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Processo nº 0854373-33.2016.8.10.0001

ID: 300690232

Tribunal: TJMA Órgão: Segunda Câmara de Direito Privado Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 0854373-33.2016.8.10.0001

Data de Disponibilização: 17/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

MARIA DO BOM PARTO MARREIRO SOUSA

Decisão (expediente)

Advogados:

PEDRO DAVID DE CASTRO ANDRADE

OAB/MA XXXXXX Desbloquear

NELSON MONTEIRO DE CARVALHO NETO

OAB/RJ XXXXXX Desbloquear

" SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ GONÇALO DE SOUSA FILHO APELAÇÃO CÍVEL N.º 0854373-33.2016.8.10.0001 – SÃO LUIS/MA APELANTE: BANCO ITAU CONSIGNADO S/A ADVOGADO: NELS… " SEGUNDA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO GABINETE DO DESEMBARGADOR JOSÉ GONÇALO DE SOUSA FILHO APELAÇÃO CÍVEL N.º 0854373-33.2016.8.10.0001 – SÃO LUIS/MA APELANTE: BANCO ITAU CONSIGNADO S/A ADVOGADO: NELSON MONTEIRO DE CARVALHO NETO (OAB/MA 18.997-A) APELADO: MARIA DO BOM PARTO MARREIRO SOUSA ADVOGADO: PEDRO DAVID DE CASTRO ANDRADE (OAB/MA 14.394) RELATOR: DESEMBARGADOR JOSÉ GONÇALO DE SOUSA FILHO EMENTA DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO COMPROVADO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. I. Caso em exame 1. Ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos morais e materiais, fundada na alegação de contratação fraudulenta de empréstimo consignado. Sentença de 1º grau julgou procedentes os pedidos autorais. A parte ré apelou, alegando cerceamento de defesa e ausência de fraude, e requereu a concessão de efeito suspensivo ao recurso. II. Questão em discussão 2. Há três questões em discussão: (i) saber se houve cerceamento de defesa diante da ausência de produção de prova pericial; (ii) saber se restou comprovada a regularidade da contratação do empréstimo consignado; e (iii) saber se é cabível a condenação da parte autora por litigância de má-fé. III. Razões de decidir 3. Inexistência de cerceamento de defesa, uma vez que a controvérsia envolve matéria de direito e os elementos constantes dos autos são suficientes à solução da lide. 4. Provas documentais nos autos demonstram a regularidade da contratação do empréstimo, com assinatura da autora e comprovação da liberação do valor em conta de sua titularidade. 5. Inexistência de prova de que o valor não foi recebido, ônus que competia à parte autora. 6. Diante da ciência da contratação e ajuizamento da ação negando a existência do contrato, configurada litigância de má-fé, nos termos do art. 80, II, do CPC. IV. Dispositivo e tese 7. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada para julgar improcedentes os pedidos da inicial, com extinção do feito com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC. Condenação da parte autora ao pagamento de multa por litigância de má-fé de 5% sobre o valor da causa. Tese de julgamento: “1. Não configura cerceamento de defesa o indeferimento de produção de provas quando os elementos constantes dos autos são suficientes à formação do juízo. 2. Comprovada a regularidade da contratação e liberação do valor do empréstimo, impõe-se a improcedência da ação que visa sua declaração de inexistência. 3. Configura litigância de má-fé a propositura de ação negando relação contratual existente, quando comprovada nos autos.” Dispositivos relevantes citados: CPC, arts. 80, II; 487, I; 98, §3º e §4º; 1.012, §4º; 1.026, §2º. Jurisprudência relevante citada: TJ-MS, Apelação Cível nº 0805638-54.2018.8.12.0029, Rel. Des. Dorival Renato Pavan, j. 30.05.2019. DECISÃO MONOCRÁTICA BANCO ITAU CONSIGNADO S/A, no dia 08.11.2023, interpôs apelação cível, visando reformar a sentença proferida em 31.08.2023 (Id. 32277828), pelo Juiz de Direito da 9ª Vara Cível do Termo Judiciário de São Luis/MA da Comarca da Ilha de São Luis/MA, Dr. Thales Ribeiro de Andrade, que nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO, ajuizada em 12.09.2016, por Maria do Bom Parto Marreiro Sousa, assim decidiu: "Ante ao exposto, acolho as pretensões postas na inicial, para declarar a inexistência de relação jurídica entre as partes em referência ao empréstimo debatido nestes autos, e, em consequência: 1) condenar o réu, a pagar à parte autora, a título de indenização por danos morais, a quantia de 15.000,00 (quinze mil reais), atualizada monetariamente com base no INPC do IBGE, a contar da data desta sentença, mais juros de mora simples, de um por cento ao mês, estes a partir da data do primeiro desconto efetuado nos proventos da suplicante; 2) condenar o réu o réu a ressarcir à parte autora, em dobro, o valor das prestações injustamente descontadas dos proventos de sua aposentadoria, devidamente atualizadas monetariamente com base no INPC do IBGE, desde a data de cada um dos descontos, com acréscimo de juros de mora simples de um por cento ao mês a contar da citação. Condeno também o suplicado em custas processuais, mais honorários advocatícios, estes no montante correspondente a 20% (vinte por cento) do valor atualizado das condenações acima impostas, atentando-se ao tempo despendido, ao local de prestação do serviço, e à qualidade do trabalho profissional desenvolvido. Intimem-se." Em suas razões recursais contidas no Id. 32277840, preliminarmente, pugna a parte apelante para que o presente recurso seja recebido no seu efeito suspensivo, bem como para o reconhecimento da nulidade da sentença por cerceamento de defesa, ao argumento de que o juízo a quo indeferiu o pedido de expedição de ofício ao Banco Bradesco, o qual visava comprovar o efetivo recebimento do valor pela parte autora, deixando de oportunizar a produção de prova essencial à controvérsia. Alega, ainda, a ausência de designação de audiência de instrução e julgamento ou de intimação para manifestação quanto ao julgamento antecipado da lide, o que também comprometeria o contraditório e a ampla defesa, e, no mérito, aduz, em síntese, que "os fundamentos exarados na decisão não possuem respaldo fático-probatório e jurídico, razão pela qual imperiosa a reforma da decisão para que a demanda seja julgada improcedente na forma dos destaques abaixo. 1º ponto – O magistrado não considerou a permanência do valor em posse do apelado ao longo de anos sem qualquer manifestação contrária ao recebimento ou pretensão resistida na devolução do valor revela a vontade de contratar Reprise que o crédito foi entregue em 26/01/2015 e a demanda distribuída em 19/02/2019, ou seja, quase 04 ANOS após, sem nenhuma tentativa de devolução anterior. O contrato nº 540275385 foi celebrado no valor de R$ 695,51 (com encargos), a ser quitado em 72 parcelas R$ 19,00, mediante desconto em benefício previdenciário. A própria parte apelada trouxe aos autos documento que demonstra a comunicação robusta com o órgão pagador, principalmente pelo fato de o contrato estar atrelado ao benefício da parte apelada, além do crédito ter sido revertido em seu favor. Frisa-se que o contrato somente é averbado com a anuência do órgão pagador, após manifestação do cliente na contratação e recebimento efetivo do valor de R$ 672,57 através de TED consistente. (...) Desse modo, não há defeito na prestação de serviço pelo apelante, uma vez que resta evidenciada a regularidade na contratação e que a parte apelada se beneficiou do empréstimo. Assim, temos que a relação contratual estabelecida entre as partes gera obrigações regidas pelo princípio da boa-fé objetiva, tendo havido a expressa concordância da parte apelada com o desconto em folha. Ressalta-se que o conjunto de evidências apresentado pela parte apelada nos autos, colabora com a regularidade na atuação do Banco apelante e a consequente improcedência dos pedidos da parte apelada. Ora, julgadores, nenhum meliante iria celebrar um contrato em que iria informar a própria conta corrente da vítima para recebimento do crédito e ele não obter nenhum lucro nisso, não sendo conduta natural também o recebimento de valor em conta pela parte apelada e este não ter questionado o valor creditado em conta, não oferecendo em momento algum a devolução do mesmo, nem em sede administrativa, e muito menos judicialmente." Aduz mais, que "A parte apelada não acostou nos autos extrato de sua conta comprovando que não se utilizou do crédito, ou até mesmo que tal valor não está investido e rendendo lucro a parte. Além da utilização, tal valor pode ter rendido um proveito econômico significativo apenas como rendimento em aplicação. Ora, se a parte apelada poderia juntar seus extratos bancários comprovando a ausência de utilização do valor, tendo em vista que recebeu o valor em 2015 e até o momento não devolveu nos autos. É importante ressaltar que a ausência de proveito econômico não foi provada, podendo a parte apelada ter se utilizado do crédito, contudo só será comprovada tal situação com a juntada dos extratos bancários. Frisa-se que a TED apresentada supre qualquer necessidade de expedição de ofício, pois evidencia o benefício econômico, além da convalidação da contratação pela omissão nos autos quanto ao crédito e ausência de postura na devolução da quantia. Caso V. Exa., não entenda pela TED apresentada, seja a parte apelada intimada a acostar os extratos ou que seja deferida a expedição do ofício para a instituição bancária em que foi efetuada a TED, (Banco Bradesco), agência 1143, conta corrente / poupança 670110- 8, período de (12/2014) e (02/2015), a fim de que fique comprovado o benefício econômico auferido e que este foi incorporado ao seu patrimônio. Veja que não há nos autos a devolução do crédito pela parte apelada. Diga-se ainda, que não é suficiente que a parte autora, apelada simplesmente alegue ter sofrido constrangimentos que abalaram a sua moral. É preciso que se possa identificá-los e prová-los, determinando se a sua extensão foi capaz de gerar lesão à honra, dignidade ou reputação ou, ainda, abalos psicológicos importantes, como dor, angústia e vergonha. (...) Era dever da parte apelada, no mínimo, proceder à devolução do valor ou solicitar o boleto para liquidação do contrato, o que, todavia, não ocorreu (ofensa ao princípio do Duty to mitigate the loss) É realmente consternador ver a intenção em recebimento de danos morais quanto sequer acionou o banco apelante. Ora d. julgadores, é incontroverso o crédito proveniente do empréstimo realizado em conta de titularidade da parte apelada, sendo tal fato também reconhecido pelo d. magistrado, uma vez que comprovou pela narrativa da parte apelada, a ciência quanto ao recebimento do valor inerente ao contrato por ela não reconhecido. O valor do empréstimo foi disponibilizado por meio de liberação de crédito em conta de titularidade da parte apelada, e em que pese a parte apelada não reconhecer o contrato, utilizou o valor para obter vantagem financeira. Ora, julgadores, nenhum meliante iria celebrar um contrato em que o valor seria disponibilizado para o próprio fraudado/vítima e não tivesse lucro/benefício com a operação. Ademais, o fraudador ainda teria que ser adivinho em saber a conta vinculada junto ao Banco Bradesco, agência 1143, conta 670110-8, de titularidade da vítima, e informá-la para depósito do crédito para só a vítima fazer uso do valor e o fraudador não receber nada." Alega também, que "A eficácia probatória dos documentos sistêmicos não pode ser negada até que a parte adversa se desincumba do ônus probatório de comprovar os fatos constitutivos de seu direito. Impossibilitar a utilização das telas do sistema interno de informática da empresa é inviabilizar o direito constitucional ao contraditório, haja vista ser a única forma possível de comprovação do direito em uma relação de consumo aperfeiçoada eletronicamente. Portanto, nota-se que, na atual realidade de negócios eletrônicos, negar eficácia probatória às telas sistêmicas apresentadas é inconstitucional, porquanto contraria o art. 5º, inciso LV da Constituição Federal, o princípio do contraditório, tendo em vista que inviabiliza a própria defesa do litigante. Nesse contexto, é imperioso destacar que, na inteligência do art. 225 do novo C.C os legisladores se atentaram para os avanços tecnológicos, e ainda confirmado pelo art. 422 do NCPC dando maior amplitude ao dispor que: Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes... (grifos nossos) Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cinematográfica, a fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das coisas representadas...(grifos nossos) Assim o reconhecimento do documento físico,deixou de ser previamente exigido em determinadas situações. Com o dispositivo acima referido, nossa legislação passou a prestigiar o chamado princípio da verdade documental que considera o documento como verdadeiro até que provem o contrário. Os contratos bancários não exigem forma escrita, de modo que a contratação podia se fazer por telefone, caixa eletrônico ou outro meio informal que não deixou registro em papel. (...) Ao contrário dos fundamentos aduzidos na sentença ora combatida, inexiste dano material a ser reparado, posto que a contratação do empréstimo foi legitima, sendo devidos todos os valores descontados a título de pagamento de parcela. Determinar a nulidade do contrato e ainda condenar o Banco a restituir os valores das parcelas descontadas é prestigiar o enriquecimento sem causa e ainda fomentar a litigância de má-fé em clientes que contratam o empréstimo, se utilizam do valor e depois ingressam com ações judiciais afirmando jamais terem contratado. Dessa forma, requer-se a reforma da sentença proferida, afastando-se a condenação em danos materiais DA IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES COBRADOS PELO APELADO - NÃO OCORRÊNCIA DE MÁ-FÉ NO CASO EM CONCRETO Neste importante tema, a decisão proferida por este Tribunal, em qualquer momento poderá condenar o banco apelante à devolução em dobro do indébito. Inexiste má-fé do banco apelante na cobrança, assim, faz necessário a análise por este juízo do artigo 42, parágrafo único do CDC e da jurisprudência do STJ. No caso em concreto inexistiu má-fé do banco, até mesmo porque a responsabilização do apelante no caso se deu de forma objetiva, leia-se, sem apuração de culpa. Hipoteticamente estaríamos, no máximo, diante de um engano justificável, pois, apesar da ausência de comprovação do contrato físico juntado, houve o inequívoco recebimento do crédito a parte apelada, que demonstra a ausência da má-fé na cobrança. A decisão deste Tribunal não pode violar o art. 42, parágrafo único, do CDC, e colidir com a jurisprudência do STJ, porquanto a condenação à devolução dobrada exige prova cabal da má-fé do credor, circunstância não realçada pela sentença. A sentença, por sua vez, fundamenta a condenação de repetição de indébito na ocorrência de má-fé do banco apelante, o que violaria o art. 42, parágrafo único, e, em posição contrária a jurisprudência do STJ, veiculada no precedente paradigmático Reclamação n. 4892/PR, Rel. Min. Raul Araújo, 2ª Seção, DJe 27/04/2011, que assentou que a devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando demonstrada a má-fé do credor. No mesmo sentido: EResp 1127721/RS, REsp 1177371/RJ, AgRg. no REsp. 1149897/RS e REsp. 1032952/SP." Sustenta ainda, que "o valor da condenação do dano moral supera em 23 vezes o valor recebido pela parte apelada, decorrente do contrato objeto desta lide. Reprisa-se, a conduta do banco apelante não pode ser considerada hábil a ensejar o dever de reparação por danos morais, uma vez existente a do proveito econômico e a inércia da parte apelada enquanto era cobrado mês a mês sem nunca ter impugnado administrativamente. Além disso, cabe destacar outra questão, o apelado não comprovou qualquer ofensa ou lesão a direito de sua personalidade, fato este que também afasta a configuração dos danos morais, consoante entendimento deste Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais e do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, no sentido de que não se trata de dano in re ipsa. Processo 501834549-2019.8.13.0672 - TJMG – 20ª Câmara Cível – Des. Rel. Vicente de Oliveira Silva- j. 14/04/2021. “ Em outras palavras, o nome do autor não foi negativado em função dos contratos de empréstimo consignado, cuja celebração não foi provada; no curso dos contratos, reconhecidos como inexistentes, ele se valeu dos créditos disponibilizados em sua conta-corrente, sem tentar devolvê-los ou consigná-los em juízo e, ainda, os descontos realizados no seu benefício previdenciário não implicaram em redução abrupta de seu orçamento mensal, perfazendo a quantia de R$ 67,47 (sessenta e sete reais e quarenta e sete centavos). E somente deve ser deferida indenização por danos morais nas hipóteses de dor, sofrimento, tristeza, angústia, aflições, prejuízo à saúde e integridade psicológica de alguém, constrangimento, vergonha, humilhação, exposição lesiva no meio social, ou seja, danos à consideração da pessoa em si, ou em suas projeções sociais. O ora apelante adesivo não fez prova de nenhuma situação excepcional que tenha sido lesiva à sua honra, reputação ou dignidade, ou que tenha atingido os seus valores mais íntimos, de modo a influenciar o seu comportamento psicológico e causar anormalidade em sua vida. É natural que o recorrente adesivo, em face dos acontecimentos, tenha ficado aborrecido, chateado. Todavia, tais sentimentos não representam danos morais. São perfeitamente suportáveis e decorrem da vida cotidiana. Admitir indenização por dano moral em virtude de qualquer aborrecimento, chateação ou preocupação é tornar inviável a vida em sociedade e fomentar a indústria das indenizações por danos morais.” grifo nosso Processo 1004384-53.2019.8.26.0024 - TJSP – 14ª Câmara de Direito Privado, Des. Rel. Carlos Abrão - j. 11/11/2020 “Não se vislumbra, porém, nenhuma lesão a direito da personalidade da demandante, mas mero aborrecimento, uma vez que as parcelas de referido empréstimo consumiam fração mínima de sua pensão. De fato, era necessária a efetiva demonstração de algum prejuízo ou abalo à sua subsistência, não bastando a mera alegação de dano, sob pena de banalização do instituto.” Apelação nº 1000947-57.2020.8.26.0480 – TJSP – 37ª Câmara de Direito Privado, Des. Rel. Jose Wagner de Oliveira Melatto Peixoto – Voto 18279. “Noutro vértice, no tocante aos danos morais, tem-se que eles não foram comprovados, pois, a despeito do depósito da quantia de R$ 595,58 em favor da autora e consequentemente o uso, os descontos no benefício previdenciário não comprometeram o sustento da apelada e de sua família e tampouco implicou a negativação de seu nome em órgãos de proteção ao crédito”. Ademais, é importante destacar que não é qualquer ato antijurídico ou descumprimento de dever legal ou contratual que enseja o dever de indenizar, sob pena de banalização do instituto. Nessa linha, é a lição da Professora Judith Martins-Costa: “(...) não se configura o dever de indenizar quando a lesão não é revestida de gravidade, pois a vida em sociedade produz, necessariamente, contratempos e dissabores a todo momento. O reconhecimento irrestrito do direito à indenização por “futilidades” ocorre, inelutavelmente, em prejuízo da própria coletividade, que terá de arcar com os custos decorrentes (...)” Admitindo-se por amor ao debate a ausência de contratação pela parte apelada, a mera movimentação financeira sem autorização não gera danos morais indenizáveis, posto que esta situação vivenciada pela parte constitui mero aborrecimento, insuficiente à configuração do dano moral. A situação vivenciada pela parte apelada constitui mero aborrecimento, insuficiente à configuração do dano moral. Portanto, não estão presentes os pilares da responsabilidade civil – ato ilícito, dano e nexo causal –, restando injustificada a condenação do banco apelante à indenização por danos morais, razão pela qual a sentença merece reforma. Ademais, não havendo falha na prestação do serviço ou ocorrência de ato ilícito, improcede a condenação em danos morais. A conduta praticada pela instituição financeira apelante decorreu de verdadeiro exercício regular de direito (art. 188, I, CC), visto que, como comprovado, a contratação dos empréstimos restou demonstrada, tendo sido legítimas os descontos realizados." Com esses argumentos, requer "que seja o presente recurso recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo, nos termos dos arts. 1.012 e 1.013, ambos do CPC/2015, bem como espera seja dado provimento AS PRELIMINARES ARGUÍDAS. Ultrapassada as preliminares, requer o apelante que seja julgado IMPROCEDENTE O PEDIDO DA PARTE APELADA, posto que agindo assim, esse E. Colegiado prestigiará mais uma vez a Lei, Doutrina e Jurisprudência dos nossos Tribunais. No entanto, pelo princípio da eventualidade, requer-se, subsidiariamente, na hipótese de assim não entender esta Egrégia Turma: - A convalidação do contrato; - A expressa compensação/abatimento do valor creditado em conta sobre o montante condenatório total, sob pena de favorecimento do enriquecimento sem causa em favor da Apelada e em detrimento do Banco; - Que a parte apelada seja intimada a acostar os extratos ou que seja deferida a expedição do ofício para a instituição bancária em que foi efetuada a TED, (Banco Bradesco), agência 1143, conta corrente / poupança 670110-8, período de (12/2014) e (02/2015), a fim de que fique comprovado o benefício econômico auferido e que este foi incorporado patrimônio da parte apelada; - O afastamento da condenação na dobra legal, a título de dano material,para a forma simples; - O afastamento da condenação em dano moral; - No que concerne ao montante condenatório, por não guardar qualquer equivalência com as provas constantes dos autos, pelo que deve ser minorado em patamar condizente atendendo aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade; - Redução dos honorários advocatícios arbitrados. Nesses termos, pede deferimento." A parte recorrida, embora devidamente intimada, não apresentou contrarrazões, conforme certidão constante no Id. 32277845. Manifestação da Douta Procuradoria-Geral de Justiça pelo conhecimento do apelo, deixando de opinar sobre o mérito, por entender inexistir hipótese de intervenção ministerial (Id. 32646128). É o relatório. Decido. Verifico que os pressupostos de admissibilidade exigidos para o regular processamento do recurso foram devidamente atendidos pela parte apelante, daí porque, o conheço. Na origem, consta da inicial, que a parte autora foi cobrada por dívida oriunda de contrato de empréstimo, que diz não ter celebrado, pelo que requereu seu cancelamento e indenização por danos morais e materiais. De logo me manifesto sobre o pleito em que a parte apelante pugna pela nulidade da sentença por cerceamento de defesa, pois entendo que, na presente controvérsia, discute-se matéria de direito, sendo os elementos constantes dos autos suficientes para o deslinde da causa. Ademais, cabe ao Juiz, como destinatário da prova, avaliar a necessidade de produção de novas diligências, o que, no caso, se mostrou desnecessário, razão pela qual rejeito a preliminar suscitada. De logo também me manifesto sobre o pleito em que a parte apelante pugna pela concessão de efeito suspensivo ao presente recurso, o qual merece acolhida, e de plano o defiro, uma vez que a mesma demonstrou a probabilidade de seu provimento, nos termos do § 4° do art. 1.012 do CPC. Inicialmente cabe registrar, que na Sessão do dia 12.09.2018, o Plenário deste egrégio Tribunal de Justiça julgou o mérito do IRDR n.º 53.983/2016 para fixar 4 (quatro) teses jurídicas relativas às ações que tratam de contratos de empréstimos consignados envolvendo pessoas idosas, analfabetas e de baixa renda. Conforme relatado, a controvérsia recursal diz respeito à contratação tida como fraudulenta do empréstimo alusivo ao contrato n.º 540275385, no valor de R$ 672,57 (seiscentos e setenta e dois reais e cinquenta e sete centavos) a ser pago em 72 (setenta e duas) parcelas de R$ 19,00 (dezenove reais), deduzidas do benefício previdenciário percebido pela parte apelada. O Juiz de 1º grau julgou procedentes os pedidos formulados na inicial, entendimento que, a meu sentir, merece ser reformado. É que a parte apelante, entendo, se desincumbiu do seu ônus de comprovar a regular contratação do débito questionado, pois juntou aos autos os documentos contidos no Id. 32277687, que dizem respeito ao “Cédula de Crédito Bancário”, assinado pela parte apelante, seus documentos pessoais e, além disso, no Id. 32277686, consta comprovante de liberação da quantia contratada para a conta-corrente n.º 670110-8, em nome desta, da agência n.º 1143, do Banco Bradesco, que fica localizada na cidade de Rosário/MA, restando assim demonstrado que as cobranças são devidas. No caso, entendo que caberia à parte autora comprovar que não recebeu o valor negociado, prova essa que não é draconiana e nem impossível, uma vez que deveria apenas juntar uma cópia do extrato de sua conta bancária alusivo ao período em que ocorreu o depósito, o que é perfeitamente possível, e tudo estaria explicado, tendo em vista que extrato só poderá ser coligida aos autos pela própria parte ou por determinação judicial, em virtude do sigilo bancário. Não há que se falar em desconhecimento, erro, engano ou ignorância da parte autora capaz de eximi-la do pagamento das prestações do contrato, que já se encontrava na parcela 18 (dezoito) quando propôs a ação, em 12.09.2016. Com efeito, mostra-se evidente que a parte recorrida assumiu as obrigações decorrentes do contrato de empréstimo consignado com a parte recorrente. Logo, somente poderia eximir-se do débito contraído, realizando seu pagamento integral, o que ainda não fez. No caso, entendo que a parte apelada deve ser condenada por litigância de má-fé, pois ao ajuizar ação questionando a contratação de empréstimo que tinha ciência de tê-lo realizado, não há dúvidas de que assim agiu, e por isso deve ser penalizada, pois alterou a verdade dos fatos, para conseguir seus objetivos, a teor do que dispõe o art. 80, inc. II do CPC, in verbis: “Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que: I - (…) II - Alterar a verdade dos fatos;” Pertinente ao montante da multa, entendo que o correspondente a 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa se apresenta razoável e proporcional, pois não tem sido raro o ajuizamento de ações em que a parte almeja auferir vantagem sem qualquer fundamento, o que entendo ser o caso. Sobre o tema, a jurisprudência a seguir: “APELAÇÃO CÍVEL – JULGAMENTO MONOCRÁTICO PELO RELATOR – POSSIBILIDADE. I) O art. 932 da Lei n.º 13.105/15 permite o julgamento do recurso na forma monocrática. A técnica de julgamento monocrático pelo relator, que continua sendo aplicada no STJ por força da Súmula 568 daquele Colendo Tribunal, há de ser aqui também empregada, a despeito da redução de poderes contidas no referido artigo 932,IV, do CPC/15, por contrariar regra maior, contida na Constituição Federal, de realização da razoável duração do processo, da efetividade dele, constituindo-se em meio que garante a celeridade da tramitação recursal, tendo em vista o que consta do artigo 5º, LXXVIII, da Magna Carta. II) Outrossim, o controle do julgamento monocrático pode se dar por via do agravo interno, que a parte tem à sua disposição, fato que assegura a possibilidade de ser mantida a orientação do Código de Processo Civil de 2015, de ser o novo diploma um Código constitucionalizado, com vistas a concretizar os ideais do Estado Democrático Constitucional, mediante decisão de mérito justa, tempestiva e efetiva, nos termos do disposto nos artigos 1º, 4º, 5ºe 6º, do CPC/15. MÉRITO – AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL – AUTOR QUE NÃO RECONHECE O CONTRATO QUE MOTIVOU DESCONTOS DE PARCELAS NO SEU BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL DIANTE DA PROVA DA TRANSFERÊNCIA DO DINHEIRO EM FAVOR DO AUTOR – LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CONFIGURADA– RECURSO IMPROVIDO. I) A alteração da verdade dos fatos com o objetivo de enriquecer-se ilicitamente configura conduta expressamente condenada pelo Código de Processo Civil nos incisos II e III do art. 81, dando azo à condenação da parte ao pagamento de multa por litigância de má-fé. II) Recurso conhecido, mas improvido, nos termos do artigo 932 do CPC. (TJ-MS - APL: 08056385420188120029 MS 0805638-54.2018.8.12.0029, Relator: Des. Dorival Renato Pavan, Data de Julgamento: 30/05/2019, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 31/05/2019)”. Diante de todas essas ponderações, fica claro que a pretensão de reformar a sentença de 1º grau merece guarida. Nesse passo, ante o exposto, sem interesse ministerial, fundado no art. 932, inc. V, “c”, do CPC c/c a Súmula n.º 568 do STJ, monocraticamente, dou provimento ao recurso para, reformando a sentença, julgar improcedentes os pedidos contidos na inicial, extinguindo o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, ressaltando que o valor da multa poderá ser cobrado desde logo, nos termos do que dispõe o §4º do art. 98 do CPC. Tendo em vista o princípio da causalidade, inverto o ônus da sucumbência, ficando sob condição suspensiva em relação à parte apelada, considerando que a mesma é beneficiária da gratuidade da justiça (art. 98, § 3º, do CPC). Desde logo, advirto as partes que a oposição de embargos de declaração com caráter meramente protelatório será apenada com multa, nos termos do art. 1026, §2º, do CPC. Intimem-se as partes, bem como notifique-se a Douta Procuradoria-Geral de Justiça. Cumpra-se por atos ordinatórios. Cópia da presente, se necessário, servirá como mandado de intimação, de notificação, de ofício e para as demais comunicações de estilo. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os presentes autos, dando-se baixa nos cadastros e registros pertinentes. Publique-se. Cumpra-se. São Luís (MA), data do sistema. Desembargador José Gonçalo de Sousa Filho Relator A3 "CONCILIAR É MELHOR QUE LITIGAR"

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