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO ORDINÁRIA. PRELIMINAR DE OFENSA À DIALETICIDADE SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES. REJEIÇÃO. SERVIDORA PÚBLICA ESTÁVEL, NA FORMA DO ART. 19 DO ADCT DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO EQUIPARAÇÃO A SERVIDOR ESTATUTÁRIO EFETIVO. IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO EM PECÚNIA DE LICENÇA-PRÊMIO A SERVIDOR NÃO CONCURSADO. PRECEDENTES DO STF E DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. ÔNUS SUCUMBENCIAL INVERTIDO. 1. Recurso de apelação interposto pelo Município de Juazeiro do Norte contra sentença que reconheceu o direito da autora, servidora pública aposentada, à conversão em pecúnia de licença-prêmio não usufruída em atividade, com base na última remuneração percebida, excluídas as verbas de natureza transitória. 2. Da análise da peça recursal, entendo que resta possível verificar as razões de inconformismo do apelante, assim como o seu pedido para reanálise do decisum apelado. Ademais, a repetição de teses já apresentadas na peça contestatória não ofende o princípio da dialeticidade quando puderem ser extraídas do recurso as razões e a intenção de reforma da sentença. Preliminar de inadmissibilidade suscitada em contrarrazões rejeitada. 3. Quanto ao mérito do recurso, extrai-se do acervo probatório contido nos autos que a parte autora é servidora pública do Município de Juazeiro do Norte que possui estabilidade excepcional prevista no art. 19 da ADCT da Constitucional Federal de 1988. Logo, considerando que os servidores estabilizados pelo referido artigo não fazem jus aos direitos assegurados aos servidores titulares de cargos efetivos, e, ainda, considerando que a licença prêmio é assegurada a estes servidores, merece provimento o recurso do Ente Municipal para julgar improcedente a demanda, porquanto a apelada não faz jus a conversão em pecúnia das licenças-prêmios pretendidas. 4. Ressalta-se que a pretensão deduzida é obstaculizada pelo Tema de Repercussão Geral 1157 do STF, o qual possui a seguinte tese: "É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na ADI 3609". 5. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada. Em suas razões recursais (Id 18918014), a parte embargante aduz que em síntese que o acórdão não enfrentou o argumento central e incorreu em contradição ao fazer remissão ao Tema 1157 do STF, visto que não possui pertinência direta com a conversão das vantagens adquiradas, bem como, trata-se de direito incorporado ao patrimônio jurídico da servidora, configurando-se em direito adquirido, assim, é protegido contra possíveis revogações posteriores. Ao final, requer o conhecimento e provimento dos aclaratórios para fins de saneamento da contradição apontada, com a atribuição de efeitos infringentes. bem como requer o prequestionamento da matéria, nos termos delineados em suas razões de insurgência. Preparo inexigível. Regularmente intimada (Id 19342051), a parte embargada deixou transcorrer o prazo sem nada apresentar ou requerer. Vieram-me os autos conclusos. É o relatório adotado. VOTO Nos termos do Código de Processo Civil (art. 1.022), o recurso de embargos de declaração é o meio processual adequado para dirimir obscuridade, contradição ou omissão, e, ainda, corrigir erro material existente na decisão proferida: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º. (Destaque nosso) Com efeito, os aclaratórios têm finalidade de completar a decisão omissa ou, ainda, de aclará-la, dissipando obscuridades ou contradições. Não têm caráter substitutivo da decisão embargada, mas sim integrativo. Sob esse enfoque, as hipóteses de cabimento são restritas e se referem ao vício que macule o ato judicial impugnado em si mesmo, não se prestando para confrontar-lhe a fundamentação ou conclusão às provas presentes nos autos, nem à interpretação dada pela parte embargante ao pronunciamento recorrido. Ressalta-se que, quanto ao vício apontado pela embargante, nos termos do inciso I do art. 1.022 do CPC, cumpre esclarecer que a contradição passível de embargos é aquela interna ao julgado. Configura-se, por exemplo, quando há grave desarmonia entre a fundamentação e a conclusão da própria decisão, comprometendo a coerência lógica do raciocínio adotado pelo julgador, o que não se configurou na hipótese. Na hipótese vertente, sustenta o embargante que o pronunciamento embargado incorreu em contradição ao fazer remissão ao Tema 1157/STF, que trata do impedimento de reenquadramento automática de servidores estabilizados sem concurso público. Desse modo, alega não poderia afastar o direito à licença-prêmio com base em jurisprudência sobre reenquadramento, que não possui pertinência direta com a conversão de vantagens já adquiridas. Ocorre que essas alegações representam simples descontentamento da embargante com o que restou decidido, porquanto o órgão julgador enfrentou, fundamentadamente, todos os pontos e questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão recorrida. Na Sessão desta 1ª Câmara de Direito Público, realizada em 11 de março de 2025, o recurso do Município de Juazeiro do Norte foi julgado conhecido e provido por unanimidade, reformando a sentença de primeiro grau no sentido de julgar improcedente o pleito autoral (conversão em pecúnia do período de licença prêmio não usufruído quando em atividade), considerando que os servidores estabilizados pelo art. 19 do ADCT da Constituição Federal não fazem jus aos direitos assegurados aos servidores titulares de cargos efetivos. Diversamente do que sustenta a embargante, a fundamentação utilizada no referido decisum se mostra suficiente para a solução do litígio e se encontra, ainda, totalmente compatível com a orientação predominante nos mais diversos tribunais do país sobre a matéria ora discutida nos autos. Na oportunidade, foi destacado no acórdão (Id 18632046) que os servidores estabilizados pelo art. 19 do ADCT não fazem jus aos direitos assegurados aos servidores titulares de cargos efetivos, e, ainda, considerando que a licença prêmio é assegurada a estes servidores, a apelada não faz jus às licenças-prêmios pretendidas, conforme extrai-se do voto condutor: "Em suas razões recursais, a municipalidade alega que a parte autora não comprovou fato constitutivo de seu direito, bem como que a pretensão deduzida é obstaculizada pelo Tema de Repercussão Geral 1157 do STF, uma vez que a admissão da recorrida no serviço público ocorreu sem a aprovação em concurso. Da análise dos autos, extrai-se que a servidora ingressou no serviço público do município de Juazeiro do Norte em 23 de setembro de 1987, exercendo o cargo de professora, tendo se aposentado da referida função em 1 de outubro de 2018, conforme se observa da carta de concessão de benefício previdenciário juntado aos fólios (Id. 17891940). Inclusive, consta no contracheque anexado pela parte autora (Id 17892094), que o seu vínculo com a Administração Pública Municipal é de estabilidade. Portanto, observa-se que a servidora foi extraordinariamente estabilizada, nos termos do art. 19 do ADCT, que assim dispõe: Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. Da interpretação literal do art. 19 do ADCT, nota-se que o constituinte incluiu os empregados públicos garantindo apenas o privilégio da estabilidade, não cabendo interpretação extensiva no sentido de ampliar ou reduzir os benefícios concedidos. Dessa forma, ressalta-se que a estabilidade extraordinária não garante aos servidores estáveis os mesmos direitos de servidores concursados. O Supremo Tribunal Federal possui entendimento consolidado no sentido de que os servidores abarcados pela estabilidade prevista no art. 19 do ADCT não se equiparam aos servidores efetivos, os quais foram aprovados em concurso público. O entendimento dominante é de que o servidor estável, não efetivo, possui somente o direito de permanência no serviço público no cargo em que fora admitido, todavia sem incorporação na carreira, não tendo direito a desfrutar de benefícios que sejam privativos de seus integrantes, como a licença prêmio. [...] Ademais, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, na Sessão Virtual realizada em 28.03.2022, Rel. Min. Alexandre de Moraes, ao analisar o mérito dos autos do ARE 1.306.505 -RG, por meio da sistemática da repercussão geral (Tema 1157), fixou a seguinte tese: É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta regra transitória não prevê o direito à efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe. 30/10/2014) [STF. Plenário. ARE 1306505/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/3/2022 (Repercussão Geral - Tema 1157) (Info 1048)]. […] No caso ora em apreço, a parte recorrida não comprovou a nomeação/posse em cargo público, mediante aprovação em concurso. Com efeito, conclui-se que a recorrida não se desincumbiu do ônus de provar o fato constitutivo do direito pretendido, nos termos do art. 373, I, do CPC. Assim, considerando que os servidores estabilizados pelo art. 19 do ADCT da Constituição Federal não fazem jus aos direitos assegurados aos servidores titulares de cargos efetivos, e, ainda, considerando que a licença prêmio é assegurada a estes servidores, a apelada não faz jus às licenças-prêmios pretendidas, logo, não tem direito a sua conversão em pecúnia, razão pela qual a medida que se impõe é o provimento do inconformismo do Município para julgar improcedente a demanda." O acórdão embargado fundamentou-se nos seguintes precedentes do STF e dos Tribunais Estaduais Pátrios, lá reproduzidos na íntegra: STF, RE: 1503763 PR, Relator: Min. Dias Toffoli, Data de Julgamento: 07/10/2024, Segunda Turma; RE 1176669 PB, Relator: Nunes Marques, Data de Julgamento: 26/06/2023, Segunda Turma; ARE 1280996 AC 0605046-71.2018.8.01.0070, Relator.: Roberto Barroso, Data de Julgamento: 17/05/2021, Primeira Turma; TJ-AL, Apelação Cível n. 0700569-03.2018.8.02.0032, Relator.: Des. Paulo Zacarias da Silva, Data de Julgamento: 08/02/2024, 3ª Câmara Cível; TJ-PE, Apelação/Remessa Necessária n. 00009167620218173420, Relator: Fernando Cerqueira Norberto Dos Santos, Data de Julgamento: 21/10/2024; TJ-CE, Apelação Cível n. 0015849-03.2017.8.06.0154, Rel. Desa. Maria Iracema Martins Do Vale, 3ª Câmara Direito Público, data do julgamento: 19/09/2022, DJe: 19/09/2022. Dessa forma, observa-se que a decisão colegiada não contém afirmações excludentes ou logicamente incompatíveis entre si. Tampouco a embargante demonstrou qualquer dissociação entre a fundamentação e a conclusão do julgado. Assim, não merece acolhimento a alegação de contradição - vício interno à decisão, caracterizado por premissas inconciliáveis ou evidente desarmonia entre os fundamentos e a conclusão, de modo a comprometer a lógica do raciocínio adotado pelo julgador (CPC, art. 1.022, I, 2.ª parte). Sobre o tema, Araken de Assis leciona: "A contradição decorre da existência de proposições inconciliáveis entre si nos elementos do provimento e de um elemento em relação ao(s) outro(s). As proposições inconciliáveis consistem na afirmação e na negação simultâneas de algo. Defeitos dessa natureza são embargáveis (art. 1.022, I, 2.ª parte)." (Manual dos Recursos / Araken de Assis. -- 10. ed. rev. e atual. -- São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 741) Prosseguindo, o doutrinador exemplifica algumas hipóteses de contradição: "Existirá contradição nos fundamentos do ato quando o juiz declarar o autor parte legítima e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua ilegitimidade para postular perante o réu. Ocorrerá contradição entre a motivação e o dispositivo se o juiz, reconhecendo a ilegitimidade de uma das partes, nada obstante julgar procedente o pedido formulado pelo autor. Esse é um caso em que, decididamente, não se aplica o art. 488; por exemplo, o segurado A pleiteia a prestação do seguro do estipulante C, em vez da seguradora B: não há como obrigar o estipulante C, segundo o direito material, à atribuição patrimonial que incumbe à seguradora B. A fundamentação inadequada e dissociada do que se quis expressar, porque contaminada pela obscuridade, fatalmente implicará contradição com o dispositivo. A troca do "autor" pelo "réu", no contexto da motivação, ou o erro da indicação do vitorioso no dispositivo, também representará vício dessa natureza. Outro exemplo do mesmo quilate avultará do acórdão que, após identificar motivo bastante para invalidar o processo, e declarar o vício insanável, nega provimento à apelação em vez de lhe dar provimento, restituindo o processo ao órgão a quo ou, sanado o defeito, passando ao exame do mérito. Também pode ocorrer contradição entre a ementa e o corpo do acórdão ou entre proposições da própria ementa. Embora tal defeito não comprometa o alcance do julgado, convém escoimá-lo, evitando que sua leitura provoque impressão errônea e sirva de enganos no precedente para os recursos especial e extraordinário. Uma ementa mal redigida tem efeitos colaterais terríveis: o princípio do menor esforço talvez leve outros julgadores a adotar a tese jurídica aí exposta, ignorando o conteúdo do julgado, que muitas vezes é diferente ou até oposto." (Idem, 2021, p. 742) Inexistindo contradição nos moldes exigidos para a oposição de embargos de declaração, não há que se cogitar em seu acolhimento, tampouco na atribuição de efeitos infringentes. Na realidade, das razões recursais depreende-se apenas a inconformidade da embargante com o resultado do julgamento, evidenciando tentativa de apontar erro de julgamento, e não contradição interna no acórdão. Ressalte-se, porém, que os embargos de declaração não se prestam à correção de eventual error in judicando, nem constituem meio processual adequado para sanar contradições externas à decisão Nesse sentido, o entendimento do STJ: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. PREQUESTIONAMENTO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. 1. O fato de as razões da embargante e as razões do acórdão embargado partirem de premissas diversas não autoriza, por si só, o acolhimento dos embargos de declaração, pois não caracteriza omissão, obscuridade, contradição ou erro material. 2. A tentativa de promoção via embargos de declaração de uma interpretação do texto de lei diversa daquela produzida e acolhida por este Superior Tribunal no julgamento do acórdão embargado caracteriza a interposição de aclaratórios com o intuito de levantar error in judicando, o que não é cabível. Precedentes: EDcl no AgRg nos EREsp. n. 1.191.316/SP, Corte Especial, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17.04.2013 e EDcl na AR n. 5.289/SP, Primeira Seção, Rel. Min. Paulo Sérgio Domingues, julgado em 31.10.2023. 3. "Os embargos não se prestam a esclarecer, como via de prequestionamento, temas constitucionais, sobretudo se não correspondentes com o quanto discutido e aprofundadamente debatido" (EDcl no AgRg nos EDcl nos EREsp 1007281 / ES, Corte Especial, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1.7.2011). 4. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no REsp n. 1.996.685/RS, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, julgado em 18/4/2024, DJe de 17/5/2024) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 1.022 DO CPC. REDISCUSSÃO DA CONTROVÉRSIA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REJEITADO. 1. Nos termos do art. 1.022 do Código de Processo Civil, os embargos de declaração destinam-se a esclarecer obscuridade, eliminar contradição, suprir omissão e corrigir erro material eventualmente existentes no julgado, o que não se verifica na espécie. [...] 5. A argumentação apresentada pela parte embargante denota mero inconformismo e intuito de rediscutir a controvérsia, mas não se prestam os aclaratórios a esse fim. 6. Os embargos de declaração não constituem instrumento adequado a rever entendimento já manifestado e devidamente embasado, à correção de eventual error in judicando ou ao prequestionamento de dispositivos constitucionais, mesmo que com vistas à interposição de recurso extraordinário. 7. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt no AREsp n. 2.093.035/RS, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Turma, julgado em 13/11/2023, DJe de 17/11/2023) PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ALEGADA CONTRARIEDADE À JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SUCEDÂNEO RECURSAL. NÃO CABIMENTO. CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. [...]. A contradição passível de ser sanada na via dos embargos declaratórios é a contradição interna, entendida como incoerência existente entre os fundamentos e a conclusão do julgado em si mesmo considerado, e não a contradição externa, relativa à incompatibilidade do julgado com argumento, tese, lei ou precedente tido pela parte embargante como acertado. [...]. Embargos de declaração rejeitados. (STJ, EDcl no AgInt nos EDcl na Rcl n. 43.275/MG, relator Ministro Paulo Sérgio Domingues, Primeira Seção, julgado em 18/4/2023, DJe de 24/4/2023) Não se pode confundir decisão contrária ao interesse da parte com ausência de fundamentação ou negativa de prestação jurisdicional, pois o simples descontentamento da parte com o julgado não tem o condão de tornar cabíveis os embargos de declaração, que servem ao aprimoramento da decisão, mas não à sua modificação, que só muito excepcionalmente é admitida. Se o recorrente discorda das razões decidir do Acórdão embargado, deve interpor sua irresignação por meio da via adequada, pois os embargos de declaração não de prestam a reabrir a discussão da matéria, na forma da Súmula 18 do repositório de jurisprudência do TJCE, que estabelece: "São indevidos embargos de declaração que têm por única finalidade o reexame da controvérsia jurídica já apreciada". Ressalte-se, por derradeiro, que não há necessidade de manifestação expressa acerca de todos os dispositivos legais invocados, considerando-se incluídos no acórdão os elementos que a parte embargante suscitou, para fins de prequestionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados (art. 1.025, CPC). Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração, porquanto não restou configurado nenhum dos vícios alegados. Desde já, advirto de que a eventual oposição de novos embargos declaratórios fora das hipóteses legais e/ou com postulação meramente de caráter infringente ou protelatória poderá acarretar-lhes a imposição de penalidade prevista na legislação processual civil (art. 1.026, § 2º, do CPC), visto que existe recurso adequado para o caso de mero inconformismo. É como voto.

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou 305 resultados. Faça login para ver detalhes completos e mais informações.

Fazer Login para Ver Detalhes