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Maria Da Gloria Reiners Sena x Águas Cuiabá S.A. - Concessionária De Serviços Públicos De Água E Esgoto

ID: 314210890

Tribunal: TJMT Órgão: 11ª VARA CÍVEL DE CUIABÁ Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1002913-65.2019.8.11.0041

Data de Disponibilização: 02/07/2025

Polo Ativo:

MARIA DA GLORIA REINERS SENA

Polo Passivo:

ÁGUAS CUIABÁ S.A. - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ÁGUA E ESGOTO

Sentença

Advogados:

DENNER DE BARROS E MASCARENHAS BARBOSA

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PAULO VICTOR DE ARAUJO AMORIM

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RENATO CHAGAS CORREA DA SILVA

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 11ª Vara Cível Comarca da Capital GABINETE Autos nº 1002913-65.2019.8.11.0041 Vistos, etc. Trata-se de ação revisional de faturas c/c declaratória de inexistênc… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 11ª Vara Cível Comarca da Capital GABINETE Autos nº 1002913-65.2019.8.11.0041 Vistos, etc. Trata-se de ação revisional de faturas c/c declaratória de inexistência de débitos c/c dano moral ajuizada por Maria da Gloria Reiners Sena em face de Águas Cuiabá S.A. – Concessionária de Serviços Públicos de Água e Esgoto, todos devidamente qualificados nos autos, por meio da qual busca a revisão e o cancelamento de faturas com valores supostamente abusivos, a declaração de inexistência de débitos, o restabelecimento do serviço de água e indenização por danos morais. A autora alega que é cliente da requerida sob a matrícula n° 82020-2 e que, até junho de 2018, suas faturas não ultrapassavam a média de R$ 115,00 (cento e quinze reais), contudo, após a instalação de um novo hidrômetro em julho de 2018, o consumo médio, que era de 17m³, aumentou em quase 100% (cem por cento), gerando faturas com valores exorbitantes. Sustenta que registrou reclamação junto ao PROCON Municipal em 04.09.2018, requerendo a não suspensão do serviço, a não inclusão do seu nome nos órgãos de proteção ao crédito, a aferição do hidrômetro, vistoria no local e revisão das faturas de julho e agosto de 2018, entretanto, a audiência de conciliação realizada restou infrutífera, embora tenha sido determinada a aferição do hidrômetro pelo INMETRO no prazo de 15 (quinze) dias. Argumenta que, mesmo com a determinação do PROCON, a parte requerida suspendeu o abastecimento de água em sua residência em 21.11.2018 e inscreveu seu nome no rol de maus pagadores. Aduz que o fornecimento de água é um serviço essencial e não pode ser interrompido, e que a conduta da requerida fere o Código de Defesa do Consumidor. Requer, liminarmente, a exclusão do seu nome dos órgãos de restrições (Serasa e congêneres) e o restabelecimento do fornecimento de água em sua residência. Ao final, pugna pela procedência da demanda, a fim de que seja declarada a inexistência dos débitos dos meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2018, com o consequente refaturamento no valor correto, e a condenação da requerida ao pagamento de indenização por danos morais, além das custas processuais e honorários advocatícios. Atribuiu à causa o valor de R$ 38.160,00 (trinta e oito mil cento e sessenta reais). Instruiu a inicial com os documentos de id. 17516417 a id. 17516433. Conforme decisão de id. 17749363, fora deferida a justiça gratuita e concedida a tutela provisória de urgência para determinar que “que a parte requerida, com relação às faturas do mês/referência de julho/2018 até novembro/2018, RESTABELEÇA, no prazo de 06 (seis) horas, o fornecimento dos serviços ao imóvel da parte autora, bem como determino a expedição de ofício ao banco de dados do SERASA e congêneres para, no prazo de 05 (cinco) dias, excluir o nome da parte autora no cadastro de proteção ao crédito, sob pena de aplicação das medidas necessárias para a efetivação da tutela, conforme art. art. 297, do Código de Processo Civil”, sendo designada audiência de conciliação, determinando-se ainda a citação da demandada. Realizada a audiência de conciliação, que restou inexitosa, conforme termo de id. 19753752. A parte requerida ofertou contestação por meio do id. 20186297, alegando que as faturas contestadas estão corretas e que o caso se trata de inadimplência pura e simples. Aduz que cumpriu a liminar, efetuando a exclusão do nome da autora dos órgãos de proteção ao crédito e procedendo à religação do abastecimento, conforme comprovante anexo. Sustenta que foram realizadas duas vistorias no hidrômetro do imóvel da autora (em 28.09.2018 e 01.11.2018), não sendo verificada nenhuma irregularidade no aparelho medidor ou vazamento visível, e que as leituras foram feitas corretamente. Defende que o aumento no consumo é de responsabilidade exclusiva da autora, ocasionado por fatores alheios à concessionária, como vazamentos internos ou consumo indiscriminado de água, e que o hidrômetro não “inventa” consumo, sendo testado e calibrado pelo INMETRO. Afirma que a cobrança é legal e baseada no consumo real, conforme a Lei nº 11.445/2007 e o Regulamento da Concessão, e que não há dispositivo legal que obrigue a cobrança por média. Pontua a aplicabilidade da Súmula 385 do STJ, que afasta a indenização por dano moral quando há preexistência de legítima inscrição em cadastros de inadimplentes. Pugna pela improcedência da demanda. Com a peça de defesa, juntou os documentos de id. 20186299 a id. 20186310. Impugnação à contestação apresentada no id. 20825877. Em decisão saneadora de id. 28679486, foi fixado como ponto controvertido “a ilicitude na conduta do requerido, devendo o requerido demonstrar a regularidade da leitura do consumo do autor, a existência de fraude no medido, e os contornos da responsabilidade do autor, e o autor os fatos constitutivos de seu direito, a existência do alegado dano moral, a desproporcionalidade na leitura, a extensão do dano e o nexo causal”, sendo determinada a intimação das partes para especificarem as provas que pretendem produzir. Manifestação da requerida no id. 28925612, requerendo a produção de prova pericial e oral, ao passo que a autora quedou-se silente. Decisão de id. 35937116, por meio da qual foi designada audiência de instrução e deferida a prova pericial. Consoante decisão de id. 86801257, foi determinada a suspensão da audiência de instrução até a entrega do laudo pericial. Laudo pericial juntado aos autos no id. 91346231. Manifestação da requerida no id. 111622379, impugnando o laudo pericial. Decisão de id. 123328124, determinando a intimação do perito judicial para prestar esclarecimentos. Laudo pericial complementar juntado no id. 124789777. Manifestação da requerida no id. 143263538, concordando com o laudo pericial, ao passo que a autora quedou-se inerte. Decisão de id. 168900906, que homologou o laudo pericial judicial. Vieram os autos conclusos. É o relatório. Fundamento. DECIDO. Trata-se de ação revisional de faturas c/c declaratória de inexistência de débitos c/c dano moral ajuizada por Maria da Gloria Reiners Sena em face de Águas Cuiabá S.A. – Concessionária de Serviços Públicos de Água e Esgoto, todos devidamente qualificados nos autos, por meio da qual busca a revisão e o cancelamento de faturas com valores supostamente abusivos, a declaração de inexistência de débitos, o restabelecimento do serviço de água e indenização por danos morais. De início, destaco que estão presentes nos autos elementos suficientes que permitem a formação do convencimento do juiz, conforme regra do art. 370, do Código de Processo Civil, razão pela qual revogo a audiência de instrução e julgamento designada no id. 35937116. Passo, então, a decidir a causa. Inicialmente, registre-se que a questão, em se tratando de relação de consumo, está albergada pelo Código de Defesa do Consumidor, preceito de ordem pública e interesse social (artigo 1º, da Lei 8078/90). Neste aspecto, tem o consumidor direitos impostergáveis e, dentre estes, destacam-se: a) - a facilitação de defesa de seus direitos (inciso VIII, do artigo 6º, do CDC); b) a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos (inciso X, do artigo 6º, do CDC). Pois bem. In casu, a autora alega que é cliente da requerida sob a matrícula n° 82020-2 e que, até junho de 2018, suas faturas não ultrapassavam a média de R$ 115,00 (cento e quinze reais), contudo, após a instalação de um novo hidrômetro em julho de 2018, o consumo médio, que era de 17m³, aumentou em quase 100% (cem por cento), gerando faturas com valores exorbitantes nos meses de julho/2018 até novembro/2018. Por sua vez, a requerida, em sede de defesa, afirma que atendeu aos ditames legais, afirmando a legalidade do procedimento de faturamento do consumo. Diante disso, foi realizada a vistoria para a realização da perícia judicial, sendo constatado pelo expert que “embora tenha apresentado valores dentro dos percentuais admissíveis, estava aferindo volumes a menos do que os volumes que efetivamente passaram pelo mesmo, ou seja, estaria favorecendo o consumidor” (id. 91346231 – negritei). À vista disso, é possível afirmar que as faturas contestadas não se encontram discrepantes com relação aos meses anteriormente faturados, o que demonstra o faturamento devido. Ora, não se pode olvidar, ainda, que a parte consumidora é parte hipossuficiente em relação à concessionária, no entanto, cabe a parte autora a demonstração mínima dos fatos constitutivos de seu direito, o que não restou demonstrado nos autos. Dessa forma, verifica-se a regularidade das faturas contestadas em comparação aos meses anteriormente faturados, não sendo cabível o acolhimento dos pedidos iniciais. Nesse sentido: “RECURSO INOMINADO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ALEGAÇÃO DE SUSPENSÃO INDEVIDA DO FORNECIMENTO DE ÁGUA - AUSÊNCIA DE PROVA MÍNIMA DOS FATOS ALEGADOS PELA CONSUMIDORA - ÔNUS QUE LHE INCUMBE, NOS TERMOS DO ART. 373, INC. I, DO CPC - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Cabe o reclamante o ônus da prova dos fatos constitutivos de seu direito, consoante exige o art. 373, I do CPC, porquanto a inversão do ônus da prova não tem caráter absoluto. 2. O descumprimento do referido ônus acarreta a improcedência do pleito indenizatório, uma vez que meras alegações são insuficientes para embasar o pleito condenatório. 3. O recorrente não comprovou que a requerida tenha suspendido indevidamente o abastecimento de água em sua residência, portanto, inexistindo falha na prestação do serviço, não que se falar em indenização por danos morais. 4. Para a configuração do dano moral é necessária comprovação de violação a algum direito de personalidade, conforme dispõe o inciso X, do artigo 5º, da Constituição Federal, o que não ocorreu no caso concreto. 5. Age de má-fé a reclamante que efetivamente efetuou a contratação dos serviços com a reclamada e nega a contratação, com tentativa de induzir o juízo a erro, permitindo que a lide se alongasse desnecessariamente. 6. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, consoante previsão do art. 46 da Lei nº 9.099/95.” (TJMT, RI nº 1003574-62.2022.8.11.0001, Turma Recursal Única, Rel. Dr. Valdeci Moraes Siqueira, j. 26.08.2022 – negritei). Desse modo, não restou comprovado qualquer ilícito praticado pela parte requerida. Por essas razões, tendo em vista que do acervo documental que a autora traz consigo não é possível extrair prova conclusiva a lastrear a tese autoral, de modo ser temerária a condenação da parte requerida ao pagamento de indenização ou imposição de multa de qualquer natureza. Deixo de enfrentar os demais argumentos deduzidos no processo, porque desnecessários para diminuir a autoridade desta sentença, conforme art. 489, §1º, IV do CPC, agindo, este Juízo, em obediência ao comando constitucional do art. 5º, LXXVIII. Posto isso, nos termos do art. 487, inciso I, do CPC, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos formulados na ação revisional de faturas c/c declaratória de inexistência de débitos c/c dano moral ajuizada por Maria da Gloria Reiners Sena em face de Águas Cuiabá S.A. – Concessionária de Serviços Públicos de Água e Esgoto. Condeno a parte autora ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa, conforme artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil, observado o quanto disposto no artigo 98, §3º, do mesma codex. Transitado em julgado, remetam-se os autos imediatamente ao arquivo, mediante as anotações necessárias. P. I. C. Olinda de Quadros Altomare Juíza de Direito

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Processo nº 1002913-19.2022.8.11.0087

ID: 301116378

Tribunal: TJMT Órgão: Regime de Cooperação da 2ª Câmara de Direito Público Classe: AGRAVO REGIMENTAL CíVEL Nº Processo: 1002913-19.2022.8.11.0087

Data de Disponibilização: 17/06/2025

Polo Ativo:

DANIEL LOPES FRIZON

Polo Passivo:

Acórdão

Advogados:

CHRISTOPHER MACWILLIANS FAGUNDES GABALDO

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RAUL PASI DALMUT

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ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO REGIME DE COOPERAÇÃO DA 2ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO Número Único: 1002913-19.2022.8.11.0087 Classe: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) Assunto: [Apreensão] Relator:… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO REGIME DE COOPERAÇÃO DA 2ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO Número Único: 1002913-19.2022.8.11.0087 Classe: AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL (206) Assunto: [Apreensão] Relator: Des(a). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA Turma Julgadora: [DES(A). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, DES(A). CELIA REGINA VIDOTTI, DES(A). GABRIELA CARINA KNAUL DE ALBUQUERQUE E SILVA] Parte(s): [DANIEL LOPES FRIZON - CPF: 027.338.321-31 (AGRAVANTE), RAUL PASI DALMUT - CPF: 052.441.301-02 (ADVOGADO), CHRISTOPHER MACWILLIANS FAGUNDES GABALDO - CPF: 031.953.301-80 (ADVOGADO), ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 03.507.415/0001-44 (AGRAVADO), SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE-SEMA - CNPJ: 07.472.738/0001-09 (AGRAVADO), ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 03.507.415/0020-07 (AGRAVADO), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (CUSTOS LEGIS)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a REGIME DE COOPERAÇÃO DA 2ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DESPROVEU O RECURSO. E M E N T A DIREITO AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO. APREENSÃO DE ESCAVADEIRA HIDRÁULICA UTILIZADA EM INFRAÇÃO AMBIENTAL. ALEGAÇÃO DE BOA-FÉ E CERCEAMENTO DE DEFESA. LEGALIDADE DA APREENSÃO. TEMA REPETITIVO 1.036 DO STJ. RECURSO NÃO PROVIDO. I. Caso em exame 1. Agravo interno interposto em face de decisão monocrática que deu provimento à apelação do Estado de Mato Grosso, reformando sentença para julgar improcedente o pedido de restituição de escavadeira hidráulica apreendida por agentes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA, durante operação de fiscalização ambiental. II. Questão em discussão 2. Há duas questões em discussão: (i) definir se a apreensão de escavadeira utilizada em infração ambiental é legítima mesmo quando pertencente a terceiro que alega boa-fé; (ii) estabelecer se o indeferimento da produção de prova testemunhal configura cerceamento de defesa. III. Razões de decidir 3. A jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, especialmente no Tema Repetitivo 1.036, reconhece a possibilidade de apreensão de bens utilizados em infrações ambientais, independentemente de titularidade, uso exclusivo ou habitual, bastando a constatação de sua utilização na empreitada infracional. 4. A responsabilidade administrativa ambiental é objetiva, dispensando a demonstração de dolo ou culpa, e estende-se a todos os que concorrem direta ou indiretamente para o dano ambiental. 5. A prova documental constante dos autos, incluindo relatório técnico da fiscalização e mensagens de aplicativo, comprova que o maquinário foi utilizado em atividades ambientais ilícitas, inclusive em Área de Preservação Permanente – APP, com conhecimento do agravante. 6. O indeferimento da produção de prova testemunhal não configura cerceamento de defesa quando os elementos documentais se mostram suficientes para o julgamento da lide, nos termos do art. 370, parágrafo único, do CPC, não havendo demonstração de efetivo prejuízo à parte. 7. A atuação da autoridade administrativa ambiental encontra respaldo legal nos arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 e no art. 102, § 1º, do Decreto nº 6.514/08, sendo incabível ao Judiciário revisar o mérito do ato administrativo na ausência de ilegalidade ou abuso. IV. Dispositivo e tese 8. Agravo interno não provido. Tese de julgamento: “1. É legítima a apreensão de maquinário utilizado em infração ambiental, ainda que não operado diretamente pelo proprietário, quando demonstrado nos autos que este tinha conhecimento da utilização ilícita do bem. 2. A alegação de nulidade por cerceamento de defesa não se sustenta quando a controvérsia é dirimida com base em prova documental suficiente, sendo desnecessária a produção de prova testemunhal.” Dispositivos relevantes citados: Lei nº 9.605/1998, arts. 25 e 72, IV; Decreto nº 6.514/2008, art. 102, § 1º; Lei nº 6.938/1981, art. 14, § 1º; CPC, art. 370, parágrafo único. Jurisprudência relevante citada: STJ, Tema 1036, REsp 1.814.944/RN; TJMT, AgRg Cível nº 1011304-19.2021.8.11.0015, Rel. Des. Mário Roberto Kono de Oliveira, j. 05.11.2024; TJMT, AI nº 1029791-77.2024.8.11.0000, Rel. Des. Maria Aparecida Ribeiro, j. 12.02.2025. R E L A T Ó R I O EXMA. SRA. DESEMBARGADORA ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA Egrégia Câmara: Trata-se de agravo interno interposto por Daniel Lopes Frizon em face da decisão monocrática proferida que deu provimento à apelação interposta pelo Estado de Mato Grosso, reformando a sentença para julgar improcedente o pedido de restituição de escavadeira hidráulica apreendida por agentes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA - em operação de fiscalização ambiental. Proferida decisão monocrática (id. 256612684), houve a interposição de embargos de declaração pelo agravante (id. 258483673), o qual foi recebido como agravo interno, ante o nítido propósito de rediscutir o mérito da decisão (id. 277049862). Na complementação das razões do agravo interno, o agravante sustenta, em síntese, que a decisão ora combatida deixou de apreciar questão relevante arguida em contrarrazões, notadamente o cerceamento de defesa decorrente do indeferimento da produção de prova testemunhal requerida na petição inicial. Aduz que não houve demonstração nos autos de que a escavadeira tenha efetivamente sido utilizada na prática da infração ambiental imputada a terceiro e que tampouco há elementos que vinculem sua conduta ao ilícito ambiental, sendo incontroverso que o equipamento se encontrava na posse de outrem à época da autuação. Afirma que a máquina era utilizada regularmente como instrumento de trabalho, e que sua apreensão compromete de modo grave o exercício da atividade econômica lícita da qual retira sua subsistência. Defende a sua condição de terceiro de boa-fé, isento de qualquer dolo, culpa ou ciência da infração ambiental. Por fim, argumenta que a medida de apreensão se revela desproporcional, uma vez que não se mostra imprescindível à apuração do ilícito nem à garantia de futura responsabilização administrativa ou judicial, postulando a reconsideração da decisão monocrática ou, sucessivamente, o seu provimento pelo órgão colegiado (id. 277822864). Contrarrazões pelo desprovimento do recurso (id. 287084866) A Procuradoria de Justiça já se manifestou quando da interposição da apelação, ocasião em deu parecer pelo provimento do recurso de apelação do Estado de Mato Grosso (id. 221380156). É o relatório. V O T O R E L A T O R EXMA. SRA. DESEMBARGADORA ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA Egrégia Câmara: Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. A controvérsia devolvida ao conhecimento deste colegiado restringe-se à legalidade da decisão monocrática que, ao reformar a sentença, reconheceu a legitimidade do ato administrativo de apreensão ambiental. A pretensão do agravante, nesse contexto, impõe a verificação da compatibilidade entre os fundamentos apresentados na decisão agravada e o conjunto normativo e probatório constante dos autos, especialmente no que diz respeito à incidência da legislação ambiental de regência e à existência de eventual violação ao contraditório, à ampla defesa e aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. A despeito dos argumentos vertidos no agravo interno, a decisão monocrática atacada está em consonância com a legislação ambiental vigente e com a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, especialmente no que se refere à possibilidade de apreensão de instrumentos utilizados na prática de infrações ambientais, ainda que pertencentes a terceiros. O art. 25 da Lei nº 9.605/98 dispõe que “verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos”, enquanto o art. 72, IV, da mesma norma, tipifica como sanção administrativa a apreensão de produtos e equipamentos. O Tema Repetitivo 1.036 do STJ (REsp 1.814.944/RN) reforça a tese de que a apreensão pode ocorrer independentemente da demonstração de uso exclusivo ou habitual do bem no ilícito ambiental, bastando a constatação de que foi utilizado como instrumento da infração. In verbis: “A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada na atual redação do § 4º do art. 25 da Lei 9.605/1998, independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional”. Tal entendimento é reiteradamente aplicado por esta eg. Corte: [...] APREENSÃO DE MAQUINÁRIO UTILIZADO EM INFRAÇÃO AMBIENTAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NO ATO ORIUNDO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. PLEITO DE LIBERAÇÃO E CONSEQUENTE RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA. IMPOSSIBILIDADE. TEMA 1.036 DO STJ. COMPROVAÇÃO DA PRÁTICA DO ILÍCITO AMBIENTAL PELO PROPRIETÁRIO. I. Caso em exame. 1. Recurso de agravo de interno interposto pelo particular contra decisão monocrática que deu provimento ao recurso de apelação aviado pelo Estado de Mato Grosso, de modo a julgar improcedente a Ação Ordinária proposta na origem, a qual objetivava a liberação de maquinários apreendidos, sob a alegação de que não teria participado da infração. II . Questão em discussão. 2. A questão em discussão consiste em saber se o proprietário de maquinário apreendido em infração ambiental, que alega não ter participado da prática do ilícito, tem direito à restituição do bem. III . Razões de decidir. 3 – O Tema 1.036 (STJ) fixou a tese de que a apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada na atual redação do § 4º do art. 25 da Lei 9 .605/1998, independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional. 4. O disposto no art. 102, § 1º, do Decreto Federal nº 6 .514/2008, prevê a possibilidade de apreensão de instrumentos utilizados na prática de atos ilícitos ambientais, independentemente da sua utilização exclusiva para tal. 5. A apreensão de veículos ou equipamentos utilizados em infração ambiental, mesmo que na propriedade de terceiros, não configura ilegalidade, uma vez que a presunção de veracidade dos atos administrativos prevalece, salvo comprovação de abuso. IV . Dispositivo e tese. 6. Recurso não provido. Decisão monocrática mantida para afastar a ilegalidade da autuação e manter a apreensão do maquinário . Tese de julgamento: “É válida a apreensão de maquinário utilizado na prática de infração ambiental, independentemente independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional”. Dispositivos relevantes citados: Lei 9.605/1998, art. 25, Decreto Federal nº 6 .514/2008, art. 102, § 1º, Jurisprudência relevante citada: Tema 1036 do STJ. (TJ-MT - AGRAVO REGIMENTAL CÍVEL: 10113041920218110015, Relator.: MARIO ROBERTO KONO DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 05/11/2024, Segunda Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 13/11/2024) AGRAVO DE INSTRUMENTO – INFRAÇÃO AMBIENTAL – APREENSÃO DE MAQUINÁRIO – POSSIBILIDADE – ARTIGOS 25 E 72, IV, DA LEI Nº 9.605/1998 – RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA – ART. 14, § 1º, DA LEI Nº 6.938/1981 – IMPOSSIBILIDADE DE NOMEAÇÃO DO PROPRIETÁRIO COMO FIEL DEPOSITÁRIO – TEMA 1 .036/STJ – PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO – RECURSO PROVIDO. 1 - Nos termos dos artigos 25 e 72, inciso IV, da Lei nº 9.605/1998, e dos artigos 105 e 106 do Decreto nº 6.514/2008, é legítima a apreensão de bens utilizados na prática de infrações ambientais, medida que visa não apenas punir, mas também prevenir novas infrações e garantir a proteção do meio ambiente. 2 - A responsabilidade ambiental é objetiva e solidária, conforme o artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938/1981, razão pela qual todos aqueles que concorrem direta ou indiretamente para o ilícito respondem pelos danos ambientais, ainda que na condição de locadores ou prestadores de serviço. 3 - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Tema 1.036/STJ) consolidou o entendimento de que a apreensão de bens utilizados em infrações ambientais independe da comprovação de uso exclusivo ou habitual para a prática ilícita, sendo suficiente a constatação de sua utilização na infração ambiental. 4 - A nomeação do proprietário do bem como fiel depositário não é um direito subjetivo, cabendo à Administração Pública, em juízo de conveniência e oportunidade, decidir sobre a destinação do bem apreendido, conforme entendimento consolidado pelo STJ e pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. 5 - A apreensão do maquinário está em consonância com os princípios da precaução e da prevenção, que fundamentam o direito ambiental, de modo que a liberação do bem ao agravado comprometeria a eficácia da fiscalização ambiental e poderia incentivar novas infrações. (TJ-MT - AGRAVO DE INSTRUMENTO: 10297917720248110000, Relator.: MARIA APARECIDA RIBEIRO, Data de Julgamento: 12/02/2025, Terceira Câmara de Direito Público e Coletivo, Data de Publicação: 20/02/2025) A responsabilidade administrativa ambiental, de natureza objetiva, funda-se no risco da atividade, não sendo necessário comprovar o elemento subjetivo do agente ou do proprietário do bem. A alegada boa-fé do agravante, ainda que relevante no campo da responsabilidade civil, não se sobrepõe ao poder-dever do Estado de aplicar medidas de polícia ambiental em situações concretas de lesão ao meio ambiente. A análise da decisão agravada revela que a medida foi tomada com base em documentação suficiente produzida nos autos, sem que se configure cerceamento de defesa. A pretensão de produção de prova testemunhal não encontra respaldo na exigência de instrução probatória complexa, uma vez que os fatos relevantes para o deslinde da controvérsia são essencialmente documentais. Não se trata, portanto, de indeferimento arbitrário de prova, mas de decisão compatível com a instrução suficiente do feito. Ressalte-se, ainda, que a escavadeira foi apreendida no local da infração, circunstância que, por si só, possibilita a aplicação da sanção administrativa prevista em lei. Não cabe ao Poder Judiciário substituir a autoridade ambiental no juízo técnico-administrativo quanto à conveniência da apreensão ou à nomeação de depositário, notadamente quando não demonstrada ilegalidade ou abuso do ato administrativo. O agravante invoca precedentes jurisprudenciais que admitem a restituição de bens a terceiros de boa-fé. Todavia, os fundamentos fáticos do caso concreto não autorizam a aplicação dessa exceção, seja porque a máquina encontrava-se presente no local autuado, integrando a área objeto de fiscalização, seja porque os documentos apresentados pela parte autora não demonstram, com grau de certeza suficiente, a alegada desvinculação do bem em relação à infração ambiental constatada. Destaca-se trecho do Relatório Técnico 067/DUDGUARAN/SEMA/2.022 constante do auto de infração/apreensão (id. 206301235): “[...] - Que segundo informações levantadas "in loco", os ocupantes que invadiram a fazenda estão desmembrando áreas de 60,00ha (sessenta hectares) com as dimensões de 150,00m x 4.000,00m, onde estão ocorrendo sistematicamente danos ambientais (queimadas e desmatamentos); - Que foi encontrado uma Escavadeira Hidráulica Komatsu, Modelo: PC 200-6B Avance, Número de Série: B10340, sendo operada pelo Sr. Jenilço Faustino dos Santos, inscrito no CPF: 007.202.521-21, com residência na Associação Nova Conquista, Sítio 17, município de Novo Mundo, celular de contato: (66) 99220-6594; - Que foi constatado durante o trajeto abertura de via de acesso até ao ponto 01 objeto de fiscalização, dreno de pé de aterro, intervenção em Área de Preservação Permanente - APP, execução de represa para a contenção de água de chuva, etc; - Que na ocasião também foi encontrado o Sr. João e, que ao ser questionado sobre o que estava fazendo na área, este informou que trabalhava junto com o Sr. Jenilço; - Que na ocasião ao não encontrar nenhum responsável pelo desmate e de outros ilícitos cometidos e, devido a escavadeira hidráulica encontrar-se em área de desmate (dando continuidade a outros ilícitos), informamos ao Sr. Jenilço que a referida escavadeira estava apreendida.” Na petição inicial o agravante anexa a transcrição das conversas travadas via Whatsapp com a pessoa de João Arauna, dentre as quais destaca-se (id. 206301236): “[...] 24/06/2022 10:29 - João Arauna: tava lá anteontem, rapaz, fui para Rua, e aí, Daniel, ele tava fazendo uma valeta de uns 5m de largura e daí não tá rendendo rapaz, ele tem 10 horas não fez nada, fez cem metros só. Ele tava fazendo uma valeta de uns 5m de largura, Daniel. E aí não rendia rapaz. Puta merda, cara. E agora eu fui lá e falei para ele: “não home, faz da largura da concha pouco mais um pouquinho da largura da concha só! Põe a máquina na posição e vai mandando”. [...] Mas a questão é que o povo chora muito e aí porque não tinha visto o outro lá aquele dia que nós foi lá que é estreito não é largão, que se for fazer largão da um aterrão alto mas daí dá muita hora Daniel aí o povo não consegue, o povo é tudo fraco, rapaz, você sabe sem terra, como é que é, né então aí eu fui lá e falei pra ele: Você faz da largura da concha e daí não se preocupe com altura do aterro, que se você for fazendo o dreno, já vai sugar água, já vai sugar água, não precisa preocupar com a altura do Aterro aí agora ele tá fazendo da largura da concha, tá indo bem, agora tá indo bem. Acho que hoje chega lá no Rio.” O trecho acima, quando analisado em cotejo com o relatório da fiscalização ambiental, deixa muito claro que o agravante tinha conhecimento que o maquinário estava sendo utilizado para fazer “dreno de pé de aterro” e “execução de represa para a contenção de água de chuva” e, o que é pior, em direção ao rio. Desse modo, vê-se que a análise da prova documental constante dos autos, por si só, revela-se suficiente para formação do juízo, não sendo necessária dilação probatória, razão pela qual permanecem hígidos os fundamentos da decisão monocrática que reformou a sentença de primeiro grau, reconhecendo a legalidade da apreensão e a improcedência da pretensão de restituição do bem. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo interno. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 16/06/2025

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Maracana Participacoes E Administracao De Bens Limitada x Espólio De Jose Henrique Coelho De Paula Registrado(A) Civilmente Como Jose Henrique Coelho De Paula

ID: 310125567

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA DE PONTES E LACERDA Classe: CUMPRIMENTO PROVISóRIO DE SENTENçA Nº Processo: 1003132-89.2024.8.11.0013

Data de Disponibilização: 27/06/2025

Polo Ativo:

MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA

Polo Passivo:

ESPóLIO DE JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA REGISTRADO(A) CIVILMENTE COMO JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA

Sentença

Advogados:

ANDRE LUIZ MIRANDA LUCION

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GERVASIO ALVES DE OLIVEIRA JUNIOR

OAB/MS XXXXXX Desbloquear

LUIZ GUSTAVO SILVEIRA HONORATO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ALEANDRA FRANCISCA DE SOUZA

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WILLIAN VINICIUS DE OLIVEIRA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

KAMILA MONTEIRO DE ALMEIDA

OAB/MS XXXXXX Desbloquear

FLAVIANO KLEBER TAQUES FIGUEIREDO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ANTONIO AUGUSTO DE SOUZA COELHO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

GERVASIO ALVES DE OLIVEIRA NETO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE PONTES E LACERDA SENTENÇA Processo: 1003132-89.2024.8.11.0013. EXEQUENTE: MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA EXECUTADO: JOSE HEN… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE PONTES E LACERDA SENTENÇA Processo: 1003132-89.2024.8.11.0013. EXEQUENTE: MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA EXECUTADO: JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA Vistos, etc. Trata-se de Embargos de Declaração (ID 183444842 e ID 193622789) opostos, respectivamente, por Espólio de JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA e MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA, em face da decisão de ID 182317318 e ID 192743242, nesta ordem. Ao ID 183444842, o embargante Espólio de JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA sustenta a existência de omissão na decisão prolatada ao ID 182317318, uma vez que acolhidos os pedidos do exequente sem que lhe oportunizado se manifestar previamente. Contrarrazões ao ID 184846579. Por sua vez, o recorrente MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA encartou embargos de declaração em face da determinação sob o ID 192743242, com fundamento no art. 1022, inciso I, do CPC (ID 193622789). Resposta ao recurso ao ID 195411316. Vieram-me conclusos. É o relatório. Fundamento e decido. Recebo os embargos de declaração, porque regularmente opostos e tempestivos. DO MÉRITO. É sabido que para o acolhimento dos embargos de declaração deve a parte encaixar sua pretensão aos moldes do art. 1.022 do CPC, isso porque os embargos têm como objetivo acabar com obscuridade, contradição, omissão e corrigir erro material; que devem ser indicados quando da interposição do recurso. Vejamos: Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o. Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo. Da omissão e da contradição. Será omissa a decisão quando esta deixar de apreciar tópico juridicamente relevante no pedido, ou seja, a omissão ocorrerá na hipótese de ausência de posicionamento acerca de tema de relevância jurídica suscitado nos autos. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRETENSÃO QUE DEMANDARIA A ANÁLISE DE SUPERVENIENTE MODIFICAÇÃO LEGISLATIVA PROMOVIDA POR ATO NORMATIVO INFRACONSTITUCIONAL QUE SE ALEGA SER IMEDIATAMENTE APLICÁVEL AO CASO. IMPOSSIBILIDADE DE ATENDIMENTO A TAL PRETENSÃO NESSA EXCEPCIONAL VIA RECURSAL EXTRAORDINÁRIA. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, OU ERRO MATERIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DESPROVIDOS. [...] Os embargos de declaração somente são cabíveis quando houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade, contradição ou omissão e para corrigir erro material, consoante dispõe o artigo 1.022 do CPC/2015. De fato, necessário salientar que a omissão apta a atrair a incidência dos embargos de declaração só se manifesta quando há tópico juridicamente relevante no pedido que não tenha sido apreciado. Sobre o conceito de omissão, relevante citar Pontes de Miranda (Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo VII, 3ª ed. Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 322), para quem a omissão supõe que algo tenha estado na petição, ou na contestação, ou em embargos, ou em qualquer ato de declaração de conhecimento ou de vontade, a que o juiz tinha de dar solução, e tenha deixado de atender. (grifo próprio). [...] Dessarte, apesar das alegações da embargante, não se constata nenhuma das hipóteses ensejadoras dos embargos de declaração, eis que a decisão impugnada apreciou devidamente as questões suscitadas no recurso. Ex positis, DESPROVEJO os embargos de declaração. Publique-se. Brasília, 18 de junho de 2019. Ministro Luiz Fux Relator Documento assinado digitalmente (STF - ED ARE: 1204857 SP - SÃO PAULO, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 18/06/2019, Data de Publicação: DJe-136 24/06/2019) Negritei. Por sua vez, a contradição alvo dos embargos de declaração deve ser aquela que se refira a incompatibilidade lógica entre a fundamentação e a conclusão da respectiva decisão, a chamada contradição interna. Nesse sentido: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO REGRESSIVA – AUSÊNCIA DAS HIPÓTESES DO ART. 1.022 DO CPC/2015 – SUPOSTA CONTRADIÇÃO ENTRE O ACÓRDÃO E OUTROS JULGADOS DO TJMT – HIPÓTESE QUE NÃO ADMITE A INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – PREQUESTIONAMENTO OBJETIVANDO EVENTUAL E FUTURA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO – EMBARGOS REJEITADOS. 1. A contradição que autoriza a interposição do recurso interposição de embargos de declaração é a afirmação conflitante internamente ao acórdão, quer na fundamentação quer entre a fundamentação e a conclusão. 2. A exigência do prequestionamento deve ser cumprida pela parte e não pelo julgador, que não precisa apontar expressamente se restaram ou não violados todos os dispositivos legais ou constitucionais indicados pela parte. (TJ-MT 10038787720188110041 MT, Relator: JOAO FERREIRA FILHO, Data de Julgamento: 09/02/2021, Primeira Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 24/02/2021).” Destaquei. Desta feita, inexistindo desarmonia entre a fundamentação e o dispositivo da decisão alvo, não há falar em contradição/omissão capaz de ensejar a interposição de embargos de declaração. Tecidas tais considerações, passo à análise dos argumentos suscitados pelos embargantes. 1. DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELO ESPÓLIO DE JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA (ID 183444842) - DA OMISSÃO QUANTO À NÃO SURPRESA E DO DEVIDO CONTRADITÓRIO Na situação em apreço, o embargante Espólio de JOSE HENRIQUE COELHO DE PAULA alega ser omissa a decisão sob o ID 182317318, uma vez que acolheu o reforço de caução oferecido pelo exequente sem oportunizar à executada chance prévia de manifestação. Nesse ponto, verifico que, em que pese os argumentos suscitados pelo embargante, não prosperam as razões elencadas nos embargos opostos. Explico: Dispõe o art. 520 do CPC, in verbis: Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos; III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525 . § 2º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. § 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto. § 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. § 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo. Nessa toada, após o recebimento da inicial de cumprimento provisório de sentença, acolheu-se os embargos de declaração opostos pelo exequente para determinar a expedição de mandado de reintegração de posse do imóvel objeto da lide principal, condicionada à prévia caução real ou fidejussória, correspondente ao valor do próprio objeto (ID 168746032), de acordo com o ditame legal acima destacado. A medida foi deferida inaudita altera parte, isto é, sem ouvir a outra parte, situação que não ofende ao princípio do contraditório, haja vista que esse é diferido/postergado para momento oportuno. Nesse sentido: Classe/Assunto: Agravo de Instrumento / Tutela de Urgência Relator (a): Des. Júlio Roberto Siqueira Cardoso Comarca: Campo Grande Órgão julgador: 4ª Câmara Cível Data do julgamento: 19/09/2023 Data de publicação: 21/09/2023 Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INTERDIÇÃO – NULIDADE DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA POR AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO – AFASTADA – CONTRADITÓRIO DIFERIDO – MÉRITO – AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE COMPROVEM A INCAPACIDADE DO AGRAVANTE – IMPOSSIBILIDADE DE PRIVAÇÃO DA GESTÃO DE SEUS BENS - ANOTAÇÃO NA MATRÍCULA DO IMÓVEL PARA QUE NÃO HAJA NENHUM ATO DE ALIENAÇÃO – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO, CONTRA O PARECER. (TJ-MS - Agravo de Instrumento: 1411036-44 .2023.8.12.0000 Campo Grande, Relator.: Des . Júlio Roberto Siqueira Cardoso, Data de Julgamento: 19/09/2023, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação: 21/09/2023) (grifo) Além disso, não há previsão legal que condicione o acolhimento da caução ofertada pelo exequente à concordância da parte contrária com o objeto/valor apresentado, não prosperando, por isso, as razões do embargante. Não bastasse isso, convém frisar que, ante a comunicação posterior de trânsito em julgado da decisão concernente ao EREsp 1995884/MT (ID 185418852), consoante manifestação acostada ao ID 185417887, houve a perda do objeto dos embargos de declaração opostos pelo executado. Isso porque, como dito alhures, o art. 520 do Código de Processo Civil autoriza o processamento de cumprimento provisório de sentença impugnada por recurso e, tratando-se de feito que vise a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade, como é o caso dos autos, a tramitação dependerá de caução suficiente e idônea, nos moldes do inciso IV do referido dispositivo legal e da decisão ao ID 168746032. Ocorre que, sobrevindo o trânsito em julgado da sentença prolatada nos autos principais, torna-se desnecessária a prestação de caução na forma mencionada, uma vez que a disposição do art. 520, IV do CPC não se aplica ao cumprimento definitivo de sentença, tampouco há exigência processual semelhante atinente à referida fase processual. Sobre o assunto, destaco os seguintes arestos: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. MULTA COMINATÓRIA . I. Caso em Exame: Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que, em sede de cumprimento de sentença, determinou o bloqueio on line do montante referente ao valor da multa cominatória arbitrada. II. Questão em Discussão: A questão em discussão consiste em verificar (i) o cabimento do bloqueio de valores; (ii) a necessidade de prestação de caução . III. Razões de Decidir: O descumprimento injustificado de decisão judicial transitada em julgado autoriza a incidência da multa cominatória arbitrada e o bloqueio de valores. Desnecessidade de prestação de caução, pois se trata de cumprimento definitivo de sentença. IV . Dispositivo e Tese: Tese de julgamento: 1. Pertinência da incidência da multa cominatória arbitrada ante do descumprimento injustificado de decisão judicial. 2. Desnecessidade de caução em cumprimento definitivo de sentença . Recurso improvido. (TJ-SP - Agravo de Instrumento: 23370164120248260000 Ribeirão Preto, Relator.: James Siano, Data de Julgamento: 15/01/2025, 5ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 15/01/2025) Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PROPOSTA DE PARCELAMENTO DO DÉBITO. ACEITAÇÃO DISCRICIONÁRIA DO EXEQUENTE . INEXISTÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO DO EXECUTADO. LEVANTAMENTO DA QUANTIA DEPOSITADA. DESNECESSIDADE DE CAUÇÃO. I . O direito do executado ao parcelamento do débito previsto no artigo 916, caput, do Código de Processo Civil, não se estende ao cumprimento de sentença, consoante a ressalva expressa do § 7º do mesmo artigo. II. Ante a exclusão peremptória que emana do § 7º do artigo 916 do Código de Processo Civil, não há espaço para a extensão do benefício do parcelamento da dívida ao cumprimento de sentença pela via da interpretação analógica ou extensiva. III . No cumprimento de sentença a aceitação de proposta de pagamento parcelado do débito está compreendida na esfera discricionária do exequente. IV. Em se cuidando de cumprimento definitivo de sentença, o levantamento da quantia depositada não está adstrito à prestação de caução, presente o disposto no artigo 520, caput e inciso IV, do Código de Processo Civil. V . Agravo de Instrumento conhecido e desprovido. (TJ-DF 07006101820248070000 1872486, Relator.: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, Data de Julgamento: 31/05/2024, 4ª Turma Cível, Data de Publicação: 01/08/2024) (grifo nosso) Desse modo, considerando a ausência de interesse processual, inviável o acolhimento dos embargos de declaração opostos pela parte, que devem, de plano, ser rejeitados. Sobre o assunto, trago à baila o entendimento colacionado: RECURSO INOMINADO EM EMBARGOS À EXECUÇÃO. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA. IRRESIGNAÇÃO QUANTO À NECESSIDADE DE PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO IDÔNEA PARA LIBERAÇÃO DE VALORES EM CUMPRIMENTO PROVISÓRIO. REJEIÇÃO LIMINAR PELA AUSÊNCIA DE GARANTIA DO JUÍZO . INSURGÊNCIA DA ORA EMBARGANTE. RECLAMO PREJUDICADO. RECURSO INTERPOSTO AOS AUTOS PRINCIPAIS JÁ JULGADO POR ESTE COLEGIADO. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO CONVERTIDO EM CUMPRIMENTO DEFINITIVO DE SENTENÇA . PERDA DO OBJETO DO PRESENTE RECURSO. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL. ART. 932, III, CPC . RECURSO NÃO CONHECIDO. (TJSC, Recurso Inominado n. 0005082-53.2016 .8.24.0019, de Concórdia, rel. Juliano Serpa, Terceira Turma de Recursos - Chapecó, j . 31-05-2019). (TJ-SC - Recurso Inominado: 0005082-53.2016.8 .24.0019, Relator.: Juliano Serpa, Data de Julgamento: 31/05/2019, Terceira Turma de Recursos - Chapecó) (grifo nosso) TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ 20ª CÂMARA CÍVEL Recurso : 0061377-14.2024.8.16 .0000 AI Classe processual : Agravo de Instrumento Assunto principal : Pagamento Agravante : EAO EMPREENDIMENTOS AGROPECUARIOS E ORGANIZACOES LTDA. Agravada : AGROPECUÁRIA E MINERAÇÃO LAGOA ALTA LTDA. Ementa: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO DA DECISÃO QUE RECEBEU PEDIDO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA COMO PROVISÓRIO . CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA CONVERTIDO EM DEFINITIVO. PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO RECURSAL. RECURSO NÃO CONHECIDO. I . CASO EM EXAME 1. Agravo de instrumento da decisão que recebeu o pedido da credora como cumprimento provisório de sentença. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2 . A questão em discussão consiste em saber se o agravo de instrumento deve ser conhecido ou não, considerando a perda de objeto do recurso em razão da conversão do cumprimento de sentença de provisório para definitivo. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. O cumprimento de sentença, recebido como provisório, foi convertido em definitivo, tornando prejudicado o julgamento do recurso . 4. O relator não conheceu do recurso por ser prejudicado o seu objeto, conforme o CPC e o RITJPR. IV. DISPOSITIVO E TESE 5 . Recurso não conhecido, pois prejudicado o seu objeto. _________ Dispositivos relevantes citados: CPC, art. 932, inc. III; RITJPR, art . 182, inc. XIX. 1. RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento da decisão que recebeu o pedido da credora- agravante como cumprimento provisório de sentença (mov . 11.1), proferida nos autos do processo n. 0026240-26.2024 .8.16.0014. Nos autos de Apelação Cível n . 0031708-39.2022.8.16 .0014 certificou-se o trânsito em julgado do acórdão proferido em razão do julgamento do referido recurso (mov. 39 e 48). Observando-se o RITJPR, art. 111, inc . II, o recurso foi distribuído à 20ª Câmara Cível. É o relatório. 2. FUNDAMENTAÇÃO Nos termos do CPC, art . 932, inc. III, incumbe ao relator “não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida”. Da análise do processo originário verifica-se que o cumprimento de sentença, recebido como provisório, foi convertido em definitivo (mov. 79 .1 – 1º grau). Posto isso, resta prejudicado o julgamento deste recurso, ante a perda de seu objeto. 3. DISPOSITIVO Ante o exposto, com fulcro no CPC, art . 932, inc. III, cumulado com o RITJPR, art. 182, inc. XIX, deixa-se de conhecer deste recurso, porque prejudicado o seu objeto . Comunique-se o teor desta decisão ao Juízo de origem. Intimem-se. Demais diligências necessárias. Curitiba (PR), data de inserção no sistema Projudi . Des. Fábio Marcondes Leite, relator (TJ-PR 00613771420248160000 Londrina, Relator.: Fabio Marcondes Leite Desembargador, Data de Julgamento: 13/04/2025, 20ª Câmara Cível, Data de Publicação: 13/04/2025) 2. DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA (ID 193622789) Por sua vez, arguiu o embargante/exequente MARACANA PARTICIPACOES E ADMINISTRACAO DE BENS LIMITADA a existência de contradição na decisão acostada ao ID 192743242, que condicionou a análise dos requerimentos elencados pelas partes ao trânsito em julgado do acórdão sob o ID 192271567. Sem delongas, verifico que o pleito embargante merece acolhimento, porquanto, ao negar provimento ao recurso interposto pela parte executada, o e. TJMT consignou não haver nulidade que enseje a desconstituição do cumprimento de sentença, salientando ser possível o prosseguimento concomitante deste e do procedimento de liquidação da parte ilíquida. No mais, nada se alterou em relação aos demais pontos suscitados pelo agravante. Saliento ainda que, não obstante o julgado não tenha transitado em julgado, em sede embargos de declaração, o Tribunal rejeitou o recurso oposto pelo executado. Veja-se: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE MEDIANTE CAUÇÃO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO. AUSÊNCIA DE VÍCIOS NO ACÓRDÃO. EMBARGOS REJEITADOS. I. CASO EM EXAME 1. Embargos de Declaração opostos contra acórdão que negou provimento ao Agravo de Instrumento interposto contra decisão que determinou a expedição de mandado de reintegração de posse, mediante caução, no âmbito de Cumprimento Provisório de Sentença proferida em Ação de Rescisão Contratual cumulada com Reintegração de Posse e Indenização por Perdas e Danos. O embargante sustenta omissão no acórdão por este ter mantido a decisão agravada com base nos mesmos fundamentos, sem examinar, segundo alega, todas as teses deduzidas. Requereu, ainda, o prequestionamento dos arts. 513 e 780 do CPC. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO 2. Há duas questões em discussão: (i) verificar se o acórdão impugnado incorreu em omissão ao manter a decisão agravada com fundamentos idênticos, sem examinar as alegações do embargante; (ii) definir se é cabível o prequestionamento de dispositivos legais em Embargos de Declaração sem a presença de vícios previstos no art. 1.022 do CPC. III. RAZÕES DE DECIDIR 3. Embargos de Declaração não se prestam à rediscussão do mérito da decisão judicial, sendo cabíveis apenas nos casos de obscuridade, contradição, omissão ou erro material, nos termos do art. 1.022 do CPC. 4. O acórdão impugnado examinou adequadamente os fundamentos da decisão agravada e enfrentou os argumentos apresentados, apenas concluindo de forma diversa da pretensão do embargante. 5. A repetição dos fundamentos da decisão agravada pelo acórdão não configura omissão, desde que a análise tenha sido feita de forma motivada e completa, como ocorreu no caso. 6. O prequestionamento não constitui finalidade autônoma dos Embargos de Declaração e não se admite sua utilização quando ausente qualquer dos vícios legais. IV. DISPOSITIVO E TESE 9. Embargos de Declaração rejeitados. Tese de julgamento: 1. Embargos de Declaração não se prestam à rediscussão do mérito nem ao prequestionamento de matéria já examinada. 2. A repetição dos fundamentos da decisão agravada no acórdão não caracteriza omissão quando os argumentos das partes são devidamente analisados. 3. O prequestionamento pressupõe a existência de vícios previstos no art. 1.022 do CPC, não sendo admissível como finalidade autônoma dos Embargos de Declaração. Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 1.022, 509, § 1º, 513 e 780. Jurisprudência relevante citada: TJMT, ED 1002913-18.2024.8.11.0000, Rel. Des. Rubens de Oliveira Santos Filho, 4ª Câmara de Direito Privado, j. 26.02.2025, DJE 26.02.2025. (N.U 1003701-95.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, RUBENS DE OLIVEIRA SANTOS FILHO, Vice-Presidência, Julgado em 18/05/2025, Publicado no DJE 18/05/2025) Ademais, embora a parte executada tenha interposto recurso especial em face da decisão supramencionada, até o presente momento, não houve admissão ao expediente recursal, pelo que se verifica em consulta aos andamentos processuais pertinentes. De mais a mais, como se sabe, tanto o Recurso Especial, quanto o Recurso Extraordinário não possuem efeito suspensivo automático e sua concessão depende de requerimento formulado pela parte interessada e deferimento pelo julgador competente, atento ao exposto no art. 1029, §5º, do CPC, situação não averiguada, por ora, in casu. Logo, viável acolher a pretensão recursal encartada ao ID 193622789, para determinar o regular prosseguimento do feito. Sobre o assunto, trago à baila os entendimentos colacionados: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE EFEITO SUSPENSIVO AUTOMÁTICO . INDEVIDA SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO. DECISÃO REVOGADA. 1. Considerando que os Recursos Interpostos perante os Tribunais Superiores (STF e STJ) não possuem efeito suspensivo automático, há que ser revogada a decisão que determinou a suspensão do cumprimento provisório de sentença, em virtude de estar pendente de julgamento agravo em recurso especial, bem como sobre suposta natureza satisfativa do pedido .RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-GO - Agravo de Instrumento: 5050401-93.2024.8 .09.0051 GOIÂNIA, Relator.: Des(a). Algomiro Carvalho Neto, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: (S/R) DJ) AÇÃO DE EXECUÇÃO CONTRA DEVEDOR SOLVENTE – AGRAVO DE INSTRUMENTO - Irresignação com relação à decisão que determinou que se aguardasse o trânsito em julgado do agravo de instrumento interposto contra a decisão que rejeitou a exceção de pré-executividade para a posterior apreciação do pedido de penhora de veículo formulado pela exequente – Acolhimento – O agravo de instrumento foi recebido com efeito suspensivo e posteriormente foi negado provimento ao recurso – Efeito suspensivo revogado – Decisão atacada que volta a ser plenamente eficaz – Desnecessário que se aguarde o trânsito em julgado do referido acórdão para que a execução prossiga – Interposição de recurso especial que não tem o condão de suspender a execução – Decisão reformada. Recurso provido. (TJ-SP 21520967320178260000 SP 2152096-73.2017 .8.26.0000, Relator.: Marino Neto, Data de Julgamento: 06/11/2017, 11ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 06/11/2017) (grifo nosso). DISPOSITIVO. Ante o exposto, NÃO ACOLHO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO de ID 183444842, mantendo a decisão de ID 182317318 incólume. Em contrapartida, ACOLHO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO de ID 193622789, para determinar o regular prosseguimento do feito. Nessa toada, considerando o trânsito em julgado da sentença prolatada nos autos principais, conforme certidão ao ID 185418852, que enseja a conversão do cumprimento provisório de sentença em definitivo; bem como que a execução de título judicial definitivo não depende de caução, ACOLHO o pleito de ID 192341442 e, conseguintemente, DETERMINO o levantamento da averbação de garantia na matrícula do imóvel estabelecida na decisão ao ID 170582640. Oficie-se ao CRI de São José do Rio Preto/SP, a fim de que proceda ao levantamento da averbação da garantia na matrícula do imóvel (ID 174034472 - Pág. 5). Além disso, DEFIRO a expedição de certidão comprobatória de ajuizamento do cumprimento de sentença, nos termos do art. 828 do CPC. Por fim, CUMPRA-SE a decisão prolatada ao ID 168746032, expedindo-se mandado de reintegração de posse do imóvel rural descrito na escritura pública acostada aos autos nº 0001495-09.2013.8.11.0013 (ID 38071684 - Pág. 29/46), em favor do exequente e em desfavor do executado, para desocupação do imóvel no prazo máximo de 30 (trinta) dias. Saliento que a medida já não depende da caução exigida naquela oportunidade. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se, expedindo o necessário. À secretaria, para providências. (assinado digitalmente) Ítalo Osvaldo Alves da Silva Juiz de Direito

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Evandro Luis Jahn x Evandro Luis Jahn

ID: 325969361

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara Criminal Classe: AGRAVO DE EXECUçãO PENAL Nº Processo: 1002913-81.2025.8.11.0000

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

EVANDRO LUIS JAHN

Polo Passivo:

EVANDRO LUIS JAHN

Acórdão

Advogados:

TATIANE FERREIRA DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002913-81.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL (413) Assunto: [Pena Privativa de Liberdade] Relator: Des(a). J… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002913-81.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL (413) Assunto: [Pena Privativa de Liberdade] Relator: Des(a). JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES Turma Julgadora: [DES(A). JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES, DES(A). PAULO SERGIO CARREIRA DE SOUZA, DES(A). RUI RAMOS RIBEIRO] Parte(s): [EVANDRO LUIS JAHN - CPF: 026.593.471-07 (AGRAVANTE), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (AGRAVADO), EVANDRO LUIS JAHN - CPF: 026.593.471-07 (AGRAVADO), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (AGRAVANTE), TATIANE FERREIRA DA SILVA - CPF: 024.904.261-41 (ADVOGADO), TATIANE FERREIRA DA SILVA - CPF: 024.904.261-41 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU PARCIALMENTE O RECURSO. EMENTA DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. PLEITO MINISTERIAL. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA REINCIDÊNCIA SOBRE A TOTALIDADE DAS CONDENAÇÕES. IMPOSSIBILIDADE. UNIFICAÇÃO DE PENAS POR CRIMES COMUNS E HEDIONDO. INDIVIDUALIZAÇÃO DO CÁLCULO EXECUTIVO. PLEITO DEFENSIVO. APLICAÇÃO DA FRAÇÃO DE 40%. POSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA GENÉRICA. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO E PLEITO DEFENSIVO PROVIDO. I. Caso em exame: 1. Recursos de Agravo em Execução Penal interpostos, respectivamente, pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso e pelo reeducando contra decisão do Juízo da 1ª Vara de Lucas do Rio Verde-MT, nos autos da execução penal n.º 0005575-12.2016.8.11.0045. II. Questão em discussão: 2. Há duas questões em discussão: (I) definir se, na execução unificada de penas por crimes comuns e por crime hediondo, deve ser aplicada fração única sobre a totalidade da pena em razão da reincidência do apenado; (II) estabelecer se o reeducando, na condição de reincidente genérico, faz jus à aplicação da fração de 40% para fins de progressão de regime no crime de tráfico de drogas. III. Razões de decidir: 3. A unificação das penas não autoriza a aplicação de uma única fração para progressão de regime sobre a totalidade das condenações, devendo ser observadas as particularidades de cada delito, conforme previsto no art. 112 da LEP. A norma estabelece frações distintas, conforme a natureza do crime (comum ou hediondo) e a condição subjetiva do apenado (primário, reincidente genérico ou específico), o que impõe o cálculo individualizado por condenação. 4. A imposição de fração única sobre todas as condenações, inclusive por crimes comuns, viola o princípio constitucional da individualização da pena (CF/1988, art. 5º, XLVI), ao estender efeitos penais próprios dos crimes hediondos às demais infrações, contrariando a mens legislatoris da Lei nº 13.964/2019. 5. Quanto à fração aplicável ao crime de tráfico, sendo o apenado reincidente genérico, sem condenação anterior por crime hediondo ou equiparado, não se configura a reincidência específica exigida para aplicação da fração de 3/5. Dessa forma, deve ser observada a fração de 40%, nos termos do art. 112, inciso V, da Lei de Execuções Penais. IV. Dispositivo e tese: Recurso ministerial desprovido e pleito defensivo provido. Tese de julgamento: “A progressão de regime nas execuções unificadas deve observar as frações legais individualmente aplicáveis a cada condenação, conforme a natureza do delito e a condição subjetiva do apenado.” “A unificação das penas não autoriza a aplicação de fração única para progressão de regime, sob pena de violação ao princípio da individualização da pena.” “O apenado reincidente genérico condenado por crime hediondo ou equiparado faz jus à aplicação da fração de 40% (quarenta por cento) para progressão de regime, conforme art. 112, inciso V, da Lei de Execuções Penais.” Dispositivos relevantes citados: CF/1988, arts. 5º, XL e XLVI; LEP, art. 112, incisos I a VIII; CP, art. 83, II. Jurisprudências relevantes citadas: (REsp n. 2.048.662/SC, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 17/12/2024, DJEN de 23/12/2024.); (N.U 1009114-89.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 22/04/2025, Publicado no DJE 25/04/2025); (N.U 1003593-66.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, HELIO NISHIYAMA, Quarta Câmara Criminal, Julgado em 05/03/2025, Publicado no DJE 07/03/2025); (N.U 1008895-76.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, RUI RAMOS RIBEIRO, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025); (N.U 1009201-45.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, WESLEY SANCHEZ LACERDA, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025). RELATÓRIO EXMO. SR. DES. JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES (RELATOR) Egrégia Câmara: Trata-se de Recursos de Agravo em Execução Penal, interpostos pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E EVANDRO LUIS JAHN, contra decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara de Lucas do Rio Verde-MT, nos autos do Processo Executivo de Pena nº 0005575-12.2016.8.11.0045. Em suas razões, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso almeja, primeiramente, a extensão dos efeitos da reincidência sobre a totalidade das condenações e, consequentemente, aplicar a fração de 1/2 para o livramento condicional sobre a totalidade das penas por crimes comuns pelo qual o reeducando restou condenado. Pugnou, também, pela retificação do cálculo de pena, inserindo-se a fração de 2/3 para o livramento condicional incidente sobre a pena da guia executória n.º 3135-72.2018.811.0045, haja vista a condição de reincidente genérico do recorrido. A Defesa do reeducando Evandro Luis Jahn, em suas razões recursais, requereu a aplicação da norma penal mais benéfica, com a fixação do percentual de 40% (quarenta por cento) sobre a pena privativa de liberdade constante na Guia de Execução n.º 0003135-72.2018.8.11.0045, para fins de progressão de regime, nos termos do art. 112, inciso V, da Lei de Execução Penal. Em contrarrazões, a Defesa técnica do apenado manifestou-se pelo improvimento do recurso ministerial (ID n. 266509785 – pág. 81/85). O Ministério Público Estadual, por sua vez, instado a apresentar suas contrarrazões ao recurso defensivo, manifestou-se pelo desprovimento do recurso (ID n. 266509785 – pág. 85/94). Ao exercer o Juízo de retratação, o Magistrado singular manteve na íntegra o decisum objurgado (ID n. 266509785 – pág. 100/101). A Procuradoria-Geral de Justiça, por meio da eminente Procuradora de Justiça Josane Fátima de Carvalho Guariente, manifestou pelo provimento dos recursos interpostos, reformando a sentença (ID n. 275671370), sintetizando com a seguinte ementa: “Síntese Ministerial: Recursos de Agravo em Execução Penal. Decisão que determinou a retificação do cálculo, a fim de que fosse adotada a fração de 3/5, para fins de progressão de regime, em relação à condenação pelo delito de tráfico de drogas, levando em consideração a condição de reincidente do sentenciado. Em contrapartida, deixou de reconhecer tal condição reincidência do recuperando no tocante às condenações anteriores por delitos de natureza comum, vez que não reconhecida reincidência do recuperando no momento da prolação da sentença condenatória, não cabendo ao Juízo da Execução Penal.1.Recurso do Ministério Público. Sustenta a tese de que a reincidência é condição subjetiva do sentenciado, e que, uma vez adquirida, se estende sobre todas as condenações.2.Recurso da Defesa. Irresignação quanto a aplicação da fração de 40% quanto ao crime de tráfico de drogas – tratando o agravante como se reincidente específico fosse. PROVIMENTO DE AMBOS RECURSOS. Necessidade de reforma da decisão por dois motivos: a) a reincidência é condição subjetiva do apenado e, uma vez adquirida, deve ser considerada a fração corresponde ao reincidente para livramento condicional, com relação à soma total das penas, mesmo que em relação a algumas não seja reincidente. Tema 1.208 do Recurso Repetitivo, STJ: “o juiz da execução pode promover a retificação do atestado de pena para constar a reincidência, com todos os consectários daí decorrentes, ainda que não esteja reconhecida expressamente na sentença penal condenatória transitada em julgado”. Este entendimento, vale dizer, “decorre sobretudo do princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, o qual também incide na fase de execução da pena, pois nessa etapa da deve-se levar em conta o perfil subjetivo do condenado”. Mesma linha de intelecção adotada pelo Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso em seus julgados; b)trata-se de reincidente genérico, razão pela qual é irrefutável a incidência retroativa do art. 112, inciso V, da LEP, de modo a ser observada a fração de 2/5, e não mais de 3/5, para fins de progressão de regime. O parecer é pelo provimento de ambos os recursos.” É o relatório. VOTO Egrégia Câmara: Exsurge das anotações constantes no Sistema Eletrônico de Execução Unificado – SEEU que o agravante Evandro Luiz Jahn cumpre pena total unificada de 12 (doze) anos e 08 (oito) meses de reclusão, em decorrência das seguintes condenações: 1. Ação Penal nº 0002990-84.2016.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 06 (seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, pela prática dos delitos tipificados nos art. 157, §2º, incisos I e II, c/c art. 14, inciso II e no art. 157, §2º, incisos I e II, por quatro vezes, na forma do artigo 71, caput, todos do Código Penal, com a data da infração, em 12/05/2016 e o trânsito em julgado, em 20/02/2017. 2. Ação Penal nº 0007511-72.2016.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 01 (um) ano de reclusão, pela prática do delito tipificado no art. 155, caput, do Código Penal, com a data da infração, em 26/11/2016 e trânsito em julgado, em 06/03/2017. 3. Ação Penal nº 0003135-72.2018.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 05 (cinco) anos reclusão, pela prática do delito tipificado no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006, com a data da infração, em 11/04/2018 e trânsito em julgado, em 24/09/2018. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO O represente ministerial, em suas razões recursais, pugnou, em síntese, pela extensão dos efeitos da reincidência sobre a totalidade das condenações e, consequentemente, aplicar a fração de 1/2 para o livramento condicional sobre a totalidade das penas por crimes comuns pelo qual o reeducando restou condenado. Pugnou, também, pela retificação do cálculo de pena, inserindo-se a fração de 2/3 para o livramento condicional incidente sobre a pena da guia executória n.º 3135-72.2018.811.0045, haja vista a condição de reincidente genérico do recorrido. Contudo, o pleito ministerial não merece acolhimento. O sistema Eletrônico de Execução Unificado - SEEU é a ferramenta que centraliza e uniformiza a gestão de processos de execução penal em todo o país. O sistema foi adotado como política nacional pelo CNJ, em 2016, e é regido pela Resolução 223/2016 e pela Resolução 280/2019. O sistema é projetado para calcular automaticamente o tempo necessário ao cumprimento do requisito objetivo para a progressão de regime, considerando cada condenação de forma separada. Disto se conclui que o órgão administrativo máximo do Poder Judiciário entende de forma contrária à posição adotada pelo agravante e pelo douto Procurador de Justiça, que se baseou no entendimento jurisprudencial majoritário. Em face dessas dissensões, surge a dúvida sobre qual orientação deve ser seguida. Diante dessa divergência, resultante de posições distintas entre órgãos superiores, entendi ser necessário realizar um estudo mais aprofundado da matéria para decidir, não apenas com base no posicionamento de um ou outro órgão superior, mas conforme as leis e a Constituição Federal aplicáveis ao caso. Em face da alteração trazida pela Lei n. 13.964/2019, tenho que o legislador, ao proceder as alterações no art. 112 da LEP, se propôs a estabelecer regras mais severas para o enfrentamento da criminalidade, escalonando, progressivamente, o percentual de cumprimento da pena, para o adimplemento do requisito objetivo para a progressão de regime, levando-se em consideração vários critérios que indiquem maior gravidade, tais como: a natureza do delito; tratar-se de crime hediondo, ou equiparado; ser o réu primário ou reincidente; e ter o crime resultado em morte ou violência. Assim dispõe o art. 112 da LEP: “Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.” Note-se que o legislador contemplou uma diversidade de hipóteses, porém, em nenhum artigo, inciso ou alínea foi estabelecido a aplicação de um percentual único para fins de progressão de regime e ou livramento condicional, ao revés, as alterações promovidas na referida norma evidenciam a necessidade de observância das frações distintas, conforme a natureza do delito, de modo que, nos caso em que há execução simultânea de penas decorrentes de crimes comuns e de crimes hediondos ou equiparados, impõe-se a realização de cálculo segregado, respeitando-se as frações legais específicas de cada tipo penal. Da estrutura da própria redação do dispositivo, infere-se que a mens legislatoris é justamente a aplicação de percentuais diversos, levando-se em consideração a natureza da infração penal (comum ou hediondo/equiparado), a condição pessoal do condenado (primário ou reincidente) e a gravidade do crime (com resultado morte, violência ou grave ameaça), tudo com o objetivo de aprimorar a política criminal e nortear o processo executivo penal pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Dessa maneira, a aplicação de fração única sobre a totalidade das penas, sem distinguir a natureza dos delitos que compõem a condenação, revela-se incompatível com o princípio da individualização da pena, insculpido no art. 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal. Tal prática implica estender ao apenado efeitos jurídicos mais severos próprios dos crimes hediondos ou equiparados a condenações por infrações penais comuns, para as quais não se exige fração tão elevada para a progressão de regime. Isso compromete a coerência do sistema de execução penal, uma vez que ignora as peculiaridades de cada condenação, frustrando o propósito de tratamento penal diferenciado e proporcional à gravidade e natureza do crime praticado. Nessa linha de entendimento, esta Egrégia Corte de Justiça, em decisões recentes, decidiu no seguinte posicionamento: “Tese de julgamento: "A unificação das penas para fins executórios não autoriza a aplicação de fração única para progressão de regime, sendo obrigatória a observância das características individuais de cada condenação". (...)” (N.U 1009114-89.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 22/04/2025, Publicado no DJE 25/04/2025) “III. RAZÕES DE DECIDIR 5. O art. 112 da Lei de Execução Penal, com as alterações da Lei n. 13.964/2019, prevê percentuais distintos para progressão de regime, conforme primariedade, reincidência, hediondez, resultado morte, entre outros fatores. 6. A execução penal exige que as frações sejam aplicadas de forma separada para cada delito, respeitando a sua natureza específica, em atenção à garantia constitucional da individualização da pena. 7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça estabelece que o condenado por crimes hediondos e comuns deve cumprir separadamente os requisitos objetivos exigidos para a progressão de regime, sem aplicação de fração única. 8. O princípio constitucional da individualização da pena e o princípio da proporcionalidade impedem a adoção de um único percentual que abranja indistintamente todos os crimes praticados pelo apenado. (...)” (N.U 1003593-66.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, HELIO NISHIYAMA, Quarta Câmara Criminal, Julgado em 05/03/2025, Publicado no DJE 07/03/2025) Portanto, ao se analisar os requisitos para a progressão de regime, não basta considerar apenas a condição pessoal do apenado – se primário, reincidente ou reincidente específico. Impõe-se, ainda, a observância das balizas legais estabelecidas no artigo 112 da Lei de Execução Penal, as quais determinam a aplicação de frações distintas conforme a natureza e gravidade do crime. A norma em questão estabelece uma gradação objetiva, que leva em consideração: (I) se o crime é comum ou hediondo (ou equiparado), (II) se foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, e (III) se resultou ou não em morte. Cada uma dessas circunstâncias atrai, legalmente, frações diversas de cumprimento da pena para fins de progressão de regime, de modo a preservar os princípios constitucionais da individualização da pena, da legalidade e da proporcionalidade. Assim, ao Poder Judiciário não é dado aplicar, de forma genérica ou indistinta, a fração única sobre a totalidade da pena, sob pena de incorrer em desrespeito à vontade expressa do legislador e em indevida ampliação dos efeitos jurídicos de uma condenação, notadamente quando esta não envolve crime hediondo ou cometido com violência grave. Tal interpretação está em plena consonância com a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, que tem reiteradamente reconhecido que, nos casos de unificação ou execução de penas decorrentes de crimes de naturezas distintas, devem ser observadas, de forma individualizada, as frações legais previstas para cada tipo de infração penal. Essa orientação visa assegurar a coerência do sistema de execução penal, bem como a observância dos direitos fundamentais do apenado. Confira-se: “(...) 4. Não há vedação à aplicação de frações distintas para progressão de regime em condenações por crimes comuns e hediondos, mesmo que cumpridas simultaneamente, pois a unificação das penas para fins executórios não impede que cada delito seja tratado de forma individualizada, conforme sua natureza e a legislação aplicável. (...)” (REsp n. 2.048.662/SC, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 17/12/2024, DJEN de 23/12/2024.) De igual modo, no que se refere ao livramento condicional, verifica-se, a partir da leitura do artigo 83, inciso II, do Código Penal, bem como da redação anterior do artigo 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90, que em nenhum momento se determina a aplicação de fração única sobre a totalidade da pena imposta, especialmente quando esta decorre de condenações por crimes de natureza diversa. Vejamos: “Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;” “Artigo 2º, § 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.” Diante do exposto, concluo que, em respeito ao princípio da individualização da pena e em conformidade com a sistemática prevista no art. 112 da Lei de Execução Penal, impõe-se a aplicação das frações legais de forma individualizada, de acordo com a natureza de cada infração penal. Tal providência preserva a coerência e racionalidade do sistema de execução penal, além de assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais do apenado. Por essas razões, mantenho o posicionamento adotado pelo Juízo da instância singela. RECURSO DA DEFENSORIA PÚBLICA A Defesa do apenado, por sua vez, pleiteou a reforma da decisão, a fim de que seja reconhecida a aplicação das frações mais benéfica de 2/5 (40%) para fins de progressão de regime prisional, no que se refere à condenação pelo crime de tráfico de drogas. A pretensão merece acolhimento. Com a entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o artigo 112 da Lei de Execução Penal sofreu importantes alterações, passando a estabelecer percentuais objetivos de cumprimento de pena para a concessão da progressão de regime, de acordo com a natureza do crime e a condição do apenado quanto à reincidência. O inciso V do referido dispositivo prevê que, para os apenados primários condenados por crime hediondo ou equiparado, a progressão ocorrerá após o cumprimento de 40% (quarenta por cento) da pena. Por sua vez, o inciso VII determina a aplicação da fração de 60% (sessenta por cento) somente aos reincidentes na prática de crime hediondo ou equiparado, ou seja, àqueles que ostentam reincidência específica. No caso concreto, embora o agravante não seja primário, não se verifica nos autos qualquer condenação anterior por crime hediondo ou equiparado que configure reincidência específica. Suas condenações anteriores referem-se a delitos contra o patrimônio, sendo, portanto, de natureza comum. Diante disso, não é possível exigir o cumprimento da fração de 3/5 (60%), por ausência do requisito legal de reiteração criminosa específica. Destarte, deve prevalecer a fração de 40% (quarenta por cento), com fundamento no princípio do favor rei e na retroatividade da lei penal mais benéfica, nos termos do art. 5º, inciso XL, da Constituição da República, aplicável inclusive aos casos anteriores à vigência da Lei n.º 13.964/2019. Este é o entendimento desta Egrégia Corte de Justiça: “(...) 2. Nos termos da jurisprudência firmada no julgamento do Tema 1.084 dos recursos repetitivos pelo Superior Tribunal de Justiça, deve ser aplicado o percentual de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime prisional aos condenados por crimes hediondos ou equiparados que ostentem a condição de reincidentes genéricos. 3. Considerando que o Agravante é reincidente genérico, tendo sido condenado inicialmente por roubo majorado e, posteriormente, por tráfico de drogas, delito este equiparado a hediondo, é indevida a aplicação da fração de 3/5 (sessenta por cento) para progressão regimental. (...)” (N.U 1008895-76.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, RUI RAMOS RIBEIRO, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025) “(...) 3. Constatada a inexistência de reincidência específica em crime hediondo, impõe-se a aplicação da fração de 40%, por analogia in bonam partem, conforme fixado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema 1.169 da Repercussão Geral. (...)” (N.U 1009201-45.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, WESLEY SANCHEZ LACERDA, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025) Dessa forma, deve ser reconhecida a aplicação da fração de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime em relação à condenação pela prática de crime equiparado a hediondo (tráfico de drogas), nos termos do inciso V do art. 112 da Lei de Execuções Penais. Ante o exposto, em parcial consonância com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, PROVEJO PARCIALMENTE o presente agravo de execução interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO e pela DEFENSORIA PÚBLICA, para tão somente, aplicar a fração de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime, conforme proposto pela Defesa do recuperando. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 08/07/2025

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Evandro Luis Jahn x Evandro Luis Jahn

ID: 325969368

Tribunal: TJMT Órgão: Segunda Câmara Criminal Classe: AGRAVO DE EXECUçãO PENAL Nº Processo: 1002913-81.2025.8.11.0000

Data de Disponibilização: 15/07/2025

Polo Ativo:

EVANDRO LUIS JAHN

Polo Passivo:

EVANDRO LUIS JAHN

Acórdão

Advogados:

TATIANE FERREIRA DA SILVA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002913-81.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL (413) Assunto: [Pena Privativa de Liberdade] Relator: Des(a). J… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL Número Único: 1002913-81.2025.8.11.0000 Classe: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL (413) Assunto: [Pena Privativa de Liberdade] Relator: Des(a). JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES Turma Julgadora: [DES(A). JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES, DES(A). PAULO SERGIO CARREIRA DE SOUZA, DES(A). RUI RAMOS RIBEIRO] Parte(s): [EVANDRO LUIS JAHN - CPF: 026.593.471-07 (AGRAVANTE), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (AGRAVADO), EVANDRO LUIS JAHN - CPF: 026.593.471-07 (AGRAVADO), MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (AGRAVANTE), TATIANE FERREIRA DA SILVA - CPF: 024.904.261-41 (ADVOGADO), TATIANE FERREIRA DA SILVA - CPF: 024.904.261-41 (ADVOGADO)] A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO, por meio da Turma Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, PROVEU PARCIALMENTE O RECURSO. EMENTA DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. PLEITO MINISTERIAL. EXTENSÃO DOS EFEITOS DA REINCIDÊNCIA SOBRE A TOTALIDADE DAS CONDENAÇÕES. IMPOSSIBILIDADE. UNIFICAÇÃO DE PENAS POR CRIMES COMUNS E HEDIONDO. INDIVIDUALIZAÇÃO DO CÁLCULO EXECUTIVO. PLEITO DEFENSIVO. APLICAÇÃO DA FRAÇÃO DE 40%. POSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA GENÉRICA. RECURSO MINISTERIAL DESPROVIDO E PLEITO DEFENSIVO PROVIDO. I. Caso em exame: 1. Recursos de Agravo em Execução Penal interpostos, respectivamente, pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso e pelo reeducando contra decisão do Juízo da 1ª Vara de Lucas do Rio Verde-MT, nos autos da execução penal n.º 0005575-12.2016.8.11.0045. II. Questão em discussão: 2. Há duas questões em discussão: (I) definir se, na execução unificada de penas por crimes comuns e por crime hediondo, deve ser aplicada fração única sobre a totalidade da pena em razão da reincidência do apenado; (II) estabelecer se o reeducando, na condição de reincidente genérico, faz jus à aplicação da fração de 40% para fins de progressão de regime no crime de tráfico de drogas. III. Razões de decidir: 3. A unificação das penas não autoriza a aplicação de uma única fração para progressão de regime sobre a totalidade das condenações, devendo ser observadas as particularidades de cada delito, conforme previsto no art. 112 da LEP. A norma estabelece frações distintas, conforme a natureza do crime (comum ou hediondo) e a condição subjetiva do apenado (primário, reincidente genérico ou específico), o que impõe o cálculo individualizado por condenação. 4. A imposição de fração única sobre todas as condenações, inclusive por crimes comuns, viola o princípio constitucional da individualização da pena (CF/1988, art. 5º, XLVI), ao estender efeitos penais próprios dos crimes hediondos às demais infrações, contrariando a mens legislatoris da Lei nº 13.964/2019. 5. Quanto à fração aplicável ao crime de tráfico, sendo o apenado reincidente genérico, sem condenação anterior por crime hediondo ou equiparado, não se configura a reincidência específica exigida para aplicação da fração de 3/5. Dessa forma, deve ser observada a fração de 40%, nos termos do art. 112, inciso V, da Lei de Execuções Penais. IV. Dispositivo e tese: Recurso ministerial desprovido e pleito defensivo provido. Tese de julgamento: “A progressão de regime nas execuções unificadas deve observar as frações legais individualmente aplicáveis a cada condenação, conforme a natureza do delito e a condição subjetiva do apenado.” “A unificação das penas não autoriza a aplicação de fração única para progressão de regime, sob pena de violação ao princípio da individualização da pena.” “O apenado reincidente genérico condenado por crime hediondo ou equiparado faz jus à aplicação da fração de 40% (quarenta por cento) para progressão de regime, conforme art. 112, inciso V, da Lei de Execuções Penais.” Dispositivos relevantes citados: CF/1988, arts. 5º, XL e XLVI; LEP, art. 112, incisos I a VIII; CP, art. 83, II. Jurisprudências relevantes citadas: (REsp n. 2.048.662/SC, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 17/12/2024, DJEN de 23/12/2024.); (N.U 1009114-89.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 22/04/2025, Publicado no DJE 25/04/2025); (N.U 1003593-66.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, HELIO NISHIYAMA, Quarta Câmara Criminal, Julgado em 05/03/2025, Publicado no DJE 07/03/2025); (N.U 1008895-76.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, RUI RAMOS RIBEIRO, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025); (N.U 1009201-45.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, WESLEY SANCHEZ LACERDA, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025). RELATÓRIO EXMO. SR. DES. JORGE LUIZ TADEU RODRIGUES (RELATOR) Egrégia Câmara: Trata-se de Recursos de Agravo em Execução Penal, interpostos pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL E EVANDRO LUIS JAHN, contra decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara de Lucas do Rio Verde-MT, nos autos do Processo Executivo de Pena nº 0005575-12.2016.8.11.0045. Em suas razões, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso almeja, primeiramente, a extensão dos efeitos da reincidência sobre a totalidade das condenações e, consequentemente, aplicar a fração de 1/2 para o livramento condicional sobre a totalidade das penas por crimes comuns pelo qual o reeducando restou condenado. Pugnou, também, pela retificação do cálculo de pena, inserindo-se a fração de 2/3 para o livramento condicional incidente sobre a pena da guia executória n.º 3135-72.2018.811.0045, haja vista a condição de reincidente genérico do recorrido. A Defesa do reeducando Evandro Luis Jahn, em suas razões recursais, requereu a aplicação da norma penal mais benéfica, com a fixação do percentual de 40% (quarenta por cento) sobre a pena privativa de liberdade constante na Guia de Execução n.º 0003135-72.2018.8.11.0045, para fins de progressão de regime, nos termos do art. 112, inciso V, da Lei de Execução Penal. Em contrarrazões, a Defesa técnica do apenado manifestou-se pelo improvimento do recurso ministerial (ID n. 266509785 – pág. 81/85). O Ministério Público Estadual, por sua vez, instado a apresentar suas contrarrazões ao recurso defensivo, manifestou-se pelo desprovimento do recurso (ID n. 266509785 – pág. 85/94). Ao exercer o Juízo de retratação, o Magistrado singular manteve na íntegra o decisum objurgado (ID n. 266509785 – pág. 100/101). A Procuradoria-Geral de Justiça, por meio da eminente Procuradora de Justiça Josane Fátima de Carvalho Guariente, manifestou pelo provimento dos recursos interpostos, reformando a sentença (ID n. 275671370), sintetizando com a seguinte ementa: “Síntese Ministerial: Recursos de Agravo em Execução Penal. Decisão que determinou a retificação do cálculo, a fim de que fosse adotada a fração de 3/5, para fins de progressão de regime, em relação à condenação pelo delito de tráfico de drogas, levando em consideração a condição de reincidente do sentenciado. Em contrapartida, deixou de reconhecer tal condição reincidência do recuperando no tocante às condenações anteriores por delitos de natureza comum, vez que não reconhecida reincidência do recuperando no momento da prolação da sentença condenatória, não cabendo ao Juízo da Execução Penal.1.Recurso do Ministério Público. Sustenta a tese de que a reincidência é condição subjetiva do sentenciado, e que, uma vez adquirida, se estende sobre todas as condenações.2.Recurso da Defesa. Irresignação quanto a aplicação da fração de 40% quanto ao crime de tráfico de drogas – tratando o agravante como se reincidente específico fosse. PROVIMENTO DE AMBOS RECURSOS. Necessidade de reforma da decisão por dois motivos: a) a reincidência é condição subjetiva do apenado e, uma vez adquirida, deve ser considerada a fração corresponde ao reincidente para livramento condicional, com relação à soma total das penas, mesmo que em relação a algumas não seja reincidente. Tema 1.208 do Recurso Repetitivo, STJ: “o juiz da execução pode promover a retificação do atestado de pena para constar a reincidência, com todos os consectários daí decorrentes, ainda que não esteja reconhecida expressamente na sentença penal condenatória transitada em julgado”. Este entendimento, vale dizer, “decorre sobretudo do princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, o qual também incide na fase de execução da pena, pois nessa etapa da deve-se levar em conta o perfil subjetivo do condenado”. Mesma linha de intelecção adotada pelo Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso em seus julgados; b)trata-se de reincidente genérico, razão pela qual é irrefutável a incidência retroativa do art. 112, inciso V, da LEP, de modo a ser observada a fração de 2/5, e não mais de 3/5, para fins de progressão de regime. O parecer é pelo provimento de ambos os recursos.” É o relatório. VOTO Egrégia Câmara: Exsurge das anotações constantes no Sistema Eletrônico de Execução Unificado – SEEU que o agravante Evandro Luiz Jahn cumpre pena total unificada de 12 (doze) anos e 08 (oito) meses de reclusão, em decorrência das seguintes condenações: 1. Ação Penal nº 0002990-84.2016.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 06 (seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, pela prática dos delitos tipificados nos art. 157, §2º, incisos I e II, c/c art. 14, inciso II e no art. 157, §2º, incisos I e II, por quatro vezes, na forma do artigo 71, caput, todos do Código Penal, com a data da infração, em 12/05/2016 e o trânsito em julgado, em 20/02/2017. 2. Ação Penal nº 0007511-72.2016.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 01 (um) ano de reclusão, pela prática do delito tipificado no art. 155, caput, do Código Penal, com a data da infração, em 26/11/2016 e trânsito em julgado, em 06/03/2017. 3. Ação Penal nº 0003135-72.2018.8.11.0045 (Comarca de Lucas do Rio Verde-MT), condenado à pena de 05 (cinco) anos reclusão, pela prática do delito tipificado no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006, com a data da infração, em 11/04/2018 e trânsito em julgado, em 24/09/2018. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO O represente ministerial, em suas razões recursais, pugnou, em síntese, pela extensão dos efeitos da reincidência sobre a totalidade das condenações e, consequentemente, aplicar a fração de 1/2 para o livramento condicional sobre a totalidade das penas por crimes comuns pelo qual o reeducando restou condenado. Pugnou, também, pela retificação do cálculo de pena, inserindo-se a fração de 2/3 para o livramento condicional incidente sobre a pena da guia executória n.º 3135-72.2018.811.0045, haja vista a condição de reincidente genérico do recorrido. Contudo, o pleito ministerial não merece acolhimento. O sistema Eletrônico de Execução Unificado - SEEU é a ferramenta que centraliza e uniformiza a gestão de processos de execução penal em todo o país. O sistema foi adotado como política nacional pelo CNJ, em 2016, e é regido pela Resolução 223/2016 e pela Resolução 280/2019. O sistema é projetado para calcular automaticamente o tempo necessário ao cumprimento do requisito objetivo para a progressão de regime, considerando cada condenação de forma separada. Disto se conclui que o órgão administrativo máximo do Poder Judiciário entende de forma contrária à posição adotada pelo agravante e pelo douto Procurador de Justiça, que se baseou no entendimento jurisprudencial majoritário. Em face dessas dissensões, surge a dúvida sobre qual orientação deve ser seguida. Diante dessa divergência, resultante de posições distintas entre órgãos superiores, entendi ser necessário realizar um estudo mais aprofundado da matéria para decidir, não apenas com base no posicionamento de um ou outro órgão superior, mas conforme as leis e a Constituição Federal aplicáveis ao caso. Em face da alteração trazida pela Lei n. 13.964/2019, tenho que o legislador, ao proceder as alterações no art. 112 da LEP, se propôs a estabelecer regras mais severas para o enfrentamento da criminalidade, escalonando, progressivamente, o percentual de cumprimento da pena, para o adimplemento do requisito objetivo para a progressão de regime, levando-se em consideração vários critérios que indiquem maior gravidade, tais como: a natureza do delito; tratar-se de crime hediondo, ou equiparado; ser o réu primário ou reincidente; e ter o crime resultado em morte ou violência. Assim dispõe o art. 112 da LEP: “Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.” Note-se que o legislador contemplou uma diversidade de hipóteses, porém, em nenhum artigo, inciso ou alínea foi estabelecido a aplicação de um percentual único para fins de progressão de regime e ou livramento condicional, ao revés, as alterações promovidas na referida norma evidenciam a necessidade de observância das frações distintas, conforme a natureza do delito, de modo que, nos caso em que há execução simultânea de penas decorrentes de crimes comuns e de crimes hediondos ou equiparados, impõe-se a realização de cálculo segregado, respeitando-se as frações legais específicas de cada tipo penal. Da estrutura da própria redação do dispositivo, infere-se que a mens legislatoris é justamente a aplicação de percentuais diversos, levando-se em consideração a natureza da infração penal (comum ou hediondo/equiparado), a condição pessoal do condenado (primário ou reincidente) e a gravidade do crime (com resultado morte, violência ou grave ameaça), tudo com o objetivo de aprimorar a política criminal e nortear o processo executivo penal pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Dessa maneira, a aplicação de fração única sobre a totalidade das penas, sem distinguir a natureza dos delitos que compõem a condenação, revela-se incompatível com o princípio da individualização da pena, insculpido no art. 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal. Tal prática implica estender ao apenado efeitos jurídicos mais severos próprios dos crimes hediondos ou equiparados a condenações por infrações penais comuns, para as quais não se exige fração tão elevada para a progressão de regime. Isso compromete a coerência do sistema de execução penal, uma vez que ignora as peculiaridades de cada condenação, frustrando o propósito de tratamento penal diferenciado e proporcional à gravidade e natureza do crime praticado. Nessa linha de entendimento, esta Egrégia Corte de Justiça, em decisões recentes, decidiu no seguinte posicionamento: “Tese de julgamento: "A unificação das penas para fins executórios não autoriza a aplicação de fração única para progressão de regime, sendo obrigatória a observância das características individuais de cada condenação". (...)” (N.U 1009114-89.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, ORLANDO DE ALMEIDA PERRI, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 22/04/2025, Publicado no DJE 25/04/2025) “III. RAZÕES DE DECIDIR 5. O art. 112 da Lei de Execução Penal, com as alterações da Lei n. 13.964/2019, prevê percentuais distintos para progressão de regime, conforme primariedade, reincidência, hediondez, resultado morte, entre outros fatores. 6. A execução penal exige que as frações sejam aplicadas de forma separada para cada delito, respeitando a sua natureza específica, em atenção à garantia constitucional da individualização da pena. 7. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça estabelece que o condenado por crimes hediondos e comuns deve cumprir separadamente os requisitos objetivos exigidos para a progressão de regime, sem aplicação de fração única. 8. O princípio constitucional da individualização da pena e o princípio da proporcionalidade impedem a adoção de um único percentual que abranja indistintamente todos os crimes praticados pelo apenado. (...)” (N.U 1003593-66.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, HELIO NISHIYAMA, Quarta Câmara Criminal, Julgado em 05/03/2025, Publicado no DJE 07/03/2025) Portanto, ao se analisar os requisitos para a progressão de regime, não basta considerar apenas a condição pessoal do apenado – se primário, reincidente ou reincidente específico. Impõe-se, ainda, a observância das balizas legais estabelecidas no artigo 112 da Lei de Execução Penal, as quais determinam a aplicação de frações distintas conforme a natureza e gravidade do crime. A norma em questão estabelece uma gradação objetiva, que leva em consideração: (I) se o crime é comum ou hediondo (ou equiparado), (II) se foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, e (III) se resultou ou não em morte. Cada uma dessas circunstâncias atrai, legalmente, frações diversas de cumprimento da pena para fins de progressão de regime, de modo a preservar os princípios constitucionais da individualização da pena, da legalidade e da proporcionalidade. Assim, ao Poder Judiciário não é dado aplicar, de forma genérica ou indistinta, a fração única sobre a totalidade da pena, sob pena de incorrer em desrespeito à vontade expressa do legislador e em indevida ampliação dos efeitos jurídicos de uma condenação, notadamente quando esta não envolve crime hediondo ou cometido com violência grave. Tal interpretação está em plena consonância com a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, que tem reiteradamente reconhecido que, nos casos de unificação ou execução de penas decorrentes de crimes de naturezas distintas, devem ser observadas, de forma individualizada, as frações legais previstas para cada tipo de infração penal. Essa orientação visa assegurar a coerência do sistema de execução penal, bem como a observância dos direitos fundamentais do apenado. Confira-se: “(...) 4. Não há vedação à aplicação de frações distintas para progressão de regime em condenações por crimes comuns e hediondos, mesmo que cumpridas simultaneamente, pois a unificação das penas para fins executórios não impede que cada delito seja tratado de forma individualizada, conforme sua natureza e a legislação aplicável. (...)” (REsp n. 2.048.662/SC, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 17/12/2024, DJEN de 23/12/2024.) De igual modo, no que se refere ao livramento condicional, verifica-se, a partir da leitura do artigo 83, inciso II, do Código Penal, bem como da redação anterior do artigo 2º, §2º, da Lei nº 8.072/90, que em nenhum momento se determina a aplicação de fração única sobre a totalidade da pena imposta, especialmente quando esta decorre de condenações por crimes de natureza diversa. Vejamos: “Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;” “Artigo 2º, § 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.” Diante do exposto, concluo que, em respeito ao princípio da individualização da pena e em conformidade com a sistemática prevista no art. 112 da Lei de Execução Penal, impõe-se a aplicação das frações legais de forma individualizada, de acordo com a natureza de cada infração penal. Tal providência preserva a coerência e racionalidade do sistema de execução penal, além de assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais do apenado. Por essas razões, mantenho o posicionamento adotado pelo Juízo da instância singela. RECURSO DA DEFENSORIA PÚBLICA A Defesa do apenado, por sua vez, pleiteou a reforma da decisão, a fim de que seja reconhecida a aplicação das frações mais benéfica de 2/5 (40%) para fins de progressão de regime prisional, no que se refere à condenação pelo crime de tráfico de drogas. A pretensão merece acolhimento. Com a entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), o artigo 112 da Lei de Execução Penal sofreu importantes alterações, passando a estabelecer percentuais objetivos de cumprimento de pena para a concessão da progressão de regime, de acordo com a natureza do crime e a condição do apenado quanto à reincidência. O inciso V do referido dispositivo prevê que, para os apenados primários condenados por crime hediondo ou equiparado, a progressão ocorrerá após o cumprimento de 40% (quarenta por cento) da pena. Por sua vez, o inciso VII determina a aplicação da fração de 60% (sessenta por cento) somente aos reincidentes na prática de crime hediondo ou equiparado, ou seja, àqueles que ostentam reincidência específica. No caso concreto, embora o agravante não seja primário, não se verifica nos autos qualquer condenação anterior por crime hediondo ou equiparado que configure reincidência específica. Suas condenações anteriores referem-se a delitos contra o patrimônio, sendo, portanto, de natureza comum. Diante disso, não é possível exigir o cumprimento da fração de 3/5 (60%), por ausência do requisito legal de reiteração criminosa específica. Destarte, deve prevalecer a fração de 40% (quarenta por cento), com fundamento no princípio do favor rei e na retroatividade da lei penal mais benéfica, nos termos do art. 5º, inciso XL, da Constituição da República, aplicável inclusive aos casos anteriores à vigência da Lei n.º 13.964/2019. Este é o entendimento desta Egrégia Corte de Justiça: “(...) 2. Nos termos da jurisprudência firmada no julgamento do Tema 1.084 dos recursos repetitivos pelo Superior Tribunal de Justiça, deve ser aplicado o percentual de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime prisional aos condenados por crimes hediondos ou equiparados que ostentem a condição de reincidentes genéricos. 3. Considerando que o Agravante é reincidente genérico, tendo sido condenado inicialmente por roubo majorado e, posteriormente, por tráfico de drogas, delito este equiparado a hediondo, é indevida a aplicação da fração de 3/5 (sessenta por cento) para progressão regimental. (...)” (N.U 1008895-76.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, RUI RAMOS RIBEIRO, Segunda Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025) “(...) 3. Constatada a inexistência de reincidência específica em crime hediondo, impõe-se a aplicação da fração de 40%, por analogia in bonam partem, conforme fixado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Tema 1.169 da Repercussão Geral. (...)” (N.U 1009201-45.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CRIMINAIS, WESLEY SANCHEZ LACERDA, Primeira Câmara Criminal, Julgado em 23/05/2025, Publicado no DJE 23/05/2025) Dessa forma, deve ser reconhecida a aplicação da fração de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime em relação à condenação pela prática de crime equiparado a hediondo (tráfico de drogas), nos termos do inciso V do art. 112 da Lei de Execuções Penais. Ante o exposto, em parcial consonância com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça, PROVEJO PARCIALMENTE o presente agravo de execução interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO e pela DEFENSORIA PÚBLICA, para tão somente, aplicar a fração de 40% (quarenta por cento) para fins de progressão de regime, conforme proposto pela Defesa do recuperando. É como voto. Data da sessão: Cuiabá-MT, 08/07/2025

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