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Processo nº 1001061-90.2025.8.13.0024

ID: 321627663

Tribunal: TJMG Órgão: 5ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001061-90.2025.8.13.0024

Data de Disponibilização: 10/07/2025

Polo Ativo:

ALLIANZ SEGUROS S/A

Polo Passivo:

Ato ordinatório

Advogados:

ELTON CARLOS VIEIRA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 1001061-90.2025.8.13.0024/MG RELATOR : MONICA SILVEIRA VIEIRA AUTOR : ALLIANZ SEGUROS S/A ADVOGADO(A) : ELTON CARLOS VIEIRA (OAB MG099455) ATO ORDINATÓRIO Intimação realiz…

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Processo nº 1001061-90.2025.8.13.0024

ID: 325369718

Tribunal: TJMG Órgão: 5ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001061-90.2025.8.13.0024

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

ALLIANZ SEGUROS S/A

Polo Passivo:

Ato ordinatório

Advogados:

ELTON CARLOS VIEIRA

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 1001061-90.2025.8.13.0024/MG RELATOR : MONICA SILVEIRA VIEIRA AUTOR : ALLIANZ SEGUROS S/A ADVOGADO(A) : ELTON CARLOS VIEIRA (OAB MG099455) ATO ORDINATÓRIO Intimação realiz…

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Processo nº 0102455-15.2010.8.13.0209

ID: 328894244

Tribunal: TJMG Órgão: Vara de Execuções Penais, de Execuções Fiscais, de Acidentes do Trabalho e de Cartas Precatórias Criminais de Curvelo Classe: EXECUçãO FISCAL Nº Processo: 0102455-15.2010.8.13.0209

Data de Disponibilização: 18/07/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

OSVALDO TEODORO DA SILVA

Intimação

Advogados:

LUISA MARTINS PALHARES

OAB/MG XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Curvelo / Vara de Execuções Penais, de Execuções Fiscais, de Acidentes do Trabalho e de Cartas Precatórias Criminai… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Curvelo / Vara de Execuções Penais, de Execuções Fiscais, de Acidentes do Trabalho e de Cartas Precatórias Criminais de Curvelo Avenida Sarobá, 400, Maria Amália, Curvelo - MG - CEP: 35790-000 PROCESSO Nº: 0102455-15.2010.8.13.0209 CLASSE: [CÍVEL] EXECUÇÃO FISCAL (1116) ASSUNTO: [Ausência de Cobrança Administrativa Prévia]0 AUTOR: INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS-IBAMA CPF: 03.659.166/0001-02 RÉU: OSVALDO TEODORO DA SILVA CPF: 604.465.016-20 SENTENÇA Vistos. RELATÓRIO Trata-se de exceção de pré-executividade aviada pelo executado, Osvaldo Teodoro da Silva, ao ID 9823873808, em face do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em que arguiu, em suma: - que o exequente iniciou a cobrança depois de expirado o prazo decadencial de 05 (cinco) anos, já que a multa foi constituída em 08/10/2002 e inscrita em dívida ativa em 27/01/2010, tendo o ajuizamento desta ação ocorrido no dia 29/10/2010; - que o processo administrativo ficou sem movimentação efetiva desde a sua instauração, no ano de 2002, até a citação do excipiente, via edital, em 07/02/2006, tendo havido paralisação por mais de 03 (três) anos, de modo que ocorreu a prescrição intercorrente administrativa, nos termos do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.873/99; - que a Lei de Crimes Ambientais contém dispositivos que se referem à matéria penal e outros às infrações administrativas; - que a penalidade sob análise, qual seja, a multa simples, já que aplicada por Autoridade Administrativa, deve estar fundamentada na ocorrência de infração cometida na esfera administrativa, e não penal; - que o art. 46, da Lei nº 9.605/98, que tipifica crime cometido contra o meio ambiente, trata de matéria penal, estranha à competência administrativa da Autoridade Ambiental, que não detém atribuição para aplicar a penalidade de multa com fundamento neste artigo; - que a aplicação de penalidade em matéria penal depende do trânsito em julgado de sentença penal condenatória, só podendo ser imposta pelo Poder Judiciário; - que a aplicação da penalidade de multa simples administrativa depende da ocorrência de embaraço à fiscalização dos órgãos competentes ou, ainda, da prática de irregularidades que não tenham sido sanadas no prazo assinalado pela Administração Pública, após advertência por parte do órgão ambiental; - que a multa foi aplicada apenas e tão somente em razão do excipiente ter transportado carvão sem autorização do órgão competente; - que, portanto, revela-se a nulidade da sanção de multa simples imposta à excipiente e do próprio título executivo, por ausência de requisito essencial de validade e pela inobservância do disposto no art. 72, § 3º, da Lei nº 9.605/98, e no art. 2º, § 3º, do Decreto nº 3.179/99; Impugnação pela Autarquia ao ID 9917408856. Processo administrativo juntado ao ID 9815169021 e ss. É o relatório. Decido. FUNDAMENTAÇÃO Revelam os autos que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) aforou “Execução Fiscal da Dívida Ativa” em face de Osvaldo Teodoro da Silva, visando receber crédito decorrente de multa ambiental aplicada em 2002, cujo valor da causa foi atribuído em R$ 18.698,80 (dezoito mil, seiscentos e noventa e oito mil reais e oitenta centavos). Pois bem. De início, convém esclarecer que, em se tratando, a multa ambiental, de crédito não tributário, decorrente de penalidade de natureza administrativa, questões atinentes à decadência ou prescrição não são reguladas pelo Código Tributário Nacional – que estabelece normas gerais em matéria de legislação tributária –, tampouco pelo Código Civil, mas sim, pela Lei nº 9.873/1999, que estabelece prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva pela Administração Pública Federal, direta e indireta. É cediço que o procedimento administrativo ambiental é composto por duas fases distintas, sendo a primeira delas a fase de apuração, na qual haverá a lavratura do auto de infração e a consequente abertura do processo administrativo, que finalizará com o julgamento/decisão final, no sentido da homologação ou não, do correlato auto de infração. Já a segunda fase, é aquela denominada executória. Na primeira, tem-se a possibilidade da incidência da prescrição da pretensão punitiva propriamente dita e da prescrição intercorrente administrativa, conforme previsão da Lei nº 9.873/99. Na segunda fase, tem-se a prescrição da pretensão executória. A prescrição da pretensão punitiva decorre do escoamento de lapso entre a data da prática do fato ou da cessação da conduta ilícita, e retira da Administração Pública o poder de impor sanções a infratores. A prescrição da pretensão executória, por sua vez, diz respeito aos atos necessários a tomada de medidas administrativas, para a satisfação do débito imposto na decisão final administrativa, já transitada em julgado e não satisfeita voluntariamente pelo interessado. Quanto à contagem, segundo disposições legais constantes dos artigos 1º e 1º-A, da já citada Lei nº 9873/1999, a Administração possui 05 (cinco) anos para apurar a infração e constituir o crédito não tributário, contados da data do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que aquela tiver cessado, interrompendo-se o curso do prazo pela notificação do infrator, na forma do art. 2º, do mesmo diploma legal. Uma vez constituído definitivamente o crédito, após encerramento regular do processo administrativo, a ação de execução prescreve em 05 (cinco) anos, sendo que a interrupção da prescrição se dá, dentre outras hipóteses, pelo despacho que ordenar a citação (art. 2º-A, da Lei nº 9.873/1999). A prescrição intercorrente administrativa, por sua vez, dá-se no curso do processo administrativo e decorre unicamente da inércia da Administração Pública em promover atos necessários a impulsionar o procedimento, no sentido de finalizá-lo em tempo razoável, por prazo superior a 03 (três) anos, nos termos do § 1º, do art. 1º, da Lei nº 9.873/99. Registre-se que, conforme entendimento pacificado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, meros atos de encaminhamento ou deslocamento do processo administrativo não interrompem a prescrição intercorrente administrativa. Colaciona-se, abaixo, aresto de julgado, nesse sentido: ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. PROCEDIMENTO ORDINÁRIO. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS IBAMA. MULTA AMBIENTAL. AUTO DE INFRAÇÃO. PROCESSO ADMINISTRATIVO PARALISADO POR PRAZO SUPERIOR A TRÊS ANOS. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE (§ 1º DO ART. 1º DA LEI 9.873/1999). APELAÇÃO DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA. I - Nos termos do art. 1º, § 1º da Lei nº 9.873/1999, a paralisação do procedimento administrativo, pendente de julgamento ou despacho, por mais de três anos, implica na prescrição intercorrente da pretensão punitiva. II - Entende-se por "despacho" e "julgamento" o ato oficial que implique no impulsionamento do processo, com o objetivo de se chegar a uma solução ou decisão final, razão pela qual os despachos de mero expediente, emitidos com o único objetivo de promover a movimentação física do processo, sem a prática de ato que importasse na efetiva apuração do fato ilícito, não possuem o condão de interromper o prazo prescricional. III - Apelação desprovida. Sentença mantida. A verba honorária de sucumbência, fixada em 10% sobre o valor da causa (R$ 140.000,00), resta acrescida de 2%, totalizando 12% sobre o referido montante, nos termos do § 11 do art. 85 do CPC. (AC 1001061-88.2017.4.01.3500, JUIZ FEDERAL EMMANUEL MASCENA DE MEDEIROS (CONV.), TRF1 - QUINTA TURMA, PJe 19/09/2023 PAG.). Volvendo ao presente caso, em análise ao processo administrativo juntado ao ID 9815169021 e ss., tem-se que o auto de infração foi lavrado em 18/09/2002, sendo, ali, aposta a assinatura do autuado, ocasião em que intimado do prazo de 20 (vinte) dias para pagar a multa ou apresentar defesa, com vencimento 08/10/2002 (ID 9815169021, pág. 02). Depreende-se que a Autoridade Administrativa expediu notificação administrativa para pagamento, datada de 19/06/2003 (ID 9815173008, pág. 03), tendo havido tentativa infrutífera de intimação do excipiente, por AR, em 30/07/2003 (ID 9815173768, pág. 01). Sequencialmente, expediu-se edital de intimação em 07/02/2006, que teve por objeto a notificação administrativa, em questão (ID 9815171409, pág. 01). Diante da inércia do devedor, o débito foi inicialmente inscrito em dívida ativa no dia 15/09/2007 (ID 9815160273, pág. 01). Ocorre que, após a Autarquia exequente verificar, ainda no âmbito do processo administrativo, no dia 08/07/2009, que houve equívoco no lançamento de agravante da penalidade em desfavor de Osvaldo Teodoro da Silva (ID 9815172157, pág. 02), foi determinada, em 16/12/2009, a baixa das inscrições do débito no CADIN e dívida ativa então realizadas (ID 9815165066, pág. 01). Após o cancelamento correlato (ID 9815165066, pág. 03), houve despacho da Autoridade Administrativa determinando nova inscrição do débito correto em dívida ativa, no dia 04/01/2010 (ID 9815148088, pág. 04), o que efetivamente ocorreu no dia 27/01/2010 (ID 9815167967, pág. 01). Após a correta inscrição em dívida ativa, foi expedida notificação ao contribuinte, em 27/01/2010, a fim de instá-lo ao pagamento do débito (ID 9815172155, pág. 22), cujo envio por AR restou infrutífero (ID 9815172155, pág. 03). O ajuizamento da presente execução ocorreu em 29/10/2010 (ID 1938249857, pág. 02). De se ver, assim, que entre a lavratura do auto de infração, no dia 18/09/2002, até a correta e definitiva inscrição em dívida ativa, em 27/01/2010, decorreu prazo superior 03 (três) anos. Registre-se que os atos administrativos detalhados nos parágrafos acima, ocorridos em 19/06/2003, 30/07/2003, 07/02/2006 e 15/09/2007, não têm o condão de interromper a prescrição administrativa verificada, notadamente porque, conforme salientado, posteriormente verificou-se equívoco no débito cobrado, o que ensejou o cancelamento da inscrição em dívida ativa inicialmente efetuada, a qual, repita-se, apenas ocorreu correta e definitivamente, em 27/01/2010. Evidente, pois, que a prescrição intercorrente administrativa se operou, no caso em apreço. Por consequência, fica prejudicada a análise das demais teses de defesa apresentadas pelo excipiente. Respeitosamente, é como estou a concluir. DISPOSITIVO Isto posto, constatada a ocorrência da prescrição intercorrente administrativa, acolho a exceção de pré-executividade e extingo o feito, com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, II, do Código de Processo Civil. Com efeito, torno insubsistente eventual penhora, devendo-se recolher respectivo mandado, comunicando-se, se for o caso, desde já. Após o trânsito, retirem-se os impedimentos lançados via sistema Renajud, aos IDs 1938249875 e 6563533023. Sem custas, face a isenção legal que beneficia a Fazenda Pública. Atenta ao princípio da causalidade, cabe ao ente exequente arcar com a verba honorária de sucumbência, que fixo em 20% (vinte por cento), sobre o valor atualizado da causa, que corresponde ao proveito econômico obtido pelo excipiente, em obediência aos critérios dispostos no art. 85, § 3º, I, do CPC. Considerando que a atuação da Defensoria Pública na Comarca não abrange os feitos de execução fiscal, havendo nomeação de advogado(a)(s) dativo(a)(s) nos autos, cabível a fixação de honorários para remuneração do serviço prestado. Portanto, fixo, em favor do(a)(s) advogado(a)(s) dativo(a)(s) nomeado(a)(s), ao ID 8930273080, honorários no valor de R$ 798,10 (setecentos e noventa e oito reais e dez centavos), a serem atualizados pelo IPCAE, a teor do primeiro e segundo aditivos do Termo de Cooperação Mútua, entre a OAB/MG, a AGE e o TJMG, conforme tese fixada pelo TJMG, no julgamento do IRDR nº 1.0000.16.032808-4/002. Considerando que o valor do direito controvertido não excede a 1.000 (mil) salários-mínimos, não há que se falar em reexame necessário, nos termos do art. 496, § 3º, I, do Código de Processo Civil. Cumpridas todas as diligências e transitada em julgado, arquive-se, com baixa. P.R.I. Curvelo, data da assinatura eletrônica. ERLÂNIA ZICA E SILVA LUCAS PEREIRA Juíza de Direito Vara de Execuções Penais, de Execuções Fiscais, de Acidentes do Trabalho e de Cartas Precatórias Criminais de Curvelo

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Processo nº 5000705-63.2025.8.13.0400

ID: 300866283

Tribunal: TJMG Órgão: 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Classe: Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública Nº Processo: 5000705-63.2025.8.13.0400

Data de Disponibilização: 17/06/2025

Polo Ativo:

ANA CAROLINA DA SILVA SANTOS

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

JULIANO CESAR LAVANDOSKI

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

VINICIUS GARCIA DE MATOS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristóvão, Mariana - MG - CEP: 35425-069 PROCESSO Nº: 5000705-63.2025.8.13.0400 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) ASSUNTO: [Adicional de Insalubridade] AUTOR: ANA CAROLINA DA SILVA SANTOS CPF: 081.733.156-55 RÉU: MUNICIPIO DE MARIANA CPF: 18.295.303/0001-44 SENTENÇA Vistos, etc., Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de ação ordinária c/c obrigação de fazer, ajuizada em desfavor do Município de Mariana. Consta da petição inicial, em suma, que a parte Autora é servidora pública do Município de Mariana/MG; que, por exercer condições especiais, recebe adicional de salubridade/penosidade de 20% (vinte por cento) do salário mínimo nacional, ao amparo do art. 1º, § 2º, da Lei nº 2.201/2008, o que afronta a Constituição da República, bem como viola o disposto na Súmula Vinculante de nº 04; que o adicional de insalubridade a que a parte Autora faz jus deve ser calculado com base no seu vencimento, e não com base no salário mínimo nacional. Diante disso, a parte Autora pede: (i) DETERMINAR que o adicional de insalubridade seja pago com base no vencimento básico do servidor, bem como sua implantação em folha de pagamento; (ii) DETERMINAR O PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS apuradas, em razão da alteração inconstitucional da base de cálculo do adicional de insalubridade, a contar desde a criação da Lei nº 003/2001, até a efetiva instalação da base de cálculo sobre o Vencimento Efetivo do Cargo da parte autora, junto a folha de pagamento, respeitando a Prescrição Quinquenal; (iii) CONDENAR as diferenças sobre as férias mais 1/3, décimos terceiros salários e horas extras, na qual devem incidir juros legais, respeitando a Prescrição Quinquenal; (d) DETERMINAR ao Município para passar a utilizar o vencimento do cargo efetivo como Base de Cálculo para os Adicional de Insalubridade vincendos da parte autora, conforme o artigo 292, §2º do Código de Processo Civil, bem como o artigo 2º, §2º da Lei nº 12.153/2009. Fundamento e decido em atenção ao art. 93, inciso IX, da Constituição da República (CR). Da detida análise da petição inicial do feito, verifico que se trata de hipótese de indeferimento, de plano, da pretensão aduzida nos autos. A pretensão ora aduzida consiste não na percepção do adicional de insalubridade, mas exclusivamente na alteração da base de cálculo da parcela, já paga à parte Autora, e estabelecida no art. 1º , § 2º da Lei nº 2.201/2008 do Município de Mariana, que prevê a incidência do adicional de insalubridade sobre o salário mínimo. A parte Autora se insurge contra base de cálculo adotada pelo Município, sob o fundamento de que o parâmetro estabelecido na referida lei afronta a Constituição da República e o disposto na Súmula Vinculante de nº 04. Diante disso, pleiteia a declaração do direito de receber adicional de insalubridade calculado sobre o seu vencimento base e reflexos. No entanto, a alteração da base de cálculo do adicional recebido por servidor público municipal, pela via ora eleita, afrontaria o enunciado da Súmula Vinculante de nº 04 do E. STF, suscitada pela própria parte em sua exordial. Senão vejamos Súmula Vinculante 04: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. (grifos nossos) Como se vê, o enunciado sumular é expresso ao estabelecer que a base de cálculo de vantagem de servidor público, cuja instituição é de competência do legislador, não pode ser alterada pelo Poder Judiciário. A respeito, cumpre transcrever parte do voto do relator da Reclamação 41.284/SP, em que o I. Ministro Celso de Mello, pontuou, de forma escorreita, a impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário em casos como o “sub judice”: “Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição, pelo Poder Judiciário, de uma base de cálculo específica em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público) derivada necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem, nessa matéria, substituir por seus próprios critérios aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador. Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.” Destaca-se, nesse contexto, que o E. STF, por meio do julgamento da Rcl 41.284/SP, supratranscrita, invalidou decisão proferida pela Turma Recursal da Comarca de José do Rio Preto/SP, a qual determinou que fosse utilizado, como base de cálculo do adicional de insalubridade, o vencimento percebido pela beneficiária. O entendimento proferido pela Suprema Corte foi no sentido de que o “decisum” da Turma Recursal violava o enunciado da Súmula Vinculante nº 04. Nesse mesmo sentido foi o entendimento proferido pelo E. STF em diversos casos similares ao ora em apreço, em que é vedado ao Poder Judiciário a modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade de servidores públicos, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade de lei: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor público. Inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo reconhecida na origem. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade pelo Poder Judiciário. Precedentes. 1. Apesar de reconhecida a inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo, é vedada a modificação da respectiva base de cálculo pelo Poder Judiciário, dada a vedação a que atue como legislador positivo. 2. Agravo regimental não provido. ( ARE 913503 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/11/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015) (STF - AgR ARE: 913503 MG - MINAS GERAIS 0054272-94.2011.8.13.0106, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 10/11/2015, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-250 14-12-2015) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário mínimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário minimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) Dessarte, tratando-se de pretensão que contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal, imperativa a improcedência liminar do pedido, nos termos do art. 332, inciso I, do CPC. Por fim, mister destacar as particularidades evidenciadas no caso em apreço, e que merecem especial atenção do juízo quanto à pretensão aduzida nos autos. Os fatos narrados na exordial o são em termos genéricos, sem nenhuma informação do caso concreto ou especificamente da parte Autora. Somente na data da prolação da presente sentença, os mesmos advogados patrocinantes da presente ação - inscritos no estado do Paraná! - ajuizaram outras dezenas de ação em Mariana, e centenas no estado de Minas Gerais, perseguindo o mesmo objetivo: a alteração da base de cálculo do adicional de insalubridade pago a servidores públicos sujeitos a condições iniciais de trabalho ou agentes de endemia. As procurações constantes de todas as demandas idênticas, além de iguais, são genéricas, sem indicar/individualizar a pretensão a que a outorga de poderes se presta, e com algumas assinaturas divergentes das constantes nos documentos de identidade anexados à exordial. Não se olvida, ainda, que a outorga de poderes se deu a advogados com OAB do estado do Paraná. Em que pese não haver nenhum ilícito na contratação de advogados de outros estados, tal fato, associada às demais circunstâncias supramencionadas, atrai cautela redobrada para a prevenção da advocacia predatória. São inúmeros os elementos do caso se subsomem à “Lista exemplificativa de condutas processuais potencialmente abusivas” do “ANEXO A DA RECOMENDAÇÃO Nº 159 DE 23 DE OUTUBRO DE 2024”, com destaque aos seguintes: 1) requerimentos de justiça gratuita apresentados sem justificativa, comprovação ou evidências mínimas de necessidade econômica; 2) pedidos habituais e padronizados de dispensa de audiência preliminar ou de conciliação; 7) distribuição de ações judiciais semelhantes, com petições iniciais que apresentam informações genéricas e causas de pedir idênticas, frequentemente diferenciadas apenas pelos dados pessoais das partes envolvidas, sem a devida particularização dos fatos do caso concreto; 9) distribuição de ações com pedidos vagos, hipotéticos ou alternativos, que não guardam relação lógica com a causa de pedir; 11) apresentação de procurações incompletas, com inserção manual de informações, outorgadas por mandante já falecido(a), ou mediante assinatura eletrônica não qualificada e lançada sem o emprego de certificado digital de padrão ICP-Brasil; 13) concentração de grande volume de demandas sob o patrocínio de poucos(as) profissionais, cuja sede de atuação, por vezes, não coincide com a da comarca ou da subseção em que ajuizadas, ou com o domicílio de qualquer das partes; (grifos nossos). O combate à litigância predatória e a adoção, pelo magistrado, de boas práticas de gestão processual de processos massificados encontra respaldo na jurisprudência e na Nota Técnica nº 01/2022 do Centro de Inteligência de Minas Gerais (CIJMG). A pretensão massificada de ações manifestamente infundadas e contrárias a entendimento vinculante, deve ser penalizada, inclusive para fins pedagógicos. Esta a orientação expressa do Centro de Inteligência da Justiça Mineira (CIJ/MG), por meio da Nota Técnica nº 03, aos magistrados do E. TJMG: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. Recomenda-se a aplicação da multa por litigância de má-fé nos casos em que a parte demandar, em postulação ou defesa, contra precedente vinculante firmado por este Tribunal ou pelos Tribunais Superiores, sem que haja sustentação de distinção, de superação (quando cabível) ou de fundamento essencial verdadeiramente novo. A sanção por litigância de má-fé deve ser imposta solidariamente ao Postulante e a seu procurador. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 3.995/DF, o Relator, Ministro Luís Roberto Barroso, pontuou que a “possibilidade de provocar a prestação jurisdicional precisa ser exercida (...) com equilíbrio, de modo a não inviabilizar a prestação da justiça com qualidade”. E destacou os efeitos nefastos do uso abusivo do direito de ação: O exercício abusivo do direito de deflagrar a jurisdição, a litigiosidade excessiva, a utilização do Judiciário como instrumento para a obtenção de acordos indevidos ou, ainda, para a procrastinação do cumprimento de obrigações implica o uso ilegítimo do Judiciário e a sensação difusa de que a Justiça não funciona. O volume desproporcional de processos compromete a celeridade, a coerência e a qualidade da prestação jurisdicional e importa em ônus desmedidos para a sociedade, à qual incumbe arcar com o custeio da máquina judiciária. De acordo com Humberto Theodoro Júnior, do princípio da boa-fé, sobrevém o dever de os magistrados impedirem todas as condutas abusivas e desleais, quaisquer que sejam seus autores processuais: Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória. Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código Processu al Modelo Iberoamericano, os atos processuais, dentro de uma cláusula geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y buena fe y tener por causa un interés legítimo" (art. 73º). A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados, intervenientes eventuais, etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa -fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade que se identifica com a dignidade da justiça (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – princípios éticos na repressão à litigância de má-fé – papel do juiz. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/humberto%20theodoro%20j%C3%BAnior(3)formatado.pdf. Acesso em 23.abr.2023). O mesmo poder-dever foi reafirmado pelo E. TJMG: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PETIÇÃO INICIAL - PEDIDO E CAUSA DE PEDIR INDETERMINADOS, GENÉRICOS E DE BAIXA ASSERTIVIDADE - INÉPCIA - INDEFERIMENTO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. I - Devem os magistrados, atentos ao trabalho e orientações emanadas do NUMOPEDE, órgão vinculado à Corregedoria Geral; e do Centro de Inteligência, vinculado à Primeira VicePresidência deste Tribunal de Justiça, exercer tratamento firme e adequado para coibir alitigância predatória, que causa aumento do acervo e morosidade processual, com grande e prejudicial impacto orçamentário. II - Nos termos do disposto artigo 330, inciso I, §2.o, inciso I, a petição inicial será indeferida, por inépcia, quando o pedido for indeterminado. III - A apresentação de causa de pedir e de pedido incertos não permite a adequada entrega da prestação jurisdicional, por impedir o conhecimento dos fundamentos fáticos e da pretensão, especialmente porque o Poder Judiciário não pode servir de órgão consultivo ou investigativo. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.027827-7/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2023, publicação da súmula em 24/04/2023). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA - ART. 373, II, DO CPC - RELAÇÃO JURÍDICA DA QUAL SE ORIGINOU O DÉBITO COMPROVADA - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DEMANDA MASSIFICADA E PREDATÓRIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO- LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Desincumbindo-se a parte ré do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil e, consequentemente, comprovada a relação jurídica com apresentação de documentos idôneos que demonstrem a efetiva contratação e o débito, os procedimentos de cobrança configuram exercício regular de direito do credor. - O demandado que colaciona aos autos a fatura referente ao serviço utilizado pelo consumidor, que foi enviada para o mesmo endereço informado na peça de ingresso, da qual se extrai a relação jurídica firmada entre as partes, bem como as telas sistêmicas comprovando a contratação e utilização dos serviços, desincumbe do seu ônus probatório. - Havendo elementos caracterizadores de demanda massificada e predatória, aspectos meramente formais não podem se sobrepor à realidade fática e criar direitos ao devedor inadimplente, ao contrário, a situação impõe ao magistrado maior rigor na análise dos fatos e dos documentos apresentados, a fim de coibir práticas abusivas e atentatórias à dignidade da Justiça. - Tendo a parte alterado a verdade dos fatos e se utilizado do processo para obter vantagem indevida, enquadrando-se nas hipóteses previstas no artigo 80, incisos II e III, do CPC, deve ser condenada à multa por litigância de má-fé. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.149352-1/001, Relator(a): Des.(a) Rui de Almeida Magalhães , 11a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/2023, publicação da súmula em 19/04/2023 Não é possível que aquele que presta serviço de interesse público e que exerce função social (Lei 8.906/94, art. 2º, § 1º), como é o caso dos advogados, sobrecarregue o Judiciário com o ajuizamento massificado de ações infundadas e manifestamente contrárias a entendimento vinculante. O próprio texto constitucional, no art. 133, quando prevê que o advogado é essencial à administração da justiça, impõe limites ao profissional da advocacia. E a conduta perpetrada, na hipótese vertente, afronta o princípio da boa-fé, da economia processual, e em primeira ou última análise, o próprio Direito Natural. O direito de ação existe, mas não é ilimitado; assim como não é a atividade do advogado, que justamente por ser tão nobre, não deve se materializar em ações temerárias. Registre-se que não se está diante de uma simples demanda com resultado desfavorável, o que é perfeitamente possível, mas de uma conduta reiterada no patrocínio dos mais variados autores, em afronta a precedente vinculante. É conduta desprovida do cuidado necessário e esperado, que enseja sanção. O Poder Judiciário não deve sequer dar início ao processamento de ações como esta, devendo ser rejeitadas logo em sua fase inicial, sob pena de se coadunar com possível abuso do direito de ação e da utilização da máquina estatal como forma de locupletamento ilícito, inclusive pelo procurador – afinal, o ajuizamento massificado de ações infundadas gera multiplicação de honorários contratuais e, potencialmente, sucumbenciais. Juridicamente possível (e recomendável) a condenação de advogado a multa por litigância de má-fé. Segundo a tradicional interpretação do CPC/2015, a penalidade em referência deveria ser direcionada exclusivamente à parte. Caberia, ao procurador, responder disciplinarmente perante o órgão de classe. Essa distinção entre a parte e o representante processual é prevista expressamente no art. 77 do CPC/2015, no que tange às repercussões do ato atentatório à dignidade da justiça. A mesma lógica vem sendo analogicamente transposta à litigância de má-fé, sem maiores critérios. Essa leitura, reducionista, não é a que melhor se coaduna com a base principiológica do Processo Contemporâneo de matriz constitucional. As balizas da celeridade dos processos judiciais, da eficiência da máquina pública, da boa-fé e da cooperação devem orientar a conduta dos advogados. O patrocínio dos interesses dos seus clientes deve ser promovido não apenas sob as normas éticas da classe, mas também sob espírito de lealdade perante a Justiça e a contraparte. Na medida em que induvidoso esse compromisso da advocacia, adequado que os profissionais de comportamento desviante respondam não apenas disciplinarmente, mas também pelas sanções pecuniárias da codificação processual. Saliente-se que a aplicação de multa por litigância de má-fé ao procurador é a mais justa e eficaz para evitar o abuso do direito de ação. Em muitas situações, a parte não tem intenções maliciosas. Sequer tem ciência da deslealdade processual praticada por seu representante. Não é infrequente, aliás, que também seja vítima de falsas promessas de ganhos irreais, propugnadas por profissionais afoitos. Por mais que seja possível se cogitar de culpa “in eligendo”, não se pode ignorar a vulnerabilidade técnica do homem médio. Ou da sofisticação das estratégias predatórias do mercado jurídico contemporâneo. Por que, então, deve a parte arcar, sozinha, com o impacto financeiro da aventura jurídica? Ademais, é preciso que os advogados temerários passem a internalizar o impacto financeiro de sua irresponsabilidade, como medida inibitória à reiteração da conduta. Enquanto esses custos não forem transmitidos àqueles profissionais, continuará “valendo à pena” inundar a justiça com demandas temerárias. Não é outro o entendimento do E. TJSP: Declaratória de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais - autora que alega desconhecer a origem da dívida que deu ensejo à inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes análise com observância das orientações do Comunicado CG 02/2017 documentos juntados aos autos que afastam a verossimilhança das alegações, além de sonegação de informações por parte da autora conduta que evidencia abuso de direito como forma de dificultar a defesa e elevar os ganhos com indenizações e honorários - verdadeira pretensão de enriquecimento ilícito, bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente - ação improcedente com multa por litigância de má-fé também à advogada recurso da autora improvido. (...) 16. Por outro lado, não se desconhece o entendimento jurisprudencial dominante no Eg. STJ quanto à impossibilidade de condenação solidária do advogado da parte como litigante de má-fé, mas é certo que referido entendimento diz respeitos aos casos em que se verifica apenas uma combatividade exacerbada por parte do causídico. 17. Contudo, o que se verifica no presente feito e muitos outros que têm ingressado no já assoberbado Poder Judiciário se caracteriza como verdadeira aventura jurídica com nítida intenção de enriquecimento ilícito por parte dos causídicos que as patrocinam, situação bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente, sendo bom lembrar que o advogado é sempre o primeiro juiz da causa que lhe é exposta pelo cliente, isso sem falar na manipulação da informação do SCPC, que certamente não pode ser atribuída ao cliente, desbordando em muito do dever de lealdade processual previsto no art. 16 do CPC/73, agora repetido pelo art. 79 do CPC/15. 18. E o Judiciário não pode ser conivente com o ajuizamento de ações com pretensões totalmente contrárias a realidade fática das partes, que mais parecem fundadas nos ditados populares do “jogar verde para colher maduro” ou “se colar,...colou!”, sendo evidentes os prejuízos à prestação jurisdicional daqueles que realmente necessitam se socorrer do Poder Judiciário, bem como também da parte “ex adversa”, que tem de arcar com o ônus de comprovar contratação de duvidosa controvérsia, além de arcar com custas desnecessárias ao ter de se defender nos diversos feitos. 19. Analisadas todas as peculiaridades do caso concreto, pede-se vênia para transcrever comentário à recente obra elaborada pelo AASP e OAB/PR ao comentar a nova legislação processual: “Além de constituir infração disciplinar punida pelo Estatuto da Advocacia (art. 34), o advogado que deduzir pretensão contra expresso texto legal ou deturpar o teor de norma, doutrina ou jurisprudência ficará sujeito à sanção processual do § 2o do art. 81 do CPC/2015 (STJ,3a T., REsp. no 947.927-AgRg, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/4/2008, DJU de 29/4/2008). O mesmo vale para os demais sujeitos do processo que, nos termos do inciso II, alteram a verdade dos fatos, inquinando o princípio processual da lealdade. Para tanto, impõe-se que os fatos sejam objetiva e deliberadamente alterados, seja por meio da comprovação por documentos ao longo da instrução, seja induzindo testemunha a mentir em juízo.(...) À luz dos princípios informadores do CPC/2015, especialmente o dever de cooperação estabelecido no art. 6o, não se sustenta mais a ideia de que os advogados e procuradores em geral não seriam atingidos pela sanção, pois é dever concorrente das partes e dos seus procuradores proceder com lealdade e boa-fé, muito embora a jurisprudência produzida à luz da interpretação do art. 18 do CPC/1973 encontre-se dividida sobre o tema.” (Ronaldo Vasconcelos, in Código de Processo Civil Comentado, AASP/OAB-PR) (TJ-SP 10010617120178260101 SP 1001061-71.2017.8.26.0101, Relator: Jovino de Sylos, Data de Julgamento: 30/05/2018, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/05/2018) Por fim, o CIJ/MG recomendou expressamente aos juízes do estado que imponham multa por litigância de má-fé nas hipóteses de demanda que afronta precedente qualificado, tal como no presente caso. Veja-se: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. (grifos nossos) Saliente-se que, em grau recursal, a improcedência liminar já foi mantida pela Turma, consoante precedente anexo, cuja emenda transcrevo: RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SÚMULA VINCULANTE N. 04 DO STF – BASE DE CÁLCULO MANTIDA – SENTENÇA MANTIDA. Segundo fundamentação do voto vencedor: A partir dos autos, identifica-se que a base de cálculo do adicional de insalubridade, que já é pago para a recorrente, foi estabelecida no art. 19, inciso IV, da Lei Complementar n. 187/2019 do Município de Maria, o qual estabelece que os ocupantes de Função Pública de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate à Endemias farão jus à adicional de insalubridade, calculado sobre o menor vencimento básico do Município, o qual equivale ao salário-mínimo nacional. Dessa forma, conforme estabelecido pela Súmula Vinculante 04 do STF: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”. Portanto, se por um lado se reconhece a ilegitimidade da vinculação da base de cálculo do adicional de insalubridade ao salário-mínimo, por outro, não pode o Judiciário atuar como legislador positivo e, assim, substituir a base de cálculo legal, suprimindo omissão do Legislativo municipal, como pretende que seja feito a recorrente. (…). Assim, não há razões para reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais quanto à base de cálculo do adicional, devendo o adicional de insalubridade concedido continuar a ter como base de cálculo o salário-mínimo, enquanto não for editada norma pelo Legislativo local, prevendo outro parâmetro de cálculo. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO LIMINARMENTE IMPROCEDENTE o pedido, e, assim o fazendo, extingo o feito, com resolução do mérito, ao amparo do art. 332, inciso I, do CPC. Ante a má-fé, CONDENO a parte Autora ao pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95). CONDENO a parte e respectivos advogados, de forma solidária, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Dada a gravidade da conduta e sua repetição por dezenas de vezes, insuficiente a imposição da penalidade no mínimo legal. Tampouco se justifica a sua elevação ao máximo previsto em lei. Fixo a multa no percentual de 3% (três por cento) do valor da atualizado da causa (art. 81 do CPC). Sem honorários eis que a parte Ré não foi citada. REMETA-SE CÓPIA ao CIJ/MG e ao NUMOPEDE, para ciência e monitoramento do perfil da demanda. REMETA-SE cópia ao Tribunal de Ética das Seções da OAB, perante as quais estejam inscritos os causídicos. Após o trânsito em julgado, nada mais havendo, arquivem-se os autos com baixa e cautelas de praxe. P.R.I.C. Mariana, data da assinatura eletrônica. FERNANDA RODRIGUES GUIMARAES ANDRADE MASCARENHAS Juiz(íza) de Direito 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana

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Processo nº 5000708-18.2025.8.13.0400

ID: 259802342

Tribunal: TJMG Órgão: 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Classe: Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública Nº Processo: 5000708-18.2025.8.13.0400

Data de Disponibilização: 24/04/2025

Polo Ativo:

CLAUDIA DE FATIMA ALVES

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

JULIANO CESAR LAVANDOSKI

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VINICIUS GARCIA DE MATOS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristóvão, Mariana - MG - CEP: 35425-069 PROCESSO Nº: 5000708-18.2025.8.13.0400 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) ASSUNTO: [Adicional de Insalubridade] AUTOR: CLAUDIA DE FATIMA ALVES CPF: 046.476.696-61 RÉU: MUNICIPIO DE MARIANA CPF: 18.295.303/0001-44 SENTENÇA Vistos, etc., Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de ação ordinária c/c obrigação de fazer, ajuizada em desfavor do Município de Mariana. Consta da petição inicial, em suma, que a parte Autora é servidora pública do Município de Mariana/MG; que, por exercer condições especiais, recebe adicional de salubridade/penosidade de 20% (vinte por cento) do salário mínimo nacional, ao amparo do art. 1º, § 2º, da Lei nº 2.201/2008, o que afronta a Constituição da República, bem como viola o disposto na Súmula Vinculante de nº 04; que o adicional de insalubridade a que a parte Autora faz jus deve ser calculado com base no seu vencimento, e não com base no salário mínimo nacional. Diante disso, a parte Autora pede: (i) DETERMINAR que o adicional de insalubridade seja pago com base no vencimento básico do servidor, bem como sua implantação em folha de pagamento; (ii) DETERMINAR O PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS apuradas, em razão da alteração inconstitucional da base de cálculo do adicional de insalubridade, a contar desde a criação da Lei nº 003/2001, até a efetiva instalação da base de cálculo sobre o Vencimento Efetivo do Cargo da parte autora, junto a folha de pagamento, respeitando a Prescrição Quinquenal; (iii) CONDENAR as diferenças sobre as férias mais 1/3, décimos terceiros salários e horas extras, na qual devem incidir juros legais, respeitando a Prescrição Quinquenal; (d) DETERMINAR ao Município para passar a utilizar o vencimento do cargo efetivo como Base de Cálculo para os Adicional de Insalubridade vincendos da parte autora, conforme o artigo 292, §2º do Código de Processo Civil, bem como o artigo 2º, §2º da Lei nº 12.153/2009. Fundamento e decido em atenção ao art. 93, inciso IX, da Constituição da República (CR). Da detida análise da petição inicial do feito, verifico que se trata de hipótese de indeferimento, de plano, da pretensão aduzida nos autos. A pretensão ora aduzida consiste não na percepção do adicional de insalubridade, mas exclusivamente na alteração da base de cálculo da parcela, já paga à parte Autora, e estabelecida no art. 1º , § 2º da Lei nº 2.201/2008 do Município de Mariana, que prevê a incidência do adicional de insalubridade sobre o salário mínimo. A parte Autora se insurge contra base de cálculo adotada pelo Município, sob o fundamento de que o parâmetro estabelecido na referida lei afronta a Constituição da República e o disposto na Súmula Vinculante de nº 04. Diante disso, pleiteia a declaração do direito de receber adicional de insalubridade calculado sobre o seu vencimento base e reflexos. No entanto, a alteração da base de cálculo do adicional recebido por servidor público municipal, pela via ora eleita, afrontaria o enunciado da Súmula Vinculante de nº 04 do E. STF, suscitada pela própria parte em sua exordial. Senão vejamos Súmula Vinculante 04: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. (grifos nossos) Como se vê, o enunciado sumular é expresso ao estabelecer que a base de cálculo de vantagem de servidor público, cuja instituição é de competência do legislador, não pode ser alterada pelo Poder Judiciário. A respeito, cumpre transcrever parte do voto do relator da Reclamação 41.284/SP, em que o I. Ministro Celso de Mello, pontuou, de forma escorreita, a impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário em casos como o “sub judice”: “Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição, pelo Poder Judiciário, de uma base de cálculo específica em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público) derivada necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem, nessa matéria, substituir por seus próprios critérios aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador. Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.” Destaca-se, nesse contexto, que o E. STF, por meio do julgamento da Rcl 41.284/SP, supratranscrita, invalidou decisão proferida pela Turma Recursal da Comarca de José do Rio Preto/SP, a qual determinou que fosse utilizado, como base de cálculo do adicional de insalubridade, o vencimento percebido pela beneficiária. O entendimento proferido pela Suprema Corte foi no sentido de que o “decisum” da Turma Recursal violava o enunciado da Súmula Vinculante nº 04. Nesse mesmo sentido foi o entendimento proferido pelo E. STF em diversos casos similares ao ora em apreço, em que é vedado ao Poder Judiciário a modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade de servidores públicos, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade de lei: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor público. Inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo reconhecida na origem. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade pelo Poder Judiciário. Precedentes. 1. Apesar de reconhecida a inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo, é vedada a modificação da respectiva base de cálculo pelo Poder Judiciário, dada a vedação a que atue como legislador positivo. 2. Agravo regimental não provido. ( ARE 913503 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/11/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015) (STF - AgR ARE: 913503 MG - MINAS GERAIS 0054272-94.2011.8.13.0106, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 10/11/2015, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-250 14-12-2015) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário mínimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário minimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) Dessarte, tratando-se de pretensão que contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal, imperativa a improcedência liminar do pedido, nos termos do art. 332, inciso I, do CPC. Por fim, mister destacar as particularidades evidenciadas no caso em apreço, e que merecem especial atenção do juízo quanto à pretensão aduzida nos autos. Os fatos narrados na exordial o são em termos genéricos, sem nenhuma informação do caso concreto ou especificamente da parte Autora. Somente na data da prolação da presente sentença, os mesmos advogados patrocinantes da presente ação - inscritos no estado do Paraná! - ajuizaram outras dezenas de ação em Mariana, e centenas no estado de Minas Gerais, perseguindo o mesmo objetivo: a alteração da base de cálculo do adicional de insalubridade pago a servidores públicos sujeitos a condições iniciais de trabalho ou agentes de endemia. As procurações constantes de todas as demandas idênticas, além de iguais, são genéricas, sem indicar/individualizar a pretensão a que a outorga de poderes se presta, e com algumas assinaturas divergentes das constantes nos documentos de identidade anexados à exordial. Não se olvida, ainda, que a outorga de poderes se deu a advogados com OAB do estado do Paraná. Em que pese não haver nenhum ilícito na contratação de advogados de outros estados, tal fato, associada às demais circunstâncias supramencionadas, atrai cautela redobrada para a prevenção da advocacia predatória. São inúmeros os elementos do caso se subsomem à “Lista exemplificativa de condutas processuais potencialmente abusivas” do “ANEXO A DA RECOMENDAÇÃO Nº 159 DE 23 DE OUTUBRO DE 2024”, com destaque aos seguintes: 1) requerimentos de justiça gratuita apresentados sem justificativa, comprovação ou evidências mínimas de necessidade econômica; 2) pedidos habituais e padronizados de dispensa de audiência preliminar ou de conciliação; 7) distribuição de ações judiciais semelhantes, com petições iniciais que apresentam informações genéricas e causas de pedir idênticas, frequentemente diferenciadas apenas pelos dados pessoais das partes envolvidas, sem a devida particularização dos fatos do caso concreto; 9) distribuição de ações com pedidos vagos, hipotéticos ou alternativos, que não guardam relação lógica com a causa de pedir; 11) apresentação de procurações incompletas, com inserção manual de informações, outorgadas por mandante já falecido(a), ou mediante assinatura eletrônica não qualificada e lançada sem o emprego de certificado digital de padrão ICP-Brasil; 13) concentração de grande volume de demandas sob o patrocínio de poucos(as) profissionais, cuja sede de atuação, por vezes, não coincide com a da comarca ou da subseção em que ajuizadas, ou com o domicílio de qualquer das partes; (grifos nossos). O combate à litigância predatória e a adoção, pelo magistrado, de boas práticas de gestão processual de processos massificados encontra respaldo na jurisprudência e na Nota Técnica nº 01/2022 do Centro de Inteligência de Minas Gerais (CIJMG). A pretensão massificada de ações manifestamente infundadas e contrárias a entendimento vinculante, deve ser penalizada, inclusive para fins pedagógicos. Esta a orientação expressa do Centro de Inteligência da Justiça Mineira (CIJ/MG), por meio da Nota Técnica nº 03, aos magistrados do E. TJMG: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. Recomenda-se a aplicação da multa por litigância de má-fé nos casos em que a parte demandar, em postulação ou defesa, contra precedente vinculante firmado por este Tribunal ou pelos Tribunais Superiores, sem que haja sustentação de distinção, de superação (quando cabível) ou de fundamento essencial verdadeiramente novo. A sanção por litigância de má-fé deve ser imposta solidariamente ao Postulante e a seu procurador. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 3.995/DF, o Relator, Ministro Luís Roberto Barroso, pontuou que a “possibilidade de provocar a prestação jurisdicional precisa ser exercida (...) com equilíbrio, de modo a não inviabilizar a prestação da justiça com qualidade”. E destacou os efeitos nefastos do uso abusivo do direito de ação: O exercício abusivo do direito de deflagrar a jurisdição, a litigiosidade excessiva, a utilização do Judiciário como instrumento para a obtenção de acordos indevidos ou, ainda, para a procrastinação do cumprimento de obrigações implica o uso ilegítimo do Judiciário e a sensação difusa de que a Justiça não funciona. O volume desproporcional de processos compromete a celeridade, a coerência e a qualidade da prestação jurisdicional e importa em ônus desmedidos para a sociedade, à qual incumbe arcar com o custeio da máquina judiciária. De acordo com Humberto Theodoro Júnior, do princípio da boa-fé, sobrevém o dever de os magistrados impedirem todas as condutas abusivas e desleais, quaisquer que sejam seus autores processuais: Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória. Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código Processu al Modelo Iberoamericano, os atos processuais, dentro de uma cláusula geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y buena fe y tener por causa un interés legítimo" (art. 73º). A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados, intervenientes eventuais, etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa -fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade que se identifica com a dignidade da justiça (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – princípios éticos na repressão à litigância de má-fé – papel do juiz. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/humberto%20theodoro%20j%C3%BAnior(3)formatado.pdf. Acesso em 23.abr.2023). O mesmo poder-dever foi reafirmado pelo E. TJMG: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PETIÇÃO INICIAL - PEDIDO E CAUSA DE PEDIR INDETERMINADOS, GENÉRICOS E DE BAIXA ASSERTIVIDADE - INÉPCIA - INDEFERIMENTO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. I - Devem os magistrados, atentos ao trabalho e orientações emanadas do NUMOPEDE, órgão vinculado à Corregedoria Geral; e do Centro de Inteligência, vinculado à Primeira VicePresidência deste Tribunal de Justiça, exercer tratamento firme e adequado para coibir alitigância predatória, que causa aumento do acervo e morosidade processual, com grande e prejudicial impacto orçamentário. II - Nos termos do disposto artigo 330, inciso I, §2.o, inciso I, a petição inicial será indeferida, por inépcia, quando o pedido for indeterminado. III - A apresentação de causa de pedir e de pedido incertos não permite a adequada entrega da prestação jurisdicional, por impedir o conhecimento dos fundamentos fáticos e da pretensão, especialmente porque o Poder Judiciário não pode servir de órgão consultivo ou investigativo. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.027827-7/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2023, publicação da súmula em 24/04/2023). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA - ART. 373, II, DO CPC - RELAÇÃO JURÍDICA DA QUAL SE ORIGINOU O DÉBITO COMPROVADA - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DEMANDA MASSIFICADA E PREDATÓRIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO- LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Desincumbindo-se a parte ré do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil e, consequentemente, comprovada a relação jurídica com apresentação de documentos idôneos que demonstrem a efetiva contratação e o débito, os procedimentos de cobrança configuram exercício regular de direito do credor. - O demandado que colaciona aos autos a fatura referente ao serviço utilizado pelo consumidor, que foi enviada para o mesmo endereço informado na peça de ingresso, da qual se extrai a relação jurídica firmada entre as partes, bem como as telas sistêmicas comprovando a contratação e utilização dos serviços, desincumbe do seu ônus probatório. - Havendo elementos caracterizadores de demanda massificada e predatória, aspectos meramente formais não podem se sobrepor à realidade fática e criar direitos ao devedor inadimplente, ao contrário, a situação impõe ao magistrado maior rigor na análise dos fatos e dos documentos apresentados, a fim de coibir práticas abusivas e atentatórias à dignidade da Justiça. - Tendo a parte alterado a verdade dos fatos e se utilizado do processo para obter vantagem indevida, enquadrando-se nas hipóteses previstas no artigo 80, incisos II e III, do CPC, deve ser condenada à multa por litigância de má-fé. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.149352-1/001, Relator(a): Des.(a) Rui de Almeida Magalhães , 11a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/2023, publicação da súmula em 19/04/2023 Não é possível que aquele que presta serviço de interesse público e que exerce função social (Lei 8.906/94, art. 2º, § 1º), como é o caso dos advogados, sobrecarregue o Judiciário com o ajuizamento massificado de ações infundadas e manifestamente contrárias a entendimento vinculante. O próprio texto constitucional, no art. 133, quando prevê que o advogado é essencial à administração da justiça, impõe limites ao profissional da advocacia. E a conduta perpetrada, na hipótese vertente, afronta o princípio da boa-fé, da economia processual, e em primeira ou última análise, o próprio Direito Natural. O direito de ação existe, mas não é ilimitado; assim como não é a atividade do advogado, que justamente por ser tão nobre, não deve se materializar em ações temerárias. Registre-se que não se está diante de uma simples demanda com resultado desfavorável, o que é perfeitamente possível, mas de uma conduta reiterada no patrocínio dos mais variados autores, em afronta a precedente vinculante. É conduta desprovida do cuidado necessário e esperado, que enseja sanção. O Poder Judiciário não deve sequer dar início ao processamento de ações como esta, devendo ser rejeitadas logo em sua fase inicial, sob pena de se coadunar com possível abuso do direito de ação e da utilização da máquina estatal como forma de locupletamento ilícito, inclusive pelo procurador – afinal, o ajuizamento massificado de ações infundadas gera multiplicação de honorários contratuais e, potencialmente, sucumbenciais. Juridicamente possível (e recomendável) a condenação de advogado a multa por litigância de má-fé. Segundo a tradicional interpretação do CPC/2015, a penalidade em referência deveria ser direcionada exclusivamente à parte. Caberia, ao procurador, responder disciplinarmente perante o órgão de classe. Essa distinção entre a parte e o representante processual é prevista expressamente no art. 77 do CPC/2015, no que tange às repercussões do ato atentatório à dignidade da justiça. A mesma lógica vem sendo analogicamente transposta à litigância de má-fé, sem maiores critérios. Essa leitura, reducionista, não é a que melhor se coaduna com a base principiológica do Processo Contemporâneo de matriz constitucional. As balizas da celeridade dos processos judiciais, da eficiência da máquina pública, da boa-fé e da cooperação devem orientar a conduta dos advogados. O patrocínio dos interesses dos seus clientes deve ser promovido não apenas sob as normas éticas da classe, mas também sob espírito de lealdade perante a Justiça e a contraparte. Na medida em que induvidoso esse compromisso da advocacia, adequado que os profissionais de comportamento desviante respondam não apenas disciplinarmente, mas também pelas sanções pecuniárias da codificação processual. Saliente-se que a aplicação de multa por litigância de má-fé ao procurador é a mais justa e eficaz para evitar o abuso do direito de ação. Em muitas situações, a parte não tem intenções maliciosas. Sequer tem ciência da deslealdade processual praticada por seu representante. Não é infrequente, aliás, que também seja vítima de falsas promessas de ganhos irreais, propugnadas por profissionais afoitos. Por mais que seja possível se cogitar de culpa “in eligendo”, não se pode ignorar a vulnerabilidade técnica do homem médio. Ou da sofisticação das estratégias predatórias do mercado jurídico contemporâneo. Por que, então, deve a parte arcar, sozinha, com o impacto financeiro da aventura jurídica? Ademais, é preciso que os advogados temerários passem a internalizar o impacto financeiro de sua irresponsabilidade, como medida inibitória à reiteração da conduta. Enquanto esses custos não forem transmitidos àqueles profissionais, continuará “valendo à pena” inundar a justiça com demandas temerárias. Não é outro o entendimento do E. TJSP: Declaratória de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais - autora que alega desconhecer a origem da dívida que deu ensejo à inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes análise com observância das orientações do Comunicado CG 02/2017 documentos juntados aos autos que afastam a verossimilhança das alegações, além de sonegação de informações por parte da autora conduta que evidencia abuso de direito como forma de dificultar a defesa e elevar os ganhos com indenizações e honorários - verdadeira pretensão de enriquecimento ilícito, bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente - ação improcedente com multa por litigância de má-fé também à advogada recurso da autora improvido. (...) 16. Por outro lado, não se desconhece o entendimento jurisprudencial dominante no Eg. STJ quanto à impossibilidade de condenação solidária do advogado da parte como litigante de má-fé, mas é certo que referido entendimento diz respeitos aos casos em que se verifica apenas uma combatividade exacerbada por parte do causídico. 17. Contudo, o que se verifica no presente feito e muitos outros que têm ingressado no já assoberbado Poder Judiciário se caracteriza como verdadeira aventura jurídica com nítida intenção de enriquecimento ilícito por parte dos causídicos que as patrocinam, situação bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente, sendo bom lembrar que o advogado é sempre o primeiro juiz da causa que lhe é exposta pelo cliente, isso sem falar na manipulação da informação do SCPC, que certamente não pode ser atribuída ao cliente, desbordando em muito do dever de lealdade processual previsto no art. 16 do CPC/73, agora repetido pelo art. 79 do CPC/15. 18. E o Judiciário não pode ser conivente com o ajuizamento de ações com pretensões totalmente contrárias a realidade fática das partes, que mais parecem fundadas nos ditados populares do “jogar verde para colher maduro” ou “se colar,...colou!”, sendo evidentes os prejuízos à prestação jurisdicional daqueles que realmente necessitam se socorrer do Poder Judiciário, bem como também da parte “ex adversa”, que tem de arcar com o ônus de comprovar contratação de duvidosa controvérsia, além de arcar com custas desnecessárias ao ter de se defender nos diversos feitos. 19. Analisadas todas as peculiaridades do caso concreto, pede-se vênia para transcrever comentário à recente obra elaborada pelo AASP e OAB/PR ao comentar a nova legislação processual: “Além de constituir infração disciplinar punida pelo Estatuto da Advocacia (art. 34), o advogado que deduzir pretensão contra expresso texto legal ou deturpar o teor de norma, doutrina ou jurisprudência ficará sujeito à sanção processual do § 2o do art. 81 do CPC/2015 (STJ,3a T., REsp. no 947.927-AgRg, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/4/2008, DJU de 29/4/2008). O mesmo vale para os demais sujeitos do processo que, nos termos do inciso II, alteram a verdade dos fatos, inquinando o princípio processual da lealdade. Para tanto, impõe-se que os fatos sejam objetiva e deliberadamente alterados, seja por meio da comprovação por documentos ao longo da instrução, seja induzindo testemunha a mentir em juízo.(...) À luz dos princípios informadores do CPC/2015, especialmente o dever de cooperação estabelecido no art. 6o, não se sustenta mais a ideia de que os advogados e procuradores em geral não seriam atingidos pela sanção, pois é dever concorrente das partes e dos seus procuradores proceder com lealdade e boa-fé, muito embora a jurisprudência produzida à luz da interpretação do art. 18 do CPC/1973 encontre-se dividida sobre o tema.” (Ronaldo Vasconcelos, in Código de Processo Civil Comentado, AASP/OAB-PR) (TJ-SP 10010617120178260101 SP 1001061-71.2017.8.26.0101, Relator: Jovino de Sylos, Data de Julgamento: 30/05/2018, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/05/2018) Por fim, o CIJ/MG recomendou expressamente aos juízes do estado que imponham multa por litigância de má-fé nas hipóteses de demanda que afronta precedente qualificado, tal como no presente caso. Veja-se: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. (grifos nossos) Saliente-se que, em grau recursal, a improcedência liminar já foi mantida pela Turma, consoante precedente anexo, cuja emenda transcrevo: RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SÚMULA VINCULANTE N. 04 DO STF – BASE DE CÁLCULO MANTIDA – SENTENÇA MANTIDA. Segundo fundamentação do voto vencedor: A partir dos autos, identifica-se que a base de cálculo do adicional de insalubridade, que já é pago para a recorrente, foi estabelecida no art. 19, inciso IV, da Lei Complementar n. 187/2019 do Município de Maria, o qual estabelece que os ocupantes de Função Pública de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate à Endemias farão jus à adicional de insalubridade, calculado sobre o menor vencimento básico do Município, o qual equivale ao salário-mínimo nacional. Dessa forma, conforme estabelecido pela Súmula Vinculante 04 do STF: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”. Portanto, se por um lado se reconhece a ilegitimidade da vinculação da base de cálculo do adicional de insalubridade ao salário-mínimo, por outro, não pode o Judiciário atuar como legislador positivo e, assim, substituir a base de cálculo legal, suprimindo omissão do Legislativo municipal, como pretende que seja feito a recorrente. (…). Assim, não há razões para reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais quanto à base de cálculo do adicional, devendo o adicional de insalubridade concedido continuar a ter como base de cálculo o salário-mínimo, enquanto não for editada norma pelo Legislativo local, prevendo outro parâmetro de cálculo. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO LIMINARMENTE IMPROCEDENTE o pedido, e, assim o fazendo, extingo o feito, com resolução do mérito, ao amparo do art. 332, inciso I, do CPC. Ante a má-fé, CONDENO a parte Autora ao pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95). CONDENO a parte e respectivos advogados, de forma solidária, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Dada a gravidade da conduta e sua repetição por dezenas de vezes, insuficiente a imposição da penalidade no mínimo legal. Tampouco se justifica a sua elevação ao máximo previsto em lei. Fixo a multa no percentual de 3% (três por cento) do valor da atualizado da causa (art. 81 do CPC). Sem honorários eis que a parte Ré não foi citada. REMETA-SE CÓPIA ao CIJ/MG e ao NUMOPEDE, para ciência e monitoramento do perfil da demanda. REMETA-SE cópia ao Tribunal de Ética das Seções da OAB, perante as quais estejam inscritos os causídicos. Após o trânsito em julgado, nada mais havendo, arquivem-se os autos com baixa e cautelas de praxe. P.R.I.C. Mariana, data da assinatura eletrônica. FERNANDA RODRIGUES GUIMARAES ANDRADE MASCARENHAS Juiz(íza) de Direito 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana

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Processo nº 5000797-41.2025.8.13.0400

ID: 259772719

Tribunal: TJMG Órgão: 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Classe: Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública Nº Processo: 5000797-41.2025.8.13.0400

Data de Disponibilização: 24/04/2025

Polo Ativo:

FERNANDA CRISTINA MARTINS

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

JULIANO CESAR LAVANDOSKI

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

VINICIUS GARCIA DE MATOS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristóvão, Mariana - MG - CEP: 35425-069 PROCESSO Nº: 5000797-41.2025.8.13.0400 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) ASSUNTO: [Adicional de Insalubridade] AUTOR: FERNANDA CRISTINA MARTINS CPF: 108.483.736-69 RÉU: MUNICIPIO DE MARIANA CPF: 18.295.303/0001-44 SENTENÇA Vistos, etc., Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de ação ordinária c/c obrigação de fazer, ajuizada em desfavor do Município de Mariana. Consta da petição inicial, em suma, que a parte Autora é servidora pública do Município de Mariana/MG; que, por exercer condições especiais, recebe adicional de salubridade/penosidade de 20% (vinte por cento) do salário mínimo nacional, ao amparo do art. 1º, § 2º, da Lei nº 2.201/2008, o que afronta a Constituição da República, bem como viola o disposto na Súmula Vinculante de nº 04; que o adicional de insalubridade a que a parte Autora faz jus deve ser calculado com base no seu vencimento, e não com base no salário mínimo nacional. Diante disso, a parte Autora pede: (i) DETERMINAR que o adicional de insalubridade seja pago com base no vencimento básico do servidor, bem como sua implantação em folha de pagamento; (ii) DETERMINAR O PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS apuradas, em razão da alteração inconstitucional da base de cálculo do adicional de insalubridade, a contar desde a criação da Lei nº 003/2001, até a efetiva instalação da base de cálculo sobre o Vencimento Efetivo do Cargo da parte autora, junto a folha de pagamento, respeitando a Prescrição Quinquenal; (iii) CONDENAR as diferenças sobre as férias mais 1/3, décimos terceiros salários e horas extras, na qual devem incidir juros legais, respeitando a Prescrição Quinquenal; (d) DETERMINAR ao Município para passar a utilizar o vencimento do cargo efetivo como Base de Cálculo para os Adicional de Insalubridade vincendos da parte autora, conforme o artigo 292, §2º do Código de Processo Civil, bem como o artigo 2º, §2º da Lei nº 12.153/2009. Fundamento e decido em atenção ao art. 93, inciso IX, da Constituição da República (CR). Da detida análise da petição inicial do feito, verifico que se trata de hipótese de indeferimento, de plano, da pretensão aduzida nos autos. A pretensão ora aduzida consiste não na percepção do adicional de insalubridade, mas exclusivamente na alteração da base de cálculo da parcela, já paga à parte Autora, e estabelecida no art. 1º , § 2º da Lei nº 2.201/2008 do Município de Mariana, que prevê a incidência do adicional de insalubridade sobre o salário mínimo. A parte Autora se insurge contra base de cálculo adotada pelo Município, sob o fundamento de que o parâmetro estabelecido na referida lei afronta a Constituição da República e o disposto na Súmula Vinculante de nº 04. Diante disso, pleiteia a declaração do direito de receber adicional de insalubridade calculado sobre o seu vencimento base e reflexos. No entanto, a alteração da base de cálculo do adicional recebido por servidor público municipal, pela via ora eleita, afrontaria o enunciado da Súmula Vinculante de nº 04 do E. STF, suscitada pela própria parte em sua exordial. Senão vejamos Súmula Vinculante 04: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. (grifos nossos) Como se vê, o enunciado sumular é expresso ao estabelecer que a base de cálculo de vantagem de servidor público, cuja instituição é de competência do legislador, não pode ser alterada pelo Poder Judiciário. A respeito, cumpre transcrever parte do voto do relator da Reclamação 41.284/SP, em que o I. Ministro Celso de Mello, pontuou, de forma escorreita, a impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário em casos como o “sub judice”: “Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição, pelo Poder Judiciário, de uma base de cálculo específica em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público) derivada necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem, nessa matéria, substituir por seus próprios critérios aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador. Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.” Destaca-se, nesse contexto, que o E. STF, por meio do julgamento da Rcl 41.284/SP, supratranscrita, invalidou decisão proferida pela Turma Recursal da Comarca de José do Rio Preto/SP, a qual determinou que fosse utilizado, como base de cálculo do adicional de insalubridade, o vencimento percebido pela beneficiária. O entendimento proferido pela Suprema Corte foi no sentido de que o “decisum” da Turma Recursal violava o enunciado da Súmula Vinculante nº 04. Nesse mesmo sentido foi o entendimento proferido pelo E. STF em diversos casos similares ao ora em apreço, em que é vedado ao Poder Judiciário a modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade de servidores públicos, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade de lei: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor público. Inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo reconhecida na origem. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade pelo Poder Judiciário. Precedentes. 1. Apesar de reconhecida a inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo, é vedada a modificação da respectiva base de cálculo pelo Poder Judiciário, dada a vedação a que atue como legislador positivo. 2. Agravo regimental não provido. ( ARE 913503 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/11/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015) (STF - AgR ARE: 913503 MG - MINAS GERAIS 0054272-94.2011.8.13.0106, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 10/11/2015, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-250 14-12-2015) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário mínimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário minimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) Dessarte, tratando-se de pretensão que contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal, imperativa a improcedência liminar do pedido, nos termos do art. 332, inciso I, do CPC. Por fim, mister destacar as particularidades evidenciadas no caso em apreço, e que merecem especial atenção do juízo quanto à pretensão aduzida nos autos. Os fatos narrados na exordial o são em termos genéricos, sem nenhuma informação do caso concreto ou especificamente da parte Autora. Somente na data da prolação da presente sentença, os mesmos advogados patrocinantes da presente ação - inscritos no estado do Paraná! - ajuizaram outras dezenas de ação em Mariana, e centenas no estado de Minas Gerais, perseguindo o mesmo objetivo: a alteração da base de cálculo do adicional de insalubridade pago a servidores públicos sujeitos a condições iniciais de trabalho ou agentes de endemia. As procurações constantes de todas as demandas idênticas, além de iguais, são genéricas, sem indicar/individualizar a pretensão a que a outorga de poderes se presta, e com algumas assinaturas divergentes das constantes nos documentos de identidade anexados à exordial. Não se olvida, ainda, que a outorga de poderes se deu a advogados com OAB do estado do Paraná. Em que pese não haver nenhum ilícito na contratação de advogados de outros estados, tal fato, associada às demais circunstâncias supramencionadas, atrai cautela redobrada para a prevenção da advocacia predatória. São inúmeros os elementos do caso se subsomem à “Lista exemplificativa de condutas processuais potencialmente abusivas” do “ANEXO A DA RECOMENDAÇÃO Nº 159 DE 23 DE OUTUBRO DE 2024”, com destaque aos seguintes: 1) requerimentos de justiça gratuita apresentados sem justificativa, comprovação ou evidências mínimas de necessidade econômica; 2) pedidos habituais e padronizados de dispensa de audiência preliminar ou de conciliação; 7) distribuição de ações judiciais semelhantes, com petições iniciais que apresentam informações genéricas e causas de pedir idênticas, frequentemente diferenciadas apenas pelos dados pessoais das partes envolvidas, sem a devida particularização dos fatos do caso concreto; 9) distribuição de ações com pedidos vagos, hipotéticos ou alternativos, que não guardam relação lógica com a causa de pedir; 11) apresentação de procurações incompletas, com inserção manual de informações, outorgadas por mandante já falecido(a), ou mediante assinatura eletrônica não qualificada e lançada sem o emprego de certificado digital de padrão ICP-Brasil; 13) concentração de grande volume de demandas sob o patrocínio de poucos(as) profissionais, cuja sede de atuação, por vezes, não coincide com a da comarca ou da subseção em que ajuizadas, ou com o domicílio de qualquer das partes; (grifos nossos). O combate à litigância predatória e a adoção, pelo magistrado, de boas práticas de gestão processual de processos massificados encontra respaldo na jurisprudência e na Nota Técnica nº 01/2022 do Centro de Inteligência de Minas Gerais (CIJMG). A pretensão massificada de ações manifestamente infundadas e contrárias a entendimento vinculante, deve ser penalizada, inclusive para fins pedagógicos. Esta a orientação expressa do Centro de Inteligência da Justiça Mineira (CIJ/MG), por meio da Nota Técnica nº 03, aos magistrados do E. TJMG: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. Recomenda-se a aplicação da multa por litigância de má-fé nos casos em que a parte demandar, em postulação ou defesa, contra precedente vinculante firmado por este Tribunal ou pelos Tribunais Superiores, sem que haja sustentação de distinção, de superação (quando cabível) ou de fundamento essencial verdadeiramente novo. A sanção por litigância de má-fé deve ser imposta solidariamente ao Postulante e a seu procurador. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 3.995/DF, o Relator, Ministro Luís Roberto Barroso, pontuou que a “possibilidade de provocar a prestação jurisdicional precisa ser exercida (...) com equilíbrio, de modo a não inviabilizar a prestação da justiça com qualidade”. E destacou os efeitos nefastos do uso abusivo do direito de ação: O exercício abusivo do direito de deflagrar a jurisdição, a litigiosidade excessiva, a utilização do Judiciário como instrumento para a obtenção de acordos indevidos ou, ainda, para a procrastinação do cumprimento de obrigações implica o uso ilegítimo do Judiciário e a sensação difusa de que a Justiça não funciona. O volume desproporcional de processos compromete a celeridade, a coerência e a qualidade da prestação jurisdicional e importa em ônus desmedidos para a sociedade, à qual incumbe arcar com o custeio da máquina judiciária. De acordo com Humberto Theodoro Júnior, do princípio da boa-fé, sobrevém o dever de os magistrados impedirem todas as condutas abusivas e desleais, quaisquer que sejam seus autores processuais: Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória. Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código Processu al Modelo Iberoamericano, os atos processuais, dentro de uma cláusula geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y buena fe y tener por causa un interés legítimo" (art. 73º). A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados, intervenientes eventuais, etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa -fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade que se identifica com a dignidade da justiça (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – princípios éticos na repressão à litigância de má-fé – papel do juiz. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/humberto%20theodoro%20j%C3%BAnior(3)formatado.pdf. Acesso em 23.abr.2023). O mesmo poder-dever foi reafirmado pelo E. TJMG: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PETIÇÃO INICIAL - PEDIDO E CAUSA DE PEDIR INDETERMINADOS, GENÉRICOS E DE BAIXA ASSERTIVIDADE - INÉPCIA - INDEFERIMENTO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. I - Devem os magistrados, atentos ao trabalho e orientações emanadas do NUMOPEDE, órgão vinculado à Corregedoria Geral; e do Centro de Inteligência, vinculado à Primeira VicePresidência deste Tribunal de Justiça, exercer tratamento firme e adequado para coibir alitigância predatória, que causa aumento do acervo e morosidade processual, com grande e prejudicial impacto orçamentário. II - Nos termos do disposto artigo 330, inciso I, §2.o, inciso I, a petição inicial será indeferida, por inépcia, quando o pedido for indeterminado. III - A apresentação de causa de pedir e de pedido incertos não permite a adequada entrega da prestação jurisdicional, por impedir o conhecimento dos fundamentos fáticos e da pretensão, especialmente porque o Poder Judiciário não pode servir de órgão consultivo ou investigativo. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.027827-7/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2023, publicação da súmula em 24/04/2023). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA - ART. 373, II, DO CPC - RELAÇÃO JURÍDICA DA QUAL SE ORIGINOU O DÉBITO COMPROVADA - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DEMANDA MASSIFICADA E PREDATÓRIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO- LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Desincumbindo-se a parte ré do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil e, consequentemente, comprovada a relação jurídica com apresentação de documentos idôneos que demonstrem a efetiva contratação e o débito, os procedimentos de cobrança configuram exercício regular de direito do credor. - O demandado que colaciona aos autos a fatura referente ao serviço utilizado pelo consumidor, que foi enviada para o mesmo endereço informado na peça de ingresso, da qual se extrai a relação jurídica firmada entre as partes, bem como as telas sistêmicas comprovando a contratação e utilização dos serviços, desincumbe do seu ônus probatório. - Havendo elementos caracterizadores de demanda massificada e predatória, aspectos meramente formais não podem se sobrepor à realidade fática e criar direitos ao devedor inadimplente, ao contrário, a situação impõe ao magistrado maior rigor na análise dos fatos e dos documentos apresentados, a fim de coibir práticas abusivas e atentatórias à dignidade da Justiça. - Tendo a parte alterado a verdade dos fatos e se utilizado do processo para obter vantagem indevida, enquadrando-se nas hipóteses previstas no artigo 80, incisos II e III, do CPC, deve ser condenada à multa por litigância de má-fé. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.149352-1/001, Relator(a): Des.(a) Rui de Almeida Magalhães , 11a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/2023, publicação da súmula em 19/04/2023 Não é possível que aquele que presta serviço de interesse público e que exerce função social (Lei 8.906/94, art. 2º, § 1º), como é o caso dos advogados, sobrecarregue o Judiciário com o ajuizamento massificado de ações infundadas e manifestamente contrárias a entendimento vinculante. O próprio texto constitucional, no art. 133, quando prevê que o advogado é essencial à administração da justiça, impõe limites ao profissional da advocacia. E a conduta perpetrada, na hipótese vertente, afronta o princípio da boa-fé, da economia processual, e em primeira ou última análise, o próprio Direito Natural. O direito de ação existe, mas não é ilimitado; assim como não é a atividade do advogado, que justamente por ser tão nobre, não deve se materializar em ações temerárias. Registre-se que não se está diante de uma simples demanda com resultado desfavorável, o que é perfeitamente possível, mas de uma conduta reiterada no patrocínio dos mais variados autores, em afronta a precedente vinculante. É conduta desprovida do cuidado necessário e esperado, que enseja sanção. O Poder Judiciário não deve sequer dar início ao processamento de ações como esta, devendo ser rejeitadas logo em sua fase inicial, sob pena de se coadunar com possível abuso do direito de ação e da utilização da máquina estatal como forma de locupletamento ilícito, inclusive pelo procurador – afinal, o ajuizamento massificado de ações infundadas gera multiplicação de honorários contratuais e, potencialmente, sucumbenciais. Juridicamente possível (e recomendável) a condenação de advogado a multa por litigância de má-fé. Segundo a tradicional interpretação do CPC/2015, a penalidade em referência deveria ser direcionada exclusivamente à parte. Caberia, ao procurador, responder disciplinarmente perante o órgão de classe. Essa distinção entre a parte e o representante processual é prevista expressamente no art. 77 do CPC/2015, no que tange às repercussões do ato atentatório à dignidade da justiça. A mesma lógica vem sendo analogicamente transposta à litigância de má-fé, sem maiores critérios. Essa leitura, reducionista, não é a que melhor se coaduna com a base principiológica do Processo Contemporâneo de matriz constitucional. As balizas da celeridade dos processos judiciais, da eficiência da máquina pública, da boa-fé e da cooperação devem orientar a conduta dos advogados. O patrocínio dos interesses dos seus clientes deve ser promovido não apenas sob as normas éticas da classe, mas também sob espírito de lealdade perante a Justiça e a contraparte. Na medida em que induvidoso esse compromisso da advocacia, adequado que os profissionais de comportamento desviante respondam não apenas disciplinarmente, mas também pelas sanções pecuniárias da codificação processual. Saliente-se que a aplicação de multa por litigância de má-fé ao procurador é a mais justa e eficaz para evitar o abuso do direito de ação. Em muitas situações, a parte não tem intenções maliciosas. Sequer tem ciência da deslealdade processual praticada por seu representante. Não é infrequente, aliás, que também seja vítima de falsas promessas de ganhos irreais, propugnadas por profissionais afoitos. Por mais que seja possível se cogitar de culpa “in eligendo”, não se pode ignorar a vulnerabilidade técnica do homem médio. Ou da sofisticação das estratégias predatórias do mercado jurídico contemporâneo. Por que, então, deve a parte arcar, sozinha, com o impacto financeiro da aventura jurídica? Ademais, é preciso que os advogados temerários passem a internalizar o impacto financeiro de sua irresponsabilidade, como medida inibitória à reiteração da conduta. Enquanto esses custos não forem transmitidos àqueles profissionais, continuará “valendo à pena” inundar a justiça com demandas temerárias. Não é outro o entendimento do E. TJSP: Declaratória de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais - autora que alega desconhecer a origem da dívida que deu ensejo à inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes análise com observância das orientações do Comunicado CG 02/2017 documentos juntados aos autos que afastam a verossimilhança das alegações, além de sonegação de informações por parte da autora conduta que evidencia abuso de direito como forma de dificultar a defesa e elevar os ganhos com indenizações e honorários - verdadeira pretensão de enriquecimento ilícito, bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente - ação improcedente com multa por litigância de má-fé também à advogada recurso da autora improvido. (...) 16. Por outro lado, não se desconhece o entendimento jurisprudencial dominante no Eg. STJ quanto à impossibilidade de condenação solidária do advogado da parte como litigante de má-fé, mas é certo que referido entendimento diz respeitos aos casos em que se verifica apenas uma combatividade exacerbada por parte do causídico. 17. Contudo, o que se verifica no presente feito e muitos outros que têm ingressado no já assoberbado Poder Judiciário se caracteriza como verdadeira aventura jurídica com nítida intenção de enriquecimento ilícito por parte dos causídicos que as patrocinam, situação bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente, sendo bom lembrar que o advogado é sempre o primeiro juiz da causa que lhe é exposta pelo cliente, isso sem falar na manipulação da informação do SCPC, que certamente não pode ser atribuída ao cliente, desbordando em muito do dever de lealdade processual previsto no art. 16 do CPC/73, agora repetido pelo art. 79 do CPC/15. 18. E o Judiciário não pode ser conivente com o ajuizamento de ações com pretensões totalmente contrárias a realidade fática das partes, que mais parecem fundadas nos ditados populares do “jogar verde para colher maduro” ou “se colar,...colou!”, sendo evidentes os prejuízos à prestação jurisdicional daqueles que realmente necessitam se socorrer do Poder Judiciário, bem como também da parte “ex adversa”, que tem de arcar com o ônus de comprovar contratação de duvidosa controvérsia, além de arcar com custas desnecessárias ao ter de se defender nos diversos feitos. 19. Analisadas todas as peculiaridades do caso concreto, pede-se vênia para transcrever comentário à recente obra elaborada pelo AASP e OAB/PR ao comentar a nova legislação processual: “Além de constituir infração disciplinar punida pelo Estatuto da Advocacia (art. 34), o advogado que deduzir pretensão contra expresso texto legal ou deturpar o teor de norma, doutrina ou jurisprudência ficará sujeito à sanção processual do § 2o do art. 81 do CPC/2015 (STJ,3a T., REsp. no 947.927-AgRg, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/4/2008, DJU de 29/4/2008). O mesmo vale para os demais sujeitos do processo que, nos termos do inciso II, alteram a verdade dos fatos, inquinando o princípio processual da lealdade. Para tanto, impõe-se que os fatos sejam objetiva e deliberadamente alterados, seja por meio da comprovação por documentos ao longo da instrução, seja induzindo testemunha a mentir em juízo.(...) À luz dos princípios informadores do CPC/2015, especialmente o dever de cooperação estabelecido no art. 6o, não se sustenta mais a ideia de que os advogados e procuradores em geral não seriam atingidos pela sanção, pois é dever concorrente das partes e dos seus procuradores proceder com lealdade e boa-fé, muito embora a jurisprudência produzida à luz da interpretação do art. 18 do CPC/1973 encontre-se dividida sobre o tema.” (Ronaldo Vasconcelos, in Código de Processo Civil Comentado, AASP/OAB-PR) (TJ-SP 10010617120178260101 SP 1001061-71.2017.8.26.0101, Relator: Jovino de Sylos, Data de Julgamento: 30/05/2018, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/05/2018) Por fim, o CIJ/MG recomendou expressamente aos juízes do estado que imponham multa por litigância de má-fé nas hipóteses de demanda que afronta precedente qualificado, tal como no presente caso. Veja-se: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. (grifos nossos) Saliente-se que, em grau recursal, a improcedência liminar já foi mantida pela Turma, consoante precedente anexo, cuja emenda transcrevo: RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SÚMULA VINCULANTE N. 04 DO STF – BASE DE CÁLCULO MANTIDA – SENTENÇA MANTIDA. Segundo fundamentação do voto vencedor: A partir dos autos, identifica-se que a base de cálculo do adicional de insalubridade, que já é pago para a recorrente, foi estabelecida no art. 19, inciso IV, da Lei Complementar n. 187/2019 do Município de Maria, o qual estabelece que os ocupantes de Função Pública de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate à Endemias farão jus à adicional de insalubridade, calculado sobre o menor vencimento básico do Município, o qual equivale ao salário-mínimo nacional. Dessa forma, conforme estabelecido pela Súmula Vinculante 04 do STF: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”. Portanto, se por um lado se reconhece a ilegitimidade da vinculação da base de cálculo do adicional de insalubridade ao salário-mínimo, por outro, não pode o Judiciário atuar como legislador positivo e, assim, substituir a base de cálculo legal, suprimindo omissão do Legislativo municipal, como pretende que seja feito a recorrente. (…). Assim, não há razões para reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais quanto à base de cálculo do adicional, devendo o adicional de insalubridade concedido continuar a ter como base de cálculo o salário-mínimo, enquanto não for editada norma pelo Legislativo local, prevendo outro parâmetro de cálculo. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO LIMINARMENTE IMPROCEDENTE o pedido, e, assim o fazendo, extingo o feito, com resolução do mérito, ao amparo do art. 332, inciso I, do CPC. Ante a má-fé, CONDENO a parte Autora ao pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95). CONDENO a parte e respectivos advogados, de forma solidária, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Dada a gravidade da conduta e sua repetição por dezenas de vezes, insuficiente a imposição da penalidade no mínimo legal. Tampouco se justifica a sua elevação ao máximo previsto em lei. Fixo a multa no percentual de 3% (três por cento) do valor da atualizado da causa (art. 81 do CPC). Sem honorários eis que a parte Ré não foi citada. REMETA-SE CÓPIA ao CIJ/MG e ao NUMOPEDE, para ciência e monitoramento do perfil da demanda. REMETA-SE cópia ao Tribunal de Ética das Seções da OAB, perante as quais estejam inscritos os causídicos. Após o trânsito em julgado, nada mais havendo, arquivem-se os autos com baixa e cautelas de praxe. P.R.I.C. Mariana, data da assinatura eletrônica. FERNANDA RODRIGUES GUIMARAES ANDRADE MASCARENHAS Juiz(íza) de Direito 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana

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Processo nº 5001379-41.2025.8.13.0400

ID: 259876104

Tribunal: TJMG Órgão: 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Classe: Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública Nº Processo: 5001379-41.2025.8.13.0400

Data de Disponibilização: 24/04/2025

Polo Ativo:

VALDIRENE APARECIDA OLIVEIRA

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

VINICIUS GARCIA DE MATOS

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JULIANO CESAR LAVANDOSKI

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristóvão, Mariana - MG - CEP: 35425-069 PROCESSO Nº: 5001379-41.2025.8.13.0400 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) ASSUNTO: [Adicional de Insalubridade] AUTOR: VALDIRENE APARECIDA OLIVEIRA CPF: 049.773.546-64 RÉU: MUNICIPIO DE MARIANA CPF: 18.295.303/0001-44 SENTENÇA Vistos, etc., Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de ação ordinária c/c obrigação de fazer, ajuizada em desfavor do Município de Mariana. Consta da petição inicial, em suma, que a parte Autora é servidora pública do Município de Mariana/MG; que, por exercer condições especiais, recebe adicional de salubridade/penosidade sobre salário mínimo nacional, o que afronta a Constituição da República, bem como viola o disposto na Súmula Vinculante de nº 04; que o adicional de insalubridade a que a parte Autora faz jus deve ser calculado com base no seu vencimento, e não com base no salário mínimo nacional. Diante disso, a parte Autora pede: (i) "Seja declarada por sentença de mérito o direito da parte requerente receber o ADICIONAL DE INSALUBRIDADE CALCULADO SOB O SEU VENCIMENTO BASE e reflexos (13º, férias, 1/3 CF) - instituído pela Lei 13.342/2016, cujo valor corrigido deverá ser correspondente ao apurado na execução em trâmite junto ao Juizado especial da Fazenda, desde a data de sua publicação, respeitado o prazo prescricional quinquenal"; (ii) "Seja o Reclamado compelido a efetuar o pagamento das diferenças salariais decorrentes da entrada em vigor da Lei que instituiu o VENCIMENTO como base de cálculo do adicional de insalubridade; Sendo o município condenado a obrigação de fazer para inclusão em folha de pagamento do valor legal, com todos os reflexos destas advindas"; (iii) "Seja realizado depósito judicial dos valores, cujos valores deverão ser apurados em liquidação de sentença, haja vista a existência de parcelas vincendas e a necessidade de aposição de juros e correção monetária". Fundamento e decido em atenção ao art. 93, inciso IX, da Constituição da República (CR). Da detida análise da petição inicial do feito, verifico que se trata de hipótese de indeferimento, de plano, da pretensão aduzida nos autos. A pretensão ora aduzida consiste não na percepção do adicional de insalubridade, mas exclusivamente na alteração da base de cálculo da parcela, já paga à parte Autora, e estabelecida em legislação do Município de Mariana, que prevê a incidência do adicional de insalubridade sobre o salário mínimo. A parte Autora se insurge contra base de cálculo adotada pelo Município, sob o fundamento de que o parâmetro estabelecido na referida lei afronta a Constituição da República e o disposto na Súmula Vinculante de nº 04. Diante disso, pleiteia a declaração do direito de receber adicional de insalubridade calculado sobre o seu vencimento base e reflexos. No entanto, a alteração da base de cálculo do adicional recebido por servidor público municipal, pela via ora eleita, afrontaria o enunciado da Súmula Vinculante de nº 04 do E. STF, suscitada pela própria parte em sua exordial. Senão vejamos Súmula Vinculante 04: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. (grifos nossos) Como se vê, o enunciado sumular é expresso ao estabelecer que a base de cálculo de vantagem de servidor público, cuja instituição é de competência do legislador, não pode ser alterada pelo Poder Judiciário. A respeito, cumpre transcrever parte do voto do relator da Reclamação 41.284/SP, em que o I. Ministro Celso de Mello, pontuou, de forma escorreita, a impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário em casos como o “sub judice”: “Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição, pelo Poder Judiciário, de uma base de cálculo específica em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público) derivada necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem, nessa matéria, substituir por seus próprios critérios aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador. Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.” Destaca-se, nesse contexto, que o E. STF, por meio do julgamento da Rcl 41.284/SP, supratranscrita, invalidou decisão proferida pela Turma Recursal da Comarca de José do Rio Preto/SP, a qual determinou que fosse utilizado, como base de cálculo do adicional de insalubridade, o vencimento percebido pela beneficiária. O entendimento proferido pela Suprema Corte foi no sentido de que o “decisum” da Turma Recursal violava o enunciado da Súmula Vinculante nº 04. Nesse mesmo sentido foi o entendimento proferido pelo E. STF em diversos casos similares ao ora em apreço, em que é vedado ao Poder Judiciário a modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade de servidores públicos, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade de lei: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor público. Inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo reconhecida na origem. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade pelo Poder Judiciário. Precedentes. 1. Apesar de reconhecida a inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo, é vedada a modificação da respectiva base de cálculo pelo Poder Judiciário, dada a vedação a que atue como legislador positivo. 2. Agravo regimental não provido. ( ARE 913503 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/11/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015) (STF - AgR ARE: 913503 MG - MINAS GERAIS 0054272-94.2011.8.13.0106, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 10/11/2015, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-250 14-12-2015) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário mínimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário minimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) Dessarte, tratando-se de pretensão que contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal, imperativa a improcedência liminar do pedido, nos termos do art. 332, inciso I, do CPC. Destaca-se, por oportuno, que ainda que assim não fosse, o indeferimento da petição inicial se mostraria devido. A uma, porque o pedido aduzido nos autos é ilíquido, em evidente contrariedade ao disposto no art. 14, inciso III, da Lei nº 9.099/95. O pedido ilíquido não só contraria a legislação aplicável ao caso em apreço, como também impede a análise da competência do juizado especial fazendário para processamento do feito (art. 2º da Lei nº 12.153/09). Ressalta-se que a parte sequer se cuidou de indica o valor que persegue por meio da ação judicial. A duas, porque o próprio pedido aduzido na petição inicial, no sentido de que “os valores deverão ser apurados em liquidação de sentença” infirma a admissibilidade do procedimento sumaríssimo e da competência do juizado especial, conforme disposto no art. 38, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95. Por fim, mister destacar as particularidades evidenciadas no caso em apreço, e que merecem especial atenção do juízo quanto à pretensão aduzida nos autos. Os fatos narrados na exordial o são em termos genéricos, sem nenhuma informação do caso concreto ou especificamente da parte Autora. Somente na data da prolação da presente sentença, os mesmos advogados patrocinantes da presente ação - inscritos no estado do Paraná! - ajuizaram outras dezenas de ação em Mariana, e centenas no estado de Minas Gerais, perseguindo o mesmo objetivo: a alteração da base de cálculo do adicional de insalubridade pago a servidores públicos sujeitos a condições especiais de trabalho ou agentes de endemia. As procurações constantes de todas as demandas idênticas, além de iguais, são genéricas, sem indicar/individualizar a pretensão a que a outorga de poderes se presta, e com algumas assinaturas divergentes das constantes nos documentos de identidade anexados à exordial. Na hipótese vertente, o instrumento de mandato sequer está assinado (confira-se ID 10428584820). Não se olvida, ainda, que a outorga de poderes se deu a advogados com OAB do estado do Paraná. Em que pese não haver nenhum ilícito na contratação de advogados de outros estados, tal fato, associada às demais circunstâncias supramencionadas, atrai cautela redobrada para a prevenção da advocacia predatória. São inúmeros os elementos do caso se subsomem à “Lista exemplificativa de condutas processuais potencialmente abusivas” do “ANEXO A DA RECOMENDAÇÃO Nº 159 DE 23 DE OUTUBRO DE 2024”, com destaque aos seguintes: 1) requerimentos de justiça gratuita apresentados sem justificativa, comprovação ou evidências mínimas de necessidade econômica; 2) pedidos habituais e padronizados de dispensa de audiência preliminar ou de conciliação; 7) distribuição de ações judiciais semelhantes, com petições iniciais que apresentam informações genéricas e causas de pedir idênticas, frequentemente diferenciadas apenas pelos dados pessoais das partes envolvidas, sem a devida particularização dos fatos do caso concreto; 9) distribuição de ações com pedidos vagos, hipotéticos ou alternativos, que não guardam relação lógica com a causa de pedir; 11) apresentação de procurações incompletas, com inserção manual de informações, outorgadas por mandante já falecido(a), ou mediante assinatura eletrônica não qualificada e lançada sem o emprego de certificado digital de padrão ICP-Brasil; 13) concentração de grande volume de demandas sob o patrocínio de poucos(as) profissionais, cuja sede de atuação, por vezes, não coincide com a da comarca ou da subseção em que ajuizadas, ou com o domicílio de qualquer das partes; (grifos nossos). O combate à litigância predatória e a adoção, pelo magistrado, de boas práticas de gestão processual de processos massificados encontra respaldo na jurisprudência e na Nota Técnica nº 01/2022 do Centro de Inteligência de Minas Gerais (CIJMG). A pretensão massificada de ações manifestamente infundadas e contrárias a entendimento vinculante, deve ser penalizada, inclusive para fins pedagógicos. Esta a orientação expressa do Centro de Inteligência da Justiça Mineira (CIJ/MG), por meio da Nota Técnica nº 03, aos magistrados do E. TJMG: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. Recomenda-se a aplicação da multa por litigância de má-fé nos casos em que a parte demandar, em postulação ou defesa, contra precedente vinculante firmado por este Tribunal ou pelos Tribunais Superiores, sem que haja sustentação de distinção, de superação (quando cabível) ou de fundamento essencial verdadeiramente novo. A sanção por litigância de má-fé deve ser imposta solidariamente ao Postulante e a seu procurador. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 3.995/DF, o Relator, Ministro Luís Roberto Barroso, pontuou que a “possibilidade de provocar a prestação jurisdicional precisa ser exercida (...) com equilíbrio, de modo a não inviabilizar a prestação da justiça com qualidade”. E destacou os efeitos nefastos do uso abusivo do direito de ação: O exercício abusivo do direito de deflagrar a jurisdição, a litigiosidade excessiva, a utilização do Judiciário como instrumento para a obtenção de acordos indevidos ou, ainda, para a procrastinação do cumprimento de obrigações implica o uso ilegítimo do Judiciário e a sensação difusa de que a Justiça não funciona. O volume desproporcional de processos compromete a celeridade, a coerência e a qualidade da prestação jurisdicional e importa em ônus desmedidos para a sociedade, à qual incumbe arcar com o custeio da máquina judiciária. De acordo com Humberto Theodoro Júnior, do princípio da boa-fé, sobrevém o dever de os magistrados impedirem todas as condutas abusivas e desleais, quaisquer que sejam seus autores processuais: Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória. Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código Processu al Modelo Iberoamericano, os atos processuais, dentro de uma cláusula geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y buena fe y tener por causa un interés legítimo" (art. 73º). A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados, intervenientes eventuais, etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa -fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade que se identifica com a dignidade da justiça (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – princípios éticos na repressão à litigância de má-fé – papel do juiz. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/humberto%20theodoro%20j%C3%BAnior(3)formatado.pdf. Acesso em 23.abr.2023). O mesmo poder-dever foi reafirmado pelo E. TJMG: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PETIÇÃO INICIAL - PEDIDO E CAUSA DE PEDIR INDETERMINADOS, GENÉRICOS E DE BAIXA ASSERTIVIDADE - INÉPCIA - INDEFERIMENTO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. I - Devem os magistrados, atentos ao trabalho e orientações emanadas do NUMOPEDE, órgão vinculado à Corregedoria Geral; e do Centro de Inteligência, vinculado à Primeira VicePresidência deste Tribunal de Justiça, exercer tratamento firme e adequado para coibir alitigância predatória, que causa aumento do acervo e morosidade processual, com grande e prejudicial impacto orçamentário. II - Nos termos do disposto artigo 330, inciso I, §2.o, inciso I, a petição inicial será indeferida, por inépcia, quando o pedido for indeterminado. III - A apresentação de causa de pedir e de pedido incertos não permite a adequada entrega da prestação jurisdicional, por impedir o conhecimento dos fundamentos fáticos e da pretensão, especialmente porque o Poder Judiciário não pode servir de órgão consultivo ou investigativo. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.027827-7/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2023, publicação da súmula em 24/04/2023). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA - ART. 373, II, DO CPC - RELAÇÃO JURÍDICA DA QUAL SE ORIGINOU O DÉBITO COMPROVADA - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DEMANDA MASSIFICADA E PREDATÓRIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO- LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Desincumbindo-se a parte ré do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil e, consequentemente, comprovada a relação jurídica com apresentação de documentos idôneos que demonstrem a efetiva contratação e o débito, os procedimentos de cobrança configuram exercício regular de direito do credor. - O demandado que colaciona aos autos a fatura referente ao serviço utilizado pelo consumidor, que foi enviada para o mesmo endereço informado na peça de ingresso, da qual se extrai a relação jurídica firmada entre as partes, bem como as telas sistêmicas comprovando a contratação e utilização dos serviços, desincumbe do seu ônus probatório. - Havendo elementos caracterizadores de demanda massificada e predatória, aspectos meramente formais não podem se sobrepor à realidade fática e criar direitos ao devedor inadimplente, ao contrário, a situação impõe ao magistrado maior rigor na análise dos fatos e dos documentos apresentados, a fim de coibir práticas abusivas e atentatórias à dignidade da Justiça. - Tendo a parte alterado a verdade dos fatos e se utilizado do processo para obter vantagem indevida, enquadrando-se nas hipóteses previstas no artigo 80, incisos II e III, do CPC, deve ser condenada à multa por litigância de má-fé. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.149352-1/001, Relator(a): Des.(a) Rui de Almeida Magalhães , 11a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/2023, publicação da súmula em 19/04/2023 Não é possível que aquele que presta serviço de interesse público e que exerce função social (Lei 8.906/94, art. 2º, § 1º), como é o caso dos advogados, sobrecarregue o Judiciário com o ajuizamento massificado de ações infundadas e manifestamente contrárias a entendimento vinculante. O próprio texto constitucional, no art. 133, quando prevê que o advogado é essencial à administração da justiça, impõe limites ao profissional da advocacia. E a conduta perpetrada, na hipótese vertente, afronta o princípio da boa-fé, da economia processual, e em primeira ou última análise, o próprio Direito Natural. O direito de ação existe, mas não é ilimitado; assim como não é a atividade do advogado, que justamente por ser tão nobre, não deve se materializar em ações temerárias. Registre-se que não se está diante de uma simples demanda com resultado desfavorável, o que é perfeitamente possível, mas de uma conduta reiterada no patrocínio dos mais variados autores, em afronta a precedente vinculante. É conduta desprovida do cuidado necessário e esperado, que enseja sanção. O Poder Judiciário não deve sequer dar início ao processamento de ações como esta, devendo ser rejeitadas logo em sua fase inicial, sob pena de se coadunar com possível abuso do direito de ação e da utilização da máquina estatal como forma de locupletamento ilícito, inclusive pelo procurador – afinal, o ajuizamento massificado de ações infundadas gera multiplicação de honorários contratuais e, potencialmente, sucumbenciais. Juridicamente possível (e recomendável) a condenação de advogado a multa por litigância de má-fé. Segundo a tradicional interpretação do CPC/2015, a penalidade em referência deveria ser direcionada exclusivamente à parte. Caberia, ao procurador, responder disciplinarmente perante o órgão de classe. Essa distinção entre a parte e o representante processual é prevista expressamente no art. 77 do CPC/2015, no que tange às repercussões do ato atentatório à dignidade da justiça. A mesma lógica vem sendo analogicamente transposta à litigância de má-fé, sem maiores critérios. Essa leitura, reducionista, não é a que melhor se coaduna com a base principiológica do Processo Contemporâneo de matriz constitucional. As balizas da celeridade dos processos judiciais, da eficiência da máquina pública, da boa-fé e da cooperação devem orientar a conduta dos advogados. O patrocínio dos interesses dos seus clientes deve ser promovido não apenas sob as normas éticas da classe, mas também sob espírito de lealdade perante a Justiça e a contraparte. Na medida em que induvidoso esse compromisso da advocacia, adequado que os profissionais de comportamento desviante respondam não apenas disciplinarmente, mas também pelas sanções pecuniárias da codificação processual. Saliente-se que a aplicação de multa por litigância de má-fé ao procurador é a mais justa e eficaz para evitar o abuso do direito de ação. Em muitas situações, a parte não tem intenções maliciosas. Sequer tem ciência da deslealdade processual praticada por seu representante. Não é infrequente, aliás, que também seja vítima de falsas promessas de ganhos irreais, propugnadas por profissionais afoitos. Por mais que seja possível se cogitar de culpa “in eligendo”, não se pode ignorar a vulnerabilidade técnica do homem médio. Ou da sofisticação das estratégias predatórias do mercado jurídico contemporâneo. Por que, então, deve a parte arcar, sozinha, com o impacto financeiro da aventura jurídica? Ademais, é preciso que os advogados temerários passem a internalizar o impacto financeiro de sua irresponsabilidade, como medida inibitória à reiteração da conduta. Enquanto esses custos não forem transmitidos àqueles profissionais, continuará “valendo à pena” inundar a justiça com demandas temerárias. Não é outro o entendimento do E. TJSP: Declaratória de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais - autora que alega desconhecer a origem da dívida que deu ensejo à inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes análise com observância das orientações do Comunicado CG 02/2017 documentos juntados aos autos que afastam a verossimilhança das alegações, além de sonegação de informações por parte da autora conduta que evidencia abuso de direito como forma de dificultar a defesa e elevar os ganhos com indenizações e honorários - verdadeira pretensão de enriquecimento ilícito, bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente - ação improcedente com multa por litigância de má-fé também à advogada recurso da autora improvido. (...) 16. Por outro lado, não se desconhece o entendimento jurisprudencial dominante no Eg. STJ quanto à impossibilidade de condenação solidária do advogado da parte como litigante de má-fé, mas é certo que referido entendimento diz respeitos aos casos em que se verifica apenas uma combatividade exacerbada por parte do causídico. 17. Contudo, o que se verifica no presente feito e muitos outros que têm ingressado no já assoberbado Poder Judiciário se caracteriza como verdadeira aventura jurídica com nítida intenção de enriquecimento ilícito por parte dos causídicos que as patrocinam, situação bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente, sendo bom lembrar que o advogado é sempre o primeiro juiz da causa que lhe é exposta pelo cliente, isso sem falar na manipulação da informação do SCPC, que certamente não pode ser atribuída ao cliente, desbordando em muito do dever de lealdade processual previsto no art. 16 do CPC/73, agora repetido pelo art. 79 do CPC/15. 18. E o Judiciário não pode ser conivente com o ajuizamento de ações com pretensões totalmente contrárias a realidade fática das partes, que mais parecem fundadas nos ditados populares do “jogar verde para colher maduro” ou “se colar,...colou!”, sendo evidentes os prejuízos à prestação jurisdicional daqueles que realmente necessitam se socorrer do Poder Judiciário, bem como também da parte “ex adversa”, que tem de arcar com o ônus de comprovar contratação de duvidosa controvérsia, além de arcar com custas desnecessárias ao ter de se defender nos diversos feitos. 19. Analisadas todas as peculiaridades do caso concreto, pede-se vênia para transcrever comentário à recente obra elaborada pelo AASP e OAB/PR ao comentar a nova legislação processual: “Além de constituir infração disciplinar punida pelo Estatuto da Advocacia (art. 34), o advogado que deduzir pretensão contra expresso texto legal ou deturpar o teor de norma, doutrina ou jurisprudência ficará sujeito à sanção processual do § 2o do art. 81 do CPC/2015 (STJ,3a T., REsp. no 947.927-AgRg, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/4/2008, DJU de 29/4/2008). O mesmo vale para os demais sujeitos do processo que, nos termos do inciso II, alteram a verdade dos fatos, inquinando o princípio processual da lealdade. Para tanto, impõe-se que os fatos sejam objetiva e deliberadamente alterados, seja por meio da comprovação por documentos ao longo da instrução, seja induzindo testemunha a mentir em juízo.(...) À luz dos princípios informadores do CPC/2015, especialmente o dever de cooperação estabelecido no art. 6o, não se sustenta mais a ideia de que os advogados e procuradores em geral não seriam atingidos pela sanção, pois é dever concorrente das partes e dos seus procuradores proceder com lealdade e boa-fé, muito embora a jurisprudência produzida à luz da interpretação do art. 18 do CPC/1973 encontre-se dividida sobre o tema.” (Ronaldo Vasconcelos, in Código de Processo Civil Comentado, AASP/OAB-PR) (TJ-SP 10010617120178260101 SP 1001061-71.2017.8.26.0101, Relator: Jovino de Sylos, Data de Julgamento: 30/05/2018, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/05/2018) Por fim, o CIJ/MG recomendou expressamente aos juízes do estado que imponham multa por litigância de má-fé nas hipóteses de demanda que afronta precedente qualificado, tal como no presente caso. Veja-se: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. (grifos nossos) Saliente-se que, em grau recursal, a improcedência liminar já foi mantida pela Turma, consoante precedente anexo, cuja emenda transcrevo: RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SÚMULA VINCULANTE N. 04 DO STF – BASE DE CÁLCULO MANTIDA – SENTENÇA MANTIDA. Segundo fundamentação do voto vencedor: A partir dos autos, identifica-se que a base de cálculo do adicional de insalubridade, que já é pago para a recorrente, foi estabelecida no art. 19, inciso IV, da Lei Complementar n. 187/2019 do Município de Maria, o qual estabelece que os ocupantes de Função Pública de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate à Endemias farão jus à adicional de insalubridade, calculado sobre o menor vencimento básico do Município, o qual equivale ao salário-mínimo nacional. Dessa forma, conforme estabelecido pela Súmula Vinculante 04 do STF: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”. Portanto, se por um lado se reconhece a ilegitimidade da vinculação da base de cálculo do adicional de insalubridade ao salário-mínimo, por outro, não pode o Judiciário atuar como legislador positivo e, assim, substituir a base de cálculo legal, suprimindo omissão do Legislativo municipal, como pretende que seja feito a recorrente. (…). Assim, não há razões para reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais quanto à base de cálculo do adicional, devendo o adicional de insalubridade concedido continuar a ter como base de cálculo o salário-mínimo, enquanto não for editada norma pelo Legislativo local, prevendo outro parâmetro de cálculo. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO LIMINARMENTE IMPROCEDENTE o pedido, e, assim o fazendo, extingo o feito, com resolução do mérito, ao amparo do art. 332, inciso I, do CPC. Ante a má-fé, CONDENO a parte Autora ao pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95). CONDENO a parte e respectivos advogados, de forma solidária, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Dada a gravidade da conduta e sua repetição por dezenas de vezes, insuficiente a imposição da penalidade no mínimo legal. Tampouco se justifica a sua elevação ao máximo previsto em lei. Fixo a multa no percentual de 3% (três por cento) do valor da atualizado da causa (art. 81 do CPC). Sem honorários eis que a parte Ré não foi citada. REMETA-SE CÓPIA ao CIJ/MG e ao NUMOPEDE, para ciência e monitoramento do perfil da demanda. REMETA-SE cópia ao Tribunal de Ética das Seções da OAB, perante as quais estejam inscritos os causídicos. Após o trânsito em julgado, nada mais havendo, arquivem-se os autos com baixa e cautelas de praxe. P.R.I.C. Mariana, data da assinatura eletrônica. FERNANDA RODRIGUES GUIMARAES ANDRADE MASCARENHAS Juiz(íza) de Direito 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana

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Processo nº 5000709-03.2025.8.13.0400

ID: 259792940

Tribunal: TJMG Órgão: 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Classe: Procedimento do Juizado Especial da Fazenda Pública Nº Processo: 5000709-03.2025.8.13.0400

Data de Disponibilização: 24/04/2025

Polo Ativo:

ANDRE MENDONCA HENRIQUES DINIZ

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

JULIANO CESAR LAVANDOSKI

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VINICIUS GARCIA DE MATOS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristó… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Justiça de Primeira Instância Comarca de Mariana / 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana Rua Adriana Aparecida Pascoal, s/n, São Cristóvão, Mariana - MG - CEP: 35425-069 PROCESSO Nº: 5000709-03.2025.8.13.0400 CLASSE: [CÍVEL] PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (14695) ASSUNTO: [Adicional de Insalubridade] AUTOR: ANDRE MENDONCA HENRIQUES DINIZ CPF: 097.205.256-90 RÉU: MUNICIPIO DE MARIANA CPF: 18.295.303/0001-44 SENTENÇA Vistos, etc., Relatório dispensado na forma do art. 38 da Lei nº 9.099/95. Trata-se de ação ordinária c/c obrigação de fazer, ajuizada em desfavor do Município de Mariana. Consta da petição inicial, em suma, que a parte Autora é servidora pública do Município de Mariana/MG; que, por exercer condições especiais, recebe adicional de salubridade/penosidade de 20% (vinte por cento) do salário mínimo nacional, ao amparo do art. 1º, § 2º, da Lei nº 2.201/2008, o que afronta a Constituição da República, bem como viola o disposto na Súmula Vinculante de nº 04; que o adicional de insalubridade a que a parte Autora faz jus deve ser calculado com base no seu vencimento, e não com base no salário mínimo nacional. Diante disso, a parte Autora pede: (i) DETERMINAR que o adicional de insalubridade seja pago com base no vencimento básico do servidor, bem como sua implantação em folha de pagamento; (ii) DETERMINAR O PAGAMENTO DAS DIFERENÇAS apuradas, em razão da alteração inconstitucional da base de cálculo do adicional de insalubridade, a contar desde a criação da Lei nº 003/2001, até a efetiva instalação da base de cálculo sobre o Vencimento Efetivo do Cargo da parte autora, junto a folha de pagamento, respeitando a Prescrição Quinquenal; (iii) CONDENAR as diferenças sobre as férias mais 1/3, décimos terceiros salários e horas extras, na qual devem incidir juros legais, respeitando a Prescrição Quinquenal; (d) DETERMINAR ao Município para passar a utilizar o vencimento do cargo efetivo como Base de Cálculo para os Adicional de Insalubridade vincendos da parte autora, conforme o artigo 292, §2º do Código de Processo Civil, bem como o artigo 2º, §2º da Lei nº 12.153/2009. Fundamento e decido em atenção ao art. 93, inciso IX, da Constituição da República (CR). Da detida análise da petição inicial do feito, verifico que se trata de hipótese de indeferimento, de plano, da pretensão aduzida nos autos. A pretensão ora aduzida consiste não na percepção do adicional de insalubridade, mas exclusivamente na alteração da base de cálculo da parcela, já paga à parte Autora, e estabelecida no art. 1º , § 2º da Lei nº 2.201/2008 do Município de Mariana, que prevê a incidência do adicional de insalubridade sobre o salário mínimo. A parte Autora se insurge contra base de cálculo adotada pelo Município, sob o fundamento de que o parâmetro estabelecido na referida lei afronta a Constituição da República e o disposto na Súmula Vinculante de nº 04. Diante disso, pleiteia a declaração do direito de receber adicional de insalubridade calculado sobre o seu vencimento base e reflexos. No entanto, a alteração da base de cálculo do adicional recebido por servidor público municipal, pela via ora eleita, afrontaria o enunciado da Súmula Vinculante de nº 04 do E. STF, suscitada pela própria parte em sua exordial. Senão vejamos Súmula Vinculante 04: Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. (grifos nossos) Como se vê, o enunciado sumular é expresso ao estabelecer que a base de cálculo de vantagem de servidor público, cuja instituição é de competência do legislador, não pode ser alterada pelo Poder Judiciário. A respeito, cumpre transcrever parte do voto do relator da Reclamação 41.284/SP, em que o I. Ministro Celso de Mello, pontuou, de forma escorreita, a impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário em casos como o “sub judice”: “Impõe-se reconhecer que a impossibilidade de definição, pelo Poder Judiciário, de uma base de cálculo específica em tema de remuneração laboral (empregado) ou funcional (agente público) derivada necessidade de respeito aos postulados constitucionais da reserva absoluta de lei e da divisão funcional do poder. Isso significa, portanto, que juízes e Tribunais não podem, nessa matéria, substituir por seus próprios critérios aqueles que só podem emanar, legitimamente, por expressa determinação constitucional, do legislador. Não cabe, pois, ao Poder Judiciário atuar na anômala condição de legislador positivo (RTJ 126/48 – RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137, v.g. ), para, em assim agindo, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser validamente definidos pelo Parlamento (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e Teoria da Constituição”, p. 636, item n. 4, 1998, Almedina). É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados, competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio constitucional da separação de poderes.” Destaca-se, nesse contexto, que o E. STF, por meio do julgamento da Rcl 41.284/SP, supratranscrita, invalidou decisão proferida pela Turma Recursal da Comarca de José do Rio Preto/SP, a qual determinou que fosse utilizado, como base de cálculo do adicional de insalubridade, o vencimento percebido pela beneficiária. O entendimento proferido pela Suprema Corte foi no sentido de que o “decisum” da Turma Recursal violava o enunciado da Súmula Vinculante nº 04. Nesse mesmo sentido foi o entendimento proferido pelo E. STF em diversos casos similares ao ora em apreço, em que é vedado ao Poder Judiciário a modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade de servidores públicos, ainda que reconhecida a inconstitucionalidade de lei: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor público. Inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo reconhecida na origem. Impossibilidade da modificação da base de cálculo do adicional de insalubridade pelo Poder Judiciário. Precedentes. 1. Apesar de reconhecida a inconstitucionalidade da vinculação do adicional de insalubridade ao salário mínimo, é vedada a modificação da respectiva base de cálculo pelo Poder Judiciário, dada a vedação a que atue como legislador positivo. 2. Agravo regimental não provido. ( ARE 913503 AgR, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 10/11/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 11-12-2015 PUBLIC 14-12-2015) (STF - AgR ARE: 913503 MG - MINAS GERAIS 0054272-94.2011.8.13.0106, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 10/11/2015, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-250 14-12-2015) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário mínimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO JUDICIAL FIXANDO O SALÁRIO BASE COMO PARÂMETRO PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. VIOLAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE 4. RECURSO PROVIDO. 1. O ato impugnado manteve a sentença de 1ª instância, que fixou o salário base da servidora como parâmetro para o cálculo sobre o qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, substituindo o salário minimo, baseado na ausência de lei regulamentadora. 2. Sanção, no âmbito do município de São José do Rio Preto, da Lei Complementar 609/2019, que instituiu a base de cálculo para os adicionais de insalubridade e periculosidade. 3. Nessas circunstâncias, há violação ao Enunciado Vinculante 4, tendo em vista que, após a regulamentação normativa fixando a base de cálculo sobre a qual deve incidir a fração para pagamento do adicional de insalubridade, não cabe ao Poder Judiciário atuar como legislador positivo, sob pena de desequilibrar o Princípio da Separação dos Poderes. 4. Recurso de Agravo a que se dá provimento. (STF - Rcl: 39952 SP 0089946-93.2020.1.00.0000, Relator: ROSA WEBER, Data de Julgamento: 15/03/2021, Primeira Turma, Data de Publicação: 26/03/2021) (grifou-se) Dessarte, tratando-se de pretensão que contraria enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal, imperativa a improcedência liminar do pedido, nos termos do art. 332, inciso I, do CPC. Por fim, mister destacar as particularidades evidenciadas no caso em apreço, e que merecem especial atenção do juízo quanto à pretensão aduzida nos autos. Os fatos narrados na exordial o são em termos genéricos, sem nenhuma informação do caso concreto ou especificamente da parte Autora. Somente na data da prolação da presente sentença, os mesmos advogados patrocinantes da presente ação - inscritos no estado do Paraná! - ajuizaram outras dezenas de ação em Mariana, e centenas no estado de Minas Gerais, perseguindo o mesmo objetivo: a alteração da base de cálculo do adicional de insalubridade pago a servidores públicos sujeitos a condições iniciais de trabalho ou agentes de endemia. As procurações constantes de todas as demandas idênticas, além de iguais, são genéricas, sem indicar/individualizar a pretensão a que a outorga de poderes se presta, e com algumas assinaturas divergentes das constantes nos documentos de identidade anexados à exordial. Não se olvida, ainda, que a outorga de poderes se deu a advogados com OAB do estado do Paraná. Em que pese não haver nenhum ilícito na contratação de advogados de outros estados, tal fato, associada às demais circunstâncias supramencionadas, atrai cautela redobrada para a prevenção da advocacia predatória. São inúmeros os elementos do caso se subsomem à “Lista exemplificativa de condutas processuais potencialmente abusivas” do “ANEXO A DA RECOMENDAÇÃO Nº 159 DE 23 DE OUTUBRO DE 2024”, com destaque aos seguintes: 1) requerimentos de justiça gratuita apresentados sem justificativa, comprovação ou evidências mínimas de necessidade econômica; 2) pedidos habituais e padronizados de dispensa de audiência preliminar ou de conciliação; 7) distribuição de ações judiciais semelhantes, com petições iniciais que apresentam informações genéricas e causas de pedir idênticas, frequentemente diferenciadas apenas pelos dados pessoais das partes envolvidas, sem a devida particularização dos fatos do caso concreto; 9) distribuição de ações com pedidos vagos, hipotéticos ou alternativos, que não guardam relação lógica com a causa de pedir; 11) apresentação de procurações incompletas, com inserção manual de informações, outorgadas por mandante já falecido(a), ou mediante assinatura eletrônica não qualificada e lançada sem o emprego de certificado digital de padrão ICP-Brasil; 13) concentração de grande volume de demandas sob o patrocínio de poucos(as) profissionais, cuja sede de atuação, por vezes, não coincide com a da comarca ou da subseção em que ajuizadas, ou com o domicílio de qualquer das partes; (grifos nossos). O combate à litigância predatória e a adoção, pelo magistrado, de boas práticas de gestão processual de processos massificados encontra respaldo na jurisprudência e na Nota Técnica nº 01/2022 do Centro de Inteligência de Minas Gerais (CIJMG). A pretensão massificada de ações manifestamente infundadas e contrárias a entendimento vinculante, deve ser penalizada, inclusive para fins pedagógicos. Esta a orientação expressa do Centro de Inteligência da Justiça Mineira (CIJ/MG), por meio da Nota Técnica nº 03, aos magistrados do E. TJMG: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. Recomenda-se a aplicação da multa por litigância de má-fé nos casos em que a parte demandar, em postulação ou defesa, contra precedente vinculante firmado por este Tribunal ou pelos Tribunais Superiores, sem que haja sustentação de distinção, de superação (quando cabível) ou de fundamento essencial verdadeiramente novo. A sanção por litigância de má-fé deve ser imposta solidariamente ao Postulante e a seu procurador. No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 3.995/DF, o Relator, Ministro Luís Roberto Barroso, pontuou que a “possibilidade de provocar a prestação jurisdicional precisa ser exercida (...) com equilíbrio, de modo a não inviabilizar a prestação da justiça com qualidade”. E destacou os efeitos nefastos do uso abusivo do direito de ação: O exercício abusivo do direito de deflagrar a jurisdição, a litigiosidade excessiva, a utilização do Judiciário como instrumento para a obtenção de acordos indevidos ou, ainda, para a procrastinação do cumprimento de obrigações implica o uso ilegítimo do Judiciário e a sensação difusa de que a Justiça não funciona. O volume desproporcional de processos compromete a celeridade, a coerência e a qualidade da prestação jurisdicional e importa em ônus desmedidos para a sociedade, à qual incumbe arcar com o custeio da máquina judiciária. De acordo com Humberto Theodoro Júnior, do princípio da boa-fé, sobrevém o dever de os magistrados impedirem todas as condutas abusivas e desleais, quaisquer que sejam seus autores processuais: Em nome da lealdade e boa-fé, deverá o juiz impedir genericamente a fraude processual, a colusão e qualquer conduta antiética e procrastinatória. Não há uma tipicidade para as infrações morais. Tal como preconiza o Código Processu al Modelo Iberoamericano, os atos processuais, dentro de uma cláusula geral, "deberán ser lícitos, pertinentes y útiles. Habrán de ser realizados con veracidad y buena fe y tener por causa un interés legítimo" (art. 73º). A delimitação dessas condutas ilícitas, em relação a todos os sujeitos vinculados ao processo (órgão judicial, auxiliares do juízo, partes e advogados, intervenientes eventuais, etc.) se encontra submetida ao princípio sintetizador da boa -fé e lealdade, que pressupõe o respeito a um determinado standard de moralidade que se identifica com a dignidade da justiça (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Boa-fé e processo – princípios éticos na repressão à litigância de má-fé – papel do juiz. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao professor Egas Dirceu Moniz de Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. Disponível em: http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/humberto%20theodoro%20j%C3%BAnior(3)formatado.pdf. Acesso em 23.abr.2023). O mesmo poder-dever foi reafirmado pelo E. TJMG: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - PETIÇÃO INICIAL - PEDIDO E CAUSA DE PEDIR INDETERMINADOS, GENÉRICOS E DE BAIXA ASSERTIVIDADE - INÉPCIA - INDEFERIMENTO - EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO - SENTENÇA MANTIDA. I - Devem os magistrados, atentos ao trabalho e orientações emanadas do NUMOPEDE, órgão vinculado à Corregedoria Geral; e do Centro de Inteligência, vinculado à Primeira VicePresidência deste Tribunal de Justiça, exercer tratamento firme e adequado para coibir alitigância predatória, que causa aumento do acervo e morosidade processual, com grande e prejudicial impacto orçamentário. II - Nos termos do disposto artigo 330, inciso I, §2.o, inciso I, a petição inicial será indeferida, por inépcia, quando o pedido for indeterminado. III - A apresentação de causa de pedir e de pedido incertos não permite a adequada entrega da prestação jurisdicional, por impedir o conhecimento dos fundamentos fáticos e da pretensão, especialmente porque o Poder Judiciário não pode servir de órgão consultivo ou investigativo. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.23.027827-7/001, Relator(a): Des.(a) Fabiano Rubinger de Queiroz , 10a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/04/2023, publicação da súmula em 24/04/2023). APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ÔNUS DA PROVA - ART. 373, II, DO CPC - RELAÇÃO JURÍDICA DA QUAL SE ORIGINOU O DÉBITO COMPROVADA - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DEMANDA MASSIFICADA E PREDATÓRIA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO- LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ RECONHECIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. - Desincumbindo-se a parte ré do ônus que lhe é atribuído pelo artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil e, consequentemente, comprovada a relação jurídica com apresentação de documentos idôneos que demonstrem a efetiva contratação e o débito, os procedimentos de cobrança configuram exercício regular de direito do credor. - O demandado que colaciona aos autos a fatura referente ao serviço utilizado pelo consumidor, que foi enviada para o mesmo endereço informado na peça de ingresso, da qual se extrai a relação jurídica firmada entre as partes, bem como as telas sistêmicas comprovando a contratação e utilização dos serviços, desincumbe do seu ônus probatório. - Havendo elementos caracterizadores de demanda massificada e predatória, aspectos meramente formais não podem se sobrepor à realidade fática e criar direitos ao devedor inadimplente, ao contrário, a situação impõe ao magistrado maior rigor na análise dos fatos e dos documentos apresentados, a fim de coibir práticas abusivas e atentatórias à dignidade da Justiça. - Tendo a parte alterado a verdade dos fatos e se utilizado do processo para obter vantagem indevida, enquadrando-se nas hipóteses previstas no artigo 80, incisos II e III, do CPC, deve ser condenada à multa por litigância de má-fé. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.22.149352-1/001, Relator(a): Des.(a) Rui de Almeida Magalhães , 11a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 19/04/2023, publicação da súmula em 19/04/2023 Não é possível que aquele que presta serviço de interesse público e que exerce função social (Lei 8.906/94, art. 2º, § 1º), como é o caso dos advogados, sobrecarregue o Judiciário com o ajuizamento massificado de ações infundadas e manifestamente contrárias a entendimento vinculante. O próprio texto constitucional, no art. 133, quando prevê que o advogado é essencial à administração da justiça, impõe limites ao profissional da advocacia. E a conduta perpetrada, na hipótese vertente, afronta o princípio da boa-fé, da economia processual, e em primeira ou última análise, o próprio Direito Natural. O direito de ação existe, mas não é ilimitado; assim como não é a atividade do advogado, que justamente por ser tão nobre, não deve se materializar em ações temerárias. Registre-se que não se está diante de uma simples demanda com resultado desfavorável, o que é perfeitamente possível, mas de uma conduta reiterada no patrocínio dos mais variados autores, em afronta a precedente vinculante. É conduta desprovida do cuidado necessário e esperado, que enseja sanção. O Poder Judiciário não deve sequer dar início ao processamento de ações como esta, devendo ser rejeitadas logo em sua fase inicial, sob pena de se coadunar com possível abuso do direito de ação e da utilização da máquina estatal como forma de locupletamento ilícito, inclusive pelo procurador – afinal, o ajuizamento massificado de ações infundadas gera multiplicação de honorários contratuais e, potencialmente, sucumbenciais. Juridicamente possível (e recomendável) a condenação de advogado a multa por litigância de má-fé. Segundo a tradicional interpretação do CPC/2015, a penalidade em referência deveria ser direcionada exclusivamente à parte. Caberia, ao procurador, responder disciplinarmente perante o órgão de classe. Essa distinção entre a parte e o representante processual é prevista expressamente no art. 77 do CPC/2015, no que tange às repercussões do ato atentatório à dignidade da justiça. A mesma lógica vem sendo analogicamente transposta à litigância de má-fé, sem maiores critérios. Essa leitura, reducionista, não é a que melhor se coaduna com a base principiológica do Processo Contemporâneo de matriz constitucional. As balizas da celeridade dos processos judiciais, da eficiência da máquina pública, da boa-fé e da cooperação devem orientar a conduta dos advogados. O patrocínio dos interesses dos seus clientes deve ser promovido não apenas sob as normas éticas da classe, mas também sob espírito de lealdade perante a Justiça e a contraparte. Na medida em que induvidoso esse compromisso da advocacia, adequado que os profissionais de comportamento desviante respondam não apenas disciplinarmente, mas também pelas sanções pecuniárias da codificação processual. Saliente-se que a aplicação de multa por litigância de má-fé ao procurador é a mais justa e eficaz para evitar o abuso do direito de ação. Em muitas situações, a parte não tem intenções maliciosas. Sequer tem ciência da deslealdade processual praticada por seu representante. Não é infrequente, aliás, que também seja vítima de falsas promessas de ganhos irreais, propugnadas por profissionais afoitos. Por mais que seja possível se cogitar de culpa “in eligendo”, não se pode ignorar a vulnerabilidade técnica do homem médio. Ou da sofisticação das estratégias predatórias do mercado jurídico contemporâneo. Por que, então, deve a parte arcar, sozinha, com o impacto financeiro da aventura jurídica? Ademais, é preciso que os advogados temerários passem a internalizar o impacto financeiro de sua irresponsabilidade, como medida inibitória à reiteração da conduta. Enquanto esses custos não forem transmitidos àqueles profissionais, continuará “valendo à pena” inundar a justiça com demandas temerárias. Não é outro o entendimento do E. TJSP: Declaratória de inexistência de débito c.c. indenização por danos morais - autora que alega desconhecer a origem da dívida que deu ensejo à inscrição de seu nome nos cadastros de inadimplentes análise com observância das orientações do Comunicado CG 02/2017 documentos juntados aos autos que afastam a verossimilhança das alegações, além de sonegação de informações por parte da autora conduta que evidencia abuso de direito como forma de dificultar a defesa e elevar os ganhos com indenizações e honorários - verdadeira pretensão de enriquecimento ilícito, bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente - ação improcedente com multa por litigância de má-fé também à advogada recurso da autora improvido. (...) 16. Por outro lado, não se desconhece o entendimento jurisprudencial dominante no Eg. STJ quanto à impossibilidade de condenação solidária do advogado da parte como litigante de má-fé, mas é certo que referido entendimento diz respeitos aos casos em que se verifica apenas uma combatividade exacerbada por parte do causídico. 17. Contudo, o que se verifica no presente feito e muitos outros que têm ingressado no já assoberbado Poder Judiciário se caracteriza como verdadeira aventura jurídica com nítida intenção de enriquecimento ilícito por parte dos causídicos que as patrocinam, situação bem diversa do direito de ação tutelado constitucionalmente, sendo bom lembrar que o advogado é sempre o primeiro juiz da causa que lhe é exposta pelo cliente, isso sem falar na manipulação da informação do SCPC, que certamente não pode ser atribuída ao cliente, desbordando em muito do dever de lealdade processual previsto no art. 16 do CPC/73, agora repetido pelo art. 79 do CPC/15. 18. E o Judiciário não pode ser conivente com o ajuizamento de ações com pretensões totalmente contrárias a realidade fática das partes, que mais parecem fundadas nos ditados populares do “jogar verde para colher maduro” ou “se colar,...colou!”, sendo evidentes os prejuízos à prestação jurisdicional daqueles que realmente necessitam se socorrer do Poder Judiciário, bem como também da parte “ex adversa”, que tem de arcar com o ônus de comprovar contratação de duvidosa controvérsia, além de arcar com custas desnecessárias ao ter de se defender nos diversos feitos. 19. Analisadas todas as peculiaridades do caso concreto, pede-se vênia para transcrever comentário à recente obra elaborada pelo AASP e OAB/PR ao comentar a nova legislação processual: “Além de constituir infração disciplinar punida pelo Estatuto da Advocacia (art. 34), o advogado que deduzir pretensão contra expresso texto legal ou deturpar o teor de norma, doutrina ou jurisprudência ficará sujeito à sanção processual do § 2o do art. 81 do CPC/2015 (STJ,3a T., REsp. no 947.927-AgRg, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/4/2008, DJU de 29/4/2008). O mesmo vale para os demais sujeitos do processo que, nos termos do inciso II, alteram a verdade dos fatos, inquinando o princípio processual da lealdade. Para tanto, impõe-se que os fatos sejam objetiva e deliberadamente alterados, seja por meio da comprovação por documentos ao longo da instrução, seja induzindo testemunha a mentir em juízo.(...) À luz dos princípios informadores do CPC/2015, especialmente o dever de cooperação estabelecido no art. 6o, não se sustenta mais a ideia de que os advogados e procuradores em geral não seriam atingidos pela sanção, pois é dever concorrente das partes e dos seus procuradores proceder com lealdade e boa-fé, muito embora a jurisprudência produzida à luz da interpretação do art. 18 do CPC/1973 encontre-se dividida sobre o tema.” (Ronaldo Vasconcelos, in Código de Processo Civil Comentado, AASP/OAB-PR) (TJ-SP 10010617120178260101 SP 1001061-71.2017.8.26.0101, Relator: Jovino de Sylos, Data de Julgamento: 30/05/2018, 16ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 30/05/2018) Por fim, o CIJ/MG recomendou expressamente aos juízes do estado que imponham multa por litigância de má-fé nas hipóteses de demanda que afronta precedente qualificado, tal como no presente caso. Veja-se: Configura litigância de má-fé a dedução de pretensão ou de defesa em juízo, como autor ou réu, contrariamente a precedente vinculante, sem sustentar, fundamentadamente, distinção, superação ou fundamento novo, não discutido na formação do precedente e que seja, por si só, capaz de infirmar a tese que constitui o precedente. (grifos nossos) Saliente-se que, em grau recursal, a improcedência liminar já foi mantida pela Turma, consoante precedente anexo, cuja emenda transcrevo: RECURSO INOMINADO – FAZENDA PÚBLICA – ADICIONAL DE INSALUBRIDADE – SÚMULA VINCULANTE N. 04 DO STF – BASE DE CÁLCULO MANTIDA – SENTENÇA MANTIDA. Segundo fundamentação do voto vencedor: A partir dos autos, identifica-se que a base de cálculo do adicional de insalubridade, que já é pago para a recorrente, foi estabelecida no art. 19, inciso IV, da Lei Complementar n. 187/2019 do Município de Maria, o qual estabelece que os ocupantes de Função Pública de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate à Endemias farão jus à adicional de insalubridade, calculado sobre o menor vencimento básico do Município, o qual equivale ao salário-mínimo nacional. Dessa forma, conforme estabelecido pela Súmula Vinculante 04 do STF: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”. Portanto, se por um lado se reconhece a ilegitimidade da vinculação da base de cálculo do adicional de insalubridade ao salário-mínimo, por outro, não pode o Judiciário atuar como legislador positivo e, assim, substituir a base de cálculo legal, suprimindo omissão do Legislativo municipal, como pretende que seja feito a recorrente. (…). Assim, não há razões para reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos iniciais quanto à base de cálculo do adicional, devendo o adicional de insalubridade concedido continuar a ter como base de cálculo o salário-mínimo, enquanto não for editada norma pelo Legislativo local, prevendo outro parâmetro de cálculo. Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO LIMINARMENTE IMPROCEDENTE o pedido, e, assim o fazendo, extingo o feito, com resolução do mérito, ao amparo do art. 332, inciso I, do CPC. Ante a má-fé, CONDENO a parte Autora ao pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do art. 55 da Lei nº 9.099/95). CONDENO a parte e respectivos advogados, de forma solidária, ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Dada a gravidade da conduta e sua repetição por dezenas de vezes, insuficiente a imposição da penalidade no mínimo legal. Tampouco se justifica a sua elevação ao máximo previsto em lei. Fixo a multa no percentual de 3% (três por cento) do valor da atualizado da causa (art. 81 do CPC). Sem honorários eis que a parte Ré não foi citada. REMETA-SE CÓPIA ao CIJ/MG e ao NUMOPEDE, para ciência e monitoramento do perfil da demanda. REMETA-SE cópia ao Tribunal de Ética das Seções da OAB, perante as quais estejam inscritos os causídicos. Após o trânsito em julgado, nada mais havendo, arquivem-se os autos com baixa e cautelas de praxe. P.R.I.C. Mariana, data da assinatura eletrônica. FERNANDA RODRIGUES GUIMARAES ANDRADE MASCARENHAS Juiz(íza) de Direito 2º Juizado Especial Cível e Criminal da Comarca de Mariana

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