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Processo nº 0801671-96.2024.8.10.0012

ID: 295224848

Tribunal: TJMA Órgão: 2ª Turma Recursal Permanente da Comarca da Ilha de São Luís Classe: RECURSO INOMINADO CíVEL Nº Processo: 0801671-96.2024.8.10.0012

Data de Disponibilização: 11/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

JOAO CARLOS SOUZA MARQUES

Acórdão

Advogados:

MARCELO REBELO MOCHEL

OAB/MA XXXXXX Desbloquear

PAULA MALTZ NAHON

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

ESTADO DO MARANHÃO PODER JUDICIÁRIO COMARCA DA ILHA DE SÃO LUÍS - MA 2ª TURMA RECURSAL PERMANENTE SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL E CRIMINAL DE SÃO LUÍS/MA SESSÃO PRESENCIAL DE 22 DE MAIO DE 2025 RECURS… ESTADO DO MARANHÃO PODER JUDICIÁRIO COMARCA DA ILHA DE SÃO LUÍS - MA 2ª TURMA RECURSAL PERMANENTE SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL E CRIMINAL DE SÃO LUÍS/MA SESSÃO PRESENCIAL DE 22 DE MAIO DE 2025 RECURSO Nº 0801671-96.2024.8.10.0012 ORIGEM: 7º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E DAS RELAÇÕES DE CONSUMO DE SÃO LUÍS/MA RECORRENTE/PARTE REQUERIDA: CLARO S.A. ADVOGADO(A): PAULA MALTZ NAHON - OAB RS51657-A E PROCURADORIA DA CLARO SA RECORRIDO/PARTE AUTORA: JOÃO CARLOS SOUZA MARQUES ADVOGADO(A): MARCELO REBELO MOCHEL - OAB MA22569-A RELATOR: JUIZ JOSÉ AUGUSTO SÁ COSTA LEITE ACÓRDÃO Nº 1317/2025-2 SÚMULA: DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO INOMINADO. COBRANÇA INDEVIDA EM SERVIÇOS DE TELEFONIA. APLICAÇÃO DO ART. 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO DESPROVIDO. I. CASO EM EXAME. 1.1. Resumo dos fatos (sentença – ID n. 43181991): “Trata-se de ação indenizatória movida por JOÃO CARLOS SOUZA MARQUES em desfavor de CLARO S.A. Narra o Reclamante, cliente da parte ré por longos anos, que, em junho de 2024, passou a receber ligações incessantes de cobrança de suposta dívida no valor de R$ 123,16 (cento e vinte e três reais e dezesseis centavos), da qual desconhece a origem, pois seu plano não é cobrado nessa quantia. Em momento posterior, recebeu e-mail que informava que seu “score” do SERASA havia diminuído em 120 (cento e vinte) pontos, momento em que percebeu inscrição indevida no cadastro de inadimplentes. Após diversas tentativas de contato, o Demandante deslocou-se a loja física da Ré, ocasião em que a funcionária descobriu que a fatura do mês de junho de 2024 havia sido desmembrada em duas: uma no valor de R$325,14 (trezentos e vinte e cinco reais e catorze centavos) e outra no valor de R$123,16 (cento e vinte e três reais e dezesseis centavos). A última, por sua vez, não lhe foi enviada, situação que resultou na controvérsia dos autos. Aponta, ainda, que cada uma das faturas tinha vencimentos em datas diversas, muito embora, nos meses anteriores, as cobranças vinham em uma fatura só. Para mais, após analisar suas cobranças, percebeu a existência de diversos aplicativos que jamais adquiriu, aumentando significativamente o valor das mensalidades. Em razão disso, pleiteia o ressarcimento em dobro da quantia de R$123,16 (cento e vinte e três reais e dezesseis centavos), desembolsada para pagamento da fatura desmembrada, e a restituição, também em dobro, dos valores cobrados mensalmente pelos aplicativos digitais, que não adquiriu e nem contratou. Ademais, requer o pagamento de indenização por danos morais”. 1.2. Contestação (sentença – ID n. 43181991): “A Ré CLARO S.A suscita preliminar de retificação do polo passivo para que seja substituída pela empresa CLARO NXT TELECOMUNICAÇÕES S/A, inscrita no CNPJ sob o n. 66.970.229/0001-67 […]. No mérito, afirma que o Demandante possui dois serviços distintos em seu plano (internet e telefonia móvel), os quais são cobrados em forma de combo. Contudo, quando não há adimplemento das faturas até a data de vencimento, essas são desmembradas e cobradas em separado. Nesse sentido, alega que a fatura com vencimento em abril/2024 não foi paga, de modo que, no dia 28/05/2024, as cobranças foram separadas, com vencimento da fatura de internet prorrogado para o dia 12/06/2024, inexistindo cobrança duplicada ou indevida. Argumenta, outrossim, que o Autor não comprova a abusividade das ligações. Afirma, ainda, que o plano assinado pelo consumidor inclui os aplicativos e serviços disponibilizados, e que esses, por determinação da ANATEL, devem ser discriminados na fatura; contudo, não há cobrança a maior por eles, que são ofertados gratuitamente. Assim, pugna pela improcedência dos pedidos autorais”. 1.3. Sentença – parte dispositiva (ID n. 43181991): “Posto isto, com base na fundamentação supra, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados pelo Autor para condenar a ré ao pagamento de R$ 6.301,74 (seis mil trezentos e um reais e setenta e quatro centavos), já em dobro, a título de danos materiais, com correção monetária pelo IPCA a partir desta data, e juros pela SELIC, a contar da citação. Sem condenação em danos morais.” 1.4. Recurso inominado (ID n.43181994) interposto pela parte requerida, objetivando a reforma da r. sentença para julgar improcedente a ação, alegando inexistência de ato ilícito, a inexistência de dever de repetir em dobro e da atualização monetária. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO. 2.1. Há duas questões em discussão (i) definir se há ilicitude na cobrança de valores não contratados expressamente pelo consumidor, relativos a aplicativos digitais e fatura desmembrada; (ii) estabelecer se é cabível a restituição em dobro nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC, bem como a incidência de correção monetária e juros de mora sobre os valores restituídos. III. RAZÕES DE DECIDIR 3.1. O recurso preenche os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, razão pela qual deve ser conhecido. 3.2. Consoante delineado na sentença recorrida (ID 43181991), trata-se de relação de consumo, regulada pela Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), tendo sido aplicada corretamente a inversão do ônus da prova, com base nos critérios da verossimilhança das alegações e hipossuficiência técnica do consumidor, nos termos do art. 6º, inciso VIII, do CDC 3.3. E, de fato, o recorrido, ao ajuizar a demanda, apresentou faturas com cobranças recorrentes de aplicativos digitais, cujos valores variaram consideravelmente mês a mês, sem que houvesse qualquer evidência de contratação ou consentimento expresso para a inclusão desses serviços. 3.4. Em sua contestação, a recorrente limitou-se a afirmar genericamente que os aplicativos estariam incluídos no plano, “sem custo adicional”, porém não acostou aos autos o instrumento do contrato firmado com o consumidor, tampouco, comprovou que tais serviços eram parte integrante do plano original. Assim, a sentença deve ser mantida quanto ao capítulo que determinou a restituição dos valores adimplidos. 3.5. Já a restituição em dobro dos valores indevidamente cobrados pelo fornecedor de produtos ou serviços está expressamente previsto no art. 42, p. único, do CDC, como forma de coibir práticas abusivas e reiteradas de cobrança indevida, que acabam por transferir ao consumidor o ônus de fiscalizar a regularidade da relação contratual. A restituição simples somente se admite quando demonstrado, pelo fornecedor, o "engano justificável", o que não se verifica nos autos. 3.6. No caso em apreço, a operadora de telefonia móvel não logrou comprovar que os serviços cobrados (aplicativos digitais e funcionalidades adicionais) foram contratados expressamente pelo consumidor, tampouco demonstrou que a inclusão de tais exações nas faturas se deu em decorrência de erro justificável ou de fortuito administrativo. Muito ao contrário, as faturas revelam lançamentos mensais de valores oscilantes, com discriminação individualizada e recorrência ao longo de anos. 3.7. Os nossos Tribunais têm se posicionado de forma reiterada nesse sentido, reconhecendo que a ausência de consentimento expresso do consumidor, aliada à falta de clareza quanto à natureza dos serviços cobrados, configura conduta ilícita e enseja reparação moral. Vejamos: Cobrança de serviços "SDPA – VIVO DESCONTOS SEMANAL, SDPA – RECADO PREMIUM SEMANAL, VIVO TURBO FRANQUIA, VIVO TURBO - NBA, VIVO TURBO – SUPER COMICS, VIVO TURBO – VIVO AVISA, DIÁRIA VIVO RECADO, DIÁRIA GO READ, DIÁRIA DE DADOS e DÉBITO DE COBRANÇA", em linha telefônica – Falta de transparência ( CDC, art. 4º, caput)– Direito básico do consumidor à informação adequada e clara sobre o serviço ( CDC, art. 6º, inciso III)– 5 protocolos de reclamações formuladas pelo consumidor – Problema não resolvido – Perda do tempo útil – Via crucis – Dano moral configurado – Reparação fixada no valor de R$ 5 mil – Respeitável sentença, de improcedência, reformada – Recurso, do consumidor, provido. (TJ-SP - RI: 10011594820218260414 SP 1001159-48 .2021.8.26.0414, Relator.: Fernando Antonio de Lima, Data de Julgamento: 29/11/2021, 1ª Turma Cível e Criminal, Data de Publicação: 29/11/2021) 3.8. A sentença (ID 43181991) é clara ao consignar que não houve impugnação específica ao valor de R$ 3.150,87 (três mil cento e cinquenta reais e oitenta e sete centavos) indicado na petição inicial como sendo o total das cobranças indevidas, o que induz à confissão ficta (art. 344 do CPC). Consequentemente, correta a condenação no montante de R$ 6.301,74 (seis mil trezentos e um reais e setenta e quatro centavos), referente à repetição do indébito em dobro. 3.8. No que tange à alegação de ausência de prova mínima apta a autorizar a inversão do ônus da prova, entendo que não merece guarida. O recorrido apresentou diversos documentos (faturas, extratos e atendimentos) demonstrando a ausência de contratação, o prolongamento das cobranças mesmo após pedido de cancelamento e a postura omissiva da ré diante da solicitação de reembolso administrativo. Trata-se, portanto, de matéria fática suficientemente instruída nos autos. 3.8. Quanto à incidência da correção monetária e dos juros de mora sobre o valor da restituição, impõe-se observar a entrada em vigor da Lei n. 14.905/2024, a partir de 01 de setembro de.2024, que tornou os juros da taxa SELIC, índice que engloba juros e correção, como parâmetro a ser observado pelos aplicadores do direito sendo aplicável outros índices tão somente se houver pactuação entre as partes. 3.9. Considerando que, no caso em análise, a inicial foi proposta em 30 de julho de 2024, portanto, antes da vigência da Lei n. 14.905/2024, correta a incidência de correção monetária pelo IPCA a partir da sentença e de juros de mora pela SELIC desde a citação, conforme entendimento consolidado, apenas deixando-se evidente que do índice Selic aplicado se exclui o percentual relativo a correção monetária. Essa concepção é facilmente extraída da leitura da sentença recorrida, que nesse particular, também não merece reparos. IV. DISPOSITIVO E TESE. 4.1. Recurso conhecido e desprovido. Condeno a recorrente ao pagamento de honorários advocatícios no percentual de 20% (vinte por cento) do valor da condenação. 4.2. Tese de julgamento: 4.2.1.A cobrança de valores referentes a aplicativos digitais sem prévia e expressa contratação pelo consumidor configura prática abusiva e enseja restituição em dobro dos valores pagos, nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC. 4.2.2. A ausência de impugnação específica quanto ao valor das cobranças indevidas autoriza a aplicação da confissão ficta, conforme o art. 344 do CPC. 4.2.3. É devida a incidência de correção monetária pelo IPCA a partir da sentença e de juros de mora pela taxa SELIC desde a citação, deduzida a correção monetária desse índice, em caso de restituição de valores indevidamente cobrados. Dispositivos relevantes citados: CF/1988, art. 5º, XXXII; CDC, arts. 6º, III e VIII, e 42, parágrafo único; CPC, art. 344. Jurisprudência relevante citada: TJ-SP, RI nº 1001159-48.2021.8.26.0414, Rel. Des. Fernando Antonio de Lima, j. 29.11.2021. 4.4. É como voto. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, DECIDEM os Excelentíssimos Senhores Juízes de Direito integrantes da SEGUNDA TURMA RECURSAL CÍVEL E CRIMINAL DE SÃO LUÍS/MA, por unanimidade, em conhecer do recurso e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Custas processuais e honorários de sucumbência segundo estabelecido no item “4.1”. Votaram, além do Relator, os Excelentíssimos Senhores Juízes de Direito MÁRIO PRAZERES NETO (Presidente) e CRISTIANA DE SOUSA FERRAZ LEITE (Membro). São Luís, datado e assinado eletronicamente. Juiz JOSÉ AUGUSTO SÁ COSTA LEITE Respondendo pelo 3º Cargo da 2ª Turma Recursal Permanente de São Luís (Portaria CGJ nº 4012025) RELATÓRIO Dispensado o relatório nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95. VOTO Nos termos do acórdão.

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Resultados para o tribunal: TJMA

Resultados para "1001159-86.2023.5.02.0611"

Processo nº 0801671-96.2024.8.10.0012