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"1008839-61.2023.8.26.0302" - Resultados da Busca

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Processo nº 0819630-30.2023.8.10.0040

ID: 317006554

Tribunal: TJMA Órgão: 4ª Vara Cível de Imperatriz Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0819630-30.2023.8.10.0040

Data de Disponibilização: 07/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

WILSON SALES BELCHIOR

Intimação

Advogados:

WILSON SALES BELCHIOR

OAB/MA XXXXXX Desbloquear

THAIS ANTONIA ROQUE DE OLIVEIRA

OAB/MA XXXXXX Desbloquear

EMANUEL SODRE TOSTE

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YVES CEZAR BORIN RODOVALHO

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4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IMPERATRIZ RUA RUI BARBOSA, S/Nº, CENTRO, CEP Nº 65.900-440 E-MAIL: varaciv4_itz@tjma.jus.br Processo nº 0819630-30.2023.8.10.0040 Parte Requerente: LIZANDRA LEAO DE SOUSA… 4ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE IMPERATRIZ RUA RUI BARBOSA, S/Nº, CENTRO, CEP Nº 65.900-440 E-MAIL: varaciv4_itz@tjma.jus.br Processo nº 0819630-30.2023.8.10.0040 Parte Requerente: LIZANDRA LEAO DE SOUSA Advogados do(a) AUTOR: EMANUEL SODRE TOSTE - MA8730-A, THAIS ANTONIA ROQUE DE OLIVEIRA - MA20014, YVES CEZAR BORIN RODOVALHO - MA11175-A Parte Requerida: BANCO DO BRASIL SA Advogado do(a) REU: WILSON SALES BELCHIOR - MA11099-A SENTENÇA A presente demanda foi proposta por LIZANDRA LEAO DE SOUSA PEREIRA, qualificada nos autos, por meio de seus patronos legalmente constituídos, mediante a propositura de Ação Declaratória de Abusividade de Restrição Interna c/c Obrigação de Fazer e Indenização por Danos Morais, com Pedido de Liminar, em face de BANCO DO BRASIL S.A., pessoa jurídica de direito privado, devidamente qualificada na exordial. A autora, servidora pública, sustenta que manteve, ao longo de diversos anos, regular vínculo contratual com o banco requerido, tendo celebrado conta-salário e utilizado diversos produtos e serviços ofertados, como cheque especial, cartão de crédito e linhas de empréstimo pessoal. Argumenta que, a partir do ajuizamento de ações revisionais de empréstimos consignados, passou a sofrer supostas retaliações por parte da instituição financeira. Tais retaliações consistiriam em cancelamentos unilaterais e não justificados de seus produtos financeiros, sem qualquer inadimplemento contratual. Afirma que os bloqueios e cancelamentos foram realizados sem aviso prévio, de modo arbitrário e em desacordo com as normas consumeristas, violando os princípios da boa-fé objetiva e função social do contrato. Alega ainda violação à dignidade do consumidor, especialmente diante do uso reiterado e histórico dos serviços ora suspensos. Tal conduta, segundo a autora, acarretou-lhe não apenas dificuldades financeiras, mas também constrangimentos de ordem moral, como tentativa de pagamento frustrada em estabelecimento comercial local, sem que estivesse inadimplente. No campo jurídico, alega que a restrição interna aplicada pelo banco se revela prática abusiva, em confronto com os artigos 39, II e IX, e 51, IV, da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), bem como com a Resolução BACEN nº 1.631/89, com as alterações promovidas pela Resolução nº 1.682/90. Defende a existência de dano moral decorrente da violação contratual e prática abusiva perpetrada pela instituição bancária. Requereu a concessão dos benefícios da justiça gratuita com base no art. 98 do CPC, sustentando hipossuficiência financeira decorrente da comprometida renda com obrigações financeiras, pleiteando a inversão do ônus da prova, com fundamento no art. 6º, VIII, do CDC, formulando os seguintes pedidos: concessão da assistência judiciária gratuita; citação do requerido para contestar a presente ação; concessão de tutela provisória de urgência. Pleiteou a determinação para o banco requerido apresentar histórico do cadastro interno da autora, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00, protestando pela produção de todas as provas admitidas em direito. Indeferido o pedido para concessão da tutela de urgência, o réu foi citado. Em sua peça de defesa, o Banco do Brasil S.A. apresentou impugnação em face dos pedidos formulados, tanto em sede preliminar quanto no mérito. Suscitou, preliminarmente, a impugnação ao pedido de gratuidade da justiça, alegando ausência de comprovação da hipossuficiência econômica, destacando que a parte autora contratou advogado particular, o que indicaria capacidade financeira incompatível com o benefício pleiteado. Arguiu a ausência de pretensão resistida, alegando inexistência de prova de tentativa de solução administrativa prévia por parte da autora. Alegou que tal ausência afastaria o interesse de agir, requerendo, por conseguinte, a extinção do processo sem julgamento do mérito com base no art. 485, VI, do CPC, impugnando, ainda, o pedido de tutela de urgência. Argumentou a ausência dos requisitos legais dispostos no art. 300 do CPC, quais sejam, a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, sustentando inexistência de prova inequívoca que evidenciasse verossimilhança nas alegações da parte autora. No mérito, o réu alegou a inexistência de falha na prestação dos serviços, ressaltando que a conta em questão (agência 3280-8, conta 23.079-0) teve o limite de cheque especial suspenso em 31/12/2020, em virtude do vencimento da análise de risco e crédito, procedimento este respaldado por critérios técnicos e regulares, conforme metodologia interna da instituição. Apontou não haver registro de recusa de pagamento por insuficiência de saldo nas movimentações da autora no período de janeiro de 2019 a agosto de 2023. Tal ausência de registro, segundo o réu, afastaria os alegados danos, destacando o exercício regular de direito, conforme previsto no art. 188, I, do Código Civil. Argumentou que a mera redução ou suspensão de limite de crédito, por si, não constitui ilícito civil, especialmente quando amparado por diretrizes da Resolução CMN nº 3.258/2005 e da Resolução BCB nº 96/2021. Refutou o pedido de indenização por danos morais, sustentando ausência de prova de abalo psíquico relevante, de conduta ilícita e de nexo de causalidade entre os fatos e os prejuízos alegados. Qualificou-os como meros dissabores ou aborrecimentos cotidianos, insuficientes para ensejar reparação, alegando, por fim, a improcedência do pedido. Pugnou pela improcedência da demanda em todos os seus termos. A parte autora apresentou réplica. Intimados para manifestação a respeito de provas a produzir, ambas as partes quedaram-se inertes. Vieram conclusos. É o relatório. Decido. O artigo 370, parágrafo único, do CPC, estabelece que: o juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias. Desta forma, o deferimento de provas é ato próprio do magistrado, estando incluído em seus deveres, conforme artigo 139 do Código de Processo Civil. Segundo a jurisprudência consagrada no Superior Tribunal de Justiça, é facultado ao julgador o indeferimento de produção probatória que julgar desnecessária para o regular trâmite do processo, sob o pálio da prerrogativa do livre convencimento, seja ela testemunhal, seja pericial, seja documental, cabendo-lhe, apenas, expor fundamentadamente o motivo de sua decisão. Neste sentido: PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVAS. JUIZ É O DESTINATÁRIO DA PROVA. OUTROS ELEMENTOS. SÚMULA N. 7/STJ. AGRAVO DESPROVIDO. 1. "O deferimento de provas é ato próprio do magistrado processante, que poderá indeferi-las de forma fundamentada, quando as julgar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a instrução do processo, não caracterizando, tal ato, cerceamento de defesa" (AgRg no AREsp 1.092.236/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017). 2. Não cabe a este Superior Tribunal de Justiça avaliar, frente às demais provas coligidas aos autos, se determinada prova pericial é ou não imprescindível no caso concreto. Tal proceder violaria a Súmula n. 7/STJ. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp: 1421534 SP 2018/0338884-8, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 14/05/2019, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/05/2019) Analisando os autos, entendo que não é necessária a produção de outras provas, uma vez que os documentos acostados são suficientes para convencimento a respeito do mérito. Assim, passo a proferir sentença com base no artigo 355, I do Código de Processo Civil. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. A priori, cabe asseverar que a apreciação dos danos alegados será feita sob a égide das disposições do Código de Defesa do Consumidor. Isso porque, a relação entre as partes se caracteriza como típica relação de consumo, já que a empresa ré se enquadra na definição de fornecedor dos produtos e a parte autora como consumidor (destinatário final do mesmo), nos termos do artigo 2º e 3º do CDC, in verbis: “Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. ..................................... Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” Ademais, conforme súmula nº 297 do STJ “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”, como é o caso dos autos. Desse modo, a reparação dos danos na seara do Código de Defesa do Consumidor assume peculiaridade diferente, porquanto estabelece como sistema principal, o da responsabilidade objetiva, ou seja, aquele pautado na teoria do risco e na reparação integral. Preliminares e Prejudiciais. Impugnação à Gratuidade da Justiça Conforme determina o artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Essa assistência, quando aplicada ao presente processo, é disciplinada pelo artigo 98 do Código de Processo Civil, o qual dispõe: A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, que comprovar insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios, tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei. Não é necessário que a parte seja pobre ou necessitada para beneficiar-se da gratuidade da justiça. Basta que não possua recursos suficientes para arcar com as custas, as despesas e os honorários do processo. Mesmo que a pessoa disponha de patrimônio suficiente, se esses bens não possuem liquidez para adimplir tais despesas, subsiste o direito à gratuidade. Embora o texto constitucional estabeleça que tal direito é exercido por aqueles que comprovarem insuficiência de recursos, a jurisprudência pátria e o § 3º do artigo 99 do Código de Processo Civil dispõem que a alegação de hipossuficiência formulada por pessoa natural é presumida verdadeira, se não se encontram nos autos elementos em contrário. Cabe à parte contrária impugnar tal alegação, mediante a apresentação de provas aptas a afastar a presunção estabelecida por lei quando não percebido de ofício pelo magistrado. No caso dos autos, a contraparte não apresentou prova suficiente para desconstituir a presunção de hipossuficiência estabelecida em favor da parte que requereu o benefício. Desta forma, mantenho o benefício da gratuidade da justiça. Ausência de Interesse de Agir. No tocante à ausência de interesse processual por ausência de pretensão resistida, entendo que esta tese não deve ser acolhida. O interesse processual é condição da ação, desta forma deve ser estabelecido do começo ao fim do processo, sendo condição necessária à apreciação do mérito. Esta condição resulta da necessidade de buscar a tutela jurisdicional para satisfação de um interesse substancial, bem como da utilidade do meio utilizado para satisfação desse interesse. Apesar de não ter diligenciado junto ao réu antes de ingressar em juízo, o artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, disciplina o princípio da inafastabilidade da jurisdição, não podendo o direito de ação ficar sujeito à prévia análise administrativa, ou convenção entre as partes. Ademais, durante o processo foi possibilitado às partes celebrarem acordo e não o fizeram, enquanto a peça de contestação, que serviu para levantar fundamento obstativo do direito da parte autora, pode ser vista como meio de resistência, configurando a lide. Impugnação à Inversão do Ônus da Prova A inversão do ônus da prova no direito do consumidor é um mecanismo previsto no Código de Defesa do Consumidor (CDC) brasileiro, cujo objetivo é equilibrar as relações entre consumidores e fornecedores. Conforme o artigo 6º, inciso VIII, do CDC, a inversão pode ocorrer quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele o hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. A verossimilhança das alegações é analisada sob a ótica da plausibilidade e da consistência inicial das provas apresentadas. Já a hipossuficiência refere-se à desigualdade técnica, econômica ou informacional entre consumidor e fornecedor, que prejudica a capacidade do consumidor de provar seu direito. Importante ressaltar que esses requisitos não são cumulativos, ou seja, a presença de apenas um deles pode justificar a inversão do ônus da prova. Isso significa que, em determinadas circunstâncias, a responsabilidade de provar que a reclamação do consumidor não procede passa a ser do fornecedor. Essa disposição é fundamental para proteger o consumidor, parte mais frágil na relação de consumo, garantindo que seus direitos sejam respeitados e que haja justiça nas disputas consumeristas. A inversão do ônus da prova é, portanto, uma ferramenta que contribui para a efetivação da justiça e para o fortalecimento das políticas de proteção ao consumidor. No caso dos autos, a requerida impugna a concessão deste direito à parte autora, porém não se vislumbra motivação idônea para sua revogação, vez que, a meu ver, os requisitos para a concessão ainda se mantém. Desta forma, rejeito a preliminar de impugnação a inversão do ônus da prova. Mérito. No que tange ao pleito de reestabelecimento dos serviços, tal pleito não merece amparo, eis que de fato a autonomia da liberdade de contratar deve vigorar na presente relação jurídica, sendo a concessão de crédito um ato puramente discricionário, cabendo à ré analisar o perfil da parte autora e agir conforme suas políticas internas. A concessão de crédito pressupõe fidúcia, sendo legítima a argumentação do réu no sentido de que dispõe de liberdade no estabelecimento dos critérios para concessão do crédito, seja do cheque especial, seja do cartão de crédito. Desta forma, não há como obrigar as instituições financeiras a concederem crédito como requerido pela parte autora. Contudo, inobstante seja uma faculdade do banco cancelar ou diminuir o limite de cheque especial, ou cartão de crédito, inegável que não pode fazê-lo sem aviso ao cliente, sob pena de configurar ato ilícito passível de indenização. Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CHEQUE ESPECIAL. CANCELAMENTO SEM PRÉVIA COMUNICAÇÃO. DANO MORAL. REQUISITOS CONFIGURADOS. PRETENSÃO DE AFASTAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR RAZOÁVEL. 1. Consoante jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, é abusivo o cancelamento do limite do cheque especial sem prévia notificação ao correntista, ensejando o dever de reparação do dano moral. 2. O col. Tribunal de origem manteve a condenação do recorrido ao pagamento de indenização por danos morais, concluindo pela presença dos requisitos ensejadores da responsabilidade civil da instituição financeira. Rever tal entendimento, nos moldes em que ora postulado, demandaria a análise do acervo fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula 7 do STJ, que dispõe: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial." 3. O entendimento pacificado no Superior Tribunal de Justiça é de que o valor estabelecido pelas instâncias ordinárias a título de indenização por danos morais pode ser revisto tão somente nas hipóteses em que a condenação se revelar irrisória ou exorbitante, distanciando-se dos padrões de razoabilidade, o que não se evidencia no presente caso. Desse modo, não se mostra desproporcional a fixação em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a título de reparação moral decorrente da inscrição indevida em cadastro de restrição creditícia, motivo pelo qual não se justifica a excepcional intervenção desta Corte no presente feito, como bem consignado na decisão agravada. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. ( AgRg no AREsp n. 331.923/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 20/8/2013, DJe de 20/9/2013.) Entende a jurisprudência: Recurso inominado. Consumidor. Redução de limite de cartão de crédito sem prévio aviso. Comunicação feita em fatura emitida um dia antes da compra realizada pela autora. Ausência de tempo hábil para ciência da redução. Cláusula contratual que prevê notificação com antecedência de trinta dias. Danos morais caracterizados. Sentença reformada. Provimento do recurso. (TJ-SP - RI: 10088399320208260099 SP 1008839-93.2020.8.26.0099, Relator: Leonardo Manso Vicentin, Data de Julgamento: 05/04/2022, 2ª Turma Cível e Criminal, Data de Publicação: 05/04/2022) APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESUAL CIVI E DIREITO DO CONSUMIDOR. CANCELAMENTO UNILATERAL DE CARTÃO DE CRÉDITO. UTILIZAÇÃO PARA COMPRAS A GRANEL DESTINADAS À REVENDA. DESCUMPRIMENTO DE PREVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. REATIVAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO. LIBERALIDADE DO BANCO. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE COMUNICADO AO CLIENTE SOBRE O CANCELAMENTO. DANO MORAL CONFIGURADO. DEVER DE INFORMAÇÃO. ART. 14. CDC. SETENÇA MANTIDA. APELO IMPROVIDO. (TJ-BA - APL: 05287704020148050001, Relator: Regina Helena Ramos Reis, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 03/08/2016) RECURSO INOMINADO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – REDUÇÃO UNILATERAL DE LIMITE DE CHEQUE ESPECIAL- AUSENCIA DE AVISO PRÉVIO AO CONSUMIDOR – FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO – PRINCIPIO DA BOA-FÉ E DEVER DE INFORMAÇÃO NÃO OBSERVADOS – DANO MORAL CONFIGURADO – VERBA CORRETAMENTE FIXADA QUE NÃO MERECE REDUÇÃO- SENTENÇA MANTIDA – RECURSO DESPROVDO. Embora do cancelamento ou redução dos valores de cheque especial disponibilizados aos correntistas seja prerrogativa das instituições bancárias, sua alteração sem comunicação prévia é prática abusiva, pois impede o correto planejamento financeiro do cliente. Dano moral configurado. Valor da indenização bem fixado pelo Juízo, que atende aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. (TJ-MT - RI: 10167541420238110001, Relator: ANTONIO HORACIO DA SILVA NETO, Data de Julgamento: 11/09/2023, Segunda Turma Recursal, Data de Publicação: 15/09/2023) EMENTA: JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. RELAÇÃO DE CONSUMO. CANCELAMENTO UNILATERAL DO CRÉDITO DE CHEQUE ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM DESPROPORCIONAL MINORADO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-GO - RI: 50802558320218090069 GUAPÓ, Relator: Roberto Neiva Borges, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de Publicação: (S/R) DJ) No caso em análise, invertido o ônus da prova desde o despacho inicial, cabia ao réu comprovar a comunicação ao autor da alteração nas linhas de crédito, a fim de cumprir conforme determina o artigo 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor, porém não apresentou prova neste sentido. Ainda que lícita a conduta, não se duvida que o banco réu violou o dever de informação, da transparência e da boa-fé objetiva, uma vez que incomprovado ter havido prévia e expressa notificação à autora, com o fim de prevenir eventuais danos patrimoniais e morais, restando evidenciada a falha na prestação de serviço. Portanto, evidente a falha na prestação de serviço e o dever de indenizar a parte autora pelos danos sofridos. Indenização Por Danos Morais O Ministro Luís Felipe Salomão do Superior Tribunal de Justiça conceitua dano moral como “todo prejuízo que o sujeito de direito sofre por meio de violação a bem jurídico específico. É toda ofensa aos valores da pessoa humana, capaz de atingir os componentes da personalidade e do prestígio social” (REsp. 1245550/MG). Para o eminente Ministro, “o dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na verdade, sua consequência, seu resultado. O dano é fato que antecede os sentimentos de aflição e angústia experimentados pela vítima, não estando necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima” (REsp 1245550/MG). Como ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, “o dano moral consiste na lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra, imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente” (Manual de Direito Civil, 1ªed., 2017, pág. 907). Ao arbitrar o valor dos danos morais, o julgador tem de se valer da prudência, observando as peculiaridades de cada caso e aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Na fixação do quantum indenizatório, o juiz deve criteriosamente ponderar para não haver enriquecimento sem causa por parte do autor e nem seja a reparação tão módica que não sirva de lição pedagógica ao agente causador do dano. O professor de Direito FABRÍCIO ZAMPRONGNA MATIELO, em obra intitulada “Dano Moral, Dano Material, Reparações” (Editores Sagra DC Luzzatto, 2ª ed., pág. 55), aduz que hoje a reparação dos danos morais tem entre nós duas finalidades: 1ª) indenizar pecuniariamente o ofendido, alcançando-lhe a oportunidade de obter meios para amenizar a dor experimentada em função da agressão moral em um misto de compensação e satisfação; 2º) punir o causador do dano moral, inibindo novos episódios lesivos, nefastos ao convívio social. No caso em análise, verifica-se que a parte requerida causou dano extrapatrimonial, frustrando severamente as expectativas da parte autora em seu planejamento financeiro, evidenciando ofensa a direito da personalidade. Ademais, os eventos decorrentes do ato do réu impactaram negativamente outras áreas da vida da requerente, prejuízos esses que não ocorreriam sem a atuação do demandado. Essa conduta não pode passar despercebida pelo crivo do Poder Judiciário, que tem o dever de inibir práticas lesivas e assegurar o equilíbrio entre os jurisdicionados. Diante disso, fixo a condenação por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (quinze mil reais), com base nos critérios mencionados. Dispositivo. Ante o exposto, com fundamento nos artigos 6º, incisos III e VIII, 14, 39, incisos II e V, e 51, inciso IV, da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados por Lizandra Leão de Sousa Pereira em face do Banco do Brasil S.A., para: Declarar a abusividade da conduta da instituição ré ao cancelar, de forma unilateral e sem aviso prévio, as linhas de crédito e produtos financeiros anteriormente disponibilizados à parte autora, como cheque especial e cartão de crédito, em afronta aos deveres de informação, lealdade e boa-fé objetiva; Condenar o réu ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com correção monetária pelo IPCA a partir da presente sentença, e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a contar da citação até 28/08/2024. A partir de 29/08/2024, os juros moratórios deverão corresponder à diferença entre a Taxa Selic e o IPCA, nos termos dos artigos 389, parágrafo único, e 406, §1º, do Código Civil, com a redação conferida pela Lei nº 14.905/2024; Ratificar a concessão da justiça gratuita deferida à parte autora, nos termos do artigo 98 do Código de Processo Civil, diante da ausência de elementos capazes de infirmar a presunção de veracidade da declaração de hipossuficiência econômica apresentada; Indeferir o pedido de restabelecimento das linhas de crédito, por se tratar de ato discricionário da instituição financeira; Indeferir os demais pedidos formulados pela parte autora, por ausência de amparo legal e fático suficiente. Condeno o réu ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que fixo em 16% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após o trânsito em julgado, certifique-se e arquivem-se os presentes autos. Serve como mandado/carta/ofício. Imperatriz/MA, data de inclusão nos autos. André Bezerra Ewerton Martins Juiz de Direito da 4ª Vara Cível Comarca de Imperatriz

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