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Ministério Público Do Estado Do Paraná x Luiz Henrique Mondini Mandrik

ID: 260784160

Tribunal: TJPR Órgão: Vara Criminal de Realeza Classe: AçãO PENAL - PROCEDIMENTO SUMáRIO Nº Processo: 0003500-57.2019.8.16.0141

Data de Disponibilização: 25/04/2025

Polo Ativo:

MINISTéRIO PúBLICO DO ESTADO DO PARANá

Polo Passivo:

LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK

Conclusão

Advogados:

GUILHERME EDUARDO POMPERMAIER

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE REALEZA VARA CRIMINAL DE REALEZA - PROJUDI Rua Belém, 2393 - Centro Cívico - Realeza/PR - CEP: 85.770-000 - Fone: (46) 3905-6516 - Celular: (46) 3905-6… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE REALEZA VARA CRIMINAL DE REALEZA - PROJUDI Rua Belém, 2393 - Centro Cívico - Realeza/PR - CEP: 85.770-000 - Fone: (46) 3905-6516 - Celular: (46) 3905-6538 - E-mail: rea-ju-scr@tjpr.jus.br Processo: 0003500-57.2019.8.16.0141 Classe Processual: Ação Penal - Procedimento Sumário Assunto Principal: Contra a Mulher Data da Infração: 02/11/2019 Autor(s): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ Vítima(s): KEILY DE CAMPOS DA COSTA Réu(s): LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK SENTENÇA I. RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, artigo 129, I, da Constituição Federal, artigo 24 do Código de Processo Penal, e artigo 100, §1º, do Código Penal, ofereceu denúncia em face de LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK, já qualificado nos autos, dando-o como incurso nos tipos penais previstos nos artigos 129, §9º (Fato 01) e 147 (Fato 02), ambos do Código Penal, no contexto da Lei n.º 11.340/2006, em concurso material de infrações (artigo 69 do Código Penal), conforme descrição fática contida na inicial acusatória (mov. 34.8): “FATO 01 Em data e horário não preciso nos autos, mas certo de que entre o dia 02 de novembro de 2019, às 22 horas e 03 de novembro de 2019, às 02 horas, na residência localizada na Linha Vila Nova, Zona Rural, neste município e Comarca de Realeza/PR, o denunciado LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK, agindo dolosamente, ofendeu a integridade corporal da vítima Keily de Campos da Costa, ao acertar-lhe um soco no olho, como também, ao pegá-la pelo pescoço reiteradamente, causando hematomas no pescoço e no lado esquerdo da testa (cf. Boletim de Ocorrência nº 2019/1281311, Laudo de exame de lesões corporais de mov. 12.2, imagens de mov’s. 1.10/13 e Termo de Declaração de mov. 1.5). FATO 02 Nas mesmas circunstâncias de tempo e espaço do fato 01, o denunciado LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK, agindo dolosamente, ameaçou causar mal injusto e grave à Keily de Campos da Costa, ao lhe dizer “eu te mato, mas não vou preso”, como também, apontando uma faca em direção à vítima, causando fundado temor (cf. Boletim de Ocorrência nº 2019/1281311 e Termo de Declarações de mov. 1.5).” A denúncia foi recebida em 12.03.2022 (mov. 45.1). Citado (mov. 84.1), o réu apresentou resposta à acusação por meio de defensor dativo (mov. 109.1), na forma do artigo 396-A do Código de Processo Penal, pugnando pela manifestação sobre o mérito em sede de alegações finais. Em decisão de saneamento e organização do processo (mov. 111.1), o Juízo consignou que não é o caso de absolvição sumária (artigo 397 do CPP) e designou audiência de instrução e julgamento. Em audiência de instrução (mov. 158.1), foi reconhecida a revelia do réu e deferido o pedido do Ministério Público de prazo para aditamento. O órgão ministerial apresentou aditamento à denúncia (mov. 161.1), recebido em 20.08.2024 (mov. 170.1). Sobreveio audiência de continuação (mov. 196.1). Na fase do artigo 402 do Código de Processo Penal não foram requeridas diligências pelas partes. O Ministério Público apresentou alegações finais, pugnando pela condenação do réu nas sanções do artigo 129, §9º, do CP, e pela declaração de extinção da punibilidade com relação ao delito de ameaça, conforme termos da denúncia (mov. 200.1). Em alegações finais por memoriais, a defesa requereu o reconhecimento da excludente de ilicitude da legítima defesa e, subsidiariamente, a absolvição do acusado por insuficiência de provas, nos termos do artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal (mov. 204.1). Os autos vieram conclusos para sentença. É o relatório. Decido. II. FUNDAMENTAÇÃO Preliminarmente, importante registrar que o processo foi instaurado e se desenvolveu de maneira regular, estando presentes as condições da ação e os pressupostos processuais. Ademais, não se verificam a existência de quaisquer nulidades que possam viciar a presente relação processual. Logo, possível analisar o mérito da causa. Do delito imputado ao acusado – artigo 147, caput, do Código Penal (Fato 02) Trata-se de ação penal de iniciativa do Ministério Público do Estado do Paraná, cuja denúncia atribui ao acusado a prática do crime insculpido no artigo 147, caput, do Código Penal. Entretanto, denota-se a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva em abstrato. O acusado foi denunciado pela prática da conduta prevista no artigo 147, caput, do Código Penal (Fato 02), cuja pena máxima ao delito é de 6 (seis) meses de detenção. Como se sabe, o prazo prescricional para penas inferiores a um ano é de 3 (três) anos, a teor do artigo 109, VI, do Código Penal. Analisando detidamente o feito, verifica-se que o fato delitivo se deu em 02.11.2019/ 03.11.2019 (mov. 34.8) e o recebimento da denúncia em 12.03.2022 (mov. 45.1). Por consequência, não ocorrendo causas suspensivas/interruptivas da prescrição entre a data do fato e o recebimento da denúncia, tem-se que foi ultrapassado o prazo de 3 (três) anos dentre os marcos interruptivos mencionados, o que enseja a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva estatal, pela pena máxima em abstrato prevista no tipo, nos termos dos artigos 111, 107, IV e 109, VI, todos do Código Penal. A propósito, citam-se os seguintes precedentes: APELAÇÃO CRIMINAL. CONTRAVENÇÃO PENAL DE PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO. ART. 42 DO DECRETO-LEI 3.688/41. DECISÃO DE NÃO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. INSURGÊNCIA MINISTERIAL. NÃO OBSTANTE, OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO PELA PENA MÁXIMA EM ABSTRATO COMINADA PELO DELITO. PRAZO DE 03 (TRÊS) ANOS. ART. 109, INCISO VI, DO CÓDIGO PENAL. FATOS QUE TERIAM OCORRIDOS EM 20/05/2018. AUSÊNCIA DE INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO ATÉ O MOMENTO. DECLARAÇÃO DE OFÍCIO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. ART. 109, INCISO VI, E ART. 107, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. RECURSO PREJUDICADO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0001048-16.2018.8.16.0204 - Curitiba - Rel.: JUIZ DE DIREITO DE COMARCA DE ENTRÂNCIA FINAL EMERSON LUCIANO PRADO SPAK - J. 14.02.2022). Grifos nossos. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE INJÚRIA E DANO. ARTIGOS 140 E 163, RESPECTIVAMENTE, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO. ARTIGO 107, INCISO IV, DO CÓDIGO PENAL. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0010151-50.2017.8.16.0182 - Curitiba - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LEO HENRIQUE FURTADO ARAUJO - J. 25.10.2021). Grifos nossos. APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 28 DA LEI 11.343/06. SENTENÇA CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA DO RÉU. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. ARTIGOS 107, INCISO IV, CÓDIGO PENAL. RECURSO CONHECIDO. PREJUDICIALIDADE DO MÉRITO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0000992-34.2017.8.16.0166 - Terra Boa - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LEO HENRIQUE FURTADO ARAUJO - J. 19.04.2021). Grifos nossos. Portanto, resta extinta a punibilidade do acusado com relação ao crime de ameaça (Fato 02) pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva em abstrato, nos termos dos artigos 107, IV e 109, VI, ambos do Código Penal. Do delito imputado ao acusado – artigo 129, §9º, do Código Penal (Fato 01) A materialidade delitiva foi comprovada por meio do auto de prisão em flagrante delito (mov. 1.1), do boletim de ocorrência (mov. 1.16), do termo de declaração de mulher vítima de violência doméstica e/ou familiar (mov. 1.18), das imagens (mov. 1.9 a 1.13), da ficha ambulatorial (mov. 1.14), do laudo de exame de lesões corporais (mov. 12.2), assim como dos depoimentos colhidos ao longo da instrução processual. A autoria, por seu turno, é incontroversa, consoante conjunto probatório produzido em Juízo, aliado aos demais elementos colhidos em fase policial. A vítima Keily de Campos da Costa, ouvida em juízo (mov. 157.4), relatou que estava na casa do meu ex-sogro no interior, aí discutimos e ele me bateu, eu não consigo me lembrar bem. Afirmou que não se recorda bem da faca, mas que ele chegou a lhe agredir naquele dia, depois ele foi para o carro e minha filha foi atrás, ele abriu a porta e deu uma portada na cabeça da minha filha ainda, machucou a nenê e pegou a faca para me matar, mas conseguiu tirar a faca dele por cima de mim, foi a hora que ele me acertou na perna. Declarou que foi ameaçada, que ele disse que ia lhe matar e não ia acontecer nada com ele, que ele ia fugir, tanto que ele lhe bateu e quando ele acertou a faca e viu que tinha sido cortada, ele fugiu. Narrou que ele foi na mãe dele, que levou ele até a delegacia. Quando o relacionamento iniciou tinha 19 anos e está com 26 anos agora. Afirmou que ele lhe bateu quando estava grávida de 04 meses. Afirmou que tem ansiedade e que toma medicação. Declarou que não consegue lembrar bem o motivo da agressão. Começaram a brigar e ele era muito agressivo e lhe batia, mas não consegue lembrar bem o que aconteceu. Afirmou que se defendia, porque qualquer palavra para ele era motivo para ele lhe agredir. Contou que ele pegou uma faca e tirou da cintura e falou que iria lhe matar. Falou que foi perto dele, pegou e puxou por cima dele a faca, foi a hora que ele cortou a minha perna. Relatou que ele viu que eu me cortei porque na hora que eu puxei a faca dele ele puxou para cima e acabou me cortando, então ele entrou no carro e saiu e eu fiquei lá no interior, eu e minha filha. Evandro Candido Duarte, informante de acusação, relatou em juízo (mov. 195.1) que na data dos fatos tinham combinado de fazer uma janta na casa do Márcio, padrasto do acusado. Mais tarde, chegaram a vítima e o réu. A vítima começou a falar do passado de Luiz e iniciaram uma discussão. Viu apenas a discussão verbal entre os envolvidos, mas que não houve agressões ou ameaças. Márcio Ferraza, também informante de acusação, declarou perante a autoridade judicial (mov. 195.2) que no dia dos fatos estava com o acusado e a vítima, mas teve que se ausentar porque seu filho passou mal. Disse que no dia dos fatos estavam na sua casa o réu, a ofendida e outro casal. Quando retornou do posto de saúde, não tinha mais ninguém em casa. O policial militar Vinicius Segat Bernardt declarou em Juízo (mov. 195.3) que não se recorda muito bem do ocorrido. Não lembrou de lesão e nem de como estava a vítima. Jonatan Elias Martins, policial militar, afirmou em Juízo (mov. 195.4) que não se recorda dos detalhes da ocorrência, ratificando as informações prestadas em sede policial. O réu Luiz Henrique Mondini Mandrik, em seu interrogatório judicial (mov. 195.5), afirmou que no dia dos fatos estava com a vítima em uma janta na casa de Márcio. Estava com outra pessoa pouco tempo antes o que motivou a briga com a ofendida. Deu uma faca para Keili, que lhe ameaçou, dizendo que iria lhe matar. Ela pegou a faca e acabou cortando a mão, porque foi tirar a faca dela quando ela veio para cima. Contou que quando ela foi colocar a faca, tirou e segurou a faca, então ela puxou para trás e acabou cortando a minha mão. Afirmou que ela cutucou sua virilha e cortou o próprio joelho. Pois bem. Dos elementos de prova disponíveis nos autos, há provas robustas quanto a autoria e materialidade delitiva. Imputa-se ao acusado a prática do delito insculpido no artigo 129, §9º, do Código Penal: “Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. (...) § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.” Veja-se que o material probatório constante dos autos é nítido no sentido de que Luiz agrediu a vítima Keily, ao acertar-lhe um soco no olho, além de pegá-la pelo pescoço, causando hematomas no pescoço e o no lado esquerdo da testa, além de causar-lhe uma lesão no joelho, fazendo uso de uma faca. A ofendida, nas duas oportunidades em que foi ouvida, afirmou que no dia dos fatos estava com o réu em um jantar e que de repente o acusado mudou de comportamento, passando a agir com agressividade. Os informantes Evandro e Marcio confirmaram a ocorrência do jantar e que o réu e a vítima discutiram no dia dos fatos. Apesar de a vítima declarar em juízo que não se recorda com exatidão da dinâmica dos fatos, disse com firmeza que no dia o acusado também utilizou uma faca, a qual tentou tirar da mão de Luiz, momento em que acabou sendo atingida na perna. A partir disso, o acusado teria visto que a perna de Keily estava sangrando, por isso, fugiu. As imagens acostadas aos autos corroboram as declarações afirmadas em juízo e confirmam a existência de lesões aparentes do tipo escoriações na perna direita, pescoço e face da vítima (mov. 1.9, 1.10 e 1.13). Além disso, o laudo de lesões corporais de mov. 12.2 atestou que houve ofensa à integridade física da vítima que sofreu múltiplas lesões do tipo escoriações e hematomas, na região frontal, no braço e joelho. A versão apresentada pela vítima em sede judicial está em consonância com os depoimentos dos informantes, assim como com as imagens e fotografias das lesões sofridas e prontuário médico acostado ao mov. 1.9, 1.10, 1.13 e 12.2. Nos ensinamentos de Cezar Roberto Bitencourt, para a incidência da excludente de ilicitude da legítima defesa é preciso a presença dos seguintes requisitos de forma simultânea: “agressão injusta, atual ou iminente; direito (bem jurídico) próprio ou alheio; meios necessários usados moderadamente; elemento subjetivo: animus defendendi[1]”. In casu, não restou comprovada a presença dos requisitos aludidos acima. Veja-se que a discussão entre o réu e a vítima foi presenciada pelos informantes Evandro e Márcio e os prontuários e laudos médicos convergem para a existência de lesões na vítima. Não há qualquer indício de que o réu tenha sofrido alguma injusta agressão ou estivesse na iminência de sofrê-la, como alegado pela defesa em suas alegações finais. Cabe à defesa comprovar que se está diante de hipótese de excludente de ilicitude, o que não ocorreu in casu. A propósito, já se manifestou este E. TJPR: APELAÇÃO CRIMINAL – LESÃO CORPORAL SIMPLES - ALEGAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA – NÃO ACOLHIMENTO – INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE INJUSTA AGRESSÃO, ATUAL OU IMINENTE - PROVAS SUFICIENTES PARA EMBASAR ÉDITO CONDENATÓRIO - CRIME CONFIGURADO – SENTENÇA MANTIDA.Recurso conhecido e improvido. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0001218-98.2018.8.16.0135 - Piraí do Sul - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARCO VINICIUS SCHIEBEL - J. 16.08.2021). Grifos nossos. APELAÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 129, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE. SENTENÇA CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA DO RÉU. PLEITO ABSOLUTÓRIO EM RAZÃO DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. NÃO ACOLHIMENTO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. AUTO DE LESÕES CORPORAIS. RELATOS DA VÍTIMA COERENTES COM O FATO OCORRIDO BEM COMO COM OS DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS. PROVAS SUFICIENTES PARA A CONDENAÇÃO. ALEGAÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE PROVA ACERCA DA REFERIDA EXCLUDENTE DE ILICITUDE. (...) SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0001712-73.2018.8.16.0163 - Siqueira Campos - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS LEO HENRIQUE FURTADO ARAUJO - J. 12.08.2021). Grifos nossos. Outrossim, não se extrai dos autos nenhum indicativo de que o acusado tenha repelido injusta agressão iniciada pela vítima, vez que, caso assim fosse, não teria lhe desferido socos e lhe causado lesões na perna. Assim, não comporta acolhimento a tese da defesa, eis que ausentes os requisitos previstos no artigo 25 do Código Penal. Igualmente, presentes os elementos objetivos e subjetivos do tipo, inviável o pedido de absolvição com base na insuficiência probatória. Nota-se, ainda, que a palavra da vítima tem especial relevância, possuindo um grande teor probatório suas declarações, sobretudo quando em consonância com as demais provas dos autos, como se observa no caso em apreço. A propósito: DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO POR LESÃO CORPORAL E CONTRAVENÇÃO PENAL EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. TESE DE INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. NÃO ACOLHIMENTO. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADAS. PALAVRA DA VÍTIMA CORROBORADA POR LAUDO PERICIAL E TESTEMUNHAS. CONHECIDO EM PARTE O RECURSO DE PARTE E NÃO PROVIDO OU DENEGAÇÃO (...) (TJPR - 1ª Câmara Criminal - 0006076-40.2022.8.16.0069 - Cianorte - Rel.: SUBSTITUTA JAQUELINE ALLIEVI - J. 12.04.2025). Grifos nossos. APELAÇÃO CRIMINAL – DELITO DE AMEAÇA – ARTIGO 147 DO CÓDIGO PENAL - PROMESSA DE CAUSAR MAL INJUSTO E GRAVE À VÍTIMA - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - DOLO ESPECÍFICO CARACTERIZADO – RELEVÂNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA – CORROBORAÇÃO PELO DEPOIMENTO DE TESTEMUNHA OCULAR - SENTENÇA MANTIDA. Recurso conhecido e desprovido. (TJPR - 4ª Turma Recursal - 0001132-15.2019.8.16.0161 - Sengés - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS MARCO VINICIUS SCHIEBEL - J. 11.07.2022). Grifos nossos. Outrossim, evidente a presença do elemento subjetivo do tipo consubstanciado no dolo, visto que a vítima foi enfática e objetiva ao declarar que o acusado lhe agrediu, agindo com vontade e consciência dirigida à prática do delito. Desse modo, evidenciado que o acusado dolosamente agiu com consciência e vontade, ofendendo a integridade corporal da vítima, é de se julgar procedentes os pleitos iniciais no que tange ao delito de lesão corporal praticada no contexto de violência doméstica. III. DISPOSITIVO Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES a pretensão acusatória deduzida na denúncia para o fim de CONDENAR o réu LUIZ HENRIQUE MONDINI MANDRIK nas sanções descritas no artigo 129, §9º, do Código Penal (Fato 01), e EXTINGUIR A PUNIBILIDADE do acusado em relação ao delito estampado no artigo 147, caput, do Código Penal (Fato 02), na forma do artigo 107, IV, do Código Penal. IV. DOSIMETRIA DA PENA Na forma do artigo 68 do Código Penal, passo à fixação da pena a ser imposta ao réu: Do crime previsto no artigo 129, §9º, do Código Penal (Fato 01): Das circunstâncias judiciais (artigo 59 do CP): Partindo-se do mínimo legal de 2 (dois) anos de reclusão, passo a valorar as circunstâncias judiciais: A culpabilidade, consistente no grau de reprovabilidade concreta, diante da situação fática em que praticou a conduta, deve ser tida como normal à espécie delitiva. O réu possui maus antecedentes (fato anterior e condenação com trânsito em julgado posterior ao fato ora apurado - 0002536-98.2018.8.16.0141 – cf. mov. 197.1). Não há elementos seguros para se aferir a conduta social do réu. Não há elementos nos autos que permitam a análise da personalidade do acusado. Os motivos e as consequências do crime, são normais à espécie. As circunstâncias do crime devem ser valoradas negativamente, tendo em vista que o acusado praticou o delito de lesão corporal na presença de sua filha, de dois anos de idade na época dos fatos, que inclusive chegou a se colocar entre os pais durante a discussão, sendo atingida na cabeça. O comportamento da vítima não influi na fixação da pena-base no presente caso. Sopesando os elementos acima, diante da presença de duas circunstâncias judiciais desfavoráveis (maus antecedentes e circunstâncias do crime), fixo a pena-base no mínimo legal de 2 (dois) anos e 9 (nove) meses de reclusão, utilizando como critério a fração de 1/8 (um oitavo) sobre o intervalo entre as penas máxima e mínima cominadas ao delito. Das circunstâncias legais (agravantes e atenuantes): Ausentes circunstâncias atenuantes da pena. Por outro lado, presente a agravante estampada no artigo 61, II, “f” do CP, uma vez que o réu praticou o delito prevalecendo-se de relações domésticas e no contexto de violência contra a mulher, eis que praticado o delito contra sua companheira na época, Keily. Outrossim, conforme Tema 1197 do STJ, “A aplicação da agravante do art. 61, inc. II, alínea f, do Código Penal, em conjunto com as disposições da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), não configura bis in idem.” Portanto, presente uma agravante, elevo a pena-base em 1/6 partindo da pena base e estabeleço a pena intermediária em 3 (três) anos, 2 (dois) meses e 15 (quinze) dias de reclusão. Das causas especiais de aumento e de diminuição de pena: Não há causas de aumento ou de diminuição a serem consideradas, pelo que fixo a pena definitiva do acusado 3 (três) anos, 2 (dois) meses e 15 (quinze) dias de reclusão. V. REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA Em observância ao disposto no artigo 33, §2°, “c”, do Código Penal, fixo o REGIME ABERTO para início de cumprimento da pena privativa de liberdade, mediante cumprimento das seguintes condições, as quais fixo com base no artigo 115 da Lei de Execuções Penais: a) comprovação de ocupação lícita, nos autos, no prazo de 30 (trinta) dias, a partir da audiência admonitória; b) não mudar do território da Comarca do Juízo da Execução, sem prévia autorização; c) não se ausentar da Comarca, sem prévia autorização do Juízo; d) recolher-se à sua habitação até as 22h00min às 06h00min; e) comparecer bimestralmente em Juízo para informar e justificar suas atividades. f) comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação, com fulcro no artigo 152, parágrafo único, da LEP. VI. SUBSTITUIÇÃO DA PENA Inaplicável por se tratarem de infrações penais praticadas com violência e grave ameaça à pessoa, conforme dispõe o artigo 44, I, do Código Penal. Outrossim, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está consolidada (Súmula nº 588/STJ) no sentido de que, nas hipóteses em que a conduta é cometida com violência ou grave ameaça à pessoa, no âmbito doméstico, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos é inviável. In verbis: “Súmula 588 - A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos”. No mesmo sentido, observe-se: “DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL – APELAÇÃO CRIMINAL – VIAS DE FATO no âmbito da violência doméstica – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – pleito absolutório por insuficiência de provas – descabimento – AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS – palavra extrajudicial DA VÍTIMA corroborada Pelo depoimento judicial do policiaL militar que ATENDEU A OCORRÊNCIA – retratação judicial divorciada dos demais elementos de prova – condenação mantida – IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS – INTELIGÊNCIA DO ART. 44, I, DO CP e da SÚMULA 588 DO STJ – RECURSO DESPROVIDO, AFASTANDO-SE, DE OFÍCIO, A PROIBIÇÃO DE FREQUENTAR BARES, BOATES E CONGÊNERES DENTRE AS CONDIÇÕES DO REGIME ABERTO.” (TJPR - 5ª Câmara Criminal - 0000299- 57.2023.8.16.0128 - Paranacity - Rel.: DESEMBARGADOR MARCUS VINICIUS DE LACERDA COSTA - J. 25.01.2025). (grifo nosso) Sendo assim, é vedada a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. VII. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA Em que pese estarem presentes os requisitos autorizadores da suspensão condicional da pena prevista no artigo 77 do Código Penal, entendo que a suspensão da execução da pena no caso presente é prejudicial ao réu, uma vez que o seu cumprimento no regime aberto é mais benéfico do que as condições que lhe seriam determinadas pelo período de dois anos. Do mesmo decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná: “DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE LESÃO CORPORAL NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PEDIDOS DE FIXAÇÃO DA PENA NO MÍNIMO LEGAL E DE REGIME DE CUMPRIMENTO INICIAL ABERTO. SENTENÇA APELADA QUE FIXOU A PENA NO MÍNIMO LEGAL E DETERMINOU O CUMPRIMENTO EM REGIME INICIALMENTE ABERTO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. PEDIDOS NÃO CONHECIDOS. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE DOLO. INVIABILIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO HARMÔNICO. RELEVÂNCIA DA PALAVRA DA VÍTIMA NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CONDENAÇÃO MANTIDA. PRECEDENTES DESTA CORTE. AFASTAMENTO, DE OFÍCIO, DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. MEDIDA NÃO RECOMENDÁVEL, POR SER MAIS PREJUDICIAL EM RELAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME ABERTO . RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, NÃO PROVIDO, COM A REFORMA, DE OFÍCIO, PARA AFASTAR A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA POR SER MEDIDA MAIS GRAVOSA AO ACUSADO.” (TJPR - 1ª Câmara Criminal - 0002803- 45.2021.8.16.0083 - Francisco Beltrão - Rel.: SUBSTITUTO EVANDRO PORTUGAL - J. 30.11.2024) VIII. DA REPARAÇÃO DO DANO Sobre o tema, é cediço que para a fixação de valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, nos termos do artigo 387, IV, do CPP, é preciso que haja pedido expresso na denúncia pelo Ministério Público. Igualmente, para a aferição de sua ocorrência ou quantificação de valores, não é preciso de instrução probatória específica, bastando a verificação pelo magistrado da ocorrência do fato delituoso com base nos elementos de juízo disponíveis e, por conseguinte, da existência de dano ao ofendido. No caso em apreço, apesar de haver pedido expresso formulado pelo Ministério Público na denúncia, a vítima relatou em juízo que não sofreu prejuízos materiais e que não chegou a fazer nenhum acompanhamento psicológico após os fatos. Descreveu apenas que sofreu danos morais, de maneira genérica, os quais não foram apurados no processo. Logo, deixo de fixar indenização em favor da vítima. Não houve a utilização de serviços de saúde em razão da prática das infrações penais, razão pela qual deixo de fixar valor de ressarcimento, com fulcro no §4º do artigo 9º da Lei nº 11.340/2006. Não houve a efetiva utilização de dispositivos de segurança para proteção da vítima, motivo pelo qual deixo de fixar valor de ressarcimento, nos termos do §5º do artigo 9º da Lei nº 11.340/2006. IX. DISPOSIÇÕES FINAIS 1. Direito de recorrer em liberdade Mantenho o acusado em liberdade, uma vez que não vislumbro a presença de nenhum dos pressupostos para a decretação da prisão preventiva, previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal. 2. Dos honorários advocatícios Considerando que no curso dos autos foi nomeado defensor para atuar na defesa do acusado, tendo este realizado a defesa integral do réu, condeno o Estado do Paraná ao pagafixo honorários advocatícios ao advogado nomeado, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos da Resolução Conjunta n.º 06/2024 – PGE/SEFA. Com o trânsito em julgado desta decisão: a) remetam-se os autos à Contadora Judicial para o cálculo das custas e despesas processuais, que terão a exigibilidade suspensa em razão da concessão do benefício da justiça gratuita; b) intime-se a vítima do teor da presente sentença por qualquer meio célere e idôneo (telefone, e-mail, carta, etc.); c) expeça-se mandado de intimação do réu a respeito do inteiro teor da presente sentença; c.1) caso a intimação nos endereços constantes nos autos seja infrutífera, à Secretaria para que promova a intimação por edital do réu, com prazo de 60 (sessenta) dias (artigo 392, VI e §1º, do CPP); d) comunique-se à Justiça Eleitoral, diante do contido no artigo 15, III, da Constituição Federal; e) determino ainda a destruição de eventuais bens apreendidos, mediante a lavratura do respectivo termo e observância das demais formalidades do CNJ e da CGJ/TJPR; f) expeça-se a respectiva guia de recolhimento; g) cumpram-se, os demais dispositivos aplicáveis à espécie constantes do Código de Normas e demais diligências necessárias ao cumprimento da presente sentença; Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Oportunamente, arquivem-se. De Curitiba para Realeza, assinado e datado digitalmente. Pamela Dalle Grave Flores Paganini Juíza de Direito Substituta [1] BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1. 17. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 912.

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Ministério Público Do Estado Do Paraná x Luiz Henrique Mondini Mandrik