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"1004079-83.2024.8.26.0286" - Resultados da Busca

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Luciano Marcio De Pauli x João Batista Rocha Neto e outros

ID: 326750598

Tribunal: TJPR Órgão: 20ª Vara Cível de Curitiba Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0015014-03.2023.8.16.0194

Data de Disponibilização: 24/07/2025

Polo Ativo:

LUCIANO MARCIO DE PAULI

Polo Passivo:

JOãO BATISTA ROCHA NETO LUCIANO APARECIDO DE ALMEIDA WILLE E MENEGARI LTDA.

Conclusão

Advogados:

FÁBIO BARTH WAHL

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

DAIANE BARBOSA

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO CENTRAL DE CURITIBA 20ª VARA CÍVEL DE CURITIBA - PROJUDI Rua Mateus Leme, 1142 - 9º andar - Centro Cívico - Cur… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA - FORO CENTRAL DE CURITIBA 20ª VARA CÍVEL DE CURITIBA - PROJUDI Rua Mateus Leme, 1142 - 9º andar - Centro Cívico - Curitiba/PR - CEP: 80.530-010 - Fone: 3254-8572 - E-mail: ctba-20vj-e@tjpr.jus.br Autos nº. 0015014-03.2023.8.16.0194 Processo: 0015014-03.2023.8.16.0194 Classe Processual: Procedimento Comum Cível Assunto Principal: Rescisão / Resolução Valor da Causa: R$49.651,46 Autor(s): LUCIANO MARCIO DE PAULI Réu(s): JOÃO BATISTA ROCHA NETO LUCIANO APARECIDO DE ALMEIDA Wille e Menegari Ltda. SENTENÇA I. RELATÓRIO Trata-se de Ação de Rescisão Contratual c/c Indenizatória ajuizada por Luciano Marcio de Pauli em face de Wille e Menegari Ltda, João Batista Rocha Neto e Luciano Aparecido de Almeida. Sustenta o autor ter adquirido o veículo CHEVROLET/MONTANA LS, placas AXE-6915, efetuando o pagamento de sinal de negócio de R$ 500,00 e, posteriormente, complementando com R$ 23.000,00, valor este transferido para a conta do vendedor da loja, réu Luciano. Aduz que, nas negociações do veículo, restou contratado serviço de despachante, profissional que prestava serviços à loja ré (Sr. João Batista), o qual faria a transferência do veículo em até 30 dias após o pagamento, o que não foi cumprido e, atualmente, o veículo se encontra com restrição RENAJUD. Alega que, com um mês na posse do veículo, o motor fundiu e, mesmo após realizar o conserto, fundiu novamente, estando o veículo atualmente sem possibilidade de uso, visto que sequer liga. Requer, liminarmente, a concessão de tutela de urgência para o fim de determinar o arresto via Sisbajud na conta dos réus. Ao final, pugna pela rescisão do contrato de compra e venda, com a restituição dos valores pagos e a indenização pelos danos morais suportados (mov. 1.1). O pedido liminar não foi acolhido pelo Juízo (mov. 14). Devidamente citados, os réus apresentaram contestação (mov. 55), arguindo preliminar de ilegitimidade passiva da pessoa jurídica e impugnação à assistência judiciária gratuita concedida ao autor. No mérito, defendem que são duas relações jurídicas existentes: da compra e venda do veículo, pactuada exclusivamente entre o autor e o réu Luciano, e da transferência do veículo. Sustentam que o defeito apresentado no veículo no primeiro mês de uso foi prontamente corrigido pelo réu Luciano e que o veículo voltou a funcionar normalmente, tendo o autor tornado a reclamar de defeito após 3 anos da venda do veículo, o que já não estaria amparado pela garantia do bem. Defendem que a transferência do veículo não foi realizada por culpa do autor, que enviou os documentos necessários ao despachante apenas 3 anos após a venda, inexistindo responsabilidade dos réus acerca do bloqueio realizado no veículo. Pleitearam pela improcedência total dos pedidos iniciais e condenação do autor ao pagamento de multa por litigância de má-fé, custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência. O autor impugnou a contestação, refutando as alegações e ratificando os pedidos iniciais (mov. 59). Intimadas para especificação de provas, o autor pleiteou a produção de prova pericial no veículo (mov. 63) e os réus pelo depoimento pessoal do autor a fim de comprovar a sua real condição financeira (mov. 64). O ônus da prova foi invertido parcialmente (mov. 66), razão pela qual a parte ré foi intimada para manifestar eventual interesse em produzir provas, a qual informou interesse na produção de prova oral (mov. 70). Em decisão saneadora (mov. 72), foram rejeitadas as preliminares arguidas, fixados os pontos controvertidos e indeferidas as provas postuladas pelas partes. Vieram os autos conclusos. É o relatório. II. FUNDAMENTAÇÃO II.I. Mérito Não havendo outras questões preliminares a serem enfrentadas, nem nulidades a serem reconhecidas, estando satisfeitos os pressupostos processuais, passo diretamente ao exame do mérito da presente demanda. Para deslinde do feito, é necessário inicialmente abordar sobre a legitimidade passiva da empresa Wille e Menegari Ltda. Embora a ré alegue não ter feito parte da compra e venda do veículo CHEVROLET/MONTANA LS, placas AXE-6915, impossível acolher sua tese. Isto porque, foi comprovada a sua participação nas negociações através do recibo de sinal de negócio assinado por representante legal da empresa (mov. 1.10), participando, portanto, a empresa da cadeia do negócio jurídico discutido nestes autos. Não bastasse isso, o autor trouxe aos autos áudio enviado pelo réu Luciano afirmando que não trabalha mais para a empresa requerida, confirmando que trabalhava para a empresa quando vendeu o veículo para o autor (mov. 1.27). Ademais, nota-se que os réus não contestaram a alegação do autor de que o réu João Batista igualmente foi introduzido na relação jurídica através da empresa ré, apresentado como prestador de serviços de despachante, a fim de realizar a transferência do veículo objeto do contrato. Assim, estabelecida a existência da relação jurídica entre as partes, pesa controvérsia acerca da responsabilidade dos réus pela falha na prestação de serviços, caracterizada pelo defeito no veículo e pela não realização da transferência do veículo, bem como se tal falha causou prejuízos indenizáveis ao autor. Analisando o acervo probatório, entendo não ser possível acolher o pedido rescisório feito pelo autor. Nota-se pelas alegações do autor que o veículo apresentou defeito 30 dias após a sua aquisição e, após realizado o conserto, novamente parou de funcionar. Contudo, na narração fática o autor omitiu a data em que esse segundo defeito apareceu, mas trouxe aos autos as mensagens trocadas entre ele e o réu Luciano (mov. 1.6), nas quais o autor informa o novo defeito no veículo em maio de 2023, ou seja, mais de 3 anos após a aquisição do bem. Diante desse cenário, não é razoável impor aos réus qualquer responsabilidade por defeitos que surgiram após 3 anos de uso do veículo. Vale ressaltar que, na época da compra, o automóvel já tinha sete anos de uso e mais de 70.000km rodados, conforme consta no recibo de sinal de negócio (mov. 1.10). Além disso, é incontroverso o fato de que o réu Luciano prestou a assistência necessária ao autor quando o veículo apresentou falhas dentro do prazo da garantia do produto. Desta forma, o autor não comprovou a falha na prestação de serviço pelos réus que justifique a rescisão contratual pleiteada. Em que pese se tenha vislumbrado que a relação entre as partes é consumerista e os requisitos para a inversão do ônus da prova foram preenchidos, não se pode exigir que apenas a parte ré produza provas impeditivas, modificativas ou extintivas do direito da autora, sendo dever desta, também, a produção de provas constitutivas do seu direito. Esse é o entendimento pacificado pelo STJ: CONSUMIDOR. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO C/C REPARAÇÃO DE DANOS. ATRASO NA ENTREGA DO IMÓVEL. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. AUSÊNCIA DE MÍNIMA PROVA DO DIREITO DO AUTOR. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA N. 7/STJ. 1. Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, apesar de o art. 6º, VIII, do CDC prever a inversão do ônus da prova para facilitação da defesa, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor não exime o autor do ônus de apresentar prova mínima dos fatos constitutivos de seu direito. Precedentes. 2. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou que a parte autora não se desincumbiu do encargo de provar, minimamente, o fato constitutivo do seu direito. Rever tal conclusão requer, necessariamente, o reexame de fatos e provas, o que é vedado a esta Corte, em recurso especial, por esbarrar no óbice da Súmula n. 7/STJ.Agravo interno improvido. (STJ - AgInt no AREsp: 2298281 RJ 2023/0047290-0, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 20/11/2023, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 22/11/2023). (Grifei). Frise-se que o autor menciona apenas duas vezes que o veículo apresentou defeito, uma logo no primeiro mês de uso e a segunda sem especificar a data. Contudo, restou evidenciado que o autor contatou o réu Luciano em maio de 2023 informando sobre a falha do motor, bem como o laudo mecânico acostado aos autos pelo próprio autor é datado de agosto de 2023. Assim, impossível responsabilizar os requeridos por um defeito que surgiu após 3 anos de uso de um veículo que já estava em circulação há mais de 10 anos quando apresentou a segunda falha. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – COMPRA E VENDA – VEÍCULO USADO – AUTOMÓVEL COM 08 ANOS DE USO À ÉPOCA DA COMPRA – VÍCIO OCULTO NÃO CARACTERIZADO –DESGASTES NATURAIS DAS PEÇAS – NEGLIGÊNCIA DO PRÓPRIO ADQUIRINTE AO NÃO SE CERTIFICAR SOBRE O REAL ESTADO DO AUTOMÓVEL, DO QUAL NÃO SE PODE ESPERAR FUNCIONAMENTO COMO SE NOVO FOSSE – PRAZO DE GARANTIA DE 03 MESES PARA DEFEITO EM MOTOR QUE, INCLUSIVE, JÁ SE ENCONTRAVA ESGOTADO – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO MANTIDA – RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 9ª C. Cível - 0003218-96.2016.8.16.0117 - Medianeira - Rel.: Desembargador Domingos José Perfetto - J. 16.03.2020) (TJ-PR - APL: 00032189620168160117 PR 0003218-96.2016.8.16.0117 (Acórdão), Relator: Desembargador Domingos José Perfetto, Data de Julgamento: 16/03/2020, 9ª Câmara Cível, Data de Publicação: 23/03/2020). (Grifei). APELAÇÃO CÍVEL. AQUISIÇÃO DE CARRO USADO. ÔNUS DO CONSUMIDOR. CAUTELA INDISPENSÁVEL. DESGASTE NATURAL. 1. Trata-se de apelação interposta pelos autores em razão da improcedência de seus pedidos no sentido de cancelar o financiamento e devolver o veículo que foi comprado, além de danos materiais e morais. 2. A jurisprudência do tribunal é no sentido de que cabe ao consumidor, ao adquirir carro usado, tomar as cautelas indispensáveis para se certificar do real estado do veículo, se necessário, com o auxílio de um profissional da área de mecânica, antes de fechar o negócio. 3. Nesse cenário em que se atribui um ônus mínimo ao consumidor (o ônus das cautelas indispensáveis), os apelantes trouxeram documento que indica que o veículo usado (ano 2013 comprado em 2022), que foi testado anteriormente junto à revendedora apelada, foi adquirido no estado de conservação em que se encontra; que a garantia ofertada se limitava a defeito mecânico no motor e caixa de câmbio; que realizaram prévio exame/vistoria do veículo. 4 . Nessa perspectiva, tem-se que os alegados vícios do veículo não passam de desgastes naturais com o tempo de uso em um veículo de segunda mão, o que demanda manutenção corretiva que o adquirente deve fazer. 5. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJ-RJ - APELAÇÃO: 08083041620228190054 202300189867, Relator: Des(a). ANTONIO ILOIZIO BARROS BASTOS, Data de Julgamento: 28/02/2024, DECIMA SEXTA CAMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA 4ª, Data de Publicação: 01/03/2024). (Grifei). Dessa forma, inexistindo prova mínima de falha ou inadimplemento contratual por parte dos requeridos no que tange ao defeito do veículo, não há qualquer razão que justifique a rescisão do contrato e a devolução dos valores pagos pelo autor. Em contrapartida, sobejou comprovada a falha da prestação de serviços pelos réus João Batista Rocha Neto e Wille e Menegari Ltda, no que diz respeito à transferência do veículo. Isso porque, a parte ré se ateve a imputar a responsabilidade ao autor, sem carrear aos autos qualquer prova de suas alegações. Note-se que o autor juntou documentos que corroboram com os fatos por ele alegados, através da Autorização Para Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV) devidamente assinada pelo autor e segundo réu (mov. 1.13 – fls. 2) e procuração outorgada pelo antigo proprietário do veículo ao segundo réu, conferindo-lhe poderes para negociação e transferência do bem (mov. 1.13 – fls. 4). Ademais, o autor trouxe aos autos a troca de mensagens entre ele e os requeridos (mov. 1.7 e mov. 1.15-1.24), comprovando a desídia destes na efetivação da transferência do veículo, o que sequer foi contestado pelos réus. Através das provas supracitadas, é possível verificar que o despachante foi contatado pelo autor inúmeras vezes ao longo dos anos, o qual se esquivou de sua responsabilidade através de justificativas consideradas plausíveis pelo autor, haja vista que a pandemia tornou vários serviços inacessíveis. Logo, não é justo que seja atribuída culpa ao autor, que apenas demonstrou ser compreensivo à situação excepcional de calamidade pública. Importante ressaltar que os réus poderiam ter juntado aos autos mensagens ou notificações extrajudiciais feitas ao autor solicitando documentos, a fim de comprovar a alegada culpa do comprador pela demora no cumprimento do serviço contratado, mas não o fizeram. Destarte, os réus não lograram êxito em se desincumbir do ônus da prova que lhes competiam, falhando na comprovação de inexistência de defeito ou culpa exclusiva do consumidor, conforme preconiza o art. 14, §3º do Código de Defesa do Consumidor. Portanto, é de se reconhecer a falha na prestação do serviço de despachante, haja vista que o veículo nunca foi transferido ao autor, apesar de todos os valores devidamente pagos. Conforme já elucidado anteriormente, não houve contestação pelos réus acerca da alegação de que o serviço de despachante foi contratado no mesmo ato da compra do veículo, sendo o Sr. João Batista apresentado ao autor como prestador de serviços da loja de veículos e, portanto, estes responderão solidariamente pela falha na prestação de serviços. Pois bem, para que surja o dever de indenizar, nos termos do artigo 186 do Código Civil, não é necessário que tenha havido o dolo de causar dano, bastando, para tanto, que tenha ocorrido omissão que deu causa ao ato ilícito. Ainda, dispõe o artigo 927, do aludido diploma legal que “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Assim, nos termos do artigo 186 do Código Civil, para que surja o dever de indenizar, é necessário, primeiramente, que exista ação ou omissão do agente; que essa conduta esteja ligada por relação de causalidade com o prejuízo suportado pela vítima e, por fim, que o agente tenha agido com culpa (assim entendida em sentido amplo). Faltando algum desses elementos, desaparece o dever de indenizar. Ou seja, formam os fatos constitutivos da parte autora: a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, na forma de dolo ou culpa; b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral; e c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. Sobre a responsabilidade cível, o jurista Sérgio Cavalieri Filho ensina que “Entende-se, pois, por conduta o comportamento humano voluntário que se exterioriza através de uma ação ou omissão, produzindo consequências jurídicas. A ação ou omissão é o aspecto físico, objetivo, da conduta, sendo a vontade o seu aspecto psicológico, ou subjetivo. A ação é a forma mais comum de exteriorização da conduta, porque, fora do domínio contratual, as pessoas estão obrigadas a abster-se da prática de atos que possam lesar o seu semelhante, de sorte que a violação desse dever geral de abstenção se obtém através de um fazer. Consiste, pois, a ação em um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia, a morte ou lesão corporal causada em alguém, e assim por diante. Já, a omissão, forma menos comum de comportamento, caracteriza-se pela inatividade, abstenção de alguma conduta devida. Vieira dizia, com absoluta propriedade, que omissão é aquilo que se faz não fazendo[1].”. Já sobre o nexo de causalidade, segundo ensinamento de Flávio Tartuce, “constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa – ou o risco criado -, e o dano suportado por alguém”[2]. Portanto, para que seja possível acolher o pedido indenizatório, deve restar comprovado nos autos a prática de conduta ilícita por parte do acusado e que este ato tenha causalidade (nexo causal) com as alegações apresentadas pela vítima. Considerando as provas produzidas nos autos, é evidente a comprovação do abalo à moral do autor, causada pela má prestação de serviços pelos réus João Batista Rocha Neto e Wille e Menegari Ltda, que deixaram de efetuar a transferência do automóvel para o nome do autor, sem justificativa plausível e causando inúmeros transtornos que ultrapassam a esfera do mero aborrecimento, especialmente em razão da restrição efetivada no veículo, que permanece em nome do antigo proprietário. Nesse sentido: COMPRA E VENDA DE VEÍCULO – Prestação de serviços de despachante contratado pela loja que vendeu o veículo – Terceiro escolhido pela loja, de sua responsabilidade – Regularização de transferência de veículo – Falha na prestação dos serviços – Perda da documentação do veículo adquirido pelo consumidor e demora injustificada para resolver o problema – Exegese do artigo 14 do Código de Processo Civil – Serviço que se tornou impróprio para a finalidade a que se destinava – Consequência da inércia da loja para resolver o problema por ela própria causado, houve bloqueio sobre o veículo imposto em outra ação em face da proprietária anterior, justamente pela ausência de registro da compra feita pelo autor – Dano moral caracterizado – Presentes os requisitos – Problemas que extrapolam o mero aborrecimento – Sentença parcialmente reformada – Sucumbência integral da loja ré – Com relação à proprietária anterior, independentemente da revelia, nenhuma responsabilidade pelos problemas causados ao autor – Improcedência mantida. Valor da condenação – Honorários de sucumbência – Fixação com base no artigo 85, § 2º, do Código de Processo Civil, de acordo com o entendimento pacificado pelo C. Superior Tribunal de Justiça no tema 1076, ao julgar os REsps 1850512/SP, 1877883/SP, 1906623/SP e 1906618/SP – Honorários fixados em 10% do proveito econômico obtido pelo autor. Recurso do autor parcialmente provido e provido o recurso da ré Emerson EIRELI. (TJ-SP - Apelação Cível: 1004079-25.2022.8.26 .0037 Araraquara, Relator: Sá Moreira de Oliveira, Data de Julgamento: 22/06/2023, 33ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/06/2023). (Grifei). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE DE VEÍCULO JUNTO AO ÓRGÃO DE TRÂNSITO REALIZADA APÓS O PRAZO LEGAL. OBRIGAÇÃO ASSUMIDA PELA REVENDEDORA DE VEÍCULOS POR INTERMÉDIO DE DESPACHANTE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. QUANTUM INDENIZATÓRIO ADEQUADO. Cuidando-se de relação de consumo, é objetiva a responsabilidade do fornecedor (revendedora de veículos), que responde pelo risco da colocação do serviço no mercado, nos termos do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor. Inobstante seja do comprador a obrigação de transferir o bem, nada impedia que as partes ajustassem que a providência caberia à vendedora, esta que poderia valer-se de despachante para tanto, situação que se enquadra exatamente na hipótese dos autos. Assim, sendo a hipótese de comprovação de que a obrigação foi transferida para a Ré, e por ela descumprida, é possível reconhecer a sua responsabilidade pela reparação dos danos causados à Apelada. (...) Recurso conhecido e não provido. (TJ-BA - APL: 01116564220038050001, Relator: GESIVALDO NASCIMENTO BRITTO, SEGUNDA CAMARA CÍVEL, Data de Publicação: 04/08/2015). (Grifei). Dessa forma, levando em conta a extensão do dano, os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, a função pedagógica e reparatória da sentença e do dano sofrido pela vítima, entendo que o valor de R$ 5.000,00 se revela como adequado e bem atende a gravidade do ato e a repercussão da ofensa, não constituindo, por outro lado, enriquecimento ilícito. Por fim, imperioso rejeitar o pedido formulado em contestação para condenação do autor ao pagamento de multa por litigância de má-fé, visto que não restou caracterizada nenhuma das hipóteses previstas no art. 80 do Código de Processo Civil. A pena de litigância de má-fé não se aplica à parte que ingressa em juízo para pedir prestação jurisdicional mesmo que improcedente, uma vez que a Constituição assegura o direito de ação que, no caso, foi exercido sem abusividade. No caso dos autos, o autor teve seus pedidos parcialmente atendidos e não há qualquer evidência de que, na parte que sucumbiu, tenha agido com má-fé. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO CONFIGURADA. MULTA AFASTADA. 1. A condenação por litigância de má-fé exige a presença de dolo processual, o qual deve ser claramente comprovado, uma vez que não se admite a má-fé presumida, além do efetivo prejuízo causado à parte contrária, conforme inteligência do art. 80, do CPC. 2. Ausentes quaisquer um dos elementos acima referidos, impõe-se a exclusão da multa por litigância de má-fé. 3. Apelo provido, sem honorários recursais, nos termos do art. 85, § 11, do CPC. 4. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PROVIDA. (TJ-GO - (CPC): 04084916520198090093, Relator: Des(a). GUILHERME GUTEMBERG ISAC PINTO, Data de Julgamento: 13/07/2020, 5ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de 13/07/2020). (Grifei). Assim, indefiro a aplicação de multa ao autor por litigância de má-fé. III. DISPOSITIVO Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial, com fulcro no art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil, para o fim de CONDENAR os requeridos João Batista Rocha Neto e Wille e Menegari Ltda, de forma solidária, ao pagamento de indenização por danos morais ao autor no valor de R$ 5.000,00, corrigidos monetariamente pelo IPCA (na forma do parágrafo único do artigo 389 do CC), a partir da data do arbitramento, com incidência de juros de mora pela taxa legal (SELIC deduzida do IPCA), conforme o parágrafo único do artigo 406 do CC, a partir da data do evento danoso – não transferência do veículo ao comprador depois da entrega da ATPV assinada pelos participantes da negociação. Diante da sucumbência recíproca, condeno o autor e os réus João Batista Rocha Neto e Wille e Menegari Ltda ao pagamento pro rata das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios, os quais fixo em 15% do valor da condenação, com fundamento no art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil, na proporção de 50% para cada parte. Condeno, ainda, a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência ao procurador do réu Luciano Aparecido de Almeida, os quais fixo importe de R$ 3.000,00, com fundamento no artigo 85, §8º do CPC, tendo em vista o trabalho desenvolvido, o tempo de tramitação do processo, e, ainda, por ser inestimável o proveito econômico obtido em favor do profissional que vendeu o bem em testilha ao comprador, razão pela qual a fixação é feita por equidade. O valor dos honorários advocatícios fixados por equidade deverá ser corrigido monetariamente pela média do índice INPC/IGP-DI, a partir do ajuizamento (Súmula n°. 14 do STJ), e acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar do trânsito em julgado. Por fim, considerando a concessão da assistência judiciária gratuita ao autor, deve ser suspensa sua condenação, conforme disposto no artigo 98, §3°, do CPC. Todavia, desde já, resta consignado que o benefício poderá ser revisto na fase de cumprimento de sentença, desde que haja comprovação cabal da mudança do estado econômico da parte beneficiada. Cumpram-se as providências preconizadas no Código de Normas da Egrégia Corregedoria de Justiça deste Estado. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Oportunamente, com o trânsito em julgado, arquive-se. Curitiba, data da assinatura digital. Rafaela Zarpelon Juíza de Direito A-L [1] CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade Civil. 10ª Edição, São Paulo: Atlas, 2012. p. 25. [2] TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6ª Edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 513.

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