Resultados para o tribunal: TJMT

Resultados para "1001808-54.2023.5.02.0610" – Página 4 de 4

Juliana Fernandes Pinto x Assist Card Do Brasil Ltda

ID: 261170198

Tribunal: TJMT Órgão: 2º JUIZADO ESPECIAL DE RONDONÓPOLIS Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1001808-60.2025.8.11.0003

Data de Disponibilização: 28/04/2025

Polo Ativo:

JULIANA FERNANDES PINTO

Polo Passivo:

ASSIST CARD DO BRASIL LTDA

Sentença

Advogados:

PEDRO PAULO MENDES DUARTE

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

AGDA CAROLINA CASTILHO SOARES

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE RONDONÓPOLIS SENTENÇA Processo: 1001808-60.2025.8.11.0003. Vistos. Dispensado o relatório, conforme dispõe o artigo 38, da Lei n. 9.099/9… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE RONDONÓPOLIS SENTENÇA Processo: 1001808-60.2025.8.11.0003. Vistos. Dispensado o relatório, conforme dispõe o artigo 38, da Lei n. 9.099/95. Fundamento e decido. Trata-se de reclamação proposta por JULIANA FERNANDES PINTO em face de ASSIST CARD DO BRASIL S/A. De inicio, registro que não há conexão entre estes autos e o processo de nº 1022636-14.2024.8.11.0003, pois, não diversas as partes e já houve prolação de sentença no referido processo, atraindo a hipótese do art. 55, §1º do Código de Processo Civil. Não se trata também de coisa julgada, pois não houve repetição da ação anterior a configurar a hipótese do art. 337, parágrafo 3o do Código de Processo Civil. Constato que as provas apresentadas são suficientes para o deslinde da controvérsia, não há irregularidade a ser saneada, e a reclamação está pronta para cognição exauriente. Nos termos do art. 355, I do Código de Processo Civil, passo ao julgamento antecipado do mérito. Registro que é de consumo a relação em discussão, haja vista que as partes se enquadram nos conceitos de consumidor e fornecedor, conforme disposição dos arts. 2º e 3º da Lei número 8.078/90, de tal sorte que se aplica o regramento do Código de Defesa do Consumidor. A autora alega que no dia 24/08/24 realizou viagem para São Carlos de Bariloche na Argentina, todavia, ao desembarcar foi informada que sua bagagem fora extraviada. Uma vez que suas roupas estavam na mala perdida, e tendo em vista o extremo frio do local, alugou outras roupas até que a bagagem fosse encontrada, o que de fato ocorreu dois dias depois. A autora havia contratado, junto à empresa reclamada, um seguro de viagem, cuja apólice previa que, em caso de extravio de bagagem, haveria reembolso de despesas com roupas e itens de higiene pessoal. Ao acionar o seguro, todavia, teve negada a pretensão de ressarcimento. Em razão de tais fatos, pleiteou a condenação da empresa ré ao reembolso pelas despesas com aluguel de roupas. Pediu também a recomposição aos danos morais que entende ter suportado. A narrativa da exordial e as provas que a amparam, somadas à evidente condição de hipossuficiência técnica da parte autora, ensejam a distribuição dinâmica do ônus da prova, com a inversão deste encargo e imputação à parte reclamada, conforme regra do art. 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor. Para satisfazer o seu encargo probatório, a reclamada apresentou defesa por meio da qual alegou que o evento causador dos alegados danos não está coberto pela apólice contratada. Alegou que informou à segurada, em e-mail de orientações, que, apesar do extravio temporário da bagagem, o reembolso seria para compra de roupas, o aluguel não estaria coberto. Alegou que a autora já recebeu danos materiais e danos morais relativos ao extravio da bagagem nos autos de no 1022636-14.2024.8.11.0003, portanto, nova condenação pelos mesmos fatos causaria enriquecimento indevido. Em análise às teses manifestadas pelas partes, em confronto às provas do processo, verifico que a parte autora trouxe ao processo a apólice de seguro de viagem, o registro de extravio de bagagem junto à companhia aérea, cartões de embarque, recibos e notas fiscais do aluguel de roupas e o e-mail encaminhado pela seguradora, com a negativa de cobertura. Sem citar a fonte, a autora transcreveu o que estaria contido no site oficial da reclamada, no sentido de que, se a bagagem extraviada não fosse localizada em 08 horas, “teria direito a uma indenização de USD 200 para reembolso de itens de primeira necessidade”. Verifico na fl. 89 do contrato de seguro de Id 186128076, que, no caso de reembolso por atraso de bagagem, deverá a segurada comprovar o gasto com compras de artigos de primeira necessidade e itens de higiene pessoal. No item 1.1.2, consta que “O reembolso é limitado às despesas com a compra de artigos básicos de vestuário e de higiene pessoal enquanto durar o atraso”. Não obstante a previsão expressa de que o reembolso é para compras de itens de vestuário, o aviso contido no site da reclamada não informa esta especificidade. Ante a necessidade urgente de roupas para se abrigar do frio, é razoável que a autora preferisse alugar roupas a comprá-las, inclusive se considerarmos que o valor destes itens em região turística tende a ser expressivo. Neste contexto, o desencontro de informações torna injustificável a recusa de reembolso por parte da seguradora. Ocorre que a autora já ajuizou anteriormente, em face da companhia aérea SKY AIRLINE S/A, a ação de no 1022636-14.2024.8.11.0003, na qual teve parcial procedência em pedidos de condenação por danos materiais e morais, conforme transcrevo: Desta feita, concluo pela procedência do pedido de condenação da Reclamada por danos materiais haja vista a apresentação do valor a ser gasto para aquisição de nova bagagem e do valor gasto para aquisição das roupas e calçados, bem como pelo comprovante de pagamento relativo ao despacho das bagagens (Ids. 168131396, 168131401, 168131402 e 168131404). Há erro material na referida sentença, pois, embora declare que o valor foi gasto para compra de roupas e calçados, a autora, naqueles autos, utilizou os mesmos recibos de aluguel de roupas que estão nos Id 181812707 e 181812708. Neste contexto, com o trânsito em julgado da ação de no 1022636-14.2024.8.11.0003 e o pagamento do valor integral da condenação, que compreende os gastos com aluguel de roupas, é de se concluir que a autora não teve prejuízo algum. Na tríade clássica de responsabilização por danos, é necessária a existência simultânea da ação ou omissão, o efetivo dano e o nexo ictiológico que una estes elementos. No caso dos autos, tendo por verdade que a autora foi ressarcida do gasto com aluguel de roupas, não há mais danos materiais a indenizar, assim, deve ser julgado improcedente o pedido de condenação da reclamada por danos materiais. Ademais, uma vez que já houve recebimento dos valores comprovadamente gastos, o acolhimento da pretensão da autora seria compactuar com o enriquecimento sem causa, vedado pelo art. 884 do Código Civil. Por fim, o prejuízo experimentado pela reclamante é eminentemente patrimonial, de pouca monta, e já foi ressarcido em anterior ação judicial, assim, não há indícios de que os danos suportados tenham causado lesão àqueles valores ínsitos à intimidade, moral, honra, e demais bens imateriais protegidos constitucionalmente, motivo pelo qual, deve ser julgado improcedente o pedido de condenação da reclamada por danos morais. Neste sentido: (N.U 1000212-12.2023.8.11.0100, TURMA RECURSAL CÍVEL, ARISTEU DIAS BATISTA VILELLA, Terceira Turma Recursal, Julgado em 06/11/2023, Publicado no DJE 10/11/2023). DISPOSITIVO Ante o exposto, rejeito a preliminar, e, com fundamento no artigo 487, inciso I, do CPC, opino pela IMPROCEDÊNCIA dos pedidos iniciais, extinguindo o feito, com resolução de mérito. Sem custas processuais a teor do disposto no artigo 55 da Lei nº 9.099/95. Após as formalidades e baixas necessárias, arquive-se. Submeto o presente decisum à homologação do Juiz de Direito, nos termos do artigo 40 da Lei 9.099/95. Thiago Milani Juiz Leigo Vistos. Homologo, para que produza seus jurídicos e legais efeitos, o projeto de sentença elaborado pelo Juiz Leigo, na forma do art. 40 da Lei n. 9.099/95. Publique-se eletronicamente. Intime-se eletronicamente Rondonópolis/MT. Wagner Plaza Machado Júnior Juiz de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Processo nº 1001808-38.2023.8.11.0033

ID: 294898573

Tribunal: TJMT Órgão: 1ª VARA DE SÃO JOSÉ DO RIO CLARO Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001808-38.2023.8.11.0033

Data de Disponibilização: 10/06/2025

Polo Ativo:

EMILSON DOS REIS

Polo Passivo:

Intimação

Advogados:

VANIA CONCEICAO DO NASCIMENTO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA VARA DE SÃO JOSÉ DO RIO CLARO Autos: 1001808-38.2023.8.11.0033 Assunto: [Aposentadoria Rural (Art. 48/51), Depoimento, Intimação / Notificação, Híbrida… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO PRIMEIRA VARA DE SÃO JOSÉ DO RIO CLARO Autos: 1001808-38.2023.8.11.0033 Assunto: [Aposentadoria Rural (Art. 48/51), Depoimento, Intimação / Notificação, Híbrida (Art. 48/106)] Autor: EMILSON DOS REIS Requerido: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL SENTENÇA Vistos. 1. Trata-se de ação de concessão de aposentadoria por idade rural, ajuizada por EMILSON DOS REIS em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS. 1.1 Consta na exordial que o autor é lavrador, tendo se dedicado durante toda a sua vida à atividade rural, exercida sob o regime de economia familiar. Alega que sempre viveu do plantio e cultivo de lavouras diversas, como arroz, milho, feijão e mandioca. 1.2 Alega que, em 31/01/2023, requereu administrativamente a aposentadoria por idade junto ao INSS, todavia o pleito foi indeferido sob a justificativa de falta de qualidade como trabalhador rural. 1.3 Com esteio nessas asserções, requereu, a procedência da ação com consequente concessão do benefício da aposentadoria rural por idade. 1.4 A petição inicial foi devidamente recebida (Id. 133422594), oportunidade em que foram deferidos os benefícios da justiça gratuita, bem como se determinou a citação da parte requerida. 1.5 Regularmente citado, o INSS apresentou Contestação e juntou documentos (Id. 138942775). 1.6 A parte autora apresentou impugnação à contestação no Id. 140918369. 1.7 Intimadas para especificarem as provas que pretendem produzir (Id. 156015035), a autora pugnou pela produção de prova testemunhal (Id. 156643331), e a autarquia ré deixou transcorrer o prazo in albis. 1.8 Realizada a audiência de instrução e julgamento, foram ouvidas as testemunhas arroladas (Id. 193787749). 1.9 Relatório de mídias junto ao Id 194232128. Após, os autos vieram conclusos. É o relatório. Fundamento e Decido. 2. Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, passo ao julgamento do processo no estado em que se encontra. 3. O artigo 48 da Lei n. 8.213/91 prevê o benefício da aposentadoria por idade ao segurado que cumprida a carência, completar 65 (sessenta e cinco) anos, se homem; e 60 (sessenta) anos, se mulher. Tais limites de idade são reduzidos em cinco anos para os trabalhadores rurais, segundo o que dispõe o parágrafo primeiro do referido artigo. 3.1 Na aposentadoria rural, a análise da carência deve ser feita observando-se o que dispõem os artigos 142 e 143 da Lei n. 8.213/91, que tratam do período de carência a comprovar, considerando-se o ano em que o segurado implementou o requisito etário e a forma de comprovação deste período contributivo. Esta última se dá pelo exercício de atividade rural, ainda que descontínua, em número de meses idêntico à carência do referido benefício, ou seja, 180 meses (15 anos). 3.2 A comprovação de atividade rurícola em regime de economia familiar deve ser demonstrada por prova: a) documental plena; ou b) pelo início de prova material; e b1) corroborada por prova testemunhal. 3.3 Pois bem. No caso em análise, verifica-se, de logo, que a parte autora preenche o requisito etário. 3.4 O início de prova material da atividade rural da parte autora foi demonstrado pelos documentos acostados à exordial, notadamente: a) Certidão de Casamento, na qual o autor figura com a profissão de tratorista (Id. 133313164); b) Contrato particular de parceria rural firmado entre os períodos de 2006 a 2014 e de 2016 a 2023 (Id. 133313168) e c) anotações constantes na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), nas quais constam vínculos empregatícios em funções ligadas ao labor rural (Id. 133313166). 3.5 Insta salientar que, a CTPS com anotações de trabalho rural da parte autora é considerada prova plena do período nela registrado e início de prova material para o restante do período de carência (REsp 310.264/SP, Rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, DJ 18.02.2002, p. 530; AC 2004.38.03.000757-8/MG, Rel. Desembargadora Federal Neuza Maria Alves Da Silva, Segunda Turma,e-DJF1 p.33 de 17/07/2008, AC 0004262-35.2004.4.01.3800/MG, Rel. Juiz Federal Miguel Ângelo De Alvarenga Lopes, 3ª Turma Suplementar,e-DJF1 p.191 de 02/03/2011). 3.6 Em sede de audiência, a testemunha Sr. Antônio Geraldo da Silva declarou que conhece o Sr. Emilson "do tempo da roça", afirmando que ambos trabalhavam na mesma região rural, sendo que o autor atuava tanto na condução de trator quanto em atividades braçais. Acrescentou que o requerente prestava serviços em diversos sítios da redondeza e que, em todo o tempo em que o conheceu, jamais o viu desempenhando atividade urbana. 3.7 Por sua vez, a testemunha Sra. Maria Marlene Rodrigues da Silva confirmou em Juízo que conhece o autor há longa data, tendo-o visto diversas vezes transitando pela estrada próxima à sua residência, situada em área rural. Relatou que o Sr. Emilson residiu por cerca de 10 (dez) anos no sítio pertencente ao Sr. Célio, onde cultivava horta e realizada trabalhos na lavoura, além de ter trabalhado também no sítio de propriedade da mãe da declarante. Reforçou que o autor sempre exerceu atividades rurícolas, estimando tal labor em aproximadamente 20 (vinte) anos. 3.8 No que tange à alegação de que as anotações de vínculos urbanos constantes na CTPS do autor seriam aptas a descaracterizar sua condição de segurado especial, entendo que tal assertiva não merece prosperar. 3.9 Isso porque a mera existência de registros esparsos e descontínuos de vínculos urbanos, por curtos períodos, não possui o condão de infirmar o robusto conjunto probatório que atesta o exercício predominante e habitual de atividade rural pelo autor. 3.10 Confira-se, a propósito, o seguinte precedente: PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADOR RURAL. INÍCIO RAZOÁVEL DE PROVA MATERIAL. COMPLEMENTAÇÃO POR PROVA TESTEMUNHAL. RECONHECIMENTO. CORREÇÃO MONETÁRIA. [...] 7. A anotação de trabalho urbano, por curto período, da requerente e do cônjuge (14 e 15 meses, respectivamente), descontínuo, não descaracteriza a atividade campesina (fls . 21 e 30). O artigo 39, I, da Lei n. 8213/91 expressamente admite que o exercício da atividade rural, pelo prazo de carência, possa ser de forma descontínua. (TRF-1 - AC: 00391187020174019199, Relator.: DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Data de Julgamento: 21/02/2018, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: 16/04/2018). 3.11 Assim, tendo em vista o conjunto de provas materiais e testemunhais que evidenciam a predominância e continuidade do labor rural desempenhado pelo autor, não há como acolher a tese de descaracterização da sua condição de segurado especial com base em vínculos urbanos isolados. 3.12 Portanto, a parte autora demonstrou o exercício de atividade rural durante o período de carência, mediante início de prova material, complementada com os depoimentos das testemunhas, os quais foram firmes e convergentes no sentido de confirmar o termo inicial da atividade, bem como a característica do labor desenvolvido em regime de economia familiar. 3.13 Sobre o assunto, importa frisar que o caráter de economia familiar encontra-se definido no § 1º, do artigo 11 da Lei n.º 8.213/91, in verbis: Art.11.São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: (...) § 1o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes. 3.14 Com efeito, a parte autora demonstrou o caráter de economia familiar do seu trabalho rural, isto é, que desenvolvia atividade de subsistência, nos meses correspondentes ao período de carência (180 meses). DISPOSITIVO. 4. Diante do exposto, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTE, os pedidos formulados na exordial, e consequentemente, condeno o INSS a implementar o benefício de aposentadoria por idade rural em favor do autor conforme a Lei n.º 8.213/91, a partir de 31/01/2023. 5. Quanto às prestações vencidas desde então, serão devidos (Tema 810 do STF): correção monetária pelo INPC, a partir do vencimento de cada parcela, e juros de mora segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, a contar da citação (art. 1.º-F da Lei n.º 9.494/97, com redação dada pela Lei n.º 11.960/2009). 6. A correção monetária e os juros devem incidir na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal. 7. CONDENO a autarquia requerida ao pagamento das custas e despesas processuais, visto que ao artigo 3°, inciso I, da Lei Estadual n° 7.603/2001 foi dada nova redação pela Lei 11.077/2020, deixando de conferir isenção à União aos processos distribuídos após a sua vigência. 8. Por fim, CONDENO o INSS ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação (valores devidos até a data desta sentença), nos termos da Súmula 111 do STJ e artigo 85, § 2.º, do CPC. 9. Considerando-se a verossimilhança das alegações, demonstrada pela fundamentação da sentença e do perigo da demora - caso a mesma seja submetida ao duplo grau de jurisdição -, pelo caráter alimentar do benefício, e porque fortes os elementos evidenciadores da probabilidade do reconhecimento definitivo do direito postulado (art. 300 do CPC), DEFIRO a tutela provisória de urgência para que seja imediatamente implantado o benefício pretendido, no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência desta Decisão por parte do INSS. 10. Sentença não sujeita ao reexame necessário (art. 496, §3º, I, CPC). 11. Interposto recurso de apelação, dê-se vista à(s) parte(s) recorrida(s) para contrarrazões. Após, independentemente de juízo de admissibilidade, REMETAM-SE os autos ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, nos termos do art. 1.010, § 3º, do Código de Processo Civil 12. Com o trânsito em julgado, aguarde-se a manifestação das partes pelo prazo de 15 (quinze) dias e, sem a qual, determino que sejam os autos remetidos ao ARQUIVO, com as baixas e anotações necessárias. 13. Em atenção ao Provimento 20/2008-CGJ, sintetizo o julgado da seguinte forma: 14. Aposentadoria por idade rural a ser pago a EMILSON DOS REIS: Nome do segurado/dependente: Emilson dos Reis; Benefício concedido: Aposentadoria por Idade Rural; Renda mensal: Não auferida na fase de instrução; Data de início do benefício: 31/01/2023; Renda mensal inicial do benefício: A calcular pelo INSS; Período considerado como atividade rural: 1982 a 2023. 15. Prazo para cumprimento da Sentença: 30 (trinta) dias. Cumpra-se, expedindo o necessário e com as cautelas de estilo. São José do Rio Claro – MT, data da assinatura eletrônica. RAISA TAVARES PESSOA NICOLAU RIBEIRO Juíza de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou o que procurava? Faça login para ver mais resultados e detalhes completos.

Fazer Login para Ver Mais

Processo nº 1001808-28.2025.8.11.0046

ID: 311336809

Tribunal: TJMT Órgão: 1ª VARA DE COMODORO Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001808-28.2025.8.11.0046

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

P. A. B.

Polo Passivo:

Decisão

Advogados:

VALERIA PINHEIRO DE SOUZA

OAB/RO XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE COMODORO PRIMEIRA VARA Processo n. 1001808-28.2025.8.11.0046 AUTOR: P. A. B. REQUERIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS DECISÃO Vistos, et… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE COMODORO PRIMEIRA VARA Processo n. 1001808-28.2025.8.11.0046 AUTOR: P. A. B. REQUERIDO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS DECISÃO Vistos, etc. Trata-se de ação previdenciária, proposta por Pamela Abreu Bartelli, menor representada por sua genitora Flaviana Simão de Abreu, requerendo a concessão de Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência. A inicial foi instruída com a procuração, documentos do autor e o indeferimento administrativo. É o breve relato. DECIDO. RECEBO a inicial em todos os seus termos. DEFIRO os benefícios da justiça gratuita requerida pela parte autora. DEIXO de designar a audiência de conciliação, uma vez que a requerida não comparece às audiências, o que inviabilizaria eventual expediente conciliatório, que se resumiria em morosidade processual, atentando ainda contra os princípios da celeridade e da economia processual, mister que o presente feito seja prontamente saneado e encaminhado diretamente à instrução, ocasião em que a conciliação prévia será permitida. Nada obstante a parte autora tenha colacionado aos autos ponderáveis elementos de cognição, estes representam apenas uma visão unilateral dos fatos narrados na exordial não possuindo o condão de embasar a tutela pretendida de início que é a concessão do Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/LOAS) até julgamento final da demanda. Por esta razão, POSTERGO a análise da medida liminar para após a realização da perícia médica, fato que possibilitará a este Juízo, melhor instrução do processo. Com o objetivo de adotar procedimentos uniformes nas ações judiciais que envolvam a concessão de benefícios previdenciários, o Conselho Nacional de Justiça editou a Recomendação Conjunta nº 01/2015, a qual dispõe sobre a determinação de prova pericial médica liminarmente e, a ordem de citação para contestar quando acompanhada do laudo pericial. Diante da necessidade de se comprovar a incapacidade e respectivo grau de laboral da parte Autora, o nexo causal, cuja constatação só é necessária a realização de perícia médica especializada, a qual deverá obedecer aos ditames dos artigos 464 e seguintes do Código de Processo Civil. Assim, diante do exposto e visando a celeridade processual, NOMEIO como perito, independentemente de compromisso (art. 466, do CPC), o Dr. Vagner Hoffmann, CRM-RO 3460, com endereço à Rua Terezina, 345, Vilhena/RO, devendo ser intimado desta nomeação para conhecimento e realização da perícia médica necessária, para responder os quesitos apresentados pelas partes. Fixo honorários periciais no valor máximo da tabela II, da Resolução nº 232/2016, do Conselho da Justiça Federal e, com base no parágrafo segundo, do artigo 2º da resolução retromencionada, multiplico por dois o referido valor, haja vista a complexidade do exame e ao local de sua realização, sendo assim, fixo o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), devendo ser expedido ofício nos moldes do anexo I, da referida resolução, e os demais atos necessários ao pagamento junto a Justiça Federal - Seção Judiciária de Mato Grosso 1ª Região, se enquadrado nos moldes do §2º do art. 2º da dita resolução. Para a realização da perícia, DESIGNO O DIA 30 DE JULHO DE 2025, ÀS 15H00, a qual se dará no prédio do fórum desta Comarca, situado na R. Pará, 192n - Jardim Mato Grosso, Comodoro - MT, 78310-000. Transcrevo os quesitos formulados pelo INSS, no Ofício Circular nº 003/2013 em conjunto com os quesitos encaminhados pela Recomendação Conjunta 12/2015 do CNJ, para análise pelo perito ora designado. Histórico Laboral do (o) Periciado (a): a) Profissão Declarada b) Tempo de profissão c) Atividade declarada como exercida. d) Tempo de atividade. e) Descrição da atividade. f) Experiência laboral anterior. g) Data declarada do afastamento do trabalho, se tiver ocorrido. 1) Qual o nome e a idade atual do (a) autor (a)? Qual o atual estado de saúde do (a) autor (a)? 2) Qual a atividade laborativa habitual do (a) autor (a)? A parte autora é empregada ou “autônoma”? 3) Diga o Senhor perito se a atividade declarada requer a realização de esforços físicos, e em caso afirmativo se de forma leve, moderada ou intensa? Poderia o Senhor perito descrever detalhadamente as tarefas desenvolvidas no exercício dessa atividade? 4) Diga o Senhor perito se a parte autora apresenta sinais sugestivos de que esta trabalhando, tais como sinais de exposição solar intensa, calosidade nas mãos, etc. 5) Diga o Senhor perito qual o diagnóstico e se a parte autora esta acometida de alguma patologia ou do agravamento da patologia teve origem alguma incapacidade? 6) Caso a resposta ao quesito anterior seja afirmativa, diga o Senhor perito se o diagnóstico atual foi estabelecido clinicamente ou existe alguma comprovação por exame completar? 7) Diga Senhor perito, no caso de resposta afirmativa ao quesito anterior indicando existência de exame(s) complementa (res) Qual (quais) foi (foram) o(s) resultado(s) do(s) mesmo(s)? 8) No caso de incapacidade, há possibilidade de se estabelecer clinicamente a data do início da incapacidade (DII), da enfermidade e de seu AGRAVAMENTO, SE FOR O CASO? Caso positivo, quando e qual critério utilizado? Caso negativo indique a provável data do início da incapacidade (DII), ou se apenas é possível atestar a incapacidade a partir da realização do laudo pericial, ESPECIALMENTE SE A DATA DO INÍCIO, DA ENFERMIDADE NÃO COINCIDE COM A DATA DO INÍCIO DA INCAPACIDADE. 9) É possível afirmar se houve incapacidade entre a data do indeferimento ou da cessação do benefício administrativo e a data da realização da perícia judicial? Se positivo, justificar apontando os elementos para essa conclusão. 10) Caso a resposta ao quesito n° 5 seja afirmada diga o Senhor perito se a patologia declinada encontra-se em fase evolutiva (descompensada) ou estabilizada (residual)? 11) Caso a resposta ao quesito n° 5 seja afirmativa diga o Senhor perito se o (a) autor (a) encontra-se em uso de medicação especifica paro o diagnóstico declinado? 12) Diga o Senhor perito, considerando a profissiografia da atividade declarada, se o (a) autor (a) se apresenta incapacitado para o trabalho ou para as atividades que anteriormente exercia. 13) No caso de incapacidade, diga o Sr. perito se a incapacidade é total ou parcial? Para a sua atividade ou para qualquer atividade? Quais as limitações que a moléstia impõem ao exercício da profissão habitual do (a) autor (a), levando-o (a) à incapacidade total ou parcial? 14) Caso a resposta ao quesito 12 seja afirmativa diga o Sr. perito se a incapacidade laborativa, no seu entender, é permanente ou temporária? Para a sua atividade ou para qualquer atividade? Quais as limitações que a moléstia impõem ao exercício da profissão habitual do (a) autor (a), levando-o (a) à incapacidade permanente ou temporária? 15) No caso de incapacidade, diga o Senhor Perito se a incapacidade teve origem em alguma doença do trabalho, doença profissional ou acidente do trabalho, no que se incluem acidentes ou quaisquer atos de terceiros ocorridos no local e horário de trabalho, bem como acidente sofrido fora do local de trabalho, mas na execução de serviço a trabalho, em viagem a trabalho e no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, ainda que em veículo de propriedade da parte autora. 16) No caso de incapacidade “permanente e parcial”, diga o Senhor perito se a incapacidade decorreu de acidente de qualquer outra natureza. Caso positivo, diga o Senhor perito se, após a consolidação das lesões, restaram sequelas que implicaram redução da capacidade para o trabalho que o autor habitualmente exercia. 17) No caso de incapacidade “temporária e parcial” e “temporária e total”, qual a data provável ou o prazo estimado e indicado para recuperação laborativa? 18) No caso de incapacidade “permanente e total”, ela se estende, sob o ponto de vista médico, para toda e qualquer atividade laboral? Ou é possível a reabilitação para outra função? 19) O (a) periciando (a) está realizando tratamento? Qual a previsão de duração do tratamento? Há previsão ou foi realizado tratamento cirúrgico? O tratamento é oferecido pelo SUS? 20) É possível precisar qual o tempo e o eventual tratamento necessários para o (a) periciado (a) se recupere e tenha condições de voltar a exercer seu trabalho ou atividade habitual (data de cessação de incapacidade)? 21) Preste o perito demais esclarecimentos que entenda serem pertinentes para melhor elucidação da causa. 22) Pode o perito afirmar se existe qualquer indício ou sinais de dissimulação ou de exacerbação de sintomas? Responsa apenas em caso afirmativo. 23) Diga o Senhor Perito se a parte autora é portadora de alguma das seguintes enfermidades: a) tuberculose ativa; b) hanseníase; c) alienação mental; d) neoplasia maligna; e) cegueira; f) paralisia irreversível e incapacitante; g) cardiopatia grave; doença de Parkinson, h) espondiloartrose anquilosante; i) nefropatia grave; j) estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); k) síndrome da imunodeficiência adquirida-AIDS; l) contaminação por radiação com base em conclusão da medicina especializada; m) hepatopatia grave. Ainda, deverá o perito informar se a parte autora encontra-se em alguma das seguintes situações: a) cegueira total; b) perda de nove dedos das mãos ou superior a esta; c) paralisia dos dois membros superiores ou inferiores; d) perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a prótese for impossível; e) perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível; f) perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for impossível; g) alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgânica e social; h) doença que exija permanência contínua no leito; e i) incapacidade permanente para as atividades da vida diária. O médico assistente da parte poderá(ão) acompanhar a realização dos trabalhos periciais (art. 466 § 2° do CPC/2015), mediante expressa anuência/autorização do periciando (haja vista o direito à intimidade/privacidade do paciente), sendo vedada qualquer intervenção no ato pericial do médico-perito, ao passo que qualquer intempérie deverá, o perito, fazer constar no laudo. INTIME-SE a parte autora para, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar quesitos, indicar assistente técnico, arguir o impedimento/suspeição, conforme art. 465 § 1°, do CPC. DISPENSADA a intimação da requerida nos termos do Ato Conjunto 02/2023/TRF1, art. 1º, III, “a”. ENCAMINHEM-SE os quesitos da autora, bem como as cópias da petição inicial, bem como dos documentos que a acompanham. Nos termos do artigo 29 da Resolução 305/2014 “a solicitação de pagamento dos honorários periciais dar-se-á após o término do prazo para que as partes se manifestem sobre o laudo; havendo pedido de complementação ou esclarecimento, depois de satisfatória realização, a critério do juiz”, bem como seguindo o disposto no art. 465,§ 4º, do Código de Processo Civil. CONCEDO o prazo de 30 (trinta) dias para apresentação do laudo pericial. Apresentado o laudo, RETORNEM os autos para análise do pedido liminar. No que se refere à designação de estudo socioeconômico, considerando que para a análise do mérito tem-se por necessário a avaliação da qualidade de hipossuficiente da parte autora, o que demanda maior dilação probatória, nomeio como perita, independentemente de compromisso (art. 466, CPC), Rosa Aparecida de Oliveira Gonçalves, CRESS 20ª Região n. 4927, devendo a profissional ser intimada desta nomeação para conhecimento e realização do estudo socioeconômico, bem como para responder os quesitos apresentados pelas partes. Fixo honorários periciais no valor máximo da tabela I, da Resolução n. 232/2016-CJF, no importe de R$ 300,00 (trezentos reais), devendo ser expedido ofício nos moldes do anexo I, da referida resolução, e os demais atos necessários ao pagamento junto a Justiça Federal da 1ª Região - Seção Judiciária de Mato Grosso, se enquadrado nos moldes do artigo 2º, § 2º, da dita resolução. ENCAMINHE-SE à Sra. Assistente Social os quesitos formulados pela parte autora, juntamente com os quesitos do juízo, o qual passo a transcrever: 1) Quantas pessoas compõem o grupo familiar do (a) autor (a), vivendo sob o mesmo teto? 2) Destas, quais auferem renda, qualquer que seja? Qual a fonte da renda? 3) Quais são os valores recebidos por cada membro da família que aufere renda? Há comprovação desses valores? Qual o nome completo, a data de nascimento e o CPF de cada um dos membros da família? 4) O (a) autor (a) não possui qualquer outro meio de prover sua subsistência? 5) O (a) autor (a) possui filhos ou pessoas da família trabalhando em outras cidades ou mesmo fora do Brasil? Se positivo, onde? 6) O (a) autor (a) necessita de auxílio material de estranhos para sobreviver? 7) Dos componentes do grupo familiar, alguém recebe algum benefício da Previdência Social? 8) Caso a resposta do quesito anterior seja afirmativa, qual o benefício? O autor tem o número de benefício recebido? 9) O (a) autor (a) reside em moradia própria ou é alugada? Se alugada, qual o valor do aluguel? 10) O (a) requerente exerce alguma atividade laboral? 11) Caso a resposta ao quesito acima seja positiva qual a atividade laboral habitual do (a) requerente? 12) Favor prestar quaisquer outras informações que julgar relevantes para o estudo social. Nos termos do Ato Conjunto n. 02/2023, celebrado entre Coordenador dos Juizados Especiais Federais da 1ª Região, o Corregedor Regional da Justiça Federal da 1ª Região e a Procuradora Regional Federal da 1ª Região, fica DISPENSADA A CITAÇÃO da requerida quando: a) nos processos que tratam de benefícios por incapacidade, quando o laudo da perícia judicial for totalmente desfavorável à parte autora e não houver controvérsias acerca de outros pontos, na forma do art. 129-A da Lei nº 8.213/1991, modificado pela Lei nº 14.331/2022; e b) nos processos que tratam de benefícios assistenciais cujo ponto controverso seja o impedimento de longo prazo, quando o laudo da perícia médica for totalmente desfavorável à parte autor. Nesse caso, FAÇAM os autos imediatamente conclusos para sentença. De sua vez, se o laudo da perícia judicial for favorável, total ou parcialmente, CITE-SE a autarquia demandada, para querendo contestar a ação (335, III, do Código de Processo Civil). Após, Decorrido o prazo para contestar o pedido, e no intento de facilitar a adoção das providências preliminares (art. 347 do CPC/2015), INTIME-SE a parte autora para que, no prazo de 15 (quinze) dias, apresente manifestação, a teor do art. 348 e seguintes do CPC, nos seguintes termos: 1. Havendo revelia, informe se quer produzir outras provas ou se deseja o julgamento antecipado; 2. Havendo contestação, deverá se manifestar em réplica, inclusive com contrariedade e apresentação de provas relacionadas a eventuais questões incidentais; 3. Em sendo apresentada reconvenção com a contestação ou no seu prazo, deverá apresentar resposta à reconvenção. Após, nos casos dos itens “2” e “3” acima, INTIME-SE a parte autora para que, no prazo de 05 (cinco) dias, especifique as provas que pretende produzir, justificando, objetiva e fundamentadamente, a sua relevância. Registre-se, ainda, que não serão consideradas relevantes as questões não adequadamente delineadas e fundamentadas nas peças processuais, além de todos os demais argumentos insubsistentes ou ultrapassados pela jurisprudência reiterada. DISPENSADA a intimação da autarquia para a especificação de provas, nos termos do Ato Conjunto n. 02/2023/TRF1, art. 1º, III, “g”. Por fim, FAÇAM os autos conclusos. CUMPRA-SE, expedindo o necessário. Comodoro/MT, data da assinatura digital. VINICIUS PAIVA GALHARDO Juiz de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Emerson Dos Santos x Mapfre Seguros Gerais S.A. e outros

ID: 277706156

Tribunal: TJMT Órgão: 2º JUIZADO ESPECIAL DE SINOP Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1014803-06.2024.8.11.0015

Data de Disponibilização: 23/05/2025

Polo Ativo:

EMERSON DOS SANTOS

Polo Passivo:

MAPFRE SEGUROS GERAIS S.A. SPA CENTRO DE REPARACAO AUTOMOTIVA LTDA. - ME

Sentença

Advogados:

ANA LIA BERTOZO DE CASTRO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

LOUISE RAINER PEREIRA GIONEDIS

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE SINOP SENTENÇA Processo: 1014803-06.2024.8.11.0015. AUTOR: EMERSON DOS SANTOS REUS: MAPFRE SEGUROS GERAIS S.A. e SPA CENTRO DE REPARACAO … ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2º JUIZADO ESPECIAL DE SINOP SENTENÇA Processo: 1014803-06.2024.8.11.0015. AUTOR: EMERSON DOS SANTOS REUS: MAPFRE SEGUROS GERAIS S.A. e SPA CENTRO DE REPARACAO AUTOMOTIVA LTDA. - ME Vistos. Relatório dispensado, nos termos do artigo 38 da Lei 9.099/95. Fundamento e decido. Trata-se de AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - ACIDENTE DE TRÂNSITO proposta por EMERSON DOS SANTOS contra MAPFRE SEGUROS GERAIS S/A. e SPA CENTRO DE REPARACAO AUTOMOTIVA LTDA (SPA AUTO CENTER). Relata o Requerente ser proprietário de um Toyota/Yaris 2019 e que no dia 02/09/2023 sofreu acidente de trânsito, tendo seu veículo atingido por um caminhão. Narrou que na época possuía apólice com a seguradora Mapfre, 1ª Requerida, que indicou a oficina credenciada SPA Centro de Reparação Automotiva LTDA, 2ª Requerida, para realização dos reparos. Entretanto, apesar da entrega do carro à oficina em 04/09/2023, a devolução ao autor ocorreu apenas no dia 26/01/2024, ou seja, mais de 05 (cinco) meses depois do acidente, ultrapassando em muito o prazo de 30 (trinta) dias previsto na apólice e na Circular SUSEP nº 256/2004. Aduz que, em virtude da demora, teve que arcar com o custo de locação de carro no valor de R$ 8.389,70 (oito mil, trezentos e oitenta e nove reais e setenta centavos). Razão pela qual, ajuizou a presente demanda objetivando o ressarcimento do valor desembolsado, bem como indenização por danos morais. O feito prosseguiu com a apresentação de contestação pelo Requerido MAPFRE SEGUROS GERAIS S.A. em ID 167270278 e impugnação pelo Requerente em ID 192179253. Quanto a Requerida SPA CENTRO DE REPARACAO AUTOMOTIVA LTDA. – ME, apesar de validamente citada, conforme comprovante de AR juntado aos autos (Id. 161933572), permaneceu inerte, não comparecendo à audiência de conciliação conforme termo juntado em ID 167484528, tampouco apresentou justificativa, razão pela qual decreto à revelia e todos seus efeitos em face da Requerida SPA CENTRO DE REPARACAO AUTOMOTIVA LTDA. – ME, nos termos do art. 20 da Lei 9.099/95. Com fulcro nos artigos 370 e 371 do Código de Processo Civil, em que disciplinam o Princípio da Livre Apreciação Motivada das Provas e para que não haja procrastinação ao trâmite processual deste feito (CF, art. 5º, inciso LXXVIII), julgo desnecessária a produção de outras provas em audiência de instrução, justificando o julgamento antecipado da lide, com a aplicação dos ônus específicos. Registro, que, no sistema dos Juizados Especiais, o juiz não está obrigado a rebater uma a uma as teses apresentadas pelas partes, bastando que consigne na sentença os elementos formadores da sua convicção. Destaco que a matéria é exclusivamente de direito, o que autoriza o julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 355, I, do Código de Processo Civil. A relação de consumo restou caracterizada, nos termos dos artigos 2º e 3º, ambos da Lei nº 8.078/90, sendo devida a inversão do ônus da prova. Em se tratando de relação de consumo, o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor é claro ao prelecionar que, em casos como este em apreço, a responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva, dispensando, portanto, qualquer tipo de comprovação acerca do dolo ou da culpa. Desta citação, extraem-se os requisitos essenciais da responsabilidade consumerista. O primeiro requisito consiste na verificação de uma conduta antijurídica, que abrange comportamento contrário ao direito, por comissão ou omissão, sem necessidade de indagar se houve ou não o propósito de malfazer. Na sequência, é preciso o estabelecimento de um nexo de causalidade entre conduta e dano, de forma a se precisar que o dano decorre da conduta antijurídica, ou, em termos negativos, que, sem a verificação do comportamento contrário ao direito, não teria havido atentado ao bem jurídico. Por último, é necessário a existência de um dano, tomada a expressão no sentido de lesão a um bem jurídico, seja este de ordem material ou imaterial, de natureza patrimonial ou não patrimonial. No que tange ao mérito, alega o Requerente que o veículo foi entregue à oficina em 04/09/2023, entretanto o veículo foi restituído ao Requerente somente em 26/01/2024, ou seja, aproximadamente cinco meses após o sinistro. A Requerida alega que a demora ocorreu em virtude da indisponibilidade de peças no mercado para reposição no veículo. Pois bem. Não há controvérsia nos autos sobre o fato de que o automóvel deu entrada no dia 04/09/2023 para conserto, e foi devolvido dia 26/01/2024 devidamente consertado. Sendo a relação jurídica entre as partes de natureza consumerista, é preciso destacar que o prazo para o fornecedor sanar o vício em produto ou serviço é de 30 (trinta) dias, nos termos do art. 18, §1º, do Código de Defesa do Consumidor, e sendo o conserto realizado dentro desse prazo, não há que se falar em conduta ilícita. No presente caso, o vício foi sanado e entregue com mais de 150 (cento e cinquenta) dias, tendo havido, portanto, uma extrapolação do prazo, de modo que resta configurada a falha na prestação do serviço e, por consequência, o dever de indenizar. A demora foi significativa, ficando o Requerente impedido de utilizar seu veículo. O Requerente comprovou que despendeu o valor de R$ 8.389,70 (oito mil, trezentos e oitenta e nove reais e setenta centavos) com o pagamento de aluguel de outro veículo, que foi utilizado durante o período que seu automóvel ficou esperando o conserto. Deste modo, opino pelo deferimento do pedido de danos materiais. O dano moral pode ser definido como toda ofensa aos direitos da personalidade, sendo classificado como dano moral à honra objetiva, consistente na ofensa à reputação social, ou à honra subjetiva, quando se reporta ao sofrimento suportado. Neste sentido: (...) 5. Os danos morais dizem respeito à dignidade humana, às lesões aos direitos da personalidade relacionados a atributos éticos e sociais próprios do indivíduo, bens personalíssimos essenciais para o estabelecimento de relações intersubjetivas em comunidade, ou, em outras palavras, são atentados à parte afetiva (honra subjetiva) e à parte social da personalidade (honra objetiva). 6. As pessoas jurídicas merecem, no que couber, a adequada proteção de seus direitos da personalidade, tendo a jurisprudência dessa Corte consolidado, na Súmula 227/STJ, o entendimento de que as pessoas jurídicas podem sofrer dano moral. 7. A tutela da personalidade da pessoa jurídica, que não possui honra subjetiva, restringe-se à proteção de sua honra objetiva, a qual é vulnerada sempre que os ilícitos afetarem seu bom nome, sua fama e reputação. 8. A distinção entre o dano moral da pessoa natural e o da pessoa jurídica acarreta uma diferença de tratamento, revelada na necessidade de comprovação do efetivo prejuízo à valoração social no meio em que a pessoa jurídica atua (bom nome, credibilidade e reputação). 9. É, portanto, impossível ao julgador avaliar a existência e a extensão de danos morais supostamente sofridos pela pessoa jurídica sem qualquer tipo de comprovação, apenas alegando sua existência a partir do cometimento do ato ilícito pelo ofensor (in re ipsa). Precedente. (...) (STJ REsp 1807242/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/2019, REPDJe 18/09/2019, DJe 22/08/2019) Assim, a indisponibilidade de bens, ou seja, a impossibilidade do utilizar bens de sua propriedade, tem o condão de gerar o dano moral. Em exame do caso concreto, nota-se que a demora no reparo do veículo superior (e muito) a 30 dias é suficiente para a caracterização do dano moral na modalidade objetiva e subjetiva. Isto porque, a restrição do uso do bem tem o condão de proporcionar sentimentos indesejados como raiva, angústia e ansiedade. A propósito: EMENTA: RECURSO INOMINADO CÍVEL. CONSUMIDOR. SEGURO VEICULAR. SINISTRO. DEMORA INJUSTIFICADA PARA APROVAÇÃO DE COBERTURA SECURITÁRIA. CONSERTO EM OFICINA NÃO CREDENCIADA. NEGATIVA DE COBERTURA SOB O FUNDAMENTO DE QUE O VEÍCULO JÁ HAVIA SIDO REPARADO POR TERCEIRO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE CIÊNCIA DO AUTOR QUANTO À REFERIDA CLÁUSULA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA DEVIDA. DANO MATERIAL. OCORRÊNCIA. DANO MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1- Nos termos do art. 373, inciso II do CPC, caberia ao Recorrente se desincumbir do ônus de provar o que alega. 2- O que se tem dos autos, é que inexiste justificativa para a morosidade do Recorrente quanto à análise do pedido de cobertura securitária, tendo o consumidor aguardado por 43 (quarenta e três) dias e ainda acionado o Procon, sem êxito. 3- No caso, restou demonstrado que a espera prolongada e injustificada da análise do pedido de cobertura, transborda o mero dissabor cotidiano e o simples descumprimento da avença, influindo diretamente na vida do consumidor. 4- Sentença mantida por seus próprios fundamentos, nos termos do artigo 46, da Lei n.º 9.099/95 c.c. art. 24 do Regimento Interno das Turmas Recursais Cíveis e Criminais dos Juizados Especiais do Estado de Mato Grosso (Resolução n.º 003/96/TJMT), fazendo parte integrante deste voto. (...). (N.U 1001808-37.2023.8.11.0001, TURMA RECURSAL CÍVEL, WALTER PEREIRA DE SOUZA, Primeira Turma Recursal, Julgado em 27/11/2023, Publicado no DJE 01/12/2023) E M E N T A - RECURSO INOMINADO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – DEMORA EXCESSIVA NO CONSERTO DE VEÍCULO – TENTATIVA DE SOLUÇÃO ADMINISTRATIVA SEM SUCESSO – FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EVIDENCIADA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA – DANO MORAL CONFIGURADO IN RE IPSA – DEVER DE INDENIZAR RECONHECIDO – PLEITO DE EXCLUSÃO DA CONDENAÇÃO OU MINORAÇÃO DOS DANOS MORAIS – QUANTUM REDUZIDO – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Cabe à recorrente provar a veracidade de suas alegações na qualidade de fornecedora de serviço, seja em razão da inversão do ônus da prova, seja porque a sua assertiva é fato extintivo de direito, nos termos do art. 373, II do CPC, o que não ocorreu. 2. A demora no reparo do bem e os transtornos experimentados em razão de ter ficado privado do uso de seu veículo por muito tempo, somados as tentativas frustradas de solução administrativa, ensejam a reparação pelos danos morais suportados pelo reclamante. 3. Contudo, o dano moral deve ser fixado em consonância com os critérios da razoabilidade e proporcionalidade. Havendo fixação do valor em excesso, o mesmo deve ser reduzido, em respeito aos referidos princípios. 4. Recurso conhecido parcialmente provido. (N.U 1001882-41.2023.8.11.0050, TURMA RECURSAL CÍVEL, VALDECI MORAES SIQUEIRA, Terceira Turma Recursal, Julgado em 12/12/2023, Publicado no DJE 14/12/2023) Ademais, destaca-se que o bem disponibilizado se trata de meio de transporte, situação em que dimensiona o transtorno suportado pela parte promovente, visto que implicou certamente em atrasos em compromissos e perda de tempo, situação em que dimensiona o transtorno suportado pelo consumidor. Portanto, diante da indisponibilidade de uso do bem é devido o dano moral. Em relação ao quantum indenizatório do dano moral, este deve atender a uma dupla finalidade: compensação e repressão. Assim, há que se observar tanto a capacidade econômica da vítima quanto do ofensor, evitando o enriquecimento injustificado e garantindo o viés pedagógico da medida. Ademais, deve ser considerada também a extensão da culpa e do dano (subjetivo e/ou objetivo), para que não sejam violados os Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade. Nesse contexto, o valor indenizatório deve satisfazer ao caráter compensatório, servindo, ainda como desincentivo à repetição da conduta ilícita. Impõe ainda consignar que a demora no reparo do veículo é suficiente para justifica a fixação do quantum indenizatório em patamar que normalmente vem sendo fixado por este juízo. Portanto, sopesando estes critérios e considerando as peculiaridades do caso concreto, entendo como razoável e suficiente para a reparação do dano moral a quantia de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Presentes esses elementos essenciais, impõe-se o dever indenizatório. Ante o exposto, nos termos do artigo 487, I, do Código de Processo Civil, opino pela parcial PROCEDÊNCIA dos pedidos formulados pelo Requerente, para condenar as Requeridas, solidariamente, ao pagamento de: a) indenização por danos morais, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), atualizados pelo IPCA a partir desta data, com a aplicação dos juros de mora de 1% ao mês a partir da data do evento danoso (Súmula 54 STJ), até a data de 29/08/2024, e após aplicado o índice da TAXA LEGAL de juros calculada pelo BANCO CENTRAL DO BRASIL, podendo ser encontrada no link: https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/exibirFormCorrecaoValores.do?method=exibirFormCorrecaoValores&aba=6; e b) Reembolso de R$ 8.389,70 (oito mil, trezentos e oitenta e nove reais e setenta centavos), a título de danos materiais, acrescidos de juros de 1% (um por cento) ao mês desde a citação e correção monetária (INPC) a partir dos descontos, devendo tais consectários incidir até 29/08/2024, sendo que, a partir de 30/08/2024, para correção deverá ser utilizado o IPCA (CC, art. 308), e para os juros moratórios a taxa legal de juros (CC, art. 406), calculada pelo BANCO CENTRAL DO BRASIL, podendo ser encontrada no link: https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/exibirFormCorrecaoValores.do?method=exibirFormCorrecaoValores&aba=6. Sem custas e sem honorários advocatícios, nos termos dos artigos 54 e 55, da Lei nº 9.099/95. Interposto Recurso Inominado, às contrarrazões, após, conclusos para o juízo de admissibilidade. Registro automático da sentença com sua publicação, dispensado o uso do livro respectivo, a teor do art. 317, § 4.º, da CNGC. Preclusas as vias recursais, nada sendo requerido em 10 dias, certifique-se, anote-se, baixe-se e arquive-se. P. I. C. O presente Projeto de Sentença será submetido à apreciação da Excelentíssima Senhora Doutora Juíza de Direito do Segundo Juizado Especial de Sinop-MT, na forma do art. 40 da Lei nº 9.099/95 e do art. 8º, parágrafo único, da Lei Complementar nº 270/2007. Flaviany Ribeiro Garcia Almeida Juíza Leiga ------------------------------------------------------------------------ SENTENÇA Vistos. Homologo, para que produza seus jurídicos e legais efeitos, a sentença elaborada pela Juíza Leiga, na forma do art. 40 da Lei nº 9.099/95. Após o trânsito em julgado remetam-se os autos ao arquivo, com as baixas necessárias. Publique-se. Registro dispensado, diante da efetivação de tal providência com a própria inserção no sistema informatizado PJE. Intimem-se. Cumpra-se. (datado e assinado digitalmente) Débora Roberta Pain Caldas Juíza de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Neudir Delazari & Cia. Ltda - Me x Gazin Comércio De Móveis E Eletrodomésticos Ltda e outros

ID: 306432073

Tribunal: TJMT Órgão: 1ª VARA DE NOVA MUTUM Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001808-10.2022.8.11.0086

Data de Disponibilização: 24/06/2025

Polo Ativo:

NEUDIR DELAZARI & CIA. LTDA - ME

Polo Passivo:

GAZIN COMÉRCIO DE MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS LTDA HDI SEGUROS S.A. PAULO ROBERTO FERREIRA TLG TRANSPORTE E LOGISTICA LTDA

Sentença

Advogados:

FELIPE AFFONSO CARNEIRO

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

DIEGO PEREIRA DE IGREJA

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ARMANDO SILVA BRETAS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA DE NOVA MUTUM SENTENÇA Processo: 1001808-10.2022.8.11.0086. Vistos etc. Trata-se de Ação de Indenização por Danos Materiais ajuizada por Neudir Delazari… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 1ª VARA DE NOVA MUTUM SENTENÇA Processo: 1001808-10.2022.8.11.0086. Vistos etc. Trata-se de Ação de Indenização por Danos Materiais ajuizada por Neudir Delazari & Cia Ltda. em desfavor de Paulo Roberto Ferreira, Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda., TLG Transporte e Logistica Ltda. e HDI Seguros S.A. A Autora narra que em 14/10/2021, por volta das 18h22min, no KM 588 da BR-163, dois veículos de sua propriedade, a saber, o Ford Cargo 712, placa: NUB-2606 e o Fiat Uno, placa: ATU-8694 estavam parados em uma fila de veículos, momento em que o veículo da segunda Ré que estava sendo conduzido pelo primeiro Réu colidiu na traseira do Uno o fazendo colidir na traseira do Ford Cargo, que por sua vez colidiu no veículo que estava em sua frente. Relata que ambos os veículos tiveram perda total em razão do acidente e que a quarta Ré o indenizou tão somente em relação ao veículo Uno. Com base no exposto, requer sejam os Réus condenados solidariamente ao pagamento de R$ 107.820,00 (cento e sete mil, oitocentos e vinte reais), a título de danos materiais pelo perdimento do veículo Ford Cargo712 e R$ 33.300,00 (trinta e três mil e trezentos reais) referentes à locação de veículo reserva que se prestou a substituir o veículo danificado. Com a inicial junta os documentos (id. n. 82142105). Despacho de id. n. 82482196 que recebeu a inicial, deferiu o pedido de parcelamento das custas iniciais, bem como determinou a citação e intimação das partes. Termo de audiência de conciliação acostado aos autos sob o id. n. 87814159, o qual atesta a ausência do Réu Paulo Roberto Ferreira e a inexistência de composição. A Ré HDI Seguros S.A apresentou contestação sob o id. n. 89731567, momento em que argumentou por sua responsabilidade limitada à importância segurada, pela ausência de culpa do segurado na dinâmica do acidente, pela inexistência de danos materiais e pela inexistência de cobertura securitária referente ao caso reserva utilizado. Pugnou ainda, em caso de procedente a demanda, pela transferência do salvado para a seguradora. Ao final, requer a total improcedência da demanda. Os Réus Paulo Roberto Ferreira, Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda. e TLG Transporte e Logistica Ltda. apresentaram contestação em id. n. 89731567. Arguem a preliminar de ilegitimidade passiva do Réu Paulo Roberto Ferreira, argumentam pela ausência de responsabilidade da Ré sobre o evento danoso. Pugnam, em caso de procedente a ação, pela responsabilização subsidiária em detrimento da seguradora. Por derradeiro, requerem a total improcedência da ação. Impugnação à contestação em id. n. 91606100. Decisão de id. n. 112463319 que afastou a preliminar de ilegitimidade passiva arguida, saneou o feito e determinou a intimação das partes para especificarem as provas que pretendem produzir. Decisão de id. n. 118657309 que designou data para realização de audiência de instrução e julgamento. Ata de audiência acostada aos autos sob o id. n. 118657309. Na oportunidade a parte Autora pugnou pelo reconhecimento da preclusão da prova testemunhal das testemunhas arroladas pelos Réus. Registro que os arquivos de mídia acostados aos autos pertencem à audiência de outro processo, pelo que os corretos estão em anexo a esta sentença. Manifestação dos Réus Paulo Roberto Ferreira, Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda. e TLG Transporte e Logistica Ltda. em id. n. 123103057. Sob o id. n. 123190599 aportou-se aos autos decisão que declarou preclusa a oitiva das testemunhas arroladas pelos Réus. Alegações finais da Ré HDI Seguros S.A. em id. n. 126739868. Os Réus Paulo Roberto Ferreira, Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda. e TLG Transporte e Logistica Ltda. apresentaram suas alegações finais em id. n. 127609641. Alegações finais autorais em id. n. 127606448. Manifestação da Ré HDI Seguros S.A. em id. n. 172885819. Intimada a se manifestar, a Autora assim o fez sob o id. n. 189288488. Vieram-me os autos conclusos. É o breve relatório. Fundamento e decido. Do mérito. Da legitimidade das partes e da responsabilidade dos Réus. Como demonstrar-se-á, a responsabilidade dos Réus e portanto a legitimidade para figurar no polo passivo da presente demanda é certa. O Réu Paulo Roberto Ferreira foi quem deu causa ao acidente, na medida em que respondem os Réus Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda. e TLG Transporte e Logistica Ltda por serem proprietários do caminhão conduzido pelo primeiro, bem como empregadores deste, nesse sentido é a jurisprudência: ACIDENTE DE VEÍCULO - AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS - CULPA DO CONDUTOR DO VEÍCULO DEMONSTRADA - RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA PROPRIETÁRIA DO AUTOMÓVEL - SENTENÇA MANTIDA - PRELIMINAR REJEITADA, RECURSO IMPROVIDO. O proprietário do veículo envolvido em acidente de trânsito responde com o condutor, objetiva e solidariamente, pelos danos causados a terceiro. (TJ-SP - AC: 07074429620128260020 SP 0707442-96.2012 .8.26.0020, Relator.: Renato Sartorelli, Data de Julgamento: 04/02/2020, 26ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 04/02/2020) No que diz respeito à responsabilidade da Ré HDI Seguros S.A., esta se dá nos limites da apólice de seguro que tem com a Ré Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda. (id. n. 89384204) que não compreende a cobertura de carro reserva. Esse, aliás, é o entendimento da Súmula nº 537, do Superior Tribunal de Justiça, que pode ser aplicada de forma análoga ao caso em comento, isso porque não houve denunciação da lide, mas propositura da ação diretamente em desfavor da seguradora. Impende frisar que todos os Réus respondem solidariamente e a seguradora nos limites da apólice. Da dinâmica do acidente. Quanto ao dano, cinge-se a presente demanda em saber se é culpa dos Réus o perdimento do veículo Ford Cargo 712. Primeiramente, indene de dúvidas que houve a perda total do veículo, isso porque atestado por 04 (quatro) empresas (id. n. 82142125, id. n. 82142128, id. n. 82142132 e id. n. 82142133), além de que as fotos de id. n. 82142121 evidenciam o alegado. Diante dos documentos e da prova oral produzida, é inequívoca a conclusão de que os danos causados aos 02 (dois) veículos da Autora se deram por culpa do primeiro Réu, o que atrai a responsabilização dos demais. Explico. De proêmio, é de se consignar que o Boletim de Acidente de Trânsito da Polícia Rodoviária Federal (PRF) (id. n. 82142117) narra a dinâmica do acidente, in verbis: No dia 14/10/2021, por volta das 18h22, no km 588 da BR-163, em Nova Mutum-MT, ocorreu um acidente, do tipo ENGAVETAMENTO, lesionando quatro pessoas (4 lesionadas gravemente). Os veículos envolvidos foram: a carreta VOLVO/FH 540 6X4T (V1); o caminhão FORD/CARGO 712 (V2) ; automóvel FIAT/UNO MILLE ECONOMY (V3); e o caminhão FORD/CARGO 2428 CNL (V4). Com base na análise dos vestígios materiais identificados, constatou-se a seguinte sequência de episódios: No momento 1, o V1 trafegava na faixa de trânsito do sentido Diamantino-MT/Nova Mutum-MT e V2, V3 e V4 trafegava no sentido mesmo sentido . No momento 2, o V1 parou na faixa de rolamento, devido fila ocasionada por outro acidente. No momento 3, V2 e V3 pararam também. No momento 4, V4 não conseguiu parar. No momento 5, houve a colisão de V4 com a traseira de V3, de V3 com a traseira de V2,e de V2 com a traseira de V1, ocasionando assim o engavetamento. . Conforme constatações em levantamento de local de acidente, concluiu-se que o fator principal do acidente foi V1 estar parado na faixa e rolamento e V4 não conseguir parar seu veículo. OBSERVAÇÕES: . O condutor e os passageiros de V3 foram socorridos pela equipe de socorristas da concessionária para o pronto atendimento de Nova Mutum-MT. As testemunhas arroladas pela Autora presenciaram o momento do acidente e, muito embora não tenham visto a colisão, estavam a poucos metros do sinistro e narraram que 1) havia uma fila de veículos na BR por conta de um outro acidente que nada tinha a ver com os veículos envolvidos neste acidente secundário e 2) não souberam dizer com certeza se o veículo Ford Cargo 712 havia previamente colidido com o caminhão à sua frente, mas acreditavam que não, porque caso contrário haveria rebuliço de pessoas ao seu entorno. Nesse ponto, como o Boletim de Ocorrência é documento público produzido de forma contemporânea ao acidente, havendo presunção de veracidade, caberia aos Réus o ônus da prova de desconstituir as conclusões do Boletim de Ocorrência, através de prova testemunhal ou qualquer outro meio, o que não aconteceu. Destarte, devem as conclusões da polícia serem tidas como corretas em relação a dinâmica do acidente. Ademais, mesmo que assim não o fosse, há presunção de que o veículo que bate na traseira é o culpado pelo acidente, presunção que não foi desconstituída pelos Réus, nesse sentido a jurisprudência deste Tribunal: RECURSO INOMINADO - RESPONSABILIDADE CIVIL – ACIDENTE DE TRÂNSITO – PLEITO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – INSURGÊNCIA DA PARTE PROMOVIDA – PRELIMINAR INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO – AFASTADA - ALEGAÇÃO DE CULPA DA PARTE PROMOVENTE – ABALROAMENTO NA TRASEIRA DO VEÍCULO À FRENTE – PRESUNÇÃO DE CULPA DO VEÍCULO DE TRÁS – ÔNUS DA PROVA PARA AFASTAR A PRESUNÇÃO – AUSÊNCIA DE PROVA – RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE PRESUNÇÃO NÃO AFASTADA – DANO MATERIAL COMPROVADO – RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1 Primeiramente, quanto a preliminar de incompetência do juizado especial para julgar a presente demanda por necessidade de realização de perícia, essa não merece ser acolhida, uma vez que havendo provas, nos autos suficientes para elucidação do feito, desnecessária a realização de perícia para a resolução da demanda. 2- Trata-se de ação indenizatória proposta pela recorrida, sob o fundamento que em razão da colisão traseira sofrida no veículo de sua propriedade, por culpa do recorrente, cabe a ele o dever de indeniza-lo pelos danos morais e materiais suportado. 3- A sentença julgou parcialmente procedente os pedidos iniciais, condenado o recorrente ao pagamento de indenização por dano material no valor de R$ 8.362,00. 4- O recorrente alega ausência de responsabilidade pelo acidente ocorrido, pois somente ocorreu pela frenagem brusca do veículo conduzido pelo recorrido, que levou a batida traseira. 5- Contudo, razão não assiste o recorrente, uma vez que nos termos da jurisprudência do STJ "aquele que sofreu a batida na traseira de seu automóvel tem em seu favor a presunção de culpa do outro condutor, ante a aparente inobservância do dever de cautela pelo motorista, nos termos do inciso II do art. 29 do Código de Trânsito Brasileiro ". Assim, a colisão na traseira do veículo induz a culpa daquele que bate atrás, pois ao condutor do automotor é imprescindível a atenção no fluxo no trânsito, somente elidida se houver prova robusta em sentido contrário, o que não é o caso dos autos. Portanto, presumida a responsabilidade do Requerido pelo acidente de trânsito. 6- No presente caso, pelas fotos juntadas ao ID 227458210, é possível verificar que a batida ocorreu na traseira do veículo pertencente ao recorrido, motivo pelo qual presume-se a culpa do recorrente, até mesmo porque não trouxe qualquer prova robusta que afastasse tal presunção. 7- Quanto ao dano material, verifica-se que o recorrente cumpriu com o ônus que lhe cabia, ou seja, sendo a ação decorrente de acidente de trânsito, é necessária a juntada de três orçamentos, tal como realizado pelo recorrido aos ID’s 227458212, 227458213 e 227458214. 8- Desse modo, a sentença deverá mantida em todos os seus termos. 9- Recurso conhecido e improvido. (N.U 1014996-32.2023.8.11.0055, TURMA RECURSAL CÍVEL, JORGE ALEXANDRE MARTINS FERREIRA, Primeira Turma Recursal, Julgado em 23/09/2024, Publicado no DJE 27/09/2024) (G.n.) Pela dinâmica do acidente e pelo fato da colisão ser traseira, inconteste a culpa do motorista Paulo Roberto Ferreira. As teses de que os danos causados ao veículo objeto destes autos se deram em razão de colisão anterior ou mesmo em função do equipamento que carregava em sua carroceria não merecem prosperar, pois desprovidas de qualquer fundamento lógico e provas que a corroborem. Quanto ao equipamento que carregava o veículo Ford Cargo 712 há que se admitir que atuou no acidente como corpo neutro, uma vez que se causou algum dano, este ocorreu porque uma força resultante atuou sobre si, no caso o abalroamento do caminhão conduzido pelo Réu Paulo Roberto Ferreira ao veículo Uno que, também atuando como corpo neutro, atingiu a traseira do veículo objeto destes autos. Portanto, a BobCat figurou como mero instrumento do ato ilícito de terceiro. Em caso análogo, o Superior Tribunal de Justiça aplicou a teoria do corpo neutro: AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TEORIA DO CORPO NEUTRO. AUTOMÓVEL QUE INVADE A CONTRAMÃO DE DIREÇÃO E COLIDE FRONTALMENTE COM CAMINHÃO. PERDA DE CONTROLE DESTE ÚLTIMO QUE VEM A SE CHOCAR COM OUTRO CAMINHÃO. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO. ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE. REVISÃO DO JULGADO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ. 1. "Em situações que envolvem acidente de trânsito, o fato de terceiro só configura causa de exoneração de responsabilidade se equiparado, para todos os efeitos, ao caso fortuito ou força maior, de modo a eliminar por completo a relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano [...] Diversamente, se houver atitude volitiva daquele que se depara com a situação de perigo, incumbe-lhe, na condição de causador direto do dano, responder perante o dono do veículo abalroado, recompondo os prejuízos decorrentes de sua conduta voluntária, ainda que isenta de culpa" (REsp 1713105/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 6/12/2018). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp n. 882.606/SC, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 10/10/2022, DJe de 17/10/2022.) Frise-se que mesmo que se admita que a carga que carregava o veículo tenha causado danos à sua lataria, esta era corpo neutro, pelo que somente atingiu a traseira da cabine porque atuou sobre ele uma força que a impulsionou. Por consequência, como sobredito, a culpa (em sentido amplo) pelo acidente foi do condutor do veículo que colidiu na traseira do Uno que projetou tal veículo que colidiu na traseira do Ford Cargo 712 ocasionando o engavetamento. Dos danos materiais. Verificada a conduta, o dano, o nexo de causalidade e a culpa, é de se reconhecer o dever de indenizar, inclusive pelos gastos relativos à locação de veículos de terceiro que foi utilizado em substituição, isso porque o documento de id. n. 82142136 comprova a locação de outro caminhão pelo período de 15/10/2021 a 28/12/2021. Nesse sentido é a jurisprudência: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO. ACIDENTE DE VEÍCULO. DANO MATERIAL . VEÍCULO SUBSTITUTO. DESPESA COM LOCAÇÃO COMPROVADA. DANO MORAL. PRIVAÇÃO DE USO PROLONGADO . AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL. - O dano material decorrente do gasto que comprovadamente o ofendido teve com a locação de veículo para a substituição do acidentado é indenizável - O uso do veículo para o trabalho não é a única justificativa da sua substituição, que decorre naturalmente da indisponibilidade daquele que está em reparo - A privação de uso, por poucos dias que seja, justifica a substituição do veículo por outro, o que se alcança por meio da locação, se o ofensor não se dispõe a reparar de outra forma - Quando o pedido de reparação por dano moral está fundado no excessivo prolongamento do período de reparo do veículo, sem o apontamento de outro fato atribuível à parte requerida, senão a sua culpa pelo acidente, o nexo de causalidade que é requisito do dever de reparar fica prejudicado. (TJ-MG - AC: 10702120471850001 MG, Relator.: Luiz Carlos Gomes da Mata, Data de Julgamento: 13/08/2015, Data de Publicação: 21/08/2015) (G.n.) Da devolução do salvado. Reconhecida a perda total do veículo e realizada a indenização por tal, a transferência livre e desembaraçada do salvado para à seguradora é medida que se impõe. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANO MATERIAL, MORAL E ESTÉTICO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO – RECURSOS DA REQUERIDA E DA SEGURADORA – IRRESIGNAÇÃO RECURSAL DA REQUERIDA – CULPA PELO ACIDENTE DE TRÂNSITO EVIDENCIADA – DEVERES NORMATIVOS DE PRUDÊNCIA ESPECIAL (ART. 44 CTB) E DE EXECUTAR A MANOBRA SEM PERIGO PARA OS DEMAIS USUÁRIOS DA VIA (ART. 34 DO CTB) – PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE TRÂNSITO NÃO ELIDIDA – DANO ESTÉTICO EVIDENCIADO – DANOS MORAIS CONSUBSTANCIADOS – RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE – CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO – AUSÊNCIA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO – ARBITRAMENTO ESCORREITO – DEVER DE INDENIZAR NOTEBOOK – CULPA NO ACIDENTE E RESPONSABILIDADE PELO DANO DELE ADVINDO – RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA NOS LIMITES DA APÓLICE – ARTS. 757 e 760 do CC/02 – SÚMULA N° 537 DO STJ – CLARIVIDENTE AUSÊNCIA DE EXCLUSÃO DOS DANOS ESTÉTICOS NA APÓLICE – SÚMULA N° 402 DO STJ – DANOS MATERIAIS – EXCLUSÃO PARCIAL – ALEGADOS DANOS IMPERTINENTES E NÃO DEMONSTRADOS – DEVER DE RESTITUIÇÃO DO SALVADO APÓS PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO – RECURSO DA SEGURADA DESPROVIDO E DA SEGURADORA PARCIALMENTE PROVIDO – HONORÁRIOS MAJORADOS. O conjunto probatório bem demonstra a ocorrência de culpa no acidente de trânsito, mesmo considerando a alegação de inexistência da placa PARE, posto que, por se tratar de cruzamento de vias, exigia-se prudência especial (art. 44 CTB) e executar a manobra de cruzamento de encontro das vias cruzadas sem perigo para os demais usuários da via (art. 34 do CTB). O boletim de ocorrência de acidente de trânsito coligido à inicial possui presunção de veracidade, isso porque, mesmo sendo de sua incumbência o encargo probatório contraposto nos termos do art. 373, inciso II, do CPC, a parte requerida/apelante não trouxe ao feito nenhuma prova em sentido ao contrário ao documento público que goza de fé pública. Em decorrência do acidente de trânsito o autor/apelado passou por procedimentos cirúrgicos, colocou parafusos e hastes de metal em sua perna e possui cicatrizes de grande extensão e evidentes na perna, o que denota patente existência do dano estético, estando escorreito o quantum indenizatório arbitrado a tal título, o qual é condizente com as circunstâncias do caso e as premissas de razoabilidade e proporcionalidade, sem importar em enriquecimento ilícito. Existentes danos morais em razão dos inegáveis sofrimentos advindos das lesões sofridas e de toda a situação vivenciada, não dependendo de prova e derivando dos próprios fatos – dano in re ipsa. O valor fixado em primeiro grau – R$20.000,00 (vinte mil reais) – se mostra consentâneo com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sendo suficiente para, diante das peculiaridades do caso, das lesões suportadas e de toda a situação vivenciada (dor certamente suportada, os sucessivos procedimentos cirúrgicos, a necessidade e atendimento pelo SUS, falta de assistência pela parte culpada pelo acidente, angústia por ter se se afastado de seus afazeres, etc.), compensar o abalo moral sofrido pelo autor, bem como atender ao caráter punitivo-pedagógico da condenação, não destoando da capacidade econômica das requeridas. A responsabilidade em indenizar o notebook restou evidenciado no caso concreto, porque há prova robusta de que o dano nele ocasionado decorreu do acidente de trânsito por culpa da requerida, não havendo como aferir as detidas circunstâncias de como era transportado o objeto, o que, aliás, é despiciendo, posto que inegável pelas provas coligidas que o acidente de trânsito foi a causa eficiente dos danos ao aparelho, valendo a inferência de que se não houvesse o acidente causado por culpa da apelante, não haveria o dano. Imperativa a responsabilização da seguradora nos limites da apólice contratada, valendo a linha de intelecção dos arts. 757 e 760 do CC/02 e da Súmula n° 537 do STJ, a qual preleciona que em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice. Não prospera o argumento da seguradora de que a indenização por danos estéticos esteja excluída da cobertura contratada, sobretudo porque a apólice não traz em seus termos clarividente exclusão de tal natureza de danos, os quais, em razão disso, denotam-se compreendidos na cláusula de cobertura de “Danos Corporais a Terceiros”. Inteligência da Súmula n° 402 do STJ, segundo o qual o contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula expressa de exclusão. Não é oponível alegação de inexistência de previsão de cobertura dos danos estéticos prevista somente na seara de regulamento das “Condições Gerais do Seguro”, posto que “por se tratar de documento unilateral ao qual o usuário não anuiu no momento da aceitação da proposta” (REsp 1607744/MG). Estando comprovados os danos materiais suportados com medicamentos, exames e afins, não merece retificação a condenação da parte requerida/apelante, excetuado tão somente o valor correspondente ao produto contraceptivo, por não guardar nenhuma pertinência com o tratamento do autor. Impõe-se a devolução da motocicleta envolvida no acidente, posto que é reconhecida a indenização pela perda total do referido veículo, além de que é assegurado o direito de transferência do veículo salvado à seguradora livre e desembaraçado. Neste ponto, o art. 786 do Código Civil, dispõe expressamente que paga a indenização, o segurador sub-roga-se na propriedade do "salvado". “Somente depois de paga a indenização securitária a seguradora sub-roga-se na propriedade do bem salvado (N.U 1020788-06.2021.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 25/05/2022, Publicado no DJE 31/05/2022). (N.U 0001436-04.2020.8.11.0004, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, ANTONIA SIQUEIRA GONCALVES, Terceira Câmara de Direito Privado, Julgado em 21/06/2023, Publicado no DJE 23/06/2023) (G.n.) O acórdão acima transcrito ainda corrobora o entendimento de que a responsabilidade da seguradora é direta e solidária, sendo obrigação da parte autora a transferência do salvado para ela. Dispositivo. Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a presente Ação de Indenização por Danos Materiais, ajuizada por Neudir Delazari & Cia Ltda. em desfavor de Paulo Roberto Ferreira, Gazin Indústria e Comércio de Móveis e Eletrodomésticos Ltda., TLG Transporte e Logistica Ltda. e HDI Seguros S.A., com fundamento no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para fins de: CONDENAR os Réus solidariamente ao pagamento dos danos materiais causados à Autora, estes correspondentes ao valor do veículo Ford Cargo 712 constante na tabela FIPE na data do acidente, respeitadas suas peculiaridades. Sobre o valor deverão incidir juros de mora e correção monetária a partir do evento danoso, consoante disposto nas Súmulas 43 e 54, do STJ, incidindo unicamente a Taxa Selic (art. 389, parágrafo único c.c art. 406, §1º, ambos do CC); CONDENAR os Réus solidariamente ao pagamento dos gastos relativos ao aluguel de outro veículo para substituição (id. n. 82142136), valor sobre o qual deverão incidir juros de mora e correção monetária a partir do efetivo desembolso, consoante disposto nas Súmulas 43 e 54, do STJ, incidindo unicamente a Taxa Selic (art. 389, parágrafo único c.c art. 406, §1º, ambos do CC). Consigno que a responsabilidade da Ré HDI Seguros S.A. é direta e solidária, nos limites da apólice do seguro. CONDENO os Réus ao pagamento solidário de honorários sucumbenciais, que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, a teor do art. 85, § 2°, do Código Processo Civil, bem como ao pagamento das custas processuais. Transitada em julgado, arquive-se, observando as cautelas de estilo. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se, expedindo o necessário. Às providências. Nova Mutum/MT, datado e assinado digitalmente. Cássio Leite de Barros Netto Juiz de Direito

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Karen Katna Araujo Dos Santos x Unimed-Rio Cooperativa De Trabalho Medico Do Rio De Janeiro Ltda

ID: 319736451

Tribunal: TJMT Órgão: 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 1001808-86.2023.8.11.0017

Data de Disponibilização: 08/07/2025

Polo Ativo:

KAREN KATNA ARAUJO DOS SANTOS

Polo Passivo:

UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA

Intimação

Advogados:

KELLVIS MARANHAO ARAUJO

OAB/MT XXXXXX Desbloquear

ANTONIO EDUARDO GONCALVES DE RUEDA

OAB/PE XXXXXX Desbloquear

ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA SENTENÇA Processo: 1001808-86.2023.8.11.0017. REQUERENTE: KAREN KATNA ARAUJO DOS SANTOS REQUERIDO: UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TR… ESTADO DE MATO GROSSO PODER JUDICIÁRIO 2ª VARA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA SENTENÇA Processo: 1001808-86.2023.8.11.0017. REQUERENTE: KAREN KATNA ARAUJO DOS SANTOS REQUERIDO: UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA I – RELATÓRIO Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer c/c Dano Moral e Material c/c Tutela de Urgência, ajuizada por KAREN KATNA ARAUJO DOS SANTOS em desfavor de UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA, todos devidamente qualificados nos autos. A Requerente, em sua petição inicial (ID 136051803), narrou ser beneficiária de plano de saúde operado pela Requerida desde 20/03/2021, tendo atualizado seu pacote para UNIMED ALFA 2 (código 9283) em 20/09/2022, com validade até 20/03/2025, o qual incluía cobertura Ambulatorial e Hospitalar com Obstetrícia e abrangência nacional. Afirmou que sempre manteve os pagamentos das mensalidades em dia e que, em 19/10/2023, ao buscar atendimento no HF CENTRO MÉDICO E ANÁLISES CLÍNICAS LTDA para realizar exames de pré-natal, teve o custeio dos procedimentos negado pelo convênio, conforme Guia nº 5025170 (ID 136052404). Asseverou que estava com 8 (oito) meses de gestação à época da propositura da ação e que sua gravidez era considerada de risco, conforme ultrassom obstétrica (ID 136051814). Sustentou ter realizado diversas tentativas de contato com a Requerida, sem sucesso, mencionando um protocolo de atendimento (39332120231123089966) no qual lhe foi dito que entrariam em contato posteriormente. Diante das negativas, a Autora alegou ter arcado com os custos de exames por conta própria, apresentando Notas Fiscais no valor de R$ 500,00 (ID 136052397) e R$ 280,00 (ID 136052391). Com base nesses fatos, pleiteou a concessão da justiça gratuita, a tutela de urgência para obrigar a Requerida a custear os exames e acompanhamento da gravidez, a inversão do ônus da prova, a condenação da Ré à obrigação de fazer referente à cobertura integral dos serviços ambulatoriais e hospitalares com obstetrícia até o pós-parto e cuidados do recém-nascido, a devolução integral dos valores pagos a título de exames (R$ 780,00), a título de danos materiais, e a condenação por danos morais no valor de R$ 20.000,00. Por meio da Decisão de ID 136079142, o Juízo determinou a emenda da petição inicial para que a Autora acostasse o requerimento administrativo e a negativa formal da Unimed Rio, bem como explicitasse quais exames foram negados. Em resposta (ID 137586941), a Autora manifestou que a Guia 5025170 (ID 136052404) já comprovaria a negativa com status "NEGADA", e que a dificuldade de comunicação com a Ré a impediu de obter documento formal de recusa, reforçando a hipossuficiência na relação consumerista e reiterando a necessidade da inversão do ônus da prova. Juntou, ainda, novas notas fiscais, nos valores de R$ 310 e R$ 325,00 (ID 137586942) relativas a exames obstétricos com cobertura negada pela requerida. Na Decisão de ID 138090013, a petição inicial e a emenda foram recebidas, e a Justiça Gratuita foi deferida em favor da Autora. Contudo, o pedido de antecipação dos efeitos da tutela de urgência foi indeferido, sob o argumento de que não havia negativa formal da operadora nem indicação expressa dos exames postulados, e que a guia apresentada não seria uma negativa da Requerida, mas da própria clínica. Em audiência de conciliação não foi entabulado acordo entre as partes (ID 148546640). Citada, a Requerida UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA apresentou Contestação (ID 152779074). Preliminarmente, arguiu a ausência de interesse processual e ilegitimidade passiva da Autora aduzindo que jamais negou qualquer procedimento e que a suposta negativa teria sido perpetrada pela Unimed Norte de Mato Grosso, uma operadora distinta com CNPJ e autonomia própria, não havendo gerência da Ré sobre seus atos. Impugnou o benefício da justiça gratuita concedido à Autora, por entender que não haveria comprovação efetiva da miserabilidade. No mérito, alegou inexistência de defeito na prestação de serviço por sua parte, pois a negativa se deu por terceiro (Unimed Norte de Mato Grosso), invocando o artigo 14, § 3º, inciso I e II do Código de Defesa do Consumidor (culpa exclusiva de terceiro). Defendeu a ausência de provas dos fatos constitutivos do direito da Autora, nos termos do artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil, rechaçando a verossimilhança das alegações da Autora para fins de inversão do ônus da prova. Por fim, sustentou a inexistência de ato ilícito e, consequentemente, do dever de indenizar, argumentando que a UNIMED-RIO agiu no exercício regular de um direito reconhecido (artigo 188, inciso I, do Código Civil) e que os danos morais alegados não seriam in re ipsa, necessitando de comprovação de agravamento do estado clínico da paciente, o que não ocorreu. Impugnou a restituição de valores a título de danos materiais, asseverando que as notas fiscais juntadas não seriam comprovantes de pagamento. Requereu a improcedência total dos pedidos e a condenação da Autora nos ônus sucumbenciais. A Autora apresentou Impugnação à Contestação (ID 159871571), reforçando a tempestividade de sua manifestação e reiterando a existência de cristalina relação consumerista e a legitimidade passiva da UNIMED-RIO, em razão da abrangência nacional do plano e da Teoria da Aparência, defendendo a responsabilidade solidária das cooperativas que integram o sistema UNIMED, conforme jurisprudência do TJMT e do STJ. Reafirmou a manutenção do benefício da justiça gratuita, citando entendimentos do TJMT e STJ sobre a presunção de veracidade da hipossuficiência para pessoa natural. Insistiu na falha da prestação de serviços e no dever de indenizar, detalhando as negativas de atendimento em 21/06/2023 (ultrassom, gravidez de alto risco - ID 136051814), 11/09/2023 (custo de R$ 500,00 - ID 136052397) e 19/10/2023 (Guia com status "NEGADA" - ID 136052404), e a recusa de 30/11/2023 (custo de R$ 280,00 - ID 136052391). Destacou que a própria Ré reconheceu a negativa. Pleiteou o ressarcimento dos valores despendidos, atualizados para R$ 877,12, e a condenação por danos morais no valor de R$ 20.000,00, reiterando que as notas fiscais, acompanhadas de comprovantes de pagamento das mensalidades, seriam provas idôneas dos gastos. Por fim, pugnou pela inversão do ônus da prova e o julgamento antecipado da lide, reiterando todos os pedidos da inicial. A Unimed do Estado do Rio de Janeiro - Federação Estadual das Cooperativas Médicas (Unimed-FERJ) requereu sua habilitação nos autos (ID 159945579), informando sobre a grave crise financeira/assistencial da Unimed-RIO e a assunção da carteira de clientes ativos da Unimed-RIO pela Unimed-FERJ a partir de 1º de abril de 2024, com autorização da ANS. Requereu sua substituição no polo passivo ou, ao menos, sua inclusão, juntando procuração (ID 159945580), substabelecimento (ID 148242626) e carta de preposto (ID 148242630). Houve decisão determinando a intimação das partes quanto ao interesse na produção de provas (ID 160092807). Posteriormente, a Unimed-RIO, por seus advogados, informou que se reportava à contestação e documentos (ID 162354660), enquanto a Unimed-FERJ (ID 162813420 e 162813422) reiterou não ter interesse na produção de novas provas e nem em conciliação, pugnando pelo julgamento antecipado da lide. A Autora, por sua vez, especificou as provas que pretendia produzir, juntando novos documentos que comprovariam a negativa de atendimento, cobranças indevidas e cancelamento do plano (IDs 163251698 a 163251726). Na Decisão de ID 170324710, o Juízo deferiu a produção de provas orais e designou audiência de instrução para 21/03/2025, às 14h, no horário de Brasília/DF, por videoconferência. As partes foram intimadas a apresentar rol de testemunhas. A Autora arrolou Divina Cleia Silva dos Santos e Hayana Guimarães de Souza Costa (ID 181768543). A Ré, UNIMED-RIO, por sua vez, forneceu e-mails para acesso à audiência (ID 171484293 e ID 183998163), bem como juntou substabelecimento (ID 187393652) e carta de preposição (ID 187393657), indicando Felipe Matos Dupont como preposto. A UNIMED-FERJ requereu a juntada do substabelecimento e carta de preposição (ID 187639900, 187639906 e 187639908). A audiência de instrução e julgamento foi realizada em 21/03/2025 (ID 187979448). Foram ouvidas as testemunhas da parte Autora, conforme mídia protocolada em anexo. As partes manifestaram-se pela apresentação de alegações finais remissivas. Em seguida, a instrução processual foi encerrada, e os autos foram conclusos para prolação da sentença. É o relatório. DECIDO. II - FUNDAMENTAÇÃO Das preliminares: Da ausência ilegitimidade passiva e de interesse processual: Em relação a ausência de interesse processual e ilegitimidade passiva não merece prosperar. A Requerida fundamenta sua defesa na tese de que a negativa de cobertura teria sido realizada pela Unimed Norte de Mato Grosso, uma operadora jurídica e administrativamente distinta da UNIMED-RIO. Contudo, é cediço que o "Sistema Unimed" se apresenta ao consumidor como um conglomerado único, com uma marca de abrangência nacional, operando sob um regime de intercâmbio que permite o atendimento de beneficiários de uma unidade em outras localidades. Essa apresentação conjunta, aliada à interligação das cooperativas, leva à aplicação da Teoria da Aparência, consolidada pela jurisprudência pátria, que afasta a tese de ilegitimidade passiva de qualquer das cooperativas que integram a rede Unimed. Especificamente em relação à natureza do Sistema Unimed e ao regime de intercâmbio existente entre suas unidades (singulares, federações e confederações), o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.665.698/CE (julgado em 23/05/2017, DJe de 31/05/2017), concluiu: i. a Unimed é uma rede de assistência médica organizada nacionalmente, em que diversas cooperativas de trabalho locais e regionais se interligam sob a mesma marca; ii. cada ente é autônomo e independente, mas todos são interligados e se apresentam ao consumidor como integrantes de um único sistema, com abrangência em todo território brasileiro, o que constitui um fator de atração de novos usuários; iii. é transmitida ao consumidor a imagem de que o Sistema Unimed garante o atendimento à saúde em todo o território nacional, haja vista a integração existente entre as cooperativas de trabalho médico; iv. deve haver responsabilidade solidária entre as cooperativas bases geográficas distintas, sobretudo para aquelas que compuseram a cadeia de fornecimento de serviços que foram mal prestados (teoria da aparência). A bem da verdade, a própria UNIMED-RIO, em sua defesa, ao mencionar a responsabilidade da Unimed Norte de Mato Grosso, demonstra a interligação do sistema. Da mesma forma, o Egrégio Tribunal de Justiça de Mato Grosso já decidiu acerca da legitimidade passiva e responsabilidade solidária, por entender que as UNIMEDs integram o mesmo conglomerado econômico, ao afirmar: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS E MATERIAIS. PLANO DE SAÚDE. HOME CARE. ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA. GRUPO ECONÔMICO. TEORIA DA APARÊNCIA. MANUTENÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA. PROPORCIONALIDADE E FINALIDADE COERCITIVA. RECURSO DESPROVIDO. I. Caso em exame Agravo de Instrumento interposto por Unimed Nacional – Cooperativa Central contra decisão proferida pelo juízo da 5ª Vara Cível da Comarca de Cuiabá, que, nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Danos Morais e Materiais ajuizada por Iris de Deus Carvalho, concedeu tutela de urgência para custeio integral de tratamento médico domiciliar (home care), fixando multa diária de R$ 3.000,00 em caso de descumprimento. II. Questão em discussão 2. Há duas questões em discussão: (i) saber se a Unimed Nacional possui legitimidade passiva para responder à demanda proposta pela beneficiária de plano de saúde supostamente vinculado à Unimed Cuiabá; e (ii) saber se o valor da multa diária fixada em caso de descumprimento da tutela de urgência é desproporcional, ensejando sua redução ou limitação. III. Razões de decidir 3. A Unimed apresenta-se ao mercado como um conglomerado nacional de saúde, e suas cooperativas, ainda que juridicamente autônomas, integram economicamente a mesma rede, justificando-se a aplicação da teoria da aparência e o reconhecimento da legitimidade passiva da agravante. 4. A multa cominatória fixada pelo juízo singular possui natureza coercitiva e visa assegurar a eficácia da tutela de urgência, não havendo comprovação de excesso ou desproporcionalidade que justifique sua modificação. IV. Dispositivo e tese 5. Recurso de Agravo de Instrumento desprovido. Tese de julgamento:"1. A operadora nacional de plano de saúde integrante do sistema Unimed possui legitimidade passiva quando atua sob a aparência de unidade do mesmo grupo econômico, mesmo que o contrato tenha sido firmado com unidade local. 2. A multa cominatória prevista no art. 537 do CPC/2015 tem natureza coercitiva e pode ser mantida se não demonstrado excesso ou desproporcionalidade que comprometa sua finalidade." (N.U 1005105-84.2025.8.11.0000, CÂMARAS ISOLADAS CÍVEIS DE DIREITO PRIVADO, TATIANE COLOMBO, Segunda Câmara de Direito Privado, Julgado em 28/04/2025, Publicado no DJE 28/04/2025) (suprimi e grifei) Desta feita, o fato de formarem um complexo empresarial atrai a responsabilidade solidária para promover o atendimento dos consumidores, umas em substituição às outras, consoante verbete nº 286, da Súmula de jurisprudência dominante: "A formação de conglomerado econômico, através de cooperativas prestadoras de serviço de seguro saúde, não exclui a solidariedade entre as pessoas jurídicas cooperativadas pelo atendimento ao consumidor titular do contrato de plano de saúde". Desse modo, resta inequivocamente demonstrado que a UNIMED-RIO, na qualidade de operadora do plano contratado pela Autora, possui legitimidade passiva para figurar no polo da presente demanda e responder solidariamente por eventuais falhas na prestação de serviços ocorridas em qualquer parte do território nacional, independentemente de qual unidade do sistema Unimed tenha operacionalizado a negativa. Ademais, a vasta documentação acostada pela Autora, incluindo o contrato de adesão (ID 136051824) e o cartão UNIMED RIO (ID 136051816), comprova a abrangência nacional do plano e a vinculação da Autora à UNIMED-RIO, Unimed-Rio Cooperativa de Trabalho Médico do Rio de Janeiro Ltda., sendo manifesta a existência do interesse processual da Demandante na regularização dos serviços contratados. Da inclusão no polo passivo da UNIMED-FERJ: No tópico, afirmou que desde o dia 01.04.2024, a UNIMED-FERJ assumiu a responsabilidade pela assistência à saúde de todos os beneficiários da UNIMED-RIO, que deixou de operar como provedora de plano de saúde. Entretanto, restou claro não ter havido sucessão empresarial da UNIMED RIO pela UNIMED FERJ, pois, a própria requerente é categórica ao afirmar que a transferência dos contratos "implicou tão somente a assunção da carteira de clientes ativos da Unimed-RIO, isto é, a responsabilidade pela assistência à saúde de todos os atuais beneficiários, aplicando-se os efeitos exclusivamente aos processos cíveis ajuizados por eventuais consumidores efetivamente transferidos para a Unimed-FERJ e que, por meio de ações judiciais cíveis, questionam a prestação dos serviços de assistência médica anteriormente prestados pela Unimed-RIO, não abrangendo quaisquer questões de natureza diversa, seja de natureza trabalhista, tributária, empresarial etc., haja vista que Unimed-RIO se comprometera a manter responsabilidade pela integralidade de seus débitos." Assim, não houve a transferência da responsabilidade civil decorrente de eventual falha na prestação dos serviços pela UNIMED-RIO anteriormente à transferência da carteira. Dessa forma, a substituição voluntária do polo passivo dependeria de concordância expressa da parte autora, a quem cabe determinar contra quem pretende litigar, nos termos do art. 339, §1º, do CPC, o que não ocorreu, razão porque vai indeferida a inclusão processual. Da impugnação a gratuidade judiciária: No tocante à impugnação da justiça gratuita, é imperioso ressaltar que o benefício foi inicialmente concedido por este Juízo (ID 138090013) e, em consonância com o artigo 99, § 3º, do Código de Processo Civil. A alegação de insuficiência deduzida por pessoa natural presume-se verdadeira, podendo ser afastada nos casos em que os elementos dos autos indiquem a capacidade financeira da parte em arcar com as despesas. Contudo, a Requerida, em sua contestação, limitou-se a alegar a ausência de documentos comprobatórios da miserabilidade da Autora, deixando apresentar qualquer prova ou elemento concreto capaz de ilidir a presunção legal de hipossuficiência ou demonstrar a alteração da condição econômica da Requerente. Portanto, a manutenção do benefício da justiça gratuita à Autora é medida que se impõe, dada a presunção legal de veracidade de sua declaração e a ausência de elementos probatórios produzidos pela Ré capazes de desconstituí-la. Da inversão do ônus da prova: A presente demanda trata de uma relação jurídica de consumo, uma vez que a Autora se enquadra no conceito de consumidora, nos termos do artigo 2º da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor - CDC), enquanto a Requerida, como operadora de plano de saúde, configura-se como fornecedora de serviços, conforme o artigo 3º, § 2º, do mesmo diploma legal. Aliás, sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 608, que diz: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão" Dessa forma, aplica-se ao caso em tela as disposições do Código de Defesa do Consumidor, que estabelecem a responsabilidade objetiva da fornecedora pelos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, independentemente da existência de culpa, em conformidade com o artigo 14 do CDC. Do mérito: No que concerne à análise do mérito, a controvérsia principal reside na falha da prestação de serviços por parte da Requerida, a qual se traduziu na negativa de cobertura de exames e procedimentos essenciais à gestação da Autora, que, conforme laudo médico (ID 136051814), era de alto risco. Da análise do conjunto probatório que instrui o feito, resta incontroverso nos autos que a parte requerente é beneficiária de plano de assistência médica coletivo empresarial, firmado com a UNIMED RIO, conforme cartão virtual anexado (ID 136051816) e contrato de adesão proposta nº 183417 (ID 136051824). Tais documentos demonstram a adesão pela requerente ao plano “ALFA 2 AD”, com cobertura “ambulatorial + hospitalar com obstetrícia de abrangência nacional. A autora também comprovou que não há inadimplência quanto as mensalidades do plano (IDs 163251704, 163251712, 163251716, 163251720). Veja-se que, a própria requerida, em contestação, não negou o direito da autora à cobertura dos serviços ambulatoriais e, inclusive, manifestou pela continuidade da prestação através do intercâmbio para evitar prejuízos a beneficiária, se tratando, pois, o direito da autora à prestação do serviço, de fato incontroverso. Vejamos o trecho da contestação (ID 152779074, pg. 8): Ressalta ainda que a Unimed Norte De Mato Grosso não possui qualquer lastro legal ou judicial para suspender os atendimentos da forma realizada, devendo arcar com qualquer eventual prejuízo causado aos beneficiários. Entretanto, a continuidade do tratamento deverá ser mantida através do intercâmbio para evitar prejuízos a parte Autora, devendo a Unimed Local, cumprir com os termos do “sistema Unimed”. Mesmo diante dessa ótica, qual seja, do direito à cobertura, a documentação acostada pela Autora é robusta em demonstrar as negativas de atendimento em diversas ocasiões, a exemplo da Guia nº 5025170, de 19/10/2023 (ID 136052404), que possui o status "NEGADA", e as mensagens de WhatsApp (ID 163251698) que informam a suspensão do atendimento do plano na clínica credenciada. Não bastasse, a própria prova oral produzida conforta as alegações da requerente no sentido de ter sido impossibilitada de usufruir do plano contratado. No ponto, a testemunha Divina declarou que uma moça veio na cidade de Alto Boa Vista-MT, fazer a apresentação do plano da UNIMED e na oportunidade foram prestadas as informações acerca do plano, mas por motivos particulares não quis aderir. Na ocasião, conheceu a autora e soube que ela aderiu ao plano. A informação era de que o plano era de abrangência nacional. Depois de um tempo, a autora ficou grávida e esta gestação era de alto risco e houve negativa do plano quanto ao atendimento. A Requerida, por sua vez, limitou-se a argumentar que a negativa ocorreu por parte da Unimed Norte de Mato Grosso e que não houve falha em seus próprios serviços, sem, contudo, apresentar qualquer prova que demonstrasse a efetiva autorização ou cobertura dos procedimentos negados, ou que a negativa se deu por culpa exclusiva de terceiro ou da própria consumidora. Ao contrário, a Requerida apenas manifestou o desinteresse na produção de provas adicionais (ID 162813420). Assim, verifico que a parte requerida não cumpriu seu ônus probatório, uma vez que não demonstrou a legalidade da negativa dos exames solicitados pelo médico da autora, incorrendo em prática abusiva e falha na prestação de serviço. No ponto, mesmo que a negativa tenha sido operacionalizada por uma cooperativa Unimed local, a responsabilidade é solidária entre as unidades do sistema, conforme já amplamente fundamentado. As operadoras e administradoras de planos de saúde tem o dever de agir com boa-fé nas relações contratuais com os conveniados aos planos de saúde, levando em consideração a dignidade da pessoa humana. A recusa em cobrir procedimentos em uma gestação de alto risco, que demandavam atendimento imediato, conforme artigo 3º, XIV, da Resolução Normativa nº 259/2011 da ANS, constitui uma grave violação do direito à saúde da consumidora e uma quebra da boa-fé objetiva que deve nortear as relações contratuais, especialmente em planos de saúde (art. 4º, III, CDC). Da obrigação de fazer: No tocante a obrigação de fazer é certa a necessidade do requerido em providenciar todos os procedimentos relacionados à gravidez da Autora, do presente até o pós-parto e cuidados do recém-nascido, conforme o plano UNIMED ALFA 2 AD contratado e em conformidade com as diretrizes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Lei nº 9.656/1998. Dos danos materiais: Quanto aos danos materiais, a Requerente anexou aos autos duas notas fiscais, uma no valor de R$ 280,00 (ulrassom obstrétrico) (ID 136052391) e outra no valor total de R$ 500,00 (consulta médica) (ID 136052397). Ocorre que, a mera apresentação de nota fiscal, sem o devido comprovante de pagamento, não se mostra suficiente ao reembolso, pois, desacompanhadas do respectivo comprovante de pagamento ou do desembolso das quantias. A medida traz mais segurança e transparência ao reembolso, que como o próprio nome diz, pressupõe não somente a prestação do serviço, mas o efetivo adiantamento das despesas pelo beneficiário. Neste sentido, colaciono os seguintes julgados que confortam referida tese: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ACIDENTE DE TRÂNSITO - MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO - NOTAS FISCAIS SEM RECIBO DE PAGAMENTO - IMPOSSIBILIDADE. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Art. 320 . CC. A mera apresentação de nota fiscal sem o recibo de pagamento não é suficiente para pleitear valor despendido. (...) (TJ-MG - AC: 10351140029254001 Janaúba, Relator.: José Augusto Lourenço dos Santos, Data de Julgamento: 08/04/2022, Câmaras Cíveis / 12ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 12/04/2022) (grifei). Agravo de Instrumento – ação de obrigação de fazer - cumprimento de sentença – reembolso de despesas médicas – insuficiência de documentos – nota fiscal por si só não comprova o pagamento das despesas – necessidade da prova do efetivo desembolso ou do comprovante de pagamento – reembolso pressupõe antecipação do pagamento pelo beneficiário e dever ser comprovado – acolhimento da impugnação para se exigir a prova de pagamento antes do reembolso – Recurso parcialmente provido. (TJ-SP - AI: 22176902420238260000 São Bernardo do Campo, Relator.: Moreira Viegas, Data de Julgamento: 03/10/2023, 5ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 03/10/2023) (grifei) Veja-se que a Lei nº 9.656/1998, em seu artigo 12, inciso VI, prevê o reembolso de despesas efetuadas pelo beneficiário em casos de urgência ou emergência, quando não for possível a utilização dos serviços da rede credenciada, como ocorreu no presente caso. Entretanto, para que isso ocorra, por pressuposto lógico, é necessário que o beneficiário do plano de saúde tenha, efetivamente, desembolsado previamente os valores com a assistência à saúde, o que não foi comprovado, razão pela qual improcede o pedido, no ponto. Dos danos morais: O dever de indenizar, portanto, exsurge da responsabilidade objetiva da fornecedora, nos termos do artigo 14 do CDC, sendo irrelevante a discussão sobre a culpa em si, uma vez que a Teoria do Risco-Proveito da Atividade Negocial impõe ao fornecedor o dever de reparar os danos decorrentes de sua atividade, independentemente de dolo ou culpa. A verossimilhança das alegações da Autora é comprovada pela vasta documentação acostada e pela prova oral produzida em audiência, que corrobora a recusa de atendimento e os transtornos sofridos. Nestes termos, a testemunha Hayana relatou que a autora estava com gravidez de risco, por conta do sobrepeso e, então, foi para a cidade de Goiânia fazer o exame e a acompanhou e, nessa ocasião, deu tudo certo e a autora consultou pelo plano da UNIMED. Na segunda oportunidade que foi realizar a consulta, a autora foi “barrada” pela recepcionista da UNIMED, no que a autora ficou muito nervosa e abalada. Então, a autora precisou pagar a consulta particular para possibilitar o atendimento. A conclusão dos procedimentos necessários gestacionais foi pelo SUS. A recusa indevida da cobertura dos exames e acompanhamento da gravidez de alto risco, por parte da Requerida, configura ato ilícito, nos termos do artigo 186 do Código Civil, e gera o dever de indenizar, conforme o artigo 927 do mesmo diploma, combinado com o artigo 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor. A situação vivenciada pela Autora, que se viu desamparada em um momento de extrema vulnerabilidade e preocupação, com uma gestação de alto risco, ultrapassa o mero dissabor a concluir que o conflito por ela vivenciado extrapolou os limites do mero dissabor decorrente do descumprimento contratual, provocando abalo psicológico, atingindo sua esfera extrapatrimonial, que deve ser reparado. A angústia, o estresse e a aflição causados pela incerteza quanto à assistência médica essencial para a saúde da mãe e do feto são elementos que, por si só, configuram abalo moral. A recusa indevida de cobertura de tratamento, especialmente em situações de urgência e emergência e envolvendo a saúde de gestantes, agrava a situação de aflição psicológica e de angústia, justificando a reparação por dano moral. Nestes termos, a jurisprudência já decidiu: PLANO DE SAÚDE - OBRIGAÇÃO DE FAZER – NEGATIVA DE COBERTURA – Autora que, estando gestante à época, apresentou anticoagulante lúpico alterado, oportunidade em que lhe foi prescrito o tratamento com o anticoagulante Enoxaparina 40 mg (Clexane) para uso durante todo o período gestacional e puerpério - Gravidez de alto risco, tanto fetal quanto materno – Alto risco de abortamento e trombose venosa - (...) Danos morais incontestes - Negativa indevida de cobertura de medicamento em situação na qual a autora já se encontrava especialmente fragilizada em razão de gestação de alto risco fetal e materno – Efetivo e justificado transtorno psíquico – Fixação de indenização em R$ 10.000,00 – Valor razoável que atende o caráter punitivo e pedagógico, sem gerar enriquecimento ilícito – Dano material devido - Reembolso do valor comprovadamente despendido com a aquisição do medicamento – Sentença de improcedência reformada - Ônus sucumbenciais a cargo da ré - RECURSO PROVIDO. (TJ-SP - Apelação Cível: 1047393-81 .2022.8.26.0114 Campinas, Relator.: Angela Moreno Pacheco de Rezende Lopes, Data de Julgamento: 16/02/2024, 10ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/02/2024) (grifei) No que se refere ao quantum da indenização, a doutrina e jurisprudência orientam que, para o seu justo arbitramento, o juiz deve levar em consideração o poderio econômico de quem deve indenizar. Entretanto, tal não se pode ser visto, isoladamente, pois também são de relevância outros aspectos, tais como a situação pessoal do ofendido, a gravidade do dano moral, sobretudo no que diz respeito aos reflexos negativos do ilícito civil na autoestima da vítima e nas suas relações sociais e comerciais, o grau da culpa e a rapidez na atenuação da ofensa e de seus efeitos. Ademais, para que se afigure mais justa, a indenização deve ter dupla função: a primeira, de cunho compensatório para a vítima, e a segunda, de cunho punitivo para o causador do dano, como forma de desestimular novas condutas de mesma natureza pelo ofensor. Por essas premissas, fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais), quantia essa que converge com os pontos elencados e, ainda, não caracteriza o enriquecimento indevido da parte autora. III – DISPOSITIVO Ante o exposto, e por tudo o mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial por KAREN KATNA ARAÚJO DOS SANTOS em desfavor de UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO DO RIO DE JANEIRO LTDA com resolução do mérito, nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para: (a) CONDENAR a requerida na obrigação de fazer consistente em custear integralmente o acompanhamento ambulatorial e hospitalar com obstetrícia, incluindo todos os exames e procedimentos relacionados à gravidez da Autora, do presente até o pós-parto e cuidados do recém-nascido, conforme o plano UNIMED ALFA 2 AD contratado e em conformidade com as diretrizes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e a Lei nº 9.656/1998. (b) CONDENAR a requerida ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em favor da Autora. Sobre este valor, deverão incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mês a partir da data da citação (art. 406 do Código Civil c/c art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional) e correção monetária pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) a partir da data da prolação desta sentença. Em virtude da sucumbência mínima, condenado a parte Ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da condenação (somatório dos danos materiais e morais), nos termos do artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil. Havendo recurso: Na hipótese de interposição do recurso de apelação, certifique-se acerca da tempestividade e, em seguida, intime-se a parte recorrida para, no prazo 15 (quinze) dias, apresentar suas contrarrazões de apelação, na forma do artigo 1.010, §1º do CPC. Após, com ou sem contrarrazões recursais, voltem para análise do recurso. Preclusa a via recursal, certifique-se o trânsito em julgado. Com o trânsito em julgado, e não havendo requerimento(s), remetam-se os autos ao arquivo, na condição de findo, mediante adoção e anotações de praxe. Havendo pedido de cumprimento de sentença: a) Intime-se o devedor para pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de multa de 10% sobre o valor da condenação. No mandado deverá, ainda, constar a faculdade de, querendo, o executado impugnar o cumprimento de sentença, nos termos do art. 525, do CPC/15; b) Transcorrido o prazo para pagamento voluntário, intime-se a parte exequente para que apresente, no prazo de 05 (cinco) dias, memória atualizada e discriminada do débito, incluídas as sanções constantes do art. 523, §1º, do CPC; c) Apresentada impugnação, intime-se a parte contrária para manifestação em 15 dias; após, conclusos para decisão. e arquive-se com as baixas e cautelas de estilo. Cumpra-se, providenciando e expedindo o necessário, servindo a presente decisão como mandado/ofício/requisição. São Félix do Araguaia-MT, data da assinatura eletrônica. LUIS OTÁVIO TONELLO DOS SANTOS Juiz de Direito Substituto

Conteúdo completo bloqueado

Desbloquear

Encontrou 36 resultados. Faça login para ver detalhes completos e mais informações.

Fazer Login para Ver Detalhes