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Processo nº 0019257-57.2014.8.27.2729

ID: 328224984

Tribunal: TJTO Órgão: 2ª Vara da Fazenda e Reg. Públicos de Palmas Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA Nº Processo: 0019257-57.2014.8.27.2729

Data de Disponibilização: 17/07/2025

Polo Ativo:

FABRÍCIO PEREIRA E SILVA

Polo Passivo:

DECISÃO/DESPACHO

Advogados:

AMANDA KELLY MARINHO SILVA

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FLAVIO ALVES DO NASCIMENTO

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ALANA BEATRIZ SILVA COSTA

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Cumprimento de sentença Nº 0019257-57.2014.8.27.2729/TO REQUERENTE : FABRÍCIO PEREIRA E SILVA ADVOGADO(A) : ALANA BEATRIZ SILVA COSTA (OAB TO009237) ADVOGADO(A) : FLAVIO ALVES DO NASCIMENTO (OAB TO0… Cumprimento de sentença Nº 0019257-57.2014.8.27.2729/TO REQUERENTE : FABRÍCIO PEREIRA E SILVA ADVOGADO(A) : ALANA BEATRIZ SILVA COSTA (OAB TO009237) ADVOGADO(A) : FLAVIO ALVES DO NASCIMENTO (OAB TO004610) ADVOGADO(A) : AMANDA KELLY MARINHO SILVA (OAB TO011165) DESPACHO/DECISÃO Trata-se CUMPRIMENTO DE SENTENÇA interposto por FABRÍCIO PEREIRA E SILVA ( evento 113, CUMPR_SENT1 ). Requereu o pagamento dos valores retroativos de Adicional Noturno do período de 08/2009 A 10/2022. A parte executada apresentou Impugnação ao Cumprimento alegando, em síntese: inexigibilidade do título; excesso de execução; aplicação do divisor de 200 horas mensais; incidência da SELIC a partir de dezembro de 2021; o necessário isolamento entre o principal e os juros para que não haja anatocismo ( evento 116, IMPUGNA CUMPR SENT1 ). Ao final, requereu: (i) a limitação dos cálculos a dezembro/2021, conforme jurisprudência do TJTO; (ii) a utilização do divisor de 200 horas para cálculo do valor-hora de trabalho; (iii) a exclusão dos meses em que não houve demonstração do efetivo labor noturno, ante a ausência das respectivas escalas de plantão e folhas de frequência; (iv) a incidência exclusiva e não cumulativa da SELIC como fator de atualização monetária e compensação da mora a partir de 12/2021 (com isolamento dos juros anteriores). Intimado, o exequente juntou documentos para comprovar o trabalho noturno (evento 122). Cálculo pela COJUN ( evento 131, CALC1 ). O exequente alegou que o cálculo do adicional noturno deve corresponder a remuneração do servidor e não seu vencimento base ( evento 135, PET1 ). O executado manifestou ciência ( evento 136, CIEN1 ). É o relatório. DECIDO. I - DO ALEGADO EXCESSO DE EXECUÇÃO E executado alega que o termo final dos cálculo deve ser em dezembro/2021, uma vez que os servidores públicos ocupantes do cargo de Agente de Execução Penal que comprovarem atividade laboral no período noturno, independentemente de regulamentação, possuem direito ao pagamento de adicional noturno até 31/12/2021, por força da Lei Estadual 3.879, de 07 de janeiro de 2022 (Plano de Cargos, Carreira e Subsídio - PCCS dos Policiais Penais do Estado do Tocantins). Não obstante, o exequente não é Agente de Execução Penal, e sim Motorista ( evento 1, OUT4 ). Ademais, o título executivo não estabeleceu termo final, de forma que não cabe rediscussão do mérito em fase de cumprimento de sentença. II - DO PEDIDO DE APLICAÇÃO DO DIVISOR DE 200 HORAS MENSAIS O servidor que exerce regime diferenciado de trabalho não se submete ao mesmo cálculo que os demais servidores que exercem carga horária diária de 08 horas e semanal de 40 horas. Conforme orientação jurisprudencial assente do STJ: ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC PREJUDICADA. ANÁLISE DO MÉRITO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. ADICIONAL DE HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. ESCALA DE REVEZAMENTO. 24X72 HORAS. DIVISOR. 200 HORAS MENSAIS. ART. 19 DA LEI N. 8.112/90. PRECEDENTES. TOTAL DE HORAS MENSAIS INFERIOR. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. [...] III - Nos termos do art. 19 da Lei n. 8.112/90, a jornada máxima de trabalho dos servidores públicos federais corresponde a 40 horas semanais. Nesse contexto, e conforme a jurisprudência consolidada desta Corte, o divisor adotado no cálculo do adicional decorrente do serviço extraordinário é de 200 horas mensais. Precedentes: AgRg no REsp 1227587/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 2/8/2016, DJe 12/8/2016; AgRg no REsp 1132421/RS, Rel. Ministro Ericson Maranho (desembargador Convocado do TJ/SP), Sexta Turma, julgado em 13/10/2015, DJe 3/2/2016; REsp 805.437/RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 24/3/2009, DJe 20/4/2009; e REsp 1019492/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em 3/2/2011, DJe 21/2/2011. IV - Ocorre que escalas de trabalho em regime de revezamento de 24 horas de trabalho por 72 horas de descanso perfazem, quando muito, 8 (oito) dias de trabalho mensal, o que multiplicado por 24 horas equivale a apenas 196 (cento e noventa e seis) horas de trabalho ao logo do mês, ou seja, número inferior ao divisor de 200 (duzentas) horas mensais relativas aos servidores públicos federais regidos pela Lei n. 8.112/90, o que afasta a pretensão de percepção de horas extras. V - Agravo interno improvido. (AgInt nos EDcl no REsp 1553781/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/03/2018, DJe 06/03/2018). Em reforço: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ADICIONAL NOTURNO. REFLEXO SOBRE 13º SALÁRIO E FÉRIAS. LEI ESTADUAL Nº 1.818/2007. UTILIZAÇÃO DO DIVISOR DE 200 HORAS MENSAIS NOS CÁLCULOS. JORNADA DE TRABALHO DE 40 HORAS SEMANAIS. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.1. Devem ser afastados os reflexos do adicional noturno sobre férias, terço constitucional e 13º salário, uma vez que a Lei estadual nº 1.818/2007 não dispõe sobre sua incidência. 2. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) entende que os adicionais noturno e de serviço extraordinário devem ser calculados com base no divisor de 200 (duzentas) horas mensais, tendo em conta que a jornada máxima de trabalho dos servidores públicos é de 40 (quarenta) horas semanais .3. Agravo de Instrumento provido. ( TJTO , Agravo de Instrumento, 0004073-02.2024.8.27.2700, Rel. JOCY GOMES DE ALMEIDA , julgado em 14/05/2024, juntado aos autos em 28/05/2024 10:30:08) - grifos não originais. Assim, assiste razão ao executado. III - DA ALEGADA OCORRÊNCIA DE ANATOCISMO Estado do Tocantins alega a ocorrência de anatocismo. Contudo, verifica-se que não há qualquer equívoco da contadoria, pois a atualização do crédito se deu conforme Decisão n. 434/2023 - da PRESIDÊNCIA/ASPRE, a qual determina que a taxa da SELIC deve incidir sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros). A propósito, temos: Decisão Nº 434 / 2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE (...)Com efeito, como a Decisão nº 388/2022-ASPRE seguiu a orientação do Conselho da Justiça Federal vigente à época, mas que em 08 de agosto de 2022 o mesmo Conselho adotou metodologia distinta para aplicação da SELIC, deixando de incidir apenas sobre o valor principal corrigido monetariamente, passando a incidir sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros), deve a COJUN também ajustar a metodologia aplicada tal como orientado na Resolução nº 784/2022 CJF, aplicando a SELIC sobre o valor consolidado do cálculo (principal corrigido + juros demora).DETERMINO, pois, sua aplicação, devendo a Diretoria Judiciária/COJUN, Coordenadoria de Precatórios e Divisão de Conferências e Contadoria Judiciária promover as devidas atualizações adequando no sistema GRV. Neste sentido é o entendimento firmado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE ANATOCISMO NOS CÁLCULOS APRESENTADOS PELA COJUN. INOCORRÊNCIA. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 113/2021. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC A PATIR DA SUA ENTRADA EM VIGOR. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR CONSOLIDADO DO DÉBITO (PRINCIPAL CORRIGIDO MAIS JUROS). DECISÃO N. 434/2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE. MANUTENÇÃO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. No tocante a atualização de débitos fazendários pela SELIC e acréscimo de juros, é de se salientar que foi promulgada a Emenda Constitucional n. 113/2021, cujo art. 3º assim dispõe: "Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), acumulado mensalmente." 2. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela taxa SELIC, com incidência sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido mais juros, conforme determina a Decisão N. 434/2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE. 3. Na hipótese dos autos, foram observados os dispositivos legais citados para elaboração/atualização do débito pela Contadoria, com a utilização da SELIC a partir de dezembro/2021 sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros). Assim, o cálculo apresentado pela Contadoria mostra-se em consonância com os dispositivos legais que regem a matéria, devendo ser mantido. 4. Recurso não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0002267-29.2024.8.27.2700, Rel. JOAO RIGO GUIMARAES , julgado em 10/04/2024, juntado aos autos em 12/04/2024 11:29:55) AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRELIMINAR DE INOVAÇÃO RECURSAL. AFASTADA. EC Nº 113/2021. TAXA SELIC. APLICAÇÃO SOBRE O VALOR APURADO. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR PRINCIPAL ATUALIZADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Não há que se falar em inovação recursal, uma vez que os argumentos trazidos pelo recorrente somente desenvolve o raciocínio anteriormente apresentado quanto à tese de não incidência da Taxa Selic nos cálculos apresentados pela contadoria judicial. 2. Quanto à atualização dos débitos fazendários pela Taxa Selic e o acréscimo de juros, é relevante destacar que a Emenda Constitucional nº 113/2021 foi promulgada, e seu art. 3º trata especificamente da metodologia a ser aplicada. 3. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela Taxa Selic, com incidência sobre o valor do principal atualizado. 4. No presente caso, nota-se a conformidade com o dispositivo legal mencionado para a elaboração/atualização do débito pela Contadoria, a partir de dezembro de 2021, ao utilizar a Taxa Selic, que abrange tanto a correção monetária quanto os juros moratórios. 5. Agravo de Instrumento conhecido e não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0014289-56.2023.8.27.2700, Rel. JOCY GOMES DE ALMEIDA , julgado em 14/02/2024, juntado aos autos em 21/02/2024 16:46:43) AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE HOMOLOGOU OS CÁLCULOS APRESENTADOS PELA COJUN. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 113/2021. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC A PARTIR DA SUA ENTRADA EM VIGOR. MANUTENÇÃO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. No tocante a atualização de débitos fazendários pela Selic e acréscimo de juros, é de se salientar que foi promulgada a EC n. 113/2021, cujo art. 3º assim dispõe: "Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), acumulado mensalmente." 2. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela Taxa Selic, com incidência sobre o valor do principal atualizado. 3. Na hipótese, observa-se ter sido respeitado o dispositivo legal citado para elaboração/atualização do débito pela Contadoria, com a utilização da SELIC a partir de dezembro/2021, a qual engloba tanto a correção monetária quanto os juros moratórios 3. Na decisão agravada, restou consignado que os cálculos apresentados pela COJUN no evento 126, estão de acordo com entendimento Jurisprudencial e Legislação especifica, vez que o valor principal deve ser corrigido monetariamente até nov/21 pelo IPCA-E e após pela SELIC, os juros aplicados até nov/21 pela taxa de remuneração da poupança e após dez/21 não incidem juros, só SELIC e, em seguida o valor corrigido com o valor dos juros, chegando-se o valor devido . 4. Recurso não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0010737-83.2023.8.27.2700, Rel. ADOLFO AMARO MENDES , julgado em 14/11/2023, juntado aos autos em 23/11/2023 16:14:03) Assim, REJEITO o alegado pelo Estado. IV - DA BASE DE CÁLCULO DO ADICIONAL NOTURNO Sobre o tema, o entendimento doutrinário e jurisprudencial perfilha-se pela adoção como base de cálculo do adicional noturno a remuneração do servidor, e não somente o seu vencimento base, posicionamento este sustentado de forma equivocada pela Fazenda Pública nas razões do presente recurso. Nesse sentido: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C COBRANÇA. SERVIDORA MUNICIPAL. CARGO MERENDEIRA. ADICIONAL NOTURNO. CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADO. SUFICIÊNCIA DA PROVA APRESENTADA PELA AUTORA. BASE DE CÁLCULO. REMUNERAÇÃO. 1. OMISSIS. 2. OMISSIS. 3. A base de cálculo utilizada para pagamento de adicional noturno é a remuneração auferida pela servidora, incluindo as vantagens pecuniárias permanentes, e não apenas o vencimento básico. Precedentes. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO”. (TJGO, Ap. nº 0023893-68.2016.8.09.0087, Rel. Sandra Regina Teodoro Reis, 6ª Câmara Cível, julgado em 09/03/2018, DJe de 09/03/2018), grifei. EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. MANDADO DE SEGURANÇA Nº 5001198-09.2013.827.0000. PAGAMENTO DE ADICIONAL NOTURNO. AUDITORES FISCAIS DA RECEITA ESTADUAL. BASE DE CÁLCULO. VENCIMENTOS DO SERVIDOR. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. O adicional noturno é parcela assegurada ao trabalhador por força de previsão constitucional (artigo 7º, inciso IX, da Constituição) e de legislação infraconstitucional, calculada com base no "valor da hora normal de trabalho", portanto, composta de todas as parcelas de natureza salarial, cuja soma traduz na sua remuneração. 2. In casu, restou comprovado o labor em regime noturno pela parte autora, inclusive, com a percepção do respectivo adicional noturno. 3. Assim, deve ser utilizada, como base de cálculo para o pagamento do adicional noturno, a remuneração recebida pelo servidor, e não, apenas o seu vencimento básico, nos moldes estatuídos na sentença. 4. Recurso conhecido e não provido. ( TJTO , Agravo de Instrumento, 0013559-79.2022.8.27.2700, Rel. ANGELA ISSA HAONAT , julgado em 25/01/2023, juntado aos autos 03/02/2023 19:09:25) - grifo não original. Isto posto, ACOLHO EM PARTE a impugnação apresentada pelo Estado do Tocantins, somente no que tange a aplicação do divisor de 200 horas. CONDENO a parte exequente ao pagamento de honorários de sucumbência os quais fixo em 8% (oito por cento) sobre o valor correspondente ao proveito econômico obtido, isto é, sobre a diferença dos valores apontados na inicial e o valor homologado. CONDENO a parte executada ao pagamento de honorários de sucumbência os quais fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor correspondente ao proveito econômico obtido, isto é, sobre a diferença dos valores apontados na impugnação e o valor homologado. Intimem-se as partes no prazo de 15 (quinze) dias. Após a preclusão da presente decisão , providencie a escrivania, se não houver alteração do quanto decidido: a) Remetam-se os autos à COJUN para atualização dos cálculos homologados devendo observar (i) o divisor de 200 horas no cálculo; (ii) os meses de labor noturno efetivamente comprovado nos autos; (iii) bem como incluir os honorários de sucumbência da fase de conhecimento e da fase de cumprimento de sentença. Com os cálculos, intime-se as partes para manifestarem-se, no prazo de 5 (cinco) dias. b) Após, retornem os autos conclusos para homologação dos cálculos (CLS CUMP HOMOLOGAÇÃO) ou apreciação da impugnação aos cálculos (CLS CUMP IMPUG CALC). No caso de impugnação aos cálculos, a parte impugnante deverá informar o valor que entende devido, sob pena de preclusão. Intime-se. Cumpra-se. Palmas - TO, data certificada pelo sistema.

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Sergio Santos De Oliveira x Aymoré Crédito, Financiamento E Investimento S/A

ID: 318597388

Tribunal: TJPE Órgão: 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0000399-19.2025.8.17.2810

Data de Disponibilização: 07/07/2025

Polo Ativo:

SERGIO SANTOS DE OLIVEIRA

Polo Passivo:

AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A

Despacho_Intimação_Intimação (Outros)

Advogados:

GIOVANNA BARROSO MARTINS DA SILVA

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NEY JOSE CAMPOS

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Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes ROD BR-101 SUL KM 80, S/N, - do km 86,007 ao km 88,000, PRAZERES, JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE -… Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes ROD BR-101 SUL KM 80, S/N, - do km 86,007 ao km 88,000, PRAZERES, JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE - CEP: 54345-160 - F:(81) 34615600 Processo nº 0000399-19.2025.8.17.2810 AUTOR(A): SERGIO SANTOS DE OLIVEIRA RÉU: AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A SENTENÇA I – RELATÓRIO SERGIO SANTOS DE OLIVEIRA, qualificado nos autos, através de advogada constituída, propôs a presente “Ação Revisional de Contrato”, em face de AYMORÉ CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO S/A, também já qualificada. Em resumo, o demandante solicitou a gratuidade da Justiça, depois, alegou que, em 31/10/2023, firmou contrato de financiamento para aquisição de um veículo VW Gol, ano 2012, mas apesar da avença prever uma taxa de juros de 1,85% a.m., a instituição financeira incluiu indevidamente no valor total financiado as seguintes tarifas e serviços, que reputa abusivos: 1) Tarifa de Avaliação do Bem: R$ 599,00, 2) Registro de Contrato: R$ 356,15, 3) Seguro Prestamista: R$ 1.940,62 e 4) Seguro Auto Terceiros: R$ 870,30, além da incidência equivocada dos juros não pactuados. Ainda, sustentou que o valor correto da parcela, expurgadas as tarifas ilegais, seria de R$ 640,33. Invoca a aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), a tese da "venda casada" referente aos seguros e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Temas 958 e 972). Ao final, pleiteou: a) a concessão da justiça gratuita; b) a revisão do contrato para declarar a nulidade das cláusulas abusivas; c) o recálculo da dívida com a exclusão das tarifas, fixando a parcela no valor incontroverso de R$ 640,33; d) a restituição em dobro dos valores pagos a maior; e) a inversão do ônus da prova. Ao receber a petição inicial, este Juízo deferiu o pedido de gratuidade de justiça, mas indeferiu o pedido de autorização para depósito judicial das parcelas no valor pretendido pelo autor, por entender que o contrato permanece hígido até decisão final. Determinou a citação da parte ré e intimou as partes sobre a tramitação pelo "Juízo 100% Digital". Em seguida, a parte ré contestou, arguindo a preliminar da ausência de interesse processual, por não ter o autor tentado a solução extrajudicial da controvérsia; no mérito, argumentou no sentido da legalidade de todas as cláusulas, com base no princípio do pacta sunt servanda, ou seja, a força obrigatória dos contratos, defendeu a validade da Tarifa de Avaliação e do Registro de Contrato, com base no Tema 958/STJ, alegando corresponderem a serviços efetivamente prestados. Sustentou que a contratação dos seguros foi opcional, consentida pelo autor, não configurando venda casada, conforme Tema 972/STJ. Rechaçou a alegação de juros abusivos e de anatocismo. Ao final, pugnou pela total improcedência dos pedidos. O autor replicou a peça de bloqueio, reforçando seu pleito inicial. Intimadas as partes para a especificação das provas, o autor e a demandada concordaram com o julgamento antecipado. II – FUNDAMENTAÇÃO A Constituição Federal, dentre os direitos e garantias fundamentais, assegura a qualquer pessoa o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII). Uma vez que as partes não requereram a produção de outras provas, além dos documentos que estão nos autos, o processo comporta o julgamento antecipado do mérito, a teor do disposto no art. 355, I, CPC. A preliminar da ausência do interesse de agir pela falta reclamação prévia não deve prosperar, porque a parte ré contestou. Não havendo conciliação no curso do processo, a pretensão autoral é resistida. Presente, portanto, o interesse processual na resolução de mérito da lide (art. 4º, CPC), tendo por base o princípio constitucional da inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 5º, XXXV, CF/88). Deste modo, com esses fundamentos, rejeito essa preliminar. Estabelecidas essas premissas, cumpre recordar que, segundo o STJ, “ao juiz cabe apreciar a questão de acordo com o que entender atinente à lide. Não está obrigado a julgá-la conforme o pleiteado pelas partes, mas sim com seu livre convencimento, usando fatos, provas, jurisprudência, aspectos atinentes ao tema e legislação que entender aplicáveis ao caso”. (AgRg no Recurso Especial Nº 902.242/RS (2006/0251682-4) Relator: Eliana Calmon, Dj 04.11.2008). Na hipótese dos autos, tenho que o pleito autoral não merece prosperar. Veja-se. Conforme a lição do TJPE: “o juiz é o verdadeiro destinatário da prova, sendo dele a incumbência de ponderar as considerações de cada um (laudo pericial e comprovante de pagamento administrativo) e optar pela avaliação que melhor reflete a realidade dos fatos, afinal o magistrado é o peritus peritorum (rectius: perito dos peritos)”. (Apelação nº 0002461-34.2013.8.17.0100, 1ª Câmara Cível do TJPE, Rel. Frederico Ricardo de Almeida Neves. j. 08.10.2019, unânime, DJe 24.10.2019). Para a resolução da questão em foco, é preciso ter em mente que “o contrato de adesão não implica, necessariamente, a existência de cláusulas leoninas, devendo haver prova mínima da abusividade ou onerosidade excessiva. Mesmo nas relações de consumo, a aplicação do art. 6º, VIII, do CDC, não é automática, devendo-se verificar a existência da hipossuficiência do consumidor e a verossimilhança de suas alegações”. (Apelação nº 0000325-06.2010.4.02.5117, 8ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, Rel. Marcelo Pereira da Silva. j. 03.10.2016). Em breve retrospecto, a presente ação revisional busca a declaração de nulidade de cláusulas contratuais referentes à cobrança de tarifas e seguros em contrato de financiamento de veículo, sob a alegação de abusividade e onerosidade excessiva. Inicialmente, cumpre destacar que, embora aplicável o Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica estabelecida entre as partes, tal circunstância não afasta a observância dos princípios fundamentais do direito contratual, notadamente o pacta sunt servanda e a autonomia da vontade. O contrato legitimamente celebrado faz lei entre as partes, devendo ser cumprido tal como pactuado. A intervenção judicial na economia do contrato somente se justifica em casos excepcionais, quando demonstrada efetiva abusividade ou onerosidade excessiva das cláusulas, o que não restou comprovado nos autos. Quanto às tarifas de avaliação do bem (R$ 599,00) e registro de contrato (R$ 356,15), o Tema 958 do Superior Tribunal de Justiça estabeleceu entendimento pacífico sobre a matéria que, nos contratos bancários é válida a cobrança de tarifa de cadastro, avaliação de bem e registro de contrato, desde que previamente pactuada, não cumulada com outras tarifas de mesmo conteúdo econômico e corresponda à efetiva prestação de serviço. No caso em análise, verifica-se que as tarifas foram previamente pactuadas e constam expressamente do contrato assinado pelo autor; correspondem à efetiva prestação de serviços - a avaliação do bem é essencial para a constituição da garantia fiduciária, e o registro do contrato é exigência legal; não há cumulação de tarifas com mesmo conteúdo econômico; os valores cobrados encontram-se dentro dos parâmetros praticados no mercado financeiro. O simples fato de tais encargos integrarem o valor total financiado não os torna abusivos, sendo prática comercial lícita e amplamente aceita pelo mercado. Relativamente aos seguros prestamista (R$ 1.940,62) e de terceiros (R$ 870,30), de acordo com o Tema 972 do Superior Tribunal de Justiça, é lícita a cobrança de seguro prestamista em contratos bancários quando há concordância do consumidor, sendo vedada apenas a imposição da contratação como condição para a concessão do empréstimo. Da análise dos documentos contratuais, constata-se que o Autor foi devidamente informado sobre a contratação dos seguros, além de concordar expressamente com a contratação, conforme sua assinatura no instrumento; Portanto, não restou demonstrada qualquer imposição ou condicionamento da concessão do financiamento à contratação dos seguros; foi garantida ao consumidor a faculdade de não contratar ou buscar seguradora de sua escolha. A alegação de "venda casada" não prospera, uma vez que não comprovada a imposição coercitiva da contratação dos seguros como condição sine qua non para a obtenção do financiamento. Assim, tenho como válida a contratação em tela. E, para melhor fundamentar, transcrevo os seguintes julgados: TJRS: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. SERVIÇOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO. FINANCIAMENTO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. SEGURO PRESTAMISTA. NEGATIVA DE CONTRATAÇÃO. PACTUAÇÃO DEMONSTRADA. VALIDADE DO CONTRATO. Cuida-se de ação por meio da qual reclama a parte autora a restituição, em dobro, de valor pago por seguro prestamista, ao argumento de que houve venda casada. - A sentença julgou improcedente o pedido, dela recorrendo a autora. - Pois bem. Com efeito, em se tratando de cédula de crédito bancário, cuja Lei de Regência nº 10.931/04 admite a exigência de contratação de seguro, consoante disposto no art. 36, torna-se desnecessária a comprovação da destinação do prêmio, como requisito de validade do ajuste. - Além disso, segundo a tese fixada nos Recursos Especiais repetitivos n. 1.639.320/SP e n. 1.639.259/SP - TEMA 972 - não se revela abusiva a cláusula que, em contrato celebrado a partir de 30/04/2008, permite ao consumidor optar, com nítida autonomia de vontade, pela contratação de seguro com a instituição financeira. - Ora, é de lembrar que o seguro é um benefício que é interessante, em princípio, para ambas as partes: para a instituição financeira, porque assegura o recebimento do valor do empréstimo; para o segurado, porque não onera seus herdeiros em caso do seu passamento. Nesse sentido: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE SEGURO PRESTAMISTA E RESIDENCIAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SEGURO PRESTAMISTA. ALEGAÇÃO DE VENDA CASADA DE SEGURO E COBRANÇA INDEVIDA. SERVIÇO CONTRATADO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO COMPROVADO. INEXISTÊNCIA DE DEVER DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES COBRADOS. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007542186, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Alexandre de Souza Costa Pacheco, Julgado em 26/09/2018). - No caso concreto, não é possível aferir dos autos que a contratação do seguro tenha sido imposta ao consumidor, conforme se extrai da proposta acostada à fl. 55. - Para mais, também não restou demonstrado vício de consentimento, situação capaz de contaminar os negócios celebrados e com os quais anuiu. - Logo, correta a decisão que julgou improcedente o pedido. RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71009184805, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 27-05-2020). TJSC: “TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO E AVALIAÇÃO DO BEM. SERVIÇOS PRESTADOS EM VALOR NÃO EXCESSIVAMENTE ONEROSO. COBRANÇA ADMITIDA. RECURSO REPETITIVO RESP Nº 1.578.553/SP. TEMA 958. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA E TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO. CONTRATAÇÃO FACULTATIVA. NÃO ABUSIVIDADE. (...).”. (Apelação Cível nº 0302804-56.2018.8.24.0012, 4ª Câmara de Direito Comercial do TJSC, Rel. Janice Goulart Garcia Ubialli. j. 05.11.2019). TJRS: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. COMPRA E VENDA DE MÁQUINA DE LAVAR E CELULAR. ALEGADA NULIDADE DE CONTRATAÇÃO DE SEGUROS E CARTÃO DE CRÉDITO. DOCUMENTOS ASSINADOS PELO AUTOR (...). AUSENTE PROVA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. FATO DE O AUTOR SER PESSOA HUMILDE NÃO O ISENTA DAS RESPONSABILIDADES DECORRENTES. AUTOR QUE ASSUMIU O RISCO AO FIRMAR DOCUMENTOS QUE SUPOSTAMENTE NÃO TINHA CONDIÇÕES DE DISCERNIR O CONTEÚDO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DA RÉ PROVIDO. RECURSO DO AUTOR DESPROVIDO. (Recurso Cível, Nº 71009214776, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luis Antonio Behrensdorf Gomes da Silva, Julgado em: 23-04-2020). A vulnerabilidade do sistema jurídico instituído pelo CDC não exime a parte autora de provar minimamente as alegações deduzidas em Juízo, a teor do disposto no art. 373, inciso I, CPC. Portanto, é preciso ter em mente que “a inversão do ônus da prova, disposta no Código de Defesa do Consumidor, não retira da parte autora o ônus de provar, ainda que minimamente, os fatos constitutivos do direito alegado, nos termos do artigo 373, I, do CPC/15”. (Recurso Cível, Nº 71009345588, Segunda Turma Recursal Cível do TJRS, Turmas Recursais, Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 30-09-2020). Colhe-se do voto da Ministra Nancy Andrighi do STJ, no REsp 1.120.113-SP, julgado em 15/02/2011: “embora haja o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo – art. 4º, I, do CDC – os direitos a ele conferidos pela legislação consumerista não são absolutos, razão pela qual sua aplicação deve ser analisada sempre com as vistas voltadas ao desejável equilíbrio da relação estabelecida entre o consumidor e o fornecedor. A proteção da boa-fé nas relações de consumo, portanto, não implica necessariamente favorecimento indiscriminado do consumidor, em detrimento de direitos igualmente outorgados ao fornecedor.” A capacidade para a pratica dos atos da vida civil é a regra, diante das significativas mudanças promovidas pelo estatuto da pessoa com deficiência (LEI Nº 13.146/2015), que alterou o art. 3º do Código Civil para admitir como pessoa absolutamente incapaz somente o menor de 16 anos. Nesse sentido, observe-se a jurisprudência: TJCE: APELAÇÃO. CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO. IDOSO. ANALFABETO FUNCIONAL. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE CONTRATO E VÍCIO DE CONSENTIMENTO. NECESSIDADE DE ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DA CONTRATAÇÃO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO QUE COMPROVA A EXISTÊNCIA DA AVENÇA. CONTRATAÇÃO EXISTENTE, VÁLIDA E EFICAZ. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS INICIAIS. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. O FATO DE A PARTE PROMOVENTE SER ANALFABETA FUNCIONAL E IDOSA NÃO A IMPEDE DE CONSTITUIR NEGÓCIO JURÍDICO VÁLIDO, PORQUANTO ESSA CIRCUNSTÂNCIA NÃO LHE TORNA ABSOLUTA OU RELATIVAMENTE INCAPAZ, NOS TERMOS DA LEI CIVIL. TAIS CONDIÇÕES, POR SI SÓS, NÃO SÃO SUFICIENTES PARA SUPOR EVENTUAL DESCONHECIMENTO QUANTO AOS TERMOS DA AVENÇA POR PARTE DO AUTOR, SENDO IMPRESCINDÍVEL A ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DA CONTRATAÇÃO. DOS AUTOS SE EXTRAI, FLS. 60/66, QUE A CONTRATAÇÃO SE DEU DE FORMA VÁLIDA, TENDO, A PARTE PROMOVENTE, USUFRUÍDO DO VALOR TOMADO DE EMPRÉSTIMO. APELO CONHECIDO, MAS IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (Apelação nº 0028524-95.2014.8.06.0091, 4ª Câmara de Direito Privado do TJCE, Rel. Francisco Bezerra Cavalcante. DJe 21.08.2019). TJGO: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. CESSÃO DE DIREITO. CONTRATANTE ANALFABETO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO DEMONSTRADO. ÔNUS DA PROVA DA RECORRENTE. VALIDADE DO PACTO. EXCLUSÃO DO IMÓVEL DO INVENTÁRIO DOS BENS DO ESPÓLIO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA. HONORÁRIOS RECURSAIS. NÃO CABIMENTO. 1. Os vícios da vontade são oriundos de uma representação equivocada, a redundar em divergências ou discordâncias entre a vontade perfeitamente formada e a sua manifestação. Já a manifestação de vontade está atrelada ao plano da validade do negócio jurídico, é o que qualifica o negócio de acordo com as regras vigentes no ordenamento jurídico. Dessa forma, necessária a prova do vício de consentimento, ou mesmo o concurso de contingências contratuais sinalizadoras de um cenário apto a macular o negócio jurídico. 2. Incumbia à apelante o ônus da prova de defeito da cessão, do que deixou de se desincumbir. Cabe a quem alega o vício de consentimento fazer prova do alegado não sendo suficiente, por si só, o fato do contratante ser idoso e analfabeto. Se as provas dos autos em nada corroboram a tese de vício de consentimento, não havendo prova do referido erro ou de outro vício apto a ensejar a invalidade dos pactos, impõem-se a improcedência do pedido de nulidade. 3. Na hipótese, verifica-se que a parte embargante comprovou suas alegações com o contrato de cessão de direito entabulado entre ele e de cujus e, em que pese o contrato conste apenas a digital do transmitente falecido, este pacto encontra-se corroborado pela emissão do Imposto de Transmissão Bens imóveis efetuado e pago pelo embargante. 4. In casu, apesar de existir um documento de cessão de direito do imóvel litigioso, em que consta como cessionário o ora recorrido, tem-se que a propriedade do citado bem somente se comprovaria, mediante a apresentação de escritura pública de registro do imóvel, perante o cartório competente. 5. Até o deslinde do reconhecimento da propriedade deve-se excluir o imóvel do rol do arrolamento dos bens do espólio, para que as partes dirimam a controvérsia nas vias ordinárias. 6. Inafastável, portanto, o dever legal de formalizar a cessão de direito de um imóvel por meio de escritura pública e o seu respectivo registro, requisitos essenciais a validade dessa espécie de negócio jurídico, impondo-se, dessa forma, o não reconhecimento da propriedade do embargante em relação ao imóvel objeto em litígio. 7. Em razão do parcial provimento do recurso, deixo de majorar os honorários. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação nº 5070114-43.2019.8.09.0176, 5ª Câmara Cível do TJGO, Rel. Marcus da Costa Ferreira. DJ 31.10.2019). No que pertine aos juros, o demandante não logrou demonstrar a abusividade da taxa de juros pactuada (1,85% a.m.). A análise do "custo efetivo total" deve considerar que os valores das tarifas e seguros integram legitimamente o montante financiado, não configurando anatocismo ou capitalização indevida. As taxas praticadas encontram-se dentro da média de mercado para operações de financiamento de veículos usados, não se vislumbrando onerosidade excessiva ou vantagem manifestamente desproporcional. A jurisprudência entende que não há limitação de juros, sendo, portanto, permitida a cobrança da taxa efetiva anual contratada, porquanto expressamente pactuada entre as partes, nos termos da Súmula nº 541 do STJ: "a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". Dito de outro modo: a jurisprudência do STJ é assente no sentido da liberdade, em geral, de contratação de juros remuneratórios em contratos bancários. Nessa esteira, a Segunda Seção do STJ consagrou a juridicidade dos juros no percentual avençado pelas partes, desde que não reste caracterizada a exorbitância do encargo. (AgRg no REsp nº 590.573/SC, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 25.05.2004). Nesse sentido: “APELAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL. FINANCIAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. JUROS REMUNERATÓRIOS. INEXISTÊNCIA DE LIMITE CONSTITUCIONAL. TAXA CONTRATUAL LIGEIRAMENTE SUPERIOR À TAXA MÉDIA DE MERCADO. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. (...). A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade, a qual deve ser efetivamente demonstrada. Tratando-se de taxa ligeiramente superior à média de mercado, divulgada pelo Banco Central do Brasil, não há falar em abusividade (...)”. (Apelação nº 0159486-67.2004.8.05.0001, 3ª Câmara Cível/TJBA, Rel. Rosita Falcão de Almeida Maia. Publ. 09.10.2019). Ou seja, o entendimento majoritário é no sentido de que nos contratos celebrados com instituições financeiras, posteriormente à edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (31 de março de 2000), perenizada sob o nº 2.170-36/2001 pela EC 32/2001, conforme ocorre no caso em apreço, desde que pactuada, é permitida a prática de anatocismo; bem como é legítima a adoção, pelas instituições financeiras, de taxa de juros superiores a 12% (doze por cento) ao ano. Observe-se: TRF3: “DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ANATOCISMO/CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. 1. Improcede a alegação de cerceamento de defesa, decorrente do indeferimento de produção de prova pericial e de julgamento antecipado da lide, tendo em vista tratar-se de questão eminentemente de direito, na medida em que a solução da lide restringe-se à determinação de quais critérios devem ser aplicados na atualização do débito. 2. O colendo Superior Tribunal de Justiça colocou uma pá de cal sobre a questão da aplicabilidade dos dispositivos do código do consumerista aos contratos bancários e de financiamento em geral com edição da Súmula 297: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". 3. Relativamente aos contratos, uma vez convencionados os direitos e obrigações, ficam as partes ligadas pelo vínculo da vontade que as uniu. Este é o princípio da Força Obrigatória dos Contratos. Portanto, inexistindo nulidades, ilegalidades ou vício de vontade, as cláusulas impugnadas remanescem válidas. 4. As instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional têm expressa autorização para capitalizar os juros com periodicidade inferior a um ano, desde a edição da Medida Provisória 1.963-17, de 30 de março de 2000, culminando com a Medida Provisória de nº 2.170-36, de 23 de agosto de 2001. 5. O C. Superior Tribunal de Justiça já se manifestou sobre a questão, pacificando o entendimento sobre a possibilidade de haver capitalização de juros nos contratos bancários firmados por instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31 de março de 2000, por força do disposto na Medida Provisória nº 1.963-17/2000, atual MP nº 2.170-36/2001. Portanto, somente será nula a cláusula que venha a permitir a capitalização mensal dos juros nos contratos firmados antes de 31.03.2000. 6. Apelação não provida”. (Apelação Cível nº 0002267-50.2014.4.03.6105, 1ª Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Wilson Zauhy. j. 27.06.2017, unânime, e-DJF3 10.07.2017). Quanto à periodicidade dos juros, o STJ tem o seguinte entendimento firmando na Súmula 539: é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP nº 1.963-17/2000, reeditada como MP nº 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. Nos autos, a parte autora não demonstrou que a cobrança dos juros do contrato configura onerosidade excessiva, tampouco que está sendo cobrado em desacordo com o contrato ou acima da média do mercado para avenças semelhantes na época que foi firmada. III – DISPOSITIVO Diante do exposto, e por tudo que dos autos consta, nos termos do art. 487, inciso I, segunda parte, CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pleito autoral. Em observância ao princípio da causalidade, condeno o autor ao pagamento das custas processuais, e dos honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa (tabela do Encoge desde a distribuição da ação), com base no art. 85, § 2°, CPC. No entanto, fica suspensa a exigibilidade das verbas sucumbenciais, ante o deferimento da Justiça gratuita ao demandante. Havendo recurso de apelação, certifique-se sobre a tempestividade. Logo após, intime-se a parte recorrida para as contrarrazões em 15 dias. Da mesma forma, proceda-se caso apresentada preliminar recursal. Decorrido o prazo, com ou sem resposta, enviem-se os autos ao TJPE. Após o trânsito em julgado, ausente requerimento, arquivem-se os autos. P. R. I. CUMPRA-SE. Jaboatão dos Guararapes, 16/06/2025. José Carvalho de Aragão Neto Juiz de Direito

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Processo nº 5015187-86.2023.8.08.0024

ID: 310858282

Tribunal: TJES Órgão: 028 - Gabinete Des. FABIO BRASIL NERY Classe: APELAçãO CíVEL Nº Processo: 5015187-86.2023.8.08.0024

Data de Disponibilização: 30/06/2025

Polo Ativo:

BANCO DO BRASIL SA

Polo Passivo:

Intimação - Diário

Advogados:

GIZA HELENA COELHO

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO PROCESSO Nº 5015187-86.2023.8.08.0024 APELAÇÃO CÍVEL (198) APELANTE: BANCO DO BRASIL SA APELADO: MUNICIPIO DE VITORIA RELATOR: DES. RAPHAEL AMERICANO CAMARA … ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO PROCESSO Nº 5015187-86.2023.8.08.0024 APELAÇÃO CÍVEL (198) APELANTE: BANCO DO BRASIL SA APELADO: MUNICIPIO DE VITORIA RELATOR: DES. RAPHAEL AMERICANO CAMARA RELATOR DESIGNADO: DES. FÁBIO BRASIL NERY ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ EMENTA Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSUMERISTA. APELAÇÕES CÍVEIS. MULTA ADMINISTRATIVA APLICADA PELO PROCON. TEMPO EXCESSIVO DE ESPERA EM FILA DE ATENDIMENTO BANCÁRIO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE NA FIXAÇÃO DA MULTA. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO DO MUNICÍPIO PARA READEQUAÇÃO DO VALOR DA MULTA. I. CASO EM EXAME Apelações cíveis interpostas por ambas as partes contra sentença proferida pela 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal de Vitória, que julgou parcialmente procedente a ação declaratória de nulidade ajuizada pelo Banco do Brasil S.A. contra o Município de Vitória, reduzindo o valor da multa administrativa aplicada pelo PROCON de R$28.555,26 para R$10.000,00. O Banco do Brasil S.A. sustenta a nulidade do processo administrativo por ausência de fundamentação adequada ou, subsidiariamente, requer nova redução da multa. O Município de Vitória pugna pelo restabelecimento do valor original da penalidade. II. QUESTÃO EM DISCUSSÃO Há duas questões em discussão: (i) verificar se há nulidade do processo administrativo em razão de suposta ausência de fundamentação da decisão administrativa que aplicou a multa; e (ii) avaliar a necessidade de readequação do valor da multa administrativa com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. III. RAZÕES DE DECIDIR A Administração Pública motivou suficientemente a aplicação da penalidade, demonstrando que a infração ocorreu e que a decisão administrativa observou os princípios da legalidade e motivação. O tempo excessivo de espera na fila de atendimento bancário constitui infração à legislação consumerista municipal, justificando a sanção aplicada. A multa administrativa goza de presunção de legitimidade e veracidade, cabendo ao infrator demonstrar a sua irregularidade, o que não ocorreu no caso concreto. A jurisprudência reconhece a possibilidade de o Poder Judiciário revisar o montante da penalidade administrativa quando este se revelar desproporcional à infração cometida. O valor de R$28.555,26 fixado inicialmente pelo PROCON se mostra excessivo diante da infração verificada, justificando sua readequação para R$18.000,00, em atenção aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. IV. DISPOSITIVO E TESE Recurso do Banco do Brasil S.A. desprovido. Recurso do Município de Vitória parcialmente provido para fixar a multa no valor de R$18.000,00. Tese de julgamento: A imposição de multa administrativa pelo PROCON, baseada em infração à legislação consumerista municipal, goza de presunção de legitimidade e veracidade, cabendo ao infrator demonstrar a sua irregularidade. O Poder Judiciário pode revisar o valor da multa administrativa quando este se revelar desproporcional à infração cometida, sem que isso implique controle difuso de constitucionalidade. Dispositivos relevantes citados: CDC, art. 57, parágrafo único; CPC, art. 926. Jurisprudência relevante citada: TJ-ES, Apelação Cível nº 0007753-10.2018.8.08.0024, Rel. Des. Fernando Estevam Bravin Ruy, j. 22/10/2019; TJ-ES, Apelação Cível nº 0002267-15.2020.8.08.0011, Rel. Des. Fábio Brasil Nery, j. 07/06/2024. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________ ACÓRDÃO Decisão: À unanimidade, negar provimento ao recurso interposto pelo Banco do Brasil, bem como dar parcial provimento ao recurso interposto pelo Município de Vitória, nos termos do voto médio do Exmo. Des. Fábio Brasil Nery. Órgão julgador vencedor: 028 - Gabinete Des. FABIO BRASIL NERY Composição de julgamento: 022 - Gabinete Des. RAPHAEL AMERICANO CÂMARA - RAPHAEL AMERICANO CAMARA - Relator / 028 - Gabinete Des. FABIO BRASIL NERY - FABIO BRASIL NERY - Vogal / 029 - Gabinete Desª. HELOISA CARIELLO - HELOISA CARIELLO - Vogal / 002 - Gabinete Des. FABIO CLEM DE OLIVEIRA - FABIO CLEM DE OLIVEIRA - Vogal / 017 - Gabinete Des. JORGE HENRIQUE VALLE DOS SANTOS - JORGE HENRIQUE VALLE DOS SANTOS - Vogal VOTOS VOGAIS 028 - Gabinete Des. FABIO BRASIL NERY - FABIO BRASIL NERY (Vogal) Proferir voto escrito divergente 029 - Gabinete Desª. HELOISA CARIELLO - HELOISA CARIELLO (Vogal) Proferir voto para acompanhar divergência 002 - Gabinete Des. FABIO CLEM DE OLIVEIRA - FABIO CLEM DE OLIVEIRA (Vogal) Proferir voto escrito divergente 017 - Gabinete Des. JORGE HENRIQUE VALLE DOS SANTOS - JORGE HENRIQUE VALLE DOS SANTOS (Vogal) Acompanhar _______________________________________________________________________________________________________________________________________________ NOTAS TAQUIGRÁFICAS ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ VOTO VENCEDOR APELAÇÃO CÍVEL Nº 5015187-86.2023.8.08.0024 APELANTE/APELADO: MUNICÍPIO DE VITÓRIA APELADO/APELANTE: BANCO DO BRASIL S/A RELATOR: DES. RAPHAEL AMERICANO CÂMARA VOTO (Divergência) Trata-se de apelações cíveis interpostas por ambas as partes em razão da sentença proferida pela MMª. Juíza de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde de Vitória, nos autos da ação declaratória de nulidade ajuizada pelo BANCO DO BRASIL S/A em face do MUNICÍPIO DE VITÓRIA, que julgou parcialmente procedente a pretensão autoral pra reduzir o valor da multa administrativa, passando de R$28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos) para R$10.000,00 (dez mil reais). Em seu voto de relatoria, o Eminente Desembargador Raphael Americano Câmara negou provimento ao apelo do Banco do Brasil S/A e deu provimento ao recurso do Município de Vitória, para reformar a sentença e julgar improcedente a pretensão inicial. Pois bem. Após detida análise dos autos, adianto que alcancei conclusão diversa. Infere-se dos autos que foi apresentada uma reclamação em âmbito administrativo, relatando a consumidora que permaneceu em espera na fila de atendimento pessoal de agência bancária por tempo superior ao estabelecido em lei. Assim, constatado o desrespeito às normas consumeristas, foi aplicada a penalidade no valor de R$28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos), tendo o juízo a quo reduzido a multa para a importância de R$10.000,00 (dez mil reais). De plano, acompanho o eminente Relator no que tange à legalidade na aplicação da penalidade decorrente do regular processo administrativo. Não obstante, quanto ao valor da multa, relembro que a sua fixação deve refletir três critérios básicos estabelecidos pelo artigo 57, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, in verbis: Artigo 57. A pena de multa, graduada de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, será aplicada mediante procedimento administrativo, revertendo para o Fundo de que trata a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à União, ou para os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos demais casos. Parágrafo único. A multa será em montante não inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou índice equivalente que venha a substituí-lo. Destaco, ademais, o seu caráter de sanção dúplice, com viés pedagógico e sancionatório, não destinada à reparação do dano sofrido pelo consumidor, mas sim à punição e combate à prática de ato vedado por lei, servindo de desestímulo ao infrator. Ainda, esta Corte posiciona-se no sentido de que deve-se observar, além dos parâmetros e critérios previstos no CDC e nas demais normas que regem a matéria, a proporcionalidade e razoabilidade da quantia, considerando as circunstâncias do caso concreto. Sob tais premissas, ainda que o ato administrativo esteja dotado de legalidade, é plenamente possível ao Poder Judiciário reduzir o montante fixado caso este se revele em descompasso com os aludidos princípios. Nesse sentido, Carvalho Filho leciona que: Modernamente, como já tivemos a oportunidade de registrar, os doutrinadores tem considerado os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade como valores que podem ensejar o controle da discricionariedade, enfrentando situações que, embora com aparência de legalidade, retratam verdadeiro abuso de poder. Referido controle, entretanto, só pode ser exercido à luz da hipótese concreta, a fim de que seja verificado se a Administração portou-se com equilíbrio no que toca aos meios e fins da conduta, ou o fator objetivo de motivação não ofende algum outro princípio, como, por exemplo, o da igualdade, ou ainda se a conduta era realmente necessária e gravosa sem excesso.” (FILHO,José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008). Neste caso, entendo que o quantum arbitrado na decisão administrativa, no patamar de R$28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos), não coaduna com a infração cometida, que refere-se a tempo de espera de cerca de uma hora em fila de atendimento pessoal na agência bancária, circunstância que, a meu sentir, não é apta a gerar multa em patamar tão elevado. Assim, como já me manifestei em situações similares, tenho ser necessária a redução da multa para o valor de R$18.000,00 (dezoito mil reais) a fim de que se possa cumprir as finalidades do instituto, além de estar alinhada aos recentes precedentes deste e. Sodalício, mantendo, desse modo, a jurisprudência estável, íntegra e coerente, conforme previsão do artigo 926 do Código de Processo Civil. Vejamos: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA. MULTA APLICADA PELO PROCON MUNICIPAL. VÍCIO DO SERVIÇO. FILA EM BANCO. ATRASO NO ATENDIMENTO. COMPROVADO. VALOR DA REPRIMENDA. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA. OBSERVÂNCIA DOS CRITÉRIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO MAS DESPROVIDO. 1. O recorrente deve responder pelo vício do serviço, pois os fornecedores respondem independentemente da existência de culpa pela reparação dos vícios de qualidade que tornem os serviços impróprios para o consumo, como o é o atendimento em agência bancária em prazo desarrazoado, nos termos do artigo 20, caput e § 2o, do Código de Defesa do Consumidor. 2. No que concerne ao quantum da multa fixada, não incumbe ao Poder Judiciário interferir no mérito da sanção aplicada pelo Procon Municipal, salvo se restar caracterizada hipótese de afronta aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade em relação à infração cometida. 3. O artigo 57, caput, do CDC, estipula parâmetros para a graduação da multa, quais sejam, (I) A gravidade da infração; (II) A vantagem auferida e (III) A condição econômica do fornecedor. Além desses critérios, é indispensável que seja observado o caráter pedagógico da sanção administrativa. 4. O valor de R$17.131,79 (dezessete mil cento e trinta e um reais e setenta e nove centavos) se mostra proporcional e razoável, pois a dosimetria utilizada pelo Procon Municipal respeitou os parâmetros legais, em especial o fator agravante da reincidência. Precedentes. 4. Recurso conhecido, mas desprovido. Sentença mantida”. (TJES; Apl 0007753-10.2018.8.08.0024; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Fernando Estevam Bravin Ruy; Julg. 22/10/2019; DJES 28/10/2019) EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ANULATÓRIA – MULTA ADMINISTRATIVA – INFRAÇÃO VERIFICADA COM BASE NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA - QUANTUM ADEQUADAMENTE FIXADO – PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 – Em que pese o magistrado prolator da sentença tenha concluído ser inaplicável na hipótese vertente a Lei Municipal n.º 6.601/2012, motivo pelo qual reconheceu a nulidade da multa administrativa, observa-se que no auto de infração acostado aos autos não consta fundamentação com base na aludida legislação municipal, para aplicação da sanção, mas sim nos artigos 6°, inciso X, e 22, ambos da Lei n° 8.078/90 e artigo 20, do Decreto n° 2.181/97. 2 - Restando demonstrada nos autos a ineficiência do recorrido na prestação do serviço, diante da longa espera do consumidor na agência bancária – havendo lapso de mais de 01 (uma) hora para atendimento -, não há falar em afastamento da penalidade. 3 - Sobre o valor da multa administrativa, entende-se que o montante aplicado na seara administrativa deve ser mantido, pois sua fixação observou os três critérios básicos estabelecidos pelo artigo 57, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, comportando manutenção o quantum arbitrado de R$ 18.820,00 (dezoito mil, oitocentos e vinte reais). 4 - Recurso conhecido e provido. (TJES. Apelação Cível nº 0002267-15.2020.8.08.0011. Relator Desembargador Fábio Brasil Nery. 4ª Câmara Cível. Data de julgamento 07/06/2024) Por fim, registro que, ao contrário do sustentado pelo município, a decisão tomada não ofende a súmula vinculante nº 10, entendendo o Supremo Tribunal Federal que para haver violação à cláusula de reserva de plenário “por órgão fracionário de Tribunal, é preciso que haja uma declaração explícita de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, ou implícita, no caso de afastamento da norma com base em fundamento constitucional” (STJ, ARE 959178 AgR, Relator: Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 07/03/2017, Processo Eletrônico DJe-049 Divulg 14-03-2017 Publicado em 15-03-2017). Na hipótese, a não aplicação do decreto municipal decorreu de juízo de legalidade, em que verificou-se a aparente inobservância dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade na aplicação da medida, inexistindo análise de constitucionalidade pela via difusa. Como também já assentou este órgão fracionário, “a importância (...) se revela consentânea com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, não havendo que se falar em violação à cláusula da reserva de plenário quando a não aplicação do Decreto Municipal decorre de juízo de legalidade. Isso porque, constatando, em juízo de legalidade, que a sanção imposta desborda dos parâmetros estabelecidos pela legislação que lhe serve de fundamento jurídico, o Judiciário pode reduzir-lhe a expressão econômica a propósito de afeiçoá-la aos critérios da razoabilidade e proporcionalidade ali indicados, sem incorrer em revogação, expressa ou tácita, do ato normativo municipal ou violar a cláusula de reserva de plenário” (Apelação Cível nº 0024979-68.2014.8.08.0347. Relatora Desembargadora Eliana Junqueira Munhós Ferreira. Data do julgamento 28/02/2023). De conseguinte, DIVIRJO para NEGAR PROVIMENTO ao apelo do Banco do Brasil S.A. e DAR PARCIAL PROVIMENTO ao apelo do Município de Vitória, tão somente para fixar a multa no valor de R$18.000,00 (dezoito mil reais). Majoro em 02% os honorários advocatícios devidos pelo Banco do Brasil S.A., em atenção ao disposto no §11, do art. 85, do CPC. É como voto. _________________________________________________________________________________________________________________________________ VOTOS ESCRITOS (EXCETO VOTO VENCEDOR) VOTO Cuidam-se de recursos de apelação cível interpostos pelo MUNICÍPIO DE VITÓRIA e pelo BANCO DO BRASIL SA, em face de sentença proferida pelo Juízo de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual e Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde de Vitória/ES que, em sede de ação anulatória de débito fiscal, julgou parcialmente procedente o pedido autoral para reduzir o valor da multa aplicada pelo Procon no processo administrativo 354/2019 – FA 32.002.001.19-0004896, para R$10.000,00 (dez mil reais). Em suas razões (ID 9527410), BANCO DO BRASIL SA argumenta que há nulidade do processo administrativo, tendo em vista que a decisão está fundamentada com base em fatos que não ocorreram; ou, subsidiariamente, redução do valor da multa. Em suas razões (ID 9527414), MUNICÍPIO DE VITÓRIA/ES pugna pela reforma da sentença, para julgar improcedente a pretensão inicial, com restabelecimento da multa originalmente aplicada. Contrarrazões do BANCO DO BRASIL SA (ID 9527417) pelo desprovimento do apelo. Contrarrazões do MUNICÍPIO DE VITÓRIA/ES (ID 9849955) pelo não conhecimento do recurso, por ausência de dialeticidade e, no mérito, não provimento. I - PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES Em contrarrazões, argumenta o MUNICÍPIO DE VITÓRIA (ID 9849955), que “Por uma simples leitura das razões recursais, é possível constatar que a empresa apelante não cuidou de enfrentar os fundamentos que sustentaram a r. sentença recorrida, limitando-se a reiterar as genéricas alegações lançadas na peça exordial.”, motivo pelo qual pretende que o recurso interposto pelo BANCO DO BRASIL SA não seja conhecido, por ausência de dialeticidade. Todavia, a meu ver, razão não lhe assiste. Como cediço, o dever de dialeticidade exige da parte recorrente a impugnação específica dos termos da decisão atacada, de maneira que as razões recursais devem dialogar com a fundamentação exarada pelo julgador. Nesse sentido, por certo, “[...] ausência de relação entre as razões do recurso e o que restou decidido, por violação à regra da dialeticidade recursal, acarreta o não conhecimento do recurso interposto.” (TJ-SC - APL: 00031017820178240075, Relator: Jaime Ramos, Data de Julgamento: 26/04/2022, Terceira Câmara de Direito Público) Sucede que, no caso em testilha, ao revés do que asseverou a parte recorrida, observo que tal providência restou atendida. A parte apelante, de forma clara, construiu linha intelectiva com o fito de defender a tese de que a decisão administrativa carece de fundamentação sólida, pois ao discorrer sobre a infração consumerista, o órgão julgador teria se baseado em fatos não discutidos no processo administrativo. Ocorre que, a simples leitura do recurso demonstra que a irresignação recursal está relacionada à fundamentação da decisão administrativa que, segundo a argumentação constante no apelo, “não aprecia os argumentos apresentados no recurso administrativo interposto pelo Banco ora autor, quanto as alegações de incorreções apresentadas na dosimetria da pena.” (9527410 - fl. 5). Ademais, destaco que, ainda que tenha havido a reiteração dos argumentos veiculados na exordial, tal fato não esvazia a dialeticidade do recurso, de acordo com a pacífica jurisprudência deste Sodalício, a seguir ilustrada: [...] a repetição dos argumentos elencados na peça vestibular ou na contestação não implica, de forma isolada, ofensa ao princípio da dialeticidade recursal, desde que, por certo, as razões da apelação permitam a compreensão do porquê do pedido de reforma. [...] (TJES, Classe: Apelação Cível, 030180068956, Relator : TELEMACO ANTUNES DE ABREU FILHO, Órgão julgador: TERCEIRA CÂMARA CÍVEL , Data de Julgamento: 02/08/2022, Data da Publicação no Diário: 10/08/2022) Sendo assim, reputo preenchido o requisito de admissibilidade recursal sob exame, de modo que rejeito a preliminar arguida. II - MÉRITO Superada a preliminar, saliento que a controvérsia neste segundo grau de jurisdição se relaciona com a potencial nulidade do processo administrativo do qual deriva a multa e, ainda, possibilidade de redução da multa aplicada pelo PROCON, com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. O BANCO DO BRASIL SA ajuizou a presente demanda pretendendo a nulidade da multa aplicada no processo administrativo 354/2019, no valor de R$28.555,26, alegando, dentre outras coisas, que não foram observados os princípios da motivação, da proporcionalidade e da razoabilidade. Ocorre que, no caso, a simples leitura da decisão administrativa (ID 9527281) demonstra que a punição aplicada pelo PROCON em desfavor da empresa recorrente se deu de forma justificada. Há registro de que a empresa praticou ato em infração aos direitos dos consumidores, em especial à Lei Municipal 7.598/2088, que fixa o tempo máximo de espera em fila para atendimento em agências bancárias . Isso porque, restou demonstrado que uma consumidora compareceu à agência bancária nº 3480 do Branco do Brasil, obtendo a senha de atendimento de número CE 309 às 11h:42min, contudo, teve seu atendimento realizado às 12h:40min; em infração à legislação aplicável à espécie. Senão, vejamos os principais trechos da primeira decisão administrativa (ID 9527280 - fls. 46 e seguintes): Trata-se de demanda referente a período de espera na fila de atendimento pessoal na agência bancária por tempo superior ao estabelecido em lei. Conforme análise dos autos, a consumidora permaneceu por 58 (cinquenta e oito) minutos em espera para atendimento. Em peça contestatória escrita, a empresa alegou que o tempo de espera para atendimento pode ser maior do que o normalmente observado, em dias pontuais, nos quais há sobrecarga de demanda, podendo também variar em razão da complexidade do serviço solicitado. Pois bem, a espera em fila por tanto tempo traduz uma deficiência na prestação de serviços da reclamada e não condiz com o que disciplina o Código de Defesa do Consumidor. É de essência da normativa de proteção ao consumidor a busca pela plenitude na qualidade da prestação dos serviços. Sendo assim, os fornecedores têm o dever de prestar os serviços que disponibilizam no mercado de maneira adequada e eficaz. Dessa forma, estando o serviço de atendimento pessoal ao consumidor disponível, independente de haver outros meio facilitadores, a prestação desse serviço deve ser adequada. O consumidor tem o direito de optar pela forma de atendimento que melhor se adeque a sua realidade. A Lei Municipal º 7.598/08 aludida, com o intuito de expressar o que se entende como razoável a harmonizar a relação de consumo travada com as instituições bancárias, estabelece limites máximos de tempo de espera para atendimento aos consumidores em agências bancárias, financeiras e securitárias. [...] Neste sentido, verifica-se que as alegações do fornecedor não afastam o caráter ilícito da conduta perpetrada pela empresa, uma vez que há nos autos elementos suficientes para comprovarem a ocorrem desta, sendo certo que a adoção de medidas futuras não é capaz de ensejar o arquivamento do presente processo administrativo. Desse modo, a atuação deste Órgão consiste na aplicação da legislação municipal em vigor ao caso concreto, posto que perfeitamente adequada. Assim, resta clara a ilegalidade da prática ora combatida, em afronta a diversos dispositivos do CDC e do Decreto Federal 2.181/97, vislumbrando-se o descumprimento à legislação consumerista, por manifesta resistência do fornecedor reclamado, não resta a este Instituto alternativa, senão sancioná-lo por meio da imposição de multa [...] Assim, ainda que no julgamento do recurso administrativo tenha havido breve menção a um argumento não utilizado pela instituição financeira recorrente, este fato não tem o condão de invalidar a própria aplicação da multa. Isso tendo em vista que a decisão administrativa objeto da irresignação apresentou fundamentação suficiente para manutenção da penalidade, ao negar provimento ao recurso e confirmar a manifestação administrativa supratranscrita; conforme se depreende dos seguintes excertos (ID 9527281): A empresa recorrente alega também que não houve violação dos direitos do consumidor e que a situação trata-se de um CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR que foi a indisponibilidade do sistema. Não há que se transferir para o consumidor, a responsabilidade em qualquer problema na prestação do serviço pela instituição bancária. Sobre a prestadora do serviço recai o ônus de bem prestá-la. Ocorre que a Lei Municipal nº 7.598/2008, fixa o tempo máximo de espera em fila para atendimento em agências bancárias, financeiras e securitárias e dá outras providências está em consonância com a Carta Magna, ao passo que trata de assuntos de interesse local, atribuição conferida aos Municípios pela Lei Maior: [...] A empresa, em todos os momentos que foi oportunizada a defesa, apenas quedou-se no sentido de afirmar e reafirmar que o tempo de espera para atendimento pode ser maior do que o normalmente observado, em dias pontuais, nos quais há sobrecarga de demanda, podendo também variar em razão da complexidade do serviço solicitado. No entanto, sabe-se que a fila por tanto tempo demonstra uma deficiência na prestação de serviços da reclamada e não respeita o que disciplina o Código de Defesa do Consumidor, que visa garantir ao consumidor, plenitude na qualidade da prestação dos serviços, como um serviço adequado e eficaz. Assim, considerando ser o PROCON o órgão responsável por restabelecer o equilíbrio entre as partes que compõem os extremos da relação firmada, e portanto, a aplicação da multa para a infração cometida pela empresa se configura sanção adequada. Pelos fundamentos expostos e por força do que determina a legislação municipal aplicável à espécie, DECIDO CONHECER DO PRESENTE RECURSO E NEGAR-LHE PROVIMENTO. Com efeito, verifica-se que a Administração Pública procedeu motivação suficiente para aplicação da penalidade, considerando que a demora excessiva na fila da instituição financeira caracteriza infração às normas consumeristas. Dessa feita, a despeito da alegação autoral de que houve violação ao princípio da motivação das decisões, não foram trazidos aos autos elementos probatórios capazes de afastar a presunção de legitimidade do ato administrativo que aplicou a multa por descumprimento da obrigação do fornecedor. Nesse sentido: [...] A multa lançada pelo PROCON por infração à legislação consumerista goza de presunção de legitimidade na qualidade de espécie de ato administrativo que lhe assinala a natureza jurídica -Esta presunção de legitimidade porque "iuris tantum" somente pode ser revertida por convincente prova em contrário pela parte a quem aproveitar a reversão, o que ocorreu espécie. (TJ-MG - AC: 10000204548481004 MG, Relator: Belizário de Lacerda, Data de Julgamento: 17/08/2022, Câmaras Cíveis / 7ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 23/08/2022) [...] Para o Superior Tribunal de Justiça a prerrogativa de aplicar pena de multa está lastreada no poder de polícia conferido ao PROCON, para elidir transgressão aos preceitos vertidos no Código de Defesa do Consumidor. 1.2 Revela-se insubsistente, por estar lastreada em frágeis elementos probatórios, a insurgência lançada em desfavor de multa aplicada por agente público emissário do PROCON, ação dotada de presunção de legitimidade e veracidade. (TJTO , Apelação Cível, 0018259-16.2019.8.27.2729, Rel. RICARDO FERREIRA LEITE , 1ª TURMA DA 2ª CÂMARA CÍVEL , julgado em 07/07/2021, DJe 15/07/2021 18:13:39) (TJ-TO - AC: 00182591620198272729, Relator: RICARDO FERREIRA LEITE, Data de Julgamento: 07/07/2021, TURMAS DAS CÂMARAS CÍVEIS) Quanto ao valor da penalidade, reitero que o PROCON tem legitimidade para impor multa com fulcro no artigo 56, I, do Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/1990), pois detém poder de polícia para cominar sanções administrativas relacionadas às violações de preceitos consumeristas, conforme disposto nos artigos 2º, 4º, III e IV, 5º e 18, § 2º, todos do Decreto Federal nº 2.181/1997. No caso concreto, o Órgão de Proteção ao Consumidor observou, ao fixar o valor da multa em R$28.555,26, os critérios estabelecidos pela Lei nº 8.078/1990, Decreto Federal nº 2.181/97 e Decreto Municipal 11.11.738/03. Há registro de detalhada fundamentação para estabelecer o malfadado valor da multa (ID 9527280 - fls. 53 e seguintes): Diz o art. 37 do Decreto 11.738/03 que, “para efeito da gravidade da infração, as infrações serão classificadas de acordo com sua natureza e potencial ofensivo em quatro grupos (I, II, III e IV) pelo critério constante do Anexo Único”. O Anexo Único, por sua vez , incluiu no grupo II, entre outras, a conduta praticada pela BANCO DO BRASIL SA qual seja: [...] Sendo assim, a gravidade da infração cometida pela Reclamada é classificada de acordo com a sua natureza e potencial ofensivo no item 3 do grupo II do Anexo Único do Decreto Municipal 11.738/03, incidindo o Fator da Natureza da Infração (Fn) 280, de acordo com o artigo 40, § 4º do Dec. 11.738/03, alterado pelo Decreto 12.939/06. Quanto à vantagem auferida, conforme artigo 38 do Decreto 11.738/03, serão consideradas quatro situações: ausência de vantagem; vantagem de caráter individual; vantagem de caráter coletivo; vantagem de caráter difuso. Em análise dos autos, verifica-se que a vantagem auferida com a prática do ato infrativo foi de vantagem de caráter individual (Dec. Munic. 11.738/03, art. 38, d). Nesse sentido, incidirá Fator de Vantagem Auferida (Fv) 62.400.000, conforme artigo 40, § 4º do Dec. 11.738/03, alterado pelo Decreto 12.939/06. Em relação à condição econômica do infrator, conforme artigo 39 do Dec. Munic. 11.738/03, será auferida por meio de sua receita mensal média. Considerando a falta de informações prestada pela empresa reclamada acerca do seu faturamento bruto anual, arbitro o valor de R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) como faturamento bruto mensal relativo ao exercício de 2018. Considerando tais elementos, de acordo com as fórmulas de cálculo dispostas no §3º do artigo 40, Dec. 11.738/03, chega-se ao valor da pena mínima: R$ 26.223,62 (vinte e seis mil, duzentos e vinte e tres reais e sessenta e dois centavos) e da pena-base: R$52.447,24 (cinquenta e dois mil, quatrocentos e quarenta e sete reais e vinte e quatro centavos). Passo à segunda etapa da dosimetria da pena de multa, concernente à análise das circunstâncias agravantes e atenuantes. Considerando como fator atenuante: II (Ser o infrator primário) do artigo 25 do Decreto Federal 2.188/97. Considerando como fator agravante: IV (Deixar o infrator, tendo conhecimento do ato lesivo, de tomar as providências para evitar ou mitigar suas conseqüências do artigo 26 do Decreto Federal 2.188/97. Considerando que o § 2º do art. 40 do Decreto Municipal 11.738/03, alterado pelos Decretos 11.843/04, 12.302/05 e 12.939/06, determina que a base de cálculo para o cômputo das circunstâncias agravantes e atenuantes será sempre a pena-base fixada; Tem-se o valor da pena de multa em: R$ 50.991,54 (cinquenta mil, novecentos e noventa e um reais e cinquenta e quatro centavos); Por fim, há que se fazer menção ao § 6º do art. 40 do Decreto 11.738/03, alterado pelo Decreto 12.939/06, que estabelece que sobre o valor resultante da aplicação da fórmula prevista no artigo incidirá um Fator de Ajuste (Fa), de acordo com o faturamento do infrator, sendo Fa de Grande Empresa igual a 0,56 (cinquenta e seis centavos). Sendo assim, o valor da multa arbitrada corresponde a: R$ 28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos). [...] Por conseguinte, embora a jurisprudência desta Corte admita a revisão de multas dessa natureza com espeque nos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, tenho que reduções desse jaez contrariam os preceitos normativos que regem a matéria. Eis o que dispõe o artigo 57 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 57. A pena de multa, graduada de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, será aplicada mediante procedimento administrativo, revertendo para o Fundo de que trata a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à União, ou para os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº 8.656, de 21.5.1993). Parágrafo único. A multa será em montante não inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou índice equivalente que venha a substituí-lo. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 8.703, de 6.9.1993)”. O artigo 24 do Decreto Federal nº 2.181/1997, por sua vez, estabelece que: Art. 24. Para a imposição da pena e sua gradação, serão considerados: I – as circunstâncias atenuantes e agravantes; II – os antecedentes do infrator, nos termos do art. 28 deste Decreto”. A leitura da decisão proferida no processo administrativo demonstra que a multa foi fixada com base nos parâmetros legais aplicáveis à espécie, mediante fundamentação consistente e lastreada nas especificidades do caso concreto. No caso, a legalidade estrita foi levada em conta pela Administração quando da aplicação da pena, não cabendo ao Poder Judiciário rever tais critérios, não declarados inconstitucionais, sem fundamentos objetivos para tanto, sob pena de incursionar no mérito do ato administrativo. “Mutatis mutandis”, nesse sentido, confira-se o STJ: [...] De fato, o afastamento das normas que atribuem à pessoa jurídica contratante do plano de saúde a responsabilidade pelo pagamento devido à operadora, nas circunstâncias do caso, resultou em indevida interferência do Poder Judiciário na atividade regulatória desempenhada pela ANS, a qual possui respaldo na discricionariedade técnica. Como não está evidenciada nenhuma ilegalidade no caso concreto, a atuação do Judiciário resulta em indevida incursão no mérito do ato administrativo (STJ, AgInt no REsp 1823636/PR, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, J 14/09/2021, DJ 16/09/2021). Aliás, em minha avaliação, o Judiciário, ao reduzir multas que tais a seu alvedrio, diante da alegação genérica de violação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, viola, dentre outros, os princípios da legalidade e da separação dos poderes (art. 2º, CF/88). Na situação vertente, não verifico nenhuma invalidade ou inconstitucionalidade que possa levar ao afastamento das normas aplicadas pelo Órgão de Proteção ao Consumidor para o arbitramento da multa. Em vista da alegação do recorrido de violação aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, sublinhe-se que, para que a atuação legítima do órgão administrativo não seja sobreposta por juízo subjetivo no âmbito do Judiciário, exige-se que a alegada violação à razoabilidade e proporcionalidade seja objetiva, comprovada, manifesta e flagrante, o que não é o caso dos autos. Uma vez que se constata que a imposição da sanção administrativa, assim como a sua gradação, obedeceu aos parâmetros legais e foi devidamente motivada, não há cabimento na afirmação de que os princípios da razoabilidade e proporcionalidade foram feridos. Neste aspecto, entendo que a pena originalmente fixada pelo PROCON, no valor de R$28.555,26, é apta à finalidade a que se destina, atendendo à proporcionalidade e à razoabilidade, ao propósito pedagógico, e aos demais critérios legais. Nesse mesmo sentido: [...] 1. A certidão da dívida ativa deve indicar os elementos necessários à identificação do débito, consoante dispõe o art. 202 do Código Tributário Nacional e art. 2º, §§ 5º e 6º, da Lei nº. 6.830/80. 2. Preenchidos os requisitos legais exigidos, não há que se falar em nulidade da CDA. 3. É defeso ao Poder Judiciário revolver o mérito administrativo e reduzir o valor da multa fixada de acordo com as circunstâncias do caso concreto e os parâmetros estabelecidos na legislação aplicável à espécie, sob pena de, arvorando-se no papel de administrador, violar o princípio da separação dos poderes (art. 2º da CR/88) (TJMG, Apelação n.º 10000211209788001 MG, Relator: Bitencourt Marcondes, 19ª Câmara Cível, J 09/09/2021, DJ 14/09/2021). [...] PROCON/SP detém competência para aplicar multas por infração ao CDC. Controle do Poder Judiciário que deve se limitar a apreciar a legalidade do ato administrativo, sob pena de violação ao Princípio da Separação de Poderes. MULTA. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Fixação nos moldes objetivos dos artigos 56 e 57, do Código de Defesa do Consumidor, sem violação aos princípios do não-confisco, razoabilidade e proporcionalidade. Sentença mantida. Recurso não provido (TJSP, Apelação n.º 10062239120208260602 SP 1006223-91.2020.8.26.0602, Relator: Camargo Pereira, 3ª Câmara de Direito Público, J 30/11/2020, DJ 30/11/2020). Diante do exposto, CONHEÇO do recurso de apelação interposto pelo BANCO DO BRASIL SA, e NEGO-LHE PROVIMENTO; por outro lado, CONHEÇO do recurso interposto pelo MUNICÍPIO DE VITÓRIA/ES e DOU-LHE PROVIMENTO, para reformar a sentença e julgar improcedente a pretensão inicial. Por conseguinte, com a improcedência da pretensão inicial, os ônus de sucumbência deverão ser suportados integralmente pela parte autora, que arcará com as custas processuais e os honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez por cento) sobre o proveito econômico (que consiste no valor da multa administrativa questionada nesta lide), atualizado, na forma do art. 85, §2º, do CPC. É como voto. DES. RAPHAEL AMERICANO CÂMARA RELATOR Documento assinado eletronicamente por RAPHAEL AMERICANO CAMARA, Desembargador, em 07/11/2024 às 14:21:09, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://sistemas.tjes.jus.br/gabinetes/validar.php informando o código do sistema 54141507112024. APELAÇÃO CÍVEL Nº 5015187-86.2023.8.08.0024 APELANTE/APELADO: BANCO DO BRASIL S/A APELADO/APELANTE: MUNICÍPIO DE VITÓRIA RELATOR: DESEMBARGADOR RAPHAEL AMERICANO CÂMARA VOTO: DESEMBARGADOR FABIO CLEM DE OLIVEIRA VOTO Senhor Presidente. Cuida-se de apelações cíveis interpostas pelo Banco do Brasil S/A e o Município de Vitória contra a sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Municipal, Registros Públicos, Meio Ambiente e Saúde de Vitória, que, em ação anulatória de multa administrativa aplicada pelo PROCON, julgou parcialmente procedente a pretensão deduzida na inicial para reduzir a multa aplicada no processo administrativo nº 354/2019, de R$ 28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos) para R$ 10.000,00 (dez mil reais). Em razão da divergência de entendimentos acerca da postulação, pedi vista dos autos e hoje trago meu voto para a continuação do julgamento. Compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios fiscalizar e controlar “a produção, a industrialização, a distribuição, a publicidade de produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor” (CDC, art. 55, § 1º). Assim, sempre que condutas praticadas no mercado de consumo atingirem diretamente o interesse de consumidores, é legítima a atuação dos órgãos municipais integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor para aplicar as sanções administrativas, “sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas” (CDC, art. 56; Decreto nº 2.181/97, arts. 3º e 4º). Nesse contexto, a jurisprudência do Superior Tribunal de justiça proclama que a sanção administrativa prevista no artigo 57, do Código de Defesa do Consumidor, tem como fundamento o poder de polícia que os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor detém para aplicar multas relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei nº 8.078/1990, independentemente da reclamação ter sido apresentada por um ou vários consumidores. Nesse sentido: “PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DA SÚMULA N. 284/STF. OFENSA À DECRETO REGULAMENTAR. CONCEITO DE TRATADO OU LEI FEDERAL. NÃO ENQUADRAMENTO. INCIDÊNCIA (POR ANALOGIA) DA SÚMULA N. 518/STJ. APLICAÇÃO DE MULTA ADMINISTRATIVA PELO PROCON. LEGITIMIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 83/STJ. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. DESCABIMENTO. […] IV – É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de Justiça segundo o qual a sanção administrativa, prevista no art. 57 do Código de Defesa do Consumidor, funda-se no poder de polícia que o PROCON detém para aplicar multas relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei n. 8.078/1990, independentemente da reclamação ter sido realizada por um único consumidor. […]”. (AgInt no REsp 1664584/GO, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/09/2017, DJe 27/09/2017) “PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. MULTA APLICADA PELO PROCON. COMPETÊNCIA DO PROCON. […] 2. A sanção administrativa prevista no art. 57 do Código de Defesa do Consumidor funda-se no Poder de Polícia – atividade administrativa de ordenação – que o Procon detém para cominar multas relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei 8.078/1990, independentemente de a reclamação ser realizada por um único consumidor, por dez, cem ou milhares de consumidores. 3. O CDC não traz distinção quanto a isso, descabendo ao Poder Judiciário fazê-lo. Do contrário, o microssistema de defesa do consumidor seria o único a impedir o sancionamento administrativo por infração individual, de modo a legitimá-lo somente quando houver lesão coletiva […]”. (REsp 1523117/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/05/2015, DJe 04/08/2015) Tal entendimento tem sido replicado na jurisprudência local, do qual são exemplos os seguintes precedentes deste Egrégio TJES: “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DIALETICIDADE RECURSAL REJEITADA. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO. MULTA IMPOSTA PELO PROCON. PODER DE POLÍCIA. INFRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA CONFIGURADA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE E DE LEGITIMIDADE. MULTA. FUNDAMENTAÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE OBSERVADAS. […] 3. - Conforme já decidiu o colendo Superior Tribunal de Justiça A sanção administrativa prevista no art. 57 do Código de Defesa do Consumidor funda-se no Poder de Polícia - atividade administrativa de ordenação - que o Procon detém para cominar multas relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei 8.078/1990, independentemente de a reclamação ser realizada por um único consumidor, por dez, cem ou milhares de consumidores (REsp 1523117/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 21-05-2015, DJe 04-08-2015). No mesmo sentido: AgInt no REsp 1664584/GO, Relª. Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em 19-09-2017, DJe 27-09-2017). […] 8. - Recurso desprovido”. (TJES, Classe: Apelação, 24120142666, Relator: DAIR JOSÉ BREGUNCE DE OLIVEIRA, Órgão julgador: TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 20/03/2018, Data da Publicação no Diário: 28/03/2018) “EMENTA APELAÇÃO CÍVEL PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO POR VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE REJEITADA ANULAÇÃO DE MULTA APLICADA PELO PROCON MUNICIPAL LEGALIDADE DA SANÇÃO RAZOABILIDADE NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DO ATO QUESTIONADO MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM SEDE RECURSAL RECURSO IMPROVIDO. […] 2. Este e. Tribunal de Justiça e o c. Superior Tribunal de Justiça consolidaram entendimento no sentido de que é perfeitamente possível que o órgão de proteção consumerista municipal aplique multas decorrentes de violações individuais ao Código de Defesa do Consumidor. […]”. (TJES, Classe: Apelação, 24151654597, Relator : CARLOS SIMÕES FONSECA, Órgão julgador: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 06/03/2018, Data da Publicação no Diário: 14/03/2018) “APELAÇÃO - AÇÃO ANULATÓRIA - PROCON MUNICIPAL – COMPETÊNCIA FISCALIZATÓRIA – APLICAÇÃO DE MULTA – POSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - REDUÇÃO DO VALOR - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A sanção administrativa prevista no art. 57, do Código de Defesa do Consumidor, tem como fundamento o Poder de Polícia que o PROCON detém para aplicar multas relacionadas à transgressão dos preceitos da Lei nº 8.078⁄1990, independentemente da reclamação ter sido apresentada por um ou vários consumidores. Precedentes do STJ. […] 6. Recurso parcialmente provido”. (TJES, Classe: Apelação, 24110295367, Relator: FABIO CLEM DE OLIVEIRA, Órgão julgador: PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 03/05/2016, Data da Publicação no Diário: 06/05/2016) A multa impugnada na presente ação foi aplicada em razão da demora excessiva no atendimento prestado à consumidora reclamante em uma das agências mantidas pelo Branco do Brasil S/A no Município de Vitória, ultrapassando o limite de tempo definido na Lei Municipal nº 6.080/2003, que dispõe sobre o Código Municipal de Posturas, com as alterações implementadas pela Lei Municipal nº 7.598/2008. Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE nº 610.221/RG, sob a sistemática da repercussão geral, tema nº 272, fixou a tese de que “Compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local, notadamente sobre a definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições bancárias” (RE nº 610.221/RG, Relatora: Ministra ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 29/04/2010, REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO: DJe 154, divulgado em 19/08/2010 e publicado em 20/08/2010). No mesmo sentido cito os seguintes precedentes: “Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. REITERAÇÃO DA TESE DO RECURSO INADMITIDO. SUBSISTÊNCIA DA DECISÃO AGRAVADA. CONSUMIDOR. LEIS ESTADUAIS 7.872/2002 E 680/2002. CONTROVÉRSIA INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280/STF. AGÊNCIAS BANCÁRIAS. TEMPO DE ESPERA. INTERESSE LOCAL. PRECEDENTES. TEMA 272 DA REPERCUSSÃO GERAL. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. […] III - No julgamento do RE 610.221/SC (Tema 272), relatado pela Ministra Ellen Gracie, reconheceu-se a repercussão geral e reafirmou-se a orientação no sentido de que compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local, notadamente sobre a definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições bancárias. IV- Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa (art. 1.021, § 4°, do CPC).” (STF, ARE nº 1.210.002, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, PROCESSO ELETRÔNICO DJe 250 - DIVULGADO EM 12/11/2019 e PUBLICADO EM 18/11/2019) “EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO DO CONSUMIDOR. TEMPO DE ESPERA EM FILA. INTERESSE LOCAL. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (STF, ARE nº 1195639 AgR, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, PROCESSO ELETRÔNICO DJe 188 – DIVULGADO EM 28/08/2019 - PUBLICADO EM 29/08/2019) “COMPETÊNCIA LEGISLATIVA - FILA DE BANCO - TEMPO DE ESPERA - INTERESSE LOCAL - PRECEDENTE. De acordo com o entendimento consolidado no Supremo, compete aos municípios legislar sobre o período máximo ao qual os clientes de instituições bancárias podem ser submetidos, no aguardo de atendimento. Precedente: Recurso Extraordinário nº 610.221/SC, mérito julgado com repercussão geral admitida.” (STF, AI nº 568674 AgR, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 19/02/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe 045 – DIVULGADO EM 07/03/2013 - PUBLICADO EM 08/03/2013) No Município de Vitória a questão foi regulamentada no art. 124-A da Lei nº 6.080/2003, incluído pela Lei nº 7.598/2008, que assim dispõe: “Art. 124-A. Ficam as agências bancárias, financeiras, de crédito e securitárias, instaladas no Município de Vitória, obrigadas a prestarem atendimento aos seus usuários nos limites de horários assim estabelecidos: I – até 10 (dez) minutos, em dia de expediente normal. II – até 20 (vinte) minutos, em dias de pagamentos aos funcionários públicos municipais, estaduais e federais, em dias de vencimentos das contas das empresas concessionárias de serviços públicos e de recebimento de tributos municipais, estaduais e federais. III – até 25 (vinte e cinco) minutos, na véspera ou logo depois de feriados prolongados. §1º. Os estabelecimentos descritos no “caput” deste artigo deverão informar aos órgãos competentes as datas mencionadas nos incisos I e II anteriormente citados. §2º. Para efeito de controle do tempo de atendimento, estes estabelecimentos ficam obrigados a fornecer aos usuários, bilhetes, senhas ou qualquer outro impresso, informando o horário em que o consumidor entra na fila e outro, informando a hora em que se inicia o atendimento pelo caixa”. Averbe-se que o descumprimento do tempo máximo de espera previsto na citada lei municipal é fato incontroverso nos autos, eis que não infirmado pela instituição financeira, circunstância que autoriza a aplicação da multa prevista no art. 57, do CDC. Todavia, em se tratando de sanções administrativas, não se pode perder de vista que tais devem ser aplicadas com observância aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Em respeito ao princípio da proporcionalidade, o ato administrativo deve ser praticado em extensão e intensidade proporcionais à finalidade do interesse público a que está atrelado. Assim, o ato, cujo conteúdo ultrapassa o necessário para alcançar seu objetivo, fica maculado de ilegitimidade, pois supera o limite da discricionariedade administrativa. E, pelo prisma da razoabilidade, o ato administrativo deve ser razoável do ponto de vista racional, observando o senso normal das pessoas equilibradas, e respeitosas das finalidades que fundamentam a outorga da competência exercida. Este princípio exige que os agentes públicos prezem pela moderação e o bom senso, de forma a evitar condutas que não guardam coerência com as circunstâncias do caso concreto. A falta de razoabilidade reflete a ilegalidade do ato, pois praticado sem a observância dos requisitos necessários para sua validade. Anote-se que não há na legislação do Município de Vitória a previsão de valores mínimos ou máximos, nem a definição de fórmula, por meio da qual “a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor” traduzir-se-ão em valores maiores ou menores. Na hipótese, é evidente a desproporcionalidade da multa, quantificada em R$ 28.555,26 (vinte e oito mil, quinhentos e cinquenta e cinco reais e vinte e seis centavos), pois não guarda relação de coerência com a infração. Em outras palavras, a conduta da empresa não é grave o suficiente para justificar tão intensa penalidade. Ressalte-se que a multa aplicada não se reverte em favor do consumidor, mas sim em favor do ente público, que deve aplicá-la com vistas à solução do caso e não como forma de incrementar suas receitas às custas das empresas demandadas pelos consumidores administrativamente. Ponderando-se as circunstâncias deste caso, conclui-se que o valor definido em sentença – R$ 10.000,00 (dez mil reais) – observa os critérios legais de quantificação da multa (CDC, art. 57), os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, bem como os valores que vem sendo arbitrados por todas as Câmaras Cíveis deste Egrégio TJES em casos análogos, conforme se verifica pelos seguintes precedentes: “Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE MULTA ADMINISTRATIVA APLICADA PELO PROCON. REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. RECURSO DESPROVIDO. […] A sanção administrativa aplicada pelo Procon, embora legítima, deve observar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, previstos no art. 57 do Código de Defesa do Consumidor, os quais determinam que o valor da multa seja adequado à gravidade da infração, à vantagem obtida e à condição econômica do infrator. O Poder Judiciário pode revisar o quantum da multa administrativa para garantir que a sanção cumpra sua função pedagógica sem caracterizar excesso, devendo considerar concretamente a proporcionalidade entre o valor da multa e o dano causado ao consumidor. No caso em análise, o valor original da multa (R$ 57.272,39) foi considerado desproporcional em relação às tarifas cobradas indevidamente, justificando sua redução para R$ 10.000,00, que se mostra razoável e suficiente para cumprir a função punitiva e dissuasória. […]”. (TJES – AP nº 5025654-27.2023.8.08.0024, Relator Des. Arthur José Neiva de Almeida, 4ª Câmara Cível, publicado em 03/12/2024) “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO ANULATÓRIA. MULTA APLICADA PELO PROCON. VALOR DESPROPORCIONAL. POSSIBILIDADE DE REVISÃOPELO PODER JUDICIÁRIO. REDUÇÃO CONSIDERÁVEL DA MULTA. REDUÇÃO CONSIDERÁVEL DA MULTA. CONFIGURADA SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA . RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1) Cabe ao Judiciário aferir se o ato administrativo foi praticado em extensão e intensidade proporcionais à finalidade do interesse público a que está atrelado, pois, caso tenha sido praticado sem a observância dos requisitos de validade, deverá ser adequado aos parâmetros constitucionais. 2) A multa imposta se distanciou da finalidade, porquanto arbitrada em valor excessivamente desproporcional à conduta praticada, considerando o dano ao consumidor. 3) A redução da penalidade para R$ 10.000,00 mostra-se razoável e suficiente para desestimular novas condutas antijurídicas, guardada correspondência entre a multa e o valor atinente à infração, afastando a possibilidade de enriquecimento sem causa em favor do Fundo Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor. […]”. (TJES – AP nº 0000424-44.2018.8.08.0024, Relator Des. José Paulo Calmon Nogueira da Gama, 2ª Câmara Cível, publicado em 19/06/2024) “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ANULATÓRIA – PROCON – MULTA – ANULAÇÃO AFASTADA - REDUÇÃO DO VALOR FIRMADO NA ESFERA ADMINISTRATIVA – POSSIBILIDADE – RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE NA APLICAÇÃO DA MULTA – RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Este Egrégio Tribunal de Justiça possui entendimento firme pela possibilidade de controle judicial dos atos administrativos, sendo certo que a análise pode rever o ato sob o prisma da legalidade, moralidade, proporcionalidade e razoabilidade. 2. Nas situações em que a multa fixada pelo PROCON se mostrar desproporcional à gravidade das condutas praticadas pela prestadora de serviço ou fornecedora de produto, concluo ser possível que o Poder Judiciário altere o valor da sanção. 3. No caso dos autos, observo que a multa, muito embora legitimamente arbitrada pelo agente do Procon, fundado em seu Poder de Polícia em atenção aos termos do artigo 57, do Código de Defesa do Consumidor, o valor fixado não guarda consonância com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, haja vista não ser o mais coerente com o caso concreto, sobretudo se considerado que se relaciona a reclamação de apenas um consumidor, de modo que sua finalidade pode ser atendida com a redução do montante inicialmente arbitrado. 4. Entendo que a redução da multa para R$10.000,00 (dez mil reais), atende à finalidade pretendida pela legislação consumerista e, de outro lado, não assume caráter meramente arrecadatório pelo ente público. 5. Recurso conhecido e parcialmente provido”. (TJES – AP nº 0007064-58.2021.8.08.0024, Relatora Desª. Marianne Júdice de Mattos, 1ª Câmara Cível, publicado em 31/05/2023) “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ANULATÓRIA – MULTA APLICADA PELO PROCON MUNICIPAL – VALOR DA MULTA APLICADA – POSSIBILIDADE DE REVISÃO EM CASO DE DESPROPORCIONALIDADE – REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DAS RAZÕES DE SUA FIXAÇÃO NO MONTANTE ORIGINÁRIO – ATENDIDOS OS CRITÉRIOS DO ART. 57 DO CDC, BEM COMO O CARÁTER SANCIONATÓRIO E PEDAGÓGICO DA APLICAÇÃO DA MULTA – REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA – EM SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA (ART. 86 CPC/15) – RECURSO DESPROVIDO. 1 - A alegada cobrança indevida realizada em desfavor do consumidor Levingston Leonel Moraes dos Santos se refere ao valor de R$ 424,20 (quatrocentos e vinte e quatro reais e vinte centavos) a título de tarifa denominada “serviços de terceiros”, cobrada em razão de um empréstimo tomado com a apelada, no montante de R$ 6.147,00 (seis mil, cento e quarenta e sete reais). A sentença apelada reduziu o valor da multa originariamente aplicado, de R$ 57.272,39 (cinquenta e sete mil duzentos e setenta e dois reais e trinta e nove centavos) para R$ 10.000,00 (dez mil reais), tendo o Município de Vitória se insurgido contra a mesma, ao argumento de que a multa deve ser mantida em seu valor originário, tendo em vista que o CDC aponta critérios objetivos para a penalização dos infratores, sem margem para discricionariedade. 2. Embora a legislação de regência apresente critérios para o arbitramento da multa administrativa a ser aplicada pelo Procon, a jurisprudência desta Corte admite a revisão da sanção em caso de desproporcionalidade na sua aplicação, de modo que não prosperam os argumentos do Município recorrente acerca da impossibilidade de intervenção do Poder Judiciário no tocante à revisão do valor da multa em discussão. 3. A manutenção do valor da multa no patamar originariamente fixado pelo Procon (R$ 57.272,39) não encontra substrato de razoabilidade para o caso concreto, em que sequer foram demonstradas razões que levaram à fixação da multa no montante indicado. Assim, observa-se que a redução do valor da multa ao patamar de R$ 10.000,00 (dez mil reais) pelo juízo a quo respeitou os critérios previstos no art. 57, do CDC, bem como os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, notadamente por equilibrar a condição econômica do fornecedor com outros critérios legais, como a gravidade do ilícito. Além disso, a redução do valor da multa atendeu o caráter pedagógico e sancionatório da multa administrativa, que tem por objetivo único coibir práticas abusivas aos direitos do consumidor e sancionar os responsáveis com o escopo de impedir a reiteração de tais condutas. 4. Tendo havido a redução e não a manutenção da multa, a sucumbência é recíproca, já que houve procedência parcial dos embargos à execução para acolher pedido subsidiário formulado pela empresa recorrente. Inteligência do art. 86 do CPC/15. 5. Recurso desprovido”. (TJES – AP nº 0034948-67.2018.8.08.0024, Relator Des. Sérgio Ricardo de Souza, 3ª Câmara Cível, publicado em 03/05/2023) Ante o exposto, com a mais respeitosa vênia a entendimentos contrários, nego provimento aos recursos do Banco do Brasil e do Município de Vitória e majoro para 12% (doze por cento) os honorários advocatícios fixados na sentença, observando o disposto no art. 85, §11 do CPC. É como voto. Desembargador Fabio Clem de Oliveira

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Processo nº 0028987-53.2018.8.27.2729

ID: 280730865

Tribunal: TJTO Órgão: 2ª Vara da Fazenda e Reg. Públicos de Palmas Classe: CUMPRIMENTO DE SENTENçA CONTRA A FAZENDA PúBLICA Nº Processo: 0028987-53.2018.8.27.2729

Data de Disponibilização: 27/05/2025

Polo Ativo:

CLEUDES SOUSA SENA

Polo Passivo:

DECISÃO/DESPACHO

Advogados:

WELLINGTON MIRANDA FREITAS

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

ALZEMIRO WILSON PERES FREITAS

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

Cumprimento de Sentença contra a Fazenda Pública Nº 0028987-53.2018.8.27.2729/TO REQUERENTE : CLEUDES SOUSA SENA ADVOGADO(A) : WELLINGTON MIRANDA FREITAS (OAB RS107751) ADVOGADO(A) : ALZEMIRO WILSON… Cumprimento de Sentença contra a Fazenda Pública Nº 0028987-53.2018.8.27.2729/TO REQUERENTE : CLEUDES SOUSA SENA ADVOGADO(A) : WELLINGTON MIRANDA FREITAS (OAB RS107751) ADVOGADO(A) : ALZEMIRO WILSON PERES FREITAS (OAB RS017139) DESPACHO/DECISÃO CLEUDES SOUSA SENA ingressou com cumprimento de sentença ( evento 91, CUMPR_SENT1 1 ) em desfavor do ESTADO DO TOCANTINS, objetivando o pagamento dos valores determinados em sentença. Intimada, a parte executada apresentou impugnação alegando, em síntese ( evento 124, IMPUGNA CUMPR SENT1 ): 1 - superveniência de causa modificativa ou extintiva da obrigação. Medida provisória estadual nº 27, de 22 de dezembro de 2021. Plano de gestão plurianual de despesa com pessoal; 2 - Subsidiariamente: da inexigibilidade da obrigação. Medida provisória nº 27, de 22 de dezembro de 2021. Pendência de termo legal suspensivo. Nulidade da execução; 3 - pela eventualidade: do excesso de execução. Réplica ( evento 127, PET1 ): Cálculos apresentados pela COJUN ( evento 134, CALC1 ). O exequente manifestou discordância aos cálculos ( evento 139, MANIFESTACAO1 ). A parte executada concordou com os cálculos ( evento 140, PET1 ). Novo cálculo pela contadoria ( evento 175, CALC2 ). O exequente concordou e o executado impugnou requerendo a apreciação da impugnação ao cumprimento ( evento 180, CIEN1 e evento 181, MANIFESTACAO1 ). É o relatório. Decido. O processo comporta julgamento no estado em que se encontra, eis que a matéria fática encontra-se suficientemente delineada nos autos, permitindo-se, desde já, a emissão de um Juízo de valor. DA MEDIDA PROVISÓRIA ESTADUAL N.º 27/2021 O inciso XXXVI, do artigo 5º da Constituição Federal dispõe que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. O art. 6° do Decreto Lei n° 4.657/42 – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - prevê expressamente que a aplicação da norma legal deve ocorrer em observância ao direito adquirido, in verbis : Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. In casu, a superveniência da Medida Provisória n.º 27/2021, convertida na Lei Estadual n.º 3.901/2022, que define o Plano de Gestão Plurianual de Despesa com Pessoal, não é apta a intervir no cumprimento da obrigação de pagar quantia certa versada nos autos, com sentença já transitada em julgado, sob pena de violar o direito adquirdo e a coisa julgada. Neste sentido, é o entendimento firmado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. À proposito, temos: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. PROGRESSÃO FUNCIONAL CONCEDIDA POR MEIO DO MANDADO DE SEGURANÇA Nº 0014132-45.2017.827.0000. VERBAS SALARIAIS RETROATIVAS. POSSIBILIDADE. SUPERVENIÊNCIA DA MP 27/2021, CONVERTIDA EM LEI ESTADUAL Nº 3901/2022. DIREITO AO RECEBIMENTO DE VALORES RETROATIVOS. REQUISITOS PARA EVOLUÇÃO FUNCIONAL PREENCHIDOS . 1. A superveniência da Medida Provisória nº 27/2021, convertida na Lei Estadual nº 3.901/2022 a qual define o Plano de Gestão Plurianual de Despesa com Pessoal, objetivando, por meio de planejamento administrativo, orçamentário e financeiro, regulamentar o cronograma de concessão de evoluções funcionais previstas, não tem o condão de retroagir ou interferir na condenação do Estado ao pagamento de valores retroativos de progressão funcional, mormente quando direito já foi objeto de decisão judicial anterior, estando protegida pela coisa julgada. 2. Deve ser rejeitada a tese de ausência de interesse processual, decorrente da edição posterior ao ajuizamento da lide da Medida Provisória nº 27, de 22/12/2021, a qual não tem o condão de retirar a necessidade/utilidade do provimento jurisdicional pretendido pelo autor/apelado, que visa o recebimento de retroativo de progressão funcional, implementada tardiamente pela administração, em descompasso com o Plano de Cargos de Carreiras e Remuneração. 3. Considerando que os requisitos para a progressão foram alcançados em 2016 e seus efeitos implementados por decisão judicial no MS nº 0014132-45.2017.827.0000 ensejando o o cumprimento de sentença nº. 0014694-97.2020.827.2700, que resultou na edição da Portaria nº 157/2021/GASEC, de 09 de fevereiro de 2021, publicada na edição do DOE nº 5.572, de 19 de fevereiro de 2021, através da qual o autor/apelado obteve implementação da progressão horizontal para referência "H", com efeitos financeiros a partir de 01/05/2016, restando apenas o pagamento do retroativo a que tem direito. 4.Recurso conhecido e não provido. (Apelação Cível 0000990-57.2021.8.27.2740, Rel. HELVECIO DE BRITO MAIA NETO, GAB. DO DES. HELVÉCIO DE BRITO MAIA NETO, julgado em 29/06/2022, DJe 01/07/2022 09:37:48) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PROGRESSÃO IMPLEMENTADA TARDIAMENTE. DIFERENÇAS SALARIAIS RETROATIVAS. SENTENÇA MANTIDA. FATO SUPERVENIENTE. EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA ESTADUAL NO 27, DE 2021. OMISSÃO. SANEAMENTO SEM CONCESSÃO DE EFEITOS INFRINGENTES. 1.1. Nos termos dos artigos 493 e 933 do Código de Processo Civil, o fato novo, que pode influenciar no resultado da lide, pode ser alegado ainda em sede de Embargos de Declaração opostos perante a instância de origem. (Precedentes do Superior Tribunal de Justiça). 1.2. Uma vez judicializada a questão, não havendo prova nos Autos de instrumentalização de acordo entre as partes, de modo a ensejar o recebimento do direito pleiteado judicialmente, pela via administrativa, não há como obrigar o servidor a se submeter ao cronograma previsto pela Medida Provisória Estadual no 27, de 22/12/2021, sob pena de violação ao princípio constitucional do acesso à justiça, direito fundamental previsto no inciso XXXV do artigo 5o da Constituição Federal. (Apelação Cível 0001142-25.2021.8.27.2702, Rel. MARCO ANTHONY STEVESON VILLAS BOAS, GAB. DO DES. MARCO VILLAS BOAS, julgado em 06/04/2022, DJe 20/04/2022 20:24:24) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. PROGRESSÕES FUNCIONAIS. APLICAÇÃO DO TEMA 1.075 DO STJ. INTERESSE PROCESSUAL QUE PERMANECE MESMO COM A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 27/2021. PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO DA DÍVIDA. APLICAÇÃO DO ART. 4º DO DECRETO 20.910/32. AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. 1. A progressão funcional dos servidores que preenchem os requisitos de lei devem ser pagas de forma imediata (respeitado eventual precatório), nos exatos termos do Tema 1.075, do STJ: "É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando atendidos todos os requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo do servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso I do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar 101/2000.". 2. O Estado do Tocantins reconhece na MP 27 os débitos relativos às progressões funcionais, aos aptos até 31/12/2015, com início na folha de pagamento do mês de janeiro de 2023 até dezembro de 2030 (art. 4º, I, "a", da MP 27), ato que interrompe a prescrição, nos termos do Decreto 20.910/32, art. 4º - "não corre a prescrição durante a demora que, no estudo, ao reconhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurá-la". 3. O pedido de extinção do feito por falta de interesse processo não prospera, pois pelo que se denota da Medida Provisória n. 27, não há determinação de pagamento efetivo, e sim uma previsão de pagamento, enquanto na sentença há determinação de pagamento retroativo (leia-se imediato - respeitado eventual precatório), sem que para tal se respeite a nova prospecção, futura e incerta, discorrida na MP 27. 4. Recurso de apelação conhecido. Provimento negado. (Apelação Cível 0008850-66.2021.8.27.2722, Rel. MAYSA VENDRAMINI ROSAL, GAB. DA DESA. MAYSA VENDRAMINI ROSAL, julgado em 06/04/2022, DJe 26/04/2022 15:23:35) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO. PAGAMENTO RETROATIVO DE VALORES REFERENTES A IMPLEMENTAÇÕES DE PROGRESSÕES FUNCIONAIS. DIREITO INCONTROVERSO E RECONHECIDO EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA. NÃO INCIDÊNCIA DA MEDIDA PROVISÓRIA ESTADUAL Nº. 27, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2021. FATO SUPERVENIENTE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Os embargos declaratórios são cabíveis para a modificação do julgado que se apresenta omisso, obscuro ou contraditório, bem como para corrigir manifesto equívoco ou erro material existente no ato judicial embargado. 2. A vigência da Medida Provisória Estadual nº 27, de 22 de dezembro de 2021, que dispõe sobre o Plano de Gestão Plurianual de Despesa com Pessoal para amortização de passivos devidos aos servidores públicos civis e militares do Estado do Tocantins, na forma que específica, e adota outras providências, em nada modificado o que restou decidido, uma vez que seguiu o norte de que foi correta a condenação dos demandados ao pagamento retroativo de diferenças salariais derivadas de progressões funcionais já concedidas judicialmente (MS nº 0011427- 40.2018.8.27.0000). 3. Destarte consta em tal Medida provisória o disposto de que "Incumbe à Secretaria da Administração informar à Procuradoria-Geral do Estado a relação de servidores contemplados pela presente Medida Provisória, com o detalhamento individual das parcelas contempladas, para verificação da existência de processo judicial em curso com o mesmo objeto, e requerimento em juízo, se necessário, das providências cabíveis para evitar o pagamento de valores em duplicidade pela Administração Pública". 4. Embargos de declaração conhecidos e improvidos. (Apelação Cível 0002916-49.2020.8.27.2727, Rel. JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA, GAB. DA DESA. JACQUELINE ADORNO, julgado em 06/04/2022, DJe 26/04/2022 15:04:28) Assim, afasto a alegação da existência de causa modificativa ou extintiva da obrigação, bem como, a inexigibilidade da obrigação. DA ATUALIZAÇÃO DO CÁLCULO verifica-se que não há qualquer equívoco da contadoria, pois a atualização do crédito se deu conforme Decisão n. 434/2023 - da PRESIDÊNCIA/ASPRE, a qual determina que a taxa da SELIC deve incidir sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros). A propósito, temos: Decisão Nº 434 / 2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE (...)Com efeito, como a Decisão nº 388/2022-ASPRE seguiu a orientação do Conselho da Justiça Federal vigente à época, mas que em 08 de agosto de 2022 o mesmo Conselho adotou metodologia distinta para aplicação da SELIC, deixando de incidir apenas sobre o valor principal corrigido monetariamente, passando a incidir sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros), deve a COJUN também ajustar a metodologia aplicada tal como orientado na Resolução nº 784/2022 CJF, aplicando a SELIC sobre o valor consolidado do cálculo (principal corrigido + juros demora).DETERMINO, pois, sua aplicação, devendo a Diretoria Judiciária/COJUN, Coordenadoria de Precatórios e Divisão de Conferências e Contadoria Judiciária promover as devidas atualizações adequando no sistema GRV. Neste sentido é o entendimento firmado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE ANATOCISMO NOS CÁLCULOS APRESENTADOS PELA COJUN. INOCORRÊNCIA. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 113/2021. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC A PATIR DA SUA ENTRADA EM VIGOR. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR CONSOLIDADO DO DÉBITO (PRINCIPAL CORRIGIDO MAIS JUROS). DECISÃO N. 434/2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE. MANUTENÇÃO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. No tocante a atualização de débitos fazendários pela SELIC e acréscimo de juros, é de se salientar que foi promulgada a Emenda Constitucional n. 113/2021, cujo art. 3º assim dispõe: "Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), acumulado mensalmente." 2. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela taxa SELIC, com incidência sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido mais juros, conforme determina a Decisão N. 434/2023 - PRESIDÊNCIA/ASPRE. 3. Na hipótese dos autos, foram observados os dispositivos legais citados para elaboração/atualização do débito pela Contadoria, com a utilização da SELIC a partir de dezembro/2021 sobre o valor consolidado do débito (principal corrigido + juros). Assim, o cálculo apresentado pela Contadoria mostra-se em consonância com os dispositivos legais que regem a matéria, devendo ser mantido. 4. Recurso não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0002267-29.2024.8.27.2700, Rel. JOAO RIGO GUIMARAES , julgado em 10/04/2024, juntado aos autos em 12/04/2024 11:29:55) AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRELIMINAR DE INOVAÇÃO RECURSAL. AFASTADA. EC Nº 113/2021. TAXA SELIC. APLICAÇÃO SOBRE O VALOR APURADO. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR PRINCIPAL ATUALIZADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Não há que se falar em inovação recursal, uma vez que os argumentos trazidos pelo recorrente somente desenvolve o raciocínio anteriormente apresentado quanto à tese de não incidência da Taxa Selic nos cálculos apresentados pela contadoria judicial. 2. Quanto à atualização dos débitos fazendários pela Taxa Selic e o acréscimo de juros, é relevante destacar que a Emenda Constitucional nº 113/2021 foi promulgada, e seu art. 3º trata especificamente da metodologia a ser aplicada. 3. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela Taxa Selic, com incidência sobre o valor do principal atualizado. 4. No presente caso, nota-se a conformidade com o dispositivo legal mencionado para a elaboração/atualização do débito pela Contadoria, a partir de dezembro de 2021, ao utilizar a Taxa Selic, que abrange tanto a correção monetária quanto os juros moratórios. 5. Agravo de Instrumento conhecido e não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0014289-56.2023.8.27.2700, Rel. JOCY GOMES DE ALMEIDA , julgado em 14/02/2024, juntado aos autos em 21/02/2024 16:46:43) AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE HOMOLOGOU OS CÁLCULOS APRESENTADOS PELA COJUN. CRITÉRIOS DE CORREÇÃO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 113/2021. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC A PARTIR DA SUA ENTRADA EM VIGOR. MANUTENÇÃO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. No tocante a atualização de débitos fazendários pela Selic e acréscimo de juros, é de se salientar que foi promulgada a EC n. 113/2021, cujo art. 3º assim dispõe: "Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), acumulado mensalmente." 2. A partir da publicação da Emenda Constitucional n. 113 em 09 de dezembro de 2021, a atualização do crédito deve ser feita pela Taxa Selic, com incidência sobre o valor do principal atualizado. 3. Na hipótese, observa-se ter sido respeitado o dispositivo legal citado para elaboração/atualização do débito pela Contadoria, com a utilização da SELIC a partir de dezembro/2021, a qual engloba tanto a correção monetária quanto os juros moratórios 3. Na decisão agravada, restou consignado que os cálculos apresentados pela COJUN no evento 126, estão de acordo com entendimento Jurisprudencial e Legislação especifica, vez que o valor principal deve ser corrigido monetariamente até nov/21 pelo IPCA-E e após pela SELIC, os juros aplicados até nov/21 pela taxa de remuneração da poupança e após dez/21 não incidem juros, só SELIC e, em seguida o valor corrigido com o valor dos juros, chegando-se o valor devido . 4. Recurso não provido. (TJTO , Agravo de Instrumento, 0010737-83.2023.8.27.2700, Rel. ADOLFO AMARO MENDES , julgado em 14/11/2023, juntado aos autos em 23/11/2023 16:14:03) Assim, REJEITO a impugnação aos cálculos apresentada pelo Estado. Por consequência, HOMOLOGO os cálculos elaborados pela COJUN. 1 - FIXO os honorários sucumbenciais da fase de conhecimento da seguinte forma: a - Sobre o valor da causa de até 200 (duzentos) salários mínimos fixo os honorários em 10% (dez por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, I; b - Sobre o valor da causa obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários mínimos fixo os honorários em 8% (oito por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, II; c - Sobre o valor da causa obtido acima de 2.000,00 (dois mil) salários mínimos e até 20.000,00 (vinte mil) salários mínimos fixo os honorários em 5% (cinco por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, III. 2 - CONDENO a parte executada ao pagamento de honorários de sucumbência os quais fixo sobre o valor correspondente ao proveito econômico obtido, isto é, sobre a diferença dos valores apontados na impugnação e o valor homologado, a ser calculado da seguinte forma: a - Sobre o valor da causa de até 200 (duzentos) salários mínimos fixo os honorários em 10% (dez por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, I; b - Sobre o valor da causa obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários mínimos fixo os honorários em 8% (oito por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, II; c - Sobre o valor da causa obtido acima de 2.000,00 (dois mil) salários mínimos e até 20.000,00 (vinte mil) salários mínimos fixo os honorários em 5% (cinco por cento), nos termos do art. 85, §2º c.c §3º, III. Intime-se (prazo de 15 dias). Após a preclusão da presente decisão, providencie a Escrivania, se não houver alteração do quanto decidido: Envio dos autos à Contadoria Judicial para atualização dos cálculos. 1 - Retornando os autos, intimem-se as partes dos cálculos, no prazo de 03 (três) dias. 1.1 - não havendo questionamento, retornem os autos conclusos para homologação dos cálculos (CLS CUMP HOMOLOGAÇÃO); 1.2 - havendo questionamento, venham os autos conclusos apreciação da impugnação aos cálculos (CLS CUMP IMPUG CALC). Cumpra-se. Palmas – TO, data certificada pelo sistema.

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Maria Lourdes Franco Ribeiro Da Rosa x Cebap Centro De Estudos Dos Benefícios Dos Aposentados E Pensionistas

ID: 275299310

Tribunal: TJPR Órgão: Vara Cível de Santo Antônio do Sudoeste Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0002142-42.2024.8.16.0154

Data de Disponibilização: 21/05/2025

Polo Ativo:

MARIA LOURDES FRANCO RIBEIRO DA ROSA

Polo Passivo:

CEBAP CENTRO DE ESTUDOS DOS BENEFíCIOS DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS

Conclusão

Advogados:

MARIO CEZAR TOMAZONI

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

SABRINA TOMAZONI

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

DANIEL GERBER

OAB/RS XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE VARA CÍVEL DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE - PROJUDI AVENIDA BRASIL, 585 - Centro - Santo Antônio do Sudoeste/PR - CEP: 85.710-0… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE VARA CÍVEL DE SANTO ANTÔNIO DO SUDOESTE - PROJUDI AVENIDA BRASIL, 585 - Centro - Santo Antônio do Sudoeste/PR - CEP: 85.710-000 - Fone: 46 3563-2255 - Celular: (46) 3563-2255 - E-mail: alfb@tjpr.jus.br Autos nº. 0002142-42.2024.8.16.0154 Processo: 0002142-42.2024.8.16.0154 Classe Processual: Procedimento Comum Cível Assunto Principal: Práticas Abusivas Valor da Causa: R$10.540,00 Autor(s): MARIA LOURDES FRANCO RIBEIRO DA ROSA Réu(s): CEBAP – CENTRO DE ESTUDOS DOS BENEFÍCIOS DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS SENTENÇA 1. Relatório Cuida-se de ação declaratória de inexigibilidade de desconto em folha de pagamento c/c indenização por danos morais e materiais e pedido de tutela de urgência movida por MARIA LOURDES FRANCO RIBEIRO DA ROSA em face de CEBAP - CENTRO DE ESTUDOS DOS BENEFÍCIOS DOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS. Narra a parte autora, em síntese, que, desde junho/2024, estão sendo realizados descontos em sua conta bancária/aposentadoria em nome da parte ré, sendo que nunca autorizou ou contratou qualquer serviço da requerida. Requer, diante disso, sejam declarados ilegais os descontos realizados em sua conta bancária, a condenação do réu a restituir em dobro o montante pago e a condenação do requerido ao pagamento de R$10.000,00 a título de danos morais. Liminar de suspensão dos descontos deferida ao mov. 10.1. A parte ré foi devidamente citada, ao mov. 33.1. A parte ré apresentou contestação, ao mov. 16.1, em que ventilou preliminares de impugnação à justiça gratuita e pedido de justiça gratuita a seu favor. No mérito, alegou, em síntese, a regularidade da contratação, que se deu de forma digital (via SMS ou ligação gravada). Questionou as quantias pleiteadas a título de danos materiais e danos morais. Impugnação ao mov. 27.1. Instados à especificação de provas, a parte autora requereu o julgamento antecipado (mov. 35.1), ao passo que a parte ré deixou o prazo concedido transcorrer in albis (mov. 37.0). Documento novo com assinatura digital apresentado pela parte ré ao mov. 42.1, em relação ao qual a parte autora se manifestou ao mov. 53.1. Vieram os autos conclusos para sentença. É o relatório. Passo a fundamentar e decidir. 2. Fundamentação Julgo antecipadamente o mérito da demanda, pela matéria enfocada estar esclarecida, demonstrando a desnecessidade de instrução do feito, adequando-se ao artigo 355, I, do Código de Processo Civil. 2.1. Das Preliminares Arguidas em Sede de Contestação (art. 337 do CPC) - Impugnação à Justiça Gratuita Dispõe o art. 98 do CPC: “A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade, na forma da lei”. A presunção da alegação de insuficiência de recursos é relativa (§3º), podendo ser elidida na hipótese de o Juiz encontrar elementos para afastar tal presunção (art. 99, §2º, do CPC). Todavia, no caso em questão, o requerido limitou-se a impugnar o benefício deferido à autora, sem, contudo, trazer aos autos nenhum elemento de prova a infirmar a alegação de hipossuficiência financeira da parte, pelo que fica mantida a justiça gratuita. Vale acrescentar que, nos termos do art. 99, §4º, do CPC: “A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça”. Ainda, os documentos de mov. 1.6 a 1.11 deixaram evidente a hipossuficiência da parte autora. Rejeito, pois, a preliminar apresentada. - Pedido de Justiça Gratuita pelo Réu – Pessoa Jurídica Com fundamento no § 2º do art. 99 do CPC, oportunizo à parte interessada na concessão da justiça gratuita, no prazo de 15 (quinze) dias, comprovar a respectiva “insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios” (art. 98, caput, do CPC). Tal demonstração pode ser feita mediante a exibição dos três últimos balanços patrimoniais da autora. Importante lembrar que, nos termos do art. 99, §3º, do CPC, a presunção de veracidade da alegação de insuficiência alcança somente a pessoa natural. Vale ressaltar que a necessidade de efetiva comprovação da hipossuficiência da pessoa jurídica, ainda que seja entidade filantrópica sem fins lucrativos, decorre da Súmula nº 481 do STJ, que dispõe: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais”. Decorrido o prazo ora concedido, o pedido será analisado. 2.2. Mérito Trata-se de demanda que objetiva a declaração de nulidade dos descontos em aposentadoria indicados na inicial, a condenação do réu a restituir em dobro o montante pago, além da indenização por danos morais, sob a alegação de ausência de contratação dos referidos serviços originários dos referidos descontos. Compulsando atentamente os autos, verifica-se que a pretensão da parte autora comporta guarida. Relata a parte autora que não solicitou a contratação de nenhum serviço perante a parte ré, que pudesse ter originado os descontos em sua conta bancária/aposentadoria. Comprova a existência dos descontos em sua conta bancária a partir do documento de mov. 1.6. A parte ré, devidamente intimada a acostar aos autos as minutas dos contratos objeto desta ação, alegou que a contratação em questão era digital (via SMS ou ligação telefônica) e apresentou o link de mov. 16.1, fls. 8 do PDF, e mov. 42.1, fls. 2 do PDF, que supostamente comprovaria a contratação eletrônica. Todavia, não é possível abrir tal link, sendo que, toda vez que se clica nele, aparece a seguinte mensagem de erro: Além disso, a parte requerida, a fim de comprovar a contratação, acostou aos autos a autorização de mov. 42.1, fls. 5 do PDF, supostamente assinada de forma digital pela parte demandante: Referida autorização, no entanto, não se presta a demonstrar, sem sombra de dúvidas, a efetiva contratação. Isso porque, primeiramente, a parte ré afirmou, em sua contestação, que a contratação havia sido feita por ligação telefônica ou via SMS, sendo que a autorização digital acima apresentada não configura nem ligação, nem SMS (divergência de informações que retira do documento digital sua verossimilhança). Ainda, a assinatura digital aposta na supracitada autorização eletrônica não vem acompanhada de outros meios de certificação digital, como biometria, reconhecimento facial ou geolocalização, nem de cópias dos documentos pessoais da parte autora (RG e CPF), o que impede que se tenha certeza de que quem assinou a autorização foi, de fato, a parte suplicante. Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência: APELAÇÃO CÍVEL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DO BANCO. CONTRATO 5531. IMPOSSIBILIDADE DE VINCULAÇÃO DA ASSINATURA ELETRÔNICA CONSTANTE NO CONTRATO À AUTORA. AUSÊNCIA DE BIOMETRIA FACIAL, GEOLOCALIZAÇÃO E DEMAIS MECANISMOS DE AVERIGUAÇÃO DE AUTENTICIDADE DO INSTRUMENTO CONTRATUAL. DISPONIBILIZAÇÃO DE VALORES NÃO É ELEMENTO SUFICIENTE A ENSEJAR O RECONHECIMENTO DA VALIDADE DA CONTRATAÇÃO. CONTRATO NULO. COMPENSAÇÃO AUTORIZADA PELA SENTENÇA. CONTRATO 5707. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PROVEITO ECONÔMICO. BANCO QUE JUNTOU TELA SISTÊMICA, QUE CONSTITUIU PROVA UNILATERAL, SEM COMPROVAR A LIBERAÇÃO DOS VALORES. IRREGULARIDADE DOS DESCONTOS. NULIDADE CONTRATUAL. VERIFICADA. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE SEU ÔNUS PROBATÓRIO (ART. 373, II, CPC). CONTRATOS 7567 E 5370. NÃO JUNTADOS. IMPOSSIBILIDADE DE VERIFICAR A CIÊNCIA OU CONCORDÂNCIA DA AUTORA COM AS CONTRATAÇÕES. IRREGULARIDADE DOS DESCONTOS. DÉBITOS LANÇADOS INDEVIDAMENTE NOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MAJORADOS. RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 16ª Câmara Cível - 0004216-04.2024.8.16.0014 - Londrina - Rel.: SUBSTITUTA VANIA MARIA DA SILVA KRAMER - J. 29.07.2024) EMBARGOS À EXECUÇÃO. INVALIDADE DE ASSINATURA ELETRÔNICA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DA EMBARGADA. (A) PRELIMINAR EM CONTRARRAZÕES DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. NÃO ACOLHIMENTO. ENDEREÇAMENTO EQUIVOCADO DO RECURSO QUE CONFIGURA ERRO MATERIAL, SEM QUALQUER REPERCUSSÃO NEGATIVA NA PRÁTICA DO ATO. (B) MÉRITO. TÍTULO EXECUTIVO ORIUNDO DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL ASSINADO ELETRONICAMENTE. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS DE SEGURANÇA ESSENCIAIS. ASSINATURA ELETRÔNICA SEM GEOLOCALIZAÇÃO, HASH DE SEGURANÇA E CÓDIGO DE VALIDAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA DE BIOMETRIA FACIAL. IMPOSSIBILIDADE DE VALIDAÇÃO DO DOCUMENTO QUE INVIABILIZA O RECONHECIMENTO COMO TÍTULO EXECUTIVO, A TEOR DO ART. 784, § 4º, DO CPC. DISPONIBILIZAÇÃO DO MÚTUO NÃO COMPROVADA. INEXISTÊNCIA DE TÍTULO EXECUTIVO. (C) MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA EM CUMPRIMENTO A REGRA DO § 11 DO ART. 85 DO CPC.RECURSO NÃO PROVIDO. (TJPR - 15ª Câmara Cível - 0021536-80.2023.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: DESEMBARGADOR LUIZ CEZAR NICOLAU - J. 07.05.2025) Ademais, observa-se que o cerne dos autos é a (in)existência de contratação dos serviços da parte ré que resultaram no desconto de parcelas mensais na conta bancária/aposentadoria da parte autora, de maneira que, a partir da aplicação da inteligência do art. 373, §1º, do CPC (distribuição dinâmica do ônus da prova), o ônus de comprovar a devida contratação questionada nestes autos seria da parte requerida. Isso porque é clarividente que a empresa ré possui a tecnologia, as informações e os documentos relativos aos serviços que presta, podendo facilmente desconstituir os fatos arguidos pela parte suplicante, sendo, por outro lado, excessivamente difícil à parte autora demonstrar a inexistência de contratação alegada (o que se intitula como prova diabólica). Deste modo, não comprovada a autorização para realização dos descontos na conta bancária da parte autora, percebe-se evidente falha na prestação do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Isso porque a parte ré não disponibilizou informações claras e concisas acerca da contratação, da utilização e dos encargos cobrados pelos serviços, falhando em seu ônus probatório, não se prestando para tanto os documentos carreados aos autos. Ausente comprovação da contratação, mostram-se ilegais os descontos efetuados, à luz do art. 186 do CC, acarretando o consequente dever de indenizar previsto no art. 927 desse mesmo diploma legal. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE/INEXIGIBILIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. APELO DO BANCO. (...). PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA REGULARIDADE DA CONTRATAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO EVIDENCIADA ANTE A REVELIA DO BANCO. IRREGULARIDADE DA CONTRATAÇÃO CONFIRMADA PELA AUSÊNCIA DE PROVA DA CELEBRAÇÃO CONTRATUAL E REPASSE DA QUANTIA. RESTITUIÇÃO DEVIDA, DE FORMA SIMPLES. DANOS MORAIS. ATITUDE ALTAMENTE REPROVÁVEL DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. REALIZAÇÃO DE DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA SEM QUALQUER COMPROVAÇÃO DE EVENTUAL CONTRATAÇÃO E CONTRAPRESTAÇÃO, ÔNUS QUE LHE INCUMBIA. DANO MORAL IN RE IPSA. SENTENÇA MANTIDA. (...). APELAÇÃO CÍVEL DO BANCO CONHECIDA E NÃO PROVIDA.APELAÇÃO CÍVEL DA AUTORA CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA. (TJPR - 13ª C.Cível - 0002202-72.2020.8.16.0051 - Barbosa Ferraz - Rel.: DESEMBARGADORA ROSANA ANDRIGUETTO DE CARVALHO - J. 18.02.2022) - Danos Materiais No que tange ao pedido de restituição em dobro do valor pago indevidamente, tenho que também é procedente, uma vez que as cobranças na conta bancária/aposentadoria da parte autora foram inseridas sem qualquer prova de sua efetiva contratação, de anuência do consumidor, ou sequer da disponibilização dos referidos serviços, em flagrante falta de respeito às normas consumeristas. Ora, flagrante é a má-fé da parte ré, que, mesmo ciente da ilegalidade da cobrança, ainda tenta obter vantagem pecuniária em detrimento do consumidor. Assim, o valor pago indevidamente pela parte autora deverá ser restituído em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC. - Danos Morais O dano moral consiste em lesão a direito da personalidade enquanto bem fundamental do ser humano. Prevê o Código Civil, em seu artigo 186: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Pablo Stolze Gagliano, in Manual de direito civil, volume único, Editora Saraiva. São Paulo, 2017. pág. 891, leciona: “O dano moral consiste na lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente”. Portanto, havendo a ocorrência de dano moral, haverá, consequentemente, a prática de um ato ilícito. No caso concreto, não se vislumbra a lesão a direito da personalidade. É que, conquanto tenha havido desconto, vê-se que o foi em valores muito baixos (R$45,00) e por pouco tempo (desde junho/2024 - suspenso a partir da liminar deferida em agosto/2024, ao mov. 10.1), de modo que não há prova alguma de que os descontos tenham importado em afetação da subsistência da parte demandante ou ensejado em alguma violação a direito de personalidade. Lembre-se que, “Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, não há falar em dano moral in re ipsa em virtude de cobrança indevida, quando inexistente ato restritivo de crédito ou inscrição em cadastro de inadimplentes. Precedentes” (AgInt no AREsp 1682299/MT, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 21/09/2020, DJe 08/10/2020). Há, portanto, clara distinção do entendimento jurisprudencial para a qual a realização de descontos indevidos geraria dano moral in re ipsa. Nesse sentido, inclusive, é a jurisprudência do TJPR: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ 5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS Autos nº. 0011231-37.2023.8.16.0021 DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA. SERVIÇO NÃO CONTRATADO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS MORAIS SOFRIDOS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA QUE NÃO DISPENSA O CONSUMIDOR DA DEMONSTRAÇÃO MÍNIMA DOS FATOS ALEGADOS. ART. 373, I DO CPC. COBRANÇA INDEVIDA SEM MAIORES REFLEXOS À PARTE. INEXISTÊNCIA DE INCLUSÃO DO NOME DA PARTE NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Admissível o julgamento monocrático do recurso, ante entendimento dominante na Turma Recursal acerca da questão discutida, consoante ao disposto no Enunciado da Súmula 568/STJ. 2. Considerando o disposto no artigo 46 da Lei 9.099/95 e Enunciado 92 do FONAJE, dispensado o relatório. 3. Estando presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. Dano Moral – Cobranças Indevidas A parte recorrente alega que a instituição financeira realizou cobranças indevidas em conta bancária a título de “Pserv”, no valor de R$ 59,90 (movs. 1.5/6). Requer a reforma da sentença para condenar a parte recorrida ao pagamento de indenização por danos morais. Inicialmente, impende salientar que, não obstante a possibilidade de inversão do ônus probatório em decorrência da relação de consumo (artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor), é necessário que a parte requerente traga aos autos comprovação mínima dos fatos alegados, hábil a permitir a responsabilização objetiva da prestadora de serviços, sem o que não é possível o reconhecimento do direito pleiteado. Desta feita, cabia à parte autora, ora recorrente, trazer elementos que evidenciassem que a situação experimentada gerou abalo psicológico ou danos aos seus direitos da personalidade (art. 373, I, do CPC), inclusive porque, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a mera cobrança indevida, sem comprovação de maiores reflexos à parte, não gera dano moral (AgInt no AREsp 1689624/GO, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 15/03/2021, DJe 07/04/2021). Contudo, no caso em tela, não há indícios de quaisquer prejuízos gerados aos direitos da personalidade da parte requerente, de modo que não se pode presumir que a conduta da requerida tenha gerado abalo à honra, à imagem, à personalidade ou à dignidade da parte. Assim, considerando a ausência de comprovação de lesão aos direitos da personalidade da parte autora (art. 373, I do CPC), não resta configurado o dano moral. Nesse sentido, é o entendimento unânime de todas as juízas integrantes da presente Turma Recursal: RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA DE SERVIÇOS NO CARTÃO DE CRÉDITO. “BOLSA PROTEGIDA”. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. PLEITO RECURSAL DE FIXAÇÃO DE DANOS MORAIS. IMPROCEDÊNCIA. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. MERA COBRANÇA INDEVIDA. AUSÊNCIA DE PROVA DA OFENSA AOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (...) (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0004139-34.2022.8.16.0153 - Santo Antônio da Platina - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MANUELA TALLÃO BENKE - J. 14.08.2023) – grifo nosso. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. DIREITO BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA POR SERVIÇO NÃO CONTRATADO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS MORAIS SOFRIDOS. SIMPLES COBRANÇA INDEVIDA QUE NÃO GERA DEVER DE INDENIZAR. AUSÊNCIA DE PROVA DA OFENSA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. REGRA DO ARTIGO 373, I DO CPC. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA DESCABIDA. ENTENDIMENTO DOMINANTE ACERCA DO TEMA. Recurso conhecido e desprovido. (...) (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0001853-67.2022.8.16.0029 - Colombo - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS FERNANDA DE QUADROS JORGENSEN GERONASSO - J. 20.06.2023) – grifo nosso. RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DA PARTE RECLAMANTE - PLEITO DE ARBITRAMENTO DE DANOS MORAIS – IMPOSSIBILIDADE - CARTÃO DE CRÉDITO EMITIDO SEM A SOLICITAÇÃO E ANUÊNCIA DA PARTE RECLAMANTE, E QUE NUNCA FOI DESBLOQUEADO NEM UTILIZADO - MERA COBRANÇA INDEVIDA DE ANUIDADE DE CARTÃO DE CRÉDITO QUE NÃO GERA O DEVER DE INDENIZAR - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS SOFRIDOS PELO RECLAMANTE – ÔNUS QUE LHE INCUMBIA, NOS TERMOS DO ART. 373, INCISO I, DO CPC - DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO INOMINADO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0001370-23.2021.8.16.0142 - Rebouças - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MARIA ROSELI GUIESSMANN - J. 03.04.2023) – grifo nosso. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA. ALEGAÇÃO DE DANOS MORAIS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO. AUSÊNCIA DE MAIORES REFLEXOS. INEXISTÊNCIA DE INCLUSÃO DO NOME DA PARTE NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. AUSÊNCIA DE AFRONTA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DANO MORAL NÃO COMPROVADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.(TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0023158- 89.2021.8.16.0014 - Londrina - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS CAMILA HENNING SALMORIA - J. 15.08.2022) – grifo nosso. Acerca da aplicação do Enunciado 1.7, insta frisar que se trata de Enunciado que perdura a aplicação na 3ª Turma Recursal, devendo-se considerar o decidido pelas Turmas Recursais Reunidas, na data de 26/06/2019, de que tão-somente os Enunciados da Turma Recursal Plena devem ser considerados por todas as Turmas isoladas. Assim sendo, correta a sentença que julgou improcedente o pedido de condenação da parte requerida ao pagamento de indenização por danos morais. Considerando o disposto, nego provimento ao recurso, devendo a sentença ser mantida por seus próprios fundamentos. Tendo em vista o não provimento do recurso, nos termos do 55 da Lei n.º 9.099/95, condeno a parte recorrente ao pagamento das custas e honorários advocatícios, os últimos no montante de 20% sobre o valor da condenação. Observe-se o disposto no art. 98, §3º do CPC em caso de eventual concessão do benefício da justiça gratuita. Custas conforme a Lei n.º 18413/2014. Observe-se o disposto no art. 98, §3º do CPC em caso de eventual concessão do benefício da justiça gratuita. Curitiba, data do sistema. JÚLIA BARRETO CAMPÊLO Relatora (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0011231-37.2023.8.16.0021 - Cascavel - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DE COMARCA DE ENTRÂNCIA FINAL JÚLIA BARRETO CAMPELO - J. 20.09.2023) RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. BANCÁRIO. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO AFASTADAS. CONTA CORRENTE. TARIFA SEGURO PSERV. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO OU AUTORIZAÇÃO PARA DESCONTO. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO DEVIDA. AUSÊNCIA DE TENTATIVA DE SOLUÇÃO ADMINISTRATIVA. DANO MORAL INOCORRENTE. MERO DISSABOR. ASTREINTES. REDUÇÃO DO VALOR E READEQUAÇÃO DA PERIODICIDADE. FIXAÇÃO DE LIMITE MÁXIMO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJPR - 3ª Turma Recursal - 0003132-56.2020.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS ADRIANA DE LOURDES SIMETTE - J. 03.09.2021) RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. CONTA CORRENTE. COBRANÇA DE TARIFAS DENOMINADAS “CESTA B EXPRESSO”, “SABEMI SEGURADO”, “LIBERTY SEGUROS”, “PREVISUL” e “PSERV”. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 44 DO TJPR. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. PRECEDENTES DO STJ. DANO MORAL QUE NÃO DECORRE DO PRÓPRIO FATO. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. MULTA MANTIDA. SENTENÇA QUE DEVE SER MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9.099/95. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.1. Ação declaratória de nulidade c/c indenização por danos morais e repetição do indébito com pedido de tutela de urgência em razão de cobrança ilegal de tarifas a título de “CESTA B EXPRESSO”, “SABEMI SEGURADO”, “LIBERTY SEGUROS”, “PREVISUL” e “PSERV”.2. “É solidária a responsabilidade entre os fornecedores constantes da cadeia de produção ou prestação de serviços” (STJ, AgInt no REsp 1738902/AC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 24/09/2018, DJe 27/09/2018). Ainda, “à luz da teoria da aparência, os integrantes da cadeia de consumo, em ação indenizatória consumerista, também são responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a alegação de que o dano foi gerado por culpa exclusiva de um dos seus integrantes" (STJ, AgInt no AREsp 1299783/RJ, Rel. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 13/12/2018, DJe 14/03/2019).3. Não há que se falar em nulidade da sentença por cerceamento de defesa. Cabe ao Magistrado deliberar sobre as provas a serem produzidas nos autos. Parte Ré que foi devidamente intimada dos atos processuais e não apresentou provas.4. O Superior Tribunal de Justiça entende que “é necessária a expressa previsão contratual das taxas e tarifas bancárias para que possam ser cobradas pela instituição financeira” (STJ, AgInt no REsp 1414764/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 21/02/2017, DJe 13/03/2017).5. A Súmula nº 44 do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por sua vez, consolidou o entendimento no sentido de que: "A cobrança de tarifas e taxas pela prestação de serviços por instituição financeira deve ser prevista no contrato ou expressa e previamente autorizada ou solicitada pelo correntista, ainda que de forma genérica". 6. Parte Ré que não cumpriu com o ônus da prova (CPC, ART. 373, II), deixando de comprovar a regularidade das cobranças relativas às mencionadas tarifas, não apresentando nenhum documento referente às supostas contratações. Restituição devida.7. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento proferido no EAREsp 676.608, em 21/10/2020, firmou entendimento de que a restituição em dobro do indébito (parágrafo único do artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido, revelando-se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva. 8. No tocante aos danos morais, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico de que “a configuração do dano moral pressupõe uma grave agressão ou atentado a direito da personalidade, capaz de provocar sofrimentos e humilhações intensos, descompondo o equilíbrio psicológico do indivíduo por um período de tempo desarrazoado” (AgInt no REsp 1655465/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/04/2018, DJe 02/05/2018).9. Multa por descumprimento que deve ser mantida. Valor fixado não se mostra excessivo, observando os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.10. Inexistindo razões para a reforma da decisão recorrida, deve ela ser integralmente mantida por seus próprios fundamentos.11. Recurso conhecido e não provido. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0002267-38.2019.8.16.0072 - Colorado - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS IRINEU STEIN JUNIOR - J. 21.05.2021) RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. CONTA CORRENTE. TARIFA SEGURO PSERV. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇAS INDEVIDAS. PRAZO PRESCRICIONAL DECENAL (ART. 205 CC). RESTITUIÇÃO SIMPLES. MÁ-FÉ NÃO DEMONSTRADA. PRECEDENTES DO STJ. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0003639-91.2019.8.16.0049 - Astorga - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS ALVARO RODRIGUES JUNIOR - J. 26.06.2020) Dessa forma, improcedem os pedidos iniciais de danos morais. 3. Dispositivo 3.1. Diante do exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos contidos na inicial, resolvendo o mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, para o fim de: a) Declarar a inexistência de relação jurídica entre as partes, com a consequente inexigibilidade das dívidas apontadas; b) Condenar a parte requerida ao pagamento em dobro dos valores comprovadamente cobrados nos autos. Em relação às quantias a serem restituídas (danos materiais), o termo inicial da correção monetária é a data do desembolso; por sua vez, o termo inicial dos juros de mora é a data da citação. Assim, da data do desembolso até a data da citação, deverá incidir apenas correção monetária pelo índice IPCA/IBGE (art. 389, parágrafo único, do CC), sendo que, a partir da citação, a quantia deverá passar a ser corrigida exclusivamente com incidência da taxa SELIC (art. 406, §1º, do CC), que já engloba juros de mora e correção monetária, até o pagamento 3.2. Tendo em vista a sucumbência recíproca, em observância aos limites estabelecidos pelo art. 85, §2º, do CPC, e considerando ser inestimável/irrisório o proveito econômico, nos termos do art. 85, §8º, do CPC, condeno a parte autora ao pagamento de 30% das custas e despesas processuais e de honorários advocatícios em favor dos patronos do réu, que fixo em R$1.000,00 (duzentos e cinquenta reais), com as ressalvas do art. 98, §3º, do CPC, se aplicáveis. Lado outro, condeno o réu ao pagamento de 70% das custas e despesas processuais e de honorários advocatícios em favor dos patronos da autora, que fixo em R$1.500,00 (um mil e quinhentos reais), com as ressalvas do art. 98, §3º, do CPC, se aplicáveis. Havendo recurso de Apelação, deverá a Secretaria intimar a parte contrária para contrarrazões (art. 1.010, §1º do CPC) e, após, remeter os autos ao Eg. TJPR. Transitada em julgado a presente decisão, e nada requerendo as partes, remetam-se os autos ao arquivo com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Santo Antônio do Sudoeste, nesta data. Patrícia Reinert Lang Juíza de Direito

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Claudinei Felipe Faustino x Banco Bradesco S/A e outros

ID: 261234437

Tribunal: TJPR Órgão: Vara Cível de Iporã Classe: PROCEDIMENTO COMUM CíVEL Nº Processo: 0000941-98.2024.8.16.0094

Data de Disponibilização: 28/04/2025

Polo Ativo:

CLAUDINEI FELIPE FAUSTINO

Polo Passivo:

BANCO BRADESCO S/A BINCLUB SERVIçOS DE ADMINISTRAçãO E DE PROGRAMAS DE FIDELIDADE LTDA

Conclusão

Advogados:

GERSON VANZIN MOURA DA SILVA

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

JAIME OLIVEIRA PENTEADO

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

BRUNO OLIVEIRA DOS SANTOS

OAB/PR XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE IPORÃ VARA CÍVEL DE IPORÃ - PROJUDI Avenida Silvino Izidor Eidt, 871 - Edifício do Fórum - Centro - Iporã/PR - CEP: 87.560-000 - Fone: (44) 3621-8478 -… PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ COMARCA DE IPORÃ VARA CÍVEL DE IPORÃ - PROJUDI Avenida Silvino Izidor Eidt, 871 - Edifício do Fórum - Centro - Iporã/PR - CEP: 87.560-000 - Fone: (44) 3621-8478 - Celular: (44) 99755-6246 - E-mail: dirforum@bol.com.br Autos nº. 0000941-98.2024.8.16.0094 Processo: 0000941-98.2024.8.16.0094 Classe Processual: Procedimento Comum Cível Assunto Principal: Defeito, nulidade ou anulação Valor da Causa: R$11.426,00 Autor(s): CLAUDINEI FELIPE FAUSTINO Réu(s): BANCO BRADESCO S/A BINCLUB SERVIÇOS DE ADMINISTRAÇÃO E DE PROGRAMAS DE FIDELIDADE LTDA SENTENÇA 1. Relatório Cuida-se de ação declaratória de nulidade de negócio jurídico c/c restituição de indébito e indenização por danos morais, movida por CLAUDINEI FELIPE FAUSTINO contra BANCO BRADESCO S/A e BINCLUB SERVIÇOS DE ADMINISTRAÇÃO E DE PROGRAMAS DE FIDELIDADE LTDA. Narra a parte autora, em síntese, que foi surpreendido com a existência de descontos indevidos em sua conta bancária onde recebe seu benefício previdenciário, constatando que vinham sendo praticados desde 2023, sob o nome de “BINCLUB SERVIÇOS DE ADMINISTRAÇÃO”. Indica desconhecer a origem de referidos descontos, sendo que jamais solicitou qualquer serviço com a requerida. Liminar de suspensão dos descontos indeferida ao mov. 17.1. A parte ré foi devidamente citada, aos mov. 23.1 e 24.1. Contestação apresentada pela instituição financeira ao mov. 25.1, em que a parte ré alega, sem preliminar, a) ilegitimidade passiva da instituição financeira. No mérito, sustenta, em suma, inexistência de ato ilícito praticado por ela, sendo que a relação tratada nos autos se refere à parte autora com terceiros; não comprovação de danos morais ou, subsidiariamente, fixação com base nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade; em caso de condenação, repetição simples dos valores; que não é devida inversão do ônus da prova. Impugnação à contestação ao mov. 30.1. Foi decretada revelia da ré BINCLUB (mov. 53.1). Instados à especificação de provas, as demais partes pleitearam pelo julgamento antecipado da lide (mov. 51.1 e 56.1). Vieram os autos conclusos. É o relatório. Passo a fundamentar e decidir. 2. Fundamentação Julgo antecipadamente o mérito da demanda, pela matéria enfocada estar esclarecida, demonstrando a desnecessidade de instrução do feito, adequando-se ao artigo 355, I, do Código de Processo Civil. 2.1. Das Preliminares Arguidas em Sede de Contestação (art. 337 do CPC) - Ilegitimidade passiva Alega tal empresa não ser parte legítima a figurar no polo passivo da demanda. Entretanto, entendo que a pretensão de extinção do feito sem resolução de mérito não merece prosperar. De acordo com entendimento dominante do Superior Tribunal de Justiça, as condições de ação devem ser aferidas com base na teoria da asserção. Isto é, as condições da ação devem ser apuradas com base exclusivamente nas alegações da parte autora. Assim, se no decorrer da demanda for posta em dúvida a legitimidade ou o interesse de agir, deve o julgador, ao fim do processo, proferir decisão de improcedência do mérito, e não decisão terminativa com base no art. 485, VI do CPC. Nesse sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS E INSUMOS. CONDIÇÕES DA AÇÃO. INTERESSE DE AGIR. TEORIA DA ASSERÇÃO. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que as condições da ação devem ser averiguadas de acordo com a teoria da asserção, portanto, a partir de um exame puramente abstrato da narrativa desenvolvida na petição inicial. Precedentes. 2. No caso, na linha do que decidido pelo Tribunal estadual, as alegações formuladas na inicial, no sentido de que a ré seria responsável por fornecer os medicamentos e insumos pleiteados para manutenção do tratamento da demandante, são bastantes, de acordo com a teoria da asserção, para considerar presente o interesse de agir. Incidência da Súmula 83/STJ, aplicável por ambas as alíneas autorizadoras. 3. O mero não conhecimento ou a improcedência do agravo interno não enseja a necessária imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015, tornando-se imperioso para tal que seja nítido o descabimento do recurso, o que não se verifica no caso concreto. 4. Agravo interno desprovido. (STJ - AgInt no AREsp: 1640944 SP 2019/0376021-6, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 21/02/2022, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/02/2022) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. LEGITIMIDADE PASSIVA CONFIGURADA. TEORIA DA ASSERÇÃO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. Não configura ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 o fato de o Tribunal de origem, embora sem examinar individualmente cada um dos argumentos suscitados pelo recorrente, adotar fundamentação contrária à pretensão da parte, suficiente para decidir integralmente a controvérsia. 2. A teoria da asserção impõe que as condições da ação, entre elas a legitimidade passiva, sejam aferidas mediante análise das alegações delineadas na petição inicial. Precedentes. 3. Na hipótese, das afirmações constantes da inicial, depreende-se, em abstrato, a legitimidade passiva da recorrente. A modificação de tal entendimento demandaria o reexame de fatos e provas ( Súmula 7/STJ). 4. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ - AgInt no AREsp: 1903607 ES 2021/0152783-3, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento: 13/12/2021, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/12/2021) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS MOVIDA POR ASSOCIADO EM FACE DO PRESIDENTE DO CLUBE POR EXTRAPOLAÇÃO DE PODERES. LEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA ASSERÇÃO. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Em conformidade com o entendimento desta Corte Superior, segundo a teoria da asserção, as condições da ação, entre elas a legitimidade passiva, devem ser aferidas a partir das afirmações deduzidas na petição inicial. 2. No caso dos autos, não se discute uma conduta regular do ora agravante enquanto Presidente do clube, mas sim uma conduta que teria extrapolado os poderes a ele atribuídos, de modo que a comprovação do direito do autor à indenização pleiteada, em razão de eventual irregularidade e abuso dos atos praticados pelo recorrente, diz respeito ao mérito da causa, e não à sua legitimidade ativa. 3. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ - AgInt no AREsp: 1710782 SP 2020/0134110-0, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO, Data de Julgamento: 08/03/2021, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/03/2021) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA. TEORIA DA ASSERÇÃO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INADMISSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 5 e 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. A jurisprudência desta Corte Superior adota a teoria da asserção, segundo a qual, a presença das condições da ação, dentre elas a legitimidade ativa, é apreciada à luz da narrativa contida na petição inicial, não se confundindo com o exame do direito material objeto da ação. 2. O recurso especial não comporta exame de questões que impliquem revisão de cláusulas contratuais e revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmulas n. 5 e 7 do STJ), o que impede o acolhimento da insurgência relacionada à legitimidade ativa do autor da ação de exibição de documentos. 3. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ - AgInt no AREsp: 520790 PB 2014/0123510-1, Data de Julgamento: 24/10/2022, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/11/2022) Assim, considerando que, no caso concreto, o autor afirmou ser a ré parte legítima para figurar no polo passivo da ação, sendo a inicial devidamente recebida, e não se constatando, com a argumentação do autor, motivo que cause dúvida fundada acerca da ilegitimidade passiva, não há que se falar em exclusão da instituição ré no feito. Ante o exposto, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva formulada pela instituição financeira. 2.2. Aplicabilidade do CDC e Distribuição do Ônus da Prova Há de reputar-se aplicável à hipótese o Código de Defesa do Consumidor. As atividades de natureza bancária, financeira e de crédito submetem-se às disposições do Código de Defesa do Consumidor, com previsão expressa no art. 3º, caput e § 2º, do citado diploma legal, cujo dispositivo conceitua serviços como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo (inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária), mediante remuneração. Outrossim, tal questão resta pacificada no âmbito dos tribunais superiores, porquanto o c. Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 297, que dispõe que “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Ademais, o contrato pactuado entre as partes caracteriza-se, inquestionavelmente, como contrato de adesão, pois firmado em contrato-padrão, isto é, pré-impresso (art. 54 do CDC). As cláusulas destes tipos de contratos são estipuladas unilateralmente – no caso, pela instituição financeira – e submetidas à aceitação da outra parte – ora consumidor – que, tendo necessidade de contratar, firma o pacto sem a possibilidade de discutir as disposições contratuais. Em decorrência, torna assente o entendimento de que a interpretação das respectivas cláusulas deve ser orientada em favor do aderente (art. 47 do CDC). O reconhecimento da aplicabilidade do CDC à hipótese em comento, contudo não traz consequências sobre o ônus da prova. E simplesmente porque a análise desse pedido está prejudicada, na medida em que as próprias partes trouxeram aos autos o contrato discutido, o que, aliado aos demais documentos, é suficiente ao deslinde do processo. Assim, inexiste, pois, necessidade adicional de distribuir-se e impor-se ônus probatório a qualquer das partes. Feitos os esclarecimentos acima, passo, então, à análise mais pormenorizada do mérito. 2.2. Mérito Trata-se de demanda que objetiva a declaração de nulidade dos descontos em conta bancária indicada na inicial, a condenação do réu a restituir em dobro o montante pago, além da indenização por danos morais, sob a alegação de ausência de contratação dos referidos serviços originários dos referidos descontos. Compulsando atentamente os autos, verifica-se que a pretensão da parte autora comporta guarida. Relata a parte autora que não solicitou a contratação de nenhum serviço perante a parte ré, que pudessem ter originado os descontos em sua conta. Comprova a existência dos descontos em sua conta bancária a partir do documento de mov. 1.6. A parte ré, por sua vez, a fim de afastar os argumentos iniciais, alegou culpa exclusiva de terceiro, eis que não teria qualquer relação com os descontos existentes na conta da parte consumidora. Mas não tem razão a ré. Incide no caso em tela o Código de Defesa de Consumidor. Para fins de configuração da relação de consumo, é imprescindível a presença das figuras do consumidor e do fornecedor e a existência de um produto ou serviço que os una. O CDC encarrega-se da definição de todos esses requisitos configuradores da relação de consumo. Como consumidor entende-se, conforme explicitado no art. 2º, caput, do supracitado diploma legal, “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Assim, como regra geral (o que admite algumas exceções e debates doutrinários e jurisprudenciais), todo aquele que adquire ou utiliza o produto ou o serviço para reinseri-lo no mercado de consumo (através, por exemplo, de sua atividade profissional ou de qualquer outra atividade econômica) não pode ser visto como consumidor, aplicando-se, nesses casos, as disposições do Código Civil, e não aquelas do Código de Defesa do Consumidor. A definição de consumidor é estendida (a) à “coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo” – art. 2º, parágrafo único; (b) a todas as vítimas do dano causado pelo fato do produto ou do serviço – art. 17; (c) a “todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas” comerciais – art. 29. O fornecedor, por sua vez, nos termos do art. 3º, caput, do CDC, “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Para configuração da figura do fornecedor é, pois, indispensável que as supracitadas atividades econômicas de oferta de produtos e serviços no mercado sejam por ele desenvolvidas de forma habitual e não eventual. Dessa forma, não se enquadram como fornecedores as pessoas que ofertam produtos e serviços de maneira não profissional (meros contratos entre particulares). Complementa, ainda, o CDC, em seu art. 3º, §1º e §2º, que “Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”, enquanto “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”. Pois bem. No caso dos autos, observa-se que as rés são, empresas que desenvolvem, de forma habitual e profissional, a oferta de prestação de serviço bancário no mercado de consumo. Assim, nota-se que, na hipótese em comento, não há dúvidas de que a parte ré pode ser considerada fornecedora, se enquadrando na definição do supracitado art. 3º, por serem pessoas jurídicas que, mediante remuneração, prestaram serviços de natureza bancária à parte autora. Por sua vez, a parte autora adquiriu os serviços bancários como destinatária final, enquadrando-se, pois, na definição de consumidor. Assim, inegável a existência de relação consumerista no caso em questão, com incidência das normas do CDC. No que se refere a tal tópico, alegou o réu BRADESCO que não possuiria qualquer responsabilidade sobre o caso em tela, tendo em vista que seria apenas intermediadora de pagamentos, não participando da relação entre a parte consumidora e a BINCLUB. Entretanto, entendo que sua fundamentação não prospera. Isso porque, nos termos dos arts. 12 a 25 do CDC, todas as empresas participantes da cadeia de consumo possuem responsabilidade por qualquer prejuízo ou dano causado durante a prestação do serviço. Isto é, o próprio fato de ter confirmado que atuava como intermediadora da relação jurídica entre o consumidor e a BINCLUB já é suficiente a ensejar possibilidade de sua responsabilização no feito. Conforme entendimento do STJ, toda a cadeia de fornecedores de determinado serviço é responsável por todas as suas fases, incluída sua execução. Anote-se: RECURSO ESPECIAL. ASSALTO CONTRA-CARRO FORTE QUE TRANSPORTAVA MALOTES DO SUPERMERCADO INSTALADO DENTRO DO SHOPPING CENTER. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ART. 14 DO CDC. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DE TODOS DA CADEIA DE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. CONSUMIDOR BYSTANDER. ART. 17 DO CDC. 1. O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 14, referindo-se ao fornecedor de serviços em sentido amplo, estatui a responsabilidade objetiva deste na hipótese de defeito na prestação do serviço, atribuindo-lhe o dever reparatório, desde que demonstrado o nexo causal entre o defeito do serviço e o acidente de consumo (fato do serviço), do qual somente é passível de isenção quando houver culpa exclusiva do consumidor ou uma das causas excludentes de responsabilidade genérica - força maior ou caso fortuito externo. 2. Nesse contexto consumerista, o campo de incidência da responsabilidade civil ampliou-se, pois passou a atingir não apenas o fornecedor diretamente ligado ao evento danoso, mas toda a cadeia de produção envolvida na atividade de risco prestada. 3. Ademais, a responsabilidade civil objetiva, por acidente de consumo, não alcança apenas o consumidor, previsto no artigo 2º do CDC, mas também, e principalmente, aqueles elencados no art. 17 do mesmo diploma legal. 4. Assim, é também responsável o Supermercado, instalado dentro de shopping center, em caso de assalto à transportadora de valores que retirava malotes de dinheiro daquele estabelecimento pela lesão provocada ao consumidor bystander, ocasionada por disparo de arma de fogo. 5. Recurso especial a que se nega provimento. (STJ - REsp: 1327778 SP 2011/0193579-7, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 02/08/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/08/2016) No mais, sendo evidente a possibilidade de responsabilização das rés, basta, no caso em tela, verificar a (in)existência dos requisitos autorizadores da responsabilização, bem como, em caso positivo, aferir o quantum indenizatório devido ao consumidor lesado. Nesse ínterim, observa-se que o cerne dos autos é a (in)existência de contratação dos serviços da parte ré que resultaram no desconto de parcelas mensais na conta aposentadoria da parte autora, de maneira que, a partir da aplicação da inteligência do art. 373, §1º, do CPC (distribuição dinâmica do ônus da prova), o ônus de comprovar a devida contratação questionada nestes autos seria da parte requerida. Isso porque é clarividente que a empresa ré possui a tecnologia, as informações e os documentos relativos aos serviços que presta, podendo facilmente desconstituir os fatos arguidos pela parte suplicante, sendo, por outro lado, excessivamente difícil à parte autora demonstrar a inexistência de contratação alegada (o que se intitula como prova diabólica). Deste modo, não comprovada a autorização para realização dos descontos na conta bancária da parte autora, percebe-se evidente falha na prestação do serviço, nos termos do art. 14 do CDC. Destaca-se que a parte ré não acostou qualquer documento que tenha sido celebrado entre o autor e a BINCLUB, que comprove a contratação ou que os descontos efetuados na conta da parte autora tenham sido devidos, o que faz incidir a presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte autora na exordial (art. 400, CPC). Cabe à requerida demonstrar que todas as informações foram prestadas ao consumidor, tendo sido ele quem, efetivamente, realizou a contratação. Ademais, em razão da inversão do ônus da prova já deferida, incumbia ao banco requerido, usando de todas as informações e facilidades que possui, conseguir documentos e outros tipos de provas capazes de demonstrar a existência da contratação, o que não foi feito, de maneira que há que se presumir como verdadeira a informação trazida pelo consumidor, parte hipossuficiente da relação de consumo, de que não solicitou o serviço que gerou os descontos por ele desconhecidos em sua conta bancária. O caso em comento retrata, desse modo, evidente falha na prestação do serviço pela parte ré (em violação ao art. 14 do CDC), que não cumpriu com sua parte, na relação obrigacional, na forma contratada. Assim, violou a boa-fé objetiva por frustrar a legítima expectativa do consumidor, além de seus deveres anexos, em especial o dever de cooperação. Portanto, apesar de afirmar que houve contratação regular, a parte ré não faz prova hábil no sentido de demonstrar a veracidade de suas alegações. Nesse diapasão, certo é que o consumidor não tem como demonstrar o nexo de causalidade para a responsabilização do fornecedor, pois, no caso, é a parte ré quem possui a integralidade das informações referentes ao serviço por ela prestado. Logo, outra solução não há senão declarar a rescisão contratual, retornando as partes ao status quo ante. - Danos Materiais No que tange ao pedido de restituição em dobro do valor pago indevidamente, tenho que também é procedente, uma vez que as cobranças na conta bancária/aposentadoria da parte autora foram inseridas sem qualquer prova de sua efetiva contratação, de anuência do consumidor, ou sequer da disponibilização dos referidos serviços, em flagrante falta de respeito às normas consumeristas. Ora, flagrante é a má-fé da parte ré, que, mesmo ciente da ilegalidade da cobrança, ainda tenta obter vantagem pecuniária em detrimento do consumidor. Assim, o valor pago indevidamente pela parte autora deverá ser restituído em dobro, nos termos do art. 42, parágrafo único, do CDC. - Danos Morais O dano moral consiste em lesão a direito da personalidade enquanto bem fundamental do ser humano. Prevê o Código Civil, em seu artigo 186: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Pablo Stolze Gagliano, in Manual de direito civil, volume único, Editora Saraiva. São Paulo, 2017. pág. 891, leciona: “O dano moral consiste na lesão de direitos, cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente”. Portanto, havendo a ocorrência de dano moral, haverá, consequentemente, a prática de um ato ilícito. No caso concreto, não se vislumbra a lesão a direito da personalidade. É que, conquanto tenha havido desconto, vê-se que o foi em valores muito baixos (entre R$ 62,90 e 76,90) e por pouco tempo (comprovadamente entre maio de 2023 e fevereiro de 2024), de modo que não há prova alguma de que os descontos tenham importado em afetação da subsistência da parte demandante ou ensejado em alguma violação a direito de personalidade. Lembre-se que, “Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, não há falar em dano moral in re ipsa em virtude de cobrança indevida, quando inexistente ato restritivo de crédito ou inscrição em cadastro de inadimplentes. Precedentes” (AgInt no AREsp 1682299/MT, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 21/09/2020, DJe 08/10/2020). Há, portanto, clara distinção do entendimento jurisprudencial para a qual a realização de descontos indevidos geraria dano moral in re ipsa. Nesse sentido, inclusive, é a jurisprudência do TJPR: RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA DE SERVIÇOS NO CARTÃO DE CRÉDITO. “BOLSA PROTEGIDA”. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. PLEITO RECURSAL DE FIXAÇÃO DE DANOS MORAIS. IMPROCEDÊNCIA. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. MERA COBRANÇA INDEVIDA. AUSÊNCIA DE PROVA DA OFENSA AOS DIREITOS PERSONALÍSSIMOS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (...) (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0004139-34.2022.8.16.0153 - Santo Antônio da Platina - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MANUELA TALLÃO BENKE - J. 14.08.2023) – grifo nosso. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. DIREITO BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA POR SERVIÇO NÃO CONTRATADO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS MORAIS SOFRIDOS. SIMPLES COBRANÇA INDEVIDA QUE NÃO GERA DEVER DE INDENIZAR. AUSÊNCIA DE PROVA DA OFENSA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. REGRA DO ARTIGO 373, I DO CPC. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA DESCABIDA. ENTENDIMENTO DOMINANTE ACERCA DO TEMA. Recurso conhecido e desprovido. (...) (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0001853-67.2022.8.16.0029 - Colombo - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS FERNANDA DE QUADROS JORGENSEN GERONASSO - J. 20.06.2023) – grifo nosso. RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DA PARTE RECLAMANTE - PLEITO DE ARBITRAMENTO DE DANOS MORAIS – IMPOSSIBILIDADE - CARTÃO DE CRÉDITO EMITIDO SEM A SOLICITAÇÃO E ANUÊNCIA DA PARTE RECLAMANTE, E QUE NUNCA FOI DESBLOQUEADO NEM UTILIZADO - MERA COBRANÇA INDEVIDA DE ANUIDADE DE CARTÃO DE CRÉDITO QUE NÃO GERA O DEVER DE INDENIZAR - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS SOFRIDOS PELO RECLAMANTE – ÔNUS QUE LHE INCUMBIA, NOS TERMOS DO ART. 373, INCISO I, DO CPC - DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO INOMINADO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0001370-23.2021.8.16.0142 - Rebouças - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS MARIA ROSELI GUIESSMANN - J. 03.04.2023) – grifo nosso. DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. COBRANÇA INDEVIDA. ALEGAÇÃO DE DANOS MORAIS. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO. AUSÊNCIA DE MAIORES REFLEXOS. INEXISTÊNCIA DE INCLUSÃO DO NOME DA PARTE NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. AUSÊNCIA DE AFRONTA AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DANO MORAL NÃO COMPROVADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.(TJPR - 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0023158- RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. BANCÁRIO. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA E DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO AFASTADAS. CONTA CORRENTE. TARIFA SEGURO PSERV. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO OU AUTORIZAÇÃO PARA DESCONTO. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO DEVIDA. AUSÊNCIA DE TENTATIVA DE SOLUÇÃO ADMINISTRATIVA. DANO MORAL INOCORRENTE. MERO DISSABOR. ASTREINTES. REDUÇÃO DO VALOR E READEQUAÇÃO DA PERIODICIDADE. FIXAÇÃO DE LIMITE MÁXIMO. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJPR - 3ª Turma Recursal - 0003132-56.2020.8.16.0030 - Foz do Iguaçu - Rel.: JUÍZA DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUÍZAADOS ESPECIAIS ADRIANA DE LOURDES SIMETTE - J. 03.09.2021) RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. CONTA CORRENTE. COBRANÇA DE TARIFAS DENOMINADAS “CESTA B EXPRESSO”, “SABEMI SEGURADO”, “LIBERTY SEGUROS”, “PREVISUL” e “PSERV”. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 44 DO TJPR. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. PRECEDENTES DO STJ. DANO MORAL QUE NÃO DECORRE DO PRÓPRIO FATO. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. MULTA MANTIDA. SENTENÇA QUE DEVE SER MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APLICAÇÃO DO ART. 46 DA LEI 9.099/95. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.1. Ação declaratória de nulidade c/c indenização por danos morais e repetição do indébito com pedido de tutela de urgência em razão de cobrança ilegal de tarifas a título de “CESTA B EXPRESSO”, “SABEMI SEGURADO”, “LIBERTY SEGUROS”, “PREVISUL” e “PSERV”.2. “É solidária a responsabilidade entre os fornecedores constantes da cadeia de produção ou prestação de serviços” (STJ, AgInt no REsp 1738902/AC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 24/09/2018, DJe 27/09/2018). Ainda, “à luz da teoria da aparência, os integrantes da cadeia de consumo, em ação indenizatória consumerista, também são responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a alegação de que o dano foi gerado por culpa exclusiva de um dos seus integrantes" (STJ, AgInt no AREsp 1299783/RJ, Rel. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 13/12/2018, DJe 14/03/2019).3. Não há que se falar em nulidade da sentença por cerceamento de defesa. Cabe ao Magistrado deliberar sobre as provas a serem produzidas nos autos. Parte Ré que foi devidamente intimada dos atos processuais e não apresentou provas.4. O Superior Tribunal de Justiça entende que “é necessária a expressa previsão contratual das taxas e tarifas bancárias para que possam ser cobradas pela instituição financeira” (STJ, AgInt no REsp 1414764/PR, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 21/02/2017, DJe 13/03/2017).5. A Súmula nº 44 do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por sua vez, consolidou o entendimento no sentido de que: "A cobrança de tarifas e taxas pela prestação de serviços por instituição financeira deve ser prevista no contrato ou expressa e previamente autorizada ou solicitada pelo correntista, ainda que de forma genérica". 6. Parte Ré que não cumpriu com o ônus da prova (CPC, ART. 373, II), deixando de comprovar a regularidade das cobranças relativas às mencionadas tarifas, não apresentando nenhum documento referente às supostas contratações. Restituição devida.7. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, em julgamento proferido no EAREsp 676.608, em 21/10/2020, firmou entendimento de que a restituição em dobro do indébito (parágrafo único do artigo 42 do CDC) independe da natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido, revelando-se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva. 8. No tocante aos danos morais, o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico de que “a configuração do dano moral pressupõe uma grave agressão ou atentado a direito da personalidade, capaz de provocar sofrimentos e humilhações intensos, descompondo o equilíbrio psicológico do indivíduo por um período de tempo desarrazoado” (AgInt no REsp 1655465/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 24/04/2018, DJe 02/05/2018).9. Multa por descumprimento que deve ser mantida. Valor fixado não se mostra excessivo, observando os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.10. Inexistindo razões para a reforma da decisão recorrida, deve ela ser integralmente mantida por seus próprios fundamentos.11. Recurso conhecido e não provido. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0002267-38.2019.8.16.0072 - Colorado - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS IRINEU STEIN JUNIOR - J. 21.05.2021) RECURSO INOMINADO. BANCÁRIO. CONTA CORRENTE. TARIFA SEGURO PSERV. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL. COBRANÇAS INDEVIDAS. PRAZO PRESCRICIONAL DECENAL (ART. 205 CC). RESTITUIÇÃO SIMPLES. MÁ-FÉ NÃO DEMONSTRADA. PRECEDENTES DO STJ. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 2ª Turma Recursal - 0003639-91.2019.8.16.0049 - Astorga - Rel.: JUIZ DE DIREITO DA TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS ALVARO RODRIGUES JUNIOR - J. 26.06.2020) Diante do quadro que se afigura, a reparação estaria fundada apenas na quebra do dever de informação, a qual, no entanto, não ultrapassa o patamar de mero descumprimento contratual, consoante iterativa jurisprudência pátria. Dessa forma, improcedem os pedidos iniciais de danos morais. 3. Dispositivo 3.1. Diante do exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos contidos na inicial, resolvendo o mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, para o fim de: a) Declarar a inexistência de relação jurídica entre as partes, com a consequente inexigibilidade das dívidas apontadas; b) Condenar as requeridas, solidariamente, ao pagamento em dobro dos valores comprovadamente cobrados nos autos. Em relação às quantias a serem restituídas (danos materiais), o termo inicial da correção monetária é a data do desembolso; por sua vez, o termo inicial dos juros de mora é a data da citação. Assim, da data de cada desembolso até a data da citação (10/06/2024 – mov. 24.1 – BINCLUB; 11/06/2024 – mov. 23.1 – BRADESCO), deverão ser corrigidos monetariamente pelo IPCA/IBGE (art. 389, parágrafo único, do CC) e juros de mora de 1%, sendo que, a partir da citação, a quantia deverá passar a ser corrigida exclusivamente com incidência da taxa SELIC (art. 406, §1º, do CC), que já engloba juros de mora e correção monetária, até o pagamento. 3.2. Diante da sucumbência recíproca, condeno a parte autora ao pagamento de 30% das custas e despesas processuais e de honorários advocatícios, os quais fixo em R$1.000,00 (pois é irrisório o proveito econômico obtido), nos termos do art. 85, § 2º, do CPC, com as ressalvas do art. 98, § 3º, do CPC, se aplicáveis. Lado outro, condeno a parte ré ao pagamento de 70% das custas e despesas processuais e de honorários advocatícios, os quais fixo em R$1.500,00 (pois é irrisório o proveito econômico obtido), nos termos do art. 85, § 2º, do CPC, com as ressalvas do art. 98, § 3º, do CPC, se aplicáveis. Havendo recurso de Apelação, deverá a Secretaria intimar a parte contrária para contrarrazões (art. 1.010, §1º do CPC) e, após, remeter os autos ao Eg. TJPR. Transitada em julgado a presente decisão, e nada requerendo as partes, remetam-se os autos ao arquivo com baixa. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Iporã, 23 de abril de 2025. Andrei Jose de Campos Juiz de Direito

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Osny Marcos Mota Da Silva x Banco Do Nordeste

ID: 281721885

Tribunal: TJPE Órgão: 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes Classe: EMBARGOS à EXECUçãO Nº Processo: 0049360-59.2023.8.17.2810

Data de Disponibilização: 28/05/2025

Polo Ativo:

OSNY MARCOS MOTA DA SILVA

Polo Passivo:

BANCO DO NORDESTE

Despacho_Intimação_Intimação (Outros)

Advogados:

ROGERIO AUGUSTO DA SILVA

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MARCIA ELIZABETH SILVEIRA NASCIMENTO BARRA

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

PAULO ROCHA BARRA

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário DIRETORIA DAS VARAS CÍVEIS DA REGIÃO METROPOLITANA E DO INTERIOR ROD BR-101 SUL KM 80, S/N, - do km 86,007 ao km 88,000, PRAZERES, JABOATÃO DOS GUAR… Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário DIRETORIA DAS VARAS CÍVEIS DA REGIÃO METROPOLITANA E DO INTERIOR ROD BR-101 SUL KM 80, S/N, - do km 86,007 ao km 88,000, PRAZERES, JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE - CEP: 54345-160 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes Processo nº 0049360-59.2023.8.17.2810 EMBARGANTE: OSNY MARCOS MOTA DA SILVA EMBARGADO(A): BANCO DO NORDESTE JABOATÃO DOS GUARARAPES, 27 de maio de 2025. INTIMAÇÃO DE SENTENÇA Por ordem do(a) Exmo(a). Dr(a). Juiz(a) de Direito do 5ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes, fica(m) a(s) parte(s) intimada(s) do inteiro teor da Sentença de ID 205339031: SENTENÇA Vistos etc. I – RELATÓRIO OSNY MARCOS MOTA DA SILVA, qualificado nos autos, por intermédio de advogado constituído, propôs “Embargos à Execução”, em face do BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A, também qualificada nos autos. Em resumo, o embargante solicitou a gratuidade da justiça, depois, alegou que firmou junto ao embargado a Cédula Rural Hipotecária nº 275.2015.680.583, no valor de R$ 152.193,00, que seria pago em parcelas entre 30/12/2018 e 30/12/2025, posteriormente, houve o alongamento dos vencimentos. Disse que era produtor familiar de aves na região de Jucati – PE, “todavia, no dia 10/12/2022, devido a uma falta de energia, 412 aves morreram, eis que os exaustores ficaram desligados por quatro horas. Tal fato causou a elevação da temperatura dentro dos aviários, o que desencadeou as referidas perdas”. Além disso, com a redução do preço das aves, o demandante teve as suas receitas prejudicadas, impedindo o adimplemento do contrato. Sustentou que “nas hipóteses em que a capacidade de pagamento do produtor for aviltada por fatores extrínsecos, como quebra de produtividade ou dificuldades de comercialização, a prorrogação é medida que se impõe, tanto que os próprios títulos de crédito rural foram criados para comportar a alteração do cronograma de pagamento”. Ainda, argumentou que os juros capitalizados não foram pactuados, e que a sua periodicidade era para ser anual, sendo embutido no contato tarifas de análise de viabilidade e de assessoria como também seguro não desejados, e excesso de execução de R$ 11.470,82. Ofereceu “em caução real o bem objeto da Cédula exequenda, uma vez que já está vinculado à ela como garantia hipotecária.” Dessa forma, requereu a “prorrogação do vencimento do contrato, bem como, de diminuição do saldo devedor”, a concessão do efeito suspensivo da execução, a tutela de urgência para a retirada da negativação que pesa sobre o seu nome; no mérito, pugnou pelo reconhecimento da inexigibilidade do título executivo, “DECLARANDO e DECRETANDO o direito de prorrogação em sentença final da lide”, além da nulidade da capitalização e da periodicidade dos juros, e do reconhecimento da ilegalidade das tarifas, do seguro, e do excesso de execução apontado. Atribuiu à causa o valor de R$ 11.470,82. Acostou documentos. Em razão da execução nº 0027170-05.2023.8.17.2810, os embargos foram distribuídos a este Juízo, que ordenou a emenda da petição inicial, tendo o embargante anexado documentos, visando a comprovação da alegada hipossuficiência econômica. Ao receber a petição inicial, este Juízo deferiu a gratuidade da Justiça, negou a tutela de urgência e o efeito suspensivo dos embargos, além de impulsionar o processo. Foram opostos embargos de declaração. Logo após, o embargado ofereceu reposta, impugnando os embargos e a Justiça gratuita, argumentou que não estão presentes os requisitos da tutela e urgência para a suspensão da execução, bem como argumentou pela higidez do contrato, pugnado pela improcedência do pleito do embargante. Juntou documentos. Seguiu-se a decisão que não acolheu os embargos de declaração, tendo o autor noticiado a interposição de agravo de instrumento. Intimadas as partes para a especificação das provas, o embargante disse que entende que o processo deveria ser saneado e que “não se opõe à realização de prova pericial, caso assim entenda necessário, para que o Sr. Perito Judicial ateste a ocorrência das irregularidades contratuais, adequando-os à Lei de Crédito Rural e possibilitando ao Embargante expurgar todos os excessos praticados”; já o embargado concordou com o julgamento antecipado. Este Juízo manteve a decisão agravada, depois, determinou a conclusão para a prolação da sentença, tendo o embargante solicitado o sobrestamento do feito até a decisão do agravo, que não teve o seu pedido de limiar apreciado. É o que de relevante havia para relatar. Decido. II – FUNDAMENTOS A Constituição Federal, dentre os direitos e garantias fundamentais, assegura a qualquer pessoa o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII). Os documentos acostados aos autos são o bastante para o julgamento do caso, não havendo que se falar na produção de perícia, mormente porque para apurar o valor que o embargante entende devido basta simples cálculo aritmético, especificamente, apontando os encargos não contratados ou ilícitos, além do valor que deveria ter sido abatido da dívida. O TJPE no julgamento da Apelação Cível nº 0049486-80.2021.8.17.2810, originária deste Juízo da 6ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes, decidiu que não constitui cerceamento de defesa quando o magistrado afasta o pedido de produção probatória, ante a convicção firmada diante do plexo fático-probatório contido nos autos, observe-se: “Argui a parte apelante preliminar de cerceamento de defesa, ante o indeferimento de produção de prova pericial contábil. No ponto, dispõe o Código de Processo Civil, in verbis: Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito. Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias. Pois bem. Sem necessidade de profundas digressões, registro que ao magistrado é dado afastar o pedido de produção probatória quando já houver convicção firmada diante do plexo fático-probatório contido nos autos, verificando-se o caso de diligências inúteis ou protelatórias, em avaliação a ser efetuada a seu critério”. (Segunda Câmara Cível do TJPE, Apelação Cível N. 0049486-80.2021.8.17.2810, Juízo de Origem: 6ª Vara Cível da Comarca de Jaboatão dos Guararapes, APELANTE: BANCO ITAU CONSIGNADO S/A, APELADA: MARIA DAS MERCES SANTOS DA SILVA, RELATOR: DESEMBARGADOR RUY TREZENA PATU JÚNIOR). Assim, em razão dos documentos anexados aos autos, indefiro a dilação probatória indicada pelo embargante, e considero que o processo comporta o julgamento antecipado do mérito, a teor do disposto no art. 355, I, CPC. Do mesmo modo, ausente a comprovação da garantia da execução, a decisão que indeferiu os efeitos suspensivo dos embargos deve ser mantida; e o sobrestamento da tramitação deste processo até a decisão no agravo de instrumento interposto pelo embargante não tem previsão legal. Assim, mantenho a decisão que indeferiu o efeito suspensivo e rejeito o sobrestamento do processo. Com relação à Justiça gratuita, no que diz respeito a pessoa física, o art. 99, § 2º, CPC, estabelece que o juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo antes determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos, e o § 3º diz que presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural. Todavia, o embargado ré não produziu prova em contrário, ou seja, que eliminasse a presunção de veracidade da declaração de hipossuficiência econômica. Dessa forma, rejeito a impugnação e mantendo o deferimento da Justiça gratuita ao embargante. Estabelecidas essas premissas, vale recordar que, segundo o STJ, “ao juiz cabe apreciar a questão de acordo com o que entender atinente à lide. Não está obrigado a julgá-la conforme o pleiteado pelas partes, mas sim com seu livre convencimento, usando fatos, provas, jurisprudência, aspectos atinentes ao tema e legislação que entender aplicáveis ao caso”. (AgRg no Recurso Especial Nº 902.242/RS (2006/0251682-4) Relator: Eliana Calmon, Dj 04.11.2008). Na hipótese vertente, tenho que o pleito autoral não merece prosperar. Veja-se. As cláusulas contratuais questionadas não se mostram abusivas, porque o fato de se tratar de contrato de adesão, por si só, não implica em abusividade das suas cláusulas. Como decidiu o TRF2: “o contrato de adesão não implica, necessariamente, a existência de cláusulas leoninas, devendo haver prova mínima da abusividade ou onerosidade excessiva. Mesmo nas relações de consumo, a aplicação do art. 6º, VIII, do CDC, não é automática, devendo-se verificar a existência da hipossuficiência do consumidor e a verossimilhança de suas alegações”. (Apelação nº 0000325-06.2010.4.02.5117, 8ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, Rel. Marcelo Pereira da Silva. j. 03.10.2016). Além do mais, “a condição de consumidor, por si só, não é suficiente para alterar o ônus probatório, motivo pelo qual impera a regra estabelecida no art. 373, I, do CPC, salvo em hipóteses de vulnerabilidade do consumidor quanto à produção probatória, o que não se verifica. De acordo com a distribuição ordinária do ônus da prova (art. 373 do CPC), cabe ao autor a comprovação dos fatos constitutivos de seu direito e, ao réu, a demonstração dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos” (Processo nº 07112774720178070020 (1121138), 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais/DF, Rel. Fabrício Fontoura Bezerra. j. 31.08.2018, DJe 10.09.2018). Observe-se o voto da Ministra Nancy Andrighi do STJ no REsp 1.120.113-SP, julgado em 15/02/2011: “embora haja o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo – art. 4º, I, do CDC – os direitos a ele conferidos pela legislação consumerista não são absolutos, razão pela qual sua aplicação deve ser analisada sempre com as vistas voltadas ao desejável equilíbrio da relação estabelecida entre o consumidor e o fornecedor. A proteção da boa-fé nas relações de consumo, portanto, não implica necessariamente favorecimento indiscriminado do consumidor, em detrimento de direitos igualmente outorgados ao fornecedor.” Nesse contexto, sabe-se que a imprevisão que autoriza a intervenção judicial na vontade das partes, que firmaram pacto, é somente aquela sem possibilidade de previsão na época da contratação, não configurando exemplo disso a alegada dificuldade financeira para pagamento das parcelas contratadas. Em verdade, não há nos autos qualquer elemento que autorize submeter o credor a receber o crédito da forma diversa daquela contratada, a teor do art. 313 do CC/02. Logo, nesse cenário, descabe ao Poder Judiciário impor repactuação do contrato entabulado entre as partes, mesmo porque dependeria de renegociação dos encargos contratuais. A respeito, veja-se o seguinte julgado: TRF4: AÇÃO REVISIONAL. CONTRATOS BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. DESEMPREGO SUPERVENIENTE. PRETENSÃO DE RENEGOCIAÇÃO/REVISÃO DO CONTRATO. TEORIA DA QUEBRA DA BASE OBJETIVA DO CONTRATO. ART. 6º, V, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 1. Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às instituições financeiras. Súmula 297 do STJ. O Superior Tribunal de Justiça fixou o entendimento pela aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor a pessoas jurídicas, desde que a empresa seja a destinatária final do bem ou serviço. 2. A inversão do ônus da prova, como mecanismo de facilitação de defesa, não é automática e subordina-se ao critério do juiz, quando for verossímil a alegação ou quando o postulante for hipossuficiente (art. 6º, VIII do CDC). 3. Tratando-se de contrato de adesão, não se admite a constituição de qualquer obrigação que recaia sobre o consumidor sem que haja expressa previsão contratual (Lei 8.078/90, art. 54, § 3º). 4. O Superior Tribunal de Justiça sumulou o tema, sob o número 381, deixando claro que, não obstante a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, "Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas". 5. O art. 6º, V, do CDC é aplicável quando fatos supervenientes atingem o valor das prestações, tornado-as excessivamente onerosas, e não quando fatos da vida do mutuário (por exemplo o endividamento, o desemprego, a doença superveniente) torna impossível pagar as parcelas pactuadas. 6. A mera alegação de dificuldades financeiras não tem o condão de elidir a inadimplência, tampouco enseja o direito de revisar as prestações inicialmente pactuadas (salvo comprovada abusividade), tendo em vista que a simples inobservância das cláusulas contratuais já enseja a rescisão contratual. Não há falar, pois, em quebra da base objetiva do contrato. (Apelação Cível nº 5000592-18.2017.4.04.7112, 4ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Sérgio Renato Tejada Garcia. j. 25.07.2018, unânime). Ainda sobre o tema em comento, o TJPE não reconheceu a simples revisão do contrato com base na alegação genérica dos efeitos da pandemia da Covid 19, como também que dificuldade financeira não é bastante para alterar as prestações contratuais: TJPE: EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. FINANCIAMENTO DE IMÓVEL. INADIMPLEMENTO. CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM FAVOR DO CREDOR FIDUCIÁRIO. REGULARIDADE. ALEGAÇÃO DE DIFICULDADES COM A PANDEMIA COVID-19. TEORIA DA IMPREVISÃO. NÃO CABIMENTO. PREVALÊNCIA DO PACTA SUNT SERVANDA. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. INAPLICÁVEL. SALDO DEVEDOR ELEVADO. SENTENÇA MANTIDA. - Caso concreto em que os apelantes deixaram de purgar tempestivamente a mora, ensejando a consolidação da propriedade do imóvel em favor do credor fiduciário, não sendo demonstrado qualquer vício no procedimento. - De acordo com o entendimento da Terceira Turma do STJ, após a consolidação da propriedade em favor do credor fiduciário, cabe tão somente ao devedor exercer o direito de preferência. - Eventuais situações de dificuldades financeiras não geram, por si só, o direito à flexibilização contratual, não possibilitando a alteração de cláusulas contratuais ou justificando o inadimplemento, restando inaplicável a Teoria da Imprevisão. - Consoante entendimento do STJ, para a aplicação da teoria do adimplemento substancial é necessário que o pagamento faltante seja ínfimo, o que não ocorre no caso dos autos, considerando o elevado saldo devedor à época do inadimplemento. - Recurso não provido. Unânime. - Majorados os honorários recursais de 10% (dez por cento) para 15% (quinze por cento), com ressalva do art. 98 do CPC. (Apelação Cível nº 0028737-42.2021.8.17.2810, originária da 6ª Vara Cível de Jaboatão dos Guararapes, Apelante: Jaqueline de Lima Marinho, Hélio Melo Lima Marinho, Apelado: Banco Santander (Brasil) S.A., Jaboatão Cartório do 1º Oficio, Relator: Desembargador Ruy Trezena Patu Júnior). Colhe-se do voto do eminente Relator Desembargador Ruy Trezena Patu Júnior: “Quanto à alegação de dificuldades financeiras em decorrência da pandemia COVID-19, afetando a renda do apelante, o que lhe impossibilitou o cumprimento do contrato e justificaria, em tese, a possibilidade de adimplemento de forma diversa da contratada e a flexibilização da lei, melhor sorte não lhe atende. Oportuno dizer que eventuais situações de dificuldades financeiras não geram, por si só, o direito à flexibilização contratual, não possibilitando a alteração de cláusulas contratuais ou justificando o inadimplemento, restando inaplicável a Teoria da Imprevisão” Com relação aos juros é pacífica a jurisprudência no sentido de que não há limitação, sendo, portanto, permitida a cobrança da taxa efetiva anual contratada, porquanto expressamente pactuada entre as partes, nos termos da Súmula nº 541 do STJ: "a previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada". Dito de outro modo: a jurisprudência do STJ é assente no sentido da liberdade, em geral, de contratação de juros remuneratórios em contratos bancários. Nessa esteira, a Segunda Seção do STJ consagrou a juridicidade dos juros no percentual avençado pelas partes, desde que não reste caracterizada a exorbitância do encargo. (AgRg no REsp nº 590.573/SC, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 25.05.2004). Nesse sentido: “APELAÇÃO. AÇÃO REVISIONAL. FINANCIAMENTO PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. JUROS REMUNERATÓRIOS. INEXISTÊNCIA DE LIMITE CONSTITUCIONAL. TAXA CONTRATUAL LIGEIRAMENTE SUPERIOR À TAXA MÉDIA DE MERCADO. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE. (...). A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade, a qual deve ser efetivamente demonstrada. Tratando-se de taxa ligeiramente superior à média de mercado, divulgada pelo Banco Central do Brasil, não há falar em abusividade (...)”. (Apelação nº 0159486-67.2004.8.05.0001, 3ª Câmara Cível/TJBA, Rel. Rosita Falcão de Almeida Maia. Publ. 09.10.2019). Ou seja, o entendimento majoritário é no sentido de que nos contratos celebrados com instituições financeiras, posteriormente à edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (31 de março de 2000), perenizada sob o nº 2.170-36/2001 pela EC 32/2001, conforme ocorre no caso em apreço, desde que pactuada, é permitida a prática de anatocismo; bem como é legítima a adoção, pelas instituições financeiras, de taxa de juros superiores a 12% (doze por cento) e capitalizados em lapso inferior a um ano. Observe-se: TRF3: “DIREITO CIVIL. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE. CERCEAMENTO DE DEFESA. INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ANATOCISMO/CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. 1. Improcede a alegação de cerceamento de defesa, decorrente do indeferimento de produção de prova pericial e de julgamento antecipado da lide, tendo em vista tratar-se de questão eminentemente de direito, na medida em que a solução da lide restringe-se à determinação de quais critérios devem ser aplicados na atualização do débito. 2. O colendo Superior Tribunal de Justiça colocou uma pá de cal sobre a questão da aplicabilidade dos dispositivos do código do consumerista aos contratos bancários e de financiamento em geral com edição da Súmula 297: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". 3. Relativamente aos contratos, uma vez convencionados os direitos e obrigações, ficam as partes ligadas pelo vínculo da vontade que as uniu. Este é o princípio da Força Obrigatória dos Contratos. Portanto, inexistindo nulidades, ilegalidades ou vício de vontade, as cláusulas impugnadas remanescem válidas. 4. As instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional têm expressa autorização para capitalizar os juros com periodicidade inferior a um ano, desde a edição da Medida Provisória 1.963-17, de 30 de março de 2000, culminando com a Medida Provisória de nº 2.170-36, de 23 de agosto de 2001. 5. O C. Superior Tribunal de Justiça já se manifestou sobre a questão, pacificando o entendimento sobre a possibilidade de haver capitalização de juros nos contratos bancários firmados por instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31 de março de 2000, por força do disposto na Medida Provisória nº 1.963-17/2000, atual MP nº 2.170-36/2001. Portanto, somente será nula a cláusula que venha a permitir a capitalização mensal dos juros nos contratos firmados antes de 31.03.2000. 6. Apelação não provida”. (Apelação Cível nº 0002267-50.2014.4.03.6105, 1ª Turma do TRF da 3ª Região, Rel. Wilson Zauhy. j. 27.06.2017, unânime, e-DJF3 10.07.2017). Quanto à periodicidade dos juros, o STJ tem o seguinte entendimento firmando na Súmula 539: é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP nº 1.963-17/2000, reeditada como MP nº 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada. Nos autos, a autora não demonstrou que a cobrança dos juros está em desacordo com a forma e a periodicidade estabelecida no contrato. A vulnerabilidade do sistema jurídico instituído pelo CDC não exime a parte autora de provar minimamente as alegações deduzidas em Juízo, a teor do disposto no art. 373, inciso I, CPC. No que concerne à tarifa de análise de viabilidade, ela é autorizada e regulada através de resolução do Bacen, e a jurisprudência reconhece a sua licitude: TJCE: APELAÇÃO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE REVISÃO CONTRATUAL. NO CASO, CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. EXAME PERMEADO DE PECULIARIDADES E DISTINTIVOS. NORMATIVIDADE ESPECÍFICA. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA. ASSEGURADA A APLICAÇÃO DO CÓDIGO CONSUMERISTA, SOB A REGÊNCIA DA TEORIA FINALISTA MITIGADA. IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS E REMUNERATÓRIOS DE ACORDO COM O PERMISSIVO JURISPRUDENCIAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL PACTUADA EXPRESSAMENTE. CORREÇÃO MONETÁRIA E MULTA MORATÓRIA SEM NECESSIDADE DE QUALQUER REPARAÇÃO. TARIFAS SOBRE OS SERVIÇOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA E DE ESTRUTURAÇÃO DE NEGÓCIOS AVALIZADAS PELO BACEN. INCONTÁVEIS PRECEDENTES DO COLENDO STJ. SENTENÇA IRREPREENSÍVEL. DESPROVIMENTO. 1. A COMPREENSÃO JURISPRUDENCIAL DO STJ É PACÍFICA AO AFIRMAR SER POSSÍVEL A INCIDÊNCIA DAS DISPOSIÇÕES DO CDC NOS CONTRATOS FIRMADOS ENTRE DUAS PESSOAS JURÍDICAS NOS CASOS EM QUE A ADQUIRENTE DO PRODUTO OU SERVIÇO FOR DESTINATÁRIA FINAL DO BEM. 2. ALÉM DISSO, MESMO NAS HIPÓTESES EM QUE A EMPRESA NÃO SE ENQUADRAR NO CONCEITO DE DESTINATÁRIA FINAL, PODE-SE APLICAR AS NORMAS CONSUMERISTAS AO NEGÓCIO CELEBRADO DESDE QUE FIQUE CARACTERIZADA A HIPOSSUFICIÊNCIA DA PARTE CONTRATANTE, SEJA TÉCNICA, JURÍDICA OU FINANCEIRA. É A APLICAÇÃO DA TEORIA FINALISTA MITIGADA. 3. IN CASU, A REVISÃO DE CLÁUSULA DE CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL DE MÚTUO CELEBRADO PARA INCREMENTO FIM DA ATIVIDADE-FIM POSSIBILITA ANTEVÊ A POSIÇÃO DE INFERIORIDADE DA CONTRATANTE EM FACE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E DA SUPREMACIA DESTA ANTE AQUELA, COM O RECONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE E DA ABUSIVIDADE DAS CLÁUSULAS. EM CONSEQUÊNCIA, A INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NÃO PODE SER ARREDADA ÀS CÉDULAS BANCÁRIAS COMERCIAIS ESTANDO CARACTERIZADA A RELAÇÃO DE CONSUMO. 4. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA: NADA OBSTANTE À POSSIBILIDADE DE COBRANÇA DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NOS CONTRATOS BANCÁRIOS EM GERAL, AS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL E INDUSTRIAL TÊM DISCIPLINA ESPECÍFICA NO DECRETO-LEI Nº 167/67 E NO DECRETO-LEI Nº 413/69. NO ART. 5º, PARÁGRAFO ÚNICO DL Nº 167/67 E NO ART. 5º, DL Nº 413/69 PREVEEM SOMENTE A COBRANÇA DE JUROS REMUNERATÓRIOS, MORATÓRIOS E MULTA CONTRATUAL NO CASO DE INADIMPLEMENTO. LOGO, INDEPENDENTE DE PACTUAÇÃO NO INSTRUMENTO CONTRATUAL, É INEXIGÍVEL A COMISSÃO DE PERMANÊNCIA NAS CÉDULAS RURAIS E INDUSTRIAIS. 5. TODAVIA, COMO SE EXTRAI DO DEMONSTRATIVO DE DÉBITO E DA CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL CONTIDA DOS AUTOS PRINCIPAIS, O CREDOR NÃO SE UTILIZOU DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA COMO FORMA DE ENCARGO DE INADIMPLEMENTO CUMULATIVAMENTE COM OUTROS ENCARGOS FINANCEIROS. E O EMBARGANTE-DEVEDOR NÃO COMPROVOU TENHA HAVIDO A EXAÇÃO DESSE ENCARGO, PELO QUE PREJUDICADO O JULGAMENTO. 6. JUROS MORATÓRIOS: A PROPÓSITO DO LIMITE DOS JUROS MORATÓRIOS, E NOS TERMOS DA NORMA DE REGÊNCIA E DA ITERATIVA JURISPRUDÊNCIA DO STJ CONSOANTE OS PRECEDENTES ORA COLACIONADOS, ÀS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL E INDUSTRIAL APLICA-SE O LIMITE PERCENTUAL DE 12% (DOZE POR CENTO) AO ANO. PORTANTO, NÃO SE APLICA O ENTENDIMENTO DA SÚMULA Nº 596/STF, SALVO SE HOUVER AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL PARA QUE O FINANCIADOR OPERE COM TAXAS SUPERIORES, CONFORME EXIGÊNCIA CONTIDA NO SISTEMA NORMATIVO ESPECÍFICO DE CADA CÉDULA. 7. TODAVIA, TENDO EM VISTA O DEMONSTRATIVO DE DÉBITO E DAS CLÁUSULAS CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL CONTIDA DOS AUTOS PRINCIPAIS, O CREDOR UTILIZOU, COMO FORMA DE ENCARGO DE INADIMPLEMENTO, JUROS DE MORA NO PATAMAR DE 12% A. A (DOZE POR CENTO AO ANO), FICANDO REJEITADO O ARGUMENTO NESSE SENTIDO E PREJUDICADA A DETERMINAÇÃO DE SE EXPURGAR OS POSSÍVEIS VALORES QUE EXCEDESSEM ESSE LIMITE. 8. JUROS REMUNERATÓRIOS: POR OUTRO LADO, QUANTO AOS JUROS REMUNERATÓRIOS, AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NÃO SE SUJEITAM À LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS ESTIPULADA NA LEI DE USURA (DECRETO 22.626/33) E NA SÚMULA 596/STF. VALE FRISAR QUE A ESTIPULAÇÃO DE JUROS REMUNERATÓRIOS SUPERIORES A 12% AO ANO, POR SI SÓ, NÃO INDICA ABUSIVIDADE, SENDO INAPLICÁVEIS AOS JUROS REMUNERATÓRIOS DOS CONTRATOS DE MÚTUO BANCÁRIO AS DISPOSIÇÕES DO ART. 591 C/C O ART. 406 DO CC/02. NA ESPÉCIE, OS JUROS REMUNERATÓRIOS PRATICADOS DE 8% AO ANO NÃO INDICAM ABUSIVIDADE OU ONEROSIDADE EXCESSIVA. 9. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS: REALMENTE, A JURISPRUDÊNCIA DO COLENDO STJ PERMITE A CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS NAS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL, INDUSTRIAL E COMERCIAL, DESDE QUE PACTUADA E CELEBRADOS A PARTIR DA EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.963-17/2000, REEDITADA SOB O Nº 2.170-36/2001, QUAL SEJA, 31.03.2000. NA ESPÉCIE, PELO TEOR DA CÉDULA, CONSTATO QUE AS PARTES PACTUARAM EXPRESSAMENTE A PERIODICIDADE MENSAL DOS JUROS, FICANDO REJEITADA A TESE DO EMBARGANTE. 10. JUROS DO FNE E DO FAT: TAMBÉM NÃO HÁ QUALQUER ILEGALIDADE NO PATAMAR DOS JUROS APLICADOS AOS RECURSOS, SEJA DO FNE SEJA DO FAT. NO MÚTUO, CONSOANTE CLÁUSULAS CONTRATUAIS ANALISADAS, NÃO FORAM UTILIZADOS RECURSOS DO FAT. E QUANTO AO FNE, OS JUROS OBEDECERAM AO ESTRITAMENTE A NORMA DE REGÊNCIA E AS CLÁUSULAS CELEBRADAS, NÃO HAVENDO, EM ÚLTIMA ANÁLISE, ONEROSIDADE EXCESSIVA. 11. CORREÇÃO MONETÁRIA: NADA A REPARAR. 12. MULTA MORATÓRIA: NO RESPEITANTE AO VALOR DA MULTA MORATÓRIA, ESTA DEVE SER LIMITADA A 2% (DOIS POR CENTO), NA INTELIGÊNCIA DO ART. 52, § 1º DA LEI Nº 8.078/90, PARA OS CONTRATOS CELEBRADOS APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 9.298/96, DE 01.08.96, POIS O CDC TAMBÉM SE APLICA ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS (SÚMULAS 285/STJ E 297/STJ). NO CASO CONCRETO, AS AVENÇAS FORAM CELEBRADAS APÓS A EDIÇÃO DA LEI 9.298/96, DAÍ PORQUE INCIDE A PREMISSA SUPRA. 13. TARIFAS SOBRE OS SERVIÇOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA E DE ESTRUTURAÇÃO DE NEGÓCIOS: AS TARIFAS SOBRE OS SERVIÇOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA E DE ESTRUTURAÇÃO DE NEGÓCIOS É AUTORIZADA E REGULADA PELA RESOLUÇÃO/BACEN Nº 4288/2013, DE 22.11.2013 (DOU 25.11.2013) E QUE DEFINEM A REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS PELOS SERVIÇOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS PROJETOS DE FINANCIAMENTOS CONTRATADAS COM RECURSOS DOS FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO DO CENTRO-OESTE (FCO), NORDESTE (FNE) E NORTE (FNO), NÃO SE REVESTEM DE ILEGALIDADE OU ABUSIVIDADE. 14. INCONTÁVEIS PRECEDENTES DO COLENDO STJ. 15. DESPROVIMENTO DO APELO, DE VEZ QUE A DECISÃO SINGULAR ESTÁ IRREPREENSÍVEL E, PORTANTO, DEVE SER MANTIDA EM TODOS OS SEUS TERMOS. (Apelação nº 0087278-24.2005.8.06.0001, 2ª Câmara de Direito Privado do TJCE, Rel. Francisco Darival Beserra Primo. DJe 04.06.2019). O que pertine à tarifa de assessoria, consistente na prestação de esclarecimentos técnicos e jurídicos acerca das cláusulas do contrato e das condições do negócio, no caso dos autos, a despeito do que determina o art. 373, I, CPC, o autor não demonstrou ter ele próprio realizado os procedimentos administrativos necessários para finalização do contrato, providenciando documentos e trâmites bancários/cartorários. Sendo assim, presume-se que tais atividades foram realizadas através de preposto do embargado, eis que indispensáveis para a análise de crédito, junto ao banco, e para obtenção do financiamento. De sorte, pelo contexto apresentado, não se mostra abusiva a cláusula que transferiu para o consumidor tal ônus, tampouco é excessivamente onerosa a quantia cobrada. Por fim, quanto ao seguro, tenho como válida a contratação. E, para melhor fundamentar, transcrevo os seguintes julgados: TJRS: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. SERVIÇOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO. FINANCIAMENTO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. SEGURO PRESTAMISTA. NEGATIVA DE CONTRATAÇÃO. PACTUAÇÃO DEMONSTRADA. VALIDADE DO CONTRATO. Cuida-se de ação por meio da qual reclama a parte autora a restituição, em dobro, de valor pago por seguro prestamista, ao argumento de que houve venda casada. - A sentença julgou improcedente o pedido, dela recorrendo a autora. - Pois bem. Com efeito, em se tratando de cédula de crédito bancário, cuja Lei de Regência nº 10.931/04 admite a exigência de contratação de seguro, consoante disposto no art. 36, torna-se desnecessária a comprovação da destinação do prêmio, como requisito de validade do ajuste. - Além disso, segundo a tese fixada nos Recursos Especiais repetitivos n. 1.639.320/SP e n. 1.639.259/SP - TEMA 972 - não se revela abusiva a cláusula que, em contrato celebrado a partir de 30/04/2008, permite ao consumidor optar, com nítida autonomia de vontade, pela contratação de seguro com a instituição financeira. - Ora, é de lembrar que o seguro é um benefício que é interessante, em princípio, para ambas as partes: para a instituição financeira, porque assegura o recebimento do valor do empréstimo; para o segurado, porque não onera seus herdeiros em caso do seu passamento. Nesse sentido: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE SEGURO PRESTAMISTA E RESIDENCIAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONSUMIDOR. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. SEGURO PRESTAMISTA. ALEGAÇÃO DE VENDA CASADA DE SEGURO E COBRANÇA INDEVIDA. SERVIÇO CONTRATADO. VÍCIO DE CONSENTIMENTO NÃO COMPROVADO. INEXISTÊNCIA DE DEVER DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES COBRADOS. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71007542186, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Alexandre de Souza Costa Pacheco, Julgado em 26/09/2018). - No caso concreto, não é possível aferir dos autos que a contratação do seguro tenha sido imposta ao consumidor, conforme se extrai da proposta acostada à fl. 55. - Para mais, também não restou demonstrado vício de consentimento, situação capaz de contaminar os negócios celebrados e com os quais anuiu. - Logo, correta a decisão que julgou improcedente o pedido. RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Recurso Cível, Nº 71009184805, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 27-05-2020). TJSC: “TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO E AVALIAÇÃO DO BEM. SERVIÇOS PRESTADOS EM VALOR NÃO EXCESSIVAMENTE ONEROSO. COBRANÇA ADMITIDA. RECURSO REPETITIVO RESP Nº 1.578.553/SP. TEMA 958. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA E TÍTULO DE CAPITALIZAÇÃO. CONTRATAÇÃO FACULTATIVA. NÃO ABUSIVIDADE. (...).”. (Apelação Cível nº 0302804-56.2018.8.24.0012, 4ª Câmara de Direito Comercial do TJSC, Rel. Janice Goulart Garcia Ubialli. j. 05.11.2019). TJRS: RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. COMPRA E VENDA DE MÁQUINA DE LAVAR E CELULAR. ALEGADA NULIDADE DE CONTRATAÇÃO DE SEGUROS E CARTÃO DE CRÉDITO. DOCUMENTOS ASSINADOS PELO AUTOR (...). AUSENTE PROVA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. FATO DE O AUTOR SER PESSOA HUMILDE NÃO O ISENTA DAS RESPONSABILIDADES DECORRENTES. AUTOR QUE ASSUMIU O RISCO AO FIRMAR DOCUMENTOS QUE SUPOSTAMENTE NÃO TINHA CONDIÇÕES DE DISCERNIR O CONTEÚDO. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DA RÉ PROVIDO. RECURSO DO AUTOR DESPROVIDO. (Recurso Cível, Nº 71009214776, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luis Antonio Behrensdorf Gomes da Silva, Julgado em: 23-04-2020). Não há nos autos prova que a autora foi coagida ou que a contratação do seguro que questiona na presente ação é abusiva, nem que ela foi realizada mediante de vício de consentimento. Ou seja, que o referido negócio jurídico apresenta algum vício de vontade. Registro, por oportuno, que, atualmente, exige-se das pessoas diligência em todas as negociações que realiza, sobretudo no que tange aos contratos que firma e ao contrair débitos. Em resumo, quanto ao alegado excesso de execução, ausente aprova do alegado, inexistindo cláusulas abusivas no contrato, não há como ser acolhido o pleito da parte autora. Dito de outro modo: são lícitos os encargos do contrato, e como não há nos autos prova de que a parte embargante foi coagida ou enganada a firmar o negócio questionado (art. 373, I, CPC), os seus argumentos não merecem guarida. Nesse sentido: "REPARAÇÃO DE DANOS. COBRANÇAS SUPOSTAMENTE INDEVIDAS. CONTRATO DE FINANCIAMENTO DEVIDAMENTE ASSINADO PELA PARTE AUTORA. ASSINATURA DE DOCUMENTOS EM BRANCO. DEVER DE PROVA DE QUE O PREENCHIMENTO FOI ABUSIVO QUE PESA SOBRE O AUTOR. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE VÍCIO DO CONSENTIMENTO. IMPROCEDENCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO" (TJRS. 3ª Turma Recursal. Recurso Cível n. 71005394895. Rel. Cleber Augusto Tonial. Julgado em 09/04/2015). “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C COM CANCELAMENTO DE REGISTROS E REPARAÇÃO POR DANO MORAL. COBRANÇA DE PEDÁGIO “SEM PARAR”. Tese autoral derruída pela prova documental inserta nos autos, a qual confirma de maneira inequívoca a adesão ao contrato. Documento assinado de próprio punho pelo irresignado, sem nenhum elemento que indicie vício de vontade ou outra mácula que inquine o pacto de nulidade. Sentença mantida. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO.” (Apelação Cível, Nº 70081848590, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mylene Maria Michel, Julgado em: 03-10-2019). Sobre o cumprimento dos negócios jurídicos, transcrevo a lição do TRF5: “respeitar os contatos é uma necessidade. Exige-o a segurança jurídica, tutelada inclusive na CF/88. O país sofre quando o Poder Judiciário intervém nos contratos. Há, com efeito, um desvalor nisso de negar o conteúdo pactuado, tornando imprevisíveis relações que demandam necessária estabilidade. Às vezes, reconheça-se, não há alternativa. Mas nunca o julgador deve partir de outra premissa que não seja esta: a manutenção prioritária do ajuste celebrado, somente excetuável em casos extremos”. (AC nº 0802192-61.2016.4.05.8300, 2ª Turma do TRF da 5ª Região, Rel. Paulo Roberto de Oliveira Lima. j. 28.03.2019, unânime). Diante desse quadro, reputo que há de ser acolhido o pedido autoral, por conseguinte, a improcedência se impõe. III – DISPOSITIVO Diante do exposto, e por tudo que dos autos consta, nos termos do art. 487, inciso I, segunda parte, CPC, JULGO IMPROCEDENTE o pleito autoral. Em observância ao princípio da causalidade, condeno o embargante ao pagamento das custas processuais, e em honorários advocatícios na base de 10% sobre o valor do proveito econômico almejado pela parte embargante (valor da causa cadastrado no PJe), com base no art. 85, § 2°, CPC. No entanto, fica suspensa a exigibilidade das verbas sucumbenciais, na forma do art. 98. § 3º, CPC. Oficie-se ao Relator do agravo de instrumento (id. 175165391 - Pág. 1), com cópia desta sentença, para conhecimento. Havendo recurso de apelação, certifique-se sobre a tempestividade e o preparo, em seguida, intime-se a parte recorrida para as contrarrazões em 15 dias. Da mesma forma, proceda-se, caso interposto recurso adesivo ou apresentada preliminar recursal. Decorrido tal prazo, com ou sem resposta, enviem-se os autos ao TJPE. Após o trânsito em julgado, certifique-se nos autos da ação de execução o desfecho dos embargos, e ausente requerimento, arquivem-se os presentes autos. P. R. I. CUMPRA-SE. Jaboatão dos Guararapes, 27/05/2025. José Carvalho de Aragão Neto, Juiz de Direito. JABOATÃO DOS GUARARAPES, 27 de maio de 2025. LUCIANO JOSE DA SILVA Diretoria das Varas Cíveis da Região Metropolitana e do Interior ATENÇÃO: PARA O DEVIDO RECOLHIMENTO DE CUSTAS FINAIS, A EMISSÃO DE DARJ DEVERÁ SER SOLICITADA POR MEIO DE PETIÇÃO NOS AUTOS. Obs.: O presente processo tramita de forma eletrônica através do sistema PJe. Independentemente de cadastro prévio, a parte/advogado poderá realizar consulta através do seguinte endereço eletrônico: https://pje.tjpe.jus.br/1g/ConsultaPublica/listView.seam Toda a tramitação desta ação deverá ser feita através do referido sistema, sendo necessário a utilização de Certificação Digital. As instruções para cadastramento e uso do sistema podem ser obtidas através do seguinte endereço na internet: http://www.tjpe.jus.br/web/processo-judicial-eletronico/cadastro-de-advogado A validade da assinatura deste documento poderá ser confirmada na página do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco: www.tjpe.jus.br – PJe-Processo Judicial Eletrônico – Consulta Documento [https://pje.tjpe.jus.br/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam], utilizando o número do documento (código de barras) abaixo identificado.

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Processo nº 1025529-78.2024.4.01.3304

ID: 276177119

Tribunal: TRF1 Órgão: Juizado Especial Cível e Criminal Adjunto à 2ª Vara Federal da SSJ de Feira de Santana-BA Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1025529-78.2024.4.01.3304

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARIO NOGUEIRA OLIVEIRA

Polo Passivo:

Sentença Tipo A

Advogados:

VICTOR CANARIO PENELU

OAB/BA XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL ADJUNTO À 2ª VARA FEDERAL DA SSJ DE FEIRA DE SANTANA - BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO Nº 1025529-78.2024.4.01.3304 CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ES… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL ADJUNTO À 2ª VARA FEDERAL DA SSJ DE FEIRA DE SANTANA - BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO Nº 1025529-78.2024.4.01.3304 CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) ASSISTENTE: MARIO NOGUEIRA OLIVEIRA TESTEMUNHA: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL SENTENÇA Trata-se de ação previdenciária movida contra o INSS, por meio da qual objetiva a concessão de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição 200.285.616-2, DER 17.05.2024, com reconhecimento de tempo especial por desempenhar atividades nas quais estava exposto a fatores de risco que ensejam a percepção do benefício, segundo regras de transição do art. 17 da Emenda Constitucional n. 103/2019. DECIDO. De início, rejeito a preliminar de ausência de interesse de agir. Segundo o processo administrativo adunado ao feito, embora não tenha sido indicado no requerimento a existência de período de tempo especial, houve a comprovação documental cabível e efetiva análise da prova e do pedido, conforme indeferimento fundamentado (id. 2156148538, pag. 181). Logo, está comprovada a resistência à pretensão. Prossigo. A aposentadoria especial é devida ao segurado que tiver trabalhado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, desde que atendidas as exigências contidas nos artigos 57 e 58, da lei 8.213/91. Já para a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição deve preencher os seguintes requisitos, nos termos do art. 201, § 7º, da Constituição Federal c/c art. 25, II, da Lei 8.213/91, são: 35 (trinta) anos de contribuição, se homem, e 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, sendo necessário, ainda, o cumprimento do período de carência, em qualquer hipótese, de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais. A comprovação do tempo trabalhado em condições especiais se dá de acordo com a legislação em vigor à época do exercício da atividade laboral, conforme pacífico entendimento jurisprudencial, acolhido pelo art. 1º do Decreto 4.827/2003, que modificou o art. 70, § 1º, do Decreto 3.048/99, dispondo a partir de então que “A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do serviço”. Dessa forma, torna-se necessário fazer um breve retrospecto dessa legislação. Até a data da publicação da Lei 9.032/95, 28/04/1995, que modificou a redação do art. 57, e seus parágrafos, da Lei 8.213/91, a prova da exposição do segurado aos agentes nocivos era feita, via de regra, mediante o simples enquadramento da profissão por ele exercida dentre as categorias profissionais relacionadas nos anexos dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, ou seja, profissões sujeitas a tais agentes, ou mediante a apresentação de documento idôneo, como o formulário SB-40, subscrito pela empresa empregadora, comprovando a sujeição do segurado aos agentes nocivos nessas normas regulamentares listados. Quanto à exigência do laudo técnico pericial, foi introduzida pela Medida Provisória 1.523-10, de 11/10/1996, posteriormente convertida na Lei 9.528/97, e que modificou o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91, passando essa lei a dispor que a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Como exceção, tem-se a prova da exposição do trabalhador ao ruído e calor, para a qual sempre foi exigido o laudo técnico pericial. Note-se que o Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento segundo o qual, em verdade, o laudo técnico só é exigido, para fins de comprovação da exposição do segurado a agentes nocivos, após a publicação do Decreto 2.172, ocorrida em 05/03/97, que regulamentou a MP 1.523-10 (cf., dentre outros, AgReg. no Resp. 518.554/PR, 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 24/11/2003), salvo, repita-se, em relação aos agentes ruído e calor. A partir dessa data, portanto, a comprovação da exposição a agentes nocivos é feita mediante apresentação do formulário DSS 8.030, que substituiu o formulário SB-40, e o respectivo laudo técnico. Em 03/05/2001, contudo, a Instrução Normativa 42/01, do INSS, substituiu a apresentação do formulário DSS-8.030 pelo formulário DIRBEN 8.030, o qual, por seu turno, foi substituído, pela Instrução Normativa 78/02, pelo PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário. Já a Instrução Normativa 84/02 determinou que o PPP seria exigido a partir de 30/06/2003 e que, até essa data, a comprovação do exercício de atividade especial poderá ser comprovada mediante a apresentação dos formulários SB-40, DISES BE5235, DSS-8.030 e DIRBEN 8.030. Ainda com relação à comprovação da exposição a agentes nocivos, estabelece o INSS a obrigatoriedade de constar nos citados formulários informação a respeito do uso efetivo de equipamento de proteção individual – EPI – por parte do trabalhador. Nesse ponto, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do ARE664.355/SC, em 04/12/2014, julgado sob a sistemática de repercussão geral (art. 543-B do CPC), firmou entendimento de que, à exceção do ruído, estará descaracterizada a condição especial de trabalho na hipótese em que o EPI seja capaz de neutralizar a insalubridade decorrente do agente agressivo à saúde do trabalhador, senão vejamos: (...) O direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à concessão de aposentadoria especial. Ademais — no que se refere a EPI destinado a proteção contra ruído —, na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposentadoria. (...) (Informativo nº 770 do STF[1]). Outro ponto relevante a ser enfrentado refere-se à possibilidade de conversão do tempo trabalhado em condições especiais em tempo comum, a fim de ser somado a outros períodos de trabalho, para concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Essa conversão se dá de acordo com a tabela seguinte, constante do art. 70 Decreto 3.048/99, na redação dada pelo Decreto 4.827/2003: TEMPO A CONVERTER MULTIPLICADORES MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35) DE 15 ANOS 2,00 2,33 DE 20 ANOS 1,50 1,75 DE 25 ANOS 1,20 1,40 A reforma da previdência promovida pela Emenda Constitucional 103/19, promulgada em 13/11/2019, implicou diversas alterações no cenário das aposentadorias voluntárias no âmbito do Regime Geral de Previdência. No tocante à aposentadoria por idade e tempo de contribuição (benefício único com requisitos etário e contributivo), o art. 201, §7º, inciso I, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 103/2019, estabeleceu que devem ser observadas as seguintes condições para fins de concessão do benefício: 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição. O art. 19 da EC 103/19, por sua vez, previu que “Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20 (vinte) anos de tempo de contribuição, se homem”. Essas novas regras aplicam-se ao trabalhador urbano que se filiar ao RGPS após a promulgação da EC 103/19. Os indivíduos que já possuíam direito adquirido poderão continuar se valendo das regras antigas, se tiverem preenchido todos os requisitos para a aposentadoria até o dia 13/11/2019, pois a legislação previdenciária possui aplicação imediata (tempus regit actum). Para quem já estava filiado ao regime em novembro de 2019 e estava perto de obter a aposentadoria por idade ou por tempo de contribuição sob a regra antiga, a EC 103/19 trouxe algumas regras de transição para proteger a expectativa desse segurado. Vejamos: Art. 15. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria quando forem preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86 (oitenta e seis) pontos, se mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o disposto nos §§ 1º e 2º. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso II do caput será acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher, e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem. § 2º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se referem o inciso II do caput e o § 1º. § 3º Para o professor que comprovar exclusivamente 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, se mulher, e 30 (trinta) anos de contribuição, se homem, em efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, o somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, será equivalente a 81 (oitenta e um) pontos, se mulher, e 91 (noventa e um) pontos, se homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92 (noventa e dois) pontos, se mulher, e 100 (cem) pontos, se homem. § 4º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei. Art. 16. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - idade de 56 (cinquenta e seis) anos, se mulher, e 61 (sessenta e um) anos, se homem. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade a que se refere o inciso II do caput será acrescida de 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem. § 2º Para o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, o tempo de contribuição e a idade de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo serão reduzidos em 5 (cinco) anos, sendo, a partir de 1º de janeiro de 2020, acrescidos 6 (seis) meses, a cada ano, às idades previstas no inciso II do caput, até atingirem 57 (cinquenta e sete) anos, se mulher, e 60 (sessenta) anos, se homem. § 3º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei. Art. 17. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional e que na referida data contar com mais de 28 (vinte e oito) anos de contribuição, se mulher, e 33 (trinta e três) anos de contribuição, se homem, fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - cumprimento de período adicional correspondente a 50% (cinquenta por cento) do tempo que, na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, faltaria para atingir 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem. Parágrafo único. O benefício concedido nos termos deste artigo terá seu valor apurado de acordo com a média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações calculada na forma da lei, multiplicada pelo fator previdenciário, calculado na forma do disposto nos §§ 7º a 9º do art. 29 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Art. 18. O segurado de que trata o inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem; e II - 15 (quinze) anos de contribuição, para ambos os sexos. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. Art. 20. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem; II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; III - para os servidores públicos, 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se der a aposentadoria; IV - período adicional de contribuição correspondente ao tempo que, na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, faltaria para atingir o tempo mínimo de contribuição referido no inciso II. § 1º Para o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio serão reduzidos, para ambos os sexos, os requisitos de idade e de tempo de contribuição em 5 (cinco) anos. § 2º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo corresponderá: I - em relação ao servidor público que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003 e que não tenha feito a opção de que trata o § 16 do art. 40 da Constituição Federal, à totalidade da remuneração no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, observado o disposto no § 8º do art. 4º; e II - em relação aos demais servidores públicos e aos segurados do Regime Geral de Previdência Social, ao valor apurado na forma da lei. § 3º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo não será inferior ao valor a que se refere o § 2º do art. 201 da Constituição Federal e será reajustado: I - de acordo com o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, se cumpridos os requisitos previstos no inciso I do § 2º; II - nos termos estabelecidos para o Regime Geral de Previdência Social, na hipótese prevista no inciso II do § 2º. § 4º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. Houve também mudança no cenário das aposentadorias especiais, passando-se a exigir o requisito etário, que varia conforme o tempo de contribuição exigido. Confira-se o art. 19 da EC 103/19: Art. 19. (...) § 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida aposentadoria: I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos: a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição; A aposentadoria especial também possui regra de transição. Quem já era filiado poderá se aposentar pela sistemática dos pontos: a soma da idade e do tempo de contribuição deverá ser de 66, 76 e 86, respectivamente, para as exposições sujeitas a 15, 20 ou 25 anos. Isso representa, na prática, uma idade mínima de 51, 56 e 61 anos de idade, ao invés dos 55, 58 e 60 da regra permanente. Confira-se o teor do art. 21 da EC 103/2019: Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. É importante, ainda, destacar que os períodos especiais trabalhados até 12/11/2019 poderão ser convertidos em tempo comum (com multiplicador) para serem aproveitados na concessão de aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição. Por outro lado, os períodos especiais laborados após a EC 103/19 não poderão ser convertidos em tempo comum, conforme expressa vedação do art. 201, §14, da CF/88 e do art. 25, §2º, da EC 103/19, in verbis: CF/88: Art. 201, § 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) EC 103/19: Art. 25, § 2º Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data. Solvidas as principais questões que norteiam a análise do pedido da parte autora, passo à apreciação do caso concreto. Segundo PPP adunado ao id. 2147866092, há indicação de exposição a agentes nocivos tolueno, xileno, benzeno, etanol entre 02.01.1996 a 31.12.2022, na função de FRENTISTA E CHEFE DE PISTA, na empresa REDE HG COMBSTIVEIS LTDA, POSTO PARQUE DOS COQUEIROS (PPP id. 2147866092). O caráter especial da atividade de "frentista" decorre da exposição do segurado a hidrocarbonetos derivados do petróleo (óleo diesel, gasolina, álcool, lubrificantes), o que subsume a atividade à previsão contida no art. 2º, subitem 1.2.11 do Decreto n. 53.831, de 25 de março de 1964, em vigor até 05/03/1997. Destaco que a Jurisprudência dispensa a comprovação por meio de laudo técnico antes da Lei 9.032/95 para a atividade de frentista, ante a notória exposição do abastecedor de tanque de combustível a vapores e gazes de álcool e gasolina agentes nocivos à saúde. Ademais, a teor da súmula 212 do STF, aquele que presta o serviço como “frentista” em posto de revenda de combustível tem direito ao adicional de serviço perigoso. Outrossim, a norma legal (NR 16, Anexo 2, Quadro 3, item m) também assegura aos trabalhadores, nas operações em postos de serviço e bombas de abastecimento de inflamáveis líquidos, o direito ao referido adicional. O agente nocivo benzeno, hidrocarboneto aromático ao qual a parte autora é exposta, é reconhecidamente agente cancerígeno (CAS 000071-43-2) e não se sujeita a limite de tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar sua exposição, como reconhecido pelo INSS e pelo MTE na própria portaria interministerial que publicou a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos. Segundo jurisprudência do TRF 1ªRegião: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. BENZENO. AGENTE COMPROVADAMENTE CANCERÍGENO. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. AUSÊNCIA DE PROTEÇÃO CAPAZ DE NEUTRALIZAR O AGENTE NOCIVO. ENGENHEIRO DE METALURGIA. RUÍDO. LIMITES DE TOLERÂNCIA. MÉDIA. EPI. EXIGÊNCIA DO LAUDO TÉCNICO. NÃO PROVIMENTO. 1. A aposentadoria especial é devida ao segurado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, conforme dispuser a lei (Lei 8.213/91, art. 57, caput). 2. A caracterização do tempo de serviço especial obedece à legislação vigente à época de sua efetiva prestação. Precedentes do STJ: REsp 1401619/RS; AgRg no REsp 1381406/SP. 3. Até a Lei 9.032/95 bastava ao segurado comprovar o exercício de profissão enquadrada como atividade especial para a conversão de tempo de serviço. Após sua vigência, mostra-se necessária a comprovação de que a atividade laboral tenha se dado sob a exposição habitual e permanente a agentes nocivos (Precedentes do STJ: REsp 1369269/PR; AgRg no AREsp 569400/RJ). 5. O benzeno é agente nocivo previsto nos anexos dos Decretos 53.831/64, item 1.2.11; 83.080/79, item 1.2.10; 2.172/97 e 3.048/99, item 1.0.3. A NR 15 estabelece que a insalubridade ao benzeno será constatada independentemente de concentração ou limite de tolerância, ou seja, por mera avaliação de sua presença no ambiente de trabalho – item 15.1.3, Anexo 13 e Anexo 13-A. 6. A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição a ser apurada na forma dos §§ 2o e 3o, de agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do trabalhador (Decreto 3.048/99, art. 68, § 4º, com redação dada pelo Decreto 8.123/13). 7. Para caracterização de períodos com exposição aos agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos listados na Portaria Interministerial 9, de 07 de outubro de 2014, Grupo 1 que possuem CAS e que estejam listados no Anexo IV do Decreto 3.048, de 1999, será adotado o critério qualitativo, não sendo considerados na avaliação os equipamentos de proteção coletiva e ou individual, uma vez que os mesmos não são suficientes para elidir a exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da FUNDACENTRO, de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4º do art. 68 do Decreto 3.048, de 1999 (IN/INSS 77, de 21/01/2015). 8. O engenheiro de metalurgia tem direito ao enquadramento de sua atividade como especial até 28/04/1995 (Código 2.1.1 do Quadro Anexo do Decreto nº 53.831/64 e do Decreto 83.080/79). 9. Para caracterização da aposentadoria especial por exposição ao agente ruído, os limites observam a seguinte cronologia: atividades desempenhadas até 05/03/1997 (vigência do Decreto 53.831/64), 80 dB; atividades desempenhadas de 06/03/1997 a 18/11/2003 (vigência dos Decretos 2.172/97 e 3.048/99), tolerância de 90 dB; por fim, atividades desempenhadas a partir de 19/11/2003 (vigência do Decreto 4.882/03), tolerância de 85 dB. Precedentes do STJ: REsp 1398260/PR; Pet. 9.059/RS. 10. O trabalhador submetido a ruídos cuja média supera os níveis fixados em regulamento tem direito ao reconhecimento do tempo de serviço especial (TRF 1ª Região: AC 0002267-56.2009.4.01.3300 / BA; AC 0000135-83.2006.4.01.3800 / MG). 11. A declaração de eficácia do Equipamento de Proteção Individual – EPI feita no Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria especial referente ao ruído (STF, ARE nº 664.335/SC). 12. A exposição do trabalhador ao agente nocivo ruído sempre exigiu prova mediante laudo técnico, pois demanda medição de seu nível com metodologia adequada. A apresentação do PPP, em regra, dispensa o fornecimento do laudo, pois aquele é previsto em lei para conter todas as informações essenciais deste. 13. O segurado trabalhou enquadrado na categoria profissional de engenheiro de metalurgia (Gerdau Açominas) nos períodos de 24/08/1981 a 22/09/1985 e de 01/01/1992 a 30/04/1994, conforme confirmado pela perícia judicial realizada nas dependências da empresa (f. 368, 376, 382). No período de 01/10/2002 a 03/12/2007, o laborou no setor de carboquímicos desta empresa, exposto a benzeno de forma habitual e permanente, conforme informações prestadas por engenheiro de segurança do trabalho (f. 334) associadas ao PPP (f. 139). O fato de o pagamento da GFIP correspondente ao trabalho insalubre só ter começado em 2004 não elide o reconhecimento do período especial anterior, pois a responsabilidade tributária pelo recolhimento das contribuições é do empregador. Por último, o segurado trabalhou exposto a ruídos médios acima do limite de tolerância no período de 29/04/1995 a 30/09/2002, além dos períodos supramencionados (níveis superiores a 90 dB, PPP f. 133/141). Importa ressaltar que a perícia judicial confirmou que a exposição a ruído era habitual e permanente, porque o escritório de laminação ficava no próprio setor de laminação, sendo que o tempo de trabalho do segurado dividido em 50% no escritório e 50% na área de produção (quesitos 2 e 4 f. 376, quesitos 4, 5 e 9 f. 377 e f. 382). 14. Não provimento da apelação do INSS e da remessa. APELAÇÃO CIVEL 0014944-10.2008.4.01.3800/MG, DJE 05.09.2017, Relator Convocado JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE FRANCO. (grifei) Somando-se o tempo comum e especial ora reconhecido, na DER (17.05.2024) aufere-se o total de 40 anos e 11 dias de tempo de serviço, idade de 58 anos, 8 meses e 5 dias e 98.7111 pontos, suficiente à concessão do benefício segundo art. 17 das regras de transição da EC 103/19. O cálculo do benefício deve ser feito conforme art. 17, parágrafo único, da mesma Emenda Constitucional ("média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações calculada na forma da lei, multiplicada pelo fator previdenciário, calculado na forma do disposto nos §§ 7º a 9º do art. 29 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991"). Por fim, sobre a possibilidade de concessão de aposentadoria especial, tendo permanecido o trabalhador em atividade, o assunto foi decido com o julgamento do RE 791961, que resultou a fixação de tese para ao TEMA 709: i) "É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou a aposentação precoce ou não". ii) "Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros. Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial a implantação do benefício, uma vez verificado o retorno ao labor nocivo ou sua continuidade, cessará o benefício previdenciário em questão". Logo, fixo a DIB em 17.05.2024 (DER), deixando porém de conceder a antecipação de tutela, tendo em vista o quanto acima explicitado, nos termos do §8º, art.57, Lei 8.213/91, para a qual deve atentar a parte autora. CONTAGEM DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO TEMPO DE SERVIÇO COMUM (com conversões) Data de Nascimento 12/09/1965 Sexo Masculino DER 17/05/2024 Nº Nome / Anotações Início Fim Fator Tempo Carência 1 ATP CONSTRUTORA LTDA (AVRC-DEF) 22/07/1993 30/08/1995 1.00 2 anos, 1 mês e 9 dias 26 2 REDE HG COMBUSTIVEIS LTDA (AEXT-VT IREM-ACD IREM-INDPEND IVIN-JORN-DIFERENCIADA) 02/01/1996 31/08/2024 1.40 Especial 28 anos, 7 meses e 29 dias + 9 anos, 6 meses e 16 dias = 38 anos, 2 meses e 15 dias Período especial após EC nº 103/19 não convertido Período parcialmente posterior à DER 344 3 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND PREC-MENOR-MIN) 01/10/2006 30/09/2008 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 4 31 - AUXILIO DOENCA PREVIDENCIARIO (NB 6057175933) 02/04/2014 30/05/2014 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 Marco Temporal Tempo de contribuição Carência Idade Pontos (Lei 13.183/2015) Até a data da EC nº 20/98 (16/12/1998) 6 anos, 3 meses e 5 dias 62 33 anos, 3 meses e 4 dias inaplicável Pedágio (EC 20/98) 9 anos, 5 meses e 28 dias Até a data da Lei 9.876/99 (28/11/1999) 7 anos, 6 meses e 29 dias 73 34 anos, 2 meses e 16 dias inaplicável Até a data da Reforma - EC nº 103/19 (13/11/2019) 35 anos, 6 meses e 7 dias 313 54 anos, 2 meses e 1 dias 89.6889 Até 31/12/2019 35 anos, 7 meses e 24 dias 314 54 anos, 3 meses e 18 dias 89.9500 Até 31/12/2020 36 anos, 7 meses e 24 dias 326 55 anos, 3 meses e 18 dias 91.9500 Até 31/12/2021 37 anos, 7 meses e 24 dias 338 56 anos, 3 meses e 18 dias 93.9500 Até Lei nº 14.331/2022 (04/05/2022) 37 anos, 11 meses e 28 dias 343 56 anos, 7 meses e 22 dias 94.6389 Até 31/12/2022 38 anos, 7 meses e 24 dias 350 57 anos, 3 meses e 18 dias 95.9500 Até 31/12/2023 39 anos, 7 meses e 24 dias 362 58 anos, 3 meses e 18 dias 97.9500 Até a DER (17/05/2024) 40 anos, 0 meses e 11 dias 367 58 anos, 8 meses e 5 dias 98.7111 DISPOSITIVO Diante do exposto, com arrimo no art. 487, inciso I, do CPC, julgo procedente o pedido, resolvendo o mérito, para condenar o INSS a a) averbar o período de 02.01.1996 a 12.11.2019 (EC 103.2019) como atividade especial (1,4), nos termos da fundamentação supra; b) conceder o benefício de aposentadoria por contribuição (art.17, EC 103.2019) em favor da parte autora, com DIB em 17.05.2024, DIP em 01.06.2025; c) condenar o INSS ao pagamento das parcelas vencidas e vincendas desde a data do início do benefício (DIB), acrescidas de correção monetária desde a data do vencimento de cada parcela, e de juros moratórios, desde a data da citação, tudo de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Referida quantia deverá ser atualizada nos termos acima expostos até a data da expedição da requisição de pequeno valor. A correção monetária sobre as parcelas atrasadas deve incidir desde o vencimento de cada parcela. Os juros de mora são devidos a contar da citação (Súmula n. 204/STJ). Em ambos os casos, deve-se observar os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal. Referida quantia deverá ser atualizada nos termos acima expostos até a data da expedição da requisição de pequeno valor. Registro que a alteração dos parâmetros e adoção do Manual de cálculos por esse juízo para alcance do valor devido permitirá maior celeridade na definição dos valores retroativos e, consequentemente, na fase de cumprimento de sentença, possibilitando uma prestação mais eficiente para o jurisdicionado. Por conseguinte, julgo extinto o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I do Código de Processo Civil. Defiro os benefícios da assistência judiciária gratuita. Sem custas e honorários de advogado (Lei nº 10.259/01, art. 1º c/c art. 55, primeira parte, da Lei nº 9.099/95). Intime-se a parte autora para que informe se recebe benefício de aposentadoria ou pensão de Regime Próprio de Previdência Social, considerando-se a sua omissão como declaração de que a mesma não é beneficiária de aposentadoria/provento ou pensão por morte do RPPS ou decorrente(s) de atividades militares. Em caso de acumulação, deverá a parte autora apresentar declaração, anexando documentação comprobatória dos dados informados. Indefiro, desde já, eventuais petições da autarquia federal que reiterem o pedido de intimação sobre a acumulação de benefícios, tendo em vista que restaram apreciados nesta sentença. Havendo interposição de recurso inominado pela parte interessada, intime-se a parte contrária para, querendo, ofertar contrarrazões. Decorrido o prazo de lei, remetam-se os autos à Turma Recursal, com as cautelas de praxe. Uma vez cumpridos os pagamentos decorrentes das RPV’s, arquive-se o processo, com baixa na distribuição, observadas as formalidades legais Intimem-se. Sentença registrada eletronicamente. Feira de Santana/BA, data da assinatura. Juíza Federal Titular/Juiz Federal Substituto (Magistrado(a) identificado pela assinatura digital constante do rodapé da página)

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Processo nº 1043918-26.2024.4.01.3300

ID: 276225760

Tribunal: TRF1 Órgão: Juizado Especial Cível e Criminal Adjunto à 2ª Vara Federal da SSJ de Feira de Santana-BA Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CíVEL Nº Processo: 1043918-26.2024.4.01.3300

Data de Disponibilização: 22/05/2025

Polo Ativo:

MARCIO OLIVEIRA DOS ANJOS

Polo Passivo:

Sentença Tipo A

Advogados:

THAIS DE FARO TELES ROSEIRA BORGES

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AMANDA CATARINE VALENCA SANTA ROSA NUNES

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PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL ADJUNTO À 2ª VARA FEDERAL DA SSJ DE FEIRA DE SANTANA - BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO Nº 1043918-26.2024.4.01.3300 CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ES… PODER JUDICIÁRIO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL ADJUNTO À 2ª VARA FEDERAL DA SSJ DE FEIRA DE SANTANA - BA SENTENÇA TIPO "A" PROCESSO Nº 1043918-26.2024.4.01.3300 CLASSE: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL (436) AUTOR: MARCIO OLIVEIRA DOS ANJOS REU: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS SENTENÇA Trata-se de ação previdenciária movida contra o INSS, por meio da qual objetiva a concessão de benefício de aposentadoria por tempo de contribuição 222.972.500-3, DER 20.02.2024 (última DER), com reconhecimento de tempo especial por desempenhar atividades nas quais estava exposto a fatores de risco que ensejam a percepção do benefício, segundo regras de transição da Emenda Constitucional n. 103/2019. Inicialmente, cabe esclarecer que este Juízo entende que a parte, por ter se quedado inerte quando do indeferimento de benefício anterior, formulando novo requerimento posteriormente, ao invés de submeter o caso indeferido à apreciação judicial, tacitamente anuiu com a decisão do INSS. Com base nesse mesmo entendimento, nas ações que tramitam neste juízo a DIB é fixada na última DER, e não na data de cessação de benefícios anteriores. DECIDO. A aposentadoria especial é devida ao segurado que tiver trabalhado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, desde que atendidas as exigências contidas nos artigos 57 e 58, da lei 8.213/91. Já para a concessão do benefício de aposentadoria por tempo de contribuição deve preencher os seguintes requisitos, nos termos do art. 201, § 7º, da Constituição Federal c/c art. 25, II, da Lei 8.213/91, são: 35 (trinta) anos de contribuição, se homem, e 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, sendo necessário, ainda, o cumprimento do período de carência, em qualquer hipótese, de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais. A comprovação do tempo trabalhado em condições especiais se dá de acordo com a legislação em vigor à época do exercício da atividade laboral, conforme pacífico entendimento jurisprudencial, acolhido pelo art. 1º do Decreto 4.827/2003, que modificou o art. 70, § 1º, do Decreto 3.048/99, dispondo a partir de então que “A caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em vigor na época da prestação do serviço”. Dessa forma, torna-se necessário fazer um breve retrospecto dessa legislação. Até a data da publicação da Lei 9.032/95, 28/04/1995, que modificou a redação do art. 57, e seus parágrafos, da Lei 8.213/91, a prova da exposição do segurado aos agentes nocivos era feita, via de regra, mediante o simples enquadramento da profissão por ele exercida dentre as categorias profissionais relacionadas nos anexos dos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, ou seja, profissões sujeitas a tais agentes, ou mediante a apresentação de documento idôneo, como o formulário SB-40, subscrito pela empresa empregadora, comprovando a sujeição do segurado aos agentes nocivos nessas normas regulamentares listados. Quanto à exigência do laudo técnico pericial, foi introduzida pela Medida Provisória 1.523-10, de 11/10/1996, posteriormente convertida na Lei 9.528/97, e que modificou o § 1º do art. 58 da Lei 8.213/91, passando essa lei a dispor que a comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita mediante formulário emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Como exceção, tem-se a prova da exposição do trabalhador ao ruído e calor, para a qual sempre foi exigido o laudo técnico pericial. Note-se que o Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento segundo o qual, em verdade, o laudo técnico só é exigido, para fins de comprovação da exposição do segurado a agentes nocivos, após a publicação do Decreto 2.172, ocorrida em 05/03/97, que regulamentou a MP 1.523-10 (cf., dentre outros, AgReg. no Resp. 518.554/PR, 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJ de 24/11/2003), salvo, repita-se, em relação aos agentes ruído e calor. A partir dessa data, portanto, a comprovação da exposição a agentes nocivos é feita mediante apresentação do formulário DSS 8.030, que substituiu o formulário SB-40, e o respectivo laudo técnico. Em 03/05/2001, contudo, a Instrução Normativa 42/01, do INSS, substituiu a apresentação do formulário DSS-8.030 pelo formulário DIRBEN 8.030, o qual, por seu turno, foi substituído, pela Instrução Normativa 78/02, pelo PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário. Já a Instrução Normativa 84/02 determinou que o PPP seria exigido a partir de 30/06/2003 e que, até essa data, a comprovação do exercício de atividade especial poderá ser comprovada mediante a apresentação dos formulários SB-40, DISES BE5235, DSS-8.030 e DIRBEN 8.030. Ainda com relação à comprovação da exposição a agentes nocivos, estabelece o INSS a obrigatoriedade de constar nos citados formulários informação a respeito do uso efetivo de equipamento de proteção individual – EPI – por parte do trabalhador. Nesse ponto, o Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do ARE664.355/SC, em 04/12/2014, julgado sob a sistemática de repercussão geral (art. 543-B do CPC), firmou entendimento de que, à exceção do ruído, estará descaracterizada a condição especial de trabalho na hipótese em que o EPI seja capaz de neutralizar a insalubridade decorrente do agente agressivo à saúde do trabalhador, senão vejamos: (...) O direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo à sua saúde, de modo que, se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à concessão de aposentadoria especial. Ademais — no que se refere a EPI destinado a proteção contra ruído —, na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador, no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do EPI, não descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposentadoria. (...) (Informativo nº 770 do STF[1]). Outro ponto relevante a ser enfrentado refere-se à possibilidade de conversão do tempo trabalhado em condições especiais em tempo comum, a fim de ser somado a outros períodos de trabalho, para concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Essa conversão se dá de acordo com a tabela seguinte, constante do art. 70 Decreto 3.048/99, na redação dada pelo Decreto 4.827/2003: TEMPO A CONVERTER MULTIPLICADORES MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35) DE 15 ANOS 2,00 2,33 DE 20 ANOS 1,50 1,75 DE 25 ANOS 1,20 1,40 A reforma da previdência promovida pela Emenda Constitucional 103/19, promulgada em 13/11/2019, implicou diversas alterações no cenário das aposentadorias voluntárias no âmbito do Regime Geral de Previdência. No tocante à aposentadoria por idade e tempo de contribuição (benefício único com requisitos etário e contributivo), o art. 201, §7º, inciso I, da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional n. 103/2019, estabeleceu que devem ser observadas as seguintes condições para fins de concessão do benefício: 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo de contribuição. O art. 19 da EC 103/19, por sua vez, previu que “Até que lei disponha sobre o tempo de contribuição a que se refere o inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal, o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social após a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional será aposentado aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, com 15 (quinze) anos de tempo de contribuição, se mulher, e 20 (vinte) anos de tempo de contribuição, se homem”. Essas novas regras aplicam-se ao trabalhador urbano que se filiar ao RGPS após a promulgação da EC 103/19. Os indivíduos que já possuíam direito adquirido poderão continuar se valendo das regras antigas, se tiverem preenchido todos os requisitos para a aposentadoria até o dia 13/11/2019, pois a legislação previdenciária possui aplicação imediata (tempus regit actum). Para quem já estava filiado ao regime em novembro de 2019 e estava perto de obter a aposentadoria por idade ou por tempo de contribuição sob a regra antiga, a EC 103/19 trouxe algumas regras de transição para proteger a expectativa desse segurado. Vejamos: Art. 15. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, fica assegurado o direito à aposentadoria quando forem preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, equivalente a 86 (oitenta e seis) pontos, se mulher, e 96 (noventa e seis) pontos, se homem, observado o disposto nos §§ 1º e 2º. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a pontuação a que se refere o inciso II do caput será acrescida a cada ano de 1 (um) ponto, até atingir o limite de 100 (cem) pontos, se mulher, e de 105 (cento e cinco) pontos, se homem. § 2º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se referem o inciso II do caput e o § 1º. § 3º Para o professor que comprovar exclusivamente 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, se mulher, e 30 (trinta) anos de contribuição, se homem, em efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, o somatório da idade e do tempo de contribuição, incluídas as frações, será equivalente a 81 (oitenta e um) pontos, se mulher, e 91 (noventa e um) pontos, se homem, aos quais serão acrescidos, a partir de 1º de janeiro de 2020, 1 (um) ponto a cada ano para o homem e para a mulher, até atingir o limite de 92 (noventa e dois) pontos, se mulher, e 100 (cem) pontos, se homem. § 4º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei. Art. 16. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - idade de 56 (cinquenta e seis) anos, se mulher, e 61 (sessenta e um) anos, se homem. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade a que se refere o inciso II do caput será acrescida de 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem. § 2º Para o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, o tempo de contribuição e a idade de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo serão reduzidos em 5 (cinco) anos, sendo, a partir de 1º de janeiro de 2020, acrescidos 6 (seis) meses, a cada ano, às idades previstas no inciso II do caput, até atingirem 57 (cinquenta e sete) anos, se mulher, e 60 (sessenta) anos, se homem. § 3º O valor da aposentadoria concedida nos termos do disposto neste artigo será apurado na forma da lei. Art. 17. Ao segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional e que na referida data contar com mais de 28 (vinte e oito) anos de contribuição, se mulher, e 33 (trinta e três) anos de contribuição, se homem, fica assegurado o direito à aposentadoria quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; e II - cumprimento de período adicional correspondente a 50% (cinquenta por cento) do tempo que, na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, faltaria para atingir 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem. Parágrafo único. O benefício concedido nos termos deste artigo terá seu valor apurado de acordo com a média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações calculada na forma da lei, multiplicada pelo fator previdenciário, calculado na forma do disposto nos §§ 7º a 9º do art. 29 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Art. 18. O segurado de que trata o inciso I do § 7º do art. 201 da Constituição Federal filiado ao Regime Geral de Previdência Social até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 60 (sessenta) anos de idade, se mulher, e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem; e II - 15 (quinze) anos de contribuição, para ambos os sexos. § 1º A partir de 1º de janeiro de 2020, a idade de 60 (sessenta) anos da mulher, prevista no inciso I do caput, será acrescida em 6 (seis) meses a cada ano, até atingir 62 (sessenta e dois) anos de idade. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. Art. 20. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional poderá aposentar-se voluntariamente quando preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos: I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta) anos de idade, se homem; II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem; III - para os servidores públicos, 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que se der a aposentadoria; IV - período adicional de contribuição correspondente ao tempo que, na data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, faltaria para atingir o tempo mínimo de contribuição referido no inciso II. § 1º Para o professor que comprovar exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio serão reduzidos, para ambos os sexos, os requisitos de idade e de tempo de contribuição em 5 (cinco) anos. § 2º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo corresponderá: I - em relação ao servidor público que tenha ingressado no serviço público em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003 e que não tenha feito a opção de que trata o § 16 do art. 40 da Constituição Federal, à totalidade da remuneração no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, observado o disposto no § 8º do art. 4º; e II - em relação aos demais servidores públicos e aos segurados do Regime Geral de Previdência Social, ao valor apurado na forma da lei. § 3º O valor das aposentadorias concedidas nos termos do disposto neste artigo não será inferior ao valor a que se refere o § 2º do art. 201 da Constituição Federal e será reajustado: I - de acordo com o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, se cumpridos os requisitos previstos no inciso I do § 2º; II - nos termos estabelecidos para o Regime Geral de Previdência Social, na hipótese prevista no inciso II do § 2º. § 4º Aplicam-se às aposentadorias dos servidores dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de previdência social. Houve também mudança no cenário das aposentadorias especiais, passando-se a exigir o requisito etário, que varia conforme o tempo de contribuição exigido. Confira-se o art. 19 da EC 103/19: Art. 19. (...) § 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida aposentadoria: I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos: a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição; A aposentadoria especial também possui regra de transição. Quem já era filiado poderá se aposentar pela sistemática dos pontos: a soma da idade e do tempo de contribuição deverá ser de 66, 76 e 86, respectivamente, para as exposições sujeitas a 15, 20 ou 25 anos. Isso representa, na prática, uma idade mínima de 51, 56 e 61 anos de idade, ao invés dos 55, 58 e 60 da regra permanente. Confira-se o teor do art. 21 da EC 103/2019: Art. 21. O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput. § 2º O valor da aposentadoria de que trata este artigo será apurado na forma da lei. É importante, ainda, destacar que os períodos especiais trabalhados até 12/11/2019 poderão ser convertidos em tempo comum (com multiplicador) para serem aproveitados na concessão de aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição. Por outro lado, os períodos especiais laborados após a EC 103/19 não poderão ser convertidos em tempo comum, conforme expressa vedação do art. 201, §14, da CF/88 e do art. 25, §2º, da EC 103/19, in verbis: CF/88: Art. 201, § 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de contagem recíproca. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) EC 103/19: Art. 25, § 2º Será reconhecida a conversão de tempo especial em comum, na forma prevista na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, ao segurado do Regime Geral de Previdência Social que comprovar tempo de efetivo exercício de atividade sujeita a condições especiais que efetivamente prejudiquem a saúde, cumprido até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, vedada a conversão para o tempo cumprido após esta data. Solvidas as principais questões que norteiam a análise do pedido da parte autora, passo à apreciação do caso concreto. Segundo a petição inicial, pretende o reconhecimento de atividade especial entre 01/06/1988 a 01/07/1999, na função de FRENTISTA, na empresa LIDIANE DA ROCHA CRUS DE CARVALHJO e CIA LTDA (PPP id. 2138641120). O PPP acima referido indica a exposição ao agente nocivo BENZENO, de modo que é possível o reconhecimento possível o reconhecimento pretendido, por enquadramento de categoria profissional, conforme item 1.2.11 do Anexo do Decreto 53831/64 entre 01.03.1991 a 28.04.1995 apenas. O caráter especial da atividade de "frentista" decorre da exposição do segurado a hidrocarbonetos derivados do petróleo (óleo diesel, gasolina, álcool, lubrificantes), o que subsume a atividade à previsão contida no art. 2º, subitem 1.2.11 do Decreto n. 53.831, de 25 de março de 1964, em vigor até 05/03/1997. Destaco que a Jurisprudência dispensa a comprovação por meio de laudo técnico antes da Lei 9.032/95 para a atividade de frentista, ante a notória exposição do abastecedor de tanque de combustível a vapores e gazes de álcool e gasolina agentes nocivos à saúde. Ademais, a teor da súmula 212 do STF, aquele que presta o serviço como “frentista” em posto de revenda de combustível tem direito ao adicional de serviço perigoso. Outrossim, a norma legal (NR 16, Anexo 2, Quadro 3, item m) também assegura aos trabalhadores, nas operações em postos de serviço e bombas de abastecimento de inflamáveis líquidos, o direito ao referido adicional. O agente nocivo benzeno, hidrocarboneto aromático ao qual a parte autora é exposta, é reconhecidamente agente cancerígeno (CAS 000071-43-2) e não se sujeita a limite de tolerância, nem há equipamento de proteção individual ou coletiva capaz de neutralizar sua exposição, como reconhecido pelo INSS e pelo MTE na própria portaria interministerial que publicou a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos. Segundo jurisprudência do TRF 1ªRegião: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. BENZENO. AGENTE COMPROVADAMENTE CANCERÍGENO. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. AUSÊNCIA DE PROTEÇÃO CAPAZ DE NEUTRALIZAR O AGENTE NOCIVO. ENGENHEIRO DE METALURGIA. RUÍDO. LIMITES DE TOLERÂNCIA. MÉDIA. EPI. EXIGÊNCIA DO LAUDO TÉCNICO. NÃO PROVIMENTO. 1. A aposentadoria especial é devida ao segurado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, conforme dispuser a lei (Lei 8.213/91, art. 57, caput). 2. A caracterização do tempo de serviço especial obedece à legislação vigente à época de sua efetiva prestação. Precedentes do STJ: REsp 1401619/RS; AgRg no REsp 1381406/SP. 3. Até a Lei 9.032/95 bastava ao segurado comprovar o exercício de profissão enquadrada como atividade especial para a conversão de tempo de serviço. Após sua vigência, mostra-se necessária a comprovação de que a atividade laboral tenha se dado sob a exposição habitual e permanente a agentes nocivos (Precedentes do STJ: REsp 1369269/PR; AgRg no AREsp 569400/RJ). 5. O benzeno é agente nocivo previsto nos anexos dos Decretos 53.831/64, item 1.2.11; 83.080/79, item 1.2.10; 2.172/97 e 3.048/99, item 1.0.3. A NR 15 estabelece que a insalubridade ao benzeno será constatada independentemente de concentração ou limite de tolerância, ou seja, por mera avaliação de sua presença no ambiente de trabalho – item 15.1.3, Anexo 13 e Anexo 13-A. 6. A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição a ser apurada na forma dos §§ 2o e 3o, de agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do trabalhador (Decreto 3.048/99, art. 68, § 4º, com redação dada pelo Decreto 8.123/13). 7. Para caracterização de períodos com exposição aos agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos listados na Portaria Interministerial 9, de 07 de outubro de 2014, Grupo 1 que possuem CAS e que estejam listados no Anexo IV do Decreto 3.048, de 1999, será adotado o critério qualitativo, não sendo considerados na avaliação os equipamentos de proteção coletiva e ou individual, uma vez que os mesmos não são suficientes para elidir a exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da FUNDACENTRO, de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4º do art. 68 do Decreto 3.048, de 1999 (IN/INSS 77, de 21/01/2015). 8. O engenheiro de metalurgia tem direito ao enquadramento de sua atividade como especial até 28/04/1995 (Código 2.1.1 do Quadro Anexo do Decreto nº 53.831/64 e do Decreto 83.080/79). 9. Para caracterização da aposentadoria especial por exposição ao agente ruído, os limites observam a seguinte cronologia: atividades desempenhadas até 05/03/1997 (vigência do Decreto 53.831/64), 80 dB; atividades desempenhadas de 06/03/1997 a 18/11/2003 (vigência dos Decretos 2.172/97 e 3.048/99), tolerância de 90 dB; por fim, atividades desempenhadas a partir de 19/11/2003 (vigência do Decreto 4.882/03), tolerância de 85 dB. Precedentes do STJ: REsp 1398260/PR; Pet. 9.059/RS. 10. O trabalhador submetido a ruídos cuja média supera os níveis fixados em regulamento tem direito ao reconhecimento do tempo de serviço especial (TRF 1ª Região: AC 0002267-56.2009.4.01.3300 / BA; AC 0000135-83.2006.4.01.3800 / MG). 11. A declaração de eficácia do Equipamento de Proteção Individual – EPI feita no Perfil Profissiográfico Previdenciário – PPP não descaracteriza o tempo de serviço especial para aposentadoria especial referente ao ruído (STF, ARE nº 664.335/SC). 12. A exposição do trabalhador ao agente nocivo ruído sempre exigiu prova mediante laudo técnico, pois demanda medição de seu nível com metodologia adequada. A apresentação do PPP, em regra, dispensa o fornecimento do laudo, pois aquele é previsto em lei para conter todas as informações essenciais deste. 13. O segurado trabalhou enquadrado na categoria profissional de engenheiro de metalurgia (Gerdau Açominas) nos períodos de 24/08/1981 a 22/09/1985 e de 01/01/1992 a 30/04/1994, conforme confirmado pela perícia judicial realizada nas dependências da empresa (f. 368, 376, 382). No período de 01/10/2002 a 03/12/2007, o laborou no setor de carboquímicos desta empresa, exposto a benzeno de forma habitual e permanente, conforme informações prestadas por engenheiro de segurança do trabalho (f. 334) associadas ao PPP (f. 139). O fato de o pagamento da GFIP correspondente ao trabalho insalubre só ter começado em 2004 não elide o reconhecimento do período especial anterior, pois a responsabilidade tributária pelo recolhimento das contribuições é do empregador. Por último, o segurado trabalhou exposto a ruídos médios acima do limite de tolerância no período de 29/04/1995 a 30/09/2002, além dos períodos supramencionados (níveis superiores a 90 dB, PPP f. 133/141). Importa ressaltar que a perícia judicial confirmou que a exposição a ruído era habitual e permanente, porque o escritório de laminação ficava no próprio setor de laminação, sendo que o tempo de trabalho do segurado dividido em 50% no escritório e 50% na área de produção (quesitos 2 e 4 f. 376, quesitos 4, 5 e 9 f. 377 e f. 382). 14. Não provimento da apelação do INSS e da remessa. APELAÇÃO CIVEL 0014944-10.2008.4.01.3800/MG, DJE 05.09.2017, Relator Convocado JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE FRANCO. (grifei) Somando-se o tempo comum e especial ora reconhecido, na DER (20.02.2024) aufere-se o total de 37 anos, 8 meses e 16 dias de tempo de serviço, idade de 57 anos, 9 meses e 28 dias e 5.5389 pontos, suficiente à concessão do benefício segundo art. 17 das regras de transição da EC 103/19, tendo cumprido o pedágio de 50% (0 anos, 2 meses e 11 dias). O cálculo do benefício deve ser feito conforme art. 17, parágrafo único, da mesma Emenda Constitucional ("média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações calculada na forma da lei, multiplicada pelo fator previdenciário, calculado na forma do disposto nos §§ 7º a 9º do art. 29 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991"). CONTAGEM DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO TEMPO DE SERVIÇO COMUM (com conversões) Data de Nascimento 22/04/1966 Sexo Masculino DER 20/02/2024 Nº Nome / Anotações Início Fim Fator Tempo Carência 1 AUTÔNOMO 01/02/1988 30/04/1988 1.00 0 anos, 3 meses e 0 dias 3 2 LIDIANE DA ROCHA CRUZ DE CARVALHO LTDA (IREM-INDPEND,PADM-EMPR) 01/06/1988 01/07/1999 1.40 Especial 11 anos, 1 mês e 1 dia + 4 anos, 5 meses e 6 dias = 15 anos, 6 meses e 7 dias 134 3 JOSE ETEVALDO PEDREIRA DA CRUZ 01/06/1988 31/05/1996 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 4 JOSE ETEVALDO PEDREIRA DA CRUZ 01/07/1988 31/12/1993 1.00 0 anos, 0 meses e 0 dias Ajustada concomitância 0 5 OLINTO PEREIRA ALVES 01/09/2000 19/12/2018 1.00 18 anos, 3 meses e 19 dias 220 6 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND) 01/03/2019 31/03/2019 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias 1 7 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS (IREM-INDPEND) 01/05/2019 31/05/2019 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias 1 8 AGRUPAMENTO DE CONTRATANTES/COOPERATIVAS 01/07/2019 31/07/2019 1.00 0 anos, 1 mês e 0 dias 1 9 INOVA SERVICOS DE LIMPEZA E PORTARIA EIRELI (IVIN-JORN-DIFERENCIADA,) 24/07/2019 08/02/2021 1.00 1 ano, 7 meses e 0 dias Ajustada concomitância 19 10 FACILITE SOLUCOES EM SERVICOS LTDA (IREM-INDPENDIVIN-JORN-DIFERENCIADA,) 10/02/2021 01/09/2021 1.00 0 anos, 7 meses e 0 dias Ajustada concomitância 7 11 LUA CRESCENTE TRANSPORTE RODOVIARIO E TURISMO LTDA (IREM-INDPENDIVIN-JORN-DIFERENCIADA) 01/12/2022 30/09/2024 1.00 1 ano, 10 meses e 0 dias Período parcialmente posterior à DER 22 Marco Temporal Tempo de contribuição Carência Idade Pontos (Lei 13.183/2015) Até a data da EC nº 20/98 (16/12/1998) 15 anos, 0 meses e 4 dias 130 32 anos, 7 meses e 24 dias inaplicável Pedágio (EC 20/98) 5 anos, 11 meses e 28 dias Até a data da Lei 9.876/99 (28/11/1999) 15 anos, 9 meses e 7 dias 137 33 anos, 7 meses e 6 dias inaplicável Até a data da Reforma - EC nº 103/19 (13/11/2019) 34 anos, 7 meses e 9 dias 364 53 anos, 6 meses e 21 dias 88.1667 Até 31/12/2019 34 anos, 8 meses e 26 dias 365 53 anos, 8 meses e 8 dias 88.4278 Até 31/12/2020 35 anos, 8 meses e 26 dias 377 54 anos, 8 meses e 8 dias 90.4278 Até 31/12/2021 36 anos, 5 meses e 26 dias 386 55 anos, 8 meses e 8 dias 92.1778 Até Lei nº 14.331/2022 (04/05/2022) 36 anos, 5 meses e 26 dias 386 56 anos, 0 meses e 12 dias 92.5222 Até 31/12/2022 36 anos, 6 meses e 26 dias 387 56 anos, 8 meses e 8 dias 93.2611 Até 31/12/2023 37 anos, 6 meses e 26 dias 399 57 anos, 8 meses e 8 dias 95.2611 Até a DER (20/02/2024) 37 anos, 8 meses e 16 dias 401 57 anos, 9 meses e 28 dias 95.5389 DISPOSITIVO Diante do exposto, com arrimo no art. 487, inciso I, do CPC, julgo procedente o pedido, resolvendo o mérito, para condenar o INSS a a) averbar o período de 01/06/1988 a 01/07/1999 como atividade especial (1,4), nos termos da fundamentação supra; b) conceder o benefício de aposentadoria por contribuição (art.17, EC 103.2019) em favor da parte autora, com DIB em 20.02.2024, DIP em 01.06.2025; c) condenar o INSS ao pagamento das parcelas vencidas e vincendas desde a data do início do benefício (DIB), acrescidas de correção monetária desde a data do vencimento de cada parcela, e de juros moratórios, desde a data da citação, tudo de acordo com o Manual de Cálculos da Justiça Federal. Referida quantia deverá ser atualizada nos termos acima expostos até a data da expedição da requisição de pequeno valor. A correção monetária sobre as parcelas atrasadas deve incidir desde o vencimento de cada parcela. Os juros de mora são devidos a contar da citação (Súmula n. 204/STJ). Em ambos os casos, deve-se observar os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça Federal. Referida quantia deverá ser atualizada nos termos acima expostos até a data da expedição da requisição de pequeno valor. Registro que a alteração dos parâmetros e adoção do Manual de cálculos por esse juízo para alcance do valor devido permitirá maior celeridade na definição dos valores retroativos e, consequentemente, na fase de cumprimento de sentença, possibilitando uma prestação mais eficiente para o jurisdicionado. Deverá o INSS, no prazo de 30 (trinta) dias, apurar o valor das parcelas retroativas. Presentes os requisitos legais, em especial o caráter alimentar do benefício ora deferido, ANTECIPO OS EFEITOS DA TUTELA, para determinar que o INSS, no prazo de 30 (trinta) dias, implante o benefício em favor da parte autora. Por conseguinte, julgo extinto o processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I do Código de Processo Civil. Defiro os benefícios da assistência judiciária gratuita. Sem custas e honorários de advogado (Lei nº 10.259/01, art. 1º c/c art. 55, primeira parte, da Lei nº 9.099/95). Intime-se a parte autora para que informe se recebe benefício de aposentadoria ou pensão de Regime Próprio de Previdência Social, considerando-se a sua omissão como declaração de que a mesma não é beneficiária de aposentadoria/provento ou pensão por morte do RPPS ou decorrente(s) de atividades militares. Em caso de acumulação, deverá a parte autora apresentar declaração, anexando documentação comprobatória dos dados informados. Indefiro, desde já, eventuais petições da autarquia federal que reiterem o pedido de intimação sobre a acumulação de benefícios, tendo em vista que restaram apreciados nesta sentença. Havendo interposição de recurso inominado pela parte interessada, intime-se a parte contrária para, querendo, ofertar contrarrazões. Decorrido o prazo de lei, remetam-se os autos à Turma Recursal, com as cautelas de praxe. Uma vez cumpridos os pagamentos decorrentes das RPV’s, arquive-se o processo, com baixa na distribuição, observadas as formalidades legais Intimem-se. Sentença registrada eletronicamente. Feira de Santana/BA, data da assinatura. Juíza Federal Titular/Juiz Federal Substituto (Magistrado(a) identificado pela assinatura digital constante do rodapé da página)

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Processo nº 0001056-23.2016.4.03.6100

ID: 299870815

Tribunal: TRF3 Órgão: Gab. 20 - DES. FED. MARISA SANTOS Classe: APELAçãO / REMESSA NECESSáRIA Nº Processo: 0001056-23.2016.4.03.6100

Data de Disponibilização: 16/06/2025

Polo Ativo:

Polo Passivo:

CHRISTINA BICALHO HAUER SANTOS

Acórdão

Advogados:

BRUNO SOARES DE ALVARENGA

OAB/SP XXXXXX Desbloquear

PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 6ª Turma APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001056-23.2016.4.03.6100 RELATOR: Gab. 20 - DES. FED. MARISA SANTOS APELANTE: UNIAO FEDERAL -… PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 6ª Turma APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001056-23.2016.4.03.6100 RELATOR: Gab. 20 - DES. FED. MARISA SANTOS APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL APELADO: CHRISTINA BICALHO HAUER SANTOS Advogado do(a) APELADO: BRUNO SOARES DE ALVARENGA - SP222420-A OUTROS PARTICIPANTES: PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 6ª Turma APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001056-23.2016.4.03.6100 RELATOR: Gab. 20 - DES. FED. MARISA SANTOS APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL APELADO: CHRISTINA BICALHO HAUER SANTOS Advogado do(a) APELADO: BRUNO SOARES DE ALVARENGA - SP222420-A pbv R E L A T Ó R I O A Desembargadora Federal MARISA SANTOS (RELATORA): Agravo interno interposto por CHRISTINA BICALHO HAUER SANTOS em razão de decisão que deu provimento à apelação da União, nos termos do art. 932, V, do Código de Processo Civil, para manter o arrolamento de bens em nome da autora, pois: a) “a autoridade fiscal procedeu, em 29/01/2015, ao arrolamento de bens da autora, responsável solidária pelos débitos da empresa “STB - Student Travel Bureau Viagens e Turismo Ltda.” que totalizavam, à época da lavratura do auto de infração, o montante de R$ 2.992.713,40 (dois milhões, novecentos e noventa e dois mil, setecentos e treze reais e quarenta centavos), referente a março de 2015”; b) “foram arrolados os seguintes bens imóveis da autora: i) matrícula 78.468, do 13º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 2.441.600,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e um mil e seiscentos reais); ii) matrícula 378.000, do 11º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 315.000,00 (trezentos e quinze mil reais); c) “deve ser levado em consideração o valor do imóvel constante da última declaração de ajuste de IRPF da autora, referente ao ano-calendário 2013 e que, no caso, corresponde ao valor indicado no registro imobiliário”; d) “não é possível cogitar a aplicação, ao caso em exame, da regra prevista no art. 3º, I, “b”, da Instrução Normativa RFB nº 1.565, de 11/05/2015, ainda que mais favorável ao contribuinte ao admitir a avaliação do bem imóvel pelo valor que serve de base de cálculo para o lançamento do IPTU, possibilitando, assim, que o valor do crédito constante do auto de infração se torne inferior a 30% (trinta por cento) do patrimônio conhecido da autora” (ID 286966230). A agravante alega, em síntese, que: a) “corretamente foi reconhecido que o respectivo crédito tributário constituído é inferior ao percentual de 30%” de seu patrimônio; b) “com relação à possibilidade de ser utilizado o valor venal do bem, resta totalmente demonstrada tal possibilidade dentro das normas administrativas, sendo que ao não ser reconhecida tal possibilidade, ocorre notória violação ao princípio da legalidade, não podendo ser mantida a decisão agravada que não reconhece a possibilidade de reavaliação dos valores dos bens arrolados, considerando o direito da Agravante em requerer tal avaliação para que não seja submetida ao excesso de garantia”; c) “após a quitação dos débitos, a dívida passou a importar em ínfimos 3,92% do seu patrimônio”; d) “a Lei nº 9.532/1997, em seu artigo 64-A, parágrafo 2º, prevê a possibilidade de ser realizado o requerimento para que sejam avaliados dos ativos para identificar o valor justo dos bens e direitos arrolados, de modo a evitar excesso de garantia”; e) “a Instrução Normativa RFB n° 1.565/15 não autoriza a utilização do valor atribuído na ficha de bens e direitos da DIRPF para efeito de arrolamento de bens imóveis” ; f) “o valor venal a ser considerado é aquele vigente na data da lavratura do termo de arrolamento, pois esse é o valor mais próximo de mercado e que seria obtido em um eventual leilão do imóvel para satisfação do crédito tributário” (ID 286604064). Contrarrazões (ID 287169039). É o relatório. PODER JUDICIÁRIO Tribunal Regional Federal da 3ª Região 6ª Turma APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001056-23.2016.4.03.6100 RELATOR: Gab. 20 - DES. FED. MARISA SANTOS APELANTE: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL APELADO: CHRISTINA BICALHO HAUER SANTOS Advogado do(a) APELADO: BRUNO SOARES DE ALVARENGA - SP222420-A pbv V O T O A Desembargadora Federal MARISA SANTOS (RELATORA): No presente caso, a decisão monocrática que deu provimento à apelação da União e à remessa oficial, nos termos do art. 932, V, do Código de Processo Civil, para manter o arrolamento de bens em nome da autora, consignou (ID 285653409): O arrolamento de bens ora impugnado tem previsão no art. 64 da Lei nº 9.532/97, in verbis: “Art. 64. A autoridade fiscal competente procederá ao arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo sempre que o valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. § 1º Se o crédito tributário for formalizado contra pessoa física, no arrolamento devem ser identificados, inclusive, os bens e direitos em nome do cônjuge, não gravados com a cláusula de incomunicabilidade. § 2º Na falta de outros elementos indicativos, considera-se patrimônio conhecido, o valor constante da última declaração de rendimentos apresentada. § 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento, mediante entrega de cópia do respectivo termo, o proprietário dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou onerá-los, deve comunicar o fato à unidade do órgão fazendário que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo. § 4º A alienação, oneração ou transferência, a qualquer título, dos bens e direitos arrolados, sem o cumprimento da formalidade prevista no parágrafo anterior, autoriza o requerimento de medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo. § 5º O termo de arrolamento de que trata este artigo será registrado independentemente de pagamento de custas ou emolumentos: I - no competente registro imobiliário, relativamente aos bens imóveis; II - nos órgãos ou entidades, onde, por força de lei, os bens móveis ou direitos sejam registrados ou controlados; III - no Cartório de Títulos e Documentos e Registros Especiais do domicílio tributário do sujeito passivo, relativamente aos demais bens e direitos. § 6º As certidões de regularidade fiscal expedidas deverão conter informações quanto à existência de arrolamento. § 7º O disposto neste artigo só se aplica a soma de créditos de valor superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). § 8º Liquidado, antes do seu encaminhamento para inscrição em Dívida Ativa, o crédito tributário que tenha motivado o arrolamento, a autoridade competente da Secretaria da Receita Federal comunicará o fato ao registro imobiliário, cartório, órgão ou entidade competente de registro e controle, em que o termo de arrolamento tenha sido registrado, nos termos do § 5º, para que sejam anulados os efeitos do arrolamento. § 9º Liquidado ou garantido, nos termos da Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, o crédito tributário que tenha motivado o arrolamento, após seu encaminhamento para inscrição em Dívida Ativa, a comunicação de que trata o parágrafo anterior será feita pela autoridade competente da Procuradoria da Fazenda Nacional. § 10. Fica o Poder Executivo autorizado a aumentar ou restabelecer o limite de que trata o § 7º deste artigo.” Conforme se infere, configura o arrolamento fiscal procedimento administrativo direcionado a garantir o crédito da Fazenda Pública nas hipóteses em que seu valor for, cumulativamente, superior a 30% (trinta por cento) do patrimônio do contribuinte e ultrapassar, nos termos da legislação vigente, a quantia de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). A medida busca, ao impor a necessidade de inscrição do arrolamento no competente registro imobiliário (art. 64, § 5º), dar publicidade acerca de existência de dívidas tributárias em nome do proprietário do imóvel, resguardando assim interesses de terceiros de boa-fé. Visa igualmente assegurar o resultado útil de eventual medida cautelar fiscal ou da própria execução a ser promovida pela autoridade fazendária, pois obriga o sujeito passivo a comunicar ao órgão fazendário futura transferência, alienação ou oneração dos bens arrolados (art. 64, §§ 3º e 4º), reduzindo a probabilidade de ocorrência de dilapidação patrimonial fraudulenta por parte do devedor. Não obsta, entretanto, o exercício das prerrogativas inerentes ao direito de propriedade, tal como ocorre com o decreto de indisponibilidade, ficando o proprietário plenamente livre para usar, gozar e dispor dos bens arrolados, observando-se apenas a determinação do art. 64, §§ 3º e 4º, da Lei nº 9.532/97, acima mencionada, sob pena de autorizar "o requerimento de medida cautelar fiscal contra o sujeito passivo". Verifica-se assim que o arrolamento fiscal, na verdade, consiste em mero levantamento de bens do contribuinte, permitido apenas nos casos de existência de dívida vultosa, tanto em termos proporcionais ao patrimônio do contribuinte quanto em valor absoluto. Precedentes desta E. Corte corroboram as assertivas acima delineadas: "TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA DE TERMO DE ARROLAMENTO DE BENS E DIREITOS. LEGALIDADE. INOCORRÊNCIA DE OFENSA À AMPLA DEFESA, AO CONTRADITÓRIO E AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. LEGALIDADE. 1. O arrolamento de bens e direitos, como previsto na legislação, acarreta ao sujeito passivo da obrigação tributária o ônus apenas de informar ao Fisco quanto à celebração de ato de transferência, alienação ou oneração de bens ou direitos arrolados, sob pena de indisponibilidade por medida cautelar fiscal. 2. Não há que se confundir arrolamento com indisponibilidade. O arrolamento apenas inventaria os bens do sujeito passivo da obrigação tributária, mas em nenhum momento restringe o direito de propriedade, que permanece íntegro. 3. De outro lado, com a publicidade decorrente da anotação em registro público revela-se o legítimo e lícito objetivo de proteger terceiros contra atos de transferência em situações capazes de, futuramente, ensejar questionamentos judiciais quanto à validade do negócio jurídico. (...) 7. Apelação a que se nega provimento e agravo retido de que não se conhece." (AMS 2005.61.09.007281-8, Rel. des. Fed. CECILIA MARCONDES, DJF3 08/09/2009, p. 3953) DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. ARROLAMENTO DE BENS E DIREITOS. ARTIGO 64 DA LEI Nº 9.532/97. CONSTITUCIONALIDADE. BEM DE FAMÍLIA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO FATO PARA PROTEÇÃO DO DIREITO COMO LÍQUIDO E CERTO. APELAÇÃO DESPROVIDA. 1. O arrolamento de bens e direitos, como previsto no artigo 64 da Lei nº 9.532/97, tem aplicação exclusiva aos contribuintes, cujo patrimônio conhecido seja inferior a 30% do crédito tributário, este sendo superior a R$ 500.000,00, e acarreta ao sujeito passivo da obrigação tributária o ônus apenas de informar o Fisco quanto à celebração de ato de transferência, alienação ou oneração dos bens ou direitos arrolados, sob pena de indisponibilidade por medida cautelar fiscal. 2. Não se confunde, pois, o arrolamento com a indisponibilidade; e a publicidade, decorrente da anotação do termo em registros públicos, revela o objetivo, tanto lícito como legítimo, de proteger terceiros contra atos de transferência, alienação ou oneração de bens ou direitos, em situações capazes de gerar conseqüência ou questionamento, judicial ou administrativo, quanto à validade da celebração de negócios jurídicos. 3. Os requisitos são objetivos e, em face deles, tem o contribuinte direito à defesa administrativa ou judicial, o que não significa possa obstar a execução da medida, uma vez presentes as condições definidoras, na espécie, do devido processo legal. 4. Caso em que o impetrante não afirma a inexistência de qualquer dos requisitos legais para o arrolamento de bens, apenas defende que a sua adoção viola os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, além de ter recaído sobre bem de família, o que se revela, porém, improcedente, em face mesmo da orientação da Suprema Corte pela constitucionalidade da adoção, em lei, de medidas de garantia, em favor dos créditos tributários -- como o depósito prévio para admissão de recursos administrativos, e especialmente o arrolamento de bens como medida alternativa à abertura da instância hierárquica superior --, corroborando a conclusão de que não produz ofensa constitucional o preceito de lei que, para grandes devedores, prevê, não a indisponibilidade, que depende de ação cautelar, mas mera garantia administrativo-fiscal de arrolamento em tutela a interesse jurídico qualificado. 5. Apelação desprovida. (AMS 2002.61.04.010332-6, Rel Des. Fed. CARLOS MUTA, DJU 10/05/2006, p. 212). Pretende a autora, em síntese, o reconhecimento da ilegalidade do arrolamento formalizado no Processo Administrativo nº 13896.720338/2015-81, uma vez que o crédito tributário exigido no auto de infração não supera 30% de seu patrimônio conhecido. Do compulsar dos autos, infere-se que a autoridade fiscal procedeu, em 29/01/2015, ao arrolamento de bens da autora, responsável solidária pelos débitos da empresa “STB - Student Travel Bureau Viagens e Turismo Ltda.” que totalizavam, à época da lavratura do auto de infração, o montante de R$ 2.992.713,40 (dois milhões, novecentos e noventa e dois mil, setecentos e treze reais e quarenta centavos), referente a março de 2015. Foram arrolados os seguintes bens imóveis da autora: a) matrícula 78.468, do 13º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 2.441.600,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e um mil e seiscentos reais); matrícula 378.000, do 11º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 315.000,00 (trezentos e quinze mil reais). Os valores lançados no arrolamento são aqueles constantes dos respectivos registros imobiliários (fls. 59 e 62 dos autos físicos - ID 87286905). Com efeito, à época da realização do arrolamento de bens era vigente a Instrução Normativa RFB Nº 1.171, de 07/07/2011 que, em seu art. 4º expressamente dispunha: “Art. 4º Os bens e direitos da pessoa física serão arrolados pelo valor constante na última declaração de rendimentos apresentada, sem a dedução de dívidas e ônus reais, e os da pessoa jurídica, pelo valor contábil. Parágrafo único. Na impossibilidade de determinação do valor dos bens e direitos de acordo com o disposto no caput, ou, no caso de pessoa jurídica, sendo este residual, em virtude de depreciaçao, amortização ou exaustão, poderá ser utilizado o valor venal ou valor de mercado do bem, conforme escritura pública ou parâmetros informados em veículo de divulgação especializado.” Sob esse prisma, deve ser levado em consideração o valor do imóvel constante da última declaração de ajuste de IRPF da autora, referente ao ano-calendário 2013 e que, no caso, corresponde ao valor indicado no registro imobiliário. Não é possível cogitar a aplicação, ao caso em exame, da regra prevista no art. 3º, I, “b”, da Instrução Normativa RFB nº 1.565, de 11/05/2015, ainda que mais favorável ao contribuinte ao admitir a avaliação do bem imóvel pelo valor que serve de base de cálculo para o lançamento do IPTU, possibilitando, assim, que o valor do crédito constante do auto de infração se torne inferior a 30% (trinta por cento) do patrimônio conhecido da autora. Nesse sentido, já decidiu esta Corte Regional, em casos análogos: “TRIBUTÁRIO. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ARROLAMENTO DE BENS COM FUNDAMENTO NOS ARTIGOS 64 E 64-A DA LEI N° 9.532/97. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. MUDANÇA DOS REQUISITOS PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA IN SRF N.º 1.565/2015. APLICAÇÃO RETROATIVA. SUBSTITUIÇÃO DOS BENS. 1. O ato contra o qual se insurge o impetrante se consubstancia na negativa da autoridade impetrada de aplicar em seu favor as disposições da IN SRF nº 1.565/2015, que foi editada após a realização do arrolamento de bens. 2. O arrolamento de bens previsto nos artigos 64 e 64-A, ambos da Lei nº 9.532/97, é um ato administrativo realizado pelo Fisco, com o intuito de acompanhar o patrimônio do contribuinte, que contrai um débito tributário vultoso e superior a 30% (trinta por cento) do seu patrimônio conhecido e, desde que esse valor supere quinhentos mil reais. 3. A IN SRF n.º 264/2002, normativo vigente quando da lavratura do Termo de Arrolamento, não impunha restrição quanto à inclusão de débitos confessados pelo sujeito passivo, não havendo que se falar em revisão dos arrolamentos efetuados sob a vigência de atos normativos anteriores. 4. O Decreto n.º 7.573/2011, que alterou o limite de que trata o §7º do art. 64 da Lei n.º 9.532/1997, de R$500.000,00 para R$2.000.000,00, só se aplica aos arrolamentos posteriores a 30.9.2011, exegese do § único do art. 19 da IN RFB n.º 1.565/2015, não se aplicando, destarte, ao presente caso, pois o arrolamento fora realizado em 4.6.2010. 5. O cancelamento do arrolamento sujeita-se às hipóteses da Lei n.º 9.532/1997, dentre as quais se encontra a liquidação antes da inscrição e a respectiva garantia ainda no curso da execução. Destarte, não se poderia falar em retroação da IN RFB n.º 1.565/2015, com base no artigo 106, II, "c" do CTN, que se aplica apenas às sanções. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 6. Não há previsão legal para, no caso concreto, permitir a retroação da lei que modificou os critérios para arrolamento de bens do contribuinte, efetuada de acordo com a lei vigente ao tempo de sua realização. Ademais, a aplicação de critérios previstos em lei posterior, atingindo ato jurídico perfeito de arrolamento fiscal, seria efetuada em manifesta ofensa ao artigo 5°, XXXVI da CF/88. 7. É legítima a recusa do bem ofertado em substituição pelo Fisco, não cabendo ao Judiciário determinar a aceitação. 8. O arrolamento de bens não implica qualquer gravame ou restrição de uso, alienação ou oneração de bens e direitos do contribuinte. A publicidade deste ato, mediante anotação nos registros públicos, está ligada à proteção de terceiros, em razão das garantias e privilégios do crédito tributário, impedindo-se, assim, a alegação do desconhecimento das dívidas tributárias pertencentes ao contribuinte. 9. Recurso de apelação desprovido.” (ApCiv 0002267-10.2015.4.03.6107, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. NELTON DOS SANTOS, j. 21/08/2019, DJe 28/08/2019). “DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DIREITO TRIBUTÁRIO. PROCESSO ADMINISTRATIVO. ARROLAMENTO DE BENS. DÉBITO SUPERIOR A R$ 500.000,00. IN/SRF 264/2002. PARCELAMENTO. NOVO PISO DE R$ 2.000.000,00. DECRETO 7.573/2011 E IN/SRF 1.171/2011. TEMPUS REGIT ACTUM. VEÍCULO BAIXADO NO DETRAN. BEM CONSIDERADO COMO SUCATA. CANCELAMENTO DO ARROLAMENTO. IN/SRF 1.565/2015. 1. O arrolamento de ofício de bens e direitos, como previsto nos artigos 64 e 64-A da Lei 9.532/1997, na vigência da IN/SRF 264/2002, como é o caso, tem aplicação exclusiva às hipóteses de débitos de valor superior a R$ 500.000,00 e que, simultaneamente, ultrapassem 30% do patrimônio conhecido do contribuinte, acarretando ao sujeito passivo o ônus de informar ao Fisco eventuais atos de transferência, alienação ou oneração, sob pena de indisponibilidade por medida cautelar fiscal, bem como obrigação de arrolar outros bens e direitos em substituição aos alienados ou transferidos. 2. O arrolamento é medida que envolve a obrigação de transparência na gestão, pelo grande devedor, de seu patrimônio, contra fraudes e simulações, mas não representa, em si e propriamente, restrição ao poder de administração e disposição do titular sobre os respectivos bens e direitos, para efeito de gerar o risco de inconstitucionalidade por lesão ao direito de propriedade e outros que foram relacionados. 3. Não se confunde, pois, o arrolamento com a indisponibilidade; e a publicidade, decorrente da anotação do termo em registros públicos, revela o objetivo, tanto lícito como legítimo, de proteger terceiros contra atos de transferência, alienação ou oneração de bens ou direitos, em situações capazes de gerar consequência ou questionamento, judicial ou administrativo, quanto à validade da celebração de negócios jurídicos. 4. Os requisitos são objetivos e, em face deles, tem o contribuinte direito à defesa administrativa ou judicial, o que não significa possa obstar a execução da medida, uma vez presentes as condições definidoras, na espécie, do devido processo legal. 5. Quanto ao direito de propriedade, o arrolamento, previsto em lei, é medida de natureza preventiva na tutela do interesse fiscal, em situações específicas, que não se revelam indicadoras da antecipação de qualquer efeito irreversível inerente à execução. 6. O cancelamento do arrolamento se sujeita à Lei 9.532/1997, a qual prevê as hipóteses respectivas, dentre as quais se encontra a liquidação antes da inscrição e a respectiva garantia ainda no curso da execução. 7. Não se poderia falar em retroatividade do Decreto 7.537/2011, com base no artigo 106, II, "c" do CTN ("a lei aplica-se a ato ou fato pretérito [...] tratando-se de ato não definitivamente julgado [...] quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática"), que se limita apenas às sanções, conforme jurisprudência assentada. 8. Não há previsão legal para, no caso, permitir a retroação da lei que modificou critérios para arrolamento de bens do contribuinte, efetuada de acordo com a lei vigente ao tempo de sua realização ("tempus regit actum"). Desta forma, a aplicação de critérios previstos em lei posterior, atingindo ato jurídico perfeito de arrolamento fiscal, seria efetuada em manifesta ofensa ao artigo 5°, XXXVI da CF/88 ("a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada"). 9. O artigo 14, II, da IN/SRF 1.565/2015 estabelece a hipótese de cancelamento do arrolamento pela perda total do bem, o que deve ser aplicado ao caso dos autos, tendo em vista que o único bem arrolado não existe mais, por ter sido permanentemente baixado no DETRAN. 10. Resta clara a ineficácia do arrolamento de veículo considerado sucata, não se prestando, assim, a servir de efetiva garantia de eventual crédito tributário. Se a própria penhora de bem em tal situação não seria aceitável, menos ainda o mero arrolamento fiscal. 11. De rigor a manutenção da sentença recorrida, ainda que por fundamentos legais distintos. 12. Apelação e remessa oficial desprovidas.” (ApRemNec 0020796-64.2016.4.03.6100, 3ª Turma, Rel. Juíza Federal Convocada DENISE AVELAR, j. 21/02/2018, DJe 02/03/2018). Dessarte, de rigor a manutenção do arrolamento de bens da autora. Observa-se que até o julgamento do recurso neste momento pela 6ª Turma deste E. TRF, não houve nos autos alteração substancial capaz de influir na decisão ora impugnada, adotando-se, pois, os seus fundamentos como razão de decidir. Nesse sentido, reveste-se "de plena legitimidade jurídico-constitucional a utilização, pelo Poder Judiciário, da técnica da motivação 'per relationem' que se mostra compatível com o que dispõe o art. 93, IX, da Constituição da República", sendo certo que a "remissão feita pelo magistrado – referindo-se, expressamente, aos fundamentos (de fato e/ou de direito) que deram suporte a anterior decisão (ou, então, a pareceres do Ministério Público ou, ainda, a informações prestadas por órgão apontado como coator) – constitui meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação a que o juiz se reportou como razão de decidir" (AI 825.520 AgR-ED, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma). Na mesma esteira: AgInt no AREsp nº 919.356, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe: 27/02/2018; AgInt no REsp 1.624.685/MG, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 16/12/2016; AgInt no AREsp 1178297/ES, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, 07/08/2018, DJe 13/08/2018. Diante do exposto, nego provimento ao agravo interno. É o voto. O Exmo. Desembargador Federal Souza Ribeiro Peço vênia para divergir da e. Relatoria, a qual manteve a decisão singular, que deu provimento à apelação da União e à remessa oficial, para reformar a sentença, que julgou procedente o pedido da parte autora para o fim de declarar a ilegalidade do arrolamento formalizado por meio do Processo Administrativo nº 13896.720338/2015-81. Pretendendo a autora, ora recorrente, o reconhecimento da ilegalidade do arrolamento formalizado no citado PA nº 13896.720338/2015-81, uma vez que o crédito tributário exigido no auto de infração não supera 30% de seu patrimônio conhecido, entendeu a ilustre Relatora que o pedido não merecia acolhimento, porque a autoridade procedeu ao arrolamento dos bens em conformidade com a IN RFB Nº 1.171/2011, vigente à época da sua realização, devendo ser levado em consideração o valor do imóvel constante da última declaração de ajuste de IRPF da agravante, referente ao ano-calendário 2013 que, no caso, corresponde ao valor indicado no registro imobiliário. Pois bem. Trata-se o arrolamento de bens e direitos pela Fazenda Pública, na forma dos arts. 64 e 64-A da Lei 9.532/97, de medida acautelatória, cuja finalidade é garantir ao Fisco meios para acompanhar a evolução patrimonial do contribuinte devedor, impedindo a dilapidação do patrimônio a torná-lo insolvente. Constituindo, na forma do art. 183, do CTN, garantia legal do crédito tributário, conforme previsão do § 2º do citado art. 64-A, o sujeito passivo pode solicitar a reavaliação dos bens arrolados, com vistas a evitar uma garantia excessiva. Assim sendo, conquanto o arrolamento dos bens tenha se efetivado em conformidade com a IN RFB Nº 1.171/2011, vigente à época da sua realização, tenho que há que se observar as normas da IN RFB n° 1.565/15 e do art. 64-A, parágrafo 2º da Lei nº 9.532/1997, devendo a avaliação dos imóveis se dar de acordo com outros critérios para obter o valor real dos imóveis, como, inclusive, o valor que serve de base de cálculo para lançamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), não se permitindo a adoção de critério que não exprima a verdade real. Prevendo a nova redação da Instrução Normativa n° 1.565/15 a adoção de critérios de avaliação do bem imóvel que se mostram mais consentâneos à apuração do valor real - que é o critério previsto em lei - , tais devem ser aplicados mesmo aos arrolamentos efetivados anteriormente, por ser adequados aos princípios constitucionais implícitos da razoabilidade e da proporcionalidade, bem como da isonomia entre os contribuintes, corolário do princípio da igualdade, previsto no art. 5º, I, CF. Nesse sentido, mutatis mutandis, o entendimento dessa Col. Turma Julgadora: TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO. ARROLAMENTO DE BENS E DIREITOS. ART. 64 DA LEI Nº 9.532/97. NOVO LIMITE ESTABELECIDO PELO DECRETO Nº 7.573/11 (R$ 2.000.000,00), APLICÁVEL AOS ARROLAMENTOS EFETUADOS SOB A ÉGIDE DA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE. PRECEDENTES DESTA E. SEXTA TURMA. DÉBITOS INCLUÍDOS EM PARCELAMENTO. EXCLUSÃO DO MONTANTE A SER CONSIDERADO PARA FINS DE ARROLAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 2º, § 1º, II, DA INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1.171/11, A FIM DE PRESERVAR A EFICÁCIA DO INSTITUTO DO ARROLAMENTO. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. O arrolamento de bens e direitos está disciplinado no art. 64 da Lei nº 9.532/97, que prevê dois requisitos para que o procedimento seja proposto: 1) o valor dos créditos tributários existentes em nome do contribuinte deve superar 30% (trinta por cento) do seu patrimônio conhecido; e 2) a soma desses créditos deve ser superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). 2. Esse último requisito foi alterado pelo art. 1º do Decreto nº 7.573/11, que passou a prever que somente débitos tributários superiores a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) dão ensejo ao arrolamento. Esta E. Sexta Turma tem entendimento pacífico quanto à aplicação desse novo valor também aos arrolamentos efetuados sob a égide da legislação anterior, em respeito aos princípios da isonomia e da razoabilidade. 3. A Instrução Normativa RFB nº 1.171/11, por sua vez, ao regulamentar a medida administrativa em questão, estabelece em seu art. 2º, § 1º, II, que não serão computados na soma dos créditos tributários - isto é, nos referidos dois milhões de reais - "os débitos confessados passíveis de imediata inscrição em Dívida Ativa da União". A mesma previsão consta da Instrução Normativa RFB nº 1.565/15. 4. Com base nestes novos dispositivos legais, pugna a autora pelo cancelamento do arrolamento de bens e direitos ao qual está submetida. Isso porque alguns dos débitos existentes em seu nome foram incluídos em programas de parcelamento; constituem, pois, débitos confessados passíveis de imediata inscrição em dívida ativa e, nos termos do que disposto no art. 2º, § 1º, II, da Instrução Normativa RFB nº 1.171/11, devem ser desconsiderados para fins de arrolamento. Desse modo, os débitos existentes em seu nome somariam R$ 1.808.511,88, valor que é inferior a R$ 2.000.000,00 e representa apenas 11% de seu patrimônio conhecido. 5. Essa interpretação não merece prosperar. Não se nega que o parcelamento constitui confissão do débito e o torna passível de imediata inscrição em Dívida Ativa (v.g., REsp 1670543/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 30/06/2017). Todavia, deve-se interpretar o que disposto na Instrução Normativa RFB nº 1171/11 de modo a preservar a função pretendida pelo legislador quando da criação do instituto do arrolamento de bens e direitos (a mens legis da norma), qual seja, assegurar a futura excussão de bens e direitos do sujeito passivo suficientes à satisfação do débito fiscal (REsp 689.472/SE, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/10/2006, DJ 13/11/2006). 6. Sob esse prisma, desde a Instrução Normativa RFB nº 1.088/10, excluem-se do montante considerado para fins de arrolamento aqueles débitos para os quais haja depósito integral do valor (já garantidos, portanto) e aqueles confessados pelo contribuinte e passíveis de imediata inscrição em Dívida Ativa (ou seja, que podem ser imediatamente cobrados, tornando-se desnecessário o arrolamento acautelatório). Em ambos os casos, os débitos são desconsiderados para fins de arrolamento, pois são dotados da necessária segurança ao crédito tributário, independentemente de qualquer outra medida adotada pelo Fisco. 7. O mesmo não ocorre, porém, com os débitos incluídos em parcelamento; o parcelamento impede a imediata cobrança do débito, tendo em vista a suspensão de sua exigibilidade, nos termos do art. 151, III, do CTN (REsp 1670543/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 30/06/2017). 8. Conquanto o parcelamento configure confissão de débito, que pode ser inscrito em Dívida Ativa, não há como excluir os débitos parcelados do montante a ser considerado para fins de arrolamento, sob pena de deixar desprotegido o crédito tributário e, consequentemente, negar eficácia ao próprio instituto do arrolamento de bens e direitos. 9. Na singularidade, portanto, ainda que considerando os novos critérios estabelecidos pelo Decreto nº 7.573/11, deve ser mantido o arrolamento de bens e direitos ao qual está submetida a autora, posto que os débitos tributários existentes em seu nome somam R$ 4.916.581,84, montante que ultrapassa evidentemente os R$ 2.000.000,00 e representa 30,10% do seu patrimônio conhecido. 10. Apelação improvida.TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO. ARROLAMENTO DE BENS E DIREITOS. ART. 64 DA LEI Nº 9.532/97. NOVO LIMITE ESTABELECIDO PELO DECRETO Nº 7.573/11 (R$ 2.000.000,00), APLICÁVEL AOS ARROLAMENTOS EFETUADOS SOB A ÉGIDE DA LEGISLAÇÃO ANTERIOR. RESPEITO AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA RAZOABILIDADE. PRECEDENTES DESTA E. SEXTA TURMA. DÉBITOS INCLUÍDOS EM PARCELAMENTO. EXCLUSÃO DO MONTANTE A SER CONSIDERADO PARA FINS DE ARROLAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO DO DISPOSTO NO ART. 2º, § 1º, II, DA INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1.171/11, A FIM DE PRESERVAR A EFICÁCIA DO INSTITUTO DO ARROLAMENTO. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. O arrolamento de bens e direitos está disciplinado no art. 64 da Lei nº 9.532/97, que prevê dois requisitos para que o procedimento seja proposto: 1) o valor dos créditos tributários existentes em nome do contribuinte deve superar 30% (trinta por cento) do seu patrimônio conhecido; e 2) a soma desses créditos deve ser superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). 2. Esse último requisito foi alterado pelo art. 1º do Decreto nº 7.573/11, que passou a prever que somente débitos tributários superiores a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) dão ensejo ao arrolamento. Esta E. Sexta Turma tem entendimento pacífico quanto à aplicação desse novo valor também aos arrolamentos efetuados sob a égide da legislação anterior, em respeito aos princípios da isonomia e da razoabilidade. 3. A Instrução Normativa RFB nº 1.171/11, por sua vez, ao regulamentar a medida administrativa em questão, estabelece em seu art. 2º, § 1º, II, que não serão computados na soma dos créditos tributários - isto é, nos referidos dois milhões de reais - "os débitos confessados passíveis de imediata inscrição em Dívida Ativa da União". A mesma previsão consta da Instrução Normativa RFB nº 1.565/15. 4. Com base nestes novos dispositivos legais, pugna a autora pelo cancelamento do arrolamento de bens e direitos ao qual está submetida. Isso porque alguns dos débitos existentes em seu nome foram incluídos em programas de parcelamento; constituem, pois, débitos confessados passíveis de imediata inscrição em dívida ativa e, nos termos do que disposto no art. 2º, § 1º, II, da Instrução Normativa RFB nº 1.171/11, devem ser desconsiderados para fins de arrolamento. Desse modo, os débitos existentes em seu nome somariam R$ 1.808.511,88, valor que é inferior a R$ 2.000.000,00 e representa apenas 11% de seu patrimônio conhecido. 5. Essa interpretação não merece prosperar. Não se nega que o parcelamento constitui confissão do débito e o torna passível de imediata inscrição em Dívida Ativa (v.g., REsp 1670543/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 30/06/2017). Todavia, deve-se interpretar o que disposto na Instrução Normativa RFB nº 1171/11 de modo a preservar a função pretendida pelo legislador quando da criação do instituto do arrolamento de bens e direitos (a mens legis da norma), qual seja, assegurar a futura excussão de bens e direitos do sujeito passivo suficientes à satisfação do débito fiscal (REsp 689.472/SE, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/10/2006, DJ 13/11/2006). 6. Sob esse prisma, desde a Instrução Normativa RFB nº 1.088/10, excluem-se do montante considerado para fins de arrolamento aqueles débitos para os quais haja depósito integral do valor (já garantidos, portanto) e aqueles confessados pelo contribuinte e passíveis de imediata inscrição em Dívida Ativa (ou seja, que podem ser imediatamente cobrados, tornando-se desnecessário o arrolamento acautelatório). Em ambos os casos, os débitos são desconsiderados para fins de arrolamento, pois são dotados da necessária segurança ao crédito tributário, independentemente de qualquer outra medida adotada pelo Fisco. 7. O mesmo não ocorre, porém, com os débitos incluídos em parcelamento; o parcelamento impede a imediata cobrança do débito, tendo em vista a suspensão de sua exigibilidade, nos termos do art. 151, III, do CTN (REsp 1670543/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 30/06/2017). 8. Conquanto o parcelamento configure confissão de débito, que pode ser inscrito em Dívida Ativa, não há como excluir os débitos parcelados do montante a ser considerado para fins de arrolamento, sob pena de deixar desprotegido o crédito tributário e, consequentemente, negar eficácia ao próprio instituto do arrolamento de bens e direitos. 9. Na singularidade, portanto, ainda que considerando os novos critérios estabelecidos pelo Decreto nº 7.573/11, deve ser mantido o arrolamento de bens e direitos ao qual está submetida a autora, posto que os débitos tributários existentes em seu nome somam R$ 4.916.581,84, montante que ultrapassa evidentemente os R$ 2.000.000,00 e representa 30,10% do seu patrimônio conhecido. 10. Apelação improvida. (TRF 3ª Região, SEXTA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 1851920 - 0005736-03.2011.4.03.6108, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JOHONSOM DI SALVO, julgado em 16/11/2017, e-DJF3 Judicial 1 DATA:29/11/2017 ) Ante o exposto, voto por DAR provimento ao agravo interno para o fim de desprover a apelação da União e a remessa necessária e, assim, manter a sentença de procedência do pedido. É o meu voto. E M E N T A PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO. APELAÇÃO. JULGAMENTO MONOCRÁTICO. ART. 932, V, DO CPC. ARROLAMENTO DE BENS. ARTIGOS 64 E 64-A DA LEI N° 9.532/97. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. MUDANÇA DAS EXIGÊNCIAS PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA IN SRF Nº 1.565/2015. IRRETROATIVIDADE DA NORMA MAIS FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO. VALOR DECLARADO NO IRPF. MANUTENÇÃO DOS GRAVAMES. RECURSO NÃO PROVIDO. - Agravo interno interposto em razão de decisão monocrática que deu provimento à apelação da União, nos termos do art. 932, V, do Código de Processo Civil, para manter o arrolamento de bens em nome da agravante, realizado na esfera administrativa fiscal. - Caso em que, a autoridade fiscal procedeu, em 29/01/2015, ao arrolamento de bens da autora, responsável solidária pelos débitos da empresa “STB - Student Travel Bureau Viagens e Turismo Ltda.” que totalizavam, à época da lavratura do auto de infração, o montante de R$ 2.992.713,40 (dois milhões, novecentos e noventa e dois mil, setecentos e treze reais e quarenta centavos), referente a março de 2015. - Foram arrolados os seguintes bens imóveis da agravante: a) matrícula 78.468, do 13º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 2.441.600,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e um mil e seiscentos reais); b) matrícula 378.000, do 11º Registro de Imóveis de São Paulo/SP, avaliado em R$ 315.000,00 (trezentos e quinze mil reais). Os valores lançados no arrolamento são aqueles constantes dos respectivos registros imobiliários - À época da realização do arrolamento de bens, era vigente a Instrução Normativa RFB Nº 1.171, de 07/07/2011, razão pela qual deve ser levado em consideração o valor do imóvel constante da última declaração de ajuste de IRPF da agravante, referente ao ano-calendário 2013 e que, no caso, corresponde ao valor indicado no registro imobiliário. - Não é possível cogitar a aplicação da regra prevista no art. 3º, I, “b”, da Instrução Normativa RFB nº 1.565, de 11/05/2015, ainda que mais favorável ao contribuinte ao admitir a avaliação do bem imóvel pelo valor que serve de base de cálculo para o lançamento do IPTU, possibilitando, assim, que o valor do crédito constante do auto de infração se torne inferior a 30% (trinta por cento) do patrimônio conhecido da agravante. - Agravo interno a que se nega provimento. ACÓRDÃO Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, prosseguindo no julgamento, proferiram seus votos os Des. Fed. Mairan Maia e Giselle França acompanhando o voto da Relatora. Assim a Sexta Turma, por maioria, em julgamento realizado nos moldes do art. 942 do CPC, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto da Relatora, acompanhada pelos votos dos Des. Fed. Valdeci dos Santos, Giselle França e Mairan Maia, vencido o Des. Fed. Souza Ribeiro que lhe dava provimento. Lavrará o acórdão a Relatora, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. MARISA SANTOS Desembargadora Federal

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